Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO IGOR UCELLA DANTAS DE MEDEIROS CARACTERIZAÇÃO NUTRICIONAL, TECNOLÓGICA E FUNCIONAL DE RESÍDUOS LIOFILIZADOS DE FRUTAS TROPICAIS NATAL/RN 2016 1 IGOR UCELLA DANTAS DE MEDEIROS CARACTERIZAÇÃO NUTRICIONAL, TECNOLÓGICA E FUNCIONAL DE RESÍDUOS LIOFILIZADOS DE FRUTAS TROPICAIS. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do títluo de Mestre em Nutrição. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Roberta Targino Pinto Correia Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Karla Suzanne Florentino da Silva Chaves Damasceno NATAL/RN 2016 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS M488c Medeiros, Igor Ucella Dantas de. Caracterização nutricional, tecnológica e funcional de resíduos liofilizados de frutas tropicais / Igor Ucella Dantas de Medeiros. – Natal, 2016. 85f.: il. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Roberta Targino Pinto Correia. Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Karla Suzanne Florentino da Silva Chaves Damasceno Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Nutrição. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Frutas tropicais – Dissertação. 2. Fitoquímicos – Dissertação. 3. Resíduos industriais – Dissertação. I. Correia, Roberta Targino Pinto. II. Título. RN-UF/BS-CCS CDU: 634.6 3 AGRADECIMENTOS O primeiro e principal agradecimento que faço é à minha família. Ao meu pai, que como exemplo de educador, sempre apoiou e reforçou o poder que o conhecimento tem para mudar as pessoas e o mundo. Agradeço também a minha mãe e meus irmãos, que junto ao meu pai, sempre torceram pelo meu sucesso e me motivaram para que eu sempre colocasse muito empenho no que faço. Que esse passo que dou seja símbolo do amor, gratidão e adimiração que tenho por vocês. Ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição, em especial à professora Lúcia Pedrosa, que com muito afinco, realizou esse sonho da tão esperada pós-graduação no nosso curso, possibilitando assim que o sonho de outras gerações sejam realizados. Agradeço aos amigos! Aos “Mestrandos Nota 100” do centésimo curso de pós-graduação da UFRN! Amigos com quem compartilhei parte desse caminho acadêmico, com risadas, conversas, estatísticas, análises, etc. Nossa inspiração mutúa fez e fará parte da história do PPGNUT. Um agradecimento muito especial vai aos “LABTAmigos”! À Tássia, Dândara, Thaís e Aline, as ICs mais especiais que existem, e que junto a Fran, Ana Luiza e Kátia formaram mais que uma equipe, e sim uma FAMÍLIA, deixando o trabalho no laboratório sempre muito leve. Foram tantas trocas, de conhecimentos, aprendizados, músicas, gargalhadas, comida, enfim... Foram momentos inesquecíveis compartilhados por pessoas lindas e especiais que vou levar dentro do meu coração para SEMPRE! Agradeço à parceria com a professora Jailane Aquino, UFPB, que forneceu o material para análise além das demais contribuições para maior aprofundamento e refino da nossa pesquisa. Finalmente, agradeço muito à Roberta Targino, orientadora e pesquisadora espetacular, que topou me orientar mesmo nem sabendo quem eu era! Agradeço e admiro Roberta pela sua inteligência, respeito, sagacidade, carinho, praticidade e exigência, tudo muito bem balanceado e que, junto à minha co-orientadora Karla Suzanne, possibilitaram meu aperfeiçoamento acadêmico, acreditando no meu potencial e lapidando-o. 4 “O homem é livre, enquanto pode pensar...” Ralph W. Emerson. 5 RESUMO O consumo de frutas está associado ao seu efeito benéfico à saúde pela presença de fibras, vitaminas e compostos bioativos, sobretudo compostos fenólicos (CF) e vitaminas com atividade antioxidante. O Brasil possui produção diversificada de frutas tropicais, como a acerola, goiaba e caju, normalmente processadas formando grandes volumes de resíduos agroindustriais. Assim, o presente trabalho objetivou caracterizar resíduos liofilizados de acerola (RLA), goiaba (RLG) e caju (RLC) quanto aos aspectos nutricionais, tecnológicos e funcionais associados ao estudo do conteúdo bioativo após tratamento térmico. Os resíduos apresentaram elevado teor de fibras dietéticas, com destaque para as insolúveis no RLG (40,6%) e solúveis no RLA (14,2%). O RLG apresentou maior valor protéico (13,8%) e de lipídios (9,2%), porém de forma geral, todos os resíduos apresentaram valor calórico reduzido. Os minerais em destaque foram potássio, cálcio e magnésio, especialmente no RLC (K: 83,5 mg/g) e o RLA (Ca:31,9 mg/g e Mg: 2,8 mg/g). Quanto aos aspectos tecnológicos, todos os resíduos apresentaram baixa higroscopicidade e valores promissores de retenção de água (4,4 – 12,0 g/g) e óleo (3,0 – 5,4 g/g). O RLA foi o mais rico em CF totais (5331,7 mg eqAG/100g), flavonoides totais (760,9 mg eqC/100g) e atividade antioxidante (688,1 μmol eqTrolox/g no ORAC) e o RLG apresentou mais proantocianidinas (217,8 mgEqPAC2/100g). O RLA obteve melhor perfil fenólico com ácido salicílico (3503,4 mg/100g), miricetina (929,4 mg/100g) e catequina (498,2 mg/100g). Nenhum resíduo apresentou atividade antibacteriana frente aos micro-organismos Salmonella typhimurium, Shigella sonneie, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus e Listeria monocytogenes. O RLA apresentou-se mais sensível ao tratamento térmico, com baixa retenção de CF totais atingindo 29% aos 150°C. Porém a atividade antioxidante apresentou melhor retenção em todos os resíduos e temperaturas (superiores a 70%). No caso do RLC, um aumento de até 133% aos 150°C foi detectado, relacionando-se com a formação de melanoidinas em todos os resíduos (com variações de até 582%). Com os dados obtidos, conclui-se que o RLA, RLG e RLC apresentam alto potencial nutricional, tecnológico e biotivo, inclusive para fortificação de outras matrizes alimentares. Palavras-Chave: Frutas tropicais, resíduos industriais, fitoquímicos, tratamento térmico. 6 ABSTRACT The dietary consumption of fruit is linked to beneficial health effects due the presence of fiber, vitamins and bioactive compounds, especially antioxidant phenolic compounds (PC) and vitamins. Brazil has a diversified of tropical fruits production such as acerola, guava and cashew, which are usually processed and transformed into large amounts of agro-industrial pomaces. Thus, this study aimed to characterize freeze-dried acerola pomace (ACE), guava (GUA) and cashew (CAS) in regard to their nutritional, technological and functional aspects, in addition to evaluate the impact of the thermal-treatment. These residues are high in dietary fiber, especially insoluble for GUA (40.6%) and soluble for ACE (14.2%). The GUA residue has higher protein (13.8%) and lipids (9.2%), but overall, all pomaces have reduced caloric content. Minerals such as potassium, calcium and magnesium were found in CAS (K: 83.5 mg/g) and ACE (Ca: 31.9 mg/ g and Mg: 2.8 mg/g). Moreover, all dried residues had low hygroscopicity and satisfactory water (4,4 – 12,0 g/g) and oil holding capacity (3,0 – 5,4 g/g). ACE presented the highest phenolic content (5331.7 mg AGE/100g), total flavonoid (760.9 mg CE/ 100g) and antioxidant activity (688.1 μmol TE/g in ORAC) and GUA presented higher proanthocyanidins (217.8 mg PA2/ 100g). ACE also presented outstanding phenolic profile, and salicylic acid (3503.4 mg/ 100g), myricetin (929.4mg / 100g) and catechin (498.2 mg/ 100g) were identified. No antibacterial activity against Salmonella typhimurium, Shigella sonneie, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus e Listeria monocytogenes was detected. Severe reduction of total phenolic content was observed for ACE sample, reaching 29% at 150 °C. However, higher antioxidant activity retention (above 70 %) was observed to all pomaces and temperatures. Interestingly, an increased TPC of up to 133% at 150 °C was detected, which may be related to the formation of melanoidins in all pomaces (with variations up to 582%). Based on these results, we conclude that freeze dried pomaces have high nutritional, technological and bioactive potential, and might be used as phytochemical-rich ingredients to different food matrices. Key words: Tropical fruit, industrial waste, phytochemicals, thermal treatment. . 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 9 2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA........................................................... 11 3 OBJETIVOS.................................................................................................... 13 3.1 OBJETIVO GERAL....................................................................................... 13 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................ 13 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................... 14 4.1 PRODUÇÃO NACIONAL DE FRUTAS TROPICAIS.................................... 14 4.2 PROCESSAMENTO DE FRUTAS TROPICAIS........................................... 15 4.3 COMPOSTOS BIOATIVOS PRESENTES EM FRUTAS TROPICAIS......... 17 4.4 APLICAÇÃO DOS RESÍDUOS DE FRUTAS NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA.............................................................................................. 19 4.5 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E ANTIMICROBIANA EM FRUTAS TROPICAIS.................................................................................................. 20 4.6 EFEITO DO PROCESSAMENTO DE FRUTOS TROPICAIS E SEUS RESÍDUOS................................................................................................... 22 5 METODOLOGIA.............................................................................................. 