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Monografia-UFRN---MATEUS-WESLEY-TEIXEIRA-DE-LIMA-E-SOUSA---

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATEUS WESLEY TEIXEIRA DE LIMA E SOUSA 
 
 
 
 
 
O DUALISMO ENTRE O CRÉDITO TRIBUTÁRIO E A RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL: A REFORMA DA LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA E 
A TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA COMO ALICERCES À SUA SUPERAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
MATEUS WESLEY TEIXEIRA DE LIMA E SOUSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DUALISMO ENTRE O CRÉDITO TRIBUTÁRIO E A RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL: A REFORMA DA LRJF E A TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA COMO 
ALICERCES À SUA SUPERAÇÃO 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade de 
monografia apresentada como requisito parcial para a 
Conclusão do Curso de Direito pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. 
Orientador: Prof. Me. Cleanto Fortunato da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Sistema de Bibliotecas – SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sousa, Mateus Wesley Teixeira de Lima e. 
 O dualismo entre o crédito tributário e a Recuperação 
Judicial: a reforma da Lei de Recuperação Judicial e 
Falência e a transação tributária como alicerces à sua 
superação / Mateus Wesley Teixeira de Lima e Sousa. - 2021. 
 108f.: il. 
 
 Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas, Departamento Direito. Natal, RN, 2021. 
 Orientador: Prof. Me. Cleanto Fortunato da Silva. 
 
 
 1. Recuperação Judicial - Monografia. 2. Crédito 
Tributário - Monografia. 3. Dualismo - Monografia. 4. 
Transação Tributária - Monografia. 5. Reforma da Lei 
11.101/05 - Monografia. I. Silva, Cleanto Fortunato da. II. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 34:336.2 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO 
 
Aos vinte (20) dias do mês de janeiro de dois mil e vinte dois, às 17h:00, em Plataforma 
Virtual Google Meet, realizou-se a sessão pública para a defesa oral do Trabalho final de 
Curso de Graduação em Direito (Monografia) intitulado: “O Dualismo entre o Crédito 
Tributário e a Recuperação Judicial: A reforma da LRJF e a transação tributária como 
alicerces à sua superação”, apresentado pelo formando do Curso de Direito Mateus Wesley 
Teixeira de Lima e Sousa, matrícula nº 20170078498. A Comissão Examinadora foi composta 
pelos professores Cleanto Fortunato da Silva, matrícula Siape n° 1149387, Anderson Souza 
da Silva Lanzillo, matrícula Siape nº 3456619, lotados no Departamento de Direito Privado, 
Carlos Wendel Peixoto de Alcântara, CPF 086.584.884-03, na condição de membro externo. 
A Comissão teve a presidência do primeiro, e após a defesa oral e o cumprimento dos 
procedimentos regulares, considerou a monografia APROVADA, atribuindo-lhe a nota 10 
(dez). 
 
(X) Este TCC é um trabalho de excelência e a Comissão Examinadora o considera 
INDICADO a concorrer ao prêmio de melhor TCC do Curso de Graduação em Direito do 
CCSA/UFRN neste semestre. 
 
 Comissão Examinadora 
 
 
 Cleanto Fortunato da Silva 
 Presidente 
 
Anderson Souza da Silva Lanzillo 
1º Membro 
 
 Carlos Wendel Peixoto de Alcântara 
 2º Membro 
 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO 
NORTE SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, 
ADMINISTRAÇÃO E CONTRATOS 
 
 
FOLHA DE ASSINATURAS 
 
 
 
Emitido em 25/01/2022 
 
ATA Nº 6/2022 - CCDIR/CCSA (16.06) 
 
(Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO) 
 
 
 
 
 
 (Assinado digitalmente em 25/01/2022 18:07 ) 
 ANDERSON SOUZA DA SILVA LANZILLO 
PROFESSOR DO MAGISTERIO 
SUPERIOR DPR/CCSA (16.16) 
Matrícula: 3456619 
 
 (Assinado digitalmente em 25/01/2022 18:29 ) 
CLEANTO FORTUNATO DA SILVA 
PROFESSOR DO MAGISTERIO 
SUPERIOR DPR/CCSA (16.16) 
Matrícula: 1149387 
 
 
 
 
 
 
Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ufrn.br/documentos/ informando seu 
número: 6, ano: 2022, tipo: ATA, data de emissão: 25/01/2022 e o código de verificação: ee10efd35c 
https://sipac.ufrn.br/public/jsp/autenticidade/form.jsf
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quando paro para pensar em tudo que trilhei na graduação até aqui, encho-me de 
orgulho pelos vínculos que estabeleci, pelos conhecimentos que adquiri e pelos novos anseios 
que passei a buscar. 
Iniciei a minha trajetória na universidade envolto por diversos sonhos que foram se 
moldando conforme as vivências e experiências a que me deparava. E, de acordo com que eu 
ia me desenvolvendo no mundo acadêmico, passei a perceber o quanto tudo passou tão rápido 
e, ao mesmo tempo, o quão grato eu sou pelas pessoas que me permitiram chegar ao final de 
mais uma etapa da minha vida. 
Inicialmente, gostaria de agradecer a minha família por tantos ensinamentos e por me 
apoiar apesar das angústias e dos receios de que, por algum acaso, não fosse dar certo. Sou 
eternamente grato aos meus pais, Antanael e Suzana, por me mostrarem o que é um amor 
incondicional, que eu sou capaz de tudo e que o melhor fruto que eles poderiam me deixar nesta 
vida terrena é a educação. Às minhas irmãs, Dani e Gabi, que serviram sempre de inspiração 
para mim e me trouxeram o sentido do que é o compartilhar e do que representa um amor que 
perdura independentemente das diferenças. Muito obrigado por estarem do meu lado em todos 
os momentos e de me ensinarem que a educação é sempre o caminho mais fácil. 
Também sou grato à minha namorada Júlia Cano e à minha Sogra Vanessa Pache que, 
apesar de terem chegado tão repentinamente na minha vida, representam um braço amoroso e 
acolhedor neste momento de desafios, sendo ambas grandes fontes de inspiração nesta jornada. 
Não poderia ainda deixar de agradecer ao meu melhor amigo Thiago José que esteve 
sempre ao meu lado em todos os momentos, além de tantos outros que marcaram a minha 
infância no Chacon Residence, minha trajetória no CEI Mirassol e aos que conheci na 
universidade e que, com toda certeza, levarei para o resto da vida, grupo que carinhosamente 
denominamos “GC”. 
Agradeço à SOI e, especialmente, ao Capitólio por abrirem os meus olhos na 
universidade e me auxiliarem no sentido em que resolvi prosseguir a minha trilha profissional. 
Gostaria também de agradecer ao Professor e Magistrado Cleanto Fortunato que tenho 
a honra de ter como meu orientador, por ceder grandes ensinamentos e que, a partir da base de 
pesquisa GrupEmp, teve grande participação no desenvolvimento do meu carinho pela área do 
Direito Empresarial. 
 
 
Sou muito grato também a todas as experiências profissionais a que tive acesso durante 
esses últimos 05 (cinco) anos. À 17ª Vara Cível do TJRN, nas pessoas de Dra. Divone, Luciana 
e de Teolinda, por me proporcionarem a oportunidade de estagiar, ainda no início do curso, e 
de ter um primeiro acesso ao direito, na prática. À Dra. Dalila e Marcos, que compõem a equipe 
da 10ª Promotoria Criminal do Ministério Público do Rio Grande do Norte, por terem me 
providenciado tantas experiências e, quase, dois anos de muito aprendizado e reciprocidade. 
Não poderia deixar de agradecer, principalmente, ao Escritório André Elali Advogados 
e à equipe de Dr. Evandro Zaranza, por terem me acolhido ainda nesse momento de pandemia 
e me mostrado o que representa uma advocacia competente e de qualidade, além de terem sido 
peça-chave para o desenvolvimento de minha paixão pelo Direito Tributário e Civil. Meus 
agradecimentos à Genário Torres e Manoel Ciprianoe demais estagiários do escritório, por 
tantos momentos de descontração, por me ensinarem que ser advogado é muito mais do que o 
simples protocolo de uma peça, mas também representa o companheirismo, o trabalho em 
equipe, a parceria e a resiliência de saber se reinventar apesar dos erros e das circunstâncias que 
se fizerem dispostas. 
E, por fim, de maneira imensurável, agradeço ao meu querido Deus que nunca me 
deixou só e que esteve ao meu lado a cada passo da minha vida. Àquele que me proporciona 
um amor tão grande que não há como descrever ou explicar, e que não desiste de mim, 
sustentando-me pela Tua destra e me fazendo prevalecer. 
A todos vocês, minha eterna gratidão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O tamanho dos seus sonhos deve sempre exceder a sua capacidade de 
alcançá-los, se os seus sonhos não te assustam, eles não são grandes 
o suficiente. 
(Elen Johnson-Sirleaf, 2006) 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como escopo tratar sobre o desenvolvimento e os efeitos negativos da 
fixação de um dualismo (ou distanciamento) entre os interesses das empresas em recuperação 
judicial e do credor fiscal diante da cobrança de um crédito tributário cada vez mais desprezado. 
Assim, partindo da construção do sentido e dos princípios afeitos aos institutos colocados em 
dicotomia, este artigo evidencia a influência que o nosso ordenamento jurídico, eivado pela 
instabilidade jurisprudencial, teve sobre a determinação de um ambiente de incertezas conivente 
com o incentivo à postergação de uma dívida tributária. Nessa vereda, a problemática reside no 
cenário de um passivo tributário em constante acumulação e de um estoque contencioso 
dominado, até então, por processos e soluções ineficazes, que para além de tornar benéfica à 
supressão do interesse fiscal em detrimento dos credores privados, direciona o estado de crise 
das recuperandas a um quadro de, quase que total, irrecuperabilidade. Diante dessa percepção, 
a regulamentação da Transação Tributária e a Reforma trazida pela Lei 14.112/20 ao cerne 
recuperacional, evidenciam a chegada de novos mecanismos capazes de servir de alicerce à 
superação de um dualismo supressivo que contamina os interesses e objetivos das recuperandas 
e do Fisco, trazendo esperanças a um quadro insustentável tomado pela desconfiança. Com isso, 
a conclusão que se faz necessária, é o reconhecimento de que esse dualismo ainda não foi 
integralmente superado, mas que os caminhos necessários para a harmonização entre as 
recuperandas e o crédito tributário já estão dispostos em nosso ordenamento e que, quando 
utilizados da maneira correta, contribuem para a redução do passivo tributário cumulado, à 
ampliação dos espaços negociais e à construção de uma recuperação judicial pautada não só na 
preservação empresarial, mas também na tutela do interesse fiscal. 
 
