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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caracterização de aspectos da cognição social, habilidades sociais e funções 
executivas de crianças diagnosticadas com Transtorno Autista e Transtorno de 
Asperger 
 
 
 
 
Samantha Santos de Albuquerque Maranhão 
 
 
 
 
Natal 
2014 
 
 
 
Samantha Santos de Albuquerque Maranhão 
 
 
 
 
 
 
Caracterização de aspectos da cognição social, habilidades sociais e funções 
executivas de crianças diagnosticadas com Transtorno Autista e Transtorno de 
Asperger 
 
 
Dissertação elaborada sob orientação da 
Profª. Drª. Izabel Hazin e apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação em Psicologia 
da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como requisito parcial para a 
obtenção do título de Mestre e Psicologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2014
3 
 
Agradecimentos 
 
À Nossa Senhora, por sempre iluminar e abençoar meus passos; 
Aos meus pais, meu porto seguro, cujo imenso apoio fez valer cada segundo desse 
percurso; 
Ao meu marido, cujo imenso apoio e experiência no âmbito acadêmico trouxeram 
contribuições importantes para o delineamento da dissertação; 
A minha orientadora Izabel Hazin pela competência e profissionalismo com que conduziu 
este trabalho, sem, no entanto, esquecer-se da delicadeza, do incentivo e do carinho que 
permeiam as relações entre sujeitos; 
Aos colegas do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia (LAPEN), 
especialmente as integrantes Artemis de Paula e Priscila Magualhães com quem compartilhei 
momentos árduos e de conquistas deste percurso; 
Aos meus amigos de graduação, em especial Miliana Galvão, Nívia Andrade e Rafaele 
Pinheiro. Antes mesmo de ingressar na Pós-graduação em Psicologia, compartilhávamos 
angústias e sonhos; 
As crianças participantes e pais pela disponibilidade e convivência durante os meses de 
realização do estudo; 
Ao Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar (NANI), pela ajuda 
com a correção dos questionários do Child Behavior Checklist (CBCL), em especial à 
professora Cláudia Berlim de Mello e à André Luiz Sousa; 
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela 
concessão da bolsa de estudos e pelo apoio e incentivo à pesquisa. 
 
 
4 
 
Sumário 
Lista de Tabelas ......................................................................................................................... 6 
Lista de Figuras .......................................................................................................................... 9 
Lista de Siglas e Abreviaturas .................................................................................................. 12 
RESUMO ................................................................................................................................. 13 
ABSTRACT ............................................................................................................................. 14 
Considerações iniciais:............................................................................................................. 15 
Capítulo 1: O Autismo e o percurso histórico do conceito diagnóstico .................................. 21 
Capítulo 2: O perfil neuropsicológico do Transtorno Autista e Transtorno de Asperger . 34 
Capítulo 3: A defectologia de Vygotsky e reflexões sobre o conceito diagnóstico do Autismo
.................................................................................................................................................. 57 
Capítulo 4: Neuropsicologia – fragmentos históricos e premissas de base ............................. 60 
Capítulo 5: A neuropsicologia de Luria (1902-1977) .......................................................... 64 
Capítulo 6: A neuropsicologia de Luria e contribuições para o delineamento do desenho 
metodológico da dissertação em vigor ..................................................................................... 68 
Objetivos: ................................................................................................................................. 73 
Método: .................................................................................................................................... 74 
Resultados: ............................................................................................................................... 90 
Criança 1 – Pseudônimo Andy – Transtorno Autista: ............................................................. 90 
Criança 2 – Pseudônimo Cauê – Transtorno Autista ............................................................. 113 
Criança 3 – Pseudônimo Amy Rose – Transtorno Autista: ................................................... 133 
Criança 4 – Pseudônimo Jake – Transtorno de Asperger: ..................................................... 154 
5 
 
Criança 5 – Pseudônimo Hugo – Transtorno de Asperger: ................................................... 174 
Criança 6 – Pseudônimo Max – Transtorno de Asperger: ..................................................... 195 
Discussão: .............................................................................................................................. 217 
Considerações finais: ............................................................................................................. 242 
Referências bibliográficas:..................................................................................................... 244 
Anexos ................................................................................................................................... 256 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Lista de Tabelas 
Tabela 1: características das crianças avaliadas ....................................................................... 74 
Tabela 2: instrumentos utilizados ............................................................................................ 76 
Tabela 3: domínios cognitivos e testes do NEPSY-II utilizados na pesquisa .......................... 86 
Tabela 4: resultados quantitativos de Andy no MPCR .......................................................... 101 
Tabela 5: resultados quantitativos de Andy na prova de atenção auditiva e conjunto de 
respostas (NEPSY-II)............................................................................................................. 102 
Tabela 6: resultados quantitativos de Andy na prova Classificando Animais (NEPSY-II) .. 103 
Tabela 7: resultados quantitativos de Andy na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) .... 103 
Tabela 8: resultados quantitativos de Andy na prova Inibindo Resposta (NEPSY-II) .......... 103 
Tabela 9: resultados quantitativos de Andy na prova Relógios (NEPSY-II)......................... 104 
Tabela 10: resultados quantitativos de Andy na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) .......... 109 
Tabela 11: resultados quantitativos do Cauê no MPCR ........................................................ 123 
Tabela 12: resultados quantitativos do Cauê na prova de atenção auditiva e conjunto de 
respostas (NEPSY-II)............................................................................................................. 125 
Tabela 13: resultados quantitativos do Cauê na prova Classificando Aninais (NEPSY-II) .. 125 
Tabela 14: resultados quantitativos do Cauê na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) .. 126 
Tabela 15: resultados quantitativos do Cauê na prova Inibindo Resposta (NEPSY-II) ........ 126 
Tabela 16: resultados quantitativos do Cauê na prova Relógios (NEPSY-II) ....................... 127 
Tabela 17: resultados quantitativos do Cauê na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) ........... 131 
Tabela 18: resultados quantitativosda Amy no MPCR ......................................................... 142 
Tabela 19: resultados quantitativos da Amy na prova Atenção Auditiva e Conjunto de 
Respostas (NEPSY-II) ........................................................................................................... 144 
Tabela 20: resultados quantitativos da Amy na prova Classificando Animais (NEPSY-II) . 144 
7 
 
Tabela 21: resultados quantitativos da Amy na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) ... 145 
Tabela 22: resultados quantitativos da Amy na prova Inibindo Resposta (NEPSY-II) ......... 145 
Tabela 23: resultados quantitativos da Amy na prova Relógios (NEPSY-II) ....................... 146 
Tabela 24: resultados quantitativos da Amy na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) ........... 151 
Tabela 25: resultados quantitativos do Jake no MPCR ......................................................... 162 
Tabela 26: resultados quantitativos do Jake na prova Atenção Auditiva e Conjunto de 
Respostas (NEPSY-II) ........................................................................................................... 164 
Tabela 27: resultados quantitativos do Jake na prova Classificando Animais (NEPSY-II) .. 164 
Tabela 28: resultados quantitativos do Jake na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) ... 164 
Tabela 29: resultados quantitativos do Jake na prova Inibindo Resposta (NEPSY-II) ......... 165 
Tabela 30: resultados quantitativos do Jake na prova Relógios (NEPSY-II) ........................ 166 
Tabela 31: resultados quantitativos do Jake na IMHSC-Del-Prette (Perfil Geral) ................ 169 
Tabela 32: resultados quantitativos do Jake na IMHSC-Del-Prette (Indicadores e Reações)
................................................................................................................................................ 169 
Tabela 33: resultados quantitativos do Jake na IMHSC-Del-Prette (Indicadores e Reações – 
subescalas) ............................................................................................................................. 169 
Tabela 34: resultados quantitativos do Jake na IMHSC-Del-Prette (Indicadores e Reações –
valor de cada item) ................................................................................................................. 171 
Tabela 35: resultados quantitativos do Jake na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) ............ 171 
Tabela 36: resultados quantitativos do Hugo no MPCR ........................................................ 183 
Tabela 37: resultados quantitativos do Hugo na prova Atenção Auditiva e Conjunto de 
Respostas (NEPSY-II) ........................................................................................................... 184 
Tabela 38: resultados quantitativos do Hugo no Classificando Animais .............................. 184 
Tabela 39: resultados quantitativos do Hugo na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) . 185 
Tabela 40: resultados quantitativos do Hugo na prova Inibindo Respostas (NEPSY-II) ...... 185 
8 
 
Tabela 41: resultados quantitativos do Hugo na prova Relógios (NEPSY-II) ...................... 186 
Tabela 42: resultados quantitativos de Hugo no IMHSC-Del-Prette – Perfil Geral .............. 189 
Tabela 43: resultados quantitativos do Hugo no IMHSC-Del-Prette – Indicadores e Reações
................................................................................................................................................ 189 
Tabela 44: resultados quantitativos do Hugo no IMHSC-Del-Prette – Indicadores e Reações, 
subescalas ............................................................................................................................... 189 
Tabela 45: resultados quantitativos do Hugo no IMHSC-Del-Prette – Indicadores e Reações, 
valor de cada item .................................................................................................................. 191 
Tabela 46: resultados quantitativos do Hugo na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) .......... 192 
Tabela 47: resultados quantitativos do Max no MPCR ......................................................... 204 
Tabela 48: resultados quantitativos do Max na prova Atenção Auditiva e Conjunto de 
Respostas (NEPSY-II) ........................................................................................................... 205 
Tabela 49: resultados quantitativos do Max na prova Classificando Animais (NEPSY-II) .. 206 
Tabela 50: resultados quantitativos do Max na prova Fluência de Desenhos (NEPSY-II) ... 206 
Tabela 51: resultados quantitativos do Max na prova Inibindo Respostas (NEPSY-II)........ 206 
Tabela 52: resultados quantitativos do Max na prova Relógios (NEPSY-II) ........................ 207 
Tabela 53: quantitativos na prova Teoria da Mente (NEPSY-II) .......................................... 214 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9 
 
