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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL PREVALÊNCIA E DETERMINANTES DE OCLUSOPATIAS NAS DENTIÇÕES DECÍDUA, MISTA E PERMANENTE NA CIDADE DO NATAL/RN NATAL 2005 1 REJANE BEZERRA DE LIMA PREVALÊNCIA E DETERMINANTES DE OCLUSOPATIAS NAS DENTIÇÕES DECÍDUA, MISTA E PERMANENTE NA CIDADE DO NATAL/RN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social da UFRN como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Odontologia, área de concentração em Odontologia Preventiva e Social. Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa Lima Natal 2005 2 Dedico A Deus, por guiar meus passos. A mainha, Luzinete, por estar sempre ao meu lado. A painho, Expedito, pelos ensinamentos valorosos. Ao meu amor, Norberto, pelo incentivo e carinho durante a realização deste trabalho. A minha irmã, Rossana, pela amizade e por me fortalecer diariamente. Ao meu sobrinho, Rafael, pela alegria diária e por entender a minha ausência. O cansaço, a lágrima, o desânimo e as dificuldades encontradas durante o percurso deste trabalho pareciam barreiras intransponíveis. Mas não eram. Muitas vezes, achei que estava só. Mas não estava...obrigada. 3 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Ao orientador e amigo Professor Doutor KENIO COSTA LIMA, exemplo do saber ininterrupto e de dedicação. Mestre na essência. Agradeço a confiança depositada em mim, a orientação e o contínuo estímulo. A ARTHUR COSTA RODRIGUES FARIAS, constante ajuda nos diversos momentos desta pesquisa. Agradeço por ter aceito o desafio de caminhar ao meu lado, pelo carinho e dedicação. Sem você este sonho seria apenas, um sonho! 4 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A NORBERTO BATISTA DE FARIA JÚNIOR, Pela atenção, Pelo carinho, Pela compreensão, Pelas palavras certas, Pela força nos momentos difíceis, Pelo “sim” em todos os momentos deste trabalho, Pelas alegrias desses últimos anos, Muito obrigada! 5 AGRADECIMENTOS Agradecer? Por que não, pedir desculpas? Acredito que seria o momento ideal, pois teríamos a oportunidade de pedirmos desculpas pela nossa ausência, pelo esquecimento, pelo stress tão inerente a esta fase, falta de paciência, enfim, por todas as falhas cometidas ao longo desses dois anos. No entanto, não quebrarei este protocolo, pois entendo que cada sujeito que, participou direta ou indiretamente, da realização deste trabalho deve ser lembrado (se não, seriam mais desculpas!). Dessa forma, agradeço: À Deus, pela minha existência e pela força constante no dia a dia. À minha família, pelo carinho e paciência durante a realização deste trabalho. À CAPES, pela bolsa concedida na primeira etapa do Mestrado. À Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na pessoa do Chefe do Departamento Antônio de Lisboa Lopes Costa, pelo incentivo desde os tempos de graduação. À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Odontologia, na pessoa da Professora Íris do Céu Clara Costa. Aos professores Angelo Roncalli e Adriana, pela disponibilidade de contribuírem na avaliação deste trabalho durante o processo de qualificação. Aos professores do curso de Pós-Graduação em Odontologia, em especial, à professora Angela Ferreira, pelas considerações oportunas neste trabalho, e à professora Betinha pelo incentivo nas horas difíceis. A todos os colegas do Curso de Pós-Graduação, em especial, à Tatiana, Rubiane e Lisa, pelos bons momentos de convivência. Saudades! Às alunas de graduação Tabita Torres, Denise Tavares e Aline Bandeira, pela disponibilidade na coleta de dados deste trabalho. À Dra. Maíra Fanha, pela ajuda durante a fase de estudo piloto. Aos funcionários da biblioteca, pela ajuda durante a fase de pesquisa bibliográfica. 6 À eterna amiga, Alandia Magally, pela ajuda nas horas difíceis durante o desenvolvimento deste trabalho. Obrigada por tudo, principalmente, pela sua amizade. Aos diretores, pais e alunos das escolas que participaram deste estudo, sem os quais não teria sido possível sua realização. A todos os que fazem o Hospital Universitário Ana Bezerra, pela compreensão nos momentos finais deste trabalho, quando a minha ausência foi inevitável. À amiga Maria do Perpetuo Socorro, pela ajuda inestimável na revisão desta dissertação. Ao amigo, Lúcio, pela valorosa colaboração na tradução do resumo dessa dissertação. À grande amiga, Maria Juliêta, pela ajuda (sempre que precisei) em todos os momentos desse trabalho. Agradeço a sua atenção, durante todos esses anos, e sua amizade. 7 "É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; é melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver ..." Martin Luther King 8 RESUMO O propósito deste estudo foi verificar a prevalência de oclusopatias, bem como dos seus determinantes nas dentições decídua, mista e permanente na cidade do Natal/RN. Para tanto, foi realizado um estudo seccional com crianças de 5, 8 e 12 anos (n = 765). A prevalência geral de oclusopatias, observando-se as três dentições, foi de 76,5%. No que se refere à prevalência para cada dentição obteve-se 75,5% para a dentição decídua, 84,8% e 70,5% para as dentições mista e permanente, respectivamente. As principais oclusopatias encontradas na dentição decídua foram a mordida aberta anterior (20,6%), seguida da mordida profunda (16,6%) e sobressaliência positiva (14,7%). Em relação à dentição mista, os principais problemas oclusais encontrados foram a sobressaliência positiva (33,8%), apinhamento (28,3%) e discrepância maxilar (20,7%). Essa predominância permanece inalterada na dentição permanente e, dessa forma, teve-se: sobressaliência positiva (27,4%), apinhamento (22,8%) e discrepância maxilar (19,9%). Na análise univariada, através do teste do Qui-quadrado (nível de significância de 5%), verificou-se associação significativa em relação à presença de oclusopatias na dentição decídua, para os fatores de risco: classe econômica (p = 0,019), espaço primata (p = 0,036), relação dos caninos (p = 0,000), hábitos (p= 0,002) e tempo de hábito (p=0,03). Para a dentição permanente, associação significativa com a presença de oclusopatias, foi encontrada para classe econômica (p=0,000), escola (p=0,001), renda (p = 0,000), tipo de moradia (p=0,001), padrão facial (p=0,004) e experiência de cárie (p=0,031). Não houve associação significativa entre nenhum dos fatores de risco e a presença de oclusopatias na dentição mista. Na análise de regressão logística, para a dentição decídua, observou-se que, renda, etnia, hábito e relação dos caninos constituíram fator de risco, independente das outras variáveis estudadas. Na dentição permanente, apenas o padrão facial (p = 0,025), foi fator de risco para o desenvolvimento de oclusopatias. Os achados desse estudo revelam que, tanto a prevalência quanto a necessidade de tratamento apresentaram percentuais elevados e, portanto faz-se necessário a criação de estratégias para minimizar esse problema, bem como evitar exposições aos fatores de risco passíveis de intervenção, tais como, baixa renda e hábitos e aos moduladores dos fatores de risco hereditários: etnia, relação dos caninos e padrão facial. 9 ABSTRACT This work is intended to bring a contribuition to the verification of the prevalance of malocclusion in the deciduous, permanent and mixed dentition in the student population in the city of Natal, Brazil. In this purpose, a sectional study of infantiles aging 5, 8 and 12 years old was carried out. The average prevalance of malocclusions in the group as a whole was 76,5%. Considering the different dentitions separately, the study showed malocclusion prevalence as follows: Deciduous Dentition 75,5%; Mixed Dentition84% and Permanent Dentition 70,5%. The most common malocclusion cases found in the deciduous dentition were openbite (20.6%); overbite (16.6%) and maxillary overjet (14,7). Mixed Dentition: the most commonly found occlusional malfunctions in this dentitional phase were maxillary overjet (33,8%); crowding (28,3%), and mandillary discrepancy (19,9%). In the univaried analysis, he application of the Chi square test of independence, (significance 5%), has indicated a meaningful association of the variables social class (p=0,019), primata space (p = 0,036), habits (p= 0,002) and time-and- habit (p=0,03). The same test on the permanent dentition group revealed a significant association for the independent variables, as follows: Social class (p=0,000), School (p=0,001), Income (p=0,000), housing standard (p=0,001), facial pattern (p=0,004), caries record (p=0,031). No significant association was found in the mixed dentition. The Logistic Regression analysis on the deciduous dentition has shown that income, ethnicity, habit and canine relationship constitute factors of risk regardless of the other variables. As for the permanent dentition, only Facial Pattern was pointed as a factor of risk for the formation of malocclusion. 10 Lista de Figuras Figura 1 Regiões Administrativas da cidade do Natal/RN 45 Figura 2 Arco de Baume do tipo I e II 57 Figura 3 Relação das faces distais dos segundos molares decíduos 58 Figura 4 Verificação de diastemas entre incisivos superiores com a sonda CPI. 61 Figura 5 Verificação de desalinhamento maxilar com o uso da Sonda CPI 62 Figura 6 Verificação do overjet maxilar e mandibular anterior com o uso da sonda CPI 63 Figura 7 Verificação da mordida aberta anterior com o uso da sonda CPI 63 Figura 8 Verificação da relação do 1º molar permanente 64 Figura 9 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação ao sexo e o tipo de dentição. 71 Figura 10 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à etnia e o tipo de dentição. 