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PerspectivasDaTributacaoDosTokensNaoFungiveis-Martins-2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
JÚLIO SILVESTRE MARTINS 
 
 
 
 
 
PERSPECTIVAS DA TRIBUTAÇÃO DOS TOKENS NÃO FUNGÍVEIS (NFTS) NO 
CONTEXTO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022
 
 
 
JÚLIO SILVESTRE MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PERSPECTIVAS DA TRIBUTAÇÃO DOS TOKENS NÃO FUNGÍVEIS (NFTS) NO 
CONTEXTO BRASILEIRO 
 
 
 
 
Monografia apresentada para obtenção do título de 
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do 
Rio Grande Do Norte – UFRN. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Karoline Lins Câmara 
Marinho de Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
JÚLIO SILVESTRE MARTINS 
 
 
PERSPECTIVAS DA TRIBUTAÇÃO DOS TOKENS NÃO FUNGÍVEIS (NFTS) NO 
CONTEXTO BRASILEIRO 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito, 
do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
como requisito para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
 
Aprovada em: 17/02/2022. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
_______________________________________ 
Prof. Dra. Karoline Lins Câmara Marinho de Souza 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 
Orientadora 
 
 
______________________________________ 
Prof. Me. Jules Michelet Pereira Queiroz 
Examinador 
 
 
_______________________________________ 
Prof. Dr. Otacílio dos Santos Silveira Neto 
Examinador 
 
 
 
 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 Martins, Júlio Silvestre. 
 Perspectivas da tributação dos Tokens Não Fungíveis (NFTs) no 
contexto brasileiro / Júlio Silvestre Martins. - 2022. 
 68f.: il. 
 
 Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, 
Departamento de Direito. Natal, RN,2022. 
 Orientadora: Profa. Dra. Karoline Lins Câmara Marinho de 
Souza. 
 
 
 1. Direito Tributário - Monografia. 2. Tokens Não Fungíveis 
(NFTs) - Monografia. 3. Tecnologias disruptivas - Monografia. 4. 
Arte - Monografia. 5. Criptoativos - Monografia. I. Souza, 
Karoline Lins Câmara Marinho de. II. Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 34:336.2 
 
 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente à Universidade Federal de Rio Grande do Norte, instituição 
que me formou não só como profissional, mas como ser humano. Aqui, deixo meus 
agradecimentos a todos os professores que fizeram parte da minha graduação, em especial à 
minha orientadora, Dra. Karoline Marinho, que aceitou fazer parte desse trabalho e contribuiu 
imensamente para sua construção. De igual forma, agradeço aos membros da banca que se 
propuseram a contribuir com o presente estudo. 
Mais a mais, gostaria de agradecer aos meus pais, Silvia Helena e Walfredo, por terem 
proporcionado o maior conforto e acolhimento possíveis durante toda minha jornada 
acadêmica, e à minha irmã, Isadora, que mesmo de longe me acompanha diariamente em meus 
pensamentos. Vocês foram peças cruciais para as minhas conquistas, e lhes devo todo meu 
sucesso. 
Também registro meus agradecimentos aos profissionais que moldaram minha 
perspectiva sobre o Direito, sobretudo aos defensores públicos com quem tive o prazer de 
estagiar, Dra. Camila, Dr. Nelson e Dra. Natércia, que me inspiraram cotidianamente. Em 
mesma linha, agradeço a todos os projetos de extensão que marcaram minha história, 
principalmente a SOI e a UNEMUN, pelos quais carrego um carinho imenso. 
Agradeço, finalmente, a todos aqueles que serviram de apoio e afago durante esse 
trajeto, como Mariana, João Paulo e Luiz Henrique, grandes amigos que atravessam as paredes 
da universidade. Gostaria de registrar, ainda, agradecimentos especiais a algumas amigas que 
me acompanharam desde o primeiro até o último momento na universidade: à Isabela, que me 
ensina sobre amizade e poesia todos os dias, à Jasmine, cuja atenção e carinho são 
incomparáveis, à Débora, que se faz presente desde as minhas primeiras memórias, e à Victória, 
cujo companheirismo e presença foram essenciais, obrigado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A arte é uma flor nascida no caminho da nossa 
vida, e que se desenvolve para suavizá-la” 
(Arthur Schopenhauer) 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A presente monografia tem por objetivo analisar os Tokens Não Fungíveis (NFTs) no 
ordenamento jurídico brasileiro sob a perspectiva do Direito Tributário. Os NFTs se configuram 
como cadeias de código criptografado que conferem a um indivíduo um título de propriedade 
sobre arquivos digitais específicos, notoriamente obras de arte. Portanto, busca-se definir a sua 
natureza jurídica e algumas de suas características principais, a fim de delimitar o tratamento a 
lhe ser conferido. Por serem itens associados a obras de arte, investiga-se se eles possuem a 
mesma natureza que obras físicas, ou se detém características mais semelhantes aos dos demais 
criptoativos, relacionadas ao seu caráter disruptivo. Após, busca-se avaliar a possibilidade de 
tributação destes itens, traçando algumas considerações acerca de princípios tributários 
essenciais, como a capacidade contributiva. Em seguida, pondera-se acerca da delimitação da 
competência tributária e suas nuances dentro do contexto da revolução tecnológica promovida 
pelos criptoativos. Ato contínuo, traz-se alguns exemplos de tributação dos NFTs em 
ordenamentos jurídicos estrangeiros, de forma a guiar a futura experiência brasileira. 
Finalmente, avalia-se a possibilidade de incidência do IOF, IPI, ICMS, ISSQN e IR. Ao final, 
conclui-se que, atualmente, apenas o Imposto de renda seria compatível com os NFTs. Além 
disso, propõe-se o desenvolvimento de um imposto específico para bens disruptivos 
emergentes. Utiliza-se, principalmente, do método de pesquisa dedutivo, investigando a partir 
de outros trabalhos acadêmicos e de avaliações doutrinárias e legislativas. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Direito Tributário. Tokens Não Fungíveis. Tecnologias disruptivas. 
Arte. Criptoativos. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present monography aims to analyze Non-Fungible Tokens (NFTs) in the brazilian legal 
order by the lenses of the country’s Tax Law. NFTs represent chains of encrypted codes that 
grant an individual a proprety asset over specific digital files, notably works of art. Therefore, 
the paper intends to define the legal nature of the assets, as well as some of their main 
characteristics, analyzing the possibilites of the treatment that should be given to such items. 
As they are evidently connected to art, this study investigates if the Tokens have the same nature 
as physical works, or if they should be trated exclusively as a disruptive invention, much like 
other cryptoassets. Moreover, the research avaluates the possibilities o taxation regarding theses 
items, drawing some considerations about brazillian tax principles, i.e., the contributory 
capacity. After that, the paper ponders some considerations about tax jurisdiction, aiming to 
define which federative entity is able to tax NFTs in the context of its technological revolution. 
In sequence, it’s shown some of the international prerrogatives regarding the theme, explaining 
how certain countries tax NFTs. Finally, it’s evaluated which taxes are compatible and should 
be applied to NFTs between IOF, IPI, ICMS, ISSQN and IR. It is concluded that currently only 
the income tax would be compatible with NFTs. In addition, it is proposed to develop a specifictax for emerging disruptive goods. The monography was built using the exploratory and 
deductive methods, mostly through the analysis of other academic papers, doctrinary reviews 
and laws. 
 
KEYWORDS: Taxation Law; Non-Fungible Tokens; Disruptive Technologies; Art; Cripto 
assets; 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
Art. Artigo 
CBE Capitais Brasileiros no Exterior 
CGT Capital Gain Tax 
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
CTN Código Tributário Nacional 
DST Digital Service Tax 
EUA Estados Unidos da América 
HMRC Her Majesty’s Revenue & Customs 
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 
ICO Initial Coin Offering 
IOF Imposto sobre Operações Financeiras 
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados 
IR Imposto de Renda 
IRC Internal Revenue Code 
IRPF Imposto sobre Renda de Pessoa Física 
IRPJ Imposto sobre Renda de Pessoa Jurídica 
IRS Internal Revenue Service 
IT Income Tax 
ITR Imposto Territorial Rural 
ISSQN Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza 
LC Lei Complementar 
NFT Non-Fungible Token 
PL Projeto de Lei 
STF Supremo Tribunal Federal 
TIPI Tabela de incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 
2 A DEFINIÇÃO DA ARTE NO CONTEXTO DIGITAL ................................................ 12 
2.1 Tokens Não Fungíveis, Criptoativos e Blockchains ....................................................... 17 
2.2 A Natureza Jurídica e o Valor dos NFTs ....................................................................... 22 
3 A TRIBUTAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS COMO FORMA LEGÍTIMA DE 
INTERVENÇÃO ESTATAL ................................................................................................ 29 
3.1 Considerações Sobre a Competência para Tributar NFTs .......................................... 35 
3.2 A Tributação dos NFTs em Ordenamentos Internacionais .......................................... 38 
4 PERSPECTIVAS QUANTO À TRIBUTAÇÃO DOS NFTS NO BRASIL ................... 44 
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 57 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61 
 
