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JULIA JENSEN DIDONET ESTUDO DOS EFEITOS COMPORTAMENTAIS DO NEUROPEPTÍDEO S EM CAMUNDONGOS SUBMETIDOS A MODELOS ANIMAIS DE PARKINSON Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia. Natal 2012 2 JULIA JENSEN DIDONET ESTUDO DOS EFEITOS COMPORTAMENTAIS DO NEUROPEPTÍDEO S EM CAMUNDONGOS SUBMETIDOS A MODELOS ANIMAIS DE PARKINSON Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia. Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli Natal 2012 3 ESTUDO DOS EFEITOS COMPORTAMENTAIS DO NEUROPEPTÍDEO S EM CAMUNDONGOS SUBMETIDOS A MODELOS ANIMAIS DE PARKINSON Julia Jensen Didonet Defesa 29/06/2012 Banca Examinadora _____________________________ Profa. Janaína Zanoveli Universidade Federal do Paraná, PR _____________________________ Profa. Dra. Alessandra M. Ribeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN ____________________________ Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN 4 “You don't get something for nothing You can't have freedom for free You won't get wise With the sleep still in your eyes No matter what your dreams might be” (Something for Nothing, Rush, 2112) 5 AGRADECIMENTOS À Professora e orientadora Dra. Elaine Cristina Gavioli, pela paciência e carinho que sempre teve para me eninar tudo o que eu aqui apresento. Pelas várias horas de reuniões e as longas tardes em que esteve comigo coletando os dados experimentais. Por viver a simplicidade da rotina da ciência, apesar de tantos compromissos. Obrigada pela confiança, compreensão, e incentivo prof! Às Profas e Dras do laboratório, Vanessa Rachetti e Eunice André, pela simpatia e disponibilidade. O sorriso e a piada sempre na ponta da língua e as mãos sempre dispostas a ajudar. Ao Professor Judney e à Professora Mirian, por disponibilizarem o laboratório e várias horas de ensinamentos no laboratório de imunoistoquímica. Aos colegas de laboratório, que dividem as horas e o espaço com tranquilidade. Em conversas agradáveis mesmo que em sussurros. À especial colega, amiga e querida Laila Asth, Lailinha. Este trabalho guarda suas horas de trabalho e esforço também. Nas entrelinhas ficam a força e apoio que sempre foi pra mim, dividindo o peso de estar longe da família, tornando tudo mais fácil de suportar. Os conselhos, os almoços, as risadas e confidências. Obrigada por estar sempre presente! Aos amigos Dani Moura, Fe Palhano, Fe Negreiros e Pedro de Moraes. Pelas conversas enriquecedoras, na volta do kung fu ou lavando louça. Pela amizade de preço inestimável. Porque me conhecem bem e sabem o quanto eu preciso de alguém para me escutar, tentar me compreender, o quanto eu preciso de palavras carinhosas. Por fazer meu coração sorrir em cada encontro. Aos amigos de república, Grego, Jordy, Chapa, Zaca, Marília e Pedro, por fazerem a vida mais divertida. Por fazer o viver fácil e prazeroso, mesmo entre 7 pessoas tão diferentes. Aos meus pais, pelo apoio emocional e financeiro. Pelo amor que guardam por mim que faz tudo valer a pena. Pela confiança e despreendimento que se exige quando se quer sair do ninho e as asas ainda batem vacilantes. O vôo é dificil, mas há se jogar. Ao Maninho, ao Buddy, à Anis e à Iti. Pelas horas de celular e por aquelas guardadas na memória. São força para o passo mais a frente. Às inseparáveis distantes amigas queridas, Momo e Re. Cuja amizade, em conselhos e apoio muitas vezes silenciosos, sempre renova meu ânimo de voltar para mais uma temporada tão longe de vocês. Amo e estimo de mais! Aos amigos todos que distante ficaram, na cidade que amo tanto e que faz uma falta enorme. Em especial ao Cho, companheiro, paciente e carinhoso sempre! 6 RESUMO O neuropeptídeo S (NPS) é o ligante endógeno do receptor NPSR acoplado à proteína G. Estudos pré-clínicos mostraram que a ativação do receptor NPSR promove aumento da vigília, ansiólise, efeito anoréxico, além de hiperlocomoção. Este último efeito é robusto e ainda pouco entendido. Evidências apontam para o envolvimento do sistema dopaminérgico no efeito estimulatório do NPS. Tendo em vista a modulação exercida pelo sistema NPS-receptor NPSR na locomoção espontânea de animais, a expressão do receptor NPSR em núcleos dopaminérgicos e a relação intrínseca entre a dopamina e a Doença de Parkinson, o presente estudo visou investigar o papel exercido pelo sistema do NPS no prejuízo motor de camundongos induzido pela administração intracerebroventricular (icv) de 6-OHDA e sistêmica de haloperidol. Para avaliação dos prejuízos motores induzidos por 6-OHDA e haloperidol, camundongos Swiss foram submetidos aos testes do rota-rod e da catalepsia e o desempenho motor na barra giratória do rota-rod e o tempo de imobilidade na plataforma elevada foram registrados, respectivamente. O efeito do tratamento dos camundongos com L-Dopa (via oral), um antiparkinsoniano clássico, e do NPS (icv) foi avaliado nos dois testes comportamentais citados acima. No teste do rota-rod, três dias após a administração de 6-OHDA, os animais apresentaram significativo prejuízo motor. A reversão do prejuízo motor foi verificada após a administração de L-Dopa (25 mg/kg) ou de NPS (0,1 e 1 nmol). A administração de 6-OHDA também elevou o tempo de permanência na plataforma elevada (teste da catalepsia), mas este efeito foi muito variável, não sendo, portanto, utilizado para investigar a ação do NPS. O prejuízo motor induzido pelo haloperidol no teste do rota-rod e catalepsia foi revertido pela administração de L-Dopa (100 e 400 mg/kg), mas não pelo NPS (0,1 e 1 nmol) ou pela associação de L- Dopa 10 mg/kg e NPS 1 nmol. Em conclusão, os danos motores induzidos pela administração de 6-OHDA, mas não de haloperidol, foram revertidos pelo tratamento central com NPS. Estes dados sugerem que o NPS parece facilitar a liberação de dopamina na via nigroestriatal, o que justificaria a melhora do desempenho motor induzida pela administração do NPS em animais tratados com 6-OHDA, mas não com haloperidol (que causa bloqueio de receptores dopaminérgicos). Por fim, os achados aqui apresentados apontam, pela primeira vez, para a possibilidade de agonistas do receptor NPSR atuarem como agentes terapêuticos ou adjuvantes no tratamento da Doença de Parkinson. Palavras-chaves: dopamina; doença de Parkinson; camundongos; neuropeptídeo S; atividade motora. 7 ABSTRACT Neuropeptide S (NPS) is the endogenous ligand of a G-protein coupled receptor. Preclinical studies have shown that NPSR receptor activation can promote arousal, anxiolytic-like behavioral, decrease in food intake, besides hyperlocomotion, which is a robust but not well understood phenomenon. Previous findings suggest that dopamine transmission plays a crucial role in NPS hyperactivity. Considering the close relationship between dopamine and Parkinson Disease (PD), and also that NPSR receptors are expressed on dopaminergic nuclei in the brain, the current study attempted to investigate the effects of NPS in motor deficits induced by intracerebroventricular (icv) administration of 6-OHDA and systemic administration of haloperidol. Motor deficits induced by 6-OHDA and haloperidol were evaluated on Swiss mice in the rota-rod and catalepsy test. Time on the rotating rod and time spent immobile in the elevated bar were measured respectively in each test. L-Dopa, a classic antiparkinsonian drug, and NPS were administrated in mice submitted to one of the animal models of PD related above. 6-OHDA injection evoked severe motor impairments in rota-rod test, while the cataleptic behavior of 6-OHDA injected mice was largelyvariable. The administration of L-Dopa (25 mg/kg) and NPS (0,1 and 1 nmol) reversed motor impairments induced by 6-OHDA in the rota-rod. Haloperidol- induced motor deficits on rota-rod and catalepsy tests which were reversed by L-Dopa (100 e 400 mg/kg), but not by NPS (0,1 and 1 nmol) administration. The association of L-Dopa 10 mg/kg and NPS 1 nmol was also unable to counteract haloperidol-induced motor deficits. To summarize, 6-OHDA-, but not haloperidol-, induced motor deficits were reversed by the central administration of NPS. These data suggest that NPS possibly facilitates dopamine release in basal ganglia, what would explain the overcome of motor performance promoted by NPS administration in animals pre- treated with 6-OHDA, but not haloperidol. Finally, the presented findings point, for the first time, to the potential of NPSR agonist as an innovative treatment for PD. Key words: dopamine; Parkinson disease; mouse; neuropeptide S; motor activity. 