Buscar

EDUCAÇÃO JUDICIALIZAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
EDUCAÇÃO: JUDICIALIZAÇÃO E 
JURISPRUDÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
UNIDADE 1 – A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ............................................... 8 
1.1 SURGIMENTO DO FENÔMENO DA JUDICIALIZAÇÃO .................................................... 8 
1.2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................... 12 
1.3 O PRINCÍPIO DA “RESERVA DO POSSÍVEL” E DO “MÍNIMO EXISTENCIAL” ..................... 15 
1.4 ATIVISMO JUDICIAL.............................................................................................. 21 
1.5 CONSEQUÊNCIAS DA JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ............................................. 23 
UNIDADE 2 – O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO DE 
JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ........................................................................ 28 
2.1 A ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO (MP) ....................................................... 28 
2.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO MPF .............................................................................. 30 
2.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS DO MP ............................................................................ 32 
2.4 ATUAÇÃO DO MPF NA JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ........................................... 34 
UNIDADE 3 – JURISPRUDÊNCIA E A GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO . 38 
3.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................... 38 
3.2 A RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADO NA EDUCAÇÃO E O STF .......................................... 40 
3.3 EMENTAS DE DECISÕES DOS TRIBUNAIS E AÇÕES PROMOVIDAS PELO MINISTÉRIO 
PÚBLICO (AÇÃO CIVIL PÚBLICA OU INQUÉRITOS CIVIS) RELACIONADAS À EDUCAÇÃO ........ 41 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49 
 
 3 
INTRODUÇÃO 
 
A efetivação universal do direito à educação tem trazido à baila a questão da 
judicialização da educação, a qual tem marcado presença na academia e na agenda 
das pesquisas nesse campo. 
Esse fenômeno traz implicações seja para as instituições de ensino, para os 
educandos e educadores, enfim, para a sociedade de maneira geral, principalmente 
no tocante ao comportamento desses atores e no desfecho das decisões. 
As atividades que envolvem a efetivação dos direitos previstos na 
Constituição Federal de 1988 dependem da existência de recursos financeiros, de 
dotações orçamentárias prévias, executadas segundo programa de prioridades 
estabelecidos pela própria Administração Pública, razão pela qual, diante da 
insuficiência de recursos para atender todas as demandas, cabe ao administrador 
definir qual serviço e em qual região será efetivado prioritariamente. Há ainda a 
alegação de que não há como se cobrar, somente dos municípios, a manutenção do 
sistema de ensino, especificamente o atendimento a crianças em creches e escolas 
de educação infantil e justifica que a matrícula de milhares de crianças em algumas 
unidades de creches envolve questões de orçamento e disponibilidade do Erário, 
com dotação específica para a implantação de meios à concretização das medidas 
pleiteadas e que a carência de novos aportes de recursos para financiar a educação 
infantil limitou o atendimento em todo o Município e a possibilidade de ampliação do 
atendimento em educação infantil (ARAÚJO, 2009). 
Não que concordemos com as justificativas acima, embora em parte sejam 
alegações verdadeiras, mas fato é que o desenvolvimento do novo direito 
constitucional ou neoconstitucionalismo no Brasil, após a Constituição Federal de 
1988, teve como principais mudanças de paradigma, no plano teórico, a força 
normativa da Constituição e a expansão da jurisdição constitucional que envolve a 
interpretação e aplicação da Constituição. Tais fatores foram as causas que 
propiciaram a constitucionalização e judicialização das relações sociais, sendo 
necessário enfatizar que, no caso brasileiro, a jurisdição constitucional é exercida 
amplamente: do juiz estadual ao Supremo Tribunal Federal, já que todos interpretam 
a Constituição, podendo, inclusive, recusar aplicação à lei ou outro ato normativo 
que considerem inconstitucional. 
 
 
4 
 
Além disso, existem outros motivos, conforme destaca LUÍS ROBERTO 
BARROSO (2006, p. 140), nos seguintes termos, in verbis: 
 
[...] Sob a Constituição de 1988, aumentou de maneira significativa a 
demanda por justiça na sociedade brasileira, em primeiro lugar, pela 
redescoberta da cidadania e pela conscientização das pessoas em relação 
aos próprios direitos e pela circunstância de haver o texto constitucional 
criado novos direitos, introduzido novas ações e ampliando a legitimação 
ativa para tutela de interesses mediante representação ou substituição 
processual. 
 
Essas breves assertivas justificam os temas de estudo deste módulo: 
judicialização da educação, o papel do Ministério Público para efetivação do acesso 
e qualidade de educação e algumas jurisprudências, visto que os Tribunais de 
Justiça no Brasil produzem milhares de decisões anualmente sobre a temática da 
educação (CARVALHO, 2014). 
De acordo com a Constituição Federal, cabe ao Ministério Público brasileiro: 
 a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis; 
 a defesa da ordem jurídica; e, 
 a defesa do regime democrático. 
 
Figura 1: Ministério Público. 
Fonte: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias 
 
Quanto à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), ela se constitui 
num conjunto de decisões essenciais para a preservação das garantias expressas 
no texto constitucional. Além disso, a plena aplicação da Constituição tem o poder 
de apaziguar os conflitos sociais ao reforçar regras que possibilitam a adoção de 
soluções eficazes para demandas sociais cada vez mais complexas. Nesse sentido, 
 
 
5 
 
a atuação da Corte Suprema oferece à sociedade brasileira critérios de identidade e 
estabilização institucional das legítimas disputas políticas e sociais (PELUZO, 2011). 
Por meio de suas decisões, o Supremo Tribunal Federal vem exercendo 
papel de destaque na consolidação da democracia brasileira. O compromisso do 
STF com a aplicação da Constituição e das leis legitimamente editadas representa a 
afirmação inequívoca da supremacia da legalidade democrática, a prevalência de 
uma ordem jurídica justa e a vigência dos grandes ideais humanitários 
consubstanciados no rol de direitos fundamentais. 
 
Figura 2: Jurisprudência. 
Fonte: http://www.tce.sc.gov.br/acom-intranet-ouvidoria-biblioteca 
 
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se 
fazem necessárias: 
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas 
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da 
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao 
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira 
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo 
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 
 
 
6 
 
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo 
original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que 
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também 
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser 
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos 
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de 
comunicar-se com o presente,mesmo que seu passado datável esteja separado 
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 
3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação 
reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu 
julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de 
direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé 
ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 
4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições 
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento 
crítico. 
5) Pedimos compreensão por usar a lógica ocidental tradicional que funciona 
como uma divisão binária: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x 
mulher, mas na medida do possível iremos nos adequando à identidade de gênero, 
cientes de que no mundo atual as pessoas tem liberdade de se expressarem de 
forma tão diversa e plural e que o respeito à singularidade e a tolerância de cada 
indivíduo torna-se fator de extrema importância. 
6) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou 
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Por fim: 
7) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para 
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última 
 
1
 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou 
similares. 
 
2
 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora 
Positivo, 2005. 
 
 
7 
 
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + 
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis 
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material 
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 
 
 
 
8 
 
UNIDADE 1 – A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO 
 
 
Figura 3: A judicialização da educação. 
Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br/quando-a-educacao-e-caso-de-justica/ 
 
1.1 Surgimento do fenômeno da judicialização 
O processo de judicialização da política é um fenômeno relativamente 
recente no mundo e pode-se afirmar que, de modo geral, está presente em todas as 
sociedades democráticas. Na América Latina, por exemplo, confluiu com os 
processos de redemocratização e foi intensificado, sem dúvida, pelo 
desenvolvimento e falência do Welfare State3. É certo que o processo ganha 
dimensões diferentes em cada Estado, o que contribui para a formação de opiniões 
distintas a respeito de seus efeitos, o que não é nosso interesse aprofundar no 
estudo atual. 
De modo geral, os fatores que concorreram para a judicialização da política 
no mundo se concentram, sobretudo, no período após a Segunda Guerra Mundial, a 
partir da constituição do Estado de Bem-Estar Social; um período marcado por 
intensa atividade legisladora para regular os direitos sociais e por uma grande 
 
3 Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social baseia-se em uma ideia de que o homem possui 
direitos indissociáveis a sua existência enquanto cidadão, estes direitos são direitos sociais. De 
acordo com esta concepção, todo o indivíduo tem o direito, desde seu nascimento, a um conjunto de 
bens e serviços que lhe devem ser oferecidos e garantidos de forma direta através do ESTADO, ou 
indiretamente, desde que o Estado exerça seu papel de regulamentar isso dentro da própria 
sociedade civil. 
Em linhas mais gerais, os direitos sociais no Welfare State visam assegurar que as desigualdades de 
classe social não comprometam o exercício pleno dos direitos civis e políticos. 
 
