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Leishmaniose Epidemiologia · 90 países nas regiões tropicais, subtropicais e Sul da Europa · Todos continentes, exceto Australia e Antártica · Novo mundo: algumas partes do México, Americas central e sul (exceto Chile e Uruguai) · Leishmaniose cutânea: 0.7 milhões (700.000) a 1.2 milhões · Leishmaniose visceral: 0.2 milhoes (200.000) a 0.4 milhões (400.000) 1. LEISHMANIOSE VISCERAL Introdução · Doença tropical negligenciada · Falta de investimentos: · Desenvolvimento de novos fármacos · Medidas mais eficazes de controle · Duas formas de transmissão da doença: · Brasil: antropozoonose (cão-homem) · África e no subcontinente indiano: antroponese (homem-homem) História natural · Própria de área de clima seco · Ambiente composto por vales e montanhas · Urbanização: periferias dos grandes centros urbanos e em faixas litorâneas do Nordeste. Transformações no ambiente (facilitadores da ocorrência de epidemias) · Intenso processo migratório · Pressões econômicas ou sociais · Pauperização consequente de distorções na distribuição de renda · Processo de urbanização crescente · Esvaziamento rural · Secas periódicas Ambientes característicos · Baixo nível socioeconômico · Pobreza · Promiscuidade (cães em contato com homens) · Prevalente em grande medida no meio rural e na periferia das grandes cidades · Características se modificando: regiões sudeste e centro-oeste (LV urbanizada) Agentes etiológicos · Tripanosomatídeos do gênero Leishmania · Parasita intracelular obrigatório → células do sistema fagocítico mononuclear · Invade medula óssea: queda na produção de hemoglobina, leucócitos e plaquetas → pancitopenia no paciente (anemia, leucopenia e plaquetopenia) · Invasão dos macrófagos do fígado → hepatomegalia + esplenomegalias · Quadro clássico do paciente com leishmaniose visceral: febre + linfoadenopatia + hepatoesplenomegalia + pancitopenia · Principais agentes: · Novo mundo e na bacia do mediterrâneo: L. (L.) infantum (sinônimo L. (L) chagasi) · África e no subcontinente Indiano: L. (L.) donovani. · Duas formas: · Promastigota: forma flagelada; localizada dentro do tubo digestivo do inseto vetor; · Amastigota: forma aflagelada; localizada nos tecidos dos vertebrados. Reservatórios · Área urbana: cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção · A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos humanos; · Infecção em cães tem sido mais prevalente do que no homem. · Ambiente silvestre: raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis albiventris). Vetores · Flebotomíneos – mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros · No Brasil, duas espécies: Lutzomyia longipalpis (principal) e Lutzomyia cruzi (recentemente no Mato Grosso do Sul). L. longipalpis · Encontrados no peridomicílio (galinheiros, chiqueiro, canil, paiol, entre outros ambientes) e no intradomicílio (locais com pouca luminosidade); · Medindo de 1 a 3 mm de comprimento; · Corpo revestido por pelos de coloração clara (por isso chamado de mosquito palha); · Comportamento: voar em pequenos saltos e pousar com as asas entreabertas; · Fase larvária desenvolve-se em ambientes terrestres úmidos e ricos em matéria orgânica e de baixa incidência luminosa. → Desenvolvimento · Os ovos eclodem de 7 a 10 dias; · As larvas desenvolvem-se entre 20 a 30 dias; · O período pupal em média de uma a duas semanas; · As fêmeas são hematófagas obrigatórias, com longevidade em média de 20 dias; · A atividade é crepuscular e noturna; · Durante o dia ficam em repouso, em lugares sombreados e úmidos, protegidos do vento e de predadores; · Até 1998, no ESP, não havia sido assinalada a transmissão autóctone da doença; · Atualmente vem sofrendo adaptação do vetor em zonas urbanas. História natural · Endêmica em 76 países · Continente americano descrita em pelo menos 12 países · 1913: primeiro caso em necropsia de paciente oriundo de Boa Esperança, Mato