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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE PROCESSOS INSTITUCIONAIS KALHIL PEREIRA FRANÇA THURNER A CONSTRUÇÃO DA CARTA DE SERVIÇOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (MPRN) NATAL - RN 2016 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHL França, Kalhil Pereira. A construção da carta de serviços do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN) / Kalhil Pereira França. - 2016. 42f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Gestão de Processos Institucionais. Orientador: Prof. Dr. José Orlando Gomes e Prof. Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães. 1. Gestão de processos. 2. Atendimento ao Público. 3. Ministério Público. I. Guimarães, José Orlando Gomes. II. Vilar, Patrícia Borba. III. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 005.4 Kalhil Pereira França Thurner A CONSTRUÇÃO DA CARTA DE SERVIÇOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (MPRN) Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação do Programa de Pós- graduação em Gestão de Processos Institucionais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Processos Institucionais. Orientador: José Orlando Gomes, D. Sc. NATAL - RN 2016 Kalhil Pereira França Thurner A CONSTRUÇÃO DA CARTA DE SERVIÇOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (MPRN) Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós- graduação em Gestão de Processos Institucionais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, composta pelos seguintes membros: Aprovada em _____/_____/_______ ___________________________________________ José Orlando Gomes, D. Sc. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Orientador ___________________________________________ Patrícia Borba Vilar Guimarães, D. Sc. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Membro e coorientadora ___________________________________________ Yanko Marcius de Alencar, D. Sc. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Membro _________________________________________ Victor Rafael Fernandes, Dr. Sc. Faculdade Estácio de Sá - FATERN Membro externo Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ter me proporcionado força e sabedoria para continuar minha caminhada, e aos meus 03 (três) filhos, Maria Eduarda, Heitor e Kalhil Filho, que eu possa inspirá-los no decorrer de suas jornadas aqui pela terra. AGRADECIMENTOS Esse trabalho surgiu de um anseio pessoal em contribuir com a Instituição que abracei como minha segunda casa. Durante esses últimos 10 anos no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte passei a amar, mais do que nunca, a causa do servir. Mas não seria possível sem a contribuição de algumas pessoas que foram fundamentais para o seu desenvolvimento. Entre elas está minha querida Professora Orientadora Dra. Patrícia Borba, que no decorrer desses últimos 02 anos foi sempre muito paciente e prestativa com suas orientações no rumo certo desse trabalho. Agradeço ao meu colega Marlos, responsável pelo setor sociojurídico da Comarca de Mossoró, que disponibilizou os dados necessários para a realização da pesquisa. Ao meu assessor de processos organizacionais, Felipe Gurgel, responsável pelo desenvolvimento dos painéis de análise do BI com os dados coletados. Ao meu colega de trabalho Tiago Nunes, uma das mentes mais inteligente que já tive a honra de conhecer, corresponsável pela ideia inicial desse trabalho e um dos incentivadores da linha de pesquisa. Agradeço a minha esposa, parceira de todas as horas, pela paciência e compreensão pelas ausências nos últimos meses, para a finalização dessa jornada. Por fim, mas não menos importante, a minha mãe, Dona Aprígia Pereira Neta, a quem devo tudo nessa vida, pelos estímulos permanentes no meu aprimoramento profissional e acadêmico. “Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo” Martin Luther King. . RESUMO Visando aprimorar o serviço de atendimento ao cidadão realizado pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, o desenvolvimento da carta de serviços da instituição é de fundamental importância para a maior transparência de sua atuação funcional direcionada a garantia dos direitos e interesses sociais de âmbito difuso e coletivo e aqueles individuais indisponíveis. O presente trabalho descreverá sobre as temáticas trabalhadas pelo Ministério Público Estadual, buscando apresentar a sociedade o fluxo do procedimento de atendimento a população, de modo a identificar todas as etapas do processo até a entrega da prestação ministerial por intermédio de ações judiciais ou outras medidas conciliatórias extrajudiciais, identificando os setores responsáveis, prazos e os instrumentos de atuação funcional (notícia de fato, procedimento preparatório, inquérito civil e procedimento de investigação criminal). Além disso, busca o presente trabalho realizar estudo de caso referente aos dados de atendimento das Promotorias de Justiça da Comarca de Mossoró, 2ª maior do Estado, visando assim traçar um perfil das temáticas mais procuradas, bem como, descobrir qual o volume de atendimento realizado que não eram de sua competência ministerial. Palavras-chave: Carta de Serviços; Atendimento ao Público; Ministério Público do Estado do RN RESUMEN Con el fin de mejorar el servicio de atención al ciudadano llevado a cabo por el Ministerio Público de Rio Grande do Norte, el desarrollo de la letra de la institución es de importancia fundamental para la transparencia de su desempeño funcional específica de garantizar los derechos y el ámbito social de los intereses difuso y colectivo y los individuales no disponible. En este trabajo se describe en los temas trabajados por la Oficina del Fiscal del Estado, buscando presentar a la sociedad el flujo del procedimiento de cuidado de la población, con el fin de identificar todas las etapas del proceso hasta la entrega del desempeño en el ministerio a través de juicios u otras medidas de conciliación extrajudiciales, identificando los sectores responsables, plazos e instrumentos de rendimiento funcional (noticias de hecho, el procedimiento de preparación, investigación civil y de procedimiento penal). También, buscar en este estudio de caso la conducta de trabajo para el servicio de datos del Ministerio de Justicia del condado de Mossoro, segundo más grande del estado, con el objetivo tanto para dibujar un perfil de los temas más populares, así como averiguar lo que hizo el volumen de llamadas que no eran de su competencia ministerial. Palabras clave: Carta de Servicios; Atención al público; Ministerio Público del Estado de RN LISTA DE SIGLAS MPRN – Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte MPF – Ministério Público Federal MPU – Ministério Público da União MPT – Ministério Público do Trabalho MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios MPM – Ministério Público Militar MPE – Ministério Público Eleitoral PGJ – Procurador-Geral de Justiça PGJA – Procurador-Geral de Justiça Adjunto DPGE – Diretoria de Planejamento e Gestão Estratégica GMAD – Gerência de Modernização Administrativa GGE – Gerência de Gestão Estratégica PROPAP – Promotoria Padrão NUCAP – Núcleo Externo da Atividade Policial DADM – Diretoria Administrativa SGC – Setor de Gestão de ContratosSAP – Setor de Administração de Pessoal GDPA – Gerência de Documentação, Protocolo e Arquivo SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO …................................................................................................. 10 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA …................................................. 10 1.2 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO................................................................... 12 1. OBJETIVOS..........................................................................................................13 1.3.1 Objetivo geral...................................................................................................13 1.3.2 Objetivos específicos....................................................................................... 13 2 BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MP......... 14 3 DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO MINISTÉRIO ESTADUAL....................... 16 3.1 Serviços na área do Consumidor........................................................................17 3.2 Serviços na Área da Educação...........................................................................17 3.3 Serviços na Área da Infância e Juventude......................................................... 