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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PIO MARINHEIRO DE SOUZA NETO RELACIONAMENTOS COOPERATIVOS COMO FATOR DE SUSTENTABILIDADE NA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO RN: UM ES TUDO DE CASO MULTIPLO NO SETOR APÍCOLA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO NATAL/RN 2009 ii iii CURRICULUM VITAE RESUMIDO Pio Marinheiro de Souza Neto, formado em Administração – habilitação em sistemas de informação pela Faculdade de Ciência, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte - FACEX, curso no qual foi aluno laureado da turma 2005. Atuação na área da administração pública como Gerente do Centro de Convenções de Natal, assessor parlamentar na Câmara Municipal do Natal e na Secretaria de Estado da Educação e da Cultura – SEEC. Atualmente é professor do curso de Administração da Faculdade de Ciência, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte – FACEX, lecionando as disciplinas de Administração de Recursos Matérias e Patrimônio, Administração da Produção e Logística Empresarial. ARTIGOS PUBLICADOS DURANTE O CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO SOUZA NETO, Pio Marinheiro.; SANTOS, Esmeraldo Macedo dos . As dimensões da qualidade no desporto escolar: os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte. In: III ENCONTRO NORTERIOGRANDENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO ESCOLAR, 3., 2006, Natal, 2006. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; ANDRADE, Régia Maria Paulo de. Avaliação de desempenho em organizações do terceiro setor. Carpe Diem – Revista Cultura e Científica. Natal, v.5, n.5, p. 55-78, jan/dez., 2007. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; SANTOS, Esmeraldo Macedo dos; ALBUQUERQUE, Adalberto Aguiar de. Aplicação do modelo SERVQUAL na administração pública: o caso dos jogos escolares do RN. In: SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INTERNACIONAIS - SIMPOI, 11., 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: FGV/EAESP, 2008. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; VALERY, Françoise Dominique. O fator humano na economia solidária: avaliando o doce remédio do relacionamento colaborativo de uma de cooperação. In: SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INTERNACIONAIS - SIMPOI, 12., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: FGV/EAESP, 2009. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; SANTOS, Rafael da Gama; SIGNORETTI, Alberto. Os sistemas de informação e o serviço logístico: uma análise sob a ótica do usuário. In: SIMPÓSIO DE ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, LOGÍSTICA E OPERAÇÕES INTERNACIONAIS - SIMPOI, 12., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: FGV/EAESP, 2009. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; VALERY, Françoise Dominique. O doce sabor do relacionamento colaborativo na apicultura: um estudo de caso comparativo entre empreendimentos de economia solidária do RN. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO – ENEGEP, 29., 2009, São Paulo. Anais... Salvador: ABREPRO, 2009. iv SOUZA NETO, Pio Marinheiro; MARTINS, Daniel Araújo; SANTOS, Esmeraldo Macedo dos; ARAÚJO, Geissy Hanie Alves de; PEREIRA, CAMPOS, Ana Jarvis de Melo. Arranjos Produtivos Locais: Retrospectiva e Tendências na Perspectiva das Operações de Serviços. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - SIMPEP, 16., 2009, Bauru. Anais do XVI SIMPEP, 2009. SOUZA NETO, Pio Marinheiro; VALERY, Françoise Dominique. O doce sabor da cooperação: uma matriz de relacionamento colaborativo na economia solidária. Revista da micro e pequena empresa (FACCAMP), v. 3, p. 90-105, 2010. ISSN 1982-2537. v Dedico este trabalho a todos àqueles que acreditam que a ousadia e o erro são caminhos para as grandes realizações. vi AGRADECIMENTOS A Deus, por mais uma conquista. Aos meus pais José Nilmar de Souza e Maria de Lourdes Souza, pelo amor incondicional, e principalmente pela vida. Agradeço a minha esposa Inaize pelo convívio harmonioso que possibilitou a serenidade necessária ao desenvolvimento deste trabalho. Sem sua colaboração, jamais poderia tê-lo realizado. A minha orientadora Profa. Dra. Françoise Dominique Valéry, pelo convívio e apoio na tarefa empreendida, expressos através da confiança em mim depositada e desejo de sucesso. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela oportunidade do desenvolvimento pessoal e profissional durante o curso de pós-graduação. A todos os Professores do Programa de Engenharia de Produção, pelos conhecimentos e experiências transmitidos, encaminhamento a superação e pelas suas amizades, em especial ao professor Nominando Andrade de Oliveira pelos valiosos ensinamentos e experiências transmitidas no decorrer deste curso. Aos colegas e amigos do mestrado, pelo companheirismo e solidariedade vividos durante o curso. Aos amigos professores da Facex, que me apoiaram ao longo deste longo percurso, especialmente ao amigo prof. Esmeraldo Macedo dos Santos, incentivador das primeiras horas, que me possibilitou vislumbrar caminhos nunca antes pensados. A Francisco Pereira Batista, Vilma e Célia Fernandes que muito contribuíram em uma das fases mais desafiadoras da pesquisa, a coleta de dados. A Profa. Ana Dalva Araújo Marinho Barreto pela sua compreensão e apoio fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. A todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho. Reitero aqui minhas palavras, sendo este um trabalho individual e muitas vezes solitário, de que não se pode empreendê-lo sem a ajuda dos que nos cercam e querem o nosso avanço pessoal e intelectual. A todos meu muito obrigado. vii Resumo da Dissertação apresentada à UFRN/PEP como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências em Engenharia de Produção. RELACIONAMENTOS COOPERATIVOS COMO FATOR DE SUSTENTABILIDADE NA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO RN: UM ES TUDO DE CASO MULTIPLO NO SETOR APÍCOLA PIO MARINHEIRO DE SOUZA NETO Setembro/2009 Orientadora: Françoise Dominique Valéry Curso: Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção RESUMO Estamos assistindo, nas duas últimas décadas, a um agravamento dos problemas sociais na sociedade contemporânea, altas taxas de desemprego e a exclusão social. Neste contexto, a economia solidária apresenta-se como uma alternativa de geração de trabalho e renda, para o homem do campo, através da produção e a distribuição de produtos desenvolvidos de forma coletiva, onde as ações de cooperação ganham expressiva importância. Este estudo tem por objetivo determinar como as ações coletivas de cooperação influenciam na sustentabilidade sócio-política e econômica de empreendimentos de economia solidária. A metodologia adotada foi um estudo de caso múltiplo em três organizações associativas do setor apícola do Rio Grande do Norte – a Associação de Apicultores do Município de São Rafael (AAMSR); a Associação de Apicultores de Serra do Mel (APISMEL) e a Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi (COOAFAP). Para avaliar o relacionamento colaborativo nos empreendimentos solidários foi construída uma matriz que identifica como desenvolve-se os relacionamentos com e na organização associativa, para mensurar o nível de sustentabilidade destes empreendimentos foram calculados os índices de sustentabilidade sócio-política e sustentabilidade econômica. Os resultados da pesquisa demonstraram a existência de um relacionamento colaborativo pleno em todos os casos estudados baseados em fatores como: comunicação eficaz entre os apicultores associados/cooperados e também destes com suas organizações; disponibilidades dos apicultores para realizar adaptações no processo produtivo; cultura organizacional voltada para a colaboração e o elevado nível de satisfação dos apicultores em estarem fazendo parte dos empreendimentos solidários. Considerando que os empreendimentos de economia solidário melhor posicionado na matriz de relacionamentoforam aqueles que obtiveram os melhores índices de sustentabilidade, fica evidenciada a importância dos relacionamentos colaborativos para a sustentabilidade dos empreendimentos solidários. Palavras-Chaves: Economia Solidária. Relacionamento Cooperativo. Sustentabilidade. Apicultura. Cadeia Produtiva. viii Abstract of Dissertation presented to UFRN/PEP as fullfilment of requirements to the degree of Master of Science in Production Engineering COOPERATIVE RELATIONSHIPS AS FACTOR OF SUSTAINABILI TY IN THE SOLIDARY ECONOMY IN RIO GRANDE DO NORTE: A STUDY OF MULTIPLE CASE IN THE SECTION APICULTURE. September/2009 Thesis Supervisor : Françoise Dominique Valéry Program: Master of Science in Production Engineering ABSTRACT We are observing, particurlarly in the last two decades an aggravation of social problems inherent in contemporary society, such as high rates of unereloyment and social exclusion. In this context, the social economy appears as an alternative to generate employment and income, especially for the country man through the production and distribution of developed products in a collective way where the actions of cooperation gain significant importance this study aims to determine how the collective actions affect the sustainability of cooperative socio-political and economic developments of the economy and so it was adopted a methodology of multiple case study in three organizations in the apiculture sector of Rio Grande do Norte – the Beekeepers Association of São Rafael City (AAMSR); Beekeepers Association of Serra do Mel (APISMEL) and Family Agriculture Cooperative of Apodi (COOAFAP). To evaluate relationship in collaborative ventures