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MERG UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA MSc. JORGE ALEXANDER RÍOS FLÓREZ SUBSTRATO NEUROANATÔMICO DOS CIRCUITOS COGNITIVOS E VISCEROMOTORES DOS CÓRTICES PRÉ-LÍMBICO E INFRALÍMBICO DO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL MEDIAL; DESCRIÇÃO DAS SUAS PROJEÇÕES ANTERÓGRADAS E INTERAÇÕES COM COMPLEXOS SUBCORTICAIS NO PRIMATA CALLITHRIX JACCHUS Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia. Natal/RN - Brasil 2020 MERG MSc. JORGE ALEXANDER RÍOS FLÓREZ SUBSTRATO NEUROANATÔMICO DOS CIRCUITOS COGNITIVOS E VISCEROMOTORES DOS CÓRTICES PRÉ-LÍMBICO E INFRALÍMBICO DO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL MEDIAL; DESCRIÇÃO DAS SUAS PROJEÇÕES ANTERÓGRADAS E INTERAÇÕES COM COMPLEXOS SUBCORTICAIS NO PRIMATA CALLITHRIX JACCHUS Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia. Orientador: Prof. Dr. Expedito S. de Nascimento Jr. Co-orientador: Prof. Dr. Ruthnaldo R. M. de Lima Natal/RN - Brasil 2020 MERG Flórez, Jorge Alexander Ríos. Substrato neuroanatômico dos circuitos cognitivos e visceromotores dos córtices pré-límbico e infralímbico do córtex pré-frontal medial: descrição das suas projeções anterógradas e interações com complexos subcorticais no primata Callithrix jacchus / Jorge Alexander Rios Florez. - Natal, 2020. 178f f.: il. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-graduação em Psicobiologia. Orientador: Prof. Dr. Expedito Silva do Nascimento Junior. Coorientador: Prof. Dr. Ruthnaldo Rodrigues Melo de Lima. 1. Amígdala - Tese. 2. Callithrix jacchus - Tese. 3. Hipocampo - Tese. 4. Infralímbico - Tese. 5. Pré-límbico - Tese. 6. Tálamo - Tese. I. Nascimento Junior, Expedito Silva do. II. Lima, Ruthnaldo Rodrigues Melo de. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BSCB CDU 611.32 MERG Título: Substrato neuroanatômico dos circuitos cognitivos e visceromotores dos córtices pré- límbico e infralímbico do córtex pré-frontal medial; descrição das suas projeções anterógradas e interações com complexos subcorticais no primata Callithrix jacchus. Autor: MSc. Jorge Alexander Ríos Flórez Data da defesa: 20 de novembro de 2020. Banca examinadora: _____________________________________________ Prof. Dr. Expedito Silva do Nascimento Júnior Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) _____________________________________________ Prof. Dr. Melquisedec Abiare Dantas de Santana Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) _____________________________________________ Prof. Dr. Paulo Leonardo Araujo de Gois Morais Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) _____________________________________________ Prof. Dr. Francisco Gilberto Oliveira Universidade Regional do Cariri (URCA) _____________________________________________ Prof. Dr. Jeferson de Sousa Cavalcante Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) MERG “Decifrar o mistério do que nos torna humanos é o primeiro passo para impedir que um dia possamos ser desumanizados” Roberto Lent MERG Agradecimentos Ao pessoal do LabNeuro-UFRN (professores, técnico e estudantes de pós- graduação) o meu mais sincero Obrigado; pelo seu acompanhamento, disposição e paciência ante minhas dúvidas e consultas. Agradeço também aos membros da equipe do núcleo de primatologia da UFRN, por sua atenção e colaboração ao projeto, e pela disposição ao atender minhas solicitações. À coordenação e a secretaria do programa de pós-graduação em Psicobiologia, e aos alunos de iniciação científica, outro obrigado. A todos os membros da UFRN com quem tive contato e aos que estão por tras de fazer possível o funcionamento da Universidade. Por me atender e abrir as portas do seu “lar” e da sua Cidade. À banca examinadora, obrigado por seu tempo e seus aportes. Especialmente, Professor Ruthnaldo, OBRIGADO por seus ensinamentos, por seu tempo, por sua paciência, acompanhamento e acolhimento. Regina, Obrigado, pela sua disposição e acompanhamento no meu dia a dia. Professor Expedito, sou grato por me abrir as portas do seu Laboratório há quatro anos, por seus ensinamentos e acompanhamento, pela confiança que depositou em mim, pela paciência e orientação, não só neste projeto. Muito OBRIGADO. --- O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES - Código de Financiamento 001), e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Brasil. MERG Sumário 1. Resumo .......... 11 2. Abstract .......... 12 3. Problemas de pesquisa .......... 13 4. Introdução .......... 15 4.1. Contextualização e justificativa .......... 15 4.2. Antecedentes da pesquisa .......... 23 4.2.1. Divisão do mPFC .......... 24 4.2.2. Complexos cerebrais de interesse .......... 28 4.2.2.1. Complexo Diencefálico .......... 28 4.2.2.1.1. Tálamo .......... 29 4.2.2.1.2. Hipotálamo .......... 30 4.2.2.1.3. Epitálamo .......... 32 4.2.2.1.4. Subtálamo .......... 33 4.2.2.2. Complexo Amigdaloide .......... 34 4.2.2.3. Complexo Hipocampal .......... 35 4.2.3. Generalidades das pesquisas precursoras e trabalhos clássicos .......... 37 4.2.4. Trabalhos em modelos animais .......... 43 4.2.4.1. Em Roedores .......... 44 4.2.4.1.1. Interações mPFC- Complexo Diencefálico .......... 44 4.2.4.1.2. Interações mPFC- Complexo Amigdaloide .......... 48 4.2.4.1.3. Interações mPFC- Complexo Hipocampal .......... 50 4.2.4.2. Em Primatas .......... 53 4.2.4.2.1. Interações mPFC- Complexo Diencefálico .......... 53 MERG Sumário (Continuação) 4.2.4.2.2. Interações mPFC- Complexo Amigdaloide .......... 55 4.2.4.2.3. Interações mPFC- Complexo Hipocampal .......... 57 4.2.4.3. Análise associativo das pesquisas .......... 58 5. Hipóteses .......... 62 6. Objetivos .......... 63 6.1. Objetivo geral .......... 63 6.2. Objetivos específicos .......... 63 7. Materiais e métodos .......... 64 7.1. Método .......... 64 7.2. Animal experimental .......... 64 7.3. Considerações bioéticas .......... 66 7.4. Materiais e equipamentos .......... 67 7.5. Procedimentos .......... 67 7.5.1. Cirurgia e técnicas .......... 68 7.5.1.1. Traçador neuronal e técnicas de injeção .......... 68 7.5.1.2. Coordenadas estereotáxicas e centros de injeção .......... 69 7.5.1.3. Desenvolvimento das cirurgias .......... 70 7.5.2. Perfusão e fixação .......... 71 7.5.3. Microtomia e conservação dos cortes .......... 72 7.5.4. Técnicas histológicas .......... 73 7.5.4.1. Coloração de Nissl.......... 73 7.5.4.2. Revelado de BDA com glicose-oxidase .......... 74 7.5.4.3. Intensificação com Ósmio .......... 74 MERG Sumário (Continuação) 7.5.5. Localização dos centros de injeção e delimitação das áreas atingidas .......... 75 8. Resultados .......... 76 8.1. Considerações iniciais .......... 76 8.2 Complexo Diencefálico .......... 79 8.2.1. Hipotálamo .......... 80 8.2.2. Tálamo, Epitálamo e Subtálamo .......... 86 8.3. Complexo amigdaloide .......... 98 8.4. Complexo hipocampal ......... 106 8.5. Análise integral das aferências nos três complexos ......... 107 8.5.1. Aferências provenientes de PL ......... 107 8.5.2. Aferências provenientes de IL ......... 110 9. Discussão ......... 112 9.1. Síntese integral das projeções PL e IL ......... 112 9.2. Diálogo Primata-Primata ......... 116 9.3. Diálogo Primata-Roedor ......... 124 9.4. Implicações funcionais ......... 129 10. Relevância científica e aplicabilidade dos resultados ......... 130 11. Conclusões ......... 132 12. Referências ......... 135 13. Índice de anexos ......... 160 13.1. Lista de abreviaturas ......... 161 13.2. Lista de figuras, imagens e quadros ......... 170 MERG Sumário (Continuação) 13.3. Classificação citoarquitetônica do complexo amigdaloide, de Morais et al. .........173 13.4. Artigo de revisão publicado sobre o tema da tese de doutorado ......... 175 13.5. PARECER da CEUA Nº 024.028/2017 ......... 177 “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez” George Bernard Shaw 11 1. Resumo O interesse da ciência, e particularmente dos campos da biologia e da neurociência, em compreender o funcionamento do sistema nervoso em relação aos produtos da atividade cerebral, como a cognição e o comportamento, levou ao desenvolvimento de várias pesquisas que centram seu foco principal de estudo nos lobos frontais, principalmente em regiões pré-frontais. Os córtices têm sido estudados funcionalmente, no entanto, as projeções anatômicas dos axônios e a descrição das redes neurais originadas nessas áreas do cérebro têm despertado mais interesse em alguns córtices do que em outros. A região medial dos lobos pré-frontais não tem recebido atenção suficiente na abordagem e detalhe de suas projeções e relações com estruturas subcorticais do cérebro. Portanto, esta proposta de pesquisa teve como objetivo descrever o substrato neuroanatômico dos circuitos cognitivos e visceromotores dos córtices pré-límbico e infralímbico do córtex pré-frontal medial e suas projeções e interações com complexos subcorticais no primata Callithrix jacchus (conhecido como Sagui comum); delimitando-se para as áreas e núcleos dos complexos diencefálico, amigdaloide e hipocampal. O sagui comum é um primata neotropical do novo mundo e a ausência de giros telencefálicos na sua estrutura cerebral favoreceu o mapeamento das fibras neuronais, nós usamos a Amina dextrano biotinilada (BDA) como traçador anterógrado; depositado nos córtices pré-límbico (PL) e infralímbico (IL). Entre as hipóteses se teve que, existe uma distribuição organizada e exclusiva na direcionalidade das fibras para regiões subcorticais associada com os três complexos de interesse no primata, fato que foi possível corroborar a partir dos resultados obtidos. Assim, foi possível observar com maior especificidade, que existe um padrão de distribuição rostrocaudal das fibras dentro dos núcleos subcorticais, com orientação medial. Nessa distribuição, as fibras provenientes do córtex infralímbico se acharam mais agrupadas dentro das áreas, do que as originadas no córtex pré-límbico, que se localizaram mais dispersas. A maioria das áreas da amígdala receberam fibras dos dois córtices. No diencéfalo as quatro regiões foram atingidas desde o pré-límbico, e as fibras do infralímbico se restringiram para o tálamo, o hipotálamo e o epitálamo; em geral em densidades diferentes. Porém, no complexo hipocampal se acharam fibras restritas, exclusivas às projeções do córtex pré-límbico. Esses dados aportam significativamente à descrição e compreensão da conectividade específica das regiões límbicas do córtex pré-frontal medial. Esses e outros achados nesta pesquisa destacam-se pela sua originalidade, assim como as características metodológicas pioneiras para a obtenção dos objetivos; fatos que, como novidade, aportam ao estudo dos correlatos morfológicos da atividade anátomo-funcional do cérebro. Palavras-Chave: Amígdala; BDA; Callithrix jacchus; Hipocampo; Infralímbico; Pré-límbico; Tálamo. 