 
 
Lista de Figuras 
Figura 1: Hans Asperger em atendimento clínico.................................................................... 25 
Figura 2: Diagrama de Luria .................................................................................................... 70 
Figura 3: exemplo de um problema do MPCR série Ab .......................................................... 78 
Figura 4: exemplo do teste teoria da mente, tarefa contextual ................................................ 83 
Figura 5: extrato do desenho figurativo produzido por Andy.................................................. 95 
Figura 6: desenho com tema “Eu e minha família”, produzido por Andy ............................... 95 
Figura 7: resultado do Andy na Escala de Competências Sociais (CBCL) ............................. 97 
Figura 8: resultado do Andy na Escala de Síndromes (CBCL) ............................................... 98 
Figura 9: resultado do Andy na Escala de Problemas Totais (CBCL) .................................... 99 
Figura 10: resultado do Andy na Escala Orientada pelo DSM-IV (CBCL) .......................... 100 
Figura 11: extrato do teste Fluência de Desenhos (NEPSY-II), parte estruturara, produzido 
por Andy ................................................................................................................................ 106 
Figura 12: extrato do teste Fluência de Desenhos (NESPY-II), parte aleatória, produzido por 
Andy ....................................................................................................................................... 106 
Figura 13: extrato do teste Relógios (NEPSY-II), item 1, produzido por Andy ................... 107 
Figura 14: extrato do teste Relógios (NEPSY-II), itens 9 e 10, produzido por Andy ........... 108 
Figura 15: desenho história do Cauê com tema “Eu e minha família” .................................. 116 
Figura 16: desenho história do Cauê com tema “Eu e minha escola” ................................... 117 
Figura 17: resultado do Cauê na Escala de Competências Sociais (CBCL) .......................... 119 
Figura 18: resultado do Cauê na Escala de Síndromes (CBCL) ............................................ 120 
Figura 19: resultado do Cauê na Escala de Problemas Totais (CBCL) ................................. 121 
Figura 20: resultado do Cauê na Escala Orientada pelo DSM-IV (CBCL) ........................... 122 
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10 
 
Figura 21: extrato do item 8, série B, respondido por Cauê no MPCR ................................. 124 
Figura 22: extrato dos itens 1 e 2 (teste Relógios, NEPSY-II) produzido por Cauê – horários 
de 3h e 11:10h ........................................................................................................................ 129 
Figura 23: dos itens 3 e 4 (teste Relógios, NEPSY-II) produzido por Cauê ......................... 130 
Figura 24: extrato dos itens 9 e 10 (teste Relógios, NEPSY-II) produzido por Cauê ........... 130 
Figura 25: desenho história da Amy com o tema "Eu e minha família" ................................ 137 
Figura 26: desenho história da Amy com o tema "Eu e minha escola" ................................. 138 
Figura 27: resultado da Amy na Escala de Competências Sociais (CBCL) .......................... 139 
Figura 28: resultado da Amy na Escala de Síndromes (CBCL) ............................................ 140 
Figura 29: resultado da Amy na Escala de Problemas Totais (CBCL) .................................. 140 
Figura 30: resultado da Amy na Escala de Orientada pelo DSM-IV (CBCL) ....................... 142 
Figura 31: extrato do teste Fluência de Desenho, parte estruturada, produzido por Amy ..... 148 
Figura 32: extrato do teste Relógios, item 2, produzido por Amy – horário 11:10 ............... 149 
Figura 33: extrato do teste Relógios, itens 3 e 4, produzido por Amy .................................. 150 
Figura 34: extrato do teste Relógios, itens 9 e 10, produzido por Amy ................................ 151 
Figura 35: resultado do Jake na Escala de Competências Sociais (CBCL) ........................... 158 
Figura 36: resultado do Jake na Escala de Síndromes (CBCL) ............................................. 159 
Figura 37: resultado do Jake na Escala de Problemas Totais (CBCL) .................................. 160 
Figura 38: resultado do Jake na Escala Orientada pelo DSM-IV (CBCL) ............................ 162 
Figura 39: extrato do item 1, teste Relógios (NEPSY-II), produzido por Jake – horário 3h . 168 
Figura 40: desenho livro produzido por Jake, animal ............................................................ 168 
Figura 41: desenho livro produzido por Jake, Angry Birds ................................................... 169 
Figura 42: desenho do Hugo com tema “Eu e minha escola”................................................ 177 
Figura 43: desenho do Hugo com tema “Eu e minha família” .............................................. 178 
Figura 44: resultado do Hugo na Escala de Competências Sociais ....................................... 180 
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file:///D:/Samantha/SAMANTHA/PSICOLOGIA/MESTRADO/Tese%20de%20mestrado/Projeto/Dissertacao/Trabalho%20final.docx%23_Toc387094270
file:///D:/Samantha/SAMANTHA/PSICOLOGIA/MESTRADO/Tese%20de%20mestrado/Projeto/Dissertacao/Trabalho%20final.docx%23_Toc387094274
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file:///D:/Samantha/SAMANTHA/PSICOLOGIA/MESTRADO/Tese%20de%20mestrado/Projeto/Dissertacao/Trabalho%20final.docx%23_Toc387094280
file:///D:/Samantha/SAMANTHA/PSICOLOGIA/MESTRADO/Tese%20de%20mestrado/Projeto/Dissertacao/Trabalho%20final.docx%23_Toc387094281
file:///D:/Samantha/SAMANTHA/PSICOLOGIA/MESTRADO/Tese%20de%20mestrado/Projeto/Dissertacao/Trabalho%20final.docx%23_Toc387094283
11 
 
Figura 45: resultado do Hugo na Escala de Síndromes ......................................................... 181 
Figura 46: resultado do Hugo na Escala de Problemas Totais (CBCL) ................................ 181 
Figura 47: resultado do Hugo na Escala Orientada pelo DSM-IV (CBCL) .......................... 182 
Figura 48: extrato do teste Relógios (NEPSY-II), item 2, produzido por Hugo ................... 188 
Figura 49: extrato do teste Relógios (NEPSY-II), itens 9 e 10, produzido por Hugo ........... 189 
Figura 50: desenho história do Max sobre o tema "Eu e minha família" .............................. 198 
Figura 51: resultado do Max na Escala de Competências Sociais (CBCL) ........................... 201 
Figura 52: resultado do Max na Escala de Síndromes (CBCL) ............................................. 202 
Figura 53: resultado do Max na Escala de Problemas Totais (CBCL) .................................. 202 
Figura 54: resultado do Max na Escala Orientada pelo DSM-IV(CBCL) ............................. 203 
Figura 55: extrato do Max referente aos itens 9 e 10 do teste Relógios (NEPSY-II) ............ 210 
Figura 56: parágrafo produzido pelo Max sobre o tema “Eu e minha escola” ...................... 211 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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12 
 
 
Lista de Siglas e Abreviaturas 
CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 
CBCL Child Behavior Checklist 
DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
DSM-IV-TR Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição revisada 
DSM-V Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição 
IMHSC-Del-Prette Inventário Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças 
MPCR Matrizes Progressivas Coloridas de Raven 
NEPSY-II A Developmental Neuropsychological Assessment – 2ª edição 
TA Transtorno de Asperger 
TEA Transtorno do Espectro do Autismo 
TGD Transtorno Global do Desenvolvimento 
SEPA Serviço de Psicologia Aplicada da UFRN 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Resumo 
 
