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Futuroimportainvestigacao-Farias-2022

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Prévia do material em texto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes 
Programa de Pós-Graduação em Psicologia 
 
 
 
 
 
 
 
O futuro importa: uma investigação exploratória da relação entre orientação de futuro e 
a percepção das mudanças climáticas 
 
 
 
 
 
Alexandra Cavalcante de Farias 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2022 
 
 ii 
 
Alexandra Cavalcante de Farias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O futuro importa: uma investigação exploratória da relação entre orientação de futuro e 
a percepção das mudanças climáticas 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Psicologia da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como requisito parcial para a 
obtenção do título de Doutor em Psicologia. 
 
 
 
 
 
Natal 
2022 
 
 iii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, 
Letras e Artes - CCHLA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Farias, Alexandra Cavalcante de. 
 O futuro importa: uma investigação exploratória da relação 
entre orientação de futuro e a percepção das mudanças climáticas / 
Alexandra Cavalcante de Farias. - 2022. 
 238f.: il. 
 
 Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, 
Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2022. 
 Orientador: Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro. 
 
 
 1. Percepção das mudanças climáticas. 2. Orientação de futuro. 
3. Solidariedade com as gerações futuras. I. Pinheiro, José de 
Queiroz. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCHLA CDU 159.9 
 
 
 
 
 iv 
II 
Eu vim para a cidade no tempo da desordem, 
Quando a fome reinava. 
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta 
E me revoltei ao lado deles. 
Assim se passou o tempo 
Que me foi dado viver sobre a terra. 
Eu comi o meu pão no meio das batalhas, 
Deitei-me entre os assassinos para dormir, 
Fiz amor sem muita atenção 
E não tive paciência com a natureza. 
Assim se passou o tempo 
Que me foi dado viver sobre a Terra. 
 
III 
 
Vocês, que vão emergir das ondas 
Em que nós perecemos, pensem, 
Quando falarem das nossas fraquezas, 
Nos tempos sombrios 
De que vocês tiveram a sorte de escapar. 
 
Nós existíamos através da luta de classes, 
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados! 
Quando só havia injustiça e não havia revolta. 
 v 
 
Nós sabemos: 
O ódio contra a baixeza 
Também endurece os rostos! 
A cólera contra a injustiça 
Faz a voz ficar rouca! 
Infelizmente, nós, 
Que queríamos preparar o caminho para a amizade, 
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos. 
Mas vocês, quando chegar o tempo 
Em que o homem seja amigo do homem, 
Pensem em nós 
Com um pouco de compreensão. 
 
Aos que vierem depois de nós – Bertold Brecht 
 
 
 vi 
 
Dedico esta tese, 
A meus avô e avó paternos e minha avó materna, 
minhas últimas conexões intergeracionais que estavam vivas quando essa tese iniciou e que eu 
perdi durante essa trajetória. Os não mais viventes. Foram eles que me ensinaram sobre vínculos 
e sobre o tempo, em todas as suas formas. 
 
A Nina, 
que me mostrou que o futuro não está predestinado, pois chegou atravessando o meu tempo no 
passado de 2018, cresceu e criou um futuro que eu nunca imaginei, que hoje é o presente no 
qual ela pergunta quase todos os dias: mamãe, quando você vai terminar esse livro? O meu 
melhor presente. É ela quem me mostra e me dá esperança de que se o futuro está aberto, mas 
não está vazio, ele possivelmente está cheio de muita vida e amor. 
 
A Zé, 
que me ensinou que o ambiente e o futuro importam. Que há mais de uma década acreditou em 
mim e que eu “seria gente grande.” Que não previu o futuro, mas de algum modo me fez 
acreditar há 11 anos que eu estaria hoje aqui. O orientador e amigo de quem eu sentia falta antes 
mesmo de conhecer. É ele quem me contagia com a premissa de que toda psicologia é 
ambiental. 
 
A meu descendente que ainda não existe, 
a criança não nascida do futuro. Que estas páginas atravessem o tempo e lhe encontrem bem. 
O futuro é importante, você é importante mesmo que ainda não exista. E eu só espero que você 
também se importe. É você quem faz um monte de gente bacana ter esperança e coragem para 
agir. 
 vii 
Agradecimentos 
Happiness is only real when shared 
Christopher McCandless 
 
 Quatro anos formam uma trajetória. Formaram uma tese. Formaram muita coisa mais. 
Agradecer por todos aqueles que cruzaram o meu caminho nesse percurso parece desafiador, 
contudo, uma tarefa feliz. Finalizar etapas gera um sentimento gostoso dentro da gente e 
transbordar em forma de gratidão é partilhar um pouco disso. 
 Poderia falar que essa história se construiu desde antes do ingresso no meio acadêmico, 
o que de fato é bem verdade, já que esse lugar da importância da educação e da figura do docente 
na minha vida tem destaque desde o meu nascimento, no dia do professor. Contudo, quero falar 
desse período de 2018 para cá, esses quatro anos de gestação desta tese e dos que conviveram 
com uma doutoranda que enfrentou grandes transformações de vida durante esse processo. 
 Sobre exemplo e suporte, não tenho como iniciar esse agradecimento de forma diferente 
senão demonstrando minha gratidão à minha família e principalmente aos meus pais, Fabíola 
e Arnaldo, àqueles que sempre acreditaram em meu potencial, mesmo quando eu não conseguia 
enxergar, que me viram crescer e me transformar na mulher e na profissional que sou hoje. Que 
estiveram sempre comigo regando a minha trajetória com memórias afetivas, e reforçaram o 
poder da conexão com nossas raízes. Obrigada por terem sempre uma palavra de acalanto para 
dizer que tudo iria dar certo. Se eu chego aqui hoje é porque sabia que seria acolhida por vocês 
sempre que precisasse, é porque sei que em vocês encontro casa e aconchego. 
 Calma e compreensão têm sido ensinamentos que Bruno me transmite desde quando 
nossas existências se cruzaram. Foi com ele que eu aprendi a conter meus desesperos e foi ele 
quem sempre me mostrou que eu estava apenas escrevendo meus sonhos e para isso, não 
precisava de ansiedade. Ele não escreveu essa tese, mas esteve presente em toda essa história 
mesmo que com seu silêncio, oferecendo um copo de água ou um café que deixava na mesa 
 viii 
enquanto eu escrevia. Ele trouxe amor quando eu era agonia. Me disse que eu sempre quis ser 
mãe quando eu achei que não daria conta. Reforçou que eu sempre quis ser pesquisadora 
enquanto eu amamentava e estudava. Aprendemos juntos a ocupar novos lugares na vida um 
do outro. Aprendemos juntos a ser família. Sou grata por você me equilibrar quando eu achava 
que podia cair. 
 Nina veio me ensinar sobre transformação. Chegou como um rio caudaloso que 
atravessa toda a minha história e ela e esta tese entraram num acordo de existirem juntas, de 
crescerem em uníssono. Foi ela quem me fez mãe e me fez entender que era a pecinha que 
faltava para que muito fosse compreendido. É quem me mostra todos os dias que embora 
tenhamos planos, nem tudo está predestinado e é preciso ser flexível. É preciso deixar ir, para 
permitir o novo chegar. E Nina me fez lidar melhor com as perdas e com as adaptações 
necessárias à sua chegada. Ela é vida e a vida flui, ela segue. Obrigada por me ajudar a criar a 
vida, filha! Obrigada por transformar esta tese e me mostrar que a maternidade e a academia 
podem coexistir. 
 Se hoje tenho consciência do pertencimento e conexão com a Psicologia isso tem muita 
influência do orientador que já me acompanha desde 2011. Cursando Tecnologia de Gestão 
Ambiental no IFRN, descobri, antes mesmo de ingressar em Psicologia, que existia uma tal de 
Psicologia Ambiental (PA) e foi essa área ainda nebulosa e desconhecida que me incentivoua 
buscar o curso de psicologia. Certamente graças a Zé, hoje onde quer que eu vá, em qualquer 
contexto no qual eu me enxergue psicóloga eu levo a PA em mim. Obrigada por me apresentar 
a área, mas principalmente obrigada pela mais de uma década de encontros terapeutizantes, de 
ideias que “dariam pelo menos umas três teses”, de ensinamentos para além da ciência. 
Obrigada por ser exemplo como pesquisador e professor, pelas aulas na pós-graduação, que 
fizeram todos os alunos pensarem que precisávamos de “mais aulas com Zé Pinheiro”. Meu 
mais sincero agradecimento em especial pela parceria e por toda a paciência e zelo em acolher 
 ix 
uma doutoranda grávida, mãe e em meio a uma pandemia. Sou grata por você ter segurado a 
minha mão com muita amizade e carinho e nunca ter soltado nesse percurso – mesmo em 
tempos de distanciamento social - por ter confiado que chegaríamos nesse futuro em que eu 
seria “gente grande”. E aqui estamos nós! 
 O percurso desta tese também transformou as amizades. Sou grata aos amigos que 
sempre estiveram presentes e que acompanharam meus passos e correrias com os estudos, que 
se prontificaram a ajudar como podiam e o fizeram da forma como puderam. Minhas amigas 
da infância e adolescência, em especial Ale, Laira, Mah, Mari Nelson, Mari Francelino, Gabi, 
Melina, Deza, Laila e Luma, que me viram crescer e acreditaram que eu chegaria aqui. À Ceci, 
minha afilhada que nasceu em meio a esse caos todo e me reforçou a esperança no futuro que 
virá. À Malu, com quem eu compartilhei a dor e a delícia de ser uma doutoranda nesse contexto 
absurdo do Brasil atual, pelos estudos em parceria – mesmo que em áreas distintas – e pelo 
abraço de conforto de quem entendia bem o que eu sentia. Aos que assumiram lugares novos e 
importantíssimos com a chegada de Nina, que foram colo e acolhida para mim e para ela. À 
minha rede de apoio, aos avós, tios e tias que nasceram e me permitiram escrever, estudar e 
descansar enquanto cuidavam da minha filha. Em especial à Cecília e Daniel, os padrinhos mais 
sensacionais que Nina poderia ter e Livani, Hedyanne, Marina e Dani que foram a rede de apoio 
mais disponível e afetuosa que existiu. Se foi possível conciliar maternidade e doutorado, foi 
por causa de vocês. 
 Nessa trajetória considero fundamental agradecer aos companheiros de caminhada do 
GEPA, obrigada por fazerem do grupo de pesquisa um lar democrático e acolhedor pelo qual a 
gente se apega demais. Minha gratidão em especial a Hellen, Raquel, Giselli, Cíntia, Fernanda 
e Cláudia, por mostrarem formatos diversos da presença feminina na academia e por reforçarem 
a esperança no fazer ciência mesmo em tempos tão difíceis. À Cecília, Clarissa, Luana, July e 
Diego, pela criação do subgrupo de estudos da infância e meio ambiente e por considerarem as 
 x 
crianças não nascidas também nesse contexto. A Rebecca e Gabriela, pelas contribuições na 
primeira etapa deste estudo. 
 Pela participação em forma de disponibilidade e atenção, agradeço aos 113 participantes 
do Estudo 1, por me permitirem compreender que o futuro importa e por sua disposição em 
responder ao problema de pesquisa. Minha mais sincera gratidão aos 12 participantes do Estudo 
2 e à participante do estudo piloto, que se dedicaram às cartas para as gerações não nascidas, 
que me fizeram repensar estilos de vida e que foram acessíveis, disponíveis e implicados nas 
duas etapas do estudo. O contato com vocês foi imensamente transformador. 
 Ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRN, que tornou todo esse esforço 
possível e também aos professores que de algum modo contribuíram para a construção e 
transformação desta tese. À professa Isolda Günther, por ter sido leitora do texto ainda na 
primeira qualificação, mas principalmente aos professores Gleice Elali e Gustavo Massola, por 
todas as contribuições certeiras, efetivas e cuidadosas e por me mostrarem que o meu futuro e 
o desta tese também importam. 
 Por fim, parafraseando Galeano: 
A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e 
ela não perde o que merece ser salvo. 
Agradeço por todos os encontros, conversas, oportunidades, abraços e momentos memoráveis, 
aos que conviveram comigo durante esse tempo, aos que partiram deixando saudades, aos que 
de alguma maneira atravessaram minha existência e construíram um pouco desta tese e do que 
hoje sou. Assim, fica aqui o meu registro dessa gratidão por todos vocês, e o desejo de que este 
agradecimento não se perca, mas se perpetue no futuro sempre como um sentimento bom. 
 