 
9 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A arte, em sua essência, sempre foi matéria central de debates na Filosofia. Uma das 
interpretações de Arthur Schopenhauer, por exemplo, sustentava que a arte em si movia o 
mundo, pois este é definido como um conjunto entre representação e vontade, características 
fundamentais da realização artística (SCHOPENHAUER, 2005). Esta ligação intrínseca entre 
arte e sociedade observada pelos filósofos clássicos ainda é verificável, a determinado ponto, 
na contemporaneidade, sendo certo pontuar que a arte e os seus meios de produção evoluem em 
conjunto com a sociedade ao seu redor. 
Nesse sentido, observando-se a revolução tecnológica do século XXI, é notório que a 
arte integrou o meio digital de forma maciça, o que levantou críticas por parte de artistas e 
pesquisadores puristas que não classificam as obras produzidas virtualmente como sendo, de 
fato, arte. Muitas vezes, este pensamento é fundamentado no fato de que as técnicas usadas para 
a confecção destes itens não se assemelham às das artes clássicas. (WANG; WANG, 2021). 
De toda forma, a popularização das redes sociais e do e-commerce possibilitou que as 
obras digitais sejam replicadas e compartilhadas a níveis nunca antes vistos. Merece destacar, 
no ponto, que as revoluções tecnológicas modificaram completamente as formas de exercer 
transações comerciais e empreender, afetando diretamente o mercado artístico. Destarte, 
surgem as questões problemas introdutórias a este trabalho: quais são os meios modernos de 
transações artísticas e como eles devem ser tributados? 
Nesse contexto, surgem Non-Fungible Tokens (NFTs), ou “Tokens Não Fungíveis”, 
os quais são ativos imateriais que delimitam a propriedade de documentos eletrônicos mediante 
o registro em blockchains. Seu funcionamento, portanto, muito se assemelha ao das bitcoins, 
criptomoedas de alto valor que não são atreladas a qualquer órgão financeiro central (MEIRA; 
DALL’ORA; SANTANA, 2020). Entretanto, as bitcoins são fungíveis e intercambiáveis, 
enquanto os NFTs são únicos, designados a uma unidade de arquivo virtual específico. Em 
virtude da sua natureza e da recente expansão do mercado criptografado, os NFTs rapidamente 
se popularizaram como ferramenta de comercialização de arte digital (NADINI et al., 2021). 
Sobre a matéria, em que pese em primeira análise os Tokens em questão representem a 
possibilidade de artistas expandirem seu nicho comercial virtualmente e se beneficiarem do 
sistema de blockchain, os NFTs apresentam algumas características que merecem um olhar 
crítico. A título de exemplo, a criação dos ativos mediante transações em criptomoedas 
demanda uma quantidade exorbitante de energia, o que, por conseguinte, gera um impacto 
10 
 
 
 
significativo no meio ambiente, contribuindo de modo direto para a progressão do efeito estufa. 
(FOWLER; PIRKER, 2021; EGIYI; OFOEGBU, 2020). 
Não suficiente, a despeito dos Tokens em estudo serem infungíveis, ou seja, 
insubstituíveis, eles não tornam os itens de arte digital aos quais dizem respeito irreplicáveis. 
Levando em conta que o valor dos NFTs pode vir a alcançar 60 milhões de dólares (NADINI 
et al., 2021), e que a sua compra, em tese, sequer garante a posse exclusiva do item a que eles 
dizem respeito, é preciso levantar a discussão de que se eles de fato são apenas forma de 
produção e comercialização artística, ou moeda de investimento que detém maior apelo 
ideológico em vez de prático. 
Nesse contexto, verifica-se que a revolução digital afetou diretamente o que se entende 
por comércio, produtos, e prestação de serviços. Todavia, diversos ativos que estão atrelados 
ao e-commerce criptografado ainda possuem tratamento jurídico-formal impreciso, como é o 
caso dos NFTs. Assim, identifica-se um claro desafio do Direito Tributário moderno: como 
tributar essa nova tecnologia disruptiva? 
A ausência da atuação do Fisco sobre essa área, apesar de favorável ao elevado 
crescimento econômico virtual, gera lacunas e desproporções entre os comércios físicos 
“comuns” e os e-commerces, principalmente aqueles atrelados às blockchains. No ponto, é 
axiomático que a expansão da economia digital e a inerente dificuldade em determinar a sua 
jurisdição obstaculizam o exercício arrecadatório de tributos por parte do Estado, contribuindo 
para o “desajustamento dos sistemas fiscais e para própria fragmentação da soberania fiscal” 
(VALADA, 2019, p. 64; CORREA, AFONSO, FUCK, 2020). 
Nesse sentido, é preciso questionar se o sistema tributário brasileiro está apto a atuar 
frente às novas tecnologias, e, nesse caso, quais seriam os tributos a incidir sobre os Tokens 
Não-Fungíveis. Ademais, é preciso se debruçar acerca da competência tributária nesses casos. 
Explicitados os elementos introdutórios, é necessário evidenciar os principais 
objetivos do presente estudo, os quais se concentram nas seguintes questões-problema: “qual a 
natureza jurídica dos Tokens Não Fungíveis? Qual o tratamento que estes itens merecem 
receber pelo Direito Tributário? Eles podem ser considerados arte? Quem detém a competência 
para tributá-los?”. Em suma, delimita-se como o objetivo geral deste Trabalho a identificação 
da natureza jurídica dos NFTs e a sua respectiva incidência tributária. 
Linha contínua, a pesquisa manifesta sua justificativa a partir necessidade de 
regulamentação das novas tecnologias disruptivas integradas ao mercado digital, no caso, sobre 
os NFTs. Conforme demonstrado no curso do trabalho,os Tokens apresentam um crescente 
11 
 
 
 
índice de popularidade, movimentando centenas de milhões de dólares anualmente, de forma 
que é preciso avaliar as nuances do crescimento desregulado desse setor econômico, bem como 
quais as possíveis atuações do Fisco sobre essa matéria. Em contraste, o tema encontra pouco 
lastro acadêmico, jurídico e administrativo, de modo que o presente estudo traz atenção à 
problemática de forma inovadora. 
Para garantir a efetividade dos objetivos suscitados, mediante técnicas que permitam 
a tomada de conclusões mais assertivas, esta pesquisa utiliza do método de abordagem 
dedutivo, em conjunto com técnicas de pesquisa exploratória. Destarte, faz-se uso de métodos 
qualitativos, almejando analisar trabalhos acadêmicos, legislação pátria, e avaliações 
doutrinárias sobre o tema para que, ao fim, delimite-se as considerações autorais. Pretende-se, 
portanto, realizar um levantamento bibliográfico imprescindível a esta pesquisa em documentos 
científicos e em leituras doutrinárias de autores como Roque Antônio Carraza e José Roberto 
Afonso, os quais foram peças-chave para o presente estudo. 
No primeiro capítulo, buscar-se-á a delimitação de alguns conceitos que identifiquem 
o que seria uma obra de arte, almejando identificar se os NFTs podem se enquadrar como tal. 
Nessa abordagem, o trabalho prosseguirá na busca para entender como funcionam os Tokens, 
investigando seus mecanismos principais e o motivo da sua emergente popularidade. No mesmo 
capítulo, delimitar-se-á a natureza jurídica dos ativos, bem como debaterá sobre o seu real valor, 
almejando compreender seu grau de essencialidade para posterior análise tributária. 
No segundo capítulo, procura-se justificar a necessidade de tributação dos Tokens, 
assim como delimitar algumas características relevantes do sistema tributário brasileiro, como 
os princípios da capacidade contributiva e da legalidade. Após, pondera-se acerca da 
competência tributária para a tributação dos NFTs, matéria ainda pouco discutida 
academicamente. Em seguida, será proposta uma análise acerca do tratamento de alguns 
ordenamentos jurídicos estrangeiros sobre criptoativos, de forma a melhor compreender a 
abordagem a ser dada pelo Fisco brasileiro. 
No último capítulo, finalmente, busca-se analisar a possibilidade de incidência de 
alguns dos principais tributos existentes no Brasil, analisando cada um de seus fatos geradores 
e sua potencial compatibilidade com os NFTs. No estudo, optou-se pela análise de cinco 
impostos específicos, quais sejam, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Imposto de 
Produtos Industrializados (IPI), o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), 
o Imposto Sobre Serviços De Qualquer Natureza (ISSQN), e, finalmente, o Imposto de Renda 
(IR). 
12 
 
 
 
2 A DEFINIÇÃO DA ARTE NO CONTEXTO DIGITAL 
 
Antes de se partir ao estudo acerca dos Tokens Não Fungíveis, é necessário esboçar um 
panorama geral sobre a caracterização da arte pela filosofia através dos séculos, objetivando, 
posteriormente, definir se os NFTs se enquadram como tal. Nesse sentido, é preciso entender o 
que pode ser considerado como arte de maneira tradicional, e analisar a forma com que ela se 
configura digitalmente — meio em que os NFTs se propagam. Frise-se que o presente estudo 
reconhece que a definição da arte é quase impossível, por ser uma área que está em constante 
mutação e desenvolvimento, de forma que se busca apenas traçar algumas características gerais 
quanto a sua composição para, ao final, ter uma noção maior da sua natureza essencial. 
Preliminarmente, o conceito clássico de arte pode ser compreendido como a 
representação da realidade feita por um indivíduo. Por óbvio, não necessariamente uma obra 
vai retratar o que de fato se encontra no mundo material, mas, a grosso modo, o princípio da 
“arte” pode ser definido como a da percepção de um artista sobre a vida (CHAUI, 2020). Nesse 
seguimento, é interessante levantar a concepção aristotélica da arte, a qual se materializa 
mediante a representação autoral da natureza. Deve-se atentar, todavia, que a representação não 
se confunde com a cópia, uma vez que a arte recria o mundo a partir da concepção do artista, 
não apenas o representa de forma idêntica ao preexistente (BOAL, 1991). 
Cumpre mencionar, contudo, que o conceito de representação, embora muito aceito ao 
se buscar definições da arte, já foi rejeitado em momentos específicos da história. O 
modernismo americano do século XX, por exemplo, buscou destruir e reconstruir os ideais 
clássicos, efetivamente se distanciando da “representação” como ideia de reflexo, e objetivando 
a produção artística que propunha uma concreta intervenção material no imaginário coletivo 
(EAGLETON, 1995). Trata-se, portanto, de uma interpretação individual e autêntica do 
processo criativo, a qual, mesmo já sendo observada anteriormente no curso da história, se 
manifesta de forma evidenciada nos movimentos artísticos contemporâneos. 
Para além da representação, outros conceitos são de fundamental importância ao se 
tratar da essência artística, a começar pelo belo. O belo, para uma vertente da filosofia clássica, 
é aquilo que transforma um simples item de percepção em uma obra de arte. Para Schopenhauer, 
por exemplo, são o belo e sua metafísica que possibilitam a contemplação e o escapismo ao se 
apreciar uma obra, o que serve como estopim para a “exposição de ideias” do artista original, 
configurando, em essência, a arte em si (apud NUNES, 2017). 
No entanto, partindo-se desta concepção do belo, a definição da arte se torna 
consideravelmente restrita, visto que a beleza, ao decorrer da filosofia, foi retratada como rara, 
13 
 
 
 
somente dominada pelos chamados “gênios”, que seriam os verdadeiros artistas, conforme 
definiu Schopenhauer (SCHOPENHAUER, 2005). 
Assim, mesmo que o conceito de belo seja classicamente intrínseco à produção artística 
e essencial para que se compreenda o que se considera como arte atualmente, ele não precisa 
ser identificado em todas as obras. Isso porque os objetivos centrais da arte não mais se 
resumem à contemplação e à sensibilidade, características derivadas do belo clássico, passando 
a propor novas perspectivas, como as críticas sociais e a utilização de novas técnicas como meio 
de desafiar a própria produção artística. (CHAUI, 2020). 
Em contraste ao belo, tem-se o conceito de técnica. Enquanto o belo se caracteriza pela 
subjetividade, a técnica se configura como um caminho de produção mecânico e objetivo, 
atrelado às chamadas ciências “úteis”, a exemplo da medicina e da agricultura, que foram 
subjugadas no curso da história em favor das “liberais”, como a gramática e a música (CHAUI, 
2020). A técnica, portanto, se aproxima da capacidade de replicação de algo, haja vista que para 
se aperfeiçoar nas ciências úteis, é necessário manter um determinado padrão e constância em 
tudo aquilo que se produz, enquanto para se aperfeiçoar nas artes liberais era preciso ter domínio 
do belo. 
Nesse sentido, os itens produzidos apenas a partir da “técnica” não seriam, à primeira 
vista, considerados como obras de arte, uma vez que no modo de produzir tecnicista não haveria 
inspiração — componente fundamental da produtividade artística. Entretanto, desde o advento 
das Revoluções Industriais até a contemporaneidade, a arte e a técnica encontraram em si uma 
possibilidade de crescimento conjunto, tendo a produção artística aproveitado de novos 
materiais industrializados para seu próprio aperfeiçoamento. (CHAUI, 2020). 
Dessarte, com a criação dos referidos produtos industrializados — como tintas e pincéis 
sintéticos, por exemplo — a arte e a técnica desenvolveram uma ligação simbiótica, quase 
incapaz de ser desfeita. Assim, é possível levantar a seguinte questão: como diferenciar um 
produto de cunho artístico em relação aos demais? Nesse ínterim,observa-se que todos os 
pontos elencados até então convergem para revelar que a caracterização da arte como arte é 
feita, de fato, a partir da identificação de sua funcionalidade objetivada. 
Sobre a matéria, a funcionalidade da arte é assunto extensamente discutido no curso da 
filosofia, mas que encontra duas linhas de pensamento tradicionais, quais sejam: a concepção 
pedagógica e a concepção expressiva das artes. A primeira escola, de origem aristotélica e 
posteriormente desenvolvida por Kant, sustenta que o papel central da construção artística é 
educar moralmente a sociedade, levando à elevação e libertação da alma a partir da reflexão e 
14 
 
 
 
do sublime1 (KANT, 1995). É preciso notar, nesse ponto, que a materialização dos sentimentos 
não depende apenas do artista, mas também estaria fortemente ligada ao que se chama de “Juízo 
de gosto”, ou seja, a percepção de terceiros consumidores da arte sobre aquela obra (KANT, 
1995). 
Linha contínua, é a partir da escola pedagógica que artistas contemporâneos expressam 
o dever da arte em estimular o pensamento geral e político, incluindo em si as críticas sociais, 
como se observa nas obras de Augusto Boal (1995). Em suma, esta vertente define que a função 
da arte se encontra exatamente no elo que ela cria com a sociedade, de modo que as obras devem 
objetivar o engajamento social “a serviço da emancipação do gênero humano, oferecendo-se 
como instrumento do esforço de libertação”. (CHAUI, 2020, p. 415). 
Em outra abordagem, a concepção expressiva das artes mais se assemelha às definições 
clássicas de representação e belo. No ponto, para autores como Collingwood (1958), a produção 
artística tem a função de evocar sentimentos e expressões dos indivíduos, almejando, ao fim, a 
ampliação da consciência. A expressividade, ainda, estaria presente também no momento de 
fabricação das obras, haja vista que estas representam um catalisador para processar os 
sentimentos de um artista. Frente ao exposto, evoca-se uma ideia da arte como uma alegoria, 
de modo que, para esta corrente filosófica, ela encontra sua função na própria produção cultural 
(CHAUI, 2020). Para ambas as correntes, portanto, percebe-se que a arte tem um caráter 
linguístico-informacional e subjetivo. 
No presente estudo, enfim, acata-se estas duas linhas de pensamento gerais, não 
excluindo uma em detrimento da outra. Portanto, pode-se definir que a “arte” como instituição, 
de forma clássica, se materializa como a reconstrução da realidade de forma autêntica a partir 
do ponto de vista de um produtor, denominado de artista, cuja fabricação incorpora tanto 
técnicas de produção aperfeiçoadas, quanto sentimentos e inspirações dos artistas que as 
compõem. Estes itens podem ter múltiplas funções, mas sempre é possível identificar uma 
função pedagógica, ou uma função expressiva em sua essência. Em que pese não seja absoluta, 
essa definição coloca em evidência o elemento central do desenvolvimento artístico: a 
subjetividade. 
Mais a mais, “obra de arte” pode ser definida como a materialização da arte em si, sendo 
o artefato que exprime as impressões obtidas pelo artista, e que carrega consigo um conteúdo 
semântico que seu produtor deseja expressar (ALMEIDA; VITA, 2019). É a obra de arte, 
 
1 Para Kant, o sublime se configura como a própria elevação e arrebatamento do espírito humano “diante da 
beleza como algo terrível, espantoso, aproximação do infinito” (CHAUI, 2020, p. 415). 
15 
 
 
 
portanto, que tem maior relevância para o direito, pois é a partir dela que as instituições das 
artes adentram o mundo material e, por conseguinte, o jurídico. 
Dado o panorama histórico e filosófico das concepções de arte, é preciso analisar o 
contexto atual dos meios artísticos, especificamente ao se perceber as novas tecnologias 
emergentes no meio digital. No ponto, destaca-se que a produção de arte ligada à tecnologia 
virtual não é uma prática recente, mas sim advinda de toda evolução eletroeletrônica do século 
XX, em especial da década de 1960. Nesse sentido, é interessante perceber o papel do artista 
em manipular e extrair o máximo de utilidade das inovações tecnológicas que o circundam, 
expandindo o seu potencial expressivo (SOGABE, 2004) — como se observa, por exemplo, 
com os computadores. 
É evidente que a internet possibilita que a arte digital, bem como quaisquer mídias e 
produtos de dados, sons e imagens, sejam transmitidos de forma sistêmica entre inúmeros 
usuários, o que, segundo Hito Steryl (2020), chega até mesmo a configurar um próprio estado 
da matéria. Destarte, a arte encontra um obstáculo novo, inerente à realidade virtual: uma obra 
continua sendo considerada como tal, mesmo com um alto índice de reprodutibilidade? Sua 
autenticidade e valor se perderia ao se reconhecer que ela não é única? 
Nesse contexto, a reprodutibilidade das obras artísticas como um todo já vem sendo 
trabalhada por décadas, mas as novas tecnologias digitais trouxeram uma nova perspectiva 
sobre a matéria. A arte em si sempre foi reprodutível, afinal, algumas das técnicas de 
aprendizado tradicionais utilizadas entre estudantes e professores de arte são, principalmente, 
derivadas da replicação guiada. Contudo, com a revolução eletrônica, as obras passaram a ser 
replicáveis de forma técnica e em série, a ponto de não ser possível distinguir a peça original e 
as suas cópias — é o caso, por exemplo, do compartilhamento de gravuras por meio das redes 
sociais. (BENJAMIN, 1994). 
Em primeira análise, a alta reprodutibilidade acarreta a democratização da cultura, tendo 
em vista que o acesso às obras se torna mais fácil e direto, desconstruindo a ideia de arte como 
de um privilégio elitista. A título de exemplo, é possível elencar os museus virtuais como uma 
criação tecnológica positiva para o mundo das artes. Em que pese as definições clássicas de 
“museus” os definem como um espaço físico voltado à curadoria e preservação de obras de arte 
e produções científicas materiais (BURCAW, 1975 apud SCHWEIBENZ, 1998), eles são, em 
essência, um intermédio para a disseminação de conhecimento independente dos meios pelos 
quais o faça. 
16 
 
 
 
