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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE CURSO DE PEDAGOGIA ROSIANE ROCHA RAFAEL PROFESSORA, MEU FILHO SÓ FAZ BRINCAR? REFLEXÕES SOBRE A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Natal/RN 2022 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE CURSO DE PEDAGOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ROSIANE ROCHA RAFAEL PROFESSORA, MEU FILHO SÓ FAZ BRINCAR? REFLEXÕES SOBRE A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Natal/RN 2022 Artigo científico apresentado ao curso de graduação em Pedagogia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profa. Ma. Gildene Lima de Souza Fernandes. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes – CE Rafael, Rosiane Rocha. Professora, meu filho só faz brincar? Reflexões sobre a brincadeira e o letramento na educação infantil / Rosiane Rocha Rafael. - 2022. 42 f.: il. color. Artigo (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Graduação em Pedagogia. Natal, RN, 2022. Orientadora: Profa. Ma. Gildene Lima de Souza Fernandes. 1. Educação infantil - Artigo. 2. Brincadeira - Artigo. 3. Letramento - Artigo. I. Fernandes, Gildene Lima de Souza. II. Título. RN/UF/Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE CDU 373.2 ROSIANE ROCHA RAFAEL PROFESSORA, MEU FILHO SÓ FAZ BRINCAR? REFLEXÕES SOBRE A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Data de Aprovação: Natal - RN, 20 de julho de 2022. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Profa. Ma. Gildene Lima de Souza Fernandes (Orientadora – Universidade Federal do Rio Grande do Norte) __________________________________________________ Profa. Ma. Manoilly Dantas de Oliveira (Examinadora – Universidade Federal do Rio Grande do Norte) __________________________________________________ Profa. Dra. Juliana de Melo Lima (Examinadora – Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Artigo científico apresentado ao curso de graduação em Pedagogia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. RESUMO O presente artigo tem como objetivo refletir sobre as contribuições da brincadeira no processo de letramento na educação infantil. Metodologicamente, constitui-se de uma pesquisa exploratória, de cunho qualitativo, que analisa o cotidiano de uma turma de nível 4, de uma instituição de educação infantil da rede pública de ensino da cidade de Natal/RN, à luz de revisão bibliográfica. Teoricamente, fundamenta-se nos estudos de Kishimoto (2002; 2011), Vigotski (1998; 2007 e 2009), Soares (1998 e 2011) e Ferreiro (1999) e nos documentos oficiais como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010), Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) entre outros. A revisão bibliográfica indicou a importância da relação entre o brincar e o processo de letramento, pelo fato de a brincadeira possibilitar, entre outras aquisições, o desenvolvimento do pensamento e das linguagens. Em contrapartida, a análise da prática em questão, levantou inquietações acerca de como a brincadeira vem sendo inserida na rotina das crianças e como tem se relacionado (ou não) com as práticas de leitura e de escrita, demonstrando a necessidade de maior aproveitamento do seu potencial pedagógico no ambiente escolar, objetivando a apropriação da cultura letrada. PALAVRAS-CHAVE: Brincadeira. Letramento. Educação Infantil. Aprendizagem. ABSTRACT This article aims to reflect on the contributions of play in the literacy process. Methodologically, it consists of an exploratory research, of a qualitative nature, which analyzes the daily life of a level 4 class, from an early childhood education institution in the public school system in the city of Natal/RN, in the light of a bibliographic review. Theoretically, it is based on studies by Kishimoto (2002; 2003), Vygotsky (1998; 2007; 2008 and 2009), Soares (1998 and 2011) and Ferreiro (1999) and on official documents such as the National Curricular Guidelines for Early Childhood Education (2010), National Curriculum References for Early Childhood Education (1998), Law on National Education Guidelines and Bases (1996) among others. The bibliographicreviewindicatedtheimportanceoftherelationshipbetweenplayingandtheliter acyprocess, becauseplayallows, amongotheracquisitions, thedevelopmentofthoughtandlanguages. Ontheotherhand, theanalysisofthepracticeinquestionraisedconcernsabouthowplayhasbeeninsertedintothe children'sroutineandhowithasbeenrelated (ornot) withreadingandwritingpractices, demonstratingtheneedto betteruseoftheirpedagogicalpotentialintheschoolenvironment, aimingattheappropriationofliterateculture. Keywords: Just kidding. Literacy. Child education. Learning. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, meu Senhor Jesus Cristo, pela oportunidade de viver mais um sonho e de me amar grandemente. À minha família, que sempre esteve comigo em todos os momentos, sempre me incentivando e apoiando em situações fáceis e difíceis. À todos os meus amigos, tanto os de perto quanto os que estão longe,que me ajudaram nessa realização. Agradeço à minha orientadora, Prof.ªMa. Gildene Lima, por todos os ensinamentos compartilhados, pelos incentivos e orientações direcionadas a realização deste trabalho com sucesso. À todos os docentes da turma de Pedagogia 2017.2 – UFRN/NATAL que colaboraram de modo competente e eficiente para a construção dos conhecimentos práticos e teóricos para o exercício da profissão. À instituição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Nata/RN, por todas as ajudas e contribuições que ofereceram durante a realização desse curso. Enfim, à todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para que meu sonho de tornar-me pedagoga fosse realizado. Muito obrigado! SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 09 2 SOBRE O BRINCAR E O LETRAR 11 2.1 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR, DE ACORDO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL 11 2.2 PROPOSIÇÕES TEÓRICAS SOBRE BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL 15 2.3 O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 19 3 A ROTINA DE UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: INVESTIGANDO A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO 23 3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO PESQUISA 3.2 ASPECTOS OBSERVADOS DO COTIDIANO E ALGUMAS ANÁLISES 24 28 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 36 5. REFERÊNCIAS 37 ANEXOS 40 9 PROFESSORA, MEU FILHO SÓ FAZ BRINCAR? REFLEXÕES SOBRE A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Rosiane Rocha Rafael1 1 INTRODUÇÃO “Tudo que eu não invento é falso”. Manoel de Barros Este artigo se propõe a estabelecer um diálogo entre dois temas pertinentes para o trabalho pedagógico com crianças: a brincadeira e o letramento. Recorremos ao poeta Manoel de Barros, para melhor explicitar a nossa intenção de evidenciar, nestas breves linhas, a riqueza das crianças “encararem a vida” com invenção e criatividade. É, pois, nossoobjetivo geral, refletir sobre as contribuições do brincar no processo de letramento, em turmas de educação infantil, numa instituição de educação infantil da rede pública de ensino da cidade de Natal/RN. Estabelecemos como objetivos específicos: analisar a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil; refletir sobre o processo de letramento na educação infantil; e identificar, em uma determinada prática pedagógica, os espaços de brincadeira e letramento. A realização desta pesquisa foi motivada pela experiência do Estágio Supervisionado I, realizada em uma turma de nível 4 da educação infantil, de uma instituição de ensino da rede municipal da cidade de Natal. Durante a referida atividade, assumimos a função de observadores do cotidiano da turma e presenciamos algumas falas/inquietações por parte de alguns pais, que eram proferidas quando estavam na porta da sala, tais como: “Professora, nesta escola, meu filho só faz brincar? Ele nunca estuda? Ele ainda não sabe ler e escrever?”. Logo, as inquietações dos pais viraram alvo de nossa atenção, quando passamos a observar a presença da brincadeira, tanto de forma espontânea, quanto de forma planejada no dia a dia da 1rororosi@yahoo.com.br 10 turma. Passamos também a nos indagar se a brincadeira se constituía, naquele espaço, como uma ação favorável ao processo de desenvolvimento das crianças, em especial, ao processo de letramento, já que havia uma preocupação por parte dos pais sobre a aquisição da leitura e da escrita por parte dos seus filhos. Entendemos que o brincar é algo pertencente à infância e é através dele que a criança“ [...] cria e recria, a cada nova brincadeira, o mundo que a cerca. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com outro, com o mundo” (CRAIDY, KAERCHER, 2001, p. 104). Configura-se como um espaço de apropriação e constituição pelas crianças, de conhecimentos e habilidades no âmbito da linguagem, da cognição, dos valores e da sociabilidade (BORBA, 2007). Ancorada nesse entendimento, a prática do brincar, no contexto educacional, passou a fazer parte dos manuais de orientações pedagógicas, entendida não apenas uma fonte de diversão, mas uma forma de educar, de construir saberes e de se socializar – algo sério, fundamental para o desenvolvimento da criança. Essa relação entre brincadeira e aprendizagem reforça a relevância do estudo que realizamos em uma turma de educação infantil, considerando a finalidade principal desse segmento: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996). Atentos às especificidades dessa primeira etapa da Educação Básica, nos chama a atenção amaneira como o universo da leitura e da escrita é apresentado às crianças, muitas vezes de forma dissociada dos usos e necessidades reais que essas práticas ocupam na vida fora das instituições de ensino. Sabemos que é objeto de debate entre os educadores, a defesa da não antecipação de objetivos do ensino fundamental – como os relacionados à aprendizagem da leitura e da escrita - e a abolição de práticas conteudistas que possam ferir o direito das crianças de serem entendidas e atendidas como tais. Diante do exposto, elegemos a seguinte questão de estudo: Que espaço a brincadeira ocupou, na experiência aqui relatada, com vistas à apropriação da leitura e escrita pelas crianças? 11 No intuito de responder à referida questão, realizamos uma pesquisa exploratória, de cunho qualitativo, com uma dimensão bibliográfica, que segundo Gil (2002, p. 44) “[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Tal revisão bibliográfica subsidia uma análise da prática pedagógica, a partir de registros de uma observação de campo, que priorizou o olhar sobre a brincadeira, como um recurso pedagógico no processo de aprendizagem da leitura e escrita por crianças. Este artigo está organizado com a seguinte estrutura: trata, inicialmente, sobre a importância da brincadeira no contexto educacional, à luz dos documentos oficiais e de estudos teóricos.Em seguida,aborda o processo de letramento e sua importância em turmas de educação infantil. Na sessão seguinte, relata e analisa a rotina de uma turma de educação infantil, investigando a brincadeira e o letramento. Finaliza, apontando algumas considerações oriundas dos estudos e análises, na expectativa de colaborar com o debate da temática abordada. 2 SOBRE O BRINCAR E O LETRAR 2.1 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR, DE ACORDO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Nos últimos anos, o trabalho pedagógico na educação infantil passou por vários avanços, desde a sua definição como sendo a primeira etapa da educação básica, até as mudanças no atendimento voltado às crianças nos espaços educativos institucionais. O reconhecimento dos eixos cuidar e educar favoreceu o processo de construção de uma nova concepção de educação infantil, visto que, por muito tempo, as crianças eram consideradas como “pequenos adultos”, sendo o seu atendimento voltado apenas ao cuidado e não à sua formação.Ou seja, atendimento com caráter meramente assistencialista. É nesse contexto, que o Ministério da Educação passou a elaborar e publicar alguns documentos, objetivando a criação de novas diretrizes, estabelecendo uma espécie de formato ou retrato da educação brasileira. Nesse novo cenário, surgem então os marcos legais da educação, que compreendem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica (DCNS), os Referenciais Curriculares Nacionais para 12 Educação Infantil (RCNEI), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) entre outros, que estabelecem os princípios norteadores na educação infantil, os direitos da criança, orientações pedagógicas e defesas conceituais sobre infância na atualidade. Entre elas: a importância e necessidade do brincar nas instituições educativas. É no processo de conceituação da infância que a idéia sobre criança vem sendo construída historicamente, sendo ela hoje considerada como ser humano e sujeito social e histórico, que está inserido e que integra uma determinada cultura. Ela tem seu modo próprio de pensar o mundo e, através das relações com as pessoas mais próximas, tenta compreendê-lo (BRASIL, 1998, v.1). Além de explicitar essa compreensão da criança, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), destaca algumas características comuns de ser da criança, considerando suas individualidades e diferenças: As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. (BRASIL, 1998, p. 21) Contribuindo com a superação da idéia de criança como um adulto em miniatura, a presença do brincar no contexto educacional, considerado como direito fundamental à toda criança a partir da primeira infância, foi inserido em 1959 na Declaração das Nações Unidas dos Direitos da Criança e reiterado em 1989, quando a ONU reconheceu a Convenção sobre os Direitos da Criança - CDC, afirmando em seu artigo 31 que “a criança tem direito ao descanso e lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística” (BRASIL, 1990). Em 1988, com o surgimento da últimaConstituição Federal Brasileira, após o fim do período militar, esse direito novamente foi declarado, agora como um dos direitos sociais existentes, além de ser dever do Estado. Em seu artigo 6º, o referido documento considera que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. (BRASIL, 1988). 13 A partir do surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº. 9394/96), o brincar é tido como um dos processos de suporte necessário para a educação, que objetiva o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). Além disso, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI - (1998), a brincadeira é considerada como um dos princípios indispensáveis e defendida como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre crianças. O referido documento destaca que o educar, o cuidar e o brincar são essenciais e o brincar é assim definido: [...] Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. [...]Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998, vol. 2, p. 22). Ainda, as políticas educacionais defendem a necessidade de um ambiente que proporcione a brincadeira, de modo que a criança se sinta bem acolhida, com conforto, segurança e confiança. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998), as instituições educacionais devem estimular e favorecer a autonomia, a criatividade e a construção da identidade infantil, bem como possibilitar ao educador acompanhar o desenvolvimento individual e coletivo das crianças. O papel do professor é assim mencionado pelo referido documento: Por meio das brincadeiras os professores podem observar e construir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e de recursos afetivos e emocionais que dispõe (BRASIL, 1998, p. 28). Cabe ressaltar, a importância das ações realizadas de forma intencional, mediadas pelo professor, objetivando o desenvolvimento integral da criança através da abordagem dos conhecimentos curriculares de forma lúdica, pois a brincadeira não deve ser considerada apenas como um momento de atividade livre realizada pelas 14 crianças, mas um momento que pode ser mediada pelo adulto, baseada em objetivos visando o seu desenvolvimento. Uma mediação adequada pode intensificar as relações e significações estabelecidas. Isso significa que não se trata apenas de deixar a criança brincar, como se a espontaneidade realizasse a plenitude do brinquedo. Também o tempo para brincar não pode ser concedido como uma recompensa para aqueles que tiveram o comportamento esperado (BRASIL, 2010). Sendo assim, quando o adulto está inserido no espaço lúdico e de forma natural, realizando a mediação no momento da brincadeira, essa brincadeira pode torna-se para a criança um momento importante e indispensável, oportunizando situações de aprendizagem e construção do conhecimento. Mais uma vez, o RCNEI destaca o papel do professor: O professor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas (BRASIL, 1998, p.30). Em sendo o responsável pelo planejamento, organização e mediação das situações didáticas, é importante que o professor observe as brincadeiras das crianças, amplie o repertório destas, ofereça material adequado e espaço estruturado para brincar. É necessário permitir que as crianças possam participar e sugerir brincadeiras, escolher os temas, os papéis que irão desempenhar os objetos e companheiros com quem brincar. Quando falamos no professor, não estamos nos referindo a esse profissional de forma isolada, mas sim, de alguém que está inserido na proposta pedagógica de uma instituição, amparado e implicado com o aprimoramento desta. Nesse sentido, é necessário que as propostas pedagógicas das instituições de educação infantil, estejam de acordo com o que defende as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, também no que diz respeito ao brincar (BRASIL, 2010). É fundamental garantir à criança o acesso ao processo de apropriação, renovação e articulação proporcionado pela brincadeira, bem como o direito à convivência e à interação com outras crianças. A Base Nacional Comum Curricular, normativa vigente para a organização do ensino em nosso país, estabelece que é um dos direitos da criança 15 Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais (BRASIL, 2017, p. 38). Diante do exposto, evidenciamos o brincar na educação infantil, como um direito que deve ser assistido às crianças, de maneira que possam estar amparadas para o seu desenvolvimento pleno, nas esferas social, emocional e educacional. 