Buscar

Direito Internacional em Análise - Volume 5

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 221 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 221 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 221 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO INTERNACIONAL
EM ANÁLISE 
Volume 5
2016 São Paulo
Coordenadores 
Cláudio Finkelstein
Vladmir oliVeira da silVeira
Organizadora
ana Carolina souza Fernandes
DIREITO INTERNACIONAL
EM ANÁLISE 
Volume 5
Nossos Contatos 
São Paulo 
Rua José Bonifácio, n. 209, 
cj. 603, Centro, São Paulo – SP 
CEP: 01.003-001 
 
Acesse: www. editoraclassica.com.br
Redes Sociais 
Facebook: 
http://www.facebook.com/EditoraClassica 
Twittter: 
https://twitter.com/EditoraClassica
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO
Editora Responsável: Verônica Gottgtroy
Produção Editorial: Editora Clássica 
Capa: Editora Clássica
Equipe Editorial
EDITORA CLÁSSICA
Allessandra Neves Ferreira
Alexandre Walmott Borges 
Daniel Ferreira 
Elizabeth Accioly 
Everton Gonçalves 
Fernando Knoerr 
Francisco Cardozo de Oliveira 
Francisval Mendes 
Ilton Garcia da Costa 
Ivan Motta 
Ivo Dantas 
Jonathan Barros Vita
José Edmilson Lima 
Juliana Cristina Busnardo de Araujo 
Lafayete Pozzoli
Leonardo Rabelo 
Lívia Gaigher Bósio Campello 
Lucimeiry Galvão 
Luiz Eduardo Gunther
Luisa Moura 
Maria Lucia de Barros Rodrigues
Mara Darcanchy 
Massako Shirai 
Mateus Eduardo Nunes Bertoncini 
Nilson Araújo de Souza 
Norma Padilha 
Paulo Ricardo Opuszka 
Roberto Genofre 
Salim Reis 
Valesca Raizer Borges Moschen 
Vanessa Caporlingua 
Viviane Coelho de Séllos-Knoerr 
Vladmir Silveira 
Wagner Ginotti 
Wagner Menezes 
Willians Franklin Lira dos Santos
Conselho Editorial
Direito Internacional em Análise / Ana Carolina Souza Fer-
nandes (org.); Coordenadores Cláudio Finkelstein, Vladmir 
Oliveira da Silveira – São Paulo: Clássica, 2016. 23 cm. 
(Coleção estudos internacionais).
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-99651-53-7
1. Imigração e Refugiados; 2. Comércio Internacional; 
3. Direito Internacional Público. I. Fernandes, Ana Carolina 
Souza. II. Finkelstein, Cláudio. III. Silveira, Vladmir Oliveira 
da. IV. Série.
12-7922. CDU: 341:347.9
5
Prefácio
A cada volume lançado temos a certeza de que apresentamos ao mundo 
jurídico uma nova safra de acadêmicos que buscam contribuir com o aprimoramento 
e o desenvolvimento dos estudos do Direito Internacional. Por essa razão que este 
volume, em especial, contou com a contribuição de alguns alunos selecionados da 
Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, inscritos 
na matéria de Iniciação Científica, além dos alunos pertentes ao Programa de Pós-
Graduação (Mestrado e Doutorado) também da PUC/SP. 
Não se pode almejar o desenvolvimento e o progresso de uma 
disciplina se não houver estudos realizados de maneira séria e científica, com 
vistas a indagar, perquirir e/ou dar novos contornos ao ordenamento jurídico 
vigente. A forma como o mundo se estabelece neste século tem relação direta 
com o processo de globalização, caracterizado por sua dinamicidade, e o Direito 
tem o dever de acompanhar essa evolução, sob pena de se tornar obsoleto e 
distante da realidade a que se pretende regular. 
Os temas abordados neste volume, portanto, buscam refletir esse 
entendimento. Atualmente, por exemplo, a União Europeia vem sofrendo 
uma grave crise migratória e esta temática, por consequência, não poderia 
deixar de ser abordada. Por outro lado, o estudo do comércio internacional 
é imprescindível para que a legislação seja constantemente atualizada e/ou 
reformada para garantir a segurança jurídica dos negócios jurídicos firmados 
no âmbito internacional. Por fim, a última parte da obra busca fazer uma 
análise aprofundada de aspectos específicos do direito internacional, como, por 
exemplo, a questão das imunidades das organizações internacionais, a mudança 
de paradigma do conceito clássico da soberania, do tribunal penal internacional, 
o direito internacional do trabalho e o direito internacional do meio ambiente.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
6
Vislumbra-se, novamente, nesta obra o comprometimento dos 
alunos, seja da graduação, seja da pós-graduação, em enfrentar questões 
outrora consideradas clássicas da disciplina de Direito Internacional, sob 
um enfoque contemporâneo.
Nossos sinceros agradecimentos aos autores desta obra: Isadora 
Barretto de Almeida, Josycler Aparecida Arana Santos, Karem Luisa Cárdenas 
Ynfanzón, Fernanda Brusa Molino, Thaísa Daniel Pereira, Taísa Silva Reque, 
Laura Martins Moura de Oliveira, Caroline Valois Santos, Fernando Nelson 
Fontoura, Andrezza Coelho Maestri, Fernanda Silva Bombonati, Fernanda de 
Miranda S. C. Abreu e Thiago Jello Prego.
São Paulo, agosto de 2016.
Cláudio Finkelstein
Advogado
Professor de Direito Internacional da PUC/SP,
Coordenador do Núcleo de Direito Internacional 
do Programa de Pós-Graduação da PUC/SP
Vladmir oliVeira da silVeira
Advogado 
Professor de Direito Internacional da PUC/SP
Professor e Coordenador do Programa de Mestrado 
em Direito da Uninove/SP
7
O sucesso do lançamento dos volumes anteriores nos impulsionou a 
seguir adiante nessa satisfatória empreitada de incentivo à produção científica. 
Com muito orgulho fui novamente incumbida de fazer a apresentação deste 
quinto volume da coletânea de Direito Internacional em Análise, inobstante 
ser também a organizadora. Diferentemente dos demais volumes, este volume 
congratula não somente alunos do Programa de Mestrado e Doutorado da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, como também alunos 
da Graduação em Direito da mesma Instituição. 
Agradeço o convite feito pelos Professores coordenadores desta obra, 
Cláudio Finkelstein e Vladmir Oliveira da Silveira, que atuam com uma seriedade 
ímpar em seus ofícios acadêmicos. Os artigos desta obra foram criteriosamente 
selecionados para contemplar alunos que buscam contribuir efetivamente para 
o aprimoramento do Direito Internacional, a partir de trabalhos apresentados 
em sala de aula, eventos, conferências, entre outros, realizados na PUC/SP. 
Assim, esta obra conta com três partes distintas, a saber: (i) Direito 
Internacional, Imigração e Refugiados; (ii) Comércio Internacional e Diálogo 
entre Tutelas; e (iii) Direito Internacional Público e que, de modo sucinto, 
apresentaremos aqui os temas que nesta obra serão tratados.
A primeira parte da obra, voltada ao estudo do “Direito Internacional, 
Imigração e Refugiados”, tem início com o artigo escrito por Isadora Barretto 
de Almeida intitulado de “A Imigração Ilegal e os Direitos dos Estrangeiros: 
O Brasil como Destino Imigrante da América Latina no Século XXI”, aborda 
a questão do crescimento vertiginoso da imigração ilegal no Brasil, a partir 
de uma perspectiva voltada para os latino-americanos, que hoje são a grande 
maioria dos estrangeiros que buscam, ilegalmente, viver neste País. Assim, 
Apresentação
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
8
são o foco principal do artigo é a problemática jurídica que está por trás dos 
motivos que levaram o Brasil a atrair tantos imigrantes e a situação socialmente 
fática e jurídica destes estrangeiros. 
Josycler Aparecida Arana Santos e Karem Luisa Cárdenas Ynfanzón, por 
sua vez, no artigo “Quadro Legal para Proteger a Migração do Haiti no Peru e no Brasil: 
Expectativas e Desvios de Realidade”, realizam um estudo sobre a lei aplicável à 
migração haitiana no Peru e no Brasil que, após o terremoto de 2010 que devastou o país 
caribenho, levou seus cidadãos a procurar proteção humanitária nos países segundo as 
regulamentações nacionais de cada Estado. O artigo procurou destacar as dificuldades de 
cada país para lidar com este problema, em conformidade com as normas internacionais, 
e os desenvolvimentos no âmbito doméstico que têm sido realizados para aliviar 
a situação de emergência humanitária.
Na sequência, o artigo “A União Europeia e a Questão dos 
Refugiados”, escrito por Fernanda Brusa Molino, faz um estudo sobre a 
União Europeia e o instituto do refúgio, na qual se faz uma análise específica 
acerca da atualcrise que se apresenta na união econômica e política. A autora 
igualmente analisou os aspectos da criação da União Europeia e seu atual 
estágio correlacionando com a problemática dos fluxos migratórios originados 
por conta das questões de conflito armado e atos terroristas presentes no 
território europeu. Por fim, a autora exporá os casos de controle de fluxo de 
refugiados e o questionamento sobre o tal posicionamento sob o aspecto legal 
considerando a soberania dos países envolvidos.
A segunda parte da obra, que aborda questões sobre o Comércio 
Internacional e Diálogo entre Tutelas, Thaísa Daniel Pereira, no artigo “O 
Acordo TRIPS e o Direito Internacional Público: Uma Análise do TRIPS 
em face dos Principais Acordos Internacionais”, faz uma análise do TRIPS, 
ou seja, acordo internacional sobre aspectos dos direitos de propriedade 
intelectual relacionados ao comércio em face do comércio internacional, e 
ainda, pretendeu traçar os aspectos de influência entre tal acordo perante os 
principais acordos internacionais, na tentativa de identificar os resultados 
desde acordo na esfera mundial.
A “Homologação de Sentença Estrangeira e Carta Rogatória: 
Uma Análise sobre a Jurisprudência do STJ – Atualizado de acordo com 
o CPC/2015”, escrito por Taísa Silva Reque, examina a jurisprudência do 
Superior Tribunal de Justiça sobre a homologação de sentenças estrangeiras 
e a concessão de exequatur em cartas rogatórias, traçando um paralelo com a 
antiga jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e ressaltando as alterações 
ocorridas após a vigência do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015).
