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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO A ITU é definida pela presença de patógenos no trato urinário, que normalmente é estéril. É importante relembrar como é a divisão do trato urinário, para entender os locais de acometimento e os mecanismos fisiológicos que levam a ocorrência de uma ITU. - Baixo: compreende a bexiga e uretra. - Alto: compreende os rins e ureteres. As ITU podem ser divididas conforme a localização anatômica, a presença de complicações e a recorrência. Além disso, a ITU pode ser dividida em: ITU NÃO COMPLICADA: acomete indivíduos sem nenhum fator de risco, ou seja, é a infecção de uma mulher jovem, hígida, na pré-menopausa, não gestante e sem anormalidade do trato urinário. ITU COMPLICADA: é a infecção que acomete indivíduos idosos, homens, mulheres na pós-menopausa, gestante, criança ou aqueles com presença de anormalidade anatômicas ou funcionais. EPIDEMIOLOGIA Representam a principal infecção ambulatorial na pratica clínica. O tipo mais frequente é a cistite aguda da mulher jovem sem comorbidades. As mulheres são mais propensas a infecção urinária por razões anatômicas; Após a menopausa, mulheres e homens possuem a mesma proporção. FATORES DE RISCO Os fatores de risco para ITU complicada são aqueles que podem propiciar resistência bacteriana por formarem reservatórios de bactérias ou por prolongarem a estase urinária. Fatores que favorecem ITU em mulheres sexualmente ativas: • Maior proximidade uretra-ânus • Uretra mais curta • Ambiente periuretral mais úmido pela lubrificação vaginal • Uso de espermicidas • Relações sexuais frequentes • Parceiro sexual novo • Higiene íntima precária São fatores que predispõe a maior ocorrência de ITU por propiciarem a maior multiplicação de uropatógenos, seja por meio da redução da flora bacteriana vaginal natural ou por aumentar a migração de microrganismos do reto para uretra. A ocorrência de ITU em homens sempre se relaciona à presença de anormalidades anatomofuncionais (ou seja, é sempre uma ITU complicada)! FISIOPATOLOGIA A invasão do trato urinário por microrganismos ocorre quando patógenos da flora retal migram para a bexiga através da uretra. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Se eles permanecerem apenas no espaço vesical, temos a cistite aguda, que é a infecção do trato urinário baixo, ou seja, restrita a bexiga. Quando esses microrganismos migram através dos ureteres até o rim, causam a infecção do trato urinário alto, ou pielonefrite. A via ascendente é a principal via de contaminação do trato urinário alto. A via hematogenica, ou seja, quando uma bactéria está na corrente sanguínea e migra até o rim provocando infecção urinaria é menos comum, e em geral está associada a infecção por Staphylococus aureus. Os uropatógenos ganham o trato urinário por migração da flora retal ou podem ser provenientes da vagina, reto ou pênis do parceiro sexual. AGENTES ETIOLÓGICOS A E. coli é o principal agente etiológico de ITU em qualquer situação (comunitária e hospitalar)! Não importa se estamos falando acerca de cistite, pielonefrite, ITU na gestante ou qualquer outra situação: a E. coli é sempre o principal micro- organismo responsável pela ITU. Isso ocorre porque essas bactérias possuem fímbrias que favorecem a sua adesão ao epitélio do trato urinário, tanto da bexiga como, de maneira ascendente, até os rins! O segundo lugar varia de acordo com a localização da infecção – alta ou baixa: Obs: a presença de sintomas urinários como disúria, polaciúria, tenesmo e desconforto suprapúbico com leucocitúria discreta e urocultura estéril, leva-nos a pensar em uretrite por Chlamydia. O tratamento indicado para esses casos é de doxiciclina por 14 dias. DIAGNÓSTICO 1. EXAME DE URINA A urina é habitualmente estéril, ou seja, negativa para a presença de microrganismos. Para que um crescimento de bactérias signifique ITU, é preciso a coleta correta do exame de urina, que consiste na higienização local do trato urinário, seguida da orientação da coleta do jato médio da urina. Obs: o jato inicial deve ser desprezado para minimizar contaminação. Outro ponto ideal seria a coleta da primeira urina da manhã, pois ela conteria o maior número de patógenos, pelo tempo de estase. Quando não é o próprio paciente que coleta sua urina, a amostra pode ser coletada através da sondagem vesical de alivio ou de demora. Sendo que quando retiramos uma amostra de urina de um paciente com CVD, devemos repassar um novo, para evitar contaminação por algum germe colonizador da sonda previamente instalada COMO INTERPRETAR O EXAME DE URINA? Definimos ITU pelo crescimento de 105 unidades formadora de colônia por milímetro na urocultura. Temos uma particularidade quando a urina é coletada em cateter: 10^2 Leucocutúria/piúria: presença de leucócitos no exame de urina, principalmente neutrófilos. Os neutrófilos são células de defesa do organismo e sua presença infere também a presença de microrganismos que precisam ser combatidos. Não é uma exclusividade da ITU, a leucocitúria pode ocorrer em outras síndromes. Cilíndros leucocitários: formados por células leucocitárias polimorfonucleares. Estão presentes em situações de infecção urinária, nefrite intersticial aguda e, mais raramente, em glomerulopatias. Hematúria: significa presença de hemácias na urina. Também não é exclusiva da ITU. Esterase leucocitária: é uma enzima produzida por leucócitos degradados que reflete a presença destes no exame de urina. Nitrito: denota a presença de bactérias uropatogênicas que são capazes de converter o nitrato normalmente presente na urina em nitrito. Gram: ajuda a diferencias as bactérias gram positivas das gram negativas. Ajuda a guiar o tratamento antibiótico. CISTITE AGUDA A cistite corresponde a infecção do trato urinário baixo: bexiga e uretra. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 A cistite na maioria das vezes possui diagnostico clinico e é muito frequente na mulher jovem, sobretudo após o início da atividade sexual. Os sintomas típicos da cistite são: - Disúria: dor ou ardor ao urinar, em geral referida na uretra. - Polaciúria: aumento da frequência miccional. - Estrangúria: micção lenta e dolorosa, que pode ser referida como jato urinário gota a gota. - Urgência miccional: vontade súbita e incontrolável de urinar - Desconforto suprapúbico. DIAGNÓSTICO Em casos de mulheres hígidas, sem complicações, o diagnostico pode ser firmado apenas pela clínica (disúria + polaciúria), indicando tratamento empírico. Já em pacientes do sexo masculino com sintomas de cistite, a urocultura deve ser obrigatoriamente realizada. Se houver persistência de sintomas após a terapêutica inicial, indicamos a coleta de urocultura para identificar o patógeno especifico. TRATAMENTO NITROFURANTOÍNA e FOSFOMICINA constituem as primeiras opções para tratamento da cistite aguda não complicada. Outra ressalva no tratamento da cistite em gestantes refere-se à segurança da antibioticoterapia escolhida. Em princípio, cefalexina, amoxicilina (com ou sem clavulanato) e fosfomicina são opções seguras. A nitrofurantoína pode ser utilizada, porém preconiza-se evitar o uso no primeiro trimestre, Em homens, as cistites devem ser tratadas por 7-14 dias. Além disso, devemos evitar nesses pacientes nitrofurantoína e betalactâmicos, que penetram menos no tecido prostático (e muitas vezes a ITU em homens está associada a uma prostatite subclínica) CISTITE DE REPETIÇÃO DEFINIMOS COMO ITU DE REPETIÇÃO A PRESENÇA DE TRÊS OU MAIS INFECÇÕES EM UM ANO OU DUAS OU MAIS, EM SEIS MESES. Se houver “recorrência” de sintomas antes de 2 semanas, não considerecomo novo episódio infeccioso, mas sim, provável persistência do quadro. Na maioria dos casos de cistite de repetição, se os sintomas referidos forem típicos, não há necessidade de confirmação laboratorial. Nos casos de cistite de repetição clássica e sem sinais de alteração anatômica do trato urinário, não há necessidade de avaliação urológica ou exame de imagem. Indicação de avaliação por imagem: Isolamento por proteus em culturas previas associado a nefrolitiase; Histórico de litíase urinaria; Hematúria persistente. Definido o quadro de cistite de repetição, as primeiras medidas a serem tomadas não são antimicrobianas. São elas: - Modificações comportamentais e de higiene adequada; - Evitar espermicidas/diafragmas; 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 - Uso de cranberry via oral (muito discutido pela baixa evidência de melhora, porém seu baixo risco e reduzida incidência de efeitos colaterais tornam a opção viável); - Terapia estrogênica vaginal em mulheres pós- menopausa. A antibioticoprofilaxia (dose reduzida diária) por 3- 6 meses é uma opção eficaz, podendo ser prolongada até um ano. Uma ressalva que deve ser considerada é se os episódios de infecção têm associação com a atividade sexual. Se afirmativo, o uso do antibiótico deve ser administrado antes ou logo após o coito, também com bons resultados. PIELONEFRITE AGUDA É uma infecção aguda geralmente dos rins e pelve renal. A síndrome clássica de pielonefrite envolve alguns dias de dor progressiva nos flancos, fadiga, febre, prostração e náuseas com vômitos, geralmente precedida ou acompanhada de sintomas de cistite. No exame físico lembrar do sinal de Giordano. INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR Pacientes com sepse/choque séptico precisam de internação hospitalar; Febre persistente; Impossibilidade de tolerar ingestão via oral; Gestantes (!!!). Devemos solicitar urocultura para TODOS os pacientes; INDICAÇÕES DE EXAME DE IMAGEM NA PIELONEFRITE Gravidade clínica à admissão (sepse ou choque séptico); Ausência de melhora clínica após 48-72 horas de antibioticoterapia direcionada; Suspeita de obstrução urinária (redução de função renal e/ou oligúria) BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA É aquele paciente que não apresenta sintomas (compatíveis com infecção do trato urinário) e com urocultura positiva com crescimento de pelo menos 10^5 UFC. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Em mulheres é necessária confirmação do exame, com segunda amostra, dentro de até duas semanas. Em homens ou em amostras obtidas por cateter apenas uma amostra é suficiente. INDICAÇÕES DE TRATAMENTO NA BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA Gestantes (PRINCIPAL INDICAÇÃO, OBRIGATÓRIO SABER!). Devemos solicitar urocultura a partir de 12 a 16 semanas de gestação. A bacteriuria na gestante ocorre com maior facilidade, além de suscetibilizar a pielonefrite, parto prematuro, baixo peso ao nascer e mortalidade perinatal. Pré-operatório de cirurgia urológica (com risco de sangramento de mucosa do trato urinário) Devemos tratar pelo antibiograma e com tempo de tratamento igual ao da cistite. Finalizado o tratamento, uma urocultura de controle deve ser realizada após uma semana do termino. Casa haja persistência do mesmo germe na urocultura, repetimos o tratamento com duração maior. Não há indicação de antibioticoprofilaxia na bacteriuria assintomática.
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