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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA - CT DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA - DARQ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ANA GABRIELA GOMES DE MACÊDO ESCOLA PARA SENTIR Uma alternativa de espaço de aprendizagem para crianças com base no método Montessori Natal, RN 2019 ANA GABRIELA GOMES DE MACÊDO ESCOLA PARA SENTIR: Uma alternativa de espaço de aprendizagem para crianças com base no método Montessori Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do grau de arquiteto e urbanista. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mônica Maria Fernandes de Lima. Natal, RN 2019 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT Macêdo, Ana Gabriela Gomes de. Escola para sentir: uma alternativa de espaço de aprendizagem para crianças com base no método Montessori / Ana Gabriela Gomes de Macêdo. - Natal, RN, 2019. 137f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Mônica Maria Fernandes de Lima. 1. Arquitetura escolar - Monografia. 2. Método Montessori - Monografia. 3. Projeto de arquitetura - Monografia. I. Lima, Mônica Maria Fernandes de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE15 CDU 727.1 ANA GABRIELA GOMES DE MACÊDO ESCOLA PARA SENTIR: Uma alternativa de espaço de aprendizagem para crianças com base no método Montessori Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do grau de arquiteta e urbanista. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mônica Maria Fernandes de Lima. Aprovação em 28 de novembro de 2019. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Mônica Maria Fernandes de Lima Professora Orientadora – UFRN ________________________________________ Luciana de Medeiros Professora– UFRN ________________________________________ Sheila Oliveira de Carvalho Profissional Convidada AGRADECIMENTOS Ao final dessa fase da graduação, além de todos conhecimentos adquiridos, há um grande ganho em relação ao processo pessoal e gostaria de agradecer a todas as pessoas que participaram deste processo. Inicio agradecendo a Deus por toda força que me proporcionou nas fases mais difíceis e por me possibilitar oportunidades únicas, as quais pude crescer como pessoa, abrir minha mente e me libertar. Aos meus pais, vó, vô e madrinha, obrigada pela companhia e suporte, até pelas arengas, mas por nunca desacreditarem da minha capacidade. Aos professores do departamento do curso de Arquitetura e Urbanismo que compartilham seus conhecimentos diariamente com seus alunos. Um obrigada em especial à professora Mônica que tornou possível a realização deste trabalho com suas orientações. Obrigada à Larissa e Kaio que foram pessoas essenciais no início da minha formação, obrigada pela amizade e companhia de vocês. Obrigada a todas as pessoas que conheci na Alemanha durante meu intercambio, em especial à Anna, Karol e Fernando. Ao Bruno, por todo carinho, amor, compreensão e por sua presença mesmo distante. À Winnie, minha deusa, maravilhosa, perfeita, sem defeitos, rainha exuberante, parceira e cerimonialista, por sua cumplicidade, amizade e cuidado, e por me aguentar nas crises, pelas nossas conversas regadas a chá e pão com manteiga. Um obrigada à turma do 2013.2 que me acolheu de braços abertos quando retornei do intercambio. Agradeço em especial aos meninos da graduação, Igor, Matheus, Ruan, Allan, e do surf, Maza. Meus dias sempre foram divertidos ao lado de vocês. Obrigada a minha miga do coração, Sophia, minha companheira de projetos, sua amizade alegra meu coração. Aos professores da minha vida profissional, André e Mariana, e por toda família AM. Minha gratidão eterna a vocês. Aos amigos do vôlei, Igor, Inara, Rafael, Ingrid, Kaline, Barbosa, Raul, Thiago, Tiago, por serem tão valiosos numa época que pensava que não tinha ninguém. Aos meninos do Ciska, Conan, Hammer, Danieow, Xuo, Coiso e Emocore, obrigada pelos momentos de descontração. Gosto muito de vocês, exceto o cona. Às Rapariga da Quinta que acompanharam parte do drama que foi escrever esse trabalho. À Foxy por me ensinar a amar e ser independente. Por fim, ao Rodrigo, que descobri ser o melhor parceiro de vida que eu poderia ter, às aventuras, aos sonhos e aos perrengues que passamos juntos, e todos momentos que vem nos marcando. Que seja AG.RA e sempre. Te amo. RESUMO Apesar de inúmeros estímulos governamentais para educação tornar-se acessível à todas as pessoas, a taxa de evasão e repetência em escolas públicas ainda continua sendo grande. Com o objetivo de propor uma alternativa à educação atual, este trabalho apresenta a elaboração de um anteprojeto de uma instituição para educação infantil e fundamental I e II, que atenda ao público de 1 ano à 12 anos, com base na metodologia idealizada por Maria Montessori. Esse trabalho foi embasado em pesquisas teóricas sob arquitetura escolar, desenvolvimento infantil e educação infanto-juvenil brasileira, além de estudos de referências, parâmetros e condicionantes projetuais. O projeto busca solucionar questões de acessibilidade, conforto, funcionalidade e flexibilidade no ambiente educacional, explorando a ludicidade e estímulos sensoriais na composição do edifício escolar. Palavras-Chave: Arquitetura escolar; Método Montessori; Projeto de Arquitetura. ABSTRACT Despite numerous government incentives for education become accessible to all people, the rate of dropout and repetition in public schools still remains large. In order to propose an alternative to the current education, this Final Graduation Work presents an elaboration of a project of a primary and elementar school, that embrance children from 1 year to 12 years old, using the methodology designed by Maria Montessori. This study was based on theoretical research on school architecture, child development and education of children and youth in Brazil, in addition to studies of references, design parameters and projects constraints. The project seeks to solve issues of accessibility, comfort, functionality and flexibility in the educational environment, exploring the entertainment and sensory stimuli in the composition of the school building. Keywords: Architectural Projects for Schoolhouse; Montessori method; Architectural Design. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Dimensões do corpo da criança para detalhamento do projeto ................ 29 Figura 2 – Exemplo de CIAC no Piauí ....................................................................... 31 Figura 3 - Exemplo de CEU na cidade de Tiradentes ............................................... 32 Figura 4 - Exemplo de CIEP Nelson Rodrigues, em Nova Iguaçu ............................ 32 Figura 5 - Sala de aula de uma escola Waldorf ......................................................... 36 Figura 6 - Exemplo de layout de uma sala de aula Reggio Emilia ............................ 38 Figura 7 - Sala de aula na Casa dei Bambini ............................................................ 40 Figura 8 - Pátio da Casa dei Bambini ........................................................................ 40 Figura 9 - Materiais didáticos para uso do Método Montessori ................................. 42 Figura 10 - Exemplode layout de uma sala de aula do Método Montessori ............. 43 Figura 11 - Escola Montessori em Delft, Holanda. .................................................... 44 Figura 12 - Caixa de madeira no pátio da escola em Delft ........................................ 46 Figura 13 - Evolução durante os anos da escola em Delft ........................................ 46 Figura 14 - Fuji Kindergarten no Japao ..................................................................... 49 Figura 15 - Planta de implantação, Fuji Kindergarten ............................................... 49 Figura 16 - Organização esquemática do pavimento térreo e pavimento superior (deck), Fuji Kindergarten ........................................................................................... 50 Figura 17 - Telhado (deck) de livre circulação, Fuji Kindergarten ............................. 51 Figura 18 - Elementos lúdicos, Fuji Kindergarten ...................................................... 51 Figura 19 - Elementos lúdicos, Fuji Kindergarten ...................................................... 51 Figura 20 - Anexo do edifício principal, Fuji Kindergarten ......................................... 52 Figura 21 - Corrimão transformado em espaço para arena, Fuji Kindergarten ......... 52 Figura 22 - Escola Primária de Gando ...................................................................... 54 Figura 23 - Planta Baixa da Escola Primária de Gando ............................................ 54 Figura 24 - Corte longitudinal e transversal da Escola Primária de Gando ............... 55 Figura 25 - Detalhe das aberturas e esquadrias da Escola Primária de Gando ........ 55 Figura 26 - Biblioteca da Escola Primária de Gando ................................................. 56 Figura 27 - Efeito lumínico no teto da Biblioteca da Escola Primária de Gando........ 56 Figura 28 - Fachada da Meimei Escola, no Rio de Janeiro ....................................... 58 Figura 29 - Planta baixa esquemática do pavimento Térreo ..................................... 59 Figura 30 - Sala da Agrupada I, Meimei Escola. ....................................................... 59 Figura 31 - Planta baixa esquemática do segundo pavimento .................................. 60 Figura 32 - Sala da Agrupada II, Meimei Escola. ...................................................... 61 Figura 33 - Planta baixa esquemática do terceiro pavimento .................................... 61 Figura 34 - Sala da Agrupada III, Meimei Escola. ..................................................... 62 Figura 35 - Sala da Agrupada IV, Meimei Escola. ..................................................... 63 Figura 36 - Sala da Agrupada V, Meimei Escola ....................................................... 64 Figura 37 - Sala de estudo de linguagens, Meimei Escola. ....................................... 64 Figura 38 - Planta baixa esquemática do quarto pavimento...................................... 65 Figura 39 - Espaço Jabutis e Aquário, Meimei Escola. ............................................. 65 Figura 40 - Implantação da Lakeland Montessori Schoolhouse. ............................... 67 file:///F:/1%20DESKTOP/TFG/2019.2/ESCRITO/ESCOLA%20PARA%20SENTIR%2005.docx%23_Toc26128371 file:///F:/1%20DESKTOP/TFG/2019.2/ESCRITO/ESCOLA%20PARA%20SENTIR%2005.docx%23_Toc26128372 file:///F:/1%20DESKTOP/TFG/2019.2/ESCRITO/ESCOLA%20PARA%20SENTIR%2005.docx%23_Toc26128373 file:///F:/1%20DESKTOP/TFG/2019.2/ESCRITO/ESCOLA%20PARA%20SENTIR%2005.docx%23_Toc26128381 Figura 41 - Anexo da Lakeland Montessori Schoolhouse, EUA. ............................... 