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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
JOÃO LUIS MACEDO SILVA CARDOSO 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA POLÍTICA MIGRATÓRIA BRASILEIRA NO 
CONTEXTO DA DIÁSPORA VENEZUELANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL - RN 
2021 
 
 
 
JOÃO LUIS MACEDO SILVA CARDOSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA POLÍTICA MIGRATÓRIA BRASILEIRA NO 
CONTEXTO DA DIÁSPORA VENEZUELANA 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito sob 
a orientação do Professor Dr. Thiago Oliveira 
Moreira como requisito parcial para a obtenção 
do título de Bacharel em Direito, do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. 
Orientador: Prof. Dr. Thiago Oliveira 
Moreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL – RN 
2021 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 Cardoso, João Luis Macedo Silva. 
 Os aspectos jurídicos da política migratória brasileira no 
contexto da diáspora venezuelana / João Luis Macedo Silva 
Cardoso. - 2021. 
 139f.: il. 
 
 Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, 
Departamento de Direito. Natal, RN, 2021. 
 Orientador: Prof. Dr. Thiago Oliveira Moreira. 
 
 
 1. Diáspora venezuelana - Monografia. 2. Política migratória 
brasileira - Monografia. 3. Efetivação dos direitos humanos dos 
migrantes - Monografia. I. Moreira, Thiago Oliveira. II. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 342.7:325.11 
 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Este trabalho representa o fim de um importante ciclo. Ao longo dessa trajetória, tive o 
privilégio de estar acompanhado de pessoas incríveis, que, de maneira direta ou indireta, 
contribuíram para a elaboração deste modesto texto. 
 Primeiramente, eu gostaria de agradecer à minha amada mãe e às demais pessoas da 
minha família, que me apoiaram em todos os momentos — sobretudo nos mais difíceis — e me 
incentivaram a lutar pelos ideais em que acredito. 
 Da mesma forma, eu gostaria de registrar a minha sincera gratidão aos meus amigos e 
amigas, que, a despeito do distanciamento físico, alegram os meus dias e sempre me estimulam 
a ser um ser humano melhor. 
 Também agradeço ao Prof. Dr. Thiago Oliveira Moreira, meu orientador. Muito 
prestativo e responsável, o referido docente teve uma participação ativa no processo de 
construção desta pesquisa e me ajudou a amadurecer do ponto de vista acadêmico. Sem o 
auxílio desse grande estudioso do Direito Internacional, eu jamais teria conseguido desenvolver 
as reflexões suscitadas nesta monografia. 
 Ademais, sou muito grato ao Prof. Dr. Luís Renato Vedovato e à Profª. Drª. Yara Maria 
Pereira Gurgel, que influenciaram este trabalho por meio das suas publicações científicas e 
gentilmente concordaram em fazer parte da banca encarregada de avaliá-lo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Atualmente, a República Bolivariana da Venezuela está imersa em uma grave crise política, 
econômica e social. Embora as origens dessa crise remontem ao final do regime do ex-
presidente Hugo Chávez, ela ganhou uma nova dimensão em 2015, ano em que as tensões entre 
o governo e a oposição se agravaram devido à vitória desta nas eleições parlamentares. Desde 
então, muitos venezuelanos têm migrado para outros Estados com o objetivo de garantir a 
própria subsistência. Como o Brasil é um dos principais países afetados por esse fluxo, faz-se 
necessário responder à seguinte questão-problema: o Estado brasileiro tem tutelado os direitos 
humanos desses migrantes de modo satisfatório? Parte-se da hipótese de que, apesar de as 
autoridades brasileiras terem adotado algumas medidas para resguardar os interesses dessas 
pessoas, os direitos destas não têm sido protegidos a contento, devido a um déficit quanto à 
aplicação do Direito Internacional. Assim, este trabalho visa a examinar a forma como o Brasil 
tem gerenciado esse fenômeno, de sorte a confirmar ou falsear a hipótese apresentada. Para 
tanto, é fundamental alcançar alguns objetivos específicos, quais sejam: explicar a origem e a 
atual dimensão da diáspora venezuelana; examinar o arcabouço normativo internacional e 
estatal que rege a situação desses migrantes; investigar os principais elementos da política 
migratória brasileira implementada para acolher esses indivíduos; e, por fim, perscrutar a forma 
como os tribunais brasileiros têm tratado os casos que envolvem a efetivação dos direitos dessas 
pessoas. Por meio desta pesquisa, foi possível constatar a existência de diversas violações de 
direitos perpetradas por órgãos e agentes públicos, especialmente os que integram o Poder 
Executivo. Espera-se que as reflexões promovidas neste texto fomentem o debate acadêmico a 
respeito desse assunto e contribuam, direta ou indiretamente, para que os integrantes dos 
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário possam aprimorar a sua atuação. 
 
Palavras-chave: Diáspora venezuelana. Política migratória brasileira. Efetivação dos direitos 
humanos dos migrantes. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Currently, the Bolivarian Republic of Venezuela is immersed in a serious political, economic, 
and social crisis. Although the roots of this crisis date back to end of the regime of former 
President Hugo Chávez, it gained a new dimension in 2015, when tensions between the 
government and the opposition intensified due to the victory of the latter in parliamentary 
elections. Since then, several Venezuelans have migrated to other countries in order to 
guarantee their own survival. As Brazil is one of the countries that have been greatly affected 
by this influx, this dissertation sets out to answer the following question: has the Brazilian state 
protected the human rights of those migrants in an effective way? The a priori hypothesis from 
which we depart is that, in spite of having implemented a few measures on behalf of those 
people, Brazilian authorities still have not been able to fully protect their rights. Hence, this 
dissertation shall examine the way such state has operated in this context, with the aim of 
ascertaining the accuracy of the aforementioned hypothesis. In order to do so, it is necessary to 
accomplish the following goals: explaining the origins and the present dimension of the 
Venezuelan diaspora; analyzing the national and international legal instruments that can be 
applied to this situation; investigating the main aspects of the Brazilian migration policy 
targeted at those migrants; and scrutinizing the way Brazilian courts have operated in the cases 
involving the concretization of the rights of those individuals. Through this research, it was 
possible to identify several cases in which the human rights of those migrants were violated by 
state agents, notably the ones related to the Executive Branch. It is hoped that the discussion 
promoted in this text will contribute to the academic debate regarding this topic and that it will 
help the members of the Executive, the Legislative and the Judicial Branches improve their own 
performance. 
 
Keywords: Venezuelan diaspora. Brazilian migration policy. The concretization of migrants’ 
human rights. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados 
ACO Ação Cível Originária 
ACP Ação Civil Pública 
AD Aliança Democrática 
CNDH Conselho Nacional de Direitos Humanos 
CNIG Conselho Nacional de Imigração 
COPEI Comitê de OrganizaçãoPolítica Eleitoral Independente 
DADDH Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem 
DPU Defensoria Pública da União 
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos 
FUNAI Fundação Nacional do Índio 
ICMS Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre 
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de 
Comunicação 
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica 
MERCOSUL Mercado Comum do Sul 
MP Medida Provisória 
MS Mandado de Segurança 
MPF Ministério Público Federal 
MVR Movimento V República 
OIM Organização Internacional para as Migrações 
OIR Organização Internacional para os Refugiados 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONU Organização das Nações Unidas 
PIDCP Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos 
PIDESC Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
STF Supremo Tribunal Federal 
STJ Superior Tribunal de Justiça 
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9 
2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIÁSPORA VENEZUELANA ................... 12 
2.1 AS ORIGENS DA CRISE MIGRATÓRIA VENEZUELANA E A SUA ATUAL 
DIMENSÃO ............................................................................................................................. 12 
2.2 OS EFEITOS DA DIÁSPORA VENEZUELANA NO BRASIL ...................................... 20 
3 A DIÁSPORA VENEZUELANA SOB A ÓTICA DO DIREITO INTERNACIONAL
 .................................................................................................................................................. 26 
3.1 A PROTEÇÃO DOS MIGRANTES VENEZUELANOS À LUZ DAS DECLARAÇÕES 
E TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS DO SISTEMA ONUSIANO ............................ 26 
3.2 A TUTELA DOS MIGRANTES VENEZUELANOS NO SISTEMA 
INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS ............................................................... 33 
3.3 A (IM)POSSIBILIDADE DE CLASSIFICAR OS MIGRANTES VENEZUELANOS 
COMO REFUGIADOS ............................................................................................................ 38 
4 A TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS DOS IMIGRANTES VENEZUELANOS À 
LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ................................................... 53 
4.1 A PROTEÇÃO DOS MIGRANTES VENEZUELANOS CONFORME A 
SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................................................ 53 
4.2 A IMPORTÂNCIA DAS LEIS Nº 9.474/1997 E Nº 13.445/2017 PARA A PROTEÇÃO 
DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES VENEZUELANOS ................................ 61 
4.3 OS ATOS INFRALEGAIS QUE CONFERIRAM UMA PROTEÇÃO SUBSIDIÁRIA 
AOS MIGRANTES VENEZUELANOS ................................................................................. 73 
4.4 A TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES VENEZUELANOS NO 
CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19 ...................................................................... 77 
5 A CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES 
VENEZUELANOS PELO JUDICIÁRIO BRASILEIRO .................................................. 90 
5.1 A ATUAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO TOCANTE À PROTEÇÃO 
DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES VENEZUELANOS ................................ 90 
5. 2 O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS 
HUMANOS DOS MIGRANTES VENEZUELANOS ............................................................ 96 
5. 3 A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DOS MIGRANTES VENEZUELANOS NO ÂMBITO 
DA JUSTIÇA FEDERAL ........................................................................................................ 99 
5. 4 A JUSTIÇA ESTADUAL E A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS 
MIGRANTES VENEZUELANOS ........................................................................................ 111 
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 115 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 121 
 
