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SÍFILIS RESPOSTA A PARTIR DE ABORDAGENS POR MÚLTIPLAS DIMENSÕES Organizadores Ricardo Valentim Juciano Lacerda Karilany Coutinho Aline Pinho Dias Carlos Alberto Carmem Rêgo Angelica Espinosa Gerson Pereira Janaína Rodrigues Natal,RN 2023 SÍFILIS RESPOSTA A PARTIR DE ABORDAGENS POR MÚLTIPLAS DIMENSÕES Secretária de Educação a distância Maria Carmem Freire Diógenes Rego Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Moraes Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Coordenadora Editorial Maurício Oliveira Jr. Gestão do Fluxo de Revisão Edineide Marques Gestão do Fluxo de Editoração Maurício Oliveira Jr. Conselho Técnico-Científico – SEDIS Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Aline de Pinho Dias – SEDIS André Morais Gurgel – CCSA Antônio de Pádua dos Santos – CS Célia Maria de Araújo – SEDIS Eugênia Maria Dantas – CCHLA Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Reitor José Daniel Diniz Vice-reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria da Penha Casado Alves (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Isabel Dillmann Nunes – IMD Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ Jefferson Fernandes Alves – SEDIS José Querginaldo Bezerra – CCET Lilian Giotto Zaros – CB Marcos Aurélio Felipe – SEDIS Maria Cristina Leandro de Paiva – CE Maria da Penha Casado Alves – SEDIS Nedja Suely Fernandes – CCET Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS Sulemi Fabiano Campos – CCHLA Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA Revisão Linguístico-textual Emanuelle Diniz Revisão de ABNT Edineide da Silva Marques Revisão Tipográfica Flávia Jácome Gonçalves Diagramação, Capa e Projeto gráfico Lucas Almeida Mendonça Conselho Editorial Maria da Penha Casado Alves (Presidente) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Adriana Rosa Carvalho Alexandro Teixeira Gomes Elaine Cristina Gavioli Everton Rodrigues Barbosa Fabrício Germano Alves Francisco Wildson Confessor Gilberto Corso Gleydson Pinheiro Albano Gustavo Zampier dos Santos Lima Izabel Souza do Nascimento Josenildo Soares Bezerra Ligia Rejane Siqueira Garcia Lucélio Dantas de Aquino Marcelo de Sousa da Silva Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Dias Pereira Martin Pablo Cammarota Nereida Soares Martins Roberval Edson Pinheiro de Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa Tercia Maria Souza de Moura Marques Catalogação da publicação na fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Secretaria de Educação a Distância Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488. Sífilis : resposta a partir de abordagens por múltiplas dimensões [recurso eletrônico] / organizado por Janaína Rodrigues, Gerson Pereira, Angelica Espinosa, Carmem Rêgo, Carlos Alberto, Aline Pinho Dias, Karilany Coutinho, Juciano Lacerda e Ricardo Valentim. – 1. ed. – Natal: SEDIS-UFRN, 2023. 15536 KB; 1 PDF ISBN nº 978-65-5569-289-1 1. Sífilis. 2. Sífilis – Atenção Básica. 3. Sífilis – Tratamento. 4. Sífilis – Experiências. I. Janaína Rodrigues. II. Periera, Gerson. III. Espinosa, Angelica. IV. Rêgo, Carmem. V. Alberto, Carlos. VI. Dias, Aline Pinho. VII. Coutinho, Karilany. VIII. Lacerda, Juciano. IX. Valentim, Ricardo. CDU 616-002.6 S573 Apresentação ....................................................... 10 Lavínia Uchoa Azevedo de Araújo Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim Capítulo 1 ............................................................. 14 Cooperação Técnica Internacional em Saúde no Âmbito do Projeto “Sífilis Não” Isabele Magaldi Almeida de Freitas Thaisa Santos Lima Mario Orestes Aguirre González Carlos Alberto Pereira de Oliveira Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim Karilany Dantas Coutinho Aline de Pinho Dias Sara Marisa de Graça Dias do Carmo Trindade José António Moreira Joaquim Luís Medeiros Alcoforado Carla Padrel de Oliveira José Antonio Jimenez de las Heras Lucía Sanjuan Nuñez Juciano de Sousa Lacerda Nicolás Lorite-García Daniele Montenegro da Silva Barros Agnaldo Souza Cruz Maria Carmem Freire Diogenes Rego Maria Cristina Abrão Nachif Jorgenrique de Azevedo Tinoco Carla de Carvalho Araújo Lima Natalia Araújo do Nascimento Batista Vivekanandan Kumar Rafael Pinto Philippi Sedir Grilo de Morais Rodrigo Dantas da Silva Azim Roussanaly Anne Boyer Sumário Capítulo 2 ............................................................. 59 Utilização de Mediação Tecnológica na Formação Humana de Pessoas Privadas de Liberdade Janaína L. R. da S. Valentim Sara Dias-Trindade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira José António Marques Moreira Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim Karilany Dantas Coutinho Maíra Luciano Sidrim Capítulo 3 ............................................................. 80 Qualidade Pedagógica e Inovação na Produção de Recursos Educacionais Mediados por Tecnologia para Enfrentamento à Sífilis Aline de Pinho Dias Luís Alcoforado Kaline Sampaio de Araújo Maurício Oliveira Júnior Vera Lúcia Kodjaoglanian Capítulo 4 ............................................................110 Formação de Gestantes no Pré-natal para Enfrentamento à Sífilis e Demais IST: O uso de ferramenta educacional mediada por tecnologia Andressa Cristina de Lacerda Oliveira Lina Morgado Josiane Araújo da Cunha Aline de Pinho Dias Capítulo 5 ............................................................131 A População Jovem e as Infecções Sexualmente Transmissíveis: O papel da educação na transformação do comportamento juvenil frente à sífilis Cristina Pereira Vieira Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Maria Valéria Pareja Credidio Freire Alves Capítulo 6 ............................................................169 Desafios e Potencialidades da Educomunicação como Estratégia no Enfrentamento à Sífilis Marilyn Anderson Alves Bonfim Janaína Luana Rodrigues da Silva Valentim Sara Marisa da Graça Dias do Carmo Trindade Eloiza da Silva Gomes de Oliveira José Antônio Marques Moreira Karilany Dantas Coutinho Aline de Pinho Dias Capítulo 7 ........................................................... 180 Desafios e Perspectivas para a Educação em Saúde Sexual de Adolescentes e Jovens no Enfrentamento à Sífilis e Outras IST Laísi Catharina da Silva Barbalho Braz Aliete Cristina Gomes Dias Pedrosa da Cunha Oliveira Pedro Urbano Arthur Barbalho Braz Aline de Pinho Dias Capítulo 8 ............................................................197 Olhares Interdisciplinares Sobre a Sífilis: Diálogos a Partir das Ciências Humanas e Sociais em Saúde Lucía Sanjuán Núñez Elizabethe Cristina Fagundes de Souza Ana Gretel Echazú Böschemeier Maria Valéria Credidio Freire Alves Capítulo 9 ............................................................232 O Tratamento da Sífilis na Mídia da Espanha e do Brasil: Uma Análise das Campanhas (2010-2021) Ana Cláudia Costa de Araújo Maria del Mar Marcos Molano Juciano de Sousa Lacerda Almudena Muñoz Gallego Capítulo 10 ..........................................................252 Análise Qualitativa Audiovisual de Uma Websérie Sobre Prevenção da Sífilis no Brasil Análisis Cualitativo Audiovisual de Una Webserie Sobre Prevención de la Sífilis en Brasil Juciano de Sousa Lacerda Nicolás Lorite García Lucía Sanjuan Nuñez José Antonio Jiménez de las Heras Maurício Oliveira Jr. Kaline Sampaio Lilian Carla Muneiro Capítulo 11 ..........................................................297 Perspectivas Comunicacional, (Inter)Cultural e Educacional e Competências na Promoção da Saúde Sexual e na Prevenção da Sífilis e outras IST em Contextos Interculturais Natália Ramos Juciano de Sousa Lacerda Suelayne Cris Medeiros de Sousa Anderson Augusto Silva de Almeida Capítulo 12 ..........................................................322 Divulgação Científica e Informação em Saúde para Regiões Fronteiriças: O Enfrentamento à Sífilis na Tríplice Fronteira Brasil/Paraguai/Argentina ArthurBarbalho Braz Bárbara Maria Granês Gonçalves Bäckström Lilian Carla Muneiro Laísi Catharina da Silva Barbalho Braz Suelayne Cris Medeiros de Sousa Jordana Maria Vieira Soares Palavras Não Tão Finais Assim... ......................... 