25 5.1 MATERIAL…………………………….………………………..………………… 25 5.2 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E DETERMINAÇÃO DE MINERAIS........... 25 5.3 ASPECTOS TECNOLÓGICOS E MICROSESTRUTURA.………………… 26 5.4 ASPECTOS FUNCIONAIS........................................................................... 27 5.4.1 OBTENÇÃO DE EXTRATOS.................................................................... 27 5.4.2 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS, FLAVONOIDES TOTAIS E PROANTOCIANIDINAS TOTAIS........................... 28 5.4.3 PERFIL DE COMPOSTOS FENÓLICOS.................................................. 29 5.4.4 DETERMINAÇÃO DE ÁCIDO ASCÓRBICO............................................. 30 8 5.4.5 DETERMINAÇÃO DE CAROTENOIDES TOTAIS.................................... 31 5.4.6 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE PELO RADICAL 2,2-DIFENIL-1- PICRILHIDRAZIL (DPPH•)................................................................................. 31 5.4.7 TESTE DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE PELA CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DE RADICAL OXIGÊNIO (ORAC)................................................ 32 5.4.8 ATIVIDADE ANTIBACTERIANA................................................................ 32 5.5 DETERMINAÇÃO DE FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE APÓS TRATAMENTO TÉRMICO DOS RESÍDUOS.......................................... 33 5.5 DETERMINAÇÃO DE MELANOIDINAS APÓS PROCESSAMENTO TÉRMICO........................................................................................................... 34 5.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................. 35 6 ARTIGO CIENTÍFICO..................................................................................... 36 6.1 ARTIGO 1.................................................................................................... 36 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 65 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 66 APÊNDICES....................................................................................................... 81 9 1 INTRODUÇÃO Dentre os diversos tipos de frutas existentes no mundo, as frutas tropicais merecem destaque, devido ao seu crescente comércio e consumo, seus aspectos sensoriais e pelo reconhecimento cada vez maior de seu valor nutricional e terapêutico1. É notável a importância da fruticultura tropical, seja pela produção econômica quanto pelo valor nutricional de seus insumos. O Brasil tem grande importância nesse mercado, visto possuir condição geográfica favorável ao plantio e colheita2–4. A acerola (Malpighia emarginata DC.), goiaba (Psidium gajava) e caju (Anacardium occidentale) são frutas amplamente distribuídas na América do Sul. Tais frutas (ou o pseudofruto, no caso do caju) são adaptadas ao clima tropical e são consumidas no país com destaque para sucos concentrados, doces ou compotas. Nesse cenário a incorporação de tecnologias como a desidratação de frutas tropicais é uma alternativa excelente para melhoria da comercialização desses insumos, viabilizando seu uso integral e diminuindo perdas pós-colheita5. Além de serem frutas ricas em açúcares e ácidos orgânicos, minerais, fibras e vitaminas, como a pro-vitamina A e a vitamina C, estudos já provaram que a acerola, goiaba e caju apresentam variados compostos bioativos além dessas vitaminas, tais como os polifenóis, flavonoides e antocianinas, todos esses com atividade antioxidante atestada3,6–8. Assim, tais frutas entram em consonância com estudos epidemiológicos que sugerem o consumo frequente de frutas, vegetais e chás devido ao efeito protetor de suas moléculas bioativas contra doenças cardiovasculares, neurogenerativas, câncer e processos inflamatórios8,9. Dessa forma, o consumo de frutas como a acerola, goiaba e caju podem auxiliar na proteção do corpo humano contra danos causados por espécies reativas de oxigênio (EROs)3,10. Dentro desse contexto, vale ressaltar que, além da polpa comestível, estudos comprovam que a concentração dos compostos bioativos nos resíduos das frutas, com destaque às tropicais, são maiores ou similares às polpas das frutas originárias11. No caso das frutas tropicais o processamento gera resíduos em peso equivalente ou superior ao produto principal12. Os resíduos ou bagaços originados do processo produtivo são particularmente ricos em fibras dietéticas, assim como compostos fenólicos e 10 carotenoides13–15. O variado grau de solubilidade, viscosidade e retenção de água das fibras dietéticas desempenham papel importante na qualidade dos alimentos nos quais são inseridas, o que, por sua vez influencia nas suas propriedades biológicas, como a fermentação colônica e regulação do trânsito intestinal, repercuntido positivamente no tratamento de doenças crônicas16. Essas e outras frações dos resíduos são passíveis de extração para produção de ingredientes funcionais, como aditivos naturais em produtos alimentícios, diminuindo a quantidade de resíduos gerados, além de agregar valor econômico para toda a cadeia agroindustrial4,8,17. Avaliando o contexto geral da produção agroindustrial de frutastropicais, é evidente que a associação de demandas cada vez mais fortes por produtos mais saudáveis, mais econômicos e mais sustentáveis direcionam estudos de novas oportunidades de aproveitamento de seus resíduos. A comprovação da viabilidade desse aproveitamento na elaboração de novos produtos pode representar um benefício para quem o faz, para quem irá fazer uso, e principalmente, para o meio ambiente. Assim a possibilidade de identificação e quantificação de aspectos nutricionais, tecnológicos e funcionais dos resíduos de acerola, goiaba e caju motiva o estudo de tecnologias para sua utilização como ingredientes de maior valor agregado. 11 2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA O Brasil produz uma larga variedade de frutos frescos. De acordo com dados de 2012, 38,4 milhões de toneladas de frutas foram produzidas nacionalmente, e dessas, 777 mil toneladas foram de frutas tropicais18. O segmento da fruticultura no Brasil representa um forte gerador de renda, de empregos e de desenvolvimento. Nesse cenário, o Nordeste brasileiro possui condições climáticas que proporcionam o cultivo de diversas frutas tropicais, reconhecidas pelos seus sabores exóticos e elevado poder de comercialização. Estas são destinadas a grande variedade de métodos de processamento - formulação de sucos, óleos essenciais, aromas, sorvetes, geleias, polpas para suco - que tem em comum a geração de resíduos agroindustriais19. No que diz respeito especificamente à produção de polpas de frutas, durante esse processo são gerados subprodutos constituídos por sementes, cascas e polpa residual. Esses resíduos são produzido sem volumes consideráveis que variam de acordo com a fruta, mas que giram em torno de 50% do peso original20,21. Além de serem abundantes, esses resíduos não possuem estratégias definidas de utilização, sendo comumente descartados, frequentemente de maneira inadequada, pelas unidades produtoras8,22. Além da questão ambiental, a falta de aproveitamento racional desses resíduos gera perdas econômicas no processo agroindustrial, já que o aproveitamento integral da fruta proporcionaria maiores ganhos para cadeia produtiva e para o consumidor. Do ponto de vista nutricional e funcional, uma das grandes motivações para a pesquisa do valor bioativo de resíduos de frutas é a constatação de que esses materiais podem ter quantidades superiores de compostos fenólicos quando comparados à polpa23. Esse achado é explicado pelo fato de que os compostos fenólicos são metabólitos secundarios com múltiplos efeitos biológicos, incluindo reprodução e proteção das plantas24. Logo, interesse crescente em tecnologias ambientalmente corretas é justificado pela oportunidade de aproveitamento dos resíduos frutícolas para a produção de ingredientes ricos em compostos fenólicos bioativos22. O argumento para melhor aproveitamento de resíduos de fontes agroindústrias, como as próprias frutas tropicais, demanda a utilização alternativas de processamento, como a desidratação, para melhor preservação e utilização de 12 tais matrizes. A desidratação, por sua vez, é amplamente utilizada para produção de pós, originando novos ingredientes, destinados ao processamento de novos produtos 25,26. Os pós desidratados são preferíveis pela indústria de processamento devido a sua facilidade de mistura em outras matrizes25. Vale salientar que a demanda por novos alimentos é baseada em uma rede complexa de fatores que se associam. Indo desde atributos físico-químicos, organolépticos, nutricionais, mas também com preocupações mais atuais, como no caso da temática da sustentabilidade24. Tais associações ocasionam mudanças no consumo alimentar, repercutindo na incorporação ou valorização de tendências relacionadas à praticidade, sensorialidade, sustentabilidade, confiabilidade e saudabilidade, gerando uma demanda maior por alimentos específicos27,28. A produção e consumo de alimentos se ampara também em conceitos chaves da Segurança Alimentar e Nutricional. Assim a soberania e sustentabilidade alimentar entram em foco, uma vez que alimentos atendem critérios de soberania ao valorizarem a autonomia de produção e abastecimento de alimentos de cada região, unindo-se com a ideia da responsabilidade do consumo e uso das fontes naturais, na qual a sustentabilidade defende uma produção consciente, cujas necessidades presentes não põem em risco as das futuras gerações29. Dentro desse contexto, pesquisas como aqui executada possibilitam trazer novas informações e preencher lacunas quanto aos dados de composição de macronutrientes, minerais, vitaminas, compostos bioativos ou mesmo aspectos tecnológicos e funcionais de resíduos, o que está em consonância com estudos recentes que focam nas potencialidades de resíduos agroindustriais, englobando a caracterização e desenvolvimento de novos alimentos30,31. Assim, considerando a acerola, caju e goiaba, como frutas tropicais de expressão econômica para o país e para o mundo, um estudo aprofundado dos resíduos agroindustriais dessas frutas, repercute em futuras possibilidades de estratégias para promover uma utilização mais consciente e rentável destes, com maiores benefícios ao meio ambiente e a saúde do organismo humano. 