9 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O desejo de deixar o seu lugar de origem e se dirigir a outro com condições mais 
favoráveis para o seu desenvolvimento, indubitavelmente, é intrínseco ao ser humano. Por essa 
razão, as migrações existem desde priscas eras, de modo que a sua história, em certa medida, 
confunde-se com a história da própria humanidade. 
É imperioso destacar que, na atualidade, o fluxo de cidadãos da República Bolivariana 
da Venezuela para outros países tem preocupado diversos membros da sociedade internacional, 
devido à sua dimensão e às suas consequências nos demais Estados da América Latina, a 
exemplo do Brasil. 
Partindo da premissa de que ele, em razão dos compromissos que firmou 
internacionalmente, tem a obrigação de proteger esses migrantes, eis que surge a seguinte 
problemática: o Estado brasileiro vem garantindo o efetivo gozo dos direitos humanos — civis, 
políticos e sociais — por parte dos migrantes venezuelanos? Adota-se a hipótese de que, embora 
esse Estado receptor não se tenha mantido inerte diante desse fenômeno, os direitos dessas 
pessoas não vêm sendo protegidos na sua integralidade, tendo em vista o aparente descompasso 
entre a política migratória do Brasil e o Direito Internacional. 
O objetivo geral desta monografia, portanto, é analisar a forma como o Estado brasileiro 
tem tutelado os direitos desse grupo de migrantes. Para tanto, será necessário alcançar os 
seguintes objetivos específicos: descrever as origens e a atual magnitude da diáspora 
venezuelana; discorrer sobre o arcabouço normativo internacional e estatal que se aplica a essa 
crise; investigar os principais elementos da política migratória brasileira para o acolhimento 
dos venezuelanos; e perscrutar a forma como os tribunais brasileiros têm tratado os casos que 
envolvem a efetivação dos direitos humanos desses migrantes. 
Além da introdução e da conclusão, a presente monografia contém quatro seções. Na 
primeira delas, serão feitas algumas considerações acerca dos fatores que desencadearam essa 
diáspora, que se iniciou no final do regime do ex-presidente Hugo Chávez e se agravou em 
2015, ano em que o Partido Socialista Unido da Venezuela foi derrotado nas eleições 
parlamentares. Outrossim, será examinado o impacto desse fenômeno no Brasil. 
A segunda seção do desenvolvimento deste trabalho, por sua vez, vai expor as principais 
questões jurídicas concernentes à situação de tais migrantes. Serão analisados os tratados e 
declarações que regem essa matéria nos Sistemas Onusiano e Interamericano. Para 
complementar essa discussão, a seção subsequente versará sobre os direitos dessas pessoas à 
10 
 
luz da Constituição Federal de 1988, da Lei nº 9.474/97, da Lei nº 13.445/2017, das resoluções 
do Conselho Nacional de Imigração e dos atos infralegais expedidos pelos Ministérios que 
integram a Administração Pública Direta no âmbito federal. 
A última seção vai promover uma reflexão sobre a maneira como o Poder Judiciário 
brasileiro vem comportando-se nos casos em que se discute a concretização dos direitos 
humanos dos migrantes venezuelanos. Em virtude do recorte adotado, optou-se por limitar essa 
análise à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, da 
Justiça Federal e da Justiça Estadual. Logo, não foram contempladas as decisões oriundas das 
Justiças do Trabalho, Militar e Eleitoral. 
No total, foram escolhidos doze casos, que estão disponíveis na página virtual de 
entidades como a ONG Conectas ou no endereço eletrônico dos respectivos tribunais. Assim, 
procedeu-se a uma busca nos sites retromencionados, a partir da numeração dos processos mais 
emblemáticos noticiados pela imprensa nacional. Adite-se que todas as lides que serão 
abordadasneste trabalho tiveram início entre os anos de 2017 e 2021, período no qual a 
imigração de venezuelanos para o Brasil atingiu o seu ápice. 
Esta pesquisa é qualitativa e tem um nítido matiz descritivo, já que visa a descrever a 
diáspora venezuelana e a maneira como ela tem sido gerenciada pelo Estado brasileiro1, com 
base em dados obtidos de fontes oficiais, como a Plataforma de Coordenação para Migrantes e 
Refugiados Venezuelanos. No entanto, ela também apresenta um caráter exploratório, 
porquanto busca aprimorar as ideias que a comunidade científica tem acerca desse tema, de 
modo a viabilizar a formulação de novas hipóteses2. 
A técnica de procedimento que preponderou no processo de elaboração deste texto foi 
a bibliográfica3. Dessarte, cotejou-se uma série de artigos e livros que versam sobre esse assunto 
sob a perspectiva do Direito Internacional dos Direitos Humanos, da Teoria Geral dos Direitos 
Fundamentais, do Direito Migratório, da Demografia e da Filosofia Política. Além disso, a 
análise de conteúdo foi utilizada como técnica de procedimento subsidiária4. 
 
1 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.42. 
2 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.43. 
3 Segundo Antonio Carlos Gil, “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, 
constituído principalmente de livros e artigos científicos”. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de 
pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. p.44. 
4
 De acordo com Laurence Bardin, essa técnica envolve o emprego de mecanismos de análise das comunicações, 
que buscam obter, por meio de uma descrição sistemática e objetiva do conteúdo das mensagens, indicadores [...] 
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção [...]” dos elementos 
comunicativos examinados. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto 
Pinheiro. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1977. p.42. 
11 
 
A elaboração deste trabalho justifica-se pelo fato de esse tema ser extremamente atual e 
envolver a proteção de milhares de pessoas que estão em uma situação de vulnerabilidade. Por 
meio desta investigação científica, constatou-se não apenas um déficit quanto à aplicação do 
Direito Internacional, como também uma sistemática violação de normas constitucionais e 
legais por parte do Estado brasileiro. Espera-se, pois, que esta pesquisa fomente o debate 
acadêmico a respeito desse assunto e que ela contribua para que os integrantes dos Poderes 
Legislativo, Executivo e Judiciário tenham uma melhor compreensão sobre a necessidade de 
respeitar a ordem jurídica e resguardar os direitos humanos dos migrantes venezuelanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIÁSPORA VENEZUELANA 
 
Por muito tempo, a Venezuela foi conhecida por acolher uma grande quantidade de 
nacionais de outros Estados. De acordo com Claudio Ribas Vargas, dentre os fluxos migratórios 
que marcaram a história venezuelana, destaca-se o de cidadãos europeus nas décadas de 1950 
e 19605. Abalados pelas nefastas consequências da Segunda Guerra Mundial, muitos desses 
indivíduos foram atraídos pela aparente estabilidade do país caribenho. Nesse passo, cumpre 
frisar que eles desempenharam um importante papel no que tange à modernização da 
Venezuela, que se iniciou no período em comento6. 
A partir da década de 1970, esse país passou a receber um grande contingente de pessoas 
provenientes de outros Estados latino-americanos, como a Colômbia. Os principais fatores que 
desencadearam essa segunda onda migratória foram os elevados índices de violência e a 
desestruturação econômica desses Estados7. 
Entretanto, nos últimos anos, a Venezuela transformou-se em um país emissor de 
migrantes, em razão da grave crise social, política e econômica que a assola8. De fato, muitos 
dos seus cidadãos e dos migrantes que nela residiam deslocaram-se para outros territórios para 
escapar dessa instabilidade e garantir a própria sobrevivência. 
Posto isso, é mister examinar as causas dessa crise migratória e identificar a atual 
magnitude desse fenômeno. 
 
2.1 AS ORIGENS DA CRISE MIGRATÓRIA VENEZUELANA E A SUA ATUAL 
DIMENSÃO 
 
Depois de conquistar a sua independência política9, a Venezuela foi governada por 
diversos indivíduos pertencentes às forças armadas. Conquanto os chefes de governo que 
 
