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A UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PERIODONTIA E PRÓTESE DENTÁRIA Adesão de células mesenquimais da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos a diferentes superfícies de titânio: Estudo comparativo in vitro Luciana Bastos Alves Natal/ RN 2008 Luciana Bastos Alves Adesão de células mesenquimais da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos a diferentes superfícies de titânio: Estudo comparativo in vitro Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Odontologia, com área de concentração em Periodontia e Prótese Dentária, da Faculdade de Odontologia da UFRN, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre. Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barboza Natal – 2008 Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”. Alves, Luciana Bastos. Adesão de células mesenquimais da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos a diferentes superfícies de titânio: estudo comparativo in vitro / Luciana Bastos Alves. – Natal, RN, 2008. 70 p. : il. Orientador: Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barboza. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Odontologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Ligamento periodontal - Dissertação. 2. Medula óssea – Dissertação. 3. Titânio – Dissertação. I. Barboza, Carlos Augusto Galvão. II. Título. RN/UF/BSO Black D64 Dedico este trabalho A Deus, pelo seu amor e sua presença em minha vida que me faz mais forte e segura. Aos meus pais Edmar e Lúcia, que sempre me apoiaram, incentivaram e se esforçaram para a concretização de mais uma etapa da minha vida. Sem vocês eu nada seria. Muito obrigada! AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barboza, pela confiança depositada em meu trabalho, pela sua disponibilidade irrestrita, pelos ensinamentos compartilhados, pelo incentivo e estímulo na área de cultivo celular que me abriram as portas para a próxima etapa, pelo apoio nos momentos difíceis e pelo carinho e amizade. À aluna de iniciação científica do curso de Biomedicina da UFRN, Fernanda Ginani, pelos primeiros passos na área de cultivo de células, pela sua disponibilidade e amizade que construímos e “cultivamos” junto com este trabalho. Ao colega e Prof. José Sandro Pereira da Silva, pelas amostras de titânio e completa contribuição na caracterização de superfícies, pelas orientações nesta área, pelo apoio, atenção e disponibilidade na elaboração deste trabalho. Ao LabPlasma (Departamento de Física da UFRN), na pessoa do Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior, pelo espaço e estrutura cedidos para o tratamento das amostras. Ao laboratório de cultura de células do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociências da UFRN, na pessoa do Prof. Dr. Hugo Alexandre de Oliveira Rocha, pelo espaço e estrutura cedidos para o cultivo celular. Ao Departamento de Energia Nuclear da UFPE, na pessoa da Prof. Dra. Helen Jamil Khoury, pela irradiação das amostras. Ao Laboratório de Cronobiologia do Departamento de Morfologia da UFRN, pela concessão dos animais utilizados neste trabalho. A Faculdade de Odontologia da UFRN, na pessoa do chefe do departamento Prof. Dr. Antônio Ricardo Calazans Duarte, Aos Professores Dra. Ruthnéia Diógenes Alves Uchoa e Dr. Adriano Rocha Germano, pela participação na banca da qualificação, o que contribuiu para qualidade desta dissertação. Aos Professores Dra. Adriana da Fonte Porto Carreiro, Dr. Antônio Ricardo Calazans Duarte, Dr. Gustavo Augusto Seabra Barbosa, pelos ensinamentos em Prótese Dentária, e em especial ao Prof. Dr. Eduardo Gomes Seabra pelos ensinamentos em Periodontia. Aos Professores do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFRN, Dra. Maria Ângela Ferreira, Dr. Kênio Costa Lima, Dr. Ângelo Giuseppe Roncalli, Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza, Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves, Dra. Íris do Céu Clara costa, e Dra. Maria Celeste Nunes de Melo, pelas orientações e ensinamentos partilhados. A todos os funcionários da Faculdade que contribuíram de alguma forma para a concretização deste trabalho, em especial a Sandra, Ocian e Cecília. Aos meus colegas de turma, Luana, Eudivar Alessandra, Lidiane, Miguel, Pedro Henrique, Ana Rafaela e Arcelino, pela convivência amiga e alegre durante todo o curso. Ao aluno de iniciação científica do curso de Odontologia da UFRN, Marcel Cortês Bonifácio Varela Cavalcanti, pelo seu apoio no cultivo de células. Ao aluno do curso de Odontologia da Universidade Potiguar, Almir Nery, pela contribuição no tratamento de superfícies das amostras. Ao meu irmão Rafael Bastos Alves, que mesmo distante se fez presente através do amor, amizade e cumplicidade, o que me deu forças para realização desta etapa. As minhas amigas Alinne Alice e Renata Filgueira, pelo carinho, apoio e amizade durante os momentos de convivência alegre fora da faculdade. A Tony, pelo incentivo, compreensão, carinho e boas energias transmitidas durante a realização deste trabalho. As minhas primas de sangue, irmãs de coração e colegas de profissão Nathália Bastos e Ludmila Alves, pelo carinho e apoio nos momentos difíceis. A minha “grande família”: tios, primos, sobrinhos e especial aos meus amados avós Geraldo e Lysia, que estiveram sempre na torcida por mim. A todos que de acreditaram em mim e de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! (DAS UTOPIAS – Mário Quintana) RESUMO O presente trabalho utilizou a cultura celular para analisar a capacidade de adesão de células mesenquimais da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos a diferentes superfícies de titânio. Para tanto, foram utilizados discos de titânio grau II ASTM F86 nas dimensões de 15mm de diâmetro por 1,5mm de espessura, os quais receberam diferentes tratamentos de superfície em 2 grupos distintos (polido e nitretação a plasma por gaiola catódica). As células foram isoladas da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos e cultivadas em meio de cultura meio básico α-MEM contendo antibióticos e suplementado com 10% de FBS, por 72 horas, em atmosfera úmida com 5% de CO2 a 37ºC. No subcultivo as células foram cultivadas em 1 placa de 24 poços, na densidade de 1 x 104 células por poço, onde os discos de titânio foram distribuídos de acordo com os grupos, incluindo-se controles positivos sem os discos de titânio. Após 24 horas de cultivo, as células foram submetidas a contagem em câmara de Neubauer. Os resultados analisados mostraram que tanto as células mesenquimais da medula óssea de camundongos como as células do ligamento periodontal de ratos tiveram melhor adesão à superfície controle. O número de células da medula óssea aderidas a superfície de Ti polido não foi estatisticamente significante quando comparado ao mesmo tipo celular aderido à superfície de Ti tratada por plasma na configuração de gaiola catódica, entretanto diferença significante foi encontrada entre o grupo controle e o grupo Ti polido. Com relação à adesão das células do ligamento periodontal, diferença significativa foi encontrada apenas entre as superfícies controle e as superfícies de Ti tratadas por plasma. No que diz respeito às comparações entre superfíciesiguais com células diferentes, não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significante. Portanto, conclui-se que o titânio é um bom biomaterial para a adesão de células mesenquimais e que as diferentes formas de tratamento de superfície dada ao material podem influenciar neste processo. Palavras-chave: Células mesenquimais; medula óssea; ligamento periodontal; titânio. ABSTRACT The present experiment used cell culture to analyze the adhesion capacity of mouse mesenchymal bone marrow cells and rat periodontal ligament to different titanium surfaces. Grade II ASTM F86 titanium discs 15mm in diameter and 1.5mm thick were used and received 2 distinct surface treatments (polished and cathodic cage plasma nitriding). The cells were isolated from the mouse bone marrow and rat periodontal ligament and cultured in α- MEM basic culture medium containing antibiotics and supplemented with 10% FBS and 5% CO2, for 72 hours at 37ºC in a humidified atmosphere. Subculture cells were cultured in a 24- well plate with a density of 1 x 104 cells per well. The titanium discs were distributed in accordance with the groups, including positive controls without titanium discs. After a 24- hour culture, the cells were counted in a Neubauer chamber. The results show that both the mouse mesenchymal bone marrow cells and rat periodontal ligament cells had better adhesion to the control surface. The number of bone marrow cells adhered to the polished Ti surface was not statistically significant when compared to the same type of cell adhered to the Ti surface treated by cathodic cage plasma nitriding. However a significant difference was found between the control and polished Ti groups. In relation to periodontal ligament cell adhesion, a significant difference was only found between the control and plasma-treated Ti surfaces. When comparing equal surfaces with different cells, no statistically significant difference was observed. We can therefore conclude that titanium is a good material for mesenchymal cell adhesion and that different material surface treatments can influence this process. Key words: Mesenchymal cells; bone marrow; periodontal ligament; titanium. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Esquema básico de um equipamento para nitretação iônica (ALVES Jr, 1995). Figura 2. Equipamento para nitretação iônica. Figura 3. Esquema do equipamento para nitretação iônica em gaiola catódica (SOUSA, et al.2008). Figura 4. Corte das epífises ósseas. Figura 5. Extração da medula óssea. Figura 6. Rato Wistar. Figura 7. Incisivos no meio básico alfa-MEM. Figura 8. Remoção do ligamento periodontal. Figura 9. Fragmentos de ligamento periodontal cultivados em tripsina. Figura 10. Suspensão centrifugada. Figura 11. Placa de cultura contendo meiobásico alfa-MEM supletmentado com 10% de SFB. Figura 12. Suspensão centrifugada. Figura 13. Placa de cultura com discos e células. Figura 14. Esquema dos discos de titânio na placa de cultura de 24 poços. Figura 15. Adesão de células às diferentes superfícies de titânio. Figura 16. Adesão de células da medula óssea às diferentes superfícies de titânio. Figura 17. Adesão de células do ligamento periodontal às diferentes superfícies de titânio. Figura 18. Adesão de células às superfícies controle. Figura 19. Adesão de células à superfície Ti Polido. Figura 20. Adesão de células à superfície Ti Gaiola. LISTA DE TABELAS Tabela 1. Parâmetros de tratamento com plasma de nitrogênio. Tabela 2. Análise da adesão de células da medula óssea de camundongos às diferentes superfícies. Tabela 3. Análise da adesão de células da medula óssea de camundongos às superfícies Controle e Ti Polido. Tabela 4. Análise da adesão de células da medula óssea de camundongos às superfícies Controle e Ti Gaiola. Tabela 5. Análise da adesão de células da medula óssea de camundongos às superfícies Ti Polido e Ti Gaiola. Tabela 6. Análise da adesão de células do ligamento periodontal de ratos às diferentes superfícies. Tabela 7. Análise da adesão de células do ligamento periodontal de ratos às superfícies Controle e Ti Polido. Tabela 8. Análise da adesão de células do ligamento periodontal de ratos às superfícies Controle e Ti Gaiola. Tabela 9. Análise da adesão de células do ligamento periodontal de ratos às superfícies Ti Polido e Ti Gaiola. Tabela 10. Análise da adesão dos dois tipos celulares sobre a superfície controle. Tabela 11. Análise da adesão dos dois tipos celulares sobre a superfície controle Ti Polido. Tabela 12. Análise da adesão dos dois tipos celulares sobre a superfície Ti Gaiola. Tabela 13. Valores de rugosidade média (Ra) obtidas por profilômetro. Tabela 14. Valores da média e desvio padrão de molhabilidade. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABCG-2 - Marcador de células-tronco mesenquimais ALP- Fosfatase alcalina AOs - Osteoblastos alveolares α -MEM – Meio essencial mínimo tipo alfa α-SMA – Actina de músculo liso tipo alfa ASTM – Sociedade Americana de Análise e Padronização de Materiais β-FGF- Fator de crescimento fibroblástico beta BSP- Sialoproteína óssea β-TCP - Fosfato tricálcio beta ºC - Grau Celsus Cbfa-1 - Subunidade alfa 1 do fator de ligação ao core CD - Marcador de superfície celular CFU-F – Unidades formadoras de colônias de fibroblastos c-KIT - Marcador de células-tronco mesenquimais. cm2 - Centímetro quadrado CO2 - Gás carbônico Col I - Colágeno tipo I Col XII - Colágeno tipo XII CTM - Célula-tronco mesenquimal EDTA- Ácido etilenodiamino tetra-acético EGF- Fator de crescimento epidérmico FBS - Soro fetal bovino g - Grama GFAP – Proteína glial ácida fibrilar GFs - Fibroblastos gengivais H - Hidrogênio hESCs - Células-tronco embrionárias humanas HNK1 - Marcador para células de cristas neurais indiferenciadas H2O2 - Peróxido de hidrogênio hPDLF - Fibroblastos do ligamento periodontal humano I-11 - Interleucina-11 kGy - KiloGray L1 - Grupo de células do ligamento periodontal sobre superfície controle L2 - Grupo de células do ligamento periodontal sobre superfície de titânio polido L3 - Grupo de células do ligamento periodontal sobre superfície de titânio tratado M1 - Grupo de células da medula óssea sobre superfície controle M2 - Grupo de células da medula óssea sobre superfície de titânio polido M3 - Grupo de células da medula óssea sobre superfície de titânio nitretado mA - Miliampére Mbar - Milésimo de bar (pressão) MC3T3-E1 – Linhagem de células osteoblásticas da calvária de embrião de camundongos MEV - Microscopia eletrônica de varredura MG-63 – Linhagem de células osteoblásticas mg/L - Miligramas por litro mL- Mililitro mm - Milímetro mM - Milimolar mRNA - Ácido ribonucleico mensageiro MUC18 - Marcador de células-tronco mesenquimais µl - Microlitro N - Nitrogênio NFM - Neurofilamento M Oct-4 - Fator crítico transcripicional para manutenção da pluripotencialidade OCNE - Marcador de células-tronco mesenquimais OCN - Osteocalcina OP-CHEM - Tipo de pano de polimento OPG - osteoprotegerina OPN - Osteopontina OSC – Osteocalcina Osteo-1- Linhagem celular p75 – Proteína associada a células das cristas neurais indiferenciadas PBS - Tampão fosfato-salino PCNA – Antígeno nuclear de proliferação celular PDL - Ligamento periodontal PDLFs - Fibroblastos do ligamento peridontal pH - Potencial hidrogeniônico Ra – Parâmetro de rugosidade média RANKL – Ligante do receptor ativador do fator nuclear Kappa rpm – Rotação por minuto RTG - Regeneração tecidual uuiada RUNX-2 – Fator de transcrição associado ao Runt sccm - Centímetro cúbico padrão por minuto (medida de fluxo de gás) SiC- Carbeto de silício Slug - Fator de transcrição associado à crista neural STRO-1 - Marcador de superfície de células-tronco mesenquimais Sox2 - Fator de transcrição Sox9 - Fator de transcriçãoTi - Titânio Ti6A14V - Liga de Titânio Twist - Fator de transcrição U-2 OS – Linhagem de células osteoblásticas de ostessarcoma V -Voltz Vol. - Volume SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................17 2 REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................20 2.1 Células mesenquimais da medula óssea.........................................................................20 2.2 Regeneração periodontal.................................................................................................21 2.3 Células mesenquimais do ligamento periodontal..........................................................22 2.4 Osseointegração................................................................................................................31 2.4.1 Titânio (Ti).....................................................................................................................31 2.4.2 Características superficiais e respostas celulares.......................................................32 2.4.3 Tratamento de superfície..............................................................................................35 2.4.3.1 Nitretação iônica.........................................................................................................35 3 OBJETIVOS........................................................................................................................38 3.1 Objetivo geral....................................................................................................................38 3.2 Objetivos específicos.........................................................................................................38 4 METODOLOGIA................................................................................................................39 4.1 Preparo das amostras.......................................................................................................39 4.1.1 Protocolo de nitretação..................................................................................................39 4.2 Caracterização das amostras...........................................................................................41 4.2.1 Composição da camada.................................................................................................41 4.2.2 Textura superficial.........................................................................................................41 4.2.3 Rugosidade.....................................................................................................................41 4.2.4 Molhabilidade................................................................................................................41 4.3 Esterelização das amostras..............................................................................................42 4.4 Cultura de células.............................................................................................................42 4.4.1 Obtenção das células da medula óssea de camundongos...........................................42 4.4.2 Cultivo das células da medula óssea............................................................................43 4.4.3 Obtenção das células do ligamento periodontal de ratos..........................................43 4.4.4 Cultivo das células do ligamento periodontal.............................................................43 4.4.5 Cultivo nos discos de Titânio........................................................................................45 4.5 Viabilidade e adesão celular............................................................................................46 4.6 Análise estatística..............................................................................................................46 5 RESULTADOS....................................................................................................................47 5.1 Resultados da análise de superfície.................................................................................47 5.2 Resultados de adesão celular...........................................................................................47 5.2.1 Adesão das células da medula óssea de camundongos às diferentes superfícies.....47 