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ASSOCIATIVISMO RURAL E ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO (Roteiro para Discussão) Este roteiro é formado por cinco seções: 1) Grupo Social; 2) Formas de Associativismo; 3) Conceitos de Participação (3.1 Tipos Básicos de Estratégias e Concepções de Participação, 3.2 Conceito de Intervenção, 3.3 Significados do Termo Participação e 3.4 Graus e Níveis de Participação); 4) Contexto da Participação (4.1 Associativismo e Estrutura Social e 4.2 Associativismo e Estratégia de Mudança); 5) Estratégias de Intervenção (5.1 Fundamentos Teóricos, 5.2 Nova Abordagem Cooperativa, 5.3 Educação Participativa e 5.4 Planejamento Participativo). 1. GRUPO SOCIAL Associativismo está relacionado à noção de atividade humana desenvolvida em grupo. Assim, inicialmente, vamos rever o que significa grupo social. Grupo social pode ser entendido como uma coletividade de indivíduos ligados entre si por uma rede ou sistema de relações sociais. Os membros de um grupo interagem uns com os outros de forma mais ou menos padronizadas, isto é, de acordo com normas e padrões de comportamento “aceitos” ou “impostos” pelo grupo. O relacionamento ou interação dos membros de um grupo fundamenta-se num conjunto de papéis e status inter-relacionados que definem direitos e obrigações dos membros. De modo geral, os membros de um grupo possuem um sentimento de identidade comum ou uma similitude de interesses o que os capacita distinguir os membros dos não membros (Bertrand, 1973: 30). Tais colocações nos ajudam a compreender o que significa grupo social. Todavia, elas não significam a impossibilidade de existir dominação, manipulação, subserviência e conflitos entre membros do grupo. Questão: Você poderia dar exemplos de situações dessa natureza? Na identificação de um grupo social deve-se buscar três características fundamentais: a) precisa haver uma pluralidade de pessoas; b) precisa haver uma interação definível e dirigida para a realização de objetivos comuns; c) os membros precisam possuir um senso de solidariedade ou o que poderia ser chamado de sentimento de nós, sentimento de pertencer ao grupo. Os conjuntos humanos que não possuem estas características (por exemplo, “mulheres assalariadas”, “estudantes com média nove”) são considerados categorias ou agregados estatísticos. Não se deve pensar que tais categorias sejam sociologicamente irrelevantes. Elas podem ter enorme importância mas não entram na classificação de grupo social (Bertrand, 1973; 31). Edgard Alencar Universidade Federal de Lavras Departamento de Administração e Economia 1997 2 Questões: a) O que significam as expressões “pluralidade de pessoas”, “interação definível”, “realização de objetivos comuns” e “senso de solidariedade” ou “sentimento de pertencer ao grupo”? b) Você conhece algum método utilizado para identificação de grupos sociais? Você poderia descrevê-lo? Geralmente, os grupos sociais são classificados da seguinte forma: grupo primário e grupo secundário; grupo formal e grupo informal; grupo de localidade; grupo de interesse. Grupo primário - neste tipo de grupo, os membros relacionam- se por meio de contatos (interação) face a face como, por exemplo família e grupo de amizade. Grupo secundário - a interação entre os seus membros realiza-se por meio de “atividade participante” que, representando interesses específicos, os une mas não requer contatos pessoais próximos entre eles; por exemplo, sindicatos e associações profissionais. Questões: a) E o que mais? b) O que você entende por “atividade participante”? c) Você poderia dar um exemplo de atividade participante? Grupo formal - este tipo de grupo é sistematicamente constituído para desempenhar certas funções e opera em conformidade com certas regras de procedimentos previamente estabelecidas, denominadas regimentos, estatutos, etc. De modo geral, os grupos formais são chamados de organizações. Grupo informal - é o grupo onde a interação de seus membros não é regulada por regras preestabelecidas estatutariamente. De modo geral, tal interação é regulada pela tradição ou convívio. Questão: O que distingui um grupo secundário de um grupo formal e um grupo primário de um grupo informal? Grupo de localidade - este tipo de grupo é modelado por relações dependentes, em grande parte, da situação geográfica, isto é, localização e residência. As populações que vivem em comunidades, vizinhanças e regiões fornecem exemplos de grupos de localidade. Grupo de interesse - é o grupo que possui um objetivo comum como força unificadora central (Bertrand, 1973: 31-32). Geralmente, os grupos de interesses são constituídos para aumentar o poder de pressão, barganha, reivindicação ou negociação dos seus membros frente a outros grupos de interesse. Questões: a) Você poderia dar exemplos de diferentes grupos sociais dos quais você participa e classificá-los de acordo com os diferentes tipos de grupos sociais? b)Tomando como referência o setor rural, você poderia dar um exemplo de um grupo que seja, ao mesmo tempo, informal, de localidade e de interesse? Um grupo que seja ao mesmo tempo formal, de localidade e interesse? c) Dentro de um grupo formal pode existir grupos informais? d) Dentro de um grupo pode existir dominação, manipulação, subserviência e conflito entre seus membros? Você poderia ilustrar uma destas situações? c) Os grupos sociais estão inseridos em uma sociedade. Você poderia dar exemplos de possíveis influências que a sociedade exerce sobre os grupos sociais? 3 2. FORMAS DE ASSOCIATIVISMO Como as associações são grupos sociais, o associativismo também pode ser de natureza informal ou formal. Associativismo informal representa formas espontâneas de ajuda mútua, de modo geral desenvolvidas entre membros de uma comunidade. Historicamente, uma das manifestações de associativismo informal mais comum no Brasil agrário é o mutirão. Cândido (1971) insere a prática do mutirão como um trabalho coletivo da comunidade rural ou, usando a denominação da área que estudou, do bairro rural1. Segundo esse autor, mutirão “consiste, essencialmente, na reunião de vizinhos, convocados por um deles, a fim de ajudá-lo a efetuar determinado trabalho: derrubada, roçada, plantio, limpa, colheita, malhação, construção de casa, fiação, etc.” (Cândido, 1971: 68) (Boxe 1). A idéia de solidariedade, ajuda mútua contida no mutirão, levou alguns teóricos do trabalho comunitário no Brasil a acreditarem que existia uma tendência natural entre os camponeses para a exploração coletiva da terra. No entanto, as experiências demonstraram que tal suposição não era totalmente correta. A solidariedade entre os camponeses realmente existe, tendo em vista as limitações de mão-de-obra familiar, principalmente durante os períodos de “pico” das atividades agrícolas. Mas, esta forma de ajuda mútua não interferia no destino que as famílias beneficiadas davam à produção que obtinham. Este destino da cultura camponesa era uma decisão da família. Em decorrência, as tentativas de exploração coletiva da terra encontravam resistência por parte dos pequenos agricultores2. Interpretar as práticas de ajuda mútua existentes entre os camponeses como um fator que predispõe à exploração coletiva da terra fascinou muita gente e esteve presente em muitas estratégias de intervenção na realidade rural, em diferentes partes do mundo e em distintas épocas. Na Europa, durante a primeira revolução industrial, as idéias de exploração coletiva da terra e a organização coletiva da produção e serviços, inspiradas na solidariedade comunal, foram vistas como formas alternativas ao “capitalismo desumano e opressor”3. Em períodos mais recentes, as formas de solidariedade comunal fundamentaram, ideologicamente, estratégias de desenvolvimento de governos nacionalistas na América Latina e na África4. Também inspiraram formas organizacionais de exploração coletiva, que eram percebidas como meios que conduziriam à coletivização da terra5. Boxe 1 “As várias atividades da lavoura e da indústria doméstica constituem oportunidades de mutirão, que soluciona o problemada mão-de-obra nos grupos de vizinhança (por vezes entre fazendeiros), suprimindo as limitações da atividade individual ou familiar. E o aspecto festivo, de que se reveste, constitui uns dos pontos importantes da vida cultural do caipira. (...) Geralmente os vizinhos são convocados e o beneficiário lhes oferece alimento e uma festa, que encerra o trabalho. Mas não há remuneração de espécie alguma, a não ser a obrigação moral em que fica o beneficiário de corresponder aos chamados eventuais dos que o auxiliam. Este chamado não falta, porque é praticamente impossível a um lavrador, que só dispõe de mão-de-obra doméstica, dar conta do ano agrícola sem cooperação vicinal” (Cândido, 1971: 67-68). 