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Revista-Estudos-Lingsticos-XXXVI-1--2007--MARTINS-M-A

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MARTINS, Marco Antonio. Os traços formais dos pronomes pessoais nas construções de indeterminação no português do Brasil. Estudos Lingüísticos (São Paulo), 
v. XXXVI, p. 171-180, 2007. 
Os traços formais dos pronomes pessoais nas construções de 
indeterminação no português do Brasil 
Marco Antonio Martins1 
1 Centro de Comunicação e Expressão - Universidade Federal de Santa Catarina 
marcobarcellos@hotmail.com 
Abstract. By adopting the framework of the Minimalist Program (Chomsky 1998; 
1999), I propose a derivation for the indeterminate constructions with personal 
pronouns in Brazilian Portuguese, in order to map the formal features of those 
pronouns in structures such as “tu come beju em Floripa”. 
Keywords. Indetermination; subjects pronomes, derivation 
Resumo. Adotando os pressupostos do Programa Minimalista (Chomsky 1998; 
1999) proponho uma derivação para as construções de indeterminação com 
pronomes pessoais no PB a fim de mapear os traços formais destes pronomes em 
estruturas como “tu come beju em Floripa". 
Palavras-chave. Indeterminação; pronomes sujeitos; derivação 
1. Considerações Iniciais1 
 Muitos estudos acerca da expressão da indeterminação do sujeito no português do 
Brasil (PB) têm evidenciado o fato de que as construções com a realização lexical de um 
pronome pessoal constituem um dos recursos mais utilizados nessa língua. Meu principal 
objetivo neste texto é propor uma análise derivacional das construções de indeterminação 
com pronomes pessoais no PB a fim de mapear os traços formais destes pronomes nestas 
construções. 
 Observa-se em (1) 2 que as estruturas de indeterminação com pronomes pessoais no 
PB em determinados contextos como aqueles que relatam procedimentos, por exemplo, 
parecem exigir a concordância do verbo sempre em terceira pessoa do singular, o que 
licenciaria nessa língua (2) como uma sentença ótima para se expressar a indeterminação 
em detrimento daquela exemplificada em (3). Buscaremos neste estudo elucidar essa 
questão. 
 
(1) Tu pode pegar um peixe, por exemplo,tu pega a Corvina, tá? Tem que limpar e 
preparar em postas, ta? Depois tu pega esse peixe, tu salga ele. Frita todo. 
Depois dele frito, tu pega cebola de cabeça, tomate, tomate, um pouquinho de 
alho, um pouquinho de pimentinha do reino amassadinha, né? Assim em pó, um 
pouquinho de sal e faz um molho bem grosso. Depois que esse molho estiver 
fervendo, tu põe aquele peixe ali pra ele dar uma fervida. Daí, tá uma Corvina 
ensopada
(2) Tu pega a Corvina 
(3) ? Tu pegas a Corvina. 
 
O texto vem assim dividido: na segunda seção faremos uma breve revisão de alguns 
estudos acerca da expressão da indeterminação no PB. Na terceira seção propomos uma 
derivação dessas construções seguida da hipótese de que os pronomes pessoais nestas 
construções se diferenciam dos demais pronomes pessoais nessa língua por possuir traços-
Φ especificados como terceira pessoa do singular. Para concluir, sumarizaremos na quarta 
seção algumas considerações finais. 
2. As Construções de Indeterminação com Pronomes Pessoais no PB: os dados 
 Estudos como os de Milanez (1982), Duarte (2003), Martins MA (2005) e Menon 
(2006), entre outros, apontam para o fato de que o uso de construções com a realização 
lexical de um pronome pessoal constitui o recurso de indeterminação mais utilizado no PB. 
O estudo de Milanez (1982) descreve os recursos de indeterminação do sujeito no 
Português oral numa amostra do corpus do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma 
Urbana Culta). Das 1058 expressões indeterminadoras encontradas por Milanez, 
exemplificadas em (4) e (5), a seguir, 62% são com sujeito lexical, de modo que dessas a 
maioria é constituída de expressões com pronomes pessoais (op. cit. p. 53) 3. Milanez 
aponta, ainda, uma especificidade semântica característica dos pronomes pessoais nas 
estruturas de indeterminação que é a importância do contexto para a interpretação de tais 
formas. 
Duarte (2003) apresenta um estudo quantitativo acerca das construções existenciais 
centrado nas prerrogativas do parâmetro pro-drop proposto pela teoria de Princípios e 
Parâmetros. Os resultados obtidos por Duarte apontam para uma forte tendência, ainda, de a 
posição à esquerda do Verbo em construções existenciais com os verbos ter, haver e ver 
não vir lexicalmente preenchida (i.e. são construções com EXPL NULO). A autora encontra, 
no entanto, uma média de 25% de preenchimento nesta posição, fato este que, nas palavras 
da autora, não deve ser desprezado. Dentre os recursos que o sistema está lançando mão 
para preencher tal posição (op. cit. p. 5), o uso de um pronome pessoal se mostra uma 
importante estratégia nas construções existenciais, conforme (6) e (7), a seguir. 
 
