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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PUBLICIDADE E PROPAGANDA TALITA GOUVEIA GUEDES LELE BURNIER E GET READY WITH ME: AÇÕES DE HIPER-RITUALIZAÇÃO NO TIKTOK NATAL/RN 2022 TALITA GOUVEIA GUEDES LELE BURNIER E GET READY WITH ME: AÇÕES DE HIPER-RITUALIZAÇÃO NO TIKTOK Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito obrigatório para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador: Breno da Silva Carvalho NATAL/RN 2022 TALITA GOUVEIA GUEDES LELE BURNIER E GET READY WITH ME: AÇÕES DE HIPER-RITUALIZAÇÃO NO TIKTOK Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito obrigatório para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador: Breno da Silva Carvalho Monografia apresentada e aprovada em 08 de dezembro de 2022 BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Breno da Silva Carvalho (Orientador) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Raquel Assunção Oliveira Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Issaaf Karhawi Universidade de São Paulo – USP DEDICATÓRIA De antemão, dedico este projeto a todos que me apoiaram e foram essenciais para a conclusão dele. Sem vocês, que estão diariamente comigo, eu não teria conseguido. Dedico também o projeto ao meu orientador Dr. Breno Carvalho, que esteve comigo durante toda a execução dele. Foi quem me ensinou e me ajudou a clarear minhas ideias e caminhos para desenvolver o melhor trabalho possível, me apresentando obras incríveis. Em terceiro lugar, dedico o projeto a todo o Departamento de Comunicação da UFRN, local que me acolheu e ensinou tanto durante esses 5 anos de graduação. Dedico o projeto a empresa júnior, 59mil, a todos os professores e aos servidores do Decom. Por último, este projeto é dedicado à comunidade que acredita que a moda é uma forma de expressão. Espero que este trabalho possa levantar a discussão sobre a influência do TikTok, em especial a influenciadora Lele Burnier, no consumo de marcas de luxo e, sobretudo, em permitir que a moda seja libertadora e autêntica. AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço àqueles que estiveram comigo desde sempre, minha família. Em especial a: Maria do Socorro Gouveia Guedes, Temistocles Guedes da Silva e Tales Gouveia Guedes. Este trabalho prova que o esforço de vocês para me proporcionar a melhor educação possível valeu a pena. Obrigada por todo o suporte! Agradeço também ao meu professor orientador, Breno Carvalho, por ter me acompanhado e orientado desde o início do projeto, quando eu tinha somente ideias nebulosas e o desejo de escrever sobre moda e uma influenciadora. Eu não poderia ter escolhido melhor orientador para o meu trabalho. Obrigada pela paciência e por todas as orientações, ensinamentos, textos e trocas! Tenho muito orgulho e sou muito grata por ter acesso à educação pública de qualidade proporcionada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sei que a universidade atualmente passa por dificuldades, lutando contra o sucateamento e a decrescente gradual de autonomia. Por isso, não tenho receio de enaltecer o carinho e respeito que tenho pela UFRN, que foi minha casa por 5 (desafiadores) anos e que tanto me ensinou. Agradeço à instituição e, especialmente, ao Departamento de Comunicação Social, o querido DECOM. Gratidão a todos os professores que tive a honra de ser aluna. Também preciso agradecer à 59mil – Empresa Júnior de Publicidade e Propaganda, local que foi uma família para mim por 3 anos. A 59mil me permitiu construir uma rede de networking enorme, estreitar relações e aprender muito sobre o mercado de publicidade na prática, branding, comunicação e empreendedorismo. Mas não só isso, também aprendi sobre trabalho em equipe, liderança, gestão e tantos outros aprendizados que vão me acompanhar ainda durante o desenrolar da minha carreira. Foi na 59mil que me apaixonei verdadeiramente pela comunicação, desenvolvi um carinho pelas áreas profissionais que gostaria de seguir e aprendi que algumas práticas precisam ser extintas do mercado de trabalho. Sou muito grata à 59mil e ao Movimento Empresa Júnior como um todo. Por fim, mas não menos importante, agradeço também àqueles que estão comigo no dia a dia, de perto ou de longe, e que me ajudaram a tornar os meus dias um pouco mais leves: meus amigos e companheiros. Em especial, quero agradecer a: Douglas Moreira de Carvalho, Jéssica Hosokawa de Alencar, Letícia de Oliveira Araújo, Piettra Suianne Rocha de Mendonça, Laís Holanda, Aline Barbosa, Bruna Lavínia Cortez Diniz, Cleidson Daniel Bernardo da Silva, Mônica Nóbrega Pimentel, Ana Júlia Mendes da Silva, Priscila Raquel Gurgel de Andrade, Lucas Vitor Alves do Nascimento, Larissa de Souza Silva, Breno Figueiredo Souza. Muito obrigada por sempre me apoiarem, por acreditarem em mim e por todas as palavras de carinho. Em especial, agradeço ao meu namorado, Douglas Moreira de Carvalho, que sempre me encheu de incentivos, confiança e amor e deixou meus dias mais leves, fáceis e engraçados, sem o apoio dele, esse trabalho provavelmente não existiria, obrigada meu amor. Esta é a minha última entrega para o curso Comunicação Social - Publicidade e Propaganda e eu não poderia estar mais grata por minhas escolhas e caminhos percorridos até aqui. Quando se aceita que o universo é algo que se expande rumo a um infinito a partir do nada, usar listrado com xadrez fica fácil - Albert Einstein RESUMO O presente trabalho objetiva desenvolver uma análise acerca da influência de Lele Burnier, através da rede social TikTok, no consumo de marcas de luxo por jovens da Geração Z. Para realização do estudo, recorreu-se à revisitação das categorias de hiper-ritualização de Erving Goffman (1979), acompanhada de uma análise sobre o branding das marcas de luxo e sua relação com a Geração Z, além de um estudo sobre o surgimento dos influenciadores, mais especificamente na plataforma citada, apoiada na produção de Issaaf Karhawi (2021, 2022). Para o desenvolvimento da análise, foram selecionados cinco vídeos de Burnier para observação detalhada a respeito dos elementos que os compõem. Com isso, foi possível discorrer sobre esse poder de influência da Lele sobre jovens e o consumo de marcas de luxo a partir de um novo olhar, pautado na ritualização, com base na reformulação das categorias de Goffman (1979). Palavras-chave: Lele Burnier; Marcas de Luxo; Hiper-ritualização; Branding; TikTok. ABSTRACT The current project aims to develop an analysis about the influence, through the TikTok social network, of Lele Burnier on the consumption of luxury brands by Generation Z youth. Goffman (1979), accompanied by an analysis of the branding of luxury brands and their relationship with Generation Z, in addition to a study on the emergence of influencers, more specifically on the aforementioned platform, based on the production of Issaaf Karhawi (2021, 2022 ). For the development of the analysis, five Burnier videos were selected for detailed observation regarding the elements that compose them. With this, we have the opportunity to discuss Lele's power of influence on young people and the consumption of luxury brands from a new perspective, based on ritualization, starting from the point of view of the reformulation of categories by Goffman (1979). Keywords: Lele Burnier; Luxury Brands; Hyper-ritualization; Brand management; TikTok. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 – Filmes selecionados para análise………………………………………. 15 Figura 1 - Collab Adidas e Gucci……………………………………………………… 22 Figura 2 - Collab Nike e Louis Vuitton……………………………………………….. 22 Figura 3 - Mochila Louis Vuitton………………………………………………………. 26 Figura 4 - Instagram Diet Prada……………………………………………………….27 Figura 5 - Instagram Diet Prada……………………………………………………… 27 Quadro 2 – Categorias de hiper-ritualização de gênero…………………………… 31 Quadro 3 - Novas categorias………………………………………………………….. 31 Figura 6 - Sapatos Versace e Miu Miu……………………………………………….. 35 Figura 7 - Bolsa Dior……………………………………………………………………. 35 Figura 8 - Closet Lele Burnier………………………………………………………….. 37 Figura 9 - Lele com bolsa da Dior…………………………………………………….. 39 Figura 10 - Princesa Diana….…………………………………………………………..39 Figura 11 - Look com bota prata da Zara……………………………………………. 40 Figura 12 - Look comemoração de um milhão de seguidores…………………….. 41 Figura 13 - Cenário filme 3…………………………………………………………….. 41 Figura 14 - Look Baile da Vogue………………………………………………………. 42 Figura 15 - Look filme 1………………………………………………………………… 43 Figura 16 - Look filme 5………………………………………………………………… 44 Figura 17 - Look avaliado pela Forbes……………………………………………….. 44 Figura 18 - Linha com a Umore……………………………………………………….. 