5 RIBAS VARGAS, Claudio. La migración en Venezuela como la dimensión de la crisis. Pensamiento proprio, 
año 23, p.92, enero/junio 2018. 
6 RIBAS VARGAS, Claudio. La migración en Venezuela como la dimensión de la crisis. Pensamiento proprio, 
año 23, p.92, enero/junio 2018. 
7 MEJÍA, William; QUINTERO, Vanessa. Éxodo venezolano a Colombia. In: BAENINGUER, Rosana; SILVA, 
João Carlos Jarochinski. Migrações venezuelanas. 1.ed. Campinas: Núcleo de Estudos de População Elza 
“Berquó” — Nepo, Unicamp, 2018. p.147. 
8
SERBIN PONT, Andrei. La crisis humanitaria en Venezuela y su impacto regional: migración, seguridad y 
multilateralismo. Pensamiento proprio, año 23, p.132, enero/junio 2018. 
9 Apesar de o Congresso da Venezuela ter elaborado uma declaração de independência em 1811, o historiador 
Germán Carrera Damas observa que ela permaneceu juridicamente subordinada à sua antiga metrópole até o ano 
de 1845, quando a soberania da antiga colônia espanhola foi reconhecida pela rainha Isabel II. Esta última, 
portanto, é a data da independência política venezuelana. CARRERA DAMAS, Germán. Sobre la responsabilidad 
social del historiador venezolano contemporáneo. Akademos, [s. l.], v.15, n.1-2, p.22, 2013. 
13 
 
comandaram esse país até a primeira metade do século XX não tenham implementado políticas 
públicas totalmente idênticas, é possível dizer que, sob uma perspectiva econômica, esse 
período foi marcado pela intensa exploração petrolífera, que expandiu a capacidade fiscal do 
Estado e contribuiu para o surgimento de oligarquias vinculadas a essa atividade produtiva10. 
Considerada uma herança do “caudilhismo”11, a concentração do poder político nas 
mãos de alguns grupos também foi uma das características da Venezuela do início do século 
XX12. É por essa razão que Allan Randolph Brewer Carías argumenta que, nesse contexto, o 
país ainda não tinha uma democracia robusta13. 
Na década de 1950, a diminuição dos preços do petróleo no mercado internacional 
desencadeou uma crise na Venezuela, visto que a sua economia já era extremamente dependente 
dessa commodity. Como observa Raphael Lana Seabra, a redução do volume de capital gerado 
pelo setor petroleiro afetou diretamente outros setores, como o de construção14. Diante da 
elevação das taxas de desemprego e do comprometimento das finanças públicas, a população 
insurgiu-se contra a ditadura de Pérez Jiménez, cuja derrocada foi formalizada por meio da 
celebração do Pacto de Punto Fijo15. 
 Na prática, a criação desse acordo inaugurou um período em que a Aliança Democrática 
(AD) e o Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI) – partidos com 
 
10 A esse respeito, Raphael Lana Seabra frisa que “Tal mecanismo de acumulação pautado na renda petroleira deu 
lugar à formação de uma oligarquia, ou seja, de frações da classe capitalista vinculadas direta ou indiretamente ao 
setor primário exportador” (destaque do autor). SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. 
Curitiba: Editora CRV, 2014. p.39-41. 
11 A figura do caudilho “[...] es un subproducto de la Guerra de Independencia, al mismo tiempo éstos hijos serán 
multiplicadores de rebeliones, revoluciones, revueltas, sublevaciones y otras acciones bélicas, con la finalidad de 
luchar para mantener o aumentar su cuota de poder político, ya sea, de carácter local, regional o nacional. En ésta 
simbiótica relación, es decir, guerra-caudillo se debatióel país sin descanso por más de cien años con relativos 
lapsos de paz”. MENDONZA, Alexandra. Recurrencia del sistema caudillista en la historia republicana de 
Venezuela: una aproximación positivista del fenómeno. Tiempo y espacio, Caracas, v.24, n.61, jun. 2014. 
Disponível em: http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1315-94962014000100015. Acesso em: 
13 fev. 2021. 
12 ALBERTO OLIVAR, José. Prolegómenos de una dictadura militar y su filosofía del poder (1948-1958). 
Latinoamérica, México, n.52, ene./jun.2011. Disponível em: 
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1665-85742011000100007. Acesso em: 13 fev. 
2021. 
13 BREWER CARÍAS, Allan R. The collapse of the rule of law and the struggle for democracy in Venezuela: 
lectures and essays (2015-2020). 1.ed. Miami: Ediciones EJV International, 2020. p.88-89. 
14 SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. Curitiba: Editora CRV, 2014. p.54. 
15 SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. Curitiba: Editora CRV, 2014. p.54. 
14 
 
ideologias diferentes – revezaram-se no poder, com o fito de promover a estabilidade social e 
fortalecer a democracia venezuelana16-17. 
Entretanto, um novo processo de deterioração econômica teve início na década de 1970 
e se agravou na década subsequente. Isso resultou na redução das expectativas dos venezuelanos 
com relação ao Pacto de Punto Fijo, apesar de as instituições do país já estarem fortalecidas e 
de as liberdades individuais serem preservadas. Nesse cenário, a oposição ao governo cresceu, 
porque uma parcela significativa da população estava descontente com a agenda neoliberal que 
foi adotada com o objetivo de reequilibrar as contas públicas18-19. 
 Depois de ter participado de uma insurreição popular no ano de 199220, Hugo Rafael 
Chávez Frías — integrante das Forças Armadas — ganhou notoriedade na sociedade 
venezuelana. Em que pese ao aparente fracasso dessa rebelião, Margarita López Maya nota que 
ela representou o início de “[...] um incontível processo de desmoronamento da sustentação 
 
16 “Arquitetado em New York e firmado na cidade de Punto Fijo, no ano de 1958, tal acordo culminou com o 
predomínio de dois partidos, Acción Democrática (AD) e Comité de Política Electoral Independiente (Copei) na 
cena política por um período de aproximadamente 40 anos”. SILVA, Marcos Antonio da; ARCE, Anatólio 
Medeiros. O petróleo e a democracia na política externa da Venezuela: a difícil conciliação entre ruptura e 
continuísmo na era Chávez. Videre, Dourados, ano 3, n. 5, p. 68, jan./jun. 2011. 
17 A União Republicana Democrática (URD) também esteve envolvida no processo de elaboração do Pacto de 
Punto Fijo. No entanto, com o passar do tempo, os outros dois partidos que firmaram esse acordo tiveram um 
maior destaque, por se alternarem no governo. MCCOY, Jennifer L. Latin America’s imperiled progress: Chavez 
and the end of “partyarchy” in Venezuela. Journal of Democracy, [s. l.], v.10, n.3, 1999. Disponível em: 
https://muse.jhu.edu/article/16973. Acesso em: 13 fev. 2021. 
18 LÓPEZ MAYA, Margarita. Luta hegemômica na Venezuela: a crise do puntofijismo e a ascensão de Hugo 
Chávez. Tradução por Flávio Benedito. 2.ed. Caracas, Alfadil, 2009. p.16-22. 
19 No final da década de 1980, o então presidente Carlos Andrés Pérez, da Aliança Democrática, “[...] reagiu à 
crise adotando um pacote de medidas neoliberais [...]. A opção neoliberal inaugurada em 1989, que incluía um 
forte ajuste fiscal, privatização das principais empresas estatais, com exceção da petrolífera, e o enxugamento da 
máquina administrativa do Estado (em um país onde o Estado e suas empresas eram os principais empregadores), 
nunca suscitou o [...] entusiasmo popular”. VILLA, Rafael Duarte. Venezuela: mudanças políticas na era Chávez. 
Estudos Avançados, São Paulo, v.19, n.55, set./dez.2005. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300011. Acesso em: 14 fev. 2021. 
20 Cumpre sublinhar que a insurreição conduzida por Hugo Chávez no ano precitado não foi a única que ocorreu 
no período. De fato, ela não pode ser compreendida de forma isolada, já que se insere em um contexto no qual 
vários diversos movimentos procuraram desestabilizar, direta ou indiretamente, a ordem vigente. VILLA, Rafael 
Duarte. Venezuela: mudanças políticas na era Chávez. Estudos Avançados, São Paulo, v.19, n.55, set./dez.2005. 
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300011. Acesso 
em: 14 fev. 2021. 
15 
 
política do governo” e viabilizou a emergência de atores políticos que, nos anos subsequentes, 
provocariam grandes mudanças no país21-22-23. 
Candidato pelo partido Movimento V República (MVR), Hugo Chávez foi eleito 
presidente da Venezuela em 1998. Indubitavelmente, o resultado desse processo eleitoral 
consiste em um dos grandes marcos da história venezuelana, porquanto rompeu com a 
hegemonia da AD e do COPEI24-25. 
 Nesse sentido, a vitória de um indivíduo vinculado aos movimentos sociais evidenciou 
a insatisfação da maior parte da população venezuelana com os agentes políticos tradicionais26. 
A eleição de Hugo Chávez insere-se, pois, em um contexto no qual os cidadãos venezuelanos 
com menor capital político e social se insurgiram contra o status quo, defendendo com 
veemência os seus interesses em face dos grupos que até então comandavam esse Estado27. 
 No mesmo dia em que tomou posse, Hugo Chávez anunciou a realização de um 
referendo para a convocação de uma nova Assembleia Constituinte28. Promulgada em 
dezembro de 1999, a nova Carta Magna venezuelana consagrou a saúde e a educação como 
deveres do Estado, previu uma série de direitos de titularidade dos indígenas, dedicou um 
capítulo aos direitos ambientais e reduziu a jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais29. 
 