O ano de 2013 marca o 70º aniversário da descrição clássica de Leo Kanner sobre o Autismo. 
Em 1994, na quarta edição do Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM), o autismo foi incluído em uma nova classe diagnóstica denominada Transtornos 
Globais do Desenvolvimento (TGD), os quais incluem: o Transtorno Autista, Transtorno de 
Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Global do Desenvolvimento sem 
outra especificação e o Transtorno de Asperger. O DSM apresenta critérios bem específicos 
que diferenciam os TGD, no entanto, estudos médicos discutem se o Transtorno de Asperger 
(TA) compõe o Transtorno Autista, ou se é qualitativamente distinto. Discute-sea reduzida 
validação empírica dos critérios diagnósticos concernentes ao TA. Nessa perspectiva, o DSM 
ganhou uma quinta e polêmica revisão no ano de 2013. A polêmica mudança centra-se na 
substituição de uma análise diagnóstica categorial para uma abordagem dimensional, a qual 
evidencia que a maior parte dos problemas psicopatológicos da infância e adolescência 
manifesta-se em um contínuo de frequência e intensidade. Diante da mudança na quinta 
edição do DSM, o presente estudo deparou-se com a problemática identificada no âmbito 
clínico e científico, qual seja, a heterogeneidade sintomática presente no espectro autista e, 
por conseguinte, as dissonâncias no estabelecimento de características clínicas e 
neuropsicológicas do espectro. Amparado pelo legado teórico de Luria, buscou-se clarificar o 
perfil da cognição social, comportamento, sócio afetividade e funções executivas em crianças 
com diagnóstico de Transtorno Autista e Transtorno de Asperger, conforme critérios 
estabelecidos pelo quarta edição revisada do DSM. Para operacionalização dos objetivos 
propostos, propôs-se estudo multicasos de seis crianças. O processo avaliativo foi composto 
por anamnese com os pais, entrevista com a escola e protocolo avaliativo composto por 
tarefas qualitativas e instrumentos psicométricos. A avaliação neuropsicológica realizada foi 
guiada pela análise clínica-processual, conforme pressuposto teórico de Luria. No tocante aos 
resultados, foi possível identificar dificuldades nos relacionamentos sociais e no cotidiano 
escolar das crianças avaliadas. De modo interdependente, falhas na teoria da mente, nas 
funções executivas e na linguagem versam como principais fragilidades neuropsicológicas 
dos grupos clínicos vigentes, notadamente do grupo que compõe o Transtorno Autista. Os 
resultados encontrados demonstram que a cognição social e a habilidade social estão 
altamente relacionadas. Ainda que se reconheçam as limitações inerentes à proposição de 
pesquisas neuropsicológicas de vertente clínica/sócio histórica, acredita-se que o desenho 
metodológico possibilitou compreender características neuropsicológicas das crianças 
avaliadas, sem limitar-se à mera descrição. Espera-se que pais, profissionais clínicos e 
instituições sociais, como a escola, compreendam a forma de individuação do TGD, 
antes de classificarem ou proporem tratamentos as crianças. 
 
Palavras-chave: Psicologia Sócio Histórica, Luria, Espectro Autista, Avaliação 
Neuropsicológica 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Abstract 
 
The year 2013 marks the 70th anniversary of the classic description by Leo Kanner on 
Autism. In 1994, the fourth edition of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental 
Disorders (DSM), the autism was included in a new diagnostic class called Pervasive 
Developmental Disorders (PDD), which include: Autistic Disorder, Rett's Disorder, 
Childhood Disintegrative Disorder, Pervasive Developmental Disorder not otherwise 
specified and Asperger's Disorder. The DSM has very specific criteria that differentiate IGT, 
however, medical studies discuss whether Asperger's Disorder (TA) consists Autistic 
Disorder, or if it is qualitatively distinct. Discusses the reduced empirical validation of 
diagnoses pertaining to the TA. In this perspective, the fifth DSM won a controversial 
revision in 2013. The controversial change focuses on the replacement of a categorical 
diagnostic analysis for a dimensional approach, which shows that most of the 
psychopathological problems of childhood and adolescence manifested in a continuum of 
frequency and intensity. Given the change in the fifth edition of the DSM, the present study 
was faced with the problems identified in the clinical and scientific scope, ie, symptomatic 
heterogeneity present in the autistic spectrum and, therefore, the dissonances in establishing 
clinical and neuropsychological characteristics spectrum. Upheld by the theoretical legacy of 
Luria, we sought to clarify the profile of social cognition, behavior, social affection and 
executive functions in children diagnosed with Autistic Disorder and Asperger's Disorder, 
according to criteria established by the revised fourth edition of the DSM. Although they 
acknowledge the limitations inherent in the proposition of clinical neuropsychological 
research strand / historical partner, it is believed that the study design allowed us to 
understand neuropsychological characteristics, without limiting himself to the mere 
description. For operationalization of the proposed objectives, we proposed multi-case study 
of six children. The evaluation process consisted of anamnesis with parents, interviews with 
school and evaluative protocol using qualitative tasks and psychometric instruments. 
Neuropsychological validation was performed guided by clinical-procedural analysis as 
theoretical assumption of Luria. Regarding the results, it was possible to identify difficulties 
in social relationships and in everyday school life of children assessed. Versam main 
neuropsychological weaknesses in existing clinical groups, especially the group that makes 
up Autistic Disorder. The results show that social cognition and social skills are highly 
related. It is hoped that parents, clinicians and social institutions such as school, understand 
how the individuation of TGD before classifying children or propose treatments. 
 
Keywords: Historical-Cultural Psychology, Luria, Autistic Spectrum, Neuropsychological 
Assessment 
 
 
 
 
 
 
15 
 
Considerações iniciais: 
 
Quem pode traçar, em um arco-íris, uma linha que marca o fim do tom violeta e o 
começo do tom laranja? A diferença de cor é muito clara, mas quem pode dizer qual o lugar 
exato em que um se torna o outro? (Melville, 1891, p. 233). 
 
O ano de 2013 marca o 70º aniversário da descrição clássica de Leo Kanner sobre o 
Autismo. Os nomes “autismo” e “autista” derivam do grego “autos”, que significa eu/self. O 
termo “autismo” foi utilizado pela primeira vez em 1911, quando Eugen Bleuler o 
empregou para descrever uma característica específica da esquizofrenia, segundo a qual 
um indivíduo se recolheria do mundo exterior para se refugiar em si mesmo (Frith, 2003; 
Pacheco, 2012; Sicile-Kira, 2003). 
Baseado na esquizofrenia descrita por Bleuler, em 1943, o chefe do serviço de psiquiatria 
infantil do Johns Hopkins Hospital de Baltimore, Leo Kanner, publicou artigo intitulado “Os 
distúrbios autísticos do contato afetivo”. Ele descreveu onze crianças, cujo distúrbio 
patognomônico seria “a incapacidade de se relacionarem de maneira normal com pessoas e 
situações, desde o princípio de suas vidas” (Kanner, 1943, p. 242). 
Durante a década de 1970, tornou-se claro que o autismo era uma condição distinta da 
esquizofrenia, com forte componentes genéticos e neurobiológicos. Na época, o extenso 
trabalho empírico visando à construção e validação de critérios diagnósticos explícitos 
resultou na descrição do autismo na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais - DSM (Volkmar, Reichow, & McPartland, 2012). 
Tanto na primeira (1952) quanto na segunda (1968) edição do DSM, os termos "autismo" 
e "autista" designavam comportamentos típicos da esquizofrenia. Em 1980, a terceira edição 
do manual introduziu o termo “Autismo Infantil”. Já em 1994, na quarta edição do DSM, o 
16 
 
autismo foi incluído em uma nova classe diagnóstica denominada Transtornos Globais do 
Desenvolvimento (TGD), os quais incluem: o Transtorno Autista, Transtorno de Rett, 
Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra 
especificação e o Transtorno de Asperger (APA, 1994). 
Desde então, o Transtorno de Asperger (TA) emerge como categoria diagnóstica dos 
TGD. A congruência dos critérios clínicos com o CID-10 desencadeou uma explosão de 
publicações científicas (350 em 1993 para mais de2100 em 2011), sem perder de vista o 
crescente interesse pelo estudo do TA. Kite, Gullifer and Tyson (2013) informam que, até o 
início de 2012, havia no Google mais de 9¹/² milhões de tópicos sobre o TA (Mahjouri & 
Lord, 2012; Volkmar, 2013; Volkmar & Reichow, 2013). 
Rutter (2005) ressalta a ampliação do diagnóstico do autismo nos últimos quarenta anos. 
Esta mudança ocorreu não pela determinação de características sintomatológicas de um único 
distúrbio, mas pela introdução da ideia de um espectro, conhecido como Autism Spectrum 
Disorder (ASD), ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). 
Nesta perspectiva, o DSM ganhou uma quinta e polêmica revisão no ano de 2013. A 
polêmica mudança centra-se na substituição de uma análise diagnóstica categorial para uma 
abordagem dimensional, a qual evidencia que a maior parte dos problemas psicopatológicos 
da infância e adolescência manifesta-se em um continuum de frequência e intensidade. Assim 
como Melville (1891) discute os nuances nas delimitações das cores do arco-íris, a 
abordagem dimensional leva à reflexão do modo pelo qual será possível discernir os nuances 
de grupos clínicos e, consequentemente, as repercussões para a sociedade. 
A abordagem dimensional do DSM-V propõe evidenciar um continuum de frequência e 
intensidade de características clínicas autistas. Conforme Rutter (2011), a mudança está 
relacionada à constituição diagnóstica do espectro autista, cuja caracterização clínica 
17 
 
contínua substitui a atual diferenciação diagnóstica dos Transtornos Globais do 
Desenvolvimento (DSM-IV). 
Desde a década de 1940, descrições clínicas dos TGD esbarram-se na heterogeneidade 
sintomática. O acervo histórico demonstra que, de modo independente, Kanner (1943) e 
Asperger (1944) apresentaram denominações homônimas para descrições peculiares de 
crianças em faixa etárias aproximadas. Enquanto o pediatra austríaco com interesse em 
educação especial, Hans Asperger, denominou suas descrições como “psicopatia autística”; 
Kanner (1943) as denominou de “distúrbio autístico inato do contato afetivo” (Editorial Brain 
and Cognition, 2006; E. Salle, Sukiennik, A. Salle, Onófrio, & Zuchi, 2005; Montero, 2009; 
Sanders, 2009; Schwartzman, Orsati, & Macedo, 2008). 
Ambos descreveram pacientes com alterações do comportamento, da linguagem e das 
habilidades cognitivas imprescindíveis para aprendizagem e interação social, porém, as 
tentativas iniciais de comparar as duas condições foram difíceis devido às grandes diferenças 
nos pacientes descritos. A conceitualização de Asperger foi influenciada pelos relatos de 
esquizofrenia e de transtornos de personalidade, ao passo que Kanner foi influenciado pelo 
trabalho de Arnold Gesell e sua abordagem de desenvolvimento (Editorial Brain and 
Cognition, 2006; E. Salle et al., 2005; Frith, 2004; Klin, 2006; Klin, Pauls, Schultz, & 
Volkmar, 2005; Montero, 2009; Sanders, 2009). 
O DSM-IV e CID-10 apresentam critérios bem específicos que diferenciam os 
Transtornos Globais/Invasivos do Desenvolvimento; bem como há definição consensual para 
o Transtorno de Asperger (TA). No entanto, estudos médicos discutem se o TA compõe o 
Transtorno Autista, ou se é qualitativamente distinto. Discute-se a reduzida validação 
empírica dos critérios diagnósticos concernentes ao TA (Editorial Brain and Cognition, 2006; 
Frith, 2004; Klin, 2006; Klin et al., 2005; Leão & Aguiar, 2005; Montero, 2009; Sanders, 
2009; Schnur, 2005; Schwartzman et al., 2008; Planche & Lemonnier, 2012). 
18 
 