Laura Martins Moura de Oliveira propôs, em seu artigo “A Disputa 
de Patentes a partir do Caso IGB Eletrônica x Apple”, explorar a disputa 
9
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
de patentes entre a IGB Eletrônica e a Apple, que repousou no conceito de marca 
e patente e na atuação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI 
acerca do período de caducidade e efetiva detenção da marca. Verificou-se que 
propriedade deve ser exercida de acordo com os requisitos para a sua fruição, 
considerando que a inércia não assegura registro à marca por tempo ilimitado.
Por sua vez, Caroline Valois Santos escreve sobre “A Ponderação 
de Direitos no Caso dos Pneus e seu Contencioso no Direito Internacional”, 
na qual abordou o caso dos pneus recauchutados, reutilizados e remodelados 
e suas consequências para o direito internacional. A autoria também fez 
uma análise acerca da ponderação entre o direito ao livre comércio e o 
direito ao meio ambiente, constante nas decisões tomadas por organizações 
internacionais relativas a este conflito. 
Fernando Nelson Fontoura, em seu artigo “OMC e a Regulamentação 
de Financiamento à Exportação (PROEX)”, aprofunda os estudos em relação ao 
Programa de Financiamento à Exportação (“PROEX”), buscando averiguar se 
referido Programa possui ou não o caráter de subsídio e, desta forma, beneficiar 
a indústria brasileira, causando um desequilíbrio no mercado mundial, por 
gerar uma concorrência desleal. O autor esclarece que a questão surgiu quando 
a empresa Bombardier questionou os órgãos de comércio internacional se o 
Brasil não estaria beneficiando sua indústria nacional com subsídios.
A terceira parte trata de temas de “Direito Internacional Público”. Abre 
essa parte a autora Andrezza Coelho Maestri, em seu artigo “Teoria da Soberania 
Clássica a Caminho do Estado Constitucional Cooperativo e as Mudanças 
no Plano Internacional”, analisou as profundas transformações que passou a 
teoria clássica da soberania chegando a atual teoria do Estado Constitucional 
Cooperativo. O artigo objetivou delinear o novo conceito de soberania, sob a 
estrutura do futuro desenvolvimento fático do constitucional cooperativismo 
no plano internacional, contando com o método dedutivo de pensamento e a 
ciência política contemporânea para desenvolver seus argumentos.
Fernanda Silva Bombonati, em seu artigo “Tribunal Penal 
Internacional: Características, Funcionalidades e Jurisdição”, realiza um estudo 
do Tribunal Penal Internacional (“TPI”), com o objetivo de responder quais são 
as características do TPI, o que garante seu funcionamento e a sua efetividade. 
E visto isso a autora pretendeu entender até onde se estende a competência e 
jurisdição do mesmo e até que ponto sua atuação é possível, quais crimes de sua 
competência e quais os crimes que não entram em sua jurisdição.
O artigo “Direito Internacional do Trabalho como Expressão do Jus 
Cogens Internacional”, escrito por Fernanda de Miranda S. C. Abreu, trata da 
análise da natureza jurídica e do conceito do chamado jus cogens internacional 
e de sua cristalização pela Convenção de Viena de 1969. A autora procurou 
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
10
estudar o papel da Organização Internacional do Trabalho (“OIT”) no processo de 
reconhecimento do direito dos trabalhadores como normas imperativas na esfera 
jurídica internacional. Com o advento da Declaração da OIT Sobre os Princípios 
e Direitos Fundamentais no Trabalho tal natureza passou a ser reconhecida 
expressamente. Por fim, a autora perscruta os efeitos de tal Declaração na ordem 
brasileira, em especial com a aplicação da Convenção nº 87 da OIT.
Por fim, Thiago Jello Prego finaliza essa obra com o artigo “Direito 
Internacional do Meio Ambiente: A Origem da Responsabilidade dos 
Estados por Danos ao Meio Ambiente no Caso Fundição em Trail”, estuda 
a responsabilidade internacional dos Estados por danos causados ao meio 
ambiente, considerando o caso da Fundição em Trail como leading case, 
conforme a doutrina e jurisprudência internacionais. O autor buscou analisar 
o caso pelas razões que fundamentaram a responsabilização, transformando-o 
em paradigma. Ao final, analisou o autor os objetivos do direito internacional do 
meio ambiente, a partir de seus princípios, que fomentaram a responsabilidade 
dos Estados soberanos na manutenção de um meio ambiente equilibrado.
Boa Leitura!
São Paulo, inverno de 2016.
ana Carolina souza Fernandes
11
Sumário
13
27
49
63
77
103
113
125
PARTE 1 - DIREITO INTERNACIONAL, IMIGRAÇÃO E REFUGIADOS 
A IMIGRAÇÃO ILEGAL E OS DIREITOS DOS ESTRANGEIROS: O BRASIL 
COMO DESTINO IMIGRANTE DA AMÉRICA LATINA NO SÉCULO XXI 
Isadora Barretto de Almeida .....................................................................
QUADRO LEGAL PARA PROTEGER A MIGRAÇÃO DO HAITI NO PERU E 
NO BRASIL: EXPECTATIVAS E DESVIOS DE REALIDADE
Josycler Aparecida Arana Santos e Karem Luisa Cárdenas Ynfanzón ..........
A UNIÃO EUROPEIA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS
Fernanda Brusa Molino .............................................................................
PARTE 2 - COMÉRCIO INTERNACIONAL E DIÁLOGO ENTRE TUTELAS
O ACORDO TRIPS E O DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: UMA ANÁLISE 
DO TRIPS EM FACE DOS PRINCIPAIS ACORDOS INTERNACIONAIS
Thaísa Daniel Pereira ................................................................................
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA E CARTA ROGATÓRIA: 
UMA ANÁLISE SOBRE A JURISPRUDÊNCIA DO STJ – ATUALIZADO DE 
ACORDO COM O CPC/2015
Taísa Silva Reque .......................................................................................
A DISPUTA DE PATENTES A PARTIR DO CASO IGB ELETRÔNICA X APPLE
Laura Martins Moura de Oliveira ..............................................................
A PONDERAÇÃO DE DIREITOS NO CASO DOS PNEUS E SEU CONTENCIOSO 
NO DIREITO INTERNACIONAL
Caroline Valois Santos ...............................................................................
OMC E A REGULAMENTAÇÃO DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO (PROEX)
Fernando Nelson Fontoura ........................................................................
12
143
159
179
207
PARTE 3 - DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
TEORIA DA SOBERANIA CLÁSSICA A CAMINHO DO ESTADO CONSTITU-
CIONAL COOPERATIVO E AS MUDANÇAS NO PLANO INTERNACIONAL
Andrezza Coelho Maestri ..........................................................................TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL: CARACTERÍSTICAS, FUNCIONALIDA-
DES E JURISDIÇÃO
Fernanda Silva Bombonati ........................................................................
DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO COMO EXPRESSÃO DO JUS CO-
GENS INTERNACIONAL
Fernanda de Miranda S. C. Abreu ..............................................................
DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: A ORIGEM DA 
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS POR DANOS AO MEIO 
AMBIENTE NO CASO FUNDIÇÃO EM TRAIL
Thiago Jello Prego .....................................................................................
13
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
A IMIGRAÇÃO ILEGAL E OS DIREITOS DOS ESTRANGEIROS:
O BRASIL COMO DESTINO IMIGRANTE DA AMÉRICA LATINA NO SÉCULO XXI
Isadora Barretto de Almeida1
SUMÁRIO: Considerações Iniciais. 1. Contextualização Histórica e Temática. 
2. Da América Latina para o Brasil. 2.1. O Trabalho Análogo à Escravidão e 
os Bolivianos 2.2. A Rota do Acre e a Entrada dos Haitianos. 3. O Estatuto do 
Estrangeiro e os Direitos dos Imigrantes. Conclusão. Referências. 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Qualquer simples análise dos periódicos evidencia o crescimento de 
questões diplomáticas envolvendo a imigração ilegal no Brasil. Antes, o país 
que emigrava milhares de brasileiros para os Estados Unidos e Europa passou, 
nos últimos quinze anos, a ser um polo atrativo de imigração. São muitos os 
casos de grupos ilegais e/ou de refugiados vindos, principalmente, da China, 
Oriente Médio, África e América Latina, que enxergam no Brasil mais do que 
uma oportunidade de trabalho: uma oportunidade de sobrevivência.
No decorrer deste artigo estudar-se-á e analisar-se-á criticamente 
este fenômeno da imigração para o Brasil a partir de diferentes perspectivas, 
começando com uma breve contextualização histórica da problemática, 
passando pelos principais motivos que levam os imigrantes a escolherem o 
Brasil e, por fim, aprofundando a matéria em dois estudos de caso: a exploração 
dos bolivianos pela indústria têxtil e os refugiados do Haiti.
Este artigo também irá estabelecer um paralelo entre o atual Estatuto 
dos Estrangeiros e os fatos sociais, demonstrando que o Brasil ainda tem muito 
para evoluir no que diz respeito aos direitos dos imigrantes.
Este artigo utilizar-se-á de metodologia legislativa e doutrinária para se 
chegar a uma conclusão a respeito dos pontos levantados nesta breve introdução.
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E TEMÁTICA
A globalização encurta distâncias, redefine localizações e cria blocos 
econômicos2. É neste contexto que surge a definição do que seria a migração 
ilegal na contemporaneidade, extraordinariamente conceituada pelo Conselho 
1 Estudante do 2º ano de Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
2 BAENINGUER, Rosana. O Brasil na Rota das Migrações Internacionais Recentes. Disponível em: <http://
www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2003/ju226pg2b.html>. Acesso em 10/06/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
14
Episcopal Latino-Americano (“CELAM”)3:
A globalização faz emergir em nossos povos, novos 
rostos de excluídos: os migrantes, os deslocados 
e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e 
sequestros, os desaparecidos, os meninos e meninas 
vítimas da prostituição, do tráfico de órgãos, 
pornografia, violência ou do trabalho infantil, mulheres 
maltratadas, vítimas da violência, da exclusão e do 
tráfico para a exploração sexual e laboral, os excluídos 
pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem 
na rua das grandes cidades, e tantos outros.