21 LÓPEZ MAYA, Margarita. Luta hegemômica na Venezuela: a crise do puntofijismo e a ascensão de Hugo 
Chávez. Tradução por Flávio Benedito. 2.ed. Caracas, Alfadil, 2009. p.98. 
22 Acerca desse assunto, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt ressaltam que, “Led by Hugo Chávez, the rebels called 
themselves ‘Bolivarians’, after revered independence hero Simón Bolívar. The coup failed. But when the now 
detained Chávez appeared on television to tell his supporters to lay down their arms (declaring, in words that would 
become legendary, that their mission had failed ‘for now’), he became a hero in the eyes of many Venezuelans, 
particularly poorer ones”. LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. How democracies die: what history reveals 
about our future. 1.ed. New York: Penguin Books, 2018. p.16. 
23 Nos dizeres de Rafael Duarte Villa, “[...] o próprio Chávez, a princípio não compreendeu bem a dimensão 
política das conseqüências de sua tentativa de golpe de 1992, e o porquê desta ter sido tão bem recebida por grandes 
contingentes da população, tamanha era a descrença nas lideranças democráticas de Punto Fijo”. VILLA, Rafael 
Duarte. Venezuela: mudanças políticas na era Chávez. Estudos Avançados, São Paulo, v.19, n.55, set./dez.2005. 
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300011. Acesso 
em: 14 fev. 2021. 
24 LÓPEZ MAYA, Margarita. Luta hegemômica na Venezuela: a crise do puntofijismo e a ascensão de Hugo 
Chávez. Tradução: Flávio Benedito. 2.ed. Caracas: Alfadil, 2009. p.102. 
25 “Venezuela [...] was beset in the 1990s by an economic crisis due to the decades-long decline in its oil industry, 
coupled with a collapse in its party system. Between 1994 and 1999, President Rafael Caldera confronted these 
pressures by fashioning a parliamentary pact with the opposition Democratic Action Party, and by resisting calls 
to follow the Peruvian example of the self-coup [...]. His successor, Hugo Chávez, however, ran on a populist 
platform of opposition to corrupt and collusive elites, and a vow to sweep establishparties ‘from the face of 
the earth’” (grifo nosso). GINSBURG, Tom; HUQ, Aziz Z. How to save a constitutional democracy. 1.ed. 
Chicago: The University of Chicago Press, 2018. p.45. 
26 LÓPEZ MAYA, Margarita. Luta hegemômica na Venezuela: a crise do puntofijismo e a ascensão de Hugo 
Chávez. Tradução: Flávio Benedito. 2.ed. Caracas: Alfadil, 2009. p.171. 
27 SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. Curitiba: Editora CRV, 2014. p.87-92. 
28 SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. Curitiba: Editora CRV, 2014. p.96. 
29 SEABRA, Raphael Lana. A via venezuelana ao socialismo. 1.ed. Curitiba: Editora CRV, 2014. p.96-97. 
16 
 
 Adite-se que, no período em comento, foram executadas políticas públicas com o 
objetivo de combater a miséria e a exclusão social30-31. Denominadas Missões Bolivarianas, 
essas políticas públicas lograram reduzir, de forma drástica, as taxas de pobreza do país32. 
Ademais, elas tiveram uma grande repercussão no âmbito da educação e fizeram com que a 
Venezuela fosse reconhecida pela UNESCO como um Território Livre de Analfabetismo33. 
 Malgrado a sua retórica revolucionária, Hugo Chávez perpetuou o modelo rentista e não 
promoveu uma diversificação da economia. Como os preços dos barris de petróleo estavam 
mais elevados do que nas décadas precedentes, essa opção política, a princípio, contribuiu para 
o enriquecimento do Estado venezuelano34. Pode-se dizer, pois, que a conjuntura econômica 
foi uma das responsáveis pelo sucesso das Missões Bolivarianas. 
 Apesar dos inegáveis avanços verificados nesse período, o projeto político desse 
governante e o seu sectarismo o tornaram impopular perante alguns setores sociais, mormente 
aqueles ligados à atividade empresarial35. Ademais, Edgardo Lander afirma que a postura anti-
imperialista desse líder comprometeu as suas relações diplomáticas com os Estados Unidos36-
 
30 HUMAN RIGHTS CONCIL. Report of the United Nations High Commissioner for Human Rights on the 
situation of Human Rights in the Bolivarian Republic of Venezuela. [S. l.], 5 jul. 2019. p.5. 
31 No mesmo sentido, Ruth Matos Bazó e Egleé Vargas Acosta afirmam que “[...] el gobierno ha realizado algunos 
intentos de atender las demandas de la mayoría de la población de escasos recursos a través de la puesta en marcha 
de diferentes políticas públicas (educativas, salud, vivienda, asistencia técnica y financiera para la producción, 
estímulo a las cooperativas, entre otras). Acciones que están en concordancia con la definición del Estado 
Venezolano como Democrático y social de derecho y justicia que se señala en el texto constitucional y que se 
basan en los principios que rigen este tipo de Estado”. MATOS BAZÓ, Ruth; VARGAS ACOSTA, Egleé. Algunas 
reflexiones sobre las misiones desde la perspectiva de los beneficiarios. Gazeta Laboral, Maracaibo, v.14, n.3, 
dic. 2008. Disponível em: http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1315-85972008000300006. 
Acesso em: 14 fev. 2021. 
32 PANTOULA, Dimitri; MCCOY, Jennifer. Venezuela: an unstable equilibrium. Revista de ciencia política, 
Santiago, v.39, n.2., 2019. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-
090X2019000200391. Acesso em: 9 fev. 2021. 
33 NEVES, Rômulo Figueira. Cultura política e elementos de análise da política venezuelana. 1.ed. Fundação 
Alexandre Gusmão: Brasília, 2010. p.74. 
34 SALGADO BUSTILLOS, Flavio. Capitalismo rentístico, revolución bolivariana y la crisis del imaginario e 
clase media venezolana. Temas Sociales, La Paz, n.46, maio 2020. Disponível em: 
http://www.scielo.org.bo/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0040-29152020000100004&lang=pt. Acesso em: 
30 jan. 2021. 
35 LANDER, Edgardo. Venezuelan social conflict in a global context. Latin American Perspectives, [s. l.], v.32, 
n.3, p.34, mar.2005. 
36 LANDER, Edgardo. Venezuelan social conflict in a global context. Latin American Perspectives, [s. l.], v.32, 
n.3, p.34, mar.2005. 
17 
 
37. Esse conflito de interesses motivou, inclusive, a imposição de sanções econômicas ao país 
caribenho 38. 
 No ano de 2013, Hugo Chávez faleceu e, por esse motivo, foram realizadas novas 
eleições presidenciais. Estas foram extremamente polarizadas e resultaram na vitória de Nicolás 
Maduro — aliado de Chávez e membro do Partido Socialista Unido da Venezuela — por uma 
pequena diferença de votos39. Nesse contexto, os preços do petróleo voltaram a cair no mercado 
internacional, o que ocasionou o empobrecimento da população e comprometeu a manutenção 
das políticas sociais em curso40-41. 
 Insta frisar que a referida crise ganhou novas proporções em 2015, quando da realização 
das eleições para a Assembleia Nacional. A derrota do partido de Nicolás Maduro nessas 
eleições parlamentares aumentou a animosidade entre o governo e a oposição, que foi 
severamente reprimida pelas autoridades estatais42. 
 Em meio a essas tensões, a taxa de inflação da Venezuela cresceu exponencialmente e, 
por conseguinte, diminuiu o poder de compra da população. Para ilustrar a atual magnitude 
desse problema, cumpre mencionar que, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, a 
 
37 Nas palavras de Charles Pennaforte, “O processo comandado pelo líder venezuelano ganhou destaque ao possuir 
em concepção, uma lógica marcada pelo combate à influência política, ideológica e econômica dos EUA”. Esse 
processo teve, portanto, um matiz antissistêmico. PENNAFORTE, Charles. Movimentos antissistêmicos no 
sistema-mundo contemporâneo: o caso da Venezuela. 1.ed. Rio de Janeiro: CENEGRI – Centro de Estudos em 
Geopolítica e Relações Internacionais, 2013. p.15. 
38 CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE. Venezuela: overview of U.S. sanctions. [S. l.], 30 out. 2020. p.1. 
Disponível em: https://fas.org/sgp/crs/row/IF10715.pdf. Acesso em: 30 jan. 2021. 
39 RIBAS VARGAS, Claudio. La migración en Venezuela como la dimensión de la crisis. In: LEGLER, Thomas; 
PONT SERBIN, Andrei; GARELLI-RÍOS, Ornela. Venezuela: la multidimensionalidad de una crisis. 1.ed. 
Buenos Aires: Cries, 2018. p.109. 
40 SALGADO BUSTILLOS, Flavio. Capitalismo rentístico, revolución bolivariana y la crisis del imaginario de 
clase media venezolana. Temas Sociales, La Paz, n.46, maio 2020. Disponível em: 
http://www.scielo.org.bo/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0040-29152020000100004&lang=pt. Acesso em: 
30 jan. 2021. 
41 Segundo Dimitri Pantoula e Jennifer McCoy, “One of the main reasons for the decline of Venezuela's GDP is 
the collapse of the oil sector. Deepening its historic reliance on oil revenues coming from the international markets 
to account for nearly 95% of Venezuelan exports, the government neglected investment in other essential 
industries, choosing instead to import most of its goods. Furthermore, although a long commodities boom in the 
first decade of the 21st century saw oil prices reaching the highest in the country's history, the Chavez and Maduro 
governments failed to accrue foreign exchange reserves or savings in sovereign funds”. PANTOULA, Dimitri; 
MCCOY, Jennifer. Venezuela: an unstable equilibrium. Revista de ciencia política, Santiago, v.39, n.2., 2019. 
Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-090X2019000200391. Acesso 
em: 9 fev. 2021. 
42 LÓPEZ MAYA, Margarita. El colapso de Venezuela: ¿qué sigue? In: LEGLER, Thomas; PONT SERBIN, 
Andrei; GARELLI-RÍOS, Ornela. Venezuela: la multidimensionalidad de una crisis. 1.ed. Buenos Aires: Cries, 
2018. p.22. 
18 
 
variação da inflação venezuelana foi de 65.370 % em 2018 e será de 5.500 % no ano de 2021, 
como demonstra o seguinte gráfico43: 
 
 
Fonte: International Monetary Fund. 
 