8 LISTA DE FIGURAS E TABELAS Tabela 1. Média do peso dos animais no dia da cirurgia estereotáxica e no terceiro, quarto e quinto dia após a administração de 6-OHDA...................................................65 Figura 1. Núcleos da Base e suas correlações, vias direta e indireta..............................19 Figura 2. Núcleos da Base e suas correlações sob condições normais e na DP..............21 Figura 3. Representação esquemática do neurônio dopaminérgico na SNc e os agentes usados para indução de modelos animais de DP...........................................................26 Figura 4. Estruturas primárias do Neuropeptídeo S de humano, chimpanzé, camundongo, rato, cachorro e galinha...........................................................................30 Figura 5. NPS e o receptor NPSR.....................................................................................31 Figura 6. Delineamento experimental, etapa I, experimento I.......................................50 Figura 7. Delineamento experimental, etapa I, experimento II......................................51 Figura 8. Delineamento experimental, etapa I, experimento III.....................................52 Figura 9. Delineamento experimental, etapa I, experimento IV....................................53 Figura 10. Delineamento experimental, etapa II, experimento I....................................56 Figura 11. Delineamento experimental, etapa II, experimento II...................................57 Figura 12. Delineamento experimental, etapa II, experimento III..................................59 Figura 13. Delineamento experimental, etapa II, experimento IV.................................60 Figura 14. Delineamento experimental, etapa II, experimento IV.................................61 Figura 15. Efeito da administração de 6-OHDA no tempo de imobilidade de camundongos.................................................................................................................65 Figura 16. Efeito da administração de L-Dopa 25 mg/kg na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de 6-OHDA...........................................67 9 Figura 17. Área sob a curva do efeito da administração de L-Dopa 25 mg/kg na incoordenação motora causada pela administração de 6-OHDA em camundongos.................................................................................................................67 Figura 18. Correlação entre o número de células que expressam a enzima tirosina- hidroxilase (TH) e a AUC.................................................................................................68 Figura 19. Número de neurônios corados para a enzima TH na substância negra de camundongos tratados com 6-OHDA.............................................................................70 Figura 20. Efeito da administração de NPS 0,1 nmol na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de 6-OHDA............................................71 Figura 21. Área sob a curva do efeito da administração de NPS 0,1 nmol na incoordenação motora causada pela administração de 6-OHDA...................................72 Figura 22. Efeito da administração de NPS 1 nmol na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de 6-OHDA............................................73 Figura 23. Área sob curva do efeito da administração de NPS 1 nmol na incoordenação motora causada pela administração de 6-OHDA...........................................................74 Figura 24. Porcentagem de desempenho motor dos animais após administração de 6- OHDA e NPS (0,1 e 1 nmol) e L-Dopa (25 mg/kg)..........................................................75 Figura 25. Correlação entre a imobilidade no teste da catalepsia causada pela administração de 6-OHDA e o desempenho motor no teste do rota-rod dos mesmos camundongos................................................................................................................76 Figura 26. Efeito da administração de L-Dopa 100 mg/kg na acinesia induzida por haloperidol em camundongos.......................................................................................77 Figura 27. Área sob a curva do efeito da administração de L-Dopa 100 mg/kg na acinesia induzida por haloperidol..................................................................................77 Figura 28. Efeito da administração de L-Dopa 400 mg/kg na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de haloperidol......................................78 10 Figura 29. Área sob a curva do efeito da administração de L-Dopa 400 mg/kg na incoordenação motora causada pela administração de haloperidol.............................79 Figura 30. Efeito da administração de L-Dopa 100 mg/kg na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de haloperidol.......................................80 Figura 31. Área sob a curva do efeito da administração de L-Dopa 100 mg/kg na incoordenação motora causada pela administração de haloperidol.............................81 Figura 32. Efeito da administração de NPS 1, 0,1 nmol ou salina na acinesia induzida por haloperidol...............................................................................................................82 Figura 33. Área sob a curva do efeito da administração de NPS 0,1, 1 nmol (icv) ou salina na acinesia induzida por haloperidol....................................................................83 Figura 34. Efeito da administração de NPS 0,1 nmol na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de haloperidol.......................................84 Figura 35. Área sob a curva do efeito da administração de NPS 0,1 nmol na incoordenação motora causada pela administração de haloperidol.............................85 Figura 36. Efeito da administração de NPS 1 nmol na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de haloperidol.......................................86 Figura 37. Área sob curva do efeito da administração de NPS 1 nmol na incoordenação motora causada pela administração de haloperidol......................................................86 Figura 38. Efeito da administração de L-Dopa 10 mg/kg associado ao NPS 1 nmol na incoordenação motora de camundongos promovida pela administração de haloperidol.....................................................................................................................88 Figura 39. Área sob a curva do efeito da administração de L-Dopa 10 mg/kg associado ao NPS 1 nmol na incoordenação motora causada pela administração de haloperidol.....................................................................................................................88 11 Figura 40. Porcentagem de desempenho motor de camundongos após administraçãode haloperidol e NPS (0,1 e 1 nmol) ou L-Dopa (100 e 400 mg/kg) ou L-Dopa 10 mg/kg e NPS 1 nmol.................................................................................................................89 12 ABREVIAÇÕES 6-OHDA – 6-hidroxidopamina AC – enzima adenilil ciclase AMPc – adenosina monofosfato cíclico AP – ântero-posterior ATP – adenosina tri-fosfato AUC – área sob a curva CEUA – Comissão de Ética no Uso de Animais CRF1 – fator liberador de corticotropina 1 DAB - 3,3’,4,4’tetrahidrocloreto-diaminobenzidina DNA – ácido desoxirribonucleico DP – doença de Parkinson DV – dorso-ventral EPM – erro padrão médio ERO(s) – espécie(s) reativa(s) do oxigênio GABA – ácido gama-aminobutírico Gi – proteína G inibitória Gs – proteína G estimulatória Gq – proteína G que ativa fosfolipase C GPe – globo pálido externo Gpi – globo pálido interno 13 icv - intracerebroventricular ip – intraperitonial L-Dopa - L-3,4-dihidroxifenilalanina MAO-B – enzima monoamina oxidase-B ML – médio-lateral MPTP – 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina NAcSh - parte shell do núcleo accumbens NMDA - receptor N-metil-d-aspartato NPS – neuropeptídeo S NPSR – receptor do neuropeptídeo S REL – retículo endoplasmático liso RNAm – ácido ribonucléico mensageiro rpm – rotações por minuto SNc – substância negra parte compacta SNr – substância negra parte reticulada STN – núcleo subtalâmico TH – enzima tirosina hidroxilase VL – ventrículo lateral VIP – peptídeo intestinal vasoativo vo – via oral VTA - área tegmental ventral 14 SUMÁRIO 1. Introdução.......................................................................................................16 1.1. A Doença de Parkinson...............................................................................16 1.2. Fisiopatologia da Doença de Parkinson.......................................................18 1.3. Modelos Animais para a DP.........................................................................23 1.4. Tratamento Farmacológico da DP...............................................................26 1.5. O Sistema do Neuropeptídeo S....................................................................29 1.6. Atividades Biológicas do Neuropeptídeo S..................................................31 2. Objetivos............................................................................................................35 2.1. Objetivos gerais...........................................................................................35 2.2. Objetivos específicos...................................................................................35 3. Metodologia.......................................................................................................37 3.1. Animais........................................................................................................37 3.2. Drogas e tratamentos..................................................................................37 3.3. Cirurgia para implantação da cânula icv......................................................39 3.4. Injeções icv................................................................................,.................40 3.5. Análise comportamental.............................................................................41 3.6. Análise morfológica do tecido cerebral.......................................................46 3.7. Quantificação dos neurônios da SNc corados para TH................................47 3.8. Delineamento experimental........................................................................49 3.9. Análise estatística........................................................................................62 4. Resultados Experimentais...................................................................................64 4.1. Etapa I, experimentos I, II, III e IV................................................................64 4.2 .Etapa II, experimentos I, II, III e IV...............................................................76 15 5. Discussão..........................................................................................................90 