18 3.4 Serviços na Área do Meio Ambiente...................................................................19 3.5 Serviços na Área do Patrimônio Público............................................................ 20 3.6 Serviços na Área da Saúde................................................................................ 21 3.7 Serviços na Área da Pessoa com Deficiência.................................................... 22 3.7 Serviços na Área do Idoso................................................................................. 23 3.8 Serviços na Área Criminal.................................................................................. 24 4. ESTUDO DE CASO DO ATENDIMENTO DA COMARCA DE MOSSORÓ........ 25 5. MAPEAMENTO DOS FLUXOS DE TRABALHO................................................ 29 5.1 Fluxo Atendimento ao Público............................................................................ 29 5.2 Fluxo de Atuação Ministerial.............................................................................. 31 6. CONCLUSÃO...................................................................................................... 39 7 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 41 ANEXO A – PROPOSTA DE CARTA DE SERVIÇOS PARA O MPRN................... 43 CARTA DE ANUÊNCIA …....................................................................................... 91 TERMO DE CONFIDENCIALIDADE …................................................................... 92 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.................................... 93 10 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMÁTICA No ano de 2006 ingressamos no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN) no extinto cargo de agente administrativo, atualmente remodelado e designado de técnico ministerial. Ainda muito cedo, percebemos que as pessoas que procuravam o Ministério Público Estadual não conheciam, de fato, qual era nossa finalidade, nossa missão, nosso dever institucional. Conforme definido pela Constituição Federal de 19881, o Ministério Público tem sua atuação funcional direcionada a garantia dos direitos e interesses sociais de âmbito difuso e coletivo e aqueles individuais indisponíveis. Resumidamente, podemos afirmar que o vetor de atuação constitucional é o interesse público na promoção e defesa dos interesses de determinados sujeitos, ou o zelo dos interesse público havido em determinadas relações jurídicas ou instituições. Entretanto, conforme já afirmado nas linhas iniciais, muito embora o Ministério Público tenha juridicamente papel bastante definido, essas atribuições não são conhecidas pela população em geral. É muito comum a população procurar os serviços do Ministério Público para a resolução de situações conflitantes de interesse tipicamente individuais disponíveis ou mesmo para resolução de problemas que não possuem nenhuma pertinência temática com as atribuições definidas pela Constituição Federal. Certa vez, entre os anos de 2008 a 2010, ainda lotado na Comarca de Assu/RN, atendemos um cidadão que trazia consigo uma bola de futebol e conduzia “escoltado” pelo braço uma criança que momentos antes acabara de quebrar a vidraça de sua residência e requeria do promotor de justiça providências por parte do Ministério Público para reparação do dano. Inúmeras vezes, já trabalhando na Comarca de Mossoró, atendíamos pessoas que solicitavam do Ministério Público a realização de cobrança de dívidas, 1 Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 11 aconselhamento de menores, pedidos de concessão de benefícios previdenciários, consultoria jurídica particular e até conciliação amorosa de casais. Como se percebe todas as situações acima elencadas não se enquadram nas definidas como típicas da atuação funcional do parquet2. Dessa maneira, muito embora não faça parte dos objetivos dessa trabalho responder os reais motivos que levam as pessoas a procurar o Ministério Público para resolução desses conflitos, é possível apontar dois pontos importantes que acabam influenciando, de maneira significativa, a continuidade desse quadro: imaturidade de boa parte da população, notadamente as camadas sociais mais carentes, quanto ao real conhecimento da competência das instituições democráticas do país e a ineficiência do próprio órgão em se apresentar como instituição garantidora dos direitos e garantias constitucionais do cidadão. O primeiro ponto pode ser justificado pela própria juventude da nossa Constituição Federal e das instituições criadas por ela. Até 1988 a figura do promotor de justiça estava muito mais ligada as funções de acusação no tribunal do juri do que agente transformador da sociedade por intermédio de sua atuação funcional na defesa da população e das demais instituições. Somente recentemente foi possível, a partir da atuação do Ministério Público na defesa, notadamente no patrimônio público, deflagrada por intermédio de inúmeras operações de grande repercussão nacional, como a “Lavajato” por exemplo, dar maior destaque a finalidade da instituição, fato este que tem contribuído para uma maior visibilidade de sua competência. Com relação ao segundo ponto, é preciso ressaltar que o Ministério Público, não obstante único e indivisível, é divido administrativamente em dois grandes grupos: Ministério Público da União e dos Estados. Onde o primeiro grupo é subdivido, ainda, em outros cinco grandes grupos (Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Ministério Público Militar e o Ministério Público Eleitoral). Todas essas divisões e subdivisões acabam contribuindo para dificultar uma maior transparência de sua finalidade para o conhecimento da população, tendo em vista que cada órgão possui áreas de atuação e competências específicas. 2 A designação “parquet” ao Ministério Público tem origem na França, onde os procuradores do rei ficavam sobre o assoalho (parquet) da sala de audiências, e não sobre o estrado do lado do magistrado como acontece nos dias atuais. 12 Para a solução do primeiro ponto, somente o investimento na educação pública de qualidade e uma maior maturidade do próprio conceito de cidadania pela população poderá amenizar essa distorção. Já o segundo ponto pode ser minimizado por instrumentosde gestão que possibilitem a população uma maior transparência das atribuições das instituições públicas do país. Neste contexto, preocupados em garantir um maior acesso à população dos serviços prestados a sociedade, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte aderiu no ano de 2008 ao Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização3 (GESPÚBLICA) do governo federal com o objetivo de alcançar a excelência na gestão da instituição. Entre os mecanismos de gestão utilizados dentro do GESPÚBLICA para facilitar e garantir a população uma maior transparência dos serviços prestados está a Carta de Serviços ao Cidadão.4 O desenvolvimento desse instrumento de gestão é o objetivo prioritário desse trabalho de pesquisa acadêmica. Para tanto, buscaremos conhecer quais as principais demandas levadas ao Ministério Público Estadual pela população potiguar, relacionar os serviços prestados pela entidade mapeando o fluxo processual de cada etapa com seus respectivos prazos, áreas de atuação, tipos de procedimentos, como acessar e obter esse serviço, buscando, ao final, estabelecer um novo padrão de atendimento a população do Estado do RN. 1.2 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO A pesquisa ora proposta se caracteriza como estudo de natureza exploratória e descritiva, visto que buscará compreender, inicialmente, as diretrizes jurídicas que orientam as funções do Ministério Público na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais indisponíveis, descrevendo-os à luz do cenário de expansão contínua por uma gestão pública de qualidade. 3 O Programa Nacional de Gestão Pública – GESPÚBLICA, instituído pelo Decreto 5.378/2005, é um Programa do governo federal que apoia centenas de órgãos e entidades da Administração Pública na melhoria de sua capacidade de produzir resultados efetivos para a sociedade. 4 Conceitualmente podemos definir a Carta de Serviços ao Cidadão como documento elaborado por uma organização pública que visa informar aos cidadãos quais os serviços prestados por ela, como acessar e obter esses serviços e quais são os compromissos com o atendimento e os padrões de atendimento estabelecidos. 