(4) A caipirinha a gente prepara com limão galego. 
(5) Com o extrato que o banco manda, volta e meia a gente é surpreendido por 
algum engano. (MILANEZ 1982) 
(6) Não é como o Rio de Janeiro, que você em cada esquina você tem um bar pra 
você lanchar. 
(7) Você não tem um programa educativo bom. (DUARTE 2003) 
 
 Martins (2005) apresenta um estudo sintático-variacionista acerca de algumas 
construções de indeterminação no PB a partir de uma amostra extraída do bando de dados 
do projeto VARSUL (Variação Lingüística na Região Sul). Dentre os recursos para se 
expressar a indeterminação no PB, o autor toma em sua análise as construções transitivas 
de terceira pessoa do singular ora com o clítico se (enclítico ou proclítico) e ora com a 
realização (ou não) de um pronome pessoal. De acordo com os resultados de Martins, cuja 
análise considerou as estruturas transitivas Verbo + SE (enclítico ou proclítico) como 
construções com se e as estruturas com a realização de um pronome pessoal como 
construções sem se, dos 366 dados, 285 (78%) são de construções sem se, o que inclui 
aquelas construções com um pronome pessoal, contra 81 sentenças (22%) das demais 
construções. 
 Menon (2006) num estudo comparativo da expressão da indeterminação no PB entre 
amostras extraídas do projeto NURC e do projeto VARSUL conclui, também, que a 
indeterminação cobre um espectro de recursos e que dentre estes o uso dos pronomes 
pessoais tem um papel de destaque. 
 
(8) Naquele tempo a gente usava baú. Então quando a gente queria descobrir quem 
era bruxa. A gente deixava um tantinho de fora duma roupa Você não tem um 
programa educativo bom. 
(9) Na casa e em volta, assim, como se fosse o que? [uma]- uma sacada, [uma]- 
uma área, como se fosse uma área coberta, assim, que dava para o mar. Ali a 
gente tinha mesinhas, a gente sentava. (MARTINS 2005) 
(10) A gente não tem culpa daquilo que nos enfiaram na cabeça... à força... 
 (MENON 2006) 
 
 No rol dos estudos e dos dados apresentados, sistematizamos duas (grandes) 
questões que nortearam a análise proposta na seção subseqüente: 
 