Inserido nesta realidade, o Brasil vivencia todo o tipo de imigração 
ilegal, desde a entrada de asiáticos até o crescente afluxo de latino-americanos 
e refugiados do Oriente Médio. Tal entrada se dá de diversas maneiras e por 
diferentes motivos, mas pode-se ressaltar os crescentes conflitos bélicos, os 
regimes ditatoriais, as catástrofes naturais e a pobreza extrema nos países de 
origem como o pano de fundo dos deslocamentos.
Apesar de o Brasil ainda estar longe de apresentar índices satisfatórios 
de qualidade de vida, o país passou a ser referência em democracia e laicidade 
após a redemocratização de 1988, o que tem sido divulgado internacionalmente. 
Ainda, embora o Brasil não mais demonstre o mesmo crescimento econômico 
dos últimos anos, permanece como um país ofertante de inúmeras possibilidades 
de trabalho, o que o torna a “terra das oportunidades” diante de estrangeiros 
empobrecidos e refugiados. Estes aspectos, aliados ao fato de o País aparecer 
no cenário mundial como especialmente condescendente com seus imigrantes, 
tem atraído um contingente cada vez maior de imigrantes ilegais. 
A verdade é que o Brasil ainda está longe de se organizar neste sentido 
e tem demonstrado inexperiência em lidar com a situação. O que precisamos nos 
perguntar é se temos estrutura para receber adequadamente estes imigrantes, em 
que condições estão vivendo no país, quais funções desempenham e a sua situação 
jurídica diante da legislação interna brasileira e da sociedade internacional. 
No contexto da América Latina, o Brasil figurava até os anos 70 
como uma área de evasão populacional para os países vizinhos, em especial 
para o Paraguai e Argentina4. De forma mais abrangente, até o início dos anos 
3 CELAM. Conselho Episcopal Latino-Americano. Documento de Aparecida – Texto Conclusivo 
da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe. 5ed. Brasília: CNBB/
Paulinas/Paulus, 2008, n. 402, p. 181.
4 BAENINGUER, Rosana. O Brasil na Rota das Migrações Internacionais Recentes. Jornal da 
15
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
2000, brasileiros de todos os estados ainda buscavam melhores oportunidades 
na Europa e nos Estados Unidos. Alguns chegaram a fazer pequenas fortunas 
trabalhando como garçons ou babás, na medida em que a moeda brasileira 
mostrava-se severamente desvalorizada em relação a estes países.
Essa realidade mudou, o Brasil cresceu economicamente, sua moeda 
se estabilizou, e passou a não ser mais tão vantajoso emigrar do Brasil; pelo 
contrário, de forma que somos hoje uma das maiores áreas de recepção 
migratória de latino-americanos, africanos e árabes.
Afora os imigrantes da América Central, especialmente do Haiti, 
quem seguem para o trabalho rural e hortifrutigranjeiro por todo o país, ainda 
há nas grandes cidades a indústria da confecção que, em São Paulo, vem sendo 
administrada por coreanos, que, por sua vez, subcontratam latino-americanos 
(em sua maioria bolivianos, peruanos e colombianos), quase sempre em situação 
irregular e análoga à escravidão. 
Segundo dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (“IBGE”), o crescimento de estrangeiros que vivem em 
terras brasileiras subiu 86,7% em dez anos. Só em 2010, o país abrigava 286.468 
imigrantes internacionais — que vieram de outros países e moravam no Brasil 
há pelo menos cinco anos. Em 2000, esse número era de 143.644 imigrantes. 
Este mesmo estudo revela que os principais destinos dos estrangeiros foram 
São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás5.
No entanto, sabemos que estes números não revelam a triste 
realidade brasileira. Informações do Governo Federal e de Organizações Não-
Governamentais estimam que haja de 60 mil a 300 mil estrangeiros em situação 
irregular no Brasil atualmente, sendo a maioria de latino-americanos, chineses e 
africanos; são os estrangeiros ilegais e refugiados, que não entram nas estatísticas 
oficiais do IBGE. Homens e mulheres em plena idade laboral, que não tem 
acesso nem a condições mínimas de sobrevivência, quanto mais aos direitos 
garantidos pela Lei n. 6.815/1980, que regula a situação dos estrangeiros no 
Brasil e também comumente conhecida como Estatuto do Estrangeiro. Ainda, 
observamos que estes imigrantes tem muita dificuldade para se estabelecer, 
pois além de sofrer as agruras das longas e perigosas viagens, ainda são muitas 
vezesexplorados por aproveitadores e recebidos no Brasil com preconceito, 
intolerância, rejeição e xenofobia. 
Finalmente, este estudo identificou que hoje um dos principais 
problemas do Brasil com relação à imigração ilegal está na fronteira do Acre, 
UNICAMP. N. 226, p. 2.
5 BARROSO, Maurício. Brasil: O Destino dos Novos Imigrantes. Disponível em: <http://geografia.
uol.com.br/geografia/mapas-demografia/46/artigo273480-2.asp>. Acesso em 10/06/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
16
com a entrada incontrolável de haitianos, bem como na exploração massiva de 
bolivianos no Sul/Sudeste. Por isso, este artigo buscará tratar o tema proposto a 
partir da perspectiva destes dois casos concretos.
2. DA AMÉRICA LATINA PARA O BRASIL
É notável que o aumento de imigrantes, pincipalmente ilegais, foi 
muito superior dentre os trabalhadores de países vizinhos ao Brasil. Desde 
2009, triplicou o número de peruanos no Brasil e quase dobrou a quantidade 
de bolivianos e paraguaios. São, em geral, imigrantes com baixa escolaridade 
e pouca qualificação, que se submetem a condições desumanas de trabalho em 
busca de uma condição de vida melhor6. 
Os bolivianos migram, em sua maioria, para a região sul, 
normalmente trabalhando em oficinas de costura e como empregados 
domésticos. Já os peruanos e paraguaios costumam atuar como ambulantes 
e operários na construção civil. Muitos desses imigrantes de origem latina 
tinham como destino preferencial a Espanha, mas desde que este país entrou 
em uma forte crise financeira junto a grande parte da Europa, a Espanha perdeu 
seus atrativos. Além disso, na atual condição econômica espanhola, nem os 
próprios espanhóis estão empregados, quanto mais os imigrantes. O principal 
responsável pela crise de desemprego espanhola foi o setor de construção 
civil: só de 2008 a 2010 quebraram mais de 200 mil empresas do ramo, 
que davam trabalho a 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo dados 
oficiais7. Além disso, seus países natais estão constantemente na iminência de 
crises políticas e econômicas, destacando o Brasil, surpreendemente, como o 
de situação financeira mais estável da região.
Segundo o Ministério da Justiça8, o número de latino-americanos no 
Brasil aumentou por três principais motivos: (i) o boom econômico brasileiro; 
(ii) o acordo de residência do Mercado Comum do Sul (“MERCOSUL”); e (iii) 
a anistia. Afora o primeiro, os outros estão diretamente relacionados à tendência 
do nosso país de facilitar a entrada de estrangeiros, mesmo que ilegalmente. 
O acordo do MERCOSUL ora mencionado autoriza cidadãos do 
MERCOSUL, da Bolívia e do Chile a entrar no Brasil somente com registro 
6 MELLO, Patrícia Campos. Brasil Recebe 57% mais Mão de Obra Estrangeira. Folha de São Paulo, 
de 05/02/2012.
7 INFANTE, Anelise. Crise na Espanha Empurra Imigrantes Latino-Americano para o Brasil. 
Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/06/110622_imigracao_espanha_
brasil_anelise_rw.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
8 MELLO, Patrícia Campos. Brasil Recebe 57% mais Mão de Obra Estrangeira. Folha de São Paulo, 
de 05/02/2012.
17
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
na Polícia Federal e a pedir residência temporária. Já a anistia permite ao 
estrangeiro em situação de clandestinidade requerer residência provisória com 
isenção das penalidades decorrentes de sua situação de estadia irregular no 
país. A própria Lei n.º 6.815/80, já mencionada, prevê a ocorrência de anistia, 
sendo que ela já foi aplicada em quatro oportunidades: em 1981, em 1988, 
em 1998 e em 2009. Só a anistia de 2009, deu a 45 mil imigrantes ilegais 
residência provisória, e 18 mil conseguiram obter residência permanente 
depois de dois anos. Um fator limitador no que concerne à adesão da anistia é 
o excesso de burocracia, além da falta de divulgação e esclarecimentos sobre 
o conteúdo da lei e o custo das taxas9. 
2.1 O TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO E OS BOLIVIANOS
 
Atualmente, não se fala mais em trabalho escravo, tendo em vista 
que ele foi oficialmente abolido com a Lei Áurea. O que consideramos hoje 
é o trabalho análogo ao escravo. Análogo porque se define pelas condições 
desumanas do local de trabalho e exploração da mão de obra, tais como 
alimentação, segurança, jornada excessiva de trabalho, impossibilidade de 
sair e ausência de descanso. Este tipo de situação nunca deixou de existir, e 
sempre foi muito difícil de fiscalizar, principalmente no meio rural, devido 
às proporções continentais do Brasil. Ainda, os principais responsáveis eram, 
e continuam sendo, os poderosos oligarcas ligados à bancada ruralista do 
Congresso Nacional, o, que dificulta sua punição.
Todavia, com o crescimento vertiginoso dos imigrantes ilegais e, 
consequentemente, da exploração de seu trabalho, este tema ganhou um novo 
foco, pois muitos dos estrangeiros, por entrarem no país em situação precária, 
terminam em condições de trabalho sub-humanas. Para solucionar este 
problema, estão sendo feitas diferentes tentativas, mas ainda não houve um 
verdadeiro enfrentamento dessa questão; quando se trata do imigrante, as leis 
não são claras e explícitas, tornando as ações pontuais e ineficazes.
Com certeza hoje é impossível implementar um trabalho efetivo de 
fiscalização para o trabalho escravo que desconsidere a questão do tráfico 
de pessoas. Ainda há situações atenuantes, como a exploração de imigrantes 
ilegais por outros imigrantes ilegais, a exemplo do caso já mencionado entre 
coreanos e bolivianos. Muitos são “atraídos” a condições análogas e induzidos 
a migrar para Brasil sob a promessa de oportunidades melhores de trabalho, 
mas como sabemos, a realidade se mostra muito diferente. 