348 Apresentação Os textos que o leitor tem em mãos foram elaborados por pesqui- sadores do Projeto “Sífilis Não” que, ao refletirem sobre suas participações, perceberam a necessidade de contar algumas de suas experiências por meio de um ENSAIO. Com toda a certeza, artigos em periódicos e relatórios técnicos não dariam conta de externar o desejo do grupo que se via diante do que executaram e do que vislumbram. Nesse processo, os editores e os autores esforçaram-se para compartilhar feitos e sonhos com uma ampla gama de leitores não somente da área da saúde mas também aqueles interessados em saber sobre saúde pública. Ressalte-se que, para nós, esse pode ser considerado o pano de fundo de nossas ações, sendo capaz de impactar nosso tempo e o das futuras gerações. Trata-se, em verda- de, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) e do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (Nesc) aproximando, alimentando e fortalecendo vínculos entre a universidade e a sociedade. A Análise da Situação de Saúde demonstra a amplitude do projeto, produtos elaborados, desafios e proposições rumo à superação. Ações de testagem – tão importantes e urgentes – são apresentadas para que o leitor conheça os desafios de uma ação que pode parecer simples, mas que demanda decisão, planeja- mento e organização para sua adequada execução. Neste e-book, a urgência dos resultados dos testes para início do tratamento e o levantamento de dados para dimensionarmos a doença, a redução das subnotificações e a qualificação das informações do sistema de notificações estão sublinhados. Nesta obra, Ensaios, falamos do comunicar, do externar, trazendo informações de qualidade que são basilares para ações de educomunicação. Acreditamos que agir para o enfrentamento da doença e compartilhar o conhecimento que produzimos seja o caminho para conseguirmos esclarecer as pessoas em relação à sífilis, romper tabus e estigmas e nos envolver em uma constante prática de educação em saúde. Para isso, o projeto envolveu todas as mídias disponíveis para formar uma ecologia comunicativa do Sistema Único de Saúde (SUS). O Apoio Institucional no SUS, sempre relevante, foi um dos pilares das ações de saúde coletiva nos três primeiros anos do Projeto “Sífilis Não”, que contou com uma rede de apoiadores (pesquisadores de campo) nos territórios, em movimentos junto aos gestores e trabalhadores do SUS para fortalecer ações de vigilância; de gestão e de governança; de cuidado integral; e da pesquisa-ação. Ademais, dificuldades encontradas, intensificadas pela pandemia de covid-19, e lições aprendidas foram registradas nestes Ensaios. O leitor irá conhecer ainda o caminho percorrido para cons- truir um modelo de sistematização das pesquisas que adviriam do Projeto “Sífilis Não”. A esse respeito, destacam-se: a construção de um termo de referência; a definição de estratégia de trabalho; a articulação com o apoio institucional nos territórios; e o mode- lo de gestão e de acompanhamento das pesquisas relatado pelos autores que evidenciam o cuidado com que esse tema foi tratado pelo projeto. Destacam-se também os muitos desafios enfrentados. Ao final, fomos presenteados com uma reflexão sobre a gestão de casos em sífilis, que expõe os desafios postos pela fragmentação do cuidado no SUS e aponta para a necessidade estratégica de uma revisão dos processos de trabalho no âmbito da gestão, da atenção primária e da vigilância em saúde para o 11 Apresentação enfrentamento da epidemia de sífilis no Brasil. Tais desafios são ampliados pelo frágil modelo de notificação da sífilis, que inter- fere e obscurece a realidade da epidemia no país. O Projeto “Sífilis Não” representa um marco importante do Brasil no enfrentamento a uma doença durante muito tempo negli- genciada. Por pelo menos duas décadas, a sífilis registrou aumento sucessivo de casos, aspecto que mudou depois que o Brasil decla- rou uma epidemia de sífilis em 2016. Nesse contexto, podemos considerar o ano de 2018 como simbólico para a saúde pública no enfrentamento à sífilis quando foi iniciado este projeto que é resul- tado de uma pactuação interfederativa a ser executado por meio de uma cooperação técnica e científica entre a UFRN, o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Trata-se de um projeto complexo e de grandes dimensões. A partir dos primeiros anos, o projeto conseguiu atuar como ferra- menta de indução de política pública no combate à sífilis, contri- buindo de forma importante para mudar a tendência de aumento de casos de sífilis no Brasil, promovendo, para tanto, diversas ações e articulações em nível nacional, estadual e municipal. Por fim, um dos mais importantes resultados do Projeto “Sífilis Não” foi, certamente, ter contribuído para que o tema sífilis passasse a estar presente na agenda pública de saúde brasileira. Devemos reconhe- cer que parte desse resultado deve-se ao trabalho dos apoiadores. Para o Nesc, a oportunidade de disponibilizar sua expertise em pesquisas no campo da Saúde Coletiva, especialmente com a finalidade de contribuir para mudanças nos processos de gestão e de atenção para a redução do impacto da sífilis sobre a saúde da população, proporcionou, a um só tempo, a possibilidade de apro- fundar conhecimentos sobre tema de grande relevância e ampliar a convicção da necessidade de fortalecimento do SUS como polí- tica pública fundamental para a superação das desigualdades 12 Apresentação sociais no nosso país. Estes Ensaios são, portanto, ao nosso ver, mais uma trilha lançada na construção desse caminho. Lavínia Uchoa Azevedo de Araújo Coordenadora do Nesc/UFRN Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim Coordenador Geral do Projeto “Sífilis Não” Diretor Executivo do Lais/Huol/UFRN 13 Apresentação Capítulo 1 Cooperação Técnica Internacional em Saúde no Âmbito do Projeto “Sífilis Não” Isabele Magaldi Almeida de Freitas 1, Thaisa Santos Lima1, 3 Mario Orestes Aguirre González 7 Carlos Alberto Pereira de Oliveira 1, 2 Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim 1, 7 Karilany Dantas Coutinho 1, 7 Aline de Pinho Dias 1, 7 Sara Marisa de Graça Dias do Carmo Trindade 4 José António Moreira 4 Joaquim Luís Medeiros Alcoforado 4 Carla Padrel de Oliveira 12 José Antonio Jimenez de las Heras 8 Lucía Sanjuan Nuñez 9 Juciano de Sousa Lacerda 1, 10 Nicolás Lorite-García 10 Daniele Montenegro da Silva Barros 1 Agnaldo Souza Cruz 1 Maria Carmem Freire Diogenes Rego1, 7 Maria Cristina Abrão Nachif 1 Jorgenrique de Azevedo Tinoco 1 Carla de Carvalho Araújo Lima 1 Natalia Araújo do Nascimento Batista 1, 7 Vivekanandan Kumar 5 Rafael Pinto 1,6 15 Capítulo 1 Philippi Sedir Grilo de Morais 1 Rodrigo Dantas da Silva1 Azim Roussanaly 13,14 Anne Boyer 13,14 1Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2Instituto Multidisciplinar de Formação Humana com Tecnologias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro 3 Senado Federal, Brasil 4 CEIS20 Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra 5 Athabasca University, Athabasca, Canadá 6 Coordenação de Sistemas de Informação, Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil 7 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil 8 CAI-CREAV, Centro de Apoyo a la Investigación de Creación de Contenidos Audiovisuales y Digitales para la Docencia e Investigación da Universidade Complutense de Madri. 16 Capítulo 1 9 GRAFO, Grup de Recerca en Antropologia Fonamental i Orientada da Universidade Autônoma de Barcelona. 10 PPgEM, Programa de Pós- Graduação em Estudos da Mídia da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte. 11 MIGRACOM, Observatorio y grupo de investigación sobre inmigración y comu- nicación da Universidade Autônoma de Barcelona. 12 Universidade Aberta de Portugal 13 LORIA - laboratoire lorrain de recherche en informati- que et ses applications 14 Université de Lorraine 1. Introdução A Cooperação Internacional é um instrumento relevante para o fortalecimento e o desenvolvimento da capacidade dos países nas mais diversas áreas, entre elas, a saúde. Mediante a transferência e o compartilhamento de conhecimentos, experiências e tecnolo- gias, os sistemas de saúde dos países são fortalecidos e os desa- fios de desenvolvimento são superados (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2013, 2010). No contexto do compromisso assumido pelos 193 Estados- Membros da Organização das Nações Unidas (ONU) com os 17 Capítulo 1 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Agenda 2030, a Cooperação Internacional mostra-se uma estratégia ainda mais valiosa para o alcance das metas em nível nacional e mundial (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2010; UN, 2015). Um dos resultados esperados dessa Agenda é a melhoria da saúde global. Para tanto, é necessário um esforço conjunto dos estados e dos demais atores de toda a sociedade para que ações coordenadas de cooperação possam incidir sobre os fatores determinantes da saúde (HADJIKAKOU et al., 2019; PRADYUMNA, 2018). Nesse sentido, é primordial acompanhar e avaliar o desempenho dessas ações, sejam elas em nível nacional ou internacional, para que estejam alinhadas com os objetivos pretendidos com a cooperação. Nesse processo, ainda é evidente a deficiência de estu- dos acerca de indicadores de desempenho para a avaliação das cooperações técnicas estabelecidas entre instituições e organismos internacionais, uma vez que apenas o monitoramento dos recursos financeiros investidos em um projeto de cooperação técnica inter- nacional não é o suficiente para identificar os impactos sociais das ações e as direcionar para a indução das políticas públicas (LIMA, 2011). É fundamental ter em mente que aprender o que funciona e identificar o porquê disso são pontos cruciais da avaliação da cooperação internacional (UITTO, 2014). Nessa perspectiva, um framework para avaliação