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O ACESSO DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

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O ACESSO DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA 
AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS1 
ACCESS FOR PERSONS WITH DISABILITIES FUNDAMENTAL RIGHTS 
 
Hermano Maia de Almeida Wanderley2 
 
Resumo: De acordo com o Censo 2010 - IBGE, quase 46 milhões de brasileiros, cerca 
de 24% da população, declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das 
habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência 
mental/intelectual. Considerando somente os que possuem grande ou total dificuldade para 
enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus (ou seja, pessoas com deficiência nessas 
habilidades), além dos que declararam ter deficiência mental ou intelectual, temos mais 
de 12,5 milhões de brasileiros com deficiência, o que corresponde a 6,7% da população. 
Essa população convive diariamente com o descaso decorrente da má prestação de 
serviços, tanto pelas instituições públicas, quanto pelas instituições privadas, gerando uma 
descrença em relação ao sistema jurídico de proteção às pessoas portadoras de 
necessidades especiais, nas quais se inserem os deficientes físicos, ainda que o legislador 
tenha buscado tratar do tema, conferindo a ele status constitucional. Assim, apesar da 
Constituição Federal conferir uma gama de princípios e direitos fundamentais a essas 
pessoas, na prática, ainda não se constata a efetividade de tais normas. A partir do tema 
proposto, o presente artigo reflete acerca da existência e da efetividade dos direitos 
fundamentais das pessoas com necessidades especiais, a com ênfase na deficiência física, 
à luz da Constituição Federal de 1988. 
 
Palavras-chave: Pessoas portadoras de deficiência; acesso; direitos fundamentais 
 
Abstract: According to the 2010 Census - IBGE, almost 46 million Brazilians, about 24% of 
the population, declared that they had some degree of difficulty in at least one of the 
investigated skills (seeing, hearing, walking or climbing stairs), or having mental / intellectual 
disability. Considering only those who have great or total difficulty in seeing, hearing, walking 
or climbing stairs (that is, people with disabilities in these skills), in addition to those who 
declared they have mental or intellectual disabilities, we have more than 12.5 million 
Brazilians with disabilities , which corresponds to 6.7% of the population. This population 
lives daily with the neglect resulting from the poor provision of services, both by public 
institutions and private institutions, generating disbelief in relation to the legal system of 
protection for people with special needs, in which the physically disabled are still inserted. 
that the legislator has sought to address the issue, giving it constitutional status. Thus, 
despite the Federal Constitution granting a range of fundamental principles and rights to 
these people, in practice, the effectiveness of such rules has not yet been verified. Based on 
the proposed theme, this article reflects on the existence and effectiveness of the 
fundamental rights of people with special needs, with an emphasis on physical disability, in 
the light of the 1988 Federal Constitution. 
 
Keywords: People with disabilities; access; fundamental rights 
 
 
 
																																																													
1 Artigo/Trabalho de Conclusão do Curso de Direito do Centro Universitário UNA/BH. Orientação: 
Professora Doutora Natália Silva Teixeira Rodrigues de Oliveira. 
2 Discente do 10º período do Curso de Direito do Centro Universitário UNA/BH. Email: 
hermanomaia@terra.com.br 
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1 Introdução 
 
As pessoas com deficiência, historicamente, sofrem com um processo de 
exclusão e invisibilidade social, tendo dificuldade de acesso à assistência médica, 
educação e oportunidades de emprego, muito por parte da escassez de estatísticas e 
falha na conscientização. 
Apesar da existência do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com 
Deficiência (CONADE), que atua em âmbito nacional a fim de garantir a inclusão e o 
respeito aos direitos das pessoas com deficiência, ainda falta informação científica e 
permanece uma visão infantilizada e estereotipada dessa população, que constitui 
23,92% dos brasileiros, de acordo com o censo 2010 do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE). 
Segundo Dantas, Silva e Carvalho (2014), a perspectiva atual da sociedade 
reduz a pessoa com deficiência a um indivíduo infantil, vulnerável e necessitado de 
cuidados em tempo integral. Assim, é possível dizer que esse grupo social é 
diminuído, uma vez que se reduz sua autonomia às decisões daqueles que os 
assistem, o que vai em direção contrária ao decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 
2009, que assegura às pessoas com deficiência o direito de ter direitos (BRASIL, 
2009). 
A discriminação social se contrapõe ao princípio da dignidade da pessoa 
humana sendo altamente prejudicial à sociedade e às pessoas que são 
estereotipadas na categoria de à margem da sociedade. As pessoas assim rotuladas 
são enxergadas pela sociedade discriminatória como representatividades dos rótulos, 
sem levar em conta as verdadeiras qualidades. 
 A discriminação social favorece um cenário suscetível à falta de planejamento 
e adequação social às minorias, além de propiciar um ambiente favorável à ausência 
de aplicabilidade da legislação existente relativa às pessoas portadoras de 
deficiência. 
 Desse modo, o respeito à dignidade da pessoa humana é essencial para que 
a sociedade seja mais igualitária e possibilite melhorias na qualidade de vida das 
pessoas que são desprivilegiadas em decorrência dos reflexos da discriminação 
social. 
 A Constituição Brasileira, a mais importante definidora dos princípios e 
regras básicas da sociedade, prevê, entre diversas outras garantias, o direito à 
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dignidade de todo cidadão brasileiro. Para igualar as condições de conforto 
obtenção desta garantia, foi necessário implementar uma série de direitos das 
pessoas com deficiência. 
Importante citar que, acordo com o Censo 2010, quase 46 milhões de 
brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter algum grau de dificuldade em 
pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir 
degraus), ou possuir deficiência mental / intelectual. 
 Portanto, na prática, os direitos das pessoas com deficiência buscam 
apenas a equalização das condições dos cidadãos, ou seja: através das leis, 
suprimir o máximo possível das desvantagens existentes para deficientes físicos em 
diversos aspectos da sociedade. 
 