Palavras-chave: recuperação judicial; crédito tributário; dualismo; transação tributária; reforma 
da lei 11.101/05. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This article aims to discuss the development of negative effects of establishing a dualism (or 
distance) between the interests of companies in judicial restructuring and the tax creditor facing 
the collection of an increasingly neglected tax credit. Thus, starting from the construction of the 
meaning and principles attached to the institutes placed in dichotomy, this article certify the 
influence that our legal system, permeated by jurisprudencial instability, had on the 
determination of an area of uncertainties colluding with the incentive to postpone a tax debts. 
In this path, the problem lies in the scenario of a constantly accumulating tax liability and a 
contentious stock dominated, until then, by ineffective processes and solutions, which, in 
addition to favoring the suppression of the fiscal interest to the detriment of private creditors, 
directs the state of crisis of the companies under reorganization to a framework of, almost total, 
irrecoverability. In light of this perception, the regulation of Tax Transactions and the Reform 
brought by Law 14.112/20 to the restructuring institute, show the entry of new mechanisms 
capable of supporting the overcoming of a suppressive dualism that contaminates the interests 
and objectives of companies under reorganization and the Tax Authorities, bringing hope to an 
unsustainable environment dominated by distrust. With that, the conclusion that is necessary is 
the recognition that this dualism has not yet been fully overcome, but that the necessary paths 
for the harmonization between the companies under restructuring and the tax credit are already 
provided in our legal system and that, when used in the correctly way, they contribute to the 
reduction of the accumulated tax liability, the expansion of negotiation spaces and the 
construction of a judicial reorganization based not only on business preservation, but also on 
the protection of the fiscal interest. 
 
Key-Words: judicial restructuring; tax credit; dualism; tax transactions; reform of law n. 
11.101/05. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Recolhimento Tributário (caso 01) ........................................................................ 67 
Gráfico 2 - Recolhimento Tributário (caso 02) ........................................................................ 68 
Gráfico 3 - Recolhimento Tributário (caso 04) ........................................................................ 68 
Gráfico 4 - Tempo médio de litígio tributário .......................................................................... 70 
Gráfico 5 - Impacto da Execução Fiscal ................................................................................... 72 
Gráfico 6 - Evolução do Estoque Contencioso ......................................................................... 74 
Gráfico 7 - Estoque do Contencioso (PIB) ............................................................................... 74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/Mateus/Desktop/Trabalhos%20importantes/TCC%20-%20MATEUS/Monografia%20UFRN%20-%20MATEUS%20WESLEY%20TEIXEIRA%20DE%20LIMA%20E%20SOUSA%20Revisado%20e%20Atualizado.docx%23_Toc93661273
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1- Fatores Internos ou causas endógenas ...................................................................... 63 
Tabela 2 - Fatores Externos ou causas exógenas ...................................................................... 64 
Tabela 3 - Contencioso Tributário, por nível federativo e esfera processual ........................... 73 
Tabela 4 - Número de Transações entre 2019/20 ..................................................................... 83 
Tabela 5 - Número de transações individuais até 2021 ............................................................ 84 
Tabela 6 - Número de empresas em recuperação judicial/falência (transação)........................ 84 
 
 
 
 
file:///C:/Users/Mateus/Desktop/Trabalhos%20importantes/TCC%20-%20MATEUS/Monografia%20UFRN%20-%20MATEUS%20WESLEY%20TEIXEIRA%20DE%20LIMA%20E%20SOUSA%20Revisado%20e%20Atualizado.docx%23_Toc91167920
file:///C:/Users/Mateus/Desktop/Trabalhos%20importantes/TCC%20-%20MATEUS/Monografia%20UFRN%20-%20MATEUS%20WESLEY%20TEIXEIRA%20DE%20LIMA%20E%20SOUSA%20Revisado%20e%20Atualizado.docx%23_Toc91167921
11 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 13 
2 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E O CRÉDITO TRIBUTÁRIO ............................... 15 
2.1. Da Recuperação Judicial ......................................................................................... 15 
2.1.1. O desenvolvimento histórico do atual sentido do DireitoRecuperacional ................ 15 
2.1.2. A construção da Lei nº 11.101/05 e a Recuperação à luz do princípio da preservação 
da empresa ............................................................................................................................... 18 
2.2. O Crédito Tributário e o cumprimento de sua função social a fim de resguardar a 
sua efetividade ......................................................................................................................... 26 
2.3. A posição do crédito tributário em sede de Recuperação Judicial antes da reforma 
da Lei nº 11.101/05 (Lei da Recuperação Judicial e Falência) ........................................... 31 
3 DA INSTABILIDADE JURISPRUDENCIAL ACERCA DA (IN) EXIGIBILIDADE 
DE CERTIDÃO DE REGULARIDADE FISCAL NO ÂMBITO DA RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL ....................................................................................................................................... 35 
3.1. A evolução de um dualismo perante o entendimento nos Tribunais Superiores ..... 37 
3.2. A análise da exigência da certidão de regularidade fiscal: o art. 57 da Lei nº 
11.101/05 e a função social do tributo versus a preservação da empresa? ........................ 49 
4 O DUALISMO ENTRE O CRÉDITO TRIBUTÁRIO E A RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL ........................................................................................................................................ 57 
4.1. Da incidência de um dualismo e a sua aplicação frente à relação em apreço ......... 57 
4.2. Da situação das empresas em recuperação em um cenário de distanciamento do 
crédito tributário .................................................................................................................... 61 
4.3. O acúmulo de Execuções Fiscais como gargalo do Poder Judiciário......................... 70 
5 NOVOS PARADIGMAS À REAPROXIMAÇÃO DOS INSTITUTOS..................... 76 
5.1. A transação tributária como objeto de alicerce .......................................................... 77 
5.1.1. Da recente regulamentação da Lei da Transação Tributária e suas nuances ............. 78 
5.1.2. A viabilidade da transação como meio adequado à resolução dos conflitos entre a 
Fazenda e as recuperandas e sua ampliação com a reforma da LRJF ..................................... 83 
5.2. A reforma da LRJF e suas principais alterações na realidade do crédito 
tributário frente às empresas em recuperação judicial ...................................................... 89 
5.3. Da nova conjuntura formada pela reforma e pela regulamentação da transação 
tributária: houve uma efetiva superação do dualismo? ...................................................... 94 
12 
 
 
 
6 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 99 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 103 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Em reconhecimento à função social e ao princípio da preservação da empresa, a 
Recuperação Judicial tem como finalidade viabilizar a superação da situação de crise 
econômico-financeira dos empresários individuais e das sociedades empresárias, em estímulo 
à manutenção da atividade econômica. Para tanto, em seu interior, cria-se um ambiente 
adequado para que exista uma negociação equilibrada e transparente entre o devedor e seus 
credores, em vista a garantir a adequação dos interesses envolvidos no processo. 
Ocorre que, muito embora a Lei nº 11.101/05 (Lei de Recuperação Judicial e Falência 
— LRJF), desde a sua essência, assentasse expressamente que o soerguimento das empresas 
em recuperação, além de prezar pelos credores privados, também deveria abarcar a equalização 
de seu passivo fiscal, a realidade prática ainda se limitava a um modelo de incentivo à 
postergação do interesse do Fisco, contribuindo para o acúmulo de irrecuperáveis dívidas 
tributárias no dorso de empresas inseridas em processo de Recuperação Judicial.1 
Somado a isso, a instabilidade jurisprudencial acerca da (in)exigibilidade da certidão de 
regularidade fiscal e da disposição dos atos constritivos perante as Execuções Fiscais vinculadas 
ao sujeito inserido na Recuperação Judicial, também contribuiu efetivamente para o surgimento 
de um dualismo entre o crédito tributário e o devedor em recuperação judicial. Assim, restou 
evidenciado o embate entre o princípio da efetividade da cobrança fiscal e da preservação das 
empresas. 
Entretanto, com a recente regulamentação da transação tributária e dos avanços 
perpetrados com a reforma da Lei de Falências e Recuperação Judicial, surgem novos alicerces 
hábeis a ampliar não apenas a oportunidade de se buscar saídas consensuais ao presente 
problema, mas também de tornar tangíveis dívidas que antes eram vistas como absolutamente 
irrecuperáveis, denotando um maior enfoque ao crédito tributário e, ao mesmo tempo, à garantia 
da preservação das empresas em crise. 
Nesse contexto, este estudo propõe a análise dogmática e jurisprudencial do 
desenvolvimento desse citado dualismo em nosso ordenamento jurídico, a fim de alcançar a 
 
1 GONÇALVES, Gabriel Augusto Luís Teixeira; ZANFORLIN, Daniele de Lucena. A superação do dualismo 
entre o crédito tributário e a recuperação judicial: novos paradigmas jurisprudenciais na relação do fisco 
com as empresas em recuperação judicial. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/a-superacao-do-dualismo-entre-o-credito-tributario-e-a-
recuperacao-judicial-16102020artigos/a-superacao-do-dualismo-entre-o-credito-tributario-e-a-recuperacao-
judicial-16102020. Acesso em: 07 set. 2021. 
 