6. Conclusão.........................................................................................................110 7. Referências.......................................................................................................112 16 1. INTRODUÇÃO 1.1. A Doença de Parkinson A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa progressiva, caracaterizada por perda de neurônios da substância negra e a presença de inclusões de proteínas citoplasmáticas chamadas de Corpos de Lewy (Hughes e cols., 1992). A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente, precedida apenas pela doença de Alzheimer (Nutt e Wooten, 2005); tem início normalmente entre a quinta ou sexta década de vida. Estudos recentes mostram aumento da incidência de casos com o avanço da idade, a taxa de incidência na população mundial fica entre 0,09 a 0,13 por 1000 habitantes (WHO, 2006). Como a DP é uma doença crônica prolongada, a taxa de prevalência é muito maior que a incidência. Segundo projeções da Organização Mundial de Saúde, existe a perspectiva de que a DP afete quase 6 milhões de pessoas no mundo em 2015, numa prevalência estimada da população mundial de 0,84 casos para cada 1000 habitantes (WHO, 2006). Segundo a mesma organização, a DP acomete 1,5 vezes mais homens do que mulheres. Na DP, a principal manifestação clínica é a síndrome parkinsoniana, referente ao comprometimento motor que se estabelece progressivamente. Os distúrbios mentais, demência e depressão e os distúrbios autonômicos, como constipação intestinal, seborréia e tendência à hipotensão, também frequentes na DP, são decorrentes da neurodegeneração de estruturas cerebrais fora do circuito motor (Barbosa e Sallem, 2005). O diagnóstico de parkinsonismo é baseado na presença de uma síndrome rígido-bradicinética, caracterizada pela dificuldade de iniciação de movimentos 17 volutários e progressiva redução da velocidade e amplitude dos movimentos (Hughes e cols., 1992). Para diagnóstico de DP, é necessário que haja também rigidez muscular, tremor de repouso e instabilidade postural, além de bradicinesia e acinesia (Hughes e cols.1992). A rigidez muscular encontrada no paciente parkinsoniano refere-se à resistência ao movimento passivo, essa pode ser contínua ou intermitente (Barbosa e Sallem, 2005, Dauer e Przedborski, 2003). Já o tremor acontece no repouso e diminui no movimento voluntário, assim, tipicamente não atrapalha a vida diária (Nutt e Wooten, 2005, Hughes e cols., 1992). A bradicinesia representa uma diminuição da velocidade do movimento, fraqueza e descoordenação do membro, enquanto a acinesia caracteriza-se pela inabilidade de iniciar movimentos voluntários; manifesta- se mais frequentemente durante a marcha, que pode surgir quando o paciente se depara com um obstáculo real ou uma tensão emocional (Nutt e Wooten, 2005, Barbosa e Sallem, 2005, Dauer e Przedborski, 2003). A postura na síndrome parkinsoniana é inclinada para frente e para baixo, encurvada na parte superior do corpo (ântero-flexão), com semi-flexão dos membros. Os reflexos de readaptação postural são perdidos, levando a uma instabilidade que frequentemente resulta em quedas (Barbosa e Sallem, 2005, Dauer e Przedborski, 2003). Em decorrência destes fatores, o ato de caminhar torna-se também característico, denominada marcha parkinsoniana (Okamoto, 2008, Barbosa e Sallem, 2005). Há redução do comprimento dos passos, com pés arrastados, e diminuição ou ausência da movimentação associada aos membros superiores (Okamoto, 2008, Nutt e Wooten, 2005). 18 1.2. Fisiopatologia da Doença de Parkinson Os principaiscomponentes do sistema motor responsáveis pelos movimentos voluntários são os núcleos da base; esses são constituídos por quatro núcleos subcorticais: estriado, globo pálido (subdividido em segmento interno e externo), substância negra (subdividida em parte reticulada e parte compacta) e os núcleos subtalâmicos (Kandel e cols., 2000). Em conjunto, estes núcleos recebem seu principal estímulo vindo do córtex; enviam uma resposta para o tronco cerebral, e, via tálamo, de volta para o córtex prefrontal, pré-motor e motor (Kandel e cols., 2000). Dessa maneira, os núcleos da base são as áreas cerebrais mais importantes na mediação dos impulsos entre o tronco cerebral, medula e córtex motor (Kandel e cols.000). Os dois núcleos principais de saída dos núcleos da base, o globo pálido (segmento interno) e a substância negra parte reticulada, inibem tonicamente o tálamo e o tronco cerebral. A inibição da saída é modulada por duas vias paralelas, a via indireta e a via direta (Kandel e cols., 2000; Figura 1). 19 Figura 1. Núcleos da base e suas correlações, mostrando as vias direta e indireta. Setas cinza claro indicam conexões excitatórias e setas cinza escuro indicam conexões inibitórias. Gpe = globo pálido externo, Gpi = globo pálido interno, SNc = substância negra parte campacta; STN = núcleo subtalâmico (adaptado de Kandel e cols., 2000). A via indireta passa primeiro pelo segmento externo do globo pálido e de lá para os núcleos subtalâmicos com conexões exclusivamente GABAérgicas. O núcleo subtalâmico, por sua vez, conecta-se com o globo pálido interno na única ligação excitatória que acontece entre os núcleos da base, liberando glutamato, que faz com 20 que o estímulo para o tálamo seja fortemente inibitório. O resultado da ativação da via indireta é a inibição transitória do tálamo e, consequentemente, do córtex, causando, portanto maior dificuldade no movimento (Kandel e cols., 2000). A via direta tem projeções imediatas GABAérgica para o segmento interno do globo pálido, inibindo os impulsos para o tálamo. A ativação da via direta promove a diminuição do estímulo tônico inibitório sobre o tálamo, permitindo que esse e, posteriormente, o córtex sejam ativados, gerando, portanto, facilitação do movimento (Kandel e cols., 2000). A via indireta possui receptores dopaminérgicos do tipo D2, cujos receptores são acoplados à proteína Gi, enquanto que a via direta possui receptores dopaminérgicos D1, que são receptores acoplados à proteína Gs (Ferro e cols., 2005, Kandel e cols., 2000). A dopamina proveniente dos neurônios dopaminérgicos da substância negra parte compacta é moduladora dos circuitos dos núcleos da base, pois promove ativação da via direta e inibição da via indireta (Ferro e cols., 2005). Na DP, ocorre perda gradual de neurônios dopaminérgicos nigroestriatais, além disso, são encontrados nos corpos celulares desses neurônios dopaminérgicos inclusões de proteínas citoplasmáticas chamadas Corpos de Lewy; essas alterações na via nigroestriatal são consideradas as marcas fisiopatológicas da DP (Dauer e Przedborski, 2003, Hughes e cols., 1992, Gibb e Lees, 1988). Na ausência da modulação dopaminérgica, devido à morte dos neurônios nigroestriatais, o estímulo tônico sobre o tálamo permanece, causando prejuízo na realização de movimentos voluntários (Ferro e cols., 2005; Figura 2). 21 Figura 2. Núcleos da base e suas correlações sob condições normais e na DP. Setas cinza claro indicam conexões excitatórias e setas cinza escuro indicam conexões inibitórias. A degeneração da via dopaminérgica nigroestriatal na DP leva à alteração na atividade estriatal, evidenciada na figura da direita por setas opacas e pretas. Gpe = globo pálido externo, Gpi = globo pálido interno, SNc = substância negra parte campacta, STN = núcleo subtalâmico (adaptado de Kandel e cols., 2000). Hughes e colaboradores (1992) confirmaram haver uma correlação entre a morte de células nigroestriatais e a severiadade da DP. O início dos sintomas motores ocorre quando há perda de aproximadamente 60% dos neurônios dopaminérgicos da substância negra, o que leva a supor que a morte destes neurônios se inicia muito antes do aparecimento dos sintomas motores (Dauer e Przedborski, 2003, Hughes e cols. 1992, Gibb e Lees, 1988). As causas para a neurodegeneração na DP são várias e ainda incertas, duas teorias são aceitas: a primeira postula que a agregação de proteínas α–sinucleína intracitoplasmáticas é tóxica para os neurônios e causa a sua 22 morte celular; a segunda propõe que o dano neuronal pode ser causado pela disfunção mitocondrial, que gera estresse oxidativo e consequentemente causa apoptose neuronal (Dauer e Przedborski, 2003; Spillantini, 1997). Os corpos de Lewy nas células nigroestriatais são agregações de proteínas normalmente eosinofílicas, intracitoplasmáticas com diâmetro entre 5 e 25 µm (Gibb e Lees, 1988). São formados por neurofilamentos, principalmente α–sinucleína, com diâmetro de 7 a 15 nm que se arranjam radialmente ou aleatóriamente; a coloração revela um centro escuro (núcleo) e anéis (lâminas) ao redor (Singleton e cols., 2003, Spillantini, 1997, Gibb e Lees, 1988). As partes mais escuras são devido à maior densidade de filamentos e decomposição da sua estrutura por causa do empacotamento; externamente, há menos filamentos e algumas organelas que não são marcadas (Gibb e Lees, 1988). A toxicidade das inclusões citoplasmáticas pode ser proveniente da deformação que causam à célula, atrapalhando o tráfico de organelas, por exemplo, ou do sequestro de proteínas essenciais para a sobrevivência da célula (Dauer e Przedborski, 2003). Vários estudos relacionam mutações genéticas com a tendência à DP, como foi determinado recentemente por Singleton e colaboradores (2003) que a mutação no gene da α–sinucleína triplica o locus de expressão dessa proteína, causando maior risco a DP, provavelmente de forma quantitativa e não qualitativa. Todos os organismos aeróbicos são suscetíveis ao estresse oxidativo simplesmente porque espécies reativas de oxigênio (ERO), superóxido e peróxido de hidrogênio, são produzidos pela mitocôndria durante a respiração, uma quantidade aproximada a 2% do oxigênio total consumido forma EROs (Floyd, 1999). O cérebro é especialmente sensível ao dano oxidativo por demandar 20% do oxigênio total do 23 corpo (Floyd, 1999). Uma vez formadas, as EROs reagem com proteínas, membrana lipídica, DNA entre outros, e causam danos celulares severos (Floyd e Hensley, 2002). Os neurônios dopaminérgicos podem ser especialmente suscetíveis à formação de ERO, já que os subprodutos da metabolização da dopamina também são peróxido de hidrogênio e radicais superóxidos (Tansey e cols., 2007, Spina e Cohen, 1989). 