 
9 
 
demanda jurídica para que esses direitos fossem garantidos. Entretanto, já em 1803, 
com o caso Madison VS. Marbury, no qual a Suprema Corte dos Estados Unidos 
declarou nulo um ato do Poder Legislativo, entendendo que tal ato feria a 
Constituição, pode-se dizer que foi aberto um caminho para o Controle de 
Constitucionalidade, prática disseminada no século XX. Antes disso, ainda por volta 
dos anos de 1780, já é possível identificar a prática do Controle de 
Constitucionalidade, mas com um objetivo político diferente do empregado nos dias 
atuais. Naquele período, sua função estava restrita a dar ao povo a proteção contra 
legisladores desonestos, que por algum motivo não agiam em conformidade com a 
lei (OLIVEIRA, 2011). 
JOSÉ GERALDO ALENCAR FILHO (2011) explica que o fenômeno da 
judicialização da política é caracterizado por uma involuntária transferência de poder 
para as instâncias judiciais em detrimento de instituições políticas tradicionais, que 
são o Legislativo e o Executivo. Por sua vez, juízes e tribunais passaram, dentre 
outros temas polêmicos e complexos, a revisar e também implementar políticas 
públicas, revendo com isso as regras do jogo democrático. 
Esse fenômeno da judicialização se trata de uma interferência que se diz 
involuntária, que é fruto de um processo normal do constitucionalismo moderno, 
visto ser a Constituição composta por conceitos de caráter aberto que precisam ter 
seu sentido interpretado pelo Poder Judiciário, seja por meio do controle de 
constitucionalidade ou por decisões de natureza política (ALENCAR FILHO, 2011). 
ERNANI CARVALHO (2004, p. 3) aponta as condições políticas para o 
surgimento da Judicialização: 
i) democracia, condição necessária, porém não suficiente; 
ii) separação dos poderes, que no Brasil é princípio constitucional; 
iii) direitos políticos formalmente reconhecidos pela Constituição; 
iv) uso dos tribunais pelos grupos de interesse econômicos e sociais centrais 
(como movimentos sindicais); 
v) uso dos tribunais pela oposição, que se utiliza para frear, obstaculizar e 
até mesmo inviabilizar as alterações promovidas pela maioria; 
vi) inefetividade das instituições majoritárias, referindo-se a incapacidade 
dessas instituições em dar provimento às demandas sociais e os tribunais, diante da 
inércia, acabam em pôr fim a conflitos que deveriam ser resolvidos no âmbito 
político. 
 
 
10 
 
 
Quanto às causas da judicialização, no caso brasileiro estão relacionadas 
diretamente com nosso modelo institucional e na ótica de LUIS ROBERTO 
BARROSO (2009, p. 3-5), elas são três: 
1ª) A redemocratização do país, que teve como ponto culminante a 
promulgação da Constituição de 1988. Nas últimas décadas, com a recuperação das 
garantias da magistratura, o Judiciário deixou de ser um departamento técnico-
especializado e se transformou em um verdadeiro poder político, capaz de fazer 
valer a Constituição e as leis, inclusive em confronto com os outros Poderes. No 
Supremo Tribunal Federal, uma geração de novos Ministros já não deve seu título 
de investidura ao regime militar. Por outro lado, o ambiente democrático reavivou a 
cidadania, dando maior nível de informação e de consciência de direitos a amplos 
segmentos da população, que passaram a buscar a proteção de seus interesses 
perante juízes e tribunais. Nesse mesmo contexto, deu-se a expansão institucional 
do Ministério Público, com aumento da relevância de sua atuação fora da área 
estritamente penal, bem como a presença crescente da Defensoria Pública em 
diferentes partes do Brasil. Em suma: a redemocratização fortaleceu e expandiu o 
Poder Judiciário, bem como aumentou a demanda por justiça na sociedade 
brasileira. 
2ª) A constitucionalização abrangente, que trouxe para a Constituição 
inúmeras matérias que antes eram deixadas para o processo político majoritário e 
para a legislação ordinária. Essa foi, igualmente, uma tendência mundial,iniciada 
com as Constituições de Portugal (1976) e Espanha (1978), que foi potencializada 
entre nós com a Constituição de 1988. A Carta brasileira é analítica, ambiciosa, 
desconfiada do legislador. Como intuitivo, constitucionalizar uma matéria significa 
transformar Política em Direito. Na medida em que uma questão – seja um direito 
individual, uma prestação estatal ou um fim público – é disciplinada em uma norma 
constitucional, ela se transforma, potencialmente, em uma pretensão jurídica, que 
pode ser formulada sob a forma de ação judicial. Por exemplo: se a Constituição 
assegura o direito de acesso ao ensino fundamental ou ao meio-ambiente 
equilibrado, é possível judicializar a exigência desses dois direitos, levando ao 
Judiciário o debate sobre ações concretas ou políticas públicas praticadas nessas 
duas áreas. 
 
 
11 
 
3ª) É o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, um dos mais 
abrangentes do mundo. Referido como híbrido ou eclético, ele combina aspectos de 
dois sistemas diversos: o americano e o europeu. Assim, desde o início da 
República, adota-se entre nós a fórmula americana de controle incidental e difuso, 
pelo qual qualquer juiz ou tribunal pode deixar de aplicar uma lei, em um caso 
concreto que lhe tenha sido submetido, caso a considere inconstitucional. Por outro 
lado, trouxemos do modelo europeu o controle por ação direta, que permite que 
determinadas matérias sejam levadas em tese e imediatamente ao Supremo 
Tribunal Federal. A tudo isso se soma o direito de propositura amplo, previsto no art. 
103, pelo qual inúmeros órgãos, bem como entidades públicas e privadas – as 
sociedades de classe de âmbito nacional e as confederações sindicais – podem 
ajuizar ações diretas. Nesse cenário, quase qualquer questão política ou 
moralmente relevante pode ser alçada ao STF. 
 
Guarde... 
Conforme LOIANE PRADO VERBICARO (2008, p. 390), no contexto 
brasileiro, entre as condições propiciadoras e/ou facilitadoras do processo de 
judicialização da política, destacam-se: 
 a promulgação da Constituição Federal de 1988; 
 a universalização do acesso à justiça; 
 a estrutura tripartite de organização dos poderes do Estado; 
 a existência de uma Carta Constitucional com textura aberta, normas 
programáticas e cláusulas indeterminadas; 
 a crise do paradigma formalista de interpretação inspirado nas premissas do 
positivismo jurídico; 
 a ampliação do espaço reservado ao Supremo Tribunal Federal; 
 a permissão por parte da Constituição de 1988 para que o Poder Executivo 
edite medidas provisórias; 
 a ampliação do rol dos legitimados ativos a propor a ação direta de 
inconstitucionalidade; 
 a veloz modificação da base econômica do Brasil; 
 a existência de novas forças sociais representadas por importantes 
movimentos, organizações e grupos sociais; 
 
 
12 
 
 o agravamento da crise econômica nas últimas décadas do século XX, a 
ineficácia da política macroeconômica do país e a consequente explosão da 
crise social; 
 a hipertrofia legislativa; 
 a desproporcionalidade da representação política e a crescente ineficácia do 
sistema político-decisório. 
 
1.2 Conceitos e definições 
No sentido constitucional, a judicialização da política refere-se 
 
ao novo estatuto dos direitos fundamentais e à superação do modelo de 
separação dos poderes do Estado, o que provoca uma ampliação dos 
poderes de intervenção dos tribunais na arena política (MACIEL; 
KOERNER, 2002, p. 117). 
 
Por meio da efetiva participação no processo referente à formulação e/ou 
implementação de políticas públicas – a política se judicializa com o objetivo de 
promover o encontro da comunidade com o seu sistema de valores 
constitucionalmente assegurado (VERBICARO, 2008). 
Os juristas usam o termo judicialização para se referirem à obrigação legal 
de que um determinado tema seja apreciado judicialmente. Próximo a esse sentido, 
mas já com caráter normativo, afirma-se que judicialização é o ingresso em juízo de 
determinada causa, que indicaria certa preferência do autor por esse tipo de via. 
“Refere-se a decisões particulares de tribunais, cujo conteúdo o analista consideraria 
político, ou referente a decisões privadas dos cidadãos (como questões de família)” 
(MACIEL; KOERNER, 2002, p. 115). 
Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política 
ou social estão sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas 
instâncias políticas tradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Executivo – em 
cujo âmbito se encontram o Presidente da República, seus ministérios e a 
administração pública em geral. Como intuitivo, a judicialização envolve uma 
transferência de poder para juízes e tribunais, com alterações significativas na 
linguagem, na argumentação e no modo de participação da sociedade. O fenômeno 
tem causas múltiplas. Algumas delas expressam uma tendência mundial; outras 
estão diretamente relacionadas ao modelo institucional brasileiro (BARROSO, 2009). 
 
 
13 
 
As nossas primeiras constituições tinham apenas boas intenções, proteção 
limitada, não legal e sem instrumentos jurídicos adequados à efetivação do direito à 
educação, mas a partir da CF/88, a situação mudou. Nos dizeres de CARLOS 
ROBERTO JAMIL CURY e LUIS ANTÔNIO MIGUEL FERREIRA (2010, p. 55): 
 
a educação passou a ser efetivamente regulamentada, com instrumental 
jurídico necessário para dar ação concreta ao que foi estabelecido, pois de 
nada adiantaria prever regras jurídicas com relação à educação (com boas 
intenções) se não fossem previstos meios para a sua efetividade. 
 
Na verdade, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu uma verdadeira 
declaração de direitos relativos à educação que resumem-se em: 
 gratuidade do ensino oficial em todos os níveis; 
 garantia do direito aos que não se escolarizaram na idade ideal; 
 perspectiva da obrigatoriedade do ensino médio, substituída pela perspectiva 
de sua universalização com a Emenda Constitucional EC. 14; 
 atendimento especializado aos portadores de deficiência; 
 atendimento, em creche e pré-escola, às crianças de até cinco anos de idade 
(redação de acordo com a Emenda Constitucional nº 53/06); 
 oferta do ensino noturno regular; 
 previsão dos programas suplementares de material didático-escolar; 
 prioridade de atendimento à criança e ao adolescente (OLIVEIRA, 2001). 
 