14 
 
 
 
determinação de novas balizas hábeis a nortear o lampejo da superação do distanciamento entre 
o passivo fiscal e a situação das empresas em recuperação. 
Assim, cercando-se do método lógico-dedutivo, em seu primeiro capítulo, o presente 
trabalho parte das premissas históricas, conceituais, principiológicas e normativas necessárias 
ao entendimento da inter-relação entre ambos os institutos, abrindo espaço para que, em seu 
capítulo seguinte, seja possível auferir a responsabilidade que a inconsistência jurisprudencial, 
decorrente da volatilidade dos entendimentos nos Tribunais, teve na construção deste 
desequilíbrio — tema central deste excerto. 
Vencidas as dúvidas sobre o surgimento desse dualismo, o terceiro capítulo visa 
discorrer sobre o uso dessa terminologia e da incidência dos seus efeitos na prática. Para tanto, 
demonstrará a nocividade causada pelo desprezo ao crédito tributário, tanto na intensificação 
do acúmulo de processos e débitos fiscais, sem quaisquer perspectivas de saneamento nas mãos 
de empresas que já se encontram em recessão fiscal, quanto na constatação de um interesse em 
priorizar o retardamento de um problema ao invés da sua solução. 
Em vista a alcançar a superação desse dualismo, também será abordado como a recente 
reforma da Lei de Recuperação Judicial e Falência e a regulamentação da Transação Tributária 
servirão como objeto de rompimento com o problema em comento. Desse modo, serão trazidas 
possibilidades de reversão desse quadro através de saídas consensuais que incentivem a 
mudança de paradigmas importantes e façam valer, de fato, a busca pela preservação e 
soerguimento de empresas em recuperação judicial. 
Como já adiantado, este trabalho prezou pelo método lógico-dedutivo, valendo-se da 
apreciação da bibliografia afeita ao tema, abarcando a pesquisa pormenorizada em artigos 
científicos, dissertações e trabalhos acadêmicos. Além de prezar pela análise da legislação 
vigente e não mais vigente, de embasamentos jurisprudenciaise de dados oficiais de órgãos 
jurídicos e institutos de pesquisas nacionais. 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
2 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E O CRÉDITO TRIBUTÁRIO 
 
2.1. Da Recuperação Judicial 
 
2.1.1. O desenvolvimento histórico do atual sentido do Direito Recuperacional 
 
A atual conjuntura da Recuperação Judicial desenvolveu as suas balizas a partir das 
diversas rupturas históricas, as quais influenciaram na relação entre a prevalência dos interesses 
dos credores em detrimento das dificuldades dos devedores em cumprir com suas 
responsabilidades e sanar os débitos assumidos. 
Assim, ainda na Roma Antiga, com a chegada da Lex Poetelia Papiria (326 a.C.), 
quebrou-se o primeiro paradigma da determinação do patrimônio como emanação da própria 
personalidade2, ou seja, o devedor deixou de se preocupar com a restrição de sua liberdade 
pessoal como moeda de troca, para passar a ver suprimida a livre disposição de seus bens, com 
o intuito de saldar a dívida que tinha em relação aos seus credores. 
Desse modo, em que pese tal período ainda não contasse com um processo falimentar 
propriamente dito, essa suavização dos efeitos pessoais da cobrança da dívida, frente ao 
devedor, abriu portas para o surgimento dos primeiros procedimentos de execução concursal.3 
Nessa senda, o Direito Comercial, influenciado pelo desenvolvimento das feiras 
comerciais nos primórdios do medievo4, começava a ser lapidado ainda em um viés 
consuetudinário. É tanto que, nas palavras do professor Miguel Pupo Correia5, foi na Idade 
Média que tal ramo do Direito alcançou a sua expressão própria, consolidando-se, em meados 
do século XII, após a superação das invasões bárbaras e o desenvolvimento das cidades 
 
2 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falências comentadas. 4. ed. São 
Paulo: RT, 2007. P. 33-34. 
3 PEREIRA, Geailson Soares. Dissertação de Mestrado Recuperação de empresas em crise no Estado 
Democrático de Direito: Limites e fundamentos constitucionais da aplicação do cram down para a 
concretização do princípio da preservação da empresa, 2016. P. 23. 
4 Segundo DEMERCINO, o termo “Medievo” vem do latim medium aevo, sendo também conhecido como Idade 
Média ou período medieval e compreende o lapso histórico compreendido entre os séculos V e XV, surgiu deste 
latim. (JÚNIOR SILVA, Demercino José. O conceito de Idade Média. Brasil Escola. Disponível em: 
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/conceito-idade-media.htm. Acesso em: 08 out. 2021). 
5 O Professor Miguel J. A. Pupo Correia assim se expressa: “É na Idade Média que o direito comercial vai adquirir 
expressão própria. Destruída a vida comercial com as invasões bárbaras, ela só renasce com as Cruzadas e com o 
desenvolvimento, a partir do século XII, das cidades comerciais na Itália, Flandres, na Alemanha, bem como das 
feiras, que constituem os polos da vida comercial da época” (1999 apud NEGRÃO, Ricardo. Direito Comercial, 
Comercial e de empresa: recuperação de empresas, falência e procedimentos concursais administrativos - vol. 3 
– 14. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.). 
 
16 
 
 
 
comerciais europeias, como um corpo normativo sistematizado, mas ainda enviesado na análise 
da insolvência eminentemente em seu caráter geral e aplicável a qualquer devedor. 
Acontece que, em uma sociedade altamente influenciada pelos preceitos religiosos e 
pelo julgamento divino ponderado na dualidade entre o bem e o mal, a expressão do Direito 
não poderia seguir de maneira diferente. E em sendo o devedor retratado como um agente 
fraudador, endemoniado e irresponsável, não houve outra saída senão a estabilização de um 
“Direito Falimentar” extremamente repressivo e com o enfoque primordial de garantir a 
punição do devedor inadimplente, ao invés de se buscar a satisfação dos legítimos interesses 
dos seus credores mediante o adimplemento dos débitos pendentes.6 
Somente após a Revolução Francesa, com a promulgação do Código Comercial Francês 
encabeçado por Napoleão Bonaparte, em 1803, é que se rompeu com o generalismo do Direito 
Concursal de modo a dar-lhe um tratamento disciplinar mais específico, assumindo um sentido 
objetivo que distinguia, expressamente, a insolvência civil da insolvência empresarial. 
Esse segundo sentido do Direito Concursal foi crucial ao constituir um arcabouço de 
regras especiais, aplicáveis, restritamente, aos devedores insolventes que revestiam a devida 
qualidade de comerciantes, afastando as disposições falimentares do devedor insolvente de 
natureza cível, aplicando a estes tão somente os regramentos gerais do Direito Civil. 
Porém, apesar de suas inovações, tal corrente ainda pecou ao preservar o caráter 
repressivo e punitivo herdado desde a Antiguidade, perdurando a impressão da recuperação das 
empresas em estado de crise como uma consequência da improbidade dos devedores, fatores 
que reforçaram o seu reconhecimento como um status de mácula social e de patologia do 
mercado econômico.7 
 Entretanto, com as mudanças socioeconômicas oriundas da Revolução Industrial e 
potencializadas pela globalização do século XX, a visão do conceito e da função social das 
empresas tomaram uma nova forma. Dessa forma, passaram a ser enxergadas como elementos 
imprescindíveis ao giro econômico, à manutenção dos empregos dos trabalhadores e aos 
interesses dos credores. 
De tal forma, a antiga noção pejorativa que bitolava o Direito Falimentar à supressão e 
ao afastamento das empresas inadimplentes do mercado foi superada, ganhando força o 
 
6 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense. São 
Paulo; MÉTODO, 2020, p. 738. 
7 Ibid. 
17 
 