 
 xi 
Sumário 
 
 Página 
Lista de Tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii 
Lista de Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii 
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv 
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv 
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 
Capítulo 1. A psicologia das mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 
 1.1. Mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 
 1.2. MCs e barreiras psicológicas para percepção e engajamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
 1.3. Escalas envolvidas na percepção do fenômeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 
 1.4. Dificuldades cognitivas e afetivas em relação às MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 
 1.5. A questão climática como crise civilizatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 
Capítulo 2. Tríade importante para o estudo da percepção das MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 
 2.1. Compromisso pró-ecológico e as MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 
 2.2. Sustentabilidade e mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 
 2.3. O mundo como está e o mundo que queremos deixar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 
 2.4. Orientação de futuro e solidariedade com os não nascidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 
Capítulo 3. Será que o futuro importa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 
 3.1. Os três atravessamentos temporais da tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 
 3.1.1. As histórias de vida, memórias afetivas e a criança interior – passado . . . . . . . . . . 81 
 3.1.2. O momento atual: a pandemia e o impacto crescente das MCS – presente . . . . . . 85 
 3.1.3. As gerações não nascidas e o mundo que queremos deixar para elas – futuro . . . 86 
 3.2. Afinal, o futuro importa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 
Capítulo 4. Proposta de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 
 4.1. Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 
 xii 
 4.2. Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 
Capítulo 5. Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 
 5.1. Estudo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 
 5.1.1. Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 
 5.1.2. Estratégias metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 
 5.2. Estudo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 
 5.2.1. Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 
 5.2.2. Estratégias metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 
 5.2.3. Plano de análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 
Capítulo 6. Resultados e discussão – Percepção das mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 
 6.1. MCs nos corações e mentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 
 6.2. Afetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 
 6.3. Gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 
 6.4. Se não for agora, quando? Implicação temporal das MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 
Capítulo 7. O futuro importa, sim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 
 7.1. Futuro Otimista versus Futuro pessimista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 
 7.2. Tipos de futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 
 7.3. Esperançar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 
Capítulo 8. OF como parte integrante da pMCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 
Capítulo 9. Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 
Apêndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 
 
 
 xiii 
 
Lista de Tabelas 
 
 
Tabela Página 
1. Contraste entre características da mente humana e das MCs 91 
2. Características básicas dos participantes do Estudo 2 110 
3. Palavras associadas pelos respondentes do Estudo 2 às MCs 127 
 
 
 
 xiv 
 
Lista de siglas 
 
 
Sigla Significado 
AG Aquecimento Global 
COP Conference of the Parties 
CPA Comportamento Pró Ambiental 
CPE Compromisso Pró Ecológico 
EVS Estilo de Vida Sustentável 
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change 
MCs Mudanças Climáticas 
MCGs Mudanças Climáticas Globais 
OF Orientação de Futuro 
ONG Organização Não Governamental 
pMCs Percepção das Mudanças Climáticas 
 
 
 
 xv 
Resumo 
As mudanças climáticas (MCs), problema humano-ambiental que tem suas consequências 
aprofundadas a partir da ação humana, possuem para este estudo caráter de crise e, dada sua 
urgência, precisam ser pensadas medidas para sua mitigação no aqui e agora, com repercussões 
a posteriori. A percepção das mudanças climáticas (pMCs), como fora do nosso contexto 
imediato e local, pode gerar também um distanciamento com relação à percepção de risco e 
urgente necessidade de compromisso com ações de mitigação. Assim, deve-se pensar na 
relevância da orientação de futuro (OF) como uma variável atitudinal interna aos indivíduos, 
podendo ser associada ao compromisso pró-ecológico. Dessa forma, torna-se importante 
identificar se, ao nos responsabilizarmos pelas gerações ainda não nascidas, conseguimos nos 
implicar em ações de cuidado ambiental ou pelo menos promover e engajar nossos discursos 
em prol da sustentabilidade. Ao considerar esse contexto, este estudo investigou a relação entre 
a percepção das mudanças climáticas e a orientação de futuro no formato da solidariedade com 
as gerações futuras, visando a entender a importância da orientação de futuro para integrar a 
percepção das mudanças climáticas. Os dois estudos que compuseram essa investigação 
exploratória, realizados com 113 e 12 participantes respectivamente, foram organizados a partir 
de duas diferentes técnicas: a produção de uma carta, (ainda que no primeiro estudo estivesse 
contida em um questionário) e uma entrevista semiestruturada. A análise de conteúdo abdutiva 
originou eixos temáticos que tratavam da pMCs e OF, que foram depois analisados a partir do 
olhar da relação entre ambos os conceitos. Os resultados demonstraram a importância de 
trabalhar a perspectiva temporal quando se trata do fenômeno das MCs, e que não só é possível 
estabelecer a ponte entre pMCs e OF, mas também compreender possíveis conceitos 
formadores dessa relação. O olhar da solidariedade com as gerações futuras reforça sua 
importância como conceito e a necessidade de considerar que o futuro importa e que são 
necessárias mudanças urgentes para a garantia de um ambiente ecologicamente equilibrado. 
 
Palavras-chave: Percepção das mudanças climáticas; orientação de futuro; investigação 
exploratória; solidariedade com as gerações futuras 
 xvi 
Abstract 
Climate change (CC), a human-environmental problem that has its profound consequences 
from human action, presents a crisis character for this study and given its urgency, measures of 
mitigation need to be thought in the here and now, with repercussions a posteriori. The 
perception of climate change (pMCs), as outside our immediate and local context, can also 
generate a distance from perception of risk and an urgent need of commitment to mitigation 
actions. Thus, the relevance of future orientation (FO) should be considered as an attitudinal 
variable internal to individuals, which can be associated with pro-ecological commitment. In 
this way, it becomes important to identify whether, by taking responsibility for the generations 
not yet born, we are able to involve ourselves in environmental care actions or at least promote 
and engage our discourses in favor of sustainability. Considering this context, this study 
investigated the relationship between the perception of climate change and future orientation in 
the format of solidarity with future generations, aiming to understand the importance of future 
orientation to integrate the perception of climate change. The two studies that composed this 
exploratory investigation,carried out with 113 and 12 participants respectively, were organized 
using two different techniques: the production of a letter (even though in the first study it was 
contained in the questionnaire) and a semi-structured interview. The abductive content analysis 
originated thematic axes that dealt with pMCs and OF and were then analyzed from the 
perspective of the relationship between both concepts. The results demonstrated the importance 
of working with a temporal perspective when it comes to the phenomenon of MCs, and that it 
is not only possible to establish a bridge between pMCs and OF, but also to understand possible 
concepts that form this relationship. The perspective of solidarity with future generations 
reinforces its importance as a concept and the need to consider that future matters and that 
urgent changes are needed to guarantee an ecologically balanced environment. 
 