solidarity it is constructed a matrix that identify and develop relationship in the organization and, to measure the level of sustainability of these ventures are calculated the indices of socio-political sustainability and economic sustainability. The research results shows a fully collaborative relationship in all cases based on factors such as effective communication between beekeepers involved/and also cooperated with these organization; availability of beekeepers to perform adjustments in production process; an organizational culture focused on collaboration and high level of situation described above and taking into account that the business of solidarity economy better positioned in the matrix of relationships are those that have best indices of sustainability, it is evidence the importance of collaborative relationships for the sustainability of joint ventures. Key-words: Solidarity Economy. Cooperative Relationship. Sustainability. Beekeeping. Supply Chain. ix SUMÁRIO LISTA DE TABELAS................................................................................................... x LISTA DE QUADROS.................................................................................................. xi LISTA DE FIGURAS.................................................................................................... xii LISTA DE EQUAÇÕES........................................................................................ xiv LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS........................................... xii Capítulo 1 Introdução................................................................................................... 01 1.1 Objeto de estudo...................................................................................................... 03 1.1.1 O setor apícola e sua caracterização......................................................... 04 1.1.2 O mel brasileiro e mercado mundial......................................................... 07 1.1.3 A apicultura do Nordeste........................................................................... 10 1.2 Objetivos................................................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo geral.............................................................................................. 13 1.2.2 Objetivos específicos................................................................................... 13 1.3 Relevância da Pesquisa........................................................................................... 13 1.4 Estrutura da Dissertação........................................................................................ 15 Capítulo 2 Da economia solidária aos relacionamentos colaborativos..................... 17 2.1 Economia solidária – conceitos e características.................................................. 17 2.2 Cadeia produtiva – uma visão sistêmica............................................................... 22 2.2.1 Canais de distribuição................................................................................ 26 2.2.2 Relacionamentos em canais de distribuição............................................. 29 2.3 Sustentabilidade de empreendimentos de economia solidária............................ 39 Capítulo 3 Metodologia da pesquisa de campo........................................................... 45 3.1 Tipologia de pesquisa.............................................................................................. 45 3.2 Modelo de pesquisa................................................................................................. 47 3.3 Hipóteses................................................................................................................... 48 3.4 Definição do Problema de Pesquisa....................................................................... 49 3.5 População alvo......................................................................................................... 49 3.6 Instrumentos de coleta de dados............................................................................ 50 3.7 Tratamento de dados............................................................................................... 51 3.7.1 Tratamento dos dados dos apicultores...................................................... 51 3.7.2 Tratamento dos dados dos EES................................................................. 55 3.8 - Validação da pesquisa........................................................................................... 57 Capítulo 4 – Análise dos Resultados da Pesquisa de Campo..................................... 59 4.1 Caso 01 - Associação de Apicultores do Município de São Rafael...................... 59 4.1.1 Perfil do Associado...................................................................................... 61 4.1.2 Características da Produção...................................................................... 65 4.1.3 Características da Comercialização.......................................................... 69 4.1.4 Relacionamento Vertical............................................................................ 71 4.1.5 Relacionamento Horizontal........................................................................ 74 4.1.6 Sustentabilidade Sócio-Política.................................................................. 77 4.1.7 Sustentabilidade Econômica...................................................................... 78 x 4.1.8 Conclusões do caso 01................................................................................ 79 4.2 Caso 02 - Associação de Apicultores da Serra do Mel......................................... 81 4.2.1 Perfil do Associado...................................................................................... 82 4.2.2 Características da Produção...................................................................... 87 4.2.3 Características da Comercialização.......................................................... 92 4.2.4 Relacionamento Vertical............................................................................ 94 4.2.5 RelacionamentoHorizontal........................................................................ 97 4.2.6 Sustentabilidade Sócio-Política.................................................................. 99 4.2.7 Sustentabilidade Econômica...................................................................... 101 4.2.8 Conclusões do caso 02................................................................................. 101 4.3 Caso 03 - Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi.................................. 104 4.3.1 Perfil do Associado...................................................................................... 105 4.3.2 Características da Produção...................................................................... 110 4.3.3 Características da Comercialização.......................................................... 114 4.3.4 Relacionamento Vertical............................................................................ 116 4.3.5 Relacionamento Horizontal........................................................................ 119 4.3.6 Sustentabilidade Sócio-Política.................................................................. 122 4.3.7 Sustentabilidade Econômica...................................................................... 123 4.3.8 Conclusões do caso 03................................................................................. 124 Capítulo 5 – Estudo analítico e comparativo dos casos estudados............................ 127 5.1 Comparativo do perfil dos apicultores e processo produtivo.............................. 127 5.2 Comparativo do relacionamento vertical.............................................................. 134 5.3 Comparativo do relacionamento horizontal......................................................... 136 5.4 Comparativo das articulações sócio-políticas....................................................... 138 5.5 Comparativo das características econômicas....................................................... 141 Capítulo 6 Conclusões e Recomendações.................................................................... 144 6.1 Conclusões alinhadas aos objetivos........................................................................ 144 6.1.1 Quanto aos objetivos específicos................................................................ 144 6.1.2 Quanto ao objetivo geral............................................................................ 146 6.2 Conclusões alinhadas às hipóteses......................................................................... 147 6.3 Recomendações alinhadas às limitações encontradas.......................................... 149 Referências ......................................................................................................... Apêndices........................................................................................................................ xi LISTA DE TABELAS Tabela 1-1 - Produção mundial de mel natural......................................................... 07 Tabela 1-2 - Exportações mundiais de mel natural.................................................. 08 Tabela 1-3 - Importações mundiais de mel natural.................................................. 09 Tabela 1-4 - Preço médio das exportações de mel natural (US$/Kg)...................... 10 Tabela 1-5 - Produção de mel natural brasileira (toneladas)…..………….……… 11 Tabela 1-6 – Comparativo de produtividade de mel.........……...