Daí podemos inferir o crescimento de pesquisas no Brasil sobre o tema, isto 
é, os estudos sobre a exigibilidade do direito à educação pelo Sistema de Justiça 
estão se tornando objeto de interesse por parte de pesquisadores da área do Direito 
e da Educação (SILVEIRA, 2008). 
Algumas pesquisas e estudos, nos últimos anos, analisam, especificamente, 
o comportamento do Judiciário frente às demandas educacionais, por meio da 
análise de suas decisões (MACHADO, 2003; MACHADO JÚNIOR, 2003; 
GRACIANO, MARINHO, FERNANDES, 2006; LOPES, 2006; PIOVESAN, 2007; 
RANIERI, 2009; PANNUNZIO, 2009; CURY, FERREIRA, 2010). 
Fato é que a partir da CF/88, o Poder Judiciário passou a ter funções mais 
significativas na efetivação desse direito, estabelecendo-se uma nova relação com a 
educação, que se materializou através de ações judiciais visando a sua garantia e 
 
 
14 
 
efetividade. Pode-se designar este fenômeno como a Judicialização da educação, 
que significa a intervenção do Poder Judiciário nas questões educacionais em vista 
da proteção desse direito até mesmo para se cumprir as funções constitucionais do 
Ministério Público e outras instituições legitimadas (CURY; FERREIRA, 2010). 
Para os mesmos autores acima, o processo de judicialização da educação 
ocorre “quando aspectos relacionados ao direito à educação passam a ser objeto de 
análise e julgamento pelo poder judiciário”. Esse fenômeno se verifica quando da 
ofensa ao direito à educação decorrentes de: “(a) mudanças no panorama 
legislativo; (b) reordenamentodas instituições judicial e escolar; (c) posicionamento 
ativo da comunidade na busca pela consolidação dos direitos sociais” (p. 81). 
ÁLVARO e RAQUEL CHRISPINO (2008) caracterizaram a judicialização das 
relações escolares como aquela ação da Justiça no universo da escola e das 
relações escolares, resultando em condenações das mais variadas, destacando que 
os profissionais da educação não estão sabendo lidar com todas as variáveis que 
caracterizam as relações escolares. 
PAULO DE CAMARGO (2014) conceitua essa judicialização da educação 
como a interferência da Justiça em relações que antes ou ficavam no âmbito das 
políticas públicas de educação ou da gestão privada do ensino – ou nem chegavam 
a ser debatidas. 
Para falar da responsabilidade objetiva (dano e relação de causalidade, sem 
a necessidade de demonstração de culpa) dos estabelecimentos de ensino (públicos 
ou privados) nas relações escolares, como, por exemplo, na obrigação de guarda e 
vigilância do aluno, acidentes que ocorrem em laboratório de química ou na aula de 
educação física, e outras hipóteses e da responsabilidade civil dos educadores, 
podemos tomar como base para apresentar várias decisões da Justiça brasileira de 
ações envolvendo as escolas, os textos do Código Civil, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor. 
PAULO DE CAMARGO (2014) ilustra que ações, mandados de segurança, 
termos de ajustamento de conduta: conceitos próprios do mundo jurídico vem se 
tornando cada vez mais comuns no ambiente educacional. 
Até o início da década de 1990 eram comuns apenas as batalhas judiciais 
em torno de mensalidades escolares. Hoje, questões como falta de vagas em 
creches, inclusão de alunos com deficiência, violência, bullying, transferência, 
 
 
15 
 
reprovação e um amplo espectro de situações típicas da vida pedagógica cotidiana 
tornaram-se, literalmente, caso de justiça. 
É difícil estimar o número de processos que se estendem nas diversas 
instâncias do Poder Judiciário. Mas os estudos disponíveis mostram a tendência de 
crescimento a partir dos anos 2000. Em artigo a ser publicado em uma revista 
internacional, a jurista Nina Ranieri, da Faculdade de Direito da USP, fez um 
levantamento dos casos que chegaram à Suprema Corte brasileira referentes à área 
de educação. A conclusão é a de que, das 4.410 decisões tomadas pelo Superior 
Tribunal Federal (STF), entre 1988 e o começo de 2013, mais de 95% (4.222) 
ocorreram a partir do ano 2000, sendo a imensa maioria no final da década 
(CAMARGO, 2014). 
 
1.3 O princípio da “reserva do possível” e do “mínimo existencial” 
Não é uma conclusão que gostaríamos de apresentar de pronto, mas é uma 
verdade e que “atrapalha” o caminho da educação, além de ser polêmica. 
 
A aplicabilidade e eficácia do direito à educação dependem da peculiar 
proeminência econômica dos recursos materiais. 
 
O Princípio da Reserva do Possível (ou Princípio da Reserva de 
Consistência) pode ser entendido como uma construção jurídica a qual afirma que 
ao se exigir uma prestação de fazer do Estado, este, estaria sujeito à reserva do 
possível. Assim, justificar-se-ia a limitação do Estado em razão de suas condições 
socioeconômicas e estruturais (LIMA; MELO, 2011). 
Quanto ao mínimo existencial, na visão do pensamento acadêmico 
predominante, ele apresenta relação íntima com o Princípio da Dignidade Humana e 
os objetivos e finalidades fundamentais da Ordem Econômica do Estado, 
compreendendo o mínimo necessário para que os sujeitos de direito usufrua de uma 
vida digna (VILAR, 2013). 
 
O mínimo existencial corresponde ao conjunto de situações materiais 
indispensáveis à existência humana digna; existência aí considerada não 
apenas como experiência física – a sobrevivência e manutenção do corpo –, 
mas também espiritual e intelectual, aspectos fundamentais em um Estado 
que se pretende, de um lado, democrático, demandando a participação dos 
 
 
16 
 
indivíduos nas deliberações públicas, e, de outro, liberal, deixando a cargo 
de cada um seu próprio desenvolvimento (BARCELOS, 2002, p. 45). 
 
O direito fundamental à educação considerado um direito essencial para o 
desenvolvimento da dignidade humana, tem a sua eficácia dependente das normas 
de cunho programático (PESSOA, 2015). 
Trata-se, portanto, de normas de eficácia limitada, pois estão condicionadas 
a programas estatais e políticas públicas. Quanto ao conceito de normas 
programáticas, José Afonso da Silva (1998, p. 138) leciona que são: 
 
Normas constitucionais através das quais o constituinte, em vez de regular, 
direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os 
princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos 
e jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas 
atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado. 
 
São normas que dependem de recursos econômicos para a implementação 
desses direitos. O direito à educação de base obrigatória fornecida pelas instituições 
oficiais públicas depende da reserva de verbas que estejam em conformidade com a 
redistribuição orçamentária do Estado. 
Destarte, a aplicabilidade e eficácia do direito à educação dependem da 
peculiar proeminência econômica dos recursos materiais. Em contrapartida, a 
grande discussão referente à eficácia do direito a uma educação pública digna e de 
qualidade, está associada ao limite da reserva do possível inerente aos custos 
financeiros do Estado (PESSOA, 2015). 
A doutrina defende que os direitos sociais, apesar de serem considerados 
como normas constitucionais de eficácia limitada a efeitos programáticos, não 
podem deixar esvaziar o conteúdo do seu mínimo existencial. E para isso, a reserva 
do possível não pode de forma alguma restringir a cláusula desses direitos. Ou seja, 
o Estado não pode se negligenciar diante da concretização do direito educacional 
(PESSOA, 2015). 
Fica claro que o direito, enquanto direito prima facie, é um direito vinculante, 
e não um simples enunciado programático, quando o tribunal afirma que o direito, 
em sua validade normativa, não [pode] depender de um menor ou maior grau de 
possibilidades de realização. Mas a natureza de direito prima facie vinculante implica 
que a cláusula de restrição desse direito – a “reserva do possível, no sentido daquilo 
 
 
17 
 
que o indivíduo pode razoavelmente exigir da sociedade” – não pode levar ao 
esvaziamento do direito (ALEXY, 2011, p. 515). 
Que há um eterno debate em torno da efetivação dos direitos sociais não há 
dúvida, o qual sempre gira em torno de um núcleo econômico. 
O orçamento público aparece como obstáculo constitucional, mandamental e 
(in)vencível. Ao determinar as escolhas políticas de quais direitos sociais privilegiar – 
as chamadas escolhas trágicas –, o executivo e legislativo encontram o limite das 
despesas públicas – recursos limitados – e, portanto, o equilíbrio das contas 
públicas, com o fornecimento de prestações materiais. Trata-se do princípio da 
reserva do possível, que limita a plenitude das prestações positivas (BEZERRA, 
2017). 
Sendo então os recursos limitados, deve-se fazer escolhas trágicas, e no 
momento histórico atual, insuficientes para a efetivação dos mandamentos 
constitucionais vinculantes relacionados a direitos públicos subjetivos, notadamente, 
ao direito social fundamental à educação pública de qualidade. 
Desse modo, ficam o executivo e o legislativo, vinculados a gastar 
prioritariamente com o que está constitucionalizado e legalizado – normas pré-
orçamentárias impositivas – a fim de se preservar o mínimo existencial da pessoa 
humana. Não se trata, obviamente, de envolver o Ministério Público e os Tribunais 
nas escolhas trágicas, mas sim, na discussão acerca da vedação ao retrocesso e no 
controle preventivo e concomitante dos orçamentos e dos atos discricionários do 
executivo. Isso porque,estando estes desconforme, os ditames mandamentais 
juridicamente vinculantes da Constituição e da Lei, serão contrários e, portanto, 
ilegais, ilegítimos e inconstitucionais, vinculando o Ministério Público à exercer o 
poder-dever de provocar o controle jurisdicional (BEZERRA, 2017). 
Vejamos as palavras de MAURÍCIO PEDROSA FILHO (2012, p. 117), a 
respeito da elaboração dos orçamentos e alocação de recursos para a implantação 
de políticas com a saúde pública: 
 
Mercê de toda essa normatização atinente à questão orçamentária é que os 
gestores públicos têm a obrigação de alocar recursos necessários ao 
cumprimento dos direitos sociais, eis que são prestações garantidas e 
dispostas na Constituição aos cidadãos, a exemplo da prestação da saúde 
(nela incluída a assistência farmacêutica). 
 