72 Figura 11 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação ao tipo de escola e dentição. 72 Figura 12 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à classificação econômica e o tipo de dentição 73 Figura 13 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à renda familiar e o tipo de dentição. 74 Figura 14 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação ao tipo de moradia e dentição. 75 Figura 15 Distribuição percentual dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à presença/ausência de oclusopatias e dentição. 77 Figura 16 Distribuição percentual das oclusopatias encontradas em escolares do município de Natal/RN, em relação à dentição. 79 Figura 17 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, em relação à perda precoce de dente. 81 11 Figura 18 Distribuição percentual do tipo de padrão facial dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à dentição. 82 Figura 19 Distribuição percentual do tipo aleitamento dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à dentição. 82 Figura 20 Distribuição percentual do tempo de aleitamento materno exclusivo (AME) dos pré-escolares e escolares, do município de Natal/RN, por tipo de dentição. 83 Figura 21 Distribuição percentual do tempo de aleitamento artificial dos escolares, de acordo com as 03 dentições, do município de Natal/RN. 84 Figura 22 Distribuição percentual da realização de hábito dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à dentição. 84 Figura 23 Distribuição percentual da duração de hábito dos pré-escolares e escolares do município de Natal/RN, em relação à dentição. 85 Figura 24 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, sexo e a presença/ausência de oclusopatias. 86 Figura 25 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, etnia e a presença/ausência de oclusopatias. 87 Figura 26 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, tipo de escola e a presença/ausência de oclusopatias. 88 Figura 27 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, classe econômica e a presença/ausência de oclusopatias. 89 Figura 28 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, renda e a presença/ausência de oclusopatias. 90 Figura 29 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, tipo de moradia e a presença/ausência de oclusopatias. 91 Figura 30 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, relação pessoa/cômodo e a presença/ausência de oclusopatias. 92 Figura 31 Distribuição percentual dos pré-escolares, em fase de dentição decídua, do município de Natal/RN, segundo o tipo de arco de Baume e a presença/ausência de oclusopatias 92 12 Figura 32 Distribuição percentual dos pré-escolares, em fase de dentição decídua, do município de Natal/RN, segundo a existência de espaço primata e a presença/ausência de oclusopatias. 93 Figura 33 Distribuição percentual dos pré-escolares, em fase de dentição decídua, do município de Natal/RN, segundo a relação dos caninos e a presença/ausência de oclusopatias. 93 Figura 34 Distribuição percentual dos pré-escolares, em fase de dentição decídua, do município de Natal/RN, segundo a relação terminal do 2º molar decíduo e a presença/ausência de oclusopatias. 94 Figura 35 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, experiência de cárie e a presença/ausência de oclusopatias. 95 Figura 36 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, severidade da cárie e a presença/ausência de oclusopatias. 96 Figura 37 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, perda precoce de dentes decíduos e a presença/ausência de oclusopatias. 97 Figura 38 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, padrão facial e a presença/ausência de oclusopatias. 98 Figura 39 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, o tipo de aleitamento e a presença/ausência de oclusopatias. 99 Figura 40 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, o tempo de AME e a presença/ausência de oclusopatias. 91 Figura 41 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, o tempo de Aleitamento Artificial a presença/ausência de oclusopatias. 92 Figura 42 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, a existência de hábito a presença/ausência de oclusopatias. 101 Figura 43 Distribuição percentual dos escolares do município de Natal/RN, segundo a dentição, tempo de hábito e a presença/ausência de oclusopatias. 102 13 Listas de Quadros Quadro 1: Estudos internacionais sobre prevalência de oclusopatias nas dentições decídua, mista e permanente, segundo autor (es), ano de publicação, local, tamanho da amostra, idade e diagnóstico. 28 Quadro 2: Estudos nacionais sobre prevalência de oclusopatias nas dentições decídua, mista e permanente, segundo autor (es), ano de publicação, local, tamanho da amostra, idade e diagnóstico. 29 Quadro 3: Definição e categorização das variáveis independentes (Sócio- econômico-demográficas) 50 Quadro 4: Definição e categorização das variáveis independentes (Características da dentição decídua) 51 Quadro 5: Definição e categorização das variáveis independentes (Fatores Extrínsecos) 52 Quadro 6 Definição e categorização das variáveisindependentes (Fatores Intrínsecos) 52 Quadro 7 Características biológicas dos grupos étnicos 53 Quadro 8 Itens empregados no sistema de pontos do Critério Brasil 55 Quadro 9 Grau de Instrução do Chefe da Família 55 Quadro 10 Cortes do Critério Brasil 55 Quadro 11 Tipificação das oclusopatias. 59 Quadro 12 Escores do DHC (IOTN) distribuídos de acordo com a severidade da oclusopatia. 65 Quadro 13 Escores do AC (IOTN) distribuídos de acordo com a severidade da oclusopatia 65 Quadro 14 Escores do DAI distribuídos de acordo com a severidade da oclusopatia 66 14 Listas de Tabelas Tabela 1 Análise Univariada na dentição decídua segundo as variáveis estudadas 105 Tabela 2 Análise Univariada na dentição mista segundo as variáveis estudadas. 107 Tabela 3 Análise Univariada na dentição permanente segundo as variáveis estudadas. 109 Tabela 4 Análise de Regressão Logística na dentição decídua e permanente, segundo as variáveis estudadas. 111 15 Lista de Abreviaturas OMS – Organização Mundial de Saúde HLD – Handicapping Lábio-Lingual Deviations (Desvios lábio-linguais incapacitantes) IOTN – Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico DHC – Componente de Saúde Dental do IOTN AC – Componente Estético do IOTN MAA – Mordida Aberta Anterior MCP – Mordida Cruzada Posterior MP – Mordida Profunda IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Estratégica AME – Amamentação (ou aleitamento) Materna Exclusiva ANEP – Associação Nacional de Empresas de Pesquisa SM – Salário Mínimo 16 Sumário Agradecimentos Resumo Abstract Lista de Figuras Lista de Quadros Lista de Tabelas Lista de Abreviaturas 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 18 2. REVISÃO DA LITERATURA................................................................................ 20 2.1 O quadro da saúde bucal no Brasil.................................................................. 20 2.2 As oclusopatias na esfera da saúde pública..................................................... 22 2.3 Considerações acerca do objeto de estudo: as oclusopatias............................ 22 2.3.1 Diagnóstico de oclusopatias......................................................................... 24 2.3.2 Prevalência de oclusopatias......................................................................... 26 2.3.3Fatores de risco para oclusopatias............................................................... 32 3. OBJETIVOS. ....................................................................................................... 43 3.1 Objetivo Geral................................................................................................. 43 3.2 Objetivo Específico......................................................................................... 43 4. METODOLOGIA.................................................................................................. 44 4.1 Local da pesquisa............................................................................................. 44 4.2 Caracterização do estudo................................................................................ 45 4.3 Considerações éticas........................................................................................ 46 17 4.4 Estudo piloto.................................................................................................... 46 4.5 População do estudo........................................................................................ 47 4.6. Cálculo da amostra......................................................................................... 48 4.7 Alocação dos elementos amostrais.................................................................. 49 4.8 Variáveis do estudo.......................................................................................... 50 4.9 Coleta de dados sócio-econômico-demográficos e fatores extrinsecos........... 53 4.10 Coleta de dados clínicos................................................................................ 57 4.11 Diagnóstico de oclusopatias.......................................................................... 58 4.12 Diagnóstico de cárie...................................................................................... 66 4.13 Análise dos dados.......................................................................................... 68 5. RESULTADOS..................................................................................................... 