5.2.2 Adesão das células do ligamento periodontal de ratos às diferentes superfícies.....49 5.2.3 Adesão de células da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos à mesma superfície........................................................................................................50 6 DISCUSSÃO........................................................................................................................52 7 CONCLUSÕES...................................................................................................................58 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................59 APÊNDICE.............................................................................................................................67 ANEXOS ................................................................................................................................69 1 INTRODUÇÃO As células mesenquimais indiferenciadas, ou células-tronco como são conhecidas, são células com grande capacidade de auto-renovação e de produzir pelo menos um tipo celular altamente especializado. Existem duas categorias de células-tronco: as células-tronco embriononárias pluripotentes que são procedentes do embrioblasto durante a fase de blástula do embrião e que são capazes de dar origem a todas as linhagens celulares do corpo; e a categoria de células unipotentes ou multipotentes, denominadas células-tronco adultas, que têm capacidade de dar origem a tipos celulares específicos (SOUZA et al., 2003). A maior vantagem do uso de células-tronco embrionárias é a sua capacidade de proliferação e de diferenciação em diversos tipos celulares. Contudo, existem desvantagens, como a sua instabilidade genética, a obrigatoriedade de sua transplantação para hospedeiros imunocomprometidos e o risco de formação de teratocarcinomas, além da questão ética. Já as células-tronco adultas apresentam a vantagem de serem autogênicas, não incorrendo em limitações morais, e responsivas aos fatores de crescimento inerentes ao hospedeiro. No entanto, também apresentam desvantagens, como o fato de não serem pluripotentes, a dificuldade de obtêlas, purificá-las e cultivá-las in vitro, além de sua presença em menor quantidade nos tecidos (SONG et al., 2004; SOARES, 2007). A principal fonte de células-tronco adultas é a medula óssea. Constituem uma pequena população celular, contudo, podem ser expandidas com alta eficiência e induzidas a se diferenciarem em múltiplas linhagens em condições de cultura definidas. Estas células têm a capacidade de se diferenciarem em células dos tecidos ósseo, adiposo, cartilaginoso e muscular, o que demonstra sua alta plasticidade. O interesse neste tipo celular cresceu vertiginosamente nos últimos anos devido ao seu grande potencial de uso na regeneração de tecidos e órgãos lesados (PITTENGER et al., 1999; ROSADA et al., 2003;, SHORT et al., 2003; BARRY, MURPHY, 2004). Inúmeros estudos também têm isolado células mesenquimais indiferenciadas derivadas dos tecidos orais, tais como polpa dentária (GRONTHOS, MANKANI, BRAHIM, 2000; GRONTHOS et al, 2002; MIURA et al., 2003; SHI, ROBEY, GRONTHOS, 2001; SHI, GRONTHOS, 2003; SLOAN, SMITH, 2007) e ligamento periodontal (SEO et al, 2004; CHEN et al., 2006; AKIZUKI et al. 2005; NAGATOMO et al., 2006; GRONTHOS et al, 2006). A identificação desta população celular nos tecidos dentais tem estimuladoo interesse no potencial regenerativo destas células e na sua aplicabilidade na engenharia tecidual, ou bioengenharia. A bioengenharia é usada para construção ou para regeneração dos tecidos injuriados ou perdidos, decorrentes de doenças degenerativas, trauma, câncer ou doença periodontal, tais como o tecido ósseo. Baseia-se na terapia celular envolvendo células mesenquimais associadas ou não aos biomateriais (SILVÉRIO et al., 2008). Dentre os biomateriais, diversos estudos têm mostrado que o titânio atualmente é considerado o biomaterial de escolha para a confecção de implantes osseointegrados em implantodontia e ortopedia, devido à característica osteocondutora e às propriedades mecânicas, estabilidade química e biocompatibilidade, que varia de acordo com o tratamento dado a esse metal. (AMARANTE, LIMA, 2001). Portanto, a natureza da superfície determina a resposta biológica ao redor do biomaterial e, como conseqüência, o sucesso da interação célula-superfície. A interação das células ao biomaterial pode ser dividida em três fases. Na primeira fase as células em contato com a superfície primeiramente se ligam, aderem e se espalham. Esta fase é a mais importante, pois a qualidade desta adesão influenciará na morfologia e na capacidade para proliferação e diferenciação das células. Durante a segunda fase, as células se proliferam e se diferenciam. Finalmente, durante a terceira fase, ocorre a deposição da matriz extracelular mineralizada. (KASEMO, 2002; ANSELME, 2000). Na busca por superfícies que melhoram a essa interação e supram à necessidade de obter uma boa adesão, e conseqüentemente uma maior proliferação e formação óssea, contribuindo para a osseointegração, vários métodos de tratamento de superfície têm sido utilizados, tais como: a aspersão com plasma de titânio, jateamento com óxido de titânio, deposição a laser de carbeto de titânio, condicionamento ácido, e outros (XUANYONG, 2004). Dentre os diferentes métodos, pode-se citar a nitretação iônica ou nitretação a plasma, um processo de introdução do elemento nitrogênio na superfície dos metais com o objetivo de alterar as propriedades superficiais desse material (COOPER, MASUDA,WHITSON, 1999; BRAMA, 2007). Devido ao importante papel das células mesenquimais nos processos de regeneração óssea e fixação dos implantes, o presente estudo busca avaliar a capacidade de adesão das células mesenquimais da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos às superfícies de titânio lisas e nitretadas por plasma na configuração de gaiola catódica. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Células mesenquimais da medula óssea A medula óssea não é apenas o local onde ocorre a hematopoese na vida pós-natal, mas também é um reservatório de células-tronco adultas (CANCEDDA, BIANCHI, DERUBEIS, 2003) Um tipo específico de célula-tronco adulta é a célula-tronco mesenquimal (CTM) (PITTENGER et al., 1999; HU et al., 2002) também denominada de célula-tronco estromal da medula (BIANCO et al., 2001) ou apenas célula estromal da medula (PROCKOP, 1997). As células-tronco mesenquimais (CTM) foram isoladas pela primeira vez por Friedenstein e colaboradores no início da década 70, a partir de uma suspensão celular da medula óssea, e caracterizadas como células aderentes, fibroblastóide e clonogênica, sendo inicialmente denominadas de células formadoras de colônia fibroblastóides (CFU-F = colony forming units – fibroblastic) (FRIEDENSTEIN et al., 1966) ou células mesenquimais estromais multipotentes, de acordo com a nova nomeclatura proposta pela Sociedade Internacional para Terapia Celular, em 2005 (HOROWITZ et al., 2005). Essas células mostraram ser multipotenciais e não apenas participam como estroma de mielosuporte, como também se diferenciam em linhagens mesodérmicas quando implantadas in vivo (OWEN, 1988). Atualmente, muitos estudos têm isolado as CTM e têm controlado, in vitro, a sua diferenciação em tecido cartilaginoso e ósseo, utilizando fatores de crescimento específico, com o objetivo de usar esta nova tecnologia no reparo de tecidos lesados de origem mesenquimal (PITTENGER et al., 1999; MARTIN et al., 2002; MEIRELES, NARDI, 2003). Além disso, células estromais da medula óssea também têm sido bastante utilizadas no reparo de grandes defeitos ósseos, através da associação com biomateriais e injeção sistêmica de células osteogênicas para o tratamento de doenças ósseas genéticas, como a osteogênese imperfeita (CANCEDDA, BIANCHI, DERUBEIS, 2003; SHANTI et al., 2007). As células-tronco mesenquimais podem se diferenciar em osteoblastos e promover mineralização quando cultivadas na presença de ácido ascórbico, betaglicerol fosfato e dexametasona (MAEDA et al. 2007). As células adquirem morfologia de osteoblastos, após 14 a 21 dias (KIM et al., 2004) com aumento da atividade da fosfatase alcalina, deposição de uma matriz extracelular rica em cálcio (BARRY, MURPHY, 2004) e formação de cristais de hidroxiapatita (BARRY, 2003). Pesquisas recentes sinalizam para a possibilidade de implantação de tecido ósseo desenvolvido a partir de cultura de células-tronco do próprio paciente, diferenciadas em osteoblasto. A regeneração óssea guiada utiliza a implantação de células-tronco no local afetado, sem a necessidade de enxertos ósseos, usando um biomaterial como veiculo (BORDJI, 1996). A associação dos implantes de titânio com o tecido ósseo em cultura poderá contribuir para a engenharia tecidual e o sucesso na regeneração periodontal e osseointegração (FRAZOLIN et al. 2008). 