(i) Quais os traços formais dos pronomes pessoais nas construções de 
indeterminação do sujeito no PB? 
(ii) Os traços formais dos pronomes pessoais nas estruturas de 
indeterminação, como exemplificam (4) - (10), são os mesmos 
compartilhados pelos pronomes pessoais nas demais estruturas nessa 
língua? 
3. Análise 
 Em primeiro lugar assumimos aqui a configuração geral do Programa Minimalista 
(Chomsky 1995, 1998, 1999), segundo a qual o componente sintático da Faculdade humana 
da Linguagem FL possui um sistema computacional gerativo CHL que faz interface com 
dois sistemas interpretativos: um Sistema Articulatório-Perceptual (A-P) e um Sistema 
Conceitual-Intencional (C-I). Dadas as “imperfeições” impostas por estes sistemas de 
interface, depreendidas a partir do fato de atribuirmos interpretação a elementos deslocados 
e das especificidades morfológicas das línguas naturais, o CHL parece ser um sistema 
perfeito, e independente dos demais sistemas cognitivos, capaz de gerar objetos legíveis 
que serão interpretáveis por C-I e A-P. Um dos grandes objetivos da teoria gerativa, nessesentido, é buscar explicações sobre o quão ótima é a FL enquanto capaz de responder às 
condições impostas pelos sistemas de interface. 
Com base na proposta de fases de Chomsky (1999), assumimos, ainda, que a 
derivação das estruturas de indeterminação com pronomes pessoais (cf. (11), a seguir) parte 
de Lexical Array LA1 e de LA2 especificados em (13). Cabe salientar que orientado por 
Princípios de Economia e pela possibilidade de topicalização em estruturas para expressão 
da indeterminação com pronomes pessoais nessa língua, conforme (12), consideramos que 
o pronome pessoal parte do segundo ciclo fásico da estrutura. 
No âmbito do quadro teórico com o qual trabalhamos, os Itens Lexicais IL são 
inseridos na sintaxe com feixes de traços interpretáveis, que são, de algum modo, legíveis 
pelos sistemas de interface A-P e C-I (tais como traços fonológicos, por exemplo, 
interpretáveis em PF, traços semânticos interpretáveis em LF) e de traços não-
interpretáveis, também denominados traços formais, quais são, traços-Φ (interpretáveis em 
nomes e não-interpretáveis em verbos ou adjetivos/particípios) e traço de Caso. O papel do 
CHL é saturar (valorar) os traços formais dos IL para que no rol das estruturas derivadas 
obtenham-se sentenças ótimas convergentes (i.e. interpretáveis pelos sistemas de interface) 
que satisfaçam, ainda, a algumas condições impostas pela arquitetura da FL. A derivação de 
objetos sintáticos é, nesse sentido, “guiada” por Princípios Gerais, tais como Economia (i.e. 
Condições que correspondem às características derivacionais da gramática4) e Ciclicidade, 
por exemplo. 
 
(11) Tu pega a Corvina [...] 
(12) A Corvina, tu pega [...] 
 
(13) LA 1 →{pega, a, Corvina, V*} 
LA 2 → {tu, C → T} 
 
A possibilidade de topicalização do complemento verbal numa estrutura como (12) 
parece ser uma evidência empírica de que o pronome pessoal nas estruturas de 
indeterminação no PB entra no CHL num segundo ciclo fásico da derivação. A 
gramaticalidade de (12) mostra que é o DP [A Corvina] que é movido para Spec de VP, 
para checar EPP em V em detrimento da concatenação do pronome tu (ver passos (iii), (iv) 
e (v) da derivação proposta, a seguir). Se não, o DP [A Corvina] ficaria invisível ao CHL, 
não podendo, desse modo, ser retirado dessa fase, em estruturas em que tal elemento é 
topicalizado, como (12), por exemplo. 
Apresentamos em (14), a seguir, os passos relevantes de uma proposta de derivação 
para as construções de indeterminação com pronomes pessoais no PB, mais 
especificamente daquela exemplificada em (11), a fim de mapear os traços formais destes 
pronomes nestas estruturas. 
 
(14) [C [tu pega [T [tu [a Corvina [V* [VP pega a Corvina]]]]]]] 
 