deve contemplar em seu escopo tanto os fatores técnicos intrínsecos da cooperação como os fatores políticos relacionados às parcerias (BRONIATOWSKI et al., 2008). Nesse contexto, este estudo tem como objetivo propor um sistema de medição de desempenho para melhorar a efeti- vidade dos acordos de cooperação técnica internacional. Esta pesquisa utilizou como caso de estudo o Projeto “Sífilis Não!” do Ministério da Saúde brasileiro. Esse projeto é operacionalizado 18 Capítulo 1 pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ainda que seja uma proposta nacional executada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), esse projeto contempla, para além das ações de cooperação técnica interfederativas, uma gama de ações internacionais voltadas para o alcance do objetivo geral do proje- to, que é a redução dos casos de sífilis no Brasil. Este capítulo está dividido em cinco seções: a primeira trata da introdução, contendo a contextualização da temática, a justificativa e o objeto do estudo. Na seção seguinte, é apresentado o método da pesquisa, contemplando as etapas cumpridas até a proposta final do framework para medição de desempenho de acordos de cooperação técnica internacional. A terceira seção apresenta os resultados do estudo e a descrição dos elementos do framework que compõem o sistema de medição de desempenho para os acordos de cooperação técnica internacional. Por fim, na última seção, são feitas as conside- rações finais, com conclusão da pesquisa e recomendações. 1.1. Pesquisa no contexto Globalmente, a cooperação técnica internacional tem acon- tecido nas mais diversas áreas. No entanto, o modo de controle dessas ações, a partir de instrumentos padronizados de medição de desempenho para cooperações internacionais em saúde, não tem sido difundido na literatura. Buscamos, no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (Capes), estudos publicados desde o início do banco de dados até 16 de maio de 2021, sem restrição de idiomas. Foram utilizados na busca os descritores “International Cooperation” ou “International Technical Cooperation 19 Capítulo 1 in Health” e “Performance measurement system”, “International Cooperation in Health” e “Performance measurement system”, “International Cooperation in Health” e “evaluation” e “International Cooperation in Health” e “measurement”. Como resultado, 21 estu- dos foram encontrados com essa combinação específica. Estudos anteriores desenvolveram sistemas de medição de desempenho específicos com o intuito de apresentar uma estrutura que pode ser usada como base para um sistema de medição de desempenho em redes de ajuda humanitária e programas globais, este último estabelecido pelo Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) (BEAMON; BALCIK, 2008; ISKANDARANI; REIFSCHNEIDER, 2008). Outro estudo focou no potencial e nas limitações da implementação do Balanced Scorecard, sistema de medição amplamente difundido, principalmente no meio corpo- rativo, nos níveis municipais e federais da administração pública (PŮČEK; ŠPAČEK, 2014). Nessa mesma linha, outro artigo relata os principais desafios e entraves para a cooperação técnica internacio- nal em saúde estabelecida entre o Brasil e Moçambique (PEREIRA, 2017). No entanto, nenhum estudo encontrado em nossa busca forneceu resultados voltados para a medição de desempenho da cooperação internacional em saúde, mostrando uma lacuna. Por isso, este estudo visa contribuir com uma proposta de um sistema de medição de desempenho a partir de uma perspectiva múltipla e inter-relacionada (NEELY; GREGORY; PLATTS, 1995). 1.2. Valor agregado deste estudo Após pesquisas nas bases científicas, consideramos que este é o primeiro estudo a desenvolver um framework para medição de desempenho aplicada para cooperação técnica 20 Capítulo 1 internacional em saúde. Além disso, este estudo é pioneiro na análise das cooperações técnicas internacionais a partir da imple- mentação de um sistema de medição de desempenho inédito, em um projeto nacional que contempla em seu escopo a coope- ração internacional. O desenho do sistema de medição propos- to contempla os aspectos-chave para o sucesso da cooperação técnica internacional, como demonstraremos adiante. 1.3. Implicações de todas as evidências disponíveis Descobrimos que, ao utilizar um sistema de medição de desempenho (SMD) para a cooperação técnica internacional em saúde, é possível ter um maior controle sobre o andamento das ações buscando identificar se elas estão apontando para os resul- tados pretendidos e contribuindo para as metas da cooperação internacional estabelecidas entre as partes. Quando implementa- do em diferentes instituições ou projetos, é possível comparar o recurso investido com os resultados alcançados até determinada etapa de execução e verificar em que é necessário alocar mais recursos ou até mesmo reduzir investimentos. A implementação do SMD no Projeto “Sífilis Não!” mostrou que a cooperação técni- ca internacional tem contribuído com pesquisas e produtos volta- dos para a indução da política pública, formação de pesquisadores e profissionais da saúde, disseminado o conhecimento e levado a pauta da sífilis para os países cooperantes. Quando comparado aos benefícios e produtos esperados em termos de contribuição socioeconômica, o valor investido torna-se ínfimo, demonstrando que a cooperação técnica internacional pode ser uma ferramenta muito eficaz no enfrentamento de desafios globais. 21 Capítulo 1 2. Métodos 2.1. Visão geral do procedimento de pesquisa A pesquisa buscou responder àseguinte questão de pesqui- sa: Quais seriam os indicadores mais adequados para medir o desempenho da Cooperação Técnica Internacional?”. Esta pesqui- sa pode ser caracterizada quanto à sua natureza de aplicada (DEMO, 1985), abordagem qualitativa-quantitativa (CRESWELL, 2008) com procedimento metodológico no estudo de caso (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002; Yin, 2012, 2015). O procedimento da pesquisa contemplou três etapas, quais sejam: a pesquisa teórica, a pesquisa de campo e, por fim, a validação e proposta do sistema de medição de desempenho. Observar esse procedimento na Figura 1. Figura 1 - Procedimento da pesquisa. Fonte: elaborado pelos autores (2019). 22 Capítulo 1 A etapa 1 contemplou a pesquisa teórica, com o propósito de alcançar uma compreensão mais ampla da temática e do obje- to de pesquisa. Os conteúdos verificados e estudados foram oriun- dos de livros, artigos científicos, teses, dissertações, documentos oficiais de governo, conteúdos disponíveis em meios eletrônicos, manuais da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), relatórios técnicos da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), docu- mentos provenientes da governança do Projeto “Sífilis Não!” e dos acordos de cooperação firmados pela UFRN e operaciona- lizados pelo Lais. Os assuntos contemplados nessa fase foram: Cooperação Técnica Internacional, Cooperação Técnica em Saúde, sistema de medição de desempenho e indicadores focados em projetos. Todo o conteúdo examinado na etapa de elaboração da fundamentação teórica foi utilizado para a construção do conhe- cimento na área de pesquisa e elaboração do framework apre- sentado na seção de resultados. A etapa 2 consistiu na pesquisa de campo, sendo desenvol- vido um protocolo de entrevista. Concomitante a essa fase, foram convidadas, por e-mail, para participar das entrevistas pessoas identificadas como estratégicas na tomada de decisões no âmbito do Projeto “Sífilis Não!” e/ou com expertise na área de coopera- ções internacionais. Após o aceite, foi aplicado um questionário. O questionário teve o objetivo de reunir informações de necessi- dades de indicadores de desempenho no âmbito da execução do projeto e seguido determinado procedimento, a saber: 1. Informar ao entrevistado o objetivo da pesquisa; 2. Apresentar informações macro do Projeto “Sífilis Não!”; 3. Apresentar o sistema de medição de desempenho (SMD) conceitual; 23 Capítulo 1 4. Permitir que o entrevistado analise as dimensões/pers- pectivas do SMD apresentado e faça suas observações. Caso necessário, dar exemplo de tipos de análises possíveis; 5. Apresentar o que é um indicador de desempenho e qual a sua finalidade; 6. Identificar quais indicadores o entrevistado considera que devem ser contemplados no sistema de medição do desem- penho. Solicitar sugestão de outros indicadores; 7. Encerrar. 