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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA (CT) CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA (CCET) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Influência da Adição de Antimônio na Liga Hipoeutética Sn- 52%Bi Solidificada Direcionalmente: Parâmetros Térmicos, Microestruturais e Resistência Mecânica JEVERTON LAUREANO PAIXÃO Orientador: Prof. Dr. Bismarck Luiz Silva Tese(Dissertação) n.º ______ /PPGCEM Julho de 2019 Natal – RN JEVERTON LAUREANO PAIXÃO Influência da Adição de Antimônio na Liga Hipoeutética Sn-52%Bi Solidificada Direcionalmente: Parâmetros Térmicos, Microestruturais e Resistência Mecânica Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Bismarck Luiz Silva Julho de 2019 Natal/RN Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Paixão, Jeverton Laureano. Influência da adição de antimônio na liga hipoeutética Sn- 52%Bi solidificada direcionalmente: parâmetros térmicos, microestruturais e resistência mecânica / Jeverton Laureano Paixão. - 2019. 98 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós- Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais. Natal, RN, 2019. Orientador: Prof. Dr. Bismarck Luiz Silva. 1. Solidificação - Dissertação. 2. Ligas Sn-Bi-Sb - Dissertação. 3. Propriedades mecânicas de tração - Dissertação. 4. Microestrutura - Dissertação. 5. Variáveis térmicas - Dissertação. I. Silva, Bismarck Luiz. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 66.065 Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262 TERMO DE APROVAÇÃO JEVERTON LAUREANO PAIXÃO Influência da Adição de Antimônio na Liga Hipoeutética Sn-52%Bi Solidificada Direcionalmente: Parâmetros Térmicos, Microestruturais e Resistência Mecânica Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais. Natal/RN, Julho de 2019. Examinador Examinador Examinador DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha família, Em especial aos meus anjos da guarda: Meu sobrinho Arthur Gabriel e minha avó Alice Felix (In Memoriam). Nunca deixe que alguém te diga que não pode fazer algo. Nem mesmo eu. Se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas que não podem fazer por si mesmas, dirão que você não consegue. Se quer alguma coisa, vá e lute por ela. Ponto final. A procura da felicidade. AGRADECIMENTOS A Deus por me dar condições para a realização deste trabalho; Aos meus pais, Romildo Paixão e Severina Laureano, por todo amor, carinho e compreensão. Ao meu orientador, Prof. Dr. Bismarck Luiz Silva pela ajuda, dedicação, compromisso e confiança para o desenvolvimento deste trabalho. Ao Prof. Eduardo Spinelli e a todos que compõem o Laboratório de Solidificação e Grupo Microestrutura e Propriedades em Processos de Solidificação (M2PS) do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, em especial a Leonardo e Rodrigo, pelo acolhimento e apoio na realização dos experimentos de solidificação. Aos funcionários do Laboratório de Caracterização Microestrutural dos Materiais da UFRN, Carla Laíse e Igor Zumba, pela contribuição nas análises e ensaios microscópicos. Aos alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais que de uma forma ou de outra me ajudaram. À CAPES pelo apoio financeiro; A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO A busca por materiais sustentáveis e menos tóxicos é uma tendência mundial que deve chamar ainda mais atenção nos próximos anos devido às novas e atuais restrições/diretrizes de órgãos ambientais. As ligas de brasagem livres de chumbo utilizadas na indústria eletrônica são exemplos deste panorama. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo estabelecer correlações entre as variáveis térmicas de solidificação (taxa de resfriamento-ṪL e velocidade de solidificação-VL) e parâmetros microestruturais (espaçamentos dendríticos primário-λ1, secundário-λ2 e terciário-λ3; e eutéticos finos-λF e grosseiro-λg) para as ligas Sn-52%Bi-1%Sb e Sn- 52%Bi-2%Sb solidificadas direcionalmente em condições transitórias de fluxo de calor. Os resultados mostraram que as microestruturas para as ligas Sn-Bi-Sb são formadas por uma matriz dendrítica rica em Sn com precipitados de Bi em seu interior, cercada por estruturas eutéticas lamelares (Sn+Bi), ainda com estruturas como trifolis de Bi e o eutético tipo “escama de peixe”. Devido a significativa fração de mistura eutética (Sn+Bi) nas ligas Sn-Bi-Sb, os expoentes -1/4 e -1/2, propostos por Jackson e Hunt para o crescimento eutético, caracterizaram as evoluções de λ1, λ3 e λ2, como uma função de ṪL e VL, respectivamente. Os mesmos expoentes foram adotados para caracterizar a evolução dos espaçamentos eutéticos (λfino e λgrosseiro) da liga modificada com 1%Sb contra ṪL e VL. As relações do tipo Hall-Petch para as ligas Sn-Bi-Sb mostraram que as adições de 1 e 2%Sb aumentaram a resistência mecânica (limite de escoamento-σe e de resistência à tração-σt) da liga hipoeutética Sn-52%Bi, mas não afetaram a ductilidade (alongamento específico-δ). As adições de Sb não modificaram o modo de fratura da liga Sn-52%Bi. Palavras-Chave: Solidificação; Variáveis Térmicas; ligas Sn-Bi-Sb; Microestrutura; Propriedades Mecânicas de Tração. ABSTRACT The search for sustainable and less toxic materials is a global trend and should draw even more attention in the coming years due to the new and current restrictions/directives of environmental agencies. Lead-free solder alloys used in the electronics industry are examples of this scenario. In this context the present investigation aims to establish correlations between the solidification thermal parameters (cooling rate-ṪL and growth rate-VL) and microstructural parameters (primary-λ1, secondary-λ2 and tertiary-λ3 dendritic; and fine λF and coarse-λC eutectic spacings) for the directionally solidified (DS) Sn-52wt.%Bi-1wt.%Sb and Sn- 52wt.%Bi-2wt.%Sb alloys under transient heat flow conditions. A dendritic array was identified for the Sn-Bi-Sb alloys formed by a Sn-rich matrix with Bi precipitates at its core, surrounded by lamellar eutectic structures (Sn-rich+Bi-rich), Bi trifolis and fishbone-like eutectic. The significant fraction of eutectic mixture (Sn-rich+Bi-rich) in the Sn-Bi-Sb alloys induced the -1/4 and -1/2 exponents, proposed by Jackson and Hunt for eutectics, characterize the evolutions of λ1, λ3 and λ2, as a function of ṪL and VL, respectively. These exponents also characterized evolutions of λF and λC against ṪL and VL for the modified alloy containing 1wt.%Sb. Hall-Petch type correlations for Sn-Bi-Sb alloys displayed that additions of 1wt.% and 2wt.%Sb have beneficial effects on the ultimate tensile strength-σu and the yield tensile strength-σy, but does not affect ductility (elongationto fracture-δ). Sb additions did not modify the fracture mode of the Sn-52wt.%Bi alloy. Keywords: Solidification; Thermal Parameters; Sn-Bi-Sb alloys; Microstructure; Tensile Mechanical properties. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Encadeamento de fatores e eventos durante a solidificação de um metal (Garcia, 2007). ..................................................................................................... 5 Figura 2: Técnicas experimentais de solidificação unidirecional em condições estacionárias de fluxo de calor: (a) vertical com deslocamento do forno; (b) vertical com deslocamento da amostra. Adaptado de Garcia (Garcia, 2007). ..... 6 Figura 3: Representação esquemática das três técnicas de solidificação unidirecional – g é o vetor gravidade: (a) Vertical ascendente; (b) Vertical descendente e; (c) Horizontal (COSTA, 2016). .................................................................................. 7 Figura 4: Desenho esquemático mostrando um gráfico da velocidade em função da posição e os deslocamentos das isotermas solidus e liquidus ao longo de um elemento de volume L: TL-isoterma liquidus; TS-isoterma solidus. (Bertelli, 2012.) ............................................................................................................................. 8 Figura 5: Representações esquemáticas de estruturas eutéticas, (a) regular lamelar, (b) regular fibrosa, (c) regular globular e (d) irregular (Garcia, 2007). ................ 10 Figura 6: Zona de crescimento acoplado em diagramas de fases eutéticos (região sombreada): (a) região acoplada aproximadamente simétrica para eutéticos regulares e (b) região acoplada deslocada em eutéticos irregulares (GARCIA, 2007). ................................................................................................................. 12 Figura 7: Representações esquemáticas da atuação dos fatores de influência na formação das microestruturas de solidificação (Garcia, 2007). .......................... 13 Figura 8: Esquema representativo das ramificações interdendríticas primárias (λ1), secundárias (λ2) e terciárias (λ3) (Kurz e Fisher 1992). ...................................... 13 Figura 9: Mudança morfológica na estrutura de crescimento à medida que a velocidade é aumentada: (A) crescimento celular regular em baixas velocidades; (B) crescimento celular com alteração na direção de crescimento; (C) transição celular/dendrítica; (D) crescimento dendrítico com início de formação de instabilidades laterais. (Garcia, 2007). ............................................................... 15 Figura 10: Condições de transição planar/celular/dendrítica pelo efeito do super- resfriamento constitucional (GARCIA, 2007). ..................................................... 