4 Autores como Kitching (1989), Brown (1994) e Sardan (1990) identificam estratégias de desenvolvimento rural, fundamentadas na solidariedade comunal, como populistas. Kitching (1989) caracteriza como “populistas” as correntes de pensamento que, a partir do século XIX, têm se oposto à produção em grande escala e concentrada, defendendo, em contrapartida, modelos alternativos de desenvolvimento, fundamentados na pequena produção e empreendimentos individuais, tanto na indústria quanto na agricultura. Segundo esse autor, existe um ponto comum entre as idéias populistas do início da revolução industrial e as idéias populistas contidas atualmente (“neopopulismo”) em alguns modelos de desenvolvimento para o terceiro mundo: as situações econômicas e sociais da industrialização. Nos dois casos, a industrialização se dá em um contexto onde a maior parte da produção agrícola é realizada em núcleos familiares, utilizando “meios de produção” (terra e tecnologia simples) próprios ou arrendados. Convencionalmente, esses pequenos produtores agrícolas são conhecidos como “camponeses” e os produtores não agrícolas como “artesãos”. Considerando o mundo pré-industrial dos camponeses e artesãos, é óbvio que a primeira geração de trabalhadores assalariados seria recrutada entre eles. Transformando-se em trabalhadores assalariados (processo de proletarização), os artesãos e camponeses experimentaram um processo de exploração e duras condições de vida. Surge, assim, uma oposição à industrialização, expressa no desejo de se defender e recriar o mundo de pequenos empreendimentos. Além do mais, estando as indústrias concentradas nas cidades e estando o processo de proletarização associado à migração, a ideologia antiindustrialização passou a olhar, com nostalgia, a vida comunitária das vilas rurais de então, tornando-se também antiurbana. Assim, surge, na Europa, durante o século XIX, um movimento intelectual de oposição à industrialização capitalista, o qual questionava se o custo humano dessa industrialização seria aceitável frente aos benefícios econômicos que ela poderia trazer. O neopopulismo surgiu na Rússia e no leste europeu depois da Primeira Guerra Mundial. Ele se opõe tanto aos padrões de industrialização capitalista quanto aos da industrialização promovidos pelos Estados socialistas. Os neopopulistas, segundo Kitching (1989), não se contentam somente com as críticas sobre o custo humano da industrialização mas também questionam a “racionalidade” econômica da industrialização e dos grandes empreendimentos empresariais, principalmente na agricultura. O principal teórico do neopopulismo foi o agrônomo e economista russo, Chayanov. Seu pensamento continua a influenciar as teorias atuais sobre economia camponesa e desenvolvimento rural. As críticas neopopulistas sobre a industrialização são mais ambiciosas do que as críticas dos populistas do Século XIX. As críticas neopopulistas não se opõem totalmente à industrialização. Os neopopulistas consideram que existe um padrão alternativo (ou trajetória) de desenvolvimento econômico mais eficiente do que a industrialização de grande porte na eliminação da pobreza e redução dos custos sociais. É por esta razão que as idéias dos neopopulistas têm exercido grande influência no que se escreve e se pensa sobre desenvolvimento. Tanto para os populistas quanto para os neopopulistas, a principal falha da industrialização e dos empreendimentos de grande escala está em que eles exacerbaram a desigualdade social: desigualdade entre indivíduos e grupos sociais, entre campo e cidade, entre regiões e entre nações (Kitching, 1989: 19-22). 5 Sardan (1990) e Brown (1994a) identificam como populistas algumas estratégias de intervenção que emergiram nos anos 1970, quando foi constatado que os modelos de desenvolvimento agrícola, conhecidos pelo nome genérico de “revolução verde”, mostraram-se incapazes de absorver a grande maioria dos pequenos produtores rurais, aumentando o desemprego e miséria das populações, posta à parte nesses modelos. O alvo das análises de Sardan (1990) e Brown (1994a) são as estratégias de intervenção que advogam o desenvolvimento de tecnologias alternativas, fundamentadas nas práticas agropecuárias camponesas em contraposição às tecnologias geradas por centros de pesquisa, bem como as estratégias fundamentadas na “conscientização”. No centro das críticas desses dois autores estão os trabalhos de Robert Chambers e as estratégias de participação elaboradas a partir dos trabalhos de Paulo Freire (Boxe 2). Brown (1994a) considera que a idéia de participação e os princípios dialógicos presentes nas obras de Paulo Freire figuram, nas estratégias de intervenção praticadas por organizações governamentais e não-governamentais, muito mais ao nível da retórica do que da prática. Para Brown, as ações das ONGs e agências governamentais de desenvolvimento são paternalistas e manipuladoras e, ao contrário de dialógicas, são impositivas, representando a concepção de mundo das organizações e, portanto, alienígenas às populações rurais. Também considera que tais ações não são capazes de resolver os problemas causados pelo desenvolvimento econômico, os quais resultam na exclusão de grande parcela dos pequenos agricultores, uma vez que tais problemas têm raízes estruturais. As ONGs não percebem essa situação porque as avaliações que realizam são orientadas pelos pressupostos ideológicos que guiam suas ações e não pelos fatores estruturais, econômicos e políticos das sociedades onde elas operam. Ao contrário de autores como Kidd & Kumar (1981) que atribuem os problemas relacionados com as ações de ONGs e agências governamentais ao desvirtuamento das idéias de Paulo Freire, Brown (1994) argumenta que tais problemas repousam nas próprias concepções teóricas de Paulo Freire (Boxe 3). O centro das críticas de Sardan (1990) são as posições defendidas por Chambers, principalmente no seu livro com o sugestivo título Rural Development: Putting the Last First, editado em 1983. Chambers questiona, nesse livro, as formas de intervenção praticadas pelas instituições públicas e privadas, as quais considera que pouco têm contribuído para a solução dos problemas dos pequenos produtores, Boxe 2 CHAMBERS, R. “Rapid rural appraisal: rationale and repertoire”. Discussion Paper, No 155, Brighton, Institute of Development Studies, The University of Sussex, 1980. 15 p. CHAMBERS, R. Rural development: putting the last first. Londres, Longman, 1983. 246 p. CHAMBERS, R. (org.). Farmer first: farmer innovation and agricultural research. Londres, Intermediate Technology Publications, 1991. 219 p. CHAMBERS, R. Challenging the professions: frontier for rural development. Londres, Intermediate Technology Publications, 1993. 143 p. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970. 218 p. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970. 93 p. FREIRE, P. Ação cultural para liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976. 149 p. 6 apesar de consumirem muitos recursos e tempo. Chambers aponta uma série de fatores relacionados com a ineficácia dessas organizações, entre os quais destacam-se: • a formação universitária recebida pelos extensionistas ou agentes de mudança, distanciada da realidade rural e crivada de valores declasse média urbana, dificultando a compreensão dos problemas dos pequenos produtores e a formulação de estratégicas apropriadas de intervenção; • o distanciamento das pesquisas conduzidas nas universidades e estações experimentais da realidade rural, gerando tecnologias não adequadas aos pequenos produtores; • a inadequação dos programas e projetos de desenvolvimento rural, elaborados a partir dos “gabinetes” dos burocratas das grandes cidades e fundamentados em diagnósticos planejados no mesmo locus, bem como sobrepassados pelos interesses das lideranças políticas regionais e locais; estrutura burocrática autoritária das agências de mudança, estabelecendo linhas de ação verticais e rígidas com nenhuma participação dos extensionistas que estão nas suas bases e muito menos dos produtores, alvos dessas ações. Como solução para esse quadro, Chambers (1983) considera que seria necessário: • repensar a formação dos agentes de mudanças (agrônomos, assistentes sociais, sociólogos etc.), gerando um novo tipo de profissional; • substituir os diagnósticos caros, demorados e de pouca eficiência por práticas de levantamento participativas, envolvendo os produtores (diagnósticos rápidos participativos - DRP); • valorizar o conhecimento dos camponeses sobre práticas agrícolas, plantas, minerais, solo, variações climáticas, formas de organização social e modos próprios de solução de problemas; • incentivar a pesquisa que alia o conhecimento camponês e o conhecimento gerado pelas universidades e estações experimentais; • incentivar a organização dos produtores em associações que, via gestão participativa, sejam capazes de elevarem o seu poder de reivindicação e barganha, etc. Sardan e Brown não questionam as críticas de Chambers sobre as formas de intervenção praticadas por organizações públicas e privadas no meio rural, mas as Boxe 3 David Brown também sustenta esta visão polêmica em outras publicações: BROWN, D. “Methodological considerations in the evaluation of social development programmes: an alternative approach”. Community Development Journal, 26 (4): 259- 265, 1991. BROWN, D. “Systems approaches to NGO management: establishing decision making models for project-level M & E”. Paper presented at the NGO Performance Panel, Development Studies Association Annual Conference, Swansea, September, 1991. BROWN, D. “Information systems for NGOs”. The Rural Extension Bulletin, Reading, No 1: 21-26, abr. 1993. BROWN, D. “Seeking the consensus: populist tendencies at the interface between research & consultancy”. Paper presented at the Workshop ‘From Consultancy to Research?’, The University of Wales, Swansea, March 1994. 