2.2. Estrutura do modelo, parametrização e premissas Utilizamos no framework um modelo de causa e efeito, adaptado do Balanced Scorecard criado por Kaplan e Norton (1992). Os indicadores do framework foram obtidos na litera- tura, por meio de documentos oficiais de governo, conteúdos disponíveis em meios eletrônicos, manuais da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), relatórios técnicos da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), documentos provenientes da governança do Projeto “Sífilis Não!”, tais como acordos e planos de trabalho firmados entre a UFRN e instituições internacionais de ensino e pesquisa e opinião dos entrevistados. A construção de dados da pesquisa considerou o perío- do de 2018 a dezembro de 2020. Durante o levantamento do número de participantes em eventos científicos produzido pelo Projeto “Sífilis Não!”, foi considerado o número de assinaturas coletadas nas listas de presenças no dia do evento. Para os que tiveram acesso aos eventos virtualmente, foram considerados o número de visualizações dos vídeos do evento disponibilizados no 24 Capítulo 1 YouTube e o número de inscritos em cursos do Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (Avasus), material produzido a partir do evento. Esses números representam a realidade do dia da coleta de dados, podendo ser aumentados no futuro. Os indicadores da dimensão recurso incluíram os valores investidos em pagamen- tos de taxas e anuidades de cursos de pós-graduação, passagens aéreas, diárias e ajuda de custo. 2.3. Caso estudo Esta seção apresenta o estudo de caso que teve como objeti- vo a validação e o levantamento de novos indicadores para o frame- work do sistema de medição de desempenho proposto. A primeira seção descreve o Projeto “Sífilis Não!”, traz à luz o contexto do surgi- mento do projeto e suas metas para o enfrentamento da sífilis no Brasil. São relatadas as ações de cooperação técnica internacional desenvolvidas pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde no âmbito do Projeto “Sífilis Não!” e a relação dessas ações com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Agenda 2030. Logo em seguida, são apresentados os perfis dos participantes que contribuíram para esta pesquisa. Por fim, são descritos os resultados da validação. 2.4. Descrição do Projeto “Sífilis Não!” Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível que afeta um milhão de gestantes por ano em todo o mundo. Faz parte da estratégia 2016-2021 adota- da pela Assembleia Mundial de Saúde, no intuito de diminuir o seu Capítulo 1 25 impacto como problema de saúde pública até 2030 (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2015; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2016). No Brasil, nos últimos cinco anos, foi observado um aumento constante no número de casos de sífilis em gestantes, congênita e adquirida. No ano de 2019, foram notificados 152.915 casos de sífilis adquirida, 61.127 casos de sífilis em gestantes e 24.130 casos de sífilis congênita – entre eles, 173 óbitos (OMS, 2015). Foi diante desses números que os órgãos de controle federal pressionaram o Ministério da Saúde no sentido de rever- ter os números reportados. Isso posto, em janeiro de 2017, foi aprovada, por meio da Lei Orçamentária Anual (LOA) nº 13.414 (Publicada no DOU de 11.1.2017), a incorporação do montante de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais) para utilização pelo Ministério da Saúde (MS) em ações de resposta rápida à sífilis. Com base nisso, o MS adotou uma estratégia de caráter estruturante para indução da política pública nacional no campo da sífilis. Assim, surgiu o Projeto “Sífilis Não!”, operacionalizado pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da UFRN, por meio de um plano de trabalho. As atividades previstas são distribuídas em quatro eixos principais, quais sejam: vigilância, gestão e governança, cuidado integral e educomunicação. Esse Plano, ainda que seja uma proposta nacional executa- da no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), contempla para além das ações de cooperação técnica interfederativas, conside- rando a parceria com os níveis estaduais e municipais brasileiros e uma gama de ações internacionais (ver meta 6 da Figura 2). A proposta do Lais é que tais ações contribuam com produtos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para aplicação direta na indu- ção nacional da resposta à sífilis, assim como no intercâmbio de experiências que sejam relevantes para a inovação em saúde no âmbito do SUS. Capítulo 1 Figura 2 - Metas do Projeto “Sífilis Não!” Fonte: Projeto Interfederativo Resposta Rápida à Sífilis nas Redes de Atenção (adaptado pelos autores, 2017) 26 27 Capítulo 1 Atualmente, já foram firmados acordos de cooperação com as seguintes instituições: • Universidade de Lorraine (França), • Universidade Aberta de Portugal (Portugal), • Universidade de Coimbra (Portugal), • Universidade Complutense de Madrid (Espanha), • Universidade Autonoma de Barcelona (Espanha) e • Universidade de Athabasca (Canadá). Todas essas instituições possuem um ou mais Plano(s) de Trabalho em execução no âmbito do Projeto “SífilisNão!”. Ademais, foram desenvolvidas parcerias para o desen- volvimento de projetos e atividades de cooperação técnico- -científica com a ConqueX, da Universidade de Massachusetts; a Universidade de Johns Hopkins; a Universidade de Barcelona; e a Universidade de Harvard. O Quadro 1 apresenta as áreas de aplicação da cooperação internacional que estão em desenvolvimento no Projeto “Sífilis Não!” junto às respectivas instituições parceiras, assim como a distribuição das respectivas contribuições para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Agenda 2030. Observa-se que há forte relação do Projeto principalmente com o objetivo 3, Saúde e Bem-estar; e com o objetivo 17, Parcerias e Meios de Implementação (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2016). Capítulo 1 Quadro 1 - Agrupamento das atividades desenvolvidas em cooperação internacional e relação com os ODS País Instituição Aplicação ao Projeto de Resposta Rápida a Sífilis Relação com os ODS Portugal Universidade Aberta de Portugal Desenvolvimento de pesquisa aplicada nas áreas de educação e comunicação 3, 4 e 17 Universidade de Coimbra Fortalecimento da pesquisa aplicada nos campos de educação, comunicação, gestão e governança para resposta à sífilis 3, 4 e 17 Espanha Universidade Autôno- ma de Barcelona Desenvolvimento de pesquisas e recursos educacionais abertos para qualificação dos processos de comunicação, produção e análise de ações de educação a distância em saúde no Brasil 3,4,17 Universidade Complu- tense de Madrid Produção de novos formatos e narrativas audiovi- suais inovadoras a ser aplicados em comunicação em saúde, educação a distância e difusão dos resulta- dos alcançados pelo Projeto “Sífilis Não!”. França Universidade de Lorraine Realização de pesquisas conjuntas nas áreas de Learning analy- tics, Big data e Machine learning, cujos resultados e/ou tecno- logias desenvolvidas deverão ser aplicados na implementação das Salas de Situação contempladas no Projeto “Sífilis Não!” 3,17 Canadá Universidade de Athabasca Desenvolvimento de atividades conjuntas que visam à mineração e análise de dados da sífilis, relacionan- do as áreas de Comunicação, Educação e Saúde 3,4,17 Estados Unidos da América Universidade de Massachu- setts (UMass) - ConquerX Proposta de P&D de insumos de testagem rápida de sífi- lis congênita, para implementação na atenção básica 3,17Escola de Saúde Pública de Harvard T.H. Chan Estudos no campo de Resiliência dos sistemas de saúde Organização Pan-Ame- ricana de Saúde Fortalecimento de recursos humanos em saúde 3,4,17 Fonte: elaborado pelos autores (2019). 28 29 Capítulo 1 2.5. Análise Sensitiva A análise individual das entrevistas verificou quais os indi- cadores apresentados possuíam relevância para o sistema de medição de desempenho da cooperação técnica internacional considerando a experiência do entrevistado. Os indicadores suge- ridos pelos entrevistados foram acrescentados e seguiram para a fase de validação com a coordenação do Projeto “Sífilis Não!”. O framework para medição de desempenho da cooperação técnica internacional apresentado neste estudo foi implementado nas cooperações internacionais estabelecidas pelo Projeto “Sífilis Não!” com 9 instituições de ensino e pesquisa. Os indicadores foram calculados utilizando o Microsoft Excel (2019). O perfil dos participantes das entrevistas segue no Quadro 2, a seguir, confor- me ordem de realização. Quadro 2 - Perfil dos participantes entrevistados na etapa de campo Entrevistado nº Perfil Entrevista nº 1 Coordenador do eixo de educomunicação do Projeto “Sífilis Não!” Entrevista nº 2 Membro da coordenação do eixo de educomunicação do Projeto “Sífilis Não!” Entrevista nº 3 Gerente do Núcleo de Relações Internacionais e Interinstitucionais do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais/UFRN) Entrevista nº 4 Pesquisador e orientador de estudos do Projeto “Sífilis Não!” Entrevista nº 5 Pesquisador e orientador de estudos do Projeto “Sífilis Não!” Entrevista nº 6 Reitora da UFRN no período de 2011 a 2019 e atual assessora do Gabinete do Reitor da UFRN, background em convênios internacionais. Entrevista nº 7 Secretário de Relações Internacionais da UFRN e Ex-Diretor do Colégio de Gestores de Relações Internacionais das Instituições Federais de Ensino Superior – CGRIFES/ANDIFES Entrevista nº 8 Especialista em Saúde Global e Diplomacia da Saúde, Coordenadora de cooperação internacional na Assesso- ria de Assuntos Internacionais de Saúde (Aisa) do Ministério da Saúde entre os anos 2015 e 2016 e Assessora especial do ministro da Saúde para assuntos internacionais entre 2019 e 2020. Fonte: elaborado pelos autores (2020). 