2 Da proteção jurídica às pessoas portadoras de necessidades especiais: 
evolução histórica 
 
 A história das pessoas com deficiência no Brasil evoluiu a partir do final do 
século XIX com a educação especial de cegos e de surdos em internatos, conforme 
já ocorria na Europa. Nessa época foi introduzido o sistema Braille de escrita para os 
cegos e, entre 1880 e 1960, os surdos foram proibidos de usar a língua de sinais 
para não comprometer o aprendizado compulsório da linguagem oral. 
 No início do século XX, estabeleceram-se as escolas especiais para crianças 
com deficiência mental nas redes paralelas ao ensino público, devido à omissão do 
Estado. Destaca-se, aqui, as associações Pestalozzi e as Associações de Pais e 
Amigos dos Excepcionais - APAE. 
 Ao final dos anos 1970, a consciência acerca dos direitos das pessoas 
portadoras de deficiência aumentou bastante no Brasil, o que acabou por fomentar 
um movimento em prol da referida pauta, culminando na ratificação da Convenção 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no Brasil. 
 Conforme cronologia apresentada a seguir, perceber-se-á que o conjunto das 
leis brasileiras destinadas aos direitos das pessoas com deficiência é reconhecido 
como um dos mais abrangentes do mundo, destacando-se a própria Constituição 
Federal de 1988, em que foram elencados os direitos específicos do segmento 
distribuídos em vários artigos. A partir dela várias leis foram sendoaprovadas, 
garantindo uma maior abrangência aos direitos relativos às referidas pessoas. 
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 Assim, a primeira lei federal mais abrangente sobre as pessoas com 
deficiência é a Lei 7.853/1989, regulamentada pelo Decreto 3.298/1999. A referida 
lei dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, 
sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de 
Deficiência – Corde, que institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou 
difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público e define crimes. 
 A Lei 8.112/1990 determinou a reserva de cargos nos concursos públicos e a 
Lei 8.213/1991 estabeleceu a reserva de 2 a 5% dos cargos nas empresas com 100 
ou mais empregados para beneficiários reabilitados e pessoas com deficiência 
habilitadas profissionalmente. 
 A Lei 8.742/1993 estabeleceu o atendimento da pessoa com deficiência em 
diversos tipos serviços da Assistência Social, tais como residências inclusivas, 
modelo de moradia com apoios para a autonomia e a vida independente na 
comunidade. 
 Já o direito à educação especial está assegurado na Lei 9.394/1996, 
referente às bases da educação nacional e prevê recursos pedagógicos específicos 
para cada aluno com deficiência. 
 A acessibilidade é tratada nas Leis 10.048 e 10.098/2000 e no Decreto 
5296/2004, que regulamenta a prioridade de atendimento às pessoas com 
deficiência ou mobilidade reduzida (idosos, gestantes) e estabelece normas para a 
promoção da acessibilidade. O referido Decreto trata da acessibilidade amplamente: 
acesso aos espaços públicos e edificações, moradias, bens culturais imóveis, todos 
os modais de transportes coletivos e terminais de embarque e desembarque. Essa 
legislação assegura a acessibilidade na comunicação e informação, telefonia fixa e 
móvel, legendas, janela com intérprete da Libras, narrativa de imagens para cegos 
na televisão, no cinema, no teatro, em campanhas publicitárias e políticas; sites 
acessíveis e tecnologia assistida (equipamentos que conferem autonomia, desde 
talher adaptado à embreagem manual de carro ou o programa computacional de 
leitura da tela para cegos). 
 A Lei 10.436/2002 é específica para a pessoa surda, ao oficializar a Língua 
Brasileira de Sinais – Libras, mantido o português escrito como segunda língua. É 
obrigatória a capacitação dos agentes públicos em Libras. O Decreto 5.626/2005 
define a educação bilíngue, a formação de tradutores e intérpretes de Libras, que 
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tiveram a profissão regulamentada pela Lei 12.319/2010, fato que permite concursos 
públicos e contratação desses profissionais. 
 As pessoas cegas ou com baixa visão, após a Lei 11.126/2005 e o Decreto 
5.904/2006 podem ingressar e permanecer com o cão-guia em ambientes e 
transportes coletivos, com espaço preferencial demarcado. 
 Em 2007, o MEC editou a Política de educação especial na perspectiva da 
educação inclusiva, obedecendo à Convenção da ONU: sistema de ensino inclusivo, 
com aula na classe comum e atendimento educacional especializado em turno 
oposto, para garantir a inclusão com qualidade. 
 No Brasil, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi 
ratificada com base no § 3º do artigo 5º da Constituição, incluído pela Emenda 
Constitucional nº 45, de 2004, passando a marco constitucional. O Decreto 
legislativo 186/2008 ratificou-a e o Decreto 6.949/2009 completou o processo de 
internalização e ratifica a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de 
março de 2007. 
 Tal Convenção estabelece a acessibilidade como princípio e como direito, a 
condição para a garantia de todo e qualquer direito humano. Devido à força 
constitucional, a Convenção condiciona todas as leis, decretos e outras normas 
relativas às pessoas com deficiência, assim como aumentaram as obrigações do 
Estado, em todas as esferas de governo com ativa participação da pessoa com 
deficiência e das suas famílias. 
 Tão importante quanto a Convenção é o seu Protocolo Facultativo, pois, se 
não forem suficientes às instâncias nacionais, o Comitê da Convenção atuará no 
monitoramento e na apuração de denúncias de violações dos direitos humanos, 
individuais e coletivos, oriundos dos países signatários do documento opcional. 
Importante destacar alguns artigos da Convenção que trazem significativos avanços 
à proteção e garantia dos direitos das pessoas com deficiência: 
 O art. 1º permite o entendimento do modelo social da deficiência adotado: 
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de 
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os 
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua 
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições 
com as demais pessoas. 
 