12 2. Abstract The interest of science, and particularly of the fields of biology and neuroscience, is in understanding the functioning of the nervous system in relation to the products of brain activity, such as cognition and behavior, has led to the development of several investigations that put their focus of study in the frontal lobes, especially in the prefrontal regions. The cortex has been functionally studied; however, the anatomical projections of the axons and the description of the neural networks that originate in these areas of the brain have brought more interest in some than in others. The medial region of the prefrontal lobes has not received sufficient attention in the approach and detail of its projections and relations with the subcortical structures of the brain. Therefore, this research proposal is aimed to descrive the neuroanatomic substrate of the cognitive and visceral-motor circuits of the prelimbic and infralimbic cortex of the medial prefrontal cortex and their projections and interactions with subcortical complexes in Callithrix jacchus primate (knows like marmoset); delimited to areas and nucleus of the diencephalic, amygdaloid and hippocampus complexes. The common marmoset is a neotropical primate of the new world, and the absence of telencephalic gyrus in its brain structure favors the mapping of neuronal fibers. The biotinylated dextran amine was employed as an anterograde tracer; deposited in the pre-limbic (PL) and infralimbic (IL) cortices. Among the planned hypotheses, it was proposed that there is an organized and exclusive distribution in the directionality of the fibers towards the subcortical regions associated with the three complexes of interest, in primates, a fact that was possible to corroborate from the results obtained. There was an evident pattern of rostrocaudal distribution of the fibers within the subcortical nuclei, with medial orientation. Within this distribution, the fibers coming from the infralimbic cortex were found to be more clustered within the areas than those originating in the prelimbic cortex, which was more dispersed. Most areas of the amygdala received fibers from both cortices. In the diencephalon, the four regions received projections from the prelimbic region, while the infralimbic fibers were restricted to the thalamus, hypothalamus, and epithalamus in general at different densities. However, it was observed that within the hippocampal complex there were restricted fibers, exclusive to the prelimbic cortex projections. Our data contribute significantly to the description and understanding of the specific connectivity of the limbic regions of the medial prefrontal cortex. These and other findings in this research stand out for their originality, as well as the pioneering methodological characteristics in achieving their objective; facts that, as a novelty, contribute to the study of the morphological correlates of the anatomical-functional activityin the brain. Keywords: Amygdala; BDA; Callithrix jacchus; Hippocampus; Infralimbic; Pre-limbic; Thalamus. 13 3. Problemas de pesquisa Nas últimas décadas, a importância do córtex pré-frontal (PFC) no funcionamento, integração e evolução do comportamento dos primatas tem sido investigada e destacada, associando-se com um maior desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores e como uma região chave na articulação do comportamento e das emoções. Da mesma forma, as regiões órbitofrontal (oPFC) e dorsolateral (dlPFC) dos lobos pré-frontais têm sido estudadas fisiológica, anatômica e funcionalmente, recebendo maior atenção, pelo que, com relação ao córtex pré-frontal medial (mPFC), os estudos têm-se concentrado mais na descrição de aspectos do comportamento resultante num nível funcional e suas alterações após algum tipo de dano cerebral. Esta região do cérebro (mPFC) está associada, em atividade, com os processos cognitivos e emocionais originados, subsequentes e/ou desencadeados, em estruturas e regiões subcorticais do cérebro, por isso é factível inferir que existe uma ligação anátomo-fisiológica entre o mPFC e áreas ventrais do cérebro associado ao “sistema límbico” (LS), toda vez que sua lesão afeta funcionalmente o que pode ser a representação de um circuito córtico-subcortical ou vice-versa; dentre essas estruturas, destacam-se as amígdalas cerebrais, os hipocampos e as regiões diencefálicas, amplamente envolvidos entre si, destacando a importância do papel das emoções (onde as amígdalas cerebrais intervêm) na codificação das memórias (cuja ação está ligada ao hipocampo), e a regulação da conduta mediada pelos dos hormônios envolvidos nos estados de ânimo e os processos neuroendócrinos, e a integração somatossensorial e motora (onde prima a ação de regiões diencefálicas). Esses três substratos neuroanatômicos têm sido associadas com processos ansiogênicos, agressão e sobrevivência, comportamento social, entre outros, destacando-se o papel das memórias na reminiscência direta ou indireta dos estressores (comportamento mediado e 14 regulado pelo PFC). Funcionalmente, uma alteração nessas estruturas pode desencadear síndromes pré-frontais de características topográficas mediais (como anedonia, ausência de resposta à dor, pseudodepressão, ou distúrbios disexecutivos, entre outros), porém, anatômica e fisiologicamente, a relação entre essas regiões e estruturas não foi claramente abordada até agora, em associação, particularmente, com zonas infralímbicas (IL) e/ou pré-límbicas (PL) do mPFC. Assim mesmo, dentre outras funções importantes, a flexibilidade comportamental, atribuída aos córtices PL e IL de roedores, foi atribuída ao funcionamento geral do PFC de primatas (Vertes, 2004). Essas descobertas levantam a questão de como os córtices PL e o IL (subdivisões do mPFC) podem interagir para influenciar o aprendizado, e quais poderiam ser os possíveis mecanismos dos circuitos subjacentes. A elucidação dessas questões pode fornecer ferramentas para compreender como áreas corticais pré-frontais distintas, mas funcionalmente relacionadas, podem, em conjunto, apoiar os comportamentos que envolvem as emoções, o aprendizado flexível e a memória. Portanto, o conhecimento e a descrição dos circuitos neurais, ao nível das projeções axonais, possibilita uma melhor abordagem e compreensão da atividade cognitivo-comportamental e emocional, extrapolada até certo ponto para os seres humanos a partir do trabalho resultante com primatas. Nesse sentido, e considerando os centros funcionais chaves na integração do comportamento, foi preciso e conveniente formular como questão norteadora desta pesquisa, qual é o substrato neuroanatômico dos circuitos cognitivos e visceromotores do córtex pré- frontal medial e as suas projeções anterógradas e interações com complexos subcorticais no primata Callithrix jacchus? 15 4. Introdução Para abordar e dar solução aos problemas de pesquisa é relevante estabelecer uma contextualização sobre o tema e suas particularidades, além de clarificar o porquê. É por isso que, a continuação, apresentam-se descrições anatômicas dos centros morfológicos chaves para esta pesquisa, os principais estudos realizados, clássicos e recentes, sobre o tema que envolvem e relatam a conectividade das áreas e regiões cerebrais de interesse, em dois dos principais modelos de estudo animal, roedores e primatas; favorecendo assim a posterior discussão dos resultados e o estabelecimento de conclusões. Igualmente, estabeleceram-se os objetivos orientadores e as características metodológicas que condensam o trabalho feito e que favorecem sua compreensão. Assim como também se destaca a relevância científica dos dados achados e sua possível aplicação. 