 
18 
 
Essa obrigação do gestor decorre do seu dever legal e funcional de honrar 
os ditames da Constituição e das leis em geral, haja vista que ele – gestor – 
enquanto no exercício do seu múnus público, só poderá agir secundum legem. 
Na esteira das linhas precedentes, a ausência ou escassez de recursos no 
orçamentário serve de mote para o gestor se eximir do cumprimento de alguma 
prestação estatal imposta pela Constituição, a exemplo dos serviços de saúde de 
cuja deficiência e reclamos são notórios em nosso país. 
A reserva do possível reflete a ausência de recursos para atender a alguma 
atividade estatal típica, como a saúde. A ausência de recursos, ou seja, a sua 
inexistência, representa o vazio dos cofres públicos. 
Outro exemplo... 
Será que é possível falar em falta de recursos para a saúde quando existem 
no orçamento, recursos para propaganda de governo? Antes de os finitos recursos 
se esgotarem para os direitos fundamentais, precisam estar esgotados em áreas 
não prioritárias do ponto de vista constitucional e não do detentor do poder (FREIRE 
JÚNIOR, 2005, p. 74 apud BEZERRA, 2017). 
Voltemos à questão da omissão estatal na concretização de políticas 
públicas e a ausência de aplicação dos recursos financeiros destinados às diretrizes 
educacionais, que tem causado intensos danos à formação escolar infantil e juvenil. 
Tanto por isso, tem sido tarefa dos tribunais, em especial das Cortes, 
definirem o conteúdo dos direitos fundamentais sociais através do controle 
jurisdicional, de forma a assegurar e preservar o núcleo essencial desses direitos. 
Para MARCOS SAMPAIO (2013, p. 248): 
 
Resta asseverar que o Judiciário brasileiro, embora não exclusivamente, 
pode e deve, como defendeu Andreas Krell, mediante decisões firmes, 
exercer seu importante papel no processo político da realização dos direitos 
fundamentais sociais através da melhoria gradual e permanente dos 
serviços públicos básicos. 
 
Entretanto, a polêmica que rege as discussões jurídicas tem aduzido que, o 
caráter proativo dos órgãos jurisdicionais veio a invadir consideravelmente a esfera 
das funções típicas dos demais Poderes. Por se tratar de direitos de cunho social, 
caberia tão somente ao Legislativo e ao Executivo a execução das políticas públicas. 
 
 
 
19 
 
A dependência de recursos econômicos para a efetivação dos direitos de 
caráter social leva parte da doutrina a defender as normas que consagram 
tais direitos, assumem a feição de normas programáticas, dependentes, 
portanto, da formulação de políticas públicas para se tornarem exigíveis. 
Nessa perspectiva, também se defende que a intervenção do Poder 
Judiciário, ante a omissão estatal enquanto à construção satisfatória dessas 
políticas, violaria o princípio da separação dos poderes e o princípio da 
reserva do financeiramente possível (MENDES; BRANCO, 2014, p. 628). 
 
Em âmbito jurisdicional, a Suprema Corte brasileira tem decidido de forma 
unânime que, em situações excepcionais, o Poder Judiciário poderá determinar aos 
órgãos públicos medidas necessárias e assecuratórias de direitos 
constitucionalmente reconhecidos, sem que esteja configurada a violação ao 
princípio da separação dos poderes4. 
Dessa forma, no ano de 2014 foi julgado o Agravo Regimental do Recurso 
Extraordinário com Agravo 761.1275 pelo Supremo Tribunal Federal sob a relatoria 
do Ministro Luís Roberto Barroso, na qual definiu a possibilidade do Poder Judiciário 
determinar ao Executivo a implementação de políticas públicas para avalizar o 
acesso à educação básica, sem que isso violasse a separação tripartite dos 
poderes. 
Mas de onde “tiramos” esse princípio da reserva do possível? 
 
 
4 O julgado do Recurso Extraordinário 700.227EDD /AC, sob a relatoria da Ministra Carmen Lúcia no 
ano de 2013, determinou o seu voto que: “O Tribunal de origem restringiu-se a extinguir o processo 
sem resolução de mérito, por impossibilidade jurídica do pedido, por considerar inviável ao Poder 
Judiciário intervir na implementação de políticas públicas. Todavia, esse entendimento não se 
harmoniza com a jurisprudência deste Supremo Tribunal, que assentou que o Poder Judiciário, em 
situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias 
de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure contrariedade 
ao princípio da separação dos Poderes” (Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. RE 
700.227ED/AC- Acre, rel. Min. Carmen Lúcia. Decisão por unanimidade. Brasília 23.04.2013. DJ 
31.5.2013. Disponível em: 
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3890562> 
5 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. 
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. DETERIORAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE 
INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO. CONSTRUÇÃO DE NOVA ESCOLA. POSSIBILIDADE. 
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. GARANTIA DO 
DIREITO À EDUCAÇÃO BÁSICA. PRECEDENTES. As duas Turmas do Supremo Tribunal Federal 
possuem entendimento de que é possível ao Judiciário, em situações excepcionais, determinar ao 
Poder Executivo a implementação de políticas públicas para garantir direitos constitucionalmente 
assegurados, a exemplo do direito ao acesso à educação básica, sem que isso implique ofensa ao 
princípio da separação dos Poderes. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. 
(Supremo Tribunal Federal. Primeira Turma. ARE 761.127- AgR -AP, Rel. Min. Roberto Barroso. 
Decisão por unanimidade. Brasília. 24.06.2014. DJ de 18.08.2014. Disponível 
em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28direito+%E0+educa%
E7%E3o%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/nd7f5te 
 
 
20 
 
A chamada reserva do possível foi desenvolvida na Alemanha, num 
contexto jurídico e social totalmente distinto da realidade histórico-concreta 
brasileira. Nestas diferentes ordens jurídicas concretas não variam apenas 
as formas de lutas, conquistas e realização e satisfação dos direitos, mas 
também os próprios paradigmas jurídicos aos quais se sujeitam. Assim, 
enquanto a Alemanha se insere entre os chamados países centrais, onde já 
existe um padrão ótimo de bem-estar social, o Brasil ainda é considerado 
um país periférico, onde milhares de pessoas não têm o que comer e são 
desprovidas de condições mínimas de existência digna, seja na área da 
saúde, educação, trabalho e moradia, seja na área da assistência e 
previdência sociais, de tal modo que a efetividade dos direitos sociais ainda 
depende da luta pelo direito entendida como processo de transformações 
econômicas e sociais, na medida em que estas forem necessárias para a 
concretização desses direitos (CUNHA JR., 2013, p. 744). 
 
Desse modo, no Brasil, a cláusula da reserva do possível não está apenas 
associada à ideia de pretensão proporcional ou razoável da exigibilidade dos direitos 
no caso concreto. Mas, está vinculada ao fundamento da redistribuição de riquezas 
das receitas orçamentárias (PESSOA, 2015). 
Para INGO WOLFGAN SARLET (2007, p. 304), a partir do exposto, há comosustentar que a assim designada reserva do possível apresenta pelo menos uma 
dimensão tríplice, que abrange: 
a) a efetiva disponibilidade fática dos recursos para a efetivação dos direitos 
fundamentais; 
b) a disponibilidade jurídica dos recursos materiais e humanos, que guarda 
íntima conexão com a distribuição das receitas e competências tributárias, 
orçamentárias, legislativas, administrativas, entre outras, e que, além disso, reclama 
equacionamento, notadamente no caso do Brasil, no contexto do nosso sistema 
constitucional federativo; 
c) já na perspectiva (também) do eventual titular de um direito a prestações 
sociais, a reserva do possível envolve o problema da proporcionalidade da 
prestação, em especial no tocante à sua exigibilidade e, nesta quadra, também da 
sua razoabilidade. 
Ocorre que, para os órgãos públicos, a decisão sobre o critério de 
disponibilização dos recursos financeiros é ocupação típica e inerente da política 
legislativa e da própria administração. 
Sem maiores discussões, podemos concluir que no Brasil, a polêmica não 
está no conteúdo protegido e assegurado pela legislação. Mas, sim na má repartição 
e alocação dos recursos econômicos e financeiros voltados para os programas de 
cunho social. 
 