7 posições por ele defendidas ao propor um novo paradigma de intervenção. Para Sardan será pouco provável que, mesmo aprimoradas, as técnicas voltadas para a produção em pequena escala satisfaçam à demanda crescente de alimentos nas sociedades em urbanização e às necessidades de geração de divisas estrangeiras, via exportação de produtos agrícolas. Além do mais, o aumento na produção de alimentos pelos pequenos produtores pode ser inviabilizada pela produção obtida em maior escala por produtores maiores e mais capitalizados. Tanto Sardan quanto Brown apontam os fatores estruturais que geram e comandam a formulação de políticas econômicas, educacionais e de pesquisa como os condicionantes da situação de pauperização e exclusão dos pequenos produtores do processo produtivo e não simplesmente o fato das instituições de pesquisa, ensino e extensão estarem alheias aos problemas dos pequenos produtores. As colocações de Kitching (1989), Sardan (1990) e Brown (1994a) sugerem que as intervenções calcadas na organização dos camponeses, na participação e na geração de tecnologias apropriadas não são suficientes para eliminar a tendência histórica de desarticulação da pequena produção artesanal, provocada pelo processo de capitalização. Como será visto um pouco mais a frente, outros autores, no entanto, consideram as formas de intervenção, fundamentadas em tais práticas, essenciais para aumentar o poder de contraposição dos pequenos produtores frente às forças que os empurram para um processo de marginalização crescente. Tem- se, pois, duas perspectivas teóricas em confronto e, em muitos casos, tais perspectivas se originam de um mesmo paradigma. Esse confronto ilustra as complexidades em que estão envolvidas as discussões sobre associativismo rural. Estudos como o de Okali et al. (1994), embora não empregando as mesmas perspectivas de análise desses três autores, apresentam um quadro sombrio das experiências associativas de pequenos produtores estudadas, sobretudo daquelas que envolvem a participação do camponês na busca de novas tecnologias (partipatory research). Outros estudos, como o de Ammann (1987), indicam que o desenvolvimento de comunidades, prática muitas vezes ligada ao associativismo rural, também pode ser utilizado como uma estratégia de desmobilização social. Por outro lado, existem trabalhos que mostram a importância das práticas associativistas como um instrumento de luta dos pequenos produtores e que, pelo menos no momento que os estudos foram realizados, tais práticas permitiam a permanência dos pequenos produtores na terra, elevando seu nível de renda e participação como cidadãos. Essa é a imagem transmitida pelos seguintes estudos: AGUIAR, A.R.C. Saber camponês e mudança técnica: um estudo de caso junto a pequenos produtores do bairro de Cardoso, Poço Fundo, MG. Lavras, ESAl, 1992. 148p. SILVA, W.R. Do discurso à enxada: ação social da igreja em uma comunidade rural. Lavras, ESAL, 1992, 99p. BURKEY, S. People first: a guide to self-reliant, participatory rural development. Londres, Zed Books, 1993. 244p. RAHMAN, M.D.A. People’s self-development perspectives on participatory action research: a journey through experience. Londres, Zed Books, 1993. 234p. BASS0, N. Prática associativa em uma associação de pequenos produtores no Rio Grande do Sul. Lavras, ESAL, 1993. 76p. SOUZA, M.L.O. Participação em associações de pequenos produtores: dilemas da administração coletiva. Lavras, UFLA, 1995, p.134 p. As formas de associativismo formal mais conhecidas no setor rural brasileiro são o cooperativismo e sindicalismo. Essas formas têm-se expandido em 8 decorrência do processo de capitalização da agricultura, o qual provoca: a) aumento do excedente comercializável; b) tecnificação do processo produtivo; c) mudança nas relações de trabalho. No entanto, Silva (1991) observa que a especialização dos produtores que acompanha a integração da agricultura aos complexos agroindustriais rompe o ideal unitário de representação de interesses e enfraquece o poder político dos sindicatos patronais em favor das associações de caráter econômico por produto e cooperativas. Questões: a) O que Silva quer dizer com esta colocação? b) Que implicações essa colocação poderia ter para o estudo do associativismo rural? Formas associativas formalizadas, mas de âmbito comunitário (por exemplo “associações comunitárias”, “condomínios rurais”, “grupos de compra e venda”), têm, também, se expandido nas últimas décadas. O crescimento dessa forma de associativismo, principalmente entre pequenos produtores, pode ser vista como resultado da intervenção de organizações governamentais e não-governamentais no sentido de aumentar os ganhos de escala nas atividades de produção e nas operações de compra e venda. Em alguns casos, associações dessa natureza são organizadas para que os pequenos produtores tenham acesso a recursos originados de programas governamentais e de outras instituições, os quais somente são liberados para associações legalmente constituídas6. Questões: Você conhece alguma experiência desse tipo? Você poderia descrevê-la, tendo como referência as questões formuladas a seguir? a) Por que a associação foi organizada? b) Quem eram os produtores envolvidos? c) Que organização assessorava os produtores? d) Como a associação foi organizada? e) Que atividades eram desenvolvidas?f) Como era a participação dos associados no desenvolvimento dessas atividades? As diferentes formas de associativismo, incluindo também o associativismo informal, não vêm merecendo a atenção que deveria nos estudos de Administração Rural. Elas oferecem aos estudiosos da administração campos de estudos que podem cobrir os mais diversos interesses dessa área do conhecimento e desafiar a perspicácia das mais variadas abordagens teóricas. Tais associações são organizações que envolvem: 1. um crescente contingente de produtores, os quais são socialmente heterogêneos; 2. o processamento e comercialização dos seus produtos, a comercialização dos insumos que usam no processo produtivo, a prestação de serviços de assistência técnica, aluguel de máquinas, crédito; 3. o objetivo de representação dos interesses dos seus associados, tido como central pelo menos nos estatutos; 4. a operação em um mercado complexo, com elevada concentração de capital e sob a influência de um processo de globalização econômica; 5. a inserção em uma sociedade onde a dinâmica de sua economia deslocou-se do setor rural para o setor urbano-industrial , há mais de meio século. Pelo que se pode ver, as diferentes formas de associativismo rural oferecem aos estudiosos da administração um amplo campo de estudo que, por ser tão amplo, eles, certamente, o compartilharão com profissionais de outras áreas do conhecimento. 9 Questões: Tendo como referência os cinco “pontos” indicados acima, formule possíveis problemas de pesquisa que poderiam ser estudados pelas diferentes áreas de interesse da Administração. Por que será, então, que os temas relacionados com associativismo têm merecido pouca atenção dos estudiosos da administração rural? Nesta unidade didática, vamos discutir somente alguns dos possíveis problemas relacionados com o associativismo rural no contexto de programas de desenvolvimento. Esperamos que ninguém fique desapontado com a reduzida amplitude do nosso objetivo. 3. CONCEITO DE PARTICIPAÇÃO As reflexões sobre desenvolvimento rural, por volta de 1970, mostraram que ele é desigual e que, freqüentemente, possuíam conseqüências funcionais para alguns indivíduos e disfuncionais para outros (Galjart, 1981: 88). No caso específico do Brasil, por exemplo, podemos observar que as políticas de modernização da agricultura, de 1965 a 1976, foram bastante seletivas em termos de distribuição de recursos como crédito e subsídios. A aplicação desses recursos foi orientada em função das possibilidades de retornos econômicos diferenciais entre regiões, produtos e produtores. As políticas de pesquisa e assistência técnica seguiram, de modo geral, o mesmo padrão. Questões: a) Você poderia descrever as características gerais dessas políticas? b) Por que elas foram formuladas? Os resultados dessas políticas, aliados a outros fatores como, por exemplo, urbanização e industrialização, provocaram profundas modificações no setor rural: a) capitalização do processo produtivo; b) diferenciação social, com o surgimento de diferentes categorias de produtores e trabalhadores rurais; c) concentração de terra e renda; e) integração do setor rural ao setor urbano via complexos agroindustriais, etc. Questão: Você poderia indicar as características gerais que tais processos assumiram no Brasil? Os resultados dessas mudanças tiveram efeitos diferentes para distintos segmentos da população rural. Para alguns, significou proletarização ou eminência de desintegração de suas unidades de produção, para outros, abertura de novas oportunidades e crescimento. Estudos conduzidos em outros países do terceiro mundo também apontaram problemas dessa natureza. É por essa razão que Galjart comenta: “as reflexões sobre o desenvolvimento mostraram que ele é desigual e que, freqüentemente, possuía conseqüências funcionais para alguns indivíduos e disfuncionais para outros”. A partir dessa época (e no caso de algumas ONGs, até mesmo antes), agências internacionais de desenvolvimento (por exemplo, United Nations Research Institute for Social Development - UNRISD, Organização Internacional do Trabalho, Organização Mundial da Saúde, FAO, UNESCO e Banco Mundial) procuraram, sob uma variedade de nomes, novas abordagens que pudessem orientar programas e projetos voltados para os segmentos sociais colocados à margem do “processo de 10 desenvolvimento econômico”, tais como: a) Necessidades Básicas (Basic Needs); b) Desenvolvimento Rural Integrado (Integrated Rural Development); c) “Target-Group Strategy” (Boxe 4). Um elemento comum a essas abordagens é a participação das pessoas, “alvos” dos programas ou projetos de desenvolvimento. No entanto, os métodos para implementar estas estratégias variam de acordo com a visão que as agências possuem do papel ou natureza da intervenção. Dessa visão resultam diferentes dimensões ou significados atribuídos à participação. 3.1 Tipos básicos de Estratégias e Concepções de Participação Podemos, de uma forma muito simplificada e com o propósito de iniciarmos a discussão do conceito de participação, identificar dois tipos básicos de estratégias. Primeiro, as estratégias fundamentadas na suposição de que existe pouca coisa incorreta no processo de intervenção e que as falhas passadas decorreram, em grande parte, do “fator humano” ter sido omitido (negligenciado) ou do fato de os indivíduos não interessarem em se envolver nos projetos sobre os quais eles possuíam poucas informações ou, mesmo, dúvidas. Suposições dessa natureza conduzem à elaboração de estratégias de intervenção, cujos objetivos são os de “preencher lacunas” , injetar mais informação, aumentar o conhecimento básico. Assume-se, nesse caso, que se as pessoas são envolvidas elas mesmas se comprometerão a apoiar os projetos (Oakley & Marsden, 1985). Em segundo lugar, as estratégias que resultam da avaliação dos projetos, anteriormente desenvolvidos. Através da avaliação, chega-se a conclusão de que Boxe 4 Algumas ONGs, fundamentadas nas obras de Paulo Freire, já vinham desenvolvendo metodologias de intervenção centradas na “participação” dos pequenos produtores na formulação e implementação de projetos de desenvolvimento. No final dos anos setenta, “participação” foi, também, incorporada nos programas financiados por instituições como Banco Mundial, FAO, Organização Mundial do Trabalho, Organização Mundial da Saúde e, por influência dessas instituições, nas estratégias de intervenção de diversos países. Esses temas são tratados pelos seguintes autores: BEBBINGTON, A. & FARRINGTON, J. “Private voluntary initiatives: enhancing the public sector’s capacity to respond NGO needs”. Word Bank Agriculture Symposium, Washington, 1992. 31p. BEBBINGTON, A; THIELE, G.; DAVIES, P. & RIVEROS, H. Non-governamental organizations and State in Latin America, Londres, Routledge, 1993. 290 p. CHAMBERS (1993), op. cit. CLARK, J. Democratizing development: the role of voluntary organizations. Londres, Earthscan Publications, 1991. 259 p. LISK, F. (org.). Popular participation in planning for basic needs. Londres, International Labour Organization, 1985. 167p. OAKLEY, P. “Participation in development in N.E. Brazil”. Community Development Journal, Oxford, 15 (1): 10-22, jan. 1980. OAKLEY, P. & MARSDEN, D. Approaches to participation in rural development. Genebra, International Labour Office, 1985. 91 p. OKALI et al. (1994), op. cit. MIDGLEY, J. (org.). Community participation, social development and the state. Londres, Methuen & Co., 1986. 11 tais projetos foram concebidos equivocadamente. Nesse caso, participação pode ser percebida como uma estratégia para criação de novas oportunidades, exploração de novos caminhos, juntamente com os indivíduos “alvos” dos projetos de desenvolvimento. Nessa estratégia, a metodologia de intervenção é fundamentalmente diferente. Mais conhecimento sobre os projetos não é necessário. O conhecimento dos indivíduos, alvos das ações de intervenção, é que não havia sido incorporado quando da formulação do projeto. Asfalhas nos projetos de desenvolvimento não estão no “fator humano em si”. Elas residem no fato de se atribuir um papel passivo aos indivíduos, os quais são percebidos mais como “consumidores de conhecimento” do que “produtores de conhecimento”. Participação, nesse caso, relaciona-se com produção de conhecimento, novas orientações, novas formas de organização (Oakley & Marsden, 1985). Essas duas concepções de participação foram incorporadas a vários projetos de desenvolvimento, durante últimas décadas. Mas é importante observar que participação é um processo multidimensional e varia de situação para situação em respostas a circunstâncias particulares. Não existe um único modo de compreender esse processo e a sua interpretação está mais em função da perspectiva de análise empregada. No momento, gostaríamos de observar que as duas concepções gerais de participação podem dar origens a formas distintas de intervenção7. Questão: O que o texto em negrito quer dizer? 3.2 Conceito de Intervenção Intervenção, tendo como referência o trabalho com comunidades, é uma ação (ou conjunto de ações) praticada por pessoas (agentes, assessores) que não pertencem ao núcleo comunitário onde tal ação se realiza. Ela pode assumir um caráter “tutorial” ou um caráter “educativo” (Alencar, 1995). A intervenção assume um caráter tutorial quando a ação do agente externo é orientada no sentido de introduzir “idéias” previamente estabelecidas sem que haja participação da população alvo de sua ação na formulação de tais “idéias”. Nessa forma de agir, é o agente externo que elabora os diagnósticos, identifica os problemas, escolhe os meios para solucioná-los, estabelece as estratégias de ação e avalia as ações executadas. Cabe à população, nessa forma de intervenção, executar as ações “prescritas” (Alencar, 1995). A intervenção assume um caráter educativo quando a população alvo é estimulada pelo agente externo a desenvolver a habilidade de diagnosticar e analisar seus problemas, decidir coletivamente sobre as ações para solucioná-los, executar tais ações e avaliá-las, buscando, sempre que necessário, novas alternativas (Alencar, 1995). 3.3 Significados do Termo Participação Oakley & Marsden (1985), analisando diferentes projetos de desenvolvimento, identificaram diferentes significados atribuídos ao termo participação: 1. envolvimento voluntário dos indivíduos nos programas, sem, contudo, participarem da sua elaboração; 12 2. sensibilização dos indivíduos, aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais; 3. envolvimento dos indivíduos no processo de tomada de decisão, na implementação dos programas, na divisão dos benefícios e na avaliação das decisões tomadas; 4. associação do conceito de participação com o direito e o dever dos indivíduos participarem na solução dos seus problemas, terem responsabilidade de assegurar a satisfação de suas necessidades básicas, mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluções, bem como de criarem e manterem as organizações locais; 5. associação do conceito de participação com a iniciativa de pessoas e grupos, visando a solução de seus problemas e a busca de autonomia; 6. organização de esforços de pessoas excluídas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessários ao desenvolvimento e sobre as instituições que regulam a distribuição desses recursos. Participação pode, também, estar associada aos seguintes significados: 1. Colaboração - envolvimento das pessoas nas atividades grupais, onde o agente externo é o principal protagonista. Essa forma de participação equivale a “informação” , uma vez que as decisões básicas, relacionadas aos programas de desenvolvimento, já foram tomadas. “Participação” não está dissociada do controle e responsabilidade do agente externo. 2. Desenvolvimento de Comunidade - participação é entendida como um processo de promoção social, onde é delegada aos membros da comunidade a responsabilidade de criarem conselhos de desenvolvimento, os quais são considerados veículos da participação. 3. Organização - 3.1 Participação relaciona-se com o processo onde os indivíduos se organizam e, por meio dessa organização, tornam-se capazes de ter voz nos projetos de desenvolvimento. 3.2 Organização como resultado da busca pelos indivíduos de formas mais adequadas de ação, as quais emergem da análise que eles fazem da realidade que os envolve. O agente externo teria, nesse caso, uma menor influência. 4. Empowering - a interpretação mais comum relaciona-se com a aquisição de poder: poder em termos de acesso e controle de recursos necessários ao desenvolvimento (Oakley & Marsden, 1985). 3.4 Graus e Níveis de Participação Bordenave (1983) considera as seguintes questões-chave na participação num grupo ou organização: • Qual é o grau de controle dos membros sobre as decisões? • Quão importantes são as decisões de que se pode participar? 3.4.1 Grau de controle “No caso do controle, evidentemente não é igual os membros participarem de atividades decididas pelo próprio grupo e participarem duma atividade controlada por outro ou outros. Numa associação de pais e mestres, por exemplo, os pais podem opinar e colaborar, mas via de regra o controle é mantido pela direção do 13 colégio. Num conselho paroquial os leigos dão mais palpites, mas o controle final não sai das mãos do pároco” (Bordenave, 1983: 30). A Figura 1 ilustra alguns dos “graus” que pode alcançar a participação numa organização qualquer, do ponto de vista do menor ou maior acesso ao controle das decisões pelos membros. Figura 1 - Níveis de participação (Bordenave, 1983: 31). “O menor grau de participação é o da informação. Os dirigentes informam os membros da organização sobre as decisões domadas. Por pouco que pareça, isto já constitui uma certa participação, pois não é infreqüente o caso de autoridades não se darem sequer ao trabalho de informar seus subordinados. Em alguns casos, a reação dos membros às informações recebidas é tomada em conta pelos superiores, levando-os a reconsiderarem uma decisão inicial. Outras vezes, o direito de reação não é tolerado” (Bordenave, 1983: 31). “Na consulta facultativa a administração pode, se quiser e quando quiser, consultar os subordinados, solicitando críticas, sugestões ou dados para resolver algum problema. Quando a consulta é obrigatória, os subordinados devem ser consultados em certas ocasiões, embora a decisão final pertença ainda aos diretores. É o caso da lei que estabelece a negociação salarial entre patrões e operários” (Bordenave, 1983: 31). “Um grau mais avançado de participação é a elaboração/recomendação na qual os subordinados elaboram propostas e recomendam medidas que a administração aceita ou rejeita, mas sempre se obrigando a justificar sua posição” (Bordenave, 1983: 32). Num degrau superior está a co-gestão, na qual a administração da organização é compartilhada mediante mecanismos de co-decisão e colegialidade. Aqui, os administrados exercem uma influência direta na eleição de um plano de ação e na tomada de decisões. Comitês, conselhos ou outras formas colegiadas são usadas para tomar decisões” (Bordenave, 1983: 32). “A delegação é um grau de participação onde os administrados têm autonomia em certos campos ou jurisdições antes reservados aos administradores. A administração define certos limites dentro dos quais os administradores têm poder de decisão. Ora, para que haja delegação real, os delegados devem possuir C O N T R O L E DIRIGENTES MEMBROS INFORMA- ÇÃO CONSULTA FACULTATI- VA CONSULTA OBRIGATÓ- RIA ELABORA- ÇÃO DE RECOMEN- DAÇÃO CO- GESTÃO AUTO- GESTÃO DELEGA- ÇÃO 14 completa autoridade, sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisões” (Bordenave, 1983:32). “O grau mais alto de participação é autogestão, na qual o grupo determina seus objetivos, escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referência a uma autoridade externa. Na auto gestão desaparece a diferença entreadministradores e administrados, visto que nela ocorre a auto administração” (Bordenave, 1983: 33). 3.4.2 Importância das decisões Bordenave (1983: 33) considera que a outra questão-chave na participação é a importância das decisões a cuja formulação os membros têm acesso. Isto significa que em qualquer grupo ou organização existem decisões de muita importância e outras não tão importantes. Assim, por exemplo, numa cooperativa de crédito, a decisão de passar a ser também cooperativa de consumo constitui uma decisão importante, com amplas conseqüências, ao passo que a decisão de pintar ou não a sala de reuniões da diretoria constitui uma decisão administrativa de pouca importância. “Segundo sua importância, as decisões podem ser organizadas em níveis, do mais alto ao mais baixo. Uma maneira de distinguir os níveis é enumerar os passos da programação, a saber: • Nível 1 - formulação da doutrina e da política da instituição; • Nível 2 - determinação de objetivos e estabelecimento de estratégias; • Nível 3 - elaboração de planos, programas e projetos; • Nível 4 - alocação de recursos e administração de operações; • Nível 5 - execução das ações; • Nível 6 - avaliação dos resultados“ (Bordenave, 1983: 33). Geralmente, há uma relativa disposição favorável para permitir a participação dos membros da organização nos níveis 5 e 6, isto é, na execução das ações e na constatação de seus resultados. No entanto, nos níveis de formulação de políticas e planejamento, a participação fica restrita a uns poucos “burocratas”, “teocratas” ou “lideranças” (Bordenave, 1983: 34). Bordenave (1983: 34) observa que “em muitas comunidades rurais e favelas urbanas, antigamente poucos habitantes participavam do melhoramento das condições locais. Mais recentemente, alguns deles tomaram a iniciativa de apresentar reivindicações ante os poderes públicos, ao mesmo tempo em que tomavam parte em ações locais de melhoria. Após avaliar sua situação, encaminhavam às autoridades queixas e demandas de serviços de água, esgotos, transporte, segurança, saúde, etc. Hoje, essas comunidades já passaram de uma participação de níveis 5 e 6 a uma participação de níveis 3 e 4, ganhando influência e intervenção em áreas de decisão antes zelosamente monopolizadas pelas prefeituras”. Questões: a) Tendo como referência o esquema de Bordenave, você poderia relacionar os diferentes níveis de participação com os distintos significados que são atribuídos ao termo participação? b) Considerando que podem existir diferentes níveis de participação e que participação pode assumir distintos significados, quais seriam as possíveis implicações teóricas e metodológicas que esses diferentes 15 níveis e significados poderiam ter para uma pesquisa sobre participação? c) Supondo que você esteja fazendo uma pesquisa sobre participação de produtores em um projeto de desenvolvimento rural, quais seriam os procedimentos teóricos e metodológicos que você adotaria para realizar esse estudo? 4. CONTEXTO DA PARTICIPAÇÃO Pode parecer óbvio dizer que o associativismo surge, se desenvolve ou perece dentro de um sistema social e que o associativismo, como qualquer forma de organização, sofre a influência do sistema social em que está inserido. Por mais óbvia que esta colocação pareça, ela não pode ser negligenciada, principalmente se considerarmos que as influências do sistema social não são facilmente percebidas e apresentam múltiplas dimensões. Pesquisas revelam que fatores, por exemplo, culturais, características de mercado, estrutura social, estrutura de poder e políticas econômicas são relevantes para o estudo do associativismo. Questão: Em que sentido tais fatores podem ser relevantes? Algumas das possíveis influências do sistema social sobre o associativismo serão discutidas a seguir. 4.1 Associativismo e Estrutura Social As sociedades não são sistemas sociais homogêneos. Elas são formadas por classes sociais, frações de classes e categorias sociais que podem ter: a) diferentes interesses, os quais podem mesmo ser conflitantes; b) uma visão distinta do mundo; c) diferentes problemas; d) acesso diferenciado aos benefícios institucionais da sociedade (crédito, assistência técnica, resultados de pesquisa, educação, serviço de saúde, etc.) e) diferentes níveis de facilidade ou dificuldade para se organizarem; f) diferentes dimensões de poder (acesso aos centros de decisões e capacidade de influenciá-los). As classes e frações de classes encontram-se em um processo de diferenciação social. Do ponto de vista clássico, este processo pode assumir as configurações representadas na Figura 2. Sorj e Wilkinson (1983, p.167), analisando o processo de transformação social da agricultura brasileira, observaram que no antigo padrão de articulação campo-cidade, a estrutura fundiária era o elo direto que produzia as condições de existência de uma ampla massa de trabalhadores que gerava um sobretrabalho em pobres condições técnicas e que favorecia de forma imediata o conjunto do setor industrial. No atual padrão de acumulação, esta estrutura está sendo substituída por outra, onde a dinamização da geração de excedentes agrícolas é dada pelo complexo agroindustrial, tanto no nível do processo produtivo no estabelecimento agrícola como na apropriação da produção agrícola, que passa a ser crescentemente industrializada antes de alcançar o consumidor. Neste sentido, e sem negar a importância que ainda possuem certas formas de expansão de fronteiras e da produção gerada por produtores tradicionais, observam esses dois autores, pode-se afirmar que a estrutura fundiária é, agora, sobrepassada pelo complexo agroindustrial na determinação das condições de 16 produção das relações sociais na agricultura. O complexo agroindustrial se transforma no beneficiário principal do sobretrabalho dos produtores agrícolas, substituindo crescentemente tanto o latifundista como o capital comercial tradicional e parcialmente o próprio conjunto do capital industrial. Para Sorj e Wilkinson (1983), esse processo determina que sejam as formas de subordinação da produção agrícola ao complexo agroindustrial um dos aspectos chave para se compreender as novas formas que assumem as relações sociais na agricultura no momento atual e as condições de sua transformação. Figura 2 - Modelo (bi)linear do desenvolvimento do capitalismo na agricultura (Djurfeldt, 1986: 149) Os dois autores consideram que o conceito de ‘diferenciação social’, largamente utilizado para analisar as transformações na produção, é insuficiente para captar os efeitos da subordinação do campo à agroindústria. Portanto, propõem um modelo analítico no qual se cruzariam a diferenciação social clássica, ou ‘vertical’, com a diferenciação ‘horizontal’. Por diferenciação vertical (‘clássica’), entendemos o processo de proletarização ou aburguesamento e a eliminação do produtor familiar. Por diferenciação ‘horizontal’, destacamos a separação entre empresas familiares que conseguem modernizar seus processos produtivos e aquelas que terminam numa pauperização e marginalização crescente, como produto do mesmo processo (Sorj & Wilkinson, 1983: 168). Esquematicamente, tem-se as seguintes configurações: 1. diferenciação vertical - existe uma tendência à eliminação dos produtores familiares através da expulsão e/ou marginalização daqueles que não conseguem acompanhar os novos patamares tecnológicos; 2. diferenciação horizontal que implica: a) a existência de transformações dentro do conjunto de produtores familiares, sem que estas transformações conduzam à proletarização; b) um processo pelo qual empresas que anteriormente utilizavam, predominantemente, trabalho assalariado passam a se sustentar fundamentalmente do próprio trabalho familiar. Ponto de Partida Fase de Transição Ponto Final Senhores feudais Junker burguês Burguesia rural Camponês rico Campesinato Camponês médio não diferenciado Camponêspobre Proletariado rural Trabalhadores sem terra Processo de Processo de diferenciação proletarização 17 Sorj & Wilkinson (1983: 168) observam que este modelo é de caráter analítico-descritivo e sua utilidade central é de mostrar que os processos de diferenciação social podem levar, tanto à heterogeneização da produção familiar e sua polarização em proletariado e burguesia quanto a sua manutenção, porém diferenciando-se em seu interior entre produtores familiares que permanecem viáveis e outros em processo de pauperização e eventualmente de expulsão8. Os processos de diferenciação vertical e horizontal geralmente aparecem em forma cruzada, de maneira que, por exemplo, os produtores familiares pauperizados servem como força de trabalho temporária nas empresas capitalistas. “Trata-se, portanto, da formação de categorias sociais novas e não de estratos de um continuum tradicional-moderno. Cada grupo social tem seu lugar redefinido pelo avanço da integração agroindustrial” (Sorj & Wilkinson, 1983: 169). No caso brasileiro, observam os dois autores, o processo de transformação das relações de produção da agricultura tem-se dado na direção de: a) depurar as relações de produção capitalistas nas grandes empresas agrícolas; b) fortalecer um grande setor de produtores familiares capitalizados; c) gerar uma massa de pequenos produtores pauperizados que se encontram marginalizados, pela sua baixa produtividade, dos grandes circuitos produtivos. “Trata-se de um processo ainda fluido, onde os processos de diferenciação não estão totalmente definidos. Ainda assim pode-se assinalar que a predominância destes setores se dá de forma desigual nas distintas regiões do país, sendo, por exemplo, predominante o terceiro no nordeste, tanto quanto seriam os dois primeiros no centro-sul” (Sorj & Wilkinson, 1983: 169-170) (Boxe 5). Questões: a) Existe alguma relação entre o processo de diferenciação social e as colocações que foram efetuadas por Brown, Kitching e Sardan? b) Quais seriam as possíveis implicações que o processo de diferenciação social poderia trazer para um estudo sobre associativismo rural? Boxe 5 O processo de capitalização da agricultura envolve as unidades de produção camponesas, as quais passam, também, a depender de bens e serviços do setor urbano-industrial e, dessa forma, são obrigadas a voltar parte de sua produção para o mercado. Outros fatores devem ainda ser levados em conta nos estudos dessas unidades como por exemplo, “novas aspirações culturais”, “relação entre área de terra e herdeiros”, “apoio institucional” e “mercado regional de terra”. Tais fatores podem concorrer para a dissolução desse tipo de unidade de produção ou levá-la à diferenciação. Alguns estudos, analisando as estratégias de adotadas por pequenas unidades familiares, mostram como elas têm operado no sentido de se manterem no processo produtivo. Por exemplo: AGUIAR (1992); BASSO (1993); CARRIERI, A.P. A racionalidade administrativa: os sistemas de produção e o processo de decisão-ação em unidades de produção rural. Lavras, ESAL, 1992. 208 p. (Dissertação MS); SANTOS JESUS, J.C. Trajetória de decisões administrativas na unidade camponesa e na empresa agropecuária capitalista: estudo de casos no sul de Minas Gerais. Lavras, ESAL, 1993. 147 p. (Dissertação MS); GARCIA JR, A.R. O sul: caminho do roçado - estratégias de reprodução camponesa e transformação social. São Paulo, Marco Zero, 1990. 285 p.; ABROMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo, Hucitec, 1992. 275. 18 Müller, no seu estudo “Estado e Classes Sociais na Agricultura”, identificou as seguintes classes e frações de classes no campo: - Burguesia - tradicional - industrializada - Pequena burguesia - tradicional - industrializada - Trabalhadores a domicílio Burguesia industrializada é aquela fração de classe que em superfícies médias e grandes [com mais de 100 ha de área global] obtém grandes volumes de produção, graças a uma elevada composição orgânica de capital [composição orgânica de capital é a relação entre benfeitorias, máquinas, equipamentos, insumos e mão- de-obra]; opera com assalariados e “autônomos”, é organizada ao nível institucional ou com tendências para tanto (Müller, 1982: 86 e 88). Burguesia tradicional é aquela fração de classe composta de proprietários de terras, cujos proventos [a exemplo da velha oligarquia rural] residem, sobretudo, na esfera mercantil [renda da terra] (Müller, 1982,: 88). Pequena burguesia industrializada é a fração de classe que, em superfícies relativamente diminutas [menos de 100 ha de área], obtém volumes de produção relativamente grandes, graças à combinação do trabalho não-remunerado com remunerado, em proporções em que predomina, claramente, o primeiro tipo de mão-de-obra; opera com relativamente elevada composição orgânica de capital; integra ou tende a integrar organizações nas quais já participa a burguesia industrializada (Müller, 1982: 88 e 89). Pequena burguesia tradicional é a que, em superfície relativamente pequena e com predominância do trabalho familiar, desenvolve uma produção agrícola caracterizada por baixa incorporação de processos técnicos e baixo nível de produção. Não tende à organização institucional. “Se a considerássemos na dinâmica da acumulação de capital, posta pela industrialização do campo, poderíamos observar que está fadada à dissolução porque, ou eleva sua composição técnica e de valor, ou passa a integrar uma das frações da classe trabalhadora (Müller, 1982: 88 e 89). Trabalhadores “a domicílio” são proprietários, pequenos produtores com excesso de braços e falta de terra e de capital, vinculados ao capital industrial e/ou comercial. “Os estabelecimentos destas frações sociais, subordinados ao capital comercial ou industrial, não passam de lugares de trabalho que alimentam os processos de acumulação da burguesia comercial ou industrial ou, no caso mais tradicional de vínculos financeiros com proprietários rurais, estes estabelecimentos alimentam os rendimentos destes últimos”. “Quando vinculados ao capital mercantil de proprietários locais ou de comerciantes em áreas pouco mercantilizadas, compõem as camadas mais atrasadas desta fração de classe” [‘camponeses’] (Müller, 1982: 88-89). Trabalhadores assalariados incluem-se os trabalhadores permanentes e temporários com acentuadas características de operários, principalmente aquele contingente que trabalha na agricultura industrializada (Müller, 1982: 88). - Trabalhadores - permanentes - temporários -Trabalhadores “autônomos” - arrendatários - parceiros 19 Trabalhadores “autônomos” são os pequenos arrendatários e parceiros que, a rigor, constituem uma faixa de mercado de trabalho. “A parcela associada a cultivos industrializados tende a obter sua remuneração em produto praticamente avaliada já em termos monetários, o que não acontece com aqueles associados à agricultura tradicional” (Müller, 1982: 88). Outros estudos também retratam a heterogeneidade social no campo, usando outra terminologia (Boxe 6): - Latifundiários - Empresários capitalistas - Empresários familiares - Camponeses - Neocamponeses - Moradores, parceiros e pequenos arrendatários - Assalariados . permanentes . temporários Esta classificação fundamenta-se no conceito de unidades de produção. Unidade de produção (UP) é entendida como a área de terra onde a produção agropecuária é realizada. Este conceito não se restringe ao aspecto formal da propriedade legal da terra, uma vez que abrange áreas exploradas sob o sistema de parceria, áreas arrendadas e áreas sob posse. A forma como os fatores de produção (terra, capital e trabalho) são organizados dentro das UPs e a relação destas com o mercado são os determinantes básicos de tal classificação9. Boxe 6 Vejam, por exemplo: PEREZ, L.H. Caracterização de áreas agrícolas brasileiras segundo suas formas de produção. Piracicaba, ESALQ/USP, 1975. 170 p. (Dissertação MS). LOPES, J.R.B. Do latifúndio à empresa: unidade e diversidadedo capitalismo no campo. São Paulo, CEBRAP, 1976. 55 p. SOARES, G.A.D. A questão agrária ma América Latina. Rio de Janeiro, Zahar, 1976. 177 p. MOLINA FILHO, J. “Classificação e caracterização sócio-econômica das unidades de produção agrícola no Brasil”. In: SEMINÁRIO DE MODERNIZAÇÃO DA EMPRESA RURAL, 1., Rio de Janeiro, 1977. p. 387-392. ALENCAR, E. & MOURA FILHO, J.A. “Unidade de produção agrícola e administração rural”. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, 14 (157): 25-29, 1988a. BARAÚNA, F.G. Caracterização sócio-econômica de unidades de produção: um estudo no núcleo colonial J.K., município de Mata de São João -BA. Lavras, ESAL, 1988. 80 p. (Dissertação MS). VILAS BOAS, A.A. Organização da produção agropecuária e integração ao setor urbano-industrial: um estudo de caso. Lavras, ESAL, 1992. 126 p. (Dissertação MS). 20 Os estudos aqui citados, ao retratarem a heterogeneidade social existente no campo, também mostram como as mudanças que se processam no nível macro produzem seus efeitos nas unidades de produção, ou seja, no nível micro. Assim, mesmo quando as nossas atenções estiverem voltadas para compreender ações desenvolvidas por diferentes segmentos da população rural ou para compreender atividades do cotidiano, não poderemos desconhecer tais mudanças. Caso contrário, corremos o risco de ficar na mera constatação de fatos e concluir nossas pesquisas justamente onde elas deveriam iniciar10. Voltaremos a estas considerações. No momento, acreditamos ser conveniente formular algumas questões. Questões: a) Vocês concordam com a colocação em negrito? Sim. Por quê? Em termos. Por quê? Não. Por quê? b)Quais seriam as possíveis implicações que a heterogeneidade social poderia ter para os estudos na área de Administração Rural? c) Quais seriam estas implicações para os estudos sobre associativismo rural? d) A bibliografia citada sugere que temas como “diferenciação social” e “complexo agroindustrial” vêm sendo estudados há mais de duas décadas. Por que será que somente agora os estudantes de Administração Rural têm demonstrado um certo interesse por estes temas? Os produtores rurais, como observamos, não formam uma categoria social homogênea. Eles podem ser classificados em relação ao nível de inserção no mercado e forma de organização da produção (por exemplo, empresário agrícola, empresário familiar, camponês). Eles podem, ainda, ser classificados quanto ao tipo de atividade predominante nas suas unidades de produção (por exemplo: produtor de leite, cafeicultor, sojicultor e avicultor). A classificação por atividade tornou-se importante pois os complexos agroindustriais são organizados por produtos, embora uma classificação dessa natureza não seja suficiente para descrever o setor agrícola brasileiro. Por exemplo, produtores de leite e cafeicultores são categorias genéricas. Isto é, contém no seu interior uma diversidade de produtores cujas unidades de produção poderiam assumir as características de um dos quatro tipos básicos de UP ou mesmo assumir característica de tipos híbridos ou de unidades neocamponesas. Os diferentes níveis de inserção das unidades de produção agrícolas no mercado formam segmentos diferenciados, o que foi discutido anteriormente11. A Figura 3 ilustra essa segmentação. Atividades Agrícolas CAIs Completos Atividades Agrícolas CAIs Incompletos Atividades Agrícolas Modernizadas Indústrias de Máquinas e Insumos D1 Agroindústria de Processamento 21 FIGURA 3 - Segmentação da agricultura (KAGEYAMA et al. (1990, p.187) Esses diferentes segmentos apresentam um retrato geral da agricultura brasileira. Mas parece que, pelo menos em termos de hipóteses, podemos admitir que muitos dos produtos incluídos no segundo e terceiro segmentos não são produzidos unicamente em unidades de produção que poderíamos classificar como “empresas agrícolas capitalistas” ou “empresas familiares”. Certamente, ainda existe um espaço para unidades “híbridas” que se encontram situadas entre o que denominamos “empresas agropecuárias capitalistas” e “latifúndio” ou entre “empresas familiares” e “unidade camponesas típicas”. Um exemplo dessa situação poderia ser a pecuária de corte, onde a produção extensiva ainda possui peso. No caso das pequenas unidades de produção (sejam elas capitalizadas ou não, integradas ou não aos complexos agroindustriais), sua presença é marcante no contexto agrícola brasileiro e, notadamente, no estado de Minas Gerais. Os dados do Quadro 1 ilustram este fato. QUADRO 1 - Distribuição percentual do número de estabelecimento agropecuário, área ocupada e pessoal ocupado, segundo grupos de áreas, Minas Gerais, 1985. Grupos de área (ha) Estabelecimentos (%) Área ocupada (%) Pessoal ocupado (%) Menos de 10 33,47 1,86 21,84 10 - 49 38,21 11,19 32,80 50 - 99 12,04 10,25 13,26 100 e mais 16,28 76,70 32,10 Total 100,00 (551.952) 100,00 (4.035.752) 100,00 (2.655.911) Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1985. Dados extraídos de Monteiro & Resende (1988, p. 12 e 16) Em 1985, os estabelecimentos rurais com menos de 100 ha representavam aproximadamente 84% do total de estabelecimentos de Minas Gerais e, embora ocupassem 23,3% da área total, detinham 67,9% do pessoal ocupado na atividade agrícola. Se estes números mostram uma realidade que não pode ser desprezada, deve-se acrescentar a eles as seguintes informações apresentadas por Monteiro & Resende: Atividades Agrícolas Artesanais Subsis- tência Embalagem e Classificação Ligações específicas Ligações não específicas Mercado Final (Interno e Externo) 22 Mais de 50% da produção de banana (69%), batata-inglesa (72%), feijão (58%), mandioca (61%) e tomate (81%) são produzidos em fazendas com menos de 100 ha de área total; perto de 50% da produção de algodão (48%), arroz (45%), café (44%) e milho (50%), também são nelas produzidos. A produção que é originada basicamente na grande propriedade (aqui considerada aquela que possui mais de 100 ha) é a cana-de-açúcar (83%) e soja (94%). Considerando-se as pequenas e médias propriedades (até 100 ha), nota-se que a maior parcela de produção se encontra na faixa de 10 a 50 ha (Monteiro & Resende, 1988: 17). Questões: a) No entanto, mesmo considerando as limitações que uma classificação de natureza abrangente nos impõe, quais seriam os possíveis tipos de unidades de produção que encontraríamos nesses quatro segmentos? Segmento 1 (CAIs Completos)? Segmento 2 (CAIs Incompletos)? Segmento 3 (Atividades Agrícolas Modernizadas)? Segmento 4 (Atividades Agrícolas Artesanais)? b) Você gostaria de fazer algum comentário sobre a segmentação da agricultura, tal como ela é apresentada por Kageyama e colaboradores? Independente da existência de possíveis limitações, a segmentação da agricultura brasileira mostra que os produtores rurais interagem com uma variada gama de atores sociais localizados fora do setor rural. Essa interação representa a complementaridade entre setores. Todavia, devemos entender que ela ocorre em um contexto de articulação de interesses entre diferentes atores sociais e que tais atores não dispõem dos mesmos recursos de poder ou capacidade de influir, seja em nível de mercado, o locus onde as transações comerciais entre setores se verificam, seja em nível do Estado, onde as decisões políticas são formuladas12. A capitalização do processo produtivo tem ainda outras implicações. Elas transformam as relações de trabalho no campo, substituindo o sistema de colonato e parceria pelo trabalho assalariado. Essa transformação acarreta liberação de mão- de-obra, a qual se junta ao excedente populacional dos minifúndios, aumentando a disponibilidade de mão-de-obra para as atividades sazonais. Assim, a capitalização do processo produtivo agrícola, ao mesmo tempo em que representou uma potenciação da capacidade produtiva,também significou a proliferação do trabalho assalariado temporário, o que, de certa forma, pode ser observado no Quadro 2. QUADRO 2 - Composição do emprego no campo, segundo categorias ocupacionais em percentagem de equivalente homem (1970-1980) Categorias ocupacionais 1970 (%) 1975 (%) 1980 (%) Assalariado • Permanente • Temporário 23,6 (7,4) (16,2) 27,7 (8,4) (19,3) 35,8 (11,3) (24,5) Parceria 4,8 3,3 2,8 Familiar 71,6 68,9 61,5 Fonte: IBGE (1985). 23 Podemos identificar dois tipos básicos de trabalhadores temporários. 1. Trabalhadores que não se encontram totalmente desprovidos dos meios de produção: • Posseiros, parceiros, pequenos arrendatários que, temporariamente, deixam suas residências para executarem tarefas agrícolas em outras unidades de produção. Para esses trabalhadores, o trabalho sazonal é uma atividade complementar a uma ocupação principal. 2. Trabalhadores que se encontram desprovidos de qualquer meio de produção, exceto sua própria força de trabalho: • Bóias-frias, residentes nas áreas urbanas; • Itinerantes, hospedam provisoriamente nos locais de trabalho agrícola. Os dois tipos básicos de trabalhadores temporários (1 e 2) têm em comum o fato de serem remunerados pela capacidade de rendimento do trabalho. O valor do salário no trabalho temporário, de modo geral, não se determina como no trabalho por tempo (horas trabalhadas) mas pela capacidade de rendimento do trabalhador, por exemplo: tarefa, produtividade e empreitada. Todavia, a diferença quanto à forma de remuneração entre o salário por tempo e o salário por tarefa não altera em nada a natureza da relação do trabalho assalariado. “Em ambas as formas, o salário representa, sempre, um pagamento de parte da força-de-trabalho despendida, seja esta parte medida em horas de trabalho, ou em quantidade de tarefas executadas (Gonzales & Bastos, 1977: 31). Dada a forma de pagamento da força-de-trabalho e os vínculos de instabilidade que o acompanham, o trabalho temporário oferece aos empresários vantagens diferenciais sobre as demais modalidades de relação de trabalho sejam assalariadas ou semi-assalariadas. Algumas das principais vantagens: 1. a fiscalização do trabalho torna-se bastante reduzida; 2. intensificação do trabalho; 3. a não residência dos trabalhadores nas fazendas, além de descartar algumas teias legais que poderiam envolver encargos trabalhistas, permite ao empresário economizar área e evitar construções de casas, etc.; 4. facilita a interposição de intermediários (“gato”, “turmeiro”, etc.) entre o empresário e os trabalhadores, criando meios de fugir de alguns encargos sociais (só aparentemente). A remuneração por capacidade de rendimento do trabalho permite aos empresários agrícolas valorizarem seu capital de forma mais eficiente, dadas as condições da produção agrícola brasileira. Formas de trabalho como parceria perdem sua importância. Torna-se necessário, no entanto, fazermos uma distinção entre diferentes formas de parceria historicamente praticadas no país: “parceria que partilha o produto principal” e “parceria que partilha o produto secundário”. No primeiro caso, temos, por exemplo, a “quarteação” na pecuária tradicional e “meação” na cafeicultura tradicional. A quarteação praticamente desapareceu com a capitalização da agricultura. Nos dias atuais, seria fora de propósito imaginar um empresário entregando ao seu empregado um bezerro em cada quatro “vingados”. Da mesma forma, seria estranho imaginar um empresário pagando seus trabalhadores com sacas de café. A parceria que partilha produtos secundários permanece e é uma forma que pequenos e médios empresários usam para manter trabalhadores especializados (tratoristas, encarregados, retireiros etc.) nas suas fazendas: “Se não der terra para meia outros dão e o empregado vai embora” (produtor do Sul de Minas, entrevistado em 1981). 24 Dentro deste quadro, o trabalhador assalariado permanente tende a ser cada vez mais especializado (operador de máquinas, retireiro, etc.), sendo as atividades sazonais que demandam maior volume de mão-de-obra executadas por trabalhadores temporários. Devemos também observar que as transformações que se processam na agricultura brasileira vêm sendo acompanhadas por um processo de concentração de renda e terra . Os dados dos censos agropecuários de 1970 e 1980 revelam que houve uma concentração crescente de renda na atividade rural: • em 1970, os 50% mais pobres da zona rural detinham 22,4% da renda rural e em 1980, apenas 14,9%; • em 1970, os 5% mais ricos detinham 23,7% da renda rural e, em 1980, passaram a concentrar 44,2%; • o 1% dos mais ricos quase triplicou sua participação, passando de 10,9% em 1970 para 29,3% em 1980 (Figueiredo, 1984, p.14). A concentração de renda não é um fenômeno que se restringe somente ao setor rural, mas ao país como um todo. De acordo com os dados PNAD, no período de dez anos (entre 1983 e 1993) a participação dos 10% mais pobres no total dos rendimentos pessoais no Brasil caiu de 0,9% para 0,7%. Em compensação, os 10% mais ricos tiveram um aumento de sua participação na renda de 48,1% para 49,8%. A parcela de 1% mais rica da população, que detinha 14% de toda a renda pessoal em 1983, passou a deter 16% em 1993 (Folha de São Paulo, 21 de março de 1996, 1o Caderno , p. 4). O índice de Gini é um indicador que mede a desigualdade de qualquer coisa entre os elementos de um conjunto. Este índice pode ser usado para indicar como está distribuída a terra, a riqueza ou a renda de um país entre os seus habitantes. O índice de Gini varia, teoricamente, de zero a um. No caso da terra, por exemplo, ela seria igual a 1 (um) se a totalidade da terra pertencesse a um único proprietário; e seria igual a zero se a terra fosse distribuída em partes absolutamente idênticas entre todos os proprietários. Entre este contínuo, são estabelecidas as seguintes classes de concentração: 0,000 a 0,100 = concentração nula; 0,101 a 0,250 = concentração fraca; 0,251 a 0,500 = concentração média; 0,501 a 0,700 = concentração forte; 0,701 a 0,900 = concentração muito forte; o,901 a 1,000 = concentração absoluta. Quadro 3 - Concentração da posse da terra no Brasil, medida pelo índice de Gini, 1920-1980. Ano Índice de Gini 1920 0,804 1940 0,831 1950 0,843 1960 0,841 1970 0,843 1975 0,851 1980 0,859 (Retrato do Brasil, 1984, no 11). Historicamente, a concentração de terra no Brasil, medida pelo índice de Gini, situa-se na faixa muito forte (Quadro 3). Estes índices mostram que ocorreu uma ligeira diminuição entre 1950 e 1960, mas nos períodos posteriores a concentração voltou a aumentar. Se forem considerados os agricultores sem terra, o índice de Gini para 1980 salta de 0,859 para 0,923, já na faixa de concentração absoluta. 