70 5.1 Caracterização da Amostra: abordagem por dentição..................................... 71 5.2 Características da dentição decídua................................................................. 76 5.3 Prevalência e Tipificação de oclusopatias....................................................... 76 5.4 Fatores de risco: Extrínsecos e Intrísecos........................................................ 80 5.5 Associação entre fatores de risco e oclusopatias............................................. 85 6 DISCUSSÃO.......................................................................................................... 112 6.1 Oclusopatias: “Um agravo para populações privilegiadas”............................. 112 6.2 Limitações........................................................................................................ 114 6.3 Prevalência de Oclusopatias........................................................................... 115 6.4 Fatores de Risco para oclusopatias................................................................. 7. CONCLUSÕES..................................................................................................... 120 132 8. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 133 18 9 ANEXOS............................................................................................................... 147 19 INTRODUÇÃO As oclusopatias, também denominadas de maloclusões, são compreendidas como anomalias do crescimento e desenvolvimento com repercussões ósseas, dentárias e musculares. Dessa forma, insere-se no âmbito das oclusopatias qualquer alteração que varia desde um mau posicionamento dentário individualizado até problemas transversais, verticais ou ântero- posteriores que repercutem em um dano estético, muitas vezes, severo. No Brasil, os dados epidemiológicos mostram que os principais problemas de saúde bucal, em ordem decrescente de relevância, em saúde pública são: a cárie dentária, as doenças periodontais, as oclusopatias, o câncer bucal e as fendas lábio-palatinas122. No entanto, dependendo da região e das características do grupo populacional estudado, a cárie dentária não é o principal problema e qualquer um dos outros pode ser mais prioritário e relevante do ponto de vista do significado social e sanitário44. A inclusão das oclusopatias como problema de saúde pública não decorre apenas dos indícios que sua prevalência tem aumentado nos últimos anos44, 83, mas, sobretudo, do impacto social na qualidade de vida dos indivíduos afetados50, pois o aspecto estético exerce papel importante na interação social dos mesmos, e as deformidades faciais podem causar mais impacto do que outras incapacidades físicas. Portanto, a inserção das oclusopatias na pauta da política de saúde bucal se faz necessária. Para que haja sua inclusão na política de saúde bucal, se torna importante o conhecimento de sua distribuição na população, bem como o entendimento dos fatores etiológicos e de risco da mesma, considerando que tais fatores norteiam as intervenções promocionais e preventivas nas coletividades e as reabilitadoras em nível individual. A sua ocorrência na população e como ela está distribuída seria o primeiro passo para a criação de estratégias de atençãoà saúde e, sobre este aspecto, deve-se ressaltar que a maioria dos estudos encontrados na literatura indicam prevalência de oclusopatias superior a 50% e, portanto considerados elevados e inaceitáveis do ponto de vista social. A respeito do debate sobre os fatores etiológicos e de risco relacionados às oclusopatias, sobretudo entre nature x nurture (natural x social), alguns autores apontam como principal causa das oclusopatias as alterações no crescimento e desenvolvimento, determinadas geneticamente44 . 20 Os fatores ambientais, apenas modulariam essas informações, sendo considerados como fatores condicionantes ou de risco. Dessa forma, as oclusopatias seriam resultantes da interação de fatores relacionados à hereditariedade e ao meio ambiente, incluindo estímulos positivos e nocivos presentes, principalmente, durante a formação e desenvolvimento do complexo orofacial 116, 47. Face ao exposto, um estudo da distribuição das oclusopatias, bem como dos seus fatores condicionantes seria de grande valor para nortear a política de saúde bucal, principalmente no que se refere aos fatores de risco passíveis de intervenção em nível de serviço público, uma vez que os fatores genéticos apresentam limitações a essas intervenções. Deve-se acrescentar a isto, a necessidade de estudos que relacionem os fatores condicionantes às diversas fases de desenvolvimento da dentição, uma vez que estas possuem características peculiares, o que pode acarretar respostas diferentes para os mesmos fatores. Nesse sentido, o presente estudo pretende contribuir na elucidação da ocorrência deste agravo em três fases da vida, correspondentes às dentições, bem como aclarar seus determinantes. REVISÃO DA LITERATURA Este capítulo está dividido em três seções. A primeira é dedicada ao cenário da saúde bucal no Brasil, enfatizando-se a questão do acesso aos serviços de saúde. Em seguida, discute-se a inclusão das oclusopatias como um problema de saúde pública. Por último, na terceira seção, se dá o entendimento do objeto proposto para estudo – as oclusopatias – a partir do conceito, diagnóstico, distribuição na população e seus principais fatores de risco. Buscando-se uma base teórica, no que se refere à distribuição das oclusopatias, optou-se pela construção de um referencial através de revisão crítica. Portanto, na terceira seção, foi realizada uma revisão sistemática da literatura de estudos de prevalência. 2.1 O Quadro da Saúde Bucal no Brasil "O Brasil é um país que ocupa o segundo lugar em número de transplantes, mas não é capaz de repor os dentes da população ou de fazer tratamento do câncer bucal”. (Humberto Costa - Ministro da Saúde, na abertura da III Conferência Nacional de Saúde Bucal)25. O Ministério da Saúde publicou em março de 2004 o relatório do levantamento nacional de saúde bucal (SB Brasil), o qual revelou que 13% dos adolescentes nunca foram ao dentista; 20% da população brasileira já perdeu todos os dentes e 45% dos brasileiros não têm acesso regular à escova de dente 14. Esses dados nos permitem observar, parafraseando Roncalli,97 o fosso [grifo nosso] existente entre a Odontologia, seja na esfera da assistência ou da prevenção, e grande parte da população brasileira. Um outro aspecto importante, a que nos remete o quadro acima exposto, é a questão do acesso, o qual ainda não foi equacionado pelos sistemas públicos de prestação de serviços de saúde, considerando que o nosso modelo de saúde baseia-se na universalidade da atenção97. 22 É fato que toda essa situação não adveio do período atual, mas é fruto acerbo das políticas públicas que permearam a nossa história, principalmente as neoliberalistas com intervenções reduzidas do Estado, sobre as políticas sociais, incluindo as do setor saúde, ocasionando o detrimento dos serviços públicos de saúde e o crescimento da Medicina (e Odontologia) de grupo no setor privado. Dessa forma, a existência de avanços e retrocessos na atenção à saúde bucal resultou em um quadro já desenhado no relatório elaborado durante a II Conferência Nacional de Saúde Bucal24: “O modelo de saúde bucal vigente no Brasil caracteriza-se pela limitadíssima capacidade de resposta às necessidades da população brasileira. Ineficaz para intervir na prevalência das doenças bucais que assolam o país, é elitista, descoordenado, difuso, individualista, mutilador, iatrogênico, de alto custo, baixo impacto social e desconectado da realidade epidemiológica e social da nação”. (Conferência Nacional de Saúde Bucal, 1993). Frente a essa grande dívida social, deflagrou-se, em 2004, a III Conferência Nacional de Saúde Bucal, a qual gerou um processo crescente de discussão, articulações intersetoriais nas esferas do governo e ações integradas da sociedade civil e movimentos populares, constituindo a saúde bucal como um indicador da qualidade de vida das pessoas e das coletividades (Relatório da III Conferência Nacional de Saúde Bucal, 2004)25. A aproximação entre saúde bucal e qualidade de vida passa a ser um marco na história da Odontologia brasileira, pois a atenção à boca deixa de assumir um plano meramente assistencialista e ganha dimensões amplas. Os dentes e a boca deixam de ser tratados como órgãos, mas, sobretudo, como parte integrante do indivíduo social. Um outro fruto resultante das discussões e articulações foi a construção de um Plano Nacional de Saúde – Brasil Sorridente14, em 17 de março de 2004, com o objetivo de ampliar o atendimento odontológico, em oposição aos incentivos isolados à saúde bucal que vinham ocorrendo nos últimos anos. Deve-se acrescentar que essa política não apenas incrementa a 23 atenção básica, mas (pela primeira vez) repensa o atendimento de alta complexidade como parte integrante da atenção à saúde bucal. 