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PrevalenciaMicrobianaInfeccoes-Souza-2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
CURSO DE BIOMEDICINA 
 
 
 
 
 
MONALISA SILVA DE SOUZA 
 
 
 
 
PREVALÊNCIA MICROBIANA DAS INFECÇÕES OCULARES EM PACIENTES 
ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES 
(HUOL-UFRN) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2018 
 
 
 
 
 
PREVALÊNCIA MICROBIANA DAS INFECÇÕES OCULARES EM PACIENTES 
ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES 
(HUOL-UFRN) 
 
 
 
 
 
 
por 
 
 
 
 
 
 
 
 
MONALISA SILVA DE SOUZA 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Coordenação 
do curso de Biomedicina da Universidade 
do Rio Grande do Norte, como requisito 
parcial à obtenção do título de Bacharel em 
Biomedicina. 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª. Dra. Vânia Sousa Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2018 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - 
Centro de Biociências - CB 
Souza, Monalisa Silva de. 
 Prevalência microbiana das infecções oculares em pacientes 
atendidos no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL-UFRN) / 
Monalisa Silva de Souza. - Natal, 2018. 
 62 f.: il. 
 
 Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. Centro de Biociências. Curso de Biomedicina. 
 Orientadora: Profa. Dra. Vânia Sousa Andrade. 
 
 
 1. Infecções oculares - Monografia. 2. Prevalência microbiana - 
Monografia. 3. Perfil antimicrobiano - Monografia. 4. Epidemiologia - 
Monografia. I. Andrade, Vânia Sousa. II. Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/BSE-CB CDU 617.7 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
CURSO DE BIOMEDICINA 
 
A Monografia Prevalência microbiana das infecções oculares em pacientes 
atendidos no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL-UFRN) 
elaborada por Monalisa Silva de Souza 
 
e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de 
Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à 
obtenção do título de 
 
 
BACHAREL EM BIOMEDICINA 
 
Natal, 22 de Novembro de 2018 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
________________________________________ 
Profª. Dra. Vânia Sousa Andrade 
Departamento de Microbiologia e Parasitologia - CB/UFRN 
(Orientador) 
 
_______________________________________________ 
Ms. Gabriela Medeiros Araújo 
Hospital Universitário Onofre Lopes - HUOL-UFRN – EBSERH 
(1º Examinador) 
 
_________________________________________ 
 Profº. Dr. José Veríssimo Fernandes 
Departamento de Microbiologia e Parasitologia - CB/UFRN 
(2º Examinador) 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus e Nossa Senhora por interceder sempre pela minha vida em todos os 
momentos, principalmente em minha trajetória acadêmica, para que eu nunca desista de 
lutar por dias melhores, levando-me a crê que o impossível é só questão de escolha e a 
fé que habita em mim suportará todas as dificuldades que venham a surgir. 
A toda minha família, principalmente a minha mãe, minha avó e meu tio, Carmem 
Célia, Maria do Socorro e Rinaldo Souza, pela dedicação incondicional a minha educação, 
formação dos meus valores e caráter, bem como o amor e carinho em toda minha vida, 
devo tudo a vocês. 
À professora Vânia Sousa Andrade, minha orientadora e coordenadora do curso, 
pelo acolhimento, atenção e confiança depositada em mim ao logo da minha graduação, 
serei eternamente grata por todos os ensinamentos e conselhos. 
À biomédica Gabriela Medeiros Araújo e a mestranda Dayana Carla Oliveira por 
toda a contribuição para a realização desse trabalho, a ajuda de vocês foi essencial para 
que tudo se conduzisse da melhor forma, obrigada por tudo. 
Ao professor Paulo, do Departamento de Estatística, por toda a contribuição na 
análise dos dados coletados, na qual foi fundamental para a melhor disposição dos 
resultados nesse estudo. 
À direção do HUOL e a equipe de profissionais do LAC, por toda a disposição 
diante da coleta dos dados e por permitir que esse trabalho fosse realizado. 
 À UFRN e todos os professores do curso, por todos os conhecimentos, 
oportunidades e aprendizados adquiridos nesse período. 
Aos meus amigos da faculdade, em especial Aline, Brenda e Paula, obrigada pela 
amizade, pelo incentivo, pelos momentos de descontração, e pelo acolhimento nos dias 
difíceis ao longo desses quatros anos de graduação, amo vocês. 
Ao meu namorado Deyvison Rafael, por toda ajuda, paciência e companheirismo. 
 A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização desse 
trabalho, minha eterna gratidão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O olho humano frequentemente é susceptível a infecções em sua superfície, seja por 
desequilíbrio da microbiota normal ou pela aquisição de microrganismos exógenos, 
assim como pela deficiência do sistema imune ocular. O tratamento das lesões 
oculares baseia-se atualmente no uso de antimicrobianos de amplo espectro, porém 
algumas espécies podem adquirir de resistência, o que torna difícil debelar essas 
infecções. O objetivo desse estudo foi realizar uma análise retrospectiva dos dados 
individuais (idade e gênero), e o diagnóstico microbiológico das infecções oculares em 
pacientes atendidos no Hospital Universitário Onofre Lopes no período entre 2016 e 
2017. Avaliou-se a prevalência dos agentes isolados, o tipo de espécime clínico, bem 
como a análise do perfil de sensibilidade aos antimicrobianos utilizados no tratamento 
de rotina dessas infecções. Para isso, as informações referentes a 190 pacientes 
foram organizadas e compiladas em uma planilha do Microsoft® Office® Excel, e 
posteriormente, submetidas a análise estatística através do teste do Qui-quadrado. 
Constatou-se que a maioria dos indivíduos que apresentavam infecção oculares 
estavam na faixa etária 25 e 49 anos, sendo a maioria (65%) do gênero masculino. 
Dentre os microrganismos encontrados 58% eram bactérias, e 42% fungos. Entre as 
bactérias Gram-negativas, a mais prevalentes foram as do gênero Pseudomonas spp. 
encontradas em 44,8% das infecções bacterianas. Entre os fungos filamentosos, o 
mais prevalente foi o Fusarium spp, encontrado em 90,5% das infecções fúngicas. 
Observou-se uma associação significativa entre a infecção por Fusarium spp. e faixa 
etária entre 25 a 49 anos (p=0,01194). Dentre as bactérias Gram-positivas, a mais 
prevalente foi S. aureus, encontrado em 17,2% das infecções bacterianas. O 
espécime clínico com maior positividade nas culturas foi o raspado de córnea 
representando (70%) dos casos. Com relação ao perfil de sensibilidade aos 
antimicrobianos, a maioria das bactérias isoladas se mostraram sensíveis aos 
fármacos usados na prática oftalmológica, porém, algumas delas tais como as 
Pseudomonas spp., o Staphylococcus coagulase negativa, o Acinetobacter spp. e a 
Enterobacter spp. se mostraram resistentes. Conclui-se que, as infecções oculares 
analisadas no presente estudo foram causadas tanto por bactérias como por fungos, 
sendo o fungo Fusarium spp. o agente mais prevalente, seguido da Pseudomonas 
spp., e do Staphylococcus aureus. A maioria dos patógenos isolados apresentaram 
sensibilidade aos agentes antimicrobianos utilizados no tratamento de rotina das 
infecções oculares, contudo alguns desses agentes se mostraram resistentes. Esses 
resultados poderão contribuir com o trabalho dos profissionais que atuam na área, 
porém é necessário a inclusão de um número maior de variáveis, a fim de permitir 
uma avaliação mais detalhada das patologias oculares. 
 
 
 
Palavras-chave: Infecções oculares. Prevalência microbiana. Perfil antimicrobiano. 
Epidemiologia. 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The human eye is often susceptible to infections on its surface, either by imbalance ofthe normal microbiota or by the acquisition of exogenous microorganisms, as well as 
deficiency of the ocular immune system. The treatment of ocular lesions is currently 
based on the use of broad spectrum antimicrobials, but some species may acquire 
resistance, which makes it difficult to thwart these infections. The objective of this study 
was to perform a retrospective analysis of the individual data (age and gender) and the 
microbiological diagnosis of ocular infections in patients attended at the University 
Hospital Onofre Lopes in the period between 2016 and 2017. The prevalence of 
isolated agents, type of clinical specimen, as well as the analysis of the antimicrobial 
susceptibility profile used in the routine treatment of these infections. For this purpose, 
information on 190 patients was organized and compiled into a Microsoft® Office® 
Excel worksheet, and then subjected to statistical analysis using the Chi-square test. 
It was verified that the majority of the individuals who presented eye infections were in 
the age group 25 and 49 years, being the majority (65%) of the male gender. Among 
the microorganisms found, 58% were bacteria, and 42% fungi. Among the Gram-
negative bacteria, the most prevalent were those of the genus Pseudomonas spp. 
found in 44.8% of bacterial infections. Among the filamentous fungi, the most prevalent 
was Fusarium spp, found in 90.5% of fungal infections. There was a significant 
association between Fusarium spp. and age range between 25 and 49 years (p = 
0.01194). Among Gram-positive bacteria, the most prevalent was S. aureus, found in 
17.2% of bacterial infections. The clinical specimen with the highest positivity in the 
cultures was corneal scraping representing (70%) of the cases. Regarding the 
antimicrobial susceptibility profile, most of the isolated bacteria were sensitive to the 
drugs used in ophthalmological practice, however, some of them, such as 
Pseudomonas spp., Coagulase negative Staphylococcus, Acinetobacter spp. and 
Enterobacter spp. were resistant. It is concluded that the ocular infections analyzed in 
the present study were caused by both bacteria and fungi, and the fungus Fusarium 
spp. the most prevalent agent, followed by Pseudomonas spp., and Staphylococcus 
aureus. Most of the pathogens isolated showed sensitivity to antimicrobial agents used 
in the routine treatment of ocular infections, but some of these agents were resistant. 
These results may contribute to the work of the professionals who work in the area, 
but it is necessary to include a greater number of variables, in order to allow a more 
detailed evaluation of the ocular pathologies. 
 