13 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Caracterizar resíduos liofilizados de frutas tropicais (acerola, goiaba e caju) no que diz respeito aos aspectos nutricionais, físicos e químicos. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Determinar a composição centesimal e composição de minerais dos resíduos liofilizados; Analisar a estrutura microscópica dos resíduos liofilizados; Investigar os aspectos tecnológicos de higroscopicidade, solubilidade e teor de retenção de água e óleo dos resíduos; Determinar o teor dos compostos fenólicos totais, flavonoides totais, proantocianinas, vitamina C e carotenoides totais dos resíduos liofilizados; Caracterizar o perfil de compostos fenólicos dos resíduos liofilizados; Determinar a atividade antioxidante dos resíduos liofilizados; Verificar a atividade antibacteriana dos resíduos liofilizados; Determinar o teor dos compostos fenólicos totais e a atividade antioxidante dos resíduos liofilizados após tratamento térmico; Avaliar a formação de melanoidinas dos resíduos liofilizados antes e após tratamento térmico. 14 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 PRODUÇÃO NACIONAL DE FRUTAS TROPICAIS O Brasil possui uma grande faixa territorial com condições climáticas favoráveis e diversificadas, propiciando plantações de frutas tropicais nativas de qualidade superior, ricas em compostos bioativos com capacidade antioxidante17,32,33. Muitas dessas frutas são produzidas e consumidas em mercados locais, seja por causa de sua perecibilidade ou pela pouca difusão de informações acerca de suas propriedades sensoriais e nutricionais23. Dados recentes demonstram que a produção de frutas tropicais frescas no Brasil atingiu uma soma de aproximadamente 1,6 milhão de toneladas dentro dos anos de 2012-1334. Pesquisas descreveram que que o Brasil detém 389 espécies e 438 cultivares estabelecidos de frutas tropicais, das quais algumas apresentam variado potencial agroindustrial, tais como as cítricas, o maracujá, goiaba, caju, acerola3,35. A acerola (Malpighia emarginata DC.) é uma planta originária da América Central, mas que também se dispersou para América do Sul, sendo introduzida no Brasil em meados do século XX36. Estima-se que, no Brasil, a cultura da aceroleira ocupe cerca de 4.000 hectares, com plantas produzindo flores e frutos em diferentes estágios, possibilitando constantes períodos de frutificação durante o ano37. A goiaba (Psidium guajava L.), baseada em evidências arqueológicas, existe desde o tempo das civilizações pré-colombianas38. O frutoé de formato globoso ou ovóide com cerca de 5 cm de diâmetro, possuindo cor amarela externa e mesocarpo comestível rosa ou branco com numerosas sementes duras39. O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é nativo da América tropical e originário do Brasil, sendo formado pela castanha e o pedúnculo (pseudofruto)6. O cultivo desse fruto é de grande importância socioeconômica para a região nordeste do país40,41. O Brasil produziu 3,61 milhões de toneladas somente do pseudofruto em 2012-1342. Associado a diversidade frutícola tropical brasileira, é cada vez mais evidente que o consumo de frutas não é mais um mero resultado de preferência pessoal. A 15 preocupação com a saúde tem estimulado seu consumo e produção, motivado pelo seu conteúdo de nutrientes naturalmente presentes43. 4.2 PROCESSAMENTO DE FRUTAS TROPICAIS Com boa aceitação em mercado nacional e internacional, frutos como a goiaba e a acerola e o pseudofruto de caju possuem diferentes possibilidades de mercado, como a comercialização de frutos in natura, ou, principalmente, na forma de polpas congeladas ou sucos engarrafados36,44,45. No Brasil, dados de 2013 demonstraram uma produção de mais de 216 mil toneladas de polpas de frutas esterilizadas, atingindo vendas de mais de 360 milhões de reais46. Infelizmente, apesar da grande variedade de frutas na flora brasileira, fatores como a perecibilidade e menor porção comestível dos frutos tropicais são responsáveis pela grande quantidade de resíduos formados47–49. Por mais que o processamento desses frutos seja uma alternativa promissora de utilização, a geração de resíduos sem destinação específica ainda é uma realidade4. No caso especifico do pedúnculo de caju, após a prensa, são formados resíduos constituídos por uma mistura heterogênea da casca e fibra (bagaço), enquanto que no caso da goiaba e acerola, o bagaço também é composto por sementes48,50,51. Estima-se que do total de frutas processadas, 30 a 40% de resíduos agroindustriais sejam gerados na produção de sucos e polpas52. No Brasil, as indústrias de processamento de frutos foram responsáveis pela geração de aproximadamente 810 mil toneladas de resíduos e subprodutos no ano de 2013, o que resultou num custo de mais de 180 milhões de reais46. As cascas e sementes são os dois maiores resíduos formados em diferentes etapas do processamento das frutas8. Por outro lado, pesquisas demonstram que nos extratos dessas partes normalmente desprezadas quantidades consideráveis de antioxidantes estão presentes, o que por sua vez abre possibilidades para a conversão desses resíduos em ingredientes alimentícios ou de outros produtos de maior valor agregado4,53–55. O quadro 1 traz uma breve levantamente de como estudos tem se debruçado para compreender esse potencial bioativo de resíduos de frutas, incluindo as tropicais. 16 Quadro 1 – Estudos de caracterização do potencial bioativo e funcional de diversos resíduos de frutas subtropicais e tropicais. Resíduo avaliado Parâmetros avaliados Autoria Arônia (Aronia melanocarpa) Perfil de comp. fenólicos 56 Bayberry (Myrica rubra) Comp. fenólicos totais Atv. antioxidante (DPPH∙) 57 Jabuticaba Comp. fenólicos totais Flavonoides totais Taninos condensados Antocianinas totais 23 Jabuticaba Perfil de comp. fenólicos Perfil de antocininas Perfil de tocoferóis Atv. antioxidante (DPPH∙) 58 Maçã, laranja e banana Ácido ascórbico Comp. fenólicos totais Flavonoides totais Atv. antioxidante (DPPH∙) 59 Ameixa seca, pêra e maçã Comp. fenólicos totais Perfil de comp. fenólicos Atv. antioxidante (FRAP) 60 Caju Perfil de carotenoides 61 Abacaxi, acerola, caju, goiaba, graviola, manga, mamão, maracujá, pitanga, tamarindo. Comp. fenólicos totais Antocianinas totais β-Caroteno Licopeno 8 Abacaxi e goiaba Comp. fenólicos totais Atv. antioxidante 62 Manga, goiaba, abacaxi e maracujá Comp. fenólicos totais Atv. antioxidante (ABTS, DPPH∙ e FRAP) 4 Maçã, pêra, pêssego, laranja, tangerina e limão Perfil de comp. fenólicos 63 Cupuaçu, macadâmia, entre outras Ácido ascórbico Comp. fenólicos totais Atv. antioxidante (FRAP e ABTS) 64 DPPH∙ (2,2-Diphenyl-1-picrylhydrazyl radical scavenging assay); FRAP (ferric reducing antioxidant power) e ABTS (2,2’-azinobis-3-ethylbenzothiazolina-6- sulphonic acid trolox equivalent antioxidant capacity). 17 Pode-se constatar que compreender o conteúdo bioativo dos resíduos de frutas, incluindo as tropicais, é uma forma de impulsionar sua utilização de forma mais diversificada, com aumento de lucratividade para a indústria além de satisfazer uma demanda por tecnologias de baixa emissão de resíduos no agronegócio12. Dessa forma, esforço tem sido feito para utilizar resíduos naturais em produtos de utilidade comercial, visto sua riqueza em vitaminas, minerais, aminoácidos e polifenóis. Dentre estes contituintes, alguns minerais apresentam ação vital como co-fatores em muitos processos enzimáticos65. Tudo leva a acreditar que o uso eficiente de resíduos da indústria agro- alimentar é tecnologicamente apropriado, minimiza o impacto ambiental, além de trazer benefício econômico para toda a cadeia produtiva. Somado a isso, alternativas vantajosas para a exploração do conteúdo de antioxidantes de resíduos de frutas tropicais oriundos do processamento de suco podem fornecer suplementos nutricionais de baixo custo para população e para as indústrias de alimentos locais66. 