1.3. Modelos animais para a DP Muitas perguntas já foram respondidas desde que James Parkinson descreveu pela primeira vez a síndrome por ele denominada de shaking palsy (livre tradução: paralisia agitante), em seu livro entitulado “Essay on the Shaking Palsy” de 1817. Porém, as perguntas nunca cessam: Por que há certa seletividade por neurônios dopaminérgicos? Qual o papel do envelhecimento na DP, tanto esporádica quanto herdada? Será que a manipulação farmacológica ou genética pode prevenir a neurodegeneração? Tais perguntas podem ser respondidas em certa medida pela análise de tecido pós-mortem ou experimentos in vitro, mas o uso de animais experimentais que mimetizam aspectos da doença é uma ferramenta muito mais consistente para o entendimento das bases neurobiológicas da DP (Dauer e Przedborski, 2003). De maneira geral, os modelos animais possibilitam o acesso aos processos patológicos que causam perda neuronal e o uso de técnicas invasivas que não podem ser utilizadas em humanos (Geyer e Markou, 2002, Betarbet e cols., 2002, Duty e Jenner, 2011). Os modelos animais possibilitamtambém o estudo de novas terapias 24 farmacológicas ou novas estratégias para o tratamento da DP (Betarbet e cols., 2002, Duty e Jenner, 2011), além de permitirem reduzir significativamente o custo da pesquisa, antes do início dos testes clínicos, que são caros e consomem muito tempo (Geyer e Markou, 2002). O modelo de roedor tratado com reserpina foi um dos primeiros modelos farmacológicos empregados para estudo da Doença de Parkinson. A administração sistêmica de reserpina produz acinesia e rigidez nos membros posteriores (Duty e Jenner, 2011). A reserpina age bloqueando o transportador vesicular de monoaminas, o que acarreta em incapacidade de envesicular os neurotransmissores dopamina, serotonina e noradrenalina, consequentemente, gerando diminuição na disponibilidade desses neurotransmissores no sistema nervoso central e periférico (Duty e Jenner, 2011). Outro modelo farmacológico de indução dos sinais de Parkinson, muito utilizado em roedores, é a administração de haloperidol. O haloperidol é um antagonista dopaminérgico de receptores D2, e em menor grau D1, que atua bloqueando a transmissão dopaminérgica para o estriado nas vias direta e indireta (Craig e Stitzel, 2008). A administração de haloperidol em humanos produz um fenômeno que se manifesta comportamentalmente por rigidez muscular e catalepsia; a rigidez é uma característica clínica bem estabelecida da síndrome parkinsoniana, a catalepsia é entendida como inabilidade em iniciar movimentos voluntários (também denominada de acinesia) (Duty e Jenner, 2011). Algumas toxinas usadas para mimetizar os sinais da DP em roedores promovem degeneração de neurônios dopaminérgicos, fato este que se assemelha ao que ocorre 25 em humanos parkinsonianos. A 6-hidroxidopamina (6-OHDA) é levada para dentro da célula neuronal pelo transportador de dopamina, o mecanismo pelo qual a substância exerce toxicidade ainda não é bem conhecido, mas sabe-se que o início da degeneração ocorre por uma combinação de estresse oxidativo e disfunção mitocondrial (Betarbet e cols., 2002). Rapidamente oxidada, forma EROs que reduzem os níveis de enzimas antioxidantes no espaço intracelular, ainda interage diretamente com a cadeia de respiração mitocondrial, causando mais estresse oxidativo (Duty e Jenner, 2011). O 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina (MPTP) é uma toxina comumente usada para induzir DP em roedores e primatas, baseada na sua capacidade de induzir parkinsonismo em humanos. Os efeitos comportamentais promovidos pela exposição ao MPTP são acinesia, rigidez, catalepsia e postura anormal (Lane e Dunnett, 2008). Por ser altamente lipofílico, o MPTP atravessa a barreira hemato-encefálica com facilidade após administração sistêmica (intraperitoneal ou subcutânea) e, uma vez no tecido cerebral, promove formação de EROs além de bloquear o fluxo de elétrons da cadeia respiratória mitocondrial no complexo I. Esta combinação (estresse oxidativo com menor formação de ATP) é responsável pela ativação da sinalização apoptótica interna (Shober, 2004, Duty e Jenner, 2011). A grande desvantagem desse modelo é o risco que o manuseamento de MPTP oferece para os humanos (Duty e Jenner, 2011). Outra toxina também utilizada para mimetizar em roedores os sinais da DP é a rotenona, também utilizada como inseticida (Dauer e Przedborski, 2003, Betarbet e cols., 2002). A rotenona é bastante lipofílica, e ao atingir a corrente sanguínea rapidamente ganha acesso a todos os órgãos, onde produz toxicidade sistêmica, 26 principalmente cardiovascular, e assim alta taxa de mortalidade; sua toxicidade parece envolver o bloqueio de enzimas da cadeia de respiração mitocondrial, especialmente a do complexo I (Dauer e Przedborski, 2003, Betarbet e cols, 2002). Os animais intoxicados com esse composto desenvolvem hipocinesia, postura inclinada e severa rigidez, alguns apresentam tremores nas patas (Betarbet e cols., 2002; Figura 3). Figura 3. Representação esquemática de um neurônio dopaminérgico da substância negra parte compacta mostrando os diversos agentes usados para indução de modelos animais de DP. * Indica aqueles que necessitam injeção direta intracerebral (adaptada de Duty e Jenner, 2011). 1.4. Tratamento farmacológico da DP A DP é uma das poucas doenças neurodegenerativas que há décadas possui tratamento farmacológico com alto grau de eficácia (Klivenyi e Vecsei, 2010). Logo nos anos 60, foi demonstrado o metabolismo catecolaminérgico anormal na DP (Barbeau, 1969). Posteriormente, a baixa quantidade de dopamina encontrada nos núcleos da base e na urina de pacientes com DP deu suporte a ideia do uso da L-3,4- 27 dihidroxifenilalanina (L-Dopa), um precursor da dopamina, no tratamento desta doença (Barbeau, 1969). Apesar do sucesso na reversão dos sintomas do Parkinson promovidos pela L-Dopa, o uso prolongado deste fármaco resulta em complicações motoras severas, promovida pela perda da eficácia terapêutica, seguida por discinesias e também por um fenômeno conhecido como liga-desliga, no qual há expressão de tremores e bradicinesia, mesmo sob o tratamento com a L-Dopa (Alachkar e cols., 2010; Barbeau, 1969). A discinesia é a manifestação de movimentos involuntários anormais e surpreendentemente ocorre em mais de 50% dos casos, caracterizado por protrusões da língua ou rotações, mastigação repetitiva e, posteriormente, pode vir acompanhado de movimentos involuntários nos membros superiores e mais raramente nos membros inferiores, tornando quase impossível a vida normal (Barbeau, 1969). Além destes, outros efeitos colaterais relatados pelos pacientes em tratamento crônico com L-Dopa são: náusea e vômitos, que geralmente aparecem pela manhã em quase todos os pacientes, hipotensão arterial, halucinações e psicose (Barbeau, 1969). Tendo em vista o exposto acima, agonistas dopaminérgicos são frequentemente utilizados como primeira abordagem na terapia da DP por apresentarem menos tendência a causar discinesia, além de retardarem o início do uso da L-Dopa ou são usados como adjuvantes do tratamento com L-Dopa, reduzindo a dose diária desta (Craig e Stitzel, 2005, Nutt e Wooten, 2001). Também apresentam efeitos colaterais aos pacientes tais como náusea, sonolência, fadiga, hipotensão postural, entre outros. Recomenda-se um aumento gradual da dose na medida do desenvolvimento de tolerância aos efeitos adversos (Craig e Stitzel, 2005). Outra 28 terapia já utilizada na clínica envolve inibidores da enzima responsável pela degradação da dopamina da fenda sináptica, a monoamina oxidase B (MAO-B). A selegilina é o principal fármaco com este mecanismo, mas em doses altas age em múltiplos sistemas, inclusive inibindo liberação gutamatérgica (Fox e cols., 2008, Craig e Stitzel, 2005). Ainda em estudos clínicos, há uma variedade de antagonistas de receptores adenosinérgicos A2A; de fato, existem receptores A2A pós-sinápticos (acoplados à proteína Gs) nos corpos celulares e terminações de neurônios GABAérgicos da via indireta nigroestriatal. A ativação do receptor A2A promove a liberação de GABA na via indireta, o que contribui para a hiperatividade dessa via, observada na DP (Fox e cols., 2008). Outros fármacos, como os inibidores da liberação de glutamato, antagonistas de receptores NMDA e inibidores da recaptação de noradrenalina e dopamina também estão em estudos clínicos (Fox e cols., 2008). Os sistemas neuropeptidérgicos também podem ser considerados alvos farmacológicos inovadores para o tratamento da DP. Estudos in vitro e in vivo mostraram capacidade neuroprotetora do peptídeo intestinal vasoativo (VIP) em neurônios dopaminérgicos e fibras do trato nigroestriatal; provavelmente por meio do bloqueio de mediadores pró-inflamatórios (Delgado e Ganea, 2003). Outra família de peptídeos envolvida na síndrome parkinsoniana é a dos opióides. Constatou-seaumento da transmissão de peptídeos opióides em modelos animais de DP, bem como em pacientes que apresentam discinesias (Delgado e Ganea, 2003). Contudo, o uso de antagonistas de receptores opióides não-seletivos tiveram resultados contraditórios 29 nas espécies de primatas não-humanos e inconclusivos em humanos (Delgado e Ganea, 2003). Com base no que foi discutido acima, fica clara a importância e necessidade da mudança de foco no desenvolvimento de tratamentos farmacológicos para a DP que envolvam mecanismos complementares à L-Dopa ou alternativos. Novos fármacos que possam aliviar os sintomas debilitantes da DP complementando o tratamento dopaminérgico e/ou permitindo o uso de doses ótimas e prolongadas de L-Dopa, sem o desenvolvimento das flutuações motoras, são bem-vindos na clínica, uma vez que podem retardar o aparecimento dos efeitos colaterais promovidos pelo uso prolongado de L-Dopa (Fox et cols., 2008). 