2.2 Regeneração periodontal O reparo do aparato de inserção e sustentação do periodonto, destruído como resultado da progressão da doença periodontal, tem sido a meta principal da terapia periodontal. A regeneração periodontal busca a formação de novo cemento e novo osso alveolar além da nova inserção e reinserção das fibras do ligamento periodontal ao novo cemento e superfície radicular (BARTOLD et al., 2000). Desde a década de 70, inúmeras técnicas têm sido utilizadas a fim de interromper a progressão da doença e obter a reconstituição da arquitetura e função das estruturas de suporte perdidas. A terapia periodontal inclui raspagem e alisamento radicular, cirurgias para descontaminação e biomodificação da superfície radicular, enxertos, substitutos ósseos, biomateriais, fatores de crescimento e regeneração tecidual guiada (RTG) (POLIMENI, XIROPAIDIS, WIKESJO, 2006). Melcher, em 1976, sugeriu que o tipo de células que repovoam a superfície radicular após o tratamento cirúrgico periodontal determina a natureza da inserção que formará. A superfície radicular tratada pode ser repovoada por células epiteliais, células do tecido conjuntivo, células ósseas e células do ligamento periodontal. Foi sugerido também que a regeneração do periodonto envolve células progenitoras presentes no ligamento periodontal, capazes de se diferenciarem em fibroblastos, cementoblastos e osteoblastos. Baseada nestas hipóteses, a técnica de RTG tem como princípio biológico a exclusão celular seletiva através da utilização de uma barreira física interposta entre o retalho periodontal e a superfície radicular tratada. Seu objetivo é excluir o tecido conjuntivo, além de desviar a proliferação epitelial da superfície radicular, criando um espaço protegido que poderá ser repovoado por células derivadas do ligamento periodontal, conduzindo assim a regeneração do periodonto (GOTTLOW, 1984; CAFESSE et al., 1988). Entretanto estas terapias são limitadas pela severidade da doença periodontal, tipo de defeito e por fatores locais e sistêmicos, dentre outros. Desta forma, busca-se uma nova terapia de reconstrução do periodonto destruído pela doença periodontal. Recentes técnicas de engenharia tecidual baseadas na biologia de células-tronco têm sido propostas para desenvolver tal terapia (NEEDLEMAN et al., 2006; HASEGAWAet al., 2005; GRONTHOS et al, 2006; FUJII et al., 2008). Desta maneira, o ligamento periodontal tem sido de fundamental importância no processo de reparo e regeneração do periodonto, uma vez que apresentam células como cementoblastos, osteoblastos, mifibroblastos, células endoteliais, células epiteliais e células nervosas, além de “células progenitoras” ou células mesenquimais indiferenciadas (células- tronco) que têm sido identificadas através de vários estudos (IVANOVSKI et al., 2006). 2.3 Células mesenquimais do ligamento periodontal O ligamento periodontal é um tecido conjuntivo frouxo interposto entre as superfícies radiculares dos dentes e a parede interna do osso alveolar. Suas fibras formam uma malha que se estende entre o cemento e osso e está firmemente ancorada pelas fibras de Sharpey. O ligamento periodontal une o dente ao osso alveolar propriamente dito, promovendo suporte, proteção, sensitividade, nutrição, homeostase e reparo (BEERTSENC, MCCULLOC, SODEK, 1997). O conceito de que células mesenquimais indiferenciadas podem estar presentes no ligamento periodontal foi inicialmente proposto por Melcher em 1976, o qual observou que estas células presentes no ligamento periodontal eram capazes de formarem fibroblastos, cementoblastos e osteoblastos A partir de então, a capacidade regeneradora das células do ligamento periodontal tem sido pesquisada através de vários estudos (BARTOLD, SHI, GRONTHOS, 2006). Seo et al. (2004) levantaram a hipótese de que o ligamento periodontal pode conter células indiferenciadas multipotentes que podem ser usadas para regenerar cemento e ligamento periodontal in vivo. Os autores isolaram células do ligamento periodontal de terceiros molares extraídos de humanos, e analisaram através da imunohistoquímica para identificar marcadores de células-tronco. Quando transplantadas em ratos imunocomprometidos, as mesmas mostraram a capacidade de formar estruturas como cemento e ligamento e contribuir para o reparo tecidual periodontal. Os resultados da pesquisa mostraram que células do ligamento periodontal expressaram os marcadores de células-tronco mesenquimais: STRO-1 e CD146/MUC18. Em condições de cultura, células do ligamento periodontal diferenciaram-se em cementoblastos, adipócitos e fibroblastos. Vários antígenos de superfície celular têm sido usados como marcadores para células- tronco e são importantes para isolar essas células de outros tecidos. Chen et al. (2006) realizaram um estudo com o objetivo de identificar e localizar células indiferenciadas no ligamento periodontal humano sadio e doente usando marcadores de superfície celular para células mesenquimais (STRO-1, CD146 e CD44). Dentes afetados pela doença periodontal e sadios foram coletados, fixados em formal a 10%, descalcificados e embebidos em parafina para análise imunohistoquímica. Anticorpos contra STRO-1, CD146 e CD44 foram usados para identificar células-tronco no ligamento periodontal. Os resultados mostraram que células mesenquimais indiferenciadas foram identificadas tanto no ligamento de periodonto sadio quanto em doente. Akizuki et al. (2005) em um estudo piloto isolaram e cultivaram células do ligamento periodontal de pré-molares extraídos de cães e aplicaram essas células juntamente com condutor de ácido hialurônico em cinco defeitos ósseos criados cirurgicamente nas superfícies mesiais das raízes dos primeiros molares mandibulares de uma hemi-arcada de cada cão. A outra hemi-arcada foi usada como grupo controle, onde foram criados os mesmos defeitos e neles aplicados apenas condutor de ácido hialurônico. Após oito semanas, os animais foram sacrificados e os espécimes preparados a fim de avaliar histologicamente e histometricamente a cicatrização dos defeitos periodontais. Os resultados mostraram ausência de inflamação clínica ou recessão gengival em ambos os lados. No grupo experimental foi observada a cicatrização periodontal com formação de osso, ligamento periodontal e cemento em três dos cinco defeitos, e no grupo controle não foi constatada a formação de tecido periodontal, exceto em um defeito. A análise histométrica revelou que a formação de novo cemento no grupo experimental foi altamente significante quando comparada ao grupo controle. Deste modo, os autores concluíram que as células do ligamento periodontal têm o potencial de promover regeneração tecidual, sendo de grande importância para a terapia regenerativa. Nagatomo et al. (2006) isolaram células do ligamento periodontal de pré-molares e terceiros molares extraídos de humanos a fim de verificar as propriedades de renovação, multiplicação e expressão de marcadores dessas células. Análise de fluorescência ativada revelou que essas células expressaram marcadores de células-tronco CD105, CD166, e STRO-1. Esses resultados sugerem que as células do ligamento periodontal incluem células- tronco mesenquimais juntamente com outras células progenitoras. Gronthos, Mankani e Brahim (2000) demonstraram que as células mesenquimais da polpa dentária expressavam a molécula de adesão celular CD106 (VCAM-1). Em 2003, Gronthos, Zannettino e Hay observaram que esta mesma molécula CD106 (VCAM-1) era expressa nas células-tronco da medula óssea. Em 2006, usaram uma estratégia de imunoseleção para purificar as células mesenquimais clonogênicas do ligamento periodontal de ovinos baseada na reatividade ao anticorpo que identifica o CD106. A positividade para este antígeno CD106 das células do ligamento periodontal de ovinos demonstrou a capacidade de formarem um agregado de células semelhantes a fibroblastos quando manipuladas em baixa densidade in vitro. A expanção ex-vivo dessas células exibiu alto grau de proliferação in vitro e expressaram um fenótipo (CD44+, CD166+, CBFA-1+, colágeno-I+, sialoproteína óssea+) consistente com células mesenquimais do ligamento periodontal de humanos, além da capacidade de regenerarem, tanto tecido mineralizado semelhante ao cemento, quanto ligamento periodontal, quando transplantadas em ratos imunocomprometidos. Kawanabe, Murakami e Yamamoto (2006) observaram que as células mesenquimais do ligamento periodontal exibiam um perfil funcional de células-tronco e expressavam ABCG-2 (um marcador usual de células-tronco) e Oct-4 (um fator crítico transcripicional para manutenção da pluripotencialidade), entretanto somente 3,9% das células do ligamento periodontal cultivadas exibiam tais características. Gay, Chen e Macdougall (2007) realizaram um estudo onde células do ligamento periodontal de humanos foram isoladas, marcadas para STRO-1 e separadas em meio de cultura com o objetivo de analisar sua capacidade de diferenciação em osso, cartilagem e tecido adiposo. Células da medula óssea foram usadas como controle nas mesmas condições de cultivo e indução. Os autores concluíram que as células do ligamento periodontal contêm células mesenquimais que têm o potencial de se diferenciarem em osteoblastos, condrócitos e adipócitos, semelhantes às células-tronco da medula óssea. Fujii et al. (2008) isolaram e cultivaram três linhagens celulares (linhas 1-4, 1-11 e 1- 24) que expressam os marcadores celulares RUNX-2, Col I, ALP, OPN, OCN, RANKL, OPG, escreráxe , periostina, Col XII, e α-SMA mRNA. A análise histoquímica demonstrou que o marcador celular CD146 foi expresso nas células das linhagens 1-4 e 1-11 e o STRO-1 foi expresso nas linhagens 1-11 e 1-24. As células das linhagens 1-4 e 1-11 se diferenciaram em células osteoblásticas e adipócitos quando cultivadas em meio de diferenciação de linhagem específica. Quatro semanas depois das células da linhagem 1-11 serem transplantadas em ratos imunodeficientes com fosfato β-tricálcio (β-TCP), o transplante produziu tecidos semelhantes a cemento e osso ao redor do β-TCP. Oito semanas depois, as células 1-11 transplantadas formaram estruturas semelhantes ao ligamento periodontal nasuperfície do β-TCP. Estes resultados sugerem que as células da linhagem 1-11 eram derivadas das células progenitoras/ células mesenquimais do ligamento periodontal e pode ser bastante útil para estudar a biologia e regeneração