Grosso; · 1934: 41 casos foram identificados em lâmina de viscerotomias praticadas post-mortem, em indivíduos oriundos das Regiões Norte e Nordeste, com suspeita de febre amarela. Situação epidemiológica · No continente americano, a maioria dos casos de LV ocorre na América Latina (90% no Brasil); · No ano de 2014: 3.453 casos de LV no Brasil (incidência de 1,7 casos por 100 mil habitantes); · O sexo masculino foi o mais acometido (64,9%); · A faixa etária mais acometida é crianças de 0 a 9 anos (42,6% dos casos); · Letalidade aumentou de 3,4%, em 1994, para 7,1%, em 2013 (incremento de 108%). Período de incubação · Bastante variável tanto para o homem como para o cão: · Homem: 10 dias a 24 meses, com média entre 2 a 6 meses; · Cão: 3 meses a vários anos com média de 3 a 7 meses Susceptibilidade e imunidade 1. Homem · Não existe diferença entre sexo e raça; · Crianças e idosos são mais susceptíveis; · Determina uma supressão reversível e específica da imunidade; · Pequena parcela de indivíduos são sintomáticos; · Alguns apresentam quadro de LV muito além do período habitual de incubação. 2. Cão · Não foi verificada predisposição racial, sexual ou etária; · Pode desenvolver forma aguda ou crônica; · Sintomas dependem da imunocompetência do animal; · Geralmente, a doença é sistêmica e crônica (emagrecimento, conjuntivite bilateral canina); · Evolução aguda e grave pode levar ao óbito em poucas semanas; · Em alguns cães a doença pode permanecer latente, levando inclusive à cura espontânea (pode ficar vários meses latentes, transmitindo); · A forma assintomática da doença é encontrada com índices variados (40 a 60%). Suspeita diagnóstica 1. Dados epidemiológicos; 2. Apresentação clínica; 3. Achados laboratoriais (aumento da globulina com queda da albumina em pacientes crônicos; pancitopenia) 4. Confirmação diagnóstica: métodos parasitológicos ou sorológicos. EVOLUÇÃO CLÍNICA Período inicial · Tem pouca alteração de leucócito e plaqueta · Febre diária (duração inferior a quatro semanas); · Hepatoesplenomegalia; · Anemia discreta; · Baço geralmente não ultrapassa 5 cm do RCE. Período de Estado · Febre irregular; · Anorexia; · Emagrecimento progressivo; · Palidez cutâneo-mucosa; · Aumento da hepatoesplenomegalia; · Mais de dois meses de evolução. Período final · Febre contínua; · Comprometimento intenso do estado geral; · Desnutrição; · Edema de MMII; · Hemorragias; · Icterícia; · Ascite; · Infecções bacterianas secundárias.· O desenho é o tamanho do fígado e baço. · Primeiro período inicial, seguido pelo período de estado e período final EVOLUÇÃO CLÍNICA DA LV EVOLUÇÃO DOS EXAMES LABORATORIAIS COMPLEMENTARES: Exames sorológicos 1. Teste rápido (IT Leish): utiliza o antígeno recombinante K39 (rK39) 2. Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) Exames parasitológicos · Visualização direta de formas amastigotas ou isolamento em cultura dos parasitos; · São considerados métodos de referência. Usamos o mielograma, que através da medula óssea vamos tentar identificar a leishmania. Apesar da sensibilidade do baço ser a maior, o risco de ter iatrogenia também é maior. TRATAMENTO · Antimoniato de N-metil glucamina · Anfotericina – é nefrotóxica, espolia potássio, é obrigatoriamente diluída em soro glicosado (no soro fisiológico ela precipita), precisa de fotoproteção no equipo e soro, precisa bem diluída (500mL) e corrida de forma lenta (em 4h), pois dá febre e tremores no paciente. · Desoxicolato · Lipossomal (é muito cara, cerca de 80mil reais) Contraindicações dos medicamentos disponíveis → Antimonato de N-metil glucamina · Insuficiências renal, hepática e cardíaca; · Uso de medicamentos que alteram o intervalo QT · Gravidez; · Idade maior de 50 anos; · Hipersensibilidade aos componentes da formulação. → Anfotericina B desoxicolato: · Insuficiência renal; · Hipersensibilidade aos componentes da formulação. → Anfotericina B lipossomal: · Hipersensibilidade