2.2 PROPOSIÇÕES TEÓRICAS SOBRE BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL A ação da brincadeira sempre esteve presente no universo infantil, influenciando na forma como a criança interpreta, reproduz ou transforma a cultura. Percebe-se o quanto a brincadeira atua diretamente na estruturação da aprendizagem, uma vez que, a criança desde os seus anos iniciais, aprende através das interações que realiza ao brincar. Para Kishimoto (2002), a criança começa logo cedo, desde seu nascimento no âmbito familiar, a vivenciar a brincadeira. Borba (2007) afirma que a brincadeira é uma palavra literalmente voltada à infância e às crianças. Apesar de fazer parte da primeira infância, o brincar não é uma atividade inata, mas tem origem nas relações da criança com seu meio, como modo de compensar necessidades e desejos não satisfeitos segundo limites que lhe são impostos. Segundo Vigotski (2007), a aprendizagem da criança se inicia muito antes do seu ingresso na escola. Para este teórico, a aprendizagem e o desenvolvimento estão ligados entre si, desde os primeiros dias de vida da criança – caminham juntos, ainda que não de forma concomitante. Se desde cedo a criança já está inserida no mundo da brincadeira, então é por meio do brincar que ela vai aprendendo a agir. As atividades lúdicas são indispensáveis para o processo de aprendizagem e desenvolvimento, porque vão muito além do que uma forma de passatempo, sendo impulsionadoras da 16 criatividade e da imaginação (VIGOTSKI, 2007; KISHIMOTO, 2011 e MACHADO, 2003). Diante de tais pressupostos, o brincar também é considerado como uma ferramenta pedagógica, por impulsionar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança no contexto das instituições de ensino. Para tanto, o professor assume o papel de mediador, transformando a brincadeira numa ferramenta de aprendizagem. [...] Uso do brinquedo / jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações de ensino aprendizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que acriança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la (KISHIMOTO, 2011, p. 40). Além de Kishimoto, recorremos a Vigotski (2007) no intuito de entender a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. Para ele, é através da brincadeira que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva que depende de motivações internas e que o brincar pode possibilitar a análise do desenvolvimento desses indivíduos. Ou seja, é possível perceber a existência da relação aprendizagem e desenvolvimento na atividade do brincar. O referido teórico compreende o brincar como um instrumento e um signo mediador do desenvolvimento, além de ser uma fonte de aprendizagem para a criança, tanto de uma forma natural, por meio das brincadeiras criadas por elas, quanto pela mediação de um docente ou um adulto, em uma ação planejada. A ação de brincar propicia o alcance de inúmeras aprendizagens e o avanço nas diversas esferas do desenvolvimento, tais como: cognição, socialização, aspectos motores, aspectos sócio afetivos, raciocínio, entre outros.É através da interação das brincadeiras, da manipulação dos objetos e da experimentação de diferentes papéis em situações imaginárias, que inúmeras capacidades serão alcançadas/aperfeiçoadas. Ao brincar, a criança passa a se reconhecer como sujeito pertencente a um meio social e a um contexto cultural. Ela passa aprender sobre si mesma, suas relações no mundo e também sobre os significados culturais do meio em que está inserida. Assim, a brincadeira consiste em uma experiência de cultura, através da quais valores, habilidades, conhecimentos e formas de participação social são constituídos e reinventados pela ação coletiva das crianças. O brincar é um dos pilares da constituição das culturas da infância, pois brincando com os outros, através de 17 atividades lúdicas, as crianças elaboram um repertório de brincadeiras e de referências culturais que compõem essa cultura. Assim, sob esta perspectiva, o brincar é um meio peculiar em que a criança experimenta a obscuridade das relações, compreende papéis sociais, constrói sua identidade, se organiza e experimenta sua inserção na história e na cultura (GUIMARÃES; CARVALHO; SILVA, 2018, p. 194). Para Vigotski, esses processos dão origens às funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores, que são produzidas sob dadas condições de vida e de desenvolvimento, de condições materiais e objetivas que não dependem dos indivíduos isoladamente. Ele denomina esse processo de internalização, na qual o processo interpsíquico é traduzido para o intrapsíquico, por meio da apropriação de signos. Esses signos, enquanto portadores reais da cultura humana atuam como mediadores na relação entre os seres humanos com a realidade que os cercam, além de permitir que as pessoas criem modelos mentais dos objetos da realidade e atuem com eles no planejamento e na coordenação da própria atividade. É no processo de internalização, portanto, que o indivíduo desenvolverá instrumentos psicológicos que mediarão sua relação com a realidade. Partindo destas premissas desenvolvidas por Vigotski (2007), o brincar passa a ser considerado como um signo com atuação no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança porque faz a mediação entre o imaginário e a realidade e/ou vice-versa – contribuindo, desse modo, no seu processo de internalização. Sobre as relações entre aprendizado e desenvolvimento, destacamos as palavras do próprio teórico: [...] aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento, que de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (VIGOTSKI, 2007, p. 101). É nessa perspectiva que o caminho do desenvolvimento da criança possui características próprias na organização do comportamento, pois subsiste uma relação entre os níveis de desenvolvimento e a capacidade potencial de aprendizagem da criança. Dessa forma, Vigotski (2007) apresenta dois níveis de desenvolvimento para especificar melhor a inter-relação instrução/desenvolvimento e a importância das conquistas ontogenéticas para a constituição do homem, sendo eles: o Nível de 18 desenvolvimento real, que compreende o conjunto de atividades que a criança consegue resolver sozinha, ou seja, refere-se às funções psicológicas que a criança já construiu até determinado momento e o Nível de desenvolvimento potencial, que consiste no conjunto de atividades que a criança ainda não consegue realizar sozinha, mas sim, com ajuda de alguém que lhe ofereça o devido apoio/orientação (um adulto ou outra criança mais experiente), ela consegue resolver. Nisso, Vigotski buscou compreender os mecanismos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, criando o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que “[...] define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário (VIGOTSKI, 2007, p.98). As experiências vivenciadas pela criança desde o nascimento influenciam e determinam como ocorre o desenvolvimento e sua aprendizagem, interferindo assim, em que área ela apresentará mais dificuldades ou facilidade. Para Vigotski (2007), a ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. Ao brincar, a criança cria Zonas de Desenvolvimento Proximal, na qual ultrapassa as situações de nível real, gerando assim um avanço nesse desenvolvimento. O brinquedo possui características da realidade social, pois recebe influências do meio social, no qual ele se desenvolve. Nisso, o valor simbólico existente nele está relacionado diretamente ao tempo no qual acontece. É neste sentido que Vigotski afirma que [...] o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar, relacionando seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel no jogo e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade. (VIGOTSKI, 2007, p. 118). Portanto, para Vigotski, o desenvolvimento humano ocorre de fora para dentro, ressaltando a importância da cultura (sociogênese), a qual permite a submersão do homem no mundo. Para ele o homem aprende e se desenvolve, ao invés de se desenvolver para depois aprender. Isso significa que, segundo tais pressupostos, é a aprendizagem que alavanca o desenvolvimento. 