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 O art. 2º define “discriminação por motivo de deficiência” como qualquer 
diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou 
efeito de impedir o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de 
oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos. É essencial 
para o enquadramento de casos de denúncia do cotidiano. 
 Já o art. 3º apresenta os princípios da presente Convenção, a saber: 
a) o respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de 
fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas; 
b) a não-discriminação; 
c) a plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; 
d) o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como 
parte da diversidade humana e da humanidade; 
e) a igualdade de oportunidades; 
f) a acessibilidade; 
g) a igualdade entre o homem e a mulher; 
h) o respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e 
pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade. 
 O art. 12 – igualdade perante a lei - estabelece que todas as pessoas com 
deficiência gozem de capacidade legal, a ser exercida de forma independente ou 
com os apoios sociais necessários para a expressão da sua vontade. A atuação do 
representante legal passará por revisão regular de uma autoridade competente, que 
impeça conflitos de interesse. Somente é permitida a interdição parcial prevista na lei 
brasileira, sob a supervisão do Ministério Público e da Justiça. 
 O art. 13 – acesso à Justiça - determina adaptações processuais para facilitar 
o efetivo papel das pessoas com deficiência como participantes, inclusive como 
testemunhas, em todos os procedimentos jurídicos, tais como investigações e outras 
etapas preliminares: 
I - Os Estados Partes assegurarão o efetivo acesso das pessoas com 
deficiência à justiça, em igualdade de condições com as demais 
pessoas, inclusive mediante a provisão de adaptações processuais 
adequadas à idade, a fim de facilitar o efetivo papel das pessoas com 
deficiência como participantes diretos ou indiretos, inclusive como 
testemunhas, em todos os procedimentos jurídicos, tais como 
investigações e outras etapas preliminares. 
II - A fim de assegurar às pessoas com deficiência o efetivo acesso à 
justiça, os Estados Partes promoverão a capacitação apropriada 
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daqueles que trabalham na área de administração da justiça, 
inclusive a polícia e os funcionários do sistema penitenciário. 
 
 No art. 14 - liberdade e segurança da pessoa – assegura-se que, se pessoas 
com deficiência forem privadas de liberdade mediante algum processo, receberão 
apoios e adaptações razoáveis de acordo com sua deficiência. 
 No art. 15, observa-se a prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas 
cruéis, desumanos ou degradantes: 
I - Nenhuma pessoa será submetida à tortura ou a tratamentos ou 
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Em especial, nenhuma 
pessoa deverá ser sujeita a experimentos médicos ou científicos sem 
seu livre consentimento.II - Os Estados Partes tomarão todas as medidas efetivas de 
natureza legislativa, administrativa, judicial ou outra para evitar que 
pessoas com deficiência, do mesmo modo que as demais pessoas, 
sejam submetidas à tortura ou a tratamentos ou penas cruéis, 
desumanos ou degradantes. 
 
 Ressalta-se que o art. 16 trata da prevenção contra a exploração, a violência 
e o abuso apresentado de forma didática. 
 O art. 17 - proteção da integridade da pessoa – toda pessoa com deficiência 
tem o direito a que sua integridade física e mental seja respeitada, em igualdade de 
condições com as demais pessoas. 
 Já o art. 23 – respeito pelo lar e pela família – aborda os diretos relativos a 
casamento, família, paternidade e relacionamentos. 
Espera-se, com essa exposição, que tenha sido demonstrado o panorama 
legal acerca da situação das pessoas com deficiência, do envolvimento das 
instâncias públicas, das mudanças em todo o sistema e que o enfretamento eficaz 
às diversas formas de violência represente um novo marco para a inclusão e a 
justiça social das citadas pessoas. 
 
3 Dos princípios constitucionais relativos à proteção as pessoas portadoras de 
necessidades especiais 
 
3.1 Princípio da dignidade humana 
 
 A dignidade humana é um dos preceitos fundamentais presentes na Carta 
Política brasileira de 1988, que está intimamente ligada aos direitos básicos e sociais 
do homem. Proclama o valor distinto da pessoa humana e tem, como 
consequência lógica, a afirmação de direitos específicos de cada ser humano, sem 
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distinções de gênero, raça, cor, credo, sexo e outras. Objetivo e fundamento dos 
direitos humanos é dar unidade ao sistema constitucional brasileiro. 
 Como se afirmou, a Constituição Federal de 1988 institui a dignidade da 
pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito (artigo 1º, III). 
Todavia, Pietro de Jesús Lora Alarcón (2004, p. 254) entende dignidade humana 
não apenas como fundamento do Estado Democrático de Direito, mas também 
como um valor constitucional. O ser humano, em sua essência, não pode ser 
desrespeitado. Com base nisso, o referido autor (2004, p. 254) afirma que: 
[...] o ser humano não pode ser objeto de humilhações ou ofensas, 
mas se deve reconhecer na sua essência de liberdade, 
responsabilidade e finalidade em si mesmo. Em função disso, a 
impossibilidade de degradação do ser humano impede redução do 
homem a mero objeto do Estado ou de terceiros, o que incluía 
impossibilidade de coisificação da pessoa, um ponto de não retorno 
da pessoa ao estado de simples coisa. 
 