Em consequência disso, mais de 2,5 milhões de venezuelanos encontram-se em uma 
situação de insegurança alimentar severa, como indica o relatório divulgado pelo Escritório de 
Direitos Humanos das Nações Unidas em 12 de fevereiro de 202144. Além de diminuiro número 
de refeições diárias e a qualidade delas, muitos desses indivíduos têm adotado medidas drásticas 
para lidar com essa situação, a exemplo da redução considerável dos gastos com vestuário e 
educação. 
 O sistema de saúde da Venezuela também tem sido comprometido pela crise atual. De 
acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, a 
população hodiernamente sofre com a escassez de medicamentos e vacinas, com a falta de 
estrutura das unidades de atendimento e com a redução do número de profissionais da área, a 
qual se deve à precariedade das condições de trabalho45. 
 
43 INTERNATIONAL MONETARY FUND. Inflation rate, average consumer prices. [S. l.], 2021. Disponível 
em: https://www.imf.org/external/datamapper/PCPIPCH@WEO/WEOWORLD/VEN/TUR. Acesso em: 15 fev. 
2021. 
44 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE. Preliminary findings of the visit to the Bolivarian 
Republic of Venezuela by the Special Rapporteur on the negative impact of unilateral coercive measures on 
the enjoyment of human rights. Caracas, 12 fev. 2021. Disponível em: 
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=26747&LangID=E. Acesso em: 14 
fev. 2021. 
45 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE. Preliminary findings of the visit to the Bolivarian 
Republic of Venezuela by the Special Rapporteur on the negative impact of unilateral coercive measures on 
the enjoyment of human rights. Caracas, 12 fev. 2021. Disponível em: 
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=26747&LangID=E. Acesso em: 14 
fev. 2021. 
19 
 
 É importante acrescentar que as taxas de criminalidade da Venezuela aumentaram nos 
últimos anos. De fato, diante dessa sistemática violação de direitos sociais e econômicos, muitos 
indivíduos têm sido cooptados por grupos criminosos46 e, em consequência disso, o país se 
tornou um dos mais violentos da região47. 
Outrossim, os cidadãos e entidades que criticam o desempenho do governo vêm sendo 
perseguidos. A esse respeito, a representante do Escritório das Nações Unidas para os Direitos 
Humanos — Marta Hurtado —, em janeiro de 2021, externou a sua preocupação com os “[...] 
contínuos e crescentes ataques, na Venezuela, às organizações da sociedade civil, defensores 
de direitos humanos e jornalistas” (tradução nossa)48-49-50. 
Devido a essa instabilidade, muitos estrangeiros que viviam na Venezuela decidiram 
retornar para os seus países de origem51. Da mesma forma, muitos venezuelanos viram-se 
 
46 OBSERVATORIO VENEZOLANO DE VIOLENCIA. La delincuencia cobra fuerza en el modelaje de niños 
y jóvenes. [S. l.], 2 abr. 2020. Disponível em: https://observatoriodeviolencia.org.ve/news/la-delincuencia-cobra-
fuerza-en-el-modelaje-social-de-ninos-y-jovenes/. Acesso em: 15 fev. 2021. 
47 Apesar de a criminalidade convencional continuar afligindo a população, a crescente “dolarização” da economia 
e a emigração em massa estão modificando o perfil da criminalidade venezuelana. Cada vez mais, a delinquência 
tem-se concentrado “[...] en los nichos económicos que logran sobrevivir y que tienen acceso a moneda extranjera, 
y de los cuales pueden extraer una renta [...]”, como o setor de tecnologia. OBSERVATORIO VENEZOLANO 
DE VIOLENCIA. Informe anual de violencia 2020: entre las epidemias de la violencia y del covid-19. [S. l.], 29 
dez. 2020. Disponível em: https://observatoriodeviolencia.org.ve/news/informe-anual-de-violencia-2020-entre-
las-epidemias-de-la-violencia-y-del-covid-19/. Acesso em: 15 fev. 2021. 
48 “We are deeply concerned by continuous and increasing attacks in Venezuela against civil society organizations, 
human rights defenders and journalists. In the latest incident, on 12 January in Zulia state, military counter-
intelligence and regional police officers raided the NGO Azul Positivo. Documents were seized and six staff 
members were arrested. Five of them remain in detention. They have not been able to see their lawyers or families. 
At least three media outlets were also targeted on 8 January, when public servants reportedly seized their 
equipment, sealed their offices and intimidated staff. These incidents followed similar cases of journalists being 
harassed or intimidated, as public officials issued a series of statements delegitimizing the media. There are 
increasingly worrying reports that journalists are censoring themselves out of fear.” UNITED NATIONS HUMAN 
RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER. Comment by UN Rights Office Spokesperson Marta 
Hurtado on Venezuela. Geneva, 14 jan. 2021. Disponível em: 
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=26660&LangID=E. Acesso em: 15 
fev. 2021. 
49 Nesse diapasão, Thomas Christiano assevera que, em países realmente democráticos, “[...] political parties, 
interest groups, and diverse media outlets all provide a fairly wide representation of views and provide means by 
which citizens can come to understand what is at stake in collective decision-making. [...] Without these 
institutions, citizens are at a sea with the great number of issues and alternatives. They become prey to demagogic 
politicians and the system seems to be run essentially by elites”. CHRISTIANO, Thomas. International democracy. 
In: BESSON, Samantha; TASIOULAS, John (ed.). The philosophy of international law. 1.ed. New York: 
Oxford University Press, 2010. p.134-135. 
50 Na sua obra intitulada The Idea of Justice, Amartya Sen afirma, com veemência, que o respeito à liberdade de 
imprensa é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade. Para ele, “We have reason enough to want to 
communicate with each other and to understand better the world in which we live. Media freedom is critically 
important for our capability to do this. The absence of a free media and the suppression of people’s ability to 
communicate with each other have the effect of directly reducing the quality of human life, even if the authoritarian 
country that imposes such suppression happens to be very rich in terms of gross national product”. SEN, Amartya. 
The idea of justice. 1.ed. Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press, 2009. p.335-336. 
51 O próprio governo da Venezuela estimulou a saída dos migrantes que viviam nesse país. Como ressalta Luis 
Roniger, as autoridades atribuíram a responsabilidade pela crise aos cidadãos de outros Estados, principalmente 
 
20 
 
obrigados a sair da sua pátria para preservar a própria vida52. Assim, é oportuno fazer alguns 
comentários a respeito do impacto dessa crise migratória no Brasil. 
 
2.2 OS EFEITOS DA DIÁSPORA VENEZUELANA NO BRASIL 
 
 Conforme os dados da Plataforma de Coordenação para Migrantes e Refugiados 
Venezuelanos, até abril de 2021, mais de 5,6 milhões de cidadãos da Venezuela deixaram esse 
Estado 53. Como pontua Eduardo Stein, a maioria desses indivíduos atualmente reside na região 
da América Latina e Caribe54. 
 Conquanto o Brasil não seja o principal destino desses migrantes, não se pode negar que 
ele também vem sendo afetado por essa diáspora55. Com efeito, estima-se que, em abril do 
corrente ano, mais de 261 mil venezuelanos56 residiam nesse país, como indica o seguinte 
infográfico, disponível na Plataforma supramencionada57: 
 
 
aos colombianos, que foram acusados de se aproveitar da política de subvenções de implementada na Venezuela. 
RONIGER, Luis. Historia mínima de los derechos humanos en América Latina. 1.ed. Ciudad de México: El 
Colegio de México, 2018. p.190-192. 
52 RIBAS VARGAS, Claudio. La migración en Venezuela como la dimensión de la crisis. In: LEGLER, Thomas; 
PONT SERBIN, Andrei; GARELLI-RÍOS, Ornela. Venezuela: la multidimensionalidad de una crisis. 1.ed. 
Buenos Aires: Cries, 2018. p.111. 
53 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM VENEZUELA. Refugees and 
migrants from Venezuela. [S. l.], 5 abr. 2021. Disponível em: https://r4v.info/en/situations/platform. Acesso em: 
28 abr. 2021.54 INTER-AGENCY COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRANTS FROM 
VENEZUELA. RMRP 2021 for refugees and migrants from Venezuela: regional refugee and migrant response 
plan. [S. l.], [jan. 2021]. p.6. 
55 Países como a Colômbia, o Peru e o Equador abrigam uma quantidade de venezuelanos muito maior do que 
aquela verificada no Brasil. COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM 
VENEZUELA. Refugees and migrants from Venezuela. [S. l.], 5 mar. 2021. Disponível em: 
https://r4v.info/en/situations/platform. Acesso em: 10 abr. 2021. 
56 Neste trabalho, a expressão “migrantes venezuelanos” é empregada de forma genérica, já que contempla 
inúmeros indivíduos que apresentam características, valores e vivências distintas. À guisa de ilustração, é útil 
lembrar que alguns deles fazem parte de grupos sociais específicos, como a comunidade LGBTQIA+. Além disso, 
não se pode deixar de mencionar que muitos desses migrantes sequer se identificam como venezuelanos, pois 
pertencem a grupos indígenas com línguas e tradições próprias. Nesse sentido, Elaine Moreira e Marcelo Torelly 
afirmam que, “Até o momento, no fluxo migratório da República Bolivariana da Venezuela ao Brasil, foram 
identificados três povos indígenas: Warao, Eñepa e Pemón”. MOREIRA, Elaine; TORELLY, Marcelo (coord.). 
Soluções duradouras para indígenas migrantes e refugiados no contexto do fluxo venezuelano no Brasil. 
1.ed. Brasília: Organização Internacional para as Migrações, 2020. p.27. 
57 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRANTS FROM VENEZUELA. Refugees and 
migrants from Venezuela. [S. l.], 5 mar. 2021. Disponível em: https://r4v.info/en/situations/platform. Acesso em: 
14 abr. 2021. 
21 
 
 
Fonte: Coordination Platform for Refugees and Migrants from Venezuela. 
 