15 Tabela 1 – Leis experimentais para descrever a evolução dos espaçamentos dendríticos (λ1, λ2, λ3) em função das variáveis térmicas de solidificação (VL e ṪL) para ligas metálicas (SILVA, 2016). ............................................................. 16 Tabela 2 − Equações genéricas do tipo Hall-Petch ou Hall-Petch modificada correlacionando propriedades mecânicas (σt, σe, δ e dureza) e parâmetros estruturais (λ1,C -1/2, λ2 -1/2) de ligas solidificadas direcionalmente em regime transitório de fluxo de calor (SILVA, 2016). ........................................................ 17 Figura 11: Diagrama de fases do sistema Sn-Bi (adaptado de Okamoto, 1992). ...... 21 Figura 12: eutético Sn-Bi (Sakuyama, 2009). ............................................................ 21 Figura 13: Estruturas eutéticas da liga Sn-52%Bi: (a) fina, (b) grosseira e (c) tipo Fishbone (Silva, 2015). ...................................................................................... 22 Figura 14: Microestrutura das ligas (a) Sn-5%Sb, (b) Sn-5%Sb-1.5%Bi, (c) Sn-5%Sb- 1.5%Cu (adaptado de Esfandyarpour et al. 2011). ............................................ 24 Figura 15: Imagens MEV (a) do eutético da liga Sn-58%Bi-1%Sb (b) destacando a presença do intermetálico SnSb na fase β-Sn (adaptado de Sakuyama, 2009). ........................................................................................................................... 24 Figura 16: Imagem MEV das ligas (a) Sn-58%Bi-3%Sb e (b) Sn-58%Bi-6%Sb (TORRES, 2012). ............................................................................................... 25 Figura 17. Regiões com presença alternada de fases em ligas Sn-Bi-Sb oriunda da reação (A) quasi-peritética e (B) região eutética (adaptado de Zhang et al. 2014). ................................................................................................................. 26 Figura 18: Superfície liquidus calculada para o sistema ternário Sn-Bi-Sb (OHTANI, 1998). ................................................................................................................. 27 Figura 19: Fluxograma do procedimento experimental. ............................................ 29 Figura 20: Aparato experimental do dispositivo de solidificação direcional transitória. ........................................................................................................................... 31 Figura 21: (a) lingoteira, termopares e chapa molde antes da solidificação direcional e (b) lingote Sn-52%Bi-1%Sb. ............................................................................ 32 Figura 22: Sequência experimental na determinação das variáveis térmicas (Rocha, 2003). ................................................................................................................. 34 Figura 23: Esquema de retirada de amostras a partir dos lingotes Sn-Bi-Sb (Adaptado de REYES, 2017). ............................................................................ 35 Figura 24: Esquema representativo dos métodos utilizado para quantificar os espaçamentos dendríticos: (a) Seção transversal de uma estrutura dendrítica para medição de λ1 e λ3, (b) Seção longitudinal de uma estrutura dendrítica para medição de λ2 , (c) Seção transversal de uma estrutura eutética para medição de λ. Adaptado de Silva (SILVA, 2017). ............................................................. 37 Figura 25: (a) Esquema para a retirada dos corpos de prova de tração dos lingotes Sn-Bi-Sb e (b) desenho esquemático dos corpos de prova com dimensões em mm. .................................................................................................................... 40 Figura 26: (a) Perfis térmicos e (b) curva de resfriamento experimental para a liga Sn-52%Bi-1%Sb................................................................................................. 42 Figura 27: (a) Perfis térmicos e (b) curva de resfriamento experimental para a liga Sn-52%Bi-2%Sb................................................................................................. 43 Figura 28: Curva Posição x Tempo da passagem da isoterma liquidus ao longo das posições monitoradas. ....................................................................................... 44 Figura 29: Evolução (a) da velocidade de deslocamento da isoterma liquidus-VL, (b) da taxa de resfriamento-ṪL e (c) do gradiente térmico (GL) em função da posição ao longo dos lingotes Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb. .............................. 45 Figura 30: Macroestruturas das ligas (a) Sn-52%Bi-1%Sb e (b) Sn-52%Bi-2%Sb. .. 46 Figura 31: Microestruturas típicas transversais (esquerda) e longitudinais (direita) da liga Sn-52%Bi-1%Sb. ......................................................................................... 48 Figura 32: Microestruturas típicas transversais (esquerda) e longitudinais (direita) da liga Sn-52%Bi-2%Sb. ......................................................................................... 50 Figura 33: Microestruturas óticas destacando as regiões eutéticas para diferentes posições das ligas (a) Sn-52%Bi-1%Sbe (b), (c) Sn-52%Bi-2%Sb. .................. 51 Figura 34. Perfis experimentais de macrossegregação (a) do bismuto e (b) do antimônio ao longo dos lingotes Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb. .............. 53 Figura 35: Difratogramas de raios-X de diferentes posições para as ligas (a) Sn- 52%Bi-1%Sb e (b) Sn-52%Bi-2%Sb e suas respectivas taxas de resfriamento.55 Figura 36: Microestruturas MEV destacando a distribuição de partículas de Bi na fase β-Sn para as ligas Sn-52%Bi-xSb. P é a posição a partir da interface metal/molde. ....................................................................................................... 56 Figura 37: Microestruturas MEV correspondentes às seções transversais da liga Sn- 52%Bi-1%Sb, evidenciando o eutético binário Sn+Bi e as morfologias dos precipitados de Bi. P é a posição a partir da interface metal/molde. .................. 58 Figura 38: Microestruturas MEV correspondentes às seções transversais da liga Sn- 52%Bi-2%Sb, evidenciando o eutético binário Sn+Bi e as morfologias dos precipitados de Bi. P é a posição a partir da interface metal/molde. .................. 59 Figura 39: MEV / EDS correspondente as fases formadas para as ligas (a) Sn- 52%Bi-1%Sb e (b) Sn-52%Bi-2%Sb. ................................................................. 60 Figura 40: Mapas elementares MEV / EDS detalhando as fases formadas durante a solidificação em regime transitório de fluxo de calor da liga Sn-52%Bi-1%Sb. P é a posição a partir da interface metal/molde (magnificação usada: 6000X). ....... 61 Figura 41: Mapas elementares MEV / EDS detalhando as fases formadas durante a solidificação em regime transitório de fluxo de calor da liga Sn-52%Bi-2%Sb. P é a posição a partir da interface metal/molde (magnificação usada: 6000X). ....... 62 Figura 42: Evoluções dos espaçamentos dendríticos (a) primário, (b) terciário e (c) secundário em função da taxa de resfriamento (ṪL) e da velocidade da isoterma liquidus (VL), respectivamente. R 2 é o coeficiente de correlação. ...................... 65 Figura 43: Evoluções dos espaçamentos eutéticos (a) grosseiro e (b) fino em função da taxa de resfriamento (ṪL). R 2 é o coeficiente de correlação. ......................... 67 Figura 44: Evoluções dos espaçamentos eutéticos (a) grosseiro e (b) fino em função da velocidade de deslocamento da isoterma liquidus (VL). R 2 é o coeficiente de correlação. ......................................................................................................... 67 Tabela 3: Leis de crescimento dendrítico e eutético para as ligas Sn-Bi-Sb. ............ 68 Figura 45: Curvas tensão x deformação para três posições distintas dos lingotes (a) Sn-52%Bi-1%Sb e (b) Sn-52%Bi-2%Sb. ............................................................ 70 Figura 46: (a) Limite de resistência à tração (σt), (b) limite de escoamento (σe) e (c) alongamento especifico (δ) em função do inverso do espaçamento dendrítico secundário (λ2) para as ligas Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb. .................. 72 Figura 47 Imagens MEV das superfícies de fratura da liga ternária Sn-52%Bi-1%Sb para as posições (a) 6mm, (b) 48mm e (c) 90mm a partir da interface metal/molde. ....................................................................................................... 74 Figura 48 Imagens MEV das superfícies de fratura da liga ternária Sn-52%Bi-2%Sb para as posições (a) 6mm, (b) 48mm e (c) 90mm a partir da interface metal/molde. ....................................................................................................... 75 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Leis experimentais para descrever a evolução dos espaçamentos dendríticos (λ1, λ2, λ3) em função das variáveis térmicas de solidificação (VL e ṪL) para ligas metálicas (SILVA, 2016). ............................................................. 16 Tabela 2 − Equações genéricas do tipo Hall-Petch ou Hall-Petch modificada correlacionando propriedades mecânicas (σt, σe, δ e dureza) e parâmetros estruturais (λ1,C -1/2, λ2 -1/2) de ligas solidificadas direcionalmente em regime transitório de fluxo de calor (SILVA, 2016). ........................................................ 17 Tabela 3: Leis de crescimento dendrítico e eutético para as ligas Sn-Bi-Sb. ............ 