19 Nessa perspectiva, o autor salienta que: [...] os processos de desenvolvimento não coincidem com os processos de aprendizado. Ou melhor, o processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de aprendizado; desta sequenciação resultam, então, as zonas de desenvolvimento proximal. (VIGOTSKI, 2007, p. 103). Ainda, segundo Vigotski (2007), o brinquedo não constitui o “[...] aspecto predominante da infância, mas é um fato muito importante do desenvolvimento”. É necessário, também, considerar “[...] o significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do próprio brinquedo, de uma predominância de situações imaginárias para a predominância de regras.” E, por último, perceber “[...] as transformações internas no desenvolvimento da criança que surgem em consequência do brinquedo.” (VIGOTSKI, 2007, p. 120-121). Assim, o brincar possui suas potencialidades de tal forma que pode ser considerado como o início do processo de aprendizagem. É pela brincadeira que a criança explora seu corpo e o meio em que está inserida, além disso, sua curiosidade éestimulada, possibilitando aprender e agir, adquirindo iniciativa e autoconfiança, resultando no desenvolvimento do pensamento, concentração e das linguagens, tanto oral quanto escrita. É sobre o processo de aquisição da linguagem oral e escrita que nos deteremos na próxima seção deste texto. 2.3 O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Considerando a importância do papel do brincar no desenvolvimento infantil, sentimos a necessidade de sistematizar nosso entendimento sobre o desenvolvimento da linguagem oral e escrita pelas crianças, nas instituições de ensino. Nesse sentido, torna-se importante a distinção entre dois conceitos bastante imbricados, em se tratando dessa temática: a alfabetização e o letramento. Para Soares (1998, p. 47) “alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita”. Assim, para a autora, a alfabetização corresponde ao meio pelo qual se adquire uma tecnologia, sendo ela, a 20 escrita alfabética e as habilidades de utilização para ler e escrever. E, para que se possa dominar essa tecnologia é preciso compreender o funcionamento do alfabeto, das convenções letra-som e dominação do seu traçado através da utilização de algum instrumento como por exemplo, o lápis. Ferreiro (1999, p.47), afirma que “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria dos casos, anterior à instituição e que não termina ao finalizar a escola primária”. Também a alfabetização é considerada como o processo inerente e indispensável à apropriação do sistema de escrita, considerando o princípio alfabético e ortográfico que permite ao aluno ler e escrever com autonomia, ou seja, alfabetização refere-se à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito”, que se organiza em torno de relações entre a fala e as letras. Com isso, Morais (2012, p. 50) exemplifica algumas propriedades desse sistema de escrita citado por Soares anteriormente, como por exemplo: “a ordem das letras no interior das palavras não pode ser mudada e nem todas as letras podem ocupar certas posições no interior das palavras, e nem todas as letras podem vir juntas de quaisquer outras”. Para ele,essa apropriação não ocorre através da transmissão de informação por parte do professor, mas sim através de um processo de evolução da construção do conhecimento. Já o conceito de letramento, está relacionado ao exercício efetivo e eficaz da tecnologia da escrita, nos momentos necessários para a realização da leitura e produção de textos reais. O letramento pode ser definido como o processo de inclusão e participação na cultura escrita, pois esse processo tem início no convívio do sujeito com as inúmeras manifestações da escrita na sociedade, ao longo da vida (CARVALHO; MENDONÇA, 2006). Ainda é considerado como a habilidade de ler e escrever, devendo ser entendido como prática social do uso dos símbolos gráficos, como desenhos e palavras escritas (NEVES; CASTANHEIRA; GOUVÊA, 2015). Sendo assim, a alfabetização e letramento são considerados processos diferentes, onde cada um possui suas especificidades, mas ao mesmo tempo se complementam, são inerentes e indispensáveis. Diante da conceituação acima, o letramento se inicia muito antes da criança utilizar um lápis ou conhecer as letras e as formas de escrever. A partir das suas experiências no meio que está inserida, ela participa dessa prática de maneira intensa, através de várias situações e no contato com os materiais escritos, em lugares diversos 21 e de inúmeras formas. Nisso, a criança constrói a sua compreensão acerca do papel que a linguagem escrita possui na nossa sociedade. Cabe às instituições educacionais, que são legalmente responsáveis pelo ensino da leitura e da escrita, ampliar as experiências dos alunos quanto à apropriação dos usos e funções da leitura e da escrita. Essas experiências, podem ser vivenciadas através da realização de atividades com jogos e brincadeiras, voltadas por exemplo para a língua portuguesa, com estratégia especifica, objetivando desenvolver propostas didáticas que apreciassem os processos de alfabetização e letramento, de forma a articular as experiências já vivenciadas pelos estudantes a novos conhecimentos. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) à Língua Portuguesa cabe, então, proporcionar aos estudantes experiências para que contribuam com ampliação dos letramentos. Com base nesse entendimento, podemos concordar que as brincadeiras podem colaborar com a inserção da criança na cultura letrada. Para Borba (2007, p.39) “o brincar é uma ferramenta que possibilita a apropriação e constituição pelas crianças de conhecimentos e habilidades no âmbito da linguagem, da cognição, dos valores e da sociabilidade”. Para Vigotski (2007), a brincadeira e as atividades desenvolvidas em sala de aula, como por exemplo, os desenhos, se estabelecem como elementos fundamentais no trabalho de linguagem na Educação Infantil, pois o desenho é um elemento que deve ser interpretado como um estágio introdutório do desenvolvimento da linguagem. Para este teórico, No brinquedo o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das ideias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura torna-se um cavalo. A ação regida por regras começa a ser determinada pelas ideias e não pelos objetos. Isso representa uma tamanha inversão da relação da criança com a situação concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado.[...] A representação simbólica no brinquedo é uma forma particular de linguagem, num estágio precoce, atividade essa que leva, diretamente, à linguagem escrita (VIGOTSKI, 1991,p.117). Sendo esse ambiente escolar considerado como um espaço favorável para a apropriação da cultura letrada, todo o conhecimento adquirido pela criança acerca da leitura e escrita, deverá ser contextualizado e compreendido segundo a função que 22 essas práticas ocupam socialmente. Por esse motivo, é que não podemos separar os dois processos - alfabetização e letramento (SOARES, 1998). Para a criança da educação infantil, a aprendizagem tanto da linguagem oral, quanto da linguagem escrita torna-se indispensável, pois permite a ampliação das possibilidades de participação nas práticas sociais, ou seja, é a apropriação da linguagem escrita na infância que possibilita a expansão do conhecimento da criança.Aprender uma língua vai além de aprender apenas letras e palavras, é preciso entender os significados existentes nas inúmeras formas da ação social do homem. É por meio da linguagem, que é um artefato cultural construído e disseminado pelo homem, que se pode garantir a troca de experiências, a comunicação, o conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,1998), é papel dessa etapa da educação básica, promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, que amplie as capacidades de comunicação, expressão e de acesso ao mundo letrado, pelas crianças. Recorremos a Ferreiro (1999, p.23), para evidenciar a relação entre instituição de ensino e apropriação da língua escrita: Há crianças que