45 Figura 19 - Confiança de Lele em seus vídeos……………………………………… 46 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………12 1.1 PARÂMETROS METODOLÓGICOS ……………………………………………14 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE GERAÇÕES, BRANDING E REDES SOCIAIS ……19 2.1 BRANDING E MARCAS DE MODA DE LUXO …………………………………23 2.2 REDES SOCIAIS: BREVE HISTORICIZAÇÃO E PREMISSAS ATUAIS ……28 3 A HIPER-RITUALIZAÇÃO NO DIGITAL ……………………………………………...31 3.1 AUTENTICIDADE DE LELE BURNIER …………………………………………33 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………….48 REFERÊNCIAS …………………………………………………………………………….50 12 1 INTRODUÇÃO Os primeiros influenciadores a surgir foram pessoas que já possuíam um bom público: os famosos. Com o passar do tempo, novas pessoas foram ganhando destaque no ramo e sendo cada vez mais percebidas pelas marcas. Hoje, há influenciadores que utilizam redes sociais específicas para veicular seu conteúdo e também possuem nichos definidos, como moda, empreendedorismo, saúde, entre outros. Na atualidade, muitas pessoas trabalham exclusivamente com essa criação de conteúdo, chamadas de creators ou influencers. Com a demanda surgindo, também temos empresas de propaganda que trabalham apenas com a construção de estratégias para esses criadores de conteúdo, visando um alcance maior de público e, consequentemente, das marcas. Voltando no tempo, por volta de 2005, no mundo da moda, observa-se o surgimento das blogueiras. Algumas meninas e mulheres utilizavam e seguem utilizando blogs ou outras redes sociais para compartilhar dicas de moda, estilo, pensamentos e considerações sobre marcas, produtos e serviços. Com o tempo, essas blogueiras passaram a ganhar legitimidade e credibilidade frente às suas leitoras, que passavam a ver o blog como um espaço íntimo e de confiança, em que tinham uma amiga virtual pronta para ouvi-las e aconselhá-las. A primeira blogueira de moda do Brasil foi Camila Coutinho, dona do blog Garotas Estúpidas1. A recifense de 35 anos criou seu blog em 2006 e em 2013 ele foi eleito como o quarto blog de moda mais influente do mundo segundo o ranking Signature 9 (YAHN, 2013). Camila diz que gostava de ler blogs de pessoas de outros países e pensou em criar um espaço do tipo. Hoje, Coutinho ainda possui a página, mas investe em outras plataformas, como YouTube e Instagram, para veicular seus conteúdos. O crescimento e a consolidação desse nicho provocou o surgimento e a profissionalização das blogueiras – futuramente, influenciadoras digitais. Até o segmento ser considerado uma profissão de fato, foi um longo caminho. As blogueiras já tinham a confiança de suas seguidoras e seguidores, compartilhando sobre si mesmas, o mercado e suas opiniões. Quando as marcas passaram a 1 Disponível em: https://www.garotasestupidas.com/ Acesso em: 30 nov. 2022. https://www.garotasestupidas.com/ 13 reconhecê-las como figuras importantes e influentes, elas começaram a frequentar desfiles, premiações e outros eventos. Em 2009, o The New York Times publicou a matéria Blogueiras invadem a primeira fila da moda (WILSON, 2009) e a revista Elle também registrou o acontecimento. Porém essa presença gerou reações contraditórias: ao mesmo tempo em que as novas profissionais representavam criatividade e sucesso, elas também eram marcadas por serem consideradas fúteis e superficiais (KARHAWI, 2021). [...] Essas respostas positivas e negativas são resultado da exposição excessiva a que essas jovens estão sujeitas diariamente como resultado de sua profissão. No entanto, esta é uma tendência não restrita às blogueiras de moda, mas compartilhada pela nossa sociedade hoje; a exposição excessiva do eu está atrelada à tendência – que já vivemos – de espetacularização do self (KARHAWI, 2021). O que antes era considerado um passatempo e por muitos foi tido como algo enfadonho, ocasional e despretensioso, agora ganhava reconhecimento e passava a ser símbolo de geração de renda e lucratividade. As blogueiras, acostumadas a compartilhar o que estavam vestindo ou a demonstrar suas opiniões, agora eram fonte de inspiração e formadoras de opinião. Os blogs de moda passaram a dominar veículos de comunicação e mídias que falam sobre moda, além de todo o mundo online. A partir de então, muitas blogueiras começaram a acessibilizar a moda para seu público, surgiram outros formatos de corpos – diferentes da magreza extrema apresentada nas passarelas, apesar de muitas delas replicarem esse padrão – e novos referenciais, como os apresentados por Rita Carreira, modelo preta e plus size, e Pequena Lo, humorista e pessoa com deficiência (PCD) entre outras(os). Toda essa novidade provocou mudanças no mercado. Agora as marcas possuem um novo meio de apoio e uma nova forma para chegar cada vez mais próximo de seu público. Ao mesmo tempo, correm o risco de afastar as pessoas caso determinada pessoa influenciadora não goste do seu produto ou tenha uma má experiência com a marca. Em todo caso, as blogueiras de moda provocam uma revolução no que diz respeito à comunicação das marcas. É a partir deste cenário midiático que se identifica a presença de Alexandra (Lele) Burnier, influenciadora de moda no TikTok – canal onde ela já acumula mais de 2.5 milhões de seguidores, além de contabilizar 690 mil no Instagram. A 14 influencer tem 26 anos, mora no Rio de Janeiro e foi uma das responsáveis por difundir a trend Get Ready With Me (GRWM – em português, "arrume-se comigo") e influenciar outros usuários da rede a postarem o mesmo tipo de vídeo. Lançada no exterior e já realizada no YouTube – reconhecidamente, um sucesso –, a ação "arrume-se comigo" permite que as pessoas, em sua maioria mulheres, passem a compartilhar os seus processos de arrumação com roupas e acessórios, geralmente oferecendo possibilidades ao público, como se este pudesse exercer alguma influência na decisão de escolha dos itens. Na realidade, os espectadores podem conhecer as opções a serem escolhidas, tendo acesso ao traje finalizado quando o vídeo vai ao ar. Uma das pioneiras em vídeos desta natureza no TikTok, Lele Burnier começou a compartilhar seus processos de arrumação com seus seguidores. Estes começaram a crescer cada vez mais dentro da plataforma, movimento que chamou atenção de marcas anunciantes. O processo constitutivo desses vídeos pela influenciadora é o objeto de estudo da presente monografia. Assim, o objetivo é construir uma análise acerca da imagem construída por Lele Burnier e aspectos de sua comunicação nos vídeos de “Arrume-se comigo” na plataforma do TikTok, a fim de legitimar sua influência entre seguidores interessados no consumo de marcas de luxo. Justifica-se uma análise como esta por permitir que esse segmento em ascensão, tanto o TikTok quanto a temática “Arrume-se comigo”, seja visto como fator alavancador para o branding de marcas de luxo, que necessitam de adaptações para avançar e conquistar novos clientes, como a Geração Z, por exemplo. Além disso, é notório o crescimento da Lele Burnier e de seu poder de influência não só sobre seus seguidores, mas também sobre outros criadores deconteúdo do mesmo segmento na plataforma. 1.1 PARÂMETROS METODOLÓGICOS A monografia recorre à elaboração de um projeto etnográfico em redes sociais (ZANINI, 2016) a partir da identificação de vídeos da ação "arrume-se comigo", publicados no perfil de TikTok de Lele Burnier ao longo de 2021 e 2022. Para efeito de análise, foram selecionados seis filmes produzidos pela influenciadora 15 em decorrência da sua participação em eventos, datas comemorativas ou com foco em peças estratégicas do seu vestuário. Quadro 1 – Filmes selecionados para análise Vídeo Data de Publicação Link 1 Estreia do sapato da Miu Miu 22/10/2021 https://vm.tiktok.com/ZMFyp7 wD2/ 2 Aniversário - bota prata e blazer verde 28/01/2022 https://vm.tiktok.com/ZMFyp7J kR/ 3 Comemoração de 1 milhão de seguidores 30/01/2022 https://vm.tiktok.com/ZMFypX wws/ 4 Baile da Vogue 29/04/2022 https://vm.tiktok.com/ZMFysJt mC/ 5 Saia de tule com bota 27/08/2022 https://vm.tiktok.com/ZMFyps2 xg/ 6 Ida ao teatro - mix de estampas 06/10/2022 https://vm.tiktok.com/ZMFyps Wqr/ Fonte: A Autora (2022) O desenvolvimento da análise é feito com o auxílio de Carrera (2019) e suas considerações a respeito das hiper-ritualizações no contexto digital, utilizando como preceitos a noção de gênero e as contribuições de Erving Goffman (1979) em sua confluência com a ciberpublicidade – aqui compreendida como uma apropriação das potências da conjuntura cultural da atualidade, que se hibridiza com as novas tecnologias para a criação de novas práticas estratégicas de enunciação persuasiva (CARRERA, 2019). Segundo a autora, Goffman (1979), em sua obra Gender Advertisements, buscou perceber as ritualizações do comportamento social mediadas pelos objetivos da publicidade, como sintetiza no trecho a seguir: O pressuposto inicial de Goffman em Gender Advertisements reside na acepção de que qualquer produção imagética revela um processo de dramatização. Isto é, qualquer fotografia, seja ela publicitária ou para circulação particular, obedece a processos de construção similares, nos quais uma ação narrativa se desenvolve; o local fornece elementos contextuais, assim como os modelos e os adereços utilizados; e ainda são inferidos um antes e um depois no momento da leitura da imagem (CARRERA, 2019, p. 24). https://vm.tiktok.com/ZMFyp7wD2/ https://vm.tiktok.com/ZMFyp7wD2/ https://vm.tiktok.com/ZMFyp7JkR/ https://vm.tiktok.com/ZMFyp7JkR/ https://vm.tiktok.com/ZMFypXwws/ https://vm.tiktok.com/ZMFypXwws/ https://vm.tiktok.com/ZMFysJtmC/ https://vm.tiktok.com/ZMFysJtmC/ https://vm.tiktok.com/ZMFyps2xg/ https://vm.tiktok.com/ZMFyps2xg/ https://vm.tiktok.com/ZMFypsWqr/ https://vm.tiktok.com/ZMFypsWqr/ 16 Segundo Goffman (1979), há seis categorias de hiper-ritualização de gênero, que, segundo ele, são tão importantes para o propósito de interpretar um anúncio publicitário quanto para a intenção de enfrentar um local público. A primeira categoria é a Relative Size (Tamanho Relativo) é referente ao tamanho relativo dos personagens na cena fotográfica. Segundo Goffman (1979), essa disposição, será de acordo com o poder, autoridade, obrigações e renome do personagem. Assim, as fotografias publicitárias