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TerritArioEducativo-Medeiros-2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES 
CAMPUS DE CAICÓ 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC 
CURSO DE PEDAGOGIA 
PERÍODO 2017.2 
 
 
 
 
WADJA SOMARA DE MEDEIROS 
 
 
 
 
TERRITÓRIO EDUCATIVO: CONTEXTUALIZANDO O BAIRRO E A 
ESCOLA FREI DAMIÃO EM CAICÓ-RN 
 
 
 
 
 
 
CAICÓ - RN 
2017 
 
 
 
WADJA SOMARA DE MEDEIROS 
 
 
 
 
 
 
TERRITÓRIO EDUCATIVO: CONTEXTUALIZANDO O BAIRRO E A 
ESCOLA FREI DAMIÃO EM CAICÓ-RN 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento de Educação do 
Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do 
rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do 
título de Licenciatura em Pedagogia, sob orientação do Professor 
Dr. Fernando Bomfim Mariana. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
_________________________________________________ 
Professor Dr. Fernando Bomfim Mariana – Orientador 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
_________________________________________________ 
Professora Dra. Tania Cristina Meira Garcia – 1ª Examinadora 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
_________________________________________________ 
Professora Dra. Samantha Lodi-Corrêa – 2ª Examinadora 
Faculdades Integradas Maria Imaculada – Mogi Guaçu-SP 
 
CAICÓ - RN 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa 
Bezerra - - CERES--Caicó 
 
 
Medeiros, Wadja Somara de. 
 Território Educativo: contextualizando o bairro e a escola Frei Damião em 
Caicó-RN / Wadja Somara de Medeiros. - Caicó-RN, 2018. 
 100f.: il. 
 
 Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
Centro de Ensino Superior do Seridó - Campus Caicó, Regular - Licenciatura 
Plena em Pedagogia. 
 Orientador: Profº Dr. Fernando Bomfim Mariana. 
 
 
 1. Território Educativo - Monografia. 2. Frei Damião - Monografia. 3. 
Bairro e Escola - Monografia. I. Mariana, Fernando Bomfim. II. Título. 
 
RN/UF/BS - Caicó CDU 37.035 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A meu saudoso pai, Cícero Filho, que em seu pouco tempo 
de vida conosco, soube me guiar sobre saber ser antes de 
ter sempre me incentivando a conquistar o mundo com 
sabedoria, caráter e humildade. A minha mãe Maria Silva, 
que embora não compreendesse os caminhos da vida 
acadêmica, sempre buscou me apoiar no que fosse 
necessário. Por fim, mas não menos importante, a minha 
querida companheira Tania Maria e a meu querido amigo 
Fernando Bomfim Mariana por sabiamente acolherem e 
acalmarem minhas angústias e temores durante este 
capítulo de minha vida. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a toda a equipe da Escola Municipal Frei Damião que 
carinhosamente sempre me acolheu e prontamente auxiliou em todas as etapas acadêmicas que 
nesta escola tive o privilégio de vivenciar; 
Ao bairro Frei Damião, suas famílias e todas as crianças por seu carinho acolhedor e 
suas significativas contribuições no desenvolvimento deste trabalho; 
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte por meio do Centro de Ensino Superior 
do Seridó em Caicó-RN, por sua excelência em estrutura física, teórica e humana; 
A meu querido amigo e professor Dr. Fernando Bomfim Mariana por sempre estar 
presente e acreditar como um verdadeiro amigo e também por nunca me deixar desistir; 
A então coordenadora do curso de pedagogia e querida professora Dra. Tania Cristina 
Meira Garcia por sempre me inspirar e auxiliar em momentos singulares e decisivos de minha 
vida acadêmica; 
A minha filha, meus irmãos, meus queridos primos e amigos por suportarem meus 
longos discursos e incansáveis debates; 
A Célia Maria de Medeiros e Maria da Luz Nóbrega, minhas queridas amigas e 
companheiras de curso, por sempre acreditarem que podíamos conquistar o mundo e de agora 
em diante, mesmo distante, fazerem parte de mim e de minha vida; 
A professora Dra. Samantha Lodi-Corrêa por mesmo sem me conhecer, pronta e 
carinhosamente aceitar nosso convite como membro da banca examinadora; 
Agradeço a todos os professores que fizeram parte desta história e assim ressignificaram 
positivamente todo o meu conhecimento sobre a vida, a academia e o mundo; 
Ao laboratório LAMPEAR por ter sido minha segunda casa e a seus inúmeros bolsistas 
por terem me proporcionado a mais dinâmica, desafiadora e significativa experiência de 
autogestão e de vida que poderia ter vivido, uma verdadeira lição de valores; 
E por fim, aos colegas de curso e outros cursos, funcionários e gestores que compõem 
o campus CERES-UFRN em Caicó por carinhosa e respeitosamente contribuírem com minha 
formação. A todos e a todas que por longos angustiantes e prazerosos 06 anos me acolheram, 
de verdade, muito obrigada!. Tenham certeza de que sem vocês nada disso seria possível !!!. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É necessário que sejamos sempre cautelosos e sábios ao 
renovar as esperanças, as expectativas e os conhecimentos 
educacionais, pois quando positivos o sucesso logo virá, do 
contrário, todos padeceremos diante do fracasso escolar” 
Wadja Somara de Medeiros 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho monográfico intitulado “Território Educativo: contextualizando o bairro e a escola 
Frei Damião em Caicó-RN” resultou do interesse em investigar particularidades tanto da escola 
quanto do bairro Frei Damião na cidade de Caicó-RN e teve como objetivo, identificar até que 
ponto estes espaços podem ser considerados como sendo territórios educativos. Trata-se de uma 
narrativa constituída e fundamentada através do estudo de caso partindo do relato de 
experiência vivenciado em lócus durante um período de aproximadamente dez anos. Através 
desta metodologia, foi possível identificar peculiaridades ampliando o debate sobre o objeto de 
estudo em questão. Para tanto, elegeu-se a pesquisa de caráter exploratório e qualitativo como 
nortes de observação e coleta de dados fornecidos através das relações cotidianas entre o objeto 
de estudo e a pesquisadora neste espaço. As pesquisas iconográficas, etnográficas e 
bibliográficas estiveram presentes subsidiando as análises metodológicas, técnicas e teóricas 
que deram consistência a compreensão pretendida pelo trabalho. Após os estudos, este trabalho 
monográfico identifica alguns aspectos em que o Território Educativo contempla o bairro e a 
escola Frei Damião na expectativa que este possa ampliar o trabalho docente local bem como 
servir como fonte de pesquisa a todos que por esta temática tenham interesse. 
 
 
Palavras chave: Território Educativo; Frei Damião; Bairro e Escola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09 
1- CAPÍTULO I – TERRITÓRIO EDUCATIVO: ANÁLISES E PERSPECTIVAS........11 
1.1- REGIÃO SERIDÓ................................................................................................... 14 
1.2- CIDADE DE CAICÓ............................................................................................... 17 
1.3- BAIRRO FREI DAMIÃO........................................................................................23 
1.3.1- Localização e História............................................................................................23 
1.3.2- Infraestrutura .........................................................................................................26 
1.3.3- Apontamentos do bairro enquanto comunidade.....................................................33 
1.4- ESCOLA FREI DAMIÃO........................................................................................351.4.1- Localização e História............................................................................................35 
1.4.2- Infraestrutura .........................................................................................................36 
1.4.3- Dinâmicas do trabalho educacional........................................................................41 
2- CAPÍTULO II - ELEMENTOS E DINÂMICAS DO TERRITÓRIO EDUCATIVO...43 
2.1- Trabalho Docente e Precarização..............................................................................44 
2.2- Gestão Democrática..................................................................................................47 
2.3- Políticas Públicas......................................................................................................49 
2.4- Projeto Educativo Alternativo...................................................................................51 
2.5- Dinâmicas do Território Educativo...........................................................................52 
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................58 
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................62 
5- ANEXOS..............................................................................................................................64 
5.1- ANEXO A – Imagens antigas da escola e do bairro Frei Damião..............................65 
5.2- ANEXO B – Imagens de pinturas em tela do lixão e da realidade seridoense............69 
5.3- ANEXO C – Imagens antigas do bairro Frei Damião (acervo de Ione Morais)........71 
6- APÊNDICES....................................................................................................................... 74 
6.1- APÊNDICE A – Fotos atuais do bairro e da escola Frei Damião...............................75 
6.2- APÊNDICE B – Imagem de desenho da planta baixa e quadros demonstrativos da 
Escola Municipal Frei Damião..................................................................................................94 
6.3- APÊNDICE C – O bairro Frei Damião e o CEDUC Caicó........................................97
8 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AFESOL – Incubadora Articulação e Fortalecimento de Empreendimentos Solidários 
 
ASCAMARCA – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Caicó 
 
CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó 
 
EJA – Ensino de Jovens e Adultos 
 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
 
IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 
 
IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte 
 
INICIES – Incubadora de Iniciativas e Empreendimentos Solidários 
 
LAMPEAR – Laboratório Internacional de Movimentos Sociais e Economia Solidária 
 
PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência 
 
PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola 
 
PINCOL – Premoldados Indústria e Comércio Limitada 
 
PPP – Projeto Político Pedagógico 
 
SANTÔRRES S/A – Empresa de peças e serviços para ônibus, vans e caminhões 
 
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem no Comércio 
 
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem na Indústria 
 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
No momento em que nosso país vivencia experiências singulares de injustiças contidas 
no contexto de justiça apregoadas pelas instituições públicas que tentam administrar nosso país, 
nada mais pertinente do que retomamos os debates sociológicos para compreendermos melhor 
por onde tais experiências se instalaram em nossas vidas e por onde estas tentam enveredar na 
conjuntura política atual. 
Durante todo o curso de pedagogia, estive envolvida continuamente em vivencias no 
bairro e na escola Frei Damião. Todas essas vivencias diferem este trabalho dos demais pois 
tratar-se de observações e comparações feitas a partir de trabalhos de campo contínuos e não 
apenas de investigações pontuais como as elaboradas por outros pesquisadores em torno destes 
espaços. 
Este trabalho teve como objetivo inicial traçar um panorama acerca da contextualização 
sobre o bairro e principalmente a escola Frei Damião dentro da compreensão que temos sobre 
Território Educativo, apontando características específicas contidas nestes espaços 
educacionais. 
As metodologias utilizadas para nortear este trabalho foram, não apenas baseadas em 
visitas pontuais, mas numa vivência cotidiana tanto na escola quanto no território educativo 
desde o ano de 2007, na ocasião, a convite para auxiliar voluntariamente em práticas 
pedagógicas da escola. Faz-se importante ressaltar esse diferencial metodológico, pois indica 
outras dinâmicas que por vezes escapam a uma pesquisa restrita a tempos – espaços pontuais. 
Inicialmente, observei através da vivência cotidiana como se estruturam os processos 
decisórios, participativos, colaborativos e sistemáticos da gestão municipal e escolar sobre o 
planejamento educativo local. 
Partindo dessas observações, busquei a base de pesquisa iconográfica como parte 
integrante deste trabalho com a finalidade de compreender nuances territoriais sob o bairro e a 
escola partindo da comparação entre fotos antigas, recentes e de pinturas em tela elaboradas por 
artistas da cidade, estando disponíveis nos anexos e apêndices deste trabalho. 
A pesquisa etnográfica desenvolvida através do olhar do sensível (WHITAKER, 2012) 
envolveu a observação, a descrição e a análise das dinâmicas de interação e comunicação da 
cultura e do comportamento de determinado grupo social descrevendo suas ações cotidianas – 
10 
 
neste caso, o território educativo do bairro Frei Damião – onde o material pode ser observado 
no apêndice deste trabalho. 
Dividida em dois capítulos, este trabalho monográfico apresenta em seu capítulo I 
reflexões acerca de contextualizações do espaço enquanto território educativo e em seu segundo 
capítulo o trabalho apresenta discussões acerca das bases que devem constituir este território. 
No capítulo I, além da contextualização histórica e geográfica da região Seridó e da 
cidade de Caicó-RN, apresentamos a formulação da contextualização desses espaços bem como 
do espaço escolar enquanto território educativo. 
No segundo capítulo abordamos diferentes pontos de vista teóricos os quais fazem parte 
da base de elementos o qual se configura, estrutura e fundamenta o surgimento do conceito 
sobre o termo território educativo. 
Ao se formular a problemática em torno do que se pretende compreender como território 
educativo, esperamos conseguir formular discussões que direcionem a compreensões mais 
consistentes sobre o quanto de território educativo podemos consolidar no bairro e na escola 
Frei Damião em Caicó-RN. 
Após as referências bibliográficas, cujas referências principais ressalto, SINGER 
(2015), BAUMAN (2010), MORAIS (2005), MARIANA (2013), GARCIA (2009), DEMO 
(1994), WHITAKER (2012) e GADOTTI (2005), apresento o material iconográfico e 
etnográfico compilado para a pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1- CAPÍTULO I – TERRITÓRIO EDUCATIVO: ANÁLISES E PERSPECTIVAS 
 
Falar sobre Território Educativo em tempos onde a escola pública atravessa dias de luto 
por ter suas conquistas alcançadas ao longo do tempo cerceadas e reduzidas em condições de 
trabalho e potencialidades, torna-se um debate de suma importância. 
Mas o que seria Território Educativo? Afim de responder a esta pergunta, observa-se o 
conceito com base em teóricos que apesar de partirem de abordagens por vezes distintas, 
concordam que trata-se dos espaços sejam eles públicos ou privados e da maneira pela qual 
estes estão/são compreendidos como parte integrante do e no processo educativo. 
Diante disso, é possível suscitar que o Território Educativo não só é capaz de ampliar 
as perspectivas do trabalho pedagógico, como também deintegrar todos os elementos que 
envolvem o desenvolvimento humano pleno quando o assunto é a educação. Definir objetivos, 
ações e práticas educativas tendo como base a ocupação constante de espaços em torno da 
escola, do bairro e da cidade, partindo de iniciativas próprias e coletivas, sem sombra de dúvidas 
dará visibilidade social ao trabalho docente, tornando-o cada vez mais significativo para 
educandos, suas famílias e a sociedade em geral. 
As diferentes experiências vivenciadas dentro desse processo de ocupação educativa, 
reforçam a compreensão por parte dos envolvidos sobre o sentido político que a ocupação do 
espaço público oferece. Empoderar-se politicamente sobre as potencialidades que existem em 
educar longe dos muros escola e ter consciência que não temos então tanta necessidade deste 
ambiente para educar a si e ao próximo, irá de certo romper com ideologias segregadoras 
projetando os alunos para um novo tipo de transformação social. SINGER (2015), reforça este 
pensamento quando explicita que: 
A educação integral propõe a relação entre os diversos espaços e 
agentes de um território para garantir o desenvolvimento dos 
indivíduos em todas as suas dimensões. Compreende-se que, 
para tão complexa tarefa, faz-se necessária a integração de todos 
os agentes em torno de um projeto que possa criar territórios 
educativos. (SINGER, 2015, p.11) 
 
Ademais, SINGER (2015), destaca que o território enquanto espaço educativo, deve 
priorizar estes requisitos fundamentais: 
 Conta com um fórum intersetorial (poder local, inciativa 
privada e sociedade civil organizada) interdisciplinar 
(educação, saúde, cultura, rede de garantias de direitos, 
12 
 
desenvolvimento local, etc.) e intergeracional (crianças, 
jovens e adultos) dedicado a formular e gerir um plano 
educativo local. 
 Suas escolas desenvolvem projetos políticos-
pedagógicos democráticos (PPPs), alinhados com os 
princípios da educação integral. Elas reconhecem os 
saberes comunitários, envolvem-se com as 
problemáticas locais e promovem a apropriação do 
território. 
 Sua rede sociopedagógica (educação, desenvolvimento 
social, saúde, direitos humanos) cumpre suas tarefas de 
forma integrada, alinhando princípios e construindo 
estratégias comuns para o trabalho. 
 Reconhece e exercita o potencial educativo de seus 
diferentes agentes, ampliando e diversificando as 
oportunidades para todos: um restaurante cede espaço 
para cursos de informática em que adolescentes ensinam 
a idosos; museus desenvolvem programações voltadas 
para públicos comumente alijados desses espaços, como 
crianças pequenas, imigrantes ou deficientes; criam-se 
espaços de cultura geridos pela comunidade em escolas 
públicas; uma praça é revitalizada com intervenções 
criativas dos artistas e depois passa a ser utilizada para 
atividades de skate, malabares, horta, basquete, mostras 
e shows. (SINGER, 2015, p.11-12) 
 
Atrelado a estes requisitos, ainda segundo a autora, estão o conjunto de tecnologias 
sociais que dividas em três etapas, buscam conduzir os envolvidos no território a identificarem 
suas próprias problemáticas compartilhando diretamente de suas participações ativas e 
reflexivas sobre a coleta de informações. A etapa inicial deste processo se daria – segundo 
SINGER (2015) – a partir do conhecimento sobre o território e a sensibilização dos “atores-
chave”, seguida pelo desenvolvimento de ações em parceria entre os agentes dos diversos 
setores e por último, a etapa onde a escola inicia seu desenvolvimento autônomo sobre o 
território o tornando de fato espaço educativo. 
Com isso, observa-se que para que seja possível a consolidação do território enquanto 
território educativo, é necessário algo muito além da formação: a participação ativa de todos os 
que pretendem o constituir. O desenvolvimento pleno da criança e do jovem nesse contexto 
dependerá diretamente dessa participação e como os cidadão serão direcionados a ampliar e 
fortalecer suas compreensões sobre o mundo de forma autônoma. 
Partindo desses elementos e destas etapas, estima-se que então seria possível resgatar 
aspectos sócio culturais e históricos do bairro onde a escola será capaz de conduzir suas práticas 
através de experiências exploratórias em torno de seu território, assim ser possível ampliar as 
13 
 