chegam à instituição sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na instituição, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da instituição para apropriar-se da escrita. Considerando o importante papel das instituições de ensino na participação das criançasem práticas da sua cultura, entendemos que, desde a educação infantil, as crianças devem ser incentivadas a conhecer o mundo letrado. A leitura é prática importante para esse fim, pois ela incentiva o imaginário e introduz essas experiências à brincadeira, ao desenho e às histórias que são lidas. Ainda, as crianças são levadas a compreender a importância e o funcionamento da escrita no meio social e o desenvolvimento da capacidade premente para a sua apropriação. Isso pode resultar na motivação para aprender ainda mais sobre o ler e escrever de maneira prazerosa e satisfatória. Segundo Soares: 23 Para que a leitura oral de histórias atinja esses objetivos, não basta que a história seja lida. É necessário que o objeto portador da história seja analisado com as crianças e sejam desenvolvidas estratégias de leitura, tais como: que a leitura seja precedida de perguntas de previsão a partir do título e das ilustrações; que seja propositadamente interrompida, em pontos pré-escolhidos, por perguntas de compreensão e de inferência; que seja acompanhada, ao término, por confronto com as previsões inicialmente feitas, por meio da avaliação de fatos, personagens, seus comportamentos e suas atitudes. (SOARES, 2011). De acordo com esse entendimento, as instituições de ensino têm como um dos seus papéis fundamentais estimular os alunos a desejarem aprender a ler e a escrever. O trabalho com gêneros textuais, por exemplo, possibilita uma articulação das áreas do conhecimento, o que favorece a aprendizagem significativa das práticas de leitura e produção escrita por parte da criança. Para tanto, o ambiente onde as crianças convivem com os demais colegas, como a sala de referência, deve ser bem colorido e munido de diversos materiais construídos e explorados pelas crianças fixados na parede, tais como livros, cartazes, listas com os nomes próprios, entre outros suportes de escrita, de forma que a criança tenha acesso a materiais que fazem parte da sua cultura - e que o professor possa ser o mediador de interações significativas com esses suportes. Sendo assim, o letramento deve ser compreendido como prática de um sujeito agindo sobre um meio, na qual busca transformá-lo firmando, desse modo, a sua liberdade e fugindo do alheamento. É essa fuga ao alheamento que buscaremos analisar no relato a seguir, fruto das nossas observações de campo. 3 A ROTINA DE UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: INVESTIGANDO A BRINCADEIRA E O LETRAMENTO Conforme anunciamos, o presente estudo pretende responder às questões de pesquisa, partindo da fundamentação teórica, para analisar o cotidiano de uma turma de nível 4 da educação infantil,de uma instituição pública da rede municipal da cidade de Natal/RN. 24 Nesse sentido, apresentaremos aspectos observados durante o estágio supervisionado do curso de Pedagogia, realizado na referida instituição. Ressaltamos que a coleta dos dados foi feita por meio da observação direta,quando ainda não tínhamos a intenção de utilização dos registros para a construção do presente texto. Para Oliveira (2010, p. 31) a observação direta, constitui “[...] a base da investigação científica, permitindo o registro dos fenômenos da realidade, para se planejarem e sistematizarem os dados que serão coletados”. Todos os dados foram registrados em um diário de campo, importante instrumento para o relato das situações que presenciamos no lócus da pesquisa (BOGDAN e BIKLEN, 1994). Sabemos que se trata de um recorte da prática e que a generalização pode ser precipitada. Porém, consideramos que os 11 dias seguidos de acompanhamento desta turma IV, nos forneceram indícios significativos acerca de como ocorrem as brincadeiras e o letramento neste espaço educativo. 3.1 Caracterização do campo da pesquisa O lócus da pesquisa foi uma instituição de educação infantil, localizada em um bairro periférico da cidade de Natal/RN, que atende famílias moradoras do bairro, que vivem, em sua maioria, em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A estrutura física da instituição é constituída por: 5 salas de referência, 1 cozinha, 2 parques infantis, 1 brinquedoteca localizada no meio do pátio, dividindo o espaço com as mesas para a realização das refeições por parte dos alunos e funcionários, 2 banheiros infantis, 1 banheiro adulto, 1 almoxarifado e 1 sala da gestão escolar. Seguem imagens de alguns ambientes externos. Figura 1: Vista da instituição do portão de entradaFigura 2: Banheiros e Almoxarifado Fonte: Banco de dados da pesquisa 25 Nafigura 1, podemos destacar três ambientes que estiveram mais direcionados para o brincar: os parques, a brinquedoteca e a sala de referência. Os parques possuíam um espaço agradável, amplo, com capacidade de atender adequadamente as crianças, sendo um construído de madeira e o outro de plástico. Eles eram utilizados pelas crianças exclusivamente no momento programado no planejamento da professora. Como o estágio ocorreu no período ainda crítico da pandemia, a recreação não poderia ocorrer de forma coletiva na instituição, de modo que turmas diferentes pudessem interagir. Mesmo assim, as brincadeiras nesses espaços demonstravam ser momentos de liberdade e de exploração de sensações, de tal forma, que através do envolvimento nas brincadeiras, as crianças expressavam agressividade, alegria ou tristeza, por exemplo,de modo que a professora conseguia perceber a existência ou não de dificuldades de relacionamento por parte de algumas crianças.Assim, as interações existentes entre elas ocorriam de forma espontânea, visto que não identificavam aquele momento como uma “tarefa escolar” específica. Como afirmam os autores Craidy e Kaercher (2001) esses momentos, além demonstrarem liberdade e exploração de sensações, favorecem o desenvolvimento de habilidades sociais, como a formação de amizades, a importância de compartilhar os brinquedos, os espaços e o entendimento de regras. Além disso, no parque de madeira, existia uma “caixa de areia”, sem uso durante o estágio, mas que futuramente voltaria a ser utilizada de acordo com as informações da professora. A brinquedoteca era constituída por variados brinquedos como, bonecas, carrinhos, instrumentos de materiais reciclados, corda, bambolê, entre outros, todos doados tanto pelos funcionários da instituição, quanto pela sociedade. Esse ambiente possibilitava que cada criança exercesse a liberdade de brincar com qualquer brinquedo e participar da organização dos mesmos, ao final. Nesse sentido, a vivência nesse espaço permitia as crianças realizarem brincadeiras do faz de conta, trazendo consigo tanto o imaginário, quanto a oportunidade de recriarem momentos vivenciados no meio familiar. Era comum, perceber que algumas crianças gostavam de brincar de cozinhar ou de desempenhar o papel de mãe/pai, através do cuidado que as mesmas demonstravam com os bonecos (as) existentes. É nesse aspecto, que ressaltamos que a prática pedagógica da professora estava em consonância com o aporte teórico que elegemos para essa pesquisa, visto que Vigotski (2007), Kishimoto (2011) e Machado (2003) afirmam que o momento da brincadeira não consiste em uma 26 forma de passatempo, e sim, é um momento importante para o desenvolvimento da criança, favorecendo o desenvolvimento da autonomia e identidade através de algumas capacidades, como a imitação e a imaginação. Já a sala de referência, não era um espaço tão amplo para atender a quantidade de crianças. Estava organizada espacialmente com cadeiras e mesas posicionadas em forma de círculo, objetivando facilitar tanto o deslocamento das crianças no interior do espaço, quanto à realização das atividades individuais e coletivas. Mesmo com essa restrição de espaço, a professora conseguia realizar as atividades planejadas, sempre buscandoatender a todos diante das necessidades apresentadas. A organização desse espaço ainda envolvia a criação de “cenários estimulantes”, com exposições nas paredes de algumas atividades elaboradas de forma coletiva e jogos emborrachados como – o telefone numeral, onde as crianças brincavam com a mediação do estagiário e exploravam, de forma lúdica, a seqüência numérica (levando também a entender a função desse objeto). Ainda, podemos considerar que esse simples momento levava a despertar na criança um interesse maior pelo conteúdo abordado em sala de aula, o qual era avaliado através das “atividades diagnósticas”, que serão abordadas no próximo item deste trabalho. Contudo,os “cenários estimulantes” eram compostos por cartaz informativo sobre quantidade de alunos, alfabeto, lousa,um pequeno espelho na altura das crianças e um varal para pendurar as atividades realizadas ao longo dos dias, além do armazenamento de vários materiais como legos, lápis, coleção de cera e madeira, livros infantis, fantasias, materiais musicais confeccionados com materiais reciclados, entre outros, em várias caixas organizadoras, baldes de plástico grandes e armário metálico grande e pequeno. Sendo assim, essa sala era organizada de acordo com aquilo que a professora acredita ser o necessário para o desenvolvimento das crianças. Diante dessa observação, é possível analisar esse espaço através da concepção de Freire (2000), onde descreve que o espaço é o espelho da ação pedagógica, estando registradas as descobertas, crescimentos e dúvidas através da ação concreta de sua arrumação e disponibilização ou não dos materiais, móveis e brinquedos. Assim, podemos analisar ainda, que essa sala é um lugar riquíssimo de recursos favoráveis para o desenvolvimento das aulas, possibilitando a ocorrência das relações entre criança-criança, criança-adulto e criança-espaço. 