utilizam da altura para representar uma lógica de poder entre as partes envolvidas – principalmente, entre os gêneros. A segunda categoria é a Feminine Touch (Toque Feminino) se refere ao toque feminino como algo delicado, gentil e comovente. Goffman (1979) afirma que as mulheres são colocadas em cena usando os dedos e as mãos para delinear os contornos de um objeto ou para acariciar a superfície. Segundo Carrera (2019), o toque sutil da mão feminina seria um ritual para distinguir um ato mais utilitário, que agarra e manipula algo. A terceira categoria acerca da publicidade na análise de Goffman (1979), denominada Function Ranking (Ranking de Função), diz respeito às representações funcionais dos homens e das mulheres na cena, geralmente colocando o homem em posição superior, agindo como quem ensina, tutora ou chefia. Carrera (2019) afirma que essa hierarquia está presente, normalmente, em contextos ocupacionais específicos, como um hospital ou ambiente executivo. Segundo a autora, essa ideia de hierarquia também é representada entre adultos e crianças, a qual é destacada pelo comportamento corporal com a predominância de uma certa ignorância infantil. A quarta categoria é The Family (A Família). De acordo com Goffman (1979), nos anúncios publicitários facilmente encontramos o núcleo familiar, uma das bases da organização social. Geralmente, ela é representada pelo casal com dois filhos, um menino e uma menina, com a cena buscando exibir um vínculo especial entre a mãe e a menina, além do pai com o menino. Segundo Carrera (2019), a figura paterna é frequentemente representada fora do círculo físico dos outros membros da família. A quinta categoria é The Ritualization of Subordination (Ritualização de Subordinação), reunindo formas de demonstrar deferência em situações sociais. De acordo com Goffman (1979), os anúncios utilizam deste artifício com bastante frequência, colocando os personagens da cena abaixados ou em níveis mais baixos, utilizando também de alguns objetos que reforçam essa ideia de subordinação. Em 17 contraponto, quando o personagem está em um local elevado, simboliza também estar elevado socialmente. Além disso, para Goffman (1979), há outras formas de demonstrar subordinação – o sorriso, por exemplo, é uma das principais maneiras ao representar abertura e cordialidade. A sexta e última categoria é Licensed Withdrawal (Licença para Ausência), na qual mulheres, mais do que homens, são representadas como dependentes de proteção ou boa vontade de outros. De acordo com Carrera (2019), a resposta emocional das mulheres nessa posição é a perda de controle sobre a expressão facial, levando à cobertura da boca pelas mãos. Segundo o autor, há um processo de dramatização das produções imagéticas, publicitárias ou não, com uma ação narrativa que é desenvolvida. Então, percebe-se que os vídeos de Lele Burnier são cenas, representações de "'eventos’ acontecendo” (GOFFMAN, 1979, p. 15), sejam eles uma representação pessoal dela própria ou da publicidade de sua imagem – mesmo que materializadas no ambiente digital, como o TikTok ou outras plataformas. A fim de avançar nesse processo analítico, esta monografia estrutura-se a partir dos seguintes conteúdos: no Capítulo 2, intitulado Considerações sobre Gerações, Branding e Redes Sociais, discute-se fundamentações importantes para a análise, como a relação do branding com as marcas de luxo e aborda-se, consequentemente, a relação entre as gerações e o consumo de marcas de luxo. Esta discussão permite ainda que se dê atenção às redes sociais e a formação dos influenciadores, sobretudo no TikTok. No Capítulo 3, A Hiper-ritualização no Digital, realiza-se a principal análise a partir da adaptação das categorias de hiper-ritualização de Goffman (1979) e a seleção de seis vídeos da página do TikTok da influenciadora Lele Burnier. Discute-se a formação do branding de Lele, explorando os elementos presentes em seus conteúdos e como ela apresenta itens de marcas de luxo à uma geração jovem que a acompanha. Por fim, nas Considerações Finais, relembra-se o objetivo inicial e como ele foi desenvolvido ao longo do trabalho. Além disso, retomam-se as categorias de hiper-ritualização de Goffman (1979) e como elas foram renovadas para analisar o meio digital. Mais especificamente a autenticidade (KARHAWI, 2022) de Lele Burnier, a "dramatização" de sua produção imagética frente às câmeras e como isso 18 lhe permite um diálogo mais próximo com jovens da Geração Z, tendo o TikTok como a plataforma ideal para essa dinâmica. 19 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE GERAÇÕES, BRANDING E REDES SOCIAIS Hoje, nos anos 2020, temos como dominantes na população a Geração Y (também conhecidos como Millennials, Geração do Milênio ou Geração da Internet), nascidos entre1981 e 1996, e a Geração Z (Gen Z, iGeneration, Plurais ou Centennial), nascidos entre 1997 e 2009, e elas estão se voltando cada vez mais para o mercado de luxo (KOTLER et al, 2021). O comportamento dos Millennials é muito influenciado pela criação que tiveram e pelo ambiente tecnológico que puderam ter acesso durante o seu desenvolvimento. Isso provocou uma geração capaz de realizar multitarefas, pela facilidade de receber estímulos simultâneos, além de serem questionadores, buscando entender suas motivações e por quês. Já os Centennials, por serem a primeira geração totalmente conectada, são caracterizados por serem muito práticos, realistas e buscarem realizar as suas necessidades financeiras (KOTLER et al, 2021). O consumo de marcas de luxo está crescendo cada vez mais nestas gerações, porém, o que observamos é não apenas jovens de classe alta adquirindo esses produtos, mas, principalmente, aspirantes à classe média. O estilo de vida consumista está em ascensão e as pessoas buscam cada vez mais copiar estilos de vida de outras pessoas. Sentimos uma ânsia por imitar o comportamento e o estilo de vida de outros, principalmente aqueles que parecem estar vivendo vidas mais empolgantes, por conta do FOMO (o medo de ficar de fora). As expectativas pessoais passaram a ser definidas por um ambiente social que nos influencia e motiva o tempo todo a buscar objetivos mais altos (KOTLER, SETIAWAN E KARTAJAYA, 2021, p. 79). Além dessa ânsia por copiar camadas sociais mais altas, os consumidores sentem uma grande necessidade em adquirir os produtos de forma rápida, em pré-lançamentos, principalmente devido ao “medo de ficar de fora”. Como afirma Kotler, Setiawan e Kartajaya (2021) em sua obra Marketing 5.0: Usando as redes sociais como ferramenta de comparação, os consumistas aspiram a subir os degraus e copiar aqueles nas camadas sociais mais altas. Na maioria das vezes adotantes iniciais, apressam-se a comprar produtos recém-lançados. Seus feeds nas redes sociais se tornam um diário de suas experiências com marcas. O “medo de ficar de fora” (FOMO, do inglês fear of missing out) em muitos casos os assombra e influencia suas decisões de compra e prioridades na vida. O mantra é “Só se vive uma vez” 20 (YOLO, do inglês you only live once). Por isso, saem gastando. (KOTLER, SETIAWAN E KARTAJAYA, 2021, p. 53). Segundo uma pesquisa realizada pela empresa de serviços de pagamento Klarna2 (2022), em colaboração com a agência de pesquisa Dynata, a Geração Z (63%) e Millennials (63%) compraram mais artigos de luxo do que os mais velhos (45% para Geração X e 25% para Baby Boomers) nos últimos 12 meses. Isso acontece, principalmente, com a transição de marcas de luxo (e tradicionais) para o mercado digital. A pesquisa foi realizada na França e em mais quatro países e ainda assim são números relevantes para o entendimento do consumo de mercado de luxo mundial, afinal, o país é um dos berços desse tipo de consumo. A Geração Z, “por ter adotado a internet muito precocemente, enxerga o mundo digital como uma extensão contínua do mundo físico” (KOTLER et al., 2021, p. 54), dessa forma, as marcas precisam ser verdadeiras e não utilizar imagens editadas para agradar esse público. A Geração Z espera das marcas que elas entreguem conteúdo, ofertas e experiências de consumo personalizadas. Esses consumidores de marcas de luxo exigem adaptações na comunicação e persuasão. Um estudo intitulado The State of Smooth: Unpacking Luxury in 2022 (KLARNA, 2021) afirma que oito em cada dez consumidores de luxo acreditam que o comprometimento de uma marca com inovação e novas tecnologias como um fator decisório de compra e mais de 30% deles prefere realizar compras de luxo através de aplicativos online. Isso implica na exigência da presença das marcas nas redes sociais, e não basta apenas estar presente, precisa ser inovadora, criativa e oferecer experiências ao seu público. Outro ponto de destaque quanto ao consumo de marcas de luxo por jovens é em relação à sustentabilidade. Essas gerações acreditam que consumir produtos é um investimento devido à qualidade dos materiais e a atemporalidade de algumas peças, em síntese, “comprar menos, comprar melhor”. Observa-se também, além da sustentabilidade financeira, considerando que estamos falando de pessoas que almejam alcançar uma classe mais alta, uma grande preocupação com a sustentabilidade ambiental. De acordo com uma pesquisa intitulada True-Luxury Global Consumer Insight, apresentada pelo Boston Consulting Group (BCG), esses consumidores jovens 2 A pesquisa de luxo da Klarna foi realizada em colaboração com a agência de pesquisa Dynata entre uma amostra representativa de mais de 4.000 consumidores de 18 a 65 anos em 5 países, em outubro de 2021, incluindo 1.060 entrevistados na França. 