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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Psicologia O futuro importa: uma investigação exploratória da relação entre orientação de futuro e a percepção das mudanças climáticas Alexandra Cavalcante de Farias Natal 2022 ii Alexandra Cavalcante de Farias O futuro importa: uma investigação exploratória da relação entre orientação de futuro e a percepção das mudanças climáticas Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Psicologia. Natal 2022 iii Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Farias, Alexandra Cavalcante de. O futuro importa: uma investigação exploratória da relação entre orientação de futuro e a percepção das mudanças climáticas / Alexandra Cavalcante de Farias. - 2022. 238f.: il. Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. José de Queiroz Pinheiro. 1. Percepção das mudanças climáticas. 2. Orientação de futuro. 3. Solidariedade com as gerações futuras. I. Pinheiro, José de Queiroz. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 159.9 iv II Eu vim para a cidade no tempo da desordem, Quando a fome reinava. Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta E me revoltei ao lado deles. Assim se passou o tempo Que me foi dado viver sobre a terra. Eu comi o meu pão no meio das batalhas, Deitei-me entre os assassinos para dormir, Fiz amor sem muita atenção E não tive paciência com a natureza. Assim se passou o tempo Que me foi dado viver sobre a Terra. III Vocês, que vão emergir das ondas Em que nós perecemos, pensem, Quando falarem das nossas fraquezas, Nos tempos sombrios De que vocês tiveram a sorte de escapar. Nós existíamos através da luta de classes, Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados! Quando só havia injustiça e não havia revolta. v Nós sabemos: O ódio contra a baixeza Também endurece os rostos! A cólera contra a injustiça Faz a voz ficar rouca! Infelizmente, nós, Que queríamos preparar o caminho para a amizade, Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos. Mas vocês, quando chegar o tempo Em que o homem seja amigo do homem, Pensem em nós Com um pouco de compreensão. Aos que vierem depois de nós – Bertold Brecht vi Dedico esta tese, A meus avô e avó paternos e minha avó materna, minhas últimas conexões intergeracionais que estavam vivas quando essa tese iniciou e que eu perdi durante essa trajetória. Os não mais viventes. Foram eles que me ensinaram sobre vínculos e sobre o tempo, em todas as suas formas. A Nina, que me mostrou que o futuro não está predestinado, pois chegou atravessando o meu tempo no passado de 2018, cresceu e criou um futuro que eu nunca imaginei, que hoje é o presente no qual ela pergunta quase todos os dias: mamãe, quando você vai terminar esse livro? O meu melhor presente. É ela quem me mostra e me dá esperança de que se o futuro está aberto, mas não está vazio, ele possivelmente está cheio de muita vida e amor. A Zé, que me ensinou que o ambiente e o futuro importam. Que há mais de uma década acreditou em mim e que eu “seria gente grande.” Que não previu o futuro, mas de algum modo me fez acreditar há 11 anos que eu estaria hoje aqui. O orientador e amigo de quem eu sentia falta antes mesmo de conhecer. É ele quem me contagia com a premissa de que toda psicologia é ambiental. A meu descendente que ainda não existe, a criança não nascida do futuro. Que estas páginas atravessem o tempo e lhe encontrem bem. O futuro é importante, você é importante mesmo que ainda não exista. E eu só espero que você também se importe. É você quem faz um monte de gente bacana ter esperança e coragem para agir. vii Agradecimentos Happiness is only real when shared Christopher McCandless Quatro anos formam uma trajetória. Formaram uma tese. Formaram muita coisa mais. Agradecer por todos aqueles que cruzaram o meu caminho nesse percurso parece desafiador, contudo, uma tarefa feliz. Finalizar etapas gera um sentimento gostoso dentro da gente e transbordar em forma de gratidão é partilhar um pouco disso. Poderia falar que essa história se construiu desde antes do ingresso no meio acadêmico, o que de fato é bem verdade, já que esse lugar da importância da educação e da figura do docente na minha vida tem destaque desde o meu nascimento, no dia do professor. Contudo, quero falar desse período de 2018 para cá, esses quatro anos de gestação desta tese e dos que conviveram com uma doutoranda que enfrentou grandes transformações de vida durante esse processo. Sobre exemplo e suporte, não tenho como iniciar esse agradecimento de forma diferente senão demonstrando minha gratidão à minha família e principalmente aos meus pais, Fabíola e Arnaldo, àqueles que sempre acreditaram em meu potencial, mesmo quando eu não conseguia enxergar, que me viram crescer e me transformar na mulher e na profissional que sou hoje. Que estiveram sempre comigo regando a minha trajetória com memórias afetivas, e reforçaram o poder da conexão com nossas raízes. Obrigada por terem sempre uma palavra de acalanto para dizer que tudo iria dar certo. Se eu chego aqui hoje é porque sabia que seria acolhida por vocês sempre que precisasse, é porque sei que em vocês encontro casa e aconchego. Calma e compreensão têm sido ensinamentos que Bruno me transmite desde quando nossas existências se cruzaram. Foi com ele que eu aprendi a conter meus desesperos e foi ele quem sempre me mostrou que eu estava apenas escrevendo meus sonhos e para isso, não precisava de ansiedade. Ele não escreveu essa tese, mas esteve presente em toda essa história mesmo que com seu silêncio, oferecendo um copo de água ou um café que deixava na mesa viii enquanto eu escrevia. Ele trouxe amor quando eu era agonia. Me disse que eu sempre quis ser mãe quando eu achei que não daria conta. Reforçou que eu sempre quis ser pesquisadora enquanto eu amamentava e estudava. Aprendemos juntos a ocupar novos lugares na vida um do outro. Aprendemos juntos a ser família. Sou grata por você me equilibrar quando eu achava que podia cair. Nina veio me ensinar sobre transformação. Chegou como um rio caudaloso que atravessa toda a minha história e ela e esta tese entraram num acordo de existirem juntas, de crescerem em uníssono. Foi ela quem me fez mãe e me fez entender que era a pecinha que faltava para que muito fosse compreendido. É quem me mostra todos os dias que embora tenhamos planos, nem tudo está predestinado e é preciso ser flexível. É preciso deixar ir, para permitir o novo chegar. E Nina me fez lidar melhor com as perdas e com as adaptações necessárias à sua chegada. Ela é vida e a vida flui, ela segue. Obrigada por me ajudar a criar a vida, filha! Obrigada por transformar esta tese e me mostrar que a maternidade e a academia podem coexistir. Se hoje tenho consciência do pertencimento e conexão com a Psicologia isso tem muita influência do orientador que já me acompanha desde 2011. Cursando Tecnologia de Gestão Ambiental no IFRN, descobri, antes mesmo de ingressar em Psicologia, que existia uma tal de Psicologia Ambiental (PA) e foi essa área ainda nebulosa e desconhecida que me incentivoua buscar o curso de psicologia. Certamente graças a Zé, hoje onde quer que eu vá, em qualquer contexto no qual eu me enxergue psicóloga eu levo a PA em mim. Obrigada por me apresentar a área, mas principalmente obrigada pela mais de uma década de encontros terapeutizantes, de ideias que “dariam pelo menos umas três teses”, de ensinamentos para além da ciência. Obrigada por ser exemplo como pesquisador e professor, pelas aulas na pós-graduação, que fizeram todos os alunos pensarem que precisávamos de “mais aulas com Zé Pinheiro”. Meu mais sincero agradecimento em especial pela parceria e por toda a paciência e zelo em acolher ix uma doutoranda grávida, mãe e em meio a uma pandemia. Sou grata por você ter segurado a minha mão com muita amizade e carinho e nunca ter soltado nesse percurso – mesmo em tempos de distanciamento social - por ter confiado que chegaríamos nesse futuro em que eu seria “gente grande”. E aqui estamos nós! O percurso desta tese também transformou as amizades. Sou grata aos amigos que sempre estiveram presentes e que acompanharam meus passos e correrias com os estudos, que se prontificaram a ajudar como podiam e o fizeram da forma como puderam. Minhas amigas da infância e adolescência, em especial Ale, Laira, Mah, Mari Nelson, Mari Francelino, Gabi, Melina, Deza, Laila e Luma, que me viram crescer e acreditaram que eu chegaria aqui. À Ceci, minha afilhada que nasceu em meio a esse caos todo e me reforçou a esperança no futuro que virá. À Malu, com quem eu compartilhei a dor e a delícia de ser uma doutoranda nesse contexto absurdo do Brasil atual, pelos estudos em parceria – mesmo que em áreas distintas – e pelo abraço de conforto de quem entendia bem o que eu sentia. Aos que assumiram lugares novos e importantíssimos com a chegada de Nina, que foram colo e acolhida para mim e para ela. À minha rede de apoio, aos avós, tios e tias que nasceram e me permitiram escrever, estudar e descansar enquanto cuidavam da minha filha. Em especial à Cecília e Daniel, os padrinhos mais sensacionais que Nina poderia ter e Livani, Hedyanne, Marina e Dani que foram a rede de apoio mais disponível e afetuosa que existiu. Se foi possível conciliar maternidade e doutorado, foi por causa de vocês. Nessa trajetória considero fundamental agradecer aos companheiros de caminhada do GEPA, obrigada por fazerem do grupo de pesquisa um lar democrático e acolhedor pelo qual a gente se apega demais. Minha gratidão em especial a Hellen, Raquel, Giselli, Cíntia, Fernanda e Cláudia, por mostrarem formatos diversos da presença feminina na academia e por reforçarem a esperança no fazer ciência mesmo em tempos tão difíceis. À Cecília, Clarissa, Luana, July e Diego, pela criação do subgrupo de estudos da infância e meio ambiente e por considerarem as x crianças não nascidas também nesse contexto. A Rebecca e Gabriela, pelas contribuições na primeira etapa deste estudo. Pela participação em forma de disponibilidade e atenção, agradeço aos 113 participantes do Estudo 1, por me permitirem compreender que o futuro importa e por sua disposição em responder ao problema de pesquisa. Minha mais sincera gratidão aos 12 participantes do Estudo 2 e à participante do estudo piloto, que se dedicaram às cartas para as gerações não nascidas, que me fizeram repensar estilos de vida e que foram acessíveis, disponíveis e implicados nas duas etapas do estudo. O contato com vocês foi imensamente transformador. Ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRN, que tornou todo esse esforço possível e também aos professores que de algum modo contribuíram para a construção e transformação desta tese. À professa Isolda Günther, por ter sido leitora do texto ainda na primeira qualificação, mas principalmente aos professores Gleice Elali e Gustavo Massola, por todas as contribuições certeiras, efetivas e cuidadosas e por me mostrarem que o meu futuro e o desta tese também importam. Por fim, parafraseando Galeano: A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo. Agradeço por todos os encontros, conversas, oportunidades, abraços e momentos memoráveis, aos que conviveram comigo durante esse tempo, aos que partiram deixando saudades, aos que de alguma maneira atravessaram minha existência e construíram um pouco desta tese e do que hoje sou. Assim, fica aqui o meu registro dessa gratidão por todos vocês, e o desejo de que este agradecimento não se perca, mas se perpetue no futuro sempre como um sentimento bom. xi Sumário Página Lista de Tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii Lista de Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Capítulo 1. A psicologia das mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 1.1. Mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.2. MCs e barreiras psicológicas para percepção e engajamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 1.3. Escalas envolvidas na percepção do fenômeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 1.4. Dificuldades cognitivas e afetivas em relação às MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 1.5. A questão climática como crise civilizatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Capítulo 2. Tríade importante para o estudo da percepção das MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 2.1. Compromisso pró-ecológico e as MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 2.2. Sustentabilidade e mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 2.3. O mundo como está e o mundo que queremos deixar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 2.4. Orientação de futuro e solidariedade com os não nascidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Capítulo 3. Será que o futuro importa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 3.1. Os três atravessamentos temporais da tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 3.1.1. As histórias de vida, memórias afetivas e a criança interior – passado . . . . . . . . . . 81 3.1.2. O momento atual: a pandemia e o impacto crescente das MCS – presente . . . . . . 85 3.1.3. As gerações não nascidas e o mundo que queremos deixar para elas – futuro . . . 86 3.2. Afinal, o futuro importa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Capítulo 4. Proposta de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 4.1. Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 xii 4.2. Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Capítulo 5. Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 5.1. Estudo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 5.1.1. Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 5.1.2. Estratégias metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 5.2. Estudo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 5.2.1. Participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 5.2.2. Estratégias metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 5.2.3. Plano de análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Capítulo 6. Resultados e discussão – Percepção das mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 6.1. MCs nos corações e mentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 6.2. Afetação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 6.3. Gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 6.4. Se não for agora, quando? Implicação temporal das MCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Capítulo 7. O futuro importa, sim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 7.1. Futuro Otimista versus Futuro pessimista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 7.2. Tipos de futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 7.3. Esperançar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 Capítulo 8. OF como parte integrante da pMCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183 Capítulo 9. Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 Apêndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 xiii Lista de Tabelas Tabela Página 1. Contraste entre características da mente humana e das MCs 91 2. Características básicas dos participantes do Estudo 2 110 3. Palavras associadas pelos respondentes do Estudo 2 às MCs 127 xiv Lista de siglas Sigla Significado AG Aquecimento Global COP Conference of the Parties CPA Comportamento Pró Ambiental CPE Compromisso Pró Ecológico EVS Estilo de Vida Sustentável IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change MCs Mudanças Climáticas MCGs Mudanças Climáticas Globais OF Orientação de Futuro ONG Organização Não Governamental pMCs Percepção das Mudanças Climáticas xv Resumo As mudanças climáticas (MCs), problema humano-ambiental que tem suas consequências aprofundadas a partir da ação humana, possuem para este estudo caráter de crise e, dada sua urgência, precisam ser pensadas medidas para sua mitigação no aqui e agora, com repercussões a posteriori. A percepção das mudanças climáticas (pMCs), como fora do nosso contexto imediato e local, pode gerar também um distanciamento com relação à percepção de risco e urgente necessidade de compromisso com ações de mitigação. Assim, deve-se pensar na relevância da orientação de futuro (OF) como uma variável atitudinal interna aos indivíduos, podendo ser associada ao compromisso pró-ecológico. Dessa forma, torna-se importante identificar se, ao nos responsabilizarmos pelas gerações ainda não nascidas, conseguimos nos implicar em ações de cuidado ambiental ou pelo menos promover e engajar nossos discursos em prol da sustentabilidade. Ao considerar esse contexto, este estudo investigou a relação entre a percepção das mudanças climáticas e a orientação de futuro no formato da solidariedade com as gerações futuras, visando a entender a importância da orientação de futuro para integrar a percepção das mudanças climáticas. Os dois estudos que compuseram essa investigação exploratória, realizados com 113 e 12 participantes respectivamente, foram organizados a partir de duas diferentes técnicas: a produção de uma carta, (ainda que no primeiro estudo estivesse contida em um questionário) e uma entrevista semiestruturada. A análise de conteúdo abdutiva originou eixos temáticos que tratavam da pMCs e OF, que foram depois analisados a partir do olhar da relação entre ambos os conceitos. Os resultados demonstraram a importância de trabalhar a perspectiva temporal quando se trata do fenômeno das MCs, e que não só é possível estabelecer a ponte entre pMCs e OF, mas também compreender possíveis conceitos formadores dessa relação. O olhar da solidariedade com as gerações futuras reforça sua importância como conceito e a necessidade de considerar que o futuro importa e que são necessárias mudanças urgentes para a garantia de um ambiente ecologicamente equilibrado. Palavras-chave: Percepção das mudanças climáticas; orientação de futuro; investigação exploratória; solidariedade com as gerações futuras xvi Abstract Climate change (CC), a human-environmental problem that has its profound consequences from human action, presents a crisis character for this study and given its urgency, measures of mitigation need to be thought in the here and now, with repercussions a posteriori. The perception of climate change (pMCs), as outside our immediate and local context, can also generate a distance from perception of risk and an urgent need of commitment to