do periodonto humano. Coura (2008) buscando verificar a possibilidade de o ligamento periodontal conter células mesenquimais cresto neurais, isolou e cultivou células do ligamento em dois grupos distintos (um com células do ligamento de 10 dentes de 7 indivíduos diferentes e outro grupo com células do ligamento de 4 dentes de um mesmo indivíduo). Após serem cultivadas em um meio indutivo específico e as analisadas através de imunohistoquímica, observou-se a presença de um marcador de células-tronco neurais e também marcadores para células cresto neurais indiferenciadas (HNK1, p75). Os resultados foram similares nos dois grupos, sugerindo evidências de que o ligamento periodontal humano em adição a derivados mesodermas, produzem células semelhantes às células cresto neurais. Lin et al. (2008) realizaram um estudo a fim de identificar e localizar células mesenquimais indiferenciadas em biópsias em bloco e em cultura de expansão celular dos tecidos periodontais humanos regenerados. Para tal, foi utilizada a técnica de regeneração tecidual guiada com membranas em defeitos de furca e superfície dentária dos terceiros molares de humanos voluntários. Após o período de cicatrização de 6 semanas, os dentes e os tecidos ao seu redor (tecidos regenerados e osso alveolar) foram removidos cirurgicamente para o preparo das amostras em bloco as quais foram processadas para análise imunohistoquímica, e para obtenção de células para cultura. Os marcadores de células-tronco mesenquimais STRO-1, CD146 e CD44 foram utilizados para identificar as células. Culturas celulares obtidas dos tecidos regenerados foram analisadas pela citometria fluida, e os resultados revelaram positividade para tais marcadores. Mineralização, concentração de cálcio e potencial adipogênico das células dos tecidos regenerados foram acessados e comparados com as células mesenquimais do ligamento periodontal, células-tronco da medula óssea e fibroblastos gengivais. Os resultados mostraram a capacidade desses tecidos formarem depósitos minerais e adipócitos. Entretanto, o nível de mineralização das células do tecido regenerado foi mais baixo que o de células mesenquimais do ligamento periodontal e de células-tronco da medula óssea. Considerando que as células do ligamento periodontal são muito importantes para o processo de regeneração dos tecidos periodontais devido a sua localização e suas propriedades de células indiferenciadas, e que a interleucina-11 (I-11) é uma citocina multifuncional que participa ativamente do metabolismo ósseo, Leon et al. (2006) realizaram um estudo para examinar o efeito da I-11 na diferenciação osteoblástica das células do ligamento periodontal de humanos. As células do ligamento periodontal cultivadas foram estimuladas com I-11 e/ou ácido ascórbico, com ou sem inibidores para o colágeno tipo 1. A diferenciação osteoblástica foi analisada pela atividade de fosfatase alcalina e expressão gênica do marcador RUNX2, ostocalcina e sialoproteína óssea utilizando a cadeia de reação da polimerase transcripção reversa. O colágeno tipo 1 e o tecido inibidor da produção da metaloproteinase-1 foram medidos usando imunoensaios ligados à enzimas. Os resultados mostraram que a I-11 aumentou a atividade da fosfatase alcanina e do marcador RUNX2, e que na presença de ácido ascórbico, aumentaram a osteocalcina e expressão gênica da sialoproteína óssea. A I-11 induziu a produção de células do ligamento periodontal pelo colágeno tipo 1 e o tecido inbidor da metaloproteinase-1. Os autores concluíram que a interleucina-11 e/ou o ácido ascórbico induzem a diferenciação osteoblástica das células do ligamento periodontal através da produção de colágeno tipo 1. Os resultados também sugerem que a I-11 pode funcionar como uma citocina osteopromotora, estimulando a diferenciação osteoblástica das células do ligamento periodontal principalmente através da síntese de colágeno tipo 1 e possivelmente pela indução do tecido inibidor da metaloproteinase-1. Isaka et al. (2001) realizaram um estudo a fim de determinar se as células do ligamento periodontal tinham um papel importante no reparo ósseo durante o processo de regeneração periodontal. Para tal, foi investigada, in vitro, a expressão de fenótipo osteoblástico, tal como atividade da fosfatase alcalina, paratireóide hormônio-dependente 3`e acúmulo de adenosina monofosfato cíclica 5´ utilizando células isoladas do ligamento periodontal e células isoladas da mandíbula de cães. As raízes de pré-molares extraídos de cães foram divididas em grupos: grupo PDL(+), no qual o ligamento periodontal foi preservado e grupo PDL(-), no qual o ligamento periodontal foi removido. Essas raízes foram respectivamente transplantadas em defeitos ósseos criados cirurgicamente e cobertas com uma membrana biológica. Seis semanas após o transplante, os resultados mostraram o fenótipo osteoblático em ambas as culturas de células ósseas e do ligamento. Um nova inserção de tecido conjuntivo foi observada somente no grupo PDL(+), entretanto o osso alveolar foi quase completamente regenerado em ambos os grupos PDL(+) e PDL(-) e a quantidade de novo osso formado não foi estatisticamente diferente entre os grupos. Os autores concluíram que as células do ligamento periodontal de cães demonstravam a capacidade de se diferenciarem em linhagem de células osteobláticas e contribuírem para a regeneração periodontal. Inanç, Elçin e Elçin (2007) investigaram o potencial de diferenciação de células-tronco embrionárias (hESCs) quando co-cultivadas com fibroblastos do ligamento periodontal (hPDLF). Após serem expandidas e caracterizadas morfologicamente e imunohistoquimicamente, hESC foram co-cultivadas com hPDLF por 28 dias. Dois grupos foram determinados: (i) grupo de indução osteogênica com ácido ascórbico, β-glicerofosfato e dexametazona contendo as hESC num meio de diferenciação; e (ii) grupo de diferenciação espontânea com as hESC também num meio de diferenciação. Mudanças morfológicas nas células foram analisadas em um microscópio invertido, e a himunohistoquímica foi realizada em espécimes fixados nos dias 1 e 28 usando anticorpos para fosfatase alcalina, osteonectina, osteopontina, sialoproteína óssea (BSP), e osteocalcina (OSC). A reação em cadeia da polimerase transcriptase reversa foi utilizada para a detecção da ligação octamérica da proteína 4, BSP, e o nível de expressão da OSC no mRNA. A mineralização foi observada usando Alizarin Red, e as mudanças na superfície nas colônias foram demonstradas com microscopia eletrônica de varredura. Os resultados indicaram a viabilidade da diferenciação osteogênica das hESCs em co-cultura com hPDLF, e sugeriram o papel dos fibroblastos do ligamento periodontal no modelo de diferenciação. Os autores concluíram que avanços neste campo podem permitir a aplicação das hESCs na da engenharia tecidual periodontal, envolvendo regeneração óssea em áreas de destruição decorrente da doença periodontal. Ohta et al. (2008) criaram cavidades dentinárias nas raízes mesiais dos primeiros molares de ratos, os quais formam sacrificados 1, 3, 5, 7 e 14 dias após a cirurgia. Em cada um destes tempos de sacrifício, as secções foram marcadas histoquimicamente para CD44s, CD34, c-KIT, OCNE, cbfa-1 e 5-bromo-deoxiuridina usando anticorpos primários. Para análise morfométrica, os níveis de Cbfa-1 e PCNA células positivas foram calculados de um número total de células positivas/ 104 µ2 nas cavidades. Os resultados obtidos mostraram que células positivas para 5-bromo-2-deoxiuridina foram observadas no ligamento periodontal e tinham migrado para áreas de cicatrização. Um pequeno número de célulaspositivas para CD44s-, CD34- e c-KIT- foram observadas na medula óssea, mas nada foi observado no ligamento periodontal. Células positivas para CD44s- foram observadas somente em cavidade do osso alveolar no 5 dia após a cirurgia. Células positivas para CD23- e c-KIT- foram observadas somente na cavidade dentinária no 7 dia após a cirurgia. Os valores de Cbfa-1 e PCNA tenderam a mostrar um aumento no 7 dia após a cirurgia. Os autores puderam concluir que células-tronco mesenquimais e células-tronco hematopoiéticas na medula óssea não estão envolvidas na regeneração do periodonto. Células que migraram do ligamento periodontal residual regeneraram novo osso alveolar num estágio mais cedo, e a regeneração ao redor da dentina nas cavidades foi mais tardia que nas outras partes. Seo et al. (2005) utilizaram o ligamento periodontal de humanos para testar a hipótese que o ligamento periodontal criopreservado conteria células-tronco pós-natais recuperáveis. Estas células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal preservadas pelo frio mantiveram as características normais das células mesenquimais do ligamento periodontal, incluindo a expressão do marcador de superfície celular STRO-1, a formação de colônias celulares, o potencial de diferenciação, a formação de cemento e tecido de regeneração semelhante ao ligamento periodontal, além de um cariótipo diplóide normal. Este estudo demonstrou que as células-tronco pós-natal podem ser recuperadas a partir de células do ligamento periodontal criopreservadas. Promovendo, desta forma, uma acessível prática clínica para a utilização de tecidos congelados para isolamento de células-tronco e regeneração tecidual. Silvério et al.