………………… 12 Tabela 2-1 – Dimensões da sustentabilidade……………...…...…………………... 41 Tabela 3-1 - Variáveis de avaliação dos relacionamentos........................................ 47 Tabela 3-2 – Tipos de sustentabilidade...................................................................... 47 Tabela 3-3 – Correlação entre objetivos, hipóteses e variáveis..………………….. 48 Tabela 3-4 - População pesquisada…………………..……….…………………….. 50 Tabela 3-5 – Escala Likert de avaliação de avaliação……………..……….……… 53 Tabela 4-1 – Dados do município de São Rafael/RN................................................ 60 Tabela 4-2 – Índices de relacionamento vertical – AAMSR.................................... 71 Tabela 4-3 – Correlação dos agrupamentos do relacionamento vertical –AAMSR 73 Tabela 4-4 – Índices de relacionamento horizontal – AAMSR................................ 74 Tabela 4-5 – Correlações do relacionamento horizontal – AAMSR....................... 76 Tabela 4-6 – Dados do município de Serra do Mel/RN............................................ 81 Tabela 4-7 – Índices de relacionamento vertical – APISMEL................................. 94 Tabela 4-8 – Correlação dos agrupamentos do relacionamento vertical – APISMEL 96 Tabela 4-9 – Índices de relacionamento horizontal – APISMEL............................ 97 Tabela 4-10 – Correlações do relacionamento horizontal – APISMEL.................. 99 Tabela 4-11 – Dados do município de Apodi/RN..................................................... 105 Tabela 4-12 – Índices de relacionamento vertical – COOAFAP............................. 117 Tabela 4-13 – Correlações do relacionamento vertical – COOAFAP..................... 118 Tabela 4-14 – Índices de relacionamento horizontal – COOAFAP......................... 120 Tabela 4-15 – Correlações do relacionamento horizontal – COOAFAP................ 121 Tabela 5-1 – Comparativo da faixa etária dos apicultores...................................... 128 Tabela 5-2 – Relação de tempo de apicultura e associativismo............................... 128 Tabela 5-3 – Comparativo da principal fonte de renda........................................... 129 Tabela 5-4 – Relação de gênero nos EES estudados................................................. 131 Tabela 5-5 – Comparativo da mão-de-obra utilizada na produção........................ 132 Tabela 5-6 – Comparativo de produtos comercializados........................................ 132 Tabela 5-7 – Comparativo de rendimento com apicultura...................................... 133 Tabela 5-8 – Comparativo de perfil e processo produtivo....................................... 134 Tabela 5-9 – Comparativo do relacionamento vertical............................................ 136 Tabela 5-10 - Comparativo do relacionamento horizontal...................................... 137 Tabela 5-11 - Comparativo sustentabilidade sócio-política..................................... 140 Tabela 5-12 - Comparativo sustentabilidade econômica......................................... 143 Tabela 5-13 – Comparativo dos índices de sustentabilidade.................................... 143 Tabela 6-1- Variáveis satisfatórias por relacionamentos......................................... 147 xii LISTA DE QUADROS Quadro 2-1 – Variáveis utilizadas para definir relacionamentos............................ 30 Quadro 2-2 – Autores e variáveis na avaliação de relacionamentos....................... 31 Quadro 3-1 - Escala de Coeficiente de Correlação................................................... 55 xiii LISTA DE FIGURAS Figura 2-1 – Fluxo simplificado da cadeia produtiva do mel................................... 25 Figura 2-2 – Fluxos dos canais.................................................................................... 27 Figura 2-3 – Elos da cadeia produtiva de produtos agrícolas.................................. 28 Figura 3-1 – Níveis da matriz de relacionamento..................................................... 52 Figura 4-1 – Localização do município de São Rafael/RN....................................... 60 Figura 4-2 – Histograma idade – AAMSR................................................................ 61 Figura 4-3 – Histograma escolaridade – AAMSR..................................................... 62 Figura 4-4 – Histograma fonte de renda – AAMSR................................................. 63 Figura 4-5 – Histograma experiência apicultura – AAMSR....................................64 Figura 4-6 – Histograma tempo de associativismo – AAMSR................................. 64 Figura 4-7 - Histograma tipo de mão-de-obra – AAMSR........................................ 65 Figura 4-8 – Histograma recursos financeiros – AAMSR........................................ 66 Figura 4-9 – Histograma produtos – AAMSR........................................................... 67 Figura 4-10 – Histograma produtividade.................................................................. 68 Figura 4-11 – Histograma renda com apicultura – AAMSR................................... 68 Figura 4-12 – Correlações da variável renda_api – AAMSR.................................. 69 Figura 4-13 – Histograma principal cliente – AAMSR............................................ 70 Figura 4-14 – Histograma mercado............................................................................ 70 Figura 4-15 – Dendrograma do relacionamento vertical – AAMSR....................... 72 Figura 4-16 – Dendrograma do relacionamento horizontal – AAMSR.................. 75 Figura 4-17 – Matriz de relacionamento – AAMSR................................................. 79 Figura 4-18 - Localização Serra do Mel/RN............................................................. 82 Figura 4-19 – Histograma idade – APISMEL.......................................................... 83 Figura 4-20 – Histograma escolaridade – APISMEL............................................... 84 Figura 4-21 – Histograma fonte de renda – APISMEL............................................ 84 Figura 4-22 – Histograma experiência apicultura – APISMEL.............................. 85 Figura 4-23 – Histograma tempo associativismo – APISMEL................................ 86 Figura 4-24 – Histograma mão-de-obra – APISMEL.............................................. 87 Figura 4-25 – Histograma Quantidade de Pessoas................................................... 88 Figura 4-26 – Histograma recursos financeiros – APISMEL.................................. 88 Figura 4-27 – Histograma produtos – APISMEL..................................................... 89 Figura 4-28 – Histograma enxames – APISMEL...................................................... 90 Figura 4-29 – Histograma produtividade – APISMEL............................................ 91 Figura 4-30 – Histograma renda com apicultura – APISMEL............................... 91 Figura 4-31 – Correlações da variável renda_api – APISMEL............................... 92 Figura 4-32 – Histograma cliente – APISMEL......................................................... 93 Figura 4-33 - Dendrograma do relacionamento vertical – APISMEL.................... 95 Figura 4-34 - Dendrograma do relacionamento horizontal – APISMEL............... 98 Figura 4-35 – Matriz de relacionamento – APISMEL............................................. 102 Figura 4-36 – Localização Apodi – COOAFAP........................................................ 104 Figura 4-37 – Histograma idade – COOAFAP......................................................... 106 Figura 4-38 – Histograma escolaridade – COOAFAP............................................. 106 Figura 4-39 – Histograma principal fonte de renda – COOAFAP.......................... 107 Figura 4-40 - Histograma experiência apicultura – COOAFAP............................. 108 Figura 4-41 – Histograma tempo de apicultura – COOAFAP................................ 109 xiv Figura 4-42 – Histograma tempo de associativismo – COOAFAP.......................... 109 Figura 4-43 – Histograma mão-de-obra – COOAFAP............................................. 110 Figura 4-44 – Histograma recursos financeiros – COOAFAP................................ 111 Figura 4-45 – Histograma produtos – COOAFAP................................................... 112 Figura 4-46 – Histograma produtividade – COOAFAP........................................... 113 Figura 4-47 – Histograma renda com apicultura – COOAFAP.............................. 113 Figura 4-48 – Correlações da variável renda_api – COOAFAP............................. 114 Figura 4-49 – Histograma clientes – COOAFAP...................................................... 115 Figura 4-50 – Histograma mercado – COOAFAP.................................................... 116 Figura 4-51 – Dendrograma do relacionamento vertical – COOAFAP................. 118 Figura 4-52 – Dendrograma do relacionamento horizontal – COOAFAP............. 121 Figura 4-53 – Matriz de Relacionamento – COOAFAP........................................... 125 Figura 6-1 – Matriz de relacionamentos.................................................................... 146 Figura 6-2 – Níveis de sustentabilidade do EES........................................................ 148 Figura 6-3 – Relacionamento colaborativo pleno..................................................... 149 xv LISTA DE EQUAÇÕES Equação 3.1 – Índice de sustentabilidade sócio-política(ISS).................................. 56 Equação 3-2 – Índice de sustentabilidade econômica (ISE)..................................... 56 Equação 3-3 – Índice de sustentabilidade (IS)........................................................... 