2.2 As Oclusopatias na Esfera da Saúde Pública A inclusão das oclusopatias como um problema de saúde pública deve-se não apenas à sua alta prevalência121, mas ao impacto social dessa morbidade, interferindo, principalmente, na qualidade de vida das pessoas. Um aspecto dental desagradável pode discriminar os indivíduos acometidos por estes problemas, tanto no inter-relacionamento pessoal, como no ambiente de trabalho34 e, portanto, a inserção das oclusopatias nos programas de atenção em saúde bucal se faz necessária 44, 83. Neste sentido, cabe nos reportarmos a uma definição prática de Saúde Pública que, segundo Frazão44, se baseia no diagnóstico científico dos problemas de saúde de uma comunidade e a aplicação de medidas individuais ou coletivas, para controlar esses problemas e evitar sua progressão, reduzindo sua ocorrência para níveis aceitáveis tanto economicamente, como socialmente. Sendo assim, um problema de saúde é caracterizado como problema de saúde pública quando constitui causa comum de morbidade ou mortalidade e existem métodos eficazes de prevenção e controle, acrescido do fato de que tais métodos não estão sendo utilizados de modo adequado pela comunidade21. Com base em um estudo realizado por Frazão44, no qual avaliou aspectos epidemiológicos da oclusão dentária na infância e nos sistemas de saúde através de meta-análise, os problemas oclusais consistiram em importante problema de saúde pública. Conseqüentemente, o autor sugere a inclusão das desordens oclusais nas pautas e atribuições dos gestores dos sistemas de saúde, bem como a adoção de medidas direcionadas ao desenvolvimento oro-facial dos zero aos 6 anos. 24 2.3 Considerações acerca do Objeto de Estudo: As Oclusopatias Angle2 definiu oclusão como as relações normais entre os planos inclinados oclusais dos dentes, quando os maxilares estão cerrados. Segundo Proffit e Fields 92, essa definição de oclusão normal deve ser considerada como oclusão ideal, especialmente quando os critérios aplicados são rígidos, pois são raros os dentes perfeitamente interrelacionados e posicionados sobre uma linha de oclusão impecavelmente regular.A oclusão não “normal” (denominada má oclusão) foi referida por Moyers 71 como “... desvios de crescimento e desenvolvimento do complexo buco-facial e desvios de posições dentais que podem originar as deformidades dento-faciais”. Essa expressão “má oclusão” gera imprecisões semânticas, pois há uma grande variação na sua definição109 e, portanto, adotaremos neste trabalho a expressão “oclusopatia” devido à sua amplitude conceitual abordada por Frazão 44. As oclusopatias consistem de anomalias do crescimento e desenvolvimento, afetando principalmente os músculos e os ossos maxilares no período da infância e da adolescência, que podem produzir alterações tanto do ponto de vista estético nos dentes e/ou face, quanto do ponto de vista funcional na oclusão, mastigação e fonação 106. a interação de variáveis relacionadas à hereditariedade e ao meio ambiente, incluindo estímulos positivos e nocivos, presentes principalmente durante a formação e desenvolvimento do complexo orofacial é responsável pelo desenvolvimento das oclusopatias 116, 47. segundo shaw 101, as oclusopatias estão relacionadas a fatores dento-alveolares gerais e locais, fatores esqueléticos e neuro-musculares, quando não da interação entre ambos. os fatores dento-alveolares gerais caracterizam-se pela relação dente/osso, ou seja, tamanho dos dentes e existência de espaço suficiente para acomodá-los que, quando desproporcionais, provocam problemas de oclusão, tais como, a impacção dentária101. no que se refere aos fatores esqueléticos, isto é, o tamanho e inter-relacionamento dos maxilares, e a sua relação com a base do crânio, estes são os determinantes da localização da dentição e das raízes. Se a variação esquelética excede a capacidade de compensação dento- alveolar para obter uma oclusão normal, as oclusopatias podem se estabelecer 101. 25 os fatores neuro-musculares (tecidos moles da cavidade bucal) respondem pelas forças de pequena magnitude, conhecidas como força em repouso, que quando permanecem constantes em contato com os dentes, podem provocar alterações na posição dentária 101. Graber48 dividiu os fatores determinantes das oclusopatias em dois grupos: intrínsecos ou locais, de responsabilidade do cirurgião-dentista e extrínsecos ou gerais, dificilmente resolvidos pelo profissional. constituem fatores extrínsecos a influência hereditária no padrão de crescimento e tipo facial, bem como a raça, deformidades congênitas, alterações durante o período pré-natal, endocrinopatias, problemas dietéticos, alterações pós-natal, como as lesões traumáticas e, ainda, os hábitos de pressão anormal. Os fatores intrínsecos estão relacionados às anomalias de número, tamanho e forma dos dentes, bem como perda prematura ou retenção prolongada dos dentes decíduos, erupção tardia dos dentes permanentes, via de erupção anormal, anquilose, cárie dentária, restaurações inadequadas e freios labiais com inserção anômala. apesar de ser uma classificação aceita universalmente, esta apresenta algumas restrições, a despeito da própria etimologia dos termos intrínsecos e extrínsecos , pois todos os fatores etiológicos, acima expostos, são inerentes ao paciente, à exceção dos traumas e hábitos de pressão anormal e, portanto, deveriam ser classificados como intrínsecos. No que se refere aos fatores extrínsecos, deveriam ser incluídos aqueles do meio ambiente ao qual o sujeito está predisposto, tais como os fatores comportamentais, traumas e fatores sócio-econômicos. independente da classificação, parece ser consenso na literatura que diversos fatores contribuem para o desenvolvimento das oclusopatias e o estudo da sua ocorrência e determinantes seria benéfico para população, como primeiro passo na tentativa de redução desses problemas, sobretudo, por se tratarem de problemas de resolutividade complexa, quando em estágios avançados, pois necessitam de intervenções corretivas, que na maioria das vezes possuem custo elevado e tempo prolongado de tratamento. Extrínseco: adjetivo. Do Latim extrinsecu. Exterior. Que se origina fora de uma parte ou órgão e age sobre esta parte ou órgão como um todo. Intrínseco: adjetivo. Do Latim intrinsecu. Que está no interior de uma coisa e lhe é próprio ou essencial. Íntimo, inerente 26 2.3.1 Diagnóstico de Oclusopatias A mensuração das características da oclusão dentária em populações humanas tem sido um permanente desafio aos profissionais de Odontologia e de Saúde Pública 82. Do ponto de vista da Saúde Pública, o conhecimento dos problemas oclusais tem como objetivos identificar os indivíduos de acordo com o grau de prioridade das suas necessidades e proporcionar o planejamento e a obtenção de recursos para o tratamento ortodôntico. Para isto, são necessários métodos claros de mensuração e classificação dos problemas que permitam sua aplicação em nível epidemiológico e de fácil reconhecimento pelos pesquisadores e examinadores 43. Dessa forma, os índices são ferramentas úteis no diagnóstico dos problemas oclusais. No entanto, as oclusopatias possuem natureza multifatorial e apresentam características faciais e oclusais que tornam um tanto quanto subjetivo o diagnóstico e o tipo de tratamento a ser realizado. Um dos mais antigos sistemas de classificação dos problemas oclusais foi criado por Edward H. Angle2, o qual baseia-se, fundamentalmente, na relação entre os molares permanentes superiores e inferiores. No entanto, este sistema de classificação, a despeito de sua rápida aceitação pelos profissionais, não leva em consideração a relação dos dentes com a face, nem tampouco registra a grande variação de características que podem estar presentes em diferentes oclusopatias e que tenham a mesma relação mésio-distal de molar. Um índice cuja finalidade foi a de permitir a separação objetiva em grandes grupos de crianças com problemas oclusais significativos para a Saúde Pública, foi o criado por Dracker34, e conhecido como Handicapping Labio-Lingual Deviations (HLD). No entanto, por basear-se em, além de outras oclusopatias, desvios traumáticos severos, seu uso para programas de Saúde Pública torna-se inadequado, pois apenas as condições incapacitantes são identificadas. Em 1987, a OMS123 adotou um critério de classificação das oclusopatias que é utilizado até os dias de hoje, principalmente para dentição decídua. Este sistema de classificação contém três categorias, a saber: 0, nenhuma anomalia oclusal; 1, anomalia leves, tais como ligeiros apinhamentos ou espaçamentos dentários, leves rotações dentárias; e 2, anomalia moderada/severa, onde se incluem a: presença de um ou mais problemas oclusais sérios como 27 overjet maxilar de 9 mm ou mais, mordida cruzada anterior, mordida aberta, desvio de linha média maior do que 4 mm ou apinhamentos/espaçamentos maiores do que 4 mm. Brook e Shaw15 propuseram um índice para avaliar a necessidade de tratamento ortodôntico, o Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico (IOTN), que considera dois componentes distintos, a saúde dentária (DHC) do indivíduo e a percepção do dano estético (AC). Em 1997, a OMS 124 passou a adotar o Índice de Estética Dental (Dental Aesthetic Index – DAI), como referência para a realização de levantamentos epidemiológicos de oclusopatias. Este índice avalia dez características das oclusopatias, com pesos variáveis indicando a necessidade de tratamento ortodôntico de um indivíduo 26. A despeito das classificações existentes serem úteis para a descrição clínica das oclusopatias, estas são consideradas medidas grosseiras quando relacionadas a muitas das características que compõem a oclusão dentária 43. São instrumentos que não apresentam sensibilidade para captar características peculiares às fases de desenvolvimento da dentição, gerando “vieses” de diagnóstico69. Um outro aspecto importante é que há uma discrepância entre as necessidades normativas verificadas pelos índices e a percepção do indivíduocom relação aos problemas oclusais. Para Peres83, os índices superestimam a prevalência dos problemas oclusais em relação à autopercepção. Assim, de acordo com a literatura, não existe um consenso entre os autores a respeito de um método de diagnóstico ortodôntico com cunho epidemiológico e clínico que englobe todos os aspectos das oclusopatias, além de referenciar seus efeitos na estética facial e dentária, bem como sua repercussão no contexto social 88. 