68 LISTA DE ABREVIATURAS C0 – Composição nominal DRX – Difração de Raios-X EDS – Espectroscopia de Raios-X por Energia Dispersiva FRX – Fluorescência de Raios-X G – Gradiente Térmico MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura RoHS – Restriction of Certain Hazardous Substances SE – Detector de Elétrons Secundários SRC – Super-resfriamento Constitucional Ṫ ou ṪL- Taxa de resfriamento TE – Temperatura eutética TL – Temperatura liquidus TS – Temperatura solidus tSL – Tempo local de solidificação TV – Temperatura de vazamento v – Velocidade de solidificação ou velocidade da frente eutética VL – Velocidade da isoterma liquidus WEEE – Waste Electrical and Electronic Equipment λ1 – Espaçamento Dendrítico Primário λ2 – Espaçamento Dendrítico Secundário λ3 – Espaçamento Dendrítico Terciário σt – Limites de resistência à tração σe – Limite de escoamento δ – Alongamento específico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 4 2.1 PROCESSO DE SOLIDIFICAÇÃO ................................................................ 4 2.2 SOLIDIFICAÇÃO UNIDIRECIONAL ............................................................... 6 2.3 VARIÁVEIS TÉRMICAS DE SOLIDIFICAÇÃO .............................................. 8 2.4 SOLIDIFICAÇÃO DE EUTÉTICOS ................................................................ 9 2.5 MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO............................................... 12 2.5.1 ESTRUTURAS CELULAR E DENDRÍTICA ........................................... 14 2.6 CORRELAÇÕES ENTRE OS PARÂMETROS TÉRMICOS E MICROESTRUTURA ............................................................................................. 16 2.7 RELAÇÕES ENTRE MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES ................. 17 2.8 LIGAS DE BRASAGEM LIVRES DE PB (LEAD-FREE SOLDER ALLOYS) 18 2.8.1 ASPECTOS GERAIS ............................................................................. 18 2.8.2 ESTANHO E SUAS LIGAS .................................................................... 19 3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................. 28 3.1 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS UTILIZADOS ........................................... 29 3.2 DISPOSITIVO DE SOLIDIFICAÇÃO VERTICAL ASCENDENTE ................ 31 3.2.1 DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS TÉRMICAS DE SOLIDIFICAÇÃO 33 3.3 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO ................ 34 3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA MACROESTRUTURA E MICROESTRUTRURAS .................................................................................... 35 3.3.2 MEDIÇÃO DOS ESPAÇAMENTOS DENDRÍTICOS E EUTÉTICOS .... 36 3.4 ANÁLISE DA MACROSSEGREGAÇÃO ...................................................... 37 3.5 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX) .................................................................. 38 3.6 ANÁLISE DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) E MAPEAMENTO QUÍMICO MEV/EDS.................................................................... 38 3.7 ENSAIO DE TRAÇÃO .................................................................................. 38 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 41 4.1 VARIÁVEIS TÉRMICAS ............................................................................... 41 4.2 MACROESTRUTURAS E MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO ..... 46 4.3 MACROSSEGREGAÇÃO E ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X ....... 524.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL POR ANÁLISES DE MEV/EDS 55 4.5 MAPEAMENTO DE COMPOSIÇÃO QUÍMICA POR MEV/EDS .................. 60 4.6 ANÁLISE DAS LEIS DE CRESCIMENTO DENDRÍTICO E/OU EUTÉTICO 62 4.7 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE TRAÇÃO ............................................. 68 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................................ 78 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79 1 1 INTRODUÇÃO Atualmente observa-se um crescente aumento no consumo de equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos, e o consequente descarte responsável destes materiais se faz necessário. O lixo eletrônico virou um desafio no mundo inteiro, uma vez que a indústria de eletroeletrônicos é uma das que mais crescem na era tecnológica. Um recente estudo mostrou que a quantidade de lixo eletrônico alcançou um recorde de 45 milhões de toneladas em 2016, um aumento de 8% em relação a 2014 e apenas 20% foi reciclado (WELLE, 2017). Os resíduos desse descarte contêm metais pesados altamente tóxicos, como mercúrio, cádmio e chumbo. Esses elementos geram alterações negativas no meio ambiente, como a contaminação dos solos e dos lençóis freáticos, se queimados podem poluir o ar, além de gerar graves riscos à saúde humana (WEILER et al., 2013). Na montagem de dispositivos eletrônicos, as juntas de solda fornecem papel fundamental para o fornecimento dos mecanismos e interconexões elétricas. Apesar de variedade de ligas disponíveis para tal aplicação, as ligas são muito utilizadas na indústria eletrônica, pelo seu baixo ponto de fusão, boas propriedades físicas e mecânicas, além de ótimo molhamento nos substratos metálicos (GARCIA et al., 2009). Contudo, o chumbo é tóxico, apresentando graves fatores de riscos. Neste contexto, para amenizar o uso de metais tóxicos na indústria eletroeletrônica, em 2005, uma legislação europeia, a RoHS (Restriction of Certain Hazardous Substances) proibiu o uso de certas substâncias perigosas, entre elas o chumbo, em processos de fabricação de produtos em geral, determinando que, a partir do dia 1° de julho de 2006, nenhum produto utilizando essas substâncias possa ser vendido na Europa (ISLAM et al, 2006). No Brasil, apesar de não existir uma legislação similar à RoHS, restringindo o uso de substâncias perigosas em equipamentos eletroeletrônicos, existem regulamentações especificas que limitam o uso de metais pesados em pilhas e baterias, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei n° 12.305/10, a qual determina a obrigatoriedade da implantação de sistemas de logística reversa para esses resíduos. No entanto, observa-se que algumas empresas vêm adotando os requisitos da diretiva RoHS para a comercialização de seus produtos tanto no Brasil, quanto mundialmente (BRESCANSIN, 2014). 2 Um número crescente de estudos tem buscado o desenvolvimento de ligas de brasagem livres de chumbo, do inglês, Lead-free Solder Alloys. Porém essas ligas devem exibir características físicas, químicas e mecânicas similares às ligas Sn-Pb. As ligas de brasagem à base de estanho apresentam excelente fluidez e temperaturas de trabalho ideais para a união de componentes eletrônicos. Dentre os sistemas mais utilizados para compor estas novas ligas de brasagem, estão Sn-Bi, Sn-Ag, Sn-Zn, Sn-Cu e Sn-Sb (MAIA, 2011). No entanto, essas ligas apresentam desvantagens como baixa resistência à corrosão, baixa tenacidade e problemas de segregação. Em aplicações onde os vários materiais presentes em componentes eletrônicos são sensíveis a altas temperaturas (neste caso, T>200°C) ligas do sistema Sn-Bi (temperatura eutética de 138°C), tornam alternativas interessantes para substituir ligas Sn-Pb. No entanto, ligas Sn-Bi apresentam baixa ductilidade, baixa molhabilidade e segregação. A adição de elementos de liga em ligas binárias Sn-Bi pode promover melhorias nestas desvantagens (Sakuyama, 2009). Suganuma et al. (2001) investigaram a adição de pequenas quantidades de prata como elemento ternário da liga eutética Sn-57%Bi. No entanto, o teor de Ag escolhido não foi suficiente para os níveis de tenacidade ao impacto das ligas Sn-Bi analisadas. O aumento do teor de Sb aumenta a quantidade de estrutura eutética, porém aumenta o ponto de fusão das ligas eutéticas Sn-Bi e pode melhorar a resistência ao cisalhamento. Esse aumento de regiões eutéticas pode ser atribuído à fase intermetálica SnSb, que promove uma supressão da fase primária β-Sn (ZHANG et al 2014). Torres e colaboradores (TORRES et al. 2012) investigaram o efeito da adição de Sb (0, 3 e 6% em peso) na liga eutética Sn-Bi. As propriedades mecânicas (resistência à compressão e dureza) aumentaram com o aumento do teor de Sb e a resistência à corrosão apresentou melhorias significativas. Desta forma, um maior entendimento da correlação entre a evolução microestrutural e as variáveis térmicas de solidificação associados às propriedades mecânicas, através da adição de antimônio em ligas hipoeutéticas Sn-Bi, precisa ser elucidado. 3 1.1 OBJETIVOS Considerando a necessidade de desenvolvimento de novas ligas para brasagem de componentes microeletrônicos sem Pb e de atender as diretrizes RoHS (Restriction of Certain Hazardous Substances), o presente trabalho tem por objetivo estudar o efeito das adições de 1% e 2%Sb (em peso) na liga hipoeutética Sn-52%Bi solidificada direcionalmente em regime transitório de fluxo de calor, quanto às variáveis térmicas de solidificação, caracterização microestrutural e propriedades mecânicas. 1.2.1 Objetivos específicos i. Realizar experimentos de solidificação direcional no regime transitório de fluxo de calor para as ligas Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb, com uso de chapa molde de aço carbono 1020; ii. Determinar experimentalmente as variáveis térmicas de solidificação como, velocidade de crescimento da isoterma liquidus (VL), taxa de resfriamento (ṪL) e gradiente térmico (GL), a partir dos registros térmicos ao longo dos lingotes Sn-Bi-Sb; iii. Caracterizar a macroestrutura e microestruturas de solidificação, realizando a quantificação dos parâmetros microestruturais (espaçamentos dendríticos primários-λ1, secundário-λ2 e terciários-λ3, e eutéticos-λf ou λg) por meio de técnicas metalográficas, identificando as fases presentes (fase primária β-Sn, eutético e precipitados de Bi) e o nível de segregação pelas técnicas de Difração de Raios-X (DRX) e Fluorescência de Raios-X (FRX), respectivamente; iv. Entender a relação experimental parâmetros térmicos-microestrutura ao longo dos lingotes Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb e suas respectivas leis de crescimento microestrutural; v. Compreender o efeito das adições de Sb nas propriedades mecânicas de tração como os limites de resistência à tração (σt) e de escoamento (σe), e alongamento específico (δ). 