27 Figura 3: Sala de aula Figura 3: Sala de aula Figura 4: Brinquedoteca Fonte: Banco de dados da pesquisa Com toda essa estrutura, a instituição atende aproximadamente 125 alunos por turno – manhã/tarde, das turmas 1 a4. O atendimento do público ocorre de segunda à sexta e objetiva, de acordo com o seu Projeto Político Pedagógico(PPP), o desenvolvimento integral das crianças em seus aspectos físico, psicológico, emocional, social e cultural, considerando a ação das famílias e da comunidade. A equipe da unidade no turno matutino é composta por 5 professoras, entre concursadas e celetistas, 5 estagiários de nível superior, 2 coordenadoras pedagógicas e 5prestadores de serviços terceirizados entre as áreas de limpeza e copa e cozinha. A turma observada, é composta por 25 crianças, entre 5 e 6 anos de idade,sendo que a presença do sexo masculino se destaca, representando mais da metade da turma. Entre essas crianças, duas demonstram portarem necessidades educacionais específicas, mas ainda não possuem laudo médico, de acordo com as informações repassadas pela professora. A professora da turma faz parte do corpo docente da instituição há mais de 8 anos, com formação em Licenciatura em Pedagogia e Pós-graduação em Psicopedagogia.A turma era atendida também por um estagiário em Pedagogia, que dava suporte às demandas de sala e também nas atividades livres que aconteciam nas áreas abertas, como o pátio da instituição, onde estava localizado a brinquedoteca e os parques. 28 Foram realizadas as observações em todos os espaços da instituição, como na sala de referência e nos espaços comuns, sempre com a presença das crianças da turma. 3.2 Aspectos observados do cotidiano e algumas análises Durante o período de observação, foi possível perceber que as crianças seguiam uma rotina diária, de acordo com o Quadro 2, em anexo, que incluía, de maneira geral: a)a chegada dos mesmos à sala de referência no início da manhã, com acolhida através de brinquedos como legos ou letrinhas de plástico; b) a hora do lanche; c)Tempo reservado as atividades na sala de referência (roda, atividades de escrita, momento da leitura, exibição de vídeos...) d) Tempo para as atividades em outros espaços –parque e brinquedoteca; e) Almoço. A professora compartilhou a seqüência didática planejada para os dias em que acompanhamos a rotina, numa demonstração de que o planejamento era uma prática instituída por ela e pela gestão escolar. Embora definido, o planejamento era compreendido em seu caráter flexível, pois a professora entendia a necessidade de fazer as alterações, dentro do que estava previsto. O quadro a seguir sintetiza as situações da rotina que favoreciam a prática do brincar e o letramento. Quadro 1 – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS - BRINCAR E LETRAMENTO Dias Situação da prática do Brincar Situação para o desenvolvimento do Letramento 1º. Brincadeira livre; Roda Musical; Parque Roda musical; Atividades impressas; Leitura de livro 2º. Brincadeira livre; Roda Musical; Brinquedoteca; Parque Roda musical; Vídeo; Atividades impressas; Teatro de sombra 3º. Brincadeira livre; Roda Musical; Brincadeira do bingo de letras; Parque Roda musical; Leitura de Livro; Vídeo; Reconto 4º. Brincadeira livre e Roda Musical Roda musical; Atividades impressas; Almoço – elaboração (Sopa do Nenê) 5º. Brincadeira livre; Roda Musical e Parque Roda musical; Vídeo; Reconto; Atividade impressa 6º. Brincadeira livre; Roda Musical; Brinquedoteca; Parque Roda musical; Vídeo; Leitura de livro 29 7º. Brincadeira livre; Roda Musical; Parque Roda musical; Pintura livre; Vídeo; Leitura de livro 8º. Brincadeira livre; Roda Musical Roda musical; Leitura de livro; Atividade impressa 9º. Brincadeira livre; Roda Musical; Jogo de Dominó; Parque Roda musical; Atividade impressa; Leitura de livro 10º. Brincadeira livre; Roda Musical e Parque Roda musical; Atividade impressa; Leitura de livro 11º. Brincadeira livre; Roda Musical; Confecção de instrumentos; Parque Roda musical; Atividade impressa; Sacola literária Fonte: Banco de dados da pesquisa Percebemos, através do Quadro 1, que na rotina da turma vários momentos eram destinados ao brincar, como também várias atividades possibilitavam a prática do letramento. Uma das ações que inicialmente destacamos é a brincadeira livre, que estava presente em pelo menos dois momentos da rotina: na chegada das crianças (enquanto a professora as recebia na porta, até que chegasse o número suficiente para que o lanche fosse servido) e quando estas iam para o parque ou brinquedoteca. Esse momento do brincar livre entre as crianças é muito revelador para o seu desenvolvimento pleno, pois permite que elas vivenciarem variadas situações que possibilitam: o exercício de negociação, a experimentação de diferentes papéis sociais vividos no faz-de-conta,o estímulo à criatividade,a relação da fantasia com as regras do cotidiano(ajudando-as organizar o dia a dia dentro de regras estabelecidas socialmente),a resolução de conflitos e criação de soluções para eventuais problemas. Sobre a potencialidade do brincar, Vygotsky (2007) afirma que o brincar é uma atividade humana criadora, na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Queremos destacar o papel da figura do professor nesses momentos, que passa a ser observador e avaliador, proporcionando que o brincar livre aconteça, de forma que haja respeito às necessidades das crianças. Ele também passa a ser um mediador, que a partir das suas percepções sobre as crianças, pode propor novas aprendizagens e possibilidades para a turma. Apesar do espaço destinado à brincadeirana rotina da turma, não foi possível perceber o envolvimento direto ou algum tipo de mediação da professora, seja para apresentar uma nova brincadeira, seja para portar-se como uma integrante do grupo 30 que brincava. A ausência dessa mediação contribui para o desperdício o potencial pedagógico da brincadeira, principalmente no que tange à ampliação do repertório cultural. Apesar da relevância do brincar livre, o qual proporciona oportunidades que as crianças possuem de fazer escolhas, tomar decisões e estabelecer interações com os colegas, destacamos que a presença de um par mais experiente nesses momentos é indispensável, considerando a necessidade de avanço das crianças na zona de desenvolvimento proximal. Outro momento que destacamos no Quadro 1 é a roda de música, realizado diariamente. Ressaltamos a participação das crianças na roda, momento em que eram apresentadas novas canções e retomadas as que já faziam parte do repertório delas, algumas vezes produzindo sons com objetos e com o corpo. Evidenciamos o espaço para expressão da oralidade e para o acesso à música como patrimônio cultural, aspectos defendidos no processo de letramento. Porém, consideramos que toda a temática explorada na roda poderia ser mais bem aproveitada, pois as atividades musicais poderiam levar à situações significativas de leitura e escrita,trabalhando assim a alfabetização e letramento, visto que, para Soares (1998, p. 47), a alfabetização e letramento são duas ações inseparáveis. Nesse sentido, uma sugestão poderia ser a utilização algumas músicas cantadas na roda, como disparadoras de situações em que as crianças pensassem na relação entre grafema/fonema, com textos que agora faziam parte do seu repertório e que até poderiam saber de cor, como a música “A barata”, do grupo Palavra Cantada. Ainda nesse momento musical, é importante enfatizar que a professora procurava utilizar alguns recursos como a caixa de som, pandeirola, instrumentos musicais, construídos com materiais reciclados e uma caixa lúdica criada pela mesma, onde as crianças eram convidadas a participarem, escolhendo uma ficha existente dento dessa caixa, que continha a descrição de uma música pertencente ao repertório destas. A professora conduzia uma brincadeira de passar a caixa entre as crianças durante o toque de uma música, permitindo assim que o momento se tornasse lúdico e, ao mesmo tempo, que todos participassem. Assim, podemos considerar que esse momento musical era propício à apropriação das canções (que são bens culturais), de forma interativa, participativa, divertida e dinamizadora, além de que, através da música, há o estímulo ao desenvolvimento afetivo, estético e cognitivo da criança. 