4.1. Contextualização e justificativa A partir do estudo da atividade cognitivo-comportamental em indivíduos com lesão neurológica, seja como dano adquirido ou como consequência do período de desenvolvimento embrionário, a neurociência, liderada pela neurologia funcional, tem mostrado as características funcionais como sinais ou sintomas de síndromes particulares associadas com uma ou outra região do cérebro, em consideração aos correlatos anátomo-patológicos dos indivíduos em questão. A descrição desses relatos médicos surgira nos últimos três séculos e, no entanto, tiveram um maior crescimento nas últimas décadas do século XIX e na primeira metade do século XX (Ardila & Rosselli, 2007). Os casos relatados de forma isolada, mas relevante, foram pioneiros, e bem como as pesquisas que surgiram para aprofundar na compreensão das manifestações patológicas do comprometimento encefálico, passaram a descrever focos de tecido cerebral associados com sintomas ou síndromes específicas, ligados à classificação e 16 distribuição topográfica realizada por Brodmann (em 1909) da citoarquitetura dos hemisférios cerebrais. Esses sinais de patologia cerebral, por si só, receberam correlações anatômicas em termos de uma área específica ao longo dos lobos occipital, parietal e temporal, no entanto, ao abordar o lobo frontal, essas áreas abrangem uma maior extensão e variedade de sintomas para estabelecer uma síndrome, pela mistura de características sintomáticas que podem apresentar- se ao associar-se diretamente com o processamento e a resultante da atividade cognitivo- comportamental. O que para outros sinais clínicos, no restante do cérebro, pode abranger uma área delimitada, em referência aos pré-frontais um signo ou sintoma abrange um conjunto de áreas de ligação, pelas características de apresentação e distribuição de tais manifestações, que estabelece, per se, a existência de um circuito funcional envolvido. Para favorecer seu estudo e compreensão, os lobos frontais subdividem-se anatomicamente em duas "partes", em sua porção anterior as regiões pré-frontais e em sua porção posterior as regiões motoras de comportamento coordenado (Kandel et al. 2014; Purves et al., 2012; Snell, 2003). O córtex pré- frontal se correlaciona com as características funcionais que "carregam" comportamento, pensamento e cognição em si mesmos; por outro lado, o córtex motor está claramente associado à preparação, programação e execução do movimento coordenado, com base nas indicações eferentes dos pré-frontais (Ardila & Rosselli, 2007; Benchename et al., 2010; Cosenza, 2018; Purves et al., 2012). O interesse no comportamento dos indivíduos, seja como cognição, pensamento elaborado ou ação motora em si, focalizou amplamente as pesquisas nos lobos pré-frontais como centros de recepção dos eferentes das outras regiões do cérebro, a fim de condensar, elaborar e/ou "decidir" partindo da informação compilada, daí o fato de receber o nome de "o centro executivo do cérebro". 17 Assim, o córtex pré-frontal foi subdividido em três regiões (nos primatas humanos; dorsolateral,medial e orbiral), cada uma com um compêndio de áreas anatômicas associadas a características funcionais; que estão envolvidos coletivamente em comportamentos cognitivos complexos e tomada de decisões, bem como na moderação de comportamentos sociais direcionados a objetivos, por exemplo, monitoramento de ações e resultados (Amodio & Frith, 2006; Krueger et al., 2009; Yang & Raine, 2009). A região dlPFC é encontrada em primeira instância, associada em maior grau à atividade cognitiva e processamento básico para atividade de ordem superior; em sua porção dorsal, foi descrita a existência de circuitos neuronais que a ligam aos córtices parietal e temporal, como também aos núcleos caudado (Cd) e mediodorsal do tálamo (MD); em sua zona lateral, as conexões neuronais foram descritas com áreas pré- motoras, o córtex IL, o córtex auditivo, o hipocampo, a amígdala e a divisão parvicelular do núcleo mediodorsal do tálamo [MDPC] (Clark, Boutros & Méndez, 2012). Por outro lado, na porção inferior dos pré-frontais, a região oPFC, funcionalmente tem sido associada com alterações comportamentais de tipo agressivo, psicopático, dificuldades de inibição e controle comportamental, assim como com a perda de sensibilidade social e a aceitação de normas, também com atitudes obsessivo-compulsivas; anatomicamente, suas conexões neuronais expandem-se para o córtex pré-frontal ventromedial e para a porção lateral da região dlPFC, além do córtex temporal e das ligações subcorticais com o hipocampo, a amígdala, o hipotálamo e o estriado (Ardila & Rosselli, 2007; Waxman, 2010). Finalmente, na região central do córtex pré-frontal está a área ventromedial ou fronto-medial (mPFC) que, do ponto de vista funcional, está associada a síndromes variáveis que incluem alterações de humor com tendência negativa, mudanças comportamentais abruptas, anedonia, ausência de resposta à dor, incapacidade de tomar decisões, "lacunas mentais" e alterações nas memórias de trabalho e de curto prazo, além de sintomas ansiogênicos e de tipo Korsakoff, entre outros; anatomicamente, seus circuitos neuronais são distribuídos para regiões PL e IL que são 18 correlacionadas por comprometimentos no circuito cingulado anterior e regiões subcorticais posteriores (Ardila & Rosselli, 2007; Narayanan & Laubach, 2017; Roberts et al., 2007; Waxman, 2010). Não é de surpreender então que, pacientes com lesões do mPFC exibam comprometimento social grave e flexibilidade comportamental reduzida (Anderson et al., 1999; Drevets, 2000; Eslinger et al., 2004; Forbes e Grafman, 2010). No entanto, uma correlação parcial entre a atividade do mPFC e um subconjunto de distúrbios neuropsiquiátricos relacionados ao comportamento social em humanos levou à hipótese de que o equilíbrio excitação/inibição nos circuitos do mPFC pode ser crítico para o comportamento social normal (Yizhar, 2012; Bicks et al., 2015). Numa abordagem breve e preliminar da função, a atividade no PL é necessária durante o novo aprendizado para aplicar associações previamente aprendidas, enquanto a atividade em IL é necessária para aprender associações alternativas às anteriores. A conectividade IL→PL é especificamente necessária durante o aprendizado dependente de IL, enquanto conectividade PL↔IL recíproca é necessária durante uma janela de tempo de 12–14 h após o aprendizado de associação para definir o papel do IL na aprendizagem subsequente, como foi descrito por Mukherjee e Caroni (2018); os resultados destes autores definem papéis específicos e opostos do PL e do IL para, juntos, apoiarem de forma flexível o novo aprendizado. Apesar do exposto até aqui, as vias axonais estendidas a partir do mPFC não apresentam uma descrição significativa e precisa do seu "início" e "fim" nas estruturas córtico-subcorticais nos modelos de estudo que utilizam primatas para este fim; fato que contribuiria para compreender como a conectividade neuronal explicaria, em parte, a funcionalidade da atividade cerebral. Nesse sentido, e delimitando particular interesse no mPFC, os trabalhos de pesquisa não são conclusivos nas propostas de descrição anatômica de suas projeções axonais e dos circuitos neurais envolvidos. Do ponto de vista cognitivo-comportamental, as correlações entre o mPFC 19 (PL e IL) e as regiões subcorticais são consideradas "macro-funcionalmente", entretanto, não há detalhes sobre como e por onde as estruturas neuroanatômicas se relacionam e estabelecem sinapses entre essas áreas do cérebro. Se a fenda de interação do mPFC com determinadas estruturas é ainda mais fechada, à sintomatologia e os sinais patológicos já descritos, é de supor a existência de projeções axonais relevantes direcionadas para a amígdala cerebral, o diencéfalo e o hipocampo, destacando-se estes pela sua relevância no funcionamento das emoções e as memórias, a atividade sensitivo-motora, o comportamento e afeto negativos, e a influência da primeira sobre a segunda e vice-versa (Bustamante, 2007; Cosenza, 2018; Cotrufo & Ureña, 2018; García, 2018; Martin, 2013; Uylings et al., 2003), embora não haja em outras pesquisas descrições específicas sobre isso no nível anátomo-funcional, com detalhes descritivos das vias axonais envolvidas que favoreçam tal conexão morfológica para a execução do processo funcional. A compreensão do comportamento celular de tipo neuroanatômico admite uma melhor abordagem clínica de compromissos específicos em certas vias axonais que se conectam entre áreas particulares do cérebro. Portanto, ter conhecimento da morfologia das conexões e subdivisões do córtex cerebral favorece a interpretação dos dados experimentais sobre as vias e propriedades fisiológicas das células e as redes neurais estabelecidas na abordagem dos efeitos comportamentais das lesões cerebrais e dos processos de neurodegeneração do tecido. Como mencionado acima, e como é retomado por Ardila e Rosselli (2007), os relatos sobre sujeitos humanos partem de um dano específico apresentado, e tiveram um apogeu no final do século XIX. No entanto, nas últimas décadas, o córtex pré-frontal foi estudado significativamente como um elemento-chave na evolução de habilidades cognitivas superiores em primatas (Rosa & Tweedale, 2005, Mansouri et al., 2017, Smaers et al., 2017); e ainda mais, Buckner e Margulies (2019) relataram o descobrimento de que o Sagui tem uma rede 20 transmodal que possui muitos paralelos com a rede padrão humana, e as análises anatômicas das redes que progridem ao longo de um gradiente caudal a rostral no sagui revelaram homologia de macro-escala com o humano. Fato que aumenta ainda mais o interesse das pesquisas por usar este modelo experimental nos estudos anatômicos. Por outro lado, e focando na conectividade do mPFC, Hardung et al. (2017), propôs que as funções proativas e reativas das células associadas com o mPFC são o resultado da interação de diferentes redes neurais dentro do PFC, ligadas com atividades subjetivas de estimulação sensorial, processos emocionais e de controle de impulsos, entre outros, o que estaria associado às estruturas