67 Figura 42 - Planta baixa do edifício ........................................................................... 68 Figura 43 - Sala de aula para nível primary, Lakeland Montessori Schoolhouse. ..... 68 Figura 44 - Sala de aula para nível primary, Lakeland Montessori Schoolhouse. ..... 69 Figura 45 - Mural na parede ...................................................................................... 69 Figura 46 - Bancada e pias acessíveis ...................................................................... 69 Figura 47 - Planta baixa do anexo à Lakeland Montessori Schoolhouse .................. 70 Figura 48 - Sala de aula para nível lower elementary, Lakeland Montessori Schoolhouse. ............................................................................................................. 70 Figura 49 - Cozinha da classe lower elementar. ....................................................... 71 Figura 50 – “Quiet Room” .......................................................................................... 71 Figura 51 – Plantas sobre armários .......................................................................... 71 Figura 52 - Sala de aula para nível upper elementary, Lakeland Montessori Schoolhouse. ............................................................................................................. 72 Figura 53 - Aquário na sala de aula, nível upper elementary. ................................... 72 Figura 54 - Pátio coberto, Lakeland Montessori Schoolhouse. ................................. 73 Figura 55 - Espaço externo com o anexo à esquerda e o edifício original à direita. . 73 Figura 56 - Playground, Lakeland Montessori Schoolhouse ..................................... 74 Figura 57 - Mapa Temático de Escolas e Creches .................................................... 82 Figura 58 - Localização do terreno escolhido para a proposta. ................................. 83 Figura 59 - Predominância do uso do solo no bairro de Lagoa Nova. ....................... 83 Figura 60 - Pontos de ônibus próximo ao terreno ..................................................... 84 Figura 61 - Entorno imediato ao terreno .................................................................... 84 Figura 62 - Dimensões e área do terreno. ................................................................. 85 Figura 63 - Topografia do terreno. ............................................................................. 86 Figura 64 - Fachada Frontal (Av. Jaguarari) .............................................................. 86 Figura 65 - Vista lateral do terreno, na R. Cônego Luiz Wanderley .......................... 87 Figura 66 - Vista posterior do terreno, na R. Estácio de Sá. ..................................... 87 Figura 67 - Zoneamento Bioclimático Brasileiro ........................................................ 88 Figura 68 - Sobreposição da carta solar com o terreno............................................. 89 Figura 69 - Rosa dos ventos para Natal à esquerda e Sobreposicao da rosa dos ventos no terreno. ..................................................................................................... 90 Figura 70 - Macrozoneamento da Cidade do Natal ................................................... 92 Figura 71 - Atração "Journey into Imagination with Figment". ................................... 96 Figura 72 - Sentidos humanos .................................................................................. 97 Figura 73 - Estudo da forma e partido ....................................................................... 98 Figura 74 - Estudo da forma ...................................................................................... 98 Figura 75 - Matriz de Relações ................................................................................. 99 Figura 76 - Matriz de relações do setor administrativo ............................................ 100 Figura 77 - Estudos de implantação. ....................................................................... 101 Figura 78 - Estudo de permeabilidade para ventilação. .......................................... 101 Figura 79 - Dimensões do módulo utilizado ............................................................102 Figura 80 - Evolução da forma e zoneamento ......................................................... 103 Figura 81 - Evolução da forma da fachada.............................................................. 104 Figura 82 - Implantação dos blocos no terreno. ...................................................... 105 Figura 83 - Perspectiva interna da sala da Agrupada 1 .......................................... 115 Figura 84 - Perspectiva interna com painel aberto entre as Agrupadas 1 e 2 ......... 115 Figura 85 - Fachada frontal com formas marcadas ................................................. 116 Figura 86 - Quadra aberta à comunidade................................................................ 116 Figura 87 - Pilar como elemento de proteção .......................................................... 117 Figura 88 - Pilares como elementos lúdicos ............................................................ 117 Figura 89 - Identidade Visual das salas................................................................... 119 Figura 90 - Perspectiva da cobertura em policarbonato colorido ............................ 120 Figura 91 - Tambores em forma de frutas do Walt Disney World ............................ 120 Figura 92 - Regenwasserspiel, em Dresden, Alemanha. ........................................ 121 Figura 93 - Elemento lúdico para canalização da água da chuva como efeito sonoro. ................................................................................................................................ 121 Figura 94 - Teste de sombreamento com beiral em aberturas do Bloco 1 .............. 124 Figura 95 - Teste de sombreamento com protetor lateral em aberturas do Bloco 1 124 Figura 96 - Teste de sombreamento com beiral e protetor lateral em aberturas do Bloco 1 .................................................................................................................... 125 Figura 97 - Teste de sombreamento com beiral e protetor lateral em aberturas mais afastadas dos pilares no Bloco 1 ............................................................................. 125 Figura 98 - Teste de sombreamento na abertura da fachada oeste do Bloco 1 ...... 126 Figura 99 - Detalhamento da vaga destinada à pessoas com deficiência ............... 127 LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 1 - Taxas de promoção, repetência, migração para EJA e evasão por série 24 Tabela 2 - Resultado das metas nos anos iniciais do ensino fundamental ............... 24 Tabela 3 - Resultado das metas nos anos finais do ensino fundamental .................. 25 Tabela 4 - Estatura média por idade e proporções de dimensões para detalhamento do projeto correspondente à figura 01 ....................................................................... 29 Tabela 5 –Características e elementos a serem incorporados e evitados ................ 53 Tabela 6 - Características e elementos a serem incorporados ................................. 57 Tabela 7 - Características e Elementos a serem incorporados e evitados com base no estudo direto da Meimei Escola. .......................................................................... 66 Tabela 8 - Características e elementos a serem incorporados e evitados com base no estudo direto da Lakeland Montessori Schoolhouse. ........................................... 74 Tabela 9 - Recuos para o bairro de Lagoa Nova. ...................................................... 92 Tabela 10 - Relação de consumo por uso da edificação ......................................... 128 Quadro 1 - Resumo de diretrizes com base no referencial teórico analisado ........... 75 Quadro 2 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento. ............................. 78 Quadro 3 - Síntese de Parâmetros de Projeto ........................................................ 109 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS E QUADROS INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 1. A DIVERSÃO DO APRENDER ............................................................................. 17 1.1 O Desenvolvimento Infantil........................................................................... 17 1.2 A Educação Infanto-Juvenil no Brasil .............................................................. 21 1.3 Arquitetura Escolar .......................................................................................... 25 1.4 Projetos Padrões ............................................................................................. 30 1.5 O espaço definido pela metodologia ................................................................ 34 1.6 Maria Montessori e seu Método ....................................................................... 39 2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA ............................................................................... 48 2.1 ESTUDOS INDIRETOS ................................................................................... 48 2.1.1 Fuji Kindergarten........................................................................................... 48 2.1.2 Escola primária e biblioteca de Gando ......................................................... 53 2.2 DIRETO ........................................................................................................... 57 2.2.1 Meimei Escola............................................................................................... 57 2.2.2 Lakeland Montessori Schoolhouse ............................................................... 66 3. DIRETRIZES E CONDICIONANTES PROJETUAIS ............................................. 75 3.1 Programa de necessidades ............................................................................. 76 3.2 Escolha do terreno ........................................................................................... 80 3.2.1 Forma, dimensão e topografia ...................................................................... 85 4.3 Condicionantes ambientais .............................................................................. 87 3.4 Condicionantes legais ...................................................................................... 90 4. PROPOSTA ARQUITETÔNICA ............................................................................ 95 4.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ................................................... 95 4.2 ESTUDOS PRELIMINARES ............................................................................ 99 4.2.1 Zoneamento .................................................................................................. 