9 MELLO, Patrícia Campos. Brasil Recebe 57% mais Mão de Obra Estrangeira. Folha de São Paulo, 
de 05/02/2012.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
18
Segundo levantamento do Centro de Apoio ao Imigrante (“CAMI”)10, 
pelo menos 300 mil latino-americanos vivem hoje na cidade de São Paulo, e é 
o centro da capital que dá a dimensão da efervescência do mercado de trabalho 
para estrangeiros no país. Nesse pedaço da cidade concentram-se os imigrantes 
de origem latina que buscam emprego. São centenas de imigrantes, sobretudo 
bolivianos com baixa escolaridade e pouca qualificação, que disputam vagas em 
oficinas de costura. Eles já entram nas oficinas sabendo que serão explorados 
e obrigados a cumprir jornadas de trabalho extenuantes; sabem que hoje os 
brasileiros, sobretudo nas grandes cidades, estão cientes dos seus direitos, e 
não se submetem mais a determinadas condições de trabalho. Sabem também 
que dos seus vencimentos, que já são absolutamente incompatíveis com o piso 
da categoria, serão inconstitucionalmente descontados moradia, alimentação, 
documentação, e outros descontos que nunca findam. 
Por isso, se não trabalharem uma quantidade sobre-humana de horas, 
o que irão receber não será suficiente nem para a sobrevivência. Assim afirma 
Roque Patússi11, Diretor do CAMI:
 
Para quem migra, quanto mais ele produzir mais 
ele ganha, pois o salário é por quantidade de peças 
produzidas. Assim, mesmo que o oficineiro diga para 
trabalhar menos, seguir tal expediente, o funcionário 
dirá ‘ainda tenho disposição para produzir mais’ e 
coisas do gênero. No intuito de produzir o máximo 
possível e receber maior rendimento salarial, até 
porque é desta forma que o mercado têxtil funciona na 
Bolívia e no Brasil, em sua maior parte. 
Assim, o mais importante a ser feito de pronto é trazer ao trabalhador 
em condição análoga, o conhecimento de que, por mais que ele aceite com 
normalidade tais métodos exaustivos de trabalho, eles são desumanos, e 
infringem as leis trabalhistas brasileiras. 
Essa fácil aceitação da exploração por parte dos bolivianos ocorre 
porque boa parte dos que vem trabalhar com a costura no país, trabalha de doze 
a dezoito horas por dia, e dependendo do desempenho podem receber por mês 
de R$500,00 a R$1.500,00, o que é absurdamente superior aoque receberiam 
10 ROLLI, Cláudia. Brasil Precisa Proteger Imigrantes do Trabalho Escravo, diz Relatora da ONU. 
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2012/11/1183463-brasil-precisa-proteger-
imigrantes-do-trabalho-escravo-diz-relatora-da-onu.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
11 TEODORO, Gilmaine; MIRANDA, Angelina. O Trabalho Análogo Atualmente. Disponível 
em: <http://www.boliviacultural.com.br/ver_noticias.php?id=631>. Acesso em 09/08/2013.
19
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
na Bolívia, no mesmo ramo. Até para aquele costureiro imigrante que recebe 
R$500,00 reais, o lucro já é satisfatório, pois com o real valendo três vezes mais 
do que o peso boliviano, dependendo do câmbio o valor pode até triplicar. É 
nesse sentido que afirma a advogada, pesquisadora e voluntária da Pastoral do 
Imigrante, Ruth Camacho12: “se você chegar para algum boliviano que trabalha 
na costura e perguntar se ele quer ser regularizado e trabalhar com carteira 
assinada, boa parte vai responder que não”.
Além disso, aparenta muito mais vantajoso para eles permanecer na 
ilegalidade, pois se forem trabalhar com carteira assinada, fatalmente receberão 
salário mínimo e sofrerão descontos para fins de aposentadoria e fundo de 
garantia, por exemplo.
A realidade é que, enquanto produzem e trabalham, o Estado vê, 
finge que não sabe e não toma nenhuma providência. Mas a partir do momento 
que eles se dão conta de suas condições e começam reivindicar seus direitos, 
são facilmente deportados ao seu país de origem. Assim, é preciso entender 
que a situação do trabalho escravo de imigrantes não diz respeito somente 
ao indivíduo que sai de sua terra para procurar melhores condições de vida, 
mas deve ser encarada como um problema de toda a sociedade brasileira. A 
responsabilidade pela degradação e pelo cerceamento da liberdade também é 
nossa, que admitimos bem diante de nós o desrespeito aos direitos humanos. 
Apesar de ser mais evidente a exploração dos bolivianos por meio 
da indústria têxtil, é cada vez maior o número de bolivianas que vem para o 
Brasil já com a expectativa de trabalhar como empregadas domésticas ou babás, 
em ambientes residenciais. Isso ocorre porque diversos fatores levaram à falta 
de mão-de-obra brasileira para os serviços domésticos, principalmente no que 
concerne à aquisição de direitos por parte da classe. 
As latinas também buscam vagas de cozinheira ou arrumadeira, e seu 
principal diferencial é aceitar dormir no trabalho, pois sabem que são poucas as 
brasileiras que atualmente aceitam passar as noites no trabalho. Elas costumam 
migrar com toda a família, principalmente porque acreditam que o Brasil hoje 
é um lugar muito melhor para criarem seus filhos do que seus países de origem.
2.2 A ROTA DO ACRE E A ENTRADA DOS HAITIANOS
A rota imigratória de haitianos no Acre começou em 2010, quando um 
terremoto devastou o Haiti, deixando 200 mil mortos e milhões de desabrigados. 
Como o Brasil comanda uma Missão de Paz da ONU desde 2004 no Haiti, o Brasil 
12 TEODORO, Gilmaine; MIRANDA, Angelina. O Trabalho Análogo Atualmente. Disponível 
em: <http://www.boliviacultural.com.br/ver_noticias.php?id=631>. Acesso em 09/08/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
20
se entende com uma responsabilidade diplomática diante deste povo e muitos 
haitianos enxergaram na migração para cá uma possibilidade de reconstruir a vida. 
O problema é que nem o Brasil e muito menos o estado do Acre, estão preparados 
para este intenso fluxo de imigrantes ilegais, o que tem motivado uma discussão 
séria sobre a política de imigração brasileira, conhecida pela generosidade e 
solidariedade no acolhimento de estrangeiros que chegam ao país.
A questão é que muitos Estados, principalmente da região Norte, 
não possuem estrutura de apoio para receber esses imigrantes ilegais, o que 
tem gerado uma verdadeira crise social. O crescimento da economia e eventos 
mundiais como as Olimpíadas e a Copa do Mundo vem atraindo imigrantes 
de outros países pobres da América Latina, em uma tendência reforçada pelos 
haitianos, e por isso, pela primeira vez no Brasil, iniciou-se uma discussão 
sobre a restrição da entrada de estrangeiros.
A situação mais grave acontece no Acre, na qual uma reportagem de 
201313 estima que cerca de 1,3 mil refugiados vivam em condições precárias, 
em abrigos improvisados, sem assistência médica ou alimentação adequada, 
aguardando medidas do próprio Estado brasileiro que os encaminhe para 
empregos e para a situação de legalidade. Aqui, eles recebem um “visto 
humanitário”, que permite que consigam uma carteira de trabalho especial para 
serem contratados por empresas de todo o País. 
O problema é que o governo federal brasileiro não possui celeridade 
suficiente para atender o enorme contingente de haitianos que tem cruzado a 
fronteira com o Peru. Assim, eles estão se instalando precariamente em alojamentos 
improvisados e sobrecarregando todas as estruturas das pequeníssimas cidades 
acreanas, como rede de saúde e transporte público. Outro problema trazido pela 
rota haitiana são as redes clandestinas de imigração, nas quais intermediários 
conhecidos como “coiotes” atuam em países vizinhos, como Equador, Peru e 
Bolívia, trazendo estrangeiros para o Brasil. Fato é que esta “crise” envolvendo 
os haitianos no Acre nos mostra apenas que já passou da hora de se discutir 
efetivamente as políticas de imigração, a fim de impedir que a imigração chegue 
ao ponto de provocar impactos econômicos negativos sobre toda a sociedade.
3. O ESTATUTO DO ESTRANGEIRO E OS DIREITOS DOS IMIGRANTES
Ainda hoje, o principal instrumento jurídico responsável por orientar 
a presença de imigrantes no país é a Lei n.º 6.815/1980, originária do período 
13 SALATIEL, José Renato. Imigração no Brasil: Ilegais provocam crise humanitária no Acre. 
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/revisao-de-disciplinas/atualidades/imigracao-no-
brasil-ilegais-provocam-crise-humanitaria-no-acre.htm>. Acesso em 10/06/2013.
21
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
da ditadura militar, também conhecida como “Estatuto do Estrangeiro”. Essa lei 
é considerada contraditória, e até inconstitucional, em vários de seus princípios, 
por estar em dissonância com a Constituição Federal de 1988. Apesar do 
crescente papel do Brasil no cenário internacional e da maior procura do país 
por estrangeiros, a legislação vigente sobre o tema é bastante defasada. O que 
está em vigor atualmente é um Estatuto inspirado no paradigma da segurança 
nacional, que impõe uma série de controles burocráticos e restrições às 
possibilidades de residência no Brasil.
Ao passo que a nossa Constituição Federal, em seu artigo 5º, preconiza 
expressamente que no Brasil, nacionais e estrangeiros, são titulares dos mesmos 
direitos, bem como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 
XIII, expressa que a todos é garantido o direito de migrar, o Estatuto do Estrangeiro 
visa, na verdade, repelir aqueles que buscam no Brasil uma vida melhor. Isso 
porque, por exemplo, o Estatuto afirma que o imigrante pode permanecer 
temporariamente no Brasil, dentre outras condições, como: estudante, turista, 
cientista com visto de trabalho formal e se for um investidor de capital no país 
com um valor acima de U$$ 50.000,00. Para manter-se permanentemente no país, 
o imigrante pode se casar com um brasileiro, ou ter um filho.