 
 
entendimento de que a crise é apenas uma consequência do risco empresarial8, mas que deve 
ser prontamente remediada, a fim de evitar a irreversibilidade de seus efeitos. Assim, o terceiro 
e atual sentido passou a priorizar a busca por mecanismos que forneçam ao devedor, em 
recessão econômica, os instrumentos necessários não somente à sua recuperação e à 
consequente manutenção de sua atividade econômica, mas também que sirvam de alicerce para 
a superação do distanciamento entre as empresas recuperandas e o seu passivo pendente. 
Arregimentava-se, portanto, o sentido essencial que nortearia o conceito e as finalidades 
intrínsecas à instituição da Recuperação Judicial. Naquele momento, o Direito Falimentar 
rompia com as amarras que ansiavam pela arbitrária punição dos devedores e pela 
criminalização de suas condutas, passando a ampliar os espaços de solução do problema e abrir 
caminho à busca pela efetiva superação do estado de crise comercial, reservando a Falência, 
apenas, aos devedores efetivamente irrecuperáveis. 
Por tal guinada principiológica, o ordenamento desprendia-se da visão de um Direito 
voltado à ruína, para estabelecer uma união indissolúvel entre o Direito Recuperacional e o 
princípio da busca e da priorização pela preservação da empresa, premissa esta que será 
destrinchada com mais enfoque no tópico seguinte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 Em ALMEIDA, lê-se que “De há muito tempo a falência deixou de, só por si, configurar um delito. É, antes de 
qualquer conotação criminosa, uma consequência dos riscos dos negócios, podendo, em época de crise econômica, 
juros extorsivos e restrição da demanda, alcançar, inclusive, empresários dos mais escrupulosos. É, portanto, um 
percalço da atividade econômica”. (ALMEIDA, Amador Paes. Curso de falência e recuperação de empresa. 22. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2006). 
18 
 
 
 
2.1.2. A construção da Lei nº 11.101/05 e a Recuperação à luz do princípio da preservação da 
empresa 
 
No Brasil, não foi diferente. É tanto que, conforme a doutrina de Penalva e Salomão9, o 
desenvolvimento doDireito Falimentar brasileiro se perfez mediante quatro fases que, 
gradativamente, também nortearam a passagem de um antagônico modelo de repressão para 
uma conjuntura de preservação do interesse empresarial. 
Na primeira fase, marcada pela chegada do Código Comercial de 1850, o ordenamento 
falimentar pátrio ainda pecava pela ausência de técnicas capazes de proteger as empresas 
inadimplentes do estado de falência, resumindo-se a um modelo excessivamente moroso e que, 
concedendo ampla autonomia aos credores, contribuía para a punitividade dos devedores. 
Entretanto, tal realidade não era uma exceção. Dentro de um Brasil imperial, a adoção 
de sistemas repressivos, desbalanceados e completamente alheios aos verdadeiros anseios 
sociais e econômicos dos polos envolvidos, era um fator natural e consequente da forte 
centralização estatal ainda vigente. 
Como prova disso, naquele período, nem sequer havia a estruturação de um sistema de 
tributação compatível com a capacidade econômica dos cidadãos. O Estado utilizava-se de altas 
cargas tributárias, a fim de preencher os seus cofres, mas não entregava retornos compatíveis à 
sua cobrança fiscal, contribuindo para uma sociedade desamparada e, desde já, desacreditada 
na importância do pagamento dos tributos. 
Só com a chegada do período Republicano, em 1889, foi que o Estado brasileiro passou 
a atuar diretamente na superação dessa nociva centralidade e na disposição de uma atividade 
governamental mais democrática e que, de fato, se alinhasse àquilo que realmente se espera de 
um “governo do povo”. 
 Para tanto, a nova ordem constitucional de 1891, buscando manter uma divisão 
equilibrada do poder e dar maior autonomia e descentralização governamental, instaurou o 
federalismo pátrio. Por tal medida, criou-se uma rígida e estruturada separação das 
competências e da distribuição de rendas entre a União e os recém-criados Estados-membros, 
passando a abranger entes federativos autônomos e que, agora, conseguiam atuar, de maneira 
mais próxima e efetiva, diante do conjunto de interesses econômicos, sociais e tributários. 
 
9 SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência: teoria e 
prática. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 
19 
 
 
 
Justamente durante esse período, foi dado início a uma nova fase do Direito Falimentar. 
Isto porque, com o advento do Decreto nº 917/1890 que revogou as disposições falimentares 
do Código de 1850, foram instituídos novos mecanismos de prevenção à Falência: a moratória, 
a cessão de bens, o acordo extrajudicial e a concordata preventiva. Simultaneamente, criava-se 
um abismo entre o desprezo aos credores e a impunidade dos devedores que passaram a ser 
resguardados por vantagens excessivas, além de terem a oportunidade de promover acordos 
negociais entre si, a exemplo da utilização da concordata, sem a necessária tutela estatal. 
Visando rebalancear a relação entre credores e devedores, o Decreto-Lei nº 7661/1945 
promoveu uma forte regulação do Direito Falimentar. Assim, foram estabelecidas novas rédeas 
ao instituto da concordata, inserindo-a em um sistema rígido, dependente de sentença judicial 
e repleto de requisitos específicos e restritos. 
Nesta terceira fase, o ordenamento passou a sufocar a relação entre os credores e 
devedores, na medida em que proibia a busca por saídas consensuais e dialogadas entre eles, 
investindo em um sistema de concordatas rigoroso e, ao mesmo tempo, ineficaz10. Ou seja, na 
concessão de um “favor legal” que, mais uma vez, tão somente postergava a falência, ao invés 
de prezar por caminhos que realmente levassem ao soerguimento das empresas em crise. 
Embora tenha sido um instrumento jurídico indispensável à recuperação econômico-
financeira dos empresários, a concordata foi se tornando obsoleta e ultrapassada conforme as 
novas demandas que surgiam, tendo em vista que não mais assegurava ao devedor os recursos 
necessários para a manutenção de estoques e à efetiva continuação da atividade empresarial11. 
Neste sentido, reforça Amador Almeida12: 
 
De outro lado, sem garantia efetiva de receber seus créditos, as instituições financeiras 
recusavam-se, sistematicamente, a financiar a atividade negocial de concordatários, 
tornando impraticável o fiel cumprimento das obrigações destes, o que, na prática, 
culminava na convolação da concordata em falência, com prejuízos insanáveis para o 
devedor, fornecedores e empregados. 
 
Em outras palavras, tal instituto, de certa forma, até visava a continuidade das atividades 
da empresa, mas o fazia de forma precária, visto que não previa soluções efetivas ao problema 
em questão. De tal modo, vigia-se um processo falimentar ainda desnorteado, lento e ineficaz, 
que caminhava a passos nulos em comparação às novas perspectivas econômicas e sociais que 
 
10 PEREIRA, 2016. 
11 DIAS, Norton Maldonado. Influências na valoração do falido no histórico da proteção jurídica da 
recuperação de empresas. Revista do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais da UNIJUÍ. Volume XXV, 
n. 45, p. 98-122, jan-jun, 2016. 
12 ALMEIDA, 2006. 
20 
 
 
 
se estabeleciam, como bem elenca Geailson Pereira13 em sua dissertação de mestrado: 
 
Um dos problemas detectados na legislação anterior era a grande morosidade em todas 
as fases do processo falimentar, o que contribuía com o devedor desonesto e para a 
não superação da crise pela empresa. Dito em outras palavras, a empresa não se 
recuperava e, quase sempre, o credor não recebia os seus créditos porquanto faltava 
efetividade na aplicação das normas, seja na perspectiva da reestruturação ou na 
falência. 
 
Essa precariedade de um movimento falimentar preso à irrecuperabilidade das empresas 
em crise não passava despercebida pelo Estado brasileiro. E, já na vigência da constituição de 
1946, regida sob a influência dos efeitos do pós-guerra, crescia a importância de se alcançar um 
sistema capaz de caminhar para a reestruturação nacional e de promover uma prosperidade 
econômica e regional que satisfizesse, não somente os interesses públicos, mas também servisse 
de amparo às empresas que lutavam pela continuidade de suas atividades. 
Partindo da necessidade de uma governabilidade mais ativa e de um sistema pautado 
pelo progresso, novos gastos públicos surgiam e, com eles, crescia a demanda por verbas que 
comportassem o rápido crescimento do país. 
Para tanto, essencial era o papel que o crédito tributário assumia, pois, em se tratando 
da principal fonte de renda do Poder Público, somente com ele o Estado conseguiria alcançar o 
fim que buscava, qual seja, o progresso. 
Na visão de Pablo Dutra Martuscelli14, a urgência pela alavancagem de recursos 
necessários ao desenvolvimento da infraestrutura nacional, contribuiu para a consolidação de 
um sistema tributário mais racional, o que trouxe uma necessidade de se dar uma maior 
estruturação ao crédito tributário e à cobrança fiscal, de modo a torná-los mais acessíveis à 
realidade dos contribuintes, ou seja, dos verdadeiros financiadores dos interesses estatais. 
Partindo desse ideal de desenvolvimento econômico, as empresas, ainda que em crise, 
passaram a ser enxergadas como relevantes aliadas ao desenvolvimento nacional, não apenas 
pela sua ampla importância para a produção e circulação de riquezas privadas, mas também por 
serem contribuintes essenciais que, quando incentivados, são capazes de cumprir com as suas 
responsabilidades tributárias frente ao credor fiscal. 
 