potencialidades sobre estes ambientes ao redirecionando o trabalho pedagógico de maneira 
prazerosa e significativa para todos. 
Desse modo, ao se compreender como parte da comunidade de aprendizagem, a escola 
pode visar agregar valores a suas finalidades educativas, promovendo formação de jovens 
agentes comunitários vislumbrando iniciativas criativas à integrar a comunidade, a escola e a 
cidade na perspectiva de ser o todo integrado, ou simplesmente, o território educativo. 
Muito se fala sobre comunidade embora muitos não compreendam ou discordem do 
entendimento apregoado a seu sentido. Para que seja possível associar o termo comunidade ao 
conceito sobre Território Educativo acima apresentado, faz necessário compreender se esta é 
parte integrante do território educativo?. 
 Nesse sentido, é importante que os indivíduos inseridos em contextos que se propõem 
a serem reconhecidos enquanto comunidade, se compreendam e identifiquem-se como 
comunidade de aprendizagem dentro do contexto de cidade educadora percebendo portanto, as 
potencialidades educacionais existentes em sua própria comunidade. Entre os tantos espaços de 
aprendizagem é possível destacar ruas, vielas, praças e terrenos baldios como potenciais 
espaços de ocupação pública e extensão tanto dos saberes populares como dos saberes 
curriculares desenvolvidos nas salas de aula. 
TORRES (2003, apud FARIA, 2015) destaca que para que seja possível se constituir 
uma comunidade de aprendizagem, é necessário que esta comtemple um projeto educativo e 
cultural próprio para educar a si própria, suas crianças, seus jovens e adultos de maneira 
solidária e cooperativa com vistas a compreender suas carências e superá-las partindo da 
ressignificação de suas carências em potencialidades para tornar o espaço educativo. 
A cidade educadora neste contexto educativo, se apresenta como não apenas um 
território urbano mas também como um território vivo e intrinsecamente ligado ao 
desenvolvimento pleno sobre o trabalho educacional e pedagógico apresentado por nossas 
escolas. Neste sentido, vale ressaltar a importância em trabalhar coletivamente integrando todos 
os agentes formadores – instituições e parceiros –, em torno de causas comuns em intenções, 
ações e suas finalidades para com o tipo de sociedade que desejamos ter. 
A exemplos concretos sobre espaços físicos que possuem amplas possibilidades de 
atender as expectativas as quais se pretende no território educativo estão praças, parques, 
bibliotecas, museus, casas de cultura, igrejas, conselhos comunitários, galpões desativados, 
14 
 
becos, ruas, árvores, cemitérios, centros administrativos, rios, lagos, lagoas, mar, bares, 
restaurantes, supermercados, bodegas, comércio local, produção e comércio rural, industrias, 
escolas, universidades, companhias militares, enfim, são inúmeros os espaços que podem ser 
utilizados como base integradora do território na perspectiva educativa. 
Nesse sentido, apresento a seguir alguns elementos pertencentes ao Território 
Educativo, sejam aspectos gerais da região do Seridó e da cidade de Caicó destacando a 
localização geográfica, infraestrutura, saúde, educação, entre outros. No tocante ao bairro e a 
escola Frei Damião, apresentarei aspectos específicos relacionados a infraestrutura física e 
social de ambos bem como observações sobre o contexto educativo local. 
 
1.1 REGIÃO SERIDÓ 
 
Localizada ao interior do Estado do rio Grande do Norte, atualmente, dividida 
cartograficamente como Região Seridó Oriental e Região Seridó Ocidental, ambas abrangem 
um total 23 municípios representados atravésdas cidades de Caicó, Acari, Jardim do Seridó, 
Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, São Fernando, Jardim de Piranhas, Serra Negra do Norte, 
Timbaúba dos Batistas, São José do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, 
Florânia, Jucurutu, São João do Sabugi, Ipueira, Cruzeta, Cerro Corá, São Vicente, Lagoa Nova, 
Equador e Tenente Laurentino Cruz, em toda sua extensão territorial tendo como limites 
regionais algumas cidades do Estado da Paraíba. Em sua população, estima o IBGE, que a 
região ultrapassa os 300 mil habitantes de acordo com dados coletados no último censo. 
Nesta parte deste trabalho, de modo geral, discorreremos acerca da Região Seridó como 
um todo, muito embora estejamos focando nosso diálogo mais especificamente em uma parcela 
das demarcações Oriental e Ocidental localizadas ao sul desta região com ênfase na cidade de 
Caicó e nos municípios que anterior e atualmente esta margearam/iam. 
Segundo MORAIS (2005), desde o início de sua fragmentação interna em meados do 
ano de 1835, falar sobre Seridó confundia-se naquela época facilmente com a cidade de Caicó 
– então sua sede urbana. Sua história inicia-se entrecortada por vários rios, sendo estes então, 
palco de inúmeras batalhas entre português, franceses e indígenas, onde teve suas primeiras 
demarcações territoriais durante o processo de colonização de nosso país sendo então à época, 
pertencente à então capitania denominada de Rio Grande ou segundo MORAIS (2005), 
Capitania Real do Rio Grande. 
15 
 
Partindo da demarcação territorial nacional, iniciou-se então à época que compreende o 
período entre os anos de 1687 – 1697, o processo de ocupação interna da então capitania do Rio 
Grande. Nesse período, quando se perdera o valor a vida em detrimento da expansão territorial, 
intensos conflitos entre índios Tapuias e português foram deflagrados em toda a área à qual se 
pretendia ocupar por “estar vazia”: 
Como apresenta MORAIS (2005): 
Transcorrendo pelos séculos XVII e XVIII, a ocupação do Sertão 
foi marcada pela violência dos combates entre colonizadores e 
indígenas. Em sintonia com o espírito colonialista, o desbravador 
de terras partiu do princípio de que esse espaço deveria ser 
povoado, negando o reconhecimento de uma ocupação pré-
existente¹². Aportado na pseudo-imagem de espaço vazio, por 
não está sendo apropriado segundo a racionalidade da política 
portuguesa, o colonizador não mediu esforços para viabilizar o 
seu projeto de ocupação, investindo sobre os nativos uma 
verdadeira caça que resultou em mortes, aprisionamentos e 
domesticação. (MORAIS, 2005, p.60) 
 
Afim de ampliar nosso conhecimento sobre o processo de ocupação que deu origem ao 
Seridó, MORAIS (2005) explica: 
[...], a extensão dos conflitos em termos espaço-temporais e a 
bravura dos índios no combate, apenas retardou a ocupação do 
interior, mas não impediu o processo. Assim, no momento em 
que passou a prevalecer os interesses da ocupação em detrimento 
do modo de vida indígena, a história do Seridó começou a 
inscrever-se sob os marcos da resistência, traço que assumirá 
maior nitidez no curso da formação da sociedade regional. 
Nesse contexto, coloca-se o povoamento do Seridó que somente 
efetivou-se após as guerras dos Bárbaros [...] (MORAIS, 2005, 
p.61) 
 
E assim, sob a ótica da resistência, da política extirpadora do processo de colonização, 
do amplo apoio da igreja católica e a uma concepção mais coerente sobre a origem do termo 
Seridó onde segundo MEDEIROS (1950, p.41 apud MORAIS, 2005) seria a junção de 
vocábulo indígena formado pelas sílabas ceri-toh, referenciando talvez a pouca folhagem 
existente nesta região. Assim, entre batalhas, resistências e sílabas, nasce a formação territorial 
do que hoje conhecemos como Região Seridó ou apenas Região Seridoense – em alusão ao 
“ser” norte-riograndense todos os que no Rio Grande do Norte são nascidos. 
16 
 
A partir do estabelecimento de sua nomenclatura e de sua ocupação, a Região Seridó 
inicia seu processo de desenvolvimento econômico. Em meio a inúmeras adversidades 
territoriais, entre eles o calor escaldante, vegetação espinhosa, solos rochosos e água por vezes 
escassa, os primeiros habitantes da região teve na criação de gado sua atividade econômica 
primária, seguida pelo extrativismo de minérios e cultivo do algodão. 
Diante do crescente processo de globalização e avanço tecnológico mundial, além de 
longos períodos de estiagem, a região seridoense atravessou severos processos de declínio 
econômico tendo que resistir a essas pressões e ao mesmo tempo reestruturar a economia 
regional para que fosse possível sua subsistência. Passado o período de adaptação sob o cultivo 
de novas formas de produção, a região passa a ter vasta diversidade produtiva se destacando 
atualmente como uma das maiores produtoras nacionais de derivados do leite, da agricultura 
familiar e da produção de bordados artesanais, tendo recentemente retomado sua visibilidade 
nacional em extrativismo de minérios e pedras preciosas. 
Nesse contexto, apresento então o cenário geral e atual da região com ralação a sua 
infraestrutura em saúde, educação, lazer, economia e mobilidade urbana. Em poucas palavras é 
possível descrever tais elementos pois apesar de alguns destaques econômicos, a região desde 
sua origem vivencia os desmandos do domínio público em ser político e falhar ao demonstrar 
sua ineficácia quanto qualidade na prestação dos serviços básicos essenciais. 
Com atualmente uma quantidade significativa de mais de 300 mil habitantes, em toda 
sua extensão territorial a região seridoense conta com o apoio de apenas dois hospitais regionais 
de grande porte. Nestes hospitais localizados nas cidades de Caicó e Currais Novos os 
habitantes deveriam receber atendimentos de urgência e emergência, e recebem. No entanto, a 
realidade é de caos, não só os hospitais mas toda a rede de saúde pública da região encontra-se 
abandonada pelo poder público a ponto de faltar luvas cirúrgicas e máscaras de proteção (itens 
básicos na área da medicina), tornando a população refém do serviço privado de saúde de cada 
cidade desta região. 
A estrutura educacional assim como a estrutura da saúde, enfrenta desafios tão 
limitadores quanto os anteriormente destacados. Escolas com parcial ou total infraestrutura 
física limitada ao desenvolvimento pedagógico e educacional são pontos parciais, além desse 
estão a qualificação profissional limitadora, sobrecarga de funções por parte dos profissionais, 
famílias em vulnerabilidade social sem acompanhamento psicossocial e projetos 
governamentais que em pouco favorece o desenvolvimento de crianças e jovens. 
17 
 