Diante da mudança no DSM-V, o presente estudo depara-se com a problemática 
identificada no âmbito clínico e científico, qual seja, a heterogeneidade sintomática presente 
no espectro autista e, por conseguinte, as dissonâncias no estabelecimento de características 
clínicas e neuropsicológicas do espectro (Assumpção, 2005; Carmargos, 2005; Editorial 
Brain and Cognition, 2006; Frith, 2004; Klin, 2006; Klin et al., 2005; Sanders, 2009; Schnur, 
2005; Schwartzman et al., 2008; Planche & Lemonnier, 2012). 
Isto posto, o presente estudo teve como objetivo avaliar aspectos da cognição social, 
habilidades sociais e funções executivas de crianças com diagnóstico de Transtorno Autista e 
Transtorno de Asperger, conforme os critérios estabelecidos pela quarta edição revisada do 
DSM (DSM-IV-TR). 
De acordo com Sasson, Nowlin and Pinkham (2013) a cognição social denota processos 
cognitivos que mediam experiências sociais. Trata-se da decodificação, processamento e 
interpretação de informações sociais associadas, por exemplo, a linguagem corporal, 
reconhecimento de faces, reconhecimento de emoções e teoria da mente. 
A cognição social entrelaça-se com capacidade de inferir representações mentais em 
estreita relação com a linguagem, reconhecimento de emoções e funções executivas, 
notadamente quando exigidos dentro de um contexto dinâmico pautado em relações sociais 
(Baron-Cohen, 1995). 
Por sua vez, entende-se por habilidades sociais um conjunto de habilidades interpessoais 
que aumentam a eficácia de um indivíduo em situações sociais. Constituem comportamentos 
sociais habilidosos ou não habilidosos. Níveis elevados de habilidades sociais levam ao maior 
sucesso no relacionamento com os colegas e ambientes acadêmicos, ao passo que déficits de 
habilidades sociais têm sido associados a uma série de comportamentos mal adaptativos 
(Lamont & Horn, 2013). 
19 
 
Sasson e colaboradores (2013) demonstraram que a cognição social e a habilidade social 
estão altamente correlacionadas. Déficits em habilidades associadas à cognição social 
(reconhecimento de emoções e teoria da mente, por exemplo) constituem significativa 
contribuição para a baixa qualidade das habilidades sociais de indivíduos inseridos no 
espectro autista. Eles ainda ratificam Baron-Cohen (1995) ao relevar que tal correlação não 
depende do desempenho intelectivo. 
Destarte, amparado pelo legado teórico de Luria e Vygotsky, buscou-se clarificar 
aspectos da cognição social, das habilidades sociais e funções executivas característicos do 
Transtorno Autista e do Transtorno de Asperger. Ainda que se reconheçam as limitações 
inerentes à proposição de pesquisas neuropsicológicas de vertente clínica/sócio histórica, 
acredita-se que o desenho metodológico possibilitou compreender características 
neuropsicológicas, sem limitar-se à mera descrição. 
Posteriormente, avançou-se para análises explicativas, que tentaram abarcar a 
complexidade do fenômeno investigado a partir da utilização de um sistema nervoso 
conceitual, cuja perspectiva processual e dialógica norteará possíveis integrações do 
desenvolvimento individual com particularidades do contexto sócio-histórico-cultural 
(Akhutina & Pylaeva, 2011; Freitas, 2002; Haase et al., 2008; Hazin et al., 2010). 
Destaca-se a importância deste estudo para profissionais, familiares e indivíduos 
diagnosticados com Transtorno Autista ou Transtorno de Asperger (DSM-IV-TR). Acredita-
se que a apresentação dos pontos fortes, fracos e característicos dos transtornos citados 
favoreça o delineamento de intervenções clínicas, sob as quais há a preocupação de dissociar 
a gravidade do sintoma do comprometimento funcional; sem perder de vista considerações 
acerca das potencialidades que o indivíduo possui para exercer, ou lapidar, sua participação 
em atividades cotidianas (Novelli & Canon, 2012). 
20 
 
Como parte complementar, espera-se que a presente pesquisa também tenha contribuído 
para problematizar os critérios clínicos vigentes no DSM-V para o diagnóstico do Transtorno 
do Espectro do Autismo. 
Almeja-se que os resultados obtidos por este estudo constituam massa crítica importante 
para proposição de discussões nacionais acerca da sensibilidade e especificidade do DSM-IV-
TR e DSM-V; sobretudo em virtude da atual polêmica diante à eliminação da distinção entre 
Transtorno Autista e Transtorno de Asperger para diagnóstico doTranstorno do Espectro do 
Autismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Capítulo 1: O Autismo e o percurso histórico do conceito diagnóstico 
 
A apreciação da história permite visualizar o processo de descoberta e aprimoramento das 
características comportamentais congruentes ao autismo. Relatos de crianças com 
características comportamentais consonantes ao que atualmente denomina-se espectro autista 
advêm dos primórdios da civilização escrita (Rosenberg, 2011). 
Os contos de fada, antes de ser a antítese do real, compõem a forma de interpretar a 
realidade. No início do século XVII, há a identificação de contos de fada europeus e chineses 
que remetem histórias homônimas de enfants fadas (The changeling) – crianças, comumente 
do sexo masculino, raptadas por fadas ou gnomos. Nesses contos, a criança é raptada e 
substituída por outra idêntica fisicamente, porém, oposta no modo de ser e estar no mundo. 
Tal rapto ocorreria quando a criança ainda era pequena e a mãe não o notaria imediatamente. 
Com decorrer do tempo, ela estranharia, pois a criança deixaria de ser afetiva e passaria a 
ignorá-la (Rosenberg, 2011). 
Em 1801, foi encontrado nos boques de Caune, na região de Aveyron (França), um 
menino de 11 a 12 anos de idade que andava nu em meio aos lobos com os quais vivia. Aos 
cuidados do médico Jean Marc Itard, o menino recebeu o nome de Victor de Aveyron 
(L‘enfant sauvage), cujas descrições clínicas assemelham-se a um caso típico do Transtorno 
Autista (DSM-IV-TR), bem como faz valer a discussão sobre a importância da linguagem 
para a constituição da subjetividade do ser humano. 
Em 1809, John Haslam publicou suas “observações sobre a loucura e a melancolia” 
(idem). Neste livro há a descrição de casos clínicos sobre crianças, dentre os quais destaca-se 
o caso de W.H. – menino de aproximadamente 7 anos de idade que começou a falar após o 
quarto ano de vida e, aos 5 anos, falava como se tivesse de 2 a 3 anos de idade. W.H. se 
mantinha distante das crianças de sua idade; não brincava com elas; e apresentava ecolalia 
22 
 
tardia a respeito de seus soldados de chumbo. No livro em questão, Haslam (1809) também 
se refere a uma criança agressiva e incontrolável que rasgava roupas, quebrava todos os 
objetos que lhe eram apresentados e se opunha a comer. Conforme o autor, esta criança agia 
como se fosse surda e de forma opositora. 
Em 1832, Anselm Ritter Von Feuerbach relata o caso de Kaspar Hauser, intitulado “crime 
na alma de um homem” (idem). O autor descreve com objetividade o estranho 
comportamento de Kaspar – menino de aproximadamente 16 anos de idade que vivera em um 
porão isolado sem contato verbal com outros indivíduos. Segundo descrições de Feuerbach 
(1832), Kaspar não conseguia estabelecer diálogo por longo período de tempo, mas repetia a 
frase: “quero ser um cavaleiro como meu pai”. 
Nos primórdios da psiquiatria, na virada do século XVIII para o XIX, o diagnóstico de 
“idiotia” embasava o campo da psicopatologia de crianças e adolescentes. A idiotia pode ser 
considerada a condição clínica precursora, não só da atual deficiência intelectiva, mas 
também das psicoses infantis, da esquizofrenia infantil e do Transtorno do Espectro do 
Autismo – DSM-V (Bercherie, 2001). 
A partir do século XX, os psiquiatras passam a destacar as particularidades do que 
denominaram “demências precoces e precocíssimas” (idem). Pode-se considerar que as 
primeiras descrições de psicoses especificamente infantis incluíram a dementia precocissima, 
pelo italiano De Sanctis, em 1906 e 1908, e a dementia infantilis pelo austríaco Heller, em 
1908. Ambas tendo como referência a dementia praecox do alemão Emil Kraepelin (Kanner, 
1971; Wing, 1997). 
Em 1911, o psiquiatra suíço Eugen Bleuler apresentou e discutiu seis casos clínicos 
denominados de esquizofrenia infantil, nos quais os sintomas emergiam antes da puberdade, 
assim como incluíam alterações no comportamento, falta de conexão emocional e ausência de 
integração com o ambiente. Eugen Bleuler empregou o termo autismo para descrever uma 
23 
 