2.3.2 PREVALÊNCIA DE OCLUSOPATIAS Estudos sobre a distribuição e a freqüência dos problemas oclusais têm sido desenvolvidos em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Porém, comparações entre eles nem sempre são possíveis de serem realizadas devido à variação entre os critérios adotados, os níveis de severidade abordados, os tamanhos e as idades que compõem as amostras, dentre outras diferenças metodológicas. 28 Para compor um quadro de estudos válidos acerca da distribuição das oclusopatias, foi realizada uma revisão sistemática da literatura. Para tanto, foi realizada uma pesquisa nas bases de dados MEDLINE (1993-2005), LILACS e BBO. Utilizou-se as seguintes estratégias de busca: Descritor de Assunto : Malocclusion Palavras: Malocclusion, Prevalence, Cross-sectional study, epidemiological study, estudos transversais, estudos epidemiológicos, crianças, early mixed dentition, primary dentition, adolescentes. Idioma: português, inglês e espanhol. Buscas manuais também foram realizadas, acrescendo, dessa forma 01 artigo: Milagre69. Ao todo, foram encontradas 231 referências que, após análise dos resumos e adequação com o propósito da revisão, foram selecionadas 16 referências. Os critérios de inclusão foram artigos originais, com população nas faixas etárias 5, 8 ou 12 anos, estudos transversais, epidemiológicos, longitudinais e revisões sistemáticas. Foram excluídos relatos de casos, cartas, artigos cujo cálculo amostral não foi detalhado, que não tinham base populacional, que não possuiu aleatoriedade na escolha da amostra, prevalência de disfunções temporomandibulares, grupos populacionais que incluíam pacientes com síndrome ou fissuras lábio-palatinas. A seguir, serão apresentados os dados referentes a estes estudos, os quais foram divididos em internacionais e nacionais: 2 9 Q ua dr o 1. E st ud os i nt er na ci on ai s so br e pr ev al ên ci a de o cl us op at ia s na s de nt iç õe s de cí du a, m is ta e p er m an en te , s eg un do a ut or ( es ), an o de p ub li ca çã o, lo ca l, ta m an ho d a am os tr a, id ad e e di ag nó st ic o. A U T O R E S P U B L IC A Ç Ã O L O C A L A M O ST R A ID A D E D ia gn ós ti co P R E V A L Ê N C IA K a b u e M M e c o la b o ra d o re s 1 9 9 5 K ên ia 2 2 1 3 -6 A ng le 51 % F ar si N M e c ol ab or ad or es 19 96 A rá bi a S au di ta 52 0 3- 5 A ng le 9, 2% ( M A A ) O tu ye m i O D e c ol ab or ad or es 1 9 9 7 N ig é ri a 5 2 5 3 -4 A ng le 5, 3% ( M A A ) 4, 8 % ( M C P ) T sc hi ll P 19 97 F ra nç a 38 2 4- 6 F D I ( 19 73 ) 37 ,4 % ( M A A ) C a rv a lh o J C e c o la b o ra d o re s 1 9 9 8 B él gi ca 7 5 0 3 -5 A ng le 32 % ( M A A ) 10 ,1 % ( M C P ) N av ar re te M E e E sp in oz a R A 19 98 C hi le 21 1 2- 4 A ng le 10 ,3 % ( M C P ) 8, 4% ( M P ) T hi la nd er B e c ol ab or ad or es 2 0 0 1 C ol om bi a 4 7 2 4 5 -1 7 A ng le 50 % S im on C e c ol ab or ad or es 20 03 E tio pi a 17 36 12 A ng le 23 ,7 % 3 0 Q ua dr o 2. E st ud os n ac io na is s ob re p re va lê nc ia d e oc lu so pa ti as n as d en ti çõ es d ec íd ua , m is ta e p er m an en te , se gu nd o au to r (e s) , a no d e pu bl ic aç ão , l oc al , t am an ho d a am os tr a, id ad e e di ag nó st ic o. A U T O R E S P U B L IC A Ç Ã O L O C A L A M O ST R A ID A D E D ia gn ós ti co P R E V A L Ê N C IA T om it a N E 19 96 B au ru -S P 21 39 3- 5 an os A ng le 60 ,1 % ( 3 an os ) 54 ,9 % ( 4 an os ) 50 ,1 % ( 5 an os ) F ra zã o P 19 99 S ão P au lo - S P 98 5 5 e 12 a no s W H O ( 19 87 ) 48 ,9 % (5 a no s) 71 ,3 1 (1 2 an os ) Ló pe z F U 20 01 P or to A le gr e - R S 56 7 3- 5 an os A ng le m od if ic ad o 38 % ( M A A ) O liv ei ra A E 20 01 V it ór ia - E S 29 1 (3 an os ) 30 0 (7 a no s) 29 0 (1 2 an os ) 3, 7 e 1 2 an os W H O ( 19 87 ) 59 ,1 5 (0 3 an os ) 76 ,7 % ( 7 an os ) 83 ,8 % ( 12 a no s) P ir es D M 20 01 S al va do r - B A 14 1 7- 8 an os A ng le 71 % M il ag re , M A 20 01 N at al /R N 44 2 3- 5 an os T ip if ic aç ão d e O cl us op at ia s 77 ,6 % T ho m az E B A F e co la b o ra d o re s 20 02 A ra ca ju ( S E ), B ay eu x (P B ), Jo ä o P e ss o a ( P B ) e R ec ife ( P E ). 98 9 2- 5 an os S o b re ss a liê n ci a so b re m o rd id a pr of un da e ap in ha m en to . 56 ,2 % P ér in P C P 20 02 A ra ça tu ba - S P 7 3 4 12 a no s A ng le D A I 66 ,7 6% ( A ng le ) 43 ,7 % ( D A I) 30 Deve-se acrescentar que, artigos que incluíam idades diferentes das utilizadas neste estudo foram incluídos por acreditar-se que, representariam cada fase da dentição. Percebe-se que, em sua maioria, os estudos utilizaram a classificação preconizada por Angle2 e, portanto, apresentam metodologia diferenciada do presente estudo. Deve-se ressaltar as limitações da utilização dessa classificação por ser baseada numa relação de molar, acreditando-se na estabilidade do primeiro molar permanente superior. Apesar das diferenças entre as prevalências encontradas nos diversos estudos, há indícios de que um aumento em ambas, prevalência e severidade das oclusopatias, desde os tempos medievais até os dias de hoje, tem ocorrido 54, 44, 110. A prevalência de oclusopatias na dentição decídua vem sendo abordada sobre diferentes aspectos, no entanto, há um consenso na literatura em relação ao número elevado de crianças com desordens oclusais nas primeiras fases da vida, perfazendo um total acima de 50% 113, 44. As principais oclusopatias encontradas são a mordida aberta anterior, a mordida cruzada posterior, uni ou bilateral, e sobremordida 115, 80, 19, 74, 113, 64. Alguns estudos transversais mostram um decréscimo na freqüência de alguns desvios dos 3 aos 6 anos 39, 78, 69 exemplo da mordida aberta anterior e sobremordida. A principal causa dessa diminuição deve-se a alterações de crescimento, modificações dentárias e diminuição da prevalência de hábitos deletérios, com o avanço da idade. Thomaz e colaboradores 111 avaliaram 989 crianças em fase de dentição decídua, em um estudo multicêntrico que envolveu 04 localidades: Aracaju (SE), Bayeux (PB); João Pessoa (PB) e Recife (PE). Apenas 03 oclusopatias foram avaliadas: apinhamento, sobressaliência positiva e sobremordida acentuada. Verificou-se que 56,2% apresentavam algumas dessas desordens. No presente estudo, também se verificou que a sobressaliência e a sobremordida diminuíam com a idade. No que se refere à dentição mista, poucos são os estudos que avaliaram apenas essa fase. Em relação ao período intertransicional, Pires, Rocha e Cagussu89 avaliaram a condição oclusal em escolares de Salvador-BA (n = 141) e obtiveram uma prevalência de oclusopatia de 71%, sendo o apinhamento e a mordida aberta anterior as condições mais prevalentes. Oliveira 78, ao avaliar crianças aos 7 anos de idade verificou uma prevalência de 76,7%. A despeitoda alta prevalência no presente estudo corroborar os achados de Pires89, 32 deve-se ressaltar que foi utilizado diagnóstico proposto pela OMS 123 e, portanto, algumas alterações oclusais, não foram consideradas como oclusopatia moderada/severa, subestimando assim tal resultado. Em relação à dentição permanente, Simon , Tesfaye, Berhane107 avaliaram a condição oclusal de crianças de 12 anos, na Etiópia. Um total de 1736 indivíduos foram examinados e verificou-se que 23,7% da população apresentaram alteração oclusal, sendo o apinhamento a oclusopatia mais prevalente (23,8%). Deve-se ressaltar que Vellini117 elucidou que, em raças puras, o percentual de pessoas com oclusopatias, em geral, é inferior aos de população com miscigenação. Frazão44, verificou que a prevalência de oclusopatia cresceu de 49,0 4,5% na dentição decídua para 71,3 3,9% na dentição permanente. Esses achados corroboram com Oliveira78, o qual utilizou o mesmo índice para diagnóstico, detectando um aumento na dentição permanente (83,8%) em relação à decídua (59,15%), encontrando-se, assim uma correlação entre idade e oclusopatia. Ao avaliar a prevalência de oclusopatias em escolares, aos 12 anos, provenientes da rede pública de Araraquara, Périn85 verificou que 66,76% apresentaram alteração oclusal, segundo classificação de Angle2. O mesmo autor comparou os resultados obtidos com o índice de Estética Dentária (DAI), para a mesma população, verificando que esse percentual foi reduzido para 43,7% e, dessa forma, confirmando que os métodos geram diferentes resultados. Estudos que envolveram fases diferentes da dentição também foram incluídos durante o processo de revisão. Em um estudo realizado na cidade de Bogotá, Colômbia, Thilander e colaboradores110 verificaram a prevalência de oclusopatias em crianças (n= 4724) em diversas fases da dentição: decídua, mista e permanente. Os resultados mostraram que 88% dos sujeitos tinham algum tipo de oclusopatia. Dados do SB Brasil 32, para a região Nordeste, revelaram que 40% das crianças em fase de dentição decídua apresentaram oclusopatia, que variou de leve a moderada/severa, sendo esse percentual maior na dentição permanente (54%). No que se refere realidade da cidade do Natal, poucos são os estudos que abordam os problemas oclusais entre pré-escolares e escolares. 33 Milagre 69 analisou a oclusão de pré-escolares em Natal/RN e verificou que a prevalência dessas desordens correspondeu a 77,6% Face ao exposto, deve-se acrescentar a necessidade de mais estudos acerca das oclusopatias, não apenas evidenciando a sua freqüência nas populações, mas que relacionem os aspectos sócio-ambientais às desordens oclusais e que busquem conhecer seus determinantes. 