25 (Retrato do Brasil, 1984, no 11) Dados de 1990 revelam que, no Brasil, • 2,8% das propriedades possuíam áreas acima de 15 módulos fiscais e ocupavam 56,7% das terras (somente 0,9% ocupavam 35,8% das terras, isto é, 118,4 milhões de hectares) e • 89,1% das propriedades possuíam áreas inferiores a 4 módulos fiscais e ocupavam 23,4% das terras (Folha de São Paulo, 19 de maio de 1996, 1o Caderno, p. 9). O módulo fiscal varia de acordo com o município. O menor módulo mede 5 ha, nas regiões metropolitanas das capitais. O maior módulo é no pantanal mato-grossense e mede 110 ha. O que este quadro QUADRO 4 - Concentração de terra no Brasil e em outros países, medida pelo índice de Gini, 1980. Pais Índice de Cini Bélgica, Holanda e Noruega 0,300 (no máximo) EUA, Canadá Austrália e Nova Zelândia 0,400 (no máximo) Argentina, Uruguai e Chile 0,550 (no máximo) Índia e Paquistão 0,700 (no máximo) Brasil 0,859 Fonte: Retrato do Brasil, 1984, no 11. Questão: Quais seriam as possibilidades reais do associativismo como um instrumento de mudança em uma sociedade profundamente heterogênea, com uma agricultura segmentadae marcada por elevada concentração de terra e renda? 4.2 Associativismo e Estratégia de Mudança Ainda que superficial, a caracterização que efetuamos do presente cenário da agricultura brasileira mostra que o setor agrícola passa por profundas transformações, as quais envolvem mudanças nas relações de trabalho, alterações quantitativas e qualitativas na interdependência entre campo e cidade, diferenciação social e aumento nos índices de concentração de terra e renda. Tais transformações representam, também, mudanças profundas nas condições objetivas de vida dos diferentes segmentos da população rural. Elas geram “questões fundamentais”, as quais podem assumir características de “questões agrícolas” ou “questões agrárias”. Suas respostas decorrerão do modo como os diferentes atores sociais interpretam sugere ? 26 esse cenário, identificando problemas, suas causas e propondo estratégias, bem como dos recursos de poder de que dispõem para implementá-las. O associativismo é, muitas vezes, percebido como peça dessas estratégias e, como tal, pode ser visto como um instrumento capaz de transformar ou modificar a realidade ou como um instrumento que proporciona aos diferentes atores sociais meios para se adaptarem a essa realidade. A natureza do papel atribuído ao associativismo, como um “instrumento de mudança” ou “instrumento de adaptação”, decorre do modo como as “questões fundamentais” são formuladas e essa formulação é sobrepassada por diferentes concepções ideológicas de sociedade (Boxe 7). As diferentes concepções de associativismo relacionam-se com os distintos modos pelos quais os problemas referentes ao campo são interpretados. Essas interpretações podem assumir as características de “questão agrícola” ou “questão agrária” (Boxe 8). Com o propósito meramente analítico, agruparemos tais interpretações em três grandes perspectivas: perspectiva técnico-econômica, perspectiva social-reformista e perspectiva de transformação social. Boxe 7 Ideologia é um dos conceitos mais controvertidos e discutidos em sociologia. Esse termo é usado em três diferentes sentidos: (a) para designar tipos específicos de crenças; (b) para designar crenças que são, em certo sentido, distorcidas ou falsas; (c) para designar qualquer conjunto de crenças. - Tipos específicos de crenças - Nesse sentido, ideologia refere-se a um conjunto de crenças organizadas em torno de alguns valores centrais (por exemplo: comunismo, fascismo, nacionalismo). Nesse caso, ideologia é freqüentemente considerada uma oposição às instituições dominantes em uma dada sociedade e desempenha o papel de aglutinar membros em partidos. - Crenças que são distorcidas ou falsas - Esta concepção de ideologia associa-se com a perspectiva marxista. Nesse caso, ideologia possui diferentes usos mas os argumentos centrais são: (a) as ideologias são determinadas pelas estruturas econômicas da sociedade: (b) nas sociedades de classes, tais como as capitalistas, as ideologias são distorcidas pelo interesse da classe burguesa. O primeiro argumento está fundamentado na noção de superestrutura e na idéia de que a ideologia de uma pessoa é determinada pela classe social a que ela pertence. O segundo argumento é freqüentemente expresso nos conceitos de classe dominante e falsa consciência. Nesta concepção, classe é muito mais do que uma simples maneira de descrever a posição social de diferentes segmentos na sociedade. Marx percebia as classes sociais como forças reais, capazes de transformar as sociedades capitalistas em socialistas: (a) uma busca incessante do lucro pelos capitalistas levaria a uma exploração do proletariado e sua pauperização; (b) nessas circunstâncias, os trabalhadores desenvolveriam a “consciência de classe”. Consciência de classe é a situação em que o proletariado passa a compreender, objetivamente, sua posição frente a posição da burguesia e o seu papel histórico na transformação do capitalismo em socialismo. O proletariado passaria da “situação de classe em si” para a “situação de classe para si”. Situação de classe em si - proletariado é identificado como uma categoria definível, mas sem consciência de classe. A interpretação do mundo é fundamentada na concepção burguesa de realidade, o que gera uma falsa consciência. Situação de classe para si - o proletariado possui consciência de classe, isto é, percebe a sua situação de classe explorada e está pronto para desencadear o conflito contra a burguesia. - Qualquer conjunto de crenças - A concepção de ideologia como qualquer conjunto de crenças, independente de ser falso ou verdadeiro, relaciona-se com a sociologia do conhecimento. O ponto central dessa concepção é que todas as crenças são socialmente determinadas, não existindo um único fator determinante (por exemplo, o econômico). As ideologias influenciam a visão que o ser humano tem do mundo e podem ser definidas como concepções (idéias) do mundo a partir das quais os indivíduos interpretam, explicam, justificam ou questionam a “organização social, política e econômica” de uma dada sociedade. Boxe 8 “Em poucas palavras, a questão agrícola diz respeito aos aspectos ligados às mudanças na produção em si mesma: o que se produz, onde se produz e quanto se produz. Já a questão agrária está ligada às transformações nas relações de produção: como se produz, de que forma se produz. No equacionamento da questão agrícola, as variáveis importantes são as quantidades e os preços dos bens produzidos. Os principais indicadores da questão agrária são outros: a maneira como se 27 Para a perspectiva técnico-econômica os problemas do campo são formulados em termos de questão agrícola, a qual se relaciona com os aspectos ligados às mudanças na produção em si mesma: o que se produz, onde se produz e quanto se produz. Para essa perspectiva, as mudanças a se processarem na agricultura ocorrerão sobre a égide da modernização do processo produtivo: desenvolvimento da mentalidade empresarial, novas técnicas de produção, novos mecanismos de comercialização, eficiência econômica e integração da agricultura aos complexos agroindustriais. A perspectiva social-reformista vincula a questão agrária à justiça social. A miséria de grande parcela da população rural reside, essencialmente, na acentuada concentração da propriedade da terra, concentração de renda e no desigualmente acentuado acesso a recursos e benefícios oriundos do complexo institucional da sociedade. Em alguns casos, a acentuada concentração de terra e renda é tida como obstáculo ao desenvolvimento econômico de uma sociedade, uma vez que limita a produção de alimentos e cria uma legião de marginalizados. Para a perspectiva social-reformista, as mudanças a se processarem no setor agrícola devem iniciar, necessariamente, por uma reforma agrária. A perspectiva de transformação social vincula a questão agrária à posse privada da terra. Sendo a terra um meio de produção, a sua posse constitui um elemento fundamental para a exploração do trabalhador que a cultiva, da mesma forma que a posse privada de outros meios de produção constitui elemento fundamental para que haja exploração de outras categorias de trabalhadores. Para a perspectiva de transformação social, as mudanças a se processarem no setor rural são as mesmas a se processarem na sociedade como um todo: abolição dos meios privados de produção, edificando uma sociedade socialista. Essas interpretações, como respostas estratégicas a situações específicas, podem se sobrepor. Por exemplo, embora apoiada na perspectiva técnico- econômica, políticas podem ser formuladas, visando promover uma reforma agrária como resposta à necessidade de reorganizar a produção agropecuária ou para atenuar conflitos pela posse da terra. Da mesma forma, medidas de caráter social- reformista podem ser advogadas como parte de uma estratégia de mobilização popular, sendo, no entanto, a principal razão dessa mobilização fundamentada em uma perspectiva de transformação social. Aumento da produtividade e do retorno econômico pela introdução de novos processos
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