 As atividades que envolvem o lazer e a cultura estão a cargo de pequenas áreas verdes 
públicas distribuídas estrategicamente em espaços que direcionam o beneficiamento da 
população mais abastada em toda a região e da forte religiosidade em seus diversos festejos em 
prol da igreja católica e seus padroeiros locais. Além desses pontos, bares, lanchonetes, botecos 
e restaurantes dão o tom de diversão na população regional, alguns quando em épocas de cheias 
advinda das chuvas, funcionam com mais intensidade tornando-se em espaços de lazer e 
confraternizações culturais. 
Desse modo, teatros, cinemas, pontos de cultura, shopping center, museus, parque de 
diversões e praças públicas, ora não existem, ora não comtemplam os critérios de qualidade, 
eficiência e eficácia seja na prestação de serviços, seja na oferta de espaços bem estruturados a 
atender a população de modo geral. 
Apesar de muitos avanços regionais no campo da economia, ainda se é perceptível que 
em vários municípios do Seridó sua produção, seja ela na área que for, se encontra em fase 
embrionária e artesanal. Esse tipo de produção faz com que a região seja desfavorecida diante 
da concorrência de mercado nacional direcionando cada vez mais para que ocorra baixaprocura 
pelos produtos desencadeando o processo de escravização da mão de obra desqualificada e cada 
mais barata. 
A mobilidade urbana da região por sua vez tende a sempre beneficiar apenas locais onde 
há maior fluxo de pessoas ou veículos, estando os veículos sempre a preferência do tráfego e 
dos espaços. Se deslocar entre o munícipios é de grande risco pois sua malha viária está sempre 
danificada onde nesse mesmo sentido, caminha o deslocando dentro das cidades pois o 
crescimento desordenado destas e a inexistência de ordenamento público sobre os passeios, ruas 
e avenidas evidenciam as limitações em mobilidade urbana principalmente quando em contato 
com imenso fluxo de veículos entre as cidades. 
Ressalto por tanto que apesar das inúmeras limitações encontradas no Seridó, esta é uma 
terra de gente forte, resistente, resiliente e acolhedora que com muita criatividade se reinventa 
renovando sua fé para superar as adversidades de um território tão singular e desafiador a 
condição de sobrevivência humana. 
 
1.2 CIDADE DE CAICÓ 
 
A cidade de Caicó localizada na Região Seridoense a exatamente 280 km da capital 
Natal-RN, situa-se no sertão do interior do Estado do Rio Grande do Norte sendo apresentada 
18 
 
em referências municipais o ano de 1788 como de sua fundação, posteriormente o ano de 1868 
como de sua emancipação política enquanto município da Região Seridó. Atualmente 
contabilizam dados do IBGE (2017), estima-se que em território caicoense habita uma 
população maior que 67 mil pessoas distribuídas entre 35 bairros (15 oficiais e 20 apenas com 
denominações) em uma área total de 1.228,583 mil hectares de extensão territorial urbana e 
rural (sua maior parte). 
Ainda segundo dados históricos do IBGE (2017), o nome da cidade até chegar a ser 
conhecida como hoje é, atravessou diversos momentos tendo sido primeiramente nomeada por 
Vila Nova do Príncipe através de alvará expedido no ano de 1748. Seguindo sua ascensão de 
vila à cidade e cidade sede, um decreto no ano 1890 determina que passará à chamar-se de 
Seridó em alusão a grandeza de seu principal rio e ao status agora adquirido. Passados os anos, 
um novo decreto institui a cidade o nome de Caicó referenciando a elementos indígenas e o 
forte a época instalados aqui. 
O novo decreto determinava que esta cidade seria distrito-sede regional em referência 
a divisões administrativas nacionais tendo sua evolução gradativa para a condição de 
município-sede, permanecendo assim desde então até o momento atual por sua condição de ser 
maior quanto aos números em território, habitantes e diversidade econômica. 
Assim como a região, teve sua história marcada por traços e marcos que envolvem a 
ideologia política e a fé apregoada pela igreja católica, Caicó tem em sua história boa parcela 
dos fatos ocorridos aquela época bem como da maneira como hoje encontramos estruturada a 
cidade e a região. 
CASADO (2009) apresenta que a cidade teve sua primeira demarcação territorial 
instituída por volta do ano de 1700 onde logo após o início da então conhecida Guerra dos 
Bárbaros, uma fortificação fora erguida com fins de ocupação territorial e resistência aos povos 
nativos que ali já habitavam a longos tempos. A invasão portuguesa adentrando ao interior dos 
estados, dizimou inúmeras etnias indígenas – neste caso, as pertencentes a região Seridó, 
especialmente as que viviam no entorno do Vale do Açú. O que se sabe é que a vida indígena 
sobrevivente foi em parte domesticada e forçada ao trabalho escravo, a outra parte recusa ao 
trabalho foi condenada a execução fazendo com que todo o legado indígena se desfacelace e 
inviabilizasse o conhecimento sobre sua história e seus descendentes até os dias atuais. 
19 
 
Assim como a região tem sua história marcada por traços e marcos que envolvem a 
ideologia política e a fé apregoada pela igreja católica a cidade também enveredou por este 
caminho e tornou-se referência em aspectos econômicos e culturais da região seridoense. 
Divida entre áreas urbanas e rurais, a cidade de Caicó concentra sua maior parte 
populacional entre os 23 bairros que a cidade comtempla na sua área urbana. Apesar de boa 
parte de seus bairros apresentarem inúmeras limitações quanto a sua infraestrutura, a cidade 
possui um dos melhores índices de desenvolvimento humano municipal (IDHM) do país 
segundo dados do IBGE (2017). 
Até meados do século XX, a principal fonte econômica da cidade de Caicó-RN, 
encontrava-se diretamente ligada à produção agrícola, estando nesta produção o cultivo do 
algodão, a pecuária e a mineração no foco produtivo e entre as atividades maior valia na cidade. 
Reconhecida atualmente como pólo regional produtor de derivados do leite e bordados 
artesanais, conta também com rica culinária derivada de antigas tradições culturais e ainda com 
diversificado comércio local abrangendo diversas opções em produtos e serviços. 
 Pequenas indústrias e comércios que beneficiam e manufaturam materiais, produtos 
químicos e alimentos, bem como benefícios sociais, atividades artesanais informais e o 
funcionalismo público municipal, dão o tom do capital financeiro que gira na cidade. As 
dinâmicas de produção e exportação de bordados, alimentos e utensílios tem garantido a muito 
tempo o subsídio financeiro de inúmeras famílias na cidade de Caicó. 
No entanto, apesar de ter sido beneficiada por sua estratégica localização em relação 
aos demais municípios por ser cidade de passagem para o escoamento das demais produções 
dos municípios vizinhos, a renda per capita entre os moradores desta cidade atualmente é 
inferior a um salário mínimo por habitante/mês, dificultando assim, o acesso bens de consumo 
e serviços não ofertados pelo município. 
Embora a cidade possua significativo potencial para a geração de emprego e renda, 
todo o seu desenvolvimento está atrelado a condições hídricas impressas pela natureza 
distintamente em cada época que se sucedeu estiagens à cidade. Nesse sentido, MORAIS, 
(2005), referência esta relação entre evolução e retração econômica não apenas da região 
seridoense mas também e em especial da cidade de Caicó, como projetadas e desenvolvidas a 
partir das limitadas condições estabelecidas aos habitantes da cidade diante da falta e por vezes 
da escassez de água tanto para o consumo humano como para as demais atividades. 
20 
 
Desse modo, assim como os recursos naturais ofertados pela produção agrícola e seus 
derivados secundários, todos os demais tipos de produtos e serviços são extremamente 
limitados em épocas de estiagem prolongada no Seridó. Em resumo, como filha desta cidade, 
percebo que apesar de não suscitada, a economia caicoense encontrasse estruturada 
primariamente em torno da quantidade de água disponível para o consumo de modo geral, onde 
sua escassez ou reduzida oferta faz com que todos os produtos e serviços que dela necessitam 
ou não, sejam significativamente elevados instalando desequilíbrio financeiro entre bens, 
produtos e serviços ofertados pela cidade. 
A saúde do município de Caicó, apesar dos inúmeros recursos obtidos através de 
provimentos oriundos do Governo Federal, encontra-se em situação de calamidade pública. Os 
hospitais de urgência e emergência em pouco conseguem auxiliar os enfermos pois materiais 
de atendimento básico como luvas de proteção e seringas descartáveis são o mínimo do que 
falta nestes hospitais. O nível de insalubridade dentro destes hospitais – que alerta 
constantemente vigilância sanitária municipal – é tão alta que os mesmos funcionam sob o risco 
de incubarem bactérias difíceis de tratamento. 
Aproveitando a oportunidade do descaso público em relação a saúde, surgem a cada dia 
na cidade de Caicó clínicas médicas com inúmeras especialidades não apenas tratando os 
pacientes que do serviço de saúde necessitam, mas também usufruindo da mais valia sobre este 
trabalho explorandoviolentamente os que dele necessitam cobrando altos valores por sua 
consultoria. 
Assim como a saúde, a educação do município se apresenta em precárias condições. 
Escolas públicas são instaladas de maneira improvisada em pequenas casas, a merenda escolar 
se tornou de má qualidade e em quantidade insuficiente, os materiais e serviços que a secretaria 
de educação deveria fornecer ora não chega ora não serve para o que lhes foi demandado, e por 
último, professores trabalham sobre cargas horárias extenuantes em condições extremamente 
inadequadas e com seus salários defasados, atrasados e sem perspectiva de aposentadorias 
dignas. 
A cultura da cidade de Caicó firma sua base em torno de sua história e sua fé 
apresentando a população mais jovem reiteradas vezes as fases de sua constituição enquanto 
cidade e os elementos que dela fizeram parte. Entre os elementos os quais se estruturam a 
identidade, a história e o sentimento de pertença do povo caicoense estão um marco de 21 
estruturas que compreende a Casa-Forte do Cuó, casarios antigos, capelas, igrejas, praças, o 
21 
 