 
21 
 
1.4 Ativismo judicial 
LUIS ROBERTO BARROSO (2010, p. 09), numa perspectiva histórica, 
ensina que 
 
ativismo judicial é uma expressão cunhada nos Estados Unidos e que foi 
empregada, sobretudo, como rótulo para qualificar a atuação da Suprema 
Corte durante os anos em que foi presidida por Earl Warren, entre 1954 e 
1969. Ao longo desse período, ocorreu uma revolução profunda e silenciosa 
em relação a inúmeras práticas políticas nos Estados Unidos, conduzida por 
uma jurisprudência progressista em matéria de direitos fundamentais [...] 
Todavia, depurada dessa crítica ideológica – até porque pode ser 
progressista ou conservadora – a ideia de ativismo judicial está associada a 
uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos 
valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação 
dos outros dois Poderes. 
 
Entende-se por “Ativismo Judicial” o papel criativo dos tribunais ao trazerem 
uma contribuição nova para o direito, decidindo sobre a singularidade do caso 
concreto, formando o precedente jurisprudencial, antecipando-se, muitas vezes, à 
formulação da própria lei (GRANJA, 2013). 
Para LUIS FLÁVIO GOMES (2009), o ativismo judicial retrata, em realidade, 
uma espécie de intromissão indevida do Judiciário na função legislativa, ou seja, 
ocorre ativismo judicial quando o juiz ‘cria’ uma norma nova, usurpando a tarefa do 
legislador, quando o juiz inventa uma norma não contemplada nem na lei, nem nos 
tratados, nem na Constituição. 
A doutrina traz vários conceitos para o ativismo judicial, existindo posições 
favoráveis e contrárias, mas não vamos entrar no mérito dessas críticas. Entretanto, 
o Ativismo Judicial é uma postura, ou seja, é uma escolha de um determinado 
magistrado que visa buscar através de uma hermenêutica jurídica expansiva, cuja 
finalidade é a de concretizar o verdadeiro valor normativo constitucional, garantindo 
o direito das partes de forma rápida, e atendendo às soluções dos litígios e às 
necessidades oriundas da lentidão ou omissão legislativa, e até mesmo executiva 
(GRANJA, 2013). 
Diante de novas necessidades, nas quais a lei não se mostra suficiente ou 
diante de necessidades que forjam uma determinada interpretação do texto de lei, é 
o momento em que o esforço do intérprete faz-se sentir. Tem-se como Ativismo 
Judicial, portanto, “a energia emanada dos tribunais no processo da criação do 
direito” (MIARELLI; LIMA, 2012, p. 16). 
 
 
22 
 
Dessa forma, podemos destacar que o vocábulo ativismo no âmbito da 
ciência do Direito é empregado para designar que o Poder Judiciário está agindo 
além dos poderes que lhe são conferidos pela ordem jurídica. 
Para LUIS ROBERTO BARROSO (2009, p. 3), a judicialização nasceu do 
modelo constitucional que se adotou e não de um exercício deliberado de vontade 
política, já o ativismo, há uma escolha, do magistrado no modo de interpretar as 
normas constitucionais a fim de dar-lhes maior alcance e amplitude. Assim, o autor 
acima faz as seguintes distinções: 
 
A judicialização e o ativismo judicial são primos. Vêm, portanto, da mesma 
família, frequentam os mesmos lugares, mas não têm as mesmas origens. 
Não são gerados, a rigor, pelas mesmas causas imediatas. A judicialização, 
no contexto brasileiro, é um fato, uma circunstância que decorre do modelo 
constitucional que se adotou, e não um exercício deliberado de vontade 
política. Em todos os casos referidos acima, o Judiciário decidiu porque era 
o que lhe cabia fazer, sem alternativa. Se uma norma constitucional permite 
que dela se deduza uma pretensão, subjetiva ou objetiva, ao juiz cabe dela 
conhecer, decidindo a matéria. Já o ativismo judicial é uma atitude, a 
escolha de um modo específico e proativo de interpretar a Constituição, 
expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em 
situações de retração do Poder Legislativo, de certo descolamento entre a 
classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais 
sejam atendidas de maneira efetiva. A ideia de ativismo judicial está 
associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na 
concretização dos valores e fins constitucionais. 
 
A definição de ativismo judicial se extrai da relação existente entre 
participação, a maior, por parte do Poder Judiciário na concretização dos valores e 
finalidades constitucionais, interferindo, assim, na esfera de competência dos outros 
poderes. Entretanto, para parte da doutrina, essa atuação pode macular o equilíbrio 
advindo do sistema de freios e contrapesos disposto no art. 2º da CF de 1988 
(VILAR, 2013). 
São exemplos do ativismo judicial no Brasil: 
Um primeiro exemplo que merece ser destacado é o da declaração de 
inconstitucionalidade do regime integralmente fechado, previsto no artigo 2º, da Lei 
n° 8.072/19906 (Lei de Crimes Hediondos). Segundo o STF, o aludido dispositivo 
viola o núcleo essencial do direito à individualização da pena, previsto no rol de 
direitos e garantias fundamentais do artigo 5º, da Constituição Federal (NUNES 
JÚNIOR, 2010). 
 
6
 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm 
 
 
23 
 
Outro exemplo que merece destaque é a decisão proferida pelo STF na 
ADPF n° 54 (Tal ação aborda a questão da possibilidade de se realizar o aborto do 
feto anencefálico ou antecipação terapêutica do parto no Brasil). A corte suprema 
considerou, por maioria, que incumbia a esta e não ao Congresso Nacional regular o 
tema por meio de uma ação de controle objetivo de constitucionalidade das leis. Tal 
opção revelou uma nítida postura ativista em favor de uma minoria, qual seja, as 
mulheres (APPIO, 2008). 
Ao analisar o direito à educação (Brasil. Supremo Tribunal Federal. RE nº 
410715, AgR, Relator(a): Min. Celso de Mello. Julgamento: 22.11.2005), o STF 
decidiu que a educação infantil se afigura como um direito constitucional 
indisponível, fundamental, haja vista que confere um desenvolvimento integral à 
criança. O impedimento de efetivo acesso e de atendimento em creches e unidades 
de pré-escola por parte do Poder Público Municipal configura inaceitável omissão 
governamental, violando, assim, dispositivos constitucionais. Por se revelar como 
direito fundamental de toda criança, a educação infantil não deve se expor, em seu 
processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da 
Administração Pública. 
Por fim, lembremos o notório exemplo da distribuição de medicamentos e a 
determinação de terapias mediante decisões judiciais. A matéria não foi apreciada, 
ainda, de forma aprofundada pelo STF, exceto nos casos onde constam pedidos desuspensão de segurança. No entanto, constata-se, em diversos tribunais estaduais e 
federais, uma grande quantidade de decisões, condenando a União, o Estado ou o 
Município a fornecer medicamentos e terapias que não constam das listas e 
protocolos do Ministério da Saúde ou das Secretarias Estaduais e Municipais de 
Saúde (BARROSO, 2008). 
 
1.5 Consequências da judicialização da educação 
É inegável que, em razão da relação estabelecida entre a justiça e 
educação7, várias são as consequências para os atores envolvidos (CURY; 
FERREIRA, 2010). Merecem destaque as seguintes hipóteses: 
 
7 A justiça passou a ser chamada amiúde a solucionar conflitos no âmbito escolar, que extrapolam a 
questão da responsabilidade civil, ou seja, se antes se contemplava na esfera do judiciário, ações de 
indenizações ou reparação de danos envolvendo o sistema educacional, ou mandados de segurança 
para garantia de atribuições de aulas a professores, hoje, a realidade é bem diversa, e várias são as 
situações em que se provoca o judiciário com questões educacionais. A efetividade do direito à 
 
 
24 
 
a) SISTEMA DE EDUCAÇÃO: 
a.1) Transferência de responsabilidade – grande parte das questões 
escolares e que devem ser solucionadas na própria escola, são transferidas para a 
esfera judicial. Os responsáveis pela educação não assumem o compromisso que é 
próprio da educação em esgotar os recursos internos baseados no diálogo. Exemplo 
típico dessa situação refere-se à questão da violência. Hoje, muitos casos 
encaminhados à justiça revestem-se mais de características de ato de indisciplina do 
que ato infracional. A escola, muitas vezes, sequer esgota os mecanismos previstos 
no próprio regimento escolar, preferindo provocar a atuação do Judiciário, Ministério 
Público, Autoridade Policial e Conselho Tutelar. Sendo ato de indisciplina, a 
competência para analisá-lo continua sendo da própria escola e não do sistema de 
garantia de direitos. 
a.2) Desconhecimento da legislação relacionado à criança e ao 
adolescente – outra questão da judicialização da educação diz respeito a este 
desconhecimento legal. Várias são as situações em que a escola provoca a 
instituição errada para o encaminhamento das ocorrências. Provoca-se o Poder 
Judiciário ou Ministério Público quando, na verdade, o caso deveria ser 
encaminhado ao Conselho Tutelar. Desconhecem as atribuições do sistema de 
garantia de direitos. Há também situações em que este desconhecimento legal 
acaba por levar ao Judiciário ou Conselho Tutelar, situações que não poderiam ser 
encaminhadas, antes do esgotamento das medidas administrativas. No mesmo 
sentido, ocorre essa hipótese quando da instauração de procedimento em face do 
aluno e não são obedecidos os princípios constitucionais básicos da ampla defesa e 
do contraditório. 
Vale lembrar que não está se pretendendo que todo e qualquer profissional 
da educação tenha o conhecimento do direito. No entanto, toda legislação que lhe 
diga respeito diretamente, não pode ser ignorada. Exemplo dessa situação ocorre 
 
educação prevista na Constituição Federal, a ocorrência de atos infracionais ocorridos no ambiente 
escolar e a garantia da educação de qualidade passaram a ser objeto de questionamento judicial. 
Até mesmo a responsabilidade penal tem sido chamada posto que poucas são as informações que 
mostram a aplicação do art. 246 do Código Penal, que estabelece o crime de abandono intelectual, 
prevendo: Art. 246 – Deixar sem justa causa de prover à instrução primaria de filho em idade escolar 
– Pena: detenção de quinze dias a um mês e multa. 
 