Keywords: perception of climate change; future orientation; exploratory investigation; 
solidarity with future generations 
 
 17 
Apresentação 
Nos últimos anos, o setor ambiental brasileiro tem sido colocado em situação 
vulnerável, devido às políticas ambientais frágeis ou inexistentes, e com atuação questionável 
no que diz respeito à conservação dos recursos naturais. Em se tratando da sociedade 
contemporânea, é necessário o entendimento de que o capitalismo propõe a visão dos recursos 
naturais como mercadorias, atribuindo-lhes valor-de-troca e criando relações de uso e 
exploração desses recursos. Sendo assim, eu me pergunto como fica o ambiente, elemento 
fundamental para o mundo do amanhã, o mundo das gerações ainda não nascidas? 
O ano de 2018, início deste doutorado, foi bastante marcado pelo questionamento sobre 
o Brasil que desejamos. Digo desejamos no presente, porque apesar da pergunta ter sido feita 
no passado, o desejo reverbera até a atualidade. 2018, ano de Copa do Mundo, ano de eleições 
no Brasil. Ano em que foi eleito um novo presidente, que em poucos meses de governo já fazia 
a política ambiental mais desastrosa da história do país. O fim das Reservas Legais, a 
diminuição na fiscalização e o enfraquecimento de políticas climáticas e do Ministério do Meio 
Ambiente dão sentido ao pensamento de um possível desmonte do cuidado oficial do ambiente 
no país. O que tem sido visto com extrema gravidade pelos líderes políticos e especialistas em 
biodiversidade dos outros países, muitas vezes vem sendo ignorado pelos governantes 
brasileiros. 
Dentro do ambiente acadêmico, assistindo a aulas de uma disciplina sobre marxismo, 
pensar na possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro e do já previsível desmantelamento das 
políticas ambientais que ocorreria nos quatro anos vindouros reforçou em mim a importância 
de um mundo melhor, diferente do que se anunciava. Fundamentando ainda mais a minha 
necessidade de pensar um mundo melhor não só para as vivências presentes, o ano de 2018 foi 
também o ano da gestação da minha filha, que nasceu em dezembro, renovando com ela a minha 
 18 
motivação e resiliência, para tirar de tempos difíceis a importância de ver projeções futuras 
menos nefastas. 
Os anos em que se seguiu a realização da tese, me mostraram a importância de reforçar 
a crença em uma ciência transformadora e dinâmica, que se atualiza conforme as necessidades 
do campo. Assim, 2020 fortaleceu o cenário de medo e incertezas em termos de política 
brasileira, e também carregou um atravessamento mundial com o contexto da pandemia de 
COVID-19 e das milhões de mortes causadas pelo vírus que caracterizam uma das maiores 
crises de saúde experienciadas até então. 
Assim fica clara a importância de considerarmos as diversas crises planetárias que se 
entrelaçam na dimensão ambiental, econômica e de saúde, e são agravadas por crises 
governamentais, modificando o rumo de pesquisa e da ciência e reforçando a importância de 
redirecionar nossos esforços de desenvolvimento para um modelo que seja mais sustentável. 
No aqui e agora, o que significa criar uma filha ou filho em uma pandemia? Ou trocando 
em miúdos, o que significa cuidar de novas gerações em uma situação de emergência global 
com crises nas mais distintas esferas, mas principalmente nos contextos ambiental e de saúde? 
O que vamos construir nesse e com esse momento que ficará para a posteridade? A verdade é 
que já somos todos mães, pais, avós, avôs, bisavós e bisavôs daqueles que assumirão a 
responsabilidade por esse mundo nas próximas décadas e precisamos agir no presente nos 
perguntando sobre qual os contornos que gostaríamos que o mundo de amanhã tivesse. 
Diante de inúmeras incertezas que se apresentam neste cenário, nos ancoramos no 
presente, mesmo que esteja caótico, como tentativa de lidar de modo mais tranquilo com os 
processos vivenciados, acessando muitas vezes um passado saudosista que nos relembra a vida 
sem pandemia que conhecíamos até então. Porém, é no futuro que se reforçam sentimentos 
como esperança e resiliência, e o movimento de planejar se instaura exatamente nessa fração 
de tempo que neste caso podemos denominar de pós-pandemia. Considerar todas as esferas do 
 19 
tempo passa, portanto, a ser fundamental, pois a nossa atuação no presente, baseada em nosso 
repertório e experiências passadas, serão a base do futuro que queremos construir. 
 É nesse cenário catastrófico por um lado, positivo e repleto de possibilidades e vida do 
outro, que este estudo passa a ter novos contornos. Na tentativa de encontrar um equilíbrio 
diante do prognóstico catastrófico da política ambiental brasileira, bem como do cenário da 
pandemia que assola o mundo, passo a pensar em futuro, em um planejamento desejável de 
mundo melhor para as gerações ainda não nascidas. Gerações estas, com as quais eu talvez não 
chegue nem a conviver. Mas elas existirão e precisam de um mundo mais generoso, merecem 
conhecer a mesma natureza que eu conheci. 
 As seções seguintes trazem uma descrição do tema e literatura pertinente de 
embasamento para o estudo. Os capítulos estão organizados em sequência, a fim de apresentar 
relações entre si e darem sentido ao objetivo geral a ser desenvolvido. 
 
 
 