Mosteiro das Clarissas, o Castelo do Engady, o mercado público, o museu do Seridó, escolas, 
o açude Itans, o poço de Sant’Ana e o CERES/UFRN, as quais apesar de algumas já abatidas 
pelo tempo, envolvem um misto de fé, mitos, lendas e verdades que se ancoram no inconsciente 
e encorajam esse povo a seguir em frente mesmo diante das adversidades impostas pelo sertão 
nordestino. 
Culturalmente desde sua fundação as festividades da cidade sempre envolveram os 
cultos religiosos, a culinária e o consumo de bebidas tradicionais – como as cachaças derivadas 
da cana de açúcar – como itens indispensáveis para a sua realização e sucesso. 
Entre os festejos mais importantes da cidade estão: a Festa de Santana e a Festa do 
Rosário e o Carnaval, sendo inegável a força econômica destes para a cidade. No entanto, vale 
ressaltar que cada um desses festejos atende claramente a um percentual específico da 
população caicoense. 
A igreja católica central – Catedral de Sant’Ana – hoje principal foco turístico da cidade, 
esteve desde a fundação da cidade sempre envolvida em sua evolução onde apesar das 
contradições encontradas em alguns dos princípios que regem a igreja católica com relação a 
sua doutrinação e desempenho político, esta teve singular participação para que sejamos o que 
somos hoje. 
As comemorações da festa de Sant’Ana ocorre sempre entre os dez últimos dias do mês 
do julho e eleva a imagem da santa Senhora Sant’Ana como ícone âncora em torno dos festejos. 
Diversas novenas, leilões e atrativos culturais são instalados nos arredores da igreja com fins 
lucrativos a arrecadação de fundos para as atividades desenvolvidas pela diocese de Caicó. 
Infelizmente, essas atividades estão sempre voltadas para atender o público burguês da cidade, 
pois o requinte glamoroso subentendido em vestimentas entre os visitantes e os elevados custos 
cobrados em bebidas e alimentos vendidos por ali, de certo estão muito além das condições 
financeiras da maior parte da população da cidade – carente, periférica e desprovida de 
oportunidade empregatícia. 
A Festa do Rosário assim como a de Sant’Ana, também possui sua vertente lucrativa 
para a igreja católica, porém, ao contrário da outra festa, esta contempla festejos relacionados 
a resistência de negros em manter seus cultos de origem africana por aqui desde o período 
abolicionista. Conhecidos como Negros do Rosário e também Irmandade do Rosário, uma 
legião de negros reúne-se em torno da santa católica por eles acolhida – Nossa Senhora do 
Rosário – dançam suas danças tradicionais e festejam sua liberdade sempre ao final do mês de 
outubro. Convidada a integrar a igreja católica, a Irmandade e a diocese se uniram e deram 
origem a festa que é conhecida popularmente como a “festa do pobre”, pois pela origem 
22 
 
humilde em torno de seus festejos, acolhe especialmente a massa populacional mais carente da 
cidade, ofertando-lhes condições mais favoráveis em torno dos festejos. 
O carnaval, assim como a Festa de Sant’Ana, atrai milhares de visitantes a nossa cidade. 
Os festejos carnavalescos promovidos pelo poder público e pela iniciativa privada são 
extremamente atrativos, o baixo índice de violência e atrativos culturais acessíveis a todas as 
classes sócias – a exceção das festas em clubes privados – são seus pontos mais positivos. 
Apesar da positividade em torno do setor econômico, o carnaval em Caicó tem gerado 
inúmeros problemas ao longo dos anos. Sempre após o término destes festejos, a cidade fica 
imersa a milhares de toneladas de lixo e sujeira por toda a parte, sua população já adoecida por 
esta sujeira, superlotam os hospitais e postos de saúde durante todo o ano que se seguirá. Além 
dessas questões, temos sempre muitos problemas que derivam das intensas e extensas crises 
hídricas em nossa região, algo significativamente agravado a cada edição carnavalesca em 
nossa cidade deixando a população mais carente sem acesso a água e sem recursos para adquiri-
la pois não fazem parte do ciclo de empresários que lucram com esta festa. 
Entre os elementos socioculturais distribuídos pela cidade destacam-se bares, 
espetinhos, lanchonetes, praças, restaurantes, raros eventos de cunho publicitário e pontuais 
feiras empreendedoras promovidas pelo poder público municipal em parceria com 
empreendimentos privados. 
Analisando a cidade de maneira mais geral, é possível inferir que a cidade está mal 
conservada, suja, insegura, com pouca arborização, acesso à saúde precário e limitado, muitas 
ruas esburacadas e sem pavimentação, calçadas sem acessibilidade, trânsito irresponsável 
priorizando os veículos em detrimento dos pedestres, além de poucos e limitados espaços de 
socialização pública e coletiva – a exemplo de praças públicas, por aqui concentradas apenas 
em torno do centro da cidade e poucos bairros próximos a este. 
Além do risco de acidentes, espaços públicos como as bibliotecas, os museus, o teatro, 
as igrejas e as repartições públicas possuem políticas veladas de acesso limitado quando o 
assunto é o acesso de crianças a estes espaços e isso tem contribuído com que escolas limitem 
as atividades de ensino e pesquisa de seus alunos aos limites dos muros e dependências da 
escola. 
Diante de tantos desafios urbanos, questiono como seria possível uma cidade como esta 
se compreender e consolidar-se enquanto cidade educadora quando MOLL (2007, apud 
FARIA, 2011) apresenta que: 
O conceito de cidade educadora pode e deve alargar nossa 
compreensão de educação, permitindo-nos reinventar a escola no 
23 
 
mesmo movimento que busca reinventar a cidade e, nela, a 
comunidade como lugares de convivência, de diálogo, de 
aprendizagens permanentes, na perspectiva do aprofundamento 
da democracia e da afirmação das liberdades. (MOLL, 2007:12 
apud FARIA, 2011, p.40) 
 
Ou ainda, como seria possível compreender esta cidade como parte integrante da 
comunidade de aprendizagem quando FARIA (2011), destaca que para que seja possível a 
comunidade de aprendizagem se configurar como tal, será necessário não apenas compreender, 
mas transformar o território urbano em um território potencialmente educativo. 
Com isso, ressalto que atualmente são poucos os profissionais da área da educação no 
município de Caicó que corajosamente inserem seus alunos em contato com espaços 
pedagógicos informais e, menos ainda, quando na intensão de ressignificar a cidade enquanto 
território educativo. 
 
1.3 BAIRRO FREI DAMIÃO 
1.3.1 – LOCALIZAÇÃO e HISTÓRIA 
 
Fundado oficialmente através da Lei municipal nº 3.410 de 27 de outubro do ano de 
1992 e sob a denominação de “Conjunto Frei Damião”, o bairro Frei Damião como é conhecido 
na cidade de Caicó e desde então legalizado sob esta Lei, não possuía e ainda não possui – 
segundo a redação do Plano Diretor de Caicó (cap. III, art.55, secção II) apud ARAÚJO (2017, 
p. 25) – os elementos que de fato o constitua como sendo um bairro. 
Localizado as proximidades da BR427, mais precisamente na zona Oeste da cidade de 
Caicó-RN, é considerado parte periférica e uma das mais, se não, a parte populacional mais 
carente da cidade. Segundo dados cedidos pela agente de saúde comunitária local, estima-se 
que o bairro possui atualmente 89 domicílios (com cadastro na sec. de saúde) e outros 28 
domicílios fechados (com cadastro na sec. de infraestrutura) sendo 60% de suas edificações em 
alvenaria, 30% em alvenaria e taipa e 10% em taipa ou espécie de barraco erguido com restos 
de madeira (fotos disponíveis no ANEXO C, imagem nº 1, 2, 3, 4 e 5 e no APÊNDICE A, 
imagens de nº 01 à 20). 
Entre os grupos familiares permanentes e nômades do local, o bairro apresenta em cada 
domicílio a quantidade de 01(uma) a 15(quinze) pessoas/domicílio, contabilizando pouco mais 
que 280 habitantes estando subdivididos entre 01(um) e 03(três) grupos familiares/domicílio. 
Em sua configuração etária o bairro se configura como tendo uma população majoritariamente 
24 
 