4 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 PROCESSO DE SOLIDIFICAÇÃO O processo de solidificação é aplicado em diversos campos da engenharia, tais como: processos de fundição (vazamento gravitacional e centrifugação), de soldagem, de crescimento de cristais e de tratamentos superficiais à Laser. Na metalurgia este processo é de extrema importância já que, com exceção de peças sinterizadas, todos os metais passam, em alguma etapa de seu processamento, por um processo de fusão e solidificação seja na fabricação de peças fundidas em moldes com a forma desejada, seja na produção de lingotes para posterior conformação (GARCIA, 2007). O processo de solidificação pode ser definido, em termos macroscópicos, como sendo fenômeno de transformação de uma fase liquida em fase sólida. Do ponto de vista microscópico, a solidificação pode ser tratada como um processo de doisestágios consecutivos: a nucleação e o crescimento que acarretam na transformação da fase do material, de líquida para sólida (TOLEDO, 2013). Dependendo das condições de contorno impostas a que está submetido esse processo, como variáveis térmicas e estruturais, estão diretamente relacionados na mudança de fase líquido/sólido que interfere nas propriedades mecânicas do material (CANTÉ, 2009). A Figura 1 apresenta a sequência dos fenômenos ocorridos durante a solidificação de um metal. Este processo de transferência de calor consiste principalmente por liberação de energia térmica como uma fronteira móvel que separa as duas fases de estado de agregação distintas (GARCIA, 2007). 5 Figura 1: Encadeamento de fatores e eventos durante a solidificação de um metal (Garcia, 2007). As propriedades mecânicas do material baseiam-se essencialmente nas condições impostas no processo de solidificação. O tamanho, a orientação preferencial de crescimento e morfologia dos grãos, os espaçamentos interfásicos, as heterogeneidades de composição química, forma e distribuição de inclusões, entre outros fatores, são decisivos na formação da macroestrutura e da microestrutura do material, influenciando consequentemente nas propriedades mecânicas do mesmo (COSTA, 2016). Como a indústria tem procurado a produção de seus componentes com propriedades cada vez mais elevadas, a compreensão da influência das variáveis térmicas de solidificação na formação da estrutura final e consequentemente nas propriedades finais do material possibilita um melhor controle dos processos de fundição, de modo a obter as exigências de engenharia desejadas. 6 2.2 SOLIDIFICAÇÃO UNIDIRECIONAL A técnica de solidificação unidirecional tem sido bastante utilizada no estudo experimental dos fenômenos relacionados à solidificação. Essa técnica pode ser observada sob duas abordagens, sendo uma que trata com solidificação em regime permanente e a que ocorre em regime transiente. No primeiro caso, variáveis térmicas como o gradiente de temperatura e velocidade de crescimento são controlados independentemente e mantidos constantes ao longo do experimento, como ocorre nos processos que utilizam a técnica Bridgman/Stockbarger, ilustrado na Figura 2 (GARCIA, 2007). a) b) Figura 2: Técnicas experimentais de solidificação unidirecional em condições estacionárias de fluxo de calor: (a) vertical com deslocamento do forno; (b) vertical com deslocamento da amostra. Adaptado de Garcia (Garcia, 2007). O estudo em condições estacionárias de fluxo de calor é muito utilizado na determinação das relações quantitativas entre os aspectos microestruturais e as variáveis térmicas de solidificação, já que permite analisar a influência de cada uma delas de forma independente, e permite um mapeamento experimental de parâmetros microestruturais em um espectro mais amplo da amostra solidificada. No entanto, na solidificação em regime transiente, o gradiente de temperatura e velocidade de crescimento de transformação variam livremente com o tempo e com a posição no interior do metal. A maioria dos processos industriais de solidificação ocorre em condições de regime transiente, o que justifica a importância do estudo teórico-experimental da influencia das variáveis térmicas sobre os 7 parâmetros de macroestrutura e microestrutura resultantes do processo de solidificação unidirecional (ROCHA, 2003). A técnica de solidificação unidirecional transitória se apresenta experimentalmente em diferentes condições: vertical ascendente, vertical descendente e horizontal. A Figura 3 apresenta esquematicamente como ocorre a extração de calor ocorre em cada situação. a) b) c) Figura 3: Representação esquemática das três técnicas de solidificação unidirecional – g é o vetor gravidade: (a) Vertical ascendente; (b) Vertical descendente e; (c) Horizontal (COSTA, 2016). Por meio dessas configurações experimentais é possível obter uma série de microestruturas devido ao perfil decrescente da taxa de resfriamento, consequentemente torna-se possível estabelecer leis de crescimento em função das variáveis térmicas para ligas solidificadas em condições de regime transiente de extração de calor (COSTA, 2016). Uma vez que o presente trabalho foi realizado com o dispositivo de solidificação na configuração vertical ascendente, vale salientar que esta técnica tem como princípio receber o metal líquido e possibilitar a solidificação de forma que a extração de calor necessária para a transformação do líquido em sólido ocorra de forma vertical de baixo para cima. Com a solidificação progredindo em sentido contrário ao da ação da gravidade, o peso do próprio lingote atua no sentido de favorecer o contato térmico com a base refrigerada (COSTA, 2016). 8 2.3 VARIÁVEIS TÉRMICAS DE SOLIDIFICAÇÃO O estudo da transferência de calor no processo de solidificação fundamenta- se na determinação da cinética de solidificação e na distribuição da temperatura no sistema metal/molde. As estruturas de solidificação influenciam significativamente as propriedades mecânicas, em produtos fundidos e em produtos tratados termicamente. Essas estruturas dependem das variáveis térmicas de solidificação, como: temperatura de vazamento (TV), gradientes de temperatura (G), velocidades de evolução das isotermas de transformação liquidus e solidus (VL e VS) e taxas de resfriamento (Ṫ). Essas variáveis afetam diretamente na morfologia macro e microestrutural bruta de solidificação (DIAS, 2009). Segundo Garcia (GARCIA, 2007), se igualarmos a temperatura da ponta da dendrita (interface líquido/sólido) à temperatura liquidus, na determinação das variáveis térmicas de solidificação, é possível determinar a velocidade de crescimento (ou velocidade de avanço da isoterma liquidus VL), ou seja, velocidade da ponta da dendrita será igual à VL. A Figura 4 exibe a as evoluções teóricas das velocidades de deslocamento das isotermas liquidus e solidus, além de um esquema representativo ilustrando a base e a ponta da dendrita. Figura 4: Desenho esquemático mostrando um gráfico da velocidade em função da posição e os deslocamentos das isotermas solidus e liquidus ao longo de um elemento de volume L: TL-isoterma liquidus; TS-isoterma solidus. (Bertelli, 2012.) Durante o processo de solidificação a energia na forma de calor move-se da zona de maior temperatura para a zona de menor temperatura. A determinação 9 desse gradiente de temperatura pode ser obtida através da diferença de temperatura entre dois pontos definidos, conforme a equação (01) a seguir: GL = ∆𝑇 ∆𝑃⁄ (Eq. 01) Onde, GL= gradiente térmico (°C/mm), ∆𝑇= variação da temperatura (°C) e ∆𝑃= diferença de posição. Já a velocidade de solidificação relaciona o deslocamento da interface sólido/liquido com tempo. A determinação dessa variável é determinada conforme a equação (02) a seguir: VL=𝜕𝑃 𝜕𝑡⁄ (Eq; 02) A taxa de resfriamento (Ṫ) junto à isoterma liquidus pode ser definida como a inclinação da curva de resfriamento no momento da passagem pela temperatura liquidus, ou ainda a partir dos valores de GL e VL, segundo a equação (03): Ṫ= dTL / dt = GL x VL (Eq; 03) 2.4 SOLIDIFICAÇÃO DE EUTÉTICOS Ligas eutéticas são caracterizadas por apresentarem um ponto de fusão menor do que os apresentados pelo os seus constituintes, e se destacam pela grande variedade de morfologias que podem apresentar durante a solidificação e consequentemente, pela diversidade de propriedades e aplicações obtidas (GARCIA, 2007). Duas questões principais caracterizam as reações eutéticas, que são: a completa solubilidade no estado líquido e solubilidade parcial no estado sólido, e os dois pares de linhas liquidus e solidus apresentando coeficientes de distribuição desoluto (k) menor do que a unidade. A solidificação eutética resulta da formação de um sólido representado pela mistura íntima de duas soluções sólidas, mesmo que a microestrutura que decorre dessa mistura dependa do crescimento de cada fase individual, facetada ou difusa (GARCIA, 2007). A variação das morfologias eutéticas pode ser classificada de acordo com as características apresentadas em três categorias: estruturas regulares, regulares 10 complexas e irregulares. As ligas eutéticas de estrutura regular exibem três diferentes tipos