2.3.3 FATORES DE RISCO PARA AS OCLUSOPATIAS A despeito do grande número de estudos acerca das oclusopatias, existentes na literatura, há um número reduzido que visam determinar os fatores de risco a elas relacionados. Ainda há o fato de que alguns estudos focalizam mais os fatores genéticos, efeitos de terapias ortodônticas/ortopédicas, do que os ambientais44. Em uma conferência na sociedade britânica para estudo da Ortodontia (British Society for the Study of Orthodontics), Profit93 discorreu sobre a etiologia das oclusopatias. Segundo ele, as oclusopatias ocorrem devido a algum desvio do desenvolvimento normal e, portanto, para entender a etiologia das oclusopatias, deve-se considerar a influência de diversos fatores no desenvolvimento dos arcos dentais. Alguns estudos têm apontado as condições estruturais da vida, como a classe social ao nascimento do indivíduo, as condições econômicas, o tempo de freqüência à escola, a época de inserção no mercado de trabalho, como fatores que fortemente influenciam nas condições de saúde na vida adulta 7,91. Em se tratando das oclusopatias, apesar de alguns fatores de risco serem apontados como causadores destes problemas, ainda não está bem definida como a relação entre eles ocorre, sugerindo que novas discussões devem ser realizadas para se compreender de maneira mais aprofundada o aumento da prevalência destes problemas83. Uma outra abordagem pouco usual na literatura é a relação oclusopatia e formação dentaria, ou seja, ora os problemas oclusais são estudados sobre a ótica da dentição decídua, ora na dentição permanente, mas pouco se sabe como o processo ocorre durante o desenvolvimento do indivíduo, perpassando inclusive os processos de mudanças na dentição mista. 34 Frazão 44 concebeu como um dos pressupostos fundamentais em seu trabalho a formação, maturação e o desgaste da dentição decídua e da dentição permanente, passando pela dentição mista, como partes de um mesmo continuum. As características oclusais observadas tanto na dentição decídua quanto na permanente fazem parte de um mesmo processo referido ao crescimento e desenvolvimento dos ossos maxilares e a formação da oclusão. Em um estudo realizado por Kharbanda e colaboradores57 acerca dos condicionantes associados com o desenvolvimento das oclusopatias em crianças dos 5 aos 7 anos de idade, três fatores contribuíram significativamente para a ocorrência de oclusopatias: ausência de espaço, efeito dos hábitos, eliminação de interferências cuspídeas na dentição decídua, ocasionada pela mastigação de alimentos mais sólidos, por exemplo. A perda dentária é uma condição muito significativa, pois altera todo o sistema estomatognático devido à destruição de parte do esqueleto facial, alterando a morfologia e neuromusculatura, o que dificulta a realização das funções de deglutição, mastigação, fala e a própria adaptação às próteses 8,45. Essa perda dentária pode ser provocada por fatores hereditários, por fatores patológicos, por traumas e pela falta de higiene bucal. Fields42, afirmou que a perda precoce dos primeiros molares decíduos pode acarretar em deslocamento dos segundos molares decíduos no sentido mesial. Da mesma forma, se os segundos molares decíduos são perdidos antes da erupção dos primeiros molares permanentes, é muito difícil evitar o movimento no sentido mesial destes dentes, o que acarretaria numa diminuição do espaço presente. Normando e colaboradores76, avaliaram a influência da perda dos primeiros molares inferiores permanentes no desenvolvimento de oclusopatias na dentição permanente. Foram examinados 387 indivíduos na faixa etária de 10 anos e 2 meses a 22 anos e 7 meses pertencentes à rede pública do município de Belém. Os resultados mostraram que a perda uni ou bilateral produziram as mesmas alterações dentárias, tais como desvio de linha média do arco inferior, relação de canino classe II e aumento de diastema na região ântero- posterior. Outras pesquisas avaliaram diversos fatores de risco no desenvolvimento das oclusopatias e, apesar de não examinarem especificamente a relação entre os problemas 35 oclusais nas diversas fases da dentição, apresentam dados brutos consistentes que foram utilizados neste trabalho como variáveis independentes do estudo. Uma das hipóteses a serem consideradas referem-se às diferenças de gênero, origem étnica e idade como fatores de risco no desenvolvimento das oclusopatias. Sob este aspecto, estudos apontam que gênero e diferenças étnicas não influenciaram na distribuição das oclusopatias, ao contrário da idade que exerceu papel importante na severidade da doença. 44, 69. No que se refere à origem étnica, estudos se contrapõem ao exposto. Infante52 verificou a prevalência de oclusopatias em 735 crianças entre 2,5 a 6 anos de idade, de diferentes origens étnicas. Crianças brancas apresentaram uma prevalência maior de classe II (19,1%) e de mordida cruzada posterior (7,1%) quando comparada com as crianças negras (4,3% e 2,1% respectivamente) e índias Apache (2,7 e 5,3% respectivamente). Por outro lado, as crianças negras apresentaram maior prevalência de classe III (7,1%) do que as crianças brancas (1,0%). Um maiornúmero de crianças com mordida cruzada anterior foi observado entre as crianças índias Apache (24,0%). Outro aspecto relativo aos fatores de risco para as oclusopatias é o ambiente, que na maioria dos estudos são representados pelo tipo de escola – pública e privada. Essa variável normalmente é utilizada considerando que os indivíduos que freqüentam escolas privadas possuem uma condição sócio-econômica mais favorecida em relação aos demais e, portanto, seria considerada uma fator de proteção evitando o desenvolvimento das desordens oclusais. No entanto, os achados da literatura apontam que tipo escolar não afeta a distribuição das oclusopatias nas três dentições 44, 69,17. A influência do nível socioeconômico, analisado segundo tipo de escola, sobre a prevalência de oclusopatias foi estudada na cidade de Bauru, SP, em 2416 crianças entre 7 e 11 anos de idade. Os autores verificaram que a proporção de crianças com má oclusão do tipo I de Angle foi maior entre as do nível socioeconômico baixo do que entre as de nível socioeconômico médiobaixo. No que ser refere às oclusopatias do tipo classe II e III de Angle, nenhuma diferença foi encontrada103. Ainda sob a ótica das condições sócio-econômicas, o impacto destas sobre algumas doenças bucais, como a prevalência e severidade da cárie dentária e das periodontopatias tem sido estudado, atribuindo-se à desigualdade social a determinação destes problemas83. 36 No entanto, a relação entre fatores sócio-econômicos e oclusopatias é objeto de investigação bastante escasso, cujos resultados não apresentaram, até hoje, respostas conclusivas. Infante52, analisando a oclusão de 680 crianças brancas entre 2,5 e 6 anos de idade nos Estados Unidos (EUA), entre 1969 e 1970, verificou diferentes prevalências de oclusopatias conforme a situação socioeconômica da população estudada. Em oposição, Tomita113 e Martins67 não encontraram associação estatisticamente significativa entre o nível socioeconômico e a presença de oclusopatias. Ao se verificar necessidade de tratamento ortodôntico e nível sócio-econômico, Tickle, Kay e Bearn112 observaram que o nível sócio econômico afeta a necessidade de tratamento ortodôntico, ainda que por mecanismos ainda não definidos, assim como também afeta a auto-percepção37 de necessidade de tratamento. Uma outra relação observada na literatura é a questão sócio-econômica e a presença de hábitos, onde crianças da classe social menos favorecida apresentaram maior prevalência de hábitos bucais deletérios e três vezes mais chances de adquirir o hábito de sucção de chupeta 66, 99. Em se tratando de hábitos bucais deletérios, os estudos apontam os mesmos como fatores que alteram a probabilidade de ocorrência das oclusopatias? Em relação aos hábitos bucais deletérios, principalmente a sucção de chupetas, deve se considerar que não é uma prática moderna. Segundo Gorelick46 existem registros da época de 100 anos antes de Cristo destes artifícios, feitos em argila, junto a sepulturas de crianças romanas. Acredita-se que a chupeta atual tenha sido precedida pelo “bico de açúcar”, apetrechos feitos de retalhos de fazenda ou “chamois” recheados de migalhas de pão e amarrados para mimetizar o mamilo materno. Estes eram introduzidos na boca da criança quando ela chorava. As práticas descritas mostram fortes relações estabelecidas entre a criança e a necessidade de sugar, assim como o uso de artifícios para acalmar o choro da criança. Isto pode explicar os motivos pelos quais, atualmente, o uso da chupeta por crianças é visto como natural e comum na sociedade. 