As principais críticas à Lei n.º 6.815/80 concentram-se nas restrições 
infundadas que ela estabelece relativas à: permissão para o trabalho, reconhe-
cimento de diplomas estrangeiros, salários e outras condições de emprego, 
acesso aos serviços de saúde, educação e moradia, traba lhadores e migrantes 
mais vulneráveis, como mulheres e crianças. Essa discussão remete à outra 
discussão maior sobre os direitos e garantias fundamentais. A verdade é em 
um país como o Brasil, a legislação contraditória permite que aos estrangeiros 
sejam assegurados tais direitos apenas quando e comoconvier. O imigrante 
ilegal que precisar do Sistema Único de Saúde (“SUS”), por exemplo, estará 
totalmente acuado, podendo, inclusive, sofrer risco de morte ou deportação.
Camila Baraldi14, que estuda as políticas migratórias de países da 
América do Sul, destaca que o país precisa adotar uma política coerente com o 
que defende no exterior:
Hoje diversos problemas já vêm sendo expostos por 
organizações que trabalham com os imigrantes e os 
discursos internacionais do Brasil sobre as políticas 
de imigração do Norte vêm sendo reivindicados como 
parâmetros de ação para as suas próprias políticas. 
14 DELFIN, Rodrigo Borges. O Retrógrado Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://
migramundo.wordpress.com/2012/10/04/>. Acesso em 11/06/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
22
Elas precisam estar de acordo com as garantias de 
direitos humanos a que o Brasil está comprometido 
constitucional e internacionalmente.
Outro instrumento normativo que poderia ser usado para a garantia 
dos direitos dos imigrantes é a Convenção sobre a Proteção dos Direitos dos 
Trabalhadores Migrantes e Membros de Sua Família, aprovada em 18 de 
dezembro de 1990. Depois de uma década de debates na Organização das Nações 
Unidas (“ONU”), a Convenção entrou em vigor em 2003. Esta Convenção 
estabelece normas de tratamento igualitário entre trabalhadores nacionais e 
estrangeiros e atribui direitos humanos fundamentais a todos os trabalhadores 
migrantes, legais ou ilegais15. 
O único problema é que o Brasil ainda não ratificou, muito embora 
sofra desde 1996, quando havia incluído em seu Plano Nacional de Direitos 
Humanos o compromisso com a ratificação, mobilizações para que o tratado 
internacional fosse ratificado. Além de ser o único país do MERCOSUL a não 
integrar o instrumento, das grandes convenções das Nações Unidas esta é a única 
não assinada pelo País. Sobre esta situação, afirma Irmã Rosita16, Presidente do 
Instituto de Migrações e Direitos Humanos:
Os direitos das pessoas não derivam do fato de 
elas pertenceram a um Estado ou outro, mas de 
sua dignidade como humanos. Então não podem 
ser alterados, independentemente de onde estejam. 
Ou seja, a condição migratória não pode privar as 
pessoas do gozo de seus direitos fundamentais. Há 
um conjunto de direitos que não podem ser violados 
pelos Estados, governos, países ou sociedades. 
São inerentes às pessoas e não dependem de onde 
elas estão.
A relatora da ONU para Formas de Escravidão Contemporânea, a advogada 
armênia Gulnara Shahinian17, defendeu em sua passagem pelo País, que o governo 
15 BARBOSA, Beatriz. Brasil é único do Mercosul a não assinar convenção da ONU. Disponível 
em: <http://www.direitos.org.br/>. Acesso em 10/06/2013.
16 BARBOSA, Beatriz. Brasil é único do Mercosul a não assinar convenção da ONU. Disponível 
em: <http://www.direitos.org.br/>. Acesso em 10/06/2013.
17 ROLLI, Cláudia. Brasil Precisa Proteger Imigrantes do Trabalho Escravo, diz Relatora da ONU. 
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2012/11/1183463-brasil-precisa-proteger-
imigrantes-do-trabalho-escravo-diz-relatora-da-onu.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
23
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
brasileiro ratifique a Convenção sobre a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores 
Migrantes e Membros de Sua Família. De acordo com outros também defensores 
dos Direitos Humanos18, o que falta no Brasil hoje é uma agência específica para 
tratar a respeito da imigração, uma agência de imigração que seja desvinculada da 
Polícia Federal e que não tenda a criminalizar os estrangeiros.
Enquanto não assina a Convenção da ONU, é de máxima importância 
que o Brasil passe a adotar políticas favoráveis a migrantes. Há a proposta de 
uma nova Lei de Migrações no País, em substituição à Lei n. 6.815/80, que já 
tramita no Congresso Nacional, mas, de acordo com especialistas19, a proposta 
consegue ser tão retrógrada quanto à lei vigente, estabelecendo, por exemplo, 
um conceito de “imigração seletiva”, em que certos direitos só devem ser 
garantidos a “imigrantes qualificados”. 
Nesse sentido, Irmã Rosita20 também se manifesta acerca da criação 
de uma nova legislação de maneira emblemática:
Cresce no mundo a multidão dos que são impelidos 
ou obrigados a deixar sua região de origem para poder 
sobreviver. No entanto, o imigrante é chamado ou 
rejeitado em um país segundo as necessidades dos 
governos. São tratados como mercadoria. Enquanto 
crescem os tratados de livre comércio, de importação e 
exportação, é muito rara a discussão de tratados entre 
países cujo foco central seja a pessoa humana. Por isso 
o crescimento da liberdade de movimentação dos bens 
de capitais sem a devida prioridade dos seres humanos 
é algo que precisa mudar. Há iniciativas em países 
que tornam a migração um crime. Dão um tratamento 
policial a um fato social. Temos que afastar essa visão.
 
Depreende-se, portanto, que é preciso pensar em uma legislação 
que efetivamente favoreça e garanta os direitos do migrante no contexto 
da integração latino-americana, bem como que coadune com os objetivos 
intrínsecos da Constituição Federal.
18 ROLLI, Cláudia. Brasil Precisa Proteger Imigrantes do Trabalho Escravo, diz Relatora da ONU. 
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2012/11/1183463-brasil-precisa-proteger-
imigrantes-do-trabalho-escravo-diz-relatora-da-onu.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
19 DELFIN, Rodrigo Borges. O Retrógrado Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: <http://
migramundo.wordpress.com/2012/10/04/>. Acesso em 11/06/2013.
20 BARBOSA, Beatriz. Brasil é único do Mercosul a não assinar convenção da ONU. Disponível 
em: <http://www.direitos.org.br/>. Acesso em 10/06/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
24
CONCLUSÃO
A partir de toda a pesquisa científica realizada acerca da temática 
principal, concluiu-se que a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, 
sobretudo do estrangeiro ilegal, ainda é incerta e pautada em uma legislação 
antiga e que não corresponde mais com necessidades de um mundo cada 
vez mais globalizado.
Esta globalização é representada, principalmente, pela conexão em 
que se encontram os Estados, os diversos acordos e tratados internacionais e 
a ascensão do comprometimento dos governos para com sociedade mundial 
como um todo, e não apenas para com seus cidadãos. Os conceitos de soberania 
e cidadania ora estudados nos primeiros anos do curso de Direito, estão em 
constante modificação e o Direito Internacional tem se mostrado cada vez mais 
presente e imprescindível.
Ainda, a presente pesquisa manteve o foco em dois casos específicos 
de imigração ilegal que, atualmente, tomam cada vez mais espaço da mídia e 
demandam um posicionamento efetivo por parte do governo. Tanto a exploração 
dos bolivianos, como a rota de entrada dos haitianos tem trazido diferentes 
preocupações. Embora o primeiro caso esteja atrelado a outros problemas, 
como o trabalho escravo e o tráfico internacional de pessoas, a questão dos 
haitianos é tão séria quanto, tendo em vista que o Brasil se vê diante de um 
dilema diplomático.
Além disso, é evidente que o Brasil não está preparado para receber 
o enorme contingente de imigrantes que vem recebendo na última década, 
de forma que uma série de crises já foram estabelecidas e ainda estão por se 
estabelecer. A crise principal, com certeza, está no fato de que o Estado ainda 
não decidiu que políticas e medidas implementar em relação aos ilegais: deve-
se ser condescendente e arriscar as estruturas econômicas e políticas do Estado, 
ou deve-se seguir a linha dos países ditos de Primeiro Mundo e defender uma 
“imigração seletiva”, desconsiderando por completo os fundamentos dos 
Direitos Internacionais? 
Os legisladores não se manifestaram sobre isso contundentemente. No 
entanto, é certo que a rota migratória mundial está cada vez mais dirigida para o 
Brasil, de forma que este não pode continuar recebendo tantos estrangeiros sem 
o mínimo de organização política.25
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
REFERÊNCIAS
BAENINGUER, Rosana. O Brasil na Rota das Migrações Internacionais 
Recentes.Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/
agosto2003/ju226pg2b.html>. Acesso em 10/06/2013.
BARBOSA, Beatriz. Brasil é único do Mercosul a não assinar convenção da 
ONU. Disponível em: <http://www.direitos.org.br/>. Acesso em 10/06/2013.
BARBOSA, Ricardo Pimentel. Nigerianos clandestinos presos ao desembarcar. 
Pedido de refúgio. Habeas corpus. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 
1321, 12 fev. 2007. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/16746>. 
Acesso em 10/06/2013.
BARROSO, Maurício. Brasil: O destino dos novos imigrantes.Disponível em: 
<http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/46/artigo273480-2.
asp>. Acesso em 10/06/2013.
BORGES DELFIN, Rodrigo. O Retrógrado Estatuto do Estrangeiro. Disponível 
em <http://migramundo.wordpress.com/2012/10/04/>. Acesso em 11/06/2013.
Cresce Mão de Obra estrangeira no Brasil. Disponível em: <http://www.
vistobrasil.com.br/blog/pt_br/2012/04/>. Acesso em 10/06/2013.
DELFIN, Rodrigo Borges. O Retrógrado Estatuto do Estrangeiro. Disponível 
em: <http://migramundo.wordpress.com/2012/10/04/>. Acesso em 11/06/2013.
Estatísticas Migratórias. Disponível em: <http://www.csem.org.br/artigos>. 
Acesso em 11/06/2013.
Fronteiras abertas e Crescimento Econômico atraem milhares de imigrantes 
ilegais. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=3D2F0A3Mrmk>. Visto 
em 10/06/2013.