13 Para sua realização, lançar-se-á mão de estudos de recapitulação bibliográfica, buscando-se construir seu arcabouço teórico e seu marco regulatório institucional. Noutro momento, mapearemos o fluxo do procedimento de atendimento a população, de modo a identificar todas as etapas do processo até a entrega da prestação ministerial por intermédio de ações judiciais ou outras medidas conciliatórias extrajudiciais, de modo identificar os setores responsáveis, prazos e os instrumentos de atuação funcional (notícia de fato, procedimento preparatório, inquérito civil e procedimento de investigação criminal). Para a realização dessa atividade utilizaremos o software Bizagi Modeler5, ferramenta de modelagem de processos atualmente disponível na instituição. Buscaremos, ainda, conhecer as principais demandas que são levadas pela sociedade ao conhecimento do Ministério Público na defesa desses direitos, de modo a melhor orientar o desenvolvimento do produto final deste trabalho. Para tanto, analisaremos, por intermédio de uma ferramenta de Bussines Inteligente (QlikView6), todos os relatórios de registro de atendimento a população do ano de 2014 da Comarca de Mossoró, buscando traçar seu perfil socioeconômico e conhecer os principais serviços buscados, de modo a facilitar o acesso da população nesta procura. A coleta e seleção desses dados se darão mediante o repasse dos relatórios de atendimento já produzidos pela unidade. A Comarca em análise foi escolhida por sua representatividade perante o Estado do Rio Grande do Norte. Atualmente a Comarca de Mossoró conta com dezenove promotorias de justiça, todas especializada nas diversas áreas de atuação do Ministério Público Estadual. Além disso é a única unidade do Estado que possui um setor especializado que concentra todo o atendimento ao público, o que nos garante fidedignidade das informações. Todas essas informações produzidas no curso do presente trabalho 5 Bizagi Modeler é uma ferramenta gratuita específica para quem busca desenhar e modelar processos em notação BPMN e é utlizada pela gerência de modernização administrativa rotineiramente para o mapeamento dos processos de trabalho aprimorados. 6 O software QlikView é uma ferramenta de análise de banco de dados e foi recentemente adquirida pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte. Atualmente temos utilizado esta poderosa ferramenta de análise para subsidiar a administração superior na tomada de decisão nas inúmeras áreas de gestão (custos, pessoal, material permanente, acompanhamento de metas institucionais etc. 14 contribuirão para orientar o desenvolvimento da proposta da Carta de Serviços direcionada ao Cidadão, produto final desta pesquisa. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivos Gerais Estudar os aspectos pertinentes ao desenvolvimento da Carta de Serviços do Ministério Público do Estado do Rio Grande no Norte, buscando construir um novo padrão de atendimento ao público para as Promotorias de Justiça. 1.3.2 Objetivos Específicos a) analisar a natureza dos serviços prestados pelo Ministério Público sob um prisma jurídico-constitucional, verificando sua conceituação e aplicação; b) conhecer, de maneira sistemática, quais são os serviços prestados pelo Ministério Público Estadual. c) analisar quais são os principais serviços procurados, a partir do estudo de caso da Comarca de Mossoró. d) mapear os fluxos de atendimento a população e dos procedimentos de atuação/investigação ministerial, buscando ao final desenvolver um novo padrão de atendimento a população. 2. BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO O Ministério Público Brasileiro, como instituição única, indivisível e independente,7 com todas as suas atribuições e prerrogativas constitucionais como nós conhecemos hoje, nasceu somente a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. Entretanto, sua origem embrionária remonta ainda no período colonial brasileiro, pela própria imposição das leis do direito lusitano aplicado ao Brasil colônia8. Naquela época não se reconhecia o Ministério Público como instituição 7 O § 1º do art. 127 da Constituição Federal elenca como princípios constitucionais do Ministério Público a unidade, indivisibilidade e a independência funcional. 8 No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito lusitano. Não havia o Ministério Público 15 independente, agindo apenas como mera extensão dos interesses da Coroa. A Constituição Imperial de 1824 foi silente quando a sua existência, não havendo nenhuma menção sobre sua atuação. O primeiro documento, ainda no período imperial brasileiro, a relacionar a existência e funcionamento dos promotores públicos foi o Decreto Imperial de nº 120, de 21 de janeiro de 1843, que regulamentava a forma de provimento e tempo de ocupação das funções de seus membros9. Assim como na Constituição anterior, a de 1889, primeira republicana, não lhe fez qualquer alusão a sua existência. Porém, a partir dos movimentos de codificação do início do século XX, o Código Civil de 1916 e o Código Penal de 1941 traziam vários artigos elencando novas competências do Ministério Público10. Somente a partir 1934 que a instituição passa a possuir status constitucional, merecendo capítulo a parte. A partir daí todas as demais passaram a tratar do Ministério Público, destinando-lhe, inclusive, capítulo próprio. Um ponto bastante curioso a respeito da Constituição Federal de 1946 foi o fato de a mesma ter organizado a Instituição de acordo com a estrutura federativa, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal. Nesseperíodo os estados da federação optaram por desvincular os seus Parquet’s da representação judicial do Estado, e tiveram suas funções restritas às suas atribuições típicas de fiscal da lei, titular da ação penal pública como mecanismo de combate ao crime e perseguição do criminoso, e bem assim empenho de suas funções de representação compreendidas na legislação procedimental. Mesmo em pleno período da ditadura militar, a década de 1970 trouxe grandes inovações ao Ministério Público, notadamente o Ministério Público como instituição. Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordenações Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores de justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e de promover a acusação criminal. Existiam ainda o cargo de procurador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e o de procurador da Fazenda (defensor do fisco). 9 Art. 2º - Os promotores serão nomeados pelo Imperador no Município da Corte, e pelos presidentes nas províncias, por tempo indefinido; e servirão enquanto convier a sua conservação ao serviço público sendo, caso contrário, indistintamente demitidos pelo Imperador, ou pelos presidentes das províncias nas mesmas províncias. 10 Entre as novas competências atribuídas ao Ministério Público pelo Código Civil de 1916, estava: a curadoria das fundações; legitimidade nas ações relacionadas ao casamento e interdições; defesas de menores entre outras. Já o Código Penal de 1941 consolidava o Ministério Público como titular da ação penal, atribuindo-lhe poder de requisição de inquéritos policiais e novas diligências a polícia civil. 16 Potiguar. Nesse período foi publicado11 um novo estatuto que definiu a carreira em cargos divididos em duas instâncias (Promotores e Procuradores). Mas é definitivamente a partir da década de 90 que o Ministério Público passa por uma mutação constitucional que lhe elevou a uma nova categoria. Em 1981, a partir da publicação da sua 1ª Lei Orgânica do Ministério Público, a Lei Complementar n.40 de 1981, passa o Ministério Público a ter a seguinte definição: Instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado e responsável, perante o judiciário, pela defesa da ordem jurídica e dos interesses indisponíveis da sociedade, pela fiel observância da Constituição e da Lei. (Lei Complementar n.040/1981) Em 1985, com a publicação da Lei n. 7.347, mais conhecida com Lei da Ação Civil Pública, o Ministério Público se integra, definitivamente, na defesa dos interesses sociais. O mesmo instrumento legal cria, ainda, o inquérito civil, instrumento investigatório direto, instaurado e presidido pela própria instituição (MAZZILLI, 2012, pag. 26). Mesmo com todas essas inovações, foi somente a partir da Constituição Federal de 1988 que o Ministério Público se transformou como órgão independente, não estando mais subordinado ao Executivo ou Judiciário, adquirindo autonomia e atribuições na defesa das liberdades públicas, os interesses difusos e coletivos. Os poderes recebidos na ocasião foram tão importantes que para muitos o Ministério Público é denominado como “o quarto poder”. Um marco regulatório importante para a definição de seu papel constitucional foi a publicação da Lei n. 8.625, de 1993, que definiu a sua Lei Orgânica Nacional. Diversos outros marcos legais elevaram ainda mais o rol de atribuições da nova instituição renovada a partir da carta constitucional de 1988, como por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei 8.069 de 1990, o Código de Defesa do Consumidor – Lei n. 8.078 daquele mesmo ano e a importante Lei de Improbidade Administrativa, de número 8.429/92, as quais ampliaram os campos de atuação do Ministério Público. 