 O respeito à dignidade da pessoa humana implica respeito e proteção à 
integridade física, moral, à individualidade e espiritualidade do ser humano. Logo, o 
Direito, que tem sua razão de existir no homem, deve ter instrumentos que visem a 
impedir qualquer tipo de degradação do gênero humano. 
 É pertinente se fazer menção à Convenção Internacional dos Direitos da 
Pessoa com Deficiência, aprovada em dezembro de 2006 pela ONU, e vigorada a 
partir de maio de 2008. Em artigo publicado no “Correio Braziliense”, de 3 de 
dezembro de 2008, página 17, o Senador Flavio Arns (2008, p. 17), sob o título 
“Valorização das Pessoas com Deficiência”, consignou que 
[...] o Senado ratificou a Convenção da ONU sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, que veio para 
revolucionar o tratamento dispensado às pessoas com deficiência em 
todo o mundo, especialmente em países onde essas pessoas não 
contam com qualquer legislação específica, ou seja, dois terços dos 
países partes da ONU. 
 
 Vale ainda, motivada pela relevância social dessa Convenção, enumerar os 
princípios trazidos pelo documento em seu artigo terceiro: 
 
1. O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, incluída a liberdade de 
tomar as próprias decisões, e a independência das pessoas; 
2. A não discriminação; 
3. A participação e inclusão plenas e efetivas na sociedade; 
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4. O respeito pela diferença e a aceitação das pessoas com deficiência como parte 
da diversidade e a condição humanas; 
5. A igualdade de oportunidades; 
6. A acessibilidade; 
7. A igualdade entre o homem e a mulher; 
8. O respeito pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência e 
respeito pelo seu direito a preservar sua identidade. 
 Observa-se mais uma vez a dignidade humana como princípio geral dos 
direitos das pessoas com deficiência. 
 Assim, o respeito ao ser humano fica novamente evidenciado em um 
documento internacional, que vai ao encontro da proteção contra qualquer 
discriminação. 
 A Lei nº. 7.853, de 24/10/1989, em seu artigo 1º, §§ 1º e 2º, traz as seguintes 
previsões, em suas normas gerais: 
Art. 1° - Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno 
exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de 
deficiência, e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei. 
§ 1° - Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os 
valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da 
justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-
estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos 
princípios gerais de direito. 
§ 2° - As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de 
deficiência as ações governamentais necessárias ao seu 
cumprimento e das demais disposições constitucionais e legais que 
lhes concernem, afastadas as discriminações e os preconceitos de 
qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação nacional a 
cargo do Poder Público e da sociedade. 
 
 Como se pode observar, devido a sua importância, o respeito à dignidade 
humana – presente na Constituição Federal de 1988 – encontra-se também em 
outras legislações infraconstitucionais. 
 Essas leis expressam maneiras como pessoas com deficiência podem obter 
essa dignidade através dos direitos fundamentais e sociais, como saúde, educação, 
trabalho, moradia, previdência social, entre outros. 
 Nesse pensamento, Daniel Sarmento (2002, p. 59) discorre sobre o princípio 
da dignidade, dizendo que: 
[...] a despeito do caráter compromissório da Constituição, pode ser 
dito que o princípio em questão é o que confere unidade de sentido e 
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valor ao sistema constitucional, que repousa na idéia de respeito 
irrestrito ao ser humano – razão última do Direito e do Estado. 
 
 O autor refere que o princípio da dignidade não representa apenas um limite à 
atuação do Estado, sendo um norte para a sua ação positiva. Que o Estado além da 
imposição de não praticar atos atentatórios à dignidade humana, haverá também de 
promover esta dignidade através de condutas ativas, a fim de assegurar o mínimo 
existencial para cada ser humano. 
 
3.2 Princípio da igualdade. 
 
 Tomando por base o conceituado Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva 
(2005, p. 696), tem-se que igualdade é 
[...] uniformidade de grandeza, de razão, de proporção, de extensão, 
de peso, de altura, enfim, de tudo que possa haver entre duas ou 
mais coisas. É a evidência de coisas perfeitamente similares ou 
idênticas, de modo que uma se apresenta como uma semelhança da 
outra, com os mesmos requisitos e elementos que se possam exibir. 
Em certos casos, porém, a igualdade não pode ser tomada em 
tamanho rigor, de modo que se exija um realismo absoluto, em 
relação a seu conceito jurídico. É assim que duas coisas podem não 
se apresentar materialmente iguais, e, no entanto, podem exprimir 
uma igualdade. Pela instituição do princípio, não dita o Direito, uma 
igualdade absoluta. A igualdade redunda na igual proteção a todos, 
na igualdade das coisas que sejam iguais e na proscrição dos 
privilégios, isenções pessoais e regalias de classe, que se 
mostrariam desigualdades. Desse modo, a igualdade é perante a lei 
e perante a justiça, para a proteção ou castigo, para a segurança de 
direitos ou imposição de normas coercitivas. 
 