mitigation actions. Thus, the relevance of future orientation (FO) should be considered as an attitudinal variable internal to individuals, which can be associated with pro-ecological commitment. In this way, it becomes important to identify whether, by taking responsibility for the generations not yet born, we are able to involve ourselves in environmental care actions or at least promote and engage our discourses in favor of sustainability. Considering this context, this study investigated the relationship between the perception of climate change and future orientation in the format of solidarity with future generations, aiming to understand the importance of future orientation to integrate the perception of climate change. The two studies that composed this exploratory investigation,carried out with 113 and 12 participants respectively, were organized using two different techniques: the production of a letter (even though in the first study it was contained in the questionnaire) and a semi-structured interview. The abductive content analysis originated thematic axes that dealt with pMCs and OF and were then analyzed from the perspective of the relationship between both concepts. The results demonstrated the importance of working with a temporal perspective when it comes to the phenomenon of MCs, and that it is not only possible to establish a bridge between pMCs and OF, but also to understand possible concepts that form this relationship. The perspective of solidarity with future generations reinforces its importance as a concept and the need to consider that future matters and that urgent changes are needed to guarantee an ecologically balanced environment. Keywords: perception of climate change; future orientation; exploratory investigation; solidarity with future generations 17 Apresentação Nos últimos anos, o setor ambiental brasileiro tem sido colocado em situação vulnerável, devido às políticas ambientais frágeis ou inexistentes, e com atuação questionável no que diz respeito à conservação dos recursos naturais. Em se tratando da sociedade contemporânea, é necessário o entendimento de que o capitalismo propõe a visão dos recursos naturais como mercadorias, atribuindo-lhes valor-de-troca e criando relações de uso e exploração desses recursos. Sendo assim, eu me pergunto como fica o ambiente, elemento fundamental para o mundo do amanhã, o mundo das gerações ainda não nascidas? O ano de 2018, início deste doutorado, foi bastante marcado pelo questionamento sobre o Brasil que desejamos. Digo desejamos no presente, porque apesar da pergunta ter sido feita no passado, o desejo reverbera até a atualidade. 2018, ano de Copa do Mundo, ano de eleições no Brasil. Ano em que foi eleito um novo presidente, que em poucos meses de governo já fazia a política ambiental mais desastrosa da história do país. O fim das Reservas Legais, a diminuição na fiscalização e o enfraquecimento de políticas climáticas e do Ministério do Meio Ambiente dão sentido ao pensamento de um possível desmonte do cuidado oficial do ambiente no país. O que tem sido visto com extrema gravidade pelos líderes políticos e especialistas em biodiversidade dos outros países, muitas vezes vem sendo ignorado pelos governantes brasileiros. Dentro do ambiente acadêmico, assistindo a aulas de uma disciplina sobre marxismo, pensar na possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro e do já previsível desmantelamento das políticas ambientais que ocorreria nos quatro anos vindouros reforçou em mim a importância de um mundo melhor, diferente do que se anunciava. Fundamentando ainda mais a minha necessidade de pensar um mundo melhor não só para as vivências presentes, o ano de 2018 foi também o ano da gestação da minha filha, que nasceu em dezembro, renovando com ela a minha 18 motivação e resiliência, para tirar de tempos difíceis a importância de ver projeções futuras menos nefastas. Os anos em que se seguiu a realização da tese, me mostraram a importância de reforçar a crença em uma ciência transformadora e dinâmica, que se atualiza conforme as necessidades do campo. Assim, 2020 fortaleceu o cenário de medo e incertezas em termos de política brasileira, e também carregou um atravessamento mundial com o contexto da pandemia de COVID-19 e das milhões de mortes causadas pelo vírus que caracterizam uma das maiores crises de saúde experienciadas até então. Assim fica clara a importância de considerarmos as diversas crises planetárias que se entrelaçam na dimensão ambiental, econômica e de saúde, e são agravadas por crises governamentais, modificando o rumo de pesquisa e da ciência e reforçando a importância de redirecionar nossos esforços de desenvolvimento para um modelo que seja mais sustentável. No aqui e agora, o que significa criar uma filha ou filho em uma pandemia? Ou trocando em miúdos, o que significa cuidar de novas gerações em uma situação de emergência global com crises nas mais distintas esferas, mas principalmente nos contextos ambiental e de saúde? O que vamos construir nesse e com esse momento que ficará para a posteridade? A verdade é que já somos todos mães, pais, avós, avôs, bisavós e bisavôs daqueles que assumirão a responsabilidade por esse mundo nas próximas décadas e precisamos agir no presente nos perguntando sobre qual os contornos que gostaríamos que o mundo de amanhã tivesse. Diante de inúmeras incertezas que se apresentam neste cenário, nos ancoramos no presente, mesmo que esteja caótico, como tentativa de lidar de modo mais tranquilo com os processos vivenciados, acessando muitas vezes um passado saudosista que nos relembra a vida sem pandemia que conhecíamos até então. Porém, é no futuro que se reforçam sentimentos como esperança e resiliência, e o movimento de planejar se instaura exatamente nessa fração de tempo que neste caso podemos denominar de pós-pandemia. Considerar todas as esferas do 19 tempo passa, portanto, a ser fundamental, pois a nossa atuação no presente, baseada em nosso repertório e experiências passadas, serão a base do futuro que queremos construir. É nesse cenário catastrófico por um lado, positivo e repleto de possibilidades e vida do outro, que este estudo passa a ter novos contornos. Na tentativa de encontrar um equilíbrio diante do prognóstico catastrófico da política ambiental brasileira, bem como do cenário da pandemia que assola o mundo, passo a pensar em futuro, em um planejamento desejável de mundo melhor para as gerações ainda não nascidas. Gerações estas, com as quais eu talvez não chegue nem a conviver. Mas elas existirão e precisam de um mundo mais generoso, merecem conhecer a mesma natureza que eu conheci. As seções seguintes trazem uma descrição do tema e literatura pertinente de embasamento para o estudo. Os capítulos estão organizados em sequência, a fim de apresentar relações entre si e darem sentido ao objetivo geral a ser desenvolvido. 20 Introdução A gravidade dos problemas ambientais já vem sendo reconhecida nas últimas décadas (Corral-Verdugo, 2010; Lago, Amaral, & Mühl, 2013) e as evidências sobre as contribuições negativas e positivas da humanidade para essa dinâmica ambiental prejudicada tem sido também cada vez mais discutidas (Oskamp, 2000). Sendo assim, alguns fenômenos ambientais influenciam e são influenciados pelas ações humanas. O aumento da temperatura na Terra e as consequentes alterações no clima são possivelmente os maiores exemplos de como as questões ambientais se configuram um problema e um desafio para a humanidade. Nessa perspectiva, um dos problemas ambientais atuais que mais geram consequências para a humanidade são as mudanças climáticas (MCs), fenômeno que inclui o aumento da temperatura média do planeta, que apresenta suas causas ligadas a alguns aspectos naturais e outros agravados pela interferência humana e gera uma série de impactos ambientais (Marengo, 2006). As MCs se configuram como um conjunto de fenômenos de caráter físico, que atingem também a esfera das políticas públicas do planeta (Weber & Stern, 2011). Nesse sentido, podemos falar não só de um aumento da temperatura mundial, mas também das interferências desse aumento na vida cotidiana dos seres humanos e na forma como estes interpretam e lidam com tal problemática. A consideração das MCs como um problema tem sido reforçada por alguns estudos interdisciplinares e em especial pela Psicologia, que ressaltam o fenômeno como uma das principais questões da humanidade (Clayton et al., 2015; Gifford, 2011; O’Neill, 2008; Oppenheimer & Todorov, 2006; Pahl, Sheppard, Boomsma & Groves, 2014; Sundblad, Biel & Garling, 2009 ). 