11 Lei Estadual n. 3.871, de 09 de Outubro de 1970. Diário Oficial do Estado do RN, pag. 1 17 3. DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL Conforme definido pela Constituição Federal de 198812, o Ministério Público tem sua atuação funcional direcionada a garantia dos direitos e interesses sociais de âmbito difuso e coletivo e aqueles individuais indisponíveis. Ainda segundo Mazzilli (2015), interesse difuso é todo direito transindividual que vai além do interesse isolado de apenas um cidadão, onde a satisfação do direito deve atingir uma coletividade indeterminada, ou seja, são garantias constitucionais da própria sociedade como um todo, como por exemplo, o direito a saúde, o direito as políticas de saneamento básico, ao desenvolvimento social num meio ambiente equilibrado entre outros. Direito coletivo, também na visão do mesmo autor, se caracteriza por ter natureza transindividual, entretanto, os detentores dessa modalidade de direito estão intimamente ligados por uma relação jurídica que impossibilita o tratamento diferenciado naquela coletividade, como por exemplo as categorias sindicais de classe (professores, advogados, engenheiros). Além desses, existe ainda a possibilidade de atuação do Ministério Público para garantia dos interesses individuais indisponíveis, que na visão de Mazzili (2015)13 se caracteriza pela garantia do gozo de direitos irrenunciáveis, ou seja, aqueles onde não si permite dispor, não sendo possível, por exemplo, a formulação de contrato onde um sujeito se subjugaria a condição de escravo, pois a liberdade é direito indisponível. Dessa maneira, em consonância com as diretrizes constitucionais, podemos definir os serviços prestados pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte em 09 (oito) áreas temáticas de atuação: consumidor; criminal; educação, idoso, infância e juventude; meio ambiente; patrimônio público, pessoa com deficiência e saúde. 3.1 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DO CONSUMIDOR A defesa do consumidor é um direito fundamental presente na 12 Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 13 MAZZILLI, Hugo Nigro, Ministério Público, São Paulo: Ed. Saraiva, 2015. 18 Constituição Federal de 1988. Além dos comandos normativos sobre o direito consumerista espalhado na Carta Magna, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) elencou, de maneira bastante clara, o direito em questão, buscando traçar uma maior proteção em relação ao consumidor, considerando sua inferioridade nas relações de consumo. A legislação em questão visa adequar o crescente desenvolvimento econômico e tecnológico às necessidades dos consumidores, bem como garantir o respeito a sua dignidade, saúde e segurança; proteção de seus interesses econômicos; e melhoria de sua qualidade de vida. Dessa maneira, cabe ao MPRN protege os interesses difusos, como no caso de uma propaganda enganosa publicada em jornais de grande circulação; os interesses coletivos, a exemplo de várias pessoas que assinam contratos de adesão de uma operadora de telefonia celular com cláusulas abusivas; e os individuais homogêneos, como no caso de consumidores que compram um tipo de carro com o mesmo defeito de fabricação. 3.2 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DA EDUCAÇÃO A educação é um direito social previsto na Constituição Federal de 198814, sendo um dever do Estado, bem como da família, promovê-la e incentivá-la com a colaboração da sociedade. Assim, é preciso que a escola desempenhe a sua função no desenvolvimento da criança e do adolescente, que a família assuma o seu papel de formadora de valores, o poder público desempenhe a sua função de promover as condições para que a educação aconteça e, finalmente, que a sociedade se perceba com responsabilidade no processo de formação da cidadania.Com certeza, ter uma educação básica de qualidade faz toda a diferença para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Constituição Federal de 1988, seguindo a tendência de inovações legislativas anteriores, conferiu ao Ministério Público um importante papel na defesa dos interesses sociais, entre eles o direito à educação. Assim, o Ministério Público Estadual tem muito a contribuir com a tarefa de melhorar a qualidade da 14 Art. 205 da CF: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 19 educação oferecida a nossa população. São diversas as situações de conflito em que a Promotoria atua como mediadora de questões que envolvem alunos, professores, famílias, escolas e a Secretaria de Educação. Entre tantas vivências, está a violência na escola, más condições da estrutura física das escolas, falta de professores, falta de merenda escolar, problemas no transporte escolar, falta de políticas públicas voltadas para a educação e aplicação inadequada de verba. 3.3 DOS SERVIÇOS NA ÁREA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE O Ministério Público teve seu âmbito de atuação sensivelmente ampliado com o advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente o qualificou, em seu art. 127, como instituição permanente, essencial à Justiça, destinada à defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. É exatamente com fundamento nesse último aspecto, ou seja, o de órgão guardião dos interesses de caráter indisponível, que se extrai a atribuição institucional do Ministério Público no que se refere à proteção dos direitos afetos a crianças e adolescentes. Instituição posicionada no “eixo de defesa” do Sistema de Garantia de Direitos, detentora da função de aplicar e fiscalizar o cumprimento da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA), a qual, sob o manto da “Doutrina da Proteção Integral”, estabelece ser dever de todos zelar para que crianças e adolescentes sejam colocados a salvo de toda forma de violência, negligência, crueldade e opressão. O Ministério Público, por intermédio dos Promotores de Justiça, em cada Comarca, tem por missão legal, com prioridade absoluta, atuar na linha de frente, junto à comunidade e ao poder público, como articulador das ações de prevenção e de garantia de atendimento especializado e prioritário na concretização dos direitos e garantias a que fazem jus crianças e adolescentes. Para esse mister, dentre as atribuições outorgadas ao Órgão Ministerial pelo ECA, conforme disposto no seu art. 201, destaque-se: a promoção de inquérito civil e ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência; a promoção e acompanhamento dos procedimentos relativos às infrações atribuídas a 20 adolescentes; a propositura e acompanhamento das ações de alimentos e procedimentos de suspensão do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães; oficiar em os demais procedimentos de competência da Justiça da Infância e Juventude e zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. Assim, qualquer cidadão que tenha conhecimento de ato capaz de ensejar a atuação ministerial em prol do segmento infantojuvenil, nos moldes acima mencionados, deve se dirigir às Promotorias de Justiça com atribuição na matéria, bem como à Ouvidoria do Ministério Público, e relatar os fatos irregulares, para que sejam tomadas as providências pertinentes. 3.4 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DO MEIO AMBIENTE Com o advento da Constituição Federal de 1988 o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi elevado à categoria de direito humano fundamental, devendo ser garantida a sua proteção em benefício das gerações presentes e futuras ( art. 225, CF ). De tal modo, visando a proteção desse preceito fundamental o Ministério Público, instituição voltada à defesa da ordem jurídica e garantidor dos direitos fundamentais, como o Meio Ambiente, atua, através dos Promotores e Procuradores de Justiça na concretização destes direitos (art. 127, CF e art. 1º, I da Lei n.