 O princípio da igualdade é considerado umdos princípios basilares da 
Constituição Federal de 1988, o qual tem por fundamento promover o tratamento 
igualitário entre os indivíduos, levadas em conta as diferenças entre eles. 
 Este princípio, que também é conhecido como princípio da isonomia, surge 
com o objetivo de corrigir injustiças sociais históricas, provenientes do tratamento 
igual que não pode ser disponibilizado a uma pessoa com deficiência. Nesse caso, o 
tratamento desigual constitui um elemento extremamente necessário, pois é por 
meio dele que o constituinte originário brasileiro busca a igualdade e elimina toda e 
qualquer forma de exclusão da pessoa no que diz respeito aos direitos assegurados 
pela Carta Magna. 
 Percebe-se que a pessoa com deficiência incluiu-se como beneficiária de 
direitos e garantias, e dá mostras do significado do que a doutrina denomina de 
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igualdade material: tratar os iguais de forma idêntica e os desiguais de forma 
distinta. A título de exemplos, cite-se o disposto nos arts. 7º, XXXI; 23, II; 24, XIV; 
37, VIII; 203, IV e V; 208, III; 224; 227, § 1º, II e § 2º; e art. 244, todos da 
Constituição Federal de 1988. 
 O professor e constitucionalista Alexandre de Moraes (2003, p. 47), em Direito 
constitucional discorre, com propriedade, sobre o tema, afirmando que a 
Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, 
presumindo aptidões iguais, entendidas estas como uma igualdade de 
possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento 
idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento 
jurídico. Diz, ainda, o autor, que as denominadas liberdades materiais têm por 
objetivo a igualdade de condições sociais, objetivo a ser alcançado, através da 
legislação e da aplicação de políticas ou programas de ação estatal. 
 Há de se observar que a igualdade é um conceito relacional, pois só se pode 
extrair sua definição ao se usar uma comparação. 
 Assim como as Constituições da Alemanha, de Portugal, da Espanha e da 
Itália consagram o princípio da igualdade, a Constituição Federal assegura em seu 
artigo 5º, caput, que “todos são iguais perante a lei” e, desse modo, esse princípio, 
como é cediço, é utilizado, tanto pelo legislador como pelo aplicador da lei. 
 A igualdade prevista em nossa Constituição determina a redução das 
desigualdades. Vale dizer então que o Estado tem o dever de agir positivamente no 
sentido de reduzir as desigualdades sociais. Destarte, quando a Constituição 
permite um tratamento diferenciado, tem como objetivo atingir uma igualdade real. 
Afirma-se, a partir dessa idéia que a discriminação pode apresentar-se de forma 
negativa ou positiva. 
 A primeira é aquela que não tem por fundamento a adoção de medidas 
tendentes a diminuir as diversidades sociais e econômicas e limita-se a acentuar a 
regra da plena igualdade de todos perante a lei. Estabelece-se, portanto, um 
desfavor à pessoa discriminada. 
 Já a discriminação positiva estabelece vantagens a um grupo de pessoas 
que, por algum motivo, apresenta-se em real desvantagem em relação às demais. 
De forma compensatória, visa a colocar aquele em condições de competir com 
estas, na tentativa de efetivamente alcançar o ideal de igualdade. 
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 Luiz Alberto Davi Araújo (2001, p. 36-7), em “A proteção constitucional dos 
direitos do portador de necessidades especiais”, acrescenta a ideia de que a 
igualdade deve ser o preceito que tem o condão de orientar a aplicação de todo 
entendimento jurídico que direciona a forma de como se deve efetivar a integração 
das pessoas com deficiência. 
 A igualdade formal deve ser desconsiderada quando a situação apresentada 
autoriza tal ruptura. Desta forma, é plausível o entendimento de que a pessoa com 
deficiência tem, necessariamente, que receber um tratamento diferenciado quando 
estiver participando ou concorrendo com pessoas sem deficiência. Portanto, o 
princípio da igualdade garantirá o rompimento da isonomia, para que a pessoa com 
deficiência seja protegida, quando a circunstância autorizar. 
 O ilustre autor Luiz Alberto David Araujo (2001, p. 36-7) aborda 
especificamente o direito à igualdade da pessoa com deficiência, e ressalta a 
necessidade de atendimentos especiais, para assegurar garantias especiais, com a 
finalidade de proporcionar a almejada igualdade. Afirma, então: 
Seria, portanto, lógico afirmar que a pessoa portadora de deficiência 
tem direito a um tratamento especial dos serviços de saúde ou à 
criação de uma escola especial ou, ainda, a um local de trabalho 
protegido. Todas as situações quebram a igualdade (inicialmente 
entendida), mas apresentam autorização lógica para tanto. Bom é 
falar que a legislação precisa vir acompanhada de instrumentos que 
possam tornar a igualdade um princípio eficaz, sob pena de ser 
inócua. Em nosso entender, o princípio da não-discriminação é um 
desdobramento do princípio da igualdade. Percebemos que nosso 
Legislador Constituinte Originário ressalta, desde o Preâmbulo, a 
igualdade como valor supremo de uma sociedade fraterna, pluralista 
e sem preconceitos. No artigo 3º da CF/88 vemos os objetivos 
fundamentais de nossa República, dentre os quais destacamos aqui 
a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, 
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
3.3 Princípio da liberdade. 
 