 20 
Introdução 
A gravidade dos problemas ambientais já vem sendo reconhecida nas últimas décadas 
(Corral-Verdugo, 2010; Lago, Amaral, & Mühl, 2013) e as evidências sobre as contribuições 
negativas e positivas da humanidade para essa dinâmica ambiental prejudicada tem sido 
também cada vez mais discutidas (Oskamp, 2000). Sendo assim, alguns fenômenos ambientais 
influenciam e são influenciados pelas ações humanas. O aumento da temperatura na Terra e as 
consequentes alterações no clima são possivelmente os maiores exemplos de como as questões 
ambientais se configuram um problema e um desafio para a humanidade. 
Nessa perspectiva, um dos problemas ambientais atuais que mais geram consequências 
para a humanidade são as mudanças climáticas (MCs), fenômeno que inclui o aumento da 
temperatura média do planeta, que apresenta suas causas ligadas a alguns aspectos naturais e 
outros agravados pela interferência humana e gera uma série de impactos ambientais (Marengo, 
2006). 
As MCs se configuram como um conjunto de fenômenos de caráter físico, que atingem 
também a esfera das políticas públicas do planeta (Weber & Stern, 2011). Nesse sentido, 
podemos falar não só de um aumento da temperatura mundial, mas também das interferências 
desse aumento na vida cotidiana dos seres humanos e na forma como estes interpretam e lidam 
com tal problemática. A consideração das MCs como um problema tem sido reforçada por 
alguns estudos interdisciplinares e em especial pela Psicologia, que ressaltam o fenômeno como 
uma das principais questões da humanidade (Clayton et al., 2015; Gifford, 2011; O’Neill, 2008; 
Oppenheimer & Todorov, 2006; Pahl, Sheppard, Boomsma & Groves, 2014; Sundblad, Biel & 
Garling, 2009 ). 
 21 
Sabe-se quea elevação da temperatura e outros prejuízos das MCs se devem à 
intensificação da atividade humana e o consequente aumento da liberação de gases de efeito 
estufa (GEE) na atmosfera. As consequências das MCs são inúmeras e cada uma delas pode 
desencadear impactos que criam riscos crescentes à vida no planeta, a vários sistemas, espécies 
e, inclusive, à espécie humana (Devine-Wright, Price, & Leviston, 2015; Gifford, 2011; Pahl et 
al., 2014; Scannel & Gifford, 2013; Sundblad, Biel, & Garling, 2014; Swim, Stern, Doherty, 
Clayton, Reser, Weber, Gifford, & Howard, 2011; Uzzel, 2000). Segundo o sexto relatório do 
IPCC (2021), a mudança climática já impactou todas as populações e as regiões da Terra. Não 
estamos apenas quebrando recordes da ampliação da temperatura e outros impactos, mas o 
mundo em que vivemos hoje não tem paralelo recente. 
As mudanças climáticas estão aqui e agora, transformando nosso mundo de hoje de 
todas as formas. Mas isso não quer dizer que nosso futuro já está definido. Nós ainda temos a 
capacidade de limitar futuros aumentos de temperatura, e trabalhar em colaboração com 
comunidades ao redor do mundo na adaptação das mudanças que já aconteceram. Na edição 
mais recente do relatório do IPCC (2021), esse sentimento de esperança ainda surge e urge 
como o único caminho para que a humanidade conserve um pouco do que temos hoje, 
principalmente porque o comportamento tem sido o oposto, o de destruir. 
Dessa forma, é inconcebível não considerarmos a influência das ações humanas no 
agravamento ou mitigação do problema em questão, por isso, pode-se considerar essa questão 
não apenas como um problema ambiental, mas sim como um problema humano-ambiental 
(Pinheiro, 1997), ou seja, trata-se de problemas-da-humanidade, reflexo das ações e do 
comportamento humano (Corraliza, 1997). 
Se o agravamento das MCs tem relação com o comportamento humano, que muitas 
vezes tende a degradar o meio ambiente e atuar de forma antiecológica, ações de mitigação e 
de abrandamento do problema ambiental referido devem se sustentar também nas mudanças 
 22 
das ações humanas e da sua relação com o meio natural. Segundo o Painel Intergovernamental 
sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2021), as emissões de gases estufa produzidas pelas 
atividades humanas, como a indústria, a queima de combustíveis fósseis, o uso de fertilizantes 
e agrotóxicos e o desmatamento, são a principal causa do problema, e elas têm crescido sem 
parar e de forma devastadora, estando atualmente nos níveis mais altos já verificados na 
história. Já é possível verificar que os efeitos negativos das MCs sobre a sociedade humana e a 
natureza são vastos e disseminados globalmente. O IPCC concluiu em seu sexto e mais recente 
relatório de avaliação que, mesmo se as emissões de gases estufa forem completa e 
imediatamente interrompidas, a maioria dos impactos das MCs persistirá por séculos à frente. 
Ou seja, a continuidade das emissões de gases estufa causará um aquecimento ainda maior no 
futuro, com efeitos de longa duração em todos os componentes do sistema climático, que estão 
todos interrelacionados. 
Em se tratando de mudanças climáticas globais, existe uma distância temporal das 
consequências mais alarmantes do fenômeno, bem como da eficácia das ações de mitigação 
que, como exposto nos resultados do IPCC, apresentam respostas em longo prazo. Nesse 
sentido, é necessário que consideremos também a distância espacial, tendo em vista que o 
fenômeno ocorre na macro escala, abarcando as dimensões espaciais locais e globais. Dessa 
forma, pode-se entender que a experiência direta destas mudanças no nível global por parte das 
pessoas é impossível, pois suas alterações são imperceptíveis (ocorrem muitas vezes em longo 
prazo e numa distância física elevada), de maneira que apenas futuras gerações virão a perceber 
os impactos mais agravantes do fenômeno das MCs (Pinheiro, 2007a; Spence, Poortinga, 
Pidgeon, 2012; Uzzel, 2000). 
Sendo assim, serão as crianças de hoje as principais afetadas pela problemática que 
envolve as mudanças climáticas, de forma a serem os nossos filhos, netos e bisnetos aqueles 
que sentirão as suas consequências mais catastróficas. Considerar que as crianças atuais e até 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Combust%C3%ADveis_f%C3%B3sseis
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fertilizantes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desmatamento
 23 
gerações ainda não nascidas e com as quais não necessariamente iremos conviver sentirão os 
impactos negativos de nossas ações nos faz responsáveis por buscar soluções que visem deixar 
para os próximos habitantes do planeta os recursos naturais na mesma ou em condição similar 
ao que encontramos ao aqui chegar (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, 1991). 
Ultimamente, tem-se exercitado um olhar mais atento para as populações infantis 
viventes, bem como as que ainda nascerão, considerando a importância das experiências na 
natureza que são extremamente significativas para este segmento etário (Chawla, 2002). Assim, 
estudos que acessem a percepção ambiental de crianças a respeito da pauta ambiental e pauta 
climática, ganham maior relevância, pois é preciso que consideremos essas populações na 
promoção de medidas de mitigação que se baseiem em repercussões mais significativas para o 
futuro (Barraza, Ahumada & Ceja-A 
dame, 2006; Farias, 2017). 
Diante deste cenário, a preocupação com a sustentabilidade representa a importância de 
garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que 
sustentam as comunidades (Jacobi, 2003). Esse compromisso com o meio pressupõe 
minimamente uma consideração com o futuro (Corral-Verdugo et al., 2009), tendo em vista que 
a sustentabilidade e a perspectiva ecológica envolvem solidariedade intra e intergeracional 
(Pinheiro, 2006; Pinheiro & Corral-Verdugo, 2010; Pol, 2002); ou seja, envolvem uma 
consideração e vínculo com as gerações que estão por vir, uma espécie de apego ao futuro 
(Pinheiro, 2002a). 
Assim, pode-se pensar na perspectiva temporal de futuro como uma variável atitudinal 
interna a um indivíduo, podendo ser associada ao compromisso pró-ecológico (Koger & Winter, 
2004; Oskamp, 2000; Pinheiro, 2002b; Pinheiro & Corral-Verdugo, 2010; Pinheiro & Diniz, 
2013; Steg, Bolderdjik, Keizer, & Perlaviciute, 2014). Dessa forma, torna-se importante 
 24 
identificar se, ao nos responsabilizarmos pelas gerações ainda não nascidas, conseguimos nos 
implicar em ações de cuidado ambiental ou pelo menos conseguimos promover e engajar nossos 
discursos em prol da sustentabilidade. Pensar no planeta como algo que tomamos emprestado 
dos nossos descendentes nos sugere uma relação de cuidado mais eficiente e nos passa a 
impressão de que a Terra e nós somos uma só entidade. Por esse motivo, é importante que, ao 
pensar em solidariedade intergeracional, também pensemos em nossos antepassados e nas 
etapas de vida que já vivemos, se quando éramos crianças, nos preocupamos em deixar um 
mundo positivo para nossa existência como adultos e se agora, como adultos, nos orgulhamos 
de nossa caminhada quando crianças. 
Em um contexto em que alguns ainda questionam a existência das mudanças climáticas, 
chama a atenção vermos crianças e adolescentes engajados com problemáticas ambientais. 
Apesar da menor interação com o ambiente natural na contemporaneidade, o período da 
infância é demarcado por uma relação mais positiva com a natureza, já que as crianças 
interagem com os ambientes a partir de um senso de interesse e cuidado com a natureza que se 
baseia em constructos cognitivos, éticos e principalmente afetivos, o que gera maior 
sensibilidade por parte dos meninos e meninas, no tocante às questões ambientais e possíveis 
estratégias para lidar com esses problemas (Barraza, Ahumada & Ceja-Adame, 2006; Kahn & 
Kellert, 2002). Logicamente, interferências culturais e sociais contribuem paraessa 
consideração e cuidado com o meio ambiente no que se refere às crianças, mas abre-se um 
espaço para nos questionarmos sobre o motivo desse interesse e sensibilidade com as 
problemáticas enfrentadas pela natureza ir diminuindo ao longo do tempo, fazendo com que os 
jovens sejam mais sensíveis do que os adultos em relação às temáticas ambientais. Dessa 
maneira é possível compreender porque crianças e adolescentes têm se implicado como ativistas 
do clima. Ideias como as propostas neste parágrafo irão receber melhor cuidado nas seções que 
se seguem no texto. 
 25 
Sendo assim, embora tenhamos tido e estejamos tendo governos nacionais, como os das 
administrações Trump e Bolsonaro, claramente negacionistas do clima, vemos em 
contrapartida, ações como a proposta por Greta Thunberg, ativista sueca de apenas 16 anos que 
iniciou uma série de protestos em seu país – e que tomaram força e voz ao redor do mundo, 
inclusive aqui, no Brasil – pedindo ações concretas contra a crise climática. Em uma de suas 
falas no plenário da Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas, no dia 23 de setembro de 
2019 (ver vídeo oficial em https://www.youtube.com/watch?v=u9KxE4Kv9A8), a adolescente 
denunciou países como o Brasil, acusando os líderes políticos de terem traído sua geração e 
roubado seus sonhos e sua infância com os seus discursos vazios. 
Segundo Ailton Krenak (2020), em O amanhã não está à venda: 
O ritmo de hoje não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, de 
janeiro ou fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos 
sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos 
puxando para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente 
importa. (p. 9) 
 
Olhar para o que realmente importa também considera uma mirada para o futuro, olhar 
para as futuras gerações e para o que ainda há e pode ser feito. Pensar na geração de Greta 
Thunberg e na de tantas outras crianças de hoje e de amanhã, é considerar a necessidade de 
adotarmos posturas de enfrentamento com relação aos problemas climáticos vividos na 
atualidade. É importante pensar no futuro, mas agir no presente, pois nossas ações no momento 
atual terão consequências nas décadas e séculos que virão. Como disse Greta, “a nossa casa está 
em chamas” e o que as crianças da atualidade e as gerações ainda não nascidas nos questionam 
é justamente o que nós, adultos, estamos fazendo para lidar com isso e transformar o mundo no 
qual elas viverão os anos vindouros. 
Nesse contexto, o primeiro capítulo desta tese se concentra em trazer a definição de 
MCs e contextualiza-las a partir de uma perspectiva psicológica e não só como um problema 
político ou de cunho técnico. Traz observações a respeito das escalas envolvidas na percepção 
https://www.youtube.com/watch?v=u9KxE4Kv9A8
 26 
das mudanças climáticas e a apresentação das dificuldades em acessar o fenômeno diretamente 
caminharão para as questões temporais envolvidas darão sentido ao segundo capítulo da tese. 
O segundo capítulo trabalha os conceitos de sustentabilidade, compromisso pró-
ecológico e a orientação de futuro, estabelecendo a conexão entre essas temáticas, no que tange 
sua importância para o tema das MCs. Após a elucidação de conceitos importantes para a 
compreensão das MCs, o terceiro capítulo enfoca justamente o futuro, sua importância e em 
como a solidariedade intergeracional estabelece o sustentáculo para a ponte entre MCs e futuro. 
Em se tratando de uma pesquisa de caráter exploratório, não há uma preocupação em 
responder de forma precisa e esperada a essa interface, sendo considerada a forte possibilidade 
de manter abertas algumas gestalten no que se refere ao futuro na cabeça das pessoas e a relação 
com os problemas ambientais que assolam o planeta. Dessa maneira, os capítulos que se seguem 
abordam as técnicas utilizadas para atingir os objetivos, bem como a análise de dados e sua 
posterior discussão. 
 