INFANTE, Anelise. Crise na Espanha Empurra Imigrantes Latino-Americano para 
o Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/06/110622_
imigracao_espanha_brasil_anelise_rw.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
MACEDO, Danilo. CHAGAS, Marcos. Brasil quer Acordo para Controlar 
Imigração Ilegal. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/
brasil-quer-acordo-para-controlar-imigracao-ilegal>. Acesso em 10/06/2013.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
26
MELLO, Patrícia Campos. Brasil Recebe 57% mais Mão de Obra Estrangeira. 
Folha de São Paulo, de 05/02/2012.
MILESI, Rosita; DE ANDRADE, William Cesar. Migrações Internacionais 
no Brasil: Realidades e Desafios Contemporâneos. Disponível em: <http://
www.gritodelosexcluidos.org/media/uploads/migracionesintbr.pdf>. Acesso 
em 10/06/2013.
ROLLI, Cláudia. Brasil Precisa Proteger Imigrantes do Trabalho Escravo, 
diz Relatora da ONU. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
mercado/2012/11/1183463-brasil-precisa-proteger-imigrantes-do-trabalho-
escravo-diz-relatora-da-onu.shtml>. Acesso em 10/06/2013.
SALATIEL, José Renato. Imigração no Brasil: Ilegais provocam crise 
humanitária no Acre. Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/revisao-
de-disciplinas/atualidades/imigracao-no-brasil-ilegais-provocam-crise-
humanitaria-no-acre.htm>. Acesso em 10/06/2013.
TEODORO, Gilmaine. MIRANDA, Angelina. O Trabalho Análogo Atualmente.
Disponível em: <http://www.boliviacultural.com.br/ver_noticias.php?id=631>. 
Acesso em 10/06/2013.
YSHIKIRIYAMA, Anne; TREJO VARGAS, Daniela. A Condição Jurídica 
do Estrangeiro Residente no Brasil. Departamento de Direito da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro. 2005.
27
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
QUADRO LEGAL PARA PROTEGER A MIGRAÇÃO DO HAITI NO PERU E NO 
BRASIL: EXPECTATIVAS E DESVIOS DE REALIDADE
Josycler Aparecida Arana Santos21
Karem Luisa Cardenas Ynfanzón22
SUMÁRIO: Considerações iniciais. 1. Marcos jurídicos universais. 2. Marco 
Jurídico Interamericano. 3. Situação peruana. 4. Situação brasileira. Conclusões. 
Referências.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Após o terremoto ocorrido no Haiti, em 12 de janeiro de 2010, o país 
foi devastado. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (“ONU”), 
“em apenas 35 segundos, uma Nação inteira veio abaixo. Mais de 300 mil 
prédios ruíram, incluíndo quase todas as instituições de governo e a sede das 
Nações Unidas. O terremoto de magnitude 7,2, que deixou mais de 200 mil 
mortos, foi o pior já registrado nas Américas”23.
Em 2015, segundo revelou a Anistia Internacional, a falta de progresso 
na reconstrução do país é clara, porque “de acordo com os dados mais recentes 
(Setembro de 2014), no Haiti permanecem abertas 123 acampamentos para 
pessoas deslocadas internamente, que abriga 85.432 pessoas”24. Nestes campos, 
ainda de acordo com a Anistia Internacional, as condições são terríveis e, como 
prova disso, menciona que “[um] terço das pessoas que vivem neles não têm 
acesso a uma latrina. Cada banheiro é partilhado por uma média de 82 pessoas”25.
Como resultado, e adicionados à situação precária anterior no Haiti 
de anos anteriores, ocorreu nesse país uma grave crise humanitária, sendo 
esta entendida como “uma situação em que existe uma ameaça excepcional 
e generalizada para a vida humana, saúde ou de subsistência”26 Isto levou 
21 Advogada. Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Doutoranda em 
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora da Universidade Federal 
Fluminense.
22 Advogada pela Pontificia Universidade Católica do Peru. Advogada do Ministério das Relações 
Exteriores do Peru.
23 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/
exclusivo-cinco-anos-depois-do-terremoto-que-destruiu-o-haiti-onu-continua-apoiando-
reconstrucao-do-pais/>. Acesso em 07/06/2016.
24 ANISTIA INTERNACIONAL. 15 minutes to leave – Denial of the right to adequate housing in 
post-quake Haiti”. Amnesty International Publications: London, 2015, p. 14.
25 Id. p. 9.
26 ESCOLA DE CULTURA DE PAU. Alerta 2010! Informe sobre conflictos, derechos humanos y 
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
28
a que desde 2010 o número de imigrantes haitianos aumentou exponencialmente, 
tanto para destinos tradicionais, como os Estados Unidos, Canadá, França e 
seus territórios do Caribe; como novos destinos localizados na América do Sul, 
como o Brasil, a Argentina e o Chile, passando em trânsito pelo Equador e Peru 
(países às vezes convertido nos países de destino)27.
Durante esta viagem, infelizmente, imigrantes haitianos estão 
constantemente expostos a vários riscos. Um deles está entrincheirado em 
redes de traficantes de seres humanos28 (ou “coiotes”), que procuram lucrar 
com as necessidades dessas pessoas, exigindo quantias exorbitantes de dinheiro 
para, em seguida, enganá-los e abandoná-los ou até mesmo substraindo seus 
documentos, a fim de exigir mais dinheiro além do que foi acordado. Some-se 
a este fato a questão que, especialmente nos países que exigem visto, eles são 
vítimas de corrupção por parte de agentes do Estado e grupos que forçam-os 
a participar de atividades sub-remuneradas devido à sua impossibilidade para 
trabalhar legalmente29.
No caso do Peru (país de trânsito) e Brasil (país de destino), enquanto 
países limitrofes, ambos têm sido particularmente afectados pela migração 
haitiana ilegal, ainda que de forma diferente. Assim, a fim de encontrar 
soluções duradouras para essa situação e com base em suas respectivas 
particularidades que lhes caracterizam, tanto o Peru como o Brasil têm abordado 
o problema de diferentes maneiras, sempre tentando alinhar-se com as suas 
obrigações internacionais na matéria. Uma dessas formas, como veremos, 
é o uso do instrumento do refúgio para tentar ajudar imigrantes haitianos. 
Assim, começamos por analisar a aplicabilidade desse mecanismo de direito 
internacional no caso da migração haitiana.
1. MARCOS JURÍDICOS UNIVERSAIS
No campo do direito internacional, o instrumento de referência é a 
Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 (“Convenção de 1951”), 
que foi adotada em Genebra, Suíça, em 28 de Julho 1951, no âmbito da 
Organização das Nações Unidas (“ONU”) e que, como o trabalho na Coleção 
de Tratados das Nações Unidas, entrou em vigor em 22 de abril de 1954. Tanto o 
Brasil quanto o Peru são atualmente partes integrantes da referida Convenção30.
construcción de paz. Barcelona:Icaria, 2010, p. 175.
27 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. Migração haitiana para o 
Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 6. Julho de 2014, p. 9. 
28 Id. p. 29. 
29 Id. pp. 96-100.
30 O Brasil ratificou a Convenção de 1951 em 16 de novembro de 1960, enquanto o Peru aderiu 
29
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
Nos termos do artigo 1° da Convenção de 1951, o termo “refugiado” 
se aplica a qualquer pessoa que: 
1) O que tem sido considerado um refugiado 
ao abrigo dos tratados de 12 de Maio de 1926 e 30 
de junho de 1928 ou nos termos das Convenções de 
28 de outubro de 1933 e 10 de Fevereiro de 1938, o 
Protocolo de 14 de setembro 1939 ou da Constituição 
da Organização Internacional dos Refugiados.
[...]
2) Que, como resultado de acontecimentos 
ocorridos antes de 01 de janeiro de 1951 e devido ao 
receio fundado de ser perseguida por motivos de raça, 
religião, nacionalidade, pertença a um determinado 
grupo social ou opinião política, está fora do país de 
sua nacionalidade e não possa ou, em virtude desse 
temor, não está disposto a buscar a proteção desse 
país; ou que, se não tiver nacionalidade e sendo, 
como resultado de tais acontecimentos, fora do país 
de sua residência habitual, não possa ou, em virtude 
desse temor, não quer voltar a ele. 
[...]
Do exposto, se evidencia que tal definição de “refugiado” é muito 
limitada, pois cobrem apenas aqueles com medos fundados de perseguição 
por “acontecimentos ocorridos antes de 01 de janeiro de 1951”; deixando 
desprotegido àqueles com os mesmos medos, mas com fatos ocorridos após essa 
data. Ante esta situação, em 31 de janeiro de 1967, promulgou-se o “Protocolo 
sobre o Estatuto dos Refugiados” (“Protocolo”), o qual, em conformidade com 
o trabalho na Coleção de Tratados das Nações Unidas, entrou em vigor 04 de 
outubro de 1967. Brasil e Peru também são partes integrantes do Protocolo31.
Conforme indicado no preâmbulo deste protocolo, buscou-se resolver 
o problema da temporalidade da Convenção de 1951, dispondo em seu artigo I.1 
da obrigação geral dos Estados Partes de aplicar os artigos 2-34 da Convenção 
1951, um conceito mais extenso para a utilização do conceito de “refugiado”, 
o qual é detalhado abaixo:
em 21 de dezembro de 1964.
31 Como no caso da Convenção de 1951, tanto o Brasil quanto o Peru são parte integrantes do 
Protocolo. O Brasil aderiu em 07 de abril de 1972, enquanto o Peru o fez em° 15 de setembro de 1983.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
30
Artigo I
[...]
2. Para efeitos do presente protocolo, excepto no que 
respeita à aplicação do n.º 3 do presente artigo, o termo 
“refugiado”, qualquer pessoa dentro da definição do 
artigo 1º da Convenção, que será dada por omitidas 
as palavras “como resultado de acontecimentos 
ocorridos antes de 01 de janeiro de 1951 e ...” e as 
palavras “... como resultado de tais eventos” contidas 
no parágrafo 2 da secção a do artigo 1.
Com base no exposto, entende-se que, nos termos do artigo I.10, o 
Protocolo alarga o âmbito dos artigos 2 a 34 da Convenção de 195132. Com isso, 
a nova definição de “refugiado”, juridicamente vinculativo interenacionalmente 
para o Brasil e o para Peru, é a seguinte:
A. [...] o termo refugiado aplica-se a qualquer 
pessoa que:
[...]