microestruturais: lamelares, fibrosos ou globulares. A estrutura lamelar é constituída de placas paralelas e alternada das duas fases sólidas que compõem o eutético, conforme mostra a Figura 5(a). A microestrutura fibrosa é constituída de barras finas de uma das fases, envolvida pela fase matriz, conforme a Figura 5(b). Os eutéticos globulares, que ocorrem em algumas ligas de importância comercial como, por exemplo, no eutético Cu-CuO2, apresentam formato conforme mostrado na Figura 5(c). Nos eutéticos regulares com estruturas complexas observam-se duas regiões de aspecto distinto, uma delas com padrão regular repetitivo e outra com orientação ao acaso, já os eutéticos irregulares a estrutura consiste de orientações ao acaso das duas fases que constituem o eutético, conforme a Figura 5(d) (GARCIA, 2007). Figura 5: Representações esquemáticas de estruturas eutéticas, (a) regular lamelar, (b) regular fibrosa, (c) regular globular e (d) irregular (Garcia, 2007). Devido à complexidade na avaliação da estabilidade da interface sólido/líquido no crescimento simultâneo de duas fases, como em eutéticos, a análise individual de cada caso se faz necessário (eutéticos binários puros, eutéticos binários impuros e estruturas eutéticas obtidas a partir de ligas pró-eutéticas). Nos eutéticos binários puros, a composição média do sólido é a mesma do líquido do qual ele é formado. Apesar do perfil de soluto ser capaz de provocar um 11 pequeno grau de super-resfriamento constitucional, este não é suficiente para criar a instabilidade da interface. Já para os eutéticos binários impuros, ao acrescentar uma impureza a uma liga eutética pura, a distribuição de soluto entre as duas fases sólidas e o líquido irá variar ao longo do tempo, e será capaz de induzir uma alteração de uma interface plana para uma interface celular. Estruturas conhecidas como “colônias eutéticas” são formadas a partir do crescimento de paralelo de células. A adição de impurezas pode provocar a formação de uma estrutura dendrítica proveniente ou da fase α ou da fase β que constituem o eutético, ou mesmo de uma fase formada com a própria impureza (GARCIA, 2007). As ligas pró-eutéticas possuem concentrações próximas ao ponto eutético, podendo também ser identificada ao longo de um intervalo de composição. Em condições normais de solidificação (equilíbrio termodinâmico), a microestrutura final deve ser constituída de dendritas de uma fase α ou da fase β, e conforme sua posição em relação à composição eutética pode conter agregados eutéticos em regiões interdendríticas. A solidificação de um eutético envolve um processo de acoplamento difusivo de alta eficiência e que pode ser mais rápido do que o crescimento isolado de uma única fase (GARCIA, 2007). As estruturas eutéticas podem ser obtidas ao longo de um intervalo de composição e não apenas na composição específica. Esses intervalos são denominados zonas de acoplamento (em inglês, coupled zones), e os fatores que determinam as dimensões e a simetria desse intervalo são o gradiente térmico (GL) e/ou velocidade de crescimento (V). A Figura 6 mostra essa região dos diagramas de fases eutéticos regulares (Figura 6a) e eutéticos irregulares (Figura 6b). Assim, nas regiões fora desse intervalo de composições, a microestrutura será constituída de dendritas primárias com eutético compreendido entre suas ramificações. 12 Figura 6: Zona de crescimento acoplado em diagramas de fases eutéticos (região sombreada): (a) região acoplada aproximadamente simétrica para eutéticos regulares e (b) região acoplada deslocada em eutéticos irregulares (GARCIA, 2007). 2.5 MICROESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO Durante a solidificação de ligas metálicas, pode verificar-se diferentes morfologias e fases microestruturais dependendo da composição química da liga e das condições de solidificação. A formação da morfologia está fortemente relacionada com a evolução da forma da interface entre o sólido/liquido (S/L). Em condições ideais essa interface deveria ser plana, porém, alterações nos parâmetros constitucionais e térmicos do sistema metal/molde que ocorrem durante a solidificação provocam instabilidade dessa interface dando origem as estruturas (DIAS FILHO, 2016; BRITO, 2016). Ao longo do processo de solidificação, a rejeição do soluto ou do solvente à frente da interface sólido/líquido da origem a um fenômeno que favorece a nucleação, conhecido na literatura como Super-Resfriamento Constitucional (SRC). A morfologia na interface S/L depende do valor de SRC que, por ordem crescente do SRC, são denominadas: planar, celular e dendrítica. Na Figura 7 observa-se de forma esquemática, a influência dos fatores: concentração de soluto (C0), velocidade de deslocamento da fronteira de solidificação (V), e o gradiente térmico (G) na estabilidade da interface S/L e, consequentemente na formação das microestruturas (GARCIA, 2007). 13 A continuidade do aumento do grau de super-resfriamento constitucional induz instabilidades de maior ordem com o surgimento de braços secundários que caracterizam as redes dendríticas. As distâncias entre centros de células e de ramificações ou braços dendríticos são definidas como espaçamentos intercelulares e interdendríticos, que são muito utilizados para caracterizar quantitativamente a microestrutura formada, conforme apresentado na Figura 8 (GARCIA, 2007). Figura 7: Representações esquemáticas da atuação dos fatores de influência na formação das microestruturas de solidificação (Garcia, 2007). Figura 8: Esquema representativo das ramificações interdendríticas primárias (λ1), secundárias (λ2) e terciárias (λ3) (Kurz e Fisher 1992). 14 2.5.1 ESTRUTURAS CELULAR E DENDRÍTICA A instabilidade da interface sólido/líquido leva à formação de fronteiras de solidificação (celulares ou dendríticas), que são influenciadas pela segregação do soluto e distribuição de temperaturas nas vizinhanças da interface. Já a instabilidade da interface planar induz a formação de células que gradativamente iniciam a uma transição a morfologia dendrítica, até que se estabeleça um crescimento totalmente dendrítico. No entanto, com a diminuição do valor de GL/VL devido à redução do gradiente de temperatura no líquido ou pelo acréscimo da velocidade, a região super-resfriada constitucionalmente é estendida e a célula começa a se desviar da forma circular original e passa a apresentar uma configuração denominada de cruz de malta, conforme mostra o esquema na Figura 9. Nesse instante, as condições de solidificação são tais que fatores cristalográficos passam a exercer elevada influência e o crescimento da estrutura passa a ser desviado para a direção cristalográfica preferencial (BILONI, 1968; Flemings, 1974; Kurz/Fisher, 1992; Garcia, 2001; Ding e Tewari, 2002). A transição entre células e dendritas é difusa e ocorre a partir do início da influência do fator cristalográfico e termina quando a direção preferencial de crescimento é atingida (Ding e Tewari, 2002; Ding e colaboradores, 1996/1997; Yu e colaboradores, 1999) e os braços dendríticos secundários já estejam perfeitamente definidos. Nessa faixa de transição, costuma definir-se a estrutura como celular/dendrítica, embora essa situação só ocorra paraestreitas faixas de valores de gradiente e de velocidade de deslocamento da interface. A Figura 10 apresenta a forma com que GL/VL influencia a instabilização da interface planar. Para uma liga de composição C0, constituída por uma estrutura planar, por exemplo, a mudança de estrutura para celular ou dendrítica pode ser conseguida pela imposição de um aumento gradativo da velocidade de solidificação ocasionando, consequentemente, a diminuição da razão GL/VL. 15 Figura 9: Mudança morfológica na estrutura de crescimento à medida que a velocidade é aumentada: (A) crescimento celular regular em baixas velocidades; (B) crescimento celular com alteração na direção de crescimento; (C) transição celular/dendrítica; (D) crescimento dendrítico com início de formação de instabilidades laterais. (Garcia, 2007). Figura 10: Condições de transição planar/celular/dendrítica pelo efeito do super- resfriamento constitucional (GARCIA, 2007). 16 2.6 CORRELAÇÕES ENTRE OS PARÂMETROS TÉRMICOS E MICROESTRUTURA Modelos teóricos fundamentados em sistemas de solidificação direcional foram desenvolvidos com o objetivo de analisar a influência das variáveis térmicas de solidificação sobre os espaçamentos celulares e dendríticos. Os modelos de Hunt-Lu (HUNT-LU, 1996) e Bouchard-Kirkaldy (BOUCHARD-KIRKALDY, 1997) são exemplos de modelos de crescimento dendrítico para solidificação em condições transitórias de fluxo de calor, sendo os demais são para regime estacionário. Esses estudos estabelecem relações entre parâmetros estruturais e os parâmetros térmicos de solidificação. A Equação 4 apresenta estas relações de forma geral. (λC, λ1, λ2, λ3, λ) = a (V, G, Ṫ) -b (Eq. 04) Sendo “a” um constante que depende da composição química da liga e “b” é um expoente determinado experimentalmente, λC, λ1, λ2, λ3, λ, são respectivamente, os espaçamentos celulares e dendríticos primários, secundários, terciários e eutéticos, G é o gradiente de temperatura, V é a velocidade de solidificação e Ṫ é a taxa de resfriamento. A Tabela 1 apresenta um resumo das leis de crescimento dendrítico para sistemas de ligas metálicas reportadas por Silva (SILVA, 2016). Tabela 1 – Leis experimentais para descrever a evolução dos espaçamentos dendríticos (λ1, λ2, λ3) em função das variáveis térmicas de solidificação (VL e ṪL) para ligas metálicas (SILVA, 2016). Parâmetro térmico Relações λ1 com VL e ṪL Relações λ2 com VL e ṪL Taxa