(i) O DP [a Corvina] faz seu primeiro merge com o verbo finito pega, processo no 
qual recebe o papel temático de argumento interno do núcleo verbal; 
(ii) V* é concatenado; 
(iii) V* possui traços não interpretáveis [traços-Φ] que devem ser valorados num 
próximo passo da derivação; V*, então, por ser uma sonda Φ-completo 
estabelece uma relação de concordância, através da operação Agree, com o DP 
[a Corvina]; conclui-se o primeiro estágio do primeiro ciclo fásico da estrutura 
(CONSTRUÇÃO); 
(iv) Devido ao fato de V* possuir um traço EPP, que deve ser satisfeito/checado nesta 
etapa da derivação, e de LA 1 estar já com os seus itens zerados, o DP [a 
Corvina] é então movido para Spec V*P; 
(v) Por meio da operação Agree, há a valoração dos traços-Φ de V* e, 
consequentemente, o traço de Caso do DP [a Corvina] é satisfeito/checado 
como Acusativo, num segundo estágio do primeiro ciclo fásico da derivação 
(AVALIAÇÃO)5; 
(vi) O pronome pessoal tu faz seu primeiro merge, processo no qual recebe papel 
temático do VP [pega a corvina]; 
(vii) O domínio de complemento de V* é, então, transferido; aplica-se Spell Out; 
concluindo, com o término do terceiro estágio da fase (TRANSFERÊNCIA), o 
primeiro ciclo fásico da estrutura; 
(viii) T é concatenado; 
(ix) T, uma sonda Φ-completo, por meio de Agree, estabelece uma relação de 
concordância com tu; conclui-se um primeiro estágio do segundo ciclo fásico da 
estrutura (CONTRUÇÃO); 
(x) Em função de algum traço verbal em T, que a gramática do PB parece 
apresentar, há o alçamento do verbo pega em adjunção para T; 
(xi) Há a valoração dos traços-Φ em T, e, consequentemente, o traço de Caso do 
pronome tu é satisfeito/checado como Nominativo – ver nota 5 – 
(AVALIAÇÃO); 
(xii) tu é, então, movido para a posição de especificador de T para checar o traço 
EPP, não interpretável em T; 
(xiii) C é concatenado; 
(xiv) Aplica-se Spell Out e o segundo ciclo fásico da estrutura é Transferido 
(TRANSFERÊNCIA). 
 
Segundo a proposta de Chomsky para o inglês (1995, p. 288), enquanto there é um 
expletivo puro com traços categorias [D] apenas, it, assim como o il no Francês, possui 
ainda traços-Φ [Pessoa] e traço de Caso valorável na sintaxe. De acordo com essa análise, 
na gramática do Inglês em sentenças com o expletivo there o verbo concorda com o DP 
associado, como exemplifica (15), enquanto nas sentenças com o expletivo it há a 
concordância do verbo com o expletivo e não com o DP associado, conforme (16)6. No 
bojo da proposta de Chomsky e da derivação proposta em (14), assumimos aqui que os 
pronomes pessoais nas estruturas de indeterminação possuem, assim como it no Inglês, 
traços-Φ [Terceira pessoa; singular] e traço de Caso, além dos seus traços categoriais [D]. 
 
(15) a. There seem to be three men in the room. 
b. * There seem to be a man in the room. 
(16) a. It is John and Mary that I want to see. 
b. * It are John and Mary that I want to see. 
 
Numa análise particularizada do pronome pessoal tu em dados de fala extraídos do 
banco de dados do Projeto Piloto Variação (Geo-Sócio) Lingüística em Florianópolis e do 
projeto VARSUL, exemplificados em (17) e (20), a seguir, respectivamente, observa-se que 
a marca morfológica do verbo nas construções de indeterminação no PB com pronomes 
pessoais tende a aparecer especificada sempre como [3ªpessoa, singular]. É importante 
salientar que dentre os dados de fala analisados em Martins (2005) com o pronome tu, 
especificamente, nas construções de indeterminação não há indícios de estruturas com 
marca morfológica especificada no verbo como [2ªpessoa, singular]. A relação de 
concordância com o verbo nas construções analisadas se estabelece sempre com os traços 
de [3ªpessoa, singular]. 
 