30 31 Capítulo 1 A etapa de entrevistas foi fundamental para a validação e identificação de outros indicadores de cooperação técnica inter- nacional em saúde, a partir do modelo conceitual construído com base na pesquisa teórica. 2.6. Papel da fonte de financiamento Colaboradores do Ministério da Saúde e membros do Projeto “Sífilis Não!” estiveram envolvidos no desenho do estu- do, na interpretação dos resultados e no desenvolvimento do manuscrito. Nenhum outro financiador teve papel na concepção, na análise ou na interpretação dos dados deste estudo. Todos os colaboradores tiveram pleno acesso a todos os dados do estudo. 3. Resultados Após seguir todas as etapas do método da pesquisa, o framework para medição de desempenho da cooperação técnica internacional proposto (ver Figura 3) contemplou um total de 25 indicadores distribuídos em seis dimensões, a saber: sustentabili- dade, resultado, stakeholders, processos, aprendizado e recurso. Os indicadores estão apresentados no Quadro 3, bem como a descrição e a fórmula de cálculo utilizada para cada indicador. Nesta sessão, será realizada uma breve descrição das dimensões, identificando como elas se relacionam entre si a partir do modelo de causa e efeito desenhado para este estudo. Além disso, serão apresentados os principais resultados da implementação desse modelo no Projeto “Sífilis Não!”. Figura 3 - Modelo do Sistema de Medição de Desempenho para Projetos de Cooperação Técnica Internacional Fonte: elaborado pelos autores (2019). Quadro 3 - Framework para medição de desempenho de Cooperação Técnica Internacional Dimensão Indicador Descrição Fórmula Sustentabilidade Profissionais capacitados em cursos de pós-graduação e estágio pós-doutoral Total de pesquisadores matriculados em cursos de pós-graduação e estágio pós-doutoral de instituições internacionais. Número de prêmios Soma de prêmios de reconhecimento recebidos por ações desenvolvidas no âmbito das cooperações internacionais firmadas pelo projeto Número de acordos de cooperação firmados ou renovados no âmbito do projeto Soma de todos os acordos de cooperação que foram firmados ou renovados a partir do projeto 33 Capítulo 1 Dimensão Indicador Descrição Fórmula Resultado Publicação de livros com a colaboração de instituições internacionais Somatório de livros e/ou capítulos de livros publicados com a colaboração de instituições internacionais no âmbito das cooperações internacionais. O capítulo de livro é equivalente à fração que representa no livro. Dissertações de mestrado, teses de doutorado e estágios de pós-doutorado Consiste no somatório de dissertações de mestrado, teses de doutorado e estágios de pós-doutorado. Número de Recursos Educacionais Abertos (REA) produzidos Soma de Recursos Educacionais Abertos (REA) produzidos no âmbito das cooperações internacionais voltados para o objeto do projeto. Incluem os REA incorporados ao Avasus e aqueles disponibilizados nos canais abertos de compartilhamento de vídeos como o YouTube. Publicação de trabalhos científicos Somatório de artigos científicos produzidos. Foram considerados pesos para cada categoria de publicação, sendo o maior peso para publicações em periódicos, seguido de eventos internacionaise nacionais. Citações dos artigos científicos Consiste no somatório de citações recebidas pelos artigos científicos, no período de análise dos dados. Pesquisadores em mobilidade acadêmica São contemplados todos os pesquisadores que desenvolveram atividades de cooperação no país parceiro. As atividades compreendem o cumprimento de agenda técnica de trabalho, o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias e a participação em eventos internacionais. Número de cartas patentes depositadas Somatório de cartas patentes depositadas a partir do desenvolvimento de produtos no âmbito das cooperações internacionais. Número registros de softwares Soma dos registros de softwares solicitados/obtidos desenvolvidos no âmbito das cooperações internacionais. Bancas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com participação de pesquisadores de instituições do Acordo de Cooperação Internacional Somatório de Bancas de Trabalho de Conclusão de Curso, sejam elas de graduação, mestrado ou doutorado, com participação de pesquisadores vinculados às instituições dos acordos de cooperação Internacional. Existem pesos diferentes para cada tipo de TCC. 34 Capítulo 1 Dimensão Indicador Descrição Fórmula Stakeholders Instituições nacionais e internacionais envolvidas na operacionalização das metas Soma do número de instituições nacionais e internacionais envolvidas na operacionalização das metas pelo projeto no âmbito dos acordos de cooperação firmados. Número de cursos de graduação e pós-graduação envolvidos Somatório de cursos de graduação e pós-graduação envolvidos no desenvolvimento de pesquisas/ produtos no âmbito das cooperações internacionais. Nesse indicador, são contabilizados os cursos de universidades abrangidos nos acordos de cooperação. Processos Número de missões técnicas realizadas Somatório de missões técnicas bilaterais realizadas no âmbito das cooperações internacionais firmadas pelo projeto. Ações de extensão e eventos científicos realizados Soma das ações de extensão e dos eventos científicos promovidos para a troca de conhecimento entre pesquisadores, produzidos no âmbito das cooperações internacionais firmadas pelo projeto. Planos de trabalho viabilizados a partir dos acordos de cooperação Soma de planos de trabalho viabilizados pelos acordos de cooperação no âmbito do Projeto. Incluem os planos de trabalho firmados com grupos de pesquisa de áreas distintas para contribuição em diferentes projetos, mas que foram viabilizados a partir das Cooperações Internacionais estabelecidas pelo projeto original. Participantes nas modalidades virtual e presencial Soma de participantes (virtual e presencial) em eventos. A contagem desse indicador levou em consideração o número de assinaturas nas listas de presença dos eventos realizados, número de pessoas inscritas nos REA incorporados ao Avasus e o número de visualizações nos vídeos de eventos produzidos e disponibilizados no YouTube, no período de análise dos dados. Número de ações de pesquisa multilaterais Soma de ações de pesquisa multilaterais desenvolvidas a partir das cooperações internacionais firmadas pelo projeto. Consideram-se ações multilaterais aquelas que envolvem pesquisadores de mais de duas instituições. P5 = soma de ações de pesquisa multilaterais desenvolvidas a partir das cooperações internacionais 35 Capítulo 1 36 Dimensão Indicador Descrição Fórmula Aprendizado Número de procedimentos de trabalho estabelecidos para operacionalização das cooperações internacionais Soma de procedimentos de trabalho estabelecidos para operacionalização das cooperações internacionais firmadas pelo projeto, alinhados com a política do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Estão contemplados nesse indicador instrumentos criados, tais como: modelo de Nota técnica para missão internacional, instrutivo para emissão de passaporte oficial, modelos de relatórios técnicos, modelos de plano de trabalhos e mapeamento de atores e capacidades. Número de pessoas envolvidos diretamente na operacionalização das ações Somatório de pessoas envolvidas diretamente na operacionalização das ações estabelecidas no âmbito das cooperações internacionais firmadas pelo projeto. Contempla pesquisadores e assessores de cooperação internacional das instituições envolvidas no acordo. Orçamento Valor do investimento por Acordo de Cooperação Internacional Soma dos recursos investidos em cada Acordo de Cooperação Internacional. São contabilizados nesse indicador os recursos investidos em passagens internacionais, diárias, ajuda de custo e pagamento de taxas e mensalidades em cursos de pós-graduação em instituições estrangeiras. Valor per capita investido por Acordo de Cooperação Internacional firmado pelo projeto Somatório dos recursos investidos em cada Acordo de Cooperação Internacional, bem como nas parcerias internacionais estabelecidas para realização de ações de cooperação, dividido pelo número de pesquisadores envolvidos diretamente na operacionalização de cada acordo ou parceria. Fonte: elaborado pelos autores (2019). 