º 7.347/85). Segundo Fiorillo15, a Política Nacional do Meio Ambiente, estipulada pela Lei n.º 6.938 de 1981, conceitua o meio ambiente como o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (art. 3º, I), definição ampla que busca tutelar não somente o meio ambiente natural, mas também o artificial e o cultural, conforme delimitação que segue abaixo Ainda segundo o autor, o meio ambiente natural ou físico: é formado pela atmosfera, pelos elementos da biosfera, pelas águas (inclusive pelo mar territorial), pelo solo, pelo Subsolo (inclusive recursos minerais), pela fauna e pela flora, buscando garantir o equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio do qual fazem parte. 15 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 71/72. 21 Fiorillo entende, ainda, que o meio ambiente artificial: é compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)”, estando diretamente relacionado ao conceito de cidade Na visão de Da Silva (2014)16, meio ambiente cultural: “é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial. Neste sentido, a atuação do Ministério Público na área de meio ambiente se dá na proteção do meio ambiente natural, artificial e cultural, através da atividade extrajudicial, mediante expedição de Recomendações, assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta, dentre outros, além do ajuizamento de Ações Civis Públicas ou Criminais. 3.5 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte possui, dentre as suas funções institucionais previstas no art. 129 da Constituição Federal, a atribuição de promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social. De acordo com o parágrafo 1º, artigo 1º, da Lei da Ação Popular, o patrimônio público se constitui no conjunto de bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico, pertencentes aos entes da administração pública direta e indireta. A gestão desse patrimônio deve ser orientada pelo art. 37. da Constituição Federal, o qual dispõe que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Dessa forma, a atuação do Ministério Público tem por objetivo fazer com que a administração e gestores públicos sempre atuem de acordo com os princípios constitucionais, notadamente legalidade e probidade administrativa, na gestão do patrimônio público. 16 DA SILVA, José Afonso. Direito Constitucional Ambiental. São Paulo: Malheiros, ed. 4ª. 2014, p. 31 22 No âmbito desta defesa, podemos listar algumas das mais comuns irregularidades combatidas diariamente pelo Ministério Público: fraudes e outras irregularidades em licitações e contratos públicos; fraude a concursospúblicos; nepotismo; admissão de servidores sem concurso prévio; enriquecimento ilícito no exercício de cargo público; violação do dever de prestar contas; não publicidade dos atos e despesas públicas; utilização de bens e servidores públicos para satisfação de interesses particulares e omissão na arrecadação de tributos. Assim, qualquer do povo que tenha conhecimento de qualquer ato que lesione o patrimônio público pode se dirigir às Promotorias de Justiça, bem como à Ouvidoria do Ministério Público, e relatar os fatos irregulares para que sejam adotas as providências adequadas ao caso. 3.6 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DA SAÚDE A Constituição Federal de 1988 foi um marco fundamental na redefinição das prioridades da política do Estado na área da saúde pública incorporando novas dimensões ao conceito tradicional de saúde. O conceito de saúde, para a “Constituição Cidadã”, passa pelo acesso a um conjunto de fatores, antes dissociados dessa realidade, como alimentação, moradia, emprego, lazer e educação. A saúde foi inscrita como direito de todos os brasileiros e dever do Poder Público, ensinando o artigo 196 da Carta Magna que “a saúde é direitos de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. A nova roupagem constitucional dada à saúde no Brasil é marcada, principalmente, pela correção da distorção assistencial, antes garantida apenas a quem mantinha vínculo formal com a previdência social, e hoje erigida à condição de direito social, com acesso assegurado a todos os brasileiros por meio de um sistema, que é o Sistema Único de Saúde (SUS). É nesse sentido que o SUS, tantas vezes criticado por quem não entende sua essência, é tido como UNIVERSAL, pois não exclui ninguém, garante atendimento a toda e qualquer pessoa que dele necessite, ainda que tenha 23 maiores condições financeiras e, até mesmo plano de saúde privado. Portanto, nada obstante a existência espaços de desassistência no SUS, sua criação consubstanciou-se numa grande vitória do povo brasileiro, que passou a poder exigir dos governos atendimento de saúde para qualquer cidadão, seja qual for o tipo de assistência necessitada. Nesse contexto, o Ministério Público se posiciona como um defensor do SUS, buscando o aprimoramento do sistema, visando sua ampla implementação e melhoria, de maneira a atender toda a população que dele necessita, como forma de tornar efetivo o direito fundamental à vida. 3.7 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA No Brasil, o sistema de garantia dos direitos da pessoa com deficiência possui substrato em diversas normas constitucionais, legais e infralegais. Além das garantias insertas na Constituição Federal, destaca-se a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei nº 10.048/2000 (estabelece o atendimento prioritário), a Lei nº 10.098/2000 (estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade), a Lei nº 7.853/1989 (dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua integração social), o Decreto nº 5.296/2004 (regulamenta a Lei nº 10.048/2000 e a Lei nº 10.098/2000) e o Decreto nº 3.298/1999 (dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência). A Lei Fundamental, em seu artigo 227, §1º, II, estabeleceu que o Estado deverá criar programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem com deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. Perceba-se, ainda, que o Congresso brasileiro acatou a reivindicação das pessoas com deficiência no sentido de outorgar status constitucional ao ato de ratificação da Convenção Internacional da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, frisando-se que esse diploma internacional possui o propósito de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos 24 humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente, conforme preceitua o seu artigo 1º. A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 – por sua vez – passou a integrar o microssistema coletivo, legitimando expressamente o Ministério Público a ajuizar ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos das pessoas com deficiência. Destaque-se que a Carta Política brasileira, ao traçar o perfil constitucional do Ministério Público em seu art. 127, caput, legitimou a defesa dos interesses individuais indisponíveis das pessoas com deficiência. Frente ao exposto, pode-se acrescentar que a atuação ministerial na defesa da pessoa com deficiência comporta os seguintes temas: educação inclusiva, garantia das políticas públicas de saúde e reabilitação das pessoas com deficiência, defesa dos serviços socioassistenciais destinados a essa minoria, proteção da igualdade e das políticas afirmativas legalmente constituídas, acessibilidade, tutela penal da pessoa com deficiência, dentre outras questões. 