2) que, devido ao receio fundado de ser perseguida 
por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertença 
a um determinado grupo social ou opinião política, 
está fora do país de sua nacionalidade e não possa ou, 
em virtude desse temor, não queira beneficiar-se da 
proteção desse país; ou que, se não tiver nacionalidade 
e achado é fora do país de sua residência habitual, não 
possa ou, em virtude desse temor, não quer voltar a 
ele.
[...]
Agora, sob este novo conceito de refugiado, é necessário analisar se 
o conceito é aplicável ao caso particular da migração haitiana realizada após 
o terremoto de 2010. Certamente tal situação não é fácil enquadrável na nova 
definição de “refugiado”. Isto porque, exceto talvez alguns casos, em geral, a 
32 Os artigos 2 a 34 da Convenção de 1951, são relativos às obrigações e direitos concedidos aos 
refugiados. Entre eles estão os seguintes: o dever de aplicar a convenção sem discriminação (artigo 
3º), a igualdade de tratamento concedido aos estrangeiros (artigo 7), o livre acesso aos tribunais 
(artigo 16) e não imposição de sanções penais para a entrada ou presença ilegal (artigo 31), não-
expulsão de refugiados legalmente no seu território (artigo 32), não expulsar ou regressar ao 
território onde a sua vida ou liberdade possam estar ameaçadas.
31
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
explosão de imigração haitiana não ocorre por receio fundado de ser perseguido 
por razões estabelecidas na Convenção de 1951 e nem no Protocolo, mas por 
consequência da grande crise humanitária, econômica e de infraestrutura 
ocorrida após o terremoto de 2010 no Haiti. 
A este respeito, sem prejuízo de uma análise caso a caso, a definição 
internacional de refugiado não se aplicaria ao caso da migração haitiana depois 
de 2010. No entanto, é interessante notar que, em um nível mais amplo do 
direito internacional, especialmente no âmbito dos direitos humanos, existem 
regras legais que o Peru e o Brasil devem ter em conta para abordar a recepção 
da migração haitiana e os problemas em torno deles.
Sem ir mais longe, temos o Pacto Internacional sobre Direitos Civis 
e Políticos (“PIDCP”), que são Estados Partes Brasil e Peru33, e no artigo 2.1, 
estabelece a obrigação dos Estados Partes:
[...] Respeitar e garantir a todos os indivíduos no 
seu território e sujeitos à sua jurisdição os direitos 
reconhecidos no presente Pacto, sem distinção de 
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou 
outra, nacional ou origem, propriedade, nascimento 
ou qualquer outra condição social.
Segundo esta disposição, qualquer Estado não tem apenas uma 
obrigação “para não fazer” (por exemplo, não violar os direitos reconhecidos 
pela PIDCP), mas também a obrigação de “garantir” os direitos das pessoas 
sujeitas à sua jurisdição, tomando medidas para que eles desfrutar plenamente 
desses direitos. A este respeito, o artigo 2.2 do PIDCP estabelece a obrigação 
dos Estados Partes:
[...] Adotar, de acordo com suas normas constitucionais 
e com as disposições do presente Pacto, as medidas 
adequadas para determinar as medidas legislativas ou 
outras que se revelem necessárias para tornar efetivos 
os direitos reconhecidos no presente Pacto34, e já 
que não foram garantidos por legislação ou outras 
medidas.
33 O Brasil aderiu ao PIDCP, em 24 de janeiro de 1992, enquanto o Peru ratificou-o em 28 de 
abril de 1978.
34 Esses direitos incluem o direito o de não ser submetido a “tratamento cruel, desumano e 
degradante”, nos termos do artigo 7 do PIDCP.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
32
Além do PIDCP, também temos o Pacto Internacional sobre Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais (“PIDESC”), na qual o Brasil e o Peru são 
Estados Partes35, que estabelece a obrigação dos Estados Partes:
Artigo 2
1. [...] tomar medidas, individualmente e através 
de assistência e cooperação internacional sobretudo 
económicas e técnicas, para o máximo de seus 
recursos disponíveis alcançar progressivamente, por 
todos os meios adequados, incluindo particularmente 
a adoção medidas legislativas, a plena realização dos 
direitos reconhecidos.
[...] 
3. Os países em desenvolvimento, com o devido 
respeito aos direitos humanos e sua economia 
nacional, podem determinar em que medida garantirão 
os direitos econômicos reconhecidos no presente 
Pacto a pessoas que não sejam seus nacionais.
Entre os principais direitos que o PIDESC reconhece são os seguintes: 
o direito ao trabalho (artigo 6º), direito a um padrão de vida adequado (artigo 
11), que inclui, entre outros, mais especialmente o direito de estar livre da fome; 
e o direito ao mais alto nível possível de saúde física e mental (artigo 12). Tudo 
isto paraser efetivado de forma gradual, de acordo com a sua disponibilidade 
máxima de recursos e na medida do possível em relação aos seus não nacionais.
Estes dois instrumentos internacionais (PIDCP e PIDESC) obrigam-
nos não só analisar os fundamentos da migração haitiana (por receios fundados 
em determinados motivos) com a finalidade de buscar a sua protecção efetiva, 
mas deve aprofundar a própria situação em que estarão durante seu trajeto até o 
Brasil e também ali, inclusive. 
Como vimos no início, muitas vezes imigrantes haitianos enfrentam 
tanto abusos por parte dos chamados “coiotes” quanto por autoridades corruptas, 
bem como condições desumanas de superlotação em locais onde encontram 
refúgio, principalmente por causa de sua situação irregular, tanto no país de 
trânsito e quanto no país de destino. Tal situação certamente gera um dano claro 
e consistente aos seus direitos no âmbito do PIDCP e no PIDESC.
35 O Brasil aderiu ao PIDESC em 24 de junho de 1992, enquanto o Peru ratificou-o em 28 de 
abril de 1978.
33
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
Nesse sentido, mesmo que eles não possam ser classificados como 
“refugiados” com base na Convenção de 1951 ou no Protocolo, é obrigação 
dos Estados tomar medidas concretas e progressivas para garantir os direitos 
reconhecidos pelo PIDCP (tais como aqueles dispostos nos artigos 6° e 7°) e 
PIDESC (consubstanciados nos artigos 6°, 11 e 12), e, assim, alcançar uma 
maior protecção dos imigrantes haitianos.
2. MARCO JURÍDICO INTERAMERICANO 
No âmbito interamericano é interessante analisar alguns instrumentos 
que serviram para caracterizar particularmente a proteção dos refugiados 
na região. Então, em primeiro lugar, há a Declaração de Cartagena sobre 
Refugiados, aprovada em 1984 pelo “Colóquio sobre Proteção Internacional 
de Refugiados na América Central, México e Panamá: problemas jurídicos e 
humanitários”. Apesar de ser uma declaração, este instrumento é de natureza 
não vinculativa (soft law), a sua importância é que, em comparação com as 
preocupações dos países latino-americanos de proteger pessoas em novas 
situações de deslocamento forçado, referida Declaração exortou expandir ainda 
mais definição de refugiado. 
Além disso, com base na importância da cooperação entre diferentes 
sistemas jurídicos (universais e interamericanos36 de direitos humanos, o direito 
humanitário internacional e do direito interno), a Declaração reune uma série de 
melhores práticas para orientar os Estados na região37.
Para os fins deste artigo, vale a pena notar a terceira conclusão da 
Declaração, em que a necessidade de alargar o conceito de refugiado para uso 
na região é reconhecido. Este conceito amplo, para além dos casos previstos 
na Convenção de 1951 e no Protocolo, também considera como refugiados as 
pessoas que fugiram de seus países porque:
[...] A sua vida, segurança ou liberdade foram 
ameaçadas pela violência generalizada, a agressão 
estrangeira, conflitos internos, a violação maciça 
dos direitos humanos ou outras circunstâncias que 
tenham perturbado gravemente a ordem pública.
36 Na América Latina, teve em conta a tradição de asilo e a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos (“CADH”).
37 Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Memória do vigésimo aniversário 
da Declaração de Cartagena sobre Refugiados 1984 - 2004. ACNUR, 1. ed. Editorama: San Jose, 
Costa Rica, 2005, p. 23.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
34
Certamente esta definição proposta de “refugiado” acaba por ser mais 
extensa do que o previsto na Convenção de 1951 e no Protocolo, especialmente 
considerando como razões para a concessão da vida ou a liberdade dos 
indivíduos foram ameaçados por cenários de violência generalizada ou grave 
perturbação da ordem pública, por exemplo.
No entanto, esta definição interamericana de refugiados tem sido 
objeto de interpretação pelos Estados da região na Conferência Internacional 
sobre os Refugiados da América Central, realizada em 1989, na qual se 
produziu os “Princípios e Critérios para a emissão do proteção e assistência 
aos refugiados, repatriados e deslocados na América Latina”. De acordo com 
este último documento, os fundamentos de “outras circunstâncias que tenham 
perturbado gravemente a ordem pública”, deve ser entendida da seguinte forma:
[...] Deve ser o resultado de atos do homem e não 
de desastres naturais. Este conceito inclui distúrbios 
e tensões internas, tais como motins, e atos isoladas 
e esporádicos de violência e outros atos de natureza 
semelhante, desde que perturbem gravemente a 
ordem pública38.
Seguindo esta interpretação no âmbito interamericano poderia mesmo 
ser difícil para se ajustar à situação dos imigrantes haitianos. Considerando 
o seguinte: antes do terremoto, o Haiti era o país mais pobre e mais desigual 
na região, situação crítica que agravou a crise humanitária gerada após o 
terramoto de 2010 (desastres naturais). Agora, um pouco mais de seis anos após 
o terremoto, as consequências são que uma parte significativa do povo haitiano 
migrando em busca de um lugar com melhores condições de vida.
Assim, como relata o Human Rights Watch no seu relatório mundial 
2015 sobre o Haiti, a falta de recursos financeiros e deficiências institucionais 
continuam a dificultar os esforços de seu governo para atender as necessidades 
básicas da sua população; para resolver os problemas de direitos humanos 
(por exemplo, a violência contra as mulheres e as condições de detenção 
desumanas), bem como aliviar a epidemia de cólera que já matou mais de 
8.500 vidas e infectou mais de 700.000 pessoas nos últimos quatro anos. Ele 
também menciona que ainda há uma alta proporção de prisões arbitrárias e 
detenções preventivas prolongadas por policiais, cuja capacidade insuficiente 
para controlar a situação aumenta a insegurança geral no país39.