13 PEREIRA, 2016. 
 
14 MARTUSCELLI, Pablo Dutra. Para uma compreensão histórica do sistema tributário nacional de 1988. 
2010. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3117.pdf. 
Acesso em: 26 nov. 2021. 
21 
 
 
 
Basicamente, sob essenovo viés, a preservação da sua atividade empresarial e a busca 
pela sua recuperabilidade econômica tornaram-se mais importantes do que a antiga concepção 
de incessante reprovabilidade das dívidas e de incentivo à falência. 
Assumindo esse novo status de importância diante da sociedade e do Estado, as 
empresas em crise ansiavam por um Direito Falimentar que, de fato, cumprisse com o papel 
que lhe era esperado, qual seja, servir de norte ao soerguimento empresarial. 
Nesse sentido, a própria Constituição Federal de 1988 consolidou a importância da 
entidade empresarial à ordem econômica nacional, reconhecendo a incidência de sua função 
social (art. 170, caput e inc. III, da CF), na medida em que atua em busca de lucros e, com isso, 
reflete diretamente na produção e circulação de mercadorias, na geração de empregos, no 
cumprimento dos créditos aos fornecedores e, inclusive, na potencialização do pagamento de 
tributos ao Estado. 
Sob tal influência, entrava em vigor a Lei de Recuperação Judicial e Falência (nº 
11.101/05) com o intuito de revogar o antigo instituto da concordata e alcançar uma forma real 
de preservação da fonte produtiva de riqueza diante de uma crise financeira do empresário 
devedor, dado que a Falência não era interessante para nenhum dos setores da sociedade15. Ou 
seja, instituiu-se a Recuperação Judicial como a regra a ser buscada, enquanto a Falência passou 
a ser a exceção destinada tão somente àqueles que se encontram em um estado irreversível e de 
total irrecuperabilidade. 
Logo, o grande diferencial entre a atual Lei de Recuperação Judicial e Falência e o 
Decreto-Lei nº 7.661/45, que antes regulava a Falência e o velho instituto da concordata, é que 
o foco central passou a ser, realmente, a preservação da empresa — isto é, da produção de bens 
e serviços, dos empregos e dos interesses dos credores.16 
Tentando sanar as incongruências da legislação anterior, diversos foram os efeitos da 
Lei nº 11.101/05, segundo Waldo Fazzio Junior17: 
 
Promulgada em 2005, a LRJF dilatou os tímidos e frustrados horizontes da legislação 
do século passado, consagrando justificável preferência por outras estratégias legais 
predispostas a assegurar sobrevida útil às empresas viáveis em crise econômico-
financeira. Traz como divisa a reestruturação empresarial como meio de proporcionar 
 
15 SALOMÃO FILHO, Calixto. Comentários à Lei de recuperação de empresas e falência: Lei 11.101/2005 / 
coordenação Francisco Satiro de Souza Junior, Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo. São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2007, p. 220. 
16 PRINCÍPIO da Preservação da Empresa no olhar do STJ. Superior Tribunal de Justiça, Brasília, 2018. 
Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018-09-02_06-
03_O-principio-da-preservacao-da-empresa-no-olhar-do-STJ.aspx. Acesso em: 28 set. 2021. 
17 FAZZIO JUNIOR, Waldo. Nova lei de falência e recuperação de empresas. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 
17/18. 
22 
 
 
 
maiores possibilidades de satisfazer aos credores, minimizar o desemprego, fortalecer 
e facilitar o crédito e, em consequência, poupar o mercado dos reflexos perversos da 
insuficiência dos agentes econômicos. 
 
Por esse ângulo, segundo Sacramone18, o novo regramento falimentar procurou elaborar 
instrumentos para que os diversos interesses envolvidos na condução da atividade empresarial, 
sejam eles do devedor, dos credores, da sociedade, dos consumidores, pudessem ser 
guarnecidos para que fosse alcançada a melhor solução comum a todos. 
Assim, desde a sua redação originária, houve uma limitação aos comportamentos do 
binômio credor-devedor, em vista a incentivar que ambos negociassem maneiras de superar o 
problema que se colocava em pauta. 
De um lado, o devedor teve tolhida a sua autonomia patrimonial, quando da distribuição 
do pedido de recuperação judicial, ficando impossibilitado de alienar ou onerar seus bens do 
ativo permanente, a não ser que fosse a utilidade reconhecida pelo juiz, após a oitiva do comitê 
de credores (art. 66, da Lei nº 11.101/05). 
Ademais, na defesa de uma isonomia de tratamento entre os credores, as empresas em 
estado de crise passaram a não poder satisfazer as suas obrigações vencidas mediante o 
pagamento de uma parcela dos credores em detrimento dos demais, ou seja, foram impedidas 
de exercer um juízo de predileção dos interesses, a não ser que houvesse a aprovação do plano 
de recuperação judicial para tanto (art. 172, da Lei nº 11.101/05).19 
De outro lado, foi estabelecido um sistema cooperativo20 que incentivava a 
solidariedade e a comunhão entre os credores para a satisfação de seus interesses. Para tanto, 
comportamentos oportunistas que se limitavam à busca incessante do adimplemento dos 
créditos individuais foram deixados de lado, dando lugar ao empenho por alcançar uma solução 
comum que permitisse o cumprimento de todos os débitos.21 
 
18 SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Comentários à Lei de Recuperação de empresas e falência. 2. ed. - São 
Paulo: Saraiva Educação, 2021, p. 330. 
19 Ibid. 
20 Conforme SACRAMONE “Esse comportamento cooperativo entre os credores foi incentivado mediante a 
suspensão de suas ações e execuções com o deferimento do pedido de processamento da recuperação judicial (art. 
6º). A suspensão propicia que, por maioria, buscassem os credores uma solução comum para a satisfação de todos 
os débitos, seja pela novação de suas obrigações na recuperação judicial das empresas viáveis, seja por meio da 
liquidação dos ativos da empresa inviável, por ocasião da decretação de eventual falência”. (SACRAMONE, 
Marcelo Barbosa. Comentários à lei de recuperação de empresas e falência. São Paulo: Saraiva Educação, 
2018, pág. 190) 
21 Ibid. 
23 
 
 
 
No mesmo caminho, o art. 47 da supracitada lei fixou as balizas, e o próprio conceito, 
da Recuperação Judicial, reconhecendo-a como um instituto que tem por objetivo22: 
 
Viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim 
de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos 
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função 
social e o estímulo à atividade econômica. 
 
Até então, a finalidade concursal vinha sendo fortemente influenciada pela conjuntura 
econômica e política do momento. Por isso, o ordenamento jurídico oscilava entre ora dar uma 
prevalência aos credores, ora promover uma maior preponderância ao devedor, denotando um 
movimento pendular que, procurando sanar as ineficiências da legislação anterior, abria espaços 
para que fosse dada uma maior centralidade aos agentes inseridos no procedimento concursal.23 
Tentando romper com essa instabilidade (pendular) do escopo falimentar, a nova 
legislação estabeleceu um ambiente cooperativo pautado tanto na busca pela preservação 
empresarial quanto na satisfação das obrigações decorrentes da vontade dos credores 
envolvidos. Elementos estes que, à primeira vista, deveriam ser inseparáveis. 
Para tanto, buscou harmonizar os interesses dos credores e devedores, colocando em 
cena, pela primeira vez, a figura do instituto da Recuperação Judicial e, consequentemente, 
ampliando as possibilidades de saneamento financeiro das sociedades em crise, de modo a 
evitar a ruptura permanente da atividade econômica. Com isso, iniciava-se a era da busca pela 
efetivação do princípio da preservação da empresa. 
Consoante a doutrina de Fábio Ulhôa Coelho, por tal princípio24 
 
O que se tem em mira é a proteção da atividade econômica, como objeto de direito 
cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao empresário, ou aos 
sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem maior de sujeitos. O que se 
busca preservar, na aplicação do princípio da preservação da empresa, é, portanto,a 
atividade, o empreendimento. 
 
Nesse ponto, a Lei da Recuperação rompeu com a dinâmica das legislações antecessoras 
e dilatou o sentido desse princípio, para considerar a superação da crise econômico-financeira 
como um modo de satisfação, não apenas de interesses do devedor e de seus credores privados, 
 
22 BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência 
do empresário e da sociedade empresária. Disponível na Internet: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm. Acesso em: 17 set. 2021. 
23 SCALZILLI, Joao Pedro; SPINELLI, Luis Felipe; TELLECHEA, Rodrigo. História do Direito Falimentar 
da Execução pessoal à preservação da empresa. São Paulo: Almedina, 2018, p. 194/199. 
24 COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de direito empresarial: direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2014. 
24 
 
 
 
mas, em sendo reconhecida a sua função social, para assegurar também o atendimento dos 
interesses da população no geral, dos empregados e, inclusive, do Fisco. 
Por tal princípio, orientaram-se os intérpretes e aplicadores do Direito, utilizando-o 
como fundamento norteador à superação de eventuais conflitos, lacunas ou aparentes 
contradições e omissões legislativas. 
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça25 já reconheceu a importância do princípio 
da preservação da empresa, de modo que, na visão da Ministra Nancy Andrighi, o juízo 
falimentar passou a adotar melhores condições à superação da crise econômica e à consequente 
satisfação dos interesses econômicos abarcados: 
 
Não se pode perder de vista o objetivo maior, de preservação da empresa (...). O que 
buscou o legislador foi implementar a ideia de que a flexibilização de algumas 
garantias de determinados credores, conquanto possa implicar aparente perda 
individual, numa análise imediata e de curto prazo, pode significar ganhos sociais 
mais efetivos, numa análise econômica mais ampla, à medida que a manutenção 
do empreendimento pode implicar significativa manutenção de empregos, 
geração de novos postos de trabalho, movimentação da economia, manutenção 
da saúde financeira de fornecedores, entre inúmeros outros ganhos. (grifo nosso) 
 