99 4.2.2 Evolução da Forma ..................................................................................... 102 4.3 MEMORIAL DESCRITIVO ............................................................................. 104 4.3.1 Implantação ................................................................................................ 104 4.3.2 Soluções Funcionais ................................................................................... 106 4.3.3 Estrutura e envoltória .................................................................................. 116 4.3.4 Soluções de percepção do ambiente .......................................................... 118 4.3.5 Soluções Paisagísticas ............................................................................... 122 4.3.6 Conforto Ambiental ..................................................................................... 123 4.3.7 Acessibilidade ............................................................................................. 126 4.3.8 Dimensionamento de Estrutura Hidráulica .................................................. 127 4.3.9 Estacionamento ..........................................................................................129 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 130 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 132 14 INTRODUÇÃO A educação sempre foi pauta de discussões sobre seus diversos modelos de ensino e seu impacto nos jovens. Educadores, filósofos e pensadores brasileiros como Paulo Freire (1998), Anísio Teixeira (1971), Darcy Ribeiro (1984), entre outros, buscaram, desde o início do século XX, uma alternativa ao sistema tradicional de ensino, que segue hierarquias nas classes, com alunos enfileirados e o professor sendo o único detentor de todo conhecimento. Diante desse aspecto, outras metodologias de ensino que se contrapõem a esse sistema acabam por tornar-se uma interessante alternativa para o despertar da curiosidade e do conhecimento em crianças e jovens. Essas metodologias, tais como o sistema democrático de educação, método Montessori, metodologia híbrida, Waldorf, Construtivista, entre outras, algumas existentes desde o início do século passado, ainda são minoria quando comparado à propagação da metodologia de ensino tradicional. Maria Montessori foi a criadora de uma dessas metodologias. Uma médica e psicóloga que, no início de sua carreira, antes de se tornar educadora, defendia a tese que a principal causa dos atrasos apresentados pelas crianças portadoras de distúrbios de comportamento e aprendizagem era o ambiente ausente de estímulos para o desenvolvimento adequado (MONTESSORI, 1936). Dando assim o pontapé inicial para o surgimento do método Montessori, um dos principais temas abordado nesse trabalho e que, nos dias de hoje, não abrange apenas crianças com déficit de aprendizagem e pode ser aplicada em crianças e jovens, existindo casos até de tratamento com idosos. Montessori (1936) observou que a autonomia do pensamento é despertada em crianças através da curiosidade do sentir. Dessa forma, os sentidos são de suma relevância para florescer a sensibilidade e a criatividade nas mesmas. Observou também que o ato de sentir despertava nas crianças um interesse maior pelo que estavam fazendo, a partir disso começou a empregar materiais sensoriais para desenvolver e ensinar as crianças, elaborando uma teoria pedagógica e testando-a de forma científica. Com base nessas observações e experiências, introduziu sua ação pedagógica com o público infantil, não restringindo à apenas crianças deficientes. 15 O método hoje é um conjunto de teorias, práticas e material didático criado por ela, tendo por objetivo principal a possibilidade de instigar e libertar a natureza verdadeira de cada indivíduo, não o seu material ou prática em si, de forma que possa ser observada, compreendida, e que a educação se desenvolva com base na evolução da criança. Em pesquisas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), na apresentação dos indicadores de fluxo escolar da educação básica do ano de 2017, os quais avaliam a transição do aluno entre dois anos consecutivos considerando os seguintes cenários possíveis: promoção, repetência, migração para EJA (educação de jovens e adultos) e evasão de escola, e com base no Censo Escolar 2014/2015, constata-se que a taxa de evasão e repetência ainda continuam a ser altas em escolas de rede federal, estadual e municipal, apesar de estímulos governamentais para educação se tornar acessível à todas as pessoas. Dessa forma o objeto deste trabalho buscou na metodologia Montessoriana uma alternativa diferente ao sistema tradicional de ensino, comumente utilizado em escolas públicas brasileiras, de maneira que a ação de estudar através de estímulos, apresenta ampla perspectiva para um projeto arquitetônico. E apesar da metodologia ter sido criada em 1936, existem poucas escolas no Brasil com a aplicabilidade total do método, de acordo com o website da Organização Montessori do Brasil (OMB). O presente Trabalho Final de Graduação traz como objetivo desenvolver um anteprojeto de uma escola de ensino infantil e fundamental I com base no Método Montessori, ao qual foram delimitados três objetivos específicos: a) Entender o ambiente escolar através da perspectiva do método Montessori; b) Compreender as principais diretrizes para o projeto do edifício escolar, relacionando variáveis de acessibilidade, conforto, funcionalidade e flexibilidade; e c) Identificar as características morfológicas de escolas Montessorianas e sua associação com o estímulo sensorial. Diante dessas considerações, foi acatado o desafio de oferecer um ambiente de ensino que reflita as características do método em sua estrutura, a fim de proporcionar liberdade e estímulos sensoriais ao usuário, e também prevendo as limitações de orçamentos por se tratar de uma obra pública. Nesse contexto, a metodologia se deu através de procedimentos e técnicas, utilizando como estratégia de pesquisa para entender o ambiente escolar através da perspectiva do método Montessori, a revisão bibliográfica em livros, artigo, 16 dissertações e teses, a fim de listar pontos e parâmetros na base teoricamente que possam ser incorporados no projeto arquitetônico. A fim de compreender as principais diretrizes para o projeto do edifício escolar, relacionando variáveis de acessibilidade, conforto, funcionalidade e flexibilidade foram realizados pesquisas e estudos para levantamento do terreno e seu entorno imediato, fundamentando-se em referências e normas de condicionantes legais e físico- ambientais. Para identificar as características morfológicas de escolas Montessorianas e sua associação com o estímulo sensorial foram realizados estudos de referência diretos e indiretos de projetos e edifícios escolares. Nos estudos diretos, realizados in loco, pôde-se observar o funcionamento do Método Montessori na prática e através de levantamento fotográfico e croquis de planta baixa, pôde-se analisar o espaço físico e suas relações, programa de necessidades, acessibilidade, mobiliário que foram fatores aproveitados diretamente no desenvolvimento do projeto. O presente item tem o objetivo de introduzir brevemente os temas abordados nos quatro capítulos deste trabalho, compondo um volume escrito de cinco tópicos. O primeiro capítulo apresenta os principais conceitos referentes ao tema e ao objeto de estudo, onde estão abordados conceitos sobre desenvolvimento infantil, educação infanto-juvenil no Brasil, pedagogia na arquitetura escolar e Método Montessori. O segundo capítulo abarca os estudos de referências projetuais diretos e indiretos que serviram de base para a tomada de decisões do objeto de estudo no aspecto acessível, funcional, formal, conceitual e sustentável. O terceiro capítulo contém informações sobre a abordagem teórica e prática das condicionantes e diretrizes projetuais e de conforto ambiental, como topografia, legislação e diretrizes bioclimáticas, as quais direcionam importantes decisões sob o objeto de estudo. No quarto e último capítulo está apresentada a proposta arquitetônica final, através da abordagem do programa de necessidades, pré-dimensionamento, conceito, partido arquitetônico, estudos preliminares, zoneamento e memorial descritivo. A relevância desse trabalho está centrada na possibilidade de ampliar os conhecimentos em relação à complexidade da arquitetura escolar, além de poder contribuir com uma proposta alternativa ao modelo atual de educação que se mostre atrativa para o estudante. 17 1. A DIVERSÃO DO APRENDER Com a finalidade de basear os fundamentos para a execução do anteprojeto aqui proposto para escola e fomentar a reflexão de algumas diretrizes projetuais relativas à arquitetura e ao edifício escolar, este capítulo enfatiza um referencial teórico com aspectos de arquitetura escolar, psicológicos, políticos, sociaise sistemático. 1.1 O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Entende-se como desenvolvimento a ação ou efeito de desenvolver(-se); crescimento, progredir intelectualmente, tornar-se capaz. Tratando-se em relação ao ser humano, o desenvolvimento pode ser considerado como um processo em que sua capacidade funcional se eleva através de integrações de funções. O desenvolvimento humano se dá através do conhecimento e da assimilação do ambiente externo, diante da adaptação biológica do ser vivo e sua aquisição intelectual. De acordo com Piaget (1971), o conhecimento é o resultado da interação entre o organismo e o meio, interação a qual se torna responsável pela obtenção própria da capacidade de conhecer. Para este biólogo e psicólogo, a palavra “conhecer” reflete um sentido de organizar, estruturar e explicar o mundo a partir de experiências vividas. O ser humano em seus primeiros anos de vida inicia seu processo de aprendizagem de costumes, tradições, valores e atitudes para se inserir no meio social onde vive e que irão construir sua identidade no mundo. Crianças são seres em crescimento e desenvolvimento, com necessidades específicas em cada fase, pertencendo a diferentes classes sociais, apresentando desigualdades não apenas biológicas ditadas pelas etapas de amadurecimento de suas funções orgânicas, mas socialmente determinadas, havendo uma relação diretamente proporcional entre suas vulnerabilidades, riscos de adoecer, danos e suas condições de existência e qualidade de vida (ROCHA et al, 1998, p. 07). Para classificar as fases pelas quais a criança constrói sua percepção de mundo, Piaget (1971) denominou de “estádios” e distinguiu em quatro períodos no desenvolvimento cognitivo, sempre relacionado ao desenvolvimento afetivo e social 18 da criança. São eles: 1) estádio da inteligência sensório-motora (aproximadamente até os 2 anos); 2) estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8 anos); 3) estádio da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e 4) estádio da inteligência formal (aproximadamente a partir dos 12 anos). Trata-se de um processo contínuo que aborda obtenção de novas funções e habilidades, como intelectuais, sociais e motoras, sendo ele ordenado por fases em sequência e único para cada indivíduo. No período Sensório-Motor é onde o desenvolvimento cognitivo tem maior impacto e forma a base de todas primeiras formas de expressão e pensamento. Esse período se divide em outros seis subestádios e constitui como início da organização da experiência humana na construção do mundo: objeto, espaço, causalidade e tempo. Seus estádios vão desde esquemas de reflexos (até o primeiro mês) até a capacidade de representação do mundo exterior em imagens mentais, memórias e símbolos, onde invenção e representação caminham juntas (de um ano e meio a 2 anos) e serve de transição para o estádio superior. Em resumo, nesse estádio, a percepção é a principal ferramenta de apoio e de constituição de si mesma e do mundo, na qual a criança estabelece relações diretamente com o exterior. O segundo estádio, ou o estágio Pré-operatório ou Simbólico, serve como passagem entre a inteligência sensório-motora e a inteligência representativa. Esse processo ocorre de forma lenta e gradual, uma vez que ao chegar o pensamento representativo, a criança necessita reconstruir o objeto em um novo plano de representação. Sendo assim, a principal aquisição deste período trata do desenvolvimento da função simbólica, que surge através da habilidade de representação e reflete em diferentes meios de expressão dessa mesma função, tais como linguagem, imitação diferida, imagem mental, desenho, jogo simbólico. Cavicchia (2010) em sua análise sobre o a teoria de Piaget (1971), afirma que no terceiro e penúltimo estádio, o Operatório Concreto, surge à competência de reversibilidade lógica, que basicamente é a capacidade de representar uma ação e uma ação inversa ou recíproca que anula essa primeira ação. O domínio dessa habilidade no campo da representação contribui na construção de novas constantes cognitivas com natureza representativa: conservação de comprimento, de distâncias, de quantidades discretas e contínuas, de quantidades físicas (peso, substância, volume etc.). O equilíbrio das trocas cognitivas entre a criança e a realidade torna-se muito mais rico e variado quanto os estádios anteriores. 19 Por fim, em um breve resumo sobre o estádio das Operações Formais, pode- se dizer que é nesta fase que é inserido o raciocínio hipotético-dedutivo a partir de experiências lógicas-matemáticas, onde a criança adolescente poderá chegar a novas conclusões partindo de hipóteses. As estruturas operatórias formais servem como base as estruturas lógico-matemáticas da lógica e da matemática, que passa a lógica natural do lógico e do matemático (CAVICCHIA, 2010). Para Piaget (1971), a interação se mostra como o elemento fundamental estimulador do desenvolvimento intelectual, onde o ser humano constrói seu próprio conhecimento através da ação. A interação com objetos vai facilitar o desenvolvimento do conhecimento físico e/ou lógico-matemático no que trata a respeito dos objetos e suas propriedades. Contudo, somente a interação com pessoas e animais poderá desenvolver o conhecimento de natureza social e afetiva. Entretanto, a interação social não elimina a possibilidade de se desenvolver no plano intelectual. Pelo contrário, pois, Piaget (1969), em uma observação à interação que as crianças formam entre si, notou ser possível relações cooperativas, ligando as relações do pensamento operatório no plano do desenvolvimento intelectual. “Isso significa que, além de possibilitar o desenvolvimento afetivo e social, as interações entre as crianças constituem um fator fundamental para o seu desenvolvimento cognitivo” (CAVICCHIA, 2010). Já a médica e educadora Maria Montessori, em um estudo aprofundado sobre a criança, classificou as fases do desenvolvimento infantil como períodos sensíveis, que basicamente são etapas no processo de maturidade e que possibilitam um desenvolvimento com segurança e confiança. A criança, em sua análise, é capaz de seguir suas sensibilidades, escolhendo atividades necessárias para o desenvolvimento se possuir liberdade para tal. Podendo, assim, trabalhar e se concentrar de maneira espontânea. Montessori defende que entender cada um desses períodos, possibilita auxiliar as crianças em seu processo de aprendizagem de forma natural e espontânea. No período de 0 a 6 anos, a criança experiencia vários períodos sensíveis, e estes eventos podem acontecer de forma simultânea, que são limitados no tempo e não se repetem uma vez concluído. Uma criança aprende as coisas nos períodos sensíveis, que poderiam ser equiparados a uma luz acesa que ilumina interiormente, ou bem a um estado elétrico que dá lugar a fenômenos ativos. Essa 20 sensibilidade permite à criança colocar-se em contato com o mundo exterior de um modo excepcionalmente intenso. E, então, tudo fica mais fácil, tudo é entusiasmo e vida. Cada esforço representa um aumento de poder. Quando, no período sensitivo já adquiriu conhecimentos, chega o estágio da indiferença, a fadiga (MONTESSORI, 1936, p. 54) A Linguagem, que compreende o período do nascimento até os 6 anos de vida, é um período que retrata a sensibilidade à percepção vocal e movimentos labiais e é nela que a criança sente uma facilidade maior em aprender outros idiomas de forma simultânea. O Movimento, período sensível entre os 18 meses e os 4 anos, aborda a sensibilidade que o indivíduo tem para aprimorar suas habilidades motoras, tais como escrever com lápis, manipular com destreza algum material, manejar pinças ou pregadores, entre outros. O desenvolvimento de tal capacidade exige um esforço maior se ultrapassado esse período, uma vez que há a evolução do controle cerebral nosmúsculos. A Ordem, período compreendido entre 1 ano até 3 anos e meio, podendo-se estender até os 6 anos, trata de um esquema mental e organizacional sobre o funcionamento do mundo, onde a criança está em processo para firmar seu raciocínio logico. Montessori (1936) defende a ideia que uma ordem no ambiente ajuda a manter a mente organizada e sadia. É na fase de refinamento dos sentidos, do nascimento até os 4 anos e meio, que o cérebro recebe a informação necessária através dos sentidos. Podendo também expandir esse período até os 6 anos, conforme a criança cresce, o seu organismo aprende a diferenciar os estímulos relevantes, considerando o número de repetições desse mesmo estímulo. Ou seja, os estímulos que mais se repetem, serão considerados para o cérebro, os de maior importância. Montessori (1936) afirma que, trabalhar sob estímulos sensoriais pode auxiliar a tomada de decisões e a facilidade na tarefa de ordem do meio em que se vive. Em uma consequência à exposição do período sensível do aperfeiçoamento do movimento e o período sensível aos estímulos sensoriais, a criança passa a ter um maior interesse na manipulação de pequenos objetos. Compreendendo esse período sensível entre os 18 meses até os 2 anos e meio. Entre os 3 e os 6 anos de idade, a criança passa por um período sensível classificado por sua socialização com o meio externo. A criança que tem um conceito 21 sobre si mesma, se conhece e mantem um entorno emocional saudável, compreende como funcionam as relações sociais. É aqui onde o indivíduo tem um interesse de construir laços, possibilitando sua abertura com o mundo. Pode-se considerar outros períodos sensíveis mais concretos que se sobrepõem a estes listados, tais como detalhes (do nascimento aos 6 anos), graça e cortesia (dos 2 aos 6 anos), música e ritmo (dos 2 aos 6 anos), escrita (dos 3 aos 5 anos), leitura (dos 3 aos 6 anos) e matemática (dos 4 aos 6 anos). Também é observado um período sensível a interação com a natureza durante todo o período da infância. Para Holm (2005), um caminho carrega elementos como a curiosidade, dúvidas e incertezas, perguntas e o encorajamento em um processo artístico fundamental. É importante que as crianças passem por um processo de confiança em si mesmas, criem ousadia para compartilhar suas ideias e aprendam a buscar e pesquisar, e defende que o contato com a arte possibilita tais habilidades (HOLM, 2005). Pensamento que complementa Ostrower (2008) onde “a imaginação criativa nasce do interesse, do entusiasmo de um indivíduo pelas possibilidades maiores de certas matérias ou certas realidades [...]. Pois, antes de qualquer coisa, as indagações constituem formas de relacionamento afetivo, formas de respeito pela essencialidade de um fenômeno” (p. 39). 1.2 A EDUCAÇÃO INFANTO-JUVENIL NO BRASIL O direito à educação, estabelecido na Constituição Federal de 1988 (CF/88) e respaldada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira de 1996 (LDB 9394/96), é garantido por lei a todos os cidadãos, sem distinção de qualquer natureza, tendo por respaldo a igualdade entre as pessoas. Esse direito confere ao Estado uma série de obrigações, como por exemplo a criação de uma rede escolar que atenda a demanda populacional. Como consta o art. 6° da CF/88, “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988). Outras leis que também auxiliam a regulamentação e complementam a do direito à Educação são a Lei nº 8.069, de 1990, o Estatuto da Criança e do 22 Adolescente (ECA/90), e a Lei n° 9.394 de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96). Estas leis norteiam a educação básica e possibilitam o acesso de crianças, jovens ou adultos à uma escola pública, uma vez que nenhum cidadão brasileiro deve deixar de estudar por falta de vaga. O Governo Nacional, através do Ministério da Educação (MEC), atribuiu à Secretaria de Educação Básica o dever de zelar pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. É também através da educação básica que o cidadão brasileiro adquire uma formação indispensável para o exercício da cidadania, capacitando assim para trabalhos e estudos posteriores (MEC, 2019). Ocorre que, quando o acesso à educação é barrado por alguma variável, o indivíduo não se torna capaz de exigir e exercer direitos civis, políticos, econômicos e sociais, prejudicando, assim, sua inserção na sociedade. Cabe à família, com incentivos para dedicação escolar, e ao Estado, provendo condições indispensáveis ao seu exercício, garantir que o acesso torne sempre possível. Como expresso no art. 205 da Constituição Federal, “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Com base na CF/88, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta o direito ao ensino básico como direito público (art. 54). Conforme o art. 208 da CF/88, a educação infantil é oferecida em creches e pré-escolas para crianças de até 5 anos de idade e cabe ao Município prioritariamente a regulamentação da mesma, assim como do ensino fundamental (art. 211, §2º), tendo sua oferta gratuita e assegurada, inclusive, “para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”. A Lei de Diretrizes