(2008) realizaram um estudo de revisão da literatura focando na caracterização in vitro e in vivo das células mesenquimais derivadas de tecidos dentais, e seu potencial para promover regeneração dos tecidos periodontais. Os primeiros resultados enfatizaram a necessidade de investigações adicionais para determinar a eficácia da expansão ex-vivo de células mesenquimais no reparo das estruturas dentais e tecidos periodontais. Mesmo com as limitações de cada estudo, as células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal mostraram uma habilidade de formarem estruturas semelhantes ao cemento radicular e ligamento periodontal. Contudo, como estas células são heterogêneas devido a sua capacidade de se proliferarem e se diferenciarem em células formadoras do tecido periodontal, mais estudos são necessários para investigar a função destas células no processo de regeneração. Além disto, células percursoras do folículo dental humano de terceiros molares podem ser no futuro, geneticamente modificada in vitro então elas estarão hábeis para se diferenciarem em células do tecido periodontal antes de serem transplantadas in vivo. Apesar de novos estudos serem necessários para colocar em prática estas terapias alternativas, neste momento o melhor entendimento das células-tronco e seus possíveis papéis na regeneração tecidual podem ajudar a desenvolver novas abordagens para um tratamento mais previsível dos defeitos periodontais. Trubiani et al. (2008) utilizaram células mesenquimais indiferenciadas do ligamento periodontal de humanos que foram induzidas a osteogênese, semeadas em arcabouços tri- dimensionais biocompatíveis (esponja de fibrina, substitutos de derivados ósseos) e examinadas usando microscopia de luz e eletrônica de varredura e transmissão. Observações morfológicas mostraram crescimento extensivo da biomassa celular cobrindo parcialmente os arcabouços após 4 semanas de incubação no meio de mineralização. Estes resultados indicaram que o ligamento periodontal pode ser facilmente e eficientemente uma fonte autológa de células mesenquimais indiferenciadas com uma grande capacidade de expansão e habilidade de se diferenciarem em células osteogênicas que podem colonizar e crescerem conectadas ao arcabouço biocompatível. Células-tronco adultas multipotentes têm sido isoladas de vários tecidos não neurais. Techawattanawisal et al. (2007) relataram pela primeira vez o isolamento de células mesenquimais indiferenciadas derivadas do ligamento periodontal com características de células-tronco neurais primitivas. Células mesenquimais multipotentes do ligamento periodontal de ratos foram cultivadas utilizando sistema de cultura formadora de neurosferas. As células foram dissociadas enzimaticamente e cultivadas em meio básico livre de soro contendo EGFe β-FGF. Esferas livres expressando, GFAP e vimentina foram formadas em 7 dias de cultura. Em adição, as esferas expressaram RNAm de fatores de transcripção associados à crista neural: Twist, Slug, Sox2 e Sox9. As esferas derivadas do ligamento periodontal diferenciaram-se em miotubos multinucledos, células semelhantes a neurônios NFM-positivas, células semelhantes a astrócitos e a oligodentrócito Análise da formação de colônias de metilcelulose revelou que uma simples célula do ligamento periodontal poderia formar uma esfera numa freqüência e aproximadamente 0,01 % do total de células. Estes dados indicam que as esferas derivadas do ligamento periodontal contêm células-tronco adultas multipotentes capazes de se diferenciarem em ambas as linhagens neural e mesodermal, o que sugere que o ligamento periodontal pode ser uma nova fonte de células- tronco adultas multipotentes, e estas células possam ser usadas no tratamento de várias doenças tais como doenças neuronais degenerativas e distrofia muscular. Zhou et al. (2008) investigaram a diferença dos marcadores de superfície celular em diferentes células periodontais, tais como osteoblastos alveolares (AOs), fibroblastos do ligamento peridontal (PDLFs) e fibroblastos gengivais (GFs), e seus potencias de diferenciação em fenótipos osteogênicos e adipogênicos. Estas células periodontais foram isoladas e a expressão padrão do antígeno de superfície foi analisada pela citometria fluida e as caracterizações moleculares e hitológicas das induções osteogênicas e adipogênicas foram monitoradas pela reação de cadeia da transcriptase reversa, Western blot e imunocitohistologia. Os resultados mostraram que os fenótipos celulares dos AOs foram verificados pela alta expressão de CD29 e CD49a, enquanto PDLFs mostraram distintivamente baixos níveis de CD63 e CD73. Em indução adipogênica, limitados AOs formaram células semelhantes a adipócitos de formato cúbico, enquanto PDLFs formaram células semelhantes a adipócitos fusiformes. Todos os três tipos celulares expressaram genes osteorelacionados a linha de base. Os AOs demonstraram maior habilidade osteogênica, seguidos dos PDLFs e GFs. Através deste estudo, pôde-se concluir que células no osso alveolar e ligamento periodontal possuem progenitoras osteogênicas e adipogênicas, indicando a possibilidade de sua aplicação para regeneração dos tecidos periodontais. Choi (2000), em um estudo piloto, cultivaram células do ligamento periodontal de cães e investigaram se essas células eram capazes de formar uma nova inserção do ligamento periodontal quando utilizadas sobre a superfície de implantes de titânio. Os implantes com as células cultivadas do ligamento periodontal foram colocados nas mandíbulas dos cães. Após 3 meses de cicatrização, o exame histológico revelou que em algumas superfícies do implante, uma camada com tecido semelhante ao cemento com inserção de fibras colágenas tinha sido alcançada.Estes resultados demonstraram que células cultivadas do ligamento periodontal podem formar tecidos semelhantes a um verdadeiro ligamento periodontal ao redor do titânio, o qual têm sido o biomaterial mais utilizado atualmente em implantodontia através do processo de osseointegração. 2.4 Osseointegração O advento da osseointegração, fenômeno descrito por Brånemark no final dos anos 60, refletiu em avanços notáveis na reabilitaçãode pacientes com perdas dentárias. Ao descrever a possibilidade de integração entre um material metálico e o tecido ósseo, o pesquisador sueco lançou as bases de uma das áreas mais estudadas pela comunidade odontológica. (NETO, 2005). A reposição de elementos dentários por meio de uma raiz artificial que pode sustentar uma prótese gerou uma expectativa positiva de impacto funcional e psicossocial aos pacientes, uma vez que a reabilitação com implantes osseointegrados é capaz de melhorar a capacidade mastigatória e a satisfação estética dos pacientes (ADELL et al, 1981; LOCKER, 1998). Além das funções reabilitadoras, os implantes osseointegrados possuem a propriedade de manter a função, forma e volume ósseo nas regiões onde estiverem instalados, pois desempenham a função de estimular a produção de matriz óssea calcificada podendo muitas vezes aumentar a densidade óssea na região onde foi inserido o implante. Os implantes atuam na biologia óssea local como se fossem uma raiz dental, estimulando a remodelação óssea de forma equilibrada (DAVIES, 2003) Com a evolução da implantodontia, vários materiais têm sido testados com o objetivo de aprimorar os resultados, sejam eles no que tangem a aceleração do processo de osseointegração, estabilidade óssea, gengival e estética. Durante as últimas décadas, implantes metálicos têm sido os mais freqüentemente utilizados, sendo que o titânio, em sua forma comercial pura, se tornou o material de escolha para a fabricação de implantes em cirurgia oral e craniofacial (HURÉ et al., 1996). 2.4.1 Titânio (Ti) Dentre muitos materiais possíveis, o titânio (Ti) é atualmente considerado o material de escolha para a confecção dos implantes intraósseos, pois esse metal possui características físicas e químicas excepcionais que permitem a sua instalação nos tecidos vivos sem que haja incompatibilidade entre eles. Propriedades físicas como seu coeficiente elástico, de deformação e sua resistência à tração são diferentes do tecido ósseo, porém não influenciam no sucesso deste tipo de tratamento. Sua grande resistência à fratura possibilita resistir aos esforços necessários para uma boa função mastigatória. Quimicamente o titânio é um metal muito estável, embora haja uma pequena formação de óxidos em sua superfície, que facilita a deposição e adesão da matriz extracelular na interface osso-implante. Estes óxidos se formam durante o processo de corte, limpeza e esterilização do implante e ficam aderidos à superfície não sendo liberados para o meio. As propriedades supracitadas permitem a cicatrização e a manutenção da adesão das estruturas teciduais à superfície do titânio (HANSSON et al, 1983). O comportamento osseointegrador do titânio pode também ser otimizado através da compreensão das características da superfície sobre as respostas biológicas iniciais (adesão celular, proliferação, diferenciação, produção de matriz extracelular, maturação e calcificação óssea) (KASEMO, 2002). Diferentes superfícies têm diferentes propriedades de adsorção, e estas diferenças estão intimamente relacionadas com aspectos de biocompatibilidade e osseointegração (MEACHIM, WILLIAMS, 1993). Vários trabalhos têm sido realizados com as mais diferentes abordagens a fim de investigar detalhadamente todos os possíveis efeitos da superfície do titânio sobre o comportamento das células. Maeda et al. (2007) mostraram que a adesão e proliferação celular e a diferenciação osteogênica de células-tronco mesenquimais de camundongos em disco de titânio foram significativamente similares a aqueles na superfície plástica de cultura, elegendo o titânio como um excelente material para o uso no reparo de tecido duro no campo da engenharia de tecido ósseo. 