37 Capítulo 1 3.1. Sustentabilidade A dimensão sustentabilidade está no topo do modelo e representa em que medida os benefícios gerados perdurarão ao término da vigência dos acordos de cooperação. É composta pelos indicadores relacionados aos impactos e benefícios decorrentes de todos os recursos e esforços do Projeto destinados à execução dos acordos de cooperação técnica internacional. Até o ano 2022, o Projeto “Sífilis Não!”, ainda em execução, firmou acordos de cooperação internacional com seis instituições de ensino e pesquisa. Em Portugal, firmaram-se dois acordos, um com a Universidade de Coimbra e outro com a Universidade Aberta de Portugal; na França, com a Universidade de Lorraine; no Canadá, o acor- do foi firmado com a Universidade de Athabasca; por fim, na Espanha, foram celebrados dois acordos, um com a Universidade Complutense de Madrid e outro com a Universidade Autônoma de Barcelona. Além dessas instituições que possuem acordo de cooperação internacional firmado entre as partes, o Projeto “Sífilis Não!” desenvolveu ações de cooperação com outras cinco instituições, a saber: a startup ConquerX, da Universidade de Massachusetts; a Escola de Saúde Pública de Harvard; a Universidade de Johns Hopkins; a Universidade Pompeu Fabra (UPF); e a Universidade de Barcelona (UB). Estão matriculados ou vinculados em cursos de pós-gra- duação (mestrado e doutorado) e estágio pós-doutoral em insti- tuições internacionais parceiras 32 pesquisadores. Todos eles estão desenvolvendo pesquisas e produtos voltados para o obje- to do projeto, dos quais 10 estão vinculados à Universidade de Coimbra; 18, à Universidade Aberta de Portugal; 2, à Universidade de Lorraine; 1 está vinculado à Universidade de Athabasca; e 1, à Universidade Complutense de Madrid. 38 Capítulo 1 3.2. Resultado A dimensão resultado contempla os indicadores relaciona- dos às metas deliberadas pelos planos de trabalho dos acordos de cooperação técnica internacional, mas não somente a elas, essa dimensão pode e deve captar resultados intangíveis, tanto no tocante ao público-alvo da cooperação quanto aos grupos que estrategicamente ficam à margem, porém, beneficiam-se dos resultados obtidos. Por se tratar de um estudo de caso, em que os acordos de cooperação técnica internacional em saúde são operacionalizados por uma instituição de ensino superior (IES), é compreensível que alguns indicadores sejam de interesse apenas da IES que está operacionalizando o acordo e que tem necessida- des de monitoramento intrínsecas ao nicho de atuação. Com o Projeto “Sífilis Não!” ainda em execução, foi possível mensurar que estão em fase de desenvolvimento, no âmbito das cooperações internacionais firmadas pelo projeto, 10 dissertações de mestrado, 20 teses de doutorado e 4 estágios pós-doutoral. Ademais, foram publicados3 capítulos de livros. Foram produzi- dos e disponibilizados 19 Recursos Educacionais Abertos (REA), sendo 16 no YouTube e 3 no Ambiente Virtual de Aprendizagem do sistema brasileiro de saúde (Avasus). Quanto às publicações de trabalhos científicos, foram contabilizadas 13, sendo 5 desenvolvidos com a colaboração da Universidade de Lorraine, 2 com a Universidade de Coimbra, 2 com a Universidade Autônoma de Barcelona, 2 com a Universidade de Athabasca, 1 com a Universidade Complutense de Madrid e 1 com a Universidade Aberta de Portugal. O projeto registrou, até o momento, 54 pesquisadores em mobilidade acadêmica desen- volvendo atividades de pesquisa no âmbito das cooperações inter- nacionais voltadas para o objeto do projeto. 39 Capítulo 1 Como resultados no âmbito do desenvolvimento de tecno- logias provenientes das cooperações técnicas internacionais, regis- tramos, até o momento, seis registros de softwares, sendo um com a Universidade de Lorraine e cinco com a startup ConquerX. Houve ainda um depósito de patente internacional, também resul- tado das ações de cooperação técnico-científica com a startup ConquerX, sediada na Universidade de Massachusetts. 3.3. Stakeholders São considerados os stakeholders do acordo de cooperação internacional as instituições/grupo de pessoas que possuem algum tipo de interesse nos processos e resultados do projeto que, no caso de estudo, é o Projeto “Sífilis Não!”. Até o momento da construção dos dados, havia 12 instituições nacionais e internacionais envolvi- das na operacionalização das metas estabelecidas pelo projeto no âmbito dos acordos de cooperação firmados e 16 cursos de gradua- ção e pós-graduação envolvidos no desenvolvimento de pesquisas e produtos. Cabe salientar que esse indicador contabiliza as insti- tuições interessadas de ambas as partes do acordo. 3.4. Processos Os processos exercem um papel importante no sistema de medição de desempenho e possuem uma relação direta com a dimensão aprendizado. À medida que os processos são aperfei- çoados, é observada uma melhoria significativa no aprendizado da equipe que, quanto mais capacitada, mais irá aperfeiçoar os seus processos. Nessa dimensão, são contemplados os indicadores 40 Capítulo 1 relacionados à operacionalização dos acordos de cooperação técnica internacional para que possam atingir os resultados do projeto no âmbito das cooperações internacionais firmadas. No caso de estudo, foram contabilizadas 61 missões técni- cas bilaterais, sendo 41 realizadas por pesquisadores brasilei- ros nas instituições parceiras e 20 realizadas por pesquisadores estrangeiros no Brasil (ver Figura 4). A instituição que teve mais missões técnicas realizadas por pesquisadores brasileiros foi a startup ConquerX, sediada na Universidade de Massachusetts (UMass/ConquerX), com 14 missões técnicas; seguida pela Universidade de Coimbra (UC), com 6 missões técnicas realizadas; pela Universidade Aberta de Portugal (UAB-PT) e Universidade de Lorraine (UL), ambas com 5 missões realizadas por pesquisa- dores brasileiros; por fim, 1 missão foi realizada por pesquisa- dores brasileiros em cada uma destas instituições: Universidade Autonoma de Barcelona (UAB), Universidade Complutense de Madrid (UCM), Johns Hopkins University (UJH) e Escola de Saúde Pública de Harvard (ESPH). Quanto às missões realizadas por pesquisadores estrangei- ros no Brasil, as instituições que mais participaram de agendas no Brasil foram: a Universidade Aberta de Portugal e a Universidade Aberta de Coimbra com 4 e 5 missões realizadas, respectiva- mente; seguidas da Universidade de Athabasca, Universidade Autonoma de Barcelona, Universidad Complutense de Madrid e da startup ConquerX, todas com 2 missões realizadas; e 1 missão realizada pela Universidade de Johns Hopkins e pela Escola de Saúde Pública de Harvard. Figura 4 - Missões Técnicas Internacionais do Projeto “Sífilis Não!” Fonte: elaborado pelos autores (2019). 41 42 Capítulo 1 Do início do projeto “Sífílis Não!”, em 2018, até dezem- bro de 2020, foram realizadas 26 ações de extensão e eventos científicos no âmbito das cooperações internacionais, promo- vidos para a troca de conhecimento entre pesquisadores (ver Figura 5), sendo 7 dessas com a Universidade de Coimbra, 4 com a Universidade Aberta de Portugal, 4 com a Universidade Autónoma de Barcelona, 3 com a Universidade Complutense de Madrid, 3 com a startup ConquerX, 2 com a Universidade de Johns Hopkins, 2 com a Universidade de Lorraine e 1 com a Universidade de Athabasca (UA) e a Escola de Saúde Pública de Harvard. Figura 5 - Ações de Extensão e Eventos Científicos do Projeto “Sífilis Não!” Fonte: elaborado pelos autores (2020). 43 44 Capítulo 1 Até o levantamento de dados deste estudo, o Projeto “Sífilis Não!” promoveu dois eventos internacionais multilate- rais. O primeiro foi realizado no Brasil e contou com a colabo- ração da Universidade Aberta de Portugal, da Universidade de Athabasca e da Universidade de Harvard. O segundo, realizado em Portugal, na Universidade de Coimbra, contou com a participação da Universidade Aberta de Portugal, Universidade Complutense de Madrid e da Universidade Autônoma de Barcelona. Durante os eventos científicos realizados pelo Projeto “Sífilis Não!” com a colaboração dos parceiros internacionais, foi alcançado o total de 10.098 pessoas, conforme dados apre- sentados na Figura 6, sendo que 33,5% do total participaram presencialmente e 66,5% assistiram ao evento, posteriormente, via YouTube e Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (Avasus). Observamos que apenas um evento multilateral realizado – em cooperação com pesquisadores e professores da Universidade de Harvard, da Universidade Aberta de Portugal e da Universidade de Athabasca – teve um total de 2.203 inscrições no curso do Avasus desenvolvido a partir da gravação das ações. Os eventos realizados com a Universidade Aberta de Portugal totalizaram o maior número de participantes presenciais e virtuais. O Projeto “Sífilis Não!” possui nove planos de trabalho viabili- zados pelos acordos de cooperação técnica internacional firmados. Nesse caso, dois são com a Universidade Aberta de Portugal, dois com a Universidade de Coimbra, dois com a Universidade Autônoma de Barcelona, e um com cada uma das respectivas instituições: Universidade Complutense de Madrid, Universidade de Lorraine e Universidade de Athabasca. Em relação às instituições que possuem mais de um plano de trabalho, isso se deve ao fato de que um acordo de cooperação permite que sejam formalizados planos de trabalho com diferentes grupos de pesquisa de uma mesma instituição. 