e Bases, em seu art. 29, complementa no tocante à finalidade da educação infantil, defendendo o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Ainda de acordo com ela, em seu art. 32, é estabelecido a duração do ensino fundamental em 9 anos, a partir do sexto ano de vida e também prevê as metas que o ensino básico deverá proporcionar ao cidadão. É cabível como consequência à falta de acesso a uma educação básica de qualidade fatores como a escassez de oportunidades necessárias para o desenvolvimento completo da sua personalidade, incompetência no processo de 23 tomada de decisões no quotidiano, o crescimento de casos de abandono do sistema educativo, desigualdade – e por consequência, a marginalização e pobreza. As chances de manter um trabalho estável tornam-se limitadas, permitindo, assim, possíveis frustrações por não cumprir expectativas como não contribuir com o apoio à família e à sociedade. Dessa forma, pode-se dizer que a falta de acesso à educação poderá acarretar no empobrecimento das sociedades e, consequentemente, afetar o crescimento e o bem-estar como nação. Pode-se, então, gerar uma cidadania apática e acrítica, com probabilidade de manipulação e aceitação de governos corruptos, insatisfação e o recurso à violência para resolução de conflitos e necessidades (NOVO, 2019). Com base em pesquisas e coleta de dados proveniente do Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foi divulgado em setembro de 2018 o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), onde o resultado obtido mostra que o país não atingiu as metas nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, tendo mantido satisfatório nos primeiros anos do ensino fundamental. O Ideb é uma iniciativa do Inep para “mensurar o desempenho do sistema brasileiro de educação a partir da combinação entre a proficiência dos estudantes, obtida no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e o indicador de taxa de aprovação, que tem influência na eficiência do fluxo escolar e é obtido por meio do Censo Escolar” (Idep, 2017). De acordo com o Inep de 2017, com 10,4 milhões de alunos que frequentam os anos iniciais do ensino fundamental,a rede municipal tem uma participação de 68,0% no total de matrículas dos anos iniciais e concentra 83,3% dos alunos da rede pública. Em contraste, indicadores de rendimento e de fluxo escolar divulgado pelo Inep em junho de 2017, com base no Censo Escolar 2014/2015, apontam que a partir do 6º ano do ensino fundamental, a taxa de evasão começa a aumentar e esse índice se mostra ainda maior nas fases do ensino médio, como pode ser notado na tabela 1. Isso está diretamente ligado ao resultado apontado pelo Idep 2017, onde as Metas de qualidade educacional, aparecem positivas nos primeiros anos do ensino fundamental, enquanto que no final desse mesmo período, as metas se tornam inalcançadas (Tabela 02 e 03). Essas metas são diferenciadas para todas as redes (estaduais, municipais e escolares) e tem a finalidade de projetar uma composição de 24 índices para indicar o avanço da qualidade do ensino. O objetivo é que cada instância (escolas, municípios e unidades da Federação) cresça e contribua para o crescimento do Brasil frente à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no que diz respeito à educação. Tabela 1 - Taxas de promoção, repetência, migração para EJA e evasão por série Fonte: Indicadores de Fluxo Escolar da Educação Básica DEED/INEP Brasília-DF, junho 2017. Tabela 2 - Resultado das metas nos anos iniciais do ensino fundamental Fonte: MEC/Inep. 25 Tabela 3 - Resultado das metas nos anos finais do ensino fundamental Fonte: MEC/Inep. Existe, no meio educacional, um déficit que possibilita essa evasão, e que este pode ser causado por fatores, como questões sociais (saúde mental, duplas jornadas, bullying, ambiente familiar instável, etc.) e/ou político-econômicas (Estado mínimo, subfinanciamento, corrupção, desvalorização dos professores, entre outros). Como dito anteriormente, em sua maioria, a família é o primeiro ambiente em que a criança dá início a sua vida em sociedade, auxiliado com outras instituições, como igrejas, clubes, etc, contudo é a escola, com suporte do Estado, que atua como parceira no objetivo de garantir ao indivíduo um desenvolvimento em todas as áreas de sua vida com melhores condições. Dessa forma, a família e a escola atuam juntos no processo de maturação e à transmissão de normas, ética, valores, conhecimento e ideais que marcam a sociedade. 1.3 ARQUITETURA ESCOLAR A escola é o ambiente físico onde ocorre o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. A educação pode ser considerada como uma ferramenta de transmissão de valores de uma sociedade, assim como a história e o conhecimento local (KOWALTOWSKI, 2011). Como dito anteriormente, espera-se que seja na escola onde se realize a socialização intelectual do indivíduo, de forma que o ambiente escolar, seja em sala 26 de aula ou pátio externo, se torne um exemplo para a criança de como a sociedade a qual ela está inserida se comporta e serve como função democratizadora para igualar oportunidades. Dessa forma, o edifício escolar se presume como um equipamento urbano dentro de um contexto social, político e econômico de determinado grupo (CASTRO, 2009 apud SOUZA, 2012), e deve ser visto como um resultado da expressão cultural de uma comunidade por mostrar e expressar aspectos que transcendem a matéria, como o poder de transformar a identidade do meio que está inserido. Assim, o edifício escolar está condicionado a constantes fatores de ordem arquitetônica, pedagógica e social. De acordo com Kowaltowski (2011), a arquitetura escolar sempre carrega símbolos e reflexos do seu contexto cultural. À vista disso, uma “escola ideal” abrange ordens arquitetônicas, pedagógicas e sociais com abordagens multidisciplinares que permitam a inclusão do aluno, professor, área de conhecimento, teorias pedagógicas, organização de grupos, material de apoio e a escola instituição e lugar. É preciso, portanto, promover uma relação com a comunidade externa, abrindo as fronteiras da escola e possibilitando atividades de lazer e cultura no espaço escolar, uma vez que a disponibilização desse espaço contribui com benefícios à moradores e a comunidade escolar, assim como possibilita sua valorização junto a sociedade e restabelece o respeito e a confiança com a escola (MARCELINO, 2014). Diante disso, é importante a concepção de ambientes diversos para o mesmo local visto que a variedade do uso do edifício escolar exige espaços adaptados para diferentes usos, isto é, prevendo distintas formas e compartimentações. Também é preciso proporcionar o envolvimento da criança, idealizando o espaço para estimular sua curiosidade, sugerindo desafios e descobertas, mas deixando-o incompleto com a finalidade de permitir, ao mesmo tempo, que ela se aproprie e modifique esse ambiente através de sua própria ação (LIMA, 1989 apud MARCELINO, 2014). Grandes pensadores influenciaram no processo de complexidade das escolas, como Rousseau, que acreditava na criança como fonte de ideias e interesses próprios e que a mesma não deveria ser tratada da mesma maneira que um adulto. Acreditava também que cada fase da vida tem suas próprias características e que a sociedade e o homem se modificam constantemente, recorrendo à educação como pilar necessário para adaptação em meio a esse processo. Dessa forma, a educação não 27 é externa, mas acaba por ser a reação da criança em contato com a natureza (KOWALTOWSKI, 2011). As principais ideias de Rousseau tratam do desenvolvimento de opiniões próprias, do equilíbrio das habilidades e necessidades e dominação de um espirito humanitário. Para ele, a criança não deve ser educada a uma profissão específica, senão para se tornar um ser humano em sua totalidade. Pestalozzi foi um pedagogo suíço que defendia a educação além das fronteiras da razão, por esta ser insuficiente, já que há uma necessidade de inclusão emocional e pessoal entre crianças e professores, podendo evitar frustração e induzir a procura por conhecimento (KOWALTOWSKI, 2011). Froebel surgiu para complementar o pensamento de Pestalozzi, defendendo a ideia de que o professor deve procurar razões das atitudes da criança e eliminar os obstáculos do desenvolvimento criativo da mesma, sem intrometer-se ou impor a educação (KOWALTOWSKI, 2011). Diante de tantos ideais e pensamentos, o edifício escolar passou a exigir um programa de necessidades mais complexo, no que antes se limitava a sala de aula, sanitários e administração, agora passa por uma ampliação na quantidade de ambientes devido à diversidade de uso e atividades oferecidas, passando a envolver novas atividades, tais como: artísticas, desportivas, e atendimento especializado pedagógico e psicológico, entre outros serviços. Kowaltowski relaciona fatores subjetivos que norteiam a qualidade do ambiente escolar nos aspectos organizacionais e humanos para verificar a sua influência no ensino, aprendizagem e formação de valores dos alunos. A autora diz as relações humanas é o fator que mais influencia a qualidade do ensino e pode-se citar o corpo de alunos, professores, pessoal administrativo, de direção e apoio didático como exemplo dos protagonistas do ambiente escolar, enquanto que para sua manutenção participam funcionário de limpeza, manutenção, vigilância e para preparo e distribuição de refeições. Por fim, para compor essa rede de conexões, os pais dos alunos e a comunidade também participam, em alguns casos, como apoio ou conselheiros. O trabalho de Kowaltowski indica que o nível de satisfação é maior quando se refere a um ambiente humanizado, além de proporcionar um “ambiente psicológico mais favorável ao comportamento social adequado” (KOWALTOWSKI, 2011, p.44). Pode-se concluir então, que ambientes artificiais, com pouca iluminação ou sem 28 conexão visual com o exterior, janelas pequenas ou com vidrosopacos, com grades, formas, cores e mobiliários monótonos, estrutura precária, falta de manutenção, excesso de ordenação e rigidez na funcionalidade, além da falta de personalização e a inflexibilidade tornam-se menos satisfatórios, consequentemente, podendo influenciar na qualidade do ensino proposta. [Em uma sala de aula organizada de forma tradicional] indiretamente a disposição das carteiras envia mensagens aos alunos sobre a expectativa que se tem em relação aos seus comportamentos, ou seja, é esperada a não-ocorrência de interação entre eles, aquela disposição foi provavelmente planejada para inibir a discussão entre os estudantes. (CARVALHO; RUBIANO, 2008 apud BARACHO, 2011, p.119) É necessário então, que a escola estimule o corpo das relações humanas através de um espaço mais humano, seguro e ambientalmente confortável, como um fator na busca por um ensino de qualidade. Quando relacionado à quantidade de alunos em sala de aula com o número de professores para administrar essa classe, temos uma relação inversamente proporcional, em que, quanto maior o número de alunos para um profissional da educação, temos um controle menos efetivo do educador sobre as atividades pedagógicas, com uma participação menos ativa de cada membro do grupo. Isso implica na atenção que o docente poderá dar a cada indivíduo. Em geral, os professores consideram 15 alunos um número ótimo, embora tradicionalmente esse número gira em torno dos 30 alunos para um professor (KUMPULAINEN; WRAY, 2001). Outros fatores importantes e de aspecto organizacional são currículo, material didático, mobiliário e equipamentos. No tocante ao material didático, sua diversidade pode ser considerada um problema econômico, uma vez que as listas anuais de livros, apostilas, cadernos, material de desenho, de atividades esportivas, ciências e recreação se tornam grandes e há uma necessidade de atualizações periódicas, já que existe uma dinâmica e novidades das áreas de conhecimento. Além disso, outro problema são os roubos e vandalismo que comprometem a preservação e segurança dos materiais e que, infelizmente, ainda é um problema nas escolas e demanda recursos para vigilância, como segurança, instalação de câmeras, armazenamento em depósitos, entre outros. 