Entretanto, a própria jurisprudência também oscilou em sua aplicação, ao ponderar entre 
a proteção da preservação da empresa e a defesa do interesse do credor estatal, frente à 
inconstância sobre a exigência (ou não) da certidão negativa de débitos fiscais junto ao processo 
recuperacional. Tal instabilidade será crucial ao entendimento do dualismo em que se estrutura 
o presente trabalho. 
Destarte, tal análise precisaria ser determinada de uma maneira proporcional que 
realmente ponderasse sobre os riscos acerca do embate gerado entre: a tutela da empresa em 
crise e a importância que deve ser dada à equalização da dívida tributária, com o escopo de ver 
realmente efetivada a recuperação da atividade econômica. Para tanto, não comporta sentido 
uma realidade que se limite a deixar como herança dos benefícios judiciais concedidos, o 
incentivo à postergação do problema e ao acúmulo de um passivo bilionário cada vez mais 
propício à insuperabilidade. 
E, em sentido completamente contrário ao desejo recuperacional, uma exagerada 
procura pela preservação de uma atividade sem propósitos e sem viabilidade econômica, apenas 
agravaria a insegurança e a desconfiança dos diversos credores. Visto que esses, deixados de 
 
25 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (STJ). Conflito de Competência nº 118.183 - MG (2011/0162516-0). 
Suscitante: Juízo da 1ª Vara do trabalho de Poços de Caldas - MG. Suscitado: Juízo de Direito do Juizado Especial 
Cível de Poços de Caldas - MG. Relator: Ministro Moura Ribeiro. Brasília, 04/09/2019. 
25 
 
 
 
lado, estariam cada vez mais distantes de enxergar a efetividade dessa recuperação e, por 
conseguinte, alcançar o resultado que lhe era esperado, ou seja, a satisfação de seu crédito ante 
o devedor inadimplente. 
Nessa linha, não há dúvidas que o Fisco, assim como os demais credores, também possui 
interesse no soerguimento da empresa, a fim de que esta torne-se capaz de honrar os débitos 
tributários que estejam em aberto. Entretanto, inócua seria a importância da Recuperação 
Judicial caso ela fosse utilizada em sentido contrário aos objetivos a que foi constituída, isto é, 
como subterfúgio para tentar se eximir das responsabilidades pendentes e, consequentemente, 
criar uma falsa impressão de preservação, maquiada pela procrastinação de certas dívidas. 
 Assim, para alcançar a sua finalidade, não haveria outra saída senão fazer com que a 
empresa, que antes estava em crise, tivesse a oportunidade de voltar ao seu estado de 
prosperidade e cumprir com as suas responsabilidades pendentes, de modo a desempenhar a 
sua função social e ser economicamente eficaz. Ora, como seria possível retornar ao seu status 
quo ante26 sem que a recuperanda também preze pela regularização de sua situação fiscal? 
Diante de tal conjuntura, não se pode deixar de considerar que, observando-se a 
realidade econômica brasileira, os empresários e as sociedades empresárias em crise, 
geralmente, apresentam alto passivo tributário, sendo as obrigações dessa natureza as que, por 
norma, primeiramente deixam de ser cumpridas pelo devedor. 
É evidente que o soerguimento de uma empresa em crise não pode se limitar ao mero 
cumprimento dos interesses de seus credores privados, mas também precisará prezar pela 
equalização de seu passivo fiscal a fim que, de fato, seja cumprida a função social da empresa, 
a qual também passa pelo pagamento dos tributos, conforme será bem demonstrado nos tópicos 
seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
26 MORENO conceitua o Statu quo como “uma redução da expressão latina in statu quo ante, que significa, 
literalmente, ‘no mesmo estado em que se encontrava antes’”. (MORENO, Cláudio. Statu quo. Disponível em: 
https://sualingua.com.br/2009/05/05/statu-quo/. Acesso em: 08 out. 2021). No sentido empregado no texto, 
leia-se “Estado anterior à crise econômica”. 
26 
 
 
 
2.2. O Crédito Tributário e o cumprimento de sua função social a fim de resguardar a 
sua efetividade 
 
Antes de entrar mais a fundo nessa necessidade de valorização do passivo fiscal em sede 
de Recuperação Judicial, importa-nos desvencilhar também sobre o desenvolvimento 
conceitual do crédito tributário ao longo dos anos e os princípios que norteiam a sua incidência 
no nosso ordenamento jurídico. 
Nesse ínterim, consoante a doutrina de Hugo de Brito Machado27, o crédito tributário 
representa “a formalização da obrigação tributária, ou seja, do dever de pagar o tributo ou a 
penalidade pecuniária”. 
Em outras palavras, o autor conceitua tal instituto como um vínculo jurídico, 
proveniente do lançamento tributário, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado, no 
papel de sujeito ativo, terá a possibilidade de exigir do particular, contribuinte ou responsável 
(sujeito passivo), o pagamento do objeto da relação jurídica, isto é, do tributo ou da penalidade 
pecuniária, tornando o tributo exigível por sua liquidez e certeza.28 
Nesse sentido, assegura com propriedade Eduardo Sabbag29 que “o poder de tributar é, 
em verdade, um poder de Direito, lastreado no consentimento dos cidadãos, destinatários da 
invasão patrimonial, tendente à percepção do tributo”. 
Com isso, o Estado exerce o seu direito subjetivo de cobrar do contribuinte aquilo que 
o Código Tributário Nacional, em seu art. 3º, define como uma prestação pecuniária 
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato 
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada, ou 
seja, o tributo. 
Para além do seu conceito, o tributo,assim como ocorre na atividade empresarial, 
também cumpre uma função social em nosso ordenamento jurídico. Isto porque, a partir de sua 
arrecadação, tal prestação pecuniária contribuirá para que o Estado cumpra com o seu papel de 
viabilizador do bem-estar social, ou melhor, que proceda ao pleno desenvolvimento de suas 
atividades de modo a estimular o progresso social. 
Assim nos esclarece Salete de Oliveira Domingos30: 
 
27 MACHADO, Hugo de Brito. Manual de Direito Tributário. 11 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2019. 
28 Ibid. 
29 SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. São Paulo: SaraivaJur, 2019, p. 55-56. 
30 DOMINGOS, Salete de Oliveira. A Função Social do Tributo sob o enfoque do princípio da dignidade 
humana. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015, p. 223. 
27 
 
 
 
 
Os efeitos da política tributária se refletem diretamente em toda sociedade e definem 
a estrutura econômica de um país; ela é decisiva para definir a estrutura da sociedade. 
Por essa razão, para haver equilíbrio nas relações que envolvem a tributação, devem 
ser observadas a aplicação dos ditames constitucionais e dos direitos fundamentais, 
mas principalmente os seus princípios norteadores. Assim, a política tributária deve 
ser estabelecida sempre respeitando a função social do tributo. 
 
Ocorre que, do mesmo modo em que o Estado cumpre o seu papel, urge ponderar que o 
indivíduo também detém como incumbência o dever de contribuir, mediante o pagamento de 
tributos, para a comunidade em que se insere, em vista a gerar reciprocidade e solidariedade em 
seu meio. Reforçando tal visão, o professor Ricardo Lobo Torres31 reconhece o dever 
fundamental da tributação: 
 
O tributo se define como dever fundamental estabelecido pela Constituição no espaço 
aberto pela reserva da liberdade e pela declaração dos direitos fundamentais, 
transcende o conceito de mera obrigação prevista em lei, posto que assume uma 
dimensão constitucional. 
 
No mesmo sentido, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso32, ao 
proferir seu voto em sede da Repercussão Geral 601.314, foi incisivo ao reconhecer que, em se 
tratando de um dever fundamental, a interpretação das regras e princípios que regem a cobrança 
tributária não pode servir para afastar tal responsabilidade, concluindo que: 
 
Não há um direito subjetivo a fugir da incidência tributária, como alguns podem 
pensar. O Estado é um projeto coletivo, financiado pela contribuição de toda a 
Sociedade, e, portanto, o pagamento de tributos é um dever fundamental estabelecido 
constitucionalmente. Essa noção decorre diretamente da feição Fiscal assumida pelo 
Estado Contemporâneo e é a contrapartida ao elenco de direitos fundamentais 
constitucionalmente assegurados. 
 
 É por isso que, muito embora, aprecie-se a situação de empresas em estado de crise, 
não há que se falar aqui em um direito de “impunidade” à cobrança tributária, ou seja, não deve 
a situação de crise servir de parâmetro para a oportunidade de postergar infinitamente a dívida 
fiscal em prol da preservação empresarial. 
Muito pelo contrário, também é dever das empresas, ainda que em estado de recessão 
econômica, contribuir com a política tributária e, assim, buscar sanar o seu passivo fiscal, ainda 
 
31 TORRES, Ricardo Lobo. O conceito constitucional de tributo. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004, p. 07. 
32 BARROSO, 2016 apud BARBOSA, Marcus Vinícius. Constitucionalização do Direito Tributário e o 
Supremo Tribunal Federal: Aportes Doutrinários e Jurisprudenciais para um Direito Tributário Renovado. 
Revista da EMERJ - v. 21 - n. 03, set - dez, 2019, p. 432. 
28 
 