4.3 COMPOSTOS BIOATIVOS PRESENTES EM FRUTAS TROPICAIS A associação de estudos clínicos e observacionais com pesquisas sobre ingredientes bioativos para o consumo humano tem comprovado os efeitos antioxidantes das frutas na diminuição e ou inibição da oxidação de biomoléculas como DNA, proteínas e lipídios, através da atuação de compostos fenólicos, carotenoides e vitaminas12,33,67. Assim estudos relacionam a acerola, goiaba e caju, como ricos em fitoquímicos atunado na redução do risco de doenças crônicas e agudas37,68,69. Dentre os fitoquímicos presentes nessas frutas, um dos mais conhecidos é o ácido ascórbico, ou vitamina C, presente em quantidades entre 156 a 387 mg/100mL de suco de caju, 6600mg/100g de acerola fresca e de 50 a 300 mg/100g de goiaba70,71. Os carotenoides, precursores da vitamina A, podem ser encontrados no suco de caju (8,2 a 197,98μg/100mL)72. Enquanto isso, a acerola e a goiaba se destacam como fontes de fenólicos antioxidantes, como resveratrol, cumarina, quercetina, triterpenóides e outros metabólitos secundários39,73. Considerando a riqueza desses frutos, o uso de seus extratos bioativos também pode ser considerado na preservação de alimentos como uma alternativa aos aditivos químicos, atendendo demandas por produtos nutritivos, seguros e livres 18 de substâncias sintéticas8. Assim, uma grande variedade de métodos analíticos tem sido usada para avaliar o perfil de bioativos e a atividade antioxidante de frutas, e os mesmos vem sendo utilizados na investigação do potencial bioativo de resíduos de frutas tropicais, visando comparar e utilizar seus extratos como fontes de antioxidantes naturais adicionados em alimentos e fármacos39,74. Os compostos fenólicos, ou polifenóis, se destacam como os maiores constituintes bioativos de interesse nas frutas. São metabólitos secundários das plantas, presentes tanto nas porções tradicionalmente comestíveis, quanto nas não cosmetíveis24. Normalmente, são moléculas formadas por pelo menos um grupo de anel aromático e um ou mais grupos hidroxila, assim como em formas conjugadas ligados a açúcares, ácidos orgânicos e aminas, ou mesmo a outro polifenol9,75,76. Apresentam propriedades de prevenção ou inibição da oxidação pela captura de radicais livres, doação de hidrogênio e supressão de oxigênio-singlete, o que por sua vez são ações associadascom atividades antiinflamatórias e antitrombóticas9,54,77. Dentre os compostos fenólicos, os ácidos fenólicos e flavonoides representam os grupos mais estudados e suas propriedades biológicas têm sido descritas na literatura9. Os flavonoides se apresentam na forma de moléculas com 15 carbonos e dois anéis aromáticos conectados por uma ponte de carbono. As principais subclasses desses compostos são os flavonóis, flavonas, isoflavonas, flavanona e antocianidinas78. Os flavonoides possuem forte atividade antioxidante, amplamente demonstrada em ensaios in vitro e podendo apresentar eficiência superior ao das vitaminas E e C79,80. Os flavonoides podem ser divididos em diversas classes, de acordo com o grau de oxidação e substituição do anel benzopirano. Destaque pode ser dado aos taninos condensados, ou proantocianidinas, que são precursores incolores das antocianidinas e responsáveis pelo sabor adstringente de algumas frutas81,82. Estudos comprovam seus efeitos contra a peroxidação lipídica e na inibição do crescimento bacteriano por diferentes mecanismos12,83,84. Os compostos fenólicos, diferentemente das vitaminas tradicionais, não são essenciais para o bem estar em curto prazo, mas são crescentes as evidências que associam o seu consumo de longo prazo com efeitos favoráveis na menor incidência de câncer ou doenças crônicas78. 19 Como dito anteriormente, a acerola, goiaba e caju são fontes de carotenoides e ácido ascórbico, compostos bioativos naturais de importância nutricional e funcional. Os carotenoides são pigmentos naturais responsáveis pelas cores amarela, laranja e vermelha em muitos vegetais e frutas85. Já o ácido ascórbico (ácido L-treo-2-hexonona-1,4-lactona, ácido L-ascórbico ou “vitamina C”) diz respeito a todos os compostos que apresentam uma atividade biológica equivalente ou semelhante ao ácido L-ascórbico, tais como seus produtos da oxidação, isômeros, ésteres do ácido ascórbico e as formas sintéticas86. O interesse nos carotenoides e na vitamina C das frutas tropicais tem aumentado consideravelmente dentro do âmbito nutricional por participarem de uma série de processos metabólicos importantes87–89. A vitamina C possui efeito anticarcinogênico, agindo conjuntamente na regeneração da forma ativa do tocoferol nas membranas celulares90. A propriedade antioxidante dos carotenoides é considerada como seu principal efeito benéfico à saúde humana, associando-se à prevenção de doenças cardiovasculares e câncer87,89. Essa associação desses compostos com atividade antioxidante constatada, tornam as frutas tropicais (e consequentemente seus resíduos) como potenciais ingredientes bioativos aliados da indústria de alimentos para o desenvolvimento de produtos funcionais enriquecidos, e com menor utilização de aditivos artificiais. 4.4 APLICAÇÃO DOS RESÍDUOS DE FRUTAS NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA As indústrias de processamento de frutas são responsáveis pela emissão de uma grande quantidade de resíduos, que apresentam-se como fontes de fibras alimentares e outros macronutrientes91. Essas frações são originárias de diferentes frutas processadas e podem conter quantidades interessantes de corantes, antioxidantes ou outras substâncias com efeitos positivos à saúde, auxiliando na adequada resposta insulínica ou mesmo na manutenção de peso4,12. Assim uma estratégia para incrementar a economia do processamento de frutas tropicais seria na incorporação e agregação de valor de seus resíduos seja para a produção de outros alimentos ou pela extração de seus compostos bioativos para formuação de aditivos naturais ou nutraceuticos12. Estudos tem observado a possível aplicação de resíduos de frutas como ingredientes diferenciados na produção de alimentos, focando principalmente em 20 seu maior conteúdo de fibras, tanto das frações solúveis e insolúveis, sua capacidade de aumentar a vida de prateleira de produtos, seu preço baixo e sua capacidade de expressar efeitos fisiológicos positivos aos consumidores92. Assim a incorporação de resíduos em produtos alimentícios como substitutos baratos e parciais aos farináceos podem melhorar a retenção de água e óleo, estabilidade oxidativa das emulsões, além de serem menos calóricos92. Associado a isso, outra forma de aproveitamento desses resíduos está no refino de seus macronutrientes de maior valor agregado, como no caso das proteases extraídas de resíduos de abacaxi e mamão, pectina da maçã e goiaba, ou mesmo nos óleos essenciais de sementes de maracujá, manga e uva93–95 A exemplo disso, estudos têm demostrado a aplicabilidade real de frutas e seus resíduos no desenvolvimento de alimentos ou ingredientes, como por exemplo na aplicação de farinha de casca de manga na produção de biscoitos ricos em antioxidantes e fibras96, produção de farinha de casca de maçã com características apropriadas para armazenamento e uso97, utilização de pós de frutas na produção e aceitação de “snacks” infantis98 e na produção e estudo da estabilidade dos compostos bioativos de pães enriquecidos com farinha e goiaba31. 4.5 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE E ANTIMICROBIANA EM FRUTAS TROPICAIS É reconhecido atualmente, que o ambiente natural que rodeia o homem está cada vez mais degradado e poluído99. Isso, associado a fatores, como alcoolismo, tabagismo, baixo consumo de frutas e vegetais, envelhecimento e estresse emocional podem levar a processos biológicos que desencadeiam a formação exacerbada de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs), afetando o corpo humano de forma sistêmica com enfraquecimento do sistema imune e aceleração do envelhecimento celular100–102. Em termos biológicos, EROs são formadas continuamente durante os processos metabólicos (normais ou patogênicos) ou são provenientes de fontes exógenas físicas e químicas, podendo incluir os radicais livres como o superóxido, hidroxil, peroxil, alcooxil e os não-radicais, como o peróxido de hidrogênio e ácido hipocloroso65,80,103. Vale ressaltar também, que os radicais livres agem de maneira deletéria sobre plantas e alimentos. A peroxidação lipídica é a principal causa da deterioração 21 dos ácidos graxos em alimentos104. É amplamente aceito que as reações oxidativas que acontecem nos alimentos causam perdas nutricionais, assim como alterações de aroma, sabor e textura, que repercutem em depreciação e deterioração, com perda de qualidade e rejeição por parte dos consumidores24 Para combater os radicais livres os organismos vivos produzem substâncias antioxidantes que previnem ou atrasam a oxidação pela captura de radicais livres, na supressão de radicais por ligação a íons metálicos, na redução do peróxido de hidrogênio e extinção de superóxidos e oxigênio singlete80,105. Porém, para restabelecer o equilíbrio oxidativo, certas quantidades de antioxidantes exógenos podem ser requeridas através da dieta habitual103,104. Assim, mais estudos devem existir, com a finalidade de quantificar e identificar metabólitos ou compostos químicos com ação antioxidante em frutas, visando sua utilização com impactos positivos na saúde humana, combate a doenças e preservação de alimentos3. Fontes naturais e seguras de alimentos antioxidantes, principalmente de origem vegetal, despertam interesse específico como na sua aplicação como aditivos naturais em alimentos, agindo como ingredientes funcionais ou antioxidantes na diminuição de patógenos33,80,101. A aplicação de extratos antioxidantes em produtos pode aumentar a estabilidade dos alimentos ao armazenamento por meio da ação de componentes como fenóis, alcoóis, aldeídos, cetonas e outros hidrocarbonetos, sendo potenciais antimicrobianos naturais, evitando ou retardando a degradação pela oxidação de lipídios, assim como na melhora da qualidade e do valor nutricional dos alimentos84. A atividade antimicrobiana de uma variedade de compostos fenólicos defontes naturais tem sido estudada em detalhe. Compostos fenólicos de especiarias como o gingerol, zingerona e capsaicina são alguns exemplos, com uso na inibição de germinação de esporos bacterianos atestados105,106. Isso, por sua vez, demonstra a importância e o potencial da capacidade antimicrobiana das frutas (ou de seus extratos), pois independentemente do grande número de técnicas de preservação existentes hoje em dia, a deterioração de produtos alimentícios por micro- organismos ainda é um problema que não foi completamente controlado33. 