Inicialmente, esse fluxo migratório tinha um caráter pendular, pois muitos venezuelanos 
vinham para o Brasil em busca de produtos que estavam escassos no seu Estado. Alguns deles 
exerciam atividades laborais temporárias no território brasileiro, porém retornavam para a sua 
pátria depois de realizarem o trabalho que lhes foi designado58. 
 No entanto, o agravamento da crise venezuelana alterou essa dinâmica, porquanto a 
diminuição da capacidade econômica dos migrantes pendulares dificultou a aquisição de bens 
no Brasil. Assim, desde 2016, esse deslocamento de pessoas tem ganhado um caráter mais 
definitivo59, como mostra a seguinte tabela60: 
 
 
Fonte: OBMigra apud IPEA. 
 
58 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. A economia de Roraima e o fluxo venezuelano: evidências e subsídios 
para políticas públicas. 1.ed. Rio de Janeiro: FGV DAPP, 2020.p.25. 
59 “Desde 2016, o número de chegadas vem aumentando, assim como o saldo de pessoas que permanecem no 
Brasil ou saem deste para outras localidades que não a fronteira entre Brasil e Venezuela.” FUNDAÇÃO 
GETÚLIO VARGAS. A economia de Roraima e o fluxo venezuelano: evidências e subsídios para políticas 
públicas. 1.ed. Rio de Janeiro: FGV DAPP, 2020.p.25. 
60 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Imigração Venezuela-Roraima: evolução, 
impactos e perspectivas. 1.ed. Brasília: IPEA, 2021. p.38. 
22 
 
 
Para entrar no Brasil, a maior parte desses migrantes atravessa a fronteira terrestre entre 
a Venezuela e Roraima61. É por essa razão que esse estado tem sido o mais impactado pela 
presente crise. Para ter uma noção mais precisa das consequências dessa diáspora para o ente 
federativo supracitado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) conduziu um 
estudo sobre esse assunto, a partir de dados fornecidos por organismos governamentais e 
internacionais. Publicada em janeiro de 2021, essa pesquisa revelou que o aumento 
populacional verificado nesse contexto realmente promoveu uma sobrecarga do ensino básico, 
principalmente no município de Pacaraima62. 
 Da mesma forma, o funcionamento das unidades de saúde desse estado tem preocupado 
os gestores públicos. Apesar de ser anterior à diáspora venezuelana, esse problema cresceu à 
medida que esse fluxo migratório se intensificou, uma vez que a demanda por serviços de 
assistência médica aumentou. O relatório precitado destaca, ainda, que alguns venezuelanos 
que chegam ao Brasil não recebem um tratamento de saúde há anos e, por conseguinte, 
necessitam de uma atenção especial, a qual pressupõe gastos mais elevados63. 
 Nos últimos anos, alguns profissionais da saúde vinculados às forças armadas vêm 
atuando na região da fronteira, com o fito de proporcionar cuidados básicos para os migrantes 
recém-chegados. Todavia, a pesquisa conduzida pelo IPEA salienta que essa atuação é 
temporária e que, até o presente momento, não se vislumbra um “[...] um plano efetivo para 
mudança na estrutura do atendimento prestado pelo estado”64. 
 De acordo com a última edição do Atlas da Violência — referente ao ano de 2020 —, a 
taxa de violência em Roraima também aumentou nos últimos anos. Apesar de não se debruçar 
sobre as causas dessa elevação, o estudo em comento identificou uma correlação entre essa 
tendência e a diáspora venezuelana65. Nesse sentido, ele indicou que a situação vivenciada no 
 
61 INTER-AGENCY COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRANTS FROM 
VENEZUELA. RMRP 2021 for refugees and migrants from Venezuela: regional refugee and migrant response 
plan. [S. l.], [jan. 2021]. p.61. 
62 Não obstante, a lotação das escolas e creches não deve ser considerada um indício de que as crianças e 
adolescentes venezuelanos não encontram óbices para ter acesso à educação no Brasil. Na verdade, a publicação 
em epígrafe revelou que muitos deles se deparam com grandes desafios para frequentar a escola, em virtude das 
barreiras linguísticas e da exigência, por parte de algumas instituições de ensino, do histórico escolar. INSTITUTO 
DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Imigração Venezuela-Roraima: evolução, impactos e 
perspectivas. 1.ed. Brasília: IPEA, 2021. p.33-35. 
63 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Imigração Venezuela-Roraima: evolução, 
impactos e perspectivas. 1.ed. Brasília: IPEA, 2021. p.28. 
64 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Imigração Venezuela-Roraima: evolução, 
impactos e perspectivas. 1.ed. Brasília: IPEA, 2021. p.30. 
65 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da violência 2020. 1.ed. [S. l.]: IPEA, 2020. 
p.16. 
23 
 
país caribenho repercutiu na segurança pública não apenas em razão da imigração propriamente 
dita, mas também devido à crescente atuação de grupos envolvidos com o tráfico 
transfronteiriço66. 
 Por outro lado, não se pode omitir o fato de que essa onda migratória tem movimentado 
a economia de Roraima. Nos últimos anos, ela tem passado por um processo de diversificação, 
em decorrência do crescimento demográfico horizontal. Também é crucial destacar que o setor 
varejista tem sido beneficiado por esse fenômeno, devido à elevação da demanda local. Por 
isso, nesse estado, foi constatado um aumento expressivo da arrecadação do Imposto sobre 
Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte 
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)67. 
 Conquanto Roraima ainda seja o estado com o maior número de nacionais da Venezuela, 
é importante esclarecer que outras localidades também têm abrigado uma grande quantidade de 
migrantes desse país, principalmente depois de 2018. Nesse ano, o Poder Executivo Federal 
iniciou a Operação Acolhida, com fundamento na Medida Provisória 820 — posteriormente 
convertida na Lei 13.684/2018. O objetivo dessa Operação foi criar espaços de acolhimento 
para esses indivíduos, ordenar a fronteira e diminuir a pressão social em Roraima, mediante 
programas de interiorização68. 
 O desenvolvimento dessa iniciativa de caráter humanitário só foi possível por meio do 
estabelecimento de parcerias entre o Governo Federal e o Alto Comissariado das Nações Unidas 
para Refugiados(ACNUR), a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o Fundo 
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e algumas organizações não governamentais. 
Dentre os agentes estatais que mais têm contribuído para o desenvolvimento da Operação 
Acolhida, destaca-se o Exército, que atua no âmbito da logística, segurança e saúde69. 
Apesar de reconhecerem a relevância desse programa para o gerenciamento desse fluxo, 
alguns pesquisadores questionam o protagonismo do Exército, porque o consideram um 
 
66 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da violência 2020. 1.ed. [S. l.]: IPEA, 2020. 
p.16-17. 
67 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. A economia de Roraima e o fluxo venezuelano: evidências e subsídios 
para políticas públicas. 1.ed. Rio de Janeiro: FGV DAPP, 2020.p.15. 
68 SILVA, João Carlos Jarochinski; JUBILUT, Liliana Lyra; VELÁSQUEZ, Militza Zulimar Pérez. Proteção 
humanitária no Brasil e a Nova Lei de Migrações In: RAMOS, André de Carvalho; VEDOVATO, Luís Renato; 
BAENINGUER, Rosana (coord.). Nova Lei de Migração: os três primeiros anos. 1.ed. Campinas: UNICAMP; 
FADISP, 2020. p.59. 
69 CHAVES, João Freitas de Castro. Panorama da resposta humanitária ao fluxo venezuelano no Brasil na 
perspectiva da Defensoria Pública da União. In: BAENINGER, Rosana et al. Migrações venezuelanas. 1.ed. 
Campinas: Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”, 2018. p.94. 
24 
 
resquício de uma abordagem militarista do fenômeno migratório70. No entanto, recentemente, 
tem sido discutida a elaboração de um plano institucional que viabilize a gradual diminuição da 
participação desse segmento das Forças Armadas na Operação Acolhida71. 
 Até março do corrente ano, a Operação Acolhida envolveu mais de 400 municípios72, 
que receberam 50.475 venezuelanos73. Disponível no site da Plataforma de Coordenação para 
Migrantes e Refugiados Venezuelanos, a seguinte imagem mostra quais foram as localidades 
que acolheram mais migrantes nesse processo de interiorização74: 
 
 
Fonte: Coordination Platform for Refugees and Migrants from Venezuela. 
 