21 Sabe-se quea elevação da temperatura e outros prejuízos das MCs se devem à intensificação da atividade humana e o consequente aumento da liberação de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. As consequências das MCs são inúmeras e cada uma delas pode desencadear impactos que criam riscos crescentes à vida no planeta, a vários sistemas, espécies e, inclusive, à espécie humana (Devine-Wright, Price, & Leviston, 2015; Gifford, 2011; Pahl et al., 2014; Scannel & Gifford, 2013; Sundblad, Biel, & Garling, 2014; Swim, Stern, Doherty, Clayton, Reser, Weber, Gifford, & Howard, 2011; Uzzel, 2000). Segundo o sexto relatório do IPCC (2021), a mudança climática já impactou todas as populações e as regiões da Terra. Não estamos apenas quebrando recordes da ampliação da temperatura e outros impactos, mas o mundo em que vivemos hoje não tem paralelo recente. As mudanças climáticas estão aqui e agora, transformando nosso mundo de hoje de todas as formas. Mas isso não quer dizer que nosso futuro já está definido. Nós ainda temos a capacidade de limitar futuros aumentos de temperatura, e trabalhar em colaboração com comunidades ao redor do mundo na adaptação das mudanças que já aconteceram. Na edição mais recente do relatório do IPCC (2021), esse sentimento de esperança ainda surge e urge como o único caminho para que a humanidade conserve um pouco do que temos hoje, principalmente porque o comportamento tem sido o oposto, o de destruir. Dessa forma, é inconcebível não considerarmos a influência das ações humanas no agravamento ou mitigação do problema em questão, por isso, pode-se considerar essa questão não apenas como um problema ambiental, mas sim como um problema humano-ambiental (Pinheiro, 1997), ou seja, trata-se de problemas-da-humanidade, reflexo das ações e do comportamento humano (Corraliza, 1997). Se o agravamento das MCs tem relação com o comportamento humano, que muitas vezes tende a degradar o meio ambiente e atuar de forma antiecológica, ações de mitigação e de abrandamento do problema ambiental referido devem se sustentar também nas mudanças 22 das ações humanas e da sua relação com o meio natural. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2021), as emissões de gases estufa produzidas pelas atividades humanas, como a indústria, a queima de combustíveis fósseis, o uso de fertilizantes e agrotóxicos e o desmatamento, são a principal causa do problema, e elas têm crescido sem parar e de forma devastadora, estando atualmente nos níveis mais altos já verificados na história. Já é possível verificar que os efeitos negativos das MCs sobre a sociedade humana e a natureza são vastos e disseminados globalmente. O IPCC concluiu em seu sexto e mais recente relatório de avaliação que, mesmo se as emissões de gases estufa forem completa e imediatamente interrompidas, a maioria dos impactos das MCs persistirá por séculos à frente. Ou seja, a continuidade das emissões de gases estufa causará um aquecimento ainda maior no futuro, com efeitos de longa duração em todos os componentes do sistema climático, que estão todos interrelacionados. Em se tratando de mudanças climáticas globais, existe uma distância temporal das consequências mais alarmantes do fenômeno, bem como da eficácia das ações de mitigação que, como exposto nos resultados do IPCC, apresentam respostas em longo prazo. Nesse sentido, é necessário que consideremos também a distância espacial, tendo em vista que o fenômeno ocorre na macro escala, abarcando as dimensões espaciais locais e globais. Dessa forma, pode-se entender que a experiência direta destas mudanças no nível global por parte das pessoas é impossível, pois suas alterações são imperceptíveis (ocorrem muitas vezes em longo prazo e numa distância física elevada), de maneira que apenas futuras gerações virão a perceber os impactos mais agravantes do fenômeno das MCs (Pinheiro, 2007a; Spence, Poortinga, Pidgeon, 2012; Uzzel, 2000). Sendo assim, serão as crianças de hoje as principais afetadas pela problemática que envolve as mudanças climáticas, de forma a serem os nossos filhos, netos e bisnetos aqueles que sentirão as suas consequências mais catastróficas. Considerar que as crianças atuais e até https://pt.wikipedia.org/wiki/Combust%C3%ADveis_f%C3%B3sseis https://pt.wikipedia.org/wiki/Fertilizantes https://pt.wikipedia.org/wiki/Desmatamento 23 gerações ainda não nascidas e com as quais não necessariamente iremos conviver sentirão os impactos negativos de nossas ações nos faz responsáveis por buscar soluções que visem deixar para os próximos habitantes do planeta os recursos naturais na mesma ou em condição similar ao que encontramos ao aqui chegar (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991). Ultimamente, tem-se exercitado um olhar mais atento para as populações infantis viventes, bem como as que ainda nascerão, considerando a importância das experiências na natureza que são extremamente significativas para este segmento etário (Chawla, 2002). Assim, estudos que acessem a percepção ambiental de crianças a respeito da pauta ambiental e pauta climática, ganham maior relevância, pois é preciso que consideremos essas populações na promoção de medidas de mitigação que se baseiem em repercussões mais significativas para o futuro (Barraza, Ahumada & Ceja-A dame, 2006; Farias, 2017). Diante deste cenário, a preocupação com a sustentabilidade representa a importância de garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades (Jacobi, 2003). Esse compromisso com o meio pressupõe minimamente uma consideração com o futuro (Corral-Verdugo et al., 2009), tendo em vista que a sustentabilidade e a perspectiva ecológica envolvem solidariedade intra e intergeracional (Pinheiro, 2006; Pinheiro & Corral-Verdugo, 2010; Pol, 2002); ou seja, envolvem uma consideração e vínculo com as gerações que estão por vir, uma espécie de apego ao futuro (Pinheiro, 2002a). Assim, pode-se pensar na perspectiva temporal de futuro como uma variável atitudinal interna a um indivíduo, podendo ser associada ao compromisso pró-ecológico (Koger & Winter, 2004; Oskamp, 2000; Pinheiro, 2002b; Pinheiro & Corral-Verdugo, 2010; Pinheiro & Diniz, 2013; Steg, Bolderdjik, Keizer, & Perlaviciute, 2014). Dessa forma, torna-se importante 24 identificar se, ao nos responsabilizarmos pelas gerações ainda não nascidas, conseguimos nos implicar em ações de cuidado ambiental ou pelo menos conseguimos promover e engajar nossos discursos em prol da sustentabilidade. Pensar no planeta como algo que tomamos emprestado dos nossos descendentes nos sugere uma relação de cuidado mais eficiente e nos passa a impressão de que a Terra e nós somos uma só entidade. Por esse motivo, é importante que, ao pensar em solidariedade intergeracional, também pensemos em nossos antepassados e nas etapas de vida que já vivemos, se quando éramos crianças, nos preocupamos em deixar um mundo positivo para nossa existência como adultos e se agora, como adultos, nos orgulhamos de nossa caminhada quando crianças. Em um contexto em que alguns ainda questionam a existência das mudanças climáticas, chama a atenção vermos crianças e adolescentes engajados com problemáticas ambientais. Apesar da menor interação com o ambiente natural na contemporaneidade, o período da infância é demarcado por uma relação mais positiva com a natureza, já que as crianças interagem com os ambientes a partir de um senso de interesse e cuidado com a natureza que se baseia em constructos cognitivos, éticos e principalmente afetivos, o que gera maior sensibilidade por parte dos meninos e meninas, no tocante às questões ambientais e possíveis estratégias para lidar com esses problemas (Barraza, Ahumada & Ceja-Adame, 2006; Kahn & Kellert, 2002). Logicamente, interferências culturais e sociais contribuem paraessa consideração e cuidado com o meio ambiente no que se refere às crianças, mas abre-se um espaço para nos questionarmos sobre o motivo desse interesse e sensibilidade com as problemáticas enfrentadas pela natureza ir diminuindo ao longo do tempo, fazendo com que os jovens sejam mais sensíveis do que os adultos em relação às temáticas ambientais. Dessa maneira é possível compreender porque crianças e adolescentes têm se implicado como ativistas do clima. Ideias como as propostas neste parágrafo irão receber melhor cuidado nas seções que se seguem no texto. 25 Sendo assim, embora tenhamos tido e estejamos tendo governos nacionais, como os das administrações Trump e Bolsonaro, claramente negacionistas do clima, vemos em contrapartida, ações como a proposta por Greta Thunberg, ativista sueca de apenas 16 anos que iniciou uma série de protestos em seu país – e que tomaram força e voz ao redor do mundo, inclusive aqui, no Brasil – pedindo ações concretas contra a crise climática. Em uma de suas falas no plenário da Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas, no dia 23 de setembro de 2019 (ver vídeo oficial em https://www.youtube.com/watch?v=u9KxE4Kv9A8), a adolescente denunciou países como o Brasil, acusando os líderes políticos de terem traído sua geração e roubado seus sonhos e sua infância com os seus discursos vazios. Segundo Ailton Krenak (2020), em O amanhã não está à venda: O ritmo de hoje não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, de janeiro ou fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa. (p. 9) Olhar para o que realmente importa também considera uma mirada para o futuro, olhar para as futuras gerações e para o que ainda há e pode ser feito. Pensar na geração de Greta Thunberg e na de tantas outras crianças de hoje e de amanhã, é considerar a necessidade de adotarmos posturas de enfrentamento com relação aos problemas climáticos vividos na atualidade. É importante pensar no futuro, mas agir no presente, pois nossas ações no momento atual terão