 
 
25 
 
com o capítulo do direito à educação previsto no Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que não pode ser desconhecido do educador. 
Como afirma JANE BEATRIZ BATISTA (1999, p. 233), 
 
os graves problemas da escola brasileira não podem ser solucionados sem 
a ação dos profissionais que nela trabalham. Mas, neste caso, tais 
profissionais devem ter ciência da legislação relacionada a sua atuação. 
 
a.3) Trabalho em parceria: não há como negar que a tarefa educativa é de 
competência do professor. Contudo, vários problemas que ocorrem na escola, antes 
mesmo de se transformarem em questões judiciais, podem ser resolvidos com um 
trabalho conjunto do sistema educativo (diretores, coordenadores, supervisores e 
professores) com o sistema de proteção dos direitos da criança e do adolescente 
(Conselho Tutelar, Poder Judiciário, Ministério Público, Policia Militar e Civil). 
Nesse sentido, vale destacar Batista (1999, p. 237) quando afirma que 
 
o pedagogo precisa estar preparado para ações integradas com os demais 
profissionais e com o espaço educativo como um todo, assim como para o 
entendimento da realidade e a produção de saberes pedagógicos com 
vistas à construção de práticas educativas que veiculem os conhecimentos 
e valores necessários à sociedade contemporânea. 
 
Até porque, “os problemas escolares deixaram de ser eminentemente 
educacionais, os problemas sociais converteram-se em problemas escolares e os 
professores não estão preparados pra enfrentar essa nova realidade” (ALMEIDA, 
1999, p. 12). O enfrentamento destes problemas deve ocorrer de forma conjunta. 
Todos em prol de uma educação de qualidade. 
b) SISTEMA DE PROTEÇÃO: 
b.1) Desconhecimento do sistema educacional: nesta situação, ocorre o 
inverso do que foi mencionado no item anterior, ou seja, o despreparo dos 
integrantes do sistema de proteção – Juiz de Direito, Promotor de Justiça, Delegado 
de Polícia, Policial Militar, Conselheiro Tutelar e Conselheiro Municipal. 
Desconhecem o sistema de ensino e há um despreparo para lidar com os problemas 
da educação. Para muitos integrantes desse sistema, o problema educacional ainda 
está restrito ao professor. Se a escola é ruim ou não atrativa, se ela não apresenta 
educação de qualidade, se os alunos são indisciplinados: a culpa é do professor, 
transformado em culpado de todos os fracassos escolares. 
 
 
26 
 
Os professores foram transformados em verdadeiros bodes expiatórios 
frente aos imensos problemas presentes nos sistemas de ensino, 
favorecendo o enfraquecimento de sua profissionalização e do seu 
reconhecimento social. Responsabilizá-lo pelos insucessos da escola 
atende a vários interesses, dentre eles aos dos governantes, que podem se 
eximir das responsabilidades quanto ao que acontece; aos dos pais, que 
não conseguem enfrentar os problemas escolares com seus filhos; aos dos 
pesquisadores, que não precisam rever a direção de suas pesquisas, em 
boa parte sem sintonia com a realidade escolar (ALMEIDA, 1999, p. 11). 
 
Mesmo posicionamento aponta JOSÉ ESTEVE (1995, p. 104): 
 
Grande parte da sociedade, alguns meios de comunicação e também 
alguns governantes chegaram à conclusão simplista e linear de que os 
professores, como responsáveis diretos do sistema de ensino, são também 
os responsáveis diretos de todas as lacunas, fracassos, imperfeições e 
males que nele existem. Acabam por culpar o professor e 
consequentemente a escola pelo fracasso do aluno. 
 
Conforme esclarece DONALD SCHÖN (1997, p. 79): 
 
atribuímos a culpa às escolas e aos professores, o que equivale a culpar as 
vítimas. Sim, porque outros fatores se somam para apontar a situação atual 
da escola como financiamento, retribuição salarial, jornada, carreira e 
condições de trabalho, entre outras. A aplicação da lei na esfera 
educacional requer do profissional do direito o conhecimento real da 
situação educacional, sob pena de cometer erros e equívocos. 
 
b.2) Exagero na forma de agir: existe ainda a situação em que, na ânsia de 
provocar a defesa do direito à educação, os integrantes do sistema de proteção 
extrapolam na judicialização dos atos, instaurandoprotocolados, inquéritos civis, 
procedimentos judiciais de situações que não deveriam merecer a atenção do 
sistema de justiça. Nesta hipótese, há uma indevida invasão do sistema legal no 
educacional. 
b.3) Burocratização das ações: num mundo informatizado e dinâmico, as 
instituições jurídicas ainda convivem, em sua grande maioria, com um sistema 
retrógrado e burocratizante. As relações entre este sistema e o educacional ficam 
muitas vezes emperradas. Exemplo típico dessa intervenção burocrática diz respeito 
ao combate à evasão escolar. Quando ocorre a efetiva intervenção, muitas vezes é 
tardia, posto que a criança e o adolescente não mais têm condições de voltar ao 
sistema de ensino. 
A síntese é essa: 
 
 
 
27 
 
a judicialização da educação representa a busca de mais e melhores 
instrumentos de defesa de direitos juridicamente protegidos. Essa proteção 
judicial avança na consolidação desse direito da criança e do adolescente e 
significa a exigência da obrigatoriedade da transformação do legal no real 
(CURY; FERREIRA, 2010). 
 
 
 
28 
 
UNIDADE 2 – O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO 
PROCESSO DE JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO 
 
Tem sido notória a participação do Ministério Público na defesa dos direitos 
sociais, portanto, vamos conhecer um pouco dessa estrutura independente que 
agrega valor ao Estado Democrático de Direito. 
 
Para garantia do direito à educação, os membros do Ministério Público 
atuam como um terceiro elemento para a resolução de problemas 
decorrentes de desajustes sociais e de gestão dos interesses públicos. 
O estabelecimento da defesa da educação como meta a ser atingida pelo 
Ministério Público demonstra a importância do ensino-aprendizagem para a 
construção da cidadania e revela que o direito à educação não tem sido 
concretizado satisfatoriamente. 
O Ministério Público tem o papel de garantir as condições necessárias para 
o desenvolvimento da democracia. Essa tarefa passa, inarredavelmente, 
pela realização do direito à educação (CARIBÉ, 2016, p. 15). 
 
2.1 A estrutura do Ministério Público (MP) 
O Ministério Público Federal (MPF) integra o Ministério Público brasileiro, 
conquista garantida pela Constituição Federal de 1988, sendo composto pelos 
Ministérios Públicos nos estados e pelo Ministério Público da União (MPU), que, por 
sua vez, possui quatro ramos: o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério 
Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Militar (MPM) e o Ministério Público 
do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). 
O MPU e o MPF são chefiados pelo procurador-geral da República e a sede 
administrativa do MPF é a Procuradoria-Geral da República. 
O Ministério Público tem autonomia na estrutura do Estado: não pode ser 
extinto ou ter atribuições repassadas a outra instituição. Os membros (procuradores 
e promotores) possuem as chamadas autonomia institucional e independência 
funcional, ou seja, têm liberdade para atuar segundo suas convicções, com base na 
lei. 
Cabe ao MPF assegurar o respeito aos direitos dos cidadãos, por meio da 
fiscalização e cobrança na aplicação das leis. O MPF também atua 
extrajudicialmente, ou seja, propondo acordos (Termos de Ajuste de Conduta, 
recomendações, inquérito civil público, audiências públicas). 
O Ministério Público Federal, assim como o Ministério Público brasileiro, não 
faz parte de nenhum dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e tem 
 
 
29 
 
independência funcional assegurada pela Constituição Federal. O MPF atua em 
casos federais, regulamentados pela Constituição e pelas leis federais, sempre que 
a questão envolver interesse público. 
 
 
Figura 4: Estrutura do Ministério Público. 
Fonte: http://www.mpf.mp.br/conheca-o-mpf/sobre/sobre-a-instituicao 
 
Os Ministérios Públicos nos estados atuam na Justiça estadual, enquanto os 
diversos ramos do MPU têm a seguinte atuação: 
 MPF – o Ministério Público Federal atua na Justiça Federal, em causas nas 
quais a Constituição considera haver interesse federal. A atuação pode ser 
judicial como fiscal da lei, cível e criminal, mas também pode ser extrajudicial, 
quando atua por meio de recomendações e promove acordos por meio dos 
Termos de Ajuste de Conduta (TAC); 
 MPT – o Ministério Público do Trabalho (MPT) busca dar proteção aos direitos 
fundamentais e sociais do cidadão diante de ilegalidades praticadas na seara 
trabalhista; 
 MPM – o Ministério Público Militar (MPM) atua na apuração dos crimes 
militares, no controle externo da atividade policial judiciária militar e na 
instauração do inquérito civil também para a proteção dos direitos 
constitucionais no âmbito da administração militar; 
 MPDFT – o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) é o 
ramo do Ministério Público da União responsável por fiscalizar as leis e 
defender os interesses da sociedade do Distrito Federal e dos Territórios. 
 