37 “Hábito é a tendência de comportar-se de uma maneira fixa sob certas circunstâncias. O hábito representa uma cristalização de uma preferência de responder a uma determinada situação”. Zardeto126 A relação entre o hábito de sucção de chupeta e os danos aos arcos dentais foi investigada e inúmeros são os relatos de oclusopatias associadas a hábitos bucais nocivos 86, 51, 99, 39, 96, 114, 33, 22,56. Alguns autores descrevem que se o hábito for interrompido até os 2-3 anos de idade, não ocorrerão danos à oclusão 70, 13, 108, 114. Popovich90 avaliou a prevalência de hábitos de sucção e sua relação com as oclusopatias em crianças nas diversas faixas etárias (3, 6, 8, 10, 12 anos). O autor verificou que a prevalência de hábitos de sucção diminui com a idade e que as crianças que cessaram o hábito antes dos 6 anos de idade apresentaram prevalência de oclusopatia semelhante àquelas que nunca tiveram nenhum tipo de hábito de sucção. A relação entre hábito de sucção e tipo de aleitamento também é bastante discutida na literatura. Larsson 61 encontrou uma correlação significativa entre o aleitamento materno e o hábito de sugar chupeta. Das crianças que mantiveram o hábito de sugar chupeta até 4 anos de idade, 97% nunca receberam aleitamento materno ou o receberam por menos de 6 meses. Em conformidade com os achados de Larsson61, outros estudos atribuem um fator protetor do aleitamento materno, evitando o surgimento de hábitos bucais deletérios 81,99. No entanto, a despeito do papel benéfico do aleitamento materno, não é consenso da literatura a relação entre hábito de sucção e tipo de aleitamento. Sobre este aspecto, Ravn94, 95 investigou a prevalência de hábitos de sucção de dedo e chupeta em crianças de 03 anos de idade na cidade de Copenhague. O autor observou que 85% das crianças investigadas apresentavam ou tinha história de hábito de sucção; sendo que 47,1% apresentavam hábito de sucção de chupeta aos 03 anos de idade. Foi verificado que os meninos terminavam o hábito de sucção antes das meninas e que o tipo de aleitamento não teve influência nos hábitos de sucção. Corroborando os achados de Ravn95, Zardik e colaboradores127 conduziram um estudo com o objetivo de verificar a prevalência de hábito de sucção de dedo ou de chupeta 38 em crianças na faixa etária de 0 a 7 anos e relacionaram a fatores como idade, sexo e duração do aleitamento materno nessas crianças. Os autores constataram que a prevalência de hábitos de sucção de chupeta ou digital diminuíam com a idade e que não houve correlação entre o tempo de aleitamento materno e o hábito de sucção não nutritivo. Do exposto, pode-se concluir que mais estudos devem ser realizados para esclarecer melhor a relação entre tipo e duração do aleitamento materno e desenvolvimento de oclusopatias. Nas últimas décadas, o aleitamento materno tem sido encorajado em todas as partes do mundo, devido aos inúmeros benefícios que este ato proporciona ao crescimento e desenvolvimento das crianças83. Estudos têm demonstrado que a amamentação natural promove o bom desenvolvimento dos maxilares, fortificando os músculos envolvidos no processo de sucção do leite materno. Além disso, o formato da aréola do seio materno adapta-se ao formato interno da cavidade bucal, permitindo um perfeito selamento bucal 38,35. O posicionamento do lábio inferior e da língua ao apreender o seio materno, desenvolve um hábito de deglutição fisiológico, solidificando este padrão de deglutição na vida adulta. Na utilização da mamadeira, o fluxo de leite ocorre em um volume e velocidade maior, fazendo com que a criança posicione a língua no sentido de controlar este fluxo, passando a projetá-la para frente, podendo, desta forma, desenvolver o hábito de deglutição não fisiológica ou deglutição atípica 35,117. Labbok e Hendershot 58 verificaram, através de uma coorte retrospectiva com 9698 crianças entre 3 e 17 anos de idade, que, entre aquelas que foram amamentadas no seio materno num período de 3 meses ou menos, a prevalência de oclusopatias foi igual a 32,5%, enquanto que entre as crianças cuja amamentação natural foi maior do que 12 meses, a prevalência de oclusopatias foi igual a 15,9%. Crianças que utilizaram mamadeira tiveram 1,84 vezes a chance de desenvolverem algum problema oclusal quando comparadas com aquelasamamentadas naturalmente. Outros estudos mostraram que a amamentação natural previne a ocorrência de hábitos bucais deletérios, diminuindo a incidência de alterações dentárias 41,96. Karjalainen e colaboradores55 avaliaram a prevalência de oclusopatia e sua relação com a duração do aleitamento e a presença de hábitos de sucção não nutritivos em crianças 39 na fase de dentição decídua na Finlândia. Os autores sugeriram que a introdução de uma alimentação artificial precocemente leva a um padrão muscular de baixo impacto (flacidez), interferência no crescimento do arco dentário que podem levar a uma mordida cruzada posterior. Lescano, Varela62, avaliaram a relação entre o tipo de amamentação e a presença de oclusopatias em crianças de 5 anos. Os resultados mostraram que as crianças amamentadas exclusivamente com leite materno apresentaram maior percentual de oclusão normal (69,1%). Em uma coorte de nascidos vivos, no município de Pelotas/RS, Peres 83, verificou que o aleitamento materno exclusivo quando era realizado por menos de quatro meses, as crianças apresentavam 3 vezes mais chances de desenvolverem mordida aberta anterior. Apesar da amamentação ter sido sugerida como um fator de proteção às oclusopatias, nem todos os estudos caminham para esta direção. Ogaard, Larsson e Lindsten77, verificaram que o tipo de aleitamento, natural ou artificial, através de mamadeira, não teve influência no desenvolvimento de mordida cruzada posterior, num estudo transversal realizado com 445 crianças suecas e norueguesas de três anos de idade. Nesse sentido, Wainio, Varrela e Alanen 119 não conseguiram esclarecer a relação entre o tempo de amamentação e a presença de oclusopatias na dentição decídua através de um estudo transversal realizado com 509 crianças em Turku, Finlândia. Além dos fatores sócio-econômicos, características raciais, idade, sexo, presença de hábitos e tipo de aleitamento, outras variáveis têm sido implicadas no desenvolvimento das oclusopatias tais como: fatores genéticos, padrão de crescimento facial e cárie dentária. Em relação a esta última variável, o papel da cárie dentária na etiologia das oclusopatias têm sido investigado através de dois caminhos: o efeito da baixa prevalência de cárie em áreas com flúor sobre a freqüência de oclusão normal, e a existência ou não de correlação entre perdas dentárias por cárie e oclusopatias 44. Bem-Bassat, Harari e Brin 10 encontraram diferenças estatisticamente significativas quando comparadas às prevalências de oclusopatias em grupos de crianças com (n= 234) e sem (n=703) cárie dentária de 6 a 13 anos de idade, em uma comunidade ortodoxa judaica Askenazi. 40 Frazão44, ao analisar os dados relativos às condições bucais das crianças de 5 e 12 anos de idade do município de São Paulo, verificou que a proporção de problemas oclusais mais severos é cerca de 1,5 vezes maior na população com ataque de cárie dentária acima das metas da OMS para o ano 2000, independente da dentição avaliada. Nenhuma diferença estatisticamente significativa entre cárie dentária e oclusopatias, foi encontrada no estudo de Nieto Garcia e colaboradores75. Por outro lado, Bortoluzzi12 encontrou associação estatisticamente significativa com relação à prevalência de cárie dentária e oclusopatias, em um estudo transversal realizado em 253 escolares de 6 anos de idade, em Santa Catarina. Em outros estudos, a cárie dentária tem sido associada à presença de oclusopatias na dentição permanente 5, 1, 84, porém a relação entre estes dois problemas não está bem estabelecida no que se refere à dentição decídua ou mista. Dessa forma, pode-se inferir que as investigações científicas divulgadas pela literatura até essa época não produziram um conjunto de informações que permitisse assegurar de forma consistente o papel da cárie dentária no desenvolvimento das oclusopatias 44. No que se refere ao crescimento e desenvolvimento facial, citado anteriormente, qual seria o seu papel no surgimento das oclusopatias? Crescimento refere-se ao acréscimo de tamanho e/ou número, enquanto que desenvolvimento implica num acréscimo de complexidade. Em outras palavras, crescimento é um fenômeno anatômico, enquanto que desenvolvimento é fisiológico83. De acordo com Araújo3 , o crescimento ocorre desde o nascimento até a maturidade (estabilização do estágio adulto, atingido através do crescimento e desenvolvimento) em zonas distais, em diferentes graus, através de surtos e apresentando certo ritmo. Já o desenvolvimento, para Moyers73 pode ser definido como toda a série de eventos em seqüência normal entre a fertilização do ovo e o estado adulto. No desenvolvimento crânio facial, Bianchini11 e Araújo3 creditam esses fatos às mudanças estruturais, através das quais os tecidos vão se diferenciando até atingir as características somáticas e funcionais da espécie. Ademais, deve-se lembrar que o crescimento e desenvolvimento craniofacial são susceptíveis a algumas variáveis, tais como: nutrição, doenças, etnia, fatores sócio- 41 econômicos e hereditários e alterações funcionais. Além desses fatores, também o sexo irá determinar algumas distinções, uma vez que o sexo feminino atinge sua forma facial adulta mais precocemente do que o sexo masculino3 Estudos sugerem um aumento no número de crianças com mau posicionamento dos dentes nos últimos 150 anos, principalmente em civilizações que alcançaram rápido avanço tecnológico. Antes disso, num período anterior de aproximadamente 6000 anos, estas alterações nas arcadas dentárias manifestavam-se modestamente20. Pesquisadores sugerem que as alterações ocorridas no esqueleto podem ter sido compensadas por movimentos dentais e que os problemas oclusais observados em maior grau nas novas gerações são atribuídos, provavelmente, aos fatores ambientais como o padrão atual da dieta ocidental, perda precoce de dentes decíduos, distúrbios endócrinos, lesões pré-natais, problemas respiratórios, hábitos bucais e trauma 30, 29, 60. A variação da forma do esqueleto craniofacial, dentro da normalidade, origina os diversos tipos faciais - longo, médio e curto - cujas características musculares e funcionais são peculiares. O mesofacial é caracterizado por um padrão facial médio, os terços da face estão equilibrados, e normalmente o arco dentário é oval e mediano 20. O braquifacial, ou face curta é caracterizado por um padrão de crescimento facial horizontal, altura facial inferior diminuída (mordida profunda), ângulo mandibular (goníaco) diminuído, base posterior do crânio mais longa e arco dentário alargado com possíveis diastemas20. O dolicofacial, ou face longa é caracterizado por um padrão de crescimento vertical, altura facial inferior aumentada com provável mordida aberta esquelética, com o terço inferior mais longo o que dificulta muito a oclusão labial e mesmo o posicionamento da língua que fica muito distante do palato duro. O ângulo mandibular (goníaco) apresenta-se aberto, a base posterior do crânio mais curta e arco dentário longo e estreito. Arco maxilar e palato duro mais longo, mais estreito e profundo são características marcantes18. Achados da literatura apontam a associação entre oclusopatias e o tipo dolicofacial, pois este possui um padrão de crescimento que favorece a instalação de deformidades tais como: mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior, sobressaliência, principalmente quando hábitos bucais deletérios estão presentes18. 