jovem quando comparado a outros bairros da cidade de Caicó apresentando por tanto 
aproximadamente 25% de sua população como sendo de crianças com 06 meses a 11 anos de 
idade, 20% de jovens e adolescentes variando entre 12 e 17 anos de idade, 40% formalizada 
por adultos com idade entre 18 e 60 anos e 15% com idosos acima dos 60 anos. 
Segundo relatos de filhos e netos de antigos moradores do bairro (talvez os primeiros 
após os indígenas que habitavam a região), o bairro teve seus primeiros habitantes em meados 
dos anos 80 quando pessoas da família Diniz, Leite e outras famílias se instalaram no local que 
há época ainda era considerado zona rural da cidade de Caicó. 
Em suas proximidades não existiam moradias, apenas pastagens de gado e pequenos 
lotes de terras com produção agrícola que com o passar dos anos, aos poucos outras famílias 
foram instalando-se no local. Entre as famílias que ali aos poucos se alojavam, era perceptível 
sua origem humilde, carente e por vezes desconhecida, mas que ali encontrara refúgio e 
possibilidades de estruturar um novo lar. 
Assim como a cidade, o bairro também crescia e junto com o crescimento e as crises 
geradas pelo declínio do algodão e da pecuária devido as intensas e extensas estiagens, vieram 
problemáticas de ordem política e pública que aos poucos elegeriam o futuro bairro Frei Damião 
– então chamado de comunidade – como o local mais apropriado para o depósito do lixo 
doméstico, comercial, industrial e hospitalar que toda a cidade produzia. 
Relatos orais de moradores apresentam que o fato do bairro – à época ainda considerado 
como uma pequena comunidade – estar se tornando naquele momento em um espaço 
determinado pelo poder público como sendo o depósito de todo o lixo da cidade, não 
incomodava pois se formava um pouco distante das residências e ao mesmo tempo os 
auxiliavam a conseguir seu sustento (fotos disponíveis no ANEXO C, imagem nº 4 e 5). 
Entre os relatos, é perceptível que por estarem na condição de ocupação “irregular” de 
terras públicas e em número considerado irrelevante de habitantes, evitariam de qualquer modo 
se opor ao poder público e assim a convivência entre as pessoas do bairro e o lixão ali sendo 
instalado foi aos poucos se consolidando como fonte de trabalho, renda e sobrevivência para os 
que naquele lugar viviam e ainda vivem. 
Ainda em conformidade com a história oral local, uma curiosidade surge sobre a estátua 
do frade conhecido mundialmente como Frei Damião que se encontra atualmente no bairro. As 
informações dão conta de que a estátua fora ali colocada pelo então deputado estadual Vivaldo 
25 
 
Costa em meados dos anos 90, logo após a “comunidade” ter ganhado status de bairro. A 
referida estátua antes de ser ícone religioso do bairro – apenas do bairro, pois boa parte de seus 
moradores pouco interagem com religiões –, exercia sua função religiosa no pátio da antiga 
Rádio Seridó, talvez em agradecimento do então deputado a visita do Frei a cidades do Sertão 
Norte-rio-grandense. Apesar de ser apenas uma curiosidade relatada e não ser o foco deste 
trabalho, me coloquei a refletir sobre quais seriam as intenções do então deputado ao inserir 
esta estátua naquele lugar? (foto disponível no APÊNDICE A, imagem nº 4). 
As inúmeras dificuldades enfrentadas pela população do bairro com relação a escassez 
de infraestrutura tanto urbana como social, transporte público ou mesmo privado, água, energia 
elétrica, saúde, educação e lazer e oportunidade de trabalho em meio a sociedade caicoense, fez 
emergir entre os moradores a crescente necessidade de utiliza-se do lixão como meio de renda 
e subsistência de suas famílias. 
Nos anos 90 o lixão já era algo consolidado no bairro e cada vez mais crescente era o 
número de adeptos a sua utilização como meio de trabalho e sobrevivência. MORAIS (1999), 
afirma em seus estudos que diversos núcleos comerciais foram disseminados por toda a cidade 
de Caicó na tentativa de suprir, através de atividades trabalhistas informais, necessidades 
oriundas das crises causadas pelo declínio algodoeiro e agropecuário na região seridoense. 
Neste interim, surgem diversos tipos de comércio, entre eles os comércios compradores 
e revendedores de materiais reutilizáveis e recicláveis coletados principalmente no lixão do Frei 
Damião e outros menores à céu aberto espalhados pela cidade – a exemplo do existente até 
recentemente no centro da cidade, em torno do que conhecemos como “Beco da Troca”. 
Apesar dos diversos núcleos comerciais terem sido muito difundidos entre os bairros da 
cidade, a população carente do bairro Frei Damião não foi capaz de estruturar nenhum tipo de 
empreendimento ou atividade comercial no bairro tendo sempre e ainda atualmente que se 
deslocar a outros bairros para conseguir obter diversos produtos e serviços que o bairro Frei 
Damião não possui. 
Todo o material recolhido no lixão do bairro era vendido em outros bairros até que nos 
anos 90, o senhor conhecido no bairro como Bonifácio, instalou o primeiro e ainda única 
atividade comercial empregatícia no bairro iniciando então o processo de compra direta dos 
materiais recicláveis coletados no lixão do bairro. 
26 
 
A instalação do pequeno comércio (foto disponível em APÊNDICE A, imagem nº18) 
facilitou a venda dos materiais coletados pelos moradores do bairro, no entanto, o preço pago 
pelo comprador estava muito distante do desejado ou talvez merecido pelos coletores. O fato 
do baixo valor pago sobre os materiais, explicou o senhor Bonifácio que: “se dava em virtude 
do baixo custo pago pelas empresas que beneficiavam os materiais as quais ele revendia a 
coleta e pelos altos custeios de transporte e armazenagem dos materiais que por vezes, eram 
roubados pelos próprios coletores do bairro que: os vendiam durante o dia e os roubavam a 
noite para revende-lo no dia seguinte”. 
O bairro Frei Damião apesar da resistência de seus moradores em sobreviver com tão 
pouco e dos esforços da escola e de seus parceiros em dar visibilidade social ao bairro, ainda é 
considerado e conhecido por muitos cidadãos caicoenses como sendo a “comunidade Frei 
Damião” e “a favela de Caicó” tendo seus significados associados de maneira pejorativa a 
algumas características sob conceito de favela existentes no bairro e disseminadas 
violentamente pela mídia televisiva acentuando o estigma sobre o bairro na cidade de Caicó. 
A oferta de moradias a baixos custos e poucos questionamentos sobre a origem de 
pessoas que por ali se instalam, ainda tem sido atrativos sedutores para muitos, sendo recorrente 
no bairro a chegada e a permanência de pessoas as quais a origem é desconhecida, sendo 
algumas destas o estopim em estimular e desencadear o aliciamento, a prostituição, o abuso 
infanto-juvenil e o tráficode drogas e entorpecentes dentro de alguns de seus núcleos familiares 
no bairro. No entanto, apesar dos estigmas e problemáticas sociais atrelados ao bairro serem 
em parte verdadeiros, assim como em muitos locais onde existem problemáticas sociais, no 
bairro também residem pessoas que apesar de humildes, são íntegras, idôneas e trabalhadoras, 
sendo por tanto, dignas de respeito e apoio social a sua condição de vida. 
 
1.3.2 – INFRAESTRUTURA: Urbana, Social, Econômica, Educacional e Cultural 
 
Apesar de sua territorialidade ter sido garantida através da lei municipal nº 3.410 – do 
contrário a outros bairros –, o bairro Frei Damião está muito distante de ser exatamente o que 
se pretende a ser um bairro. O passar do tempo e ajustes políticos não foram suficientes para 
que o poder público municipal de fato percebesse o bairro enquanto parte da cidade. 
 Ainda nos dias atuais uma triste realidade assola os moradores daquele lugar pois a 
condição em que vivem é extremante precária, suas limitações se iniciam na condição das 
moradias e transcorrem sobre elementos que envolvem educação, cultura, saúde e lazer. 
27 
 
Ao visitar o bairro facilmente perceberemos suas fragilidades. Logo a entrada constata-
se primeiramente que suas ruas não possuem pavimentação e sua condição e agravada por 
esgotos e fossas à céu aberto por todo o bairro (fotos disponíveis no APÊNDICE A, imagens 
de 01 à 23). 
Empresas que prestam serviços de distribuição de água e energia elétrica desde sempre 
tiveram a qualidade de seu serviço precária no bairro. A limitação na prestação destes serviços 
com relação a qualidade ofertada em parte é justificada devido a uma parcela de seus moradores 
não conseguirem arcar com as custas das faturas da prestação destes serviços, arriscado sua 
liberdade e sua vida ao desregularem as redes de fornecimento fazendo desvios para obterem o 
acesso a estes bens. Desse modo, percebe-se que a condição da população do bairro Frei 
Damião diante da escassez de emprego, renda e serviços públicos essenciais tem se tornado 
cada vez mais limitada e distante do que se almeja por uma população socialmente ativa e 
incluída. 
O lixão apesar de ter sido a alguns anos remanejado do bairro para um pouco mais à 
diante, mais especificamente as margens do Rio Sabugi e a menos de 02 (dois) Km das margens 
da BR 427, deixou impregnado tanto na população caicoense como em parte dos moradores do 
bairro a ideia de que ali ainda é “o lixo da cidade”. 
Essa ideia ainda não desconstruída, faz com rotineiramente pessoas, empresas e os 
próprios moradores continuem a depositar diversos tipos de resíduos tanto na entrada quanto 
ao longo do bairro – parte ainda não habitada –. O poder público municipal por sua vez (segundo 
comentários de moradores do bairro), argumenta que aquela população não necessita de coleta 
de lixo pois já fazem uso deste para seu sustento subentendendo que estes façam uso de todo 
sua produção de lixo doméstico, limitando então, a coleta apenas a ao posto de saúde e a escola 
do bairro. Toda essa realidade de abandono, tem proporcionado aos moradores do bairro 
permanecerem imersos a sujeira e a notórias condições precárias de higiene e saúde. 
A muito tempo a população do bairro deslocava-se a outros bairros quando havia 
necessidade de uso dos serviços de saúde pública. Em parte as promessas feitas por gestões 
municipais anteriores foi cumprida com a recente construção de uma unidade de saúde básica 
no bairro. Apesar de suas instalações serem parcialmente adequadas, os serviços prestados 
deixam a desejar estando distante do serviço de saúde que deveria ser prestado aquela população 
que presencia frequentemente o posto de saúde com suas portas fechadas e sem atendimento. 
28 
 