29 Já no que se refere ao mobiliário e equipamentos, considerado elementos de apoio ao processo de ensino, são fatores que influenciam de maneira direta no aprendizado, proporcionando conforto físico e psicológico (KOWALTOWSKI, 2011). É imprescindível garantir a qualidade do mobiliário em relação ao usuário (ergonomia) (figura 1; tabela 4), uso (pedagogia) e construção (tecnologia). Alguns fatores, como proporcionalidade, regionalidade e critérios antropométricos, no que se refere à ergonomia, devem ser observados. Como o crescimento físico de uma criança não segue um padrão, o mobiliário, durante os anos que acompanham, deve-se adequar ao seu desenvolvimento, evitando manter-se com as mesmas proporções em tamanhos diferentes (FUNDESCOLA, 1999). Figura 1 - Dimensões do corpo da criança para detalhamento do projeto Fonte: Kowaltowski, 2011. Tabela 4 - Estatura média por idade e proporções de dimensões para detalhamento do projeto correspondente à figura 01 Fonte: Adaptado de Kowaltowski, 2011 por Castro, 2017. O mobiliário pode ser considerado como um elemento estimulante da flexibilidade, uma vez que “o móvel adequado permite tanto o trabalho individual como 30 em grupo, atendendo às exigências pedagógicas, cada dia mais dinâmicas” (KOWALTOWSKI, 2011, p.53). À vista disso, o mobiliário deve caminhar sempre em conjunto com a proposta pedagógica e em conformidade com a faixa etária do público alvo a fim de contribuir com o desempenho dos alunos, uma vez que garante conforto e satisfação aos mesmos, e consequentemente, a qualidade do ensino. 1.4 PROJETOS PADRÕES No momento atual, muitas edificações escolares, principalmente públicas, adotam um determinado padrão. Existem muitas críticas quanto essa padronização, uma vez que esse fator nem sempre leva em consideração as variáveis específicas do local, resultando assim, em ambientes inóspitos com alta probabilidade a terem problemas de conforto ambiental. É necessário que o projeto padrão possua “flexibilidade, para permitir ajustes a condições peculiares de implantação” (KOWALTOWSKI, 2011, p.101) Apesar da aplicação regular de projetos padrões para uso de interesse social como escolas, creches e hospitais, o partido arquitetônico busca atender as demandas econômicas, de racionalidade construtiva e funcionalidade, de acordo com as especificações da Companhia de Construções de São Paulo (Conesp). As justificativas para o uso massivo desse padrão são a economia e o tempo de elaboração, além da possibilidade de testar e avaliar o objeto quando construído e corrigi-lo quando necessário (KOWALTOWSKI, 2011). O fator político também é influenciador desse processo, uma vez que é desejado que o projeto padrão seja identificado por determinado período político, mandato ou administração, servindo como um símbolo da gestão. Esse caso pode ser exemplificado como a criação dos Centros Integrados de Apoio à Criança (CIACs) na gestão do presidente Fernando Collor, na década de 1990, inspirado em outro projeto padrão do governo de Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro, trata-se dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) com projetos do arquiteto Oscar Niemeyer, em 1985. Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) também é um projeto padrão de marca da administração municipal da prefeita Marta Suplicy, na cidade de São Paulo. Pode-se perceber, então, que várias 31 propostas são ações separadas e, muitas vezes, desassociadas de um projeto político e pedagógico amplo, fomentando a uma descontinuidade e uma falha para alcançar os objetivos propostos (RIBEIRO, 2004 apud KOWALTOWSKI, 2011, p.104). Embora elaborados como protótipos, há muitos problemas e críticas a esses projetos, e que se repetem quase na totalidade de suas unidades. Cada vez que são implantados, esses projetos padrão deveriam ser constantemente melhorados para que se tornassem projetos ótimos e mais afinados, principalmente em função do retorno de avaliações pós-ocupação (KOWALTOWSKI, 2011, p.106). Em uma rápida análise a estes projetos padrões, pode-se dizer que os CIACs foram elogiados pelos avanços tecnológicos por utilizarem um sistema construtivo econômico e leve através de argamassa armada em componentes pré-fabricados (figura 2). Entretanto, se tornou um problema para manutenção, já que necessitava substituir peças inteiras quando estavam danificadas, devido sua técnica construtiva não convencional. Figura 2 – Exemplo de CIAC no Piauí Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Centros_de_Aten%C3%A7%C3%A3o_Integral_%C3%A0_Crian%C3%A7a_e_ ao_Adolescente >. Acesso em 01 nov. 2019 No caso dos CEUs, como representação da assinatura do governo atual da época, o projeto apresenta uma composição formal de volumes e modulação bem marcada (figura 3). A princípio houveram problemas funcionais devido ao partido da volumetria adotada, posteriormente corrigido na administração seguinte. Esse problema poderia, contudo, ser evitado adotando a prática de projetos mais participativos, principalmente por tratar de um projeto de grandes dimensões, abarcando cerca de 2400 alunos. 32 Figura 3 - Exemplo de CEU na cidade de Tiradentes Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Educacional_Unificado >. Acesso em 01 nov. 2019 Figura 4 - Exemplo de CIEP Nelson Rodrigues, em Nova Iguaçu Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Centros_Integrados_de_Educa%C3%A7%C3%A3o_P%C3%BAblica>. Acesso em 01 nov. 2019 Os CIEPs são instituições idealizadas para a experiência do tempo integral, direcionado a crianças carentes, com o objetivo de complementar a educação com atividades culturais,educativas, esportivas, com alimentação e assistência médica. Os problemas mais recorrentes são, após a gestão de Brizola em 1994, o abandono das instituições e as questões de conforto acústico (figura 4). Apesar de constantemente criticado por não considerar as peculiaridades do local e o momento da construção, o projeto padrão pode desencadear a proliferação https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Educacional_Unificado 33 de falhas, quando a intenção é justamente evitá-las. Nota-se, na realidade, que “faltam correções no processo da repetição e avaliações pós-ocupação comprometidas e responsáveis, o que garantiria implantações futuras com índices de satisfação e qualidade cada vez maiores” (KOWALTOWSKI, 2011, p.108-109). Como cada região possui sua própria carta solar, com diferente orientação do sol e incidência de ventos, é necessária uma adaptação às aberturas, para preservar o conforto do ambiente. A topografia, conexão com infraestrutura local, sistema estrutural, forma e condições do terreno também são fatores que necessitam de atenção, privando assim, em alguns casos, a vantagem da redução do custo pela produção em série da arquitetura. Acredita-se que devido à limitação e monotonia das repetições do projeto padrão, poderia se complementar ao incorporar, por parte da participação da comunidade, a definição do programa de necessidades, metodologia de ensino, tamanho e melhor lugar para sua implantação, visto que a produção em série não contribui para a paisagem urbana e se torna inadequado para suprir as necessidades da sociedade por deixar de lado as particularidades da cultura, espaço e tempo. Apesar disso, os argumentos contrários à utilização desses projetos padrão são pouco difundidos nas discussões sobre arquitetura escolar no país. Atualmente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), criado pela Lei nº 5.537 de 1968, é o principal órgão responsável pela implementação e pela execução de políticas educacionais do MEC, onde sua missão é transferir os recursos financeiros e auxiliar os municípios brasileiros, a fim de garantir uma educação de qualidade. Sob administração do FNDE existem diversos projetos e programas, como Alimentação Escolar, Livro Didático, Dinheiro Direto na Escola, Biblioteca da Escola, Transporte Escolar, Proinfância, Plano de Ações Articuladas, Caminho da Escola, Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil. É através dele que projetos padrão podem ser acessados com o objetivo de apresentar infraestrutura física aos projetos e programas aos quais oferece. Como é o caso do incentivo do Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância), que visa garantir o acesso de crianças a creches e escolas. O programa opera sobre duas linhas complementares sendo a primeira a assistência técnica e financeira do FNDE à construção de creches e pré-escolas com 34 projetos padronizados fornecidos pelo mesmo (oferece-se dois tipos), ou com a possibilidade de inserir projetos elaborados por arquitetos locais; e a segunda trata da aquisição de mobiliário e equipamentos adequados ao funcionamento da rede física escolar da educação infantil. Quanto à tipologia padrão, ambas seguem as recomendações do MEC com base no documento denominado “Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil”. 