22 4.6 EFEITO DO PROCESSAMENTO DE FRUTOS TROPICAIS E SEUS RESÍDUOS. O processamento pode ser considerado uma forma essencial de preservação dos alimentos para o consumo em massa, visto que melhora a conveniência de utilização (um fator desejável dentro das tendências de consumo). Devido à natural perecibilidade das frutas, o processamento das mesmas torna-se a única maneira viável de comercializção e consumo em mercados distantes da zona produtora. Porém, um dos principais aspectos limitantes do processamento é a perda de qualidade nutricional quando comparada ao produto fresco47. A correta escolha por métodos de processamento e preservação é muito importante, principalmente para alimentos fonte de compostos bioativos. Isso porque podem causar alterações físicas, químicas e ou biológicas, repercutindo em perda de nutrientes e ou da cor pela degradação de pigmentos como carotenoides e antocianinas107. A vitamina C, por exemplo, considerada a principal vitamina antioxidante natural na nossa dieta habitual, apresenta alta instabilidade e reatividade, com degradação contínua após colheita e durante processamento e armazenamento90. Fatores como pH alcalino, temperaturas altas, luz, contato com oxigênio, presença de íons metálicos e enzimas podem provocar danos à composição da matriz alimentar, com perdas irreversíveis na quantidade dessa vitamina86,108. Considerando que o processo de reutilização dos resíduos vegetais é suportado principalmente pela maior concentração de polifenóis nas suas cascas e sementes, investigações científicas e tecnológicas têm desenvolvido métodos de processamento mais sustentáveis e econômicos, visando uma melhor compreensão e preservação da matriz residual na qual os polifenóis se encontram109,110,97. Dentre os diversos métodos empregados na preservação de alimentos, a desidratação, amplamente usada na história do homem, se caracteriza pela remoção da água através de vaporização ou sublimação, reduzindo a atividade de água do alimento. Assim minimizam-se reações de decomposição, além da redução de peso e volume dos produtos gerados111,112. Existem diversas técnicas de secagem, sendo a liofilização considerada o melhor método de desidratação para a obtenção de produtos de maior qualidade nutricional32. Tal método é conhecido pela sua eficiência em gerar melhores 23 produtos desidratados devido à ausência de água líquida pelas baixas temperaturas requeridas no processo36. Mesmo assim, alimentos secos normalmente necessitam de uma preparação antes do consumo, como aquecimento e cocção. Muitos produtos desidratados são utilizados como ingredientes, incorporados diretamente ou após reidratação, em uma nova matriz alimentar, o que por sua vez, exige atributos específicos de solubilidade, teor de retenção de água e higroscopicidade26. No que se refere aos produtos liofilizados, apesar de alcançarem parâmetros de maior qualidade nutricional, tecnológica e funcional, informações mais detalhadas sobre esses aspectos ainda não existem na literatura, especialmente para as frutas tropicais36. Estudos afirmam que mesmo tratamentos considerados moderados, como a liofilização, podem gerar modificações nos níveis de compostos bioativos107,113. Em frutas e vegetais, fitoquímicos podem estar ligados às membranas celulares vegetais ou existirem como compostos livres, o que torna variável o efeito do processamento na estabilidade dos compostos bioativos107. Assim, processamentos térmicos como congelamento ou aquecimento, podem levar ao aumento ou perda de compostos bioativos. Esses tipos de tratamentos podem causar a ruptura da matriz alimentar ocasionando tanto maior liberação de seus bioativos, como na depleção pela decomposição de compostos lábeis114–116. O mesmo pode ser dito sobre a atividade antioxidante das frutas e seus produtos, que pode não sofrer nenhum efeito, ser aumentada, ou diminuída como consequência do processamento. Assim, apesar de que o mais comumente observado seja a perda de antioxidantes presentes na matriz do alimento, o aumento de atividade antioxidante também já foi relatado117. O desenvolvimento de dímeros é a forma mais comum de degradação das substâncias naturalmente antioxidantes presentes nos alimentos durante o processamento118. Mas, por outro lado, a oxidação dos polifenóis pode formar subprodutos com estado oxidante intermediários com maior eficiência de abstração de radicais livres do que naqueles inicialmente não-oxidados119. Isso se deve porque a maioria dos produtos de oxidação dos fenólicos antioxidantes ainda retém atividade antioxidante e isso pode estar associado a efeitos sinérgicos como os observados com ácido cítrico, ascórbico, fosfolipídios, aminas, aminoácidos e hidrolisados protéicos118. 24 O processamento dos alimentos pelo calor pode ainda contribuir para que reações entre as substâncias já presentes na matriz do alimento possam ocorrer. Uma dessas reações amplamente conhecida é a reação de Maillard, em que a condensação de aminoácidos e açúcares redutores ou produtos da oxidação lipídica podem formar os Produtos da Reação de Maillard (PRM)120,121. Dentro dos PRM, pigmentos heterogêneos, nitrogenados e acastanhados chamados de melanoidinas são formados e destacam-se por apresentarem atividade antioxidante, antialérgica, antimicrobiana ou citotóxica117,122,123. As melanoidinas podem ser formadas na reação de Maillard durante o processamento indutrial e doméstico, sendo amplamente distribuídas na nossa dieta (nos cafés, chocolate, pão e mel)124. Elas estão relacionadas a estudos que comprovam tanto sua potencialidade antioxidante quanto a sua incapacidade de abstração de radicais livres124,125. Esses dados conflitantes se devem principalmente à complexidade dos componentes existentes nas frações desses compostos, que por sua vez, está relacionado tanto ao tipo de análise feita, processamento submetido, e principalmente, a diferença estrutural e química de distintos tipos de matrizes alimentares 122. Considerando todos esses fatores que incidem direta e indiretamente sobre os alimentos processados, é imperativo entender os mecanismos de degradação em frutos exóticos como um pré-requisito para maximizar a retenção de seus compostos bioativos109. A aplicação de modelos experimentais de tratamento térmico é uma das formas para avaliar e prever a influência dessas operações nos parâmetros críticos de qualidade, visando minimizar as alterações indesejáveis e aperfeiçoar a qualidade de alimentos123. 25 5 METODOLOGIA O presente trabalho desenvolveu uma pesquisa do tipo experimental, analítica e transversal, com o levantamento e descrição de dados dentro de ambiente laboratorial e avaliação e planejamento cíclicos. Também trata-se de uma pesquisa- ação, já que houve teste de hipóteses, associações e inferências em um momento seccionado do estudo. 5.1 MATERIAL Resíduos liofilizados de acerola (RLA), goiaba (RLG) e caju (RLC), constituídos de casca, polpa residual e ou sementes foram doadas por empresas de processamento de polpas de frutas congeladas, situadas em João Pessoa – PB. Diversos lotes foram recebidos, totalizando 20Kg de cada resíduo, sendo homogeneizados e armazenados à -18°C. No período de dezembro de2014 a dezembro de 2015, porções de cada lote foram retiradas e submetidas à liofilização (modelo L-101, Liotop, São Carlos-SP, Brasil) por aproximadamente 36 horas a - 40°C, vácuo inferior a 150µmHg e velocidade de liofilização de 1 mm/h. Após desidratação, os resíduos foram triturados (modelo RI7761, Philips Walita, China) e peneirados (16 mesh) para se obter um pó com tamanho médio de partícula inferior a 1,0 mm. Os resíduos em pó foram acondicionados em embalagens de vidro ao abrigo da luz e sob congelamento (- 18°C) para futuras análises. 5.2 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E DETERMINAÇÃO DE MINERAIS Todas as análises de composição centesimal foram realizadas de acordo com a AOAC126. Foram realizadas análises de umidade por secagem em estufa a 105°C até peso constante (925.09), resíduo mineral fixo por incineração em mufla a 550°C (930.30), lipídios pelo método de extração direta em Soxleht (920.39,C), proteínas pelo método de Kjeldahl (990.03) e fibra dietética total (FDT) (985.29) e fibra dietética insolúvel (FDI) (991,42) pelo método enzimático gravimétrico. A Fibra Dietética Solúvel (FDS) foi determinada pela diferença da FDT pela FDI (993.19)126. O teor de carboidratos disponíveis foi calculado pela diferença do total de proteínas, lipídios, cinzas e umidades e fibra total dietética127. O valor energético total (VET) foi 26 estimado pelo uso dos fatores de conversão de 4 Kcal/g para proteína e carboidratos disponíveis e 9 Kcal/g de lipídios, com a soma expressa para 100g de resíduo128. A análise da composição mineral dos resíduos foi realizada utilizando espectrometria de fluorescência de raios X de energia dispersiva, utilizando aparelho Energy Dispersive X-raySpectrometer – EDX (EDX-720, Japão)129. As amostras foram colocadas em portas-amostra próprios do aparelho lacradas em ambas as extremidades com filmes finos de polipropileno e abertas em uma das extremidades para evitar extrusão de amostras ao acionar o vácuo, para então serem analisadas em aparelho EDX. Os resultados finais foram expressos em mg/g ou µg/g. 5.3 ASPECTOS TECNOLÓGICOS E MICROESTRUTURA Os pós de RLA, RLG e RLC foram avaliados quanto aos seguintes aspectos tecnológicos: higroscopicidadee solubilidade e grau de retenção de água e óleo. Para a higroscopicidade, 1g dos resíduos liofilizados, foram dispostos em placas de Petri (9 cm) previamente taradas e mantidas em célula de higroscopicidade (dissecador) com uma placa de Petri com solução saturada de NaCl (0,4g/mL, UR 76%)130. As amostras foram mantidas dentro do sistema por 5 dias seguidos, sendo, ao fim, registradas as diferenças de massa. O percentual de higroscopicidade dos resíduos foi encontrado segundo a equação I, e a categorização de tal parâmetro foi realizada conforme Quadro 2131. % 𝐻𝑖𝑔𝑟𝑜𝑠𝑐𝑜𝑝𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙−𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 × 100( I ) Quadro 2 – Classificação da higroscopicidade de pós. Higroscopicidade Não Higroscópico <10% Ligeiramente Higroscópico 10,1 – 15% Higroscópico 15,1 – 20% Muito Higroscópico 20,1 – 25% Extremamente higroscópico > 25% Fonte: GEA Niro Research Laboratory (2010). 