21 aparecem como a geração que mais é atraída pela compra de produtos de segunda mão e colaborações criadas pelas marcas. A compra de produtos de segunda mão representa 7% do mercado de bens de luxo, estimado em 330 bilhões de euros, tendo um crescimento maior do que o mercado de luxo tradicional. Essa possibilidade, de certa forma, torna mais acessível o consumo de bens de luxo e incentiva a moda circular, mais sustentável para o planeta. Sobre esse comportamento, é pertinente recorrer à reflexão de Perez (2004) sobre a perpetuidade da significação construída por marcas e a projeção de suas características no consumidor: A marca é uma espécie de ‘máquina’ de produzir significações e, nesse sentido, opera na construção de um determinado locus social. Ao usarmos e consumirmos um determinado produto de uma certa marca, estamos nos posicionando socialmente, estamos declarando quem somos, do que gostamos, o que valorizamos e assim por diante (p. 16). Indispensável reconhecer que tais representações e efeitos de reflexividade no usuário ocorrem ainda a partir do trabalho conjugado de companhias – a partir das chamadas collabs, parcerias entre empresas, pessoas ou entre empresas e pessoas para o desenvolvimento de produtos em conjunto com o objetivo de alcançar novos públicos (OLIVEIRA, 2022). As colaborações são estabelecidas de diferentes formas: (a) entre marcas diferentes; (b) entre uma determinada marca e uma pessoa famosa; (c) entre a marca e influenciadores; entre outras possibilidades. As collabs são vistas como algo mais inovador do que peças de apenas uma marca. Esse formato atende à necessidade dessas gerações de consumir um produto ou serviço que entregue conteúdo e novidades. Por exemplo, a Gucci, marca de luxo, e a Adidas, marca esportiva, lançaram uma coleção em conjunto no estilo esportivo composta por acessórios, bonés, peças de vestuário e até guarda-chuvas. A Louis Vuitton e a Nike também se uniram para lançar uma coleção em conjunto. As imagens a seguir apresentam peças destas produções. 22 Figura 1 - Collab Adidas e Gucci Fonte: Blog Paris Last Week (2022) Figura 2 - Collab Nike e Louis Vuitton Fonte: Blog Paris Last Week (2022) Seja a partir de uma produção individualizada ou na forma de collab, é conveniente realizar o seguinte questionamento: por que peças de roupa idênticas, com a mesma função, podem ter preços tão diferentes? A resposta para essa pergunta está ligada diretamente às marcas dessas peças e ao branding que elas conseguiram construir. Imediatamente, para responder essa pergunta, as pessoas tendem a pensar sobre a qualidade e beleza dos produtos, porém, a construção dessa gestão de marca trata de exclusividade, 23 raridade, limitação, produção artesanal e outras características. São estes pontos que discutiremos no tópico seguinte deste capítulo. 2.1 BRANDING E MARCAS DE MODA DE LUXO Branding ou Brand Management é uma estratégia utilizada pelas marcas para torná-las mais conhecidas no mercado. O principal objetivo dessa estratégia é criar conexão com os seus clientes e clientes em potencial para, assim, facilitar o processo decisório de compra. De acordo com Lucia Santaella(2004), os consumidores não consomem apenas os produtos, mas, antes de tudo, as marcas desses produtos. Entretanto, antes de comunicar isso para o público, o branding é bem estruturado internamente, de forma que seja refletido em todas as partes da empresa. O objetivo das marcas é criar uma experiência que vá desde o ato da compra até o uso do produto. “Quando se compra um produto, junto com ele se está comprando uma complexa malha de valores psicossociais difusos, não inteiramente conscientes, mas imperiosos porque fisgam o desejo” (SANTAELLA, 2004, p. 7). Toda marca, qualquer que seja o segmento, precisa trabalhar seu branding para manter uma consistência em sua comunicação e ações. Com um documento bem estruturado, as empresas possuem direcionamentos do que fazer, do que não fazer, como agir, o que falar, entre outras coisas. Essa construção da gestão de marca irá orientar a organização em todas as suas decisões, sejam elas sobre o lançamento de um novo produto ou um comunicado aos seus funcionários. De acordo com Clotilde Perez (2004): A mitologia latente do produto vai além de seus atributos físicos/benefícios e uso. Essa mitologia abrange a totalidade das percepções, crenças, ritos, experiências e sentimentos associados com o produto, o seu uso. A mitologia latente do produto decorre das experiências do consumidor com o produto genérico, e também com a história, a cultura, os fatos e as fantasias que o cercam (p. 12). No mercado de luxo, o branding é fundamental para sustentar o público consumidor das marcas. Um dos principais pontos em relação ao consumo de marcas de luxo, é que essas peças funcionam como um fator de diferenciação na sociedade. Quando você compra um produto de luxo, você compra uma identidade que agrega a sua própria identidade enquanto indivíduo (MOREIRA, 2021). 24 O consumidor está cada vez mais interessado em experiências que acompanham o processo de compra e uso de um novo produto. Portanto, aquelas marcas que conseguem estabelecer uma identificação e conexão do comprador com o produto, fidelizam o cliente. Esse processo acontece através da jornada de compra e os atributos emocionais ligados ao produto e à empresa. No mercado de luxo, os atributos com os quais o cliente irá se identificar e serão decisórios no processo de escolha estão ligados ao fundador da marca e sua história, à personalidade (tanto do fundador quanto da marca) e ao contexto histórico da empresa. Esse fatores, associados ao storytelling da marca, estão nos produtos, transformando-o em algo único. De acordo com um estudo realizado pelo Boston Consulting Group3, só em 2018 o mercado de luxo movimentou mais de 920 bilhões de euros. O tradicionalismo, qualidade e um público fiel são responsáveis por esse resultado. Porém, um novo desafio para as marcas de luxo é a expansão de seu público para alcançar a Geração Z, principalmente considerando que esta geração já representa boa parte da população consumista. Para Júlio Moreira (2021), há algumas características notáveis em relação ao consumo do mercado de luxo pela Geração Z: consomem através do mobile; buscam experiências e conexões com a marca; simpatizam com o mercado de luxo de segunda mão; tendem a comprar menos, mas comprar melhor; se preocupam com os valores da marca. Essas características tornam-se desafios para as marcas mais tradicionais e que ainda possuem práticas engessadas. Essa geração também é conhecida por possuir valores fortes e lutar pelo que acredita, sendo contra toda forma de preconceito e discriminação, o que também é importante estar no radar das marcas. E algumas marcas de luxo não conseguiram se adaptar a esses pontos. Ao mesmo tempo em que a personalidade e história do(s) fundador(es) pode ser um fator de identificação para o consumidor e ajudar na decisão de compra, também pode atrapalhar, principalmente quando nos referimos a Geração Z, como aconteceu com a Dolce & Gabbana, quando a marca veiculou um vídeo publicitário4 sobre a sua presença na China. Nele, uma moça chinesa tentava, sem sucesso, 4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s9VCoX14oBk Acesso em: 04 dez. 2022. 3 Disponível em: http://media-publications.bcg.com/france/True-Luxury%20Global%20Consumer%20Insight%202019% 20-%20Plenary%20-%20vMedia.pdf Acesso em: 04 dez. 2022. https://www.youtube.com/watch?v=s9VCoX14oBk http://media-publications.bcg.com/france/True-Luxury%20Global%20Consumer%20Insight%202019%20-%20Plenary%20-%20vMedia.pdf http://media-publications.bcg.com/france/True-Luxury%20Global%20Consumer%20Insight%202019%20-%20Plenary%20-%20vMedia.pdf 25 comer macarrão (comida italiana, assim como a marca) com hashis, enquanto ria de si mesma. A propaganda foi considerada ofensiva e retirada de circulação, mas um dos sócios, o Gabbana, continuou proferindo frases de ódio, caracterizando a China como “um país de merda”. Além da identificação com a marca, que pode ser influenciada por diversos fatores, também é necessário ter em mente pautas relevantes nos tempos atuais, como a sustentabilidade. O mercado de segunda mão, como brechós, está crescendo cada vez mais. Já existem empresas específicas, como Enjoei, Repassa e Troc – esta última comprada pelo Grupo Arezzo&Co em novembro de 2020 (SALOMÃO, 2021) – focadas em promover essa troca de bens entre pessoas que gostariam de desapegar de seus itens e pessoas que desejam possuir um artigo de luxo. A cultura de comprar produtos usados, além de baratear a compra, ainda colabora com o meio ambiente, já que está sendo adquirida uma peça que já passou por todo processo de produção. Mesmo com um mercado de produtos de luxo de segunda mão, consumir desse nicho ainda não é acessível para grande parte dos jovens. Uma parcela da Geração Z é da alta sociedade e tem o acesso a esses produtos facilmente, mas temos também, na outra ponta, jovens de outras classes mais baixas que almejam possuir esses itens de luxo, como forma de posicionamento, agregando às suas identidades individuais, mas não possuem o poder aquisitivo necessário. Há um grupo específico de jovens que ascenderam socialmente por meio de seu trabalho, principalmente na internet ou