(17) Ah tá. Eu sei uma vitamina um pouquinho diferente assim. Essa vitamina tu 
pega beterraba, um pedacinho de beterraba [e]- você pega um pouquinho de 
Nescafé, assim uma colher [de]- sobremesa... Não! De sobremesa é de Nescafé e 
você põe um pouco de iogurte natural, joga também banana. tu bate. Fica uma 
cor bem roxa como se fosse algo de uva [e]- o gostinho do café vai dar um sabor 
especial a isso ai. Se tu jogar um leite condensado vai ficar melhor ainda. Se 
jogar um pouco de cachaça, aí pronto, aí vira uma batida bem diferente. 
(18) ? Tu bates [...] 
(19) ? Se tu jogares um leite condensado [...] 
(20) Falava-se muito, né? Em bruxa, Lobisomem. Naquele tempo a gente usava 
baú. Então, quando a gente queria descobrir quem era bruxa, tu deixava um 
tantinho de fora duma roupa, deixava uma pontinha pra fora do baú. E também 
quando ia alguém na casa da gente, que não queria ir embora, a gente varria a 
casa. 
(21) ? tu deixavas um tantinho de fora duma roupa 
 
 Como se observa em (18), (19) e (21), estruturas derivadas dos dados de fala 
analisados, as sentenças com a marca morfológica do verbo especificada como [2ªpessoa, 
singular] parecem não convergir em construções ótimas para expressar a indeterminação, 
ao menos nos dialetos que se observa ainda a presença do pronome pessoal tu no paradigma 
pronominal7. É importante observar, nesse sentido, que os traços formais dos pronomes 
pessoaisnas estruturas para expressar a indeterminação, como ilustra (17) e (20), parecem 
não ser os mesmos dos pronomes pessoais nas demais estruturas do PB. 
 
(22) ?[C [tu pegas [T [tu [a Corvina [V* [VP pegas a Corvina]]]]]]] 
 
 (22) apresenta uma derivação cuja marca morfológica do verbo finito da estrutura 
[2ªpessoa, singular] não concorda com os traços-Φ [3ªpessoa, singular] do pronome 
pessoal tu para expressar a indeterminação nessa língua. Em outras palavras, numa 
estrutura cujo verbo é morfologicamente marcado com [2ªpessoa, singular], o pronome 
pessoal tu parece não estar atrelado a uma estrutura que expresse a indeterminação no PB, 
como evidenciam (18), (19) e (21). 
4. Sumarizando (para concluir) 
Retomando os questionamentos elencados na segunda seção, e com base na análise 
proposta, buscaremos delinear, a título de conclusão, algumas considerações finais. 
 
(i) Quais os traços formais dos pronomes pessoais nas construções de 
indeterminação do sujeito no PB? 
 
No que tange às construções para expressão da indeterminação com pronomes 
pessoais no PB, observamos que os traços formais dos pronomes pessoais parecem ser 
aqueles sistematizados em (23), a seguir. 
 
(23) Traços categorias [D]; traços-Φ [3ªpessoa, singular] e traço de Caso 
 
 Valendo-nos dos resultados de Duarte (2003) em que o uso de um pronome pessoal 
se mostra uma importante estratégia na lexicalização do sujeito nas construções existenciais 
e, em especial, dos resultados de Martins (2005) em que construções de indeterminação 
com pronomes pessoais correspondem a 78% da expressão de indeterminação numa 
amostra de língua falada, podemos argumentar que tais estruturas estão atreladas a um 
processo de mudança no PB. Expliquemos. Formas com sujeito lexical (lexicalizados por 
pronomes pessoais) e formas sem sujeito lexical estão atreladas à expressão da 
indeterminação no PB. Nesse processo (de variação... de mudança...), parece haver uma 
especificação dos traços formais dos pronomes pessoais nas construções de indeterminação 
nessa língua8. 
 
(ii) Os traços formais dos pronomes pessoais nas estruturas de indeterminação 
são os mesmos compartilhados pelos pronomes pessoais nas demais 
estruturas nessa língua? 
 