56 xvi LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS APISMEL - Associação dos Apicultores da Serra do Mel. ADR - Agente de Desenvolvimento Rural BNB - Banco do Nordeste do Brasil. CDLAF - Programa de Compra Direta Local da Agricultura Familiar CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. COOAFAP - Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi. COOPAPI - Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural Sustentável COOPERCAJU - Cooperativa dos Beneficiadores de Castanha de Caju. CSA - Commodity System Approach. EES - Empreendimento de Economia Solidária. EP - Engenharia de Produção. ES - Economia Solidária. FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IS - Índice de Sustentabilidade. ISE - Índice de Sustentabilidade Econômica. ISS - Índice de Sustentabilidade Social. OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras. PDHC - Projeto Dom Helder Câmara MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas e Empresas. SENAES - Secretária Nacional de Economia Solidária. SIF - Serviço de Inspeção Federal. UERN - Universidade Estadual do Rio Grande do Norte 1 Capítulo 1 Introdução Diante da gravidade dos problemas sociais inerentes a sociedade contemporânea a produção e a distribuição de produtos através de novos processos produtivos desenvolvidos de forma coletiva em Empreendimentos de Economia Solidária (EES) apresentam-se como nova alternativa de geração de trabalho e renda, principalmente para o homem do campo. Esta nova forma de atividade produtiva mostra-se como alternativa ao capitalismo tradicional, que segundo Santos e Rodriguez (2002, p. 27-28) apresentam três características negativas – (1) produz sistematicamente desigualdades de recursos e de poder; (2) produz formas de sociabilidades empobrecidas, baseadas no individualismo em lugar da solidariedade e, finalmente (3) a exploração desenfreada dos recursos naturais que coloca em perigo as condições de vida na Terra. Estas iniciativas demonstram em alguns casos resultados satisfatórios em termos de produtividade, mas enfrentam problemas que ameaçam a sustentabilidade. No Brasil, esta busca de alternativas para a crise do emprego vem transformando a economia solidária (ES) em uma das principais formas de (re)organização da sociedade para obtenção de trabalho e renda através de um modo diferenciado de produção e distribuição. Nesta perspectiva, a economia solidária procura desenvolver suas atividades dentro de oito princípios básicos: autogestão, democracia, participação,igualitarismo, cooperação, auto- sustentabilidade, desenvolvimento humano e responsabilidade social (GAIGER, 2004). Para desenvolver suas atividades dentro destes princípios, a cooperação e a participação nos relacionamentos são fundamentais para as relações desenvolvidas, pois exerce influência nos demais princípios listados. A economia solidária, uma forma de organização econômica que constitui-se a partir de fatores humanos onde prevalecem as relações sociais, a reciprocidade e a propriedade comunitária (LECHAT, 2002), é um fenômeno recente que tem obtido crescente visibilidade política, econômica e social (FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004), mas que ainda atravessa variadas formas de dificuldades para competir no mercado. Atualmente existe o entendimento 2 que as ações realizadas pelos EES são eficientes nas operações produtivas, todavia apresentam dificuldades na comercialização e distribuição de produtos que comprometem a sustentabilidade. Essa realidade é apresentada no Atlas da Economia Solidária no Brasil (BRASIL, 2006), elaborado a partir de ampla pesquisa da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e cujos resultados no Rio Grande do Norte confirmam a tendência nacional de comportamentos dos EES (VALERY, 2006). Levando em consideração as particularidades das relações na ES, a cooperação entre os produtores participantes do EES e, destes com a própria organização associativa, reveste-se de considerável interesse tanto na formulação de estratégias de atuação como na própria sustentabilidade do negócio no mercado. O termo cooperação tem significados diversos. Segundo Jesus e Tiriba (apud CATTANI, 2003, p. 49) “a cooperação tem o significado semântico de ato de cooperar, ou operar simultaneamente, trabalhar em comum, colaborar”. Os autores complementam que, como ação, significa “tomar parte de um empreendimento coletivo cujos resultados dependem da ação de cada um(a) do(a)s participantes”. Desta forma, a cooperação é todo ato coletivo e organizado com vistas à realização de um objetivo comum ou, ainda, toda ação conjugada de indivíduos ou grupos que procuram alcançar os mesmos objetivos em benefício de todos (BARRETO, 2003). Entendendo existir similaridade entre os relacionamentos dos canais de distribuição e aqueles desenvolvidos nos EES, é necessário que se faça a mensuração dos níveis de cooperação entre produtores na cadeia produtiva dos EES, baseado no estudo dos relacionamentos colaborativos em canais de distribuição e no modo como estes relacionamentos afetam a sustentabilidade do empreendimento. Para tanto é importante conhecer o conceito chave de sustentabilidade. Para Alva (1997 apud MELO NETO; FROES, 2002), existem duas formas de entender a sustentabilidade: (1) o conceito ecológico, que se refere aos recursos naturais existentes numa sociedade e sua capacidade de atender às necessidades das populações que nela vivem, e (2) o conceito político, que representa a capacidade da sociedade organizar-se por si mesma. Esta pesquisa adotou o conceito de sustentabilidade política, ou seja, da capacidade de sustentação que depende das competências organizativas, produtivas, de articulação, comunicação, mobilização e participação (MELO NETO; FROES, 2002). Embora o tema sustentabilidade seja bastante estudado pela academia, são poucos os trabalhos que realizam a ligação entre sustentabilidade e as ações coletivas. A pesquisa pretende avaliar como os atores envolvidos no processo produtivo podem minimizar estas dificuldades através de ações coletivas de cooperação deve-se analisar os seguintes aspectos: (1) os mecanismos de 3 cooperação utilizados entre os produtores associados ao EES; (2) a cooperação existente entre os produtores e o empreendimento de economia solidária; (3) o grau de sustentabilidade dos empreendimentos e (4) como os mecanismos de coordenação utilizados na ação coletiva afetam a sustentabilidade. A economia solidária desponta como uma das áreas de grande interesse para a academia, por se tratar de uma nova área do conhecimento, que necessita de novas formas de atuação gerencial; novas formas de organização interna e novas parcerias. Por entender que a cooperação é um dos pilares das atividades de produção alternativa pretendeu-se com este estudo analisar as relações coletivas existentes em empreendimentos de economia solidária do setor apícola do estado do Rio Grande do Norte e descrever os relacionamentos horizontais e verticais dentro destes empreendimentos, determinando como ações coletivas influenciam na sustentabilidade sócio-política e econômica do setor. Dentro desse contexto escolheu-se avaliar o setor apícola por se tratar de um setor em que existe um significativo nível de organização dos empreendimentos de economia solidária como também por representar um setor que tem apresentado nos últimos anos números expressivos de produção e comercialização de mel, principalmente no mercado internacional. Segundo Rocha (2008) de janeiro a novembro de 2007, o Brasil exportou US$ 19,1 milhões, com destaque para os estados de São Paulo (US$ 6,65 milhões), Ceará (US$ 2,68 mil), Rio Grande do Sul (US$ 2,62 milhões), Piauí (US$ 2,34 milhões), Santa Catarina (US$ 2,19 milhões), Paraná (US$ 1,32 milhões) e Rio Grande do Norte (US$ 865,55 mil). O Estado do Rio Grande do Norte com um grande potencial natural para a exploração apícola obteve o maior aumento no valor das exportações (+ 43,2 %) do período. Face ao exposto, o pesquisador pretende realizar um estudo que contribua para a reflexão acerca da obtenção de um diferencial sustentável baseado em laços solidários para as organizações apícolas do Rio Grande do Norte. 1.1 Objeto de estudo A presente pesquisa analisou as relações coletivas existentes em empreendimentos de economia solidária do setor apícola do estado do Rio Grande do Norte. Esta avaliação é realizada como um estudo de caso múltiplo em 03 empreendimentos de economia solidária, 4 pertencentes ao setor apícola do Rio Grande do Norte, conforme segue: a Cooperativa da Agricultura Familiar de Apodi (COOAFAP); a Associação dos Apicultores da Serra do Mel (APISMEL); e a Associação de Apicultores de São Rafael (AAMSR). Desta forma, esta dissertação de mestrado teve como objeto de estudo os relacionamentos cooperativos existentes em empreendimentos de economia solidária do setor apícola do Nordeste brasileiro. 