consequências nas décadas e séculos que virão. Como disse Greta, “a nossa casa está em chamas” e o que as crianças da atualidade e as gerações ainda não nascidas nos questionam é justamente o que nós, adultos, estamos fazendo para lidar com isso e transformar o mundo no qual elas viverão os anos vindouros. Nesse contexto, o primeiro capítulo desta tese se concentra em trazer a definição de MCs e contextualiza-las a partir de uma perspectiva psicológica e não só como um problema político ou de cunho técnico. Traz observações a respeito das escalas envolvidas na percepção https://www.youtube.com/watch?v=u9KxE4Kv9A8 26 das mudanças climáticas e a apresentação das dificuldades em acessar o fenômeno diretamente caminharão para as questões temporais envolvidas darão sentido ao segundo capítulo da tese. O segundo capítulo trabalha os conceitos de sustentabilidade, compromisso pró- ecológico e a orientação de futuro, estabelecendo a conexão entre essas temáticas, no que tange sua importância para o tema das MCs. Após a elucidação de conceitos importantes para a compreensão das MCs, o terceiro capítulo enfoca justamente o futuro, sua importância e em como a solidariedade intergeracional estabelece o sustentáculo para a ponte entre MCs e futuro. Em se tratando de uma pesquisa de caráter exploratório, não há uma preocupação em responder de forma precisa e esperada a essa interface, sendo considerada a forte possibilidade de manter abertas algumas gestalten no que se refere ao futuro na cabeça das pessoas e a relação com os problemas ambientais que assolam o planeta. Dessa maneira, os capítulos que se seguem abordam as técnicas utilizadas para atingir os objetivos, bem como a análise de dados e sua posterior discussão. 27 Capítulo 1. A psicologia das mudanças climáticas Os adultos ficam dizendo: “devemos dar esperança aos jovens”. Mas eu não quero a sua esperança. Eu não quero que vocês estejam esperançosos. Eu quero que vocês estejam em pânico. Quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. E eu quero que vocês ajam. Quero que ajam como agiriam em uma crise. Quero que vocês ajam como se a casa estivesse pegando fogo, porque está. (Greta Thunberg, em Fórum Econômico Mundial de Davos, 2019) Este capítulo se deterá a uma contextualização do tema das mudanças climáticas, partindo de uma consideração das mesmas como um problema humano-ambiental, que tem suas consequências aprofundadas a partir da ação humana. Para este estudo, as mudanças climáticas têm caráter de crise e neste capítulo serão apresentadas definições conceituais, além das duas escalas envolvidas na caracterização do fenômeno: espacial e temporal. Um destaque principal será feito para a distância temporal, apresentando as dificuldades na percepção e consideração das MCs a partir dessa perspectiva. Ao falar de MCs é preciso entendermos que há uma série de instâncias humanas de cunho social, psicológico, comportamental, político, econômico e cultural (O`Neill, 2008; Pawlik, 1991; Stern, Young, & Druckman, 1992; Swim, Clayton, Doherty et al., 2009; Uzzell, 2000). Ao considerarmos as causas das MCs, a influência humana é clara, e as recentes emissões dos chamados Gases de Efeito Estufa (GEE) são as maiores da história, ocasionando por todo globo terrestre impactos nos sistemas humanos e naturais (IPCC, 2021). O fenômeno das MCs vem se tornando assunto cada vez mais discutido em diferentes esferas. A Revolução Industrial pode ser colocada como o marco histórico que sinaliza o movimento mais exacerbado das atividades que culminaram na atual conjuntura do planeta. Foi a partir daquele momento que as sociedades começaram a se organizar com base em um modelo de civilização do desenvolvimento, pautada nas regras do capitalismo, que emprega os recursos 28 naturais de forma pouco sustentável e realizando modificações no ambiente de forma mais contundente (Held, 2001; Gifford, 2011; Krenak, 2020; Nielsen & D’Haen, 2014; Pawlik, 1991; Spence, Poortinga & Pidgeon, 2012; Swim, Clayton, Doherty et al., 2009). Assim, com uma maior industrialização e maior exploração dos recursos naturais, veio à tona, gradativamente, a discussão acerca dos impactos dessas atividades – na qual se incluiu na pauta a discussão acerca das mudanças climáticas. Sem pretensões de se deter ao debate a respeito da causa humana das mudanças climáticas, este trabalho se compromete com a visão de 97% dos cientistas climáticos que concordam que as MCs são agravadas pelas ações humanas, o chamado “aquecimento global antropogênico” (Cook et al., 2013; Australian Psychological Society, 2016; IPCC, 2021). 1.1. Mudanças climáticas As mudanças climáticas sugerem por si só a ocorrência de fenômenos que abarcam dimensões espaciais locais e globais e evidenciam uma distância considerável do nosso contexto imediato de vida, para o campo de ocorrência dessas alterações ambientais. Este, talvez, seja um dos motivos pelos quais tornamos tão distante a nossa atuação com relação à mitigação dessa problemática, discutindo seus efeitos sempre como um problema remoto, abstrato e longe das perspectivas, possibilidades e prioridades humanas. De forma simples, as mudanças climáticas globais seriam mudanças no clima causadas pelo aumento da temperatura global. Além das ondas de calor e de sistemas climáticos mais aquecidos, as MCs têm sido consideradas as responsáveis por secas, enchentes, furacões e tempestades ocorridas nos últimos anos ao redor do planeta. Há ainda impactos relacionados à perda de biodiversidade, aumento do nível do mar, derretimento das geleiras, e impactos diretamente ligados aos seres humanos, como os prejuízosà saúde, agricultura e produção de energia dentro do modelo atual (Marengo, 2006; Giddens, 2010). 29 Considerar as MCs como um problema humano-ambiental, traz também à tona os efeitos danosos desta problemática para a saúde, qualidade de vida, bem estar público e patrimônios ambientais e sociais (Costa-Lima & Layrargues, 2014). Os impactos das MCs na nossa vida sugerem que pensemos nas formas de lidar com essas questões, percebendo-se as crises ambientais como atuais desafios civilizatórios. O fortalecimento da concordância em torno da influência do fator humano nas origens das MCs coincide com uma transição no enquadramento dos debates: o que antes era foco de uma discussão voltada para as ciências ambientais tradicionais (físicas e naturais), atualmente se põe como forte interesse de pautas políticas e econômicas (Casagrande et al., 2011), sendo recorrente em discussões inseridas nas agendas políticas, convenções internacionais e frequentemente abordado pela mídia (Barros & Pinheiro, 2013) e, portanto, também merecendo a atenção das ciências humanas e sociais. A centralidade da pauta na agenda ambiental internacional demonstra um gradativo e urgente aumento no interesse pelo tema, que se justifica principalmente pelos impactos já vivenciados na atualidade (Costa-Lima & Layrargues, 2014). As mudanças climáticas se configuram atualmente como uma dimensão urgente, grave e profunda da crise ambiental do Século XXI (Giddens, 2010). Sua urgência se caracteriza por restar pouco tempo para se estabilizar na atmosfera a concentração de gases do efeito estufa em níveis aceitáveis. Sua gravidade se refere ao aumento da desertificação, crise de recursos hídricos e perda da biodiversidade, bem como os prejuízos gerados à infraestrutura e atividades econômicas humanas. E a profundidade do problema se baseia em não existirem soluções apenas tecnológicas, havendo a necessidade do fim de uma civilização baseada no uso de combustíveis fósseis e outros depreciadores do meio ambiente. Do ponto de vista físico, o mais recente relatório do IPCC traz contribuições significativas, além de esclarecer de forma firme as influências das ações humanas no que tange à ampliação das consequências das MCs. Aquele relatório esclarece as mudanças físicas nos 30 sistemas do planeta, estabelecendo altos índices de probabilidades para suas causas. Seus capítulos discutem mudanças físicas na atmosfera, no oceano, informações relativas ao ciclo do carbono, aos ciclos biogeoquímicos, avaliam modelos climáticos, e atribuições das mudanças em nível global e regional, e projetam e preveem como as mudanças climáticas continuarão a ocorrer (IPCC, 2021). O relatório toma como base a temperatura de bulbo úmido, uma medida que combina calor e umidade. Nesta perspectiva, 31°C já é uma temperatura do bulbo extremamente perigosa para os seres humanos e a situação passa a ser insuportável e até mesmo letal se a temperatura de bulbo chegar a 35°C por mais de 4 horas, especialmente para as populações idosas ou mais jovens. Pelo aumento da temperatura e consequente aquecimento do planeta, as MCs também são conhecidas popularmente como aquecimento global (AG), termo que pode reduzir um fenômeno tão complexo e multifacetado como as MCs ao simples aumento de temperatura (Farias, 2017). Por esta indevida redução, o uso da expressão aquecimento global passa a ser cada vez menos hegemônico para se referir ao fenômeno. MCs estão associadas a uma série de aspectos da crise ambiental do nosso século. Em se tratando especificamente do aquecimento global, que se configura