 
 
que, para tanto, seja necessário o apoio de novos mecanismos que evitem a irrecuperabilidade 
de seus débitos e facilitem o alcance de sua regularização. 
E, para tanto, a dívida tributária não deve ser vista como um instrumento nocivo e capaz 
de ferir o mínimo existencial das recuperandas, mas enxergada como um elemento hábil a 
exercer uma função social e que, quando cumprido, passará a ser valorado como uma etapa 
superada na trajetória de soerguimento do estado de crise empresarial. 
Aproximando-se do âmbito da recuperação, é evidente que, se de um lado, há a busca 
pela preservação da empresa, do outro, também se estabelecem os interesses do Fisco em ver 
cumpridas, de maneira efetiva, as dívidas tributárias pendentes, visando ratificar a vigência 
desse dever fundamental e, por conseguinte, alcançar tal função social. 
E é em razão desse interesse, que o princípio da máxima efetividade também se torna 
perfeitamente aplicável ao cerne fiscal, visto que aquilo se busca é a efetiva cobrança do crédito 
público, em vista a alcançar o seu adimplemento, ainda que, para tanto, seja preciso equilibrar 
as balizas entre tal efetividade e a preservação da dignidade do devedor. 
Nesse sentido, Cândido Rangel Dinamarco33 comenta que não se deve abrir espaço para 
exageros nem aceitar que estes conduzam ao comprometimento da efetividade da tutela 
executiva em nome do suposto direito do devedor a resistir descontroladamente ao exercício da 
jurisdição. 
Aqui fica clara, portanto, a repulsa à já citada ideia ao direito de impunidade do devedor, 
uma vez que um princípio, ao menos em regra, não pode ser aplicado de maneira desenfreada 
a ponto de esvaziar, por completo, o campo de incidência de outro sem que tenha fundamentos 
efetivos para tanto. Em verdade, os princípios, quando dispostos em estado de conflito, indicam 
soluções diferentes conforme o caso em que se inserem. 
Assim, leciona Robert Alexy em sua obra “Teoria dos Direitos Fundamentais”34: 
 
A solução para essa colisão consiste no estabelecimento de uma relação de 
precedência condicionada entre os princípios, com base nas circunstâncias do caso 
concreto. Levando-se em consideração o caso concreto, o estabelecimento de relações 
de precedências condicionadas consiste na fixação de condições sob as quais um 
princípio tem precedência em face do outro. Sob outras condições, é possível que a 
questão da precedência seja resolvida de forma contrária. 
 
 
33 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova Era do Processo Civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2007. 
34 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos Fundamentais. Tradução: Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: 
Malheiros, 2008. Disponível em: http://noosfero.ucsal.br/articles/0010/3657/alexy-robert-teoria-dos-direitos-
fundamentais.pdf?fbclid=IwAR1SRmq5I3YBvVijjVZv_DMvu1nH-A3-HdUt4lMTZLi5t_QUaSKWQE5F8fk. 
Acesso em: 04 out. 2021. 
29 
 
 
 
De tal forma, a solução para o conflito principiológico só será encontrada a partir da 
análise das circunstâncias do caso concreto. Isto é, apenas se examinando a situação disposta, 
será possível encontrar condições sob as quais um princípio venha a preceder o outro. 
Com base em tais preceitos, geralmente, enquanto a empresa que vive aguda crise 
econômico-financeira busca meios para, a partir de um plano de recuperação judicial 
devidamente aprovado pelos credores, se reerguer; o Fisco, exercendo um direito que lhe é 
legítimo, exige regularmente os seus créditos tributários, inscrevendo-os em dívida ativa, 
remetendo as Certidões de Dívida Ativa para protesto e ajuizando as respectivas ações de 
execução fiscal, sem qualquer relação ou comprometimento com o plano de reestruturação. 
Ocorre que, na prática, o tributo ainda tende a ser o primeiro dos “cortes” realizados pelo 
empresário em situação de crise35. Posto que é mais interessante ao devedor cumprir com suas 
pendências junto aos seus fornecedores, consumidores e empregados, a fim de manter em giro 
o ciclo econômico a que está inserido, ao passo em que posterga a equalização do seu passivo 
fiscal frente a um Estado “capaz de arcar com tal morosidade” e que sequer oferecerá ameaças 
à continuidadede sua atividade. 
Ora, mas se o pagamento dos tributos cumpre uma função social e, ao mesmo tempo, 
representa um dever fundamental a ser cumprido pela sociedade, não deveria ser tal 
responsabilidade um objeto central a também ser seguido no âmbito da Recuperação Judicial? 
Ou melhor, seria efetiva uma reestruturação que se restringisse tão somente aos interesses dos 
credores privados em detrimento à situação do Fisco? 
Afinal, a busca pela preservação da empresa e pela máxima efetividade dos tributos 
caminham em sentidos harmônicos ou opostos? 
Conforme será visto minuciosamente no tópico seguinte, para a Lei de Recuperação 
Judicial, ao menos em seu teor originário, o crédito tributário é extraconcursal, ou seja, não se 
submete às negociações inseridas no processo, além de não ver suspensa a sua cobrança após o 
deferimento do processamento da Recuperação Judicial. 
Tanto que, visando, ao menos no papel, garantir uma maior centralidade a tais créditos 
no âmbito recuperacional, a própria lei prevê, em seu art. 57, a importância de que seja juntada 
a certidão de regularidade fiscal36 para fins de prosseguimento da Recuperação Judicial. Com 
 
35 AMORIM, Julia Andery. Análise do Pagamento Tributário durante o processamento da Recuperação 
Judicial. Revista da Faculdade de Direito da Universidade São Judas Tadeu, 2020. 
36 Lei de Recuperação Judicial e Falência (n. 11.101/05): Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela 
assembleia geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor 
apresentará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei nº 5.172, de 25 de 
outubro de 1966 — Código Tributário Nacional. 
30 
 
 
 
isso, a lei objetivava que a superação do estado de crise também estivesse alinhada à 
regularização junto ao Fisco. 
Para os procuradores da Fazenda Nacional Daniele de Lucena Zanforlin e Gabriel 
Augusto Luís Teixeira Gonçalves37: 
 
A LRJF não deixava brechas (ou assim se imaginava): o soerguimento de uma 
empresa em dificuldade deve necessariamente abarcar a equalização de seu passivo 
fiscal, de sorte que a par de obter a novação de sua dívida junto aos credores privados, 
a recuperanda também se encontre em situação regular perante o Fisco. A 
homologação do plano de recuperação atenderia, a um só tempo, ao princípio da 
preservação da empresa (art. 47 da LRJF) e à função social da mesma, que também 
passa pelo pagamento de tributos. 
 
Tais autores entendem que a Lei nº 11.101/05 até tentou aproximar a relação entre o 
credor fiscal e as empresas em recuperação judicial. Entretanto, conforme será bem tratado no 
presente escrito, o mesmo esforço não vem sendo perpetrado pelos Tribunais que, colecionando 
teses voláteis e conflituosas sobre tal conjuntura, acabam contribuindo para que o passivo 
tributário assuma “uma figura meramente decorativa nos balanços contábeis de empresas em 
recuperação judicial”.38 
Como consequência disso, restava estabelecido o chamado dualismo entre o crédito 
tributário e a Recuperação Judicial. Ou seja, a determinação de uma disposição antagônica entre 
dois institutos que, na realidade, deveriam atuar em conjunto de modo a alcançar o objetivo 
comum, qual seja, a efetivação das dívidas fiscais com o intuito de resguardar a preservação da 
empresa e ver cumprida a função social de ambos. 
Para tanto, maquiar o problema não representava uma solução a ser considerada. Em 
virtude disso, tal realidade urgia por mecanismos que tornassem viáveis o soerguimento das 
empresas em estado de crise, permitindo a recuperabilidade de débitos tidos antes como 
insanáveis, e servindo como alicerce de reaproximação entre o crédito tributário e as empresas 
recuperandas. 
Sob tal premissa, o Fisco passaria a ver tutelado, de maneira efetiva, os seus interesses, 
ao passo em que a Recuperação Judicial deixaria de ser utilizada como forma de obtenção de 
vantagens tributárias, para realmente cumprir com o seu papel de preservação empresarial. 
 
 
 
37 GONÇALVES; ZANFORLIN, 2021. 
38 Ibid. 
31 
 
 
 
2.3. A posição do crédito tributário em sede de Recuperação Judicial antes da reforma 
da Lei nº 11.101/05 (Lei da Recuperação Judicial e Falência) 
 
 Conforme já tratado nos tópicos anteriores, a Recuperação Judicial tem como escopo 
essencial a busca por viabilizar a superação da realidade de crise econômico-financeira do 
devedor e, com isso, garantir a preservação da empresa e de sua função social. 
Contudo, sem o equacionamento do seu passivo tributário, não seria possível afirmar 
que determinada empresa estaria, de fato, recuperada, uma vez que restaria pendente o 
cumprimento de tais obrigações fiscais e a satisfação dos interesses do Fisco, como credor que 
também deve ser considerado. 
Além disso, o incessante acúmulo de tais pendências relegadas, ao invés de contribuir 
para a visada preservação empresarial, tão somente favorece o surgimento de dívidas cada vez 
mais difíceis de serem saneadas e de um estado de crise quase que irreversível, colocando a 
perder todo e qualquer avanço colhido no âmbito recuperacional. 
 Entretanto, antes de tornar ainda mais compreensível o estabelecimento do dualismo em 
que se depreende o presente trabalho, é imprescindível perpassar também pelo modo em que o 
crédito tributário foi inserido, desde o início pela Lei nº 11.101/05, perante o processo de 
recuperação judicial. 
 Como ponto de origem, o Código Tributário Nacional, em seus arts. 186 e 187, na 
redação disposta pela Lei Complementar nº 118/2005, instaurada no mesmo dia da promulgação 
da Lei de Recuperação Judicial e Falência, estabeleceu que: 
 
Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores 
ou habilitação em Falência, Recuperação Judicial, Concordata, inventário ou 
arrolamento. 
 