característica específica da esquizofrenia, segundo a qual um indivíduo se recolheria do 
mundo exterior para se refugiar em si mesmo. 
Baseado na esquizofrenia descrita por Bleuler, em 1943, o chefe do serviço de psiquiatria 
infantil do Johns Hopkins Hospital de Baltimore, Leo Kanner, publicou artigo intitulado “Os 
distúrbios autísticos do contato afetivo”. Ele descreveu onze crianças, cujo distúrbio 
patognomônico seria “a incapacidade de se relacionarem de maneira normal com pessoas e 
situações, desde o princípio de suas vidas” (Kanner, 1943, p. 242). 
Tais crianças eram descritas como apresentando “isolamento autístico extremo” (idem). 
Ao catalogar relatos dos pais dessas crianças, Kanner concluiu que, desde os primeiros anos 
de vida, elas negligenciam, ignoram ou recusam o contato com o ambiente. As mães 
comumente recordavam que o filho não apresentara atitude corporal antecipatória, ou seja, 
não inclinara o rosto nem movera os ombros antes de ser levado ao colo. De modo geral, os 
problemas na aquisição da fala costumavam retratar os primeiros sinais inequívocos de que 
algo estava errado (Kanner, 1943). 
A linguagem verbal não tinha função comunicativa. Há descrição de reunião de palavras 
sem ordenação e aparentemente sem sentido, ou de repetições de informações decoradas, 
como listas de animais, presidentes ou trechos de poemas. As crianças também tinham 
dificuldades em generalizar conceitos, tendendo a usá-los de modo literal e associados ao 
contexto no qual foram ouvidos pela primeira vez. Até os cinco ou seis anos de idade, 
apresentavam ecolalia e não usavam o pronome ‘eu’ para se referirem a si mesmas. Para 
manifestarem um desejo ou aquiescência repetiam, com a mesma entonação, a frase ou 
pergunta que haviam escutado de outrem (Kanner, 1943). 
Segundo Kanner (1943), tudo que vinha do exterior era experimentado por essas crianças 
como uma “intrusão assustadora” (ibidem), o que explicava não só a tendência a ignorar o 
que lhes era perguntado, mas também a recusa de alimentos e o desespero provocado por 
24 
 
barulhos fortes ou objetos em movimento. Os ruídos ou movimentos repetidos produzidos 
por elas próprias, entretanto, não eram acompanhados de manifestações de desespero. Kanner 
(1943) descreveu um “desejo obsessivo e ansioso pela manutenção da uniformidade” 
(ibidem), levando à preferência por tudo que se mostrava repetitivo, rotineiro e esquemático. 
Havia sempre uma boa relação com os objetos, especialmente aqueles que não 
modificavam sua aparência e posição. As relações com as pessoas, por outro lado, estavam 
gravemente perturbadas. Por vezes, se dirigia a partes do corpo dos outros, com o objetivo de 
retirar um pé ou um braço que funcionava como obstáculo ao que queria alcançar. Não 
olhavam os outros no rosto. Aparentemente não se interessavam pelo que os adultos 
conversavam. 
Todavia, no decorrer do artigo, Kanner (1943) contrapunha-se sobre as origens do quadro 
clínico. Defendia uma “incapacidade inata de estabelecer o contato afetivo habitual e 
biologicamente previsto com as pessoas, exatamente como as outras crianças vêm ao mundo 
com deficiências físicas ou intelectuais inatas” (ibidem). Por outro lado, sugeriu que os 
problemas dos filhos teriam alguma articulação com a personalidade dos pais e o tipo de 
relações precoces estabelecidas entre eles e a criança. 
Um ano após a publicação de Kanner, o pediatra austríaco, Hans Asperger (1906-1980), 
junto com colaboradores do Hospital Universitário Infantil de Viena, desenvolveu ambicioso 
programa de reabilitação pautado na terapia da linguagem, da representação teatral e da 
educação física. Asperger (1944) seguiu o termo “Autismo” sugerido por Bleuler e publicou 
trabalho intitulado “die autistischen psichopathen im kindersalter” (psicopatia autísticainfantil, também discutida como personalidade autista na infância). A partir de observações 
clínicas de quatro crianças, Asperger (1944) indicou grupo clínico, cujo acentuado 
isolamento social despertou atenção para a necessidade de proposições em educação especial 
(Asperger, 1944; Montero, 2009). 
25 
 
Asperger (1944) acreditava que as proposições em educação especial deveriam embasar-
se em um planejamento adequado, norteado pelo conhecimento profundo da condição clínica. 
Para tanto, ele descreveu crianças que demonstraram problemas de integração social e 
comunicação não-verbal (tanto gestos, como tom afetivo de voz), associada à 
comunicação verbal idiossincrática, qual seja, inclinação para o uso de fala prolixa em 
monólogo; tendência ao formalismo (como se fossem “pequenos professores”) e 
intelectualização das emoções. Segundo o pediatra austríaco, essas crianças eram retraídas ou 
alheias; possuíam interesses incomuns e circunscritos, inabilidade de explicar e predizer 
comportamentos de outras pessoas, bem como histórico de aquisição atrasada de habilidades 
motoras em contraponto ao não atraso clinicamente importante na aquisição da linguagem 
(Asperger, 1944; Frith, 2004; Klin, 2006; Klin, Volkmar, & Sparrow, 2000). 
Asperger salientou a natureza familiar da condição e, inclusive, sugeriu a hipótese de 
transmissão dos traços de personalidade ligada ao sexo masculino. Ele observou que tais 
crianças possuíam melhor desempenho escolar, quando guiadas por seus próprios interesses 
especiais e quando havia utilização de métodos pedagógicos mais objetivos (Asperger, 1994; 
Frith, 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Hans Asperger em atendimento clínico 
26 
 
Apesar das contribuições relevantes, o trabalho de Hans Asperger ganhou visibilidade no 
mundo anglófono quase quarenta anos depois, quando a psiquiatra inglesa Lorna Wing 
publicou trabalho intitulado “Asperger’s Syndrome” (Wing, 1981). 
Wing and Gould (1979) organizaram observações sistemáticas de casos clínicos com 
sintomas similares descritos por Asperger. Ainda que os critérios de validação tenham sido 
dissonantes ao trabalho do pediatra austríaco, o estudo inseriu o conceito de espectro autista e 
despertou, na comunidade científica internacional, o interesse em desenvolver estudos 
comparativos atrelando as contribuições de Kanner (1943) e Asperger (1944). 
O trabalho original de Hans Asperger foi traduzido para o inglês por Uta Frith (1991). A 
tradução literal permitiu compreender que tanto os conceitos de Kanner, quanto Asperger 
diferem do conceito clínico de esquizofrenia, bem como permitiu clarificar pontos comuns e 
divergentes entre as contribuições dos dois teóricos. 
Durante o período da década de 1990 e, início do século XXI, estudos médicos discutem 
se o Transtorno de Asperger (TA) compõe o Transtorno Autista, ou se é qualitativamente 
distinto. Discute-se a reduzida validação empírica dos critérios diagnósticos concernentes ao 
TA. Estudos genéticos reforçam a discussão ao apontar a expressividade clínica variável do 
Transtorno Autista – o mesmo genótipo pode produzir fenótipos de maior ou menor 
gravidade, dificultando, portanto, procedimentos de diagnóstico-padrão robustos e, por 
conseguinte, prognóstico e intervenção apropriados ao TA (Frith, 2004; Klin, 2006; Klin et 
al., 2005; Schwartzman et al., 2008). 
Convém ressaltar um elemento a mais neste debate acerca das dificuldades de 
caracterização dos sintomas clínicos diferenciadores das duas condições clínicas supracitadas. 
Em 1970, Elizabeth Newson referiu-se a pessoas autistas mais capazes e, a partir da década 
de 80, surgiu o termo Autismo de Alto-funcionamento (AAF) para designar uma forma de 
Transtorno Autista sem deficiência intelectiva, mas com claro atraso ou impacto na aquisição 
27 
 