3.8 DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ÁREA DO IDOSO No Brasil, o sistema de garantia dos direitos da pessoa idosa possui substrato em diversas normas constitucionais, legais e infralegais. No âmbito nacional, além das garantias constitucionais, destacam-se a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.8421/1994), o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), além de inúmeras políticas e planos setoriais, tais como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 230, dispôs que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem- estar e garantindo-lhes o direito à vida. Em conformidade com esse mandamento constitucional, o legislador ordinário, com esteio em seu poder de conformação, densificou a norma inserta no 230 da Carta Política por intermédio da Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que instituiu o Estatuto do Idoso, alçando-se – através desse amparo legislativo – a proteção de tais direitos a um nível de absoluta prioridade, 25 reforçando o dever de lhes bem curar entre o Estado, a família, a comunidade e a sociedade. Diante desse panorama, a Lei nº 10.741/2003, a par de proteger os longevos, previu a legitimação extraordinária do Ministério Público para atuar em favor dos anciãos que estejam em situação de risco, conforme demonstra a redação do seu artigo 74, III, do Estatuto do Idoso. De acordo o artigo 43 da Lei nº 10.741/2003, entende-se por situação de risco a ameaça ou violação aos direitos dos idosos por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; em razão de sua condição pessoal. Registre-se, ademais, que a atuação do Ministério Público na defesa individual dos idosos deve se pautar apenas nas hipóteses em que o caso concreto demonstre que o longevo se encontra em situação de risco, entendendo-se risco como violação ou ameça de direitos descritos no Estatuto do Idoso, os quais na esfera individual deverão ser indisponíveis, haja vista o perfil constitucional do Ministério Público delineado no art. 127, caput, da Lei Fundamental. Por derradeiro, observa-se que o Estatuto do Idoso também passou a integrar o microssistema coletivo, legitimando expressamente o Ministério Públicoa ajuizar ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos dos longevos, conforme preceito legal inserto no artigo 81, I, da Lei nº 10.741/2003. 26 Figura 1: Rol de serviços do MPRN 4. ESTUDO DE CASODO ATENDIMENTO AO PÚBLICO DA COMARCA DE MOSSORÓ Para Silva (2014) conhecer os objetivos das pessoas que atendemos no processo produtivo é algo fundamental para o desenvolvimento de uma ideia de melhoria contínua de processos. Nesse sentido, fundamental se faz, quando se deseja aprimorar nosso processo de atendimento por intermédio de uma ferramenta de transparência e gestão, conhecermos as principais demandas que são levadas pela sociedade ao conhecimento do Ministério Público Estadual na defesa desses direitos, de modo a melhor orientar o desenvolvimento do produto final deste trabalho. Para tanto, analisamos, por intermédio de uma ferramenta de Bussines Inteligente (QlikView17), todos os relatórios de registro de atendimento a 17 O software QlikView é uma ferramenta de análise de banco de dados e foi recentemente adquirida pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte. Atualmente temos utilizado 27 população do ano de 2014 da Comarca de Mossoró, buscando traçar os principais aspectos relacionados ao perfil das pessoas, de modo conhecermos os principais serviços buscados. A coleta e seleção desses dados se deu mediante o repasse dos relatórios de atendimento já produzidos pela unidade. A Comarca em análise foi escolhida por sua representatividade perante o Estado do Rio Grande do Norte. Atualmente a Comarca de Mossoró conta com dezenove promotorias de justiça, todas especializada nas diversas áreas de atuação do Ministério Público Estadual. Além disso é a única unidade do Estado que possui um setor especializado que concentra todo o atendimento ao público, o que nos garante fidedignidade das informações. No geral, analisamos 1127 (mil cento e vinte e sete) fichas de atendimentos. Todos essas fichas possuem, basicamente, os seguintes dados de identificação: nome, sexo, idade, endereço, profissão e assunto de interesse buscado no MPRN. As informações aqui apresentadas acabam por reforçar uma espécie de conhecimento empírico já relatado nas linhas iniciais desse trabalho, tendo em vista nossa experiência prática nos últimos 10 (dez) anos de trabalho a frente de setores relacionados ao atendimento ao público. Para apresentá-las de modo mais didático, as informações relacionadas a cada ficha de atendimento foi tabulada em Excel e em seguida tratada por intermédio da ferramenta de análise de banco de dados QlikView. A primeira informação que refuto fundamental para o conhecimento de nosso público-alvo é a proporcionalidade existente entre a procura dos serviços pelas pessoas e as matérias de atuação funcional do MPRN. esta poderosa ferramenta de análise para subsidiar a administração superior na tomada de decisão nas inúmeras áreas de gestão (custos, pessoal, material permanente, acompanhamento de metas institucionais etc. 28 Gráfico 1: Percentual de demanda entre as Promotorias de Justiça do ano de 2014. Considerando apenas os atendimentos que eram de atuação funcional do MPRN (755), a maior concentração da procura se deu na área da saúde, seguida pela defesa dos direitos do Idoso. Muito embora já fosse esperado uma maior procura nos serviços relacionados a saúde, tendo em vista a precariedade notória de nossos serviços públicos nessa tão importante área de atuação do Estado, a descoberta de 22,78% dos atendimentos relacionados a defesa do idoso nos surpreende, notadamente 29 por está a frente da procura pelos serviços relacionados a defesa da Infância e Juventude (4,24%), que sempre foram tratados institucionalmente com maior relevância18. Gráfico 2: Percentual de demanda tratada e encaminhada do ano de 2014. Esse último dado refuto como um dos mais significativos de nossa pesquisa acadêmica. Levando em consideração todos os 1127 (mil cento e vinte e sete) atendimentos realizados pelo setor sociojurídico da Comarca de Mossoró, constatamos que 33% das pessoas que procuram a unidade no ano de 2014 traziam demandas que não eram de nossa competência. Isso nos mostra que, de fato, boa parte da população não conhece nosso papel na defesa dos direitos difusos e coletivos no âmbito estadual. Essa 18 Até o ano de 2014 a Comarca de Mossoró só possuía 01 (uma) Promotoria de Justiça de Defesa do Idoso, frente as 02 (duas) da área da Infância e Juventude já existentes. 30 constatação que agora se descortina só confirma nossas observações iniciais ao londo das notas introdutórias desse trabalho. Muito embora não seja nosso objetivo tratar essa informação de maneira isolada, em nível nacional essa realidade é ainda pior. Segundo dados de pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense no de 201319, 77% das pessoas entrevistadas não souberam responder em que áreas o MPF atua. Dessa maneira, o desenvolvimento de um instrumento de gestão que possibilite o conhecimento prévio de nossa competência constitucional é algo fundamental para garantir uma maior transparência de nossos serviços frente as demandas da sociedade. 5. MAPEAMENTO DOS FLUXOS DE TRABALHO 5.1 Fluxo Atendimento ao Público Um dos objetivos desse trabalho é conhecer o caminho realizado nos principais processos de trabalho da instituição. Entre esses processos um dos mais importantes para nossa pesquisa é o processo de atendimento ao público. Para tanto, visando mapear seu passo a passo, apresentaremos o fluxo que foi desenvolvido após a identificação das epatas necessárias entre a busca pelo serviço pelo cidadão até a sua materialização por intermédio de alguns dos instrumentos investigatórios utilizados pelo Ministério Público Estadual. Todos os processos que serão apresentados a seguir foram desenvolvidos com base no trabalho diário de membros e servidores da instituição, após amplo desenvolvimento no Departamento de Planejamento e Gestão Estratégica, notadamente na Gerência de Modernização Administrativa. Por fim, os fluxos foram validados pela Chefia de Gabinete da Instituição e Procuradoria-Geral de Justiça Adjunta, estando assim em conformidade com os parâmetros atuais de trabalho desenvolvidos pela Instituição. 19 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Pesquisa de Opinião sobre a Imagem do Ministério Público Federal. Disponível em: <http://imguol.com/blogs/52/files/2013/08/Relat%C3%B3rio-sum %C3%A1rio.pdf>. Acesso em: maio de 2016. http://imguol.com/blogs/52/files/2013/08/Relat%C3%B3rio-sum%C3%A1rio.pdf http://imguol.com/blogs/52/files/2013/08/Relat%C3%B3rio-sum%C3%A1rio.pdf 31 Figura 2: Fluxograma de Atendimento ao Público Todas as pessoas que chegam ao Ministério Público são previamente submetidas a um cadastramento prévio, seguindo normas internas de segurança 32 orgânica. Ultrapassada essa fase preliminar, o cidadão é submetida a revista com detector de metais e encaminhado ao setor de atendimento ao público, onde aguardará sua vez de ser atendido. Em regra todas as pessoas são atendidas por servidor da instituição. Entretanto, é direito do cidadão ser atendido por um Promotor de Justiça, caso seu caso seja de interesse sigiloso ou pela peculiaridade da demanda deva merecer atendimento reservado (exemplo: casos de violência doméstica), sendo facultado ao cidadão ser atendido exclusivamente por um promotor de justiça. Após o cadastramento das informações pessoas no sistema interno de controle, caberá ao servidor responsável pelo atendimento ao público identificar se a demanda em questão está entre as áreas de atuação funcional da instituição. Não sendo caso, deverá o servidor orientar o cidadão a procurar o órgão respectivo. De outro modo, apósescutar a reclamação apresentada a mesma será reduzida a termo, lida em voz alta e assinada em duas vias. Logo após a manifestação é autuada, via sistema, como Notícia de Fato e encaminhada ao Promotor de Justiça que deverá determinar a continuidade ou não da peça preliminar por intermédio de algum dos instrumentos de investigação ou determinar seu arquivamento, realizando a secretaria ministerial em ambos casos as devidas comunicações a parte interessada. 