apenas como um aspecto dessas mudanças, existem evidências de que o fenômeno deva extrapolar o problema das ilhas de calor em todas as grandes cidades, uma vez que prédios e asfalto retêm muito mais radiação térmica do que as áreas não-urbanas (Marengo, 2006). O caráter de urgência reforçado nas últimas publicações técnicas que tratam deste tema, também suscita discussões importantes a respeito da nomenclatura utilizada para referir-se ao fenômeno. Publicações do início dos anos 2000, discutiam a temática restringindo sua problemática ao aquecimento do globo, referindo-se comumente ao fenômeno como aquecimento global, reducionismo este que foi abandonado conforme citado anteriormente. Quando iniciei os estudos sobre essa temática há mais de 10 anos, no grupo de pesquisa do qual 31 faço parte, a literatura – nacional e internacional – sobre o tema, tratava-o como Mudanças Climáticas Globais (MCGs). Compreendendo que o problema tem uma causa central, que se volta para os efeitos da ação antrópica sob o planeta, também tem havido certa tendência em trabalhar a temática no singular, como mudança climática. Contudo, para este estudo, adotarei a perspectiva da nomenclatura no plural, como Mudanças climáticas (MCs), entendendo que dessa forma pode- se compreender o fenômeno como transformações mais complexas do que o aumento da temperatura global. Segundo a Cúpula da Ação Climática das Nações Unidas, os impactos das MCs já estão sendo sentidos em todos os lugares e estão tendo consequências muito reais nas vidas das pessoas. A mudança climática está atrapalhando as economias nacionais, custando caro hoje e ainda mais amanhã. Contudo, já existe o reconhecimento crescente de que agora existem soluções acessíveis, que permitirão a todos avançar para economias mais limpas e resilientes (IPCC, 2012; Spence, Leygue, Bedwell, & O’Malley, 2014; Swim & Becker, 2012). Falar nas MCs trazendo a conotação de crise climática é fundamental para enraizar a necessidade de pensarmos medidas de enfrentamento que se configurem na atualidade. A urgência da problemática exige também urgência de ações de mitigação, que visem minimizar os efeitos mais alarmantes das MCs. Sobre as estratégias de enfrentamento, Barros (2018) diz que algumas formas de mitigação do problema são apontadas com maior grau de certeza como possíveis e necessárias. São elas: a) a redução de carbono, por meio da promoção e recuperação de áreas que foram degradadas para pastagem; b) a mudança no padrão pecuarista, com encorajamento de adoção de sistemas lavoura-pecuária; c) a substituição dos combustíveis fósseis usados pela indústria, com a geração de energia solar e eólica; d) a implementação de sistemas de transporte públicos integrados e mais eficientes, com a ampliação de linhas de 32 metrô e trens urbanos, implantação de linhas de veículos leves sobre trilho, e a implementação de medidas de gerenciamento de tráfego. Além das medidas de mitigação que devem ser adotadas, levar em consideração a adaptação dos seres humanos a toda a problemática ambiental existente surge como mais um espaço de estudo para a Psicologia. Sobre essa adaptação, aspectos como a percepção das mudanças no clima, bem como percepção de risco e vulnerabilidade são enfocados pela Psicologia, na tentativa de se discutir possíveis estratégias de adaptação (Nielsen & D´haen, 2014). Por adaptação se entende a realização de ajustes necessários em sistemas humanos ou naturais, incluindo estruturas, processos e práticas (IPCC, 2007). Como exemplo, é possível mencionar a crise nos sistemas de abastecimento hídrico, que demanda medidas de adaptação (IPCC, 2014a; PBMC, 2014b), tais como as destinadas a assegurar o abastecimento de água. Considerar as mudanças climáticas como uma problemática da humanidade, nos leva a pensar não só em nossa responsabilidade em ações de mitigação do fenômeno, mas também na urgência em alterar nossas ações prejudiciais ao ambiente, minimizando os impactos e prevenindo consequências mais drásticas. Atualmente, a pandemia do coronavírus tem sido considerada uma “doença antropocêntrica”, o que sugere a sua ligação com esta nova era ecológica que se caracteriza pela considerável pressão que atividades humanas estão exercendo sobre os ecossistemas eas consequências sobre saúde pública, sociedade e meio ambiente (David, Le Dévédec, & Alary, 2021; Sansonetti, 2020). Dessa forma, não há como separar a saúde do planeta da saúde humana, haja vista a possibilidade que temos de também evitar catástrofes sanitárias como a que estamos vivenciando na atualidade com a pandemia da COVID-19. O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo binômio sustentabilidade e 33 desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a inclusão social (Jacobi, 2003). Ainda que as ações com eficácia mais direta contra as MCs sejam de ordem macrossistêmica e levada a âmbitos como o das políticas públicas e das decisões políticas a respeito das questões ambientais, ações individuais e coletivas surgem como possibilidades de demandas em níveis mais aproximados do que conhecemos e nos sentimos capazes de realizar. Para tanto, é fundamental o fortalecimento das organizações sociais e comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias, de informação e conhecimento para participar crescentemente dos espaços públicos de decisão e para a criação de instituições amparadas na lógica da sustentabilidade. Ao pensar no presente, encontramos um cenário em que, embora as consequências mais graves das MCs estejam mais evidentes na atualidade, com a pandemia nos meses críticos de lockdown nas cidades, houve uma redução mundial dos gases de efeito estufa entre 2% e 8% devido à queda acentuada do uso nos meios de transporte. Na contramão, as emissões brasileiras aumentaram entre 5% e 10% em relação aos anos anteriores à pandemia. A razão para isso foi que, enquanto a ordem era o isolamento social, o Ministério do Meio Ambiente ampliava a liberação de queimadas em áreas florestais. A falta de apoio governamental às medidas de mitigação das MCs demonstra um negacionismo da importância da conservação ambiental, além de uma não consideração da relação entre natureza e saúde. Especificamente com relação ao contexto de pandemia, a OMS associa o desmatamento e a fragmentação de matas nativas com doenças infecciosas emergentes. Um exemplo é o ebola, na África, epidemia causada pela proximidade entre humanos e primatas selvagens portadores do vírus. Ainda sobre o contexto atual da pandemia relacionada ao contexto da crise climática que experienciamos mundialmente, o microbiologista Philippe Sansonetti lembra da previsão sobre a onda de pandemias, indicando que as comunicações da Organização Mundial da Saúde já previam essa situação. Pandemias se tornarão mais frequentes devido à emergência climática 34 (causa e efeito da destruição de espécies e seus habitats) e à ampla circulação de pessoas e mercadorias fruto do mundo globalizado (Sansonetti, 2020). As chamadas “doenças do Antropoceno”, segundo Sansonetti e outros estudiosos, estão principalmente ligadas ao fato de os humanos terem dominado o planeta e ao impacto que estão causando sobre a Terra. Segundo Koger e Winter (2010), evitar os perigos das mudanças climáticas é um dos problemas de risco social mais urgentes que enfrentamos hoje e entender as percepções públicas relacionadas é fundamental para envolver o público nas principais transformações societárias necessárias para combater esta problemática. Análises das percepções do público indicam que as mudanças climáticas são percebidas como distantes em várias dimensões diferentes. 1.2. MCs e barreiras psicológicas para percepção e engajamento Para estudar a percepção ambiental das mudanças climáticas e sua consideração pelas pessoas, realizar um mapeamento das barreiras psicológicas propostas pela literatura a respeito das MCs talvez seja uma possibilidade importante, podendo-se justamente pensar em relacionar as barreiras psicológicas destacadas pelos principais estudos da área nas últimas décadas, considerando principalmente aquelas que mais se aplicam à realidade do contexto brasileiro. O fato de esse estudo se comprometer com uma visão que afirma a ocorrência das mudanças climáticas, com consequências que já afetam o meio e as populações atualmente vivas, não nega a existência de uma série de barreiras psicológicas que atuam na percepção e consideração do fenômeno. A Psicologia como ciência humana tem uma grande contribuição para a ecologia e questões ambientais, principalmente quando se considera a forma como os seres humanos entram na equação da revisão civilizatória e de como podemos conservar o mundo no qual vivemos hoje. Assim, estudos dos aspectos psicológicos relacionados à temática das MCs são de extrema relevância, pois permitem investigações que busquem maior compreensão de 35 comportamentos de degradação ambiental, engajamento e aceitação de políticas públicas para proteção ecológica, além da compreensão de elementos atrelados à adoção de estilos de vida sustentáveis, de barreiras psicológicas para esta adoção, dentre outros aspectos psicológicos presentes na interação pessoa-ambiente (Barros, 2018; Gifford, 