1.1.1 O setor apícola e sua caracterização A apicultura é uma atividade muito antiga, pois já em 2.400 anos antes de Cristo, foi verificado que os egípcios criavam abelhas com o objetivo de obter mel. Contudo, foi na Grécia que teve origem a palavra colméia, pois os gregos colocavam os enxames em recipientes de palha trançada chamados de colmo (GONÇALVES, 2006). No Brasil teve início por volta de 1839 com abelhas vindas da Europa trazidas pelos imigrantes colonizadores. Em 1956 foram introduzidas abelhas africanas (Apis mellifera scutellata), mais produtivas, porém mais agressivas e do cruzamento destas duas espécies resulta as abelhas africanizadas, a espécie responsável pela maior parte da produção do mel brasileiro. A abelha africanizada, apesar de apresentar uma elevada produtividade, devido á sua agressividade e a deficiência dos produtores em trabalhar e conviver com elas, causou sérios problemas para os apicultores. Entretanto, com um manejo adequado e a total reformulação dos conceitos válidos para as abelhas européias, os apicultores brasileiros assimilaram que era possível uma apicultura eficiente com abelhas africanizadas (PAULA NETO; ALMEIDA NETO, 2006). A apicultura pode ser uma alternativa rentável para um grande número de pequenos agricultores, já que bem se adapta nos mais diferentes ambientes do Brasil, especialmente nos locais onde existem as maiores dificuldades para o desenvolvimento das atividades agrícolascomo o semi-árido nordestino. A importância da apicultura para os produtores rurais não se resume somente ao aspecto financeiro, uma vez que também representa outros tipos de vantagens para os apicultores, conforme mostra o Professor Warwick E. Kerr, um dos maiores estudiosos sobre abelhas do Brasil, ao afirmar que 5 A apicultura tem três lucros inevitáveis. Primeiro, o lucro ecológico porque as abelhas estão entre os insetos polinizadores mais importantes e muitas das plantas que cultivamos, principalmente as árvores frutíferas, dependem dos insetos para a sua polinização. O segundo é o econômico porque a apicultura ainda é a atividade mais lucrativa da agricultura. E o terceiro lucro é o social. A apicultura envolve toda a família, desde o pai até os netos. (SEBRAE, 2006b, p. 12) Esta nova percepção sobre a apicultura fez com que a atividade se apresente com significativo crescimento nos últimos 30 anos, baseado principalmente nas seguintes vantagens: a) a imensa quantidade e diversidade de flora apícola, base para alimentação e produção do mel; b) a condição de fixar o homem no campo por ser uma atividade de baixo custo de implantação e manutenção, rápido retorno financeiro, boa renda anual para o pequeno agricultor e pelo fato de ser uma atividade que congrega as comunidades em associações e pequenas cooperativas, favorecendo a socialização da atividade; c) a grande diversidade de produtos (mel, própolis, pólen, cera, geléia real, apitoxina), atividades remuneradas (coleta de pólen, criação de rainhas, produção de enxames e polinização dirigida de diversas culturas de interesse econômico) e serviços à natureza (preservação do meio ambiente através da polinização da flora nativa, além da própria preservação da mata nativa pelo apicultor); d) a utilização de pequenas áreas para sua implantação, não dependendo de instalações sofisticadas, nem de despesas com alimentação, vacinas e medicamentos; e) os mercados interno e externo, em plena expansão, além de preços atrativos para a comercialização; f) a expansão do mercado orgânico, encontrando um espaço para expansão no Nordeste, considerando-se as características da região; e g) a vasta extensão territorial detentora de potencial para apicultura e ainda não explorada (PAULA NETO; ALMEIDA NETO, 2006, p. 10). Mesmo com o crescimento da apicultura nos últimos anos e todas estas vantagens apresentadas, o estudo realizado por técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirma que A “cadeia” de produção do mel é simples e linear; existe enquanto seqüência do processo produtivo; mas está longe de se constituir como cadeia organizada, com presença de coordenação formal ou de mercado exercida por agentes líderes e cujas transações sejam mais contratuais que transações tipo mercado spot. No período recente, notam-se várias iniciativas de criação de cadeias de suprimento mais estruturadas, em geral por iniciativa associações e cooperativas de apicultores, ou de traders interessados em assegurar a qualidade do produto comercializado no mercado externo (BRASIL, 2007, p. 114). Esta precariedade da cadeia produtiva e a produção de mel em condições quase artesanais não impediram a expansão da produção de mel no Brasil, já que a produção de mel é uma atividade muito rentável, podendo chegar a altos índices de lucratividade, incorrendo 6 em poucos custos (MARTINS, 2005). Esta expansão acontece porque o mel é considerado o produto apícola mais fácil de ser comercializado, pois além de ser um alimento, é também utilizado em indústrias farmacêuticas e cosméticas, pelas suas conhecidas ações terapêuticas (BRASIL, 2007). Outro fator determinante para o crescimento da atividade apícola brasileira é que Os apicultores vêm se organizando em cooperativas e/ou associações, o que permite ganho de escala, intercâmbio de conhecimento e facilidade de acesso a crédito/financiamento. As associações também reforçam o poder de barganha para negociar o preço do mel e facilitam a montagem do próprio entreposto de beneficiamento e comercialização do mel, além de permitir controlar melhor a qualidade do produto, desde a padronização até a certificação feita por instituição competente e mediante registro do estabelecimento no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2007, p. 114). Dessa maneira, a atividade é formada principalmente por pequenos produtos que se agrupam através de organizações associativas. É possível afirmar que a expansão do associativismo acompanhou o crescimento no setor apícola, inclusive com a colocação do mel brasileiro no mercado internacional. Sendo constituída por pequenos produtores rurais, a apicultura caracteriza-se pelo elevado número de pequenos produtores com até 150 colméias, que utilizam mão-de-obra familiar e mantém atividades paralelas. Já o médio produtor que possui na faixa de 150 a 1500 colméias, utiliza mão-de-obra contratada permanente ou temporária, pratica uma apicultura mais especializada, embora continue tendo outras atividades paralelas. O grande produtor trabalha com um número de colméias que varia entre 1500 e no máximo 2000, já que acima deste número se perdem as eventuais vantagens da elevação de escala. Tal produtor é muito especializado, trabalha com mão de obra permanente e dedica-se a profissionalmente a atividade (BRASIL, 2007). Segundo Paula Neto e Almeida Neto (2006), devido ao crescimento apresentado pela produção apícola brasileira dos últimos anos, desta forma é pertinente afirmar que a apicultura é um negócio viável e com grande potencial de continuar crescendo, principalmente na região Nordeste. 7 1.1.2 O mel brasileiro e o mercado mundial Segundo Souza, o setor apícola do Brasil desfruta de uma situação bastante confortável, por apresentar uma apicultura livre de aplicações de produtos químicos, distribuída em todo território nacional, podendo realizar o seu processo produtivo com preços bastante competitivos. Para o autor, “O grande desafio da apicultura brasileira é assegurar aos clientes a comprovação da qualidade dos seus produtos e conseguir aumentar a produtividade de forma a baixar ainda mais os custos de produção, para se ter maior competitividade no mercado mundial”. (SOUZA, 2006, p. 01). A produção brasileira de mel natural vem apresentando um persistente crescimento. Segundo dados da Food and Agriculture Organization (FAO), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a produção aumentou no período de 1990 a 2005, saindo de uma produção de 16 mil toneladas para 25 mil toneladas em 2005, com um pico de produção no ano de 2005, que apresentou uma produção de 32 mil toneladas (BRASIL, 2007). Tabela 1-1 - Produção mundial de mel natural (mil toneladas) Fonte: FAO (BRASIL, 2007, p. 92). 8 No período de 1994 a 2005, a produção dos 15 países maiores produtores de mel cresceu 30,15%, superior ao crescimento da produção mundial total (24,2%). No mesmo período a produção brasileira apresentou um crescimento de 38,8% e estes números mostram que em 1990 o Brasil era responsável por 1,7% da produção mundial de mel natural. Em 2004 este percentual aumentou para 2,32% e em 2005 a produção sofreu uma redução para 25 mil toneladas, o que representa um percentual de 1,81% de todo mel produzido no mundo. Este crescimento da produção tem refletido no crescimento das exportações do mel brasileiro que saiu de 0,3 mil toneladas em 2000 para 6,0 mil toneladas em 2005, com um pico de 21 mil toneladas no ano de 2004, conforme a tabela 1-2. Nesta evolução das exportações o Brasil galgou várias posições no ranking dos exportadores mundial de mel, chegando a ocupar a posição de sétimo exportador mundial de mel, no ano de 2003. Neste mercado mundial identificam-se dois grandes importadores, Alemanha e EstadosUnidos, e dois grandes exportadores, China e Argentina. A Alemanha ocupa um lugar de destaque no mercado mundial, com 23,3% das importações mundiais em 2005 (tabela 1-2) é o terceiro maior exportador, respondendo por 12,5% exportações mundiais. Tabela 1-2 - Exportações mundiais de mel natural (mil toneladas). Fonte: (BRASIL, 2007, p. 94). Tabela 1-3 - Importações mundiais de mel natural Fonte: (BRASIL, 2007, p. 95). Estes números mostram que [...] a cadeia do mel alemão agrega valor ao produto importado e que a entre o preço médio de aquisição de mel natural (US$ 2,591 por unidade) e o valor de venda (US$ 3,969 por unidade) é elevada (53,2% em 2005), indicando que a reexportação é aparentemente um negócio muito lucrativo para os participantes da cadeia A reexportação de mel é praticada também por outros países, mas em quantidades menores e este é um exemplo a ser seguido por outros países, inclusive o Brasil, com o objetivo de procurar remunerar melhor os produtores. Os dados apresentados sobre o mercado mundial também permitem observar os preços médios das exportações de mel “in natura” por país durante o período de 1996 a 2006 demonstrando que os preços do produto no mercado internacional vêm apresentando grandes oscilações. Da mesma forma, o mel brasileiro apresenta o mesmo comportamento do mercado internacional com oscilações positivas de até 103,1% entre os anos de 1998 e 1999 ou negativas de até 440% entre os anos de 1999 e 2000. 9 Importações mundiais de mel natural (mil toneladas). Estes números mostram que [...] a cadeia do mel alemão agrega valor ao produto importado e que a entre o preço médio de aquisição de mel natural (US$ 2,591 por unidade) e o valor de venda (US$ 3,969 por unidade) é elevada (53,2% em 2005), indicando que a reexportação é aparentemente um negócio muito lucrativo para os participantes da cadeia do mel na Alemanha. (BRASIL, 2007) A reexportação de mel é praticada também por outros países, mas em quantidades menores e este é um exemplo a ser seguido por outros países, inclusive o Brasil, com o objetivo de procurar remunerar melhor os produtores. Os dados apresentados sobre o mercado mundial também permitem observar os preços médios das exportações de mel “in natura” por país durante o período de 1996 a 2006 demonstrando que os preços do produto no mercado internacional vêm apresentando grandes cilações. Da mesma forma, o mel brasileiro apresenta o mesmo comportamento do mercado internacional com oscilações positivas de até 103,1% entre os anos de 1998 e 1999 ou negativas de até 440% entre os anos de 1999 e 2000. [...] a cadeia do mel alemão agrega valor ao produto importado e que a diferença entre o preço médio de aquisição de mel natural (US$ 2,591 por unidade) e o valor de venda (US$ 3,969 por unidade) é elevada (53,2% em 2005), indicando que a reexportação é aparentemente um negócio muito lucrativo para os participantes da A reexportação de mel é praticada também por outros países, mas em quantidades menores e este é um exemplo a ser seguido por outros países, inclusive o Brasil, com o Os dados apresentados sobre o mercado mundial também permitem observar os preços médios das exportações de mel “in natura” por país durante o período de 1996 a 2006 demonstrando que os preços do produto no mercado internacional vêm apresentando grandes cilações. Da mesma forma, o mel brasileiro apresenta o mesmo comportamento do mercado internacional com oscilações positivas de até 103,1% entre os anos de 1998 e 1999 ou 10 Tabela 1-4 - Preço médio das exportações de mel natural (US$/Kg). Fonte: (BRASIL, 2007, p. 94). Outra peça importante no mercado mundial de mel natural na atualidade é a China. Durante o período de 1996 e 2006, o preço do mel sofreu grandes variações que demonstram esta importância para o mercado. Neste período o fato que causou maior impacto foi a volta da China ao mercado vendendo mel a granel a preços inferiores aos praticados pelos concorrentes. Como mostram os dados da tabela 1-4, o preço médio mundial em 2003 atingiu o patamar de US$ 2,386 por Kg., seu maior valor, porém em 2005 com a volta da China ao mercado o preço despenca para US$ 1,7 (BRASIL, 2007). 1.1.3 A apicultura do Nordeste Os dados da tabela 1-5 permitem observar a produção de mel em todas as regiões do Brasil, destacando que a produção de mel no Brasil vem em crescente evolução, saindo de 19 mil toneladas em 1999 para 33 mil toneladas e este crescimento é reproduzido em todas as regiões. Tabela 1-5 - Produção de mel natural brasileira (toneladas) Fonte: IBGE (apud BRASIL, A partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) discutir que: Embora todas as regiões tenham se beneficiado do boom exportador, a expansão da produção foi particularmente notável no Nordeste e no Sul [...]. No período de 1999 e 200 somente da região Sul, que atingiu em 2005 uma produção de 15,8 toneladas [...]. Entre 2002 e 2005, a participação do nordeste na produção nacional de mel quase dobrou, passando de Segundo Paula Neto e Almeida Neto (2006, p. 24) “estima apicultores, em média 2,5 pessoas se envolvem na atividade, demonstrando que a apicultura é eminentemente de caráter familiar”. Essa visão da apicultura nordestina é compart Brasil (2007, p. 101) ao afirmar que “a apicultura nordestina caracteriza 11 mil toneladas em 1999 para 33 mil toneladas e este crescimento é reproduzido em todas as Produção de mel natural brasileira (toneladas) BRASIL, 2007) ados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Embora todas as regiões tenham se beneficiado do boom exportador, a expansão da produção foi particularmente notável no Nordeste e no Sul [...]. No período de 1999 e 2005, a produção nordestina cresceu 290%, alcançando 10,9 mil toneladas, atrás somente da região Sul, que atingiu em 2005 uma produção de 15,8 toneladas [...]. Entre 2002 e 2005, a participação do nordeste na produção nacional de mel quase dobrou, passando de 17% para 32% (BRASIL, 2007, p. 99). Segundo Paula Neto e Almeida Neto (2006, p. 24) “estima-se que, em cada família de apicultores, em média 2,5 pessoas se envolvem na atividade, demonstrando que a apicultura é eminentemente de caráter familiar”. Essa visão da apicultura nordestina é compart Brasil (2007, p. 101) ao afirmar que “a apicultura nordestina caracteriza mil toneladas em 1999 para 33 mil toneladas e este crescimento é reproduzido em todas as ados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pode-se Embora todas as regiões tenham se beneficiado do boom exportador, a expansão da produção foi particularmente notável no Nordeste e no Sul [...]. No período de 1999 5, a produção nordestina cresceu 290%, alcançando 10,9 mil toneladas, atrás somente da região Sul, que atingiu em 2005 uma produção de 15,8 toneladas [...]. Entre 2002 e 2005, a participação do nordeste na produção nacional de mel quase p. 99). se que, em cada família de apicultores, em média 2,5 pessoas se envolvem na atividade, demonstrando que a apicultura é eminentemente de caráter familiar”. Essa visão da apicultura nordestina é compartilhada por Brasil (2007, p. 101) ao afirmar que “a apicultura nordestina caracteriza-se pela presença de 12 muitos produtores, com até 150 colméias, que utilizam mão-de-obra familiar em um processo semi-extrativo”. Quanto à produtividade das colméias dos apicultores nordestinos Paula Neto e Almeida Neto (2006) afirmam que para a apicultura migratória1 fica em torno de 45 kg/colméia/ano e para as colméias fixas é de 25 kg/colméia/ano. Estes números ficam acima da média nacional apresentada pelo SEBRAE no documento Informações de Mercado sobre Mel e Derivados da Colméia (2005) conforme mostra a tabela 06. Tabela 1-6 - Comparativode produtividade de mel. Produtividade média anual Brasil EUA México Argentina China Kg/Colméia/Ano 15 32 31 30 a 35 50 a 100 Fonte: (SEBRAE, 2005). Em relação à organização dos apicultores, convém ressaltar que, nos últimos anos, foi criado um grande número de associações e cooperativas de apicultores, entretanto para Paula Neto e Almeida Neto (2006) a maior parte delas não foi criada por vontade expressa dos produtores, mas por exigência dos programas de fomento à atividade. Segundo os autores o aval solidário pode ser utilizado como facilitador para obtenção de crédito visto que A maior parte dos produtores necessita de um empréstimo e não possui bens para oferecer garantia real, restando como saída formar pequenos grupos e solicitar o aval solidário, como forma de se enquadrar nas condições para obter financiamento (PAULA NETO; ALMEIDA NETO, 2006, p. 25). Um dos problemas que a produção de mel no nordeste apresenta é “desorganização dos apicultores e a pequena quantidade de mel entregue a associações e cooperativas, refletindo no menor poder de barganha” (BRASIL, 2006, p. 27). De forma geral, a apicultura no nordeste ainda apresenta muitos problemas, mas tem potencial de crescimento já que mesmo com pouca tecnologia, tem uma produtividade superior a da média nacional e apresenta condições extremamente favoráveis para a criação de abelhas, dispondo de clima adequado, floradas nativas com grande potencial para a produção de mel, abelhas adaptadas às nossas condições, tolerantes às principais doenças apícolas e altamente produtivas. Essas condições permitem a pratica de uma apicultura sem a aplicação 1 A apicultura migratória ou móvel é fundamentada na mudança de conjuntos de colméias (apiários) de uma região para outra acompanhando as floradas com vistas à produção de mel e para a prestação de serviços de polinização. 13 de medicamentos veterinários e em áreas livres de agrotóxicos, nessas condições permitem a prática de uma produção orgânica. 1.2 Objetivos Esta pesquisa pretende descrever os relacionamentos horizontais e verticais dentro de empreendimentos de economia solidária no setor apícola do Rio Grande do Norte procurando a consecução dos objetivos a seguir. 1.2.1 Objetivo Geral Determinar como as ações coletivas de cooperação influenciam na sustentabilidade sócio-política e econômica de empreendimentos de economia solidária. 