5.2 Fluxo Atuação Ministerial O início da atuação do Ministério Público em um procedimento extrajudicial pode ocorrer em razão de um atendimento ao público, mensagem eletrônica, expedientes externos (como ofícios, por exemplo), representações, designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério Público e demais órgãos superiores da Instituição, além de deflagração de ofício (ou seja, o próprio membro do Ministério Público, ao tomar conhecimento de um fato, determina a instauração de procedimento). Em conformidade com o Manual da Taxonomia do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), todas as demandas recebidas pelo Ministério Público devem ser formalizadas em um dos tipos de procedimentos ali elencados e, atualmente, existem quatro tipos de procedimentos extrajudiciais que tramitam na Promotoria de Justiça, cada um com uma finalidade específica. Noticiados fatos que possam representar lesão a direito tutelado pelo 33 Ministério Público, o membro do MPRN que teve conhecimento da informação, poderá determinar diligências (Requisições, notificações, audiência pública) para levantar elementos que possam definir o tratamento mais adequado à informação, até mesmo antes da instauração de Inquérito civil ou Procedimento Preparatório, sob a forma de notícia de fato. As notícias que chegarem até o membro do MPRN em relação a ocorrência de fatos já mencionados, se necessário, podem ser alvo de Procedimento Preparatório, que pretende levantar informações acerca da identidade dos envolvidos, assim como do objeto: a. Instaurado por despacho e presidido por membro do MPRN; b. Receberá apoio administrativo para o cumprimento dos despachos Ministeriais da(s) secretaria(s) das Promotorias de Justiça; c. Receberá apoio administrativo do serviço de atendimento ao cidadão para a entrega de notificações e ofícios e correspondência em geral em virtude dos atos do procedimento extrajudicial; d. Esgotadas as diligências ou levantadas as informações pretendidas com a instauração do Procedimento Preparatório, o procedimento poderá ser convertido em Inquérito Civil, promovido o seu arquivamento ou ser alvo de resolução extrajudicial (expedição de recomendação, celebração de ajustamento de conduta); Na instrução do Procedimento Extrajudicial o presidente poderá determinar: a. Notificação para o comparecimento de pessoas, com o fim de realizar oitivas; b. Requisição de informações, documentos, vistorias, perícias etc. c. Realização de audiências públicas com o propósito de colher informação que fundamente a convicção do Órgão de execução proponente em relação ao objeto da convocação. Para materializar o cumprimento das diligências determinadas nos autos do procedimento preparatório ou inquérito civil, o apoio administrativo oferecido ao órgão de execução poderá: a. Juntar aos autos os documentos que forem requisitados pelo órgão de execução; b. Confeccionar ofícios, notificações, comunicados e convites; c. Solicitar a publicação, do que for necessário, ao serviço de publicação 34 da PGJ via Sistema Gerenciador de Demandas (SGD); A juntada de documentos e solicitação de publicação deverão ser antecedidas de determinação do presidente do Procedimento Extrajudicial, da mesma forma os ofícios, notificações e convites deverão ter suas minutas revisadas e asseveradas pelo membro do MPRN, antes de seu envio. A instauração, evolução e arquivamento dos Procedimentos Extrajudiciais deverão ser registrados sistemas próprios, com o intuito de promover o controle e acompanhamento do Inquéritos civis e Procedimentos Preparatórios da Promotorias de justiça, para fins correcionais e de gestão administrativa. A atividade processual é registrada em meio eletrônico próprio e padronizado, assim como, no sistema de automação Judicial do MPRN20, dando condições de fornecer as informações necessárias para o preenchimento do relatório mensal da corregedoria Geral do MPRN, assim como para os fins de organização que se fizerem necessários. Na ocasião da determinação de instauração do Procedimento Preparatório ou do Inquérito Civil, o órgão de execução deverá dispor acerca da necessidade de sigilo daquele procedimento. Atentando-se para o estabelecimento da forma de guarda, acesso, publicação e fornecimento de informações referentes àqueles autos. Notícia de Fato Os documentos ou pedidos de providências que chegam ao conhecimento do membro do MPRN são registrados por intermédio de Notícias de Fato. Trata-se de instrumento inicial de autuação que serve de base para registro e atuação funcional dos Promotores de Justiça. A Notícia de Fato, por ser um procedimento menos burocrático, dispensa Portaria de Instauração, publicação, nomeação de secretário etc. Quando o Promotor de Justiça despachar com um simples “Registre-se e autue-se.” o servidor deverá fazer a autuação e distribuição como Notícia de Fato. Em consonância com a Resolução nº 013/2006 do CSMP, o prazo de apuração da Notícia de Fato é de 30 (trinta) dias: art. 5º O membro do Ministério Público, no exercício de suas atribuições 20 Atualmente o MPRN usa um novo sistema de automação de processos chamado de MPVirtual 35 criminais, deverá dar andamento, no prazo de 30 (trinta) dias a contar de seu recebimento,às representações, requerimentos, petições e peças de informação que lhes sejam encaminhadas. Procedimento Preparatório Procedimento Preparatório é o procedimento formal, prévio ao Inquérito Civil, que visa apurar elementos para identificação dos investigados ou do objeto (art. 9º da Lei nº 7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública -, e art. 6º, §5º, da Resolução nº 002, de 21 de junho de 2008 – CPJ/RN). O referido procedimento será instaurado por despacho que deverá conter os mesmos dados do Inquérito Civil (fundamento legal, nome do investigado e do autor da representação, data e local, diligências iniciais, designação de secretário, publicação e de afixação da cópia da Portaria). O prazo de conclusão será de 90 (noventa) dias, prorrogáveis por uma só vez em caso de justificada necessidade, conforme art. 2º, § 6º, da Resolução nº 23/2007 – CNMP. Chegando ao final do prazo, o procedimento deverá ser convertido em Inquérito Civil, arquivado ou utilizado como fundamento para o ajuizamento de Ação Civil Pública. Ressalta-se que, no âmbito do MPRN, atualmente, a regulamentação da instauração e tramitação do procedimento preparatório e inquérito civil é através a Resolução nº 002/2008-CPJ. Inquérito Civil O Inquérito Civil mostra-se necessário quando a questão apresentada ao Ministério Público é mais profunda, demandando mais diligências. Caso o Promotor de Justiça possa identificar quem serão os investigados e qual será o objeto da investigação, deverá instaurar o Inquérito Civil, sendo desnecessário o Procedimento Preparatório. O art. 4º da Resolução nº 23 do CNMP trata da instauração e prorrogação: Art. 4º O inquérito civil será instaurado por portaria, numerada em ordem crescente, renovada anualmente, devidamente registrada em livro próprio e autuada, contendo: I – o fundamento legal que autoriza a ação do Ministério Público e a descrição do fato objeto do inquérito civil; II – o nome e a qualificação possível da pessoa jurídica e/ou física a quem o fato é atribuído; III – onome e a qualificação possível do autor da representação, se for o 36 caso; IV – a data e o local da instauração e a determinação de diligências iniciais; V – a designação do secretário, mediante termo de compromisso, quando couber; VI - a determinação de afixação da portaria no local de