de resfriamento - ṪL λ1,3=a(ṪL) -0,55 λ2=a(ṪL)-1/3 Velocidade de deslocamento da isoterma liquidus - VL λ1,3=b(VL) -1,1 λ2=b(VL) -2/3 *a e b são constantes 17 2.7 RELAÇÕES ENTRE MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES O processo de solidificação tem influência considerável sobre as propriedades mecânicas exibidas do produto final de solidificação. O comportamento mecânico das ligas metálicas é influenciado por vários fatores como tamanho de grão, forma e distribuição de inclusões e intermetálicos, porosidade formada, além dos espaçamentos interdendríticos e intercelulares. (GARCIA, 2007). A conhecida equação de Hall-Petch (Hall, 1951; Petch 1953) mostra que a resistência mecânica é proporcional ao inverso da raiz quadrada do diâmetro médio de grão (d). De forma similar, para estruturas brutas de fusão, este “d” pode ser substituído, por exemplo, por espaçamentos microestruturais, λ, seja ele celular, dendrítico ou eutético. Relações experimentais (tipo Hall-Petch ou Hall-Petch modificada – Tabela 2) foram também desenvolvidas no sentido de correlacionar os resultados experimentais entre espaçamentos dendríticos, celulares e eutéticos com propriedades mecânicas de tração (limite de resistência à tração-σt, limite de escoamento-σe e alongamento especifico-δ) para ligas binárias (OSORIO, et al., 2012). De maneira equivalente, alguns trabalhos correlacionam esses espaçamentos com a dureza Vickers (CANTÉ, et al., 2013). Silva (Silva 2016) construiu um resumo dessas leis tipo Hall-Petch, conforme apresenta a Tabela 2. Tabela 2 − Equações genéricas do tipo Hall-Petch ou Hall-Petch modificada correlacionando propriedades mecânicas (σt, σe, δ e dureza) e parâmetros estruturais (λ1,C -1/2, λ2 -1/2) de ligas solidificadas direcionalmente em regime transitório de fluxo de calor (SILVA, 2016). Tipo σt, σe, δ e dureza Vickers HV como função de espaçamentos celulares/dendríticos Hall-Petch σt = σt0 + k(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) σe = σe0 + k(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) δ = δ0 + k(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) HV= HV0 + k(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) Hall-Petch modificada σt = σt0 + k1(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) -/+ k2(λ1,C -1, λ2 -1) σe = σe0 + k1(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) -/+ k2(λ1,C -1, λ2 -1) δ = δ0 + k1(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) -/+ k2(λ1,C -1, λ2 -1) HV= HV0 + k1(λ1,C -1/2, λ2 -1/2) -/+ k2(λ1,C -1, λ2 -1) * k, k1 e k2 são constantes. 18 2.8 LIGAS DE BRASAGEM LIVRES DE PB (LEAD-FREE SOLDER ALLOYS) 2.8.1 ASPECTOS GERAIS Ligas de brasagem livres de chumbo são ligas alternativas (binárias, ternárias ou quaternárias), geralmente à base de Sn, que poderão substituir as tradicionais ligas Sn-Pb aplicadas para juntas de componentes eletrônicos. Essas juntas são fabricadas pelo processo de brasagem. A brasagem abrange um grupo de processo de união que produz a coalescência dos metais pelo aquecimento a uma temperatura adequada e pelo uso de um metal de adição que tem um ponto de fusão abaixo da temperatura “solidus” do metal de base. Ou seja, na brasagem diferentemente da soldagem, o metal de base nunca é levado à fusão. Se o ponto de fusão do metal de adição é superior a 450°C, o processo é dito brasagem forte (“brazing”) e, em caso contrário, é dito “brasagem fraca” (“soldering”). De modo geral, se utilizam ligas de curto intervalo de fusão para juntas curtas e ligas de amplo intervalo para juntas longas. A ligação entre o metal de adição e metal de base se dá por difusão com a formação de ligas intermetálicas na interface entre estes materiais, e é sólida e resistente (MARQUES, et al.,1991). Atualmente, o uso de juntas brasadas tem se tornado indispensável para interconexões de praticamente todos os dispositivos e circuitos eletrônicos. Soldas contendo chumbo, especialmente na composição eutética ou próximo à composição eutética (Sn-40%Pb), tem sido muito utilizada na união dos circuitos eletrônicos modernos (Wu et al, 2004). As ligas de brasagem do sistema Sn-Pb se tornaram importante industrialmente devido possuírem propriedades para aplicações de brasagem branda, como: baixo ponto de fusão (183°C), excelente grau de molhabilidade, boas propriedades mecânicas e baixo custo. A preocupação com a saúde humana e com o meio ambiente levou a comunidade europeia criar diretrizes como a RoHS (Restriction of Hazardous Substances) e a WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) proibindo o uso de certas substâncias perigosas a partir de 2006 (por exemplo o chumbo) na fabricação de produtos em geral. Além disso, deve ser feita a recuperação e a reciclagem dos metais no final da vida útil (ISLAM et al.,2006). Tendo em vista a exigência do mercado devido à RoHS, surgiu a necessidade de serem desenvolvidas novas ligas de brasagem alternativas livres de chumbo para a 19 fabricação de dispositivos eletrônicos. No entanto, algumas especificações no desempenho dessas ligas devem ser atendidas, como atender níveis de confiabilidade especificados em termos de boas propriedades elétricas e mecânicas (Wu et al, 2004). Além disso, as soldas precisam apresentar propriedades como baixa temperatura de fusão, boa molhabilidade e custo acessível. As ligas de brasagem livres de chumbo segundo HANDWEKER et al., devem ter uma temperatura de trabalho suficientemente baixa durante operações de refluxo para evitar danos à placa e componentes, mas alta o suficiente para fundir e molharos componentes da placa em um tempo de processamento razoável. A junta soldada deve solidificar sem formação de defeitos que afetem a integridade da junta durante e após a solidificação, e na sua utilização deve ser capaz de suportar as tensões impostas pelo uso. Essas ligas podem ser classificadas em três categorias segundo o seu ponto de fusão, de baixa (temperatura liquidus menores que 180°C), de média (por fundirem entre 200-230°C) e de alta (com temperatura liquidus entre 230- 350°C) (PUTTLITZ, 2004). Um número relativamente grande de ligas livres de chumbo foi proposto para aplicações em brasagem eletrônica. Dentre as possibilidades estão incluídas desde ligas binárias até ligas de sistema quaternário. Estudos preliminares indicam que as ligas Sn-Zn, Sn-Bi, Sn-In, Sn-Ag e Sn-Cu consistem em alternativas promissoras para a substituição de ligas para brasagem contendo Pb (MAIA, et al., 2011). 2.8.2 ESTANHO E SUAS LIGAS Alguns elementos têm diferentes formas alotrópicas, sendo que cada uma delas apresenta propriedades físicas e químicas bastante distintas, como é o caso do estanho. Existem três formas alotrópicas para o estanho: Sn-α 13,2°C ↔ Sn-β 161°𝐶 ↔ Sn-γ O estanho branco (Sn-β) é a forma mais conhecida e utilizada e sua estrutura cristalina é tetragonal de corpo centrado. Possui aspecto branco prateado, é bom condutor elétrico e moderadamente dúctil. O estanho cinzento (Sn-α) possui uma estrutura do tipo diamante, é um semicondutor, não dúctil, de aspecto cinza escuro não metálico na forma de pó e não tem aplicabilidade. A transformação do estanho 20 branco para o estanho cinzento ocorre por um processo de nucleação. Sabe-se que a velocidade de transformação do alótropo β para α é muito lenta e pode ser aumentada pela diminuição da temperatura. A transformação ocorre mais facilmente em estanho puro e a presença de elementos solúveis, como bismuto, chumbo e antimônio suprimem essa transição e outros elementos como cádmio, ouro e prata, retardam. Acima de 161°C, o estanho branco (Sn-β) converte-se em estanho rômbico (Sn-γ) que é quebradiço e possui uma estrutura cristalina ortorrômbica que se funde a 231,8°C (FIORUCCI et al., 2012). Com relação ao bismuto, tem-se que é um metal quebradiço de coloração prata esbranquiçada de baixa dureza, e se encontra na família dos metais representativos. A densidade do bismuto é de 9,807 g/cm³ e possui ponto de fusão em 271,5°C. Por fim, o antimônio é um semi-metal quebradiço de coloração branco prateada, com densidade de 6,685 g/cm³ e ponto de fusão de 630,9°C. O antimônio sólido pode ser encontrado em várias formas alotrópicas (GUERRA et al, 2011). Dentro dos sistemas à base de Sn, destacam-se as ligas do sistema Sn-Bi, as quais são alternativas promissoras para substituir ligas Sn-Pb. Com uma temperatura eutética relativamente baixa de 138°C, ligas Sn-Bi apresentam vantagens como boa resistência mecânica, excelente resistência à fluência e baixo custo. Por outro lado, estudos indicaram que as ligas Sn-Bi apresentam algumas desvantagens como baixa ductilidade, baixo grau de molhamento, e segregação (DONG et al., 2008; GOH et al., 2013). A microestrutura solidificada de um eutético depende da taxa de resfriamento. Baixas taxas produzem uma microestrutura eutética clássica, em que as duas fases constituintes se alternam, enquanto altas taxas podem inibir a formação da estrutura eutética, produzindo fases não previstas em equilíbrio termodinâmico. Puttlitz (PUTTLITZ, 2004) reportou que a microestrutura da liga eutética Sn-58%Bi solidificada rapidamente apresenta uma estrutura lamelar irregular das fases ricas em Bi e em Sn. Na temperatura eutética o bismuto exibe solubilidade sólida significativa de 21% em peso no estanho, de modo que Bi precipita na fase rica em Sn no estado sólido a baixa temperatura. Glazer (GLAZER, 1995) descreve o eutético Sn-Bi como sendo lamelar com material degenerado nos limites dos grãos eutéticos para taxas moderadas de resfriamento. A Figura 11 apresenta o diagrama de fases do sistema Sn-Bi onde se pode observar a temperatura de transformação em cada composição. 