graças a ela, e passaram a consumir esse mercado de luxo e trabalhar ainda mais em cima desses itens adquiridos. É possível acompanhar, também, o desejo por consumir itens caros através de músicas, como o trecho abaixo da música Um Brinde Pra Nós5 do Hungria Hip Hop, com participação do MC Lipi, lançada em 2020: Mas é que a vida tem dessas mirabolância Hoje nóis troca de robô e de fragrância Um jacaré nóis tem pra cada circunstância Tô muito chato, mas é culpa da elegância (LOVE FUNK, 2021, online) No trecho, os autores falam “um jacaré nóis tem pra cada circunstância”, o “jacaré” faz referência à marca de luxo Lacoste. Nesse e em outros trechos da 5 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=w4H HerMit 0DY Acesso em: 04 dez. 2022. https://www.youtube.com/watch?v=w4HHeMit0DY 26 música é possível identificar frases que sinalizam essa ascensão social citada anteriormente. O público jovem para o mercado de luxo é um público muito específico, com muitas variáveis e muitas demandas. Algumas marcas estão conseguindo se adaptar a essa realidade, produzindo peças mais descontraídas, casuais, alinhadas com o startup culture - cultura ligada a processos de startup, com modernidade, agilidade e colaboração (AIESEC, 2018). A Louis Vuitton, por exemplo, entendeu a demanda do mercado de uma geração que vive conectada, a geração da selfie, que está sempre no celular, e passou a produzir mochilas com características mais modernas voltadas para esse público. Figura 3 - Mochila Louis Vuitton Fonte: Louis Vuitton (2022) Outra demanda da Geração Z é a autenticidade. Apesar de ser considerada a geração da selfie, também é um nicho social que procura a veracidade das coisas e compartilha suas vidas reais. Por isso, as marcas precisam se adaptar em relação às suas produções, tornando-as originais.A demanda por buscar novidades em coleções é tão visível, que foi desenvolvida uma página no Instagram chamada Diet Prada para falar sobre 27 polêmicas, plágios e outras questões de marcas de luxo, conhecida como a “reclame aqui” do nicho: Figura 4 - Instagram Diet Prada6 Fonte: Instagram (2019) Figura 5 - Instagram Diet Prada7 Fonte: Instagram (2019) 7 Incapaz de ver nada além de uniformes de campos de concentração neste conjunto de $ 1.840 da cápsula William De Morgan de @loewe, uma coleção destinada a “capturar a liberdade de imaginação”. Mas com as proporções e layouts de listras particulares, roupas de estilo uniforme e remendos proeminentes no peito, não resta muito para a imaginação quando o visual resultante é tão estranhamente perturbador. Varejistas de moda rápida, como Urban Outfitters e Zara, tiveram produtos semelhantes escapados, que geralmente eram atribuídos a fornecedores terceirizados e rapidamente destruídos. Loewe tem comentários de uma semana chamando isso em uma postagem com uma imagem em preto e branco da @britishvogue ... quando veremos uma resposta? (tradução da autora, 2022) 6 Desavenças com seu antigo empregador, Hedi? A fivela de assinatura da @gucci chega à coleção @celine FW19. A Gucci usa o Horsebit desde 1953, mas uma rápida pesquisa no Google por Céline vintage mostra muitos itens com seu próprio Horsebit. Fundada como uma linha de calçados infantis sob medida, a casa francesa acabou se expandindo para o pronto-a-vestir em 1960. Provavelmente não tão importante quanto sabemos que Phoebe o fez, nos perguntamos se eles estavam apenas copiando Gucci naquela época? Jogo justo para reviver outra “assinatura” da casa, ou Hedi está apenas mexendo no pote e aumentando a rivalidade entre Kering e LVMH? (tradução da autora, 2022) 28 Considerando a caracterização e os hábitos de consumo com ênfase na Geração Z, é pertinente compreender como o ambiente digital – especialmente, as redes sociais – firma-se como principal agente mediador para o diálogo com a audiência jovem. Este é o foco da próxima seção. 2.2 REDES SOCIAIS: BREVE HISTORICIZAÇÃO E PREMISSAS ATUAIS Redes sociais são espaços virtuais onde as pessoas conseguem se relacionar através de mensagens, comentários, interações, compartilhamentos, entre outros. A primeira rede social surgiu em 1995, nos Estados Unidos e no Canadá, chamada de Classmates, com o objetivo de conectar estudantes de faculdade. Em seguida, surgiram novos espaços virtuais voltados para determinados segmentos, como músicas, vídeos e fotografia. Por muito tempo, as redes sociais foram consideradas apenas espaços onde os usuários poderiam compartilhar determinadas coisas de acordo com o propósito da rede, porém, hoje, com a evolução da tecnologia e, consequentemente, das redes sociais, percebe-se que há muito além disso. Em 1993, no livro The Virtual Community: Homesteading on the Eletronic Frontier, Rheingold já falava sobre a grande versatilidade e possibilidades dos ambientes virtuais. Pessoas em espaços virtuais usam palavras projetadas em telas para trocar afeto e argumentar, engajar em discussões intelectuais, comercializar, trocar conhecimentos, dividir emoções, fazer planos, fofoca, conhecer pessoas novas, namorar, encontrar amigos e perdê-los, jogar, flertar, criar coisas muito boas e jogar papo fora. Pessoas em comunidades virtuais fazem praticamente tudo o que pessoas fazem na vida real, com exceção daquelas que exigem a presença física de seu corpo. Uma pessoa não pode beijar nem dar um soco em alguém, porém uma série de ações podem ser feitas nas fronteiras digitais (RHEINGOLD, 1993). Percebe-se que o avanço tecnológico proporcionou uma grande evolução nas redes sociais. Cada uma delas possui públicos e formatos específicos, chegando cada vez mais próximo da vida real, como se os usuários realmente vivessem juntos no mesmo local. Por exemplo, temos redes sociais voltadas para relacionamentos, para amizades, para edição de fotos, para compartilhamento de vídeos e até para 29 buscar e compartilhar empregos. E, cada vez mais, as pessoas demandam por novas ferramentas e desdobramentos dessas redes. Com o crescimento das redes sociais, surgiram novas oportunidades de compartilhamento de conteúdo e pessoas começaram a ser destaques nesse quesito em diferentes redes. Por exemplo, em 2005, surgiu o YouTube, plataforma de compartilhamento de vídeos, e, com ele, um novo formato de conteúdo para as pessoas compartilharem, realizado por pessoas que passaram a ser conhecidas como youtubers. Os youtubers começaram a crescer, muitos fizeram suas carreiras na plataforma e o YouTube passou a monetizar os vídeos, ou seja, quanto mais visualizações aquele conteúdo possuía, mais dinheiro o dono ganhava. Além da monetização, surgiu também a possibilidade de marcas aproveitarem daquela visibilidade para vincular ao vídeo publicidades e anúncios, tanto utilizando o youtuber como influenciador, como inserindo a propaganda no início, meio ou fim do vídeo, como algo à parte. Esse avanço das mídias sociais trouxe novos termos para o nosso cotidiano e a internet passou a ser uma plataforma que utiliza da inteligência coletiva para evoluir. Quem antes apenas consultava informações, passou a contribuir para a produção de conteúdo. Na última década, houve um crescimento acelerado tanto das redes sociais como dos influenciadores. Em 2020, vivenciamos a pandemia e o isolamento social, que trouxeram uma nova necessidade de entretenimento e as redes sociais até então mais populares como o Instagram, o Facebook e o Twitter, já não eram mais suficientes para o tempo livre que muitos dos jovens passaram a ter. O TikTok surgiu em 2014 com o nome de Musical.ly, em 2017 o Musical.ly foi comprado por outra empresa e passou a se chamar TikTok (LIMA, 2020). Porém, o aplicativo não fez tanto sucesso em seus primeiros anos e apenas no final de 2019 e início de 2020 que passou a ser uma rede social popular. Com o isolamento social, muitas pessoas passaram a descobrir o aplicativo e usá-lo para compartilhar o seu dia a dia no formato de vídeos curtos. Várias tendências surgiram do TikTok, como coreografias para músicas, novos estilos musicais, memes e outros diversos conteúdos. Antes do TikTok, as marcas já utilizavam (e seguem utilizando) de influenciadores(as) para promover os seus produtos através de parcerias. A marca 30 paga para a figura pública usar seus produtos por determinado tempo e compartilhar a experiência com seu público ou apenas falar sobre eles. Porém, muitas vezes, esse tipo de conteúdo produzido em conjunto acaba ficando forçado e nada natural, o que não agrada uma das gerações que mais utiliza das redes sociais, a Geração Z. Quando se trata do segmento moda, as marcas precisam ser ainda mais sutis, inserindo-se delicadamente no conteúdo de influenciadores, como afirma Carrascoza (2015, p. 156), “as corporações se valem de todo o aparato midiático para permanecerem o máximo de tempo no cotidiano dos consumidores”. Segundo Kotler, Setiawan e Kartajaya (2016) ocorreu a horizontalização do marketing, ou seja, as marcas não apenas disponibilizam produtos para os seus consumidores, mas agora precisam co-criar com eles. E para que isso aconteça, é necessário que se mantenha uma linha de contato muito mais próxima, e ninguém melhor para isso do que as pessoas que já acompanham diariamente as redes sociais – seja como espectador ou produzindo conteúdo para as plataformas. De posse dessa premissa, Lele Burnier abastece seu perfil no TikTok com uma série de vídeos com a tendência "Arrume-se comigo". Compreender a dinâmica dessa construção é o cerne do capítulo seguinte em diálogo com a discussão teórica aqui apresentada. 