1.2.2 Objetivos Específicos - Identificar, no relacionamento vertical, o nível de cooperação existente entre os apicultores associados aos empreendimentos de economia solidária; - Avaliar, no relacionamento horizontal, o nível de relações cooperativas existente entre os apicultores e a sua organização associativa; - Verificar a influência destas ações de cooperação na sustentabilidade dos EES. 1.3 Relevância da pesquisa 14 A economia solidária e o terceiro setor despontam como áreas de grande interesse para a academia, onde existe a necessidade de um aprofundamento nos seus conhecimentos, por se tratar de área em que os estudos são consideravelmente recentes e, portanto são confundidas com freqüência. Embora haja pontos de convergência nos discursos da economia solidária e do chamado “terceiro setor”, notadamente a ênfase nas práticas autônomas da sociedade civil, ainda persistem divergências fundamentais. O terceiro setor, definido como “setor privado, porém com fins públicos” (Fernandes, 1994), afirma-se como não- governamental e não-lucrativo (para se distinguir tanto das empresas capitalistas quanto do Estado). Mas a economia solidária se reconhece como setor econômico, portanto formado por empresas – empresas onde a dimensão social importa tanto quanto a dimensão econômica, empresas orientadas por valores distintos do capitalismo, mas ainda assim empresas (CUNHA, 2003, p. 64). Mesmo com orientações não capitalistas, onde o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito são organizados e realizados solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária (BRASIL, 2006). A valorização da dimensão econômica torna necessária a adoção de novas formas de atuação gerencial; novas formas de organização interna e novas parcerias para minimizar as dificuldades de gestão e comercialização. O Atlas da Economia Solidária no Brasil (2006) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostra que 61% dos Empreendimentos Econômicos Solidários enfrentam dificuldades, principalmente, na comercialização de produtos o que justifica a realização de estudos que procurem compreender sua forma de dar sustentabilidade as suas ações coletivas. Segundo Amato Neto et al. (2008, p.124) A busca por novas áreas e métodos de atuação da engenharia de produção (EP) que se ampliem para além da interdisciplinaridade, e que possa aliar o conhecimento gerado pela especialidade ao desenvolvimento social durável e solidário está se solidificando, tornando-se um campo de possibilidades, revelando as diversas aspirações e limites desta área de conhecimento. Desta forma, a engenharia de produção pode dar uma contribuição significativa com a economia solidária, se se dispuser a discutir as formas de produção coletiva, aprofundando-se sobre suas dificuldades e buscando soluções de gestão e produção que lhes permitam dar respostas efetivas aos seus principais problemas. Assim, torna-se possível a engenharia de produção lançar os pilares de uma nova forma de atuação, onde seu principal papel será desenvolver métodos e técnicas capazes de promover a eficiência e, por conseguinte um diferencial que proporcione sustentabilidade sócio-política e econômica. Este diferencial 15 representa a capacidade de ajustar as suas atividades para atuar de forma diferenciada e dinamizar o desenvolvimento local através de “combinações e articulações difíceis entre as lógicas do econômico, do social, do cultural e do político” (DEMOUSTIER, 2006, p. 157). Com base nessa realidade e com o apoio da literatura específica sobre o relacionamento colaborativo em canais de distribuição, pretende-se analisar como o gerenciamento das ações coletivas pode contribuir para a melhoria da sustentabilidade dos EES do setor apícolas do Rio Grande do Norte, com o foco nos seguintes pontos: (1) a cooperação existente entre os produtores com o objetivo de alcançar benefícios mútuos; (2) os mecanismos de coordenação utilizados pelo EES para sustentar suas ações coletivas e (3) como as ações colaborativas influenciam a sua sustentabilidade sócio-política e econômica. 1.4 Estrutura da dissertação Essa dissertação está estruturada em 05 capítulos conforme segue. Neste primeiro capítulo foi realizada a introdução do assunto de pesquisa, o objeto de estudo, os objetivos do estudo, sua relevância e estrutura. O segundo capítulo trata da pesquisa bibliográfica e aborda assuntos relevantes para o entendimento do tema pesquisado. Estes estudos serviram de base para a análise dos casos em questão e foram divididos em três partes: Economia solidária, seus conceitos e características; uma visão sistêmica de cadeia produtiva e seus relacionamentos e finalizando sustentabilidade de empreendimentos de economia solidária. O terceiro capítulo descreve a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, englobando a tipologia de pesquisa, a delimitação do escopo, hipótese de pesquisa, definição do problema, população alvo, instrumentos de coleta de dados utilizadas no estudo e o tratamento e análise dos dados. O quarto capítulo descreve os resultados da pesquisa à luz das teorias apresentadas na pesquisa bibliográfica. Para cada caso estudado, são feitas análises do perfil do seu corpo associativo, das características do seu processo de produçãoe comercialização, dos níveis de relacionamento vertical e horizontal e da sua sustentabilidade sócio-política e econômica. No quinto capítulo é realizado um estudo analítico e comparativo entre os empreendimentos de economia solidária estudados e por fim, o sexto capítulo apresenta as 16 conclusões quanto aos objetivos e hipóteses da pesquisa e as recomendações alinhadas com as limitações encontradas do desenvolvimento do estudo. 17 Capítulo 2 Da economia solidária aos relacionamentos colaborativos Este capítulo apresenta a pesquisa bibliográfica acerca dos conceitos e características da economia solidária; uma visão sistêmica sobre cadeia produtiva; os canais de distribuição e seus relacionamentos e a sustentabilidade de empreendimentos de economia solidária, conforme segue: 2.1 Economia solidária – conceitos e características Várias são as maneiras de conceituar a forma de organização solidária das atividades econômicas pelo mundo. Na França recebe o nome de “économie sociale” (CHANIAL; LAVILLE, 2004). Este termo abrange diversas realidades e é constituído de organismos produtores resultantes da livre vontade dos participantes e onde o poder não tem origem na detenção do capital. Nos Estados Unidos adotam-se os termos non-profit sector ou independent sector, que correspondem à expressão voluntary organizations utilizada na Inglaterra. Organizaciones de economía popular é muito utilizada na América Latina para indicar o que, no Brasil, identificam-se como empreendimentos de economia solidária. No Brasil, não existe um conceito de economia solidária que prevaleça entre os estudiosos e cada pesquisador procura apresentar o que melhor se adequa à sua linha de raciocínio. Para um melhor entendimento, esse arcabouço teórico da caracterização da economia solidária resgata os conceitos abaixo que estão apresentados dentro de uma ordem cronológica dos trabalhos mais antigos para os mais atuais. 18 Os conceitos mais antigos colocam a economia solidária como um evento um pouco distante da realidade, com uma formulação mais teórica que prática e é dessa forma que para Razeto (1993 apud RAUEN, 2003, p. 07) a economia solidária define-se como Uma formulação teórica de nível cientifico, elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas [...] que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas. Em 1994, Laville caracteriza a economia solidária como sendo Um conjunto de atividades econômicas cuja lógica é distinta tanto da lógica do mercado capitalista quanto da lógica do Estado. Ao contrário da economia capitalista, centrada sobre o capital a ser acumulado e que funciona a partir de relações competitivas cujo objetivo é o alcance de interesses individuais, a economia solidária organiza-se a partir de fatores humanos, favorecendo as relações onde o laço social é valorizado através da reciprocidade e adota formas comunitárias de propriedade. (LAVILLE apud LECHAT, 2002, p. 05) Nesse sentido, “os agentes de uma economia cooperativada garantem a sua existência através da prática da cooperação (ABDALLA, 2002, p. 100), o que representa novos parâmetros de avaliação da sustentabilidade, já pressupõe práticas participativas e de co- responsabilidade. Já para Archimbaud (2000 apud RAUEN, 2003, p. 07), a economia solidária diz respeito à Iniciativas cuja finalidade primeira é o interesse coletivo e não lucrativo. O dinheiro como meio e não como fim, eis o que inscreve a economia solidária dentro da tradição mais antiga da economia social, ou seja, a tradição das cooperativas, dos montepios ou associações. Com base no exposto, é possível situar a economia solidária como o conjunto de atividades econômicas centrado no interesse coletivo e/ou associativo, ou seja, no interesse não competitivo. Dessa maneira o Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul durante o Encontro Latino de Cultura e Socioeconomia Solidárias, apresenta os seguintes elementos para conceituar a economia solidária: a) em suas mais diversas formas, a economia solidária é um modo de viver que abarca a integralidade do ser humano, procura atender a pessoa humana em todas as suas dimensões (econômica, social, política, cultural, psicológica, espiritual etc.) bem como a todas as categorias de pessoas, de grupos e entidades. 