2008; 2014; Milbrath, 1995; Werner, 1999). Algumas características das MCs se configuram como barreiras psicológicas à ação de mitigação, gerando os chamados dragões da inação (Gifford, 2011). A referência mitológica a dragões expressa o modo como esses fenômenos dificultam o alcance de metas humanas, portanto uma metáfora para a desafiadora busca por sustentabilidade no consumo dos recursos naturais (Iglesias, Caldas, & Rabelo, 2014). Essas barreiras contribuem para que haja um maior distanciamento e apatia das pessoas diante das MCs, desencorajando o engajamento em prol do meio ambiente. A ignorância é uma forte barreira à ação (Gifford, 2011; Urbina-Soria & Fernández, 2006; Uzzel, 2000), sendo comum que as incertezas a respeito desta problemática gerem dificuldades não só em aceitar as MCs como uma crise urgente, mas também em ter um bom entendimento de como devem ser as ações de enfrentamento do fenômeno. Sem compreender como agir, os indivíduos se afastam cada vez mais de medidas de mitigação e da própria ideia de sustentabilidade. Assim, a ignorância é uma barreira comum quando se fala sobre as mudanças climáticas – especialmente considerando a complexidade do problema. Essa questão traz também um dado social que deve ser levado em consideração: os centros mais desenvolvidos (América do Norte, Japão e Europa) apresentam um índice de consciência (awareness) sobre a existência das MCs acima de 90% da população, enquanto que para a maior parte das sociedades em desenvolvimento (tais como no Egito, Bangladesh, Nigéria e Índia), mais de 65% dos 36 respondentes indicaram nunca terem ouvido falar sobre as mudanças climáticas (Lee et al, 2015). Contudo, embora haja esse destaque socio geográfico, é importante considerar que populações que não possuem conhecimento técnico acerca desta questão por muitas vezes cuidam mais do meio ambiente do que populações tecnicamente conscientes sobre a gravidade das MCs. Povos originários e até mesmo populações das zonas rurais, não podem ser consideradas ignorantes a respeito da emergência climática, muito pelo contrário. Os sistemas culturais tradicionais e de subsistência representam na verdade outras formas de defender o ambiente, de forma que quando os pobres percebem as suas possibilidades de subsistência ameaçadas devido a projetos de mineração, barragens, plantações de árvores ou grandes zonas industriais, queixam-se não por serem ambientalistas profissionais, mas porque necessitam dos serviços do ambiente para a sua sobrevivência imediata (Alier, 1997). Assim, percebe-se que quando se trata das MCs, o conhecimento não é baseado apenas no saber técnico. Crenças e ideias existentes sobre diversosassuntos também podem se constituir em poderosas barreiras para a adesão a comportamentos pró-ecológicos. Muitos sistemas de crenças são tão extensos que influenciam aspectos diversos da vida do indivíduo; dentre esses sistemas de crenças, estão, por exemplo, as visões de mundo, visões sobre política e religiosidade (Clark; 1995; Gifford, 2011). Uma visão de mundo centrada no imediatismo e individualismo pode levar à ideia de liberdade para devastar e utilizar sem controle os recursos da natureza, o que é contraditório com a prática de ações de mitigação das MCs. Tais crenças e o desconhecimento do problema convergem em ideias e noções fantasiosas, desconectadas de evidências científicas (Gifford, 2011; Pawlik, 1991). Gifford (2011) traz ainda vários outros fatores que podem agir como barreiras para o engajamento da população, tais como a reatância, conflito de metas, a crença numa salvação pela tecnologia, etc. A própria negação da existência das MCs existe como um ponto de impacto 37 na consideração de ações de mitigação e adaptação da questão. Além dela, pensamentos desejosos com soluções simplistas ou irrealistas, como a crença na solução rápida e tecnológica, ou fatalismo, ou postura hedonista, são exemplos de fantasias sobre MCs, que podem levar à inação (Barros, 2018; Clayton et al., 2015; Gifford, 2011; Uzzell, 2000). Koger e Winter (2010) examinaram como mecanismos como os de negação nos protegem de sensações de desconforto quando somos confrontados com evidências de degradação do meio-ambiente, via racionalização, intelectualização ou deslocamento, entre outros. Muito além de expor apenas os vieses que proporcionam uma inação a respeito das mudanças do clima, as barreiras psicológicas possibilitam pensar também em considerações positivas, que consigam ultrapassar as barreiras e promovam maior engajamento por parte dos indivíduos. Ao pensar nos dragões da inação, Gifford (2011) elencou fatores que impedem a real apropriação do problema pela população. O fato de outros estudos se debruçarem sobre os fatores psicológicos envolvidos no contexto das MCs, demonstra o quanto a psicologia está implicada em questões ambientais e a importância de sua compreensão a partir de um viés psicológico tanto nas escalas individuais, como nas sociais mais amplas. Para as questões sociais, é importante entender que cada contexto irá expressar maior impacto de determinadas barreiras psicológicas. Na contemporaneidade, talvez a barreira da negação e do embotamento ambiental sejam as mais presentes e que mais impedem a ação, haja vista o negacionismo climático existente no discurso de alguns líderes políticos, bem como o bombardeio de informações vazias a respeito da temática. Na visão de Bawden e Robinson (2009), em situações de sobrecarga informacional, tendemos simplesmente a descartar boa parte delas e atualmente, as informações chegam de forma deliberada e sem que possamos filtrar muito. É o caso das fake news, informações sem base fundamentada que são disseminadas principalmente por veículos virtuais. A frequente exposição a uma infinidade de problemas ambientais, como os que caracterizam o cenário de consumo, gera comportamentos de ignorar 38 mensagens relevantes e reações de adaptação que impedem ações mais sustentáveis (Iglesias, Caldas, & Rabelo, 2014). Esse fenômeno de produção, compartilhamento de notícias falsas e desinformação que ocorre em alta velocidade, chamado de infodemia, afeta especialmente indivíduos que se baseiam no senso comum de forma deliberada e sem criticidade (Carvalho & Guimarães, 2020). Em se tratando de negacionismo das mudanças climáticas, é possível uma comparação com a visão negacionista a respeito da pandemia de COVID-19 e a desconsideração de seus efeitos devastadores. Mesmo em meio ao que já se confirma como a maior crise sanitária do mundo contemporâneo, são muitos os que desacreditam nas consequências e proporção catastrófica da doença. O resultado é justamente a falta de empatia e de responsabilização pela disseminação da doença, da mesma forma que ocorre um distanciamento e desresponsabilização a respeito das ações de mitigação e contenção das mudanças climáticas. No que se refere às questões ambientais, as consequências mais alarmantes ainda ocorrerão no futuro, a pandemia de COVID-19 tem seus efeitos desastrosos ocorrendo no aqui e agora e ainda assim, o negacionismo mantêm-se presente como uma das barreiras mais difíceis de serem transpostas. Pesquisas em âmbito nacional e internacional tem demonstrado que uma parcela da população ainda desconhece o que de fato significam as MCs e a real existência do problema (Barros, 2018; Cabecinhas, Carvalho, & Lázaro, 2011; Dunlap, 1998; Farias, 2012; Ojala, 2015; O’Neill, 2008; Pinheiro & Farias, 2015). Mesmo entre estudantes universitários ou ambientalistas, por exemplo, ainda há dificuldade de estabelecer uma definição única e desejável do que seriam as mudanças climáticas. Assim, um misto de dormência e ignorância constituem uma das barreiras psicológicas, impedindo a mobilização das pessoas. O fatalismo com o qual se lida com as questões que envolvem as MCs também funciona como uma barreira psicológica para a ação, principalmente considerando um pessimismo 39 generalizado, que sugere que nada pode ser feito para solucionar ou pelo menos minimizar os problemas ambientais. Escassez dos recursos naturais, crescimento desordenado da população mundial e as mudanças climáticas são vistos então como inevitáveis consequências do desenvolvimento humano (Gifford, 2011; O’Neill, 2008; Uzzel, 2000). Por outro lado, muitas pessoas acreditam que mesmo que haja um problema ambiental de ordem maior, o planeta eventualmente se recuperará sozinho e não é necessária qualquer mudança de comportamento humano nessa direção. Estudos mais recentes têm demonstrado justamente que a comunicação mais efetiva para promover engajamento deve considerar aspectos de positividade (Clayton et al., 2015; Corner, Whitmarsh, Xenias; 2012; Gifford, 2011; O’Neill & Nicholson-Cole, 2009; Pinheiro & Farias, 2015). Nesta perspectiva, pensar em um futuro ou cenário de vida das gerações futuras, espontaneamente considerando um contexto mais tranquilizador do ponto de vista ambiental, também precisaria ser um pensamento dentro de um futuro positivo, no qual, a partir da relação afetiva, faça sentido o investimento do compromisso pró-ecológico no presente. Por tal motivo, ações de educação ambiental para crianças são muitas vezes pautadas no fortalecimento do vínculo das crianças com a natureza através de vivências, já que só é possível amar aquilo que se experimenta e cuidar daquilo que se ama. O distanciamento espacial e temporal entre causa e efeito já citado em seções anteriores é um fator que influencia diretamente na percepção ambiental das MCs de forma a distanciar as pessoas da adoção de comportamentos pró-ecológicos, já que as consequências costumeiramente ocorrem em espaços e tempos diferentes daqueles em que podem se dar suas causas, não havendo um encadeamento rápido e claro entre as causas e consequências (Barros & Pinheiro, 2013; Pawlik, 1991; Uzzel, 2000). Assim, a impossibilidade de uma experiência de contato direto com os efeitos das MCs se coloca como uma barreira, sendo reforçada pela 40 inviabilidade de se poder visualizar a relação causa-efeito, uma vez que esses elementos podem estar distanciados no tempo e no espaço. 