As condições de saúde do bairro são precárias, para não dizer lastimáveis. A utilização 
de águas não tratadas e o contato dos moradores com resíduos contaminados durante o trabalho 
de coleta dos materiais reciclados, tem provocado diversos tipos de doenças, especialmente as 
que se manifestam através da pele e do intestino. 
Além disso, outro fator chama bastante atenção sobre principalmente a saúde das 
crianças do bairro que possuem famílias trabalhando na coleta dos resíduos recicláveis. Durante 
o processo de coleta várias famílias rotineiramente selecionam alimentos que por algum motivo 
foram descartados no lixo conduzindo-os para suas casas como alimento para seus filhos 
provocando severas infecções gastrointestinais e erupções subcutâneas no corpo destas 
crianças. O que surpreende nesta situação, é a passividade e naturalidade dos pais– que talvez 
seja fruto da pouca informação – quando os profissionais da escola relatam que estes pais 
tranquilamente, mesmo diante da criança doente, afirmam que: “não tem problema comer 
alimento vencido ou meio estragado, é só ferver e botar sal”, referenciando o consumo de 
alimentos processados vencidos e o cozimento de restos de carnes descartados por 
supermercados e frigoríficos no lixão e trazidos para o consumo da família. 
A intensa desigualdade social observada nas regiões periféricas da cidade é ainda mais 
acentuada no bairro. A empresa PINCOL, a recicladora do Sr. Bonifácio e o Matadouro público 
estão instalados no bairro a bastante tempo tendo o bairro recentemente, pouco mais de três 
anos, recebido as instalações da empresa SANTÔRRES S/A e uma distribuidora de leite sem 
identificação em sua entrada. É importante ressaltar que apesar da ideia inicial sobre a 
implementação desses empreendimentos articulados com o poder público tenha sido oferecer 
emprego, renda e melhorias ao bairro, em nada fora atendidos, pois o único empreendimento 
que oferta trabalho e auxilia os moradores do bairro é a recicladora do Sr. Bonifácio através 
deste. 
Além desses empreendimentos, o bairro conta com singulares iniciativas comerciais 
como uma pequena mercearia (já desativada), um precário bar, uma vendinha com revenda de 
carvão mineral e outra com venda de açaí e picolés. Apesar de vários dos moradores serem 
capacitados por cursos ofertados através do SENAI, do SENAC, do município de Caicó e do 
IFRN – como exemplos no bairro tem produtores de doces, salgados, artesãos, músicos em fase 
inicial, costureiras, bordadeiras e mecânicos de bicicleta –, a falta de incentivos financeiros 
públicos ou privados fazem com que estes não consigam exercer seus conhecimentos e 
desenvolver suas habilidades em prol de melhores condições de vida. 
29 
 
A principal fonte de renda dos moradores do bairro Frei Damião (aprox. 80% da renda) 
é originária de benefícios sociais e aposentadorias por invalidez, doenças crônicas e deficiências 
diversas. Em sua renda secundária mais relevante está a coleta de materiais recicláveis e o 
beneficiamento destes que apesar de ser matéria prima abundante, possui pouco beneficiamento 
tanto através da associação como por outros coletores autônomos. 
Assim, diante deste contexto, até o momento não se configurou ações coletivas entre 
produtores e possíveis investidores que promovessem a instalação de empresas ou oficinas que 
inseridas no próprio bairro direcionassem o beneficiamento e a produção de sua ação de 
reciclagem como oportunidade de emprego e renda – tão necessários ao desenvolvimento 
humano das pessoas deste lugar. 
Tornar-se um centro de referência em beneficiamento de materiais reciclados tem sido 
uma solicitação constante dos coletores do bairro que há anos sobrevivem quase que 
exclusivamente da coleta desses materiais. No entanto, apesar dos esforços em torno de sua 
principal fonte econômica, a desvalorização local tem afetado diretamente a venda da coleta e 
a possibilidade de beneficiamento feita pelos coletores. 
Após anos de expectativas, alguns dos moradores do bairro na tentativa de se 
configurarem como comunidade, iniciaram com o apoio da Cáritas Diocesanae o governo 
municipal, a estruturação de uma pequena cooperativa (ASCAMARCA) com fins de coleta, 
separação, armazenagem e venda de materiais reciclados coletados por todos os cooperados. 
Apesar da ASCAMARCA caminhar lentamente, bons frutos aos poucos são colhidos do 
trabalho árduo daquelas pessoas que embora se esforcem para trabalhar coletivamente, tem que 
administrar conflitos internos inevitáveis. Os conflitos ora configurados por ideologias, ora por 
debates sobre mais valia de mão obra trabalhista, fazem com que vários coletores prefiram 
seguir fazendo suas coletas de forma autônoma, pois algo que além dos fatores que geram os 
conflitos muito os incomodam são a longa espera pela venda dos materiais a espera e os baixos 
valores a serem divididos entre todos mesmo que um tenha trabalhado com menos intensidade 
que outros. 
Diante disso, é possível inferir que o incremento proporcionado em termos de 
infraestrutura urbana com relação a saneamento básico, saúde, educação, pavimentação, 
espaços de lazer e a instalação de novas instituições públicas ou privadas com fins de prestação 
de serviço ao bairro, certamente conduziriam este a interligar seus produtos frente as 
articulações com o mercado consumidor. 
30 
 
Para tanto, uma educação socialmente produtiva que se apresente como o eixo que eleva 
a condição da produção comunitária, neste caso de um bairro, a uma condição de identidade 
comunitária, destacando portanto, suas dimensões de crescimento econômico baseados em 
valores e metas envolvidos em princípios de vida que dão significado a sua história devem ser 
constituídos primeiramente por seus membros independentemente da atuação do Estado. 
Nesse ponto, GUTIÉRREZ (2005), afirma que: 
Essa educação socialmente produtiva supõe fazer da educação o 
elemento integrador e aglutinador de todo o processo que garanta 
a esses homens e a esses grupos produtivos chegar à condição de 
atores reais e conscientes dos processos sociais. (GUTIÉRREZ, 
2005, p. 26). 
Nesse sentido, é necessário que a comunidade compreenda todos os processos os quais 
ela deverá apropriar-se para que sua estrutura seja conhecida e reconhecida como legítima por 
todos os seus membros. Ainda neste ponto, é importante salientar o quão importante se faz a 
participação dos grupos produtivos com fins educativos, pois assim será possível a tomada de 
consciência e a transformação de suas realidades em poder produzir, conduzir e gerir sua 
própria educação. 
Compreendendo a comunidade como parte integrante do processo educativo, 
GUTIÉRREZ (2005), define que diante da concepção educativa onde o homem é o gestor de 
seus processos de trabalho, não será possível uma “educação socialmente produtiva” se o 
crescimento e o desenvolvimento da comunidade forem vistos apenas com fins produtivos 
esquecendo da importância sobre a reflexão de suas ações. GUTIÉRREZ (2005), reforça esta 
análise: 
Ao refletir (práxis) sobre casos concretos da problemática 
produtiva e organizativa de cada dia, surgirão gestionáriamente 
as melhores e mais adequadas soluções. O crescimento de sua 
consciência organizativa será, portanto, produto da luta por 
superar seus problemas e aprender em sua práxis e através de 
conflitos que a vida organizativa dá vida à organização e força 
coletiva à vontade coletiva. (GUTIÉRREZ, 2005, p. 29) 
 
Desse modo, analiso que apesar dos esforços, o bairro Frei Damião percorre um 
caminho que, apesar de espinhoso e lento, inicia na formação da ASCAMARCA seus primeiros 
31 
 