2.4.2 Características superficiais e respostas celulares Dentre as etapas pré-clinicas do desenvolvimento de uma nova superfície, os ensaios com cultura de células proporcionam um ambiente semelhante ao fisiológico com as vantagens de poder controlar fatores bioquímicos, determinar a citotoxicidade do material e a expressão fenotípica do tipo celular investigado (DELIGIANNI et al., 2001). A interação das células e um biomaterial, ou biocompatibilidade, depende das propriedades de superfície do material, tais como a energia superficial (hidrofilicidade), textura, rugosidade e composição química. Estas propriedades determinam como as moléculas biológicas vão aderir à superfície e, mais particularmente, determinam a orientação das moléculas aderidas. Elas também determinam o comportamento celular no contato. A comparação do comportamento de diferentes tipos de células mostra que elas reagem diferentemente de acordo com a energia superficial (hidrofilicidade ou molhabilidade), rugosidade e composição química das superfícies (KASEMO, 2002; STIEHLER et al., 2007; BOYAN et al. 2002). O termo “adesão” no biomaterial engloba diferentes fenômenos: a fase de adsorção, a qual ocorre rapidamente e envolve pequenas ligações físico-químicas entre as células e o material, tais como ligações iônicas, força de Van der Walls, etc., e a fase de adesão, que ocorre lentamente envolvendo moléculas biológicas, tais como proteínas da matriz celular, proteínas de membrana celular e proteínas do citoesqueleto, as quais interagem juntas para induzir sinal de transdução, promovendo a ação dos fatores de transcripção e consequentemente regulando a expressão gênica. Esta fase é a mais importante, pois a qualidade desta adesão influenciará na morfologia e na capacidade para proliferação e diferenciação das células (ANSLME, 2000). Características hidrofóbicas e hidrofílicas de um material são de grande importância para a adesão celular. A adesão celular é geralmente melhor em superfícies hidrofílicas. Quando inserido no meio biológico, o material é condicionado pelos componentes do fluido biológico. O pH, composição iônica, energia de ligação, temperatura, grupo funcional de proteínas são fatores determinantes para adsorção protéica. A energia da superfície pode influenciar a adsorção protéica e o arranjo estrutural das proteínas no material. O papel principal das proteínas ósseas é atrair as células ósseas. Quando ocorrem mudanças conformacionais destas devido a superfícies hidrofóbicas e/ou baixa energia superficial, sua afinidade com o receptor da superfície celular das células ósseas é diminuída, atraindo fibroblastos e formando tecido fibroso em torno do material (ANSELME, 2000). A molhabilidade, avaliada pela medição do ângulo de contato de um líquido com a superfície do material, sofre influência da rugosidade superficial do titânio, o que interfere na resposta inicial do hospedeiro principalmente no que diz respeito à adsorção de proteínas plasmáticas, as quais desempenham um processo importante na sinalização para a migração de células indiferenciadas para a superfície do material (RUPP et al. 2004). Atribui-se à rugosidade de superfície um papel importante no desempenho clínico do biomaterial na osseointegração tornando, portanto, a caracterização de superfície do biomaterial um aspecto necessário para a interpretação adequada do efeito da rugosidade para a aposição óssea. A rugosidade da superfície do implante foi descrita como um dos fatores que favorecem a interação do material com os componentes plasmáticos e celulares responsáveis pela sinalização e iniciação da deposição de matriz extracelular por células ósseas e influenciam diretamente a cicatrização no sítio de colocação e posteriormente a osseointegração (ALBREKTSON et al. 1981), propiciando a aplicação precoce de carga mecânica sobre esses implantes, além de assegurar estabilidade a longo prazo, que é o objetivo primordial de qualquer material para uso protético. Alguns estudos encontrados na literatura têm comparado o efeito de várias superfícies em estudos in vitro. Embora não se saiba qual a rugosidade ideal para um materialpara implantação no tecido ósseo, há larga concordância de que a topografia é um poderoso modulador do comportamento celular e, portanto, um fator de influência direta na performance clínica do material. Buser et al. (1991) e Frazolin et al. (2008), em estudos experimentais comparando diferentes tipos de superfície, concluíram que os melhores resultados foram os das superfícies texturizadas. Deligiannni et al. (2001), Anselme et al.(2002) e Keller (1998) observaram que células da medula óssea e osteoblastos cultivados em diferentes superfícies de titânio, se aderem e respondem melhor em superfícies com maior rugosidade. Os estudos de Perizzolo, Lacifield e Brunette (2001), Sul et al. (2002) e Sena et al. (2003) também indicaram que a proliferação de células osteobálsticas pode ser melhor em superfícies rugosas. Entretanto, Lange et al. (2002), em seus experimentos com células osteoblásticas MG- 63, Huang et al. (2004) , com as U-2 OS, e Cochran et al. (1994) e Gay et al. (2007) com células do ligamento periodontal, mostraram que a adesão e proliferação celular foi melhor em superfícies de titânio lisas quando comparadas com as rugosas. Anselme (2000), Faghihi et al. (2006), Guehennec et al. (2007) analisaram a adesão, proliferação e diferenciação de células osteoblásticas da calvária de ratos (MC3T3-E1) e células osteoblásticas humanas em superfícies de titânio Ti6A14V com variadas rugosidades, e observaram que textura superficial do biomaterial influenciava na resposta celular e que a rugosidade influencia na adesão e proliferação das células à superfície do titânio. As alterações superficiais resultam em variações não apenas nos aspectos físicos do material, mas também em sua composição química. Superfícies obtidas por diferentes tipos de tratamento podem apresentar características topográficas semelhantes embora com desempenho biológico distintos, sugerindo que há grande probabilidade de não apenas a alteração topográfica como também a modificação na estrutura química da superfície, possam ter efeito na resposta celular. Santiago et al. (2005) em seu experimento com células osteoblásticas de camundongo, analisaram amostras de titânio comercialmente puro (Ti) com diferentes propriedades de superfície por meio de ataques químico e físicos, e os resultados sugeriram que os tratamentos utilizados foram favoráveis às respostas biológicas. Wang et al (2008) mostraram que os métodos de tratamentos químicos de superfície do titânio utilizados em seu estudo influenciavam positivamente na adesão, proliferação e diferenciação das células-tronco mesenquimais da medula de coelhos. A diferenciação dos efeitos químicos e topográficos da superfície não está clara. Entretanto é unânime entre os pesquisadores que as propriedades físico-químicas das superfícies dos implantes exercem um papel fundamental no sucesso do fenômeno biológico da osseointegração. As interações moleculares e celulares que norteiam o destino biológico dos implantes ocorrem nos estágios iniciais da cicatrização (AMARANTE, 2001). Na busca por superfícies que melhorem as respostas biológicas e supram à necessidade de obter uma rápida osseointegração, várias pesquisas têm sido desenvolvidas, modificando estas superfícies pelos processos mais variados (SILVA, 2005) que envolvem métodos mecânicos, químicos, e físicos de tratamento de superfície, tais como: a aspersão com plasma de titânio, jateamento com óxido de titânio, deposição a laser de carbeto de titânio, condicionamento ácido, e outros (XUANYONG, PAUL, CHUANXIAN, 2004). 2.4.3 Tratamento de superfície Dentre os métodos de tratamento da superfície pode-se citar a nitretação iônica ou nitretação a plasma, que apresenta excelentes propriedades mecânicas, estabilidade química e biocompatibilidade quando aplicada ao titânio (PARK et al., 2003). 2.4.3.1 Nitretação iônica A nitretação iônica (ion-nitriding) é um processo de tratamento termoquímico, usado para endurecimento superficial de metais ferrosos e um crescente número de materiais não ferrosos como ligas de titânio e alumínio (MICHEL et al.,1995), pela obtenção de uma camada de nitretos, que eleva a resistência ao desgaste das superfícies tratadas (NICOLETO, TUCCI, ESPOSITO, 1996). Além dos fatores ambientais, várias são as vantagens desta técnica sobre as convencionais. As mais importantes são: baixa temperatura de tratamento, melhor controle da espessura da camada, tempo de tratamento inferior, uniformidade na espessura da camada, nitretação de partes da peça, mais economia (ALVES Jr, 1995). Este processo, também conhecido como nitretação por plasma, consiste em ionizar um gás ou mistura gasosa, contendo nitrogênio, através de uma descarga luminescente, gerada por uma diferença de potencial entre a amostra (catodo) e o anodo, em uma atmosfera a baixa pressão. Os íons produzidos no plasma são acelerados em direção a amostra (catodo), chocando-se com ela e fornecendo energia suficiente para aquecê-la até a temperatura de nitretação (O’BRIEN J.M.; GOODMAN D, 1991). Figura 1. Esquema básico de um equipamento para nitretação iônica (ALVES Jr, 1995). O conceito básico no uso da nitretação iônica para melhorar as propriedades superficiais de uma liga de titânio é fundamentado na possibilidade de formar nitretos ou carbetos abaixo da superfície da liga. Os nitretos e carbetos de titânio são materiais duros que melhoram as propriedades tribológicas da superfície, ou seja: aumentam a resistência ao desgaste e a dureza superficial (YILBAS, 1996). Pereira (2008) com o objetivo de melhorar as propriedades tribológicas da superfície do titânio usado em implantes dentais, particularmente sua resistência ao desgaste, investigaram o efeito da nitretaçäo em plasma sobre as referidas propriedades de amostras de titânio. A análise dos dados obtidos indicou que a nitretaçäo em plasma aumenta a resistência superficial do titânio. Com modelo de linhagem celular (L929 fibroblastos de ratos), Abidzina et al. (2007) observaram que a adesão celular à superfície do titânio é favorecida pelo tratamento de superfície com irradiação iônica de baixa energia (plasma). Neto (2005) utilizou amostras de titânio nitretadas a plasma a fim de analisar suas propriedades de superfícies e puderam concluir que as superfícies nitretadas apresentaram melhores resultados no que se refere a molhabilidade e rugosidade que as amostras sem tratamento, e que tanto a adesão como a proliferação de células (linhagem Osteo-1) nas placas nitretadas foram superiores às placas sem tratamento. 