1.3. Escalas envolvidas na percepção do fenômeno Para entender as mudanças climáticas, é necessário pensar nas escalas envolvidas na percepção do fenômeno. Nesse caso, pensar em MCs é pensar em sua escala espacial, que atinge tanto o âmbito local quanto o global e também na escala temporal, que traz uma perspectiva ancorada no tempo futuro. Estas escalas nos fazem entender as MCs como um fenômeno de alta complexidadee abstração, com pouca concretude (Pawlik, 1991; Uzzel, 2000), que parece sempre muito distante espacial e temporalmente. A percepção ambiental das MCs como fora do nosso contexto imediato e local, por exemplo, pode gerar também um distanciamento com relação à sua percepção de risco atual e necessidade de compromisso com ações de mitigação (Lorenzoni & Pidgeon, 2006). Estes estudos destacam a expectativa de, ao acessar as pessoas sobre aspectos relacionados à percepção das MCs, compreender os motivos pelos quais há um afastamento e falta de compromisso dos indivíduos com relação às ações de mitigação. Embora possua implicações para o contexto local, o tema das mudanças climáticas globais faz referência ao globo, ao planeta Terra. Dessa maneira, devido à complexidade e abstração temporal envolvidas na definição e percepção desse fenômeno, lança-se um desafio à Psicologia, que passa a tentar lidar com macro-ambientes e analisar uma perspectiva temporal mais ampla. Além disso, cabe à área da Psicologia entender suas limitações e adotar um diálogo interdisciplinar, além de abordagens metodológicas que abarquem a complexidade desse tipo de estudo. Ainda no que se refere à escala espacial, estudos já indicaram que há uma tendência de que as pessoas avaliem de maneira mais positiva as partes do ambiente mais próximas de si, e 41 por isso mais concretas, do que as localidades mais distantes e abstratas (Gifford et al., 2009; Pinheiro, Cavalcanti, & Barros, 2018). Sendo assim, mesmo aqueles que não negam a ameaça das MCs, tendem a reconhecer a problemática associada às escalas maiores/mais distantes; havendo uma resistência em reconhecer que essa ameaça de nível global também afeta os espaços mais pessoais/próximos. Segundo Cavalcanti (2019), um fator determinante também na dificuldade de apreensão do problema em suas reais dimensões é o afastamento que nós, como seres humanos, adotamos na nossa relação com o meio natural. Há estudos que indicam que a conexão com a natureza é um componente chave para a adoção de um comportamento pró-ecológico (Mayer & Frantz, 2004) e que o apego ao lugar é essencial para o estabelecimento de um sentimento de cuidado, já que as pessoas tendem a cuidar mais de lugares pelos quais se sentem apegadas (Gifford, 2011). Entretanto, a amplitude da escala espacial envolvida na questão é um ponto de conflito, já que estamos falando de uma escala global e, por isso, não concreta para a experiência humana. Sendo assim, é preciso que entendamos que, ao falar das mudanças climáticas e incorporar na nossa fala a ideia de perspectiva global, estamos falando de uma experiência menos acessível do que pensarmos a respeito de ambientes mais próximos e particulares, como uma lembrança da casa em que vivemos na infância ou do atual bairro onde vivemos. A ideia de trazer a perspectiva da Terra como nossa morada soa como uma boa estratégia, contudo, o apego ao planeta ainda é muito distante da nossa apropriação para que tenhamos com ele uma relação tão afetiva quanto a de cuidar do nosso próprio lar (Pinheiro, 2007b). Lidar com mudanças climáticas é necessariamente lidar com distâncias. É o entendimento de que é preciso agir localmente, pensando globalmente e agir no hoje, pensando no amanhã. A perspectiva dessas duas escalas nos faz considerar elementos muitas vezes abstratos e de difícil apropriação para nossa realidade. Somado ao negacionismo climático, com o qual alguns líderes e ex líderes políticos como Jair Bolsonaro e Donald Trump tratam a 42 questão, é possível compreender a dificuldade das pessoas de se engajarem em medidas de mitigação do problema. Ao perceber as MCs como um fenômeno tão distante – temporal e espacialmente – a ponto de não se afetar, acaba-se inferindo que os próprios comportamentos não terão quaisquer prejuízos ou melhora no quadro da crise climática e assim é gerada uma apatia a respeito dos problemas ambientais. Alguns estudos mostram que análises das percepções ambientais das MCs indicaram que estas são percebidas como distantes em várias dimensões diferentes. Spence, Poortinga e Pidgeon (2012), utilizam uma amostra britânica representativa nacionalmente para explorar e caracterizar sistematicamente cada uma das quatro dimensões teorizadas da distância psicológica — distância temporal, social e geográfica e incerteza — em relação às mudanças climáticas, bem como as relações entre esses aspectos da distância psicológica. No caso desta tese, a barreira psicológica a ser focalizada será a distância temporal. O slogan “pensar globalmente, agir localmente” soa como uma proposta essencial para o desenvolvimento de ações de mitigação das MCs (Devine-Wright, 2013). A irrelevância da eficácia das ações humanas para mitigar a problemática em questão muitas vezes surge da consideração da distância dos eventos mais impactantes relacionados ao fenômeno. Ao considerarmos o problema como algo que afeta um contexto global, nossas ações parecem insignificantes, pois nossa vinculação afetiva com o planeta é muito menos significativa do que nosso vínculo com os entornos mais próximos. É necessário, portanto, estabelecer um vínculo afetivo com o planeta (Pinheiro, 2007b), que favoreça a implicação dos seres humanos com os ambientes com os quais se relacionam, favorecendo o compromisso pró-ecológico. A escala temporal presente na percepção das MCs também deve ser considerada pelos estudos psicológicos das MCs. A partir de uma lógica de hoje-futuro, as pessoas percebem e dão significado ao mundo que as rodeia. Além disso, não se pode entender o espaço e o lugar sem levar em consideração a história das pessoas e suas capacidades de se projetar para o futuro 43 (Moser & Uzzel, 2004). Sobretudo quando se fala em MCs e em suas características temporais. Assim, a emissão de comportamentos de mitigação pode estar relacionada a uma orientação de futuro, o que nos leva mais uma vez à importância de relativizar as distâncias envolvidas nas escalas das mudanças climáticas. Há de se considerar também o distanciamento espacial e temporal entre causa e efeito, já que as consequências mais agravantes das mudanças climáticas ocorrem em espaços e tempos diferentes daqueles em que podem se dar suas causas, não havendo um encadeamento rápido e claro entre as causas e consequências (Barros & Pinheiro, 2013; Pawlik, 1991; Uzzel, 2000). Assim, a impossibilidade de uma experiência de contato direto com os efeitos das MCs se coloca como uma barreira, sendo reforçada pela inviabilidade de se poder visualizar a relação causa-efeito, uma vez que esses elementos podem estar distanciados no tempo e no espaço. A consideração da distância temporal em relação às consequências mais agravantes do problema, bem como da eficácia das ações de enfrentamento, que tem suas respostas a longo prazo, evidencia a necessidade de se considerar a orientação de futuro em debates que levem em conta a comunicação e percepção das MCs. Assim, ao levar em consideração que as crianças de hoje experienciarão as consequências mais graves do problema, o estudo da minha dissertação investigou como 46 crianças de 7 a 10 anos, de duas escolas particulares natalenses percebiam as MCGs a partir das informações que recebem sobre esse tema. Os resultados demonstraram que apesar da alta complexidade, os participantes puderam se expressar a respeito do tema, principalmente quando questões ambientais foram previamente trabalhadas no contexto escolar. Tal constatação, aliada ao compromisso manifestado pelas crianças com medidas de mitigação, fornece subsídios importantes para o planejamento de projetos de educação ambiental para este público. Diante desse cenário, os estudos dos aspectos psicológicos envolvidos devem incluir ainda os âmbitos local e global do problema, e devem reconhecer também que a esfera de 44 atuação diante das MCs pode
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