70 Os princípios que atualmente regem a política migratória brasileira serão abordados em outro momento, quando 
da análise da Lei 13.445/2017. 
71 INTER-AGENCY COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRANTS FROM 
VENEZUELA. RMRP 2021 for refugees and migrants from Venezuela: regional refugee and migrant response 
plan. [S. l.], [jan. 2021]. p.62. 
72 MINISTÉRIO DA CIDADANIA. Acolhida. [S. l.], 18 fev. 2021. Disponível em: 
https://www.gov.br/acolhida/historico/. Acesso em: 10 abr. 2021 
73 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM VENEZUELA. Estratégia de 
interiorização. [S. l.], mar. 2021. Disponível em:. 
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDc5ZTk2YjktM2I5Yi00YWM1LWEyNzMtMzkzMjFlOTlkMzZkIiw
idCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9&pageName=Rep
ortSection50c1cda4ca53f9fc2c34. Acesso em: 19 abr. 2021. 
74 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM VENEZUELA. Estratégia de 
interiorização. [S. l.], mar. 2021. Disponível em:. 
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDc5ZTk2YjktM2I5Yi00YWM1LWEyNzMtMzkzMjFlOTlkMzZkIiw
idCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9&pageName=Rep
ortSection50c1cda4ca53f9fc2c34. Acesso em: 19 abr. 2021. 
25 
 
Segundo os dados dessa Plataforma, os estados que tiveram uma participação mais 
expressiva nesse plano foram o Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Norte, 
por sua vez, recebeu apenas 252 venezuelanos cadastrados nessa Operação75. A maior parte dos 
migrantes levados para o território deste último ente federativo, atualmente, vive nas cidades 
de Caicó (147), Mossoró (67), Natal (12) e Parnamirim (8)76. 
É mister sublinhar que a Operação Acolhida tem sido reconhecida como uma ação 
humanitária de sucesso, “[...] em que a arquitetura de governança permite aos agentes públicos 
envolvidos na recepção dos venezuelanos agir de maneira rápida, segura e coordenada”77. 
Feitos esses apontamentos, é fundamental perscrutar a forma como a diáspora 
venezuelana é disciplinada pelo Direito Internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM VENEZUELA. Estratégia de 
interiorização. [S. l.], mar. 2021. Disponível em:. 
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDc5ZTk2YjktM2I5Yi00YWM1LWEyNzMtMzkzMjFlOTlkMzZkIiw
idCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9&pageName=Rep
ortSection50c1cda4ca53f9fc2c34. Acesso em: 15 abr. 2021. 
76 COORDINATION PLATFORM FOR REFUGEES AND MIGRATS FROM VENEZUELA. Estratégia de 
interiorização. [S. l.], mar. 2021. Disponível em:. 
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMDc5ZTk2YjktM2I5Yi00YWM1LWEyNzMtMzkzMjFlOTlkMzZkIiw
idCI6ImU1YzM3OTgxLTY2NjQtNDEzNC04YTBjLTY1NDNkMmFmODBiZSIsImMiOjh9&pageName=Rep
ortSection50c1cda4ca53f9fc2c34. Acesso em: 15 abr. 2021. 
77 MOREIRA, Elaine; TORELLY, Marcelo (coord.). Soluções duradouras para indígenas migrantes e 
refugiados no contexto do fluxo venezuelano no Brasil. 1.ed. Brasília: Organização Internacional para as 
Migrações, 2020. p.81. 
26 
 
3 A DIÁSPORA VENEZUELANA SOB A ÓTICA DO DIREITO INTERNACIONAL 
 
Na sua obra International Migration Law, Vincent Chetail assevera que o arcabouço 
jurídico internacional que rege as migrações é formado por diversas normas esparsas, que têm 
âmbitos de incidência próprios, mas frequentemente se sobrepõem78. O estudo dessa temática, 
portanto, exige a análise de diversos instrumentos que regulam a mobilidade internacional sob 
um determinado prisma. 
Considerando o recorte metodológico deste trabalho, inicialmente, serão abordados os 
textos normativos que tratam da tutela geral dos migrantes nos Sistemas Onusiano79 e 
Interamericano. Posteriormente, far-se-ão alguns comentários a respeito da (im)possibilidade 
de os migrantes venezuelanos serem contemplados pelo regime jurídico internacional dos 
refugiados80. 
 
3.1 A PROTEÇÃO DOS MIGRANTES VENEZUELANOS À LUZ DAS DECLARAÇÕES E 
TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS DO SISTEMA ONUSIANO 
 
 Adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1948, a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos pode ser considerada o marco inicial da universalização dos direitos humanos81-82. 
 
78 Para esse autor, “[...] the current international legal framework governing migration consists of an eclectic set 
of superimposed norms that are scattered throughout a vast number of overlapping fields (such as human rights 
law, trad law, humanitarian law, labour law, refugee law, maritime law, air law, consular law, criminal law, etc.)”. 
CHETAIL, Vincent. International migration law. 1.ed. Oxford: Oxford University Press, 2019. p.6. 
79 Nesse sentido, Thiago Oliveira Moreira afirma que, “[...] enquanto não existir um tratado internacional que 
regule todas as questões que são inerentes ao fenômeno migratório, as pessoas em mobilidade internacional, 
notadamente as vulneráveis, contam com a tutela geral [...]” do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), 
a qual contempla os textos normativos e as manifestações dos comitês vinculados a esse organismo internacional. 
MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição brasileira. 
1.ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. p.175. 
80 Optou-se por analisar apenas as principais declarações internacionais e os tratados que foram ratificados pelo 
Estado brasileiro. Por isso, este estudo não tratou do Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, 
cuja criação promoveu um avanço no que tange ao regramento da mobilidade internacional. Como lembra Maiquel 
Ângelo Dezordi Wermuth, “O Brasil assinou o Pacto durante o governo de Michel Temer, mas recuou e rompeu 
com a sua posição, tendo sido esta uma das primeiras medidas tomadas pelo governo de Jair Bolsonaro, em 8 de 
janeiro de 2019”. WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. A Lei 13.445/2017 e a ruptura paradigmática rumoà 
proteção dos Direitos Humanos dos migrantes no Brasil: avanços e retrocessos. In: RAMOS, André de Carvalho; 
VEDOVATO, Luís Renato; BAENINGUER, Rosana (coord.). Nova Lei de Migração: os três primeiros anos. 
1.ed. Campinas: UNICAMP; FADISP, 2020.p.110. 
81 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p.33. 
82 “The UDHR was adopted by forty-eight votes to none, with eight abstentions. The abstentions were cast by 
South Africa, which had just inaugurated its ‘apartheid’ policy and thus opposed the affirmation of equality without 
distinction as to race; Saudi Arabia, which opposed the freedom to change one’s religion; as well as the USSR and 
its satellite States which then already formed what was referred to during the Cold War as the ‘Soviet Block’, who 
considered that the Declaration could be used as a pretext for interfering with the domestic affairs of the Member 
States of the United Nations [...]”. DE SCHUTTER, Olivier. International human rights law. 1.ed. Cambridge: 
Cambridge University Press, 2010. p.16. 
27 
 
No seu artigo 13, ela positiva o direito de circular livremente dentro do seu país de origem e de 
emigrar83-84. Além disso, o artigo subsequente estabelece que todas as pessoas sujeitas a algum 
tipo de perseguição têm o direito de buscar asilo em um Estado diferente do seu, desde que essa 
perseguição não seja “[...] legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos 
contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas”85. 
 Malgrado a natureza não vinculante dessa Declaração, a maior parte da doutrina entende 
que os direitos previstos nos dispositivos citados fazem parte do costume internacional86-87-88. 
Não obstante, Thiago Oliveira Moreira afirma, com veemência, que o reconhecimento desses 
direitos não implica a consagração do “direito a imigrar”89-90. 
 De acordo com Olivier de Schutter, o teor da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos foi reforçado pela elaboração de dois textos normativos de natureza vinculante, quais 
sejam: o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional 
 
83 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos humanos. Paris, 10 dez. 1948. 
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 19 fev. 
2021. 
84 Entretanto, do ponto de vista teórico, as origens do direito de emigrar são mais antigas. Segundo Vincent Chetail, 
“Vattel lui rend un hommage appuyé dans Le droit des gens, où il souligne avec une vigueur toute particulière que 
chaque citoyen a le droit de quiter son pays, lorsqu’il ne peut y trouver sa subsistance ou que la Nation édicte des 
lois intolérantes”. CHETAIL, Vincent. Droit international des migrations: Fondements et Limites du 
Multilatéralisme (March 20, 2012). In : GHERARI, Habib ; MEHDI, Rostane. La societe internationale face 
aux defis migratoires. 1.ed. [S. l.]: Pedone, 2012. p. 35. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=2026388. 
Acesso em: 21 maio 2020. 
85 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos humanos. Paris, 10 dez. 1948. 
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 19 fev. 
2021. 
86 CHETAIL, Vincent. International migration law. 1.ed. Oxford: Oxford University Press, 2019. p.164. 
87 Segundo Olivier de Schutter, “[...] a majority of the doctrine takes the view today that, whatever the intent of 
the governments which voted on the Declaration, the rights stipulated in the UDHR now have acquired the status 
of customary international law or should be considered as part of the ‘general principles of law recognized by 
civilized nations’ mentioned in Article 38 (1)(c) of the Statute of the International Court of Justice as a source of 
international law”. DE SCHUTTER, Olivier. International human rights law. 1.ed. Cambridge: Cambridge 
University Press, 2010. p.16. 
88 Por sua vez, James Crawford sustenta que “The Declaration is not a treaty, but many of its provisions reflect 
general principles of law or elementary considerations of humanity, and the Declaration identified the 
catalogue of rights whose protection would come to be the aim of later instruments. Overall the indirect legal effect 
of the Declaration should not be underestimated” (grifo nosso). CRAWFORD, James Richard. Brownlie’s 
principles of public international law. 8.ed. [S. l.]: Oxford University Press, 2012. p.637. 
89 Para esse autor, “[...] ao contrário do que muitos defendem, não se vislumbra um fundamento na DUDH, ou em 
qualquer tratado internacional, que possa garantir um direito à imigração”. MOREIRA, Thiago Oliveira. A 
concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição brasileira. 1.ed. Curitiba: Instituto 
Memória, 2019. p.175-176. 
90 Da mesma forma, Vincent Chetail preleciona que “Human rights law recognizes the right to leave any country 
at one side of the migration continuum, and the right to return to one’s own country at the other extreme. In between 
the two, there is no explicit right of admission into another country. This intentional omission plainly signals 
that, at its current stage of development, public international law does not guarantee a general freedom of 
movement” (grifo nosso). CHETAIL, Vincent. International migration law. 1.ed. Oxford: Oxford University 
Press, 2019. p.91. 
https://ssrn.com/abstract=2026388
28 
 