subcorticais do cérebro, como a amígdala, o hipotálamo, o tálamo e a formação reticular do tronco encefálico. Por outro lado, no que se diz respeito às técnicas de estudo para a delimitação das vias axonais no tecido cerebral, as investigações que utilizam traçadores anterógrados e retrógrados sugerem que as projeções do PFC dos ratos são organizadas topograficamente em todas suas subdivisões, principalmente em estruturas dorso-mediais, e seguidas por regiões ventrolaterais, como foi mencionado por Gabbott et al. (2005) em seu estudo. É assim que, particularmente, não há até o momento relatos detalhados de estudos que relacionem anatomicamente, por meio de prolongamentos de circuitos neurais, o mPFC com os complexos diencefálico, amigdaloide e hipocampal, diretamente. Apesar disso, e embora com poucaespecificidade, Calixto et al. (2010), Nasehi et al. (2015), relataram que o hipocampo ventral (vHPC- envolvido na modulação emocional) se projeta em direção ao PFC, enquanto a porção dorsal do hipocampo (dHPC- relacionada à aprendizagem e memória espacial) não faz isso, destacando que essas duas regiões subcorticais diferem em suas conexões anatômicas com o PFC (sem esclarecer a sub-região). De maneira similar, tem sido funcionalmente determinado que a atividade do núcleo basolateral da amígdala (BL) é suprimida pelo mPFC em relação às 21 interações dos circuitos dopaminérgicos, e que o núcleo central da amígdala (CeA) intervém na inibição desta zona cortical em face de estímulos altamente estressantes (Zarrindast et al., 2011; Pérez De La Mora et al., 2012), sem destacar a via de acesso entre essas regiões cerebrais, ou a origem específica dentro do mPFC. Neste sentido, e em termos da técnica de traçadores utilizados para destacar as vias axonais e sua organização em diferentes estruturas e regiões, investigações como as de Morecraft et al. em 1992, Carmichael e Price em 1995 (a; b) e Roberts et al. em 2007, sugerem que traçadores anterógrados colocados em Saguis, Macaco Rhesus e Macaco Cheiro, mostram que as projeções emergentes das regiões dorsais do PFC são limitadas, estendendo-se principalmente ao córtex parietal e temporal medial, em áreas de processamento de informação viso-espacial. Por outro lado, se as injeções do traçador são feitas na porção lateral do PFC, a visualização das conexões é ampla e com implicações funcionais variadas, estendendo os axônios às áreas do córtex parietal posterior, do giro temporal superior e do córtex cingulado anterior (ACd), regiões funcionalmente ligadas ao processamento de informações viso- espaciais, motoras e auditivas. Por outro lado, injeção de traçadores colocados nos córtices oPFC e mPFC revelam conexões neuronais recíprocas entre essas regiões e com estruturas do sistema límbico. Apesar disso, não há maior detalhamento e pontualidade nas várias projeções subcorticais originadas no oPFC e mPFC em direção às regiões posteriores e com estruturas específicas, principalmente desde o mPFC. Assim, a técnica de traçado neuronal mostrou-se eficaz no estudo das vias anatômicas seguidas pelos axônios, a partir da marcação da interação das redes neurais através da citoarquitetura cerebral. Portanto, como já foi reiterado até o momento, elucidar as projeções neuronais do mPFC para estruturas posteriores no sistema límbico possibilita a ampliação do 22 conhecimento escasso sobre elas, sendo trabalhado com esta técnica de estudo em ordem retrógrado e anterógrado com traçadores mono-axonais. Da mesma forma, a formulação e execução de um projeto de pesquisa em anatomia cerebral deve objetivar a transcendência em direção aos correlatos anátomo-funcionais, encontrando uma aplicabilidade clínica no manejo e compreensão da patologia neurológica e seu consequente comprometimento cognitivo- comportamental. Quanto ao sujeito de experimentação, o sagui comum, Callithrix jacchus, é um pequeno primata do Novo Mundo que está sendo cada vez mais escolhido como um modelo animal para o estudo da conectividade cerebral. Isso, pelo fato do sagui, um primata fisiologicamente e geneticamente acessível, ser um candidato para pesquisa que possui redes neurais padrão, criando oportunidades para o estudo da hodologia da atividade cerebral, e das funções cognitivas e sociais mais elevadas; permitindo a obtenção de dados que descrevem a morfologia das conexões neuronais e favorecendo a abordagem das doenças neurológicas e neuropsiquiátricas. Ao destacar a proximidade entre as análises anatômicas das redes neurais no Sagui e sua hodologia de macro-escala com o cérebro humano, as posições relativas das áreas sensoriais e motoras primárias são conservadas (Krubitzer, 2007), parecendo que a ampla ordenação e as relações espaciais entre redes de associações distribuídas também podem ser conservadas. Esse fato tem implicações distintas e importantes. Por um lado, as homologias fornecem uma oportunidade para estudar e compreender como as redes de associação e as conexões entre áreas corticais e subcorticais se formam e se diferenciam, de maneira que podem ser usadas para entender quando as redes estabelecidas são erradas nos modelos de dano neuropsiquiátrico e de desenvolvimento. 23 O fato de as redes neuronais do sagui compartilharem recursos semelhantes aos humanos fornece oportunidades específicas para explorar propriedades traduzíveis de redes de associação de ordem superior. Por outro lado, como foi ressaltado por Buckner e Margulies (2019), as homologias fornecem uma janela para entender a organização das redes de associação que evoluíram há pelo menos 40 milhões de anos. Embora o sagui tenha relações intrigantes com o humano, associadas à sua distância evolutiva (Hedges et al., 2015; Perelman et al., 2011), tamanho pequeno do cérebro e córtex menos diferenciado aumentando a incerteza sobre quanta homologia deve ser esperada, o trabalho com Saguis como modelo animal de experimentação favorece a proximidade para a compreensão de como as regiões e estruturas do Sistema nervoso central (SNC) estão conectadas, e, ainda quando não homologa a estrutura biológica da arquitetura do cérebro humano, permite extrapolar em alguma medida o desenvolvimento de redes neurais e ampliar a compreensão da configuração neuroanatômica, com uma visão construída gradualmente a partir de pesquisas precursoras e novas propostas que contribuem para expandir o caminho da ciência no estudo de regiões cerebrais e campos de trabalho com, até agora, abordagem e exploração limitadas. 4.2. Antecedentes da pesquisa As interações da conectividade celular do mPFC têm-se descrito partindo do uso de compostos químicos para traçar o trajeto das projeções neuronais, tanto aferentes como eferentes nesta região cerebral, e incluso têm-se realizado estudos que têm usado a eletrofisiologia como técnica primordial para desvendar a atividade dos neurônios. Embora o uso de primatas na pesquisa sobre o cérebro tenha sido de interesse crescente, os roedores, ainda hoje, são o modelo animal que mais tem aportado à literatura científica. No que tem a ver com as relações anatômicas do mPFC, os trabalhos publicados com primatas têm 24 sido pouco precisos e detalhados à subdivisão específica, na maioria dos casos, referindo dificuldades de acesso ao local da injeção. Em consideração a isso, os estudos, onde o uso de roedores é a escolha como sujeito de experimentação, têm reportado vínculos morfológicos e comportamentais, possibilitando compreender a funcionalidade de cada uma das conexões estabelecidas entre o mPFC e outras estruturas e regiões do SNC, chegando, inclusive, à descrição com maior exatidão da região do mPFC da qual emergem e/ou convergem as fibras nervosas, sendo particularmente as sub-regiões PL e IL as atingidas e, dando a possibilidade de estabelecer, em alguns casos, se sua relação anatômica é com a porção caudal, rostral, ventral ou dorsal de outras estruturas encefálicas (Ríos-Flórez, 2018); destacando-se, principalmente, a substância cinzenta periaquedutal (PAG), o núcleo accumbens (Acb), a área tegmental ventral (VTA), o núcleo dorsal de Rafe (DRN), a habénula lateral do epitálamo (LHb), a amídala cerebral (Am), o hipocampo (Hipp) e o hipotálamo, entre outras (ver Anexo 13.4). Assim sendo, a pesquisa aqui desenvolvida tem-se centrado nos maiores complexos anatômicos subcorticais, num modelo com primatas. 