 
 
 27 
 
Capítulo 1. A psicologia das mudanças climáticas 
Os adultos ficam dizendo: “devemos dar esperança aos jovens”. Mas eu não 
quero a sua esperança. Eu não quero que vocês estejam esperançosos. Eu 
quero que vocês estejam em pânico. Quero que vocês sintam o medo que eu 
sinto todos os dias. E eu quero que vocês ajam. Quero que ajam como agiriam 
em uma crise. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, 
porque está. (Greta Thunberg, em Fórum Econômico Mundial de Davos, 
2019) 
 
Este capítulo se deterá a uma contextualização do tema das mudanças climáticas, 
partindo de uma consideração das mesmas como um problema humano-ambiental, que tem suas 
consequências aprofundadas a partir da ação humana. Para este estudo, as mudanças climáticas 
têm caráter de crise e neste capítulo serão apresentadas definições conceituais, além das duas 
escalas envolvidas na caracterização do fenômeno: espacial e temporal. Um destaque principal 
será feito para a distância temporal, apresentando as dificuldades na percepção e consideração 
das MCs a partir dessa perspectiva. 
Ao falar de MCs é preciso entendermos que há uma série de instâncias humanas de 
cunho social, psicológico, comportamental, político, econômico e cultural (O`Neill, 2008; 
Pawlik, 1991; Stern, Young, & Druckman, 1992; Swim, Clayton, Doherty et al., 2009; Uzzell, 
2000). Ao considerarmos as causas das MCs, a influência humana é clara, e as recentes 
emissões dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEE) são as maiores da história, ocasionando 
por todo globo terrestre impactos nos sistemas humanos e naturais (IPCC, 2021). 
O fenômeno das MCs vem se tornando assunto cada vez mais discutido em diferentes 
esferas. A Revolução Industrial pode ser colocada como o marco histórico que sinaliza o 
movimento mais exacerbado das atividades que culminaram na atual conjuntura do planeta. Foi 
a partir daquele momento que as sociedades começaram a se organizar com base em um modelo 
de civilização do desenvolvimento, pautada nas regras do capitalismo, que emprega os recursos 
 28 
naturais de forma pouco sustentável e realizando modificações no ambiente de forma mais 
contundente (Held, 2001; Gifford, 2011; Krenak, 2020; Nielsen & D’Haen, 2014; Pawlik, 1991; 
Spence, Poortinga & Pidgeon, 2012; Swim, Clayton, Doherty et al., 2009). 
Assim, com uma maior industrialização e maior exploração dos recursos naturais, veio 
à tona, gradativamente, a discussão acerca dos impactos dessas atividades – na qual se incluiu 
na pauta a discussão acerca das mudanças climáticas. 
Sem pretensões de se deter ao debate a respeito da causa humana das mudanças 
climáticas, este trabalho se compromete com a visão de 97% dos cientistas climáticos que 
concordam que as MCs são agravadas pelas ações humanas, o chamado “aquecimento global 
antropogênico” (Cook et al., 2013; Australian Psychological Society, 2016; IPCC, 2021). 
 
