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GLOMERULONEFRITE DIFUSA AGUDA PÓS-ESTREPTOCÓCICA (GNPE) -É caracterizada pelo acometimento renal após infecções (faringoamigdalites ou piodermites) causadas por cepas nefritogênicas de estreptococos beta- hemolíticos do grupo A (Streptococcus pyogenes) -É a glomerulonefrite pós-infecciosa + comum na infância -A doença afeta os glomérulos e os pequenos vasos sanguíneos de ambos os rins - A > dos casos é causada por cepas nefritogênicas de estreptococo beta- hemolítico do grupo A principalmente os tipos 12 (que causa faringite) e 49 (impetigo) e estima-se que 5 a 10% dos pacientes c/ faringite estreptocócia e cerca de 25% daqueles c/ impetigo desenvolvam essa condição -O período de latência típico é de 6 a 21 dias entre a infecção e o início da GN, mas a latência pode se prolongar por até 6 semanas. EPIDEMIOLOGIA -Rara antes dos 3 anos de idade -Acomete + meninos do que meninas (2:1) -Na faixa pré-escolar (2-6 anos), a GNPE é + comum após piodermites -Na faixa escolar e adolescência ( 6-15 anos ) é + frequente após faringoamigdalites -A frequência da doença tem diminuído nas últimas décadas -Ocorre principalmente em países em desenvolvimento -O risco de GNPE é maior em pacientes idosos (maiores de 60 anos) e em crianças entre 5 e 12 anos de idade - Não há gene específico que ocasione a GNPE ETIOLOGIA -A doença se manifesta após um quadro de infecção pelo EBHGA pode ser decorrente dos grupos C ou G -Apenas as cepas denominadas nefritogênicas podem causar a GNPE, estas cepas são identificadas pela presença da proteína M, presente na parede celular -Os sorotipos + comuns após um quadro de impetigo são M 2, 49, 55, 57 e 60 -Já os sorotipos + frequentes após faringites incluem M 1, 3, 4, 12, 18, 25 e 492 PATOGENIA -É uma doença de base imunológica, mediada por imunocomplexos, embora este mecanismo ainda esteja ñ bem determinado. -Dentre os vários mecanismos patogenéticos propostos, os + aceitos são: • Deposição glomerular de imunocomplexos de antígeno estreptococo- anticorpo ou de produtos produzidos pelo estreptococo (como a estreptoquinase); • Mecanismos autoimunes, pelos quais certos antígenos estreptocócicos simulariam anticorpos que apresentam reação cruzada com antígenos glomerulares renais (glicoproteínas da membrana basal glomerular); • Complexos terminais do complemento, formados a partir da ativação da cascata do complemento, que estimulam a produção de prostanoides pelas células mesangiais glomerulares e a elaboração de interleucinas, estando, assim, implicados na injúria glomerular aguda e, particularmente, como um estímulo p/ a proliferação mesangial. -A patogenia do antígeno autólogo baseia-se na ação de substância produzida pelo estreptococo, a neuraminidase, que atuaria sobre a imunoglobulina G (IgG) tornando-a antigênica. -Acredita-se atualmente que os imunocomplexos responsáveis pelo dano glomerular nesta nefropatia são formados primariamente in situ e depositam-se no lado subendotelial da parede capilar. A partir daí, ocorre: • ativação do sistema complemento (tanto pela via clássica quanto pela via alternada, na maioria dos casos); • liberação de C5a e C5b, que possuem atividades quimiotáxicas; • ativação de neutrófilos que, por sua vez, secretarão proteases; • ativação de substâncias oxidantes que irão determinar alterações na membrana basal glomerular (MBG), principalmente no que se refere à proteinúria FISIOPATOLOGIA -Inclui a redução no ritmo de filtração glomerular determinada pela infiltração de células inflamatórias e pela queda da permeabilidade basal glomerular -Durante a fase aguda, há importante processo inflamatório de natureza imunológica e alterações dos capilares glomerulares c/ redução de seus lúmens por tumefação de suas paredes ou por obstrução causada por coagulação intravascular. Este processo leva a uma queda da filtração glomerular c/ aumento dos níveis séricos, de ureia e creatinina. -As lesões dos capilares glomerulares permitem a passagem de hemácias da luz capilar para o espaço de Bowman, causando hematúria. -A própria reação inflamatória nos glomérulos altera as condições de permeabilidade da membrana glomerular às proteínas, condicionando proteinúria de pequena intensidade. -A baixa aguda do ritmo