21 A reação eutética acontece a 138° ou 139° em uma composição de 57% ou 58% Bi (em peso) apresentando uma microestrutura constituída de uma mistura eutética, Bi+Sn, como mostra a Figura 12. Figura 11: Diagrama de fases do sistema Sn-Bi (adaptado de Okamoto, 1992). Figura 12: eutético Sn-Bi (Sakuyama, 2009). Silva et al. (2015) verificaram que a liga solidificada direcionalmente Sn- 52%Bi sob regime transiente de fluxo de calor apresentou uma microestrutura composta de dendritas ricas em Sn e precipitados de Bi em seu interior, circundadas por uma mistura eutética de com duas dimensões características, um eutético mais 22 fino (Figura 13a) apresenta-se como “ilhas” isoladas e um eutético mais grosseiro (Figura 13b), predominante em todo o lingote fundido. Uma outra estrutura observada foi o eutético do tipo escama de peixe (Figura 13c), que se localiza preferencialmente próximo às lamelas ricas em Bi, como pode ser observado na Figura 13. Osório et al. (OSÓRIO et al. 2013) estudaram a solidificação das ligas alternativas Sn-3,5%Ag, Sn-9%Zn e Sn-40%Bi. Tais autores reportaram que a liga Sn-40%Bi possui um menor alongamento específico (δ), cerca de duas vezes menor quando comparada a liga Sn-40%Pb, enquanto que o nível do Limite de Resistência à Tração (σt) exibiu um comportamento duas vezes maior. A liga Sn-40%Bi apresenta valores entre 72 a 76 MPa para σt e 17% para δ. (a) (b) (c) Figura 13: Estruturas eutéticas da liga Sn-52%Bi: (a) fina, (b) grosseira e (c) tipo Fishbone (Silva, 2015). Outro sistema à base de Sn que merece atenção é o sistema Sn-Sb, principalmente para aplicações em brasagem de alta temperatura (entre 230° e 350°C). Existem mais de dez variantes do diagrama de fase deste sistema, e cada um deles diferem em algum aspecto. A razão para isso são as propriedades Sn Bi Sn Bi Eutético fishbone 23 especiais das ligas Sn-Sb, isto é, a baixa taxa de transformações químicas e de fase, e a capacidade para formar estados metaestáveis. O sistema da liga binária Sn-Sb apresenta um ponto peritético em 11,5%Sb em peso, onde ocorre a formação de duas soluções sólidas distintas: uma solução sólida rica em Sn e outra solução sólida intermediária (SnSb). Observa-se que o limite de solubilidade do Sb no Sn diminui de 1,2% em 127°C para 0,4% em 97°C e para quase zero em 67°C (VASIL’EV, 2003; DIAS FILHO, 2016). O antimônio em ligas binárias Sn-Sb forma um precipitado intermetálico quando a quantidade de Sb excede o limite de solubilidade no estado sólido, essa liga binária é reforçada quando dois mecanismos de endurecimento são combinados, solução sólida e precipitação. Morozumi et al.(2015) estudaram a influência do antimônio (2,5,8,10,13 e 15%) em ligas binárias Sn-Sb, e verificaram que o limite de resistência à tração aumenta conforme o aumento do teor de Sb. A precipitação do intermetálico SnSb melhora a resistência à tração e a vida útil do ciclo térmico. Além disso, a dureza medida no composto intermetálico SnSb foi cerca de três vezes maior do que na matriz Sn-Sb, enquanto o modulo de elasticidade é o mesmo, tanto na matriz quanto no composto. Esfandyarpour et al (2011) estudaram a microestrutura e comportamento à tração da liga Sn-5%Sb contendo Bi e Cu. A adição de 1,5% de Bi e Cu na liga binária resultou em um aumento na resistência à tração e na ductilidade. O aumento da resistência da liga Sn-5%Sb-1,5%Bi foi devido ao endurecimento por solução sólida do Bi no Sn, enquanto que o da liga Sn-5%Sb-1,5%Cu, se deu devido à formação de partículas Cu6Sn5. A melhoria da ductilidade foi devido ao refino microestrutural promovido pelos elementos de liga. A Figura 14 mostraimagens MEV das ligas Sn-5Sb, Sn-5Sb-1,5Bi e Sn-5Sb-1.5Cu, destacando as fases formadas. Vale ressaltar a presença de partículas SnSb finas e bem dispersas nos contornos de grãos. 24 Figura 14: Microestrutura das ligas (a) Sn-5%Sb, (b) Sn-5%Sb-1.5%Bi, (c) Sn-5%Sb- 1.5%Cu (adaptado de Esfandyarpour et al. 2011). Sakuyama et al (2009) investigaram a microestrutura e as propriedades mecânicas da liga eutética Sn-58%Bi adicionando pequenas quantidades (0,5% em peso) de prata, cobre, zinco e antimônio. A adição de antimônio foi o mais eficaz em melhorar a ductilidade, diminuindo o tamanho de grão na microestrutura eutética e aumentando o alongamento em até 40%. Apesar de a temperatura liquidus ser aumentada, o composto intermetálico SnSb, precipitado finamente na fase β-Sn impede o engrossamento da estrutura eutética, melhorando a ductilidade. O antimônio não forma compostos intermetálicos com o bismuto. A Figura 15 apresenta a microestrutura da liga eutética Sn-58%Bi com adição de 1%Sb. Figura 15: Imagens MEV (a) do eutético da liga Sn-58%Bi-1%Sb (b) destacando a presença do intermetálico SnSb na fase β-Sn (adaptado de Sakuyama, 2009). As propriedades de tração da liga Sn-57,5%Bi-0,5%Sb foram investigadas e comparadas com as ligas Sn-58%Bi e Sn-3%Ag-0,5%Cu (SAC305) por KUBOTA et 25 al. (2014). Estes autores mostraram que a resistência à tração (σt) em temperatura ambiente da liga Sn-57,5%Bi-0,5%Sb é similar ao valor da liga eutética Sn-58%Bi, enquanto que em altas temperaturas a σt passa a ser menor que as encontradas para as ligas Sn-58%Bi e Sn-3%Ag-0,5%Cu. Por outro lado, o alongamento específico é ligeiramente superior ao da liga Sn-58%Bi e muito superior ao da liga Sn-3%Ag-0,5%Cu. O efeito da adição de Sb (0, 3 e 6% em peso) na liga eutética Sn-58%Bi foi investigada por TORRES et al. (2012). As três ligas apresentaram a temperatura de fusão menor (139°C, 147°C e 149°C, respectivamente) que a liga eutética tradicional Sn-37%Pb (183°C). As propriedades mecânicas das ligas Sn-Bi-Sb foram superiores à medida que a quantidade de antimônio aumentava, ou seja, elevando os níveis de resistência à compressão e a dureza. Esses aumentos estão relacionados com a formação do composto intermetálico SnSb na microestrutura das ligas Sn-Bi-Sb. A Figura 16 apresenta as microestruturas para a liga eutética Sn-58Bi, com adição de 3 e 6% de Sb, onde observam-se estruturas eutéticas lamelares orientadas aleatoriamente e estruturas regulares eutéticas (destacadas por setas vermelhas) próximas de lamelas de Bi e uma fase rica em β-Sn na forma de glóbulos grosseiros para a liga com adição de 3%Sb. A adição 6%Sb induz uma alteração na estrutura eutética de ligas Sn-58Bi-xSb, a qual agora passa a ser uma estrutura eutética tipo irregular, com lamelas de Sn e Bi crescendo de forma aleatória. Isso ocorre pela instabilidade da interface de crescimento da fase rica em Sn (causada pelo teor de Sb), que agora também apresenta uma morfologia dendrítica. (a) (b) Figura 16: Imagem MEV das ligas (a) Sn-58%Bi-3%Sb e (b) Sn-58%Bi-6%Sb (TORRES, 2012). 26 De acordo com Zhang et al. (2014) duas reações podem ocorrer para composições (em peso) entre Sn-(52-48)%Bi-(1,8-2,4)%Sb. A primeira é a reação eutética L (líquido) (Sn)+(Bi). A outra é uma reação quaternária quasi-peritética L+β(Sn)+(Bi). No que concernem os aspectos microestruturais foi reportada a presença de duas regiões conforme mostrado na Figura 17 a seguir, uma mais refinada (parte A) e outra mais grosseira (parte B), sendo atribuídas as formações das regiões A e B devido às reações quasi-peritética e eutética, respectivamente. O aumento de teor de Sb provocou aumento da fração de estrutura quasi-peritética. A Figura 18 apresenta a projeção calculada da superfície liquidus do sistema ternário Sn-Bi-Sb. É possível observar as fases α que possui uma estrutura romboédrica, formada pela solução de Bi e Sb miscível em todas as proporções; a fase intermediária β do composto (SnSb) que possui estrutura romboédrica, mas pode ser considerado com uma estrutura de NaCl levemente distorcida; a fase γ rica em Sn que possui estrutura tetragonal de corpo centrado; e um composto estequiométrico Sb2Sn3. Além de duas reações invariantes U1: (L + Sb2Sn3 ↔ β + γ) a 244°C para uma composição química de 1,1%Bi, 91,3%Sn e U2: (L + β ↔ α + γ) a 140°C para teores de 38,2%Bi, 59,6%Sn (GHOSH, 1994; OHTANI, 1998). Figura 17. Regiões com presença alternada de fases em ligas Sn-Bi-Sb oriunda da reação (A) quasi-peritética e (B) região eutética (adaptado de Zhang et al. 2014). 27 Figura 18: Superfície liquidus calculada para o sistema ternário Sn-Bi-Sb (OHTANI, 1998). 28 3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A metodologia usada no estudo experimental desenvolvido neste trabalho envolveu as seguintes etapas: i) Cálculo estequiométrico, corte e pesagem dos materiais; ii) Fusão, homogeneização e aferição das ligas obtidas; iii) Montagem da lingoteira com termopares posicionados em pontos estratégicos; iv) Vazamento da liga fundida na lingoteira já posicionada no dispositivo de solidificação direcional ascendente; v) Refusão e estabilização do metal líquido; vi) Início do experimento mediante o acionamento da refrigeração na parte inferior da chapa molde; vii) Aquisição dos perfis térmicos para determinação das variáveis térmicas de solidificação; viii) Cortes nos lingotes solidificados nos sentidos transversal e longitudinal destinados a obtenção de amostras para caracterização microestrutural através das microscopias ótica e eletrônica de varredura, seguidos da quantificação dos parâmetros microestruturais, além da difração de Raios-X e Fluorescência de Raios-X. ix) Realização de ensaios mecânicos de tração das ligas analisadas. O diagrama da Figura 19 ilustra as etapas envolvidas na metodologia adotada no decorrer do estudo experimental deste trabalho. As etapas de preparação e fusão das ligas Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi- 2%Sb foram realizadas com a colaboração do grupo M2PS/DEMA (Microestrutura e Propriedades em Processos de Solidificação) no Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, sob a coordenação do Prof. José Eduardo Spinelli. 