 
30 
 
A organização e as atribuições do MPU estão dispostos na Lei 
Complementar nº 75/19938, conhecida como Lei Orgânica do Ministério Público da 
União. 
 
2.2 Áreas de atuação do MPF 
O MPF atua como fiscal da lei, mas tem atuação também nas áreas cível, 
criminal e eleitoral. 
Na área eleitoral, o MPF pode intervir em todas as fases do processo e age 
em parceria com os ministérios públicos estaduais. 
A atuação do MPF ocorre perante o Supremo Tribunal Federal, o Superior 
Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral, os tribunais regionais federais, os 
juízes federais e os juízes eleitorais, nos casos regulamentados pela Constituição e 
pelas leis federais. 
O MPF tem atuação judicial (como fiscal da lei, na área civil e criminal) e 
extrajudicial. 
Fora da esfera judicial e antes de propor ações à Justiça, o MPF pode adotar 
medidas administrativas, por meio de instrumentos como inquéritos civis públicos, 
recomendações, termos de ajustamento de conduta e audiências públicas, utilizados 
para coletar provas sobre a existência ou não de irregularidades. 
Comprovada a existência de irregularidades, o MPF pode propor, antes de 
ingressar com a ação, a assinatura de termo de ajustamento de conduta (TAC). Se 
as irregularidades também forem consideradas crime, cópias dos procedimentos são 
encaminhadas aos procuradores que atuam na área criminal. 
Na área cível, o MPF ingressa com ações em nome da sociedade para 
defender: 
 interesses difusos (interesses que não são específicos de uma pessoa ou 
grupo de indivíduos, mas de toda a sociedade); 
 interesses coletivos (interesses de um grupo, categoria ou classe ligados 
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica); e, 
 interesses individuais homogêneos (que têm um fato gerador comum, atingem 
as pessoas individualmente e da mesma forma, mas não podem ser 
considerados individuais, como os direitos do consumidor). 
 
8
 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm 
 
 
31 
 
Nesses casos, o MPF age por meio da ação civil pública, da ação civil 
coletiva ou da ação de improbidade administrativa. 
O MPF também age preventivamente, extrajudicialmente, quando atua por 
meio de recomendações, audiências públicas e promove acordos por meio dos 
Termos de Ajuste de Conduta (TAC). 
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) coordena, com a 
colaboração de seu Grupo de Trabalho, a atuação dos membros do MPF no tema 
Educação. A atuação da PFDC se dá por meio de: instauração de procedimento 
administrativo, expedição de notificação a autoridades, requisição de informações e 
documentos, expedição de recomendações, celebração de Termos de Ajustamento 
de Conduta (TAC), realização de audiências públicas e participação em grupos 
interinstitucionais, além do diálogo e interlocução direta com parlamentares, 
representantes da sociedade civil e demais setores interessados. 
O Grupo de Trabalho (GT) Educação da PFDC foi instituídoem 2005 e, por 
meio de portarias, vem tendo sua vigência renovada a cada ano. O GT atua 
examinando as demandas relacionadas ao tema e propondo à PFDC estratégias de 
atuação e diretrizes para orientação dos trabalhos dos Procuradores dos Direitos do 
Cidadão. 
Os focos de atuação do GT estão em: 
 garantir o acesso democrático e isonômico aos cursos de pós-graduação, nas 
Universidades Públicas, através do aperfeiçoamento do processo seletivo; 
 enfrentar a questão relativa à cobrança de contribuições compulsórias em 
estabelecimentos oficiais de ensino, em especial nos Colégios Militares; 
 exigir a implementação de políticas públicas de educação profissionalizante 
para os adolescentes em conflito com a lei; 
 exigir o fomento de políticas públicas de capacitação de professores para o 
magistério das disciplinas Filosofia, Sociologia (Lei 9.394/1996 – LDB), 
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Leis 10.639/2003 e 11.645/2008) 
e Educação Ambiental (Lei 9.795/1999); 
 exigir o acompanhamento e fiscalização do cumprimento dos requisitos de 
adesão ao sistema educacional para os beneficiários do Programa Bolsa 
Família; 
 cobrar a promoção de mecanismo público que garanta a revalidação dos 
diplomas dos médicos formados em Cuba; 
 
 
32 
 
 exigir e acompanhar a fiscalização da qualidade do ensino universitário, 
incluindo o ensino a distância9. 
 
2.3 Funções e princípios do MP 
ROGÉRIO ARANTES (2000) destaca os dois princípios que têm regido a 
atuação do Ministério Público desde a Constituição de 1988: o combate à 
improbidade administrativa e a fiscalização de serviços de relevância pública, 
combinados, pode-se dizer que é o conceito de cidadania da instituição. 
Quanto aos seus princípios de organização, coincidem com os do Poder 
Judiciário. O Ministério Público está dividido em dois ramos: Estadual e União. O 
que os diferencia é a área de atuação. Apenas membros do MPF podem oficiar 
perante o STF, composto pela cúpula do Poder Judiciário, que profere a palavra final 
sobre a interpretação da Constituição Federal e o STJ, que uniformiza a 
interpretação da lei infraconstitucional. 
No âmbito federal, o chefe do Ministério Público é o Procurador Geral da 
República, que é indicado pelo Presidente da República e deve ser aprovado por 
maioria absoluta no Senado Federal. O mandato é de dois anos, permitida a 
recondução sucessiva. Já no âmbito estadual, o chefe do Ministério Público é o 
Procurador-Geral, e sua escolha se inicia com a elaboração de uma lista tríplice com 
nomes indicados pelos próprios membros da instituição. O Governador do estado, 
então, decide por um nome da lista. Nesse caso, a Assembleia Legislativa não tem 
poder de escolha, mas tem a faculdade de destituir o escolhido do cargo, por maioria 
absoluta. O mandato é de dois anos, sendo possível apenas uma recondução 
(MAZZILLI, 2007). 
O MP, para que consiga exercer suas atividades, precisa gozar de 
autonomia funcional. Para tanto, ele é provido de três tipos de garantias: 
 as garantias nas suas atividades-meio, ou seja, as garantias que envolvem a 
autonomia administrativa, a autonomia financeira e a iniciativa da lei, que se 
traduz em autonomia para organizar as atribuições e o estatuto do Ministério 
Público, assim como criar e extinguir seus cargos e planos de carreira e criar 
ou extinguir serviços auxiliares; 
 
9
 Disponível em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/institucional/grupos-de-
trabalho/educacao 
 
 
33 
 
 as garantias relativas a suas atividades-fim, ou seja, a garantia de exercer seu 
ofício com liberdade de ação em relação aos três poderes, limitando-se 
apenas à observância da lei; 
 as garantias dos órgãos e agentes, o que se traduz na liberdade funcional dos 
membros do Ministério Público em exercer seu ofício, podendo ser 
responsabilizados por atuação irregular. 
Conforme HUGO NIGRO MAZZILLI (2007), as garantias dos órgãos e 
agentes se evidenciam de várias formas, como: 
i. na proibição da irredutibilidade dos subsídios e na justificativa de bons 
salários, para que o promotor se dedique exclusivamente ao cargo e não se 
corrompa; 
ii. na vitalicidade, que veda demissões administrativas, possíveis apenas em 
decorrência de sentença judicial julgada; 
iii. na inamovibilidade, que impede que o funcionário seja afastado de seu cargo 
e de suas funções; 
iv. na definição de seus poderes e da escolha dos Procuradores Gerais; 
v. na existência do Promotor natural, que requer a existência de cargos e 
funções predeterminadas em lei, que não podem ser alteradas na atuação 
dentro do Ministério Público; 
vi. na vedação de Promotor ad hoc, que impede que funcionário de outra carreira 
atue nas funções destinadas à instituição; e, 
vii. na responsabilidade do membro do Ministério Público, segundo a qual, a ação 
irregular de um membro recairá sobre a responsabilidade dele e não da 
instituição. 
No Ministério Público não existem hierarquias, ou seja, sua organização é 
monocrática, o que garante aos seus membros uma independência funcional. Para 
MARIA TEREZA SADEK (2000), esse fato contribui para que haja um espaço para 
“vontade política”, ou seja, para que a motivação e as características individuais de 
seus membros tornem efetivas as prerrogativas da lei. 
Um exemplo da independência funcional é a escolha dos Procuradores-
Gerais da República e da Justiça; outro, é a própria dificuldade de mensurar a real 
autonomia da instituição, tendo em vista que as atribuições do Ministério Público 
podem ser limitadas pelo Poder Judiciário e pela Polícia, quando facilitam ou 
 
 
34 
 
impedem as investigações ou ações. Note-se que essas instituições muitas vezes 
podem sofrer pressões políticas para tanto (OLIVEIRA, 2011). 
 