38 Conferência Internacional sobre Refugiados da América Central. Princípios e Critérios para a 
Protecção e Assistência aos Refugiados, Repatriados e Pessoas Deslocadas na América Latina, p. 11.
39 HUMAN RIGHTS WATCH. World Report 2015: Haiti. Disponível em: <https://www.hrw.org/
35
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
Mas, tais considerações são suficientes para qualificar o povo haitiano 
dentro do amplo conceito de refugiado? Certamente não pode haver uma 
classificação baseada numa situação particular, mas a avaliação irá depender 
da análise de cada caso, para efeitos de ser capazes de dar a cada requerente o 
benefício do estatuto de refugiado que esteja em conformidade com os artigos 
2 a 34 da Convenção de 1951.
No caso em que o Estado determine a não concessão desse estatuto 
de refugiado, os Estados devem não perder de vista a obrigação erga omnes de 
proteger direitos humanos. No âmbito interamericano essa obrigação também é 
refletiva no artigo 1.140 e no artigo 2° da Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos (“CADH”), em relação aos direitos lá reconhecidos, como, por 
exemplo, à vida e à integridade. Com base em tal obrigação aplicada a este caso, 
o Estado (tanto trânsito ou de destino) deve garantir a proteção dos imigrantes 
haitianos, independentemente de qualquer circunstância ou consideração, 
inclusive o status migratório de uma pessoa41, especialmente com o último, 
como indicado pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos (“CIDH”):
[...] Os imigrantes indocumentados ou irregulares 
foram identificados como um grupo em situação de 
vulnerabilidade42, porque eles são os mais expostos 
a violações potenciais ou reais de seus direitos e 
sofrem como resultado de sua situação, um alto nível 
de vulnerabilidade dos seus direitos43.
3. SITUAÇÃO PERUANA
O Peru detém a qualidade de Estado de trânsito da migração haitiana 
para o Brasil44, especificamente por meio das cidades do norte de Tumbes 
es/world-report/2015/country-chapters/268149>. Acesso em 08/05/2016.
40 Nos termos do artigo 1.1, “os Estados Partes comprometem-se a respeitar os direitos e 
liberdades reconhecidosna CADH e assegurar o exercício pleno e livre a todas as pessoas sujeitas 
à sua jurisdição, sem discriminação em razão de raça, cor, sexo, língua , religião, opinião política 
ou outra, de origem nacional ou social”.
41 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condição jurídica e direitos dos 
migrantes indocumentados. Opinião Consultiva OC-18/03, de 17 de setembro de 2003. Série A 
No. 18, par. 106.
42 Id. par. 114.
43 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Familia Pacheco Tineo vs. 
Bolivia. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 25 de noviembre 
de 2013. Serie C No. 272, par. 128.
44 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. Migração haitiana para o 
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
36
e Piura, onde eles são apanhados por coiotes45 e depois cruzam por cidades 
fronteiriças com o Brasil como Madre de Dios e Loreto. Esta situação torna-se 
visível por meio de registros no aumento de entradas, como foi visto entre 2010 
a 2011, período durante o qual passou de 162 para 2.253 registros de entrada, 
sem levar em conta nesses números possíveis entradas informais46.
No entanto, sua passagem pelo Peru não está livre de perigos, porque 
muitos imigrantes sofrem o roubo de seus pertences e documentos47, bem como 
a presença dos conhecidos “coiotes”. A isto, acrescente-se a superlotação em 
que muitas vezes imigrantes haitianos estão em cidades como Iñapari (Mãe de 
Deus), onde mais de 500 imigrantes haitianos foram impedidos de entrar pelo 
fechamento das fronteiras do Brasil48, excedendo a capacidade dos locais de 
refúgio, dando origem a uma grave crise de saúde.
Perante esta situação de clara vulnerabilidade de imigrantes haitianos 
irregulares, o Estado peruano tem enfrentado uma série de dificuldades para 
proteger tais indivíduos, acoplado ao cumprimento de seu dever de proteger 
as suas fronteiras ao evitar a entrada irregular ou deportar imigrantes em 
situação irregular. Com efeito, ambos os deveres jurídicos são válidos no 
campo do direito internacional público; não obstante, quando aplicada, o 
Estado peruano tem que levar em consideração a necessidade de agir em 
conformidade com o princípio pro homine.
Assim, deve-se mencionar que, no início, enquanto Estado de trânsito, 
o Peru não esperava que os imigrantes haitianos permanecessem em seu território. 
A este respeito, ante a onda de imigrantes e a fim de proteger suas fronteiras, em 
janeiro de 2012, o Peru tomou a decisão de reintroduzir a obrigação de visto de 
turista para cidadãos haitianos; para uma estadia máxima de 183 dias49, o que, 
diga-se de passagem, não lhes permitem atividades remuneradas50. 
Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 6. Julho de 2014, p. 1.
45 JORNAL PERU 21. Tráfico Humano: haitianos ilegais que entram no país por máfias. 
Disponível em: ˂http://peru21.pe/actualidad/trafico-humano-haitianos-ilegales-entran-al-
pais-gracias-mafias-2127892>. Acesso em 08/05/2016.
46 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. Migração haitiana para o 
Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 6. Julho de 2014, p. 1.
47 CONECTAS HUMAN RIGHTS. Hearing Casts Light On The Migratory Route From Port-
Au-Prince To Brasileia. Disponível em: ˂http://www.conectas.org/en/actions/foreign-policy/
news/5449-conectas-addresses-haitian-immigration-in-oas>. Acesso em 08/05/2016.
48 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. Migração haitiana para o 
Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 6. Julho de 2014, p. 1.
49 Decreto Supremo No. 001-2012-RE. O Haiti foi excluído da lista de países para os quais Peru 
isentar visto de turista temporário, o mesmo é anexado ao Decreto Supremo No. 23-95-RE.
50 Nos termos do artigo 11 da Lei de Estrangeiros do Peru (Decreto Legislativo n. 703), a 
qualidade de “tourist” se aplica a pessoas que entram no país “sem ânimo deresidência para 
efeitos de passeios ou atividades recreativas ou semelhantes. Eles não estão autorizados a exercer 
37
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
O verdadeiro problema para o Peru surgiu quando, como veremos 
mais tarde, o Brasil parou de admitir a entrada de cidadãos haitianos, impedindo 
a imigração deles para o Brasil, ficando presos nas cidades fronteiriças peruanas. 
Esta situação, aliada ao fato de que a grande maioria não tinha visto de turismo51, 
em vez de ajudar a reduzir a migração efetiva dos cidadãos haitianos52, tem 
contribuído para aumentar o seu nível de vulnerabilidade, posto que ainda 
que fosse impossível entrar, por meio de controles de fronteira habilitados, os 
imigrantes haitianos tiveram de recorrer ainda mais aos serviços dos coiotes53.
Perante esta situação, um pequeno grupo de indivíduos de imigrantes 
haitianos decidiu solicitar o status de “refugiado”54, uma figura regida pela 
Lei dos Refugiados (Lei n. 27.891). Nesta lei, o Peru reconhece os direitos 
e obrigações do status de refugiado em conformidade com os instrumentos 
internacionais que ratificou, como, por exemplo, a Convenção de 1951. 
No entanto, deve notar-se que esta lei não só reflete o conceito universal 
de refugiado (prevista na Convenção de 1951), mas também o conceito de 
refugiado da Declaração de Cartagena55.
A entidade responsável pela resolução de pedidos de reconhecimento 
de refúgio é o Ministério dos Negócios Estrangeiros, por meio de seu Comitê 
Permanente Ad Hoc para os Refugiados. Em particular, é de notar que, 
atividade remunerada”.
51 A respeito de porque um baixo número de cidadãos haitianos solicite formalmente um visto 
peruano, a OIM indica que “[...] Aqueles que tinham ouvido falar dele, eles relataram que o processo 
envolvido cumprir um conjunto de requisitos, em vez caros que não garantia a sua produção, 
como vai executar trámite a a Secção consular da Embaixada do Peru em Santo Domingo, 
República Dominicana. [...]”. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. 
Migração haitiana para o Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 
6. Julho de 2014, p. 32.
52 Em relação à migração de haitianos sem documentação, a OIM disse que, de acordo com a 
abordagem estimativas, esta alcançaria a cifra de 200 por mês (200 entradas e saídas de / para o território 
peruano). ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS IMIGRAÇÕES. Migração haitiana para o 
Brasil: Características, oportunidades e desafios. Cadernos migrantes # 6. Julho de 2014, p. 90.
53 Conforme relatos de policiais de fronteira, precisamente desde janeiro 2012 eles capturaram 
dezenas de “coiotes”. DIÁRIO DEL COMÉRCIO. Casi 600 haitianos ilegales han sido detenidos 
este año. Disponível em: <http://elcomercio.pe/peru/pais/casi-600-haitianos-ilegales-han-sido-
detenidos-este-ano-noticia-1736972>. Acesso em 08/05/2016.
54 De acordo com o artigo 11, alínea h da Lei de Imigração, o status de refugiado é considerado 
“estatuto de imigração”. No entanto, nos termos do artigo 22 da Lei dos Refugiados, “refugiado” 
não é uma categoria de imigração, uma vez que, quando reconhecido como tal, possui o status 
migratório de residente durante um ano. 
55 Artigo 3 da Lei Refugiado, conceitua refugiado como: “b) Uma pessoa que foi forçado a fugir 
do seu país de nacionalidade ou residência habitual por causa da violação maciça dos direitos 
humanos, a agressão estrangeira, conflitos internos, ocupação ou dominação estrangeira; ou por 
causa de eventos perturbar gravemente a ordem pública”.
DIREITO INTERNACIONAL EM ANÁLISE - Volume 5
38
ao aplicar a definição ampla da Declaração de Cartagena, a Comissão seguiu os 
parâmetros interpretativos previstos nos “Princípios e Critérios para a Proteção e 
Assistência aos Refugiados, Repatriados e Pessoas Deslocadas na América Latina” 
acima mencionada. Neste sentido, isso significa que a hipótese de “eventos que 
perturbem gravemente a ordem pública” não é aplicável ao caso do Haiti.
No entanto, tem sido observado que ao realizar uma avaliação 
caso a caso, a Comissão

Outros materiais