1.5. O sistema do Neuropeptídeo S Vários neuropeptídeos têm sido descobertos nos últimos anos por meio da deorfanização de receptores de proteínas G (também chamadas de receptores de proteínas G órfãos), o que tem ampliado a compreensão de funções particulares do cérebro e auxiliado na revelação de novos alvos terapêuticos para disfunções mentais (Civelli e cols., 2001). Xu e colaboradores (2004) descreveram pela primeira vez as funções fisiológicas do Neuropeptídeo S (NPS), ligante endógeno de um receptor acoplado à proteína G denominado de NPSR. O NPS leva esse nome devido à presença de um aminoácido serina (S) na porção amino-terminal da estrutura primária desse peptídeo, que se encontra preservada em várias espécies animais, como mostra a Figura 4. 30 Figura 4. Estruturas primárias do Neuropeptídeo S de humano, chimpanzé, camundongo, rato, cachorro e galinha. Aminoácidos divergentes da sequência humana são mostrados em negrito. O aminoácido serina (S) na porção N-terminal está conservado em todas as espécies que expressam o peptídeo (adaptada de Xu e cols., 2004). Em termos moleculares, a ativação do receptor NPSR causa mobilização de cálcio intracelular, aumento dos níveis intracelulares de AMPc e aumento na concentração intracelular de proteínas quinases fosforiladas (Figura 5; Xu e cols., 2004; Reinscheid e cols., 2005), sugerindo que o NPSR pode sinalizar via proteína Gq e Gs, causando excitabilidade celular. A expressão do RNAm do precursor do NPS no cérebro exibe uma distribuição muito limitada. A maioria dos neurônios que expressam o NPS foi encontrada nas seguintes regiões do tronco cerebral: núcleo sensorial trigeminal, núcleo parabraquial lateral e locus coeruleus (Xu e cols., 2007). Em oposição ao precursor do NPS, o receptor NPSR é amplamente distribuído no cérebro. Altos níveis de expressão do RNAm do NPSR foram encontrados no córtex, núcleo olfatório, tálamo, hipotálamo, amígdala e subiculum (Xu e cols., 2004, 2007). É interessante notar que o receptor NPSR encontra-se expresso moderadamente na substância negra e na área tegmental ventral, o que sugere um papel modulatório desempenhado por este sistema sobre a neurotransmissão dopaminérgica (Xu e cols., 2007). O perfil da expressão do receptor NPSR sugere o envolvimento do sistema NPS-NPSR na regulação de múltiplas funções 31 centrais, a citar: locomoção, sono e vigília, ingestão de alimentos, ansiedade, entre outros (Guerrini e cols., 2009a). Figura 5. NPS e o receptor NPSR. A ligação do NPS ao seu receptor NPSR desencadeia a síntese de AMPc intracelular via proteína G (G) por ativação da adenilil ciclase (AC). Além disso, a interação entre o NPS e o NPSR leva a um aumento significante da concentração de cálcio (Ca2+), devido à ativação de canais de Ca2+ da membrana plasmática e/ou do retículo endoplasmático liso (REL) (adaptada de Pape e cols., 2009). 1.6. Atividades biológicas do Neuropeptídeo S Estudos demonstraram que a ativação do sistema NPS-receptor NPSR promove diminuição de todos os estágios do sono e aumento da vigília, ansiólise e diminuição da ingestão de alimentos, atuando como agente anorexigênico, e pode ainda interferir no sistema de recompensa, induzindo procura por reforço positivo (Xu e cols., 2004; Smith e cols., 2006; Pañeda e cols., 2009). Xu e colaboradores (2004) demonstraram, pela primeira vez, que a administração supraespinhal de NPS 0,1 nmol causou hiperlocomoção em camundongos habituados e não habituados ao ambiente. A duração do efeito hiperlocomotor produzido pela administração icv de NPS foi de aproximandamente 32 uma hora. Estes resultados foram posteriormente confirmados por vários grupos de pesquisa, tanto em camundongos (Roth e cols., 2006; Leonard e cols., 2008; Rizzi e cols., 2008; Okamura e cols., 2008; Castro e cols., 2009; Paneda e cols., 2009) quanto em ratos (Smith e cols., 2006), mostrando que o efeito estimulatório da atividade locomotora é robusto e consistente, apesar das diferentes condições experimentais e das espécies animais empregadas. O envolvimento do receptor NPSR na atividade locomotora foi demonstrado com o uso de dois antagonistas quimicamente não relacionados, o composto não- peptídico SHA 6824 (Okamura e cols., 2008) e o peptídico [D-Val5]NPS (Guerrini e cols., 2009b) e também através do uso em estudos comportamentais de camundongos que não expressam o receptor NPSR (knockout). Ambos os antagonistas foram eficazes em antagonizar o efeito estimulatório do NPS na locomoção, mas não produziram efeito per se na atividade locomotora. Estes achados demonstram que a ação do peptídeo ocorre devido à ativação do NPSR e sugerem que o sistema endógeno não exerce um controle tônico no comportamento motor do animal. Os camundongos knockout para o receptor NPSR foram submetidos a uma bateria de testes comportamentais em uma série de estudos e as diferenças fenotípicas entre estes e camundongos normais foram observadas. Os estudos mostraram que no teste do campo aberto os animais knockout para o receptor NPSR não apresentaram locomoção aumentada após adminsitração de NPS. Fendt e colaboradores (2010), acharam ainda que o comportamento de hiperatividade não desaparecia quando sob administração de cocaína. A conclusão sugerida é que o comportamento de ativação locomotora induzida pelo NPS é exclusivamente 33 dependente do receptor NPSR, porém os animais ainda são capazes de expressar comportamentos hiperlocomotivos como observado após a administração de cocaína. Com o objetivo de testar se a presença do receptor NPSR influencia a atividade motora espontânea dos animais e motivação de exploração, Duangdao e colaboradores (2009) e Fendt e colaboradores (2010) mediram a distância percorrida por camundongos que não expressam o receptor NPSR. Estes estudos demonstraram que os camundongos knockout para o receptor NPSR apresentaram redução na distância percorrida em um ambiente novo quando comparados aos animais selvagens, sugerindo que a sinalização do receptor NPSR modularia tonicamente a locomoção espontânea dos animais, ao contrário do sugerido por Okamura e Guerrini e colaboradores (2008 e 2009b, respectivamente) no teste com antagonistas do receptor NPSR, que não apresentaram atividade per se. Já Ruzza e colaboradores (2012) não observaram diferença na distância percorrida por camundongos que não expressam o receptor NPSR comparados aos animais selvagens. Porém, a linhagem de camundongo knockout utilizada por este último grupo é diferente dos estudos anteriores e foi obtida por meio de sucessivos cruzamentos com a linhagem CD-1, e assim se aproxima comportamentalmente com a linhagem de camundongos utilizada nos experimentos para teste dos antagonistas do receptor NPSR (Ruzza e cols., 2012, Okamura e cols., 2008, Guerrini e cols., 2009b). A vantagem disso é justamente eliminar traços do comportamento da linhagem dos trabalhos supracitadosque podem interferir negativamente nos achados, tais como baixa atividade locomotora e perfil ansiogênico. A conclusão sugerida por Ruzza e colaboradores (2012) para 34 camundongos knockout é que o sistema NPS - receptor NPSR não participa tonicamente do controle da locomoção espontânea dos animais. Em relação aos mecanismos pelos quais o NPS promove hiperlocomoção, alguns estudos in vivo sugerem a participação dos sistemas adenosinérgico, dopaminérgico, e também do sistema peptidérgico do CRF na mediação do efeito hiperlocomotor do NPS em roedores. De fato, considerando que o receptor NPSR encontra-se distribuído em várias áreas cerebrais, incluindo a área tegmental ventral (Xu e cols., 2007), Mochizuki e colaboradores (2010) propuseram que a atividade hiperlocomotora induzida por NPS pode ser mediada pela ativação da via dopaminérgica mesolímbica, através da ativação do NPSR expresso na área tegmental ventral. A injeção intra-área tegmental ventral de NPS causou aumento da atividade locomotora em ratos, que foi significativamente inibida pela pré-administração de sulpiride, um antagonista do receptor D2, no núcleo accumbens. Por meio de microdiálise, foi possível constatar o aumento significativo de metabólitos de dopamina no núcleo accumbens de ratos tratados com NPS na área tegmental ventral. Estes resultados suportam a hipótese de que o NPS ativa o sistema mesolímbico dopaminérgico, presumivelmente através da ativação do receptor NPSR localizado na VTA, estimulando a atividade locomotora dos animais (Mochizuki e cols., 2010). Tendo em vista o papel exercido pelo sistema do NPS na modulação da locomoção espontânea de animais, a expressão do receptor NPSR em núcleos dopaminérgicos, bem como a ação moduladora do sistema do NPS sobre o dopaminérgico, intrinsecamente relacionado à DP, o presente estudo visou a investigar o papel exercido pelo sistema do NPS no prejuízo motor de camundongos induzido por 35 6-OHDA e haloperidol. A presente investigação torna-se bastante atrativa por apresentar possibilidades de ligantes do receptor NPSR atuarem como agentes terapêuticos ou adjuvantes no tratamento da Doença de Parkinson, intensificada ainda pelas vastas limitações que o tratamento prolongado com L-dopa apresenta. 36 2. OBJETIVOS 2.1 Geral O presente estudo investigou os efeitos da administração intracerebroventricular de neuropeptídeo S na coordenação motora e catalepsia de camundongos submetidos a modelos animais de Parkinson. 2.2 Específicos 1) Validar os danos motores causados pela injeção intracerebreoventricular de 6-OHDA, uma neurotoxina dopaminérgica, em camundongos e avaliar os efeitos do tratamento agudo com L-Dopa na reversão das alterações comportamentais causadas pela 6-OHDA; 2) Avaliar os efeitos do tratamento com NPS no prejuízo motor causado da administração intracerebroventricular de 6-OHDA em camundongos. 3) Quantificar o número de células que expressam a enzima TH na substância negra de animais tratados com 6-OHDA por meio da técnica da imunoistoquímica. 4) Validar o prejuízo motor causado pelo tratamento com haloperidol em camundongos e avaliar o efeito do tratamento agudo com L-Dopa na reversão das alterações comportamentais causadas pelo haloperidol; 5) Investigar os efeitos do tratamento intracerebroventricular com NPS no prejuízo motor causado pela administração de haloperidol. 37 3. METODOLOGIA 3.1. Animais Foram empregados camundongos Swiss fêmeas (28-35 g) provenientes do biotério do Departamento de Biofísica e Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram alojados em caixas de polipropileno de dimensões (40 x 34 x 17 cm) contendo, no máximo, vinte por caixa. As caixas foram mantidas em um biotério setorial do departamento de Biofísica e Farmacologia, organizadas em estantes juntamente com outros animais da mesma linhagem. O controle do ciclo claro-escuro foi feito para 12 h, com luzes ligadas às 6 h, e temperatura de 24°C ± 2oC. Os animais receberam livre acesso a comida e água. Os experimentos foram conduzidos pela manhã, entre 8 h e 12 h, numa sala com isolamento acústico e em condições de temperatura e iluminação controladas. Os animais foram mantidos e manipulados conforme a Lei n° 11.714/2008 que regulamenta a experimentação animal no Brasil. O presente estudo foi aprovado para execução segundo o parecer emitido pelo comitê de ética no uso de animais (CEUA) da UFRN (sob o protocolo N°001/2009 e 020/2011). Para a realização deste estudo serão empregados 9 a 12 animais por grupo. 3.2. Drogas e tratamentos Foram utilizadas as seguintes drogas e soluções: 38 Haloperidol®, CRISTÁLIA Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., dissolvido em salina. O haloperidol foi administrado por via intraperitoneal (ip) na dose de 1 mg/kg, de acordo com a literatura (Mabrouk e cols., 2010). Benserazida, Sigma-Aldrich Corporation (St. Louis, MO, EUA), dissolvida em solução salina (0,9%). Administrada ip na dose referente a ¼ da dose de L-Dopa utilizada no experimento. L-3,4-dihidroxifenilalanina (L-Dopa), Sigma-Aldrich Corporation (St. Louis, MO, EUA), dissolvida em carboximetilcelulose 0,5%. A L-Dopa foi administrada por via oral (vo), nas doses de 10, 25, 100 e 400 mg/kg (Marti e cols., 2007, Kobayashi e cols., 1997). 6-hidroxidopamina (6-OHDA), Sigma-Aldrich Corporation (St. Louis, MO, EUA). dissolvido em ácido ascórbico 0,01%. A 6-OHDA foi administrada por via intracerebroventricular (icv) na dose de 50 µg/camundongo, como previamente descrito por Matsuura e colaboradores (1997). Ácido ascórbico, Sigma-Aldrich Corporation (St. Louis, MO, EUA), utilizado como agente antioxidante na solução de 6-OHDA, dissolvido em salina. Nortriptilina, Pamelor®, NOVARTIS Biociências S.A., 30 mg/kg, dissolvido em solução salina (0,9%), de acordo com o estudo de Rodriguez-Diaz e colaboradores (2001). Neuropeptídeo S (NPS), SFRNGVGTGMKKTSFQRAKS, sintetizado pelo Dr. R. Gerrini, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Università di Ferrara (Ferrara, Itália), 39 dissolvido em solução salina (0,9%). Administrado por via icv nas doses de 0,1 e 1 nmol (Xu e cols., 2004). Carboxilmetilcelulose (CMC), Sigma-Aldrich Corporation (St. Louis, MO, EUA), utilizado como solvente para a L-DOPA, dissolvido em solução salina (0,9%). Solução de cloreto de sódio 0,9%, solução salina. O haloperidol, a benserazida e a nortriptilina foram administrados ip no volume de 10 ml/kg. A L-Dopa foi administrada vo, através de uma sonda orogástrica, na mesma proporção de volume/peso do haloperidol. Já o NPS e a 6-OHDA foram injetados icv em um volume de 2 µl. Com o objetivo de inibir a conversão periférica da L-Dopa em dopamina, previamente a todas as administrações desta, foi administrado benserazida ip na dose de um quarto da dose de L-Dopa utilizada no experimento. 3.3. Cirurgia para a implantação da cânula intracerebroventricular Os animais foram anestesiados com uma combinação de ketamina 100 mg/kg e xilazina 10 mg/kg, ambos por via ip. Após verificada a imobilidade e perda de sentidos do animal, este foi conduzido para o aparelho estereotáxico (Insight Equip. Laboratoriais, Ribeirão Preto, SP, Brasil), onde foi imobilizado para a cirurgia. A pele da região craniana foi removida para facilitar a visualização do bregma que serve de ponto de partida para a orientação das coordenadas. Foi feita a assepsia do local com peróxido de hidrogênio (H2O2). Uma cânula-guia de 8 mm de 40 comprimento (25 x 0,70 mm) foi implantada unilateralmente no ventrículo lateral esquerdo (VL) nas seguintes coordenadas: AP -0,6 mm; ML ±1,1 mm; DV -1,0 mm, em relação ao bregma, de acordo com o Atlas de Paxinos e Franklin (2001) para tais coordenadas. A cânula foi fixada com acrílico auto-polimerizável (JET Artigos Odontológicos Clássicos Ltda.,Brasil) e um mandril do tamanho da cânula foi introduzido com o intuito de impedir a oclusão. Todo o procedimento foi executado sob condições de higiene e o local da incisão foi tratado com o agente antisséptico iodo-povidine. Logo após o procedimento cirúrgico, os animais receberam uma injeção subcutânea do antiinflamatório diclofenaco sódico (10 mg/kg, volume 10 ml/kg) e intramuscular do antibiótico tetraciclina (1 mg/kg, volume 0,7 ml/kg), a fim de evitar infecções e atenuar a dor causada pelo procedimento. Após a cirurgia, os animais permaneceram aquecidos sob luz incandescente 60 W até a completa recuperação da anestesia, depois deste período foram reconduzidos ao biotério em caixas de polipropileno contendo até 15 animais, comida e água eram disponibilizadas à vontade por três dias até o início dos testes comportamentais. 3.4. Injeções intraventriculares Os camundongos foram tratados pela via icv com o auxílio de uma agulha (27G) cujo comprimento excede 1 mm a cânula-guia, e que permite a administração do NPS ou 6-OHDA através desta, anteriormente implantada. A agulha estava ligada a um tubo de polietileno (PE-20), conectado a uma microseringa de Halmilton® de 10 µl. A substância era injetada num volume total de 2 µl, numa taxa de 1 µl/min e a agulha foi 41 deixada in situ por mais 30 s, a fim de favorecer a difusão da substância pelo tecido cerebral e evitar o extravasamento. Após o tratamento com a 6-OHDA, os camundongos foram mantidos nas gaiolas por 3 dias até o início dos testes comportamentais. Visando a minimizar a anorexia provocada pela administração de 6- OHDA, uma porção de ração umedecida foi deixada na gaiola até a eutanásia dos camundongos. Para a administração de NPS, os animais foram submetidos ao teste comportamental 15 min após a injeção icv, de acordo com Xu e colaboradores (2004) que observaram efeito do NPS 15 min após sua administração, e que tem duração de até 60 min. No 4° dia depois da cirurgia estereotáxica, os animais foram submetidos à análise comportamental e imunoistoquímica de acordo com os procedimentos descritos abaixo. 3.5. Análise comportamental dos animais Teste do rota-rod A avaliação da coordenação motora dos camundongos foi realizada no teste do rota-rod (AVS Projetos, Ribeirão Preto, SP, Brasil) como previamente descrito por Rozas e colaboradores (1997). O aparelho consiste em uma barra de 3 cm de diâmetro que rotaciona no sentido horário em diferentes velocidades, medida em rotações por minuto (rpm). A barra é elevada da plataforma de apoio em 22 cm. A barra giratória é dividida em 5 compartimentos, de maneira a permitir o teste de mais de um animal simultaneamente. 42 Durante a realização dos testes comportamentais, os camundongos foram colocados na barra giratória do aparelho em condições de aceleração em quatro momentos: três sessões de treino e em uma sessão de teste. As sessões de treino eram realizadas nos dias anteriores à cirurgia estereotáxica e tem o objetivo de fazer com que o animal aprenda a tarefa; foi mantido um intervalo de 24 h entre cada sessão de treino. Nas sessões de treino, os animais foram submetidos ao rota-rod somente em duas velocidades de rotação: 16 e 35 rpm. Nesta condição os camundongos deveriam permanecer na barra giratória por 300 s, para cada uma das velocidades. Ainda nas sessões de treino, caso o animal caísse da barra giratória, o mesmo era imediatamente reconduzido até completar o tempo de permanência de 300 s. Vinte e quatro horas após a última sessão de treino, os animais foram submetidos à sessão de teste no rota-rod. Na sessão de teste, o animal foi conduzido à barra giratória do aparelho na velocidade de 16 rpm e a latência para a primeira queda foi registrada no tempo máximo de 300 s para os experimentos previstos na Etapa I deste estudo (cujo prejuízo motor foi induzido pela 6-OHDA) e 180 s para os experimentos da Etapa II (cujo prejuízo motor foi induzido pelo haloperidol). Tal modificação no protocolo foi requerida devido a considerável melhora no prejuízo motor induzida pela administração de L-Dopa e NPS em animais tratados com 6-OHDA, uma vez que, caso fosse mantido o ponto de corte de 180 s para os experimentos da Etapa I, quaisquer dos tratamentos utilizados neste estudo reverteriam completamente o prejuízo motor induzido pela 6-OHDA, conforme verificado experimentalmente no laboratório. 43 Após a avaliação do desempenho motor na velocidade de 16 rpm, o animal era devolvido à gaiola por 5 min, para descansar, a fim de reduzir a possibilidade da diminuição da latência na barra giratória por fadiga. Depois deste intervalo de repouso, o animal era reconduzido à barra giratória do rota-rod na velocidade de 28 rpm e a latência para a primeira queda nesta velocidade era registrada. Novamente, após avaliação do desempenho motor nesta velocidade, o animal era reconduzido a sua gaiola e após 5 min, deu-se a avaliação do desempenho motor do animal na velocidade de 35 rpm. Este procedimento foi repetido até a barra giratória atingir a velocidade de 58 rpm; ex.: 16, 28, 35, 50, 58 rpm. Em todas as etapas, a latência para a primeira queda da barra giratória foi registrada (em segundos). Após três dias de treino, no quarto dia referente ao dia do teste, o mesmo animal foi avaliado no rota-rod em 3 momentos distintos: em T0, os animais estavam sem nenhum tratamento (linha de base do desempenho motor); em T1, os animais sofreram administração de haloperidol ou 6-OHDA, e o prejuízo motor causado por qualquer uma dessas drogas foi avaliado no rota-rod; em T2, o desempenho motor dos mesmos animais foi avaliado após o tratamento com L-Dopa ou NPS (0,1, ou 1 nmol). Nos experimentos da Etapa I, cujos animais haviam sido tratados por via icv com 6- OHDA, a avaliação do desempenho motor nos tempos T0 e T1 aconteceu com um intervalo de 3 dias entre eles. Este intervalo foi escolhido com base no tempo necessário para indução da ação neurodegenerativa da toxina 6-OHDA sob os neurônios dopaminérgicos (Betarbet e cols., 2002) e, também, com base no menor tempo necessário a fim de detectar danos motores sem perda considerável de peso 44 dos animais e sem prejuízo substancial da saúde dos mesmos (dados apresentados na sessão de resultados). Animais que no terceiro dia após receberem a toxina ainda apresentavam capacidade de permanecer na barra giratória por 300 s na velocidade de 16 rpm não foram considerados para a avaliação comportamental dos efeitos da L-Dopa 25 mg/kg e do NPS 1 e 0,1 nmol. A literatura postula que podem existir diferenças na extensão da lesão provocada pela 6-OHDA devido principalmente ao local da injeção e, também, devido à sensitividade do animal e da espécie (Betarbet e cols., 2002). Assim, os animais que atingiram o limite máximo do tempo na barra giratória (i.e.: 300 s) na velocidade mais baixa do aparelho (i.e.: 16 rpm) foram considerados com lesão da área motora muito pequena ou nenhuma, sendo então excluídos das análises. A porcentagem de exclusão de animais teve média de 54,4%. Quando a latência para cair da barra giratória do rota-rod foi menor que o ponto de corte, 300 s, três medidas da performance do animal foram feitas e o valor considerado foi a média dos três valores individuais. Essa metodologia visa a diminuir a variância obtida entre as medidas para um mesmo animal. Este mesmo procedimento foi adotado por Rozas e colaboradores (1997), que demonstrou ser três o número de medidas por animal mais eficiente e que refletia com mais precisão o desempenho motor dos mesmos. Teste da catalepsia 45 O comportamento cataléptico foi avaliado posicionando o camundongo com as duas patas dianteiras em uma plataforma, elevada 4 cm da base. Foi mensurada a latência (em segundos), em triplicata, em que o animal permaneceu na posição acima descrita, isto é, atéque retirasse as duas patas da barra elevada. O tempo máximo de permanência foi de 180 s. A avaliação do comportamento cataléptico dos animais tratados com haloperidol 1 mg/kg foi realizada 10 min antes da administração deste, como forma de controle do desempenho dos animais, e nos tempos: 10, 30, 60, 90, 120 e 150 minutos após a administração do haloperidol 1 mg/kg. Visando a validar as condições experimentais, os animais receberam L-Dopa 100 mg/kg ou salina, sendo que a administração destes ocorreu 30 min após a injeção de haloperidol 1 mg/kg, quando o comportamento cataléptico já havia se estabelecido, conforme verificado na curva tempo-resposta construída em experimentos anteriores. O tempo de imobilidade observado nos animais tratados com L-Dopa 100 mg/kg ou veículo foi realizado seguindo os mesmos intervalos de tempo descritos para o grupo anterior. O NPS, nas doses de 0,1 e 1 nmol, foi administrado nos animais pré-tratados com haloperidol 1 mg/kg, 30 min após a administração deste último. Quinze minutos depois, a latência para tirar as patas dianteiras da plataforma elevada foi novamente avaliada e, medidas sucessivas do tempo de permanência na postura foram registradas respeitando um intervalo de 30 min entre elas. Nos animais que receberam 6-OHDA ou salina por via icv, a avaliação do tempo de imobilidade na plataforma elevada foi registrada, em três medidas consecutivas realizadas diariamente por animal, no terceiro, quarto e quinto dia após a 46 administração da 6-OHDA ou salina. A média do tempo de imobilidade registrada em cada uma das três avaliações foi calculada. 3.6. Análise morfológica do tecido cerebral Perfusão transcardíaca Depois de anestesiados, os camundongos foram submetidos à perfusão transcardíaca, com solução salina a 0,9% em tampão fostato 0,1 M, pH 7,4. Em seguida, foram infundidos com solução fixadora composta por paraformaldeido 4% em tampão fostato. Nos experimentos onde foi realizada a injeção icv, a localização da cânula foi verificada após a perfusão transcardíaca dos animais e posterior injeção do corante azul de metileno (2 µl) através da cânula implantada intracerebroventricularmente e com o auxílio de um microscópio óptico a localização da cânula foi averiguada. Os animais cuja cânula estava posicionada fora do ventrículo lateral foram desconsiderados das análises estatísticas. Nos experimentos de imunoistoquímica para quantificação dos neurônios da substância negra corados para tirosina hidroxilase, os encéfalos foram retirados três dias após a administração de 6-OHDA e pós-fixados por 2 h na mesma solução fixadora descrita acima. Em seguida, os encéfalos foram colocados em solução de sacarose 30% em tampão fostato, a 4ºC por pelo menos 48 h. Após esta etapa, os encéfalos foram submetidos à microtomia cuja espessura dos cortes foi padronizada em 30 μm. Os encéfalos foram então congelados por gelo seco e seccionados em micrótomo de 47 deslizamento, obtendo-se secções coronais. Os cortes foram guardados em freezer - 20ºC. 3.7. Quantificação dos neurônios da substância negra corados para tirosina hidroxilase Os cortes histológicos foram submetidos à técnica de imunoistoquímica para marcação da enzima tirosina hidroxilase (TH), enzima que inicia o processo de transformação de tirosina em dopamina e outras catecolaminas. Os cortes passaram por um pré-tratamento que consistiu de incubação em peróxido de hidrogênio (H2O2) a 0,3% em tampão fosfato, com Triton X-100 a 0,4% por trinta minutos, com a finalidade de abolir artefatos causados pela liberação de peroxidases endógenas. No início, entre as soluções e ao final desta fase, os cortes foram submetidos a três lavagens de dez minutos cada em solução de tampão fosfato. O próximo passo consistiu na incubação dos cortes em anticorpo primário, isto é, uma solução formada pelo anticorpo anti-TH obtido em camundongo (Sigma, EUA) em diluição de 1:5000, acrescido de soro normal de asno a 2% em Triton X-100 a 0,4% permanecendo em incubação entre 18 e 24 h em rotor com rotação lenta. Ao final deste período, os cortes passaram por três lavagens em tampão fosfato, em agitador orbital e em seguida colocados em contato com o anticorpo secundário anti-camundongo obtido em asno (Jackson) diluído a 1:1000 em tampão fosfato mais Triton X-100 a 0,4% por 120 min à temperatura ambiente, sob agitação lenta, em rotor. Em seguida, os cortes passaram por três lavagens em tampão fostato em agitador orbital e depois colocados na solução do complexo avidina-biotina-HRP (Protocolo ABC, Kit elite da Vector), numa 48 diluição de 1:333 em tampão fosfato por 120 min à temperatura ambiente, sob agitação lenta, em rotor. Terminada esta fase, as secções foram novamente submetidas a três lavagens em tampão fosfato 0,1 M em agitador orbital. Para visualização da reação, as secções foram postas em meio contendo 3,3’,4,4’tetrahidrocloreto-diaminobenzidina (DAB) e H2O2 0,003% por aproximadamente 6 minutos. Para finalizar a reação do cromógeno (DAB) os cortes foram lavados três vezes em tampão fosfato em agitador orbital. Por fim, os cortes foram então montados em lâminas gelatinizadas, que após secas desidratadas, em baterias de álcool de graduação crescente até o álcool absoluto, deslipidificada em xilol e cobertas com lamínulas utilizando DPX como meio de montagem. As secções do mesencéfalo submetidas à imunoistoquímica para TH foram examinadas ao microscópio óptico (Olympus BX41) em campo claro. Imagens digitais foram obtidas dos cortes no nível rostral do núcleo interpeduncular (figura 59 de Franklin e Paxinos, 2008) usando uma videocâmera digital (Nikon DXM1200). Este nível foi escolhido devido ser a área da substância negra com maior quantidade de neurônios TH em camundongos (Nelson e cols., 1996). Várias fotomicrografias foram tirada em grande aumento utilizando o programa Nikon ACT-1 e montadas sem nenhum tratamento no Adobe Photoshop 7.0®. A contagem de neurônios imunorreativos a TH foi feita utilizando o programa Image J (NIH). 3.8. Delineamento experimental 49 Etapa I: Padronização do modelo animal da DP induzido pela administração de 6-OHDA Experimento I e II: Efeito da administração de 6-OHDA no comportamento de camundongos avaliados no teste da catalepsia e do rota-rod Para validar os danos motores causados pela injeção intracerebroventricular de 6-OHDA em camundongos, nas nossas condições experimentais, a toxina foi administrada na dose de 50 µg/camundongo. A administração de 6-OHDA ocorreu um dia depois da implantação da cânula no ventrículo lateral. Uma injeção ip de nortriptilina (30 mg/kg) foi feita nos 30 min anteriores à administração da toxina, para inibir a degeneração de fibras noradrenérgicas centrais. A administração da 6-OHDA ocorreu com os camundongos anestesiados com tiopental 60 mg/kg, a fim de evitar o surgimento de crises convulsivas e morte imediatamente à administração da 6-OHDA como também foi realizado por Rodriguez-Diaz e colaboradores (2001). No experimento I, conforme Figura 6, três dias após a administração de 6- OHDA a avaliação do comportamento cataléptico foi realizada nos três dias consecutivos, sempre no horário matutino. Também como medida associada, foi avaliado o peso corpóreo ao longo dos dias, para acompanhamento da saúde dos animais. 50 Figura 6. Delineamento experimental, etapa I, experimento I. No experimento II, conforme Figura 7, a avaliação do desempenho motor basal (T0) dos animais no teste do rota-rod foi realizada antes da injeção icv de 6-OHDA. Três dias após a administração de 6-OHDA, o desempenho motor dos animais foi testado (T1), a fim de verificar os déficits induzidos pela administração da toxina. A reversão do prejuízo motor induzido pela injeção icv de 6-OHDA no teste do rota-rod foi verificada 30 min após a administraçãode L-Dopa 25 mg/kg por via oral nos animais (T2). 51 Figura 7. Delineamento experimental, etapa I, experimento II. Experimento III: Quantificação de células que expressam TH em camundongos tratados com 6-OHDA por meio da técnica da imunoistoquímica No experimento III, quantificou-se o número de células coradas para a enzima TH no tronco cerebral dos camundongos, através da técnica de imunoistoquímica (Figura 8). Primeiramente, a avaliação do desempenho motor basal (T0) dos animais no teste do rota-rod foi realizada antes da injeção icv de 6-OHDA. Três dias após a administração de 6-OHDA, o desempenho motor dos animais foi testado (T1), a fim de 52 verificar os déficits induzidos pela administração da toxina. No mesmo dia, os animais sofreram eutanásia e deu-se prosseguimento aos experimentos de imunoistoquímica. Para a realização desta série experimental, todos os animais foram considerados, independente do desempenho motor apresentado no teste do rota-rod, de modo a tornar possível a comparação entre o desempenho motor e o tamanho da lesão causada pela 6-OHDA. Figura 8. Delineamento experimental, etapa I, experimento III. Experimento IV: Efeito da administração de NPS na incoordenação motora de camundongos tratados com 6-OHDA 53 A fim de avaliar os efeitos do tratamento com NPS 0,1 e 1 nmol no prejuízo motor decorrente da injeção de 6-OHDA, os camundongos foram treinados no teste do rota-rod e, após os 3 dias de treino, os animais foram submetidos à cirurgia estereotáxica para implantação de uma cânula no ventrículo lateral. Vinte e quatro horas depois, ocorreu a avaliação do desempenho motor destes animais no teste do rota-rod (T0) e, em seguida, os animais foram tratados por via icv com a 6-OHDA. Três dias após a administração da 6-OHDA, o dano motor induzido pela neurotoxina foi avaliado no teste do rota-rod (T1). Ao final da avaliação comportamental, os animais foram tratados por via icv com NPS 0,1 ou 1 nmol e, após 15 min, os animais foram submetidos à uma nova análise de desempenho motor no rota-rod (T2; Figura 9Figura 9). 54 Figura 9. Delineamento experimental, etapa I, experimento IV. Etapa II: Padronização do modelo animal da DP induzido pela administração de haloperidol Experimento I e II: Efeito da administração de haloperidol no comportamento de camundongos avaliados no teste da catalepsia e do rota-rod Com o objetivo de avaliar os efeitos comportamentais induzidos pela administração sistêmica de haloperidol, camundongos foram tratados com esta droga na dose de 1 mg/kg e os déficits motores foram mensurados no teste da catalepsia e 55 do rota-rod. Além disso, o efeito da administração de L-Dopa sob o déficit motor induzido pelo haloperidol foi avaliado nas nossas condições experimentais. No experimento I, conforme Figura 10Figura 10, após a administração de haloperidol, a avaliação do comportamento cataléptico foi realizada ao longo dos 150 min de observação. A administração de L-Dopa 100 mg/kg, por via oral, foi realizada 30 min após o tratamento com haloperidol. 56 Figura 10. Delineamento experimental, etapa II, experimento I. No experimento II, o desempenho dos animais no teste do rota-rod foi avaliado em camundongos anteriormente à administração de haloperidol 1 mg/kg (T0). A fim de determinar o prejuízo motor induzido por haloperidol, 30 minutos após a injeção ip 57 desta droga, o comportamento dos animais foi novamente avaliado no teste do rota- rod (T1). Logo após a avaliação do desempenho motor no tempo T1, L-Dopa 100 ou 400 mg/kg foi administrada oralmente e o tempo de permanência na barra giratória no rota-rod foi avaliado após 60 min (T2) para cada uma das seguintes velocidades, 16, 28, 35, 50, 58 rpm (Figura 11). Figura 11. Delineamento experimental, etapa II, experimento II. 58 Experimento III e IV: Efeito da administração de NPS no décifit motor de camundongos tratados com haloperidol Para avaliar os efeitos do tratamento intracerebroventricular com NPS 0,1 ou NPS 1 nmol no déficit motor induzido pela administração de haloperidol 1 mg/kg, camundongos foram canulados intracerebroventricularmente e, no dia do teste, o tempo de imobilidade na plataforma elevada foi avaliado 10 min antes da administração do haloperidol e, em medidas sucessivas, até 30 min após o haloperidol. O NPS 0,1 ou 1 nmol foi administrado por via icv e, 15 minutos após, o comportamento dos animais foi avaliado no teste da catalepsia, sendo os mesmos observados por até 90 min após o tratamento com NPS (Figura 12). 59 Figura 12. Delineamento experimental, etapa II, experimento III. A fim de avaliar os efeitos do tratamento com NPS 0,1, NPS 1 nmol ou NPS 1 nmol + L-Dopa 10 mg/kg no prejuízo motor induzido por haloperidol, os camundongos foram treinados no teste do rota-rod e, após os 3 dias de treino, os animais foram 60 submetidos à cirurgia estereotáxica para implantação de uma cânula no ventrículo lateral. Três a cinco dias depois, a avaliação do desempenho motor destes animais foi realizada no teste do rota-rod (T0) e, em seguida, os animais foram tratados por via ip com haloperidol. Trinta min após a administração do haloperidol, o dano motor induzido foi avaliado no teste do rota-rod (T1). Ao final da avaliação comportamental, os animais foram tratados por via icv com NPS 0,1 ou 1 nmol e, após 15 min, foram submetidos à nova análise de desempenho motor no rota-rod (T2; Figura 13). Figura 13. Delineamento experimental, etapa II, experimento IV. 61 Para o teste da associação L-Dopa 10 mg/kg e NPS 1 nmol, após a medida no rota-rod do dano motor induzido por haloperidol (T1) os animais foram tratados por via oral com L-Dopa 10 mg/kg e após 45 min, foi administrado NPS 1 nmol icv e, após 15 min, os animais foram submetidos à nova análise de desempenho motor no rota- rod (T2; Figura 14). Figura 14. Delineamento experimental, etapa II, experimento IV. 62 3.9. Análise estatística Os dados foram apresentados como média ± erro padrão da média. As curvas de desempenho motor dos animais no teste do rota-rod, obtidas a partir do registro do tempo de permanência na barra giratória do aparelho, ao longo das diferentes velocidades, foram avaliadas estatisticamente a partir da determinação da área sob a curva (AUC) e na sequência pelo teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. A análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas de um fator foi feita seguida pelo teste post-hoc de Newman-Keuls. Ainda no teste do rota-rod, a porcentagem de desempenho motor foi calculada divindindo-se a área sob a curva da performace motora de cada animal tratado com 6-OHDA ou haloperidol e subsequentemente injetado com NPS ou L-Dopa, pela área sob a curva do desempenho motor do mesmo animal tratado apenas com 6-OHDA ou haloperidol. Para os dados obtidos no teste da catalepsia induzida pelo haloperidol e subsequente administração de L-Dopa 100 mg/kg foi realizado teste t de Student. Ainda para os dados da catalepsia induzida pelo haloperidol e subsequente administração de NPS (0,1 e 1 nmol) foi realizado teste de ANOVA de um fator. Os dados das correlações foram submetidas ao teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. Foram realizados os testes de correlação paramétrico de Pearson para a comparação da AUC e quantidade de células que expressam TH e o teste não-paramétrico de Spearman para avaliar a correlação entre a AUC e o tempo de imobilidade assumida pelos mesmos animais no teste da catalepsia. 63 O nível de significância assumido neste estudo foi para valores de p≤0,05. Para a realização das análises estatísticas empregadas neste estudo foram utilizados os softwares GraphPad Instat 3.06. 64 4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.1 Etapa I: Padronização do modelo animal da DP causado pela
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