19 b) Ela designa a subordinação da economia à sua finalidade, que é prover, de maneira sustentável, as bases materiais para o desenvolvimento pessoal, social e ambiental do ser humano. c) Seu valor central é o trabalho humano, não o capital e sua propriedade. Acolhendo e integrando de uma só vez cada pessoa e toda a coletividade, a socioeconomia resgata a dimensão humana e social que tem pouca ou nenhuma importância na economia centrada no capital e no Estado. d) O seu referencial é cada sujeito e, ao mesmo tempo, toda a sociedade, concebida também como sujeito. Por isso, a eficiência econômica não se deixa limitar pelos benefícios materiais de um empreendimento, mas se define em função da qualidade de vida e da felicidade de seus membros, ao mesmo tempo, de todo o ecosistema. (SCHNEIDER, 2003, p. 151) Esta base conceitual propõe a institucionalização de um coletivo de idéias e práticas baseadas no contexto da totalidade social, que pressupõe valores de igualdade e cidadania. Paul Singer (2002) esclarece que a economia solidária não é uma idéia nova ao afirmar que A economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego resultante da difusão “desregulamentada” (grifo do autor) das máquinas-ferramenta e do motor a vapor no início do século XIX. (SINGER, 2002c, p. 83) E conceitua a economia solidária como [...] um modo de organizar atividades econômicas de produção, consumo e poupança/crédito que almeja completar as igualdades de direitos entre os que se engajam nestas atividades. Empreendimentos solidários são auto-gestionários, o que significa que neles todas as decisões são tomadas pelos membros ou por pessoas eleitas que os representam. A economia solidária é essencialmente associativa, ou seja, todos são sócios, sendo incompatível com relações assimétricas, como as que se desenvolvem entre patrões e empregados. (SINGER, 2002b) Procurando evidenciar uma diferenciação entre o modo de produção capitalista e os modos produtivos solidários, Singer (2002a, p. 10) apresenta a economia solidária como “outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual” e demonstra a diferença entre os empreendimentos econômicos tradicionais e os empreendimentos de economia solidária. A empresa solidária nega a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, que é reconhecidamente a base do capitalismo. A empresa capitalista pertence aos investidores, aos que fornecem o dinheiro para adquirir os meios de produção, e é por isso que sua única finalidade é dar lucro a eles, o maior lucro possível em relação ao capital investido. (SINGER, 2002a, p. 10) O autor acrescenta que, 20 O capital da empresa solidária é possuído pelos que nele trabalham e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque os que trabalham são proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem na empresa. E a propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores, para que todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela. (SINGER, 2002b, p. 83). Barreto (2003, p. 287) trata da economia solidária como umanova abordagem da economia que “(...) recolocando o ser humano no centro da vida econômica, procura conciliar produção e circulação de riqueza com emancipação humana em direção a uma sociedade mais justa e igualitária.” Esta afirmativa traz como diferencial a colocação do trabalho associativo e/ou coletivo como o caminho para a emancipação do ser humano. Arruda (2003, p.237) a denomina de socioeconomia solidária e afirma que a mesma é [...] um sistema aberto, fundado nos valores da cooperação, da partilha, da reciprocidade e da solidariedade, e organizado de forma autogestionária (...) com o fim de emancipar sua (do trabalhador) capacidade cognitiva e criativa e libertar seu tempo de trabalho. Segundo França Filho e Laville (2004, p. 149), o termo economia solidária serve de abrigo para um grande número de atividades econômicas de cunho democrático e social desenvolvidas para superar, na maioria das vezes, problemas locais. No Brasil, o termo economia solidária tem servido para identificação de diferentes iniciativas de grupos sociais (e de base popular, na maioria dos casos) que se organizam sob o princípio da solidariedade e da democracia para enfrentar suas problemáticas locais através da elaboração de atividades econômicas. (FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004, p. 149) Para Bertucci (2005) a economia solidária pode ser vista sob a ótica de Uma proposta de organização da produção alternativa ao modo de produção capitalista. Formada por diversas unidades que desenvolvem atividades econômicas e criam redes em expansão, é constituída, segundo Singer, por empreendimentos formais e informais, caracterizados pela autogestão e pela socialização dos meios de produção e distribuição. Sua unidade básica são cooperativas de produção, consumo, comercialização, crédito, etc., onde não há separação entre capital e trabalho, sendo que tais empreendimentos se diferenciam tanto na sua forma de organização interna quanto no seu modo de articulação com a sociedade, ou com a comunidade em que atuam (BERTUCCI, 2005, p. 40). Em 2006, demonstrando que ainda existe indefinição sobre a forma de caracterizar os empreendimentos de economia solidária no Brasil, Arroyo e Schuch (2006, p. 63), utilizando o termo economia popular e solidária, mostram que 21 [...] é a economia que se estabelece a partir da associação, da cooperação, da comunhão, tanto entre indivíduos para a constituição de empreendimentos coletivos como entre empreendimentos para obter saltos de competitividade, em estruturas em rede que também podem ser compreendidas como empreendimentos coletivos (grifo do autor) Já o Atlas da Economia no Brasil (BRASIL, 2006), realizado por técnicos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), apresenta o seguinte conceito: a economia solidária é compreendida como o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária. Esta é a definição mais comumente adotada nos trabalhos científicos na atualidade e adotada pela maioria dos setores da Administração Pública Federal. Face ao exposto pode-se constatar que os entendimentos são extremamente variados e como mostra Lechat (2002, p. 08), “o que hoje é denominado de economia solidária ficou por décadas imerso, e ainda o é em muitos casos, no que a literatura científica chama de autogestão, cooperativismo, economia informal ou economia popular”. O que fica claro é que já existe um novo ordenamento de idéias e conceitos que nos leva a acreditar que no futuro a caracterização da economia solidária será mais uniforme. Segundo Gaiger (2004), dentro desta nova concepção de economia, os empreendimentos associativos estimulam a disseminação de experiências norteadas por diretrizes básicas como: a) Autogestão: no sentido de que o controle da gestão do empreendimento seja exercido efetivamente pelo conjunto dos associados, sobretudo com autonomia em relação a agentes externos [...] b) Democracia direta: um processo que deverá ser permanentemente aperfeiçoado e que compreende a livre escolha de dirigentes, renovação e alternância dos quadros diretivos e a existência de instâncias para a tomada de decisões fundamentais pelo conjunto dos associados, com garantia de transparência no exercício da gestão. [...] c) Participação efetiva: que deve ser aferida através de um indicador do comparecimento dos associados a instância de consulta e de decisão, reuniões, assembléias e outras consideradas importantes para a organização e funcionamento do empreendimento. d) Ações de cunho educativo: que incluam conteúdos de formação política, tendo por perspectiva a construção de uma ordem social oposta a do capital, combinada à aquisição competências para a autogestão solidária e de capacitação técnica e artística para o desenvolvimento de atividades produtivas e culturais. [...] e) Cooperação no trabalho: que corresponde a práticas (execução) de trabalho precedidas da articulação entre concepção e planejamento, a serem desenvolvidas num ambiente de confiança e de reciprocidade mútuas combinadas a relações de gratuidade e de aprendizado mútuo. 22 f) Distribuição igualitária dos resultados e benefícios: que pressupõe a definição democrática da distribuição da produção e da renda gerada, incluindo-se a destinação e a partilha do excedente (sobras líquidas) e a busca de benefícios sociais para todos os produtores livremente associados. (grifos do autor) (GAIGER, 2004, p. 340-341) Além dos princípios apresentados acima, convém observar que Demoustier (2006, p. 135) afirma que as “empresas associativas” têm as suas missões públicas que são determinadas segundo os seguintes aspectos: - ênfase na cidadania e no vínculo social para sustentar a democracia, a integração e a paz social, privilegiando então o papel não mercantil das associações; - mobilização sobre a luta contra as exclusões que depende o reconhecimento de “empresas sociais” que acolhem as populações mais marginalizadas; - encorajamento à iniciativa local para renovar o tecido produtivo e ajudar a criação de atividades, com base em “dinâmicas solidárias”; - apoio à participação da economia social e solidária no desenvolvimento socioeconômico regional; - utilização das empresas cooperativas e mutualistas, de economia social, para conservar um setor financeiro nacional, capaz de financiar especialmente a inovação socioeconômica, o desenvolvimento local e as PME, no quadro da concorrência, da instabilidade e da concentração internacionais, e um setor mutualista suscetível de completar a solidariedade social obrigatória. Diante dessas considerações fica evidenciado que a sustentabilidade de empreendimento de economia solidária apresenta um nível de complexidade maior que o apresentado nas empresas capitalistas. Esta visão é compartilha por Kraychete (2006, p. 08) ao afirmar que “parece evidente a necessidade de se pensar as condições necessárias à sustentabilidade dos empreendimentos da economia solidária de forma adequada, posto que a lógica destes empreendimentos é mais complexa do que a busca do lucro”. Isso indica que o EES deve procurar desenvolver suas atividades em busca de geração de emprego e renda através da coexistência de lógicas funcional, econômica e social, sem perder de vista o principal objetivo de alterar o quadro de desigualdades sociais pela construção de uma cidadania produtiva. 2.2 Cadeia produtiva – uma visão sistêmica Um dos conceitos importantes para o desenvolvimento desta pesquisa é o de cadeia produtiva, pois é baseado nas variáveis do relacionamento colaborativo em canais de 23 distribuição que fazem parte de cadeias produtiva que é avaliado o relacionamento nos EES. Nesse contexto é necessária uma rápida incursão sobre o conceito de cadeias produtivas
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