 
Keywords: Eye infections. Microbial prevalence. Antimicrobial profile. Epidemiology. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Distribuição de casos de infecções oculares quanto ao gênero dos 
pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 a dezembro 
de 2017 ................................................................................................. 32 
Figura 2 – Distribuição geral dos micro-organismos encontrados nas infecções 
oculares dos pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 
2016 a dezembro de 2017 .................................................................... 34 
Figura 3 – Distribuição das culturas positivas quanto ao espécime clínico dos 
pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 
a dezembro de 2017 ............................................................................. 36 
Figura 4 – Perfil de resistência aos antimicrobianos das bactérias isoladas de 
lesões oculares de pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de 
janeiro de 2016 a dezembro de 2017 ................................................... 38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS E TABELAS 
 
Quadro 1 – Descrição das variáveis utilizadas no estudo Prevalência das infecções 
oculares em pacientes atendidos no Hospital Universitário Onofre Lopes 
(HUOL-UFRN) no período entre 2016 e 2017 ....................................... 29 
Tabela 1 – Associação entre faixa etária e o micro-organismo (Fusarium spp.), dos 
pacientes com infecções oculares do (HUOL-UFRN) no período de 
dezembro de 2016 a janeiro de 2017 ..................................................... 33 
Tabela 2 – Micro-organismos (%) isolados das infecções oculares do (HUOL-UFRN) 
no período entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017 .......................... 35 
Tabela 3 – Sensibilidade (%) aos antimicrobianos de uso frequente em infecções 
oculares de pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 
a dezembro de 2017 ............................................................................... 37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
HUOL – Hospital Universitário Onofre Lopes 
 
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos 
 
LAC – Laboratório de Análises Clínicas 
 
LPS – Lipopolissacarideos 
 
SCoN – Staphylococcus coagulase negativa 
 
EPS – Matriz extracelular polissacarídica 
 
CF – Ceratite Fúngica 
 
VDL – Amebas de Vida Livre 
 
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
 
UTI – Unidade de Terapia Intensiva 
 
ASD – Ágar Sabouraud Dextrose 
 
AMB – Anfotericina B 
 
NTM – Natamicina 
 
MRSA – Methicillin resistant Staphylococcus aureus 
 
TSA – Teste de Sensibilidade a Antimicrobianos 
 
CIM – Concentração Inibitória Mínima 
 
CIP – Ciprofloxacina 
 
GEN – Gentamicina 
 
AMI – Amicacina 
 
CAZ – Ceftazidima 
 
MPM – Meropenem 
 
VAN – Vancomicina 
 
OXA – Oxacilina 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 10 
1.1 Infecções Oculares ................................................................................................ 10 
1.1.1 Aspectos gerais ....................................................................................................... 10 
1.1.2 Epidemiologia .......................................................................................................... 12 
1.1.3 Micro-organismos prevalentes ................................................................................. 15 
1.1.3.1 Bactérias .................................................................................................................. 15 
1.1.3.2 Fungos ..................................................................................................................... 17 
1.1.3.3 Protozoários (Acanthamoeba spp.) ......................................................................... 18 
1.1.3.4 Vírus ........................................................................................................................ 19 
1.1.4 Fatores predisponentes ........................................................................................... 20 
1.1.5 Diagnóstico microbiológico ....................................................................................... 24 
1.1.6 Aspectos terapêuticos ............................................................................................. 25 
2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 27 
2.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 27 
2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 27 
3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 28 
3.1 Considerações éticas ............................................................................................ 28 
3.2 Naturezado estudo ................................................................................................ 28 
3.3 Variáveis do estudo ............................................................................................... 28 
3.4 Número amostral.................................................................................................... 30 
3.4.1 Critérios de inclusão. ................................................................................................ 30 
3.4.2 Critérios de exclusão ................................................................................................ 30 
3.5 Coleta de dados ..................................................................................................... 30 
3.6 Análise de dados ................................................................................................... 31 
4 RESULTADOS ........................................................................................................ 32 
5 DISCUSSÃO............................................................................................................ 39 
6 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 47 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 48 
 APÊNDICE .............................................................................................................. 58 
 ANEXOS.....................................................................................................................59
10 
 
 
 
1 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
1.1 Infecções oculares 
 
1.1.1 Aspectos gerais 
 
Normalmente, a superfície ocular é constituída por uma microbiota balanceada 
e específica, sendo isto estabelecido logo após o nascimento, no qual os olhos são 
ligeiramente colonizados por micro-organismos, seja advindos da microbiota materna 
(no caso de parto natural, via vaginal) seja através da microbiota anemófila (parto 
cesariana), que se mantém ao logo da vida (KAUFMAN et al., 2011). A existência 
desses na conjuntiva ocular foi comprovada desde o século XIX, diante da presença 
de bactérias aeróbias e aeróbias facultativas, assim como a anaeróbias estritas 
(CAMPOS et.al, 1989). 
Com a recorrência de micro-organismos implicados nas infecções oculares, 
muitas vezes de origem bacteriana ou fúngica, fez-se necessário observar as 
condições nas quais o olho humano pode propiciar a instalação de uma infecção, 
resultando em ceratite, conjuntivite, úlceras e endoftalmites (GAYOSO et. al, 2007). 
Assim, constatou-se que as infecções oculares podem ser desencadeadas pela 
presença de espécies virulentas adaptadas ao sistema ocular, assim como por falha 
do mecanismo de defesa nessa região (SOLARI et. al, 2004; GALVÃO, H.A.; 
CASTRO, M.M.B, 2010). 
As bactérias encontradas com maior frequência na microbiota normal da 
conjuntiva são as do gênero Staphylococcus spp. e Corynebacterium spp., sendo 
Staphylococcus coagulase negativa (SCoN) o grupo de bactérias mais prevalente no 
local, na qual as espécies mais comumente relatadas são Staphylococcus epidermidis 
e Staphylococcus saprophyticus exercendo sua patogenicidade. Além destas, outras 
espécies são consideradas patogênicas como o Streptococcus spp., Pseudomonas 
spp., bem como algumas cepas de Enterococcus faecalis e Haemophilus spp. (DE 
KASPAR et al., 2008; UESUGUI et al., 2002; LIBORIO et al., 2005). 
Em relação aos fungos, são encontrados no ambiente ocular em baixa 
frequência de maneira constitutiva da microbiota comum, de forma a necessitar de 
fatores ambientais (microbiota anemófila) para o seu isolamento, por isso são 
11 
 
 
 
considerados transitórios no local. Porém, mesmo que transitórios, sua presença se 
torna importante, pois em situações de desequilíbrio do sistema imune devido a 
doenças crônicas, uso de imunossupressores, ou traumas pode levar a manifestação 
de patologias causadas por esse grupo de micro-organismos. Os fungos relatados 
com a maior incidência em infecções oculares são Fusarium spp.; Aspergillus spp.; 
Candida spp. e Penicillium spp (HÖFLING-LIMA et. al, 2005; SANTOS et. al, 2006; 
GARCIA et. al, 2017). 
A medida que o olho é habitualmente colonizado por micro-organismos que 
compõem a microbiota normal, pode existir fatores predisponentes que poderão 
interferir no equilíbrio micro-organismo-hospedeiro afetando a qualidade e a 
quantidade das espécies que compõem a microbiota normal, contribuindo e 
determinando a etiologia das infecções oculares (GUS et. al, 2004). 
Esses fatores podem surgir de pacientes portadores de doenças que alteram a 
resposta imune, como a Diabetes Mellitus (BILEN et.al, 2007; ANDRADE et al, 2006), 
a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (PETROCINIO et. al, 2006) e a 
Hanseníase (DOS SANTOS et. al, 2004); pacientes com condições patológicas como 
a catarata (RUBIO, 2006), bem como os usuários de lentes de contato (LEITE E 
MACENTE, 2014), pacientes transplantados (LORENZINI E PICOLI, 2007) e 
internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (OLIVEIRA et al., 2016; WERLI-
ALVARENGA et al., 2011) também estão sujeitos a esse tipo de infecção. Além disso 
as infecções oculares são frequentemente associadas ao uso de medicamentos 
imunossupressores e o uso indiscriminado de antibióticos e corticoides; assim como 
fatores ambientais relacionados a exposição ocupacional ao meio rural, 
principalmente o que se refere a fungos (DALFRÉ et al., 2007). 
O controle e a redução dos casos de infecções oculares estão intimamente 
relacionados com a conduta de atenção oftalmológica em relação a medidas de 
prevenção e tratamento das lesões. Contudo, a conduta de escolha do antimicrobiano 
geralmente está ligado à seleção de um antibiótico de amplo espectro na tentativa de 
debelar as infecções considerando as possibilidades de micro-organismos que 
abrigam a região, como bactérias Gram-positivas e as Gram-negativas. No caso das 
classes bacterianas mais comuns, estas possuem bons índices de susceptibilidade a 
maioria dos antimicrobianos de escolha, como a vancomicina e a gentamicina, porém 
apresentaram resistência a ciprofloxacina e cefalotina (NASCIMENTO et. al, 2011). 
12 
 
 
 
 Em vista disso, é necessário que seja feita uma análise laboratorial do 
espécime clínico a fim de gerar um isolamento do micro-organismo e avaliar o perfil 
de sensibilidade aos fármacos comumente utilizados. Esse tipo de investigação 
poderá evitar o diagnóstico etiológico tardio, diminuindo os riscos de complicações 
que posam danificar a visão do paciente e consequentemente, reduzir a frequência 
nos índices de morbidade visual (SOLARI et. al, 2004). 
 A análise dos indicadores das condições de serviços relacionados ao Sistema 
de Saúde do Estado necessita do fornecimento de registros hospitalares mantidos em 
bancos de dados, que servirão para uma possível averiguação dos parâmetros que 
influenciam na prevenção e/ou tratamento de determinada patologia, no caso desse 
estudo, as infecções oculares. 
 Diante do contexto acima, através do presente trabalho vislumbrou-se traçar 
um panorama em relação à frequência de bactérias e fungos envolvidos com a 
etiologia das infecções oculares registradas em pacientes atendidos no período de 
2016 a 2017 no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL-UFRN). 
 Como forma de contribuição com a unidade hospitalar, adicionalmente, incluiu-
se no estudo a análise do perfil de sensibilidade aos antimicrobianos utilizados na 
prática médica para o tratamento das infecções oculares, tendo em vista reforçar a 
importância da necessidade da administração de um antimicrobiano mais específico 
para os tipos de lesões oculares, já que atualmente é feita a terapia empírica de amplo 
espectro. Assim, esse tipo de estudopoderá contribuir para a adequação dos 
esquemas terapêuticos. 
 
1.1.2 Epidemiologia 
 
O padrão epidemiológico das infecções oculares é variável entre os diferentes 
países e, apresenta variações significativas, entre as regiões de um mesmo país. Essa 
diferença regional decorre principalmente da frequência dos fatores de risco de cada 
região (CARDOSO, 2011). Algumas infecções, como a ceratite apresenta maior 
incidência em países em desenvolvimento do que em relação a países desenvolvidos, 
sendo esse responsável também por 48 a 65% dos casos de úlcera corneana. No 
caso dos Estados Unidos, por exemplo, esta condição patológica tem o uso de lentes 
13 
 
 
 
de contato como um dos principais fatores de risco em 52% dos casos (MARUJO et. 
al, 2013). 
 Os parâmetros para essas variações podem estar também relacionados a 
fatores climáticos, sendo exemplo disso o aumento na prevalência de úlceras 
causadas por Staphylococcus spp. em climas frios, e, em contrapartida, em 
temperaturas quentes, alto índice por espécies de Pseudomonas spp. (ROSENDO DA 
SILVA, 2007). Além disso, essas infecções podem associar o tipo de micro-organismo 
ao ambiente ocupacional, pois a epidemiologia do fungo filamentoso difere da de 
leveduras, sendo o filamentoso infectante após traumas na córnea sofridos por 
trabalhadores expostos a material vegetal, pó de madeira, solo contaminado e que 
tenham os olhos previamente sadios. Já as leveduras comprometem olhos de 
indivíduos que já apresentem algum tipo de patologia ocular, colonizando-os de forma 
oportunista (DALFRÉ et. al, 2007). 
 Doenças oftalmológicas em sua maioria apresentam gravidade relacionado à 
agressividade do agente e à adesão do paciente ao tratamento, sendo isto associado 
à complexidade no acesso ao sistema de saúde especializado nesse tipo de serviço, 
um evento rotineiro em países menos desenvolvidos (KARA-JUNIOR et. al, 2001). 
 Um estudo retrospectivo, realizado no estado do Espirito Santo no Hospital 
Universitário Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM) no período de janeiro de 2009 a 
junho de 2013, analisou 398 pacientes com casos de úlcera de córnea, os quais foram 
submetidos à coleta de material para análise microbiológica. O resultado mostrou que 
tanto a bacterioscopia, quanto a cultura foram positivas para 250, com predomínio de 
48% dos casos de bactérias, sendo 21,6% para Gram negativas com índice de 18% 
para Pseudomonas spp., e Serratia marcesces em 3,6%; e 26,1% para Gram 
positivas, nas quais 9,6% foram de Staphylococcus epidermidis, 8,4% de 
Staphylococcus aureus, e Streptococcus pneumoniae, 7,2%. Houve também a 
presença de fungos do gênero Fusarium spp. em 17,2%, e encontrados ainda 0,8% 
de protozoários (COMARELLA et. al, 2015). 
 Já um estudo feito no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas 
Gerais sobre a prevalência de casos de endoftalmite, entre o período de janeiro de 
2009 a junho de 2011, avaliou aspectos epidemiológicos como idade, gênero, 
profissão, procedências dos pacientes, presença de comorbidade e etiologia das 
14 
 
 
 
endoftalmites. Tal estudo apresentou resultados correlacionando variáveis, em que o 
gênero masculino foi o mais prevalente em casos de endoftalmites pós trauma, 
geralmente associado ao tipo de atividade ocupacional do indivíduo. Além disso, foi 
visto que quanto as causas, as infecções pós-operatório foram as mais frequentes, 
com possível decorrência conforme a gravidade das lesões, bem como um pré-
operatório inadequado. Com relação a comorbidade, a maior parte dos pacientes 
tinham alguma doença sistêmica, bem como imunodeficiências. Analisou-se também, 
resultados microbiológicos nos quais demostraram prevalência de bactérias gram-
positivas em relação a fungos (COELHO; DE SOUZA; TANURE, 2015). 
 Bispo et al. (2008), em uma revisão abrangendo 6 anos (2000 a 2005) sobre a 
distribuição de micro-organismos isolados de pacientes com endoftalmite bacteriana, 
atendidos no Departamento de Oftalmologia da UNIFESP, relatou que de 451 
pacientes, 153 apresentaram cultura bacteriana positiva, nos quais 155 micro-
organismos foram isolados. Desse resultado, 79,35% foram Gram positivos, com 
prevalência para os SCoN (41,94%), Streptococcus grupo viridans 14,19%, S. aureus, 
8,39% e S. pneumoniae, 7,10%. Os Gram-negativos representaram 20,65% dos 
casos, com maior frequência de isolamento para Pseudomonas spp. e Haemophilus 
spp. (4,52%). Além de realizar o levantamento sobre a microbiota, foi verificado a 
sensibilidade desses micro-organismos em relação aos antimicrobianos 
administrados de forma empírica, resultando em bons índices de eficácia, acima de 
80%, para a maioria dos patógenos. Porém, afirmou a necessidade de estudos de 
vigilância de resistência bacteriana para adequação dos esquemas terapêuticos. 
Um estudo realizado no Hospital São Geraldo de Belo Horizonte, através da 
consulta de 20 prontuários de pacientes com ceratite fúngica confirmadas por cultivo, 
houve a presença do gênero Fusarium spp. como o principal agente etiológico. 
Aspectos como gênero e idade também foram evidenciados, sendo mais prevalente 
no gênero masculino e com idade média de 35,7 anos, com histórico de trauma ocular 
(SALERA et al., 2002). 
 
 
 
 
15 
 
 
 
1.1.3 Micro-organismos prevalentes 
 
1.1.3.1 Bactérias 
 
Estudos remetem a presença de tipos de bactérias patogênicas na microbiota 
ocular, como no relato feito por pesquisadores (GALVÃO, H.A.; CASTRO, M.M.B 
2010) os quais mostraram que as espécies virulentas com maior prevalência são as 
pertencentes aos gêneros Staphylococcus spp., Streptococcus spp. e Pseudomonas 
spp. 
Nesse contexto, tem-se o gênero Staphylococcus spp, uma bactéria Gram-
positiva, com morfologia de cocos agrupados em cachos e que são encontradas na 
composição da microbiota ocular humana. As espécies que apresentam destaque nas 
infecções oculares são os Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis. O S. 
aureus é capaz de produzir toxinas e enzimas que geram inflamações no tecido ocular 
devido a sua proliferação. A lesão característica desta espécie é o abscesso e as 
infecções piogênicas. Já os S. epidermidis, por ser de característica coagulase 
negativa, produz uma quantidade limitada de exotoxinas e exoenzimas de degradação 
nas quais não causam danos aos tecidos. Logo, sua patogênese está associada à 
sua capacidade de formar biofilme, geralmente em ambiente hospitalar. Este micro-
organismo está regularmente presente nas mucosas e pele do ser humano e são 
responsáveis frequentes por endocardites e por infecções em próteses, por exemplo 
(LEVINSON; JAWETZ, 2006; THEISEN, 2010). 
 Além desses, tem-se a Pseudomonas aeruginosa, um bacilo Gram-negativo, 
com ampla distribuição ambiental e de características peculiares em virtude de seus 
fatores de virulência. Dentre esses, podemos citar adesinas (produção de biofilme), 
toxinas, exoenzimas, lipopolissacarideos (LPS), pili, flagelos, sendo considerados 
patógenos oportunistas e os principais causadores de infecções hospitalares, 
sobretudo em pacientes com a imunidade comprometida. (GIRARDELLO, 2007; 
FLEISZIG; EVANS, 2002). 
 Por se tratar de um patógeno oportunista, a P. aeruginosa necessita de uma 
porta de entrada, seja ela por uma lesão prévia ou por uma falha nos mecanismos de 
defesa do hospedeiro (ESCO et al., 2002). Esse micro-organismo, uma vez rompido 
16 
 
 
 
a barreira epitelial ocular devido suas estruturas de adesão, tipicamente é capaz de 
produzir uma úlcera progressiva, extensa e com formação de secreções purulentas, 
com material amarelo esverdeado que se fixa a superfície da úlcera, causando um 
edema (ALVES E DE ANDRADE, 2000). 
A formação do biofilme associada a essas bactérias caracteriza-se como um 
importante fator de virulência frente aos mecanismos de defesa do hospedeiro, pois é 
composto por uma união de células microbianas, formadas por umamatriz 
extracelular polissacarídica (EPS) com capacidade de fornecer aos micro-organismos 
a adesão a superfícies biológicas e materiais sintéticos, como as lentes de contato 
(JAMAL et al., 2017). Logo, com a ancoragem das células bacterianas, a estrutura do 
biofilme propicia vantagens biológicas as mesmas, como a circulação de nutrientes 
necessários para sua sobrevivência, assim como a criação de uma aglomeração 
multicelular com resistência intrínseca à penetração de agentes antimicrobianos, a 
inibição da proliferação de linfócitos T e diminuição da produção de imunoglobulinas 
(RODRIGUES, 2011). 
Existe outro tipo de componente de grande relevância na produção de biofilmes 
em espécies como Staphylococcus epidermidis e Pseudomonas aeruginosa, 
conhecido como fator slime, um polissacarídeo extracelular com aspecto mucoso, 
capaz de criar uma aderência a superfícies lisas de biomateriais e de epitélios. 
Considerado como um fator de virulência, o “slime” pode reprimir a funcionalidade das 
células fagocitárias e interferir no processo da defesa do hospedeiro, além disso 
exercer falhas na sensibilidade a antimicrobianos (LAGOUMINTZIS et al., 2003; DA 
COSTA NOEL et al., 2016). 
Outro gênero comumente presente nessas infecções, é o Streptococcus spp., 
o qual pode causar infecções com característica assintomática ao colonizar mucosas, 
incluindo a conjuntiva, porém é um reconhecido patógeno e um dos principais agentes 
etiológicos de conjuntivites bacterianas, e úlceras corneanas ligadas a cirurgias 
oculares (SCHAEFER et al., 2001). Quando se trata de lesões oculares, esse tende a 
produzir uma úlcera redonda, com um aspecto branco-acinzentada rodeada por uma 
zona de edema menor, sendo isso comparado usualmente ao que acontece em 
espécies Gram-negativas. A patologia ocular desse gênero permanece localizada, 
até mesmo quando a lesão progride para as regiões mais profundas da córnea 
(ALVES E DE ANDRADE, 2000). 
17 
 
 
 
1.1.3.2 Fungos 
 
 Assim como as bactérias, a presença de fungos, reconhecidos como micro-
organismos oportunísticos, na conjuntiva caracteriza uma constante ameaça para os 
olhos, visto a gravidade de infecções que pode provocar. Neste caso, a patologia mais 
frequente é a ceratite fúngica (CF) ou ceratomicose, a qual apresenta caráter 
purulento e com aspecto ulcerativo, que se for tratada inadequadamente, pode causar 
a atenuação visual ou cegueira total em situações mais graves (IBRAHIM et al., 2012). 
Infecções micóticas podem acometer todas as estruturas do olho, sendo os 
fungos encontrados com predomínio em regiões como fórnice conjuntival, bordas 
palpebrais e orifícios lacrimais, cuja umidade, calor e proteção luminosa cria um 
ambiente conveniente para o saprofitismo. Mais de sessenta espécies de fungos já 
foram isoladas do olho humano, com ocorrência predominante em determinados 
regiões climáticas; sendo os mais comuns: Candida spp., Aspergillus spp. e o 
Fusarium spp. (SIDRIM E MOREIRA, 1999; GUS et al., 2005; XIMENES et al., 2016). 
 O gênero Candida spp. corresponde ao grupo das leveduras com maior 
associação com os casos de ceratite micótica, na qual a espécie mais constante é a 
C. albicans e a de menor frequência a C. parapsilopsis (TORRADO et al., 2013). No 
geral, essas espécies apresentam importantes fatores de virulência como aderência, 
produção de enzimas extracelulares e toxinas, que permitem a colonização do local, 
aumentando a eficácia com a progressão de infecções na mucosa, sendo isso 
favorecido quando há quebra do equilíbrio entre parasita-hospedeiro (NAVES et al., 
2013). 
No caso da ceratite causada por levedura, ocorre a presença de um infiltrado 
mais denso, com uma área demarcada por uma ulceração epitelial e expansão 
discreta da conjuntiva, geralmente com a presença de lesão e resposta inflamatória 
ocular preexistente, podendo assemelhar-se clinicamente a ceratite bacterianas. Esse 
gênero é considerando amplamente distribuído no ambiente, com e predominância 
em regiões de clima temperado, colonizando várias regiões do corpo humano 
(THOMAS E KALIAMURTHY, 2013). 
 Dentre o gênero Fusarium spp. estão compreendidas mais de vinte espécies, 
das quais F. solani, F. oxysporum, F. chlamydosporum e F. moniliforme são as mais 
18 
 
 
 
comumente ligadas aos casos de CF. Suas características microscópicas se 
relacionam com a presença de estruturas como hifas, macroconídios e microconidios 
isolados, sendo esses fungos encontrados no solo, geralmente em raízes de plantas 
ou fragmentos vegetais, por isso é frequentemente associado a patologias em 
trabalhadores rurais, e se distribui de acordo com as características climáticas 
abrangendo regiões tropicais e subtropicais. A patogenicidade dessas espécies está 
atrelada a capacidade de produção proteases, colagenases e de micotoxinas, na qual 
suprimem a imunidade, gerando a ruptura do tecido diante da produção de enzimas 
hidrolíticas, assim como habilidade replicação em temperatura de 35ºC (CARVALHO 
et al., 2001; IBRAHIM, 2008; ISHIDA et al., 2012; TORRADO et al., 2013). 
Já o gênero Aspergillus spp. corresponde junto com o Fusarium spp., ao grupo 
dos fungos filamentosos com maior incidência nas patologias oculares, nas quais as 
espécies A. fumigatus, A. flavus e A. terreus são as mais comuns (GUS et al., 2005). 
Em 2010 foi descrito pela primeira vez, dois casos de ceratite causada por Aspergillus 
brasiliensis (MANIKANDAN et al., 2010). Esse gênero caracteriza-se por 
epidemiologia relacionada a regiões de clima temperado, com isolamento em 
ambientes com ventilação, apresentando estruturas de conídios reprodutivos 
(estruturas de propagação) que ficam suspensos no ar por horas e permanecem 
viáveis por meses. A inalação dos conídios tem relação com o início do processo 
infeccioso ocular visto que os seios paranasais funcionam como porta de entrada para 
o micro-organismo e estabelece uma comunicação com a órbita ocular facilitando o 
processo de infecção (SALERA et al., 2002; PARK e MEHRAD, 2009; LEVIN et al., 
1996). 
 
1.1.3.3 Protozoários (Acanthamoeba spp.) 
 
As espécies do gênero Acanthamoeba, consideradas amebas de vida livre 
(VDL), são distribuídas no ambiente de forma ampla. Esses protistas apresentam 
resistência na forma de cisto, no qual permite sua sobrevivência em situações de altas 
temperaturas, bem como alterações de pH e uso de substâncias químicas, logo, a 
contaminação humana pode ocorrer pela água, solo ou partículas de ar contendo essa 
estrutura, podendo acometer o sistema nervoso, pulmões, pele e olhos (SCHEID, 
2014). 
19 
 
 
 
 Na região ocular, a Acanthamoeba spp. é considerada o protozoário de maior 
prevalência, na qual sua presença é mais comumente relacionada a usuários de 
lentes de contato, na maioria das vezes isolados nos estojos de armazenamento 
desse material. Pode apresentar patologias oftalmológicas tanto em indivíduos sadios 
como imunodeprimidos, compreendidas em ceratoconjutivites ou ceratites (SANTOS 
et al., 2015). 
Além da associação com as lentes de contato, as infecções por Acanthamoeba 
spp. estão ligadas a casos a traumas oculares por material vegetal ou solo, devido 
sua disposição no ambiente. (BHARATHI et al., 2009). Isso pode ser melhor 
visualizado quando se analisa seus fatores de virulência, partindo-se da perda da 
integridade da córnea e seguindo pela penetração dessa AVL, onde há a formação de 
um infiltrado inflamatório que leva a sintomatologia de visão turva, prurido e dor, e com 
resistência ao tratamento com antimicrobianos usados na prática oftalmológica 
(PACELLA, et al. 2013). 
O diagnóstico da ceratite amebiana pode ser feito através da detecção dos 
cistos nas amostras obtidas em raspados de lesões na córnea, sendo feito a pesquisa 
direta ou por coloração dessas estruturas. Além disso, é realizado a cultura do material 
coletado em meio de cultura especifico, denominado de Ágarnão nutriente e com 
acréscimo da bactéria Escherichia coli (BORIN et al., 2013). 
 
1.1.3.4 Vírus 
 
 Em relação as infecções oculares de causadas por vírus, a conjuntivite e a 
ceratite são as mais frequentes, sendo ambas diferenciadas na etiologia e na região 
ocular afetada. Para as conjuntivites tem-se que, o adenovírus é o agente responsável 
pelos surtos mundiais com capacidade de atingir faixas etárias de forma abrangente, 
com variação na gravidade da patologia, pois caracteriza-se pela sua divisão em seis 
espécies diferentes, e dentro delas 51 sorotipos (MARANHÃO et al., 2009). 
Isso também foi enfatizado por Rosado-Filho et al. (2015), que analisou a 
prevalência desse vírus nos casos de conjuntivite num município de Minas Gerais, 
observando uma discrepância com outras regiões devido a fatores ambientais, mas 
20 
 
 
 
que há a necessidade diagnóstico mais preciso, a fim de estabelecer um tratamento 
mais específico. 
 Para os casos de ceratite viral, os patógenos mais incidentes são os vírus 
herpes simples e herpes zoster. Além desses, outros vírus, como Epstein-Barr e 
citomegalovírus podem acometer o diâmetro ocular, porém com característica mais 
superficial, sem possibilidade de perda da visão. Os mecanismos fisiopatológicos 
relacionados a ceratite herpética ainda não são bem elucidados, porém sabe-se que 
o vírus se dirige para os gânglios sensoriais permanecendo latente até que fatores 
predisponentes, como traumas, faça com que este seja reativado, migrando para os 
nervos e tecidos oculares e estabelecendo a infecção (DE FREITAS; ALVAREGA; DE 
LIMA, 2001). 
 
1.1.4 Fatores predisponentes 
 
Uma irregularidade pré-existente quando relacionada a mecanismos de defesa 
do hospedeiro, ou referente a lesões de natureza local ou sistêmica, pode predispor 
as infecções oculares. Isso pode ser observado em doenças como diabetes mellitus, 
ou imunodepressoras como a AIDS, assim como abrasões corneanas causadas pelo 
uso de lente de contato, condições patológicas como catarata, traumas, cirurgias ou 
doenças oculares prévias; condições climáticas favoráveis a mudança da microbiota 
conjuntival, entre outras (HÖFLING-LIMA et al., 2005). 
Quando relacionadas a diabetes mellitus, as lesões oculares se dividem em 
imediatas e tardias, sendo que as imediatas implicam em alterações corneais e 
mudanças na refração e em casos mais graves podem causar a catarata diabética 
(EHLERS, 1980; EPSTEIN. 1976). No caso das tardias, ao se tratar da córnea de um 
indivíduo diabético, este se torna mais susceptível a lesões e cicatrização lentas 
quando comparados a indivíduos saudáveis (CAVALLERANO, 1991). O principal 
impasse para paciente com diabetes é manter a integridade da córnea, já que ocorre 
uma redução da sensibilidade corneal que pode resultar em úlceras em indivíduos 
com histórico de ceratoconjutivite seca (TOUZEAU et al., 2004). 
 Em um estudo realizado por ANDRADE et al. (2006) na área urbana da cidade 
de São Paulo, buscou determinar a microbiota na conjuntiva sadia de diabéticos. Seus 
resultados, analisados estatisticamente, mostrou cultivos positivos para fungos em 
21 
 
 
 
4,2% dos casos, sendo todos os fungos identificados como filamentosos do gênero 
Aspergillus spp. Foi visto também que ocorreu crescimento de fungos anemófilos da 
sala de coleta, observando que houve coindidências entre as espécies isoladas do ar 
e da conjuntiva. 
Outro estudo feito por Moreno et al. (2014) mostrou que houve um aumento do 
crescimento bacteriano aeróbico na conjuntiva de pacientes com níveis alterados de 
glicose no sangue em jejum no momento do exame, e nenhuma diferença observada 
no crescimento bacteriano aeróbio na conjuntiva em pacientes diabéticos, em relação 
aos níveis de hemoglobina glicada no momento da coleta. A Staphylococcus 
epidermidis foi a principal bactéria aeróbica encontrada. 
 Lesões oculares causadas por lentes de contato geralmente estão associadas 
ao comportamento inadequado dos usuários, visto que ocorre uma ausência de 
higienização das mãos e dos locais de armazenamentos das lentes, além do 
acompanhamento médico insuficiente e utilização prolongada, o que acarreta no 
contato contínuo entre a lente e a superfície ocular, estabelecendo uma relação 
excessiva para os mecanismos de defesas da córnea, facilitando a invasão por micro-
organismos (FORISTER et al., 2009). 
 A frequência de ceratite bacteriana na população usuária de lentes de contato 
aumentou nos últimos 40 anos de maneira exarcebada, podendo acarretar em 50% 
dos indivíduos, dificuldade na visão e até mesmo sua perda total (OLIVEIRA et al., 
2004). Estima-se que a incidência anual de ceratite infecciosa relacionada ao uso de 
lentes de contato é de 2 a 10.000, sendo isto intensificado quando se há o habito de 
dormir com a lente comparado com seu uso diurno (ALIPOUR et al., 2017). 
Isso ocorre devido a hipóxia perante o fechamento das pálpebras ao dormir, 
pois há uma desestabilização da barreira epitelial da córnea, o que permite a adesão 
de micro-organismos. As principais bactérias causadoras da ceratite nesses usuários 
de lentes são P. aeruginosa, S.epidermidis. Em relação as P. aeruginosa, estas são 
capazes de aderir à superfície da lente devido principalmente a sua produção de 
biofilme, causando desconforto e turvação da visão (ALVES e DE ANDRADE, 2000; 
LUI et al., 2009; STAPLETON e CANT, 2012). 
 Em um estudo feito por Pens (2008) na cidade de Porto Alegre/RS sobre a 
frequência de Acanthamoeba spp. e bactérias em biofilmes e líquidos de conservação 
22 
 
 
 
de estojo de lentes de contato, constatou a presença tanto de espécies bacterianas 
Gram-negativas, como Gram-positivas, prevalecendo as Gram–positivas na 
microbiota conjuntival. E além disso, das 81 amostras analisadas, 8,6% foram 
positivas para Acanthamoeba spp., apresentando maior contaminação nos estojos de 
usuários mais jovens. 
 As infecções oculares por estarem relacionadas ao comprometimento da 
imunidade, podem atingir pacientes portadores da AIDS, já que ocorre uma supressão 
do sistema imunológico dos indivíduos infectados pelo Vírus Imunodeficiência 
Humana (HIV), causando a instalação de patógenos oportunistas e dessa forma surgir 
manifestações em anexos oculares do segmento anterior, posterior, assim como 
manifestações orbitárias e neuroftálmicas, por exemplo (PETROCINIO et al., 2006). 
 A microbiota conjuntival aeróbia de pacientes HIV positivos foi analisada, 
comparando com estudos semelhantes feitos com pacientes sadios e portadores da 
AIDS, constatando-se que a conjuntiva dos indivíduos HIV-negativos tinham a mesma 
microbiota, porém com a prevalência menor. Os resultados das bactérias mais 
comumente isoladas dos pacientes aidéticos foram S. epidermidis, seguido pelo 
Corynebacterum spp., pela Pseudomonas alcaligenes e pelo Acinetobacter spp., 
tendo o S. epidermidis e Acinetobacter spp. apresentando sensibilidade a 
gentamicina, clorafenicol e ciprofloxacina, e a P. alcaligenes sensível apenas a 
gentamicina e ciprofloxacina (GUS et al., 2004). 
Pacientes que foram submetidos a transplantes de córnea apresentam cultura 
positiva da conjuntiva com variação de 43% a 100%. Esse aumento de micro-
organismos nos pacientes transplantados se deve possivelmente aos doadores de 
córnea, relacionando-se as alterações sofridas pelo paciente pós morte, assim como 
as causas do óbito, o intervalo de tempo entre o óbito e a enucleação, a técnica 
utilizada e contaminação durante na retirada do tecido, manipulação e tempo de 
preservação (ARAUJO E SCARPI, 2004). 
Fatores que podem influenciar nos mecanismos de proteção como o reflexo de 
piscar os olhos, a perda do tônus muscular da pálpebra, principalmente em pacientes 
que ficaram sob o uso de sedação, ventilação mecânica, podem permitir que haja o 
maior risco de contaminação da córnea a ser transplantada, provocando ceratite 
bacteriana,geralmente por Pseudomonas aeruginosa (KAM; HAYES; JOSHI, 2011). 
23 
 
 
 
Também ocorre contaminação por fungos, com prevalência de 3 a 28%, sobretudo 
para Candida albicans (MERCHANT et al., 2001; GODOY et al., 2004). 
 Nos casos de cirurgias de catarata, indivíduos adquirem endoftalmite no pós-
operatório diante da presença de bactérias da superfície ocular e anexos do paciente, 
que conseguem acessar à câmara anterior durante o procedimento cirúrgico no 
momento da incisão, ou aderidas à lente intraocular. (ASSIA et al, 1998; VIEIRA et al., 
2008). A incidência de endoftalmite após cirurgia de catarata em vários países 
europeus varia entre 0,03% e 0,7% (GRZYBOWSKI; TURCZYNOWSKA, 2018). 
 Ocorre também influência da idade em relação a microbiota conjuntival de 
pacientes submetidos à cirurgia de catarata, sendo isso comprovado pelo estudo de 
RUBIO (2006), observando que pacientes idosos que aguardavam cirurgia de catarata 
com idade entre 75 e 96 anos tiveram maior frequência de bactérias, sendo maior 
prevalência em homens do que em mulheres. 
 A incidência de lesão na córnea no mundo, varia amplamente de 3% a 60% em 
pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Já em âmbito nacional, 
foi identificado que 59,4% dos pacientes hospitalizados desenvolveram lesões, com 
um início médio 8- 9 dias (OLIVEIRA et al., 2016). Este fato está atrelado aos estados 
de sedação ou coma aos quais esses individuos são submetidos, de forma a interferir 
nos movimentos oculares aleatórios, reflexo corneal da pálpebra e o fechamento 
palpebral, bem como a produção do filme lacrimal. Isso faz com que a córnea fique 
disponível a fatores que provoquem seu ressecamento e diminuição do seu efeito 
bactericida, o que leva ao desenvolvimento de lesões e infecções (SIVASANKAR et 
al., 2006). 
 A administração de medicamentos como anti-histamínicos, atropina, 
antidepressivos tricíclicos interferem em mecanismos de defesa ocular, como o filme 
lacrimal, o que facilita a formação de úlceras e perfuração e podem gerar inflamações 
na córnea. Pacientes internados em UTI, numa média de 48 horas no local a uma 
semana no local, podem sofrer com essas alterações nos olhos (WERLI-ALVARENGA 
et al., 2011). O uso abusivo de anestésicos tópicos oculares pode ser capaz de alterar 
a superfície do epitélio corneano, de forma a influenciar na secreção lacrimal e causar 
toxicidade ao tecido. Os principais micro-organismos envolvidos nesse uso excessivo 
24 
 
 
 
são os Streptococcus spp, Staphylococcus spp., Proteus spp., Bacillus spp. e fungos 
patogênicos como por exemplo espécies de Candida (MÜLLER et al., 1998). 
 
1.1.5 Diagnóstico microbiológico 
 
As análises microbiológicas das amostras advindas da região ocular (raspado 
de córnea, secreção conjuntival, humor vítreo, humor aquoso) são baseadas em duas 
etapas, microscopia e cultura. Na primeira etapa, a microscopia, ocorre a identificação 
inicial dos micro-organismos presentes no material coletado, através do uso de 
colorações de Gram, no caso das bactérias, e de KOH a 10% para fungos. A precisão 
da microscopia em relação aos patógenos é de 65% para fungos e 33% para 
bactérias, já na cultura é de 59% para fungos e 57% para bactérias, de acordo com 
Eleinen et al. (2012). 
Para o diagnóstico de infecções oculares no setor de microbiologia na unidade 
do Laboratório do HUOL-UFRN, o padrão ouro é o isolamento do patógeno através 
da cultura que também permite, após a confirmação do agente, a realização do teste 
de sensibilidade a antimicrobianos (TSA). O material é semeado nos meios de cultura: 
o ágar sangue, ágar Manitol Salgado e ágar McConkey para análise do crescimento 
bacteriano e o ágar Sabouraud Dextrose com clorafenicol (ASD) para o crescimento 
fúngico, e além disso, a utilização do caldo BHI para obtenção de colônias isoladas, 
caso seja necessário repique. Os materiais direcionados ao crescimento de bactérias 
são incubados em estufas com temperaturas de 35ºC, cujo o ágar sangue permanece 
submetido a um ambiente de microaerofila, com análise diariamente por um período 
de 2 a 7 dias. Já o ASD é disposto tanto em estufa a 35ºC, para a análise das 
leveduras, como em temperatura ambiente para observação do crescimento de 
fungos filamentosos, ficando de 15 a 30 dias antes das culturas serem consideradas 
negativas. 
A identificação do micro-organismo a partir da cultura pode ser realizada 
através de esquemas baseados em seu estudo fenotípico, observando as 
características da morfologia da colônia, bem como o metabolismo e sensibilidade aos 
antimicrobianos. Além disso, outra forma de identificação é a utilização de sistemas 
automatizados como o BD Phoenix ™, no qual é capaz de estabelecer uma maior 
precisão quanto ao gênero e espécie de bactérias e leveduras, e o perfil de 
25 
 
 
 
sensibilidade bacteriano. Para pesquisa de fungos filamentosos, uma alternativa é o 
exame microscópico de colônias usando a coloração de lactofenol azul de algodão, 
em que se observa as estruturas fúngicas características dos gêneros. 
 
1.1.6 Aspectos terapêuticos 
 
O tratamento para lesões oculares é prescrito geralmente de forma profilática, 
no qual preconiza a atividade do fármaco frente os prováveis micro-organismos que 
podem se desenvolver no local. Logo, a escolha do antimicrobiano está envolvido 
com o uso de drogas de amplo espectro e que acaba por vezes selecionando uma 
microbiota resistente (SOLARI et al., 2004). 
 Quando se trata de infecções oculares por bactérias, a intervenção 
antimicrobiana geralmente é feita a partir da classificação dessas em Gram-positivas 
ou Gram-negativas (SPOOR, 1999). Em relato feito por Duperet (2016) sobre os 
fármacos antimicrobianos utilizados para tratar doenças oftálmicas, este cita que a 
administração é realizada em uso combinado do grupo dos aminoglicosídeos 
(amicacina, gentamicina, tobramicina) e cefalosporinas (cefazolina, ceftazidima), 
assim como a combinação entre aminoglicosídeos e quinolonas (ciprofloxacina, 
gatifloxacino, moxifloxacino). 
 Porém, alguns estudos buscaram verificar a susceptibilidade das bacterias 
mais frequentes em relação a esses antimicrobianos de escolha, como o realizado por 
Gayoso et al. (2007) no qual revelou que o SCoN, vêm apresentando um aumento na 
resistência à antibióticos como meticilina e a aminoglicosídeos (tobramicina e 
gentamicina), e as fluoroquinolonas (ofloxacina, ciprofloxacina) ainda permanecem 
como uma boa escolha para o tratamento das infecções oculares. No entanto, já 
ocorreu o a tendência para o desenvolvimento de resistência, restringindo a terapia. 
 Já Nascimento et al. (2011) ao realizar um estudo retrospectivo entre 2005 e 
2009 sobre a susceptibilidade in vitro antimicrobiana em ceratites bacterianas no 
Hospital Oftalmológico de Sorocaba/SP, constatou que a maioria dos antimicrobianos 
de escolha (cefalotina, gentamicina, amicacina, vancomicina, ciprofloxacina, 
tobramicina, gatifloxacina) apresentaram bons índices de sensibilidade para Gram-
positivos, acima de 85%, e para Gram-negativos, acima de 80%. E quanto aos índices 
26 
 
 
 
de resistência, apresentou maiores valores em relação a cefalotina para ambos os 
grupos, chegando a 88%, assim como a ciprofloxacina e clorafenicol, principalmente 
relacionado a espécies de Pseudomonas. 
 Vola et al. (2013) em sua análise retrospectiva dos arquivos do laboratório de 
microbiologia ocular da Universidade Federal de São Paulo, sobre a prevalência e 
suscetibilidade antibiótica de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) 
em infecções oculares, constatou que no período de 10 anos (2000 a 2009), dentre 
566 isolados de S. aureus, 56 apresentaram resistência a meticilina. Durante esse 
período, esse micro-organismo apresentou um relevante aumento passando de 7,6% 
para 16,2% entre as infecções oculares geral (conjuntivite, ceratite e endoftalmite),e 
além disso esses isolados resistentes a meticilina mostraram maiores taxas de 
resistência à antibióticos como tobramicina, gentamicina, ciprofloxacina, gatifloxacina 
e moxifloxacina, quando comparados aos isolados dessa espécie, susceptível à 
meticilina. 
 De forma abrangente, a eficácia do antimicrobiano no olho é associada com 
sua concentração diante das estruturas oculares, como humor vítreo. Logo, é 
essencial a rapidez com que o antibiótico atinja o foco da infecção, de forma que 
consiga bloquear a resposta inflamatória, e consequentemente, minimize a atividade 
dos leucócitos sobre a retina, preservando-a (VERA VIDAL et al., 2011). 
 Com relação as infecções micóticas, podem ser tratadas tanto com o uso de 
medicamentos como de forma cirúrgica, sendo esta última relacionada aos casos mais 
graves, quando há perfuração ocular (IBRAHIM, 2008). Os antifúngicos comumente 
utilizados, se direcionam para os tipos de fungos presentes na patologia ocular, 
leveduras ou filamentosos, muitas vezes utilizados de forma associada para maior 
eficácia. A anfotericina B (AMB) e a natamicina (NTM) são as drogas de primeira 
escolha, pois possuem amplo espectro contra ambos os tipos de fungos, por exemplo 
frente a Candida spp., e Aspergillus spp., porém a AMB possui menor eficácia contra 
o Fusarium spp., em relação a NTM. Além desses, existem o uso da classe dos azóis, 
como o fluconazol, variconazol, geralmente de uso tópico e apresentando maior 
penetração ocular (MULLER et al., 2013; THOMAS e GERALDINE, 2007). 
 
 
27 
 
 
 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 Objetivo Geral 
 
Avaliar a prevalência de micro-organismos implicados nas infecções oculares, 
no período entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017, a partir do banco de dados do 
Laboratório de Análises Clínicas e prontuários dos pacientes do Hospital Universitário 
Onofre Lopes (HUOL-UFRN). 
 
2.2 Objetivos Específicos 
 
 Analisar os dados dos pacientes, incluindo idade e gênero, bem como fatores 
predisponentes para infecções oculares; 
 Averiguar a procedência da amostra quanto ao sítio de coleta (humor vítreo, 
humor aquoso, secreção conjuntival, raspado de córnea); 
 Avaliar a frequência dos micro-organismos envolvidos e o perfil de 
sensibilidade bacteriano; 
 Gerar o índice de infecção ocular dos pacientes atendidos e fornecê-lo à 
equipe que conduz os atendimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
3 METODOLOGIA 
 
3.1 Considerações éticas 
 
As condutas para a realização desta pesquisa respeitaram as normas e 
diretrizes nas quais regulamentam pesquisas envolvendo seres humanos, de acordo 
com a aprovação pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O 
presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN), aprovado em 10 de 
setembro de 2018, com o número de registro CAAE: 91755618.5.0000.5537 e parecer 
de nº 2.883.796, conforme anexo A. 
 
3.2 Natureza do estudo 
 
Trata-se de um estudo do tipo retrospectivo e descritivo considerando o período 
entre janeiro de 2016 e dezembro de 2017, tendo como unidade de análise o paciente 
atendido no Laboratório de Análises Clínicas (LAC) do Hospital Universitário Onofre 
Lopes (HUOL-UFRN), localizado em Natal/RN. 
 
3.3 Variáveis do estudo 
 
Os dados foram extraídos dos livros de registro do setor de Microbiologia do 
LAC do HUOL-UFRN. As variáveis foram preconizadas em “Idade”, “Gênero”, 
“Espécime Clínico”, “Micro-organismo” e “Perfil de Sensibilidade”, sendo isto 
previamente estabelecido a partir da elaboração de um formulário (apêndice A), 
seguido pelo preenchimento de uma tabela com a determinação de categorias a fim 
de buscar associação entre elas (quadro 1). Em relação aos fatores predisponentes, 
não foi possível extrair do banco de dados do hospital, pois essas informações ainda 
não foram cadastradas nos registros dos pacientes consultados. 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
 
Quadro 1 – Descrição das variáveis utilizadas no estudo Prevalência microbiana das 
infecções oculares em pacientes atendidos no Hospital Universitário 
Onofre Lopes (HUOL-UFRN). 
 
 
Variáveis 
 
 
 
Conceito 
 
Classificação 
Estatística 
 
 
 
Categorias 
 
 
 
Idade 
 
Número de anos de um 
indivíduo desde do seu 
nascimento 
 
 
 
Qualitativa ordinal 
 
 
 
Faixa etária 
 
 
 
 
Gênero 
 
Trata-se a diferenciação 
entre homens e 
mulheres. 
 
 
 
 
Qualitativa 
Nominal 
 
Masculino ou 
Feminino 
 
 
 
Espécime 
Clínico 
 
Uma amostra de uma 
parte anatómica 
ou fluido 
corporal recolhida de um 
paciente 
 
 
 
 
Qualitativa 
 
Nominal 
 
 
 
Humor vítreo, 
Humor aquoso, 
Secreção, ocular, 
Raspado de córnea, 
 
 
 
Micro-organismo 
 
Uma forma de vida que 
não pode ser visualizada 
sem auxílio de um 
microscópio 
 
 
 
Qualitativa 
 
Nominal 
 
 
 
Bactérias, Fungos 
 
 
 
Perfil 
Sensibilidade 
 
 
Descrição da 
susceptibilidade de um 
micro-organismo a 
antimicrobianos 
 
 
 
 
Qualitativa 
 
Nominal 
 
 
CIP, GEN, CAZ, 
AMI, MPM VAN, 
OXA. 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fluido_corporal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fluido_corporal
30 
 
 
 
3.4 Número amostral 
 
 O número amostral foi finalizado em 190 pacientes, considerando aqueles 
que apresentaram infecções oculares e que realizaram exames microbiológicos no 
Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário Onofre Lopes no período 
avaliado (2016 e 2017). 
 
 
3.4.1 Critérios de Inclusão 
 
Foram incluídos todos os pacientes com infecções oculares que realizaram 
exames microbiológicos no setor de Microbiologia do Laboratório de Análises Clínicas 
do Hospital Universitário Onofre Lopes, entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017, 
envolvendo os espécimes clínicos: humor vítreo, humor aquoso, secreção, ocular, 
raspado de córnea. Existiram pacientes que apresentaram como resultado mais de 
um tipo de micro-organismo, bem como mais de um tipo de espécime clínico, logo 
estes foram analisados mais de uma vez, em relação as variáveis “micro-organismo” 
“espécime clinico” e “perfil de sensibilidade”. 
 
3.4.2 Critérios de Exclusão 
 
Foram excluídos todos os pacientes que não realizaram exames 
microbiológicos no setor de Microbiologia do Laboratório de Análises Clínicas do 
Hospital Universitário Onofre Lopes, entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017, 
envolvendo esses espécimes clínicos. 
 
 
3.5 Coleta de dados 
 
 
Os dados foram extraídos dos livros de registro do setor de Microbiologia do 
Laboratório de Análises Clínicas do HUOL-UFRN da cidade de Natal/RN. Foram 
pesquisadas informações sobre idade, gênero, o tipo de espécime clínico e o perfil de 
sensibilidade. Todos os dados foram tabelados e organizados com auxílio do 
Microsoft® Office® Excel. 
31 
 
 
 
 
3.6 Análise de dados 
 
Inicialmente foi organizada uma apresentação dos dados na forma de medidas 
descritivas, e em seguida foram submetidos à análise bivariada utilizando o teste de 
Qui-quadrado, sendo verificada a prevalência entre a associação das variáveis “Idade” 
e “Micro-organismo’, e “Gênero” e “Micro-organismo”, em um nível de significância de 
5%. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
4 RESULTADOS 
 
Dentre os dados dos 190 pacientes avaliados, constatou-se que a população 
estudada era composta por 61 (32%) mulheres e 129 (68%) homens no total no qual, 
analisando-se separadamente os casos positivos e negativos para a presença de 
micro-organismos, temos a distribuição da prevalência dos gêneros masculino e 
feminino em ambas situações, como mostra a Figura 1. 
 
Figura 1 – Distribuição de casos de infecções oculares quanto ao gênero dos 
pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 a dezembro 
de 2017. 
 
 Fonte: Livro de registro do LAC-HUOL. 
 
A partir desta análise, estabeleceu-se destaque aos casos positivos nos 
exames laboratoriais, tendo em vista que houve o predomínio do gênero masculino 
com um percentual de 65%, logo, foi feito a análise de associação do gênero com os 
micro-organismos encontrados, pelo teste do Qui-quadrado, porém não foi constatado 
significância estatística. 
Com relação a idade, os pacientes com o resultado de positividade para 
agentes etiológicos foram dispostos em faixa etária, divididos entre indivíduos abaixo 
de 25 anos, entre 25 e 49 anos e acima de 50 anos. A faixa etária com maior 
frequência de pacientes foi entre 25 e 49 anos, com 37,5% dos casos. Através do 
teste do Qui-quadrado, foi analisada a relação entre a faixa etária e cada micro-
organismo descrito entre as infecções do período de 2016 e 2017, encontrando-se, 
65%
69%
35%
31%
POSITIVOS NEGATIVOS
MASCULINO FEMININO
33 
 
 
 
portanto, somente uma associação significativa (p-valor= 0,01194) para pacientes 
entre 25 e 49 anos e o fungo do gênero Fusarium spp., descrita na Tabela 1. 
. 
Tabela 1 – Associação entre faixa etária e o micro-organismo (Fusarium spp), dos 
pacientes com infecções oculares do HUOL no período de dezembro de 
2016 a janeiro de 2017. 
 
 
 
 
Faixa Etária 
 Micro-organismo 
 (Fusarium spp.) 
 N (% do total) Valor de p 
 < 25 ANOS 3 (15,7) 
25 ANOS – 49 ANOS 12 (63,2) 0,01194 
≥ 50 ANOS 4 (21,1) 
 Fonte: Livro de registro do LAC- HUOL. 
 
De todos os casos analisados, 140 (73,6%) dos pacientes tiveram cultura 
negativa para micro-organismos, e 48 (26,4%) pacientes apresentaram positividade 
para pelo menos um agente infeccioso (fungos, bactérias), sendo identificado em 2 
pacientes simultaneamente, dois tipos de bactérias diferentes. Dentre as 50 culturas 
positivas, para o isolamento de agentes infecciosos foi visto a presença de bactérias 
Gram-positivas e Gram-negativas, onde os dois grupos juntos totalizaram 29 (58%) 
dos micro-organismos isolados, assim como a existência de fungos filamentosos, num 
total de 21 (42%), como mostra a Figura 2. 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
Figura 2 – Distribuição geral dos micro-organismos encontrados nas infecções 
oculares dos pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 
2016 a dezembro de 2017. 
 
 Fonte: Livro de registro do LAC- HUOL. 
 
 
Após a identificação dos micro-organismos encontrados, constatou-se que 
entre as bactérias Gram-negativas, o gênero Pseudomonas spp. foi o mais frequente, 
com a presença de 13 casos (44,8%). Já para o grupo das Gram-positivas, o 
Staphylococcus aureus foi o mais constante, correspondendo a 5 casos (17,2%), 
seguido do grupo Staphylococcus coagulase negativa, com 4 casos (13,8%). Com 
relação aos fungos filamentosos, o gênero Fusarium spp. foi considerado o agente 
infeccioso isolado mais prevalente, presente em 19 pacientes, correspondendo a 
90,5% dos casos positivos. Outros gêneros, pertencentes ao grupo dos micro-
organismos citados acima, também foram descritos (Tabela 2), porém com o número 
de casos menores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58%
42%
BACTÉRIAS
FUNGOS
35 
 
 
 
 
 
Tabela 2 – Micro-organismos (%) isolados das infecções oculares do (HUOL-UFRN) 
no período entre janeiro de 2016 a dezembro de 2017. 
Micro-organismo 
 
N % 
 
 
BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS 
S.aureus 5 17,2 
SCoN 4 13,8 
S.pneumoniae 1 3,4 
 
BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS 
Pseudomonas spp. 13 44,8 
Acinetobacter spp. 2 6,9 
Enterobacter spp. 2 6,9 
E.coli 1 3,4 
Klebsiela spp. 1 3,4 
 
FUNGOS FILAMENTOSOS 
Fusarium spp. 19 90,5 
Aspergillus spp. 2 9,5 
 
Total 50 
 Fonte: Livro de registro do LAC- HUOL. 
 
 
Sobre os espécimes clínicos, temos que a córnea foi o sítio anatômico com o 
maior número de casos de infecções, sendo o raspado de córnea foi o material 
responsável pelo maior número de isolamento de micro-organismos, com 34 culturas 
positivas, correspondendo a (70%). Logo após tem-se que a secreção ocular, com 13 
culturas (26%), e finalizando com 2 casos relacionados a humor vítreo (4%). Não foi 
encontrado pacientes com cultura positiva no humor aquoso, durante o período de 
estudo (Figura 3). 
 
 
 
 
36 
 
 
 
Figura 3 – Distribuição das culturas positivas quanto ao espécime clínico dos 
pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 a dezembro 
de 2017. 
 
Fonte: Livro de registro do LAC- HUOL. 
 
A susceptibilidade bacteriana aos antimicrobianos foi avaliada através da 
análise dos antibiogramas, considerando os fármacos utilizados com maior frequência 
nas soluções destinadas ao tratamento de infecções oculares no HUOL/UFRN, 
mostrada na Tabela 3. Foram encontrados elevados índices de sensibilidade para a 
maioria dos antimicrobianos testados. No entanto, foi constatado que os gêneros 
Acinetobacter spp. e Enterobacter spp. que foram isolados em dois pacientes, e o 
gênero Klebsiella spp. e a espécie bacteriana E. coli, ambos isolados em apenas um 
paciente cada, apresentaram comportamento diferentes frente aos antimicrobianos 
testados. As bactérias do gênero Acinetobacter spp. apresentaram resistência de 
100% para ciprofloxacina e de 50% para o meropenem, e as do gênero Enterobacter 
spp. apresentaram resistência de 50% para a ceftazidima, mostrados na Figura 4 (C 
e D). 
 
 
 
 
 
70%
26%
4%
Raspado de Córnea
Secreção Conjuntival
Humor Vítreo
37 
 
 
 
Tabela 3 – Sensibilidade (%) aos antimicrobianos de uso frequente em infecções 
oculares de pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 a 
dezembro de 2017 
 
CIP: Ciprofloxacina GEN: Gentamicina AMI: Amicacina CAZ: Ceftazidima MPM: Meropenem VAN: 
Vancomicina OXA: Oxacilina NA: Não se aplica 
Fonte: Livro de registro do LAC – HUOL. 
 
As cepas Gram-negativas isoladas com maior frequência de casos, como a 
Pseudomonas spp, obtiveram índices de susceptibilidade de grande relevância, sendo 
100% sensíveis a ciprofloxacina, amicacina, ceftazidima, e meropenem, e 60% a 
gentamicina. Já as Gram-positivas, como o Staphylococcus aureus apresentaram 
100% de sensibilidade para todos os antimicrobianos avaliados, a ciprofloxacina, 
gentamicina, vancomicina e oxacilina. Porém, o grupo dos Staphylococcus coagulase 
negativa, se mostrou resistente a ciprofloxacina, gentamicina e oxacilina, com índices 
de 100%, 50% e 75%, respectivamente. A figura 4 demonstra, separadamente, o 
perfil das bactérias (SCoN, Acinetobacter spp., Enterobacter spp., Pseudomonas spp.) 
que apresentaram resistência a alguns dos antimicrobianos testados. 
Em relação as culturas positivas, foi constatado nos registros um caso com 
presença da bactéria Streptococcus pneumoniae, entretanto não foi realizado o 
antibiograma, logo não foi possível inserir esse dado na análise do perfil de 
sensibilidade. 
38 
 
 
 
Figura 4 – Perfil de resistência aos antimicrobianos das bactérias isoladas de lesões 
oculares de pacientes atendidos no (HUOL-UFRN) de janeiro de 2016 
a dezembro de 2017. 
A B 
C D 
 
 Fonte: Livro de registro do LAC-HUOL. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
0%
20%
40%
60%
80%
100%
CIP GEN VAN OXA
SCoN
R S
0%
20%
40%
60%
80%
100%
CIP AMI CAZ GEN MPM
Pseudomonas spp.
R S
0%
50%
100%
CIP GEN AMI CAZ MPM
Acinetobacter spp.
R S
0%
50%
100%
CIP AMI CAZ GEN MPM
Enterobacter spp.
R S
39 
 
 
 
5 DISCUSSÃO 
 
Estudos sobre infecções oculares no Brasil ainda são escassos, considerando 
que as poucas publicações apresentam divergências quanto ao número amostral e 
metodologias que avaliem os índices epidemiológicos. O fato de o Brasil apresentar 
diversidades sociais, econômicas e geográficas, acaba refletindo na aquisição variável 
da composição da microbiota entre os indivíduos. Além disso, a prevalênciados micro-
organismos dependerá de associações de caráter oportunístico e multifatorial, que 
estabeleçam condições necessárias para a manutenção de sua permanência nos 
sítios anatômicos (CURY, 2015; IBRAHIM, 2011). 
Tendo em vista essa inconstância em relação à microbiota, o uso de 
antimicrobianos, nos casos de infecções oculares, deveria ser de carácter patógeno-
específico, porém ainda se observa a não valorização da identificação laboratorial de 
micro-organismos, rotineiramente, em serviços de oftalmologia, devido muitas vezes 
a implantação de setores de análises microbiológicas ser deficiente no Brasil. Se tal 
situação fosse contornada, possivelmente ocorreria o delineamento microbiológico 
dessas afecções em determinado local, conduzindo a possibilidade de implantação 
de diretrizes terapêuticas mais apropriadas (LANA et al., 2011; MARUJO et al., 2013). 
Como já mostrado no item anterior, foi observado no presente estudo um 
número maior de pacientes do sexo masculino (65%) com culturas positivas a partir 
do material coletado de lesões oculares, sugerindo-se que esse resultado possa ser 
atribuído a maior exposição do homem a condições pré-existentes, já que não há 
diferenças relevantes, anatômicas ou fisiológicas, que justifiquem essa diferença de 
ocorrência entre os sexos. Logo, considerando os fatores predisponentes, a maior 
incidência pode estar relacionada a suas atividades ocupacionais, sendo um dado 
similar aos reportados nas publicações, nas quais apresentaram maior incidência para 
o gênero masculino, como no relato feito por Comarella et al. (2015) que constatou 
66,4%, bem como o de Cardoso (2011), com 60,9%. 
 A maior porcentagem de infecções oculares, observada nesse estudo, foi em 
pacientes na faixa etária entre 25 e 49 anos, com idade média de 40 anos. Este dado 
aproxima-se de pesquisas cuja a faixa etária encontrada era de 21 a 50 anos, 
considerada a de maior incidência para casos de infecções oculares, já que é um 
40 
 
 
 
período de plena idade produtiva, e consequentemente, de maior vulnerabilidade às 
patologias, como o caso de ceratites (SALERA et al., 2002; CARIELLO et al., 2011; 
CURY, 2015). 
 Com relação à positividade das culturas, esse estudo encontrou 48 pacientes 
positivos para pelo menos um micro-organismo, sendo encontrado em 2 pacientes 
dois tipos de bactérias diferentes, totalizando em 50 culturas positivas (26,3%); esse 
percentual está abaixo dos percentuais de positividade relatados em outras 
publicações, nos quais obtiveram variações entre 31% a 71% (DUARTE, 2016; OTRI 
et al., 2013; MARUJO et al., 2013; FULARNETTO et al., 2010). 
 Essa variação pode ser explicada pelas diferenças em relação ao número 
amostral, influenciada pelo número de anos analisados, bem como a metodologia 
utilizada diante dos critérios de inclusão e exclusão. A pesquisa com taxa de 
positividade mais alta (MARUJO et al., 2013) analisou 5 anos, gerando um total de 
2049 casos. 
 Considerando o total de micro-organismos encontrados, houve a 
predominância de 58% de bactérias, decorrente da somatória entre Gram-positivas e 
Gram-negativas, e 42% de fungos filamentosos, estabelecendo consonância com 
muitos estudos da literatura, como a pesquisa feita por Comarella et al., (2015) que 
obteve 48% de positividade para bactérias e 17,6% para fungos, e em ano anterior os 
resultados de Yu (2014) mostraram 89,3% de casos positivos para bactérias. 
Ao verificar separadamente o número total de culturas, a fim de estabelecer um 
melhor entendimento sobre a prevalência dos grupos de micro-organismos estudados, 
certificou-se que dentre o grupo dos fungos filamentosos, o gênero Fusarium spp. foi 
o mais prevalente, com manifestação em 19 pacientes, sendo equivalente a 90,5%. 
Esse dado se encontra próximos aos percentuais apresentados em trabalhos 
semelhantes, como o de Ibrahim et al. (2011), com 64,4% de positividade para o 
gênero Fusarium spp. Contrariamente no estudo de Feilmeier et al. (2010), foi visto a 
prevalência de 61% de fungos do gênero Aspergillus spp., e não houve a presença de 
espécies de Fusarium. 
Na publicação feita por Ibrahim et al. (2011) em que os autores descreveram a 
alta prevalência do gênero Fusarium spp. na região de sudeste do Brasil, houve 
correlação desses resultados com a prática ocupacional em setores de agricultura e 
41 
 
 
 
agropecuária, já que a região estudada possui um dos grandes polos de plantação de 
cana de açúcar e como esse fungo estar relacionado ao solo, tende a se propagar 
durante o período de colheita. Similarmente como ocorre no Rio Grande do Norte, que 
também possui grandes plantações e usinas de produção no setor sucroalcooleiro, 
reiterando os achados no presente estudo. 
A baixa frequência de infecção fúngica pelo gênero Aspergillus spp. nesse 
estudo pode estar relacionada às condições climáticas, pois seus esporos apresentam 
adaptação a regiões mais secas, com predominância em climas temperados, como 
foi visto por Feilmeier et al. (2010) quando estudaram a etiologia das úlceras de córnea 
em uma cidade do Nepal, que é um país de clima temperado. Isso difere do que ocorre 
com o Fusarium spp. que sobrevivem em áreas mais úmidas e em climas tropicais, 
sendo isto característico do Brasil, incluindo o Estado do Rio Grande do Norte. 
Diante do exposto, a associação feita entre idade e micro-organismo 
apresentou significância a nível de 5% (p=0,01194) apenas para o agente etiológico 
fungo do gênero Fusarium spp, na faixa etária de maior idade produtiva (25-49 anos), 
corroborando com as publicações prévias, já que este foi um dos micro-organismos 
mais prevalentes no estudo e está relacionado a patologias em atividade 
agroeconômica, com distribuição climática abrangendo regiões tropicais e 
subtropicais, como é o caso do Rio grande do Norte. Salienta-se que, apesar dos 
dados da literatura mostrarem que existe a relação entre gênero e micro-organismo, 
neste trabalho não houve significado estatístico na análise entre essas variáveis, 
pressupondo que necessite de um percentual maior de amostra, ou seja, uma 
investigação por um período superior ao estudado. 
Tratando-se de infecção ocular causada por bactérias Gram-negativas, nesse 
estudo houve o predomínio do gênero Pseudomonas spp., representado por 44,8% 
dos pacientes com culturas positivas. Esse resultado confirmou os dados que constam 
em publicações em anos anteriores (ALVES e DE ANDRADE, 2000; LUI et al., 2009; 
PENS, 2008) nos quais encontraram esse bacilo Gram-negativo não fermentador 
(BGNNF), de caráter oportunístico nos seus levantamentos, principalmente associado 
ao uso de lentes de contato, já que este micro-organismo é capaz de estabelecer 
adesão às superfícies sintéticas; capacidade essa atribuída aos seus fatores de 
virulência, como na produção de biofilme, bem como do fator “slime”. 
42 
 
 
 
Isso é um dado preocupante pois esse tipo de infecção é comumente 
evidenciada na população em geral, especialmente entre jovens, como afirma 
Stapleton e Cant (2012) devido ao fato de não seguirem as orientações sobre o tempo 
de uso, higienização das mãos, e limpeza dos estojos de armazenamento das lentes. 
Houve também a ocorrência de outras bactérias Gram-negativas, a 
Acinetobacter spp., Klebsiella spp., Enterobacter spp. e a Escherichia coli, porém, com 
baixa frequência nos resultados. Este dado está de acordo com a literatura, visto que 
as situações estudadas por Yu et al. (2016), Cury (2015), bem como os autores Bispo 
et al. (2008) também apresentaram quantidade menor de positividade nas culturas em 
relação a essas bactérias, com os achados variando de 1 a 3 casos entre os pacientes. 
Supõe-se que essa baixa frequência, seja o motivo dos autores não discutirem a 
associação patogênica desses micro-organismos com as infecções oculares. 
Outras bactérias evidenciadas neste trabalho foram as pertencentes ao grupo

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