31 Após a roda musical, a professora geralmente iniciava a leitura de um livro literário, escolhido na ocasião do planejamento, objetivando enfatizar o assunto estudado no dia. Com essa leitura, a professora estimulava os alunos a expor suas idéias, a partir de perguntas sobre a história contida no livro. Ressaltamos que as experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, que é um mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo (BRASIL, 2017, p.42). Além disso, ocorriam situações de expressão criativa que às vezes se seguiam à leitura, como o teatro de sombras – conduzido inicialmente pelo estagiário, mas também experimentado pelas crianças – além do reconto e a dramatização. Sobre a importância da leitura e da mediação realizada nesse momento, ainda resgatamos a idéia de Gouveia e Orensztejn (2006): À medida que o professor significa a leitura e a escrita dentro da escola, seus alunos podem aprender sobre essas práticas ao mesmo tempo em que aprendem sobre as características e o funcionamento da escrita. Assim, tudo que se pode aprender sobre letras e sílabas aprende-se de forma contextualizada, em textos apropriados para a alfabetização (p. 36). Ainda sobre a leitura, ressaltamos a relevância do momento vivenciado no 11º dia de observação, quando as crianças tiveram a liberdade de escolher um livro para ser levado para casa, na chamada “Sacola literária”. O momento que segue à essa escolha, é um tempo de manuseio livre com o acervo que ainda estava disponível. Nessa atividade, verificamos a oportunidade do exercício da autonomia para leitura e a prática de apropriação de um objeto cultural. Além do mais, essa atividade, que acontecia semanalmente, aproximava as crianças da compreensão de que palavras são construídas por meios de códigos e que elas servem para deixar registradas as ideias de quem escreveu o livro. Para melhor promover o contato com a literatuta infantil no processo da alfabetização, é preciso que o professor tenha o conhecimento de que a literatura é uma linguagem favorável ao ensino,não somente para a aprendizagem da leitura e da escrita.É necessário ter a ciência deque bons livros literários podem ampliar o conhecimento de mundo, fomentar a reflexão sobre temas diversos, divertir as 32 crianças, além de acrescentar elementos necessários para a compreensão da realidade cultural/ social e ainda alimentar a fantasia. Nesse sentido, percebemos que apesar do potencial existente no trabalho com o momento de leitura que acontecia após a roda, bem como com a “Sacola literária”, os alunos não eram bem estimulados a expor os seus conhecimentos do seu contexto/repertório de mundo antes ou após a leitura do livro literário, nem mesmo as sensações que pudessem ter sido despertadas a partir da leitura. Outra atividade que poderia ter promovido um contato significativo com a escrita, foi a exploração da música “A sopa do nenê”, realizada no 4º dia de observação, ocasião em que o gênero receita poderia ter sido explorado, evidenciando a utilização desse texto no cotidiano das famílias e aproveitando a composição da lista dos ingredientes para propor situações desafiadoras de leitura e escrita. Entendemos que a alfabetização é um processo inerente e indispensável de apropriação do sistema de escrita, considerando os princípios alfabéticos e ortográficos que permitem ao aluno ler e escrever com autonomia, ou seja: a alfabetização refere-se à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito”, que se organiza em torno de relações entre a fala e as letras usadas para representá-la na escrita. Apesar das atividades lúdicas que constituíam a rotina, percebemos que o que ocorria nas ocasiões em que as ações de ler e escrever estavam em foco, era quase sempre a aplicação de atividades escritas que estavam distanciadas do uso social da leitura e da escrita e que não promoviam a reflexão sobre a língua, conforme ilustram as figuras 5 e 6: Figura 5: Atividade “Música O Rato” Figura 6: Atividade diagnóstica Fonte: Banco de Dados da Pesquisa 33 A figura 5 é um exemplo da atividade que era aplicada de forma recorrente, normalmente após a realização da roda, quando a professora já havia apresentado o tema do dia e realizado a leitura do livro literário. Verificamos, nesse exemplo, que se trata de uma atividade de localização e cópia, apesar da riqueza do uso do gênero trava-língua, que é explorado na atividade. Sobre o uso do gênero trava-língua, o mesmo favorece a realização da análise de segmentos sonoros silábicos e fonêmicos, suscitando uma maior presteza para a resolução de desafios da alfabetização, destacando a aquisição da velocidade de leitura, habilidade diretamente relacionada à capacidade de compreensão de textos, ou seja, favorecendo o desenvolvimento da consciência fonológica. Com tudo isso, a professora não buscava abranger esse favorecimento, considerando a perspectiva de aprender brincando e, ao mesmo tempo, darênfase ao sentido dos textos em relação ao uso social da escrita. Além de que, através do registro mecânico, a professora remete às práticas conteudistas, que tentam impor a aprendizagem mecânica do ler e escrever e que reduzem a aprendizagem da língua ao domínio do código escrito, desconsiderando toda a apropriação sobre a leitura realizada no momento da roda. Nesse sentido, é necessário considerar que as crianças necessitam de “[...] uma aprendizagem adequada e organizada para que ponham em movimento vários processos de desenvolvimento mental [...]” (VIGOTSKI, 2007, p. 101), pois “[...] não basta que a história seja lida. É necessário que o objeto portador da história seja analisado com as crianças e sejam desenvolvidas estratégias de leitura” (SOARES, 2009, p, 1).Ou seja, seria mais propício que a professora investisse mais em estratégias de leitura e explorasse outros trava-línguas, canções e textos de outros gêneros que também circulam no ambiente escolar e familiar - principalmente os textos que são usados em brincadeiras e que envolvem sons e movimentos. Assim, a inserção na cultura letrada poderia se dar de forma mais lúdica. Já a Figura 6 exemplifica uma atividade denominada “Atividade Diagnóstica” que era realizada, rotineiramente, antes do término da aula. Verificamos nesse exemplo, que se trata de uma atividade na qual a criança deveria identificar letras e números, conforme fosse solicitado pela professora, além de realizar a contagem e o registro numérico. Existia ainda um campo para registro do nome próprio, retirado da imagem em função da necessidade de preservarmos a identidade da criança. 34 Apesar da intenção de favorecer o acompanhamento e a avaliação da aprendizagem das crianças, percebemos que a professora priorizava muito a realização desse diagnóstico escrito, provavelmente desconsiderando os demais avanços – de ordem cognitiva, motora e sócio-afetiva, que poderiam ser observados nas demais ações e interações oportunizadas na escola. Por vezes, as atividades de cunho avaliativo assumem função de treinamento e/ou classificação, que pode desencadear nas crianças baixa auto-estima pela sensação de fracasso e culminar em rotulação, caso não sejam conduzidas com o devido cuidado. Além disso, podem gerar um clima constante de cobrança, mantendo certa tensão no ambiente da instituição de ensino. De acordo comas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), os procedimentos para a avaliação do desenvolvimento das crianças não devem ter como objetivo a seleção, a promoção ou a classificação dos pequenos, precisando assim considerar tanto a observação crítica, a criatividade das atividades, das brincadeiras, interações das crianças no cotidiano infantil e empregar múltiplos registros. Em conversa com a professora, passamos a ter o conhecimento de que essas atividades diagnósticas eram instrumentos utilizados em reuniões com os pais para informá-los sobre o desenvolvimento seus filhos.Em função disso, supomos que acabava sendo intensificada a necessidade de questionar a razão de seus filhos ainda não realizarem a escrita e leitura de maneira convencional. Isso parece-nos um pouco arriscado, tendo em vista que, para interpretar os resultados desses instrumentos avaliativos, seria necessário que os pais dominassem conhecimentos específicos relacionados aos processos de alfabetização e de letramento. Ainda sobre a rotina, após o momento de brincadeira no parque, os alunos vivenciavam o momento de assistir TV (algum desenho ou filme escolhido por eles) ou momento de contação de histórias com fantoches, situações nas quais muitas vezes eram retomados os temas que estavam sendo abordados no dia, de acordo com o planejamento. Era oportunizado um momento para que as crianças pudessem manusear os fantoches, criando elas mesmas as suas histórias e versões. Assim, tanto o brincar estava sendo assegurado também dentro da sala de referência, quanto os conhecimentos estavam sendo explorados de forma lúdica. As imagens a seguir, ilustram esses momentos da rotina. 