 Em seu Vocabulário Jurídico, De Plácido e Silva (2005, p. 1095) traz a 
seguinte definição de liberdade [8]: Do latim libertas, de líber (livre), indicando 
genericamente a condição de livre ou estado de livre, significa, no conceito jurídico, 
a faculdade ou o poder outorgado à pessoa para que possa agir segundo sua 
própria determinação, respeitadas, no entanto, as regras legais instituídas. A 
liberdade, pois, exprime a faculdade de se fazer ou não fazer o que se quer, de 
pensar como se entende, de ir e vir a qualquer atividade, tudo conforme a livre 
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determinação da pessoa, quando não haja regra proibitiva para a prática do ato ou 
não se institua princípio restritivo ao exercício da atividade. 
 No Direito Constitucional, as liberdades públicas, ou simplesmente liberdades, 
expressam os direitos liberais que são aqueles direitos fundamentais (também 
chamados direitos humanos ou direitos individuais) a garantir o indivíduo da 
imiscuição na sua personalidade pelo Estado ou pelos demais integrantes da 
sociedade; através das liberdades, pretende-se reservar à pessoa uma área de 
atuação imune à intervenção do poder. 
 Na Constituição Federal de 1988, Capítulo I, art. 5º, que diz respeito aos 
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos da pessoa, há incisos que tratam da 
liberdade de que todos os indivíduos possuem, como, por exemplo, os incisos 
alistados a seguir: 
II - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; 
IV - É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o 
anonimato; 
VI - É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na 
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
VIII - Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa 
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-
se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir 
prestação alternativa, fixada em lei; 
IX - É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e 
de comunicação, independentemente de censura ou licença; 
XIII - É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, 
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; 
XV - É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, 
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, 
permanecer ou dele sair com seus bens; 
XVI - Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais 
abertos ao público, independentemente de autorização, desde quenão frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo 
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 
XVII - É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a 
de caráter paramilitar; [...] 
 
 A definição feita por De Plácido e os incisos mencionados na Carta Magna 
dizem respeito a todos. Porém, para a pessoa com deficiência, são necessários 
alguns investimentos em infraestrutura que promovam sua acessibilidade a esses 
direitos. 
 A questão arquitetônica, por exemplo, deve obedecer ao projeto universal dos 
Direitos Humanos, que determina as adaptações necessárias a cada deficiência na 
	 14	
sua especificidade. É previsto também à pessoa com deficiência o direito de ter os 
espaços públicos e privados e os transportes, devidamente adaptados, de tal forma 
a propiciar o livre acesso da pessoa, sem que haja constrangimentos onde quer que 
seja. 
 Outro aspecto importante é a acessibilidade à informação por meio da 
internet. Este acesso está condicionado a algumas adequações, como, por exemplo, 
adaptações dos componentes físicos e periféricos do computador – teclado, mouse, 
microfone, placa de som, etc. –, existência de programas específicos e sites 
adaptados. 
 Na área de trabalho, devem-se garantir o acesso a equipamentos e as ajudas 
técnicas que propiciem à pessoa com deficiência um maior desenvolvimento e um 
melhor desempenho ao exercer as funções daqueles. 
 Na educação, o aluno deve ter acesso ao conhecimento. Este deve ser 
transmitido de acordo com as necessidades de aprendizagem de cada um. Os 
professores devem ser capacitados para esse fim. Deve haver um espaço físico 
adequado; apoio do corpo docente; bem como a locomoção facilitada por meio de 
adaptações necessárias que propiciem uma completa autonomia nas dependências 
da escola. 
 A liberdade constitucional, garantida a todos, não é absoluta, uma vez que se 
limita às imposições da Lei. Para as pessoas portadoras de deficiência, a liberdade 
se restringe ainda mais, quando se têm em vista as limitações físicas, sensoriais 
e/ou mentais delas. Por isso, faz-se necessária a existência de recursos que visem a 
amenizar esses cerceios. 
 
3.4 Princípio da cidadania 
 
 Segundo o entendimento de Pietro de Jesús Lora Alarcón, cidadania pode ser 
caracterizada e definida como a situação em que o indivíduo se encontra, vinculado 
à vida do Estado, com participação na direção da sociedade política. 
 Na conceituação histórica, cidadania é a ação do homem livre na cidade e 
Estado em que vive, estando o homem, ligado juridicamente à vida do Estado, 
desde a constituição do mesmo. Nos dias atuais, a cidadania está intimamente 
ligada a um conjunto de práticas que concedem a pessoa o atributo de membro ativo 
	 15	
da sociedade. De Plácido e Silva (2005, p. 288) amplia esse conceito quando afirma 
que: 
[...] a cidadania tanto se diz natural como legal. Será natural, quando 
decorre do nascimento, isto é, da circunstância de ser nacional por 
nascimento. Será legal, quando, em virtude da residência fixada em 
certa parte do território, esta lhe é outorgada por uma declaração 
legal, a naturalização. A cidadania é expressão, assim que identifica 
a qualidade da pessoa que, estando na posse de plena capacidade 
civil, também se encontra investida no uso e gozo de seus direitos 
políticos, que se indicam, pois, o gozo dessa cidadania. 
 