1.5 O ESPAÇO DEFINIDO PELA METODOLOGIA Sabe-se que o caráter que define o edifício escolar segue uma determinada ideologia político-pedagógica, a partir de análises do profissional sobre um processo de leitura, assimilação e interpretação do modelo pedagógico para poder refletir o método no projeto escolar, ou seja, materializar a pedagogia na arquitetura. Tornando, assim, as ideologias como princípio para as decisões projetuais. Percebe-se que, durante a trajetória da arquitetura escolar, o edifício passou a se adequar ao sistema pedagógico, em conjunto com o momento político, social e econômico. Portanto, passa a ser necessário o conhecimento das metodologias pedagógicas, uma vez que o edifício escolar pode sofrer influências do arquiteto, e como o mesmo também pode ser influenciado pelo conceito de ensino. De acordo com Carvalho; Jácome (2013), “em um projeto de escola concebido especificamente para uma metodologia de ensino previamente definida, as ideologias pessoais do autor (arquiteto), em certa medida, convivem e são superadas pelas ideologias pedagógicas” (p. 2). Diante disso, a capacidade do ambiente de induzir o usuário em suas atividades desenvolvidas pode afetar positivamente ou negativamente a forma como os indivíduos interagem com o espaço, seja estudando, aprendendo, brincando ou trabalhando, torna-se necessário a compreensão das estratégias de ensino para que a definição de um programa de necessidades seja cabível com a demanda de interesses da população. De acordo com Buffa; Pinto (2002), ideias pedagógicas estão conectadas a maneiras de projetar e construir escolas, possuindo um dinamismo próprio na evolução da concepção arquitetônica. 35 Mediante as teorias de Froebel, Pestalozzi e outros pedagogos já mencionados nesse trabalho, surge um movimento de renovação educacional, conhecido como Escola Nova, idealizado por John Dewey e que se repercutiu na primeira metade do século XX (CIRIACO, 2016). Como sugere Ciriaco (2016), o espaço de sala de aula ainda permanece com sua devida importância, mas agora passa a compartilhar com outros ambientes o papel principal quanto local de ensino. Espaços como cozinha, refeitório passam a ser utilizados para expor novos conteúdos, atividades externas como horticultura ensinam a importância da natureza e de uma alimentação saudável, além de brinquedos educativos passarem a configurar o ambiente externo como pátio e circulações. O mesmo acontece com o arranjo do layout das salas de aula, que passaram a exigir um mobiliário mais flexível devido a tarefas diversificadas, abandonando a disposição de carteiras enfileiradas. Algumas metodologias como a Waldorf, Reggio Emilia, Montessori possuem uma organização diferente, casos em que a arquitetura é claramente influenciada pelo ideal político-pedagógico do método. Como forma de melhor assimilar a relação entre pedagogia e arquitetura escolar, serão apresentados brevemente como são dadas essas ligações do ambiente construído escolar e a pedagogia adotada. Uma dessas propostas foi proposta pelo filósofo Rudolf Steiner (1861 – 1925) e é conhecida como pedagogia Waldorf. Com sua primeira escola fundada na Alemanha no início do século XX e destinada aos filhos de operários de uma fábrica de onde originou o nome do método, tem como base o processo de aprendizagem e desenvolvimento intelectual da criança, além de ter como princípio o encorajamento da liberdade de pensamento e a criatividade de seus alunos (LANZ, 1998 apud ALVARES, 2010, p.1). A filosofia antroposófica é bem marcante no processo de idealização desse método, conhecida como uma ciência espiritual, e tem o objetivo integrar as áreas do conhecimento e desenvolver em conjunto o aspecto físico, psicoemocional e espiritual. De acordo com o pensamento de Steiner, a fase de maturação do ser humano se desenvolve através de ciclos com durabilidade de 7 anos, ou seja, o primeiro ciclo ocorreria entre 0 a 7 anos, seguido pelo segundo de 7 a 14 anos e por fim, o último ciclo dos 14 aos 21 anos. (...), no ciclo de 0 a 7 anos, as crianças têm como principal característica a necessidade de se desenvolver pela liberdade de 36 movimento e pela experimentação e vivencia no meio, ou seja, pelo convívio com os adultos e com as práticas diárias da vida. No ciclo dos 7 aos 14 anos, a proposta é desenvolver na criança sua emotividade, sua fantasia criadora e seus sentimentos. Esseprocesso aconteceria por meio de experiências que promovam o envolvimento sentimental da criança no processo educativo, como artes e artesanato inseridos na realidade da vida pratica. Por fim, dos 14 aos 21 anos, nesse conceito, o jovem estaria pronto para a abstração (OLIVEIRA; IMAI, 2015, s.p.). Pode-se perceber, então, que a criança se desenvolve a partir da fantasia no jardim de infância, caminhando pelos limites da realidade no mundo através da arte e chegando ao conhecimento, por fim, abstrato (ALVARES, 2010, p.48). As sadas de aula “Waldorf” (figura 5) buscam seguir princípios orgânicos em sua arquitetura, antagônico à arquitetura racionalista, e consta com influencias na época por Charles Mackintosh, Antoni Gaudí, Frank Lloyd Wright, entre outros (KOWALTOWSKI, 2011). Figura 5 - Sala de aula de uma escola Waldorf Fonte: Disponível em < https://en.wikipedia.org/wiki/Waldorf_education >. Acesso em 01 nov. 2019 A pedagogia Waldorf sustenta-se com base em três objetivos holísticos, sendo eles a integração, a correlação e a inspiração. (WONG, 1987 apud ALVARES, 2010, p.52). Observa-se que o processo de Integração inicia no jardim de infância, em que o ambiente de estudo e vivencia transmite segurança e proteção conceituando o local como sua casa, até alcançar os anos mais avançados em uma configuração de sala 37 mais tradicional, passando por mudanças de forma gradual. Deseja-se também criar a sensação de comunidade e podem-se observar características arquitetônicas desse princípio, tais como: classes em pequenos agrupamentos de acordo com o período de desenvolvimento da criança, geralmente afastando os anos iniciais com as séries mais adiantadas; a presença de um palco ou auditório no centro desses agrupamentos simbolizando o coração da escola; ambientes aconchegantes e com pequenos espaços dentro do ambiente maior, os cantos (CIRIACO, 2016, p.25-26). Tratando do segundo processo, o de Correlação, Ciriaco (2016) afirma que a arquitetura deve ser coerente com o desenvolvimento natural da criança, carregando características como: sala de aula artisticamente modelada, esquadrias geometricamente desenhadas, salas e espaços de diferentes formas, com uma mudança progressiva de acordo com a idade do aluno, flexibilidade para diferentes layouts, mudanças formais nos planos de piso, paredes, telhados e tetos e variação das pinturas da sala de aula. De acordo com Ciriaco (2016), ao processo de Inspiração, com o objetivo de cultivar a criatividade e a harmonia nas crianças, são abordados fatores arquitetônicos como: iluminação natural controlada, pinturas com técnicas especiais, conexão com a natureza e ambientes naturais, aberturas nas salas com janelas baixas e uso de materiais naturais nos ambientes. Outro método pedagógico que trata o ambiente como reflexo de sua metodologia de ensino é o Reggio Emilia. Esse método surgiu no final da Segunda Guerra Mundial na Itália onde a comunidade criou uma escola a partir das cicatrizes da guerra como símbolo de recomeço e que por muito tempo foi administrada pelos pais (BARACHO, 2011, p.22). Foi após a visita do jornalista e pedagogo Loris Malaguzzi (1920 – 1994) que a proposta reggiana se concretizou. Como critica as escolas administradas pelo Estado, pela indiferença às crianças e autoaproveitamento, o pedagogo dedicou-se à organização de um projeto educativo inovador, no qual a criança participa ativamente no seu processo único de aprendizagem (BARACHO, 2011 apud CIRIACO, 2015, p. 29). De acordo com Alfredo Hoyuelos, 2004, (MARTIN, 2014, p.9, apud CIRIACO, 2016, p.29) pode-se listar como princípios da metodologia Reggio Emilia a participação e colaboração da comunidade (crianças, pais e educadores, a documentação do processo de aprendizagem, a importância da formação dos 38 educadores, a incorporação do atelier e um profissional artístico em parceria ao educador, o ambiente como terceiro educador, os trabalhos desenvolvidos através projetos, o desenvolvimento da criatividade, respeito à diversidade e interação racial. Sergio Spaggiari, 1999, (BARACHO, 2011, p.28 apud CIRIACO, 2016, p.29) acredita que a escola Reggio Emilia proporciona um ambiente propenso às atividades como dialética e busca se manter aberta e democrática. O princípio do ambiente como terceiro educador serve como agente passivo de mudanças e impulsiona a curiosidade, interação e conhecimento do mundo exterior (CIRIACO, 2016, p. 29) (figura 6). Figura 6 - Exemplo de layout de uma sala de aula Reggio Emilia Fonte: < https://www.archdaily.com.br/br/774406/uma-introducao-a-arquitetura-nas-pedagogias- alternativas?ad_medium=gallery >. Acesso em 01 nov. 2019 Dessa forma, Alessandra de Sá (2010 apud CIRIACO, 2016, p.30) pontua algumas questões pertinentes ao projeto do ambiente com grande valor educativo, como por exemplo: a experiência de viver o ambiente, o diálogo entre interior e o exterior, o uso da transparência (vidros, paredes vazadas), a relação do edifício com a identidade local através da participação de diferentes pessoas, a importância do atelier, a ausência de portas separando os ambientes como forma de integrar podendo 39 também haver a divisão por mobiliário, o espaço central na entrada da escola (denominado praça), a presença de plantas, o uso de móveis planejados e pensados à altura das crianças), a utilização de brinquedos vazados e grandes, uma área externa grande e com poucos brinquedos, o emprego de iluminação natural com grandes janelas próximas ao piso. 1.6 MARIA MONTESSORI E SEU MÉTODO Como afirma Marcelino (2014), as habilidades de maior influência sobre o sucesso escolar se dão a partir da primeira infância através de estímulos feitos de maneira apropriada, possibilitando um processo de aprendizagem natural, descomplicado e prazeroso. Maria Montessori (1870-1952) foi uma pedagoga, pesquisadora e médica italiana, idealizadora do método que carrega seu sobrenome e serviu de grande importância ao movimento Escola Nova, previamente já citado neste trabalho. Montessori iniciou sua carreira como médica e passou a desenvolver pesquisas e estudos psiquiátricos em crianças portadoras de distúrbios de comportamento e aprendizagem, defendendo a tese que a principal causa dos atrasos apresentados por essas crianças era a ausência de estímulos no ambiente para um desenvolvimento adequado. Dessa forma, passou a se dedicar na elaboração de fundamentos e materiais pedagógicos para estimulação do potencial de cada criança (MONTESSORI, 1936). Foi em 1907 que Montessori fundou a primeira escola pública, a Casa dei Bambini (figuras 7 e 8), a qual começou a aplicar os princípios de individualidade, autoeducação e liberdade de sua teoria. Caracterizando, então, o método como ativo, onde a “educação ao ritmo próprio de cada criança não se contrapõe à socialização, mas deve facilitar a integração no grupo” (ARANHA, 1989 apud CIRIACO, 2016, p. 20). Foi nessa escola que Montessori reuniu os resultados de seus estudos e observações, os quais difundem a criança como protagonista de seu próprio processo de aprendizagem, com seu próprio ritmo e limites, e o ambiente como influenciador do desenvolvimento educativo quando atende as necessidades das crianças (GADOTTI, 2002 apud SIQUEIRA, 2016, p.40). 