35 Figura 7: Teatro de sombrasFigura 8: Momento da tv Fonte: Banco de dados da pesquisa Mediante as atividades realizadas, foi possível perceber que a ludicidade fazia parte do dia a dia da turma, porém, nem sempre a professora compreendia que determinados momentos eram propícios para explorar a linguagem oral e escrita com as crianças. Podemos citar como exemplo, a realização do jogo “Bingo das letras”: após ouvir a letra sorteada pela professora, a criança conferia se a letra continha em sua cartela e a marcava. Logo que apenas um único jogador completava a cartela, o jogo logo era encerrado e a professora passava para a realização da próxima atividade prevista no planejamento. Consideramos que esse momento poderia ser mais prolongado, de modo que todas as letras pudessem ser relacionadas com os nomes das crianças da sala, ampliando o repertório destas. Sabemos que os nomes próprios e, principalmente, as letras iniciais, constituem uma referência significativa para a aprendizagem da leitura e da escrita. Segundo Soares (2017), o desenvolvimento da criança no processo da língua escrita desde a fase icônica até se tornar alfabética e depois ortográfica está intimamente ligado ao desenvolvimento da consciência fonológica, desenvolvimento psicogenético e o conhecimento das letras. É importante considerar essas três aquisições para planejar as ações pedagógicas. Sobre os conhecimentos abordados com as crianças, diariamente, era proposto um novo tema de trabalho (conforme pode ser verificado no Quadro 2, em anexo). O propósito de explorar, a cada dia, uma música diferente do grupo Palavra Cantada provocava uma quebra/mudança repentina do tema a ser explorado, impedindo que houvesse alguma continuidade dos estudos, novas descobertas e a consequente ampliação dos conhecimentos das crianças acerca do que estava sendo discutido. 36 Pareceu-nos que o foco das ações pedagógicas era o grupo musical e não as curiosidades ou os temas que pudessem emergir do interesse das crianças. O contato com o acervo cultural, por intermédio dos textos visuais, orais e escritos acerca dos temas, poderia ser um mobilizador de aprendizagens e conseqüente impulsionador do desenvolvimento das crianças, como nos ensina o mestre Vigotski (2007). Apesar dos apontamentos aqui realizados acerca de possíveis aprimoramentos que caberiam às práticas de brincadeira e letramento na realidade observada, reconhecemos o mérito da professora em estar sempre empenhada para fazer com que as crianças participassem das atividades e interagissem com os demais colegas. Suas aulas eram dinâmicas, atrativas, organizadas de forma que buscavam colocar em prática a importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem. Em função da sua dedicação para com os avanços das crianças, a professora é considerada uma das profissionais mais comprometidas da instituição. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O referencial teórico selecionado para o nosso estudo evidenciou a importância da brincadeira para o desenvolvimento pleno da criança. Brincar, ao contrário do que pode não ser entendido para os que não estudam os seus benefícios e/ou desconhecem as diretrizes legais, é uma ação extremamente séria e necessária, devendo ser garantida a todas as crianças, principalmente nas instituições de educação infantil. As observações realizadas na instituição, analisadas à luz do referencial teórico, apontam que o direito do brincar está sendo garantido em ambiente e tempo organizados,por meio de diferentes possibilidades:uso de brinquedos, contação de histórias, canto de músicas, vivência de jogos, etc.Além disso, as brincadeiras aconteceram dentro da instituição tanto deforma espontânea, como de forma planejada,objetivandopromover o desenvolvimento motor, socioafetivo e cognitivo das crianças, de modo condizente com os objetivos desse segmento de ensino. As discussões sobre o letramento, por sua vez, ampliaram o que se pensa dos processos aprender a ler e escrever, evidenciando a necessidade de participação das crianças nas práticas da cultura letrada e fazendo-nos ter clareza da necessidade repensar e abolir as práticas puramente mecânicas ou passivas de apropriação do código escrito.Porém, a aparente falta de clareza do potencial pedagógico da 37 brincadeira, por parte da professora observada, para impulsionar o desejo, a curiosidade e a apropriação da leitura e da escrita, demonstrou prejudicar a sistematização de um trabalho nesse sentido. Diante da relevância dos temas aqui tratados – alfabetização e letramento – consideramos que estes precisam ser alvo de grande investimento em programas de formação inicial e continuada de professores, de modo que, a compreensão desses conceitos possa reverberar em práticas significativas com as crianças. Práticas essas que estejam dissociadas da preocupação com o cumprimento de conteúdos e atividades de prontidão, e sim, estejam voltadas para o atendimento das necessidades das infâncias. Esperamos que nossa pesquisa possa se unir aos outros textos e constituam vozes que possam contribuir para que educadores e educadoras pensem sobre o quanto estão criando espaços significativos de brincadeiras. Que eles sejam provocados também a pensar se estão considerando a bagagem cultural das crianças, quando se propõe a mediar a aquisição da leitura e da escrita e se estão sendo mediadores de novas conquistas. Que esses educadores consigam explicar aos pais e mães, mesmo que em pé, na porta da sala, que os seus filhos aprendem e se desenvolvem quando estão brincando e, por essa razão, precisam brincar. Esse é um trabalho de mudança de paradigmas acerca do que se pensa e esperam da criança e das instituições de ensino, que precisa ser edificado todos os dias. 4 REFERÊNCIAS BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do. Ensino fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. In. BORBA, Angela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. Brasília: Ministério da Educação, 2007. BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S.K. Notas de campo. In BOGDAN R.C.; BIKLEN, S.K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução às teorias e aos métodos. Porto: Porto. Editora, 1994. 38 BRASIL. Convenção sobre os direitos da criança. Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm>. Acesso em: 04 Jul. 2022. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1998. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. 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ANEXOS Quadro 2 - ROTINA DA TURMA 4 DA EDUCAÇÃO INFANTIL PERÍODO DE 08/11 a 23/11/2021 DIA ATIVIDADES REALIZADAS 1º 8/11 - Recepção e brincadeira livre com jogos ou letras de plástico - Atividade impressa (peixe no copo) - Roda: a professora falou sobre o projeto em desenvolvimento “Palavra cantada. As crianças cantaram algumas canções (usando uma caixa de onde elas sorteiam figuras que sugerem a música a ser cantada). Canto da música da barata, após questionamento da professora se alguém tinha medo de barata. - Exibição e escuta do vídeo da música sobre a barata e conversa sobre o tema “mentira”. - Exploração coletiva da escrita da palavra barata. 41 - Leitura do livro Dona Baratinha, seguida de discussão ao final (alunos demonstraram interesse). - Realização de uma atividade individual impressa. - Realização de sondagem individual sobre escrita do nome, com aqueles que terminam a atividade. - Parque - Momento de assistir TV (a professora
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