31 3 A HIPER-RITUALIZAÇÃO NO DIGITAL Tendo em vista a natureza do meio digital e o conteúdo baseado em ações de "Arrume-se comigo" realizado pela influenciadora Lele Burnier, esta análise conta com o auxílio de Carrera (2019) e Goffman (1979) parao desenvolvimento do estudo (Quadro 2). Quadro 2 – Categorias de hiper-ritualização de gênero Categoria Definição Tamanho relativo (Relative Size) Tamanho relativo das personagens colocadas na cena fotográfica Toque feminino (Feminine Touch) Simbolismo do toque feminino como algo delicado, comovente e gentil Ranking de função (Function Ranking) Representações funcionais dos homens e das mulheres que colocam o homem em uma posição superior, agindo como aquele que ensina uma determinada tarefa A família (The Family) Uma das bases da organização social mais facilmente encontrada nos anúncios publicitários A ritualização da subordinação (The Ritualization of Subordination) Uma das formas mais clássicas e estereotipadas de demonstrar deferência em situações sociais – inclusive, com uso de objetos que reforçam ideias de subordinação e poder Licença para ausência (Licensed Withdrawal) Mulheres, mais do que homens, são representadas em movimentos que as retiram psicologicamente da situação social, deixando-as desorientadas e, possivelmente, dependentes da proteção ou boa vontade de outros que estão ou poderiam estar presentes Fonte: Carrera (2019) Utilizando as seis categorias de hiper-ritualização como referência, elas foram ajustadas e condensadas para apresentação no Quadro 3. Quadro 3 - Novas categorias Nova categoria Definição Construção Espacial Tomando como base a categoria Tamanho relativo (Relative Size) e a definição de Goffman (1979) que diz respeito à colocação dos personagens na cena fotográfica, pode-se entender como uma categoria de análise o espaço em que os vídeos são gravados, desde os elementos presentes até posição em que a câmera se 32 encontra. Presença e Autonomia Aqui, temos como bases as categorias de Goffman (1979) Toque feminino (Feminine Touch), simbolismo do toque feminino como algo delicado, comovente e gentil, e a categoria Licença para ausência (Licensed Withdrawal), que afirma que mulheres são representadas em movimentos que as retiram psicologicamente da situação social, deixando-as dependentes da proteção ou boa vontade de outros. Em uma releitura das duas premissas, tem-se a categoria "Presença e Autonomia", na qual são analisados movimentos contrários aos que Goffman (1979) descreve em suas categorias. Aqui, analisa-se a presença que a influenciadora impõe em conjunto com a autonomia, a autoridade, a ousadia, o contraste e a vontade de "chocar" as pessoas (sem escandalizar). Autoridade e Expertise Goffman (1979) traz como uma de suas categorias o Ranking de Função (Function Ranking), que diz respeito às representações funcionais dos homens e das mulheres, em que aqueles estão em uma posição superior. Uma reformulação dessa categoria pretende analisar a autoridade no meio digital a partir da escolha do vestuário, das noções de conhecimento, expertise e nível de influência. Legitimação do Vestuário Goffman (1979) traz a categoria “Ritualização da subordinação” (The Ritualization of Subordination), como uma das formas mais clássicas e estereotipadas de demonstrar deferência em situações sociais, representadas por diversas condutas - ex.: abaixar a cabeça e/ou curvar a postura. Aqui, iremos analisar justamente o indicador contrário: a insubordinação e a autonomia. Dá-se atenção à conduta da influenciadora, suas escolhas de vestuário e como funciona esse ritual e seu posicionamento frente à câmera com o look finalizado. Fonte: A Autora com base em Goffman (1979) A análise da produção digital de Lele Burnier para o TikTok exige tais adaptações e revisões nas categorias inicialmente propostas por Goffman (1979), a fim de que se tenham novas nomenclaturas para facilitar a identificação das ações praticadas pela influenciadora e a retratação do dinamismo que o ambiente virtual emprega. Como o estudo repousa sua atenção nos vídeos que a jovem filma de si, é fundamental considerar o movimento e o dinamismo das imagens em contraponto às representações estáticas de anúncios publicitários – sejam eles os exploradas por Goffman (1979), mas também os exemplos acionados por Carrera (2019) em sua recente proposição. 33 3.1 AUTENTICIDADE DE LELE BURNIER Lele Burnier, disse em sua entrevista ao podcast PodDelas8 que antes de atingir o sucesso nas redes sociais, cursou Design de Produto na PUC Rio, formou-se como maquiadora na Make Up School Lisboa e fez alguns cursos de artes, o que a ajudou a explorar o seu lado artístico e desenvolver o seu estilo. Além disso, ela fez um curso de consultoria de imagem, no qual, de acordo com a própria, aprendeu boa parte do que sabe sobre cores e moda. Na mesma entrevista ao podcast, Lele falou sobre como a sua vida “virou de cabeça para baixo” no último ano com um crescimento notável do TikTok, local em que começou a postar vídeos no formato “Arrume-se comigo” em abril de 2021. A influenciadora afirma que investe muito no seu trabalho, com muita dedicação, buscando entregar sempre conteúdos de excelência e sendo o mais real possível em seus vídeos, o que explica o sucesso com os jovens da Geração Z. Na entrevista, Lele demonstra conhecer muito bem os seus seguidores, entendendo o tipo de conteúdo que gostam de consumir, como por exemplo dar o poder de escolha para eles, apresentando mais de uma opção de roupa para vestir, o que também auxilia no engajamento, segundo ela. Por ter sido uma das precursoras na implementação da tendência do Get Ready With Me no Brasil, Lele conseguiu trazer algumas características que funcionavam no exterior, como estar de roupão no começo do vídeo. Em sua participação no PodDelas, quando questionada sobre a escolha do TikTok para lançar seus conteúdos principais, a influenciadora diz acreditar que o Instagram acaba sendo muito idealizado, já o TikTok é uma plataforma mais orgânica e fluida. Ela ainda afirma que não veicula o mesmo conteúdo em mais de uma rede social, entende muito bem o que seus seguidores das diferentes plataformas querem. Outro fator que destacou Burnier em relação às outras influenciadoras foi o seu estilo. No mundo da moda, é possível observar a teoria de que há sete estilos universais e Lele se identifica como parte do estilo criativo. Alyce Parsons e Mimi Dorsey (2008), idealizadoras da teoria, difundiram a sua tese através da obra Style Source – The Power of the Seven Universal Styles for Women and Men e hoje consultores e estilistas de todo o mundo utilizam do conceito criado por Alyce e Mimi. A teoria foi desenvolvida cruzando traços de 8 Disponível em: https://youtu.be/Y2Tp0Se_rbE Acesso em: 05 dez. 2022. https://youtu.be/Y2Tp0Se_rbE 34 personalidade e comportamentos com preferências em relação à peças de roupa. Essa combinação leva a sete padrões considerados os estilos universais, são eles: Natural Esportivo, Tradicional, Refinado, Romântico, Criativo, Sexy e Dramático Urbano. Alguns apoiadores da teoria e blogs de moda afirmam que cada pessoa possui dois ou três estilos com os quais se identifica, e, dependendo do período em que cada um esteja, um estilo pode sobressair mais que outro. De acordo com o site My Personal Stylist, cada um tem um estilo predominante e os demais acabam atuando como secundários. A Lele Burnier identifica que seu estilo principal é o Criativo. Caracterizado por alguns como a mistura dos outros seis estilos universais, o Criativo é caracterizado principalmente como ousado. Há misturas de cores, estampas e texturas, além da utilização de peças inusitadas e até mesmo consideradas como estranhas. De maneira geral, é um estilo que causa, à primeira vista, um certo estranhamento e surpresa. Há algumas disparidades dentro desse “acordo” dos sete estilos universais. Com o avanço do tempo, novos estilos foram surgindo (além dos sete), como o Old Money, que muitos afirmam ser apenas o estilo Tradicional com algumas variações e influências dos outros estilos. Além da problematização acerca de novas vertentes de estilo, há também a falta de acessibilidade em alguns deles, como,em alguns casos, é a situação do conteúdo difundido pela influenciadora Lele. A Lele é uma jovem adulta, de classe elevada, que possui um acúmulo de bens de vestuário considerados símbolo de status e distinção social. Tal fato é notável quando a influenciadora aborda o estilo Criativo, que pode exigir uma maior variedade de peças e acessórios. A ideia chave é misturar muitas peças diferentes no mesmo look – ação que ganha novos contornos no caso dela, já que tem diversos itens de marcas de luxo em seu closet, acervo que exige condições financeiras para muitas compras. Em suas redes sociais, Burnier compartilha frequentemente suas novas compras de marcas de luxo, como Versace, Miu Miu e Dior. 35 Figura 6 - Sapatos Versace e Miu Miu Fonte: Instagram (2022) Figura 7 - Bolsa Dior Fonte: Instagram (2022) A Lele Burnier, em cerca de um ano, conseguiu grandes conquistas. Hoje ela possui mais de 2.6 milhões de seguidores no TikTok e mais de 700 mil no Instagram. Ela também já participou do Baile da Vogue (evento exclusivo), lançou a primeira collab de moda com a Umore e recebeu o prêmio MIAW Fashion 2022 da MTV9 enquanto concorria com Camila Queiroz e Marina Ruy Barbosa. O primeiro vídeo10 feito pela influenciadora no formato Get Ready With Me foi postado no TikTok dia 29 de abril de 2021. No vídeo, Lele utiliza uma combinação hoje considerada básica para o seu estilo. Ela já gravava em seu closet (cenário dos 10 Disponível em: https://vm.tiktok.com/ZMFypxHgo/ Acesso em: 07 nov. de 2022 9 Disponível em: https://portalpopline.com.br/confira-a-lista-de-vencedores-do-mtv-miaw-2022/ Acesso em: 13 dez. de 2022 https://vm.tiktok.com/ZMFypxHgo/ https://portalpopline.com.br/confira-a-lista-de-vencedores-do-mtv-miaw-2022/ 36 vídeos até hoje), mas ainda não utilizava alguns bordões que são conhecidos, como o “Oí” no começo do vídeo e o “espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu, beijo!” ao final. O seu primeiro vídeo11 a atingir a marca de um milhão de visualizações foi uma proposta em que o namorado da influenciadora escolheu a sua roupa. Lele realiza uma hiper-ritualização em seu processo de produção de conteúdo (GOFFMAN, 1979). Há um desenho claro de uma sequência de fatos que se repetem em todos os vídeos, como, por exemplo, iniciar de roupão e começar escolhendo uma peça chave. A influenciadora é uma das precursoras desse formato no Brasil, ela construiu uma atmosfera sobre esse tipo de conteúdo. A Construção Espacial desenvolvida por ela é muito característica de seus vídeos. Lele grava, na maioria das vezes, em seu closet pessoal, trazendo um ar de intimidade, afinal, ela leva suas seguidoras para um de seus espaços mais íntimos, onde ela se veste, após o banho, esperando as convidadas especiais para o momento usando um roupão. O closet possui uma iluminação aconchegante. O espaço é no estilo aberto, sem portas, onde é possível visualizar a grande maioria das peças de roupa da influenciadora, que estão sempre organizadas e ordenadas por cores. Além de termos as peças todas amostra, Lele utiliza-as como parte da decoração: suas bolsas e sapatos de marcas internacionais também estão expostos. Todo esse conjunto ajuda a criar uma atmosfera de organização, cores e criatividade, além de demarcar status e prestígio. 11 Disponível em: https://vm.tiktok.com/ZMFypg5UW/ Acesso em: 07 nov. de 2022 https://vm.tiktok.com/ZMFypg5UW/ 37 Figura 8 - Closet Lele Burnier Fonte: Instagram (2022) Caso alguém chegue por acaso em um vídeo ou no perfil da Lele, já imagina o que esperar justamente pelo cenário que ela construiu e que é comum nos vídeos nesse mesmo formato. Ao nos depararmos com um vídeo em um closet lotado de roupas, com uma pessoa de roupão pronta para escolher o seu outfit, já imagina-se que ela trará propostas de estilo sofisticadas e com marcas de luxo. Quando Lele está viajando ou, por algum motivo, não grava em seu closet, ela sempre busca trazer a mesma atmosfera: um ambiente inspirador para a produção. Independente do ambiente, a composição dessa atmosfera deixa implícito que a influenciadora faz parte da alta sociedade e o consumo dessas marcas de luxo a posiciona socialmente. Outro fator é a posição da câmera. Ela está sempre centralizada, vertical e horizontalmente, de onde conseguimos ver todo o closet da influenciadora, bem como seu corpo, dos pés à cabeça. É possível ter noção do tamanho do ambiente justamente pela posição de filmagem. Pode-se observar também Burnier movimentando-se pelo espaço, enquanto busca uma peça ou outra que já não estava previamente separada. 38 A Lele é uma das precursoras desse formato no Brasil, ela construiu uma atmosfera sobre esse tipo de conteúdo (com o closet ao fundo, iniciando usando um roupão e misturando cores e tendências) e utiliza muitas marcas de luxo. Tudo isso proporciona a ela uma posição de prestígio, não só social como dito anteriormente, mas também dentro desse “universo” de pessoas que produzem esse tipo de conteúdo na plataforma do TikTok. Com isso, é possível perceber a Autoridade e Expertise de Burnier. Ela se tornou uma fonte de inspiração e muitas pessoas, quando em dúvida do que vestir para determinado evento, recorrem a algumas plataformas em busca de fonte de inspiração, como o Pinterest e o Instagram. Burnier, com o fortalecimento de sua imagem e autoridade (através do reconhecimento e recebimento de prêmios como melhor em seu nicho), tornou-se uma inspiração para pessoas interessadas por moda ou que buscam esse tipo de conteúdo. Na própria plataforma do TikTok encontra-se vídeos12 de outras pessoas falando sobre como Burnier é uma inspiração, seja para usar mais cores e estampas ou para vestir o que as faz se sentir confortável sem se importar com a opinião alheia, apostando na autenticidade. E “A autenticidade se revela nas percepções e no aspecto de realidade perpetuado por aquele que enuncia. Um influenciador é autêntico quando aquilo que ele faz, fala ou publica é lido como real e fiel a si mesmo” (KARHAWI, 2022, p.12). Lele é uma grande referência na rede social, é tanto que hoje está concorrendo ao prêmio de melhor tiktoker (denominação para criadores de conteúdo da plataforma TikTok) na categoria “Arrume-se comigo” do TikTok Awards, a premiação promovida pela rede social. Além disso, a presença em seus vídeos e o patrocínio de marcas como Gucci, Miu Miu, Paco Rabanne, Coperni, Prada, Chanel e Versace trazem de forma ainda mais forte a sofisticação, riqueza e relevância da influenciadora. O estilo de vida consumista está em ascensão e as pessoas que almejam esse estilo de vida tendem a copiar quem está nas camadas sociais mais altas (Kotler et al., 2021). Então, os seguidores da Lele, e de outros influenciadores do nicho, são levados a desejarem, cada vez mais, marcas de luxo. Na imagem abaixo, por exemplo, Lele usa uma bolsa da Dior, similar ao modelo usado pela Princesa Diana em 1996. 12 Disponível em: https://vm.tiktok.com/ZMFxrUpen/ Acesso em: 05 dez. 2022. https://vm.tiktok.com/ZMFxrUpen/ 39 Figura 9 - Lele com bolsa da Dior e Figura 10 - Princesa Diana Fonte: TikTok (2022) e Site Glamour Globo (2022) Como se vê na imagem acima (do filme 6), Lele mistura estampas, cores, texturas e marcas em suas produções. A influenciadora está sempre com uma postura considerada impecável e de cabeça erguida, e esse movimento de colocar um pé a frente para mostrar detalhes da roupa emite elegância. Ao analisarmos a Legitimação do Vestuário dela, Burnier demonstra o contrário de subordinação, ela exala autoridade e desobediência (ao tradicional). Hoje, Lele Burnier publica um novo vídeo no formato “Arrume-se comigo” diariamente em sua página no TikTok. Ela transformou essa trend em algo que faz parte de sua rotina. Seja para um evento de gala ou para uma ida ao cinema, a influenciadora dá a oportunidade de seus seguidores “participarem” desse processo de decisão do que ela irá vestir na ocasião. Para aprofundar a análise,trabalharemos com cinco vídeos postados por Lele. Burnier começou a fazer sucesso com o “Arrume-se comigo” em 2021 e com o passar do tempo, o estilo e a liberdade foram crescendo e ela foi ousando cada vez mais nas produções. Um de seus looks mais icônicos reunia a famosa bota prata da Zara, a qual ganhou fama após os seus seguidores terem discordado de sua escolha, além da bolsa de discos da grife Paco Rabanne, famosa entre os seus seguidores pelas suas características peculiares, como a cor e o formato. No início desse vídeo em específico, Lele organiza uma parte de seu closet que está desorganizada, o que confere ainda mais o tom de intimidade e proximidade com 40 seus seguidores, como se eles estivessem no mesmo cômodo que ela, participando do processo. Figura 11 - Look com bota prata da Zara Fonte: Instagram (2022) O look do filme 2 é um excelente exemplo de como a influenciadora consegue misturar texturas e tendências em suas produções. O couro, de estética mais sóbria e séria, com o blazer colorido e o top em conjunto com a bota e a bolsa, trazendo a tendência do metalizado, mostrando que é autoridade no assunto. Outra observação sobre a produção é com relação ao uso de peças de marcas de luxo, como a bolsa da Paco Rabanne, avaliada em mais de R$ 5.000. Porém, ela também utiliza a bota da Zara, uma peça consideravelmente mais barata, trazendo um ar de “acessibilidade” para a produção, mesmo considerando que a marca de fast fashion ainda está fora dos padrões de consumo de grande parte da população brasileira. Outra produção que chamou atenção foi a feita para comemoração de um milhão de seguidores no TikTok em um almoço, no filme 3: 41 Figura 12 - Look comemoração de um milhão de seguidores Fonte: Instagram (2022) Algo que chama atenção no vídeo de comemoração é a construção do cenário. O filme 3 ainda acontece no mesmo closet de sempre, mas Lele traz os “personagens” marcantes, como a própria fala, no crescimento do seu perfil, como a bota prata da Zara, a bolsa Tote Swipe da Coperni e o sapato de boneca da Miu Miu. As peças de marcas de luxo viralizaram no TikTok por serem diferentes do que os seguidores estavam acostumados a ver na época, além dos valores e formatos diferenciados. Figura 13 - Cenário filme 3 Fonte: TikTok (2022) 42 Um grande marco na carreira de Burnier foi o convite para o exclusivo Baile da Vogue, realizado há 17 anos, sendo uma festa dedicada à moda e representações de liberdade artística com muita música, e a cada edição a Vogue propõe um novo tema que os convidados precisam seguir. A influenciadora produziu um “Arrume-se Comigo” para o evento (filme 4), apresentando a sua roupa no meio que a levou até ali. O vídeo se passa em um cenário diferente: o quarto do Copacabana Palace, famoso hotel do Rio de Janeiro que sedia o evento. Lele usou um vestido preto no evento, com tule, brilhos e detalhes de cor da grife Martu, que se denomina uma grife de alta-costura da estilista carioca Marta Macedo, coerente com as roupas que ela usualmente utiliza e compartilha no TikTok. Figura 14 - Look Baile da Vogue Fonte: Instagram (2022) A apresentação de novas peças, sejam recebidas ou compradas, geralmente rende um vídeo no perfil da influenciadora voltado para aquela peça. Quando Lele adquiriu o sapato de boneca da grife Miu Miu, raro de ser encontrado, ela montou um conteúdo voltado para a peça. O filme 1 é de outubro de 2021, poucos meses depois de ela ter começado a fazer sucesso no TikTok, então, e no começo do vídeo Lele situa seus seguidores de que o vídeo tratará de algo que sempre se passa 43 naquele cenário (o closet): o Get Ready With Me. Outro ponto notável é que a influenciadora costuma dizer ao público onde ela irá com o look que ainda será produzido, como quem informa a um(a) amigo(a). Ela também sempre reforça como gosta de vestir o que tem vontade, sem considerar tanto o local que irá, ou o que as pessoas irão comentar, como uma mensagem de empoderamento para seus seguidores. Ainda no filme 1, ela diz: “eu só vou pra dar uma causada com os lookinhos inusitados”. Figura 15 - Look filme 1 Fonte: TikTok (2021) Uma das maiores marcas de Lele é a junção e exploração de diferentes tendências e texturas em conjunto - fugir do comum é um dos seus lemas. A influenciadora usa de todas as possibilidades e de toda a versatilidade das marcas de luxo. Quando Burnier viaja, ela produz looks que refletem o local em que está, que têm um conceito por trás, afinal, é uma oportunidade de visibilidade para ela. Inclusive, no filme 5 , com o outfit abaixo, Lele cita que gostaria de usar a saia rosa de tule justamente porque, onde ela está, as pessoas só usam cores neutras e peças mais básicas, ela diz: “eu amo chocar as pessoas”. 44 Figura 16 - Look filme 5 Fonte: Instagram (2022) A Forbes (2022) realizou uma avaliação das marcas e dos valores de peças usadas por Burnier. Por exemplo, na imagem abaixo, a influenciadora utiliza o blazer, a calça e o scarpin da Versace nos valores R$ 18.700, R$ 10.900 e R$ 13.516 respectivamente, além da blusa de sua coleção com a Umore no valor R$ 390, somando mais de R$ 43.000 em um único look. Figura 17 - Look avaliado pela Forbes Fonte: Instagram (2022) 45 Além da produção de conteúdo no formato Get Ready With Me, Lele aposta também em unboxings (vídeos abrindo compras ou recebidos) em tempo real, descobrindo com o público o que há dentro da sacola ou caixa. Com o seu crescimento, a influenciadora vem sendo notada por grandes marcas do mercado de luxo e tem recebido cada vez mais produtos para apresentar ao seu público ou simplesmente ser vista usando. Com o seu crescimento notável no TikTok, Lele começou a atrair a atenção das marcas para além dos “recebidos” e lançou a sua primeira collab. A parceria com a Umore, uma marca de tricôs, produziu uma linha com cinco modelos que foram um grande sucesso de vendas no lançamento. Figura 18 - Linha com a Umore Fonte: Instagram (2022) No conteúdo mais comum de Lele, observa-se algumas características notáveis como o cenário, os bordões e a sequência do vídeo (começa apresentando opções, experimenta as peças e parte para os acessórios). No geral, é possível perceber que Burnier transformou esse formato de conteúdo como parte de sua rotina, como um ritual de comportamento diário e tudo isso acabou se tornando uma publicização dela mesma. Nesse sentido, analisa-se a Presença e Autonomia da influenciadora, rica em segurança e independência. É perceptível a certeza em seus movimentos frente à câmera, Lele passa confiança ao seu público mesmo quando faz escolhas arriscadas de combinações. 46 A influenciadora está sempre com boa postura e gesticula bastante, ao final de seus vídeos ou ao mostrar uma peça que está experimentando ela geralmente posiciona uma perna a frente, transpassando a outra, o que traz uma mensagem de sutileza, fineza e segurança, como observa-se no vídeo produzido no dia 16 de março13. Figura 19 - Confiança de Lele em seus vídeos Fonte: TikTok (2021) Assim, pode-se concluir que há a necessidade da revisitação das categorias de hiper-ritualização desenhadas por Goffman (1979), já que o formato digital abre espaço para ações de enfrentamento em relação à elas, necessitando de uma revisitação. Tendo isso em mente, percebe-se que, ao longo de seus vídeos de “Arrume-se comigo”, Lele Burnier constrói um ritual na escolha das peças que irão compor o seu look – afinal, não é qualquer item. Ela sempre inicia descrevendo a situação e geralmente apresentando uma peça chave. Trazendo a Legitimação do Vestuário, sendo coerente com a posição que assume desde o início, de elegância e finesse. Tal processo de escolha do vestuário reforça a Autoridade e Expertise da influenciadora, que está sempre apresentando novas tendências e estilos, ela mesma afirma em um dos vídeos: “eu sei o que eu estou fazendo, eu sou especialista”. Isso está diretamente relacionado à postura deLele, à persona que ela 13 Disponível em: https://vm.tiktok.com/ZMFyptCgV/. Acesso em: 05 dez. 2022. https://vm.tiktok.com/ZMFyptCgV/ 47 alimenta a cada vídeo, que reflete a Presença e Autonomia que ela possui ao desempenhar seu papel no TikTok. Há, inclusive, uma hiperinflação em algumas de suas produções, como é possível observar na matéria desenvolvida pela Forbes (2022). A Construção Espacial de Burnier demonstra a riqueza, não só no sentido monetário, mas também em relação à sua autoridade. Quando observa-se uma mudança de cenário, percebe-se que ele ainda continua apresentando sofisticação. Quando não está em seu tradicional closet, está em resorts ou em hotéis de luxo. Todas as categorias em destaque (Legitimação do Vestuário; Autoridade e Expertise; Presença e Autonomia; Construção Espacial) são complementares na formação da hiper-ritualização realizada por Lele Burnier e reforçam o processo de "dramatização" da produção imagética desenvolvida pela influenciadora a partir de outras acepções de gênero – mais legítimas e adequadas à retratação contemporânea e ao seu pertencimento geracional. 48 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho objetivou construir uma análise sobre a imagem desenvolvida pela influenciadora Alexandra (Lele) Burnier e os aspectos de sua comunicação nos vídeos Get Ready With Me (GRWM – em português, “Arrume-se Comigo”) no TikTok, com base na noção de hiper-ritualização goffmaniana. A monografia recorreu ao desenvolvimento de um projeto etnográfico em redes sociais a partir da identificação e análise de seis vídeos no formato “Arrume-se Comigo”, coletados no perfil do TikTok da influenciadora, construídos a partir da seleção de peças de vestuário de marcas de luxo – prática habitual no nicho de atuação da influenciadora. O desenvolvimento da análise é realizado a partir da concepção de ciberpublicidade, a noção de gênero e as contribuições de Erving Goffman em seu construto das categorias analíticas para a hiper-ritualização, a saber: tamanho relativo (relative size); toque feminino (feminine touch); ranking de função (function ranking); a família (the family); a ritualização da subordinação (the ritualization of subordination); licença para ausência (licensed withdrawal). Lele Burnier torna-se porta voz para o estabelecimento da relação de diferentes gerações com o consumo de marcas de moda de luxo. Atuação esta que se mostra representativa diante do crescimento do consumo no segmento por parte da Geração Z, a qual se apropria desse conteúdo, principalmente através de redes sociais, como o TikTok. Com isso, são estabelecidas novas experiências e conexões com a influenciadora e com as marcas divulgadas nas produções audiovisuais. Principalmente considerando que a gestão de branding de marcas de luxo é voltada, geralmente, para a identificação do cliente com a história da grife e com a celebridade (ou influenciadora) que realiza esta divulgação. Na atualidade, o TikTok firma-se como uma importante rede social para apresentação destes conteúdos alusivos a marcas, substituindo o anúncio pela ação, como o “Arrume-se Comigo”, dispensando o rótulo e o apelo explícito de divulgação publicitária. Neste sentido, a proposição de novas categorias para o exercício de hiper-ritualização legitima a autenticidade da influenciadora Lele Burnier, uma vez que a "dramatização" de sua produção imagética frente às câmeras permite-lhe o 49 diálogo mais próximo com os jovens da Geração Z, manejando conteúdo alusivos à moda, ao luxo e ao gênero, tendo o TikTok como uma excelente plataforma para a difusão desta dinâmica construtiva do – supostamente – simples ato de arrumar-se. 50 REFERÊNCIAS 2019 True-Luxury Global Consumer Insight. Boston Consulting Group, 6ª ed, 17 abr. 2019. Disponível em: http://media-publications.bcg.com/france/True-Luxury%20Global%20Consumer%20I nsight%202019%20-%20Plenary%20-%20vMedia.pdf Acesso em: 28 nov. 2022. A ORIGEM da palavra blog. Origem das coisas. Disponível em <https://origemdascoisas.com/a-origem-da-palavra-blog/>. Acesso em: 30 nov. 2022. ACERVO Garotas Estúpidas. Disponível em: https://www.garotasestupidas.com/ Acesso em: 30 nov. 2022. AIDAR, Thaís. 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