29 Figura 19: Fluxograma do procedimento experimental. 3.1 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS UTILIZADOS Os elementos comercialmente puros (Sn, Bi e Sb) foram fragmentados em partes para facilitar a dissolução na etapa de fundição. De acordo com a capacidade volumétrica da lingoteira e do cadinho de carbeto de silício, foi feito o cálculo estequiométrico em percentagem em massa dos elementos de liga para a correta determinação das massas de Sn, Bi e Sb para preencher tanto a lingoteira quanto o cadinho utilizado para a determinação prévia das temperaturas liquidus (TL) e eutética/solidus (TE e TS). A determinação experimental da TL é importante para calcular os valores de superaquecimento do metal líquido. 30 Em seguida, foram realizadas as pesagens dos metais em uma balança eletrônica de precisão, a fim de obter a estequiometria das massas para a produção das ligas ternárias Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb. Primeiramente, os metais foram inseridos em um forno de indução da marca Indutherm VIP, modelo Power- trak 50-30R para a fusão. Uma vez fundida a liga, o metal líquido foi vertido na lingoteira acoplada ao dispositivo de solidificação direcional ascendente e a outra parte em um cadinho de carbeto de silício com um termopar fixado em seu interior, onde ocorreu a solidificação natural do metal, e verificou-se as temperaturas de transformação (TL, TE, TS) da liga. Depois de solidificado, o aquecimento por resistências do dispositivo de solidificação direcional foi acionado e o lingote foi refundido. O aquecimento énovamente interrompido e a temperatura do metal fundido começa a cair lentamente. Ao atingir a temperatura do superaquecimento, 10% acima da TL, verificado através do primeiro termopar mais próximo à base, a refrigeração forçada à água foi acionada, passando a resfriar a chapa molde (base) montada sob a lingoteira e consequentemente o metal líquido. O resfriamento forçado permanece acionado até a completa solidificação do lingote. As temperaturas no interior da lingoteira foram medidas com termopares posicionados no seu interior de maneira que verificasse as temperaturas do metal líquido em diferentes posições ao longo do lingote. Neste trabalho, foram utilizados termopares do tipo J (par metálico Ferro/Constantan) revestidos por uma bainha de aço inoxidável com diâmetro externo de 1,5mm e estrategicamente posicionados ao longo da lingoteira. O sistema de aquisição de dados para registro dos perfis térmicos da marca ALMEMO, modelo 2890-8 com resolução de leitura de um ponto por segundo. Este sistema possui um software, do mesmo fabricante, que realiza as medições em tempo real dos termopares e as transforma em dados digitais. 31 3.2 DISPOSITIVO DE SOLIDIFICAÇÃO VERTICAL ASCENDENTE Na Figura 20, pode-se observar o aparato experimental do dispositivo de solidificação direcional transitória utilizado neste trabalho. Este equipamento consiste em um forno, onde o aquecimento é realizado por resistências montadas dentro de uma cerâmica refratária formando uma cavidade cilíndrica onde a lingoteira é posicionada. A potência do equipamento pode ser controlada, possibilitando a obtenção de diferentes temperaturas de superaquecimento no metal líquido. Acoplado a base encontra-se o sistema de refrigeração, que utiliza água como fluido de refrigeração e também o sistema de acoplamento das lingoteiras. Figura 20: Aparato experimental do dispositivo de solidificação direcional transitória. A lingoteira utilizada é feita de molde bipartido de aço inoxidável AISI 310 com diâmetro interno de 60 mm, altura de 157 mm e espessura de parede de 5 mm. Uma chapa molde de aço carbono AISI 1020 de 3 mm de espessura, o qual foi lixada até 400 mesh, foi utilizada para o fechamento da parte inferior do molde. A lingoteira possui 8 furos de 1,5 mm de diâmetro em sua lateral para a fixação dos termopares 32 que monitoram a evolução da temperatura do metal. As paredes internas da lingoteira foram revestidas com uma camada de aproximadamente 1,5 mm de cimento a base de cerâmica isolante silico-aluminosa (QF-180), com a finalidade de minimizar o fluxo de calor na direção radial, vedar a lingoteira para evitar vazamentos do metal liquido e facilitar a desmoldagem do lingote sólido. Após o fechamento da lingoteira, com os termopares devidamente posicionados, foram revestidas também, externamente, todas as partes sujeitas a possíveis vazamentos de metal líquido. A Figura 21 mostra a lingoteira antes do experimento de solidificação direcional coberta com a suspensão cerâmica e o lingote obtido a partir do experimento de solidificação direcional. (a) (b) Figura 21: (a) lingoteira, termopares e chapa molde antes da solidificação direcional e (b) lingote Sn-52%Bi-1%Sb. 33 3.2.1 DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS TÉRMICAS DE SOLIDIFICAÇÃO As variáveis térmicas de solidificação foram determinadas por meio dos dados adquiridos pelas curvas de resfriamento através das temperaturas medidas pelos termopares registrados durante o processo de solidificação. A temperatura liquidus foi obtido pela análise da curva de resfriamento (com uma taxa de resfriamento aproximada de 1°C/min) da parte do metal liquido que foi vazado num cadinho de carbeto de silício com um termopar em seu interior. Uma manta térmica foi usada ao redor do cadinho para favorecer a extração de calor mais lenta. A partir da obtenção da temperatura liquidus (TL) foi possível calcular o superaquecimento aplicado às ligas (10% acima da TL) e realizar os cálculos para as demais variáveis térmicas. As velocidades experimentais da isoterma liquidus (VL), para as ligas analisadas foram determinadas pela derivada da função P=f(t), isto é, VL=dP/dt. As funções P=f(t) são obtidas experimentalmente a partir das interseções das retas de cada temperatura liquidus (TL) com as curvas de resfriamento para cada posição dos termopares, ou seja, a partir da TL da liga analisada traça-se uma reta paralela ao eixo dos tempos indicados no gráfico que representa os perfis térmicos. Pelas interseções dessa reta com os perfis térmicos obtém-se o tempo correspondente. Este tempo é definido como o tempo de passagem da isoterma liquidus em cada posição do termopar. Os resultados dos pares ordenados (P, t), obtidos a partir do procedimento em questão, permitem que seja traçado um gráfico experimental da posição da isoterma liquidus com o tempo, cuja a derivada da função potência fornece os valores de VL. As taxas de resfriamento (ṪL), para cada posição dos termopares foram obtidas experimentalmente a partir das interseções das retas de cada temperatura liquidus (TL) com as curvas de resfriamento para cada posição dos termopares, e através do quociente das temperaturas imediatamente antes e depois da TL e dos tempos correspondentes, isto é, Ṫ =dT/dt. A Figura 22 apresenta, de forma esquemática, o procedimento aplicado para determinar VL e ṪL. 34 Figura 22: Sequência experimental na determinação das variáveis térmicas (Rocha, 2003). 3.3 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE SOLIDIFICAÇÃO Os lingotes Sn-52%Bi-1%Sb e Sn-52%Bi-2%Sb passaram por uma sequência de cortes (transversal e longitudinal) para obtenção de amostras que foram utilizadas para análise macroestrutural e microestrutural, e para ensaios de tração, conforme mostra a Figura 23. Os primeiros cortes foram realizados utilizando uma serra fita modelo FM-500 e os cortes para análise microestrutural foram feitos usando um arco serra. 35 Figura 23: Esquema de retirada de amostras a partir dos lingotes Sn-Bi-Sb (Adaptado de REYES, 2017). 3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA MACROESTRUTURA E MICROESTRUTRURAS Após o corte dos lingotes ao longo da direção longitudinal, paralela à direção de solidificação, uma das partes seccionadas foi lixada manualmente com lixas de granulometrias 150, 240, 320, 400 e 600 mesh. Posteriormente o lingote recebeu ataque químico com uma solução química composta por: 100 ml de H2O, 2.5 mL de HCl e 10 g FeCl3. O ataque foi realizado na superfície da amostra por repetidas vezes com algodão embebido no reagente químico até a obtenção de uma 36 macroestrutura de qualidade. Logo após a amostra foi lavada em água corrente, seca com álcool etílico e o resultado registrado por meio de uma câmera e escâner. As microestruturas foram analisadas a partir dos cortes transversais e longitudinais em relação a direção de crescimento, nas posições 5, 10, 15, 20, 30, 50, 70 e 90 mm a partir da base do lingote solidificado direcionalmente. As amostras foram embutidas a frio com resina poliéster e posteriormente lixadas sucessivamente por lixas com granulometria 150, 240, 320, 400, 600, 1200 e 2000 mesh. Depois de lixadas, as amostras foram polidas manualmente com auxílio de uma politriz Teclago (modelo PVVD) utilizando um pano para polimento metalográfico com uma suspensão metalográfica de alumina (granulometria 1 μm) e água. As micrografias foram obtidas através do microscópio ótico da marca Nikon modelo Eclipse MA2000 do Laboratório de Caracterização Estrutural dos Materiais (LCEM-DEMat-UFRN), após o ataque químico por imersão de aproximadamente 10 segundos em uma solução química de 100 ml de H2O, 2.5 mL de HCl e 10 g FeCl3. 3.3.2 MEDIÇÃO DOS ESPAÇAMENTOS DENDRÍTICOS E EUTÉTICOS O método do triângulo (Figura 24a) proposto por Gündüz
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