aos componentes da formulação; · Bem caro ANTIMONATO DE N-METIL GLUCAMINA Indicações para o uso de anfotericina lipossomal · Idade menorque 1 ano e maior que 50 anos; · Escore de gravidade: clínico ≥ 4 ou clínico-laboratorial ≥ 6; · Insuficiências renal, hepática e cardíaca; · Transplantados cardíacos, renais ou hepáticos; · Alteração no intervalo QT (maior que 450 milessegundos) ou uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT; · Hipersensibilidade ou falha terapêutica ao antimoniato de N-metil glucamina; · Infecção pelo HIV; · Alterações na imunidade (comorbidades e medicações); · Gestantes. Escore de Gravidade e Clínico-Laboratorial LEISHMANIOSE TEGUMENTAR Etiologia · Leishmania (Leishmania) amazonenses: distribuída pelas florestas primárias e secundárias da Amazônia legal (Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Maranhão). Sua presença amplia-se para o Nordeste (Bahia), Sudeste (Minas Gerais e São Paulo), Centro-oeste (Goiás) e Sul (Paraná). · Leishmania (Viannia) guyanensis: aparentemente limitada à Região Norte (Acre, Amapá, Roraima, Amazonas e Pará). · Leishmania (Viannia) braziliensis: É a mais importante em toda a América Latina. Tem ampla distribuição, desde a América Central até o norte da Argentina. · L. braziliensis é a principal do Brasil e do Estado de SP Fontes de infecção: cães, equinos, muares, preguiça real, tamanduá, gambá, roedores selvagens. Patogênese: amastigotas ingeridas pelo flebótomo (4 a 7 dias) transformam-se em promastigotas, e posteriormente em amastigotas que evoluem para formas aflageladas Formas clínicas · Formas cutâneas: localizada/disseminada/recidiva cútis/difusa → estão relacionadas a imunidade do paciente (quanto melhor, menor as manifestações) · Forma mucosa · Boa imunidade celular: forma mucosa. · Imunidade celular entre boa e ruim: forma cutânea. · Não tem imunidade celular: cutânea difusa com grande quantidade de parasitos Diagnóstico · · Pesquisa de parasitos de esfregaço de lesões pela coloração de Giemsa · Reação de Montenegro · Histopatológico · ELISA · PCR – não tem muito disponível Forma cutânea localizada · Acometimento apenas cutâneo · Ulcera, podendo ser única ou múltipla (até 20 lesões) · Tendencia a cura espontânea · Boa resposta ao tratamento · Pode apresentar linfadenopatia regional · IDRM (Montenegro) positiva · Lesão com borda emoldurada, elevada, bem localizada. Pode fazer raspado ou biopsia Tratamento da Leishmaniose cutânea localizada – pacientes infectados por Leishmania braziliensis e outras espécies, exceto L. guyanensis Forma cutânea disseminada · Rara (até 2% dos casos) · Forma recidiva cútis · Cicatrização espontânea ou medicamentosa da úlcera · Reativação localizada geralmente na borda da lesão · A resposta a terapêutica é pobre ou ausente · Geralmente a IDRM apresenta-se positiva. - Doença é causada pela L. (L.) amazonenses; - Forma clínica rara, porém grave; - Ocorre em pacientes com anergia e deficiência específica na resposta imune celular; - Evolui com formação de placas e múltiplas nodulações não ulceradas recobrindo grandes extensões cutâneas; - A resposta à terapêutica é pobre ou ausente e geralmente; - IDRM apresenta-se negativa Os pacientes com HIV podem ter essa Forma mucosa · Lesões destrutivas nas mucosas das vias aéreas superiores; · Forma clássica é secundária a lesão cutânea; · 3 a 6% dos casos notificados; · Maior risco: · Lesões cutâneas múltiplas · Lesões extensas e com mais de um ano de evolução; · Localizadas acima da cintura; · Sexo masculino; · Faixas etárias usualmente mais altas do que a LC. · Mucosa nasal: mais acometida (outras: orofaringe, palato, lábios, língua e laringe). Clínica · Obstrução nasal · Eliminação de crostas · Epistaxe · Disfagia · Odinofagia · Rouquidão · Dispneia · Perfuração ou destruição do septo cartilaginoso e palato mole Destruição do septo internasal; nariz de tapir Protocolo novo de SP (mas só tem no Emilio Ribas)