costume, bem como a de remessa de cópia para publicação. Parágrafo único. Se, no curso do inquérito civil, novos fatos indicarem necessidade de investigação de objeto diverso do que estiver sendo investigado, o membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a extração de peças para instauração de outro inquérito civil, respeitadas as normas incidentes quanto à divisão de atribuições. Merece esclarecimento que o Inquérito Civil é o procedimento investigatório de natureza inquisitorial, cujo objeto é realizar colheita de dados e elementos para propositura de eventual ação civil pública ou adoção de outras providências, como expedição de recomendações e celebração de termo de ajustamento de conduta. O artigo 9º da Resolução nº 23/2007-CNMP determina que o Inquérito Civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo mesmo prazo e quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu presidente, em razão da imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências, dando- se ciência ao Conselho Superior do Ministério Público. Da mesma forma, a Resolução nº 002/2008-CPJ dispõe que o Inquérito Civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo mesmo prazo por até três vezes e, havendo necessidade de prorrogação além das três vezes, poderá ocorrer nova dilação, mediante comunicação ao Conselho Superior do Ministério Público, fundamentada em relatório circunstanciado acerca das providências já adotadas. Sendo assim, concluído o prazo, deverá o servidor certificar nos autos, cabendo ao Promotor de Justiça prorrogar o prazo fundamentadamente, comunicando ao CSMP. Por força da previsão contida na Resolução nº 23/2007, com redação dada pela Resolução nº 59, de 27 de julho de 2010, do Colégio de Procuradores de Justiça, todos os ofícios requisitórios destinados a instruir inquérito civil ou procedimento preparatório devem ser fundamentados e acompanhados de cópia da portaria que instaurou o procedimento ou com indicação precisa do endereço eletrônico oficial em que tal peça esteja disponibilizada. 37 Procedimento Investigatório Criminal – PIC O art. 1º da Resolução nº 13, de 02 de outubro de 2006, do CNMP, define Procedimento Investigatório Criminal como instrumento de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal. Normalmente, ao tomar conhecimento da existência de algum crime, pode o Promotor de Justiça simplesmente requisitar a instauração de Inquérito Policial ou Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO. Contudo, é possível a instauração do PIC quando houver dúvida sobre a lisura ou eficiência da investigação policial, por qualquer outro motivo, a critério do Promotor de Justiça. Da mesma forma que o Inquérito Civil, o PIC deverá ser instaurado por meio de Portaria fundamentada, conforme art. 4º, da Resolução nº 13/2006- CNMP: Art. 4º O procedimento investigatório criminal será instaurado por portaria fundamentada, devidamente registrada e autuada, com a indicação dos fatos a serem investigados e deverá conter, sempre que possível, o nome e a qualificação do autor da representação e a determinação das diligências iniciais. Parágrafo único. Se, durante a instrução do procedimento investigatório criminal, for constatada a necessidade de investigação de outros fatos, o membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a extração de peças para instauração de outro procedimento. Art. 5º Da instauração do procedimento investigatório criminal far-se-á comunicação imediata e escrita ao Procurador-Geral da República, Procurador-Geral de Justiça, Procurador-Geral de Justiça Militar ou ao órgão a quem incumbir por delegação, nos termos da lei. A instauração deverá ser comunicada ao Procurador-Geral de Justiça e ao Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça Criminais e, na hipótese de investigação com indício de envolvimento de organização criminosa, ao GAECO (Art. 5º, da Resolução nº 008/2009-CPJ). O prazo de conclusão do PIC é de noventa dias, prorrogáveis quantas vezes forem necessárias para a conclusão da investigação (art. 12, da Resolução nº 13/2006-CNMP). Um aspecto diferente do PIC é que o controle de seu arquivamento segue o mesmo do Inquérito Policial, e não do Inquérito Civil, ou seja, o Procedimento Investigatório Criminal não é encaminhado ao Conselho Superior do 38 Ministério Público, mas ao Juízo criminal competente para julgar eventual ação penal, nos termos do art. 15, da Resolução nº 13/2006-CNMP: Art. 15 Se o membro do Ministério Público responsável pelo procedimento investigatório criminal se convencer da inexistência de fundamento para a propositura de ação penal pública, promoverá o arquivamento dos autos ou das peças de informação, fazendo-o fundamentadamente. Parágrafo único. A promoção de arquivamento será apresentada ao juízo competente, nos moldes do art.28 do CPP, ou ao órgão superior interno responsável por sua apreciação, nos termos da legislação vigente. A instrução do Procedimento Investigatório Criminal será feita por meio de requisições, notificações e as demais diligências as quais a legislação permitir. O prazo para resposta de requisições em procedimentos deste tipo é, normalmente, de 10 (dez) dias. Na ocasião da determinação de instauração do Procedimento Preparatório de natureza criminal ou do Procedimento Investigatório Criminal, o órgão de execução deverá dispor acerca da necessidade de sigilo daquele procedimento. Atentando-se para o estabelecimento da forma de guarda, acesso, publicação e fornecimento de informações referentes àqueles autos. 39 Figura 3: Fluxograma da Atuação Funcional 40 6. CONCLUSÃO Conforme registrado nas linhas iniciais desse trabalho, nossa jornada teve por objetivo estudar os aspectos pertinentes ao desenvolvimento da Carta de Serviços necessárias ao caso do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte. Seguindo a metodologia traçada pelo manual metodológico para o desenvolvimento da Carta de Serviço do Projeto GESPÚBLICA, ao qual somos aderentes, analisamos a natureza dos serviços prestados pelo Ministério Público Estadual sob um prisma jurídico-constitucional, detalhando sua atuação funcional em 09 (nove) grandes áreas de atuação: consumidor; criminal; educação, idoso, infância e juventude; meio ambiente; patrimônio público, pessoa com deficiência e saúde. Visando conhecer quais eram os principais serviços procurados, a partir do estudo de caso da Comarca de Mossoró, descobrimos que os serviços mais procurados no âmbito da atuação do MPRN foram na área da defesa da saúde (38,01%) e da pessoa idosa (27,80%). Além disso, descobrimos que, de fato, boa parte da população do Estado do RN desconhece a atuação funcional do MPRN. Entre as 1127 (mil, cento e vinte e sete) fichas de atendimento ao público estudas na Comarca de Mossoró no ano de 2014, 33% delas procuraram a instituição para tratar de assuntos que não faziam parte dos serviços prestados pela instituição. Isso nos mostra que boa parte de nosso atendimento ao público é utilizado para atender demandas que não são, em regra, de nossa competência, desperdiçando assim tempo, recursos humanos e materiaisimportantes, principalmente quando estamos a tratar de recursos públicos. Por fim, mapeamos os fluxos de atendimento a população e do desenvolvimento da atuação funcional, na área extrajudicial, apresentando os instrumentos de investigação utilizados pelo Ministério Público na defesa dos direitos difusos e coletivos e individuais indisponíveis. Todo esse esforço serviu de base para o desenvolvimento da 41 Proposta de Carta de Serviços do Ministério Público do Estado do Rio Grande Norte, colecionada ao final desse trabalho como Anexo A . 42 7. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Gregório Assadra, Teoria Geral do Ministério Público, Editora DelRey, São Paulo, 2015. BACELAR BORRALHO, Vera Maria; MARTINS. Participação e controle social. Brasília, Revista dos Tribunais, 2012. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2000. Rio Grande do Norte. Constituição (1989). Constituição do Estado de Rio Grande do Norte. Diário Oficial do estado do Rio Grande do Norte, Natal, 4 set. 1989. BRASIL. Artigo 7º, da Resolução Conjunta nº 002/2011-PGJ-CGMP e Recomendação nº 002/2008 da Corregedoria-Geral do Ministério Público. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA; Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF; guia metodologico; Brasília; MP, SEGES, 2009. Versão 1/2009. 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