 Logo, pode-se observar que os portadores de deficiência, como qualquer 
outro indivíduo, têm direito a exercer sua cidadania. 
 Deve-se garantir, então, às pessoas com deficiência, seus direitos políticos e 
às oportunidades de desfrutá-los em condições de igualdade com as demais 
pessoas. É baseado nisso que o art. 29, tópico “a” da Convenção sobre os Direitos 
das Pessoas com Deficiência, aprovada em dezembro de 2006, afirma que os 
portadores de deficiência devem ter assegurados: 
1. Garantia de que os procedimentos, instalações e materiais 
para votação serão apropriados, acessíveis e de fácil compreensão e 
uso; 
2. Proteção do direito das pessoas com deficiência ao voto 
secreto em eleições e plebiscitos, sem intimidação, e a 
candidatarem-se às eleições, efetivamente ocuparem cargos eletivos 
e desempenharem quaisquer funções públicas em todos os níveis de 
governo, usando novas tecnologias assistivas, se couber; 
3. Garantia da livre expressão de vontade das pessoas com 
deficiência como eleitores e, para tanto, sempre que necessário e a 
seu pedido, permissão para que elas sejam atendidas na votação por 
uma pessoa de sua escolha. 
 
 A Convenção, em seu art. 29, tópico “b”, corrobora o fato de que se devem 
promover ambientes propícios para que os portadores de deficiência possam 
participar efetiva e plenamente na condução das questões públicas, a fim de que se 
elimine todo e qualquer tipo de discriminação e se una a igualdade de oportunidades 
com as demais pessoas, garantindo-lhes: 
1. Participação em organizações não-governamentais 
relacionadas com a vida pública e política do país, bem como nas 
atividades e na administração de partidos políticos; 
2. Formação de organizações para representar pessoas com 
deficiência em níveis internacional, regional, nacional e local, e sua 
afiliação a tais organizações. 
3. O direito ao voto previsto nessa Convenção foi previsto 
também no Código Eleitoral brasileiro de 1965. Desde então, a forma 
	 16	
de execução e de acesso a esse direito é modernizada por 
tecnologias assistivas. 
 
 É patente que para se exercer cidadania plena, não basta somente ter 
assegurados os direitos políticos – liberdade de associação para fins políticos, direito 
de participar do governo, direito de votar e ser votado –, mas também se devem ter 
garantidos os direitos civis – direito à liberdade e segurança pessoal, à igualdade 
perante lei, à livre crença religiosa, à propriedade individual ou em sociedade e o 
direito de opinião –, os direitos econômicos – direito ao trabalho, à proteção contra o 
desemprego, à remuneração que assegure uma vida digna, à organização sindical e 
direito à jornada de trabalho limitada –, e os direitos sociais – direito à alimentação, à 
moradia, à previdência e assistência, à educação, à cultura, e direito à participação 
nos frutos do progresso científico. 
 
4 Pessoas portadoras de necessidades especiais e os direitos fundamentais 
 
4.1 Direito à vida e à saúde 
 
 Os serviços de saúde pública devem oferecer a habilitação e a reabilitação 
para qualquer tipo de deficiência , visando melhorar a qualidade de vida da pessoa 
portadora de deficiência física. 
 Também é direito da pessoa com deficiência ter acesso a prótese e órtese, 
meios auxiliares de locomoção, bem como medicamentos que se fizerem 
necessários, pois em decorrência da deficiência , podem surgir algumas doenças e 
sequelas definitivas. 
 
4.2 Direito à educação e ao trabalho 
 
 É direito das pessoas com deficiência ter uma educação de qualidade, e um 
trabalho que lhes garanta o sustento. Para que esses direitos sejam assegurados, é 
necessário que quotas sejam destinadas em concursos públicos e sua utilização 
rigorosamente controlado. 
 A de Lei de Cotas para PCD 8213/91 – Lei nº 8.213/1991, conhecida como lei 
de contratação de PCD (Deficientes) nas Empresas. Lei 8213/91, lei de cotas para 
Deficientes e Pessoas com Deficiência dispõe sobre os Planos de Benefícios da 
Previdência e dá outras providências a contratação de portadores de necessidades 
especiais. 
	 17	
4.3 Direito à acessibilidade e ao transporte 
 
 O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com 
mobilidade reduzida será assegurado em igualdade de oportunidades com as 
demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e 
barreiras ao seu acesso. Está disposto no art. 46 da LBI (Lei Brasileira de Inclusão). 
 A garantia do direito à acessibilidade deve ser assegurada a todo cidadão, 
com ou sem deficiência,para promoção da qualidade de vida tanto das pessoas 
adultas e do idoso, quanto da criança e do adolescente, já que todo ser humano 
enfrenta barreiras à acessibilidade ao longo de sua existência. 
 