45 Capítulo 1 3.5. Aprendizado A dimensão aprendizado é similar à “dimensão aprendizado e crescimento” presente em sistemas de medição de desempenho consolidados como o balanced scorecard, e tem papel fundamen- tal no framework proposto. Nessa dimensão, estão inseridos os indicadores relacionados à capacitação e ao desenvolvimento das habilidades das pessoas envolvidas na operacionalização da cooperação técnica internacional. Também inclui a experiência e as boas práticas descritas nos procedimentos de trabalho. O Projeto “Sífilis Não!” foi responsável pela profissionali- zação do Núcleo de Relações Internacionais (NRI) do Lais/UFRN criado para articulação, pelo monitoramento e pelo controle das cooperações internacionais firmadas no âmbito do projeto. Desde sua criação, em 2018, até julho de 2020, o NRI estabeleceu práti- cas e fluxos de trabalho a partir da experiência com a cooperação técnica internacional, quais sejam: • instrutivo e fluxo para emissão de passaporte oficial; • fluxo para realização de missão técnica oficial (articu- lação e elaboração de agenda conjunta de atividades; nota técnica; solicitação de afastamento do país – para servidores e docentes; solicitação de custeio da missão técnica; modelo de relatório técnico elaborado após o fim da missão); • fluxo para celebração deacordo de cooperação técni- ca (manifestação de interesse na cooperação, nego- ciação do acordo de cooperação e plano de trabalho entre as instituições cooperantes, abertura de processo no Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos (SIPAC/UFRN) encaminhando os documen- tos à Secretaria de relações Internacionais da UFRN, 46 Capítulo 1 análise pela procuradoria jurídica da UFRN e assinatura do acordo); • fluxo para candidatura em programas de pós-gradua- ção na instituição cooperante; • prática de monitoramento e prestação de contas das atividades internacionais. 3.6. Recurso A dimensão recurso, base do sistema de medição de desempenho proposto por este estudo, apresentou dois indica- dores, conforme apresentado no Quadro 3. O recurso destinado à operacionalização da cooperação técnica em saúde é o meio pelo qual é possível planejar e executar as atividades e metas propostas pelo plano de trabalho da cooperação técnica inter- nacional. Por essa razão, é a primeira dimensão do framework apresentado. As fórmulas utilizadas para o cálculo dos indicadores encontram-se no Quadro 3, o N utilizado para o cálculo do valor per capita foi igual a 141. Os dados financeiros do Projeto “Sífilis Não!”, conforme apresentados nas Figuras 7 e 8, apontam que até dezembro de 2020, R$ 3.152.499,28 do recurso do projeto foi investido em ações de cooperação técnica internacional representando 1,58% do recurso total do projeto. A Figura 7 mostra o valor investido na pesquisa realizada na respectiva instituição parceira, cujos obje- tivos de pesquisa são diversos e únicos para cumprimento das metas do projeto. 47 Capítulo 1 Figura 6 - Recurso Investido por uma instituição internacional cooperante no Projeto “Sífilis Não!” Fonte: elaborado pelos autores (2020). 47 Capítulo 1 Figura 7 - Valor per capita por instituição internacional cooperante no Projeto “Sífilis Não!” Fonte: elaborado pelos autores (2020). 48 49 Capítulo 1 4. Discussão e conclusão Projetos de cooperação técnica internacional em saúde precisam de sistemas de medição de desempenho (SMD) adequa- dos e eficientes para que os resultados esperados com a parceria sejam mais eficientes e eficazes. A construção de um framework próprio, utilizando uma relação de causa e efeito, como a usada em modelos consolidados como o Balanced Scorecard, fez-se necessária, pois a cooperação internacional em saúde difere em propósito e possui particularidades intrínsecas a essa área, dife- rentemente da finalidade do mundo corporativo para o qual a maior parte dos SMDs foram desenvolvidos. Dessa forma, as pers- pectivas e os indicadores devem estar direcionados aos resultados e produtos esperados pela cooperação internacional. Observou-se que, com a implementação de um sistema de medição de desempenho, é possível avaliar uma cooperação e comparar com outras parcerias internacionais estabelecidas no âmbito do mesmo projeto a fim de identificar os pontos fortes e fracos e, assim, sugerir as áreas específicas de preocupação para as quais devem ser destinados os esforços para melhoria. O SMD também contribui para o alcance dos objetivos esta- belecidos pelos planos de trabalho dos acordos de cooperação técnica internacional firmados, aumentando a transparência e o acesso a informações, permitindo que os gerentes e formuladores de políticas de saúde identifiquem e tratem as áreas de fraqueza. O monitoramento é fundamental durante toda a execução da cooperação para avaliar se as ações desenvolvidas estão alinha- das com o objetivo final ou se é necessário que ajustes sejam feitos durante o percurso. Algumas questões relacionadas às parcerias internacionais não podem ser contabilizadas numeri- camente, no entanto, devem ser consideradas nos relatórios de 50 Capítulo 1 monitoramento e avaliação de maneira descritiva, para que os avanços alcançados possam ser contemplados em sua plenitude. O estudo de caso desta pesquisa mostra que a coopera- ção técnica internacional desenvolvida no Projeto “Sífilis Não!” tem inovado na forma de fazer cooperação técnica, uma vez que todas as parcerias estabelecidas têm como foco produtos e pesquisas que contribuem para a indução da política pública de saúde. Além de permitir o compartilhamento de conhecimento, técnicas, experiências e tecnologias, a cooperação internacional mostra-se como um item fundamental para a inovação (BRASIL, 2020). A cooperação internacional é uma estratégia poderosa para a resiliência, o fortalecimento dos sistemas de saúde dos países e o enfrentamento dos desafios de saúde (PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION, 2013, 2010; UNITED NATIONS, [2020]). Nesse sentido, observamos que a cooperação técnica interna- cional realizada pelo Projeto “Sífilis Não!” tem contribuído para disseminar a pauta da sífilis não só no Brasil, onde se enfrenta uma epidemia da doença, mas também tem levado essa agenda para outros países onde são estabelecidas as cooperações, cujos parceiros apropriam-se do conhecimento desenvolvido na coope- ração para propor e desenvolver pesquisas em seus territórios. Há de registrar-se que também a visibilidade da cooperação internacional induziu universidades latino-americanas e africanas a pautarem o tema da sífilis e a buscarem a cooperação do Lais/UFRN, a exemplo da Universidade Nacional da Colômbia e do Instituto Superior Politécnico Católico de Benguela, em Angola, respectivamente. Apesar de se tratar de um projeto ainda em execução, o “Sífilis Não!” tem apresentado bons resultados com a coopera- ção técnica internacional (CTI). Quando analisado e comparado o recurso total investido na CTI – em termos de resultados acadêmi- cos, tecnologias desenvolvidas, pessoas alcançadas com as ações 51 Capítulo 1 desenvolvidas e o conhecimento difundido –, o valor torna-se ínfi- mo, assumindo que a cooperação técnica internacional pode ser uma ferramenta muito eficaz no enfrentamento de desafios globais. A parceria com a startup ConquerX, por exemplo, foi volta- da para o desenvolvimento de tecnologias para o diagnóstico rápi- do de sífilis e contou com a participação de 14 pesquisadores. Até a data da coleta de dados, a parceria resultou em 1 depósito de patente internacional, 5 registros de software, 2 dissertações de mestrado, além de 658 pessoas alcançadas, presencial e virtual- mente, a partir dos eventos científicos realizados. As cooperações com a Universidade Aberta de Portugal e a Universidade de Coimbra tem como foco a capacitação de pesqui- sadores e técnicos do Ministério da Saúde para o enfrentamento à sífilis. A maior parte do recurso investido nessas cooperações está relacionada aos cursos de pós-graduação. Atualmente, 28 pesquisadores estão vinculados a essas instituições. Uma ques- tão relevante observada foi quanto ao valor per capita: a coope- ração com a Universidade de Coimbra apresentou maior valor per capita do que a cooperação com a Universidade Aberta de Portugal (UAb-PT). Esse fato está relacionado com a modalidade dos cursos ofertados pelas instituições portuguesas. A parceria firmada entre a UFRN e a UAb-PT proporciona a formação de um número mais significativo de pós-graduandos, os quais não neces- sitarão se ausentar de seus postos de trabalho, o que permite o uso mais eficiente dos recursos, pois os cursos são oferecidos na modalidade a distância para os discentes de mestrado e douto- rado, diferentemente da Universidade de Coimbra. As ações de cooperação com aquelas instituições com as quais não havia ainda instrumentos institucionais ou acordos de cooperação internacional firmados, mas que possuíam parceria ou estreita relação entre os seus pesquisadores e professores, 52 Capítulo 1 a exemplo da Universidade Johns Hopkins e a Universidade de Harvard, também se mostraram bastante profícuas. Essas ações de cooperação representaram menos de 4% do recurso total utilizado para cooperação técnica do Projeto “Sífilis Não!” e ainda assim