De tal forma, o crédito tributário não poderia se sujeitar ao plano de reestruturação e aos 
efeitos da Recuperação Judicial. Na verdade, por tais dispositivos, o legislador objetivou dar 
evidência à função social conferida aos tributos, de modo a garantir um tratamento privilegiado 
à cobrança fiscal, uma vez que não concorreria e, ao mesmo tempo, teria preferência sobre as 
demais dívidas. Nestes termos, conclui Tiago Luiz de Moura Albuquerque39: 
 
 
39 ALBUQUERQUE, Tiago Luiz de Moura. O crédito tributário na recuperação judicial: um novo paradigma 
na participação da Fazenda Pública no saneamento da situação de crise da devedora. Disponível em: 
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/credito-tributario-recuperacao-judicial-26042021. Acesso em: 18 
out. 2021. 
32 
 
 
 
No pressuposto de que o crédito tributário pertence ao Estado e, portanto, importa a 
todos nós, o tratamento que lhe é dispensado é de privilégio: tem preferência legal 
(CTN, art. 186) e não está sujeito a concurso de credores ou habilitação em 
recuperação judicial (CTN, art. 187). 
 
 Partindo desse ideal de que os efeitos recuperacionais não alcançariam a cobrança 
judicial da dívida fiscal e, por sua vez, iriam se restringir aos débitos ligados aos credores 
particulares, a Lei nº 11.101/05 também previu que em sendo deferido o processamento da 
Recuperação Judicial, ao contrário do que acontecia com as demais execuções, as execuções 
fiscais não estariam sujeitas à suspensão. 
É o que se extrai da redação antiga do § 7º, do art. 6º: 
 
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação 
judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do 
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário: (redação 
originária) 
§ 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da 
recuperaçãojudicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código 
Tributário Nacional e da legislação ordinária específica. (redação originária) 
 
Afastava-se aqui, parcialmente, o chamado princípio da universalidade do juízo 
falimentar ou princípio da força atrativa da Falência (vis attractiva), processo ao qual devem 
acorrer todos os credores do devedor em sede de Recuperação Judicial.40 
Ao mesmo tempo, a própria lei abria uma exceção, permitindo que fosse suspensa a 
execução fiscal, nos casos de parcelamento. Com isso, tornava-se clara a tentativa, ainda que 
insuficiente por falta de regulamentação, do legislador em, ao menos em tese, buscar 
mecanismos para sanear tal passivo fiscal, ou ao menos, reconhecer a necessidade de se dar 
maior centralidade ao interesse do Fisco no âmbito recuperacional. 
No entanto, ao passo em que se abria espaço para que as execuções fiscais 
permanecessem em curso ainda na vigência do processo recuperacional, surgia também a 
preocupação de que tal prosseguimento incentivasse a determinação de penhoras e da constrição 
dos bens das empresas sob o afã de satisfazer o crédito tributário. Fato este que poderia trazer 
como resultado uma eventual impossibilidade física de cumprir os ditames arrolados pelo 
devedor e aprovado pelos demais credores. 
Ainda visando reaproximar o crédito tributário do processo de Recuperação Judicial, 
uma vez que prezava pela harmonia entre os princípios da preservação e da satisfação do 
interesse do credor público, a Lei nº 11.101/05 foi taxativa ao prever, em seu art. 57, que após 
 
40 BEZERRA FILHO, Manoel Justino Bezerra. Nova Lei de Recuperação e Falência comentada. 3. ed. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. 
33 
 
 
 
a juntada do plano de recuperação aprovado pela assembleia-geral de credores, a empresa 
recuperanda e devedora teria o dever de apresentar certidões negativas de débitos tributários 
para homologação do plano.41 
Sob o mesmo pretexto, a LRJF também acresceu, ao Código Tributário Nacional, a 
exigência de que a concessão da recuperação judicial somente ocorra mediante apresentação da 
prova de quitação de todos os tributos, consoante o disposto no art. 191-A da Lei Complementar 
nº 5.172/66 (CTN): 
 
Art. 191-A. A concessão de recuperação judicial depende da apresentação da prova 
de quitação de todos os tributos, observado o disposto nos arts. 151, 205 e 206 desta 
Lei. (Incluído pela LC nº 118, de 2005) 
 
Em razão disso, ao menos na seara legal, não havia dúvidas de que a superação da crise 
empresarial somente poderia se perfazer mediante a equalização do passivo fiscal. 
Contudo, do modo que se verá no tópico seguinte, a instabilidade jurisprudencial e a 
volatilidade de entendimentos acerca de tais dispositivos, acabaram por criar um limbo entre a 
relação firmada perante a satisfação do crédito tributário e a busca pela preservação e 
recuperação das empresas em crise. 
Basicamente, proliferaram-se entendimentos pautados na prevalência da preservação da 
empresa e na necessidade de se flexibilizar as formas de pagamentos aos credores, nos quais 
também se incluem o Poder Público. Entretanto, “flexibilizar as formas de pagamento” é 
completamente diferente de “suprimir e mitigar” os meios de saneamento da dívida pública. 
Como consequência dessa volatilidade jurisprudencial, os dispositivos expressos na Lei 
de Recuperação e Falência passaram a se resumir à mera folha de papel diante de uma realidade 
em que as empresas, mesmo em estado de crise, simplesmente, não saneavam as suas dívidas 
fiscais. 
Tanto que, nas palavras de Tiago Albuquerque42, não havia meios de consolidar o débito 
tributário dentro de uma reestruturação de dívida no processo, já que o crédito tributário não 
era habilitado na Recuperação Judicial. Em verdade, as empresas até tinham a Recuperação 
Judicial como um meio para alcançar a superação da crise, mas ainda se esbarravam em um 
sistema sem mecanismos efetivos à renegociação do passivo tributário, fato este que contrariava 
 
41 Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia-geral de credores ou decorrido o prazo 
previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos 
tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário 
Nacional. (Lei nº 11.101/05) 
42 ALBUQUERQUE, 2021. 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%205.172-1966?OpenDocument
34 
 
 
 
por completo o sentido de preservação e, tão somente, contribuía para o acúmulo incessante de 
dívidas que, ignoradas, tornavam-se irrecuperáveis. 
Por tal cenário, a Fazenda Pública era deixada de lado por não ter uma existência efetiva 
na Recuperação Judicial. E, em boa parte das vezes, a dívida pública era o principal motivo da 
empresa se encontrar em estado de crise econômica, mas, em razão de ser sempre desprezada e 
o Fisco não conseguir exercer a influência necessária, não era possível alcançar, de fato, o 
objetivo do art. 47 da Lei em estudo, qual seja, a “viabilização da superação da situação de 
crise-econômica do devedor”. 
Em razão de toda essa conjuntura, a própria Lei nº 11.101/05 acabou por ser influenciada 
e, com isso, criavam-se desvios à eficiência da Recuperação Judicial e abriam-se brechas para 
o desenvolvimento de um dualismo entre o crédito tributário e as empresas recuperandas. 
Em outras palavras, o ordenamento jurídico, contrariando os princípios condizentes aos 
interesses dispostos na recuperação, impedia que os objetivos de maximizar ativos e distribuí-
los de forma igualitária entre os credores, sejam eles públicos ou privados, se concretizassem, 
prejudicando não só o cumprimento das obrigações estabelecidas, mas o próprio ideal de 
preservação da empresa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
 
3 DA INSTABILIDADE JURISPRUDENCIAL ACERCA DA (IN)EXIGIBILIDADE 
DE CERTIDÃO DE REGULARIDADE FISCAL NO ÂMBITO DA RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL 
 
Consoante o que já foi adiantado no presente trabalho, esse citado distanciamento do 
crédito tributário no âmbito da Recuperação Judicial, não surgiu do nada. 
Nessa toada, não há dúvidas de que o nosso ordenamento jurídico está sujeito a 
mudanças, seja em razão da dinamicidade imposta pela sociedade, da alteração na realidade 
fática, de uma nova percepção do Direito ou, até mesmo, por uma necessidade de renovação e 
adequação do que deve ser considerado ético ou justo. 
Apesar disso, quando tratamos de empresas que se encontram em situação de crise, ou 
melhor, que já estão inseridas em um contexto de ruptura, desequilíbrio e de instabilidade, não 
há outra saída senão a busca por soluções estáveis, concretas, e que, realmente, contribuam para 
a superação do problema apresentado. 
Observe que a ninguém interessa um sistema inflexível e engessado, mas o que se busca 
é um modelo que, ao menos, proporcione o mínimo de segurança jurídica, principalmente, 
àqueles que se encontram em situação de desamparo e que carecem de apoio para alcançar o 
tão esperado soerguimento empresarial. 
 No entanto, não é essa a realidade que vem sendo oferecida às empresas em 
recuperação. Na verdade, o exercício independente da jurisdição tem motivado certa 
insegurança aos jurisdicionados, principalmente, em função da volatilidade dos entendimentos 
jurisprudenciais sobre temas relevantes à sociedade.43 
Seja no Superior Tribunal de Justiça, no STF ou nos demais Tribunais espalhados pelo 
país, a mudança constante de entendimentos, completamente antagônicos entre si, deixou de 
ser somente a exceção e vem se tornando, cada vez mais, a regra. 
Por exemplo, no próprio âmbito recuperacional, perduram-se questionamentos acerca 
da consonância da (in)exigibilidade de certidão

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