4.4 Direito à seguridade social 
 
 Visando ampliar a essencial rede de proteção previdenciária, nos últimos 
anos vem sendo adotada uma série de medidas inclusivas. Dentre elas, podemos 
citar: 
 a) O sistema especial de inclusão previdenciária, instituído pela EC nº 47/05, 
que introduziu os §§ 12 e 13 no art. 201 da CRFB/1988; o direito da pessoa física 
empregadora doméstica, até o exercício de 2015 (ano calendário de 2014), deduzir 
do imposto apurado na declaração de ajuste anual, a contribuição patronal de 12% 
por ela paga à previdência social (IN-RFB 1.131, de 21.02.2011); 
 b) A LC nº 128/2008, que criou a figura jurídica do microempreendedor 
individual, com alíquotas reduzidas, incluindo, conforme estudos elaborados pela 
PNAD 2009, cerca de 10,8 milhões de trabalhadores por conta própria que não 
contavam com proteção social ou proteção previdenciária. 
Todavia, apesar de todo esse sistema protetivo, afirmar que a inclusão é um 
direito não significa sustentar a autoaplicabilidade das leis, nem supor que sua mera 
existência resolva os problemas ou que baste a presença e a manifestação da 
coerção para que sejam efetivas. 
Uma mudança legislativa é uma mudança imposta pelo Estado. Reflete a 
relação Estado-coletividade. Em virtude de imposição legal, o Estado força 
mudanças sociais. 
 Muitas são as leis que a partir da Constituição Federal de 1988 pretendem 
promover eficazmente a inclusão das pessoas portadoras de deficiência na escolha, 
na família e na sociedade. Contudo, segundo Eugênica Augusta Gonzaga Fávero 
	 18	
(2006, p.165), bastariam os dispositivos constitucionais relacionados ao tema para 
que as pessoas com deficiência fossem efetivamente incluídos na sociedade. 
A legislação inclusiva somente se efetivará se houver ação conjunta do 
Estado, das pessoas com deficiência, seus representantes e se a sociedade 
responsável por implementá-la trabalhar para esse fim. 
Há de existir sempre a fiscalização do Ministério Público que, por definição, 
é órgão responsável, perante o Poder Judiciário, pela defesa da ordem jurídica e dos 
interesses da sociedade e pela fiel observância da Constituição Federal e de todo o 
ordenamento normativo. 
 
5 Considerações finais 
 
A história brasileira de exclusão ou isolamento das pessoas com deficiência, 
começou a ter fim a partir do ano de 1981, momento em que a ONU declarou o “Ano 
Internacional da Pessoa Deficiente”. De acordo com Figueira (2008, p. 115): 
Se até aqui a pessoa com deficiência caminhou em silêncio, excluída 
ou segregada em entidades, a partir de 1981 – Ano Internacional da 
Pessoa Deficiente -, tomando consciência de si, passou a se 
organizar politicamente. E, como consequência, a ser notada na 
sociedade, atingindo significativas conquistas em pouco mais de 25 
anos de militância. 
 
Assim, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, é desenvolvido 
um sistema normativo de proteção às pessoas portadoras de deficiência, 
apresentando-se, assim, como verdadeiros marcos, os dispositivos constitucionais 
dos arts. 227, §1º, II, e §2º e 244. Tem-se, ainda, a significativa ratificação da 
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, sendo este um tratado 
de direito humanos e, portanto, com status de emenda constitucional, em face do 
art. 5º, §3º, da CRFB/1988. 
No contexto da legislação infraconstitucional, ao ser publicada a Lei 
7.853/1989, estabeleceu-se a obrigatoriedade de respeito e apoio às pessoas com 
deficiência, sua integração social, bem como institui-se a tutela jurisdicional de 
interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplinando a autuação do 
Ministério Público. 
Todavia, a efetivação dessa proteção depende da forma como cada cidadão 
brasileiro vê a inclusão da pessoa portadora de deficiência física no sistema de 
proteção à cidadania no Brasil. Enquanto se permitir atitudes simples, como o uso 
	 19	
indevido de vagas de estacionamento para deficientes nas ruas e estabelecimentos 
comercias, pouco adiantará esse sistema normativo tão sofisticado. A atitude se 
muda nas pequenas esferas. 
Na realidade, a melhoria da qualidade de vida dos portadores de deficiência 
física, para além da existência de um cabedal de leis protetivas, alcança a realização 
de valores básicos de cidadania, como respeito, empatia e alteridade, o que só é 
possível desde que trabalhado na educação básica e fundamental. 
 
6 Referências: 
 
ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Patrimônio genético humano e sua proteção na 
Constituição Federal de 1988. São Paulo: Método, 2004. 
ALMEIDA, Sandra Cristina Filgueiras de. Legislação aplicável aos portadores de 
deficiência: legislação relacionada com os portadores de deficiência. Disponível em: 
http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/estnottec/p
df/306981.pdf. Acesso em: 10 mai. 2021. 
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deficiência. 3. ed. Brasília: CORDE, 2001. 
FIGUEIRA, Abdiel Ramos. Principais direitos das pessoas com deficiência. 
Disponível em: http://docplayer.com.br/15563202-Principais-direitos-das-pessoas-
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Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso 
em: 14 abr. 2021. 
Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 
abr. 2021. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/D98822impressao.htm. Acesso em: 14 abr. 2021. 
Disponível em: 
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Censo IBGE 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em: 16 
mar. 2021. 
 
	 20	
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-
social/orgaos-colegiados/conade/conselho-nacional-dos-direitos-da-pessoa-com-
deficiencia-conade. Acesso em: 16 mar. 2021. 
Disponível em: https://www.oab.org.br/arquivos/a-convencao-sobre-os-direitos-das-
pessoas-com-deficiencia-comentada-812070948.pdf. Acesso em: 20 mai. 2021. 
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 
SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de 
Janeiro: Lúmen Júris, 2003. 
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. 
SILVA, Luzia Gomes. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/portadores-de-deficiencia-igualdade-e-inclusao-social-principio-a-
dignidade-da-pessoa-humana/. Acesso em: 24 mai. 2021.

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