da linguagem em estágios iniciais do desenvolvimento (Klin et al., 1995; Nydén et al., 1999; 
Planche & Lemonnier, 2012). 
Diante à problematização, a quinta versão do DSM (DSM-V), lançada em 2013, entra em 
vigor com a denominação Transtornos do Espectro Autista (TEA). Tal perspectiva propõe 
evidenciar um continuum de frequência e intensidade de características clínicas autistas. A 
partir de então, a constituição diagnóstica será pautada na caracterização clínica contínua do 
espectro, a qual substitui a atual categorização diagnóstica dos Transtornos Globais do 
Desenvolvimento – TGD (DSM-IV-TR). 
Estudos recentes evidenciam prevalência do diagnóstico de Transtorno Autista, a partir 
dos critérios do DSM-IV-TR, aproximado a 4.1/10.000 indivíduos, ao passo que o 
diagnosticado do Transtorno do Espectro do Autismo, critérios do DSM-V, aproxima-se de 
70/10.000 indivíduos (Mahjouri & Lord, 2012). 
No Brasil, estima-se 2 milhões de Autistas, 80% deles sem diagnóstico. Se forem 
utilizados os critérios descritos no DSM-IV, edição revisada (DSM-IV-TR), há prevalência 
de 1:2000 para o Transtorno Autista e, quando associado ao Transtorno de Asperger, tal 
prevalência praticamente dobra (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da 
República, 2012). 
Um dos primeiros estudos internacionais sobre os novos critérios clínicos para o TEA 
revela que, aproximadamente, 80% dos casos clínicos inseridos nos TGD não atendem aos 
critérios diagnósticos para o TEA. Destes, 75% correspondem ao Transtorno de Asperger 
(Mahjouri & Lord, 2012; Volkmar, 2013). 
Especialistas temem que a eliminação da diferenciação entre Transtorno Autista e 
Transtorno de Asperger prejudique a investigação de casos clínicos: “O risco é que os 
pacientes sejam classificados com uma rotulação patológica muitas vezes equivocada”, alerta 
a psicóloga Cristina Keiko (dezembro, 2012). 
28 
 
Em contraponto, Williams et al. (2008) realizou pesquisa documental com 466 
prontuários registrados por profissionais da saúde, destes 348 casos relevantes para análise 
dos TGD. A pesquisa revela que 44% das crianças atendem aos critérios diagnósticos do 
Transtorno de Asperger, ou do TGD sem outra especificação; mas estão diagnosticadas com 
Transtorno Autista. 
Wilkinson (2012) defende que os critérios para o Transtorno de Asperger são 
consistentes, quando há consenso entre profissionais especializados e capacitados para 
diferencia-los dentre os subtipos de funcionamento cognitivo mais elevado do Transtorno 
Autista. 
Estudos científicos especializados estão em vigor a fim de discutir critérios clínicos 
passíveis de distinguir o Autismo de Alto-funcionamento do Transtorno de Asperger (Klin, 
Volkmar, Sparrow, Cicchetti, & Rourke, 1995; Nydén, Gillberg, Hjelmquist, & Heiman, 
1999; Planche & Lemonnier, 2012). 
Planche and Lemonnier (2012) realizaram estudo empírico transversal, cujo objetivo foi 
investigar se crianças com Transtorno de Asperger possuem perfil cognitivo diferente do de 
crianças com Autismo de Alto-funcionamento. Para tanto, avaliaram trinta crianças, sendo 
quinze com diagnóstico de Transtorno de Asperger e quinze com Autismo de Alto-
funcionamento. Dentre os instrumentos de pesquisa, utilizaram a terceira edição da escala 
Wechsler de inteligência para crianças (WISC-III). 
A discussão do estudo põe em xeque à similaridade do perfil neuropsicológico ao 
apresentar diferença significativa entre o perfil cognitivo do Transtorno de Asperger e do 
Autismo de Alto-funcionamento. Identificaram que, apesar de não apresentarem diferença 
significativa no desempenho intelectivo global, os grupos clínicos divergem nos domínios 
verbal e não-verbal. Enquanto o grupo do Transtorno de Asperger apresentou desempenho 
29 
 
intelectivo verbal maior do que o não-verbal, o grupo com Autismo de Alto-funcionamento 
contrapõe-se. 
Na análise dos subtestes que compõem o domínio verbal da WISC-III (Informação, 
Semelhanças, Aritmética, Vocabulário, Compreensão e Dígitos), o grupo clínico do 
Transtorno de Asperger destaca-se nos subtestes Informações, Compreensãoe Aritmética. 
Tal resultado legitima a inexistência de atraso clinicamente importante na linguagem, uma 
vez que a execução das tarefas pressupõe o desenvolvimento da linguagem verbal. 
Em contrapartida, o grupo clínico com Autismo de Alto-funcionamento possui baixo 
desempenho no domínio verbal, porque, segundo os pesquisadores, as crianças desse grupo 
adquirem linguagem funcional – a partir de certa idade cronológica, elas adquirem expressão 
verbal, mas a dificuldade na habilidade de compreensão verbal persiste. 
Planche and Lemonnier (2012) constataram que o grupo clínico com Autismo de Alto-
funcionamento destaca-se no domínio não-verbal da WISC-III. Tal grupo clínico possui forte 
habilidade cognitiva na percepção visual; processamento simultâneo de estímulos 
visoespaciais; forte habilidade na capacidade de organização e síntese perceptual; bem como 
formação de conceito por raciocínio visoespacial. 
O grupo clínico com Transtorno de Asperger e o com Autismo de Alto-funcionamento 
aproximam-se no tocante a dificuldades em habilidades motoras. Embora dificuldades 
motoras raramente tenham sido operacionalmente definidas ou descritas de forma 
sistemática, Klin e colaboradores (1995; 2006) reforçam déficits em habilidades motoras 
amplas e finas, notadamente no grupo com Transtorno de Asperger, cujas dificuldades 
repercutem na falta de jeito motor, comumente caracterizada clinicamente. 
Planche and Lemonnier (2012) defendem que crianças com quadro clínico de Autismo de 
Alto-funcionamento podem tornar-se semelhante ao Transtorno de Asperger na vida adulta, 
especialmente quando desenvolvem habilidades de linguagem fluente. 
30 
 
Klin e colaboradores (1995) também investigaram a validade clínica do Transtorno de 
Asperger, comparando os perfis neuropsicológicos dessa condição clínica com o do Autismo 
de Alto-funcionamento. Para tanto, seguiram procedimento diagnóstico rigoroso a partir dos 
critérios clínicos definidos pela CID-10. Os grupos de pesquisa tinham idades compatíveis e 
distribuição controlada do desempenho intelectivo. 
Os resultados indicaram diferença significativa em onze funções neuropsicológicas entre 
o Transtorno de Asperger e o Autismo de Alto-funcionamento. Segundo a pesquisa, enquanto 
o grupo com Transtorno de Asperger possui desempenho intelectivo maior no domínio 
verbal, o grupo com Autismo de Alto-funcionamento possui desempenho intelectivo maior 
no domínio não-verbal. 
Frith (2004) afirma a necessidade de esclarecer a natureza do Transtorno de Asperger 
(TA), a partir o curso desenvolvimental do transtorno. Em média, o conjunto de sintomas 
característico do TA aparece muito mais tarde do que no Autismo de Alto-funcionamento. 
Howlin and Ashgarian (1999) verificaram que a idade média para diagnóstico de Autismo de 
Alto-funcionamento foi de aproximadamente cinco anos e cinco meses, enquanto o TA foi 
diagnosticado por volta dos onze anos de idade. 
Ambos os grupos reconheciam anormalidades no âmbito das interações sociais, todavia, 
pais e professores de crianças com TA eram menos propensos a preocupações intensas, em 
virtude das habilidades verbais preservadas (Frith, 2004). 
Stichter, O’Connor, Herzog, Lierheimer and McGhee (2012) destacam que o Transtorno 
de Asperger e o Autismo de Alto-funcionamento convergem em déficits qualitativos nas 
habilidades sociais e emocionais. Em ambos os grupos clínicos há comprometimento 
qualitativo em habilidades sociais, ou seja, na habilidade de se engajar em interações sociais, 
sucessivamente e independentemente; estabelecer e manter relações com os outros; bem 
como entender necessidades e desejos dentro de um contexto. 
31 
 
Por outro lado, Klin e colaboradores (1995) ressaltaram a diferenciação clínica entre o 
Transtorno de Asperger (TA) e Autismo de Alto-funcionamento, na medida em que 
pontuaram similaridades do perfil neuropsicológico do Transtorno de Asperger com o 
Transtorno Não-Verbal de Aprendizagem (TNVA). 
O TNVA constitui-se por alterações cognitivas decorrentes do comprometimento da 
substância branca e do hemisfério direito. Acredita-se que o comprometimento do hemisfério 
direito é condição necessária, enquanto o comprometimento da substância branca é condição 
suficiente para a ocorrência das manifestações do TNVA. O transtorno é caracterizado por 
dificuldades específicas de aprendizagem decorrentes de déficits cognitivos que envolvem 
habilidades como psicomotricidade; processamento visoespacial; caligrafia; prosódia e 
pragmática; aritmética; exploração do ambiente e adaptação à novidade (Haase et al., 2005). 
A denominação TNVA e sua caracterização sindrômica são derivadas dos estudos do 
neuropsicólogo Byron Rourke, da Universidade de Windsor, Canadá. Não existem estudos 
populacionais sobre a prevalência do TNVA, mas estima-se que as crianças com transtornos 
de aprendizagem correspondam a 10% da população em idade escolar. 
O principal motivo de encaminhamento no TNVA são as dificuldades de aprendizagem, 
as quais constituem um enigma para os educadores e profissionais de saúde. As dificuldades 
visoespaciais, de comportamento e de socialização são frequentemente observadas e relatadas 
pelos pais e educadores. Pode haver história prévia de dificuldades de desenvolvimento na 
primeira infância, inclusive, atraso na aquisição da linguagem com posterior compensação. 
As crianças com TNVA comumente são descritas como tímidas, ingênuas e sem malícia. 
Apresentam dificuldades para compreender os aspectos implícitos na interação social e na 
linguagem, principalmente a linguagem metafórica, a ironia e o sarcasmo. Todavia, é 
imperativo frisar que o perfil neuropsicológico do Transtorno Asperger aproxima-se do 
32 
 