 Um ponto que gostaríamos de reter nas considerações finais deste estudo, e que de 
certa forma delineia uma resposta para a questão exposta em (ii), é o fato de que as 
estruturas de indeterminação parecem convergir em sentenças ótimas no curso de uma 
derivação na gramática no PB apenas quando os traços-Φ em questão sãos especificados 
como [3ªpessoa, singular], diferentemente das demais construções com pronomes pessoais 
nesta língua. 
Notas 
 
1 Agradeço as contribuições por ora da apresentação de uma primeira versão deste trabalho 
na sessão Sintaxe I no 54ª Seminário do Gel em Araraquara. Agradeço, ainda, a Dra. Izete 
Lehmkuhl Coelho (UFSC) pela leitura e pelas valorosas contribuições. 
2 Dado de fala extraído do banco de dados Projeto Piloto Variação (Geo-Sócio) 
Lingüística em Florianópolis, desenvolvido por alunos e professores do programa de pós-
graduação da Universidade Federal de Santa Catarina. 
3 Segundo Milanez (1982, p. 53) a gente é o indeterminador mais utilizado pelos falantes da 
amostra analisada. 
4 Para mais detalhes acerca dos Princípios de Economia Derivacional, remeto ao capítulo 
10 de Hornstein; Nunes & Grohmann HNG (2005). 
 
5 Assumimos, dessa forma, conforme Chomsky (1998, 1999), que T e V* não possuem 
traços de Caso. De modo que no processo de valoração dos traços-Φ não-interpretáveis de 
uma sonda T, através da operação Agree, com os traços-Φ interpretáveis de um elemento 
nominal, o traço de Caso do alvo G é valorado com nominativo e no processo de valoração 
dos traços-Φ não-interpretáveis de V* com os traços-Φ interpretáveis de um elemento 
nominal, o traço de Caso do alvo G é valorado com acusativo. Com base nessa relação, a 
operação Agree entre uma sonda P e um alvo G não detona movimento sintático e o Caso 
estrutural dos elementos nominais é entendido enquanto reflexo dessa operação. 
6 Os julgamentos de (a)gramaticalidade são de Chomsky (1995, p. 286-7). 
7 Muitos estudos vêm mostrando que na região sul do Brasil há variação entre os pronomes 
pessoais de segunda pessoa tu e você, cujo uso, na maioria das vezes, é estilisticamente 
marcado. (ver Menon (2000), Loregian-Penkal (2004), entre outros). 
8 Abre-se o pressuposto então de que há dois ‘tu’, ‘você’, ‘a gente’ etc. na língua. Um “bem 
comportado” com seus traços referenciais de pessoa e outro default com traços de terceira 
pessoa, singular. Nossa intuição aqui é que no processo de mudança que as estruturas de 
indeterminação parecem atestar na gramática do PB, há uma especificação dos traços 
formais dos pronomes pessoais nessas construções. 
Referências 
CHOMSKY, Noam. Derivation by Phases. Cambridge; Mass: MIT Working Papers, 1999. 
_____ . Minimalist Inquiries. Cambridge; Mass: MIT Working Papers, 1998. 
_____ . The minimalist program. Cambridge. Mass: MIT Press, 1995. 
DUARTE, Maria Eugênia Lamoglia. O sujeito expletivo e as construções existenciais. In: 
Roncarati, C.; Abraçado, J. (orgs.). Português Brasileiro: contato lingüístico, 
heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, pp. 123-131, 2003. 
HORNSTEIN, Norbert; NUNES, Jairo; GROHMANN, Kleanthes K. Understanding 
Minimalism. Cambridge, 2005. 
LOREGIAN-PENKAL, L. Re(análise) da referência de segunda pessoa na fala da Região 
Sul. 2004. Tese (Doutorado em Lingüística) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 
MARTINS, Marco Antonio. Entre estrutura, variação e mudança: uma análise sincrônica 
das construções com se indeterminador no Português do Brasil. 2005. 126 f. Dissertação 
(Mestrado em Lingüística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 
MENON. Odete Pereira da Silva. A indeterminação do sujeito no Português do Brasil: 
NURC – SP e VARSUL. In: Vandresen, Paulino (org.). Variação, mudança e contato 
lingüístico no Português da Região Sul. Pelotas: EDUCAT, pp. 125-167, 2006. 
_____ Pronome de Segunda pessoa no Sul do Brasil: tu/você/ o senhor em Vinhas da Ira. 
Letras de Hoje, Porto Alegre, v.35, p.121-163, 2000. 
 
MILANEZ, Wânia. Recursos de indeterminação do Sujeito. 1982. Dissertação (Mestrado 
em Lingüística) – UNICAMP, Campinas.

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