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)91. Ambos foram adotados em 16 de 
dezembro de 1966 e fazem parte da “Carta Internacional dos Direitos Humanos”92. 
 Além de positivar o princípio da não discriminação93, o Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos dispõe, no seu artigo 12, que toda pessoa que estiver regularmente em 
um território tem “[...] o direito de nele circular e escolher sua residência”94. Nesse passo, deve-
se frisar que esse artigo reitera a existência de um direito humano à emigração, já que ele 
praticamente reproduz a redação do artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos95. 
 Ao tratar do diploma normativo em comento, deve-se lembrar que ele instituiu o Comitê 
de Direitos Humanos das Nações Unidas. Como assenta Malcom N. Shawn, esse órgão de 
controle é formado por dezoito especialistas independentes, que são eleitos pelos Estados partes 
do PIDCP a cada 4 anos e atuam com base na regra do consenso96. 
 É oportuno pontuar que esse Comitê já emitiu diversos posicionamentos sobre temáticas 
atinentes aos direitos humanos dos migrantes. Algumas dessas manifestações foram oriundas 
 
91 DE SCHUTTER, Olivier. International human rights law. 1.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 
2010. p.16. 
92 Nas palavras de André de Carvalho Ramos: “[...]a doutrina consagrou o termo ‘Carta Internacional de Direitos 
Humanos’ (International Bill of Rights), fazendo homenagem às chamadas Bill of Rights do Direito Constitucional 
e que compreende o seguinte conjunto de diplomas internacionais: (i) a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (DUDH) de 1948; (ii) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966; (iii) Pacto 
Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais de 1966”. RAMOS, André de Carvalho. Curso de 
direitos humanos. 5.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p.162. 
93 O artigo 2º, 1 desse Pacto Internacional tem a seguinte redação: “Os Estados Partes do presente pacto 
comprometem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos 
a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, 
sexo. língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, 
nascimento ou qualquer condição” (grifo nosso). Ademais, o artigo 26 dispõe: “Todas as pessoas são iguais perante 
a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteçãoda Lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer 
forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por 
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação 
econômica, nascimento ou qualquer outra situação”. BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos 
internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Brasília: Presidência da 
República, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso 
em: 21 fev. 2021. 
94 BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis 
e Políticos. Promulgação. Brasília: Presidência da República, 1992. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em: 21 fev. 2021. 
95 Thiago Oliveira Moreira nota que “É com base no citado art. 12 do PIDCP que alguns fundamentam, mais uma 
vez, que migrar é um direito humano. Nesse ponto, ao que parece, a interpretação é mesma da anunciada com 
relação ao art. 13 da DUDH. Com efeito, em momento algum, do teor do art. 12, notadamente de seu item 2, é 
possível depreender que o direito humano à imigração foi consagrado”. MOREIRA, Thiago Oliveira. A 
concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição brasileira. 1.ed. Curitiba: Instituto 
Memória, 2019. p.177. 
96 Em consonância com os dizeres desse doutrinador, o Comitê de Direitos Humanos da ONU “[...] consists of 
eighteen independent and expert members, elected by the states parties to the Covenant for four-year terms, with 
consideration given to the need for equitable geographical distribution and representation of the different forms of 
civilisation and of the principal legal systems. The Committee meets three times a year (in Geneva and New York) 
and operates by way of consensus. The Covenant is primarily implemented by means of a reporting system, 
whereby states parties provide information on the measures adopted to give effect to the rights recognised in the 
Covenant”. SHAW, Malcom N. International law. 6.ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.p.315. 
29 
 
de queixas individuais e outras se caracterizam como “recomendações gerais”, dirigidas a todos 
os Estados partes do tratado em questão97. 
 Conforme o atual entendimento desse Comitê, a expulsão de não nacionais do território 
de um Estado tem como limite o comando normativo ínsito no artigo 7º do PIDCP, que 
determina que “Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis, 
desumanos ou degradantes [...]”98. Esse entendimento, como nota Thiago Oliveira Moreira99, 
foi sufragado no caso Kindler c. Canadá100. 
 Também é salutar destacar que, no caso Karakurt c. Áustria, dito Comitê considerou 
que uma lei “[...] que reservava aos austríacos e aos nacionais de Estados-Membros da UE a 
possibilidade de pertencerem a um conselho de empresa era discriminatória [...]” e, por 
conseguinte, violava o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos101. O fundamento 
dessa manifestação foi a inexistência de elementos objetivos que justificassem a concessão 
desse tratamento diferenciado102. 
 
97 MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição 
brasileira. 1.ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. p.181. 
98 BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis 
e Políticos. Promulgação. Brasília: Presidência da República, 1992. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em: 21 fev. 2021. 
99 O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas interpreta o artigo 7º do PIDCP de forma extensiva. Para 
ele, “[...] há proibição de expulsão de indivíduo para países em que o risco de submissão à tortura ou tratamento 
desumanos ou degradantes seja elevado. O descrito entendimento encontra-se evidente na decisão Kindler c. 
Canadá”. MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição 
brasileira. 1.ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. p.182. 
100 No caso em epígrafe, um cidadão estadunidense chamado Joseph Kindler acionou o Comitê para que este se 
manifestasse sobre esse tema. Em novembro de 1983, o Poder Judiciário do estado da Pensilvânia condenou 
Kindler à pena de morte devido à prática dos crimes de homicídio e sequestro. Antes de a sentença ser executada, 
ele conseguiu escapar; porém, em abril de 1985, ele foi preso pela polícia do Quebec, província do Canadá. Embora 
o Canadá não admitisse a pena de morte, a Suprema Corte do país entendeu que a extradição de Kindler não 
violaria a Carta Canadense de Direitos Humanos. Depois de considerar as ponderações feitas pelo representante 
de Kindler e as alegações do governo canadense, o Comitê sustentou que, naquela situação, não havia sido 
configurada uma violação ao artigo 7º do PIDCP. Ele salientou, todavia, que esse artigo deve ser interpretado em 
conjunto com aquele que o antecede. Sendo assim, “In determining whether, in a particular case, the imposition 
of capital punishment could constitute a violation of article 7, the Committee will have regard to the relevant 
personal factors regarding the author, the specific conditions of detention on death row, and whether the proposed 
method of execution is particularly abhorrent”. UNIVERSITY OF MINNESOTA HUMAN RIGHTS LIBRARY. 
Kindler v. Canada, Communication No. 470/1991, U.N. Doc. CCPR/C/48/D/470/1991 (1993). [S. l.], 1993. 
Disponível em: http://hrlibrary.umn.edu/undocs/html/dec470.htm. Acesso em: 21 fev. 2021. 
101 MOREIRA, Thiago Oliveira. A concretização dos direitos humanos dos migrantes pela jurisdição 
brasileira. 1.ed. Curitiba: Instituto Memória, 2019. p.178. 
102 O caso que deu origem a essa discussão envolveu Mümtaz Karakurt, um cidadão turco que vivia na Áustria. 
Ele era funcionário da Associação para o Apoio de Estrangeiros, situada na cidade de Linz. Em maio de 1994, o 
autor e um colega — Vladimir Polak — foram eleitos para o Conselho de trabalho da Associação. Entretanto, 
Polak acionou o Poder Judiciário austríaco e requereu que Karakurt fosse destituído dessa função, sob o argumento 
e que a legislação do país reservava esse posto aos seus nacionais e aos nacionais dos demais Estados da União 
Europeia. A Corte Regional de Liz acolheu a pretensão de Polak e a sua decisão foi confirmada pela Corte de 
Apelação. O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas foi instado a se pronunciar sobre esse caso e aduziu 
que “[...] it is not reasonable to base a distinction between aliens concerning their capacity to stand for election for 
a work council solely on their different nationality. Accordingly, the Committee finds that the author has been the 
 
30 
 
 O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), por 
sua vez, inovou ao atribuir densidade normativa a direitos outrora tidos como meras exortações 
ou diretrizes não vinculantes103. Assim como o PIDCP, o PIDESC determina que os seus 
dispositivos sejam aplicados sem qualquer discriminação, inclusive por motivo de origem 
nacional104. O artigo 2º, 3 do tratado ora discutido, contudo, prevê a possibilidade de países em 
desenvolvimento restringirem o exercício dos direitos econômicos por parte dos não nacionais, 
desde que essa diferenciação seja feita de maneira racional 105-106. 
 No seu artigo 11, o PIDESC reconhece a existência de um direito a um padrão de vida 
adequado, que pressupõe o acesso à alimentação, ao vestuário e à moradia107. Dessarte, os 
Estados que o ratificaram — como o Brasil — têm o dever de tomar as medidas apropriadas 
para a concretização desse direito. O artigo em análise enfatiza, ainda, a importância da 
cooperação internacional para o adimplemento dessa obrigação108. 
 Por força do artigo

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