42 Katz56, em estudo com pré-escolares da rede municipal de ensino do Recife/PE, não encontrou relação entre o efeito deletério do hábito e a tipologia facial em crianças na fase de dentição decídua. Dessa forma, mais estudos são necessários para esclarecer esta relação. No que se refere aos fatores genéticos, pesquisas sobre a etiologia dos problemas oclusais têm abordado, principalmente, a influência desses fatores genéticos como agentes causadores das oclusopatias83.“... a interação entre os fatores genéticos e os fatores ambientais inicia-se na concepção e continua até o final da vida. Durante a vida fetal, a inter-relação entre os componentes genéticos e os fatores ambientais é limitada. Até a vida adulta, a interação entre os fatores genéticos e os fatores ambientais guia e controla o processo de crescimento e desenvolvimento e determina as características morfológicas e fisiológicas dos indivíduos. Porém, existe adequada evidência de que os fatores genéticos são os responsáveis pelo controle de muitas das condições desenvolvidas...” VAN DER LINDEN 116 Comparando dez diferentes características oclusais em 358 pares de gêmeos mono e dizigotos, Corrucini e colaboradores29, verificaram uma variabilidade genética não significativa com relação a características oclusais como sobressaliência positiva sobremordida, relação molar, mordida cruzada e mau posicionamento dentário em dentes anteriores. A hereditariedade estimada para os fatores genéticos foi baixa, enfatizando a importância da influência de fatores comportamentais na variação oclusal. Outros estudos mostram uma chance maior de ocorrência de problemas oclusais entre familiares do que na população em geral 63, 23. Porém, é preciso evidenciar que 43 membros de uma mesma família compartilham de mesmos hábitos comportamentais, o que levaria a questionar a forte atribuição etiológica aos fatores genéticos, para o estabelecimento das oclusopatias28. Além disso, se as questões genéticas têm papel determinante na presença das oclusopatias, então se tornam extremamente limitadas às intervenções preventivas com relação a estes problemas. Por outro lado, se os fatores comportamentais durante a infância influenciam o desenvolvimento das arcadas dentárias e o adequado posicionamento dos dentes, então medidas de prevenção precoce podem contribuir para o estabelecimento de uma oclusão satisfatória. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Estimar a prevalência de oclusopatias nas dentições decídua, mista e permanente, em pré-escolares e escolares da cidade de Natal. 3.2 Objetivos Específicos Verificar se há diferenças na prevalência de oclusopatias nas dentições decídua, mista e permanente; Tipificar as oclusopatias para cada dentição; Estimar a prevalência dos principais fatores de risco das oclusopatias nas dentições decídua, mista e permanente; Identificar os fatores de risco das oclusopatias comuns às dentições decídua, mista e permanente; Comparar os resultados de prevalência de oclusopatias nas três dentições obtidos a partir dos critérios determinados nesse estudo com aqueles obtidos através dos índices dai (índice de estética dental) e iotn (índice de necessidade de tratamento ortodôntico), utilizados na dentição mista e permanente, e o da oms utilizado para a dentição decídua. Identificar a associação entre as oclusopatias e os fatores de risco, principalmente, dos passíveis de intervenção nos serviços de saúde de atenção primária. 45 METODOLOGIA Este capítulo descreve o percurso metodológico utilizado nesta pesquisa, iniciando- se primeiramente com a descrição do local da pesquisa, natureza do estudo, seguindo-se das considerações éticas, detalhamento dos métodos adotados, bem como as técnicas estatísticas utilizadas para análise dos dados. 4.1 Local da pesquisa A pesquisa foi realizada no município de natal, capital do Rio Grande do Norte (rn), no período de março de 2004 a janeiro de 2005. O município possui uma área territorial de aproximadamente 170 km2 e uma população de 712.317 habitantes53, distribuída em 36 bairros que formam as 04 zonas administrativas em que a cidade é divida (figura 1). Possui uma taxa de alfabetização de 88,7% e um índice de desenvolvimento humano (idhm) de 0,787, ocupando a 4ª posição entre as capitais do nordeste 53 . 46 FIGURA 1: REGIÕES ADMINISTRATIVAS DA CIDADE DE NATAL/RN. 2005 FONTE: SEMPLA98,2005. 47 4.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO Os estudos transversais têm sido utilizados na investigação de problemas de saúde pública com os mais variados propósitos, desde administrativos até analíticos. De um modo geral, a aplicação mais comum desse tipo de estudo está ligada ao conhecimento da distribuição de uma ou mais variáveis, individuais ou coletivas, em uma determinada população68. Uma outra utilidade para este tipo de estudo é a possibilidade de se verificar associações de freqüência, ou estatísticas, entre pelo menos dois eventos classificados como doença (agravo) e exposição (suposta causa), na amostra estudada. Os estudos transversais podem compor outro tipo de estudo denominado de híbrido, tais como: estudos de prevalência em coorte, prevalência seletivo, seguimento seccional e estudo de painéis repetidos. Com base nos objetivos propostos e, de acordo com o exposto, foi conduzido um estudo do tipo transversal, sendo este realizado nas diversas fases do desenvolvimento da dentição e, portanto, permitindo verificar a prevalência de oclusopatias, bem como as principais variáveis que podem interferir para o surgimento destas nas dentições decídua, mista e permanente. 4.3 Considerações éticas Inicialmente o projeto, bem como estudo piloto, foram submetidos a apreciação pelo comitê de ética em pesquisa da universidade federal do rio grande do norte (ufrn) e foi aprovado sob nº 91/04. Deve-se ressaltar que foi explicado aos sujeitos dessa pesquisa o objetivo do projeto e, em seguida, um termo de consentimento livre e esclarecido -tcle (anexo a e b) foi assinado pelos mesmos. Portanto, apenas aqueles que concordaram, participaram dos exames e questionários propostos. 48 4.4 Estudo piloto Foi realizado um estudo piloto, devido à inexistência de estudos na cidade do natal/rn que abordassem as oclusopatias nas diversas fases da dentição, com o objetivo de determinar a amostra a ser incluída nesta pesquisa. Para tanto foram sorteadas seis escolas, a partir da lista das escolas fornecida pela secretaria de educação, com crianças nas idades de 5, 8 e 12 anos. O número total de crianças examinadas por dentição foi 30, pois esse permitiu a dispersão dos dados. Previamente ao estudo piloto foi realizado a calibração dos dois examinadores. Foi utilizado o teste kappa, para medir a reprodutibilidade diagnóstica dos examinadores. O valor obtido foi de 0,866 que, segundo landis e koch, 59, representa uma ótima concordância. Durante o exame clínico foi observada, somente, a presença/ausência de oclusopatias, baseando-se nas características de normalidade da dentição. Os pacientes que apresentavam quaisquer desvios da normalidade eram considerados como portadores de oclusopatias. Os resultados deste estudo revelaram uma prevalência de 72,7% para a dentição decídua, 80% para a dentição mista e 76%, para permanente. 4.5 População do estudo As unidades amostrais primárias foram sorteadas a partir de um cadastro de 2004 dos estabelecimentos de ensino, registrados na secretaria de educação do estado do rio grande do norte. Previamente, foi realizada a exclusão de 31 estabelecimentos, pois estes eram especializados em crianças portadoras de algum tipo de deficiência, ou não possuíam a faixa etária de interesse, restando 344 unidades. Participaram na condição de unidades amostrais, estabelecimentos de ensino de todas as 04 regiões da cidade. Nessas unidades foram obtidos elementos amostrais nas idades de 5, 8 e 12 anos de ambos os sexos. 49 Na literatura87 indica-se o estabelecimento de um número (entre 20 e 30) que permita uma certa dispersão dessas unidades com a obtenção de um número razoável de elementos amostrais em cada uma delas. Em nosso estudo foi utilizado um número de 20 uap (anexo c), identificados pela técnica de sorteio ponderado (grandeza utilizada = número de alunos da escola). O tamanho da amostra foi calculado para cada faixa etária correspondente aos três tipos de dentição (decídua,
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