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral: • O presente estudo tem como objetivo avaliar, através de experimentos in vitro utilizando cultura celular, a capacidade de adesão das células mesenquimais provenientes da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos quando postas em contato com diferentes superfícies de Titânio (polida e tratada por plasma). 3.2 Objetivos específicos: • Analisar a capacidade de adesão das células mesenquimais da medula óssea de camundongos sobre as superfícies de titânio polidas e tratadas por nitretação iônica (plasma). • Analisar a capacidade de adesão das células mesenquimais do ligamento periodontal de ratos sobre as superfícies de titânio polidas e tratadas por nitretação iônica (plasma). 4 METODOLOGIA O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (pareceres nº 022/07 e 102/08) e foi dividido em duas etapas. Na primeira foi realizado o preparo das amostras através do tratamento de superfície das placas de titânio no Labplasma (Departamento de Física da UFRN). Na segunda foi realizado um ensaio in vitro com células isoladas da medula óssea de camundongos e do ligamento periodontal de ratos e cultivadas sobre as placas de titânio tratadas e a superfície controle (plástico).Esta etapa foi realizada no laboratório de cultura de células do Departamento de Bioquímica do Centro de Biociências da UFRN. 4.1 Preparo das amostras De acordo com a literatura, o número de amostras utilizadas não têm sido elucidado em nenhum dos estudos analisados, presumindo-se que o número das amostras de titânio não influencia nos resultados de adesão celular. Assim sendo, o número de amostras deste experimento foi determinado aleatoriamente. As amostras de titânio foram preparadas segundo o protocolo estabelecido no Labplasma (Departamento de Física da UFRN). Doze discos de titânio grau II ASTM F86 nas dimensões de 15mm de diâmetro por 1,5mm de espessura, foram embutidas em resina poliéster e lixados gradualmente com lixas de SiC, de abrasividade 220, 360, 400, 600, 1200 e 2000 água corrente e depois polidas (politriz AROTEC, modelo APL-2 e série 212560, BRASIL) com pano de polimento OP-CHEM, sílica coloidal e água oxigenada (H2O2) 20Vol. até um acabamento final de 0,04μm. Em seguida, as amostras foram desembutidas e limpas em banho de ultrasom com acetona por 10 minutos com objetivo de remover contaminantes que pudessem interferir no processo de nitretação iônica. As amostras foram secadas em temperatura ambiente e colocadas no sistema de nitretação a plasma. 4.1.1 Protocolo de Nitretação Após o polimento e limpeza, seis amostras foram colocadas em uma câmara de aço inoxidável (reator), com 400 mm de diâmetro e 400 mm de comprimento, hermeticamente fechada para receber o tratamento de superfície. Foi utilizada a configuração no reator de plasma para nitretação em gaiola catódica. Internamente, a câmara possuia um eletrodo em forma de disco, sobre o qual foi colocada a amostra. Inicialmente foi feito um vácuo no reator até uma pressão de 10-1 mbar e então foi introduzido hidrogênio com um fluxo de 12sccm, como gás de arraste de impurezas, até uma pressão de 1,6 mbar por 20 minutos. Após esta etapa, o N2 a 3sccm foi introduzido até conseguir uma atmosfera de trabalho estável em torno de 680V, 0,5 miliampére (mA), temperatura de 450ºC e pressão de nitretação de 2,5mbar. Nestas condições as amostras foram nitretadas por 60minutos. As atmosferas do plasma foram configuradas obedecendo um fluxo de gases de 15sccm (tabela 1). Tabela 1. Parâmetros de tratamento com plasma de nitrogênio. Grupo experimental Atmosfera do plasma Tempo de tratamento Pressão do plasma Temperatura do plasma Fluxo do gás total Polidas - - - - - Gaiola catódica N20%H80% 1h 2,5mbar 450°C/17.5mA 15sccm Figura 2. Equipamento para nitretação iônica Figura 3. Esquema do equipamento para nitretação iônica em gaiola catódica (SOUSA, et al.2008). 4.2 Caracterização das amostras Depois de terminado o tratamento de superfície, as amostras foram seqüencialmente submetidas a ensaio de caracterização superficial como segue: 4.2.1Composição de camada A composição da camada superficial foi avaliada pela difração de raios-X. 4.2.2 Textura superficial Uma amostra de cada grupo foi submetida à microscopia eletrônica de varredura (MEV) para análise das características de textura superficial em ampliações de 25, 100 e 200 vezes. 4.2.3 Rugosidade Para análise da rugosidade foi mensurado o parâmetro Ra, utilizando um rugosímetro modelo SURTRONIC 3, (Taylor-Hobson Inc, USA) com cut-off igual a 0.25. As medidas foram tomadas em três direções diferentes, em ângulos de aproximadamente 1200 com dispersão nestas três direções inferior a 10%. 4.2.4 Molhabilidade Após o tratamento a plasma, cinco amostras de cada grupo experimental foram submetidas ao ensaio de molhabilidade. A técnica utilizada foi a determinação do ângulo de contato estático ou técnica da gota séssil para cada uma das amostras e mensurada por dois observadores. As amostras foram colocadas em uma superfície plana e utilizando uma micropipeta digital de volume ajustável funcionando com uma solução fisiológica, posicionada de forma perpendicular e muito próxima à superfície depositando 0,25mL da solução sobre a superfície da amostra. De forma a padronizar o teste e por serem gotas muito pequenas, foram feitos acompanhamento da mudança do ângulo por 01 seg., 30 seg. e 60 seg. 4.3 Esterelização das amostras Em seguida, todas as amostras (nitretadas em gaiola catódica e polidas) foram acondicionadas em placas de cultura de 24 poços de 2cm2 de área e esterilizadas por radiação gama no DEN (Departamento de Energia Nuclear da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco). A dose total de radiação por amostra foi de 25 kGy, liberada a uma dose média de 8,993 kGy/h (2h 46minutos a uma distância de 50mm), em irradiador GAMMACELL 220 Excel (MDS Nordion, Ca). 4.4 Cultura de células 4.4.1 Obtenção das células da medula óssea de camundongos Foi realizada a extração da medula óssea de dois camundongos albinos machos Swiss, com 2 meses de idade, com peso em média de 28,5 g, procedentes do Laboratório de Cronobiologia do Departamento de Morfologia da UFRN, seguindo-se o protocolo de Maniatopoulos, Sodek e Melcher (1988). Os animais, depois de anestesiados, foram dissecados sob condições assépticas para remoção dos fêmures e tíbias. Os ossos recém-dissecados foram mantidos em um tubo cônico contendo PBS (pH 7.4), até que foi feita a remoção de toda porção de tecido muscular aderido aos ossos. Com auxílio de uma tesoura de ponta reta foram feitos cortes nas epífises dos ossos (figura 4) e, utilizando uma seringa de 1mL, a medula foi extraída através da inserção da agulha no canal medular e posterior lavagem do canal utilizando meio de cultura básico α-MEM enriquecido com 50 mg/L de Sulfato de Gentamicina e 2 mg/L de Anfotericina B (Cultilab, Brasil) e suplementado com 10% de soro fetal bovino (FBS, Gibco) (figura5). Figura 4. Corte das epífises ósseas. Figura 5. Extração da medula. 4.4.2 Cultivo das células da medula óssea A medula extraída foi cultivada em meio básico (α-MEM contendo antibióticos e suplementado com 10% de FBS), por 72 horas, em atmosfera úmida com 5% de CO2 a 37ºC. Após esta etapa, o meio foi trocado - o que possibilitou a remoção das células não-aderidas da cultura - e incubado novamente por três dias em meio básico. Depois dessas etapas as células foram tripsinizadas em 0,25% de Tripsina contendo 1mM de EDTA (Gibco) e uma alíquota de 0,1 mL foi retirada para se fazer a contagem das células na Câmara de Neubauer, utilizando o método da exclusão de células coradas pelo Azul de Trypan. 4.4.3 Obtenção das células do ligamento periodontal de ratos Para obtenção do ligamento periodontal dois ratos albinos, machos, saudáveis, da linhagem Wistar com quatro meses de idade, pesando em média 250 gramas (figura 6), obtidos do biotério do Departamento de Farmacologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foram sacrificados com dose letal do anestésico (Ketamina) administrado por via intramuscular. Seguindo-se o protocolo de Akizuki et al.(2005), em uma câmara de fluxo laminar e sob condições assépticas os animais foram dissecados para remoção dos elementos dentários (incisivos), os quais foram imediatamente mantidos em um meio básico α-MEM contendo 50 mg/L de Sulfato de Gentamicina e 2 mg/L de Anfotericina B (Cultilab, Brasil) (figura 7). Figura 6. Rato Wistar. Figura 7. Incisivos no meio básico α-MEM. O ligamento periodontal foi removido através da raspagem delicada da superfície radicular com o uso de uma lâmina de bisturi (figuras 8 e 9) e encubado em uma solução de tripsina/EDTA (0,25% de Tripsina contendo 1 mM de EDTA – Cultilab/Brasil) por 10 minutos. Em seguida,