Assim, os museus virtuais se mostram como um avanço, compartilhando e difundindo 
culturas e coleções por diversos mediante redes de internet, sendo capazes de atingir um público 
mais diversificado e amplo do que os museus físicos “tradicionais”, enquanto ainda mantém a 
essência das artes em seu cerne. Trata-se, portanto, de verdadeira democratização ao acesso 
cultural a partir da alta reprodutibilidade artística. 
 Não suficiente, para além do consumo, a era digital também permite uma 
democratização das artes em um sentido produtivo. No ponto, o compartilhamento de técnicas 
por meio da internet possibilita o surgimento de diversos artistas que, sem ela, não conseguiriam 
estabelecer um nicho de mercado amplo ou desenvolver arte em si. Nesse sentido, surgem novas 
técnicas de produção verdadeiramente tecnológicas e digitais — como o uso de mesas 
digitalizadoras, por exemplo. Assim, artistas são capazes de produzir telas e pinturas com 
apenas um computador, tarefa que antes demandava o uso de tinta, pincéis, técnicas clássicas 
etc. 
Não se trata, observa-se, da dispensa dos processos “tradicionais”, mas efetivamente da 
criação de novos modos de produção, aludindo ao conceito antes exposto da relação simbiótica 
entre arte e técnica. Frise-se, no ponto, que a arte digital não é uma forma completamente 
distinta de produção artística, mas sim uma vertente capaz de incorporar diversos tipos de 
produções anteriormente conhecidas de um modo disruptivo, o que gera uma forma de 
“revolução criativa”, como definido por Bo Xing (TRAUTMAN, 2021, p. 15). 
É plenamente possível, portanto, se observar os conceitos referentes à arte clássica 
dentro do meio digital, haja vista que, em que pese o seu meio de produção e compartilhamentoser novo, a essência da arte é preservada. 
Em contrapartida, a democratização da cultura e dos seus meios de produção dentro do 
sistema capitalista sempre aparenta causar um efeito reacionário nas elites que historicamente 
os controlavam, gerando a desvalorização dos produtos criados de forma popular. 
Tradicionalmente, de fato, a produção artística tende a ser valorizada conforme a sua raridade 
e exclusividade, características que, por óbvio, estão diretamente atreladas a um contexto 
socioeconômico específico. O valor de troca2 atribuído às obras, nesse sentido, é ligado 
diretamente à força das comunidades que as coletam e as dominam, de forma que a produção e 
comércio da arte se caracteriza com um fenômeno completamente social (TRAUTMAN, 2021). 
 
2 O “valor de troca” é aquele utilizado para a realização de transações de mercadorias. Ele é uniforme e 
qualitativamente idêntico, sua forma de materialização se dá a partir do dinheiro. (HARVEY, 2021) 
17 
 
 
 
Noutra abordagem, o enorme crescimento produtivo e consumista da arte no meio 
virtual também resulta na sua massificação. Isso porque o alto consumo de mídias gera, por si 
só, um aumento na demanda de novos conteúdos, o que é diretamente ligado ao fenômeno da 
“indústria cultural”, desenvolvido principalmente por Theodore Adorno. Em seu livro 
“Indústria Cultural e Sociedade”, o teórico enfatiza que a alta demanda artística e cultural faz 
com que as elites dominantes do mercado promovam, dentro de um contexto capitalista, uma 
produção padronizada de mercadorias que à primeira vista são esteticamente e mecanicamente 
diferenciadas, mas que sempre serão iguais em essência, vazias de qualquer significado mais 
profundo. Assim, a ideia de escolha e de diversidade de produtos se torna meramente ilusória, 
uma vez que todas as “qualidades e as desvantagens” destes objetos se tornam, de fato, 
meramente superficiais (ADORNO, 2009, p. 8). 
Adorno revela, portanto, que a indústria objetiva a capitalização da cultura, a partir da 
oferta de produtos simplificados e feitos de forma específica para persuadir indivíduos ao 
consumo cego — há, portanto, um esvaziamento da produção cultural, e, por conseguinte, da 
arte. Nas palavras de Marilena Chauí, o produto resultante da indústria cultural é a criação de 
um tipo de mercadoria que, em relação ao consumidor, “não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-
lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova 
aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez” (2020). Esta ideia, por óbvio, vai de encontro com o 
que se entende como arte, tendo em vista que não se atinge nenhuma das funções artísticas 
definidas em tópico passado. 
 Os NFTs, como será desenvolvido a seguir, surgem como uma espécie de mecanismo 
para possibilitar o crescimento do mercado digital, mas podem acabar se tornando a 
materialização das duas problemáticas levantadas anteriormente — a necessidade de uma elite 
em manter e especular em cima de um determinado valor atribuído à arte, e a produção 
massificada e vazia de produtos frente à uma indústria cultural. 
 
2.1 Tokens Não Fungíveis, Criptoativos e Blockchains 
 
 Dentro do contexto da revolução tecnológica observada desde meados do século XX, 
que teve como uma de suas consequências a popularização da arte digital, sempre foi difícil 
quantificar os valores a serem atribuídos às peças de cunho artístico feitas e disseminadas 
virtualmente. Isso ocorre pois seria quase impossível fixar um valor de uso referente a um item 
infinitamente replicável (TRAUTMAN, 2021). 
18 
 
 
 
Linha contínua, a replicabilidade desses artigos também faz com que seja extremamente 
difícil diferenciar, na prática, a pessoa que detém autoria e propriedade de determinada peça 
virtual daquela que apenas salvou uma cópia do arquivo em seu computador. Nesse contexto, 
os Non-Fungible Tokens, ou Tokens Não Fungíveis (NFTs) surgem, à primeira vista, como uma 
solução a essas problemáticas. 
Sobre o assunto, definem-se como NFTs as unidades de códigos insubstituíveis e não 
intercambiáveis3 que estão atreladas a um arquivo, normalmente de imagem, designadas a uma 
rede de blockchain. Portanto, os Tokens aqui retratados não são os produtos artísticos em si, 
mas sim a sua codificação dentro de um sistema de blockchain. A título elucidativo, a criação 
dos NFTs é feita mediante o envio da obra digital a uma rede de mercado criptografado para 
que seja feito o seu registro e posteriormente ele possa ser comercializado a partir do uso de 
criptomoedas (CHOHAN, 2021). 
Esse processo de registro é denominado minting, e normalmente é feito por uma 
empresa terceira mediante o pagamento da chamada gas fee, usada para remunerar os 
mineradores da blockchain. Os NFTs se tratam, portanto, de ativos digitais cuja existência está 
atrelada exclusivamente aos sistemas criptografados, motivo pelo qual alguns autores já os 
definem como uma criptomoeda própria (WANG et al., 2021). 
 Cumpre ressaltar, no ponto, que ao gerar um NFT, o dono da arte ao qual ele está ligado 
não perde os seus direitos autorais sobre sua obra, podendo criar novos Tokens referentes a 
mesma imagem. Isso também implica, contudo, que mesmo com o registro da propriedade 
referente a um bloco de códigos específico, não há qualquer garantia de exclusividade ao se 
comprar ou desenvolver um NFT, podendo o arquivo digital em si ser replicado como qualquer 
outro item compartilhado virtualmente (CHOHAN, 2021). Dessarte, uma das principais 
discussões que circundam esse cripto ativo é o seu valor de uso, pauta a ser desenvolvida em 
tópico futuro. 
 Outrossim, para a compreensão dos Tokens Não Fungíveis e de sua natureza é preciso 
definir o que se entende por “criptoativos”, “criptomoedas” e “blockchain”, bem como seus 
padrões básicos de funcionamento. Consoante Instrução Normativa da Receita Federal nº 1.888 
de 2019, os criptoativos podem ser definidos como uma espécie de representação digital de 
valores, contabilizada a partir de uma unidade métrica própria. Os criptoativos são, ademais, 
 
3 No ordenamento jurídico brasileiro, a delimitação de uma coisa como “infungível” advém da interpretação 
inversa do artigo 85 do Código Civil, o qual, em seu caput, fornece a seguinte definição de bem“fungível”: "São 
fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade" (BRASIL, 
2002). 
19 
 
 
 
transacionados por meio de tecnologias criptografadas ou associadas a registros distributivos, 
ou seja, por meio de cadeias de código notadamente anônimas, interligadas e de difícil acesso 
por terceiros. Para a Receita, ainda, os criptoativos tem a função de investimento, de ser chave 
de acesso à serviços, ou de ser instrumento de transferência de valores. (BRASIL, 2019). 
Pela definição supramencionada, os NFTs se enquadram como criptoativos, 
notadamente por se tratarem de registro em cadeia de código que, associados a um item artístico 
são criados no intuito de determinar um valor certo, bem como de exercer função de 
investimento. Não se confunde, frise-se, criptoativos com criptomoedas, haja vista que estas se 
configuram como espécie do gênero de criptoativos. De forma simplificada, uma criptomoeda 
é um item de câmbio utilizado para fazer transações essencialmente digitais, não podendo ser 
circulada, via de regra, em comércios físicos. Não se tratam, por conseguinte, de representações 
virtualizadas de moedas físicas oficiais, como o Real por exemplo, mas sim de uma espécie de 
câmbio autônomo (FOLLADOR, 2017). 
 Mais a mais, as criptomoedas podem ser qualificadas como “conversíveis”, haja vista 
que é possível deduzir uma quantia monetária em moedas oficiais que se equipara ao seu valor 
de troca. Aqui resta um ponto de divergência entre as moedas e os NFTs, haja vista que estes 
são inconversíveis, por não representarem um valor de troca exato equiparadoa moedas 
oficiais, mas sim funcionarem de forma equiparada ao sistema de preços adotados pelo mercado 
tradicional. 
Além disso, as criptomoedas se caracterizam como “descentralizadas”, ou seja, elas não 
são reguladas por um órgão central que controla as ações que as envolvem. Esse controle é 
inatamente feito pelos próprios usuários do câmbio sistematicamente, por meio das redes de 
blockchain (FOLLADOR, 2017). Para inserir as criptomoedas dentro desse sistema, é realizado 
o procedimento de Initial Coin Offering (ICO), que consiste em captações públicas de recursos, 
por meio de usuários, para que os ativos sejam emitidos nas redes criptografadas (TRINDADE; 
VIEIRA, 2020). Esse processo de investimento pode servir como fundamento para equiparar 
os criptoativos a valores mobiliários, o que faria com que aqueles estejam sujeitos ao pagamento 
de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), matéria a ser desenvolvida posteriormente. 
 Nesse contexto, as blockchains surgem para substituir o papel dos bancos ou dos 
governos estatais, a partir da fiscalização e controle das transações criptografadas. Essas redes 
funcionam de forma a registrar todas as circulações que uma determinada criptomoeda faz 
dentro do mercado digital. Ao realizar uma compra utilizando-se do referido câmbio, emite-se 
20 
 
 
 
uma espécie de comprovante de uso em cadeia, impedindo, por exemplo, a utilização recorrente 
do mesmo ativo para se realizar múltiplas compras (MEIRA; DALL’ORA; SANTANA, 2020). 
 Esses “comprovantes”, que nada mais são do que códigos, são criptografados em uma 
rede de dados compartilhada, formando o que se chama “nós”, os quais constroem uma espécie 
de base de dados e cadeias de blocos de informações. Em vista disso, são por meio desses nós 
que se geram os cálculos e procedimentos para atestar a validade das operações feitas, os quais 
dificultam a possibilidade de fraude dentro desse sistema. Isso porque para que uma 
criptomoeda seja fraudada, é necessário alterar toda a cadeia de transações atrelada a ela, o que 
demanda um poder de processamento praticamente inatingível. Esse circuito de comprovação 
da autenticidade é o que, no direito digital, se denomina blockchain, e o processo de cálculos 
efetuados para gerar uma nova cadeia de informações é chamado de mineração (MEIRA; 
DALL’ORA; SANTANA, 2020). 
Ademais, para que os dados sejam criados e inseridos no sistema, é necessário que as 
partes envolvidas autentiquem a sua identidade por meio de chaves pessoais, cujo conteúdo se 
refere a apenas um indivíduo, o que, em tese, também dificultaria a incidência de atividades 
fraudulentas (LANA, 2021). A autenticação de identidade, contudo, não é pública, gerando uma 
espécie de anonimato que pode dificultar o processo tributário a ser realizado sobre os ativos. 
A culminação das características relatadas faz com que esse sistema de verificação pessoal seja 
denominado de peer-to-peer, ou “entre pares” em português (NAKAMOTO, 2008). Também 
se caracteriza como mineração o processo que atesta a validade de cada uma dessas etapas 
(UHDRE, 2021). 
É importante compreender o processo de mineração uma vez que é por meio dele que 
os indivíduos denominados de moradores promovem a emissão de novas criptomoedas, bem 
como autenticam as transações de cripto ativos já existentes. Isso porque é a partir da resolução 
do problema matemático gerador de um novo bloco de dados que se desenvolvem novas 
criptomoedas, originadas como forma de remuneração e recompensa aos colaboradores. Por 
outro lado, o processo avaliatório das transações também estimula a circulação do câmbio 
porque os próprios usuários das redes criptografadas pagam os mineradores para que estes 
validem suas operações. Esse valor pago pelos usuários é denominado de mining fee. (UHDRE, 
2021). O valor das minerações e, por conseguinte, do minting, é considerado aleatório, visto 
que não há precisão exata do valor que será alcançado ao resolver as operações matemáticas 
necessárias, pois este depende da quantidade de indivíduos que estejam tentando minerar a 
blockchain (FOLLADOR, 2017). 
21 
 
 
 
Via de regra, o contato entre o comprador dos tokens e os mineradores é feito por uma 
empresa intermediadora, comumente chamada de exchange. É esta empresa que media a 
transação de moedas criptografadas e demais Tokens como os NFTs, bem como que faz o 
repasse das mining fees para os prestadores de serviço, de forma que recai em si a maior parte 
da responsabilidade quanto a compra e venda de ativos. Para tanto, ela pode tanto utilizar de 
moedas tradicionais, como euro e dólar, ou aceitar pagamentos diretamente das chamadas 
wallets, softwares virtuais que resguardam as criptomoedas e outros ativos de um determinado 
usuário (FINANCIAL ACTION TASK FORCE, 2014). Compreender a terminologia adotada 
no e-commerce é essencial para estudar as operações relacionadas aos Tokens, e, 
posteriormente, poder ser avaliada a possibilidade de incidência dos tributos. 
Diante de todas as características enumeradas, NFTs vêm sido tratados pelos acionistas 
e investidores como a “solução” para os problemas da compra e venda de arte digital, uma vez 
que eles se beneficiam do rápido desenvolvimento do cripto mercado, o qual apresenta 
frequentes picos de valorização econômica estratosféricos. O caráter autônomo, especulativo e 
não-governamental das transações com criptomoedas é fator essencial para sua ampliação e 
difusão (CHEAH; FRY, 2015). Dessa forma, é possível afirmar que os NFTs alteraram de 
forma sistemática o mercado de arte digital ao conseguir fixar de modo claro a propriedade 
desses objetos por meio do registro em rede. 
Cabe ressaltar, em adendo, que mesmo que os NFTs tenham surgido em 2015, sua real 
valorização aconteceu entre os anos de 2020 e 2021, momento no qual os Tokens perpassam 
por um crescimento exponencial no mercado de investimento. A título de exemplo, estima-se 
que todas as movimentações financeiras atreladas a NFTs somavam um patrimônio de 
aproximadamente doze milhões de dólares no período de dezembro de 2020, e passaram a 
acumular o montante de quatrocentos e quarenta milhões de dólares em março de 2021 — 
apenas três meses depois (WANG et al., 2021; DOWLING, 2021). 
Nessa conjuntura, há registros de vendas de Tokens Não Fungíveis que individualmente 
alcançam o valor de sessenta e nove milhões de dólares, como o intitulado “EVERYDAYS: 
THE FIRST 5000 DAYS, 2021” (TRAUTMAN, 2021). Mesmo que nem todas as vendas dos 
NFTs sejam feitas em valores tão altos, é inegável que houve uma recente tendência dos artistas 
digitais em registrar seus produtos nas redes criptografadas, buscando possibilidades para uma 
melhor monetização de seus trabalhos (CHOHAN, 2021). 
A corrente defensora dos Tokens, ainda, argumenta que, ao se relacionar a propriedade 
intelectual com redes de blockchain, haveria a viabilização de negócios jurídicos e mercantis 
22 
 
 
 
mais objetivos dentro da arte, um campo conhecido pela sua subjetividade. Também é 
defendido que a criação dos NFTs promove o alcance da mercadoria a consumidores que jamais 
teriam acesso a ela em um mercado físico e tradicional, de forma similar aos museus digitais 
supramencionados. Em complemento ao apresentado, também se argumenta que a fabricação 
desses ativos seria capaz de suprimir inúmeras despesas típicas do mercado artístico tradicional, 
como aquelas vinculadas à infraestrutura de lojas e galerias, por exemplo. (TRAUTMAN, 
2021). 
 Evidencia-se, contudo, que o surgimento de novas tecnologias digitais modifica a 
economia de tal forma que a riqueza tende a se concentrar ainda mais em uma pequena classe 
de indivíduos, principalmente ao se observar a enorme quantidade de dinheiro que esse nicho 
econômico movimenta. Dessa forma, a atuação Estatal se mostra particularmente necessária 
para a garantia de proteção social e combate à desigualdade no mercado (CORREIANETO, 
AFONSO; FUCK, 2020). 
 
2.2 A Natureza Jurídica e o Valor dos NFTs 
 
Nos moldes traçados em linhas pretéritas, os NFTs, assim como a maior parte das 
inovações tecnológicas disruptivas do século XXI, se configuraram como itens extremamente 
populares para investidores, apresentando uma expansão e desenvolvimento consideravelmente 
acelerados em um curto período de tempo. Nesse sentido, cabe aos operadores do Direito se 
adaptarem à nova tecnologia para garantir seu tratamento adequado dentro do ordenamento 
jurídico, incluindo-a em suas análises e tutelas. 
É alarmante constatar, em continuidade, que o crescimento desse setor é estimulado pelo 
ineficiente cenário fiscal constatado nos comércios eletrônicos. O tratamento desproporcional 
do Fisco, em conjunto com diversas lacunas na legislação pátria, viabiliza que empresas de 
tecnologia e e-commerce gerem lucros consideravelmente maiores do que aqueles percebidos 
no mercado tradicional. De forma exemplificativa, constata-se que o comércio digital paga 
apenas cerca de 8,5% de impostos referentes a atividades domésticas, enquanto os comércios 
tradicionais costumam pagar 20,9% (CORREIA NETO; AFONSO; FUCK, 2020). 
Para que haja uma melhor presença Estatal sobre os itens em questão, é necessário 
definir de forma clara a natureza jurídica dos Tokens Não Fungíveis, afinal, é esta delimitação 
que guiará a aplicabilidade do Direito sobre a matéria. Não suficiente, para delimitar o grau de 
atuação do Estado e em especial do Fisco sobre os Tokens, pretende-se realizar uma análise 
acerca da origem e dimensão dos valores atrelados a esses ativos. 
23 
 
 
 
Quanto à natureza jurídica, conforme desenvolvido ao decorrer do capítulo, conclui-se 
que os NFTs podem, à primeira vista, se assemelhar a itens artísticos, uma vez que eles se 
encontram atrelados a obras digitais. Todavia, é evidente que os Tokens não se encaixam nos 
parâmetros de “arte” tradicionais das escolas apresentadas anteriormente. 
Isso porque, ao se analisar a sua funcionalidade, não é possível observar nenhum dos 
padrões delimitados tanto pela escola pedagógica quanto pela escola expressiva, que se baseiam 
na subjetividade do item artístico. No ponto, mesmo que os arquivos vinculados aos Tokens 
possam transmitir ideais clássicos de arte, como o belo e a representação da natureza, observa-
se ao se investigar a real finalidade dos códigos que os NFTs surgem e se desenvolvem de modo 
a apenas possibilitar a venda da propriedade artística a partir da sua inserção no criptomercado. 
Ademais, é interessante perceber que, principalmente nos grupos de NFTs mais 
populares do mundo como os CryptoPunks e Cryptokitties, os arquivos são feitos de forma 
padronizada, sem qualquer traço de inspiração, autenticidade ou mesmo técnica. No caso dos 
CryptoPunks, a situação é ainda mais peculiar, haja vista que as imagens são produzidas por 
meio de inteligência artificial e algoritmos, consequentemente tornando as peças impessoais 
(LARVA LAB, 2021). 
Esse processo esvaziado de concepção e desenvolvimento das obras ligadas aos ativos 
em muito se assemelha com aquele descrito no livro Indústria Cultural e Sociedade, de Theodor 
Adorno. Conforme Adorno (2009), no contexto de produção em grande escala das obras — 
como ocorre no mercado digital —, os produtos artísticos chegam a um estado de massificação 
tão elevado que os seus criadores sequer veem necessidade em “empacotar” os objetos como 
se arte fossem, o que aparenta ser o rumo tomado pela produção de NFTs como itens 
especulativos. 
Isso porque o ponto central de venda desses artigos não se configura mais como o bem 
intelectual em si, mas sim o próprio registro na blockchain como moeda de investimento. Não 
suficiente, observado o esquema de produção em massa de NFTs, como o dos 
supramencionados CyberPunks, evidencia-se que os ativos, na prática, não possuem real 
diferença entre si. Essa ideia também já fora trabalhada por Adorno, conforme verifica o 
seguinte excerto: 
 
O esquematismo do procedimento mostra-se no fato de que os produtos 
mecanicamente diferenciados revelam-se, no final das contas, como sempre os 
mesmos. [...] As qualidades e as desvantagens discutidas pelos conhecedores servem 
apenas para manifestar uma aparência de concorrência e possibilidade de escolha. 
(ADORNO, 2009, p.8). 
 
24 
 
 
 
O que antes poderia se considerar produção artística se torna nada além de puro negócio 
e ideologia, não havendo verdadeira necessidade social nos produtos. Nesse contexto, observa-
se, principalmente, que o que diferencia os Tokens Não Fungíveis dos ativos digitais comuns é 
apenas o poder de escolha e o poder de compra daqueles que os transacionam. 
Por todo o exposto, percebe-se que, em essência, os NFTs detêm natureza jurídica mais 
semelhante àquela das criptomoedas e demais criptoativos do que de obras de arte em si, 
possuindo um apelo ideológico acima do prático. Sobre a matéria, evidencia-se que o câmbio 
criptografado também não possui um tratamento jurídico bem definido no ordenamento 
brasileiro, mas são, em geral, tutelados de duas formas principais pela doutrina emergente, quais 
sejam: como bens/ativos financeiros e como moedas estrangeiras (MEIRA; DALL’ORA; 
SANTANA, 2020). 
Por óbvio, cada uma dessas formas gera efeitos distintos. Ao serem tratadas como 
bens/ativos financeiros, as criptomoedas se concretizam como meio de acrescer ao capital do 
seu detentor, de forma que devem, a título exemplificativo, ser declaradas no Imposto de Renda 
— esse é o tratamento já firmado em países como os Estados Unidos. Já ao serem consideradas 
como moedas oficiais, a sua tutela se equipara com aquela dada às transações financeiras, 
incidindo sobre elas o Imposto sobre Operações Financeiras, por exemplo (MEIRA; 
DALL’ORA; SANTANA, 2020). 
A caracterização dos criptoativos como moedas oficiais, contudo, pode ser descartada a 
partir do art. 164 da Constituição Federal de 1988, uma vez que, segundo o instituto, apenas o 
Estado pode emitir moedas oficiais, com a União tendo competência exclusiva para tal. Essa 
normativa vai de encontro à natureza descentralizada dos Tokens delimitada anteriormente, 
uma vez que estes são emitidos por empresas privadas especulativas (FERRAREZI, 2020). Não 
suficiente, o Supremo Tribunal Federal (STF) já estabeleceu precedente no sentido de que 
moedas oficiais devem, essencialmente, ter exclusividade de circulação promovida por um 
governo específico, bem como apresentar previsão expressa em lei (FERRAREZI, 2020). Desta 
feita, os criptoativos, e, portanto, os NFTs, em mais se assemelham ao conceito de “bens”, não 
estando aptos a tratamento de moeda oficial. 
Os NFTs se diferenciam da criptomoeda, contudo, ao se notar que eles possuem 
natureza de metadados, ou seja, são cadeias de código que fazem referência a dados de outrem, 
no caso, do arquivo virtual artístico ao qual estão atrelados (LANA, 2021). De forma equiparada 
aos câmbios criptografados, o valor de uso atrelado aos Tokens Não Fungíveis aparenta ser 
mínimo, apenas o de item de luxo conferidor de status, e o de moeda de troca especulativa. 
25 
 
 
 
Sobre isso, o autor David Harvey explica de forma clara qual seria a real finalidade e interesse 
atrelados aos itens de especulação: 
 
O objetivo do produtor é obter valor de troca, não valor de uso. A criação do valor de 
uso para outras pessoas é um meio para atingir esse fim. No entanto, a qualidade 
especulativa da atividade significa que o que importa é o valor de troca potencial. [...], 
mas há sempre um risco. (HARVEY, 2021, p.29) 
 
No ponto, avalia-se qual seria o valor de uso e o valor de troca dos Tokens. Em vias 
elucidativas, o valor de uso é aquele que está atrelado à própria utilidade de um item — por 
exemplo, o valor de uso de uma casa seria a sua capacidade de fornecer abrigo e segurança, 
além da possibilidade de estabelecer moradianela (HARVEY, 2021). Os NFTs, portanto, não 
mostram ter quase nenhum real valor de uso atrelado a si. No ponto, o seu mérito de uso tende 
a ser exatamente o seu valor de troca, ou seja, a quantia com a qual pretende-se lucrar ao 
completar a sua venda posterior. 
Em adendo, a discussão acerca do real valor dos NFTs se agrava ao constatar que a 
expansão dos Tokens se deu no período de pandemia do COVID-19, cenário em que grande 
parte do mundo passa por estagnação econômica. Não obstante, mesmo que a crise financeira 
tenha afetado de forma severa a classe trabalhadora, a burguesia se encontra cada vez mais rica, 
tendo inclusive o número de bilionários existentes, e, por conseguinte, o índice de concentração 
de renda, aumentado consideravelmente (PETERSON-WITHORN, 2021). 
Nesse sentido, com o enfraquecimento do mercado “tradicional”, essa oligarquia 
econômica precisa expandir seu nicho de investimento para outras áreas ainda não exploradas 
e que não apresentam, de fato, quase nenhum valor prático, como aparenta ser o caso dos NFTs 
(CHOHAN, 2021). Em suma, conforme elucida Chohan (2021, p. 8, tradução nossa), os Tokens 
surgem, para a classe burguesa, como forma de “gastar seus excedentes de crédito pelo mero 
desejo de fazê-lo”.4 
Cabe mencionar, ainda, que o discurso inicial de que NFTs podem servir para 
democratizar o mercado das artes se demonstra consideravelmente frágil. Além das reflexões 
já apresentadas, a criação desses ativos tende a promover o que se chama de escassez cultural 
— fenômeno que se caracteriza pela concentração do acesso à cultura à classe rica. Isso 
acontece nesse nicho porque, como supracitado, a criação de Tokens Não-Fungíveis condiciona 
 
4 Texto original: “This means that they can throw financial capital around on whimsical ideas, which in the 
context of coronavirus restrictions, means that virtual assets, whimsical as their existence might be, offer a 
curious avenue to spend surplus cash for the mere sake of it”. 
26 
 
 
 
a produção artística à obtenção do lucro, mesmo que esses códigos, em tese, não tenham valor 
certo. 
Um caso que ilustra esse cenário é o da queima da pintura “Morons” de Banksy no ano 
de 2021. O quadro, originalmente mantido por uma galeria em Nova York, e que satirizava 
justamente a venda hiper lucrativa de trabalhos artísticos, foi comprado por uma grande 
empresa, a Injective Protocol, e queimado em uma transmissão ao vivo. Posteriormente, a tela 
foi transformada em arquivo digital e atrelado a um NFT. A deterioração da peça, em essência, 
foi justificada como tentativa de valorizar a venda do cripto ativo, transformando-o em uma 
verdadeira moeda de investimento inflacionada (DYLAN-ENNIS, 2021) 
Outrossim, além de se atestar que o valor de uso atrelado aos tokens infungíveis é 
mínimo, eles ainda se configuram como prejudiciais ao meio-ambiente, sobretudo em virtude 
dos altos índices de gás carbônico emitidos ao se realizar operações mercantis criptografadas. 
Isso ocorre devido à alta demanda energética para a produção e troca de criptomoedas e 
criptoativos em geral, sendo que, atualmente, a principal fonte de energia utilizada nessa 
indústria é a fóssil, de notório teor poluente (GALLERSDÖRFER; KLAASSEN; STOLL, 
2020). A título de exemplo, conforme estudo realizado em 2018, a produção e uso de bitcoins 
por si só poderia aumentar a temperatura do planeta em dois graus Celsius (MORA et al., 2018). 
 A questão se agrava, ainda, devido à natureza descentralizada e autônoma do cripto 
mercado e das redes de blockchain, uma vez que, por estas características liberais, os sistemas 
em questão tendem a valorizar o ganho máximo de dinheiro em detrimento da ética do processo 
para a riqueza. Assim, as grandes empresas atreladas às criptomoedas tendem a utilizar a fonte 
de energia mais barata possível, ao invés daquela cujo impacto no meio ambiente seria menor 
(MORA et al., 2018). 
Não se descarta, frise-se, a possibilidade de uso de fontes de energia limpa na emissão 
de cripto ativos, mas é preciso reconhecer que este cenário só se concretizará quando o custo 
benefício destas for maior do que o dos poluentes (MORA et al., 2018). Esse ponto, enfim, 
evidencia a necessidade de atuação e controle Estatal frente aos NFTs. 
Para além das questões já suscitadas, faz-se necessário, também, descartar a natureza 
jurídica dos Tokens Não Fungíveis como sendo a materialização de direitos autorais. Isso 
porque, em análise supérflua, seria possível enquadrar os NFTs como propriedade intelectual, 
fundamentando-se no artigo 7º da Lei nº 9.610/1998. O dispositivo legal supramencionado 
identifica como obras protegidas pelos direitos autorais todas aquelas “criações do espírito, 
27 
 
 
 
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido 
ou que se invente no futuro” (BRASIL, 1998). 
A manifestação intelectual, desta feita, está intrinsecamente ligada à subjetividade do 
seu desenvolvedor. Nessa abordagem, a doutrina majoritária define, em consonância com as 
definições clássicas dos direitos autorais, que a originalidade, isto é, a inspiração e a criatividade 
pessoal do autor, é requisito essencial para que uma obra seja protegida por direitos autorais 
(LANA, 2021). Esses conceitos, inclusive, aludem àqueles estabelecidos anteriormente ao se 
tratar de arte clássica. 
 Nesse sentido, ao se observar que o surgimento do NFT é condicionado à existência de 
uma criação artística prévia, e que ele passa a individualizar esta obra por meio do registro de 
sua propriedade, é comum que se ocorra associações diretas à salvaguarda do direito dos seus 
criadores. De fato, o arquivo ao qual o NFT se relaciona é protegido pela tutela dos direitos 
autorais, mas isso ocorre independentemente do seu registro em blockchain, afinal, a arte em si 
se enquadra claramente no conceito estabelecido no art. 7º da Lei nº 9.610/1998, mesmo que 
desenvolvida virtualmente (LANA, 2021). 
 No ponto, o art. 8ª da Lei dos Direitos Autorais define alguns itens que não se 
enquadram como propriedade intelectual, dentre os quais se destaca: “VII - o aproveitamento 
industrial ou comercial das ideias contidas nas obras” (BRASIL, 1998). Em essência, como já 
explicitado, os NFTs consistem apenas em registros criptografados de propriedade, criados de 
forma quase automatizada, para que se possibilite a compra e venda do item artístico em 
questão. Não há, de fato, qualquer aproveitamento criativo ou artístico ao se comprar um NFT, 
tratando-se, portanto, de mero desenvolvimento tecnológico para viabilização comercial das 
artes (LANA, 2021). 
 Cabe pontuar, linha contínua, que não há subjetividade ou originalidade na criação 
destes ativos, de forma que, em síntese, não é possível identificar qualquer sinal de autoria 
humana, sendo incabível a incidência de direitos autorais sobre eles. De todo modo, como 
aludido previamente, relacionar à existência de um NFT aos direitos autorais da obra ao qual 
ele diz respeito não apresenta muito sentido prático, tendo em vista que a emissão do ativo não 
garante a propriedade da arte, mas sim a do código ao qual aquele arquivo diz respeito (LANA, 
2021). 
Diante do exposto, define-se a natureza jurídica dos Non-Fungible Tokens como sendo 
a de bens/ativos financeiros em forma de metadados com registro em blockchain, cujo conteúdo 
não permite a incidência de direitos autorais. Finalmente, observadas as constatações feitas 
28 
 
 
 
acerca do seu valor de uso e valor de troca, é evidente que a atuação do Fisco frente aos Tokens 
Não Fungíveis deve ser feita de forma ampla e incisiva. O tratamento dado a eles, ainda, não 
poderá ser equiparado aos da obra de arte, uma vez que não apresentam o mesmo padrão de 
comportamento destes itens. 
Nesse ínterim, todas as problemáticas levantadas no desenvolvimento deste capítulo 
revelam que o surgimento de novas tecnologias disruptivasdeve ser acompanhado também de 
uma revolução tributária, a qual necessita, nas palavras de Correia Neto, Afonso e Fuck (2020, 
p. 33): “alcançar manifestações de riqueza antes irrelevantes e agora em ascensão, sem prejuízo 
de aperfeiçoarem-se também os meios e procedimentos de aplicação das leis tributárias em 
vigor”. 
Para tanto, é necessário contextualizar alguns princípios basilares do Direito Tributário 
brasileiro, bem como definir conceitos como o fato gerador da tributação dos NFTs, e, ainda, 
traçar algumas considerações acerca da competência para tributar esses itens, assuntos a serem 
tratados a seguir. 
 
29 
 
 
 
3 A TRIBUTAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS COMO FORMA LEGÍTIMA DE 
INTERVENÇÃO ESTATAL 
 
 Como aludido em tópico anterior, o grande avanço das novas tecnologias digitais 
provoca diversos desafios à administração pública, principalmente no que tange ao grau de 
intervenção que será dado ao novo item. No caso dos Tokens Não Fungíveis, a situação é 
agravada ao se tratar de uma tecnologia essencialmente virtual e intangível, cuja popularidade 
e presença mercantil cresce exponencialmente. O presente estudo, enfim, partirá no caminho 
de definir qual a abordagem tributária que deve ser dada aos NFTs. 
 Preliminarmente, de forma a justificar a necessidade de tributação dos NFTs e qualquer 
outro item, é necessário levantar algumas considerações sobre a Ordem Econômica 
Constitucional5 e o papel do Estado como interventor sobre o mercado. Quanto à matéria, é 
cediço que a economia deve ser moldada dentro dos limites constitucionais, os quais incluem o 
princípio da livre iniciativa, sedimentado no primeiro artigo da Carta Magna de 1988 (BRASIL, 
1988). 
É preciso evidenciar, todavia, que a valorização exacerbada das liberdades individuais 
em detrimento da coletividade fundamentou a perpetuação do neoliberalismo no mundo 
globalizado, afetando o Brasil principalmente a partir do final da década de 1970. Essa corrente 
promove, dentre outras pautas, a intervenção estatal mínima no mercado, sob a justificativa de 
que a economia em si tende a se autorregular, potencializando os lucros das empresas. Contudo, 
observou-se o fracasso desse sistema econômico, constatando-se que a desregulamentação da 
economia e, por conseguinte, a regressividade tributária, gera um esvaziamento de direitos do 
cidadão (RIBEIRO, 2019). 
Particularmente ao se tratar de tecnologias e do e-commerce, a falta de regulamentação 
estatal em favor do “livre mercado” pode fazer com que o surgimento de um novo item 
disruptivo como os Token Não Fungíveis estimule comportamentos monopolistas e práticas 
anticoncorrenciais por parte de agentes específicos, que investiram na área antes da intervenção 
governamental. Isso abre possibilidades, por exemplo, para que grandes empreendimentos e 
corporações possam agir com padrões excludentes em relação a comerciantes menores 
(BAPTISTA; KELLER, 2016). 
 
5 A “Ordem Econômica Constitucional” pode ser definida como o conjunto de normas que institucionaliza uma 
determinada ordem econômica fundamentando-se, por óbvio, nos princípios constitucionais vigentes (SOUZA; 
FRANÇA, 2008). 
30 
 
 
 
Nesse contexto, em contraponto à proteção exclusiva da livre iniciativa, a Constituição 
Federal prevê no seu artigo 170 que a ordem econômica também deve observar os ditames da 
justiça social, assegurando a todos uma existência digna (BRASIL, 1998). Não suficiente, o 
mesmo artigo elenca que a economia deve promover, dentre outros fatores, a redução das 
desigualdades regionais e sociais, os direitos do consumidor, e a defesa do meio ambiente, 
inclusive “mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e 
serviços e de seus processos de elaboração e prestação” (BRASIL, 1998). Para que se garanta 
a proteção de todos os princípios e garantias fundamentais elencados anteriormente, portanto, 
é que se faz necessária a atuação estatal sobre o sistema econômico. 
Uma das principais atribuições do Estado para a regulamentação econômica é, enfim, a 
cobrança de tributos. No ordenamento jurídico brasileiro, encontra-se a definição de “tributos” 
no art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN), o qual lê: “Tributo é toda prestação pecuniária 
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato 
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” 
(BRASIL, 1966). Para além de um simples valor, portanto, esse instituto se configura como 
obrigação. 
Em paralelo à norma supramencionada, o art. 150, I da Constituição Federal consolida 
um princípio basilar do Direito Tributário, qual seja, o da legalidade. Segundo este instituto, 
nenhum tributo deve ser constituído ou majorado sem antes haver uma lei que o permita fazê-
lo, entendimento diretamente ligado à norma presente no art. 5º, II da CRFB/88, cujo conteúdo 
elucida que ninguém será obrigado a fazer algo senão em virtude da lei. (BRASIL, 1988). 
Nesses termos, o princípio da legalidade é essencial para garantia da segurança jurídica, 
servido como elemento cerceador de abusos por parte do Estado, haja vista que ele determina 
que “a tributação deve ser decidida não pelo chefe do governo, mas pelos representantes do 
povo, livremente eleitos para fazer leis claras” (COÊLHO, 2020, p. 227). Ao se falar de tutela 
jurídica sobre novos itens disruptivos, este princípio é comumente utilizado para alegar a 
inconstitucionalidade da intervenção estatal, principalmente pelo fato de que as novas 
tecnologias não se enquadram, à primeira vista, nos conceitos de “mercadoria” ou “serviços” 
estabelecidos na CRFB/88 e em leis já promulgadas (PAULA, 2021). 
De todo modo, a intervenção estatal por meios tributários pode se mostrar efetiva devido 
às suas facetas de fiscalidade e extrafiscalidade. No ponto, define-se “fiscalidade” como a 
finalidade arrecadatória dos tributos, justificada pela necessidade de alimentação dos cofres 
públicos para o investimento em políticas e serviços em prol da coletividade (CARVALHO, 
31 
 
 
 
2019). Nesse sentido, já é perceptível a justificativa em tributar os NFTs com fundamento na 
fiscalidade, tendo em vista o enorme volume de dinheiro que as transações que lhe envolvem 
movimentam. 
Por outro lado, a “extrafiscalidade” é definida como a materialização da capacidade 
interventiva do Estado na economia, conferindo aos tributos objetivos que vão além dos 
meramente arrecadatórios (CARVALHO, 2019). Trata-se, destarte, da arrecadação com 
finalidade de influenciar setores econômicos como um todo, atribuindo função social aos 
tributos. Nesse fundamento, um tributo pode ser criado ou aplicado especificamente para atingir 
metas interventivas dentro do mercado, almejando uma regulação econômica (SOUZA; 
FRANÇA, 2008). 
Conclui-se que o Fisco pode, a partir da extrafiscalidade, incentivar ou desincentivar 
certas práticas, influenciar determinada área da economia, etc., a partir apenas da incidência 
tributária que deseja aplicar em determinado produto ou serviço. A regulamentação tributária 
por parte do Estado, assim, pode facilmente se caracterizar como mecanismo eficaz para a 
efetivação dos princípios da Ordem Tributária Constitucional supramencionados, culminando 
para promover a justiça social e o bem comum (SOUZA; FRANÇA, 2008). Plenamente 
justificável, pois, a tributação dos NFTs. 
Para além da discussão retratada, alguns princípios norteadores do Direito Tributário 
também devem ser evidenciados de forma a justificar o grau de atuação que o Fisco deve ter 
sobre os Tokens Não Fungíveis, de forma que se passará à análise do princípio da capacidade 
contributiva. Inicialmente, a capacidade contributiva se configura como aquele princípio 
promotor da isonomia e da justiça fiscal, cuja orientação sustenta que os tributos sejam cobrados 
de forma proporcional ao poder aquisitivo dos seuscontribuintes (PAULSEN, 2014). Esse 
instituto encontra fundamento, principalmente, no art. 145, § 1º da CRFB/88, o qual lê: 
 
Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a 
capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, 
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os 
direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades 
econômicas do contribuinte (BRASIL, 1998). 
 
Sobre a matéria, cabe destacar que “justiça fiscal” detém uma pluralidade de acepções, 
as quais merecem atenção. Inicialmente, é possível compreendê-la como uma espécie de 
atividade tributária plenamente quantitativa, pela qual se recolhe mais das pessoas ricas e menos 
das pobres. Contudo, não é possível resumi-la apenas a esta concepção, uma vez que ela engloba 
todo o trabalho social a ser dado a partir do processo tributário. No ponto, a justiça fiscal 
32 
 
 
 
também pode se configurar como a distribuição equitativa da carga tributária, de maneira 
proporcional ao retorno conferido pela prestação dos serviços públicos do Estado (GOUVÊA, 
1999). 
Para além da justiça, ao se falar de inovações digitais tem-se que o Estado, e, por 
conseguinte, o Fisco, detém a obrigação de efetivar a segurança digital, regulando as 
desigualdades do ambiente mercantil em questão. Não se ignora, contudo, que o crescimento 
do e-commerce promoveu o aumento de operações transnacionais, tanto de pessoas, quanto de 
serviços e bens, o que coloca diversos entraves para os tributaristas, afinal, esse aumento de 
circulação demanda uma alta capacidade adaptativa dos operadores do direito para que estes 
garantam um ambiente equitativo (JUSWANTO; SIMMS, 2017). Essa questão, que se alia 
diretamente à justiça social, se mostra como um dos principais fundamentos para justificar a 
necessidade de regulamentação das novas tecnologias (BAPSTISTA; KELLER, 2016). 
De todo modo, o princípio da capacidade contributiva nada mais é do que a obrigação 
do Fisco em pessoalizar os contribuintes, determinando tratamentos diferentes àqueles que o 
demandarem, efetivando, portanto, a justiça fiscal. Cumpre ressaltar que apesar do dispositivo 
supramencionado indicar que apenas os impostos estariam sujeitos ao princípio, ele é aplicável, 
via de regra, aos tributos como um todo (CARVALHO, 2019). Desse conceito geral, ramificam-
se dois subprincípios que merecem mais atenção para os fins do presente estudo, quais sejam, 
a seletividade e a progressividade. 
Destarte, quanto à seletividade, tem-se que esta se caracteriza pela gradação modificada 
de alíquotas6 a bens, serviços e produtos diferentes, com base na natureza e caracterização 
destes (CARVALHO, 2019). Por conseguinte, significa dizer que um mesmo tributo pode ser 
aplicado de forma diferenciada aos mais diversos itens com base em suas qualidades e, 
efetivamente, na sua utilidade social, tratando-se de manifestação expressa da extrafiscalidade 
(NOGUEIRA, 2015). As alíquotas, portanto, seriam inversamente proporcionais ao grau de 
essencialidade do item. 
A lógica aqui atribuída é a de que os consumidores dos bens supérfluos e de pouco valor 
de uso teriam uma capacidade financeira maior do que aqueles que consomem estritamente 
bens essenciais. É, portanto, prática impessoal relacionada ao princípio da capacidade 
contributiva, mesmo que de forma indireta. Em que pese válida e necessária, a seletividade por 
si só não se mostra completamente eficaz para a garantia da justiça fiscal, uma vez que não 
 
6 Para o Direito Tributário, "alíquota" se refere ao “percentual da base de cálculo devido pelo contribuinte”. 
(MAZZA, 2018, p. 164). 
33 
 
 
 
pode, na prática, distinguir consumidores de baixa e alta renda, aplicando a mesma alíquota a 
um produto para indivíduos com perfis econômicos completamente distintos (ALVES, 2012). 
Por esse ângulo, todos os consumidores se beneficiam com as baixas alíquotas 
referentes a bens essenciais, enquanto apenas os ricos teriam acesso aos bens mais caros, cuja 
incidência de tributos seria mais considerável, uma vez que esses indivíduos possuem mais 
renda disponível para gastar com produtos supérfluos (ALVES, 2012). Para a resolução da 
problemática, portanto, é preciso que a seletividade não seja aplicada isoladamente, mas sim 
em conjunto com outras técnicas. 
Uma dessas técnicas é justamente a progressividade tributária, que, em síntese, consiste 
em um critério que dimensiona o montante devido de um tributo por meio da aplicação de 
alíquotas diferentes a determinado grupo de contribuintes tomando como base uma escala de 
capacidade contributiva. Cabe explanar que, via de regra, as alíquotas encontram sua 
progressividade com parâmetro na base de cálculo do tributo7, a exemplo do Imposto de Renda 
de Pessoa Física (IRPF), cuja alíquota aumenta de forma diretamente proporcional a de renda 
do indivíduo, ou mesmo do Imposto Territorial Rural (ITR), cujos valores arrecadados se 
elevam com base no tamanho e produtividade da terra ruralizada. (PAULSEN, 2014). 
De igual forma à seletividade, essa técnica não alcança os objetivos almejados ao ser 
aplicada isoladamente. Os críticos à progressividade alegam, em síntese, que a taxação 
pessoalizada dos ricos faz com que estes reajam de forma prejudicial à arrecadação, fraudando 
as cobranças por meio de pessoas jurídicas ou mesmo fugindo para paraísos fiscais (GUGEL, 
2017). 
De todo modo, o uso conjunto da seletividade e da progressividade estabelece um 
mínimo de isonomia no que diz respeito à tributação, sem mesmo ferir os ditames da igualdade 
tributária fixados no artigo 150, II, da CRFB/88, o qual dispõe que os entes federativos não 
podem instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontram em situação 
equivalente (BRASIL, 1988). Esses conceitos são essenciais para a proposta do presente 
trabalho, uma vez que os NFTs possuem duas características cruciais para delimitar os 
caminhos de sua tributação, quais sejam: luxuosidade e disruptividade. 
Quanto à primeira característica, pode-se definir como “luxuosos” aqueles artigos que 
apresentam pouco valor de uso mais elevado valor pessoal, não sendo necessários para a 
manutenção de necessidades vitais, mas sim para uma satisfação própria e vaidosa de um 
 
7 Base de cálculo é a “grandeza econômica sobre a qual o tributo incide” (MAZZA, 2018, p. 164). Para os 
impostos, a base de cálculo se materializa como forma de valor, enquanto para as taxas ela se materializa por 
meio do custo para realização da atividade a que faz referência. (MAZZA, 2018). 
34 
 
 
 
indivíduo. Em adendo, para a caracterização do luxo também é essencial avaliar os fatores 
sociais que os circundam, principalmente a fortuna média dos seus consumidores (GUGEL, 
2017). 
No ponto, cumpre ressaltar que a classificação de um item como sendo luxuoso não é 
imutável, haja vista que um produto em determinado contexto sociocultural pode ser 
considerado como artigo de luxo, mas também pode vir a se tornar um artefato comum ao 
decorrer do tempo. É o que ocorreu, por exemplo, com o açúcar, que antes era tratado como 
especiaria exclusiva aos mais ricos, e, ao decorrer dos séculos, tornou-se item de consumo 
generalizado (GUGEL, 2017). Essa mutabilidade, contudo, não deve impedir a atuação fiscal 
diferenciada nestes itens enquanto apresentarem característica de superfluidade. 
Ao se observar o apelo ideológico das NFTs, algumas características se sobressaltam 
como forma de justificar sua crescente popularidade, a maioria delas ligadas às nuances de 
“luxo” supramencionadas. Isso porque o apelo central dos NFTs é a possibilidade de comprar 
a propriedade de itens artísticos essencialmente virtuais em vias de transformá-lo em moeda de 
troca cujo valor de uso é ínfimo em comparativo com seu valor de troca. Não suficiente os 
Tokens também

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