ensejos a constituir-se de fato como comunidade, embora esteja claro que a participação dos 
sujeitos na ação socioeducativa deste processo ainda esteja longe de ser uma realidade. 
Inicialmente farei a apresentação geral sobre a educação do bairro, pois é extremamente 
delicado falar de EDUCAÇÃO em um lugar abandonado à própria sorte por quase todos e que 
depende apenas das fagulhas do que uma escola pode lhe oferecer como o que seria a base 
educativa do cidadão para a vida e para o mundo. 
Segundo informações de algumas professoras da escola, cerca de 
20% dos moradores do bairro ora já adultos, ainda se encontram na condição de analfabetos ou 
alfabetizados funcionalmente. Entre as crianças este número é menor, porém, várias destas 
apresentam déficits no desenvolvimento e na aprendizagem escolar ingressando em ciclos 
contínuos de repetência escolar a partir do 3º ano do ensino fundamental até que a idade as 
direcione automaticamente ao Ensino de Jovens e Adultos em outras escolas. 
Durante todos esses anos observando as dinâmicas de desenvolvimento das pessoas que 
residem no bairro, percebi que fora da escola há um tipo de educação entre as relações sociais 
que desperta e ao mesmo tempo incentiva as pessoas a se sobressaírem frente as suas 
dificuldades. Trato aqui de um tipo de competição social a qual não saberia denominar, más 
que não existe dentro da escola, uma competição livre que faz com que uns queiram de algum 
modo, demostrar para os outros de mesma idade que consegue fazer melhor ou com maior 
rapidez o que está sendo proposto seja ao demonstrar maior competência ou melhor habilidade 
com relação ao assunto ou atividade em questão. 
Seja em brincadeiras entre as crianças, em trabalhos artesanais desenvolvidos pelos 
adultos ou mesmo a prestação de algum tipo de serviço mesmo que como forma de apoio, este 
tipo de educação competitiva está sempre presente e de alguma maneira estimula parte dos 
moradores a buscar conhecimentos além dos que o bairro tem a lhes oferecer. 
Falar sobre cultura e lazer diante de um cenário tão distinto quando colocamos a questão 
territorial em foco, de fato é lamentável. O bairro Frei Damião não é a única a enfrentar 
problemas sobre o acesso a bens e serviços públicos na cidade de Caicó, pois outros bairros 
desta cidade enfrentam o mesmo desafio cotidianamente, muito embora o Frei seja diferenciado 
por suas características precariamente singulares e extremamente carente. 
Ter o acesso a esses bens negativado pela má gestão municipal exercida a anos faz com 
que cada vez mais nossas crianças estejam a mercê de pessoas que ofertam as facilidades que a 
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vida do crime pode lhes proporcionar. Negar condições dignas de desenvolvimento social e 
prendê-las em escolas através de programasque prometem a integração mas que em pouco 
avança nesse contexto social, apenas denunciam o quanto abandonada a própria sorte este bairro 
está. 
Nesse sentido, é importante destacar que a escassez de infraestrutura social que envolve 
o bairro, tem provocado insatisfação entre seus moradores e significativa limitação em sua 
qualidade de vida. Os únicos espaços de socialização do bairro são o campo de chão batido com 
seus limites marcados por pedras e duas traves, um precário bar que dispõem de apenas três 
produtos e a escola que aos trancos e barrancos vem aos poucos e lentamente se estruturando. 
A exceção do apoio da escola, das igrejas, parceiros e projetos, não existe no bairro 
quaisquer outro meio que indique a possibilidade de conexão ou diálogo cultural com espaços 
fora do bairro como praças públicas, restaurantes, cinemas, bibliotecas, quadras esportivas, 
museus, entre outros. Sem que haja a conexão seria impossível aos moradores conhecerem e 
terem contato com esses elementos uma vez que o transporte público não chega até o bairro e 
suas condições financeiras não permite que façam uso do que pode ser considerado um capricho 
ou esbanjamento. Toda a infraestrutura social que deveriam fazer parte da estrutura do bairro 
enquanto bairro tornou-se parte do projeto imaginário de sociedade que os prefeitos que já 
passaram tem desta cidade e permanece nos sonhos dos habitantes do bairro Frei Damião em 
poder usufruir de um mínimo de dignidade social. 
Para DEMO (1994, p.16) “No contexto de uma realidade social determinada, a 
intervenção humana é sempre algo secundário, o que leva a assumir que desigualdade social é 
dada e invariante”, ou seja, que as desigualdades sociais não são frutos dos espaços onde estas 
se instalaram, más sim, da maneira pela qual a intervenção humana as constituíram e 
consolidaram histórico e socialmente em meio a fatores favoráveis ou não ao desenvolvimento 
humano enquanto um ser social. 
Partindo desses pressupostos, DEMO (1994), analisa o conceito de pobreza e do “ser 
pobre” como algo concebido de maneira errônea e equivocada, apesar de por vezes ser 
manipulado por e em prol da classe política. Nesse sentido, o autor demostra que ao longo dos 
anos o sentido de “ser pobre” foi construído em torno de manobras políticas sobre as quais se 
é possível identificar a mais valia sobre a falta de conhecimento do conceber sobre o termo por 
parte dos que assim são direcionados a fazer uso verbal desta definição atribuindo por vezes 
valores negativos a sua condição humana. 
33 
 
Nesse ponto, para reforçar DEMO (1994), apresenta a clara distinção entre desigualdade 
social e pobreza: 
Sob o prisma do bem estar social, desigualdade se traduz por 
pobreza. Na linguagem corrente, as autoridades públicas e, 
sobretudo, novos governos, prometem “combater a pobreza”, 
“erradicar a pobreza absoluta”, “acabar com a miséria”, e assim 
por diante. 
Entretanto, pobreza não se restringe ao problema da carência 
material, percebido através da fome sobretudo. Olhando bem as 
coisas, nossa visão comum de pobreza é muito mais “pobre”. De 
um lado ficamos apenas com a manifestação física, material, 
deixando de lado a “pobreza de espírito”. De outro, ignoramos 
aquilo que é marcadamente seu cerne: o fundo político da 
marginalização opressiva. Pobreza é o processo de repressão do 
acesso às vantagens sociais. (DEMO, 1994, p. 19). 
 
A recorrência em discursos persuasivos em torno da pobreza, cada vez mais direciona o 
cunho marginalizado que este se apresenta em discursos políticos manipuladores. É, no mínimo, 
preocupante quando o pobre se compreende como tal apenas por não possuir bens materiais 
quando na verdade, o direito de ascender socialmente lhes foi e é negado a todo instante em 
virtude de suas delimitadas condições educacionais. 
 
1.3.3 APONTAMENTOS DO BAIRRO ENQUANTO COMUNIDADE 
 
Em parte, as condições limitadas em que se vive em alguns bairros da cidade de Caicó, 
é fruto de longos anos de improbidade administrativa. A cada período eleitoral, as gestões 
municipais se alternam, no entanto, famílias originárias de antigas oligarquias ainda perduram 
nos ciclos sobre o poder político na cidade, recaindo então, sobre práticas políticas que vão ao 
encontro de benefícios em torno de minorias mais abastadas. 
Por outro lado, não basta apenas que políticas públicas sejam repensadas e direcionadas 
para fins sociais coletivos. É portanto, necessário que a população busque seus próprios meios 
de organização social para que a articulação entre os territórios, a cidade, o bairro e a escola 
sejam fortalecidos na busca por sua consolidação junto ao espaço de aprendizagem na 
perspectiva de se constituírem de fato, como uma comunidade partindo então dos princípios 
comunitários exigidos para tal constituição. 
Neste ponto, BAUMAN (2003) argumenta que: 
34 
 
Os poderosos e bem sucedidos não podem dispensar com 
facilidade a visão meritocrática do mundo sem afetar seriamente 
o fundamento social do privilégio que prezam e do qual não têm 
intensão de abrir mão. E enquanto essa visão de mundo for 
mantida e considerada o cânone da virtude pública, o princípio 
comunitário do compartilhamento não pode ser aceito. [...]. Se 
qualquer coisa além do mérito imputado fosse reconhecida como 
título legítimo às recompensas oferecidas, aquele princípio 
perderia sua maravilhosa capacidade de conferir dignidade ao 
privilégio. Para os “poderosos e bem sucedidos”, o desejo de 
“dignidade, mérito e honra” paradoxalmente exige a negação da 
comunidade. (BAUMAN, 2003, p.57) 
 
Como resultado deste “paradoxo” destacado por BAUMAN (2003), identifica-se que 
enquanto o poder público pertencer a elite classista imperando sobre a maneira desorganizada 
pela qual os cidadãos mais carentes costumam viver e enquanto os moradores desta que se 
pretende ser uma “comunidade” se negarem a esta pertencer, esta elite terá sempre o privilégio 
de se beneficiar de suas ideologias individualistas onde certamente restringirão o bem estar da 
convivência e da coletividade social. 
Nesse sentido, BAUMAN (2003), configura comunidade como sendo: 
A “comunidade”, cujos usos principais são confirmar, pelo poder 
do número, a propriedade da escolha e emprestar parte de sua 
gravidade à identidade a que confere “aprovação social”, deve 
possuir os mesmos traços. Ela deve ser tão fácil de decompor 
como foi fácil de construir. Deve ser e permanecer flexível, 
nunca ultrapassando o nível “até nova ordem” e “enquanto for 
satisfatório”. Sua criação e desmantelamento devem ser 
determinados pelas escolhas feitas pelos que as compõem – por 
suas decisões de firmar ou retirar seu compromisso. Em nenhum 
caso deve o compromisso, uma vez declarado, ser irrevogável: o 
vínculo constituído pelas escolhas jamais deve prejudicar, e 
muito menos impedir, escolhas adicionais e diferentes. O vínculo 
procurado não deve ser vinculante para seus fundadores. 
(BAUMAN, 2003, p. 62) 
 
Percebe-se neste debate que ética e estética caminham inevitavelmente na mesma 
direção, pois embora suas finalidades com relação ao sentido de comunidade sejam distintos, 
ambas se relacionam para que seja possível a ressignificação de uma nova identidade 
comunitária assim seja necessário. 
Em sua atual conjuntura, contata-se no bairro que a propriedade de escolha, identidade 
e aprovação social que requer à constituição de uma comunidade, são limitadas as condições 
35 
 
de manipulação por meio de pessoas consideradas capacitadas – muito embora seja por sua 
oratória enganosa – sendo apenas a compreensão individual e inflexível as marcas deixadas por 
esse tipo de manipulação neste bairro. 
Diante disso, relacionando as nuances entre o real e o imaginário do que se pretende 
entender por “comunidade”, é possível inferir que as possibilidades de se instituir a composição 
do que seria os primeiros passos de uma comunidade no bairro

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