1.1. Mudanças climáticas 
As mudanças climáticas sugerem por si só a ocorrência de fenômenos que abarcam 
dimensões espaciais locais e globais e evidenciam uma distância considerável do nosso 
contexto imediato de vida, para o campo de ocorrência dessas alterações ambientais. Este, 
talvez, seja um dos motivos pelos quais tornamos tão distante a nossa atuação com relação à 
mitigação dessa problemática, discutindo seus efeitos sempre como um problema remoto, 
abstrato e longe das perspectivas, possibilidades e prioridades humanas. 
De forma simples, as mudanças climáticas globais seriam mudanças no clima causadas 
pelo aumento da temperatura global. Além das ondas de calor e de sistemas climáticos mais 
aquecidos, as MCs têm sido consideradas as responsáveis por secas, enchentes, furacões e 
tempestades ocorridas nos últimos anos ao redor do planeta. Há ainda impactos relacionados à 
perda de biodiversidade, aumento do nível do mar, derretimento das geleiras, e impactos 
diretamente ligados aos seres humanos, como os prejuízosà saúde, agricultura e produção de 
energia dentro do modelo atual (Marengo, 2006; Giddens, 2010). 
 29 
Considerar as MCs como um problema humano-ambiental, traz também à tona os 
efeitos danosos desta problemática para a saúde, qualidade de vida, bem estar público e 
patrimônios ambientais e sociais (Costa-Lima & Layrargues, 2014). Os impactos das MCs na 
nossa vida sugerem que pensemos nas formas de lidar com essas questões, percebendo-se as 
crises ambientais como atuais desafios civilizatórios. 
O fortalecimento da concordância em torno da influência do fator humano nas origens 
das MCs coincide com uma transição no enquadramento dos debates: o que antes era foco de 
uma discussão voltada para as ciências ambientais tradicionais (físicas e naturais), atualmente 
se põe como forte interesse de pautas políticas e econômicas (Casagrande et al., 2011), sendo 
recorrente em discussões inseridas nas agendas políticas, convenções internacionais e 
frequentemente abordado pela mídia (Barros & Pinheiro, 2013) e, portanto, também merecendo 
a atenção das ciências humanas e sociais. A centralidade da pauta na agenda ambiental 
internacional demonstra um gradativo e urgente aumento no interesse pelo tema, que se justifica 
principalmente pelos impactos já vivenciados na atualidade (Costa-Lima & Layrargues, 2014). 
As mudanças climáticas se configuram atualmente como uma dimensão urgente, grave 
e profunda da crise ambiental do Século XXI (Giddens, 2010). Sua urgência se caracteriza por 
restar pouco tempo para se estabilizar na atmosfera a concentração de gases do efeito estufa em 
níveis aceitáveis. Sua gravidade se refere ao aumento da desertificação, crise de recursos 
hídricos e perda da biodiversidade, bem como os prejuízos gerados à infraestrutura e atividades 
econômicas humanas. E a profundidade do problema se baseia em não existirem soluções 
apenas tecnológicas, havendo a necessidade do fim de uma civilização baseada no uso de 
combustíveis fósseis e outros depreciadores do meio ambiente. 
Do ponto de vista físico, o mais recente relatório do IPCC traz contribuições 
significativas, além de esclarecer de forma firme as influências das ações humanas no que tange 
à ampliação das consequências das MCs. Aquele relatório esclarece as mudanças físicas nos 
 30 
sistemas do planeta, estabelecendo altos índices de probabilidades para suas causas. Seus 
capítulos discutem mudanças físicas na atmosfera, no oceano, informações relativas ao ciclo do 
carbono, aos ciclos biogeoquímicos, avaliam modelos climáticos, e atribuições das mudanças 
em nível global e regional, e projetam e preveem como as mudanças climáticas continuarão a 
ocorrer (IPCC, 2021). O relatório toma como base a temperatura de bulbo úmido, uma medida 
que combina calor e umidade. Nesta perspectiva, 31°C já é uma temperatura do bulbo 
extremamente perigosa para os seres humanos e a situação passa a ser insuportável e até mesmo 
letal se a temperatura de bulbo chegar a 35°C por mais de 4 horas, especialmente para as 
populações idosas ou mais jovens. 
Pelo aumento da temperatura e consequente aquecimento do planeta, as MCs também 
são conhecidas popularmente como aquecimento global (AG), termo que pode reduzir um 
fenômeno tão complexo e multifacetado como as MCs ao simples aumento de temperatura 
(Farias, 2017). Por esta indevida redução, o uso da expressão aquecimento global passa a ser 
cada vez menos hegemônico para se referir ao fenômeno. 
 MCs estão associadas a uma série de aspectos da crise ambiental do nosso século. Em 
se tratando especificamente do aquecimento global, que se configura apenas como um aspecto 
dessas mudanças, existem evidências de que o fenômeno deva extrapolar o problema das ilhas 
de calor em todas as grandes cidades, uma vez que prédios e asfalto retêm muito mais radiação 
térmica do que as áreas não-urbanas (Marengo, 2006). 
O caráter de urgência reforçado nas últimas publicações técnicas que tratam deste tema, 
também suscita discussões importantes a respeito da nomenclatura utilizada para referir-se ao 
fenômeno. Publicações do início dos anos 2000, discutiam a temática restringindo sua 
problemática ao aquecimento do globo, referindo-se comumente ao fenômeno como 
aquecimento global, reducionismo este que foi abandonado conforme citado anteriormente. 
Quando iniciei os estudos sobre essa temática há mais de 10 anos, no grupo de pesquisa do qual 
 31 
faço parte, a literatura – nacional e internacional – sobre o tema, tratava-o como Mudanças 
Climáticas Globais (MCGs). 
Compreendendo que o problema tem uma causa central, que se volta para os efeitos da 
ação antrópica sob o planeta, também tem havido certa tendência em trabalhar a temática no 
singular, como mudança climática. Contudo, para este estudo, adotarei a perspectiva da 
nomenclatura no plural, como Mudanças climáticas (MCs), entendendo que dessa forma pode-
se compreender o fenômeno como transformações mais complexas do que o aumento da 
temperatura global. 
Segundo a Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas, os impactos das MCs já estão 
sendo sentidos em todos os lugares e estão tendo consequências muito reais nas vidas das 
pessoas. A mudança climática está atrapalhando as economias nacionais, custando caro hoje e 
ainda mais amanhã. Contudo, já existe o reconhecimento crescente de que agora existem 
soluções acessíveis, que permitirão a todos avançar para economias mais limpas e resilientes 
(IPCC, 2012; Spence, Leygue, Bedwell, & O’Malley, 2014; Swim & Becker, 2012). 
Falar nas MCs trazendo a conotação de crise climática é fundamental para enraizar a 
necessidade de pensarmos medidas de enfrentamento que se configurem na atualidade. A 
urgência da problemática exige também urgência de ações de mitigação, que visem minimizar 
os efeitos mais alarmantes das MCs. Sobre as estratégias de enfrentamento, Barros (2018) diz 
que algumas formas de mitigação do problema são apontadas com maior grau de certeza como 
possíveis e necessárias. São elas: a) a redução de carbono, por meio da promoção e recuperação 
de áreas que foram degradadas para pastagem; b) a mudança no padrão pecuarista, com 
encorajamento de adoção de sistemas lavoura-pecuária; c) a substituição dos combustíveis 
fósseis usados pela indústria, com a geração de energia solar e eólica; d) a implementação de 
sistemas de transporte públicos integrados e mais eficientes, com a ampliação de linhas de 
 32 
metrô e trens urbanos, implantação de linhas de veículos leves sobre trilho, e a implementação 
de medidas de gerenciamento de tráfego. 
Além das medidas de mitigação que devem ser adotadas, levar em consideração a 
adaptação dos seres humanos a toda a problemática ambiental existente surge como mais um 
espaço de estudo para a Psicologia. Sobre essa adaptação, aspectos como a percepção das 
mudanças no clima, bem como percepção de risco e vulnerabilidade são enfocados pela 
Psicologia, na tentativa de se discutir possíveis estratégias de adaptação (Nielsen & D´haen, 
2014). Por adaptação se entende a realização de ajustes necessários em sistemas humanos ou 
naturais, incluindo estruturas, processos e práticas (IPCC, 2007). Como exemplo, é possível 
mencionar a crise nos sistemas de abastecimento hídrico, que demanda medidas de adaptação 
(IPCC, 2014a; PBMC, 2014b), tais como as destinadas a assegurar o abastecimento de água. 
Considerar as mudanças climáticas como uma problemática da humanidade, nos leva a 
pensar não só em nossa responsabilidade em ações de mitigação do fenômeno, mas também na 
urgência em alterar nossas ações prejudiciais ao ambiente, minimizando os impactos e 
prevenindo consequências mais drásticas. Atualmente, a pandemia do coronavírus tem sido 
considerada uma “doença antropocêntrica”, o que sugere a sua ligação com esta nova era 
ecológica que se caracteriza pela considerável pressão que atividades humanas estão exercendo 
sobre os ecossistemas eas consequências sobre saúde pública, sociedade e meio ambiente 
(David, Le Dévédec, & Alary, 2021; Sansonetti, 2020). Dessa forma, não há como separar a 
saúde do planeta da saúde humana, haja vista a possibilidade que temos de também evitar 
catástrofes sanitárias como a que estamos vivenciando na atualidade com a pandemia da 
COVID-19. 
O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir 
um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma concreta a falta de 
iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo binômio sustentabilidade e 
 33 
desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a inclusão social 
(Jacobi, 2003). Ainda que as ações com eficácia mais direta contra as MCs sejam de ordem 
macrossistêmica e levada a âmbitos como o das políticas públicas e das decisões políticas a 
respeito das questões ambientais, ações individuais e coletivas surgem como possibilidades de 
demandas em níveis mais aproximados do que conhecemos e nos sentimos capazes de realizar. 
Para tanto, é fundamental o fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, a 
redistribuição de recursos mediante parcerias, de informação e conhecimento para participar 
crescentemente dos espaços públicos de decisão e para a criação de instituições amparadas na 
lógica da sustentabilidade. 
Ao pensar no presente, encontramos um cenário em que, embora as consequências mais 
graves das MCs estejam mais evidentes na atualidade, com a pandemia nos meses críticos de 
lockdown nas cidades, houve uma redução mundial dos gases de efeito estufa entre 2% e 8% 
devido à queda acentuada do uso nos meios de transporte. Na contramão, as emissões brasileiras 
aumentaram entre 5% e 10% em relação aos anos anteriores à pandemia. A razão para isso foi 
que, enquanto a ordem era o isolamento social, o Ministério do Meio Ambiente ampliava a 
liberação de queimadas em áreas florestais. A falta de apoio governamental às medidas de 
mitigação das MCs demonstra um negacionismo da importância da conservação ambiental, 
além de uma não consideração da relação entre natureza e saúde. Especificamente com relação 
ao contexto de pandemia, a OMS associa o desmatamento e a fragmentação de matas nativas 
com doenças infecciosas emergentes. Um exemplo é o ebola, na África, epidemia causada pela 
proximidade entre humanos e primatas selvagens portadores do vírus. 
Ainda sobre o contexto atual da pandemia relacionada ao contexto da crise climática 
que experienciamos mundialmente, o microbiologista Philippe Sansonetti lembra da previsão 
sobre a onda de pandemias, indicando que as comunicações da Organização Mundial da Saúde 
já previam essa situação. Pandemias se tornarão mais frequentes devido à emergência climática 
 34 
(causa e efeito da destruição de espécies e seus habitats) e à ampla circulação de pessoas e 
mercadorias fruto do mundo globalizado (Sansonetti, 2020). As chamadas “doenças do 
Antropoceno”, segundo Sansonetti e outros estudiosos, estão principalmente ligadas ao fato de 
os humanos terem dominado o planeta e ao impacto que estão causando sobre a Terra. 
Segundo Koger e Winter (2010), evitar os perigos das mudanças climáticas é um dos 
problemas de risco social mais urgentes que enfrentamos hoje e entender as percepções públicas 
relacionadas é fundamental para envolver o público nas principais transformações societárias 
necessárias para combater esta problemática. Análises das percepções do público indicam que 
as mudanças climáticas são percebidas como distantes em várias dimensões diferentes. 
 
1.2. MCs e barreiras psicológicas para percepção e engajamento 
Para estudar a percepção ambiental das mudanças climáticas e sua consideração pelas 
pessoas, realizar um mapeamento das barreiras psicológicas propostas pela literatura a respeito 
das MCs talvez seja uma possibilidade importante, podendo-se justamente pensar em relacionar 
as barreiras psicológicas destacadas pelos principais estudos da área nas últimas décadas, 
considerando principalmente aquelas que mais se aplicam à realidade do contexto brasileiro. O 
fato de esse estudo se comprometer com uma visão que afirma a ocorrência das mudanças 
climáticas, com consequências que já afetam o meio e as populações atualmente vivas, não nega 
a existência de uma série de barreiras psicológicas que atuam na percepção e consideração do 
fenômeno. 
A Psicologia como ciência humana tem uma grande contribuição para a ecologia e 
questões ambientais, principalmente quando se considera a forma como os seres humanos 
entram na equação da revisão civilizatória e de como podemos conservar o mundo no qual 
vivemos hoje. Assim, estudos dos aspectos psicológicos relacionados à temática das MCs são 
de extrema relevância, pois permitem investigações que busquem maior compreensão de 
 35 
comportamentos de degradação ambiental, engajamento e aceitação de políticas públicas para 
proteção ecológica, além da compreensão de elementos atrelados à adoção de estilos de vida 
sustentáveis, de barreiras psicológicas para esta adoção, dentre outros aspectos psicológicos 
presentes na interação pessoa-ambiente (Barros, 2018; Gifford, 2008; 2014; Milbrath, 1995; 
Werner, 1999). 
Algumas características das MCs se configuram como barreiras psicológicas à ação de 
mitigação, gerando os chamados dragões da inação (Gifford, 2011). A referência mitológica a 
dragões expressa o modo como esses fenômenos dificultam o alcance de metas humanas, 
portanto uma metáfora para a desafiadora busca por sustentabilidade no consumo dos recursos 
naturais (Iglesias, Caldas, & Rabelo, 2014). Essas barreiras contribuem para que haja um maior 
distanciamento e apatia das pessoas diante das MCs, desencorajando o engajamento em prol do 
meio ambiente. 
A ignorância é uma forte barreira à ação (Gifford, 2011; Urbina-Soria & Fernández, 
2006; Uzzel, 2000), sendo comum que as incertezas a respeito desta problemática gerem 
dificuldades não só em aceitar as MCs como uma crise urgente, mas também em ter um bom 
entendimento de como devem ser as ações de enfrentamento do fenômeno. Sem compreender 
como agir, os indivíduos se afastam cada vez mais de medidas de mitigação e da própria ideia 
de sustentabilidade. 
Assim, a ignorância é uma barreira comum quando se fala sobre as mudanças climáticas 
– especialmente considerando a complexidade do problema. Essa questão traz também um dado 
social que deve ser levado em consideração: os centros mais desenvolvidos (América do Norte, 
Japão e Europa) apresentam um índice de consciência (awareness) sobre a existência das MCs 
acima de 90% da população, enquanto que para a maior parte das sociedades em 
desenvolvimento (tais como no Egito, Bangladesh, Nigéria e Índia), mais de 65% dos 
 36 
respondentes indicaram nunca terem ouvido falar sobre as mudanças climáticas (Lee et al, 
2015). 
Contudo, embora haja esse destaque socio geográfico, é importante considerar que 
populações que não possuem conhecimento técnico acerca desta questão por muitas vezes 
cuidam mais do meio ambiente do que populações tecnicamente conscientes sobre a gravidade 
das MCs. Povos originários e até mesmo populações das zonas rurais, não podem ser 
consideradas ignorantes a respeito da emergência climática, muito pelo contrário. Os sistemas 
culturais tradicionais e de subsistência representam na verdade outras formas de defender o 
ambiente, de forma que quando os pobres percebem as suas possibilidades de subsistência 
ameaçadas devido a projetos de mineração, barragens, plantações de árvores ou grandes zonas 
industriais, queixam-se não por serem ambientalistas profissionais, mas porque necessitam dos 
serviços do ambiente para a sua sobrevivência imediata (Alier, 1997). Assim, percebe-se que 
quando se trata das MCs, o conhecimento não é baseado apenas no saber técnico. 
Crenças e ideias existentes sobre diversosassuntos também podem se constituir em 
poderosas barreiras para a adesão a comportamentos pró-ecológicos. Muitos sistemas de 
crenças são tão extensos que influenciam aspectos diversos da vida do indivíduo; dentre esses 
sistemas de crenças, estão, por exemplo, as visões de mundo, visões sobre política e 
religiosidade (Clark; 1995; Gifford, 2011). Uma visão de mundo centrada no imediatismo e 
individualismo pode levar à ideia de liberdade para devastar e utilizar sem controle os recursos 
da natureza, o que é contraditório com a prática de ações de mitigação das MCs. Tais crenças e 
o desconhecimento do problema convergem em ideias e noções fantasiosas, desconectadas de 
evidências científicas (Gifford, 2011; Pawlik, 1991). 
Gifford (2011) traz ainda vários outros fatores que podem agir como barreiras para o 
engajamento da população, tais como a reatância, conflito de metas, a crença numa salvação 
pela tecnologia, etc. A própria negação da existência das MCs existe como um ponto de impacto 
 37 
na consideração de ações de mitigação e adaptação da questão. Além dela, pensamentos 
desejosos com soluções simplistas ou irrealistas, como a crença na solução rápida e tecnológica, 
ou fatalismo, ou postura hedonista, são exemplos de fantasias sobre MCs, que podem levar à 
inação (Barros, 2018; Clayton et al., 2015; Gifford, 2011; Uzzell, 2000). Koger e Winter (2010) 
examinaram como mecanismos como os de negação nos protegem de sensações de desconforto 
quando somos confrontados com evidências de degradação do meio-ambiente, via 
racionalização, intelectualização ou deslocamento, entre outros. 
Muito além de expor apenas os vieses que proporcionam uma inação a respeito das 
mudanças do clima, as barreiras psicológicas possibilitam pensar também em considerações 
positivas, que consigam ultrapassar as barreiras e promovam maior engajamento por parte dos 
indivíduos. Ao pensar nos dragões da inação, Gifford (2011) elencou fatores que impedem a 
real apropriação do problema pela população. O fato de outros estudos se debruçarem sobre 
os fatores psicológicos envolvidos no contexto das MCs, demonstra o quanto a psicologia está 
implicada em questões ambientais e a importância de sua compreensão a partir de um viés 
psicológico tanto nas escalas individuais, como nas sociais mais amplas. 
Para as questões sociais, é importante entender que cada contexto irá expressar maior 
impacto de determinadas barreiras psicológicas. Na contemporaneidade, talvez a barreira da 
negação e do embotamento ambiental sejam as mais presentes e que mais impedem a ação, haja 
vista o negacionismo climático existente no discurso de alguns líderes políticos, bem como o 
bombardeio de informações vazias a respeito da temática. Na visão de Bawden e Robinson 
(2009), em situações de sobrecarga informacional, tendemos simplesmente a descartar boa 
parte delas e atualmente, as informações chegam de forma deliberada e sem que possamos 
filtrar muito. É o caso das fake news, informações sem base fundamentada que são disseminadas 
principalmente por veículos virtuais. A frequente exposição a uma infinidade de problemas 
ambientais, como os que caracterizam o cenário de consumo, gera comportamentos de ignorar 
 38 
mensagens relevantes e reações de adaptação que impedem ações mais sustentáveis (Iglesias, 
Caldas, & Rabelo, 2014). Esse fenômeno de produção, compartilhamento de notícias falsas e 
desinformação que ocorre em alta velocidade, chamado de infodemia, afeta especialmente 
indivíduos que se baseiam no senso comum de forma deliberada e sem criticidade (Carvalho & 
Guimarães, 2020). 
Em se tratando de negacionismo das mudanças climáticas, é possível uma comparação 
com a visão negacionista a respeito da pandemia de COVID-19 e a desconsideração de seus 
efeitos devastadores. Mesmo em meio ao que já se confirma como a maior crise sanitária do 
mundo contemporâneo, são muitos os que desacreditam nas consequências e proporção 
catastrófica da doença. O resultado é justamente a falta de empatia e de responsabilização pela 
disseminação da doença, da mesma forma que ocorre um distanciamento e 
desresponsabilização a respeito das ações de mitigação e contenção das mudanças climáticas. 
No que se refere às questões ambientais, as consequências mais alarmantes ainda ocorrerão no 
futuro, a pandemia de COVID-19 tem seus efeitos desastrosos ocorrendo no aqui e agora e 
ainda assim, o negacionismo mantêm-se presente como uma das barreiras mais difíceis de 
serem transpostas. 
Pesquisas em âmbito nacional e internacional tem demonstrado que uma parcela da 
população ainda desconhece o que de fato significam as MCs e a real existência do problema 
(Barros, 2018; Cabecinhas, Carvalho, & Lázaro, 2011; Dunlap, 1998; Farias, 2012; Ojala, 2015; 
O’Neill, 2008; Pinheiro & Farias, 2015). Mesmo entre estudantes universitários ou 
ambientalistas, por exemplo, ainda há dificuldade de estabelecer uma definição única e 
desejável do que seriam as mudanças climáticas. Assim, um misto de dormência e ignorância 
constituem uma das barreiras psicológicas, impedindo a mobilização das pessoas. 
O fatalismo com o qual se lida com as questões que envolvem as MCs também funciona 
como uma barreira psicológica para a ação, principalmente considerando um pessimismo 
 39 
generalizado, que sugere que nada pode ser feito para solucionar ou pelo menos minimizar os 
problemas ambientais. Escassez dos recursos naturais, crescimento desordenado da população 
mundial e as mudanças climáticas são vistos então como inevitáveis consequências do 
desenvolvimento humano (Gifford, 2011; O’Neill, 2008; Uzzel, 2000). Por outro lado, muitas 
pessoas acreditam que mesmo que haja um problema ambiental de ordem maior, o planeta 
eventualmente se recuperará sozinho e não é necessária qualquer mudança de comportamento 
humano nessa direção. Estudos mais recentes têm demonstrado justamente que a comunicação 
mais efetiva para promover engajamento deve considerar aspectos de positividade (Clayton et 
al., 2015; Corner, Whitmarsh, Xenias; 2012; Gifford, 2011; O’Neill & Nicholson-Cole, 2009; 
Pinheiro & Farias, 2015). 
Nesta perspectiva, pensar em um futuro ou cenário de vida das gerações futuras, 
espontaneamente considerando um contexto mais tranquilizador do ponto de vista ambiental, 
também precisaria ser um pensamento dentro de um futuro positivo, no qual, a partir da relação 
afetiva, faça sentido o investimento do compromisso pró-ecológico no presente. Por tal motivo, 
ações de educação ambiental para crianças são muitas vezes pautadas no fortalecimento do 
vínculo das crianças com a natureza através de vivências, já que só é possível amar aquilo que 
se experimenta e cuidar daquilo que se ama. 
O distanciamento espacial e temporal entre causa e efeito já citado em seções anteriores 
é um fator que influencia diretamente na percepção ambiental das MCs de forma a distanciar 
as pessoas da adoção de comportamentos pró-ecológicos, já que as consequências 
costumeiramente ocorrem em espaços e tempos diferentes daqueles em que podem se dar suas 
causas, não havendo um encadeamento rápido e claro entre as causas e consequências (Barros 
& Pinheiro, 2013; Pawlik, 1991; Uzzel, 2000). Assim, a impossibilidade de uma experiência de 
contato direto com os efeitos das MCs se coloca como uma barreira, sendo reforçada pela 
 40 
inviabilidade de se poder visualizar a relação causa-efeito, uma vez que esses elementos podem 
estar distanciados no tempo e no espaço. 
 
1.3. Escalas envolvidas na percepção do fenômeno 
Para entender as mudanças climáticas, é necessário pensar nas escalas envolvidas na 
percepção do fenômeno. Nesse caso, pensar em MCs é pensar em sua escala espacial, que atinge 
tanto o âmbito local quanto o global e também na escala temporal, que traz uma perspectiva 
ancorada no tempo futuro. Estas escalas nos fazem entender as MCs como um fenômeno de 
alta complexidadee abstração, com pouca concretude (Pawlik, 1991; Uzzel, 2000), que parece 
sempre muito distante espacial e temporalmente. 
A percepção ambiental das MCs como fora do nosso contexto imediato e local, por 
exemplo, pode gerar também um distanciamento com relação à sua percepção de risco atual e 
necessidade de compromisso com ações de mitigação (Lorenzoni & Pidgeon, 2006). Estes 
estudos destacam a expectativa de, ao acessar as pessoas sobre aspectos relacionados à 
percepção das MCs, compreender os motivos pelos quais há um afastamento e falta de 
compromisso dos indivíduos com relação às ações de mitigação. 
Embora possua implicações para o contexto local, o tema das mudanças climáticas 
globais faz referência ao globo, ao planeta Terra. Dessa maneira, devido à complexidade e 
abstração temporal envolvidas na definição e percepção desse fenômeno, lança-se um desafio 
à Psicologia, que passa a tentar lidar com macro-ambientes e analisar uma perspectiva temporal 
mais ampla. Além disso, cabe à área da Psicologia entender suas limitações e adotar um diálogo 
interdisciplinar, além de abordagens metodológicas que abarquem a complexidade desse tipo 
de estudo. 
Ainda no que se refere à escala espacial, estudos já indicaram que há uma tendência de 
que as pessoas avaliem de maneira mais positiva as partes do ambiente mais próximas de si, e 
 41 
por isso mais concretas, do que as localidades mais distantes e abstratas (Gifford et al., 2009; 
Pinheiro, Cavalcanti, & Barros, 2018). Sendo assim, mesmo aqueles que não negam a ameaça 
das MCs, tendem a reconhecer a problemática associada às escalas maiores/mais distantes; 
havendo uma resistência em reconhecer que essa ameaça de nível global também afeta os 
espaços mais pessoais/próximos. Segundo Cavalcanti (2019), um fator determinante também 
na dificuldade de apreensão do problema em suas reais dimensões é o afastamento que nós, 
como seres humanos, adotamos na nossa relação com o meio natural. 
Há estudos que indicam que a conexão com a natureza é um componente chave para a 
adoção de um comportamento pró-ecológico (Mayer & Frantz, 2004) e que o apego ao lugar é 
essencial para o estabelecimento de um sentimento de cuidado, já que as pessoas tendem a 
cuidar mais de lugares pelos quais se sentem apegadas (Gifford, 2011). Entretanto, a amplitude 
da escala espacial envolvida na questão é um ponto de conflito, já que estamos falando de uma 
escala global e, por isso, não concreta para a experiência humana. Sendo assim, é preciso que 
entendamos que, ao falar das mudanças climáticas e incorporar na nossa fala a ideia de 
perspectiva global, estamos falando de uma experiência menos acessível do que pensarmos a 
respeito de ambientes mais próximos e particulares, como uma lembrança da casa em que 
vivemos na infância ou do atual bairro onde vivemos. A ideia de trazer a perspectiva da Terra 
como nossa morada soa como uma boa estratégia, contudo, o apego ao planeta ainda é muito 
distante da nossa apropriação para que tenhamos com ele uma relação tão afetiva quanto a de 
cuidar do nosso próprio lar (Pinheiro, 2007b). 
Lidar com mudanças climáticas é necessariamente lidar com distâncias. É o 
entendimento de que é preciso agir localmente, pensando globalmente e agir no hoje, pensando 
no amanhã. A perspectiva dessas duas escalas nos faz considerar elementos muitas vezes 
abstratos e de difícil apropriação para nossa realidade. Somado ao negacionismo climático, com 
o qual alguns líderes e ex líderes políticos como Jair Bolsonaro e Donald Trump tratam a 
 42 
questão, é possível compreender a dificuldade das pessoas de se engajarem em medidas de 
mitigação do problema. Ao perceber as MCs como um fenômeno tão distante – temporal e 
espacialmente – a ponto de não se afetar, acaba-se inferindo que os próprios comportamentos 
não terão quaisquer prejuízos ou melhora no quadro da crise climática e assim é gerada uma 
apatia a respeito dos problemas ambientais. 
Alguns estudos mostram que análises das percepções ambientais das MCs indicaram 
que estas são percebidas como distantes em várias dimensões diferentes. Spence, Poortinga e 
Pidgeon (2012), utilizam uma amostra britânica representativa nacionalmente para explorar e 
caracterizar sistematicamente cada uma das quatro dimensões teorizadas da distância 
psicológica — distância temporal, social e geográfica e incerteza — em relação às mudanças 
climáticas, bem como as relações entre esses aspectos da distância psicológica. No caso desta 
tese, a barreira psicológica a ser focalizada será a distância temporal. 
O slogan “pensar globalmente, agir localmente” soa como uma proposta essencial para 
o desenvolvimento de ações de mitigação das MCs (Devine-Wright, 2013). A irrelevância da 
eficácia das ações humanas para mitigar a problemática em questão muitas vezes surge da 
consideração da distância dos eventos mais impactantes relacionados ao fenômeno. Ao 
considerarmos o problema como algo que afeta um contexto global, nossas ações parecem 
insignificantes, pois nossa vinculação afetiva com o planeta é muito menos significativa do que 
nosso vínculo com os entornos mais próximos. É necessário, portanto, estabelecer um vínculo 
afetivo com o planeta (Pinheiro, 2007b), que favoreça a implicação dos seres humanos com os 
ambientes com os quais se relacionam, favorecendo o compromisso pró-ecológico. 
A escala temporal presente na percepção das MCs também deve ser considerada pelos 
estudos psicológicos das MCs. A partir de uma lógica de hoje-futuro, as pessoas percebem e 
dão significado ao mundo que as rodeia. Além disso, não se pode entender o espaço e o lugar 
sem levar em consideração a história das pessoas e suas capacidades de se projetar para o futuro 
 43 
(Moser & Uzzel, 2004). Sobretudo quando se fala em MCs e em suas características temporais. 
Assim, a emissão de comportamentos de mitigação pode estar relacionada a uma orientação de 
futuro, o que nos leva mais uma vez à importância de relativizar as distâncias envolvidas nas 
escalas das mudanças climáticas. 
Há de se considerar também o distanciamento espacial e temporal entre causa e efeito, 
já que as consequências mais agravantes das mudanças climáticas ocorrem em espaços e tempos 
diferentes daqueles em que podem se dar suas causas, não havendo um encadeamento rápido e 
claro entre as causas e consequências (Barros & Pinheiro, 2013; Pawlik, 1991; Uzzel, 2000). 
Assim, a impossibilidade de uma experiência de contato direto com os efeitos das MCs se 
coloca como uma barreira, sendo reforçada pela inviabilidade de se poder visualizar a relação 
causa-efeito, uma vez que esses elementos podem estar distanciados no tempo e no espaço. 
A consideração da distância temporal em relação às consequências mais agravantes do 
problema, bem como da eficácia das ações de enfrentamento, que tem suas respostas a longo 
prazo, evidencia a necessidade de se considerar a orientação de futuro em debates que levem 
em conta a comunicação e percepção das MCs. Assim, ao levar em consideração que as crianças 
de hoje experienciarão as consequências mais graves do problema, o estudo da minha 
dissertação investigou como 46 crianças de 7 a 10 anos, de duas escolas particulares natalenses 
percebiam as MCGs a partir das informações que recebem sobre esse tema. Os resultados 
demonstraram que apesar da alta complexidade, os participantes puderam se expressar a 
respeito do tema, principalmente quando questões ambientais foram previamente trabalhadas 
no contexto escolar. Tal constatação, aliada ao compromisso manifestado pelas crianças com 
medidas de mitigação, fornece subsídios importantes para o planejamento de projetos de 
educação ambiental para este público. 
Diante desse cenário, os estudos dos aspectos psicológicos envolvidos devem incluir 
ainda os âmbitos local e global do problema, e devem reconhecer também que a esfera de 
 44 
atuação diante das MCs pode

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