apresentaramresultados satisfatórios. Como exemplo, temos um total de 3.547 profissionais e estudantes da saúde inscritos em três cursos desenvolvidos a partir dessa colaboração e que foram disponibilizados no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (Avasus). Além disso, mais 122 visualizaram o recurso educacional disponibilizado no YouTube. Cabe destacar que esses números representam a realidade do dia em que os dados foram coletados. Observamos ainda que a prática do projeto em disponibilizar em plataformas abertas, como o Avasus e o YouTube, os recursos educacionais produzidos pela cooperação técnica internacional permite que o conheci- mento sobre o objeto do projeto, nesse caso, a sífilis, tenha um maior alcance. Desse modo, os recursos investidos nessas ações são diluídos ao longo do tempo em termos de pessoas alcançadas e difusão de conhecimento. Dessa forma, assumimos que, se mensurados e monitora- dos os resultados das cooperações internacionais, eles podem contribuir para a formação e o debate das políticas públicas em saúde, como tem apontado este estudo de caso. Apesar de a pesquisa ter sido desenvolvida no âmbito da cooperação entre instituições de ensino e pesquisa, o Projeto “Sífilis Não!” é produto interdisciplinar da cooperação entre a UFRN e o Ministério da Saúde, portanto, os indicadores propostos para medir as ações internacionais deste caso de estudo podem ser luz para diferen- tes instituições ou entidades que queiram monitorar o desem- penho de ações internacionais planejadas ou realizadas. Ainda apontamos algumas questões importantes, como sugestões para 53 Capítulo 1 pesquisas futuras, tais como: indicadores comuns aos projetos de cooperação técnica em saúde; principais fatores que influenciam a implementação de um sistema de medição de desempenho. Por fim, exortamos a necessidade de a academia, os organismos internacionais, os governos e as demais instituições que lidam com as cooperações internacionais fortalecerem seu compromisso com a implementação de estratégias de moni- toramento e avaliação dessas ações. Nesse sentido, destaca- mos a importância de difundir as lições aprendidas para que a cooperação técnica internacional seja de fato reconhecida como meio eficaz para o fortalecimento e a resiliência dos sistemas de saúde dos países envolvidos e que os compromissos assumidos pela Agenda 2030 sejam alcançados sem que indivíduo algum seja deixado para trás. Afinal, a saúde global é um bem comum (ÅRDAL et al., 2016). 5. Agradecimentos Esta pesquisa foi financiada com recurso do Ministério da Saúde brasileiro, proveniente do Termo de Execução Descentralizada (TED) 54/2017. O recurso é administrado pela Fundação Norte Riograndense de Pesquisa e Cultura (Funpec). A pesquisa foi apoiada pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que operacionaliza o Projeto “Sífilis Não!”. As constatações e conclusões deste estudo são de responsabilidade dos autores e não representam a posição oficial da agência de fomento. 54 Capítulo 1 Referências ABC. Agência Brasileira de Cooperação. Ministério das Relações Exteriores. Conceito de Cooperação Técnica. Disponível em: http://www.abc.gov.br/CooperacaoTecnica/Conceito. Acesso em: 20 mar. 2019. ÅRDAL, C.; OUTTERSON, K.; HOFFMAN, S.; GHAFUR, A.; SHARLAND, M.; RANGANATHAN, N. International cooperation to improve access to and sustain eff ectiveness of antimicrobials. The Lancet, v. 387, p. 296-307, jan. 2016. BEAMON, B. M.; BALCIK, B. Performance measurement in humanitarian relief chains. International Journal of Public Sector Management, v. 21, n. 1, p. 4-25, 2008. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis – DCCI Boletim epidemiológico de Sífilis 2020, Brasília, v. 1, n. 1, out. 2020. Disponível em: http:// www.aids.gov.br/pt-br/pub/2020/boletim-sifilis-2020. Acesso em: 6 jan. 2021 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Cooperação Humanitária Educacional. Disponível em: http://www. itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/cooperacao/3687- cooperacao-educacional. Acesso em: 13 ago. 2020. http://www.abc.gov.br/CooperacaoTecnica/Conceito http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2020/boletim-sifilis-2020 http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2020/boletim-sifilis-2020 http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/cooperacao/3687-cooperacao-educacional http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/cooperacao/3687-cooperacao-educacional http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/cooperacao/3687-cooperacao-educacional 55 Capítulo 1 BRASIL. 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Pesquisadora na área tecnologia, inovação e educação em saúde – Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde. Sara Dias-Trindade, Universidade de Coimbra, Portugal. Doutora em História e pós-doutorado em Tecnologias Educacionais e da Comunicação pela Universidade de Coimbra. Professora no Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Investigadora no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), em Humanidades Digitais na Universidade de Coimbra. Eloiza da Silva Gomes de Oliveira, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – Professora Titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), atuando na Graduação e no Programa de Pós- graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH). 60 Capítulo 2 José António Marques Moreira, Portugal. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Professor no Departamento de Educação e Ensino a Distância, Universidade Aberta, Portugal. Investigador Integrado no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), Universidade de Coimbra. Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Doutor em Engenharia Elétrica e de Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professor Associado da UFRN no Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) do Centro Tecnologia (CT). Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPgEEC/UFRN) e do Programa de Pós- graduação em Gestão e Inovação em Saúde (PPgGIS/UFRN). Karilany Dantas Coutinho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Doutora em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora efetiva da UFRN no Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) do Centro Tecnologia (CT). Professora Permanente do Programa de Pós- graduação em Gestão e Inovação em Saúde (PPgGIS/UFRN). Maíra Luciano Sidrim, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Graduada em Engenharia de Produção – Centro Universitário UniFBV. Pesquisadora do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde – LAIS/UFRN. 61 Capítulo 2 1. Introdução Este texto surgiu do desejo dos direitos humanos plenos e da busca da verdadeira reinserção social das pessoas aprisionadas, ancorada na saúde, na educação e no trabalho. Tomamos como um dos fundamentos as ideias de Assmann (1998) de que, para construir uma sociedade do conhecimento ela terá que ser susten- tada em uma cultura aprendente, compartilhada por todos, em igualdade de condições. Diante desse debate, a educação tem um papel funda- mental no processo de reinserção social das pessoas privadas de liberdade, além de ser um direito garantido a todos os brasileiros. Entretanto, o Brasil tem um histórico de dificuldades para promo- ver o acesso à educação para esse grupo. Quando nos aproximamos das questões referentes à saúde prisional e das doenças com infectividade por transmissão sexual, a sífilis aparece como um agravo altamente negligenciado. A população privada de liberdade é extremamente vulne- rável e as condições das prisões favorecem a disseminação da sífilis. Então, se desejamos fortalecer uma resposta rápida para o seu controle, a partir do trinômio “teste, trate e cure”, o acesso à informação ganha contornos de essencialidade e é nesse espaço que a educação pode trazer efetividade. Nesse cenário em que o sistema prisional brasileiro não consegue viabilizar de forma plena o acesso à educação para as pessoas privadas de liberdade, a mediação tecnológica surge como um possível caminho. A educação mediada por tecnologia reduz a demanda por professores presenciais, além de ameni- zar os custos de manutenção de um programa de educação de abrangência nacional, porque o mesmo curso pode ser oferecido em larga escala, para um grande número de alunos, podendo ter 62 Capítulo 2 reofertas sucessivas. O que reduz de forma significativa o custo por aluno de um programa de ensino a distância. Por outro lado, a pandemia de Covid-19 acelerou os proces- sos de digitalização de diversos setores, permitindo que muitas atividades, que antes eram realizadas apenas de forma presencial, agora possam também ser feitas de forma virtual. Esse processo de digitalização tem contribuído para o aumento da demanda e oferta de cursos mediados por tecnologia. À luz dessa discussão surge o objetivo deste texto: analisar a viabilidade de utilização da mediação tecnológica para a formação
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