4.2.1. Divisão do mPFC O estudo da morfologia e da função relacionada com o lobo frontal é vital para a compreensão de uma grande variedade de comportamentos importantes, alguns dos quais diminuem durante o envelhecimento (Song, Ehlers & Moyer, 2015). No que se refere ao mPFC, este é crítico para adetecção e atenção de novidades, a avaliação contextual, a função executiva e o comportamento direcionado por objetivos. Esse córtex apresenta uma população significativa de neurônios e interneurônios GABAérgicos que intervém de diferentes maneiras nos processos cognitivos e emocionais, modulados pela sua excitação e inibição, e tem relação com o controle visceral, os mecanismos de recompensa e motivação, e a tomada de decisão. Além da cognição e do controle comportamental, estudos de imagem cerebral têm implicado a 25 atividade da mPFC na fisiopatologia dos transtornos de humor e ansiedade, incluindo transtorno de estresse pós-traumático e transtorno depressivo maior (Cosenza, 2018; Escudero & Nuñez, 2019; Sun et al., 2019; Wood et al., 2019). Neste sentido, coletivamente diversos estudos (Covington et al. 2010; Drevets et al., 1997; Drevets, Price & Furey, 2008; Finlay et al., 2015 ; Kaidanovich-Beilin et al., 2011; Kim et al., 2015; Lee et al., 2016; Liang et al., 2015; Mayberg et al., 2005), ilustram a ideia de que várias vias de adesão e sinalização sináptica que operam no mPFC, assim como que a estrutura e a atividade das sub-regiões desse córtex, são críticas em, e contribuem para, o início, manutenção e modulação/regulação comportamental e a patologia afetiva associada. Esse córtex é dividido morfologicamente em três sub-regiões, o córtex cingulado anterior (área 24 de Brodmann) e os córtices pré-límbico (área 32) e infra-límbico (área 25) [figura 1]. Como é de interesse do projeto aqui desenvolvido, as sub-regiões PL e IL receberão a atenção principal. Figura 1. Reconstrução 3D da face medial do córtex do Sagui comum (Callithrix jacchus), com localização dos córtices que fazem parte do mPFC; sinalizados com ponto branco em localização antero-ventral dentro da figura. (Adaptado de Paxinos et al. 2011). Barra: 5 mm. 26 O mPFC é estruturalmente heterogêneo e, por suas conexões de atividade límbica, “pode fazer parte do lobo límbico; ao que parece, essa região é, na verdade, uma área de confluência do córtex do cíngulo, da região orbitofrontal e do córtex dorsolateral” (Consenza, 2018, pp. 118). Por sua vez, Roberts et al. (2007) observaram que, a divisão dos córtices dentro do mPFC corresponde com áreas citoarquitetônicas distintas, as quais não possuíam diferenciação evidente nas camadas granulares II e IV, e que essas áreas apresentam alta densidade celular nas camadas III e V. Além disso, referem que as camadas supragranulares são consideravelmente mais espessas que as camadas infragranulares. Assim, essas áreas corresponderiam às regiões PL e IL, as áreas 32 e 25, respectivamente, situadas na região caudal; isso representa aspectos característicos da parede cortical medial em macacos. Nesse sentido, os córtices PL e IL estão compostos por uma população heterogênea de neurônios piramidais, de longo alcance, que recebem, integram e retransmitem informação ascendente desde origens subcorticais (Cheriyan et al., 2016). Elucidar a organização e a concentração das fibras para regiões distantes dos neurônios nestes córtices, proporciona conhecimento valioso sobre o processamento cortical; principalmente aquele envolvido com transtornos cognitivos e comportamentais. Por isso, se sugere que as áreas viscero-sensoriais e viscero-motoras no lobo frontal se localizam nos córtices insular agranular (CIa), PL e IL (Carmichael & Price, 1994; Chiba et al., 2001). Razão pela qual têm-se postulado os córtex IL e o PL como uma região autonômica no córtex pré-frontal medial. Funcionalmente, Cosenza (2018, pp. 118) sintetiza que lesões do córtex mPFC “podem levar à apatia e à ausência de iniciativa. Ele parece atuar como uma estação central, integrando vários circuitos ou redes nervosas (...) e também tem regiões funcionais distintas. A região dorsal (PL) parece estar envolvida na avaliação de situações de conflito, de medo e de 27 ansiedade, enquanto as regiões ventrais (IL) têm papel regulador na geração de respostas emocionais, pois podem inibir o processamento de emoções negativas na amigdala, quando necessário. Os dados empíricos sugerem que a distinção básica entre as regiões PL e IL são as funções de avaliação e de regulação, respectivamente”. Também, o mPFC é fundamental para o processamento das reações emocionais quando vinculado com o trabalho das regiões subcorticais. Assim, o mPFC-dorsal, especificamente o córtex PL, regula a expressão do medo condicionado/aprendido (mas não a aquisição desse medo), a redução da recuperação após a extinção da conduta e os comportamentos interpretados como busca da recompensa (Burgos-Robles et al., 2009; Corcoran & Quirk, 2007; Sotres- Bayon et al., 2012; Vidal-González et al., 2006). Quanto o mPFC-ventral, o córtex IL, é essencial para o condicionamento da extinção tanto nos domínios agradáveis como aversivos; o PL também é essencial para desenvolver estratégias de resposta dirigidas ao objetivo -“PL-go”-, e por sua vez IL apoia o comportamento do hábito -“IL-stop”- (Gourley & Taylor, 2016). Além disso, a região IL tem sido implicada no afeto negativo, na resposta ao estresse, o humor e as memórias do medo (Mayberg et al., 1999; 2005; Wood et al., 2019), assim como um importante regulador da adaptação comportamental (McKlveen, Myers & Herman, 2015; Myers, McKlveen & Herman, 2014). No entanto, os mecanismos específicos dos circuitos que medeiam esses efeitos são amplamente desconhecidos, porém, um fato que poderia explicar essa funcionalidade oposta mas coordenada visa em que, estas duas regiões do mPFC também estabelecem conexões recíprocas que influenciam a morfologia e a função da sua conectividade geral; particularmente, for observado que existem projeções proeminentes e recíprocas das camadas V e VI entre PL e IL (Mukherjee & Caroni, 2018); especificamente, os axônios dos neurônios de projeção IL para PL ou de PL para IL terminam na camada VI e na camada V, respectivamente. 28 Por isso, cada vez há mais evidência que sugere que as sub-regiões PL e IL, têm influências opostas, mas integradas, respeito à atividade cerebral, particularmente com aquela associada às condutas de processamento emocional (Milad & Quirk, 2012; Mukherjee & Caroni 2018; Sierra-Mercado et al., 2011; Sotres-Bayon & Quirk, 2010). É por isto que os córtices PL e IL têm sido vinculados com distintas funções envolvidas na aprendizagem emocional e nas respostas comportamentais. De maneira particular, o mPFC também tem sido implicado na detecção e atenção de novidades, e no controle do fluxo de informações somatossensoriais (Cheriyan et al., 2016; Escudero & Nuñez, 2019; McKlveen, Myers & Herman, 2015; Wood et al., 2019); compreender este desempenho dicotômico da atividade destas regiões cerebrais e sua conectividade, ainda hoje continua sendo um campo a ser explorado; desvendar as conexões neurais estabelecidas pode favorecer em alguma medida sua compreensão funcional. 4.2.2. Complexos cerebrais de interesse 4.2.2.1. Complexo Diencefálico O diencéfalo encontra-se envolvido pelo telencéfalo e é parte das regiões embrionárias do desenvolvimento do sistema nervoso central que configuram o cérebro adulto em si mesmo (Cosenza, 2018). Localizado subcorticalmente e na porção centrocaudal ao redor do terceiro ventrículo, o diencéfalo representa a região com a maior quantidade de núcleos cerebrais, sendo o tálamo a maior estrutura dele (com o maior agrupamento de núcleos) e mais outras três estruturas que devem seu nome à sua localização em orientação ao tálamo, encontrando-se assim, o hipotálamo, o epitálamo e o subtálamo (cada uma com núcleos próprios). Essas quatro estruturas constituem o que é denominado complexo diencefálico ou, a região do diencéfalo. 29 4.2.2.1.1. Tálamo É a maior região do diencéfalo e representa um conjunto de estruturas nucleares de substânciacinzenta, distribuída em duas massas talâmicas de forma ovoide, que se encontra em contato com a parede lateral do terceiro ventrículo (3V), a cápsula interna (ic), o ventrículo lateral e a formação reticular (Turlough, Gruener & Mtui, 2012). O tálamo é reconhecido há muito tempo por seu papel na retransmissão de informações sensoriais da periferia, uma função desempenhada por seus núcleos de "primeira ordem". No entanto, uma segunda categoria de núcleos talâmicos, denominados núcleos de "ordem superior", foi apresentada devido à sua atividade para mediar a comunicação entre as áreas corticais (Zimmerman & Grace, 2018). Ainda que suas funções são variadas e complexas devido ao envolvimento dos núcleos talâmicos e à conexão deles com diversos sistemas anátomo-funcionais, é claro que um dos principais aportes do tálamo ao funcionamento da atividade cerebral é atuar como porta de entrada ao córtex, integrando a informação sensitiva (a excepção da informação olfativa) e motora, aferente e eferente, proveniente dos diferentes núcleos talâmicos e suas conexões. Além disso, o tálamo serve como conexão para aferências límbicas direcionadas ao córtex (Bustamante, 2007). Assim mesmo, tem-se constatado a implicação do tálamo em variadas funções cerebrais, incluindo processos cognitivos, o controle sensitivo-motor, os estados de ativação cortical, o ciclo sono/vigília, a orientação, percepção, nas emoções, a memória, a linguagem, funções executivas, e incluso, tem-se nomeado esta estrutura como o centro da atenção (Bustamante, 2007; De Bentolaza et al., 2016; Nadal & Amarillo, 2018; Perea-Bartolomé & Ladera- Fernández, 2004). O tálamo é dividido em três grupos nucleares (Anterior, Medial, Dorso lateral-ventral) pela lâmina de substancia branca denominada lâmina medular interna, além de núcleos 30 limitantes desses grupos (os da linha média e intralaminares). Cada grupo nuclear está integrado por uma série de núcleos talâmicos que têm conexões motoras, sensitivas e límbicas. Assim, o Grupo nuclear anterior, encontra-se constituído pelo núcleo anterior e suas divisões; está implicado nos processos de memória e emoções, devido à sua conexão com o giro do cíngulo. De outro lado, o Grupo nuclear medial é integrado pelo núcleo mediodorsal (e suas divisões), que tem uma importante relação com o lobo frontal, por causa do seu envolvimento no comportamento e na tomada de decisões baseadas na predição, motivação e recompensa; também faz parte desse grupo o núcleo medioventral, associado com as respostas emocionais e/ou viscerais ante um estímulo desencadeante (particularmente, evidências recentes indicam que a atividade neuronal pré-frontal, que suporta a memória de trabalho, é impulsionada por conexões tálamo-corticais que surgem no tálamo mediodorsal [Scott et al., 2020]). Por último, o Grupo nuclear dorso lateral-ventral é constituído por sete núcleos, o ventral anterior (VA), ventral lateral anterior (VLA), ventral lateral posterior (VLP), ventral posterior medial (VPM), ventral posterior lateral (VPL), corpo geniculado lateral (LG) e corpo geniculado medial (MG); esses núcleos estão relacionados com a planificação motora, a sensibilidade profunda inconsciente, a sensibilidade somática do lado contralateral da cabeça, a sensibilidade somática do lado contralateral do corpo, a visão e a audição, respectivamente (Bustamante, 2007; Waxman, 2011). 4.2.2.1.2. Hipotálamo Como parte do diencéfalo o hipotálamo regula os sistemas nervoso autônomo e neuroendócrino, e está limitado, rostralmente pela lâmina terminal, dorsalmente pelo sulco hipotalâmico, lateralmente até a cápsula interna, e chega caudalmente aos corpos mamilares (MB), estruturas pareadas na superfície hipotalâmica ventral. O Complexo hipotalâmico tem uma organização 31 anatômica e funcional médio-lateral, com zonas periventricular, medial e lateral separadas (Mai & Paxinos, 2012; Martin, 2013). De um lado, a zona periventricular é a mais medial e a constituem pequenos núcleos que limitam com o 3V, svendo uma área importante na regulação e liberação de hormônios endócrinos da glândula hipófise anterior. Por outro lado, a zona medial coordena diversas funções, tem os núcleos que regulam a liberação de vasopressina e oxitocina na glândula hipófise posterior. Também ali concentram-se a maior população de neurônios que regulam o sistema nervoso autônomo. E, por sua vez, a zona lateral contém grupos de neurônios que integram a informação das estruturas do LS telencefálico e transmitem-na para outras regiões do hipotálamo, assim como para o mesencéfalo. Essa zona é relevante nas emoções e nos processos de homeostases (Clarke & LeGros, 1938; Mai & Paxinos, 2012; Martin, 2013). Funcionalmente, o hipotálamo lateral está envolvido com diversas funções de processos emocionais, assim como também com o arousal (Konadhode et al., 2014), o estresse (Bonnavion et al., 2015), a motivação (Sakurai, 2014) e a homeostase (Brown et al., 2015). Outra visão anatômica divide o hipotálamo em três porções anteroposteriores, embora os limites entre estas três regiões (anterior, intermédia e posterior) se baseiam em parâmetros da superfície ventral do cérebro, e os núcleos incluídos dentro de cada região dependem do plano da secção. A porção anterior do hipotálamo se localiza dorsal e rostral ao quiasma óptico, abrange a região pré-óptica, que se estende rostralmente até a lâmina terminal. A região intermédia está entre o quiasma óptico (och) e os corpos mamilares. Esta porção contém o túber- cinéreo, do qual se origina a haste hipofisária. Por último, a região posterior inclui os corpos mamilares e as estruturas dorsais a eles (Mai & Paxinos, 2012; Martin, 2013; Saper, 1990). 32 4.2.2.1.3. Epitálamo Esta estrutura é de tamanho pequeno, localizada superior e posteriormente ao tálamo. Esta região do diencéfalo é formada por duas estruturas cerebrais, os núcleos habenulares (ou a Habênula -Hb) e a epífisis ou Glândula pineal, também conhecido como glândula pineal (Cosenza, 2018; Waxman, 2011). Alguns autores adicionam uma terceira região, a estria medular [sm] (Turlough, Gruener & Mtui, 2012). A Hb situa-se por acima do tálamo e é composta pelos núcleos habenulares lateral (LHb) e medial (MHb), localizados sob os trígonos das habênulas, visíveis de cada lado da glândula pineal. Esses núcleos representam o centro de integração das vias aferentes olfatórias, viscerais e somáticas, e participam de circuitos límbicos facilitando a comunicação com a formação reticular. Assim mesmo, tem se constatado que a Hb está envolvida na regulação de comportamentos complexos, como a motivação, a tomada de decisão e os estados afetivos (Cosenza, 2018; Namboodiri, Rodríguez-Romaguera & Stuber, 2016). A conexão Hb-mPFC transmitiria informação do estado emocional e influenciaria nos sistemas da dopamina e serotonina [5-HT] (Lecourtier et al., 2008; Sego et al., 2014). Há evidências de que, por meio das suas conexões, a Hb pode ter ação supressora da atividade motora, quando ocorrem condições adversas, e parece participar do processamento de informações aversivas, como a dor e o estresse. Especula-se que uma diminuição dos movimentos, às vezes ocorrida na esquizofrenia ou na depressão, poderia ser decorrente de uma ativação habenular (Cosenza, 2018). Particularmente, tem-se referido que a LHb estaria envolvida no processamento olfativo, na execução de ações complexas para a consecução de objetivos, nos comportamentos de acasalamentos e no aprendizado aversivo (Baker et al., 2015). Além disso, a conexão LHb-mPFC tem se associado (em mamíferos jovens) ao comportamento do jogo social em prol de estabelecer vínculos e na comunicação social 33 (Baarendse et al., 2013; van Kerkhof et al., 2013). Isso, parte da influência que exerce a Hb para processar informações sociais positivas e negativas na geraçãode um equilíbrio de neurotransmição sobre a regulação da 5-HT e da noradrenalina para modular o comportamento do jogo social (Trezza et al., 2010; Siviy & Panksepp, 2011). Assim, Lecourtier et al. (2004) e van Kerkhof et al. (2013), têm referido que um estado emocional negativo diminui a atividade da Hb para a experiência social positiva como, por exemplo, condutas de isolamento social. Por sua vez, a glândula pineal é um órgão de natureza endócrina, responsável pela secreção do hormônio melatonina, liberado na circulação sanguínea na ausência de luz, participando assim na regulação dos ritmos circadianos (Cosenza, 2018; Martínez et al., 2012; Stehle et al., 2011). A melatonina é uma substancia cronobiótica que atua como sincronizador, estabilizando os ritmos corporais; com ação antioxidante, gonadotrófica, emocional, entre outras (Singh & Jadhav, 2014). Além disso, dada sua implicação na produção da melatonina e ao seu efeito imunoprotetor (Arias et al, 2003) esta estrutura tem sido amplamente estudada nos transtornos e alterações do sono, doenças neurodegenerativas, distúrbios imunológicos e cardíacos, e transtornos psiquiátricos, dentre outras patologias crônicas (Martinez et al., 2012; Reyes-Prieto, Velázques-Paniagua & Prieto-Gómez, 2009; Singh & Jadhav, 2014; Sthele et al., 2011). 4.2.2.1.4. Subtálamo Esta é uma pequena e complexa região do diencéfalo localizado embaixo do tálamo, em um território intermediário entre o hipotálamo e o mesencéfalo. Tem sido associado principalmente aos processos motores. O subtálamo é dividido em três estruturas principais, o núcleo subtalámico (STh), a zona incerta e os núcleos de Forel (Sedrak et al., 2011). Dentre esses, o STh é considerado de grande relevância para a coordenação do comportamento e da cognição, sendo chave na compreensão dos distúrbios do movimento e transtornos 34 neurodegenerativos como a doença de Parkinson, devido à conexão dessa região com os núcleos basais, que modulam, integram e controlam a atividade motora (Cosenza, 2018; Méndez- Herrera, 2011; Piedemonte et al., 2014). 4.2.2.2. Complexo Amigdaloide Este complexo está constituído por um grupo heterogêneo de núcleos e se encontra localizado profunda e rostro-medialmente dentro do lobo temporal no cérebro. É uma estrutura cerebral criticamente envolvida no processamento das emoções, particularmente nos componentes negativos, aversivos e à tomada de decisão. A disfunção dos circuitos vinculados ao complexo da amígdala, em humanos, tem sido associada a quadros psiquiátricos de depressão, ansiedade, sintomas da esquizofrenia e ao transtorno bipolar (Morais et al., 2019; Orsini et al., 2015; Roozendal & McGaugh, 2001). Sua complexa estrutura apresenta grupos basolateral da amígdala, que inclui os núcleos basolateral (BL), os núcleos basalmedial (BM) e o núcleo basal acessório (BA), que é considerado a interface sensorial da amígdala (LeDoux, 2000; Orsini & Marren, 2012); onde converge a informação que ingressa à estrutura proveniente das regiões sensoriais. Também está constituída pelos grupos, cortical superficial e o centromedial. Este último o compõem os núcleos CeA (subdividido em lateral -CeL-, capsular -CeC- e medial -CeM-) e medial (Me), e o núcleo intercalado da amígdala (I). Eles têm extensas conexões com variadas estruturas corticais e subcorticais (Amunts et al., 2005; Benarroch, 2015). Os núcleos do grupo centromedial (CeA, MeA e IC), junto com o núcleo do leito da estria terminal (ST) e a substancia inominada sublenticular (SISl), formam a entidade anatômica referida como a amígdala estendida (Alheid & Heimer, 1988; Benarroch, 2015). Levando em consideração a estrutura celular, o BL e a região cortical superficial têm uma composição celular parecida à do córtex cerebral; a maioria dos seus neurônios são 35 piramidais espinhosos de projeção glutamatérgica, e o restante são escassos interneurônios espinhosos locais GABAérgicos. Estes incluem neurônios que contêm parvalbumina que contatam com o corpo celular e os dendritos proximais, e os neurônios que contém somatostatina, os quais contatam os dendritos distais das células glutamatérgicas. Assim mesmo, os núcleos CeA e Me têm uma organização parecida com a do estriado e à do globo pálido; por exemplo, a maioria dos neurônios do CeL são GABAérgicos espinhosos muito ramificados parecidos com os neurônios espinhosos medianos do estriado, e, adicionalmente, a amígdala estendida centromedial (CeA, MeA e IC) está caracterizada por uma alta expressão de vários neuropeptídios (Benarroch, 2015). Além de estarem conectados entre si, Morais et al. (2019) destacam que os diversos núcleos do complexo amigdaloide apresentam circuitos ligados ao córtex cerebral e outras regiões subcorticais associadas à sua funcionalidade. 4.2.2.3. Complexo Hipocampal O hipocampo faz parte do lobo temporal e é uma estrutura fundamental para a memória. É uma invaginação do arquicórtex empurrada pela fissura do hipocampo para formar uma proeminência em seu corno inferior. Consiste em cabeça, corpo e cauda. Sua morfologia na seção coronal tem sido historicamente comparada a uma “C”, como o “cavalo marinho” (onde adquiriu o nome de hipocampo) ou “um chifre de carneiro” (em homenagem à divindade egípcia Amon Ra). Mede aproximadamente de 3,5-4 mm no nível ântero-posterior (Carpenter, 1996). O Hipocampo tem três divisões citoarquitetônicas (que são abreviadas por CA para Corno de Amon). A superfície ventricular do hipocampo é formada por uma camada fina de sustância branca com fibras mielinizadas que lhe dão uma cor amarelo-claro. A mielina continua com a fímbria, que é uma aglomeração de fibras piramidais que se orientam para os pilares do fórnix (Martin, 2013; Zola-Morgan et al., 1986). 36 O complexo hipocampal (ou formação do hipocampo) é uma invaginação do giro hipocampal no corno inferior do ventrículo lateral e inclui três divisões, o hipocampo, o giro dentado e o subículo (giro hipocampal em que o hipocampo repousa). Em uma vista coronal, a formação hipocampal está localizada ventralmente e o fórnix está localizado dorsalmente. Em um corte horizontal esta formação (muito pequena nesta vista) é inferior, e o fórnix (F) é superior (Carpenter, 1996; Fanselow & Dong, 2010; Martin, 2013). A morfologia do complexo hipocampal, assim como muitas áreas de associação límbica, difere daquela do resto do córtex. O córtex mais complexo do ponto de vista filogenético é o neocórtex, que, na superfície cortical lateral tem seis camadas celulares, e o alocórtex, localizado medialmente, tem menos de seis camadas. A realização de um corte através do alocórtex deixaria ver uma porção do complexo hipocampal chamada de arquicórtex, que tem apenas três camadas celulares (Mai & Paxinos, 2012; Martin, 2013). Cada divisão da formação hipocampal tem três camadas celulares principais, conforme o plano comum do alocórtex. A camada piramidal (ou camada de células granulares no giro dentado) contém projeções de fibras regionais. Enquanto os neurônios de saída da camada piramidal no hipocampo e no subículo (S) podem projetar para fora do complexo. Células piramidais do hipocampo e do S têm conexões extrínsecas, enviando seus axônios para alvos corticais e subcorticais. O hipocampo e o S têm extensivas projeções “de volta” ao córtex entorrinal (Ent) que, por sua vez, projeta amplamente a outras regiões corticais. Além das conexões extrínsecas, ambos os lados do complexo hipocampal estão interconectados por meio de neurônios comissurais cujos axônios cruzam na porção ventral do fórnix (Insausti & Amaral, 2003; Martin, 2013; Naidich et al., 1987a; b). Também, foi identificado que o hipocampo dorsal (dHPC) e o córtex mPFC são regiões cerebrais essenciais para o processamento e armazenamento da memória episódica; em 37 roedores, o dHPC tem um papel bem estabelecido no apoio àconsolidação de memória episódica em tarefas como reconhecimento e posicionamento de objetos (Tuscher et al., 2018); no entanto, o papel do mPFC na consolidação de tarefas de memória de tipo episódica permanece controverso. 4.2.3. Generalidades das pesquisas precursoras e trabalhos clássicos Para visualizar os locais de terminação dos neurônios, é necessário usar traçadores anterógrados. Por isto, as injeções de traçadores anterógrados (como PHA-L e BDA) em regiões específicas do PFC tem sido usado para rastrear os axônios dos corpos celulares marcados em locais do PFC, projetando suas terminações aos núcleos subcorticais. O estudo anterógrado mais amplo das projeções do mPFC foi realizado por Sessack et al., em 1989. Na primeira década deste século, um estudo de seguimento anterógrado executado por Vertes (2004), reavaliou as projeções do mPFC ventral (IL) e dorsal (PL), concluindo que as duas regiões corticais inervam conjuntos parcialmente sobrepostos de núcleos subcorticais. É de supor que, o PFC orquestra e processa muitos e variados tipos de informação para manter o controle cognitivo. Dentre suas muitas aferências encontram-se as projeções diretas com a amígdala e o hipocampo. Estas conexões do lobo temporal medial têm estado implicadas numa ampla gama de processos afetivos e cognitivos (Milad & Rauch, 2012; Preston & Eichenbaum, 2013; Rhodes & Murray, 2013; Ruff & Fehr, 2014). Forte evidência indica que as conexões recíprocas entre o mPFC com a amígdala e o hipocampo, respaldam aqueles aspectos fundamentais no comportamento emocional nos adultos e a codificação das memórias (Tottenham, 2015; Van den Oever et al., 2013). Assim mesmo, trabalhos pioneiros descreveram a existência de reciprocidade topográfica de conexões entre núcleos talâmicos específicos com o PFC, principalmente com o córtex medial; e a atividade dessas conexões estaria envolvida nos processos de percepção, e 38 funcionariam como uma ponte de interface entre o PFC e o hipocampo na consolidação da memória (Conde et al., 1995; Negyessy et al., 1998; Uylings et al., 2003; Vertes, 2004). Por isto, conhecer como as diferentes regiões pré-frontais interagem com as estruturas do lobo temporal medial e regiões subcorticais do cérebro é importante na compreensão destes processos de atividade cerebral. Em consequência, a topografia detalhada destas aferências pré- frontais segue tendo um interesse considerável. Porém, a maioria das pesquisas de conexão têm se fundamentado na colocação de traçadores retrógrados nas diferentes áreas do PFC, com a consequência de que se sabe muito menos sobre os sítios de terminação específicos dessas projeções no PFC. Isso, é importante na compreensão dos eferentes do hipocampo; o que leva ao fato de que, a extensão e a natureza de qualquer convergência entre os complexos amigdaloide e hipocampal com o PFC em primatas continua sendo pouco conhecida. Pensar nesta convergência é de crescente interesse, pelo que, existe uma maior aceitação de que o hipocampo anterior tem funções envolvidas com o estresse e o afeto (Fanselow & Dong, 2010; Strange et al., 2014), que poderiam complementar as da amígdala (Roozendaal et al., 2009) por meio de suas conexões pré-frontais. Além disso, a amígdala pode agilizar o jeito em que as emoções influenciam a memória autobiográfica (McGaugh, 2000; Talarico et al., 2004), uma função na qual se acredita que interagem com o hipocampo e o PFC (Fink et al., 1996; LaBar & Cabeza, 2006). No que concerne à memória, o armazenamento de longo prazo envolve o mPFC e sua conexão íntima com o hipocampo por meio de vias monossinápticas e polissinápticas bidirecionais. Por isto, o mPFC contribui com inúmeras funções cognitivas, incluindo a memória de trabalho (Fuster, 2001), a memória de longo prazo (Benchename et al., 2010; Takehara-Nishiuchi & McNaughton, 2008), atenção (Gregoriou et al., 2009), função executiva 39 (Benchename et al., 2010) e a extinção das memórias (Farinelli et al., 2006; Van den Oever et al., 2013). Também atua no armazenamento e recuperação das memórias espaciais (Maviel et al., 2004); o que indica um papel chave da via pré-frontal do hipocampo na mediação da consolidação das memórias. Por outro lado, até hoje, o único estudo que fez seguimento anterógrado aos eferentes do hipocampo dos macacos rhesus, aportou só dados resumidos, sem informação detalhada da área ou camada atingida (Rosene & Van Hoesen, 1977). Pelo que, um objetivo relevante para as pesquisas é detalhar o padrão de terminações dos eferentes e aferentes do hipocampo com o PFC. O lobo temporal médio dos primatas abrange o complexo hipocampal (circunvolução dentada, campos do hipocampo CA1, CA2, CA3 e S) e a região parahipocampal [Ent, córtex perirrinal (PER), córtex parahipocampal (PHC) e o pré e parasubículo (PrS e PaS)] (Burwell, 2002; Hwang et al., 2017). O PER e o córtex pós-rinal (POR) em roedores são homólogos funcionalmente ao PER e PHC dos primatas, respetivamente (Burwell et al., 1995). As regiões parahipocampais de roedores e primatas proporcionam uma entrada de associação unimodal e polimodal ao hipocampo. As entradas anatômicas ao PER sugerem que esta região poderia ser importante para a memória de reconhecimento de objetos visuais, enquanto que as entradas ao POR/PHC sugerem estar envolvidas com as funções espaciais (Burwell & Amaral, 1998; Suzuki & Amaral, 1994). Em relação com isso, os estudos anatômicos (Beaudin et al., 2013; Burwell, 2001; Franko et al., 2014; Hwang et al., 2017; Suzuki & Amaral. 2003) sugerem que o PER e o POR/PHC evidênciam uma alta homologia entre camundongos, ratos, macacos e humanos. Do mesmo jeito, os estudos com traçadores retrógrados (Barbas & Blatt, 1995; Carmichael & Price, 1995b; Insausti & Muñoz, 2001; Morecraft et al., 1992) têm demonstrado que dentro do 40 hipocampo, as projeções diretas ao PFC surgem do S e as regiões imediatamente adjacentes do CA1. Além disto, uma subpopulação de neurônios que se projetam ao PER se encontra tanto nas camadas II e III como na V do PFC do rato. Porém, tem-se descoberto que os neurônios nestas camadas com direção ao PER mostram propriedades diferentes de projeção e áreas distintas atingidas dentro do PER (Hirai et al., 2012). Isto sugere que os subconjuntos de neurônios corticais que se projetam nas diferentes sub-regiões dentro das estruturas corticais e subcorticais têm perfis de camada distintos. Por sua vez, as projeções pré-frontais da amígdala têm-se descrito de um jeito mais completo, utilizando traçadores anterógrados (Amaral & Price, 1984; Ghashgaei et al., 2007; Porrino et al., 1981). É sabido, que em macacos do velho mundo as projeções da amígdala terminam amplamente no PFC (Carmichael & Price 1995b; Ghashgaei et al., 2007), enquanto as projeções do hipocampo estão restringidas, com entradas focadas no mPFC -em PL e IL- e o oPFC -áreas 11, 13 e 14- (Barbas & Blatt, 1995; Carmichael & Price, 1995b; Insausti & Muñoz, 2001). Continuando com a amígdala, as projeções dela são relativamente densas, e terminam ao longo das áreas PL, IL e do ACd, na superfície medial do PFC (Amaral & Price, 1984; Ghashgaei et al., 2007). O fato de a amígdala projetar a quase todas as áreas pré-frontais foi particularmente interessante e surpreendente, isso foi desvelado num estudo (Ghashgaei et al., 2007) que usou o BDA como traçador, deixando em evidência os diversos graus de densidade das projeções dos axônios nas regiões do PFC. Assim, as injeções de traçadores anterógrados dentro da amígdala têm sido feitas principalmente nos núcleos basais, que, nos estudos clássicos com traçadores anterógrados 41 (Barbas & Blatt, 1995; Carmichael & Price, 1995b; Morecraft et al., 1992), evidenciaram-se como a fonte principal da recepção das projeções pré-frontais na amígdala. No que se refere ao BL, a conectividade sinápticamostra que estes núcleos têm preferência de conexão com células da camada II no mPFC, como tem sido demonstrado previamente (Little & Carter, 2013). Assim, o BL evoca uma entrada excitatória mais forte aos neurônios córtico-amigdaloides (CA) da camada II em PL, mais que aos do córtex IL, e a saída do PL à amígdala (neurônios da camada II PL-CA) consiste em projeções excitatórias dirigidas ao BL (Brinley-Reed et al., 1995; Gabbott et al., 2005; Vertes, 2004). Do mesmo jeito, além da camada II, os neurônios CA se distribuem nas camadas III e V do córtex IL (Ferreira et al., 2015). Partindo disso, foi presumido (Cheriyan et al., 2016) que a focalização específica das células do BL também se produzia entre os neurônios CA e córtico-PAG (CP) na camada V do córtex IL. Estudos prévios (Amir et al., 2011; Likhtik et al., 2008; Quirk et al., 2003) concluiram que os neurônios CA em IL estão envolvidos com a ativação das células GABAérgicas na amígdala (em regiões I dessa estrutura) os quais estão associados à recuperação das memórias de extinção do medo. Outro estudo (Pinard et al., 2012) demonstrou que, além de projetar ao BL e ao I, o córtex IL estende projeções densas ao CeL; posteriormente um estudo (Cheriyan et al., 2016) evidenciou que essas projeções são principalmente desde as camadas III e V do IL- AC. Funcionalmente, essa região (CeL) inibe os neurônios de saída do CeM. Neste sentido, no mPFC, os neurônios IL-CA, das camadas II, III e V, têm propriedades distintas, e, portanto, podem projetar-se nas sub-regiões específicas dentro da amígdala, demonstrando que estas camadas de IL-CA são intrinsecamente diferentes (Ferreira et al., 2015); pelo que, suas fibras, podem ter localizações distintas dentro da amígdala. 42 Relativo à integração de projeções, os núcleos basais da amígdala recebem fibras desde vHPC e a região PL do mPFC, e podem integrar estas projeções para regular condutas como a expressão do medo (Orsini et al., 2011). Assim, a amígdala é modulada pela atividade dessas conexões, e também requer da participação do IL na integração com o BL e o vHPC para a indução da plasticidade de que precisam as memórias de extinção (Sierra-Mercado et al., 2011). Por outro lado, no que concerne ao hipotálamo, ainda que pouco estudado, o mPFC também estabelece projeções com ele. Os córtices PL e IL projetam fibras diretas para esta estrutura (Floyd et al., 2000; 2001; Herry et al., 2008; Vertes, 2004). Entre suas funções, as conexões do mPFC com os neurônios do hipotálamo coordenam, principalmente, a regulação homeostática e o comportamento social, mediado hormonalmente com projeções desde a hipófise, como a agressividade, a reprodução e as respostas defensivas (Herry et al., 2008; Marek et al., 2013; Tottenham, 2015; Tye & Deisseroth, 2012). Por sua vez, trabalhos recentes têm tomado como tarefa aprofundar nos dados de pesquisas clássicas e encontrar interações entre o córtex e regiões subcorticais, descrevendo que, por exemplo, o hipocampo, o MD e os córtices PER e Ent são essenciais para a memória de reconhecimento visual, enquanto os substratos neurais subjacentes às memórias de reconhecimento olfativo são menos bem caracterizados (Robinson et al., 2019). Assim como que a ativação do núcleo Reuniens (Re), por meio da sua conexão com o mPFC, seria fundamental para mediar nos circuitos do ciclo do sono e a atividade entre o neocórtex e o hipocampo (Hauer, Pagliardini e Dickson, 2019), processos funcionais que são reguladas pelas interações da atividade córtico-subcortical. Neste sentido, fica claro como o mPFC está estrategicamente envolvido nas funções viscero-motoras e sensoriais, tanto cognitivas como autonômicas (Neafsey et al., 1986; Groenewegen & Uylings, 2000; Uylings et al., 2003). Um fato pelo qual se sustenta a 43 importância do desenvolvimento e execução de propostas de pesquisa sobre a conectividade dos circuitos celulares entre o mPFC e outras regiões encefálicas, as quais precisam ser detalhadas anatomicamente no máximo nível possível. 4.2.4. Trabalhos em modelos animais Como tem sido referido anteriormente, a maior parte da pesquisa científica com propósitos de descrição das propriedades intrínsecas dos neurônios e das características funcionais e morfológicas desses, assim como as conexões dos circuitos neuronais e das estruturas neuroanatômicas, é feita, ainda hoje, com roedores, embora os trabalhos com lulas, vermes e espécies menores de animais têm contribuído amplamente, principalmente para o primeiro propósito (ex. Cook et al., 2019; Llinas, 2020; Otto et al., 1983;). Desde faz algumas décadas, escassas pesquisas têm utilizado o primata como modelo de estudo, e nenhuma, até começos da década passada havia demonstrado interesse pelas regiões pré-frontais do cérebro, onde a anatomia do macaco favorece o trabalho por seu tamanho, ainda assim só três estudos têm sido feitos com foco na região medial. É claro que pelos métodos e técnicas de estudo utilizados é impossível, até o momento, o trabalho em humanos como modelo experimental, por isso o trabalho com animais é primordial e vital neste campo da ciência. Reiterando que os roedores levam vantagem sobre os macacos em sua contribuição aos dados, em parte, pela facilidade na reprodução da espécie, e, por outro lado, pelo difícil acesso e reprodução da população de macacos e o pouco favorecimento das leis na liberação deles para a ciência. É por isto que a discussão dos dados achados nas pesquisas é maior relacionado aos roedores e, ainda quando os resultados derivem dos estudos com macacos sua discussão é feita também em comparação com o obtido nos roedores. Nesse sentido, e com o fim de diferenciar e comparar os dados entre roedores e primatas, a continuação se abordará separadamente as 44 interações entre o mPFC e os complexos neuroanatômicos de interesse, por cada um desses modelos animais de estudo, chegando até uma discussão final com aqueles dados relevantes das pesquisas. Em parágrafos anteriores abordaram-se trabalhos clássicos e pioneiros sobre tema, pelo que nesta seção se descreveram só os estudos desenvolvidos ao longo dos últimos anos e principalmente os recentes. 4.2.4.1. Em Roedores Os estudos morfológicos dos circuitos cerebrais que envolvem roedores têm sido particularmente, e em maior quantidade, com ratos e camundongos, animais que foram utilizados nos trabalhos de pesquisa que se relatam e descrevem neste tópico, e que, como já foi dito, são abundantes os estudos disponíveis na literatura científica, mas, ainda quando escassos sobre as conexões do mPFC, são significativamente maiores aos dados apresentados por trabalhos com outros modelos animais. Também se tem reportado (Wood et al., 2019) que existe alta concordância entre conectividade estrutural e ativação funcional do mPFC nestes animais. 4.2.4.1.1. Interações mPFC-Complexo Diencefálico As projeções do mPFC para as regiões e núcleos do diencéfalo são heterogêneas. No que respeita às projeções do PFC à área hipotalâmica lateral (LH), assim como às porções dos núcleos hipotalâmicos medial (MH) e posterior (PH), têm sido bem descritas (Floyd et al., 2001; Pajolla et al., 2001; Ko, 2017; Vertes, 2004). Em um estudo que usou injeções do traçador retrógrado WGA-HRP nos núcleos hipotalâmicos (Gabbott et al., 2005), principalmente laterais (embora também MH e PH), encontrou-se uma forte marcação bilateral nas camadas II, III, V e VI dos córtices IL e PL. Nela, os dados quantitativos indicaram que as projeções provenientes do LH surgiram nas camadas V e VI; aproximadamente 27% dos neurônios de projeção da camada V e o 12% da camada VI, dos córtices IL e PL se projetaram ao LH. Pajolla et al. (2001) 45 destacam que é de especial interesse que a distribuição dos neurônios marcados nestas camadas (II à VI) é particularmente maior na região dorsal do PL e nas
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