2.4 Atuação do MPF na judicialização da educação 
Faz parte das atribuições do Ministério Público exercer o controle das 
políticas públicas educacionais; fiscalizar a realização do direito à educação, 
contribuindo para que a mesma se transforme em elemento de inclusão e 
transmutação das estruturas sociais (CARIBÉ, 2016). 
Em casos de ineficácia, o Ministério Público, sempre que necessário, pode 
movimentar o Poder Judiciário, que deve interferir nas políticas públicas 
educacionais, para garantir um mínimo existencial que proteja a dignidade da 
pessoa humana e a máxima efetividade dos direitos fundamentais sociais, 
aproximando, tanto quanto possível, o dever-ser normativo e o ser da realidade 
social, como forma de contribuir para o progresso humano e propiciar maiores 
oportunidades de vida para os excluídos. 
Abaixo são elencadas, conforme ANTÔNIO CARLOS OSÓRIO NUNES 
(2012, p. 2-3), algumas sugestões de trabalhos que estão ao alcance dos membros 
do Ministério Público para uma atuação eficiente como articulador, mediador e 
protagonista de ações sociais que efetivamente possam contribuir para a melhoria 
da qualidade da educação nos seus respectivos municípios de atuação (e também 
nas regiões ou no âmbito estadual). 
1 – Diagnóstico da situação: a primeira ação importante a ser feita é a 
realização de um diagnóstico sobre a situação educacional do município. Para tanto, 
se houver possibilidade, pode ser feita uma Audiência Pública na qual serão 
levantados os problemas relacionados à comunidade escolar do respectivo 
município. A audiência servirá para a colheita de informações, obtenção de dados e 
levantamento de problemas gerais e relacionados à comunidade escolar. 
2 – Estabelecimento de canais de conversação e núcleos de articulação: na 
própria audiência pública será possível estabelecer contatos com os principais 
atores relacionados à comunidade escolar do município: representantes das 
Secretarias de Educação; membros dos Conselhos da Educação, dos Conselhos do 
Fundeb e da Alimentação Escolar; dos Conselhos de Escolas; representantes de 
ONG; servidores,representantes dos pais, alunos, professores, entre outros. Dessas 
pessoas, o representante do Ministério Público selecionará aquelas que ele entende 
 
 
35 
 
mais importantes ou adequadas para funcionar como elementos de interlocução 
para a discussão, reflexões conjuntas e busca de melhorias na qualidade do ensino 
do município. Estabelece-se uma rede de contatos na área, com possíveis 
cronogramas de trabalho, com pautas predefinidas. 
Cabe ainda ao MP: 
 Zelar corretamente pela correta aplicação das verbas de financiamento da 
educação. O artigo 212 da CF/88 estatui que “a União aplicará, anualmente, nunca 
menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por 
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de 
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. Os artigos 68 e 
seguintes da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) tratam dos 
recursos financeiros destinados à educação. 
Nessa direção, cabe ao MP a prerrogativa e o dever de atuar preventiva e 
repressivamente para uma boa fiscalização dessas verbas. Para tanto, diversas 
ações podem ser feitas, entre outras: 
a) zelar, com o apoio dos Conselhos ligados à educação, pelo orçamento 
detalhado da Educação Básica; orçamentos genéricos permitem desvios e fraudes e 
dificultam o acompanhamento de sua execução; 
b) cobrar e fiscalizar a transparência da folha de pagamentos das 
Secretarias da Educação; 
c) fiscalizar, ou cobrar para que os conselhos fiscalizem a aquisição de bens 
e a prestação de serviços ligados à Educação; 
d) acompanhar e fiscalizar a eficiência nos trabalhos dos Conselhos do 
Fundeb (NUNES, 2012). 
 Verificação da existência e da regularidade no funcionamento dos Conselhos 
municipais relacionados à Educação, a saber: Conselho Municipal de 
Educação, Conselho do Fundeb e Conselho da Alimentação Escolar. 
 Verificar como está a situação da educação infantil: é importante que seja 
feito um levantamento para saber como anda o atendimento e a oferta de 
vagas à educação infantil, que abrange as creches, de zero aos três anos, e a 
pré-escola, dos quatro aos cinco anos. Todas as crianças nestas faixas 
etárias têm direito à educação infantil. 
 Verificar a não criação/implantação do Plano de Carreira dos Profissionais da 
Educação Básica: essa é uma irregularidade ainda comum em mais da 
 
 
36 
 
metade dos Municípios brasileiros, em descumprimento ao dever 
constitucional. É preciso checar se o Município implantou o Plano de Carreira 
e Remuneração dos profissionais de educação básica, conforme exigência 
dos seguintes dispositivos constitucionais e legais: art. 206, V da CF, art. 40 
da Lei nº 11.494/200710, art. 67 da Lei nº 9.394/199611, e item 10.3.1 do Plano 
Nacional de Educação (Lei nº 13.005/201412). 
 Incentivar o funcionamento dos Conselhos Escolares. 
 Cobrar uma escola mais inclusiva, uma vez que esta permite que os alunos 
em geral vivenciem as diferenças e que aqueles discriminados pela 
deficiência, ou qualquer outro motivo, ocupem o seu espaço na sociedade e 
sejam cidadãos. Toda criança e adolescente têm o direito à educação na 
diversidade, garantindo-se o seu aprendizado de acordo com suas 
potencialidades (art. 208, V, CF). 
 Segurança escolar: os cuidados com a segurança escolar interferem no 
processo de ensino e de aprendizagem e, portanto, na qualidade da 
educação. O Ministério Público pode colaborar com mais paz nas escolas 
incentivando-as a melhorar e ampliar as relações com a comunidade local, 
sobretudo com a criação e o fortalecimento dos Conselhos Escolares; a 
apoiar e cobrar as ações de segurança no entorno da escola, tais como: 
rondas escolares, limpeza de terrenos, fornecimento de iluminação adequada, 
entre outros; zelar pela observância do perímetro escolar, que é a área 
contígua aos estabelecimentos escolares na qual devem ser vedadas 
determinadas atividades, tais como vendedores ambulantes, venda de 
bebidas alcoólicas, entre outros. 
 Prevenir e combater a evasão escolar que é um sério problema brasileiro e 
desafio para todos, muito mais do que garantir a matrícula nas escolas. 
Muitas são as ações das quais o Ministério Público pode participar, dando 
sua contribuição para a efetivação do direito à educação, seja articulando, 
 
10 Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização 
dos Profissionais da Educação – FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias; altera a Lei nº 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos 
das Leis nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, nº 10.880, de 9 de junho de 2004, e nº 10.845, de 5 
de março de 2004; e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm 
11
 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm 
12
 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm 
 
 
37 
 
fiscalizando, mediando socialmente as relações e mesmo impulsionando o Estado 
na escolha de critérios e prioridades de gastos (NUNES, 2012). 
 
 
 
38 
 
UNIDADE 3 – JURISPRUDÊNCIA E A GARANTIA DO 
DIREITO À EDUCAÇÃO 
 
3.1 Conceitos e definições 
Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), 
Jurisprudência é um termo jurídico, que significa o conjunto das decisões, aplicações 
e interpretações das leis. 
A jurisprudência pode ser entendida de três formas: 
 como a decisão isolada de um tribunal que não tem mais recursos; 
 pode ser um conjunto de decisões reiteradas dos tribunais; ou, 
 as súmulas de jurisprudência, que são as orientações resultantes de um 
conjunto de decisões proferidas com mesmo entendimento sobre 
determinada matéria. 
Precedente é a decisão judicial tomada em um caso concreto, que pode 
servir como exemplo para outros julgamentos similares. Há contudo, muitas 
discussões, no sentido que decisões isoladas poderiam ser consideradas 
jurisprudência. 
Jurisprudência é ainda a interpretação reiterada, de mesmo sentido, que os 
tribunais dão às leis, nos casos concretos que são levados a julgamento. 
Jurisprudência é um termo jurídico que significa o conjunto das decisões, 
aplicações e interpretações das leis. Também é descrita como a ciência do Direito e 
do estudo das leis. 
 
 
 
39 
 
 
Figura 5: Jurisprudência. 
Fonte: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil-1/jurisprudencia-x-precedente 
 
A jurisprudência surgiu com o Direito Inglês, que foi desenvolvido para ir 
contra os costumes locais que não eram comuns. Para combater isso, o rei enviava 
juízes que presidia o juri e constituía um sistema de regras em tribunais separados. 
O direito inglês apresentou-se então como direito jurisprudencial, no qual 
predominava a regra do precedente. 
O real significado de jurisprudência significa “a ciência da lei”. A 
jurisprudência pode ter outros significados, como a decisão de um tribunal que não 
pode ser recorrida, ou um conjunto de decisões dos tribunais, ou a orientação que 
resulta de um conjunto de decisões judiciais proferidas num mesmo sentido sobre 
uma dada matéria ou de uma instância superior como o STJ ou TST. 
Jurisprudência em sentido amplo é 
 
a coletânea de decisões proferidas pelos juízes e tribunais sobre uma 
determinada matéria jurídica. (...) Jurisprudência em sentido estrito, dentro 
desta acepção, consiste apenas no conjunto de decisões uniformes, 
prolatadas por órgãos do Poder Judiciário, sobre uma determinada questão 
jurídica (NADER, 2013, p. 172). 
 
Em pesquisa que investigou e analisou a atuação do Poder Judiciário, 
especificamente do Supremo Tribunal Federal (STF), com relação às demandas 
 
 
40 
 
judiciais no campo do direito à educação de crianças e adolescentes no período de

Outros materiais