de filtração glomerular leva à retenção de sódio pelas células tubulares, principalmente distais. O sódio plasmático, em geral, fica diminuído, porém a massa total de sódio, em razão da expansão do espaço extracelular, fica aumentada. A reabsorção do sódio no nível dos túbulos está preservada, principalmente nos túbulos distais o que resulta na expansão do volume extracelular e na consequente supressão do sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA) -A hipertensão na GNDA atribui-se seu aparecimento à existência de vasoespasmo generalizado, associado à hipervolemia por retenção de sódio e água, levando à expansão do volume intravascular DIAGNÓSTICO CLÍNICO -A GNPE ocorre c/ > frequência em crianças, uma a duas semanas após um quadro de faringite, ou duas a seis semanas após uma infecção de pele (impetigo) -As manifestações clínicas clássicas da GNPE englobam edema, hematúria, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e oligúria -O edema periorbitário é bastante típico é + proeminente pela manhã e tende a regredir ao final do dia. -O edema costuma anteceder a hematúria, que é macroscópica em 2/3 dos casos: a urina é, geralmente, descrita como esfumaçada, cor de chá, cor de - cola ou enferrujada -Ocorre também prostração, palidez, náuseas, vômitos, diarréia, febre baixa, dor abdominal, dor em flancos -Oligúria: ocorre em cerca de metade dos pacientes. É definida como diurese < 0,6 ml/kg/hora -Edema: geralmente é a 1ª manifestação. É discreto, mole, elástico, de início súbito, + comum em face e região periorbitária, mas que pode ocorrer em membros inferiores, região abdominal, genital e até anasarca. É notado somente por queixas indiretas, como observação de que sapatos e/ou roupas estão apertados, ou ainda, pelo aumento do peso -Hipertensão arterial: ocorre em 70 a 90% dos casos.Pode evoluir para encefalopatia hipertensiva em 5-10% dos casos (sonolência, cefaléia, vômitos, convulsões, cegueira, coma -Congestão cardiocirculátoria: ICC, dispnéia, B3, hepatomegalia, edema, turgência de jugular -As possíveis complicações da GNPE incluem: congestão circulatória, encefalopatia hipertensiva e insuficiênciarenal aguda (IRA) podem se manifestar de forma isolada ou associada DIAGNÓSTICO LABORATORIAL -GNPE é sugerida por história de faringite ou impetigo + sintomas típicos de GNPI ou achados incidentais no exame de urina -O nível de anticorpo antiestreptolisina O, o exame + comum de evidência laboratorial de infecção estreptocócica recente, eleva-se e permanece elevado por vários meses em cerca de 75% dos pacientes c/ faringites e em cerca de 50% dos pacientes c/ impetigo, mas é inespecífico -Exame de urina tipicamente mostra proteinúria (0,5 a 2 g/m2/dia); eritrócitos dismórficos; leucócitos; células tubulares renais; e possivelmente cilindros de eritrócitos, de leucócitos e granulares. Uma correlação aleatória (spot) de proteína/creatinina urinárias normalmente está entre 0,2 e 2 (normal, < 0,2), mas pode às vezes estar no intervalo nefrótico (≥ 3). -A creatinina sérica pode elevar-se rapidamente, mas em geral o pico fica abaixo do nível que necessita de diálise -A biópsia mostra glomérulos aumentados e hipercelulares, inicialmente c/ infiltração neutrofílica e + tardiamente c/ infiltração mononuclear. A hiperplasia de células epiteliais é uma característica comum inicial e transitória. Pode ocorrer microtrombose; se a lesão for grave, as alterações hemodinâmicas devido à proliferação celular e edema do glomérulo causam oligúria, às vezes acompanhada de crescentes epiteliais (formados dentro do espaço de Bowman por hiperplasia das células epiteliais). As células endoteliais e mesangiais se multiplicam e em geral ocorre grande expansão por edema das regiões mesangiais, as quais contêm neutrófilos, células mortas, debris celulares e depósitos subepiteliais de material eletrodenso -A microscopia c/ imunofluorescência mostra deposição de imunocomplexos c/ IgG e complemento em um padrão granular. Na microscopia eletrônica, esses depósitos são semilunares ou em forma de corcunda localizados na área subepitelial. A presença desses depósitos e de pequenos depósitos subendoteliais e mesangiais inicia uma reação inflamatória mediada por complemento que causa lesão glomerular. O principal antígeno provavelmente é a cisteína proteinase de zimogênio exotoxina B (zimogênio/SPE B). -Apresenta anemia normocrômica - uréia e da creatinina que pode significar doença renal previa ou lesão rapidamente progressiva -Alterações eletrolíticas (hiponatremia, hipercalemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia, acidose metabólica) -Hipoalbuminemia -↑ dos anticorpos contra as enzimas estreptocócicas: *ASLO: é o anticorpo + encontrado pós-faringoamigdalites. Os títulos aumentam de 10-14 dias após a infecção e se normalizam até 6 meses.VR = até 200 UI/ml *Anti-DNAse B e Anti-hialuronidase são os anticorpos + encontrados após infecções cutâneas *Antiestreptoquinase e estreptozima -Dosagem do complemento: *A diminuição é predominantemente de C3 (VR:85 a 185 mg/dl) e CH50 (65 a 145 U/ml) em 95 a 98% dos casos *Normalização do complemento em 4 a 10 semanas *A atividade de C3 e a [ ] de complemento hemolítico total (CH50) diminuem durante a doença ativa , a [ ] de C1q, C2 e C4 são muito pouco reduzidas ou se mantem normais -EAS: *Proteinúria < que 3,5 g em 24 horas. A normalização pode levar de 2 a 5 anos. *Hematúria : pode ser micro ou macroscópica.A hematúria microscópica pode demorar de 6 a 12 meses para retornar ao normal *Cilindrúria: cilindros hemáticos, cilindros leucocitários. INDICAÇÕES DE BIÓPSIA RENAL: -Ausência de evidências de infecção estreptocócica. -Desenvolvimento de insuficiência renal aguda ou síndrome nefrótica -Oligúria por + de uma semana. -Hipocomplementenemia que ultrapassa 8 semanas -Ausência de hipocomplementenemia -Doença sistêmica -Persistência de hematúria ou proteinúria acentuada PROGNÓSTICO -90% dos pacientes recuperam-se completamente -Os demais podem complicar c/ GNRP, proteinúria crônica, glomeruloesclerose focal e IRC -As glomerulonefrites associadas à infecções cutâneas têm prognóstico melhor do que as associadas à IVAS -As recorrências são raras -O ritmo de filtração glomerular (TFG) em geral retorna ao normal em 1 a 3 meses, mas a proteinúria pode persistir por 6 a 12 meses e a hematúria microscópica por vários anos -Alterações transitórias no sedimento urinário podem reincidir com pequenas infecções da via respiratória superior -Em 10% dos adultos e em 1% das crianças, a GNPI evolui para GN rapidamente progressiva. TRATAMENTO -Na maioria dos casos, a GNPE é uma condição autolimitada. -O tratamento de suporte visa a controlar as complicações da sobrecarga de volume, como hipertensão e edema, que são proeminentes durante a fase aguda da doença -Na > parte das vezes, a internação ñ é necessária -Entretanto, pacientes com oligúria intensa e/ou com sinais de insuficiência cardíaca ou de encefalopatia hipertensiva devem ser hospitalizados -Cuidados gerais: peso diário / volume urinário diário/medidas frequentes da PA/Repouso /restrição hídrica/dieta hipossódica(menos de 2 gramas de sal/dia) -Antibiocoterapia: *Indicada p/ eliminar as cepas nefritogênicas da orofaringeou da pele *Utilizar penicilina benzatina IM ou amoxicilina VO por 10 dias *Observação: Utilizar eritromicina p/ alérgicos à penicilina. -Diuréticos: *Os diuréticos de alça são as drogas de escolha p/ o tratamento do edema, da congestão volêmica e da hipertensão *Droga de escolha: furosemida https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/distúrbios-geniturinários/doenças-glomerulares/glomerulonefrite-rapidamente-progressiva-gnrp https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/distúrbios-geniturinários/doenças-glomerulares/glomerulonefrite-rapidamente-progressiva-gnrp *Dose: 3 a 4 mg/kg/dose VO na congestão leve a moderada. Nos casos graves usar 0,5 a 2 mg/kg/dose EV. -Anti-hipertensivos: *Indicados quando há manutenção dos níveis tensionais elevados, mesmo após o uso de diuréticos *Droga de escolha: nifedipina VO ou SL *Dose:0,2 a 0,5 mg/kg/dose *Nas emergências hipertensivas o nitroprussiato EV é a melhor alternativa. -Diálise: *Anúria c/ duração > 48 h *Alterações do SNC *Ausência de resposta às medidas anteriormente citadas *Hipercalemia de difícil controle *Acidose metabólica severa(Bicarbonato < 10mEq/l) *Hiponatremia acentuada(Na+ < 120 mEq/l) *Uréia sanguínea > 150mg/100ml *Creatinina plasmática > 10mg/100ml.
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