27 Para a análise de solubilidade, amostras de 1 g dos resíduos foram pesadas e dispersas em 100 mL de água destilada em agitação a 380 x g por 5 minutos. Após homogeneização, as amostras foram dispostas em tubos rosqueados e centrifugadas por 5 minutos a 850 x g. Alíquotas de 25 mL foram retiradas de cada sobrenadante dispostas em placas de Petri dessecadas, com seus pesos registrados. Após, foram encaminhadas para secagem em estufa a 105°C por 5 horas. O percentual de solubilidade foi calculado através da diferença de peso da alíquota seca, conforme equação II. % 𝑆𝑜𝑙𝑢𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = (𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑠𝑒𝑐𝑜 ×4 ) 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝑒𝑚 𝑏𝑎𝑠𝑒 𝑠𝑒𝑐𝑎 × 100 ( II ) Para a quantificação do teor de retenção de água (TRA) e óleo (TRO), 250mg dos resíduos liofilizados foram homogeinizados em 25 mL de solução tampão fosfato (1M, pH6,3) para o TRA e 25 mL de azeite de oliva para o TRO e mantidos à temperatura ambiente por 1h4. Seguiu-se então de centrifugação (970 x g por 10 minutos), remoção completa do sobrenadante e pesagem do resíduo. O teor de retenção foi calculado e expresso como grama de água ou óleo retido por grama de amostra (g H2O ou Óleo/g amostra). O estudo morfológico das partículas foi realizado no Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura (LABMEV) da UFRN por meio da microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os resíduos foram fixados em porta-espécime metálicos com fita adesiva de dupla face e observados por MEV (modelo TM3000, Hitachi, EUA), operando com tensão de aceleração de 5,0 kV e 15 kV e com zoom entre 40 e 1500 x. 5.4 ASPECTOS FUNCIONAIS 5.4.1 OBTENÇÃO DOS EXTRATOS Os resíduos liofilizados de acerola, goiaba e caju que constituem os grupos experimentais RLA, RLG e RLC, respectivamente, foram utilizados para a preparação de extratos aquosos. Para isso, 500mg de RLG e RLC e 250 mg de RLA foram misturados a 50mL de água destilada e submetidos a homogeinização em 28 agitador magnético (TE-0353, Tecnal, Brasil) por 60 minutos. Os extratos foram então filtrados com auxílio de bomba à vácuo (NOF 650, New Pump, Brasil) e centrifugados à 1230 x g por 10 minutos à 4°C (Universal 320 R, Hettich, Alemanha) em tubos de centrífuga para separação do sobrenadante, ou extrato aquoso. Os extratos aquosos foram utilizados nas análises de compostos fenólicos totais, flavonoides totais, e atividade antioxidante. Os demais métodos foram conduzidos mediante pesagem direta da amostra ou preparação de extrato específico. 5.4.2 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS, FLAVONOIDES TOTAIS E PROANTOCIANIDINAS TOTAIS Para a quantificação de compostos fenólicos totais (CFT) foi utilizado o método colorimétrico do reagente Folin Ciocalteu132. Triplicatas de 250 μL dos extratos aquosos dos RLA, RLG e RLC foram adicionados a 2 mL de água destilada e 250 μL do reagente Folin Ciocalteu (1,0 N). Após agitação rápida e descanso por 3 minutos, foram adicionados 250 μL de solução saturada de carbonato de sódio (0,286 mg/mL) e as amostras foram transferidas para banho-maria a 37°C por 30 minutos. As soluções foram submetidas à leitura de absorbâncias em espectrofotômetro (Genesys 10SVIS, Thermo Scientific, Estados Unidos) a 750 nm. Utilizou-se curva padrão de ácido gálico para expressar os resultados em miligramas de equilaventes por 100 g de amostra em matéria seca (mg Eq. ag/100 g ms). Para a quantificação de flavonoides totais (CT), foi utilizado o ensaio de reação com cloreto de alumínio133. Alíquotas de 500 μL dos extratos aquosos foram misturadas com 2 mL de água destilada e 150 μL de nitrito de sódio (50 g/L). Após 6 minutos, adicionou-se 150 μL de cloreto de alumínio (100 g/L) seguido de mais 6 minutos de descanso. Finalmente, 2 mL de hidróxido de sódio (1 M) foram acrescidos e o volume foi completado para 5 mL com água destilada. Seguiu-se 15 minutos de descanso sob proteção da luz e as soluções foram submetidas à leitura de absorbâncias a 510 nm em espectrofotômetro (Genesys 10SVIS, Thermo Scientific, Estados Unidos). Utilizou-se curva padrão de catequina para expressar os resultados em miligramas de equilaventes por 100 g de amostra em materia seca (mg Eq. C/100 g ms). 29 O teor de Proantocinidinas (PAC) totais foi aferido pelo método colorimétrico do reagente 4-Dimetilaminocinamaldeído134. Inicialmente, 0,5 g de cada amostra foi extraída com 8 mL de ácido acético (1%) em solução hidrometanólica (80%). As amostras foram sonicadas por 5 minutos e centrifugadas a 1520 x g. Os sobrenadantes foram alocados em balões volumétricos de 25 mL e o processode extração foi repetido mais duas vezes. Os sobrenadantes foram combinados e o volume completado para 25 mL com solução extratora. Alíquotas dos extratos (63 μL) foram adicionadas a 189 μL de reagente 4-Dimetilaminocinamaldeído (DMAC) e a absorbância foi medida em espectrofotômetro a 640 nm (Synergy HT Multi- Detection Microplate Reader, BioTek, Vermont, USA). Os resultados foram expressos em miligramas de equivalentes de PAC tipo-A2 por 100 g de amostra em matéria seca (mg Eq. PAC2/ 100g ms). 5.4.3 PERFIL DE COMPOSTOS FENÓLICOS A extração dos ácidos fenólicos contidos nos resíduos liofilizados foi realizada através da hidrólise ácida135,136. O resíduo liofilizado (1 g) foi pesado em um tubo de polietileno (25 mL) e adicionado de 10 mL de metanol com HCl 6 mol/L, a hidrólise ácida (pH = 1,0) foi realizada por um período de 30 minutos em estufa a 85°C. Após a hidrólise a solução foi ajustada a pH 2 com NaOH 6 mol/L. Adicionou-se 5 mL de éter etílico ao extrato e centrifugou a 4000 x g por 10 min para decantar qualquer material floculado. O sobrenadante foi cuidadosamente retirado e o procedimento anterior foi repetido mais duas vezes. Depois da retirada total dos três sobrenadantes, os mesmos foram combinados e submetidos à secagem em rota- evaporador. Por fim, o extrato foi ressuspenso em 500 µL de metanol e armazenado a -5°C até análise. A identificação dos compostos fenólicos dos extratos foi realizada através da Cromatografia Líquida de Alta Eficiência de fase reversa, usando o módulo de separação (LC-20 AT, Shimadzu Corporation, Japão) equipado com uma coluna C18 (SUPELCOSIL™ LC-PAH HPLC Column, 250 x 4,6 mm, tamanho de partícula 5μm, Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA) e um detector UV-VISÍVEL (Rheodyne, EUA). As amostras foram eluídas em um sistema gradiente que consiste nas seguintes fases móveis: solvente A (2% de ácido acético, v/v) e solvente B (acetonitrila: metanol, 2:1, v/v), em fluxo constante de 1 mL / min137. A temperatura 30 da coluna foi mantida a 40 °C, volume de injeção foi de 20 μL e a leitura realizada em 280 nm com utilização dos respectivos padrões (Sigma-Aldrich, St. Louis,EUA). 5.4.4 DETERMINAÇÃO DE ÁCIDO ASCÓRBICO Para a quantificação do ácido ascórbico foi utilizado o método titulométrico com 2,6-diclorofenolindofenol (DCFI) (967.21)126. Foi pesado 1 g de resíduos de cada amostra em béqueres, que receberam 50 mL de solução de ácido metafosfórico 1% (HPO3). A solução foi homogeneizada em agidator maginético (Blender Waring, 51BL30, Estados Unidos) por 3 minutos, sendo então o extrato filtrado a vácuo em papel qualitativo. Do filtrado, uma alíquota de 10 mL foi titulada com solução de DCFI. O cálculo foi realizado de acordo com as equações III e IV e o resultado foi expresso em miligramas por 100g de materia seca (mg/100g ms). Para o resíduo de acerola, o método titulométrico com DCFI adaptado para frutos de colocaração avermelhada foi utilizado138. Foi pesado 1g da amostra que foi extraída sob as mesmas condições anteriores. Para a titulação, 2mL de DCFI (0,5g/L) foi misturado com 18mL de água destilada, e essa solução titulada com o extrato de acerola, anotando-se o valor do volume utilizado para a mudança de cor do DCFI no ponto de viragem (cor igual ao líquido titulado). O cálculo foi realizado de acordo com a equação V e o resultado foi expresso em miligramas por 100g de materia seca (mg/100g MS). 𝑉𝑖𝑡𝑎𝑚𝑖𝑛𝑎 𝐶 (𝑚𝑔 100𝑔⁄ ) = 𝑉 ×𝐹 ×100 𝑚 ( III ) 𝐹 = 10 ×𝑐 𝑝 ( IV ) V: Volume (mL) de DCFI usado na titulação; m: Massa (g) de amostra analisada; p: Volume (mL) de DCFI usado para titulação de 10 mL de uma solução padrão de ácido ascórbico de concentração c (0,01 mg/mL) 𝑉𝑖𝑡𝑎𝑚𝑖𝑛𝑎 𝐶 (𝑚𝑔 100𝑔) = (𝑝 ×𝐶 ×50) ×100 𝑉 ×𝑚 ⁄ ( V ) V: Volume (mL) de extrato usado para titular solução de DCFI; m: Massa (g) de amostra analisada; p: Volume (mL) de solução de ácido ascórbico de concentração c (0,01 mg/mL) usada para titular solução de DCFI. 31 5.4.5 DETERMINAÇÃO DE CAROTENOIDES TOTAIS Para a análise de carotenoides totais (CT), extratos foram feitos de acordo com a metodologia colorimétrica a partir de extratos acetônicos139. Foram pesados 500 mg dos resíduos que foram acondicionados em tubos protegidos da luz visível. Foram adicionados 18 mL de acetona P.A. e os tubos foram agitados vigorosamente por 30 segundos (AP56, Phoenix, Brasil). O extrato acetônico foi separado com uso de papel de filtro qualitativo e as leituras realizadas em espectrofotômetro (Genesys 10SVIS, Thermo Scientific, Estados Unidos)nos comprimentos de onda de 662, 665 e 470nm, utilizando-se acetona P.A. como branco. Os valores foram expressos na concentração de carotenoides totais em µg/mL dos extratos, de acordo com as equações VI,VII e VIII139. Os resultados finais de concentração foram convertidos em miligramas de carotenoides totais por 100g de matéria seca (mg/100g ms) do respectivo resíduo liofilizado. 𝐶𝑎 (𝜇𝑔 𝑚𝐿) = 11,24 × 𝐴𝑏𝑠662 − 2,04 × 𝐴𝑏𝑠665⁄ ( VI ) 𝐶𝑏 (𝜇𝑔 𝑚𝐿) = 20,13 × 𝐴𝑏𝑠665 − 4,19 × 𝐴𝑏𝑠662⁄ ( VII ) 𝐶 (𝑥 + 𝑐) (𝜇𝑔 𝑚𝐿) = [1000×𝐴𝑏𝑠470−(1,90×𝐶𝑎−63,14×𝐶𝑏)] 214 ⁄ ( VIII ) 5.4.6 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE PELO RADICAL 2,2-DIFENIL-1- PICRILHIDRAZIL (DPPH•) Foi utilizada a metodologia da inativação do DPPH• em microplaca de 96 orifícios140. Alíquotas de 40μL dos extratos (metanol P.A para o branco) foram adicionadas em microplacas de 96 poços.Em seguida 200μL de solução metanólica do radical DPPH• (0,04g/L) foram adicionados. O sistema foi mantido em descanso em câmara escurapor 25min. Asleituras das absorbâncias foram realizadas a 517nm emleitor de microplacas (ASYS UVM 340, Biochrom, Estados Unidos). Para expressar os dados finais da atividade antioxidante dos extratos, os mesmos foram comparados com curva padrão de soluções metanólicas do 32 antioxidante Trolox (ácido 6-Hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcromano-2-carboxílico) em concentrações de 200, 120, 100, 50 e 30 μM. Os resultados da atividade antioxidante ao DPPH• (AADPPH•)foram expressosem μmol de equivalentes de Trolox por grama de amostra em matéria seca (μmol Eq.Trolox/g ms). A concentração de inibição 50 (IC50) também foi identificada53. Tal dado corresponde a concentração no qual os extratos aquosos dos resíduos estudados inibem 50% da solução de DPPH• (0,04 g/L) existente em reação. Assim, extratos aquosos em diferentes concentrações foram usados para cada um dos resíduos: RLA (0,05 a 1,5mg/mL), RLG (2 a 20 mg/mL) e RLC (4 a 20 mg/mL). Essas diferentes concentrações foram submetidas ao ensaio de inativação do DPPH• e o IC50 foi determinado com o gráfico elaborado a partir do percentual de inibição ao DPPH• versus a concentração de cada uma das diluições. O resultado final do IC50 foi expresso em concentração do extrato aquoso em μg/mL. 5.4.7 TESTE DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE PELA CAPACIDADE DE ABSORÇÃO DE RADICAL OXIGÊNIO (ORAC). Foi utilizada a metodologia fluorimétrica contra a capacidade de absorção de radicais oxigênico141. Em placas de 96 poços, 20 μL de branco (tampão PBS), padrão (Trolox 0.25 g/L em tampão PBS) ou extratos aquosos dos resíduos foram pipetados, e a seguir pipetados 120 μL de fluoresceína (0,01 µmol/L) . As placas foram incubadas a 37 ° C durante 10 min em leitor de microplacas (FLOUstar OPTIMA, BMG LABTECH’S, Alemanha). Em seguida, 60μL do radical l2,2′-azobis(2- amidinopropano)dihidrocloridrato (AAPH) recém preparado (10,85 mg/mL) foi adicionado a todos os poços designados. A fluorescência foi monitorada usando 485 nm de excitação e 528 nm de emissão em intervalos de 3 minutos durante 180 minutos. O valor final de ORAC foi expresso em µmol de equivalentes de Trolox por grama de matéria seca (µmol Eq.T/g ms). 5.4.8 ATIVIDADE ANTIBACTERIANA Primeiramente,foram feitos extratos hidrometanólicos específicos para tal ensaio132. Foi pesado 1,8g de cada um dos grupos experimentais (RLA, RLG e RLC), adicionados a 30 mL de metanol gelado (70%) e submetidos à agitação 33 vigorosa em homogeneizador a 14000 rpm por 1 minuto em banho de gelo. A mistura foi filtrada à vácuo em papel de filtro qualitativo, sendo o filtrado obtido reservado e o resíduo retido submetido a mais duas extrações consecutivas, com 15mL de metanol 70% cada. Ao final, com a junção dos três extratos, um volume de 35,7mL foram divididos em tubos de centrifuga com 1,7mL e submetidos à concentração por 4 hà 30°C (Concentrator 5301, Eppendorf, Alemanha). A partir dosextratos concentrados de RLA, RLG e RLC, seguiram-se as análises de atividade antibacteriana. Utilizou-se a técnica de perfuração em ágar com modificações132,142. Foram utilizadas as culturas Gram negativas de Salmonella typhimurium e Shigella sonneie e Gram positivas de Staphylococcus aureus,Bacillus cereus e Listeria monocytogenes. Os micro-organismos foram repicados em ágar Muller-Hinton por 18-24horas a 35°C e as colônias foram suspendidas em solução salina esterilizada (0,85%) até atingirem turbidade equivalente a 0,5 da escala McFarland (108 UFC/mL). Com auxílio de swab estéril umedecido, uma vez para cada placa, a suspensão foi espalhada na superfície de ágar Muller-Hinton estéril. Poços de 6mm foram perfurados com tubos de Durhan estéreis e 90μL dos extratos concentrados foram adicionados. As placas foram incubadas à 35°C por 24 horas, e as leituras do diâmetro dos halos de inibição foram realizadas com auxílio de régua milimetrada. Os ensaios foram realizados em triplicata. Para o controle positivo de inibição foi utilizado discos degentamicina e vancomicina, e para controle negativo foi utilizada a solução hidrometanólica (70%). 5.5 DETERMINAÇÃO DE FENÓLICOS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE APÓS TRATAMENTO TÉRMICO DOS RESÍDUOS Tal ensaio foi realizado com a finalidade de obter mais informações sobre a estabilidade e ou transformações que podem ocorrer nos compostos fenólicos totais e atividade antioxidande após 4 diferentes tratamentos térmicos dos resíduos liofilizados143. Triplicatas de 0,35 g dos resíduos foram pesados e dispostos em camada fina e espalhada nas placas de Petri de 5,5 cm de diâmetro (previamente dessecadas). Foram elaboradas triplicatas para cada um dos 4 tratamentos térmicos. As placas contendo as amostras foram colocadas em estufa (Modelo 404- 3DE, Nova Ética, Brasil), previamente estabilizada para 85°C, 100°C, 120°C e 34 150°C, onde ficaram 30 minutos após estabilização da temperetura escolhida. A seguir, as amostras foram resfriadas em dessecador e seus pesos foram aferidos para checar o percentual de perda de peso. As triplicatas dos resíduos submetidos ao processamento térmico foram misturadas totalizando cerca de 1050mg e armazenadas em frascos opacos a -18°C para posterior obtenção do extrato. De cada tratamento, triplicatas de 300mg foram submetidas a extração com 30mL de água destilada (vide item 5.4.1). A partir desses extratos foram determinados os teores de CFT e a atividade antioxidante com DPPH• (vide itens 5.4.2 e 5.4.6). Os resultados finais foram expressos em equivalentes (ácido gálico e Trolox, respectivamente) e comparados entre os resíduos liofilizados sem tratamento térmico para determinação do percentual de retenção140. 5.6 DETERMINAÇÃO DE MELANOIDINAS APÓS PROCESSAMENTO TÉRMICO Com a finalidade de compreender melhor a formação de melanoidinas pelo tratamento térmico, extratos aquosos foram feitos de acordo com metodologias combinadas e adaptadas120,144. Os resíduos liofilizados sem e com tratamento térmico a 85, 100, 120 e 150°C foram misturadas à água destilada quente (75°C) em concentrações de 10 mg/mL e homogeinizados em agitador magnético (TE-0353, Tecnal, Brasil) por 10 minutos. Os extratos foram filtrados a vácuo e a turbidez destes removidas com filtros de seringa com membrana PES de 0,45μm (purificação). Alíquotas de 200 μL foram pipetadas em placas de 96 poços. As absorbâncias foram lidas a 420 nm (ASYS UVM 340, Biochrom, Estados Unidos) e os resultados expressos nas absorbâncias (nm) diretamente aferidas. Os resultados finais foram comparados entre si, entre os resíduos com e sem tratamento térmico, para determinação do percentual de formação de melanoidinas (equação IX). 𝑉𝑎𝑟. 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑙𝑎𝑛𝑜𝑖𝑑𝑖𝑛𝑎𝑠 (%) = 𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑏â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑛𝑎𝑠 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑠 𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟𝑏â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑠𝑒𝑚 𝑡𝑟𝑎𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 × 100 ( IX ) 35 5.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Todas as análises foram executadas em triplicata (n = 3) e os respectivos resultados submetidos à estatística descritiva, expressando suas médias e desvio padrão (DP). Análise estatística foi realizada entre os diversos parâmetros para os diferentes resíduos e entre as diferentes temperaturas de tratamento térmico para cada resíduo. Para tal, foi realizado estatística por ANOVA e teste de Tukey post hoc (p<0,05) como o software Statistica 7.0 (Statsoft, Tulsa, EUA). 36 6 ARTIGO PRODUZIDO 6.1 ARTIGO I O artigo intitulado “Functional, technological and nutritional characterization of freeze dried tropical fruit pomaces” foi submetido para publicação no periódico “LWT – Food Science and Technology”, que possui fator de impacto 2,711 e Qualis A2 para a área de Nutrição. 37 38 . 39 Functional, technological and nutritional characterization of freeze dried tropical fruit 1 pomaces 2 Author’s name: Igor Ucella Dantas de Medeiros 1 , Jailane de Souza Aquino 2 , Natália Sufiatti 3 de Holanda Cavalcanti 2 , Ana Regina Nascimento Campos 3 , 4 Angela Maria Tribuzy de Magalhães Cordeiro 4 , Karla Suzanne Florentino da Silva Chaves 5 Damasceno 1 e Roberta Targino Pinto Correia 1,5* 6 1. Department of Nutrition, Federal University of Rio Grande do Norte, Rio Grande do 7 Norte, Brazil; 8 2. Department of Nutrition, Federal University of Paraíba, Paraíba, Brazil; 9 3. Chemistry Department, Federal University of Campina Grande, Paraíba, Brazil; 10 4. Food Technology Department, Federal University of Paraíba, Paraíba, Brazil; 11 5. Department of Chemical Engineering, Federal University of Rio Grande do Norte, Rio 12 Grande do Norte, Brazil 13 14 15 16 17 18 19 20 * Corresponding author: 21 Department of Chemical Engineering, Laboratory of Food Bioactive Compounds, Federal 22 University of Rio Grande do Norte, 59078-970, Natal, Rio Grande do Norte, Brazil 23 Phone: +55 084 988393289 24 E-mail: roberta@eq.ufrn.br 25 mailto:roberta@eq.ufrn.br 40 Highlights: 26 1. All pomaces are rich in dietary fibers, lipids, proteins, potassium and calcium; 27 2. Dried fruit pomaces have low hygroscopicity and high water and oil retention; 28 3. Dried acerola pomace is rich in salicylic acid and 2,5-dihydroxybeenzoic acid; 29 4. Increased antioxidant activity after thermal treatment was found in cashew pomace; 30 5. Melanoidins play a role on antioxidant activity of freeze dried pomaces. 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 41 Abstract 46 This study investigates freeze-dried acerola, guava and cashew in regard to their nutritional, 47 technological and functional aspects, as well as the effect of heat treatment on their bioactive 48 value and antioxidant activity. Guava pomace is rich in fibers, proteins and lipids, while 49 acerola pomace has the best relationship between soluble and insolublefiber. Several minerals 50 were identified (potassium, calcium, among others) and all freeze dried pomaces have low 51 solubility (21.1-45.4%) and hygroscopicity (6.2-11.2%). Acerola pomace has outstanding 52 antioxidant activity (ORAC, 688.1 µmol TE/g DW) and high total phenolic content (5331.7 53 mg AGE/100g DW), salicylic acid (3503.4 mg/100g DW), catechin (498.2 mg/100g DW), 54 and myricetin (929.4 mg/100g DW). Higher phenolic losses were found after heat treatment 55 (29% retention at 150 °C). On the other hand high antioxidant activity retention was observed 56 (> 70% at all temperatures to all pomaces). 57 58 59 60 61 62 63 Keywords: Tropical fruit, industrial waste, phytochemicals, thermal treatment. 64 Chemical compounds studied in this article 65 Gallic acid (PubChem CID: 370), Catechin (PubCHem CID 9064), Myricetin (PubChem 66 CID: 5281672), Salicylic Acid (PubChem CID 338), 2,5-Dihydroxybeenzoic acid (PubChem 67 CID: 3469), Proanthocyanidin A2 (PubChem CID: 124025), Trolox (PubChem CID: 40634). 68 42 1. Introduction 69 Brazil is a great tropical fruit producer, including fruits with well-established market and 70 others still unexploited (Paz et al., 2015). Recent statistical data show that 1.6 million tons of 71 fresh fruits were produced during 2012-2013 (FAO, 2016) and fruits such as acerola 72 (Malpighia emarginata DC.), guava (Psidium guajava L.) and cashew (Anacardium 73 occidentale L.) together represent a great portion of this production. 74 These fruits are traditionally used for extraction of fruit pulp by juice industry segments 75 (IBGE, 2016). Sadly, the tropical fruits generally have less edible portions than temperate 76 fruits, generating 30-40% more pomace after processing (Schieber, Stintzing & Carle, 2002). 77 As a consequence, large amounts of fruit pomaces are discarded along the year, despite the 78 evidences about their bioactive compounds richness with antioxidant and functional attributes 79 (Correia, Borges, Medeiros & Genovese, 2012). Finding environmental-friendly applications 80 for these residues is crucial to generate higher profits to the entire productive chain, besides 81 preventing the loss of high-value residual compounds with it. 82 Despite their bioactive value, fruits and fruit pomaces easily decay. Technological solutions 83 such as drying can overcome this scenario, besides providing the expansion of the fruit market 84 to places away from the producing sites. Freeze drying is among the most popular and widely 85 used drying techniques and it uses low temperatures associated to vacuum, which provides 86 higher retention of sensitive compounds (Azevêdo, Fujita, Oliveira, Genovese & Correia, 87 2014; Nóbrega et al., 2014). Unfortunately, drying can also negatively impact the 88 concentration and bioavailability of phytochemicals. It is known that several bioactive 89 compounds are linked to cell membranes and tissues, and processing can disrupt these 90 chemical bonds and affect their functionality in the food (Chen & Martynenko, 2016). 91 Therefore, this study investigates relevant technological, bioactive and nutritional parameters 92 of freeze dried acerola, guava and cashew pomaces. In addition, the stability of phenolic 93 43 compound and antioxidant capacity, as well as the formation of melanoidins after thermal 94 processing, were addressed in this research. This is an effort of learning more about the 95 industrial and nutritional potential of fruit pomaces that can be used to added value 96 applications in several parts of the tropical world. 97 98 2. Material and methods 99 2.1 Preparation of freeze dried fruit pomaces 100 Acerola (ACE, Malpighia emarginata DC.), guava (GUA, Psidium guajava L.) and cashew 101 (CAS, Anacardium occidentale L.) pomaces used in this study were obtained as wastes of the 102 fruit pulp industry. Several batches of each pomace were homogenized in order to constitute a 103 single batch of each fruit that was used for all experiments. The pomace was kept frozen at -104 18 o C. The pomace was freeze-dried (Model L101, Liobras, Campinas, Brazil) for 36 hours at 105 -40 °C with a constant speed of 1mm/h, vacuum of 0.5 mmHg and final pressure of 0.05 106 mmHg. The freeze dried pomaces (ACE, GUA and CAS) were grounded using a mill TE-107 631/2 (Tecnal, Piracicaba, SP, Brazil) and passed through sieves (final average size <1.0mm) 108 and kept frozen (-18°C) until further analysis. 109 2.2 Centesimal and mineral composition 110 All fruit pomaces were analyzed according to AOAC (2002) methods: moisture (925.09), ash 111 (930.30), lipids by Soxhlet (920.39A), protein by Kjeldah (990.03), total dietary fiber 112 (985.29), insoluble (991.42) and soluble (993.19) fibers. The carbohydrates were calculated 113 according to Albuquerque et al. (2016) and the total energetic value (TEV) was estimated by 114 Merrill & Watt (1973). The mineral composition was determined according to Tavares, Silva, 115 Campos, Schuler, & Aquino (2015) using an Energy Dispersive X-ray Spectrometer (EDX-116 720, Japan). Results were expressed as mg/g of pomace for K, Ca, Mg, P, Fe and Zn and µg/g 117 for Cu. 118 44 2.3 Technological and morphological characterization 119 The pomaces solubility and hygroscopicity were determined according to Castro-Muñoz, 120 Barragán-Huerta & Yáñez-Fernández (2014) and results were expressed as percentage of 121 soluble pomace and of absorbed moisture. The water holding capacity (WHC) and oil holding 122 capacity (OHC) were determined according to Martínez et al. (2012) and results were 123 expressed as grams of oil or water per grams of dry weight (DW). For the morphological 124 characterization, the powders were evaluated by scanning electron microscopy using a 125 TM3000 (Hitachi, Japan), operating at an acceleration voltage of 5 kV and 15 kV. Images 126 were taken at a magnification of 40 × to 1500 ×. 127 2.4 Preparation of powder extracts 128 Aqueous extracts were made by mixing 0.25 g of ACE and 0.5 g of GUA and CAS with 50 129 mL of distilled water and homogenized for 60 min. followed by vacuum filtration (NOF 650, 130 New Pump, Brazil) using filter paper nº1 (Whatman Intl Ltd., Maidstone, UK). The extracts 131 were centrifuged at 1230 g at 4° C for 10 min (Universal 320 R, Hettich, Germany) and the 132 supernatant was separated for determination of some bioactive compounds and antioxidant 133 activity. 134 2.5 Bioactive compounds. 135 2.5.1 Non-nutritional bioactive compounds 136 Total phenolic content (TPC) was measured according to Fujita, Borges, Correia, Franco & 137 Genovese (2013) and total flavonoid content (TFC) by Saravanan & Parimelazhagan (2014) 138 in aqueous extracts. TPC was expressed as mg gallic acid equivalents (GAE)/ 100g of dry 139 weight (DW) and TFC as mg of cathequin equivalents (CE)/ 100g of dry weight (DW). The 140 proanthocyanidins content (PAC) was determined as proposed by Prior et al. (2010) and 141 expressed as mg of proanthocyanidin A2 equivalents (PA2E)/ 100g powder in dry weight 142 (DW) 143 45 2.5.2 Nutritional bioactive compounds 144 Ascorbic acid (AA) was determined by AOAC (2012, method 967.21). ACE samples were 145 analyzed as described by Oliveira, Godoy & Prado (2010) due to its intense red color. The 146 TCC was measured by Linchtenthaler & Buschmann (2001) method with acetonic extractions 147 follow by readings at 470, 645 and 662 nm (Genesys 10S VIS, Thermo Scientific, USA). The 148 results to AA and TCC were expressed in mg/100g of dry weight (DW). 149 2.6 Characterization of phenolic compounds profile by high performance liquid 150 chromatography (HPLC) 151 Acid hydrolysis extractions were made according to Ross, Beta & Arntfield (2009) and 152 Krygier, Sosulski & Hogge (1982) with modifications. Aliquots of the freeze-dried
Compartilhar