TNVA, mas distancia-se ao se investigar o curso clínico e a etiologia dos quadros em questão 
(Planche & Lemonnier, 2012). 
Enquanto no TNVA as alterações cognitivas são decorrentes do comprometimento da 
substância branca e do hemisfério direito; a etiologia do Transtorno de Asperger (TA) ainda é 
desconhecida. O diagnóstico do TA é predominantemente clínico e baseado em critérios 
definidos pelo CID-10 e/ou DSM-IV-TR, ao passo que o TNVA não se insere nos manuais 
classificatórios de transtornos mentais. Asperger (1944) notou predisposição familiar na 
natureza das características, com um padrão masculino de transmissão, em contraponto, o 
TNVA possui características clínicas atreladas a quadros lesionais ou disfuncionais no 
hemisfério direito (Foster & King, 2003; Leão & Aguiar, 2005; Rinehart, Bradshaw, 
Brereton, & Tonge, 2002; Schwartzman et al., 2008). 
Apesar dos estudos científicos elucidados, Dra. Francesca Happé (2011), colaboradora do 
DSM-V para proposição dos critérios do Transtorno do Espectro do Autismo, declarou que, 
até o momento, não há robustas pesquisas capazes de evidenciar a distinção diagnóstica entre 
Autismo e Asperger. A revisão de literatura desenhada por ela indica proporção de 1:5 
estudos que evidenciam diferença significativa entre o Transtorno Autista e Transtorno de 
Asperger (Editorial J Psychiatry, 2013). 
A decisão de eliminar a distinção entre Transtorno Autista e Transtorno de Asperger 
desencadeou discussões no âmbito sociocultural. Muitas pessoas diagnosticadas com 
Transtorno de Asperger não se denominam autistas. Para além de uma concepção 
psiquiátrica, o grupo clínico em vigor comumente se designa “Aspie”: grupo sociocultural 
implicado com um modo de ser e estar no mundo qualitativamente diferente (observar 
websites como: aspieweb.net, wrongplanet.net, ou aspieworld.net). 
Kite et al. (2013) preocupam-se com o possível estigma social para com o grupo “Aspie”. 
Eles analisaram respostas de questionários, estruturados na escala Likert, as quais reuniam a 
33 
 
opinião de 547 profissionais sobre a possível diluição do diagnóstico Transtorno de Asperger 
no Transtorno do Espectro do Autismo. Destes, aproximadamentemetade demonstrou 
insatisfação com a mudança; 22% apoiaram, enquanto 28% manifestaram incerteza. 
A maioria dos profissionais insatisfeitos com a mudança compõe a área da saúde e da 
educação. Eles argumentam o impacto da alteração sobre a percepção do Transtorno Autista e 
Asperger. Para eles, são conceitos diagnósticos diferentes sob os quais subjaz características 
clínicas dissonantes e, por conseguinte, necessidades interventivas diferenciadas. Ademais, 
eles defendem que o termo Autismo tem um impacto maior sobre o indivíduo e a família do 
que o termo Asperger. Segundo Kite et al. (2013), comumente há pior estigma social para 
com aqueles denominados autistas. 
Em contrapartida, os profissionais defensores da mudança argumentam que o conceito de 
Transtorno do Espectro do Autismo torna-se condição sine qua non para eliminar percepções 
tendenciosas entre rótulos de Autistas e Asperges. Ademais, eles defendem que a nova 
proposição diagnóstica introduz descrições clínicas detalhadas, passíveis de aferir níveis de 
gravidade dentro do espectro. 
Em suma, do percurso histórico do conceito diagnóstico do autismo parece emergir 
desconcertos e fascinação em torno do termo variabilidade. Há variabilidade nas taxas de 
prevalência, variabilidade entre os diagnósticos médicos e intervenções educacionais; 
variabilidade em pesquisas que buscam entender a sensibilidade e especificidade das edições 
classificatórias imbricadas com o diagnóstico clínico do autismo (Mahjouri & Lord, 2012). 
É factível perceber que o percurso histórico está imbricado com um universo imbuído de 
fascinantes peculiaridades. Para além de esforços taxonômicos, o autismo e seu percurso 
histórico refletem a intrigante complexidade e sofisticação de um ser humano atravessado por 
um transtorno do desenvolvimento. 
 
34 
 
Capítulo 2: O perfil neuropsicológico do Transtorno Autista e Transtorno de 
Asperger 
 
Conforme exposto anteriormente, a quarta edição do DSM inseriu o autismo em uma 
nova classe diagnóstica denominada Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), os 
quais incluem: o Transtorno Autista, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett, Transtorno 
Desintegrativo da Infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra 
especificação (APA, 1994). 
Para o diagnóstico de Transtorno Autista exige-se presença de comprometimento 
qualitativo da interação social, comunicação, assim como padrões restritos e repetitivos de 
comportamento, interesses e atividades. Indivíduos que atendem ao diagnóstico têm total de 
seis (ou mais) características clínicas, sendo pelo menos duas no critério de interação social, 
uma no de comunicação, bem como uma no de padrões restritos e repetitivos de 
comportamento, interesses e atividades. Ademais, deve-se apresentar atrasos ou 
funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos 
de idade: 1) interação social, 2) linguagem para fins de comunicação social ou 3) jogos 
imaginativos ou simbólicos (APA, 2002). 
O diagnóstico do Transtorno de Asperger abarca comprometimento qualitativo da 
interação social e no desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, 
interesses e atividades. Em contraste com o Transtorno Autista, não há atrasos ou desvios 
clinicamente significativos na aquisição da linguagem, embora aspectos mais sutis de 
comunicação social possam ser afetados. Ademais, durante os 3 primeiros anos de vida, não 
ocorrem atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo, o que, por 
conseguinte, desencadeia curiosidade normal diante do ambiente ou na aquisição de 
habilidades de aprendizagem e comportamentos adaptativos próprios da idade (APA, 2002). 
35 
 
Em contraponto ao Transtorno de Asperger, o Transtorno de Rett caracteriza-se por um 
grave comprometimento no desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva. Descrito 
por Rett em 1966, através de estudo com gêmeas univitelinas, o transtorno caracteriza-se pelo 
desenvolvimento de múltiplos déficits específicos, após um período de funcionamento 
normal durante os primeiros anos de vida. Após o período de desenvolvimento normal há 
desaceleração do crescimento cefálico, perda de habilidades manuais voluntárias, perda do 
envolvimento social no início do transtorno e incoordenação da marcha ou movimentos do 
tronco. O Rett tem sido diagnosticado apenas no sexo feminino e está tipicamente associado 
com deficiência cognitiva grave ou profunda. A etiologia genética específica foi determinada 
(APA, 2012; Volkmar et al., 2012). 
O Transtorno Desintegrativo da Infância, também denominado síndrome de Heller 
(1908), constitui-se por um prolongado período de desenvolvimento típico (normalmente 3 
ou 4 anos) seguido de deterioração drástica no desenvolvimento da comunicação verbal e 
não-verbal, relacionamentos sociais, jogos e comportamento adaptativo próprios da idade. Os 
indivíduos afetados exibem déficits sociais, comunicativos e comportamentais geralmente 
observados no Transtorno Autista. Ocasionalmente pode está associado à condição médica 
geral (como leucodistrofia metacromática), mas robustas pesquisas não afirmam a condição 
como aspecto essencial ao transtorno (APA, 2002; Volkmar et al., 2012). 
Por sua vez, o TGD sem outra especificação caracteriza-se por comprometimento grave e 
global do desenvolvimento da interação social recíproca, ou de habilidades de comunicação 
receptiva e expressiva, ou comprometimento de estereotipias de comportamento, interesses e 
atividades. Para tanto, os critérios do Transtorno Autista não devem ser satisfeitos, em virtude 
da idade tardia de seu início, quadro com sintomatologia atípica, sintomatologia subliminar 
ou todas acima (APA, 2002). 
36 
 
O TGD revela-se como transtorno mental. Os transtornos mentais são categorias 
descritivas e não explicativas ou etiológicas. Constituem expressão clínica mental imbricada 
com alterações da experiência subjetiva e do comportamento que se manifestam 
independentemente das causas subjacentes, sejam estas biológicas, psicológicas ou sociais. 
Constituem alterações qualitativas da vida subjetiva ou do comportamento de modo atípico 
ao esperado pela sociedade e cultura a qual pertence o indivíduo (Ministério da Saúde, 2013). 
O TGD também se constitui como “transtorno do desenvolvimento”, cuja perspectiva 
abarca basicamente duas vertentes: específico ou global. Os transtornos específicos do 
desenvolvimento constituem aqueles que afetam o funcionamento psíquico ou cognitivo de 
forma circunscrita – todos os transtornos de aprendizagem, por exemplo. Já os transtornos 
globais do desenvolvimento afetam uma ampla gama de funções psíquicas, sendo também 
conhecidos como transtornos invasivos ou abrangentes do desenvolvimento. 
Para além de um conceito arcaico acerca do desenvolvimento como processo 
fundamentalmente determinista e de base estritamente genética; considera-se a perspectiva 
contemporânea da psicopatologia do desenvolvimento, qual seja, compreender o 
desenvolvimento como processo resultante de uma intrincada e complexa interação entre 
fatores genéticos e sócio-culturais, sendo estes últimos tanto de natureza psicossocial quanto 
ecológica. 
Nesta perspectiva, o neurodesenvolvimento da criança não é um processo contínuo e 
homogêneo. Depende da interação entre os múltiplos fatores de crescimento neuronal 
diferencial das várias áreas cerebrais, do grau de mielinização das estruturas cerebrais, do 
desenvolvimento cerebral pré-natal e das possibilidades que têm o cérebro em 
desenvolvimento para reorganizar seus múltiplos padrões de respostas e conexões mediante a 
experiência (Muzskat, 2006). 
37 
 
Desta forma, o conceito de (neuro)desenvolvimento não pode ser dissociado do conceito 
de plasticidade. À medida que o desenvolvimento cumpre o seu percurso, diferentes 
potenciais de modificabilidade se expressam no cérebro devidoà experiência (Muzskat, 
2006). Pressupõe o estabelecimento de uma relação de aprendizagem e comunicação 
constante entre o organismo e o meio ambiente em que este se desenvolve, ou para o qual se 
direciona. Inter-relação esta que desencadeia modificações na estrutura física e funcional 
(incluindo-se os padrões maturacionais e ontogenéticos), modificando, assim, as conexões de 
acordo com as várias influências socioculturais e ambientais. 
Acredita-se que o TGD é uma espécie de “pane” neurofisiológica que cria obstáculos para 
o processamento cerebral. Se considerarmos o desenvolvimento ontogenético pelo princípio 
de crescimento ascendente e sobreposto das zonas corticais, provavelmente, há modificações 
no desenvolvimento de uma zona cortical elementar de atividade mental, a qual desencadeia 
efeito secundário, ou sistêmico, no desenvolvimento de zonas corticais superiores sobrepostas 
a essa atividade elementar (Luria, 1981). 
Como a trama de fina renda, onde ao se modificar um elo há o risco de desmanchar todo 
o desenho, possivelmente, nas manifestações clínicas dos transtornos globais do 
desenvolvimento subjaz um processo atípico ou prejudicial que atravessa e “reconfigura” o 
(neuro)desenvolvimento típico. 
Achados neuroanatômicos e neurofisiológicos: 
No tocante ao Transtorno Autista, Machado e colaboradores (2003) encontraram 
alterações anatômicas em 75% do grupo clínico infanto-juvenil (0 a 19 anos de idade). 
Estudos neuropatológicos indicaram que indivíduos diagnosticados com Transtorno Autista 
possuem comprometimentos no desenvolvimento associados a impactos na maturação do 
sistema nervoso central. Tais estudos revelaram alterações microscópicas na organização e 
proliferação celular localizadas nos circuitos do sistema límbico, cerebelar, hipocampo, lobo 
38 
 
temporal e lobo frontal. Frequentemente há redução de volume cerebral à custa da atrofia do 
lobo frontal e da região fronto-temporal (Campos, 2005; Carmargos, 2005; Machado et al., 
2003). 
Comumente verifica-se redução no número e tamanho das células neuronais do complexo 
hipocampal, amigdala e corpo mamilar, além de alterações da árvore dendrítica do 
hipocampo. O cerebelo pode apresentar hipoplasia global ou seletiva do vermis neocerebelar 
associada, ou não, a outras malformações do sistema nervoso central (Campos, 2005; 
Carmargos, 2005; Machado et al., 2003). 
O comprometimento de áreas associativas, no que diz respeito às sinapses, organização 
neuronal, conexões entre diversos circuitos e distribuição do fluxo sanguíneo, também 
desempenha importante papel no Transtorno Autista (Campos, 2005; Castelli, Frith, Happe, 
& U. Frith, 2002). 
Levy, Mandell, Schultz (2010) propõem que o autismo está relacionado a uma desordem 
na organização cortical que, por conseguinte, desencadeia comprometimento neuronal no 
processamento de informações do sistema nervoso central (desde a organização de 
conectividade sináptica até a estrutura cerebral). 
De forma geral, as principais regiões cerebrais disfuncionais no Autismo são os lóbulos 
frontais, os quais têm amplas conexões recíprocas com o hipocampo (memória), lobo 
temporal/ sistema límbico e amígdala (envolvidos na memória e afetividade) e cerebelo 
(envolvido na afetividade, cognição, atenção) (Lyons & Fitzgerald, 2004). 
Dentre as alterações funcionais, as mais frequentes estão associadas à hipoconcentração 
do radiofármaco no córtex frontal esquerdo e no lobo temporal esquerdo. Silva e 
colaboradores (2013) verificaram baixa conectividade funcional em virtude de diferentes 
padrões na ativação e no tempo de sincronização da rede cortical anterior. 
39 
 
Schultz e colaboradores (2000) chamam a atenção para ressonâncias magnéticas 
funcionais de crianças com Transtorno de Asperger. O estudo sugere que durante a 
identificação de expressões faciais há mais atividade no gyrus temporal inferior, em 
detrimento da menor atividade no gyrus fusiforme. Enquanto esta área está implicada com a 
discriminação do rosto humano, aquela é responsável pela discriminação de objetos. Nesta 
perspectiva, o estudo reafirma o comportamento já observado nos indivíduos com Transtorno 
de Asperger – maior interesse pelos objetos, em detrimento das relações humanas 
(Carmargos, 2005; Castelli et al., 2002; Frith, 2004). 
Apesar da presença dessas alterações anátomo-funcionais serem frequentes, o diagnóstico 
do Transtorno Autista e Transtorno de Asperger continuam sendo prioritariamente clínico, 
uma vez que as características clínicas não são completamente explicadas por estas 
alterações, bem como pela constatação que tais alterações não estão presentes em 100% dos 
casos. 
Tanto o Transtorno Autista, quanto o Transtorno de Asperger, desvelam alterações 
qualitativas da experiência subjetiva e dos processos cognitivos envolvidos na interação 
social, na comunicação e em padrões restritos, repetitivos e estereotipados de 
comportamento, interesses e atividades (APA, 2002). 
O autismo constitui-se como transtorno do desenvolvimento com forte indício de 
componente genético. Entretanto, apesar dos estudos sugerirem alterações na região 
intergênica entre caderina 9 e 10, bem como variações nos cromossomos 2,3,5,7,16,22 e X; a 
etiologia continua desconhecida (Lyons & Fitzgerald, 2004; Pacheco, 2012). 
Aspectos comportamentais: 
Por meio de observações clínicas sistemáticas e longitudinais, Messinger (2012) 
comparou crianças sem histórico familiar de Transtorno Autista, com crianças autistas. Ele 
observou a presença de falhas gestuais nos primeiros meses de vida a partir da observação do 
40 
 
modo pelo qual os bebês autistas olhavam para os objetos, pediam o que desejavam, ou como 
reagiam quando apontavam para alguma direção. Tais bebês apresentaram sinais mais 
evidentes de autismo, após os 2 anos e meio de idade. 
Outro comportamento indicativo de características clínicas do Transtorno Autista é a 
aceitação do colo de qualquer pessoa. Comumente, a partir dos 8 meses, a criança tende a 
estranhar quem não é do seu convívio e até chora demonstrando aparente insatisfação. Uma 
criança autista sugere sentir-se confortável com qualquer pessoa. 
O choro quase ininterrupto, uma inquietação constante, ou ao contrário, uma aparente 
apatia exacerbada, também despertam a atenção. É importante observar, inclusive, se o 
pequeno se incomoda com o toque, com alguns sons e com certas texturas de alimentos (o 
que comumente dificulta a transição do leite materno para as comidas sólidas). Quando as 
crianças estão mais velhas, os pais geralmente observam ausência da fala, uma aparente 
surdez e os movimentos pendulares estereotipados de tronco, mãos e cabeça. 
Desde os primeiros anos de vida, as crianças autistas podem demonstrar um 
comprometimento na reciprocidade social. Comumente verifica-se aparente ausência de 
necessidade de aconchego, ausência de elevação dos braços (como antecipação a ser pego no 
colo), falta de imitação da fala ou dos gestos, falha em apontar ou mostrar objetos para os 
outros e peculiar contato visual. Comumente as crianças procuram o objeto/evento de 
interesse, mas não há partilha social do mesmo. Frequentemente demonstram não responder 
ao nome próprio, especialmente quando há envolvimento excessivo no que estão fazendo 
(Grossman, Carter, & Vokmar, 1997). 
Em contraponto, Frith (2004) sugere árdua tarefa de identificação do Transtorno de 
Asperger (TA) ainda na primeira infância, porque, à primeira vista, crianças com TA parecem 
mais avançadas do que seus pares, notadamente quando o desempenho intelectivo está acima 
da média esperada para faixa etária. 
41 
 
É sabido que crianças com Asperger têm grandes dificuldades para estabelecer 
brincadeiras com seus pares. Pesquisas de cunho clínico indicam que fracassos duradouros 
em interações sociais de indivíduos com TA, normalmente estão atrelados a comportamentos 
autênticos e falhas na empatia.

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