40 Figura 7 - Sala de aula na Casa dei Bambini Figura 8 - Pátio da Casa dei Bambini Fonte: Montessori, 1936 Fonte: Montessori, 1936 Montessori (1936) caracteriza seu método por seis pilares pedagógicos, sendo o primeiro deles denominado de Autoeducação em que considera a capacidade de aprender que a criança possui de maneira natural e a partir dos seus próprios interesses, ela busca, explora, investiga. Assim sendo, a criança escolhe o que e como aprender, além do local para otimizar seus estudos. O segundo trata acerca da Educação Cósmica, que relacionao dever do educador de transmitir o conhecimento às crianças. O cosmo representa para Montessori ordem, logo a ideia é mostrar que existe uma função para tudo no mundo e que a ordem é essencial para assimilar essas informações para que a criança passe a entender qual sua tarefa no universo, como ela pode colaborar com ele, além de estimular sua imaginação. A Educação Como Ciência é o terceiro pilar em que o educador é responsável pelas observações e análises sobre cada criança para melhor entendê-las, definindo a melhor maneira de ensinar e assim, aperfeiçoar o método dia após dia (MONTESSORI, 1936). O quarto pilar e um dos mais importantes para a realização desse trabalho trata acerca do Ambiente Preparado, onde a criança desenvolve sua independência, entende sua liberdade e suas barreiras. Para Montessori (1936), o espaço deve se adequar as necessidades psicológicas e físicas de cada indivíduo, configurando um 41 mobiliário ergométrico acessível às crianças e com materiais didáticos expostos de fácil acesso. Outro pilar é o Adulto Preparado que conceitua o orientador como responsável por guiar e orientar o processo de aprendizagem, necessitando assim, de profissionais capacitados, pois é necessário conhecer as fases do desenvolvimento infantil. Por fim, o sexto e último pilar é a Criança Equilibrada que aborda a figura da criança como resultado do correto uso do ambiente e da ajuda do orientador preparado, possibilitando um desenvolvimento mais natural e possibilitando uma espontaneidade no trabalho (MONTESSORI, 1936). Um diferencial da metodologia montessoriana em contraste com a pedagogia tradicional é o agrupamento de crianças por ambiente. Enquanto o sistema tradicional separa crianças por idade em cada sala de aula, o método em questão une diferentes idades em cada ambiente. Melhor dizendo, os alunos são divididos por agrupamentos da seguinte forma: de zero a três anos, dos três aos seis, dos sete aos nove, dos nove aos onze, dos onze aos quatorze e assim por diante. O objetivo desse agrupamento é desencadear o fator social e promover uma atmosfera de empatia e solidariedade (LAGÔA, 1981 apud SIQUEIRA, 2016). Pode-se concluir então que a escola baseada no método Montessori busca cativar os alunos ao processo de aprendizagem através de materiais lúdicos e interação com o ambiente. O envolvimento do aluno em uma classe com crianças com diferentes idades também proporciona a prática do espirito de cooperação, além de colaborar com a manutenção do ambiente. Espera-se que o aprendizado seja sempre estimulado, sem haver a necessidade de dividir o horário de sala de aula e recreio, podendo este também ser passível de ensinar. Supõe também que os alunos sejam o guia do seu próprio processo de aprendizagem, aprendendo com seus erros, encontrando suas soluções em diferentes meios, não apenas em sala de aula, como também em bibliotecas e uso da internet (LAGÔA, 1981 apud SIQUEIRA, 2016). Machado (1986 apud ELALI, 2002, p.77) listou características do Método Montessori, tais quais: 1) Ensino através da manipulação de materiais (figura 9); 2) Liberdade na escolha das atividades; 3) Aula-silêncio para controle da mente e do corpo; 42 4) Exercícios de vida prática (abotoar roupa, calçar sapatos, varrer, cuidar do jardim, etc.); 5) Exercício da ginastica com aperfeiçoamento dos mecanismos motores; 6) Educação dos sentidos, os quais se subdividem em 6 tipos: auditivo, visual, tátil-termico, tátil físico, pesos-medidas e olfato-paladar. Figura 9 - Materiais didáticos para uso do Método Montessori Fonte: < https://psicologiaacessivel.net/2015/04/25/metodo-montessori-outro-olhar-sobre-ensino-e- aprendizagem/ >. Acesso em 01 nov. 2019 Uma outra grande contribuição de Montessori para a viabilização desse método foi a produção de um material didático, o qual denominou “Material Dourado”, e que continha em sua composição cubos, placas e barras de madeira em diferentes cores, tamanhos e texturas. É através desse material que a criança pode aprender linguagem, matemática, ciências e questões sensoriais, servindo, portanto, como exercícios da vida rotineira (KOWALTOWSKI, 2011). 43 Figura 10 - Exemplo de layout de uma sala de aula do Método Montessori Fonte: <https://montessorirocks.org/what-to-look-for-in-a-montessori-school/>. Acesso em 01 nov. 2019 No Método Montessori, o espaço: Deve ser um local espaçoso, silencioso e em contato com a natureza (árvores, flores, gramados). Os móveis devem ser acessíveis ao tamanho da criança: pequenas cadeiras, mesas, armários e utensílios de cozinha, ferramentas diversas etc., e leves para serem mudadas de local pela criança com facilidade. A sala de aula não é aquela tradicional: carteiras enfileiradas, crianças quietas, sentadas imóveis, professora em posição de destaque na frente da classe, vigiando os alunos. Ao contrário, as crianças têm liberdade para comunicarem e se movimentarem na sala, geralmente sentam-se em tapetes no local que acharem mais adequado (LAMORÉA, 1996 apud CIRIACO, 2016, p. 21). Foi na Holanda que o método teve uma grande repercussão e ficou sob a responsabilidade do arquiteto Herman Hertzberger o projeto de diversas escolas, sendo a primeira projetada em 1960, nomeada Escola Montessori Delft (figura 11 e 13). Esta escola tornou-se símbolo de edificação escolar que reflete os princípios do método de ensino em sua estrutura (SIQUEIRA, 2016, p.42). A autora também afirma que Hertzberger foi um dos primeiros arquitetos a relacionar as salas de aula e os espaços de interação, com a inserção de alpendre entre ambientes para uma gradação entre o interno e o externo. Hertzberger (1999) propõe, mediante a elaboração desse projeto, salas de aula como unidades independentes, com a ideia de pequenos lares, dispondo todas as https://montessorirocks.org/what-to-look-for-in-a-montessori-school/ 44 classes ao longo do hall da escola, como uma rua comunitária. A caracterização da sala é decidida em conjunto entre professora orientadora e alunos, tendo autonomia para criar a própria aparência e atmosfera. Figura 11 - Escola Montessori em Delft, Holanda. Fonte: Disponível em < http://hertzbergertca.blogspot.com/2009/10/montessori-school-delf.html >. Acesso em 01 nov. 2019 Inspirado no Material Dourado criado por Montessori, Hertzberger brinca com a criatividade das crianças ao encaixar, no meio do chão do pátio, uma caixa quadrada preenchida por blocos de madeira soltos que podem ser retirados e montados conforme as ideias do usuário, servindo como arranjo de assentos ou outras formas a depender da inventividade da criança (figura 12). Pode-se perceber aqui, a preocupação do arquiteto para seguir os princípios do método, além da importância dada à escala humana das crianças e a articulação entre usuários e espaço construído (SIQUEIRA, 2016, p.43). Esta escola, projetada em 1960 e ampliada várias vezes desde então (figura 13), possui uma articulação espacial onde permite atividades simultâneas sem que uma atrapalhe a outra. As salas de aula, em formato de L, geram um amplo corredor central complementar que serpenteia diagonalmente pelo edifício, de modo a articular diferentes zonas de concentração. Muita atenção também foi dada à zona externa e às entradas, criando espaços que possam ser usados de diversas maneiras. Foram feitos todos os esforços para diminuir o 45 limiar entre o mundo exterior e a escola. O playground não está fechado e pode ser usado pelas crianças locais após o horário escolar1 (MONTESSORI..., 2019, s.p.). Devido à importância dos ambientes no dever de influenciar o aluno e estimular o processo de aprendizagem, Montessori (1936) defende que os espaços escolares devem proporcionar a observação, a atividade, a ordem, a liberdade e a autonomia, deve-se também resistir à repressão de atividades infantis.A organização do ambiente também é digna de atenção, seguindo o segundo pilar da pedagogia, e a disposição dos objetos devem concordar com as necessidades das crianças. No mais, toda escola deve ser pensada para ser um lugar para se experimentar, aprender e viver (MONTESSORI, 1936). Dessa forma, para oferecer espaços de conexão com ambientes adequados em suas proporções e dimensões, o edifício escolar infantil deve se adaptar as possibilidades variadas de uso e um planejamento de conforto ambiental, como elaboração de um projeto prevendo uma ventilação e iluminação natural. 1 Do original: “his school, designed in 1960 and extended several times since, has a spatial articulation that permits activities to take place simultaneously without one disturbing the other. The classrooms, which are L-shaped so as to articulate different zones of concentration, together generate a complementary wide central corridor which meanders diagonally through the building. Much attention has also been given to the external zone and the entrances, creating spaces which can be used in many ways. Every effort has been made to soften the threshold between the outside world and the school. The playground is not closed off and can be used by the local children after school hours.”(MONTESSORI school delft. AHH, 2019. Herman Hertzberger, Manfred Kausen, Roos Eichhorn. Disponível em: < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft> Acesso em: 01 nov. 2019. https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori-school-delft 46 Figura 12 - Caixa de madeira no pátio da escola em Delft Fonte: Disponível em < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori- school-delft >. Acesso em 01 nov. 2019 Figura 13 - Evolução durante os anos da escola em Delft Fonte: Disponível em < https://www.ahh.nl/index.php/en/projects2/9-onderwijs/114-montessori- school-delft >. Acesso em 01 nov. 2019 Em uma análise feita por Kowaltowski e Alvares (2013 apud CIRIACO, 2016, p.21) a partir de pesquisas bibliográficas e Problem Seeking, foram identificadas várias características de um ambiente escolar montessoriano, listados abaixo: 1) Salas de aula com abundância de iluminação natural; 47 2) Salas com espaço para acomodar, prezando o conforto, os alunos (entre 25 e 30 por sala) e materiais didáticos; 3) O ambiente deve despertar a curiosidade da criança, como também estimular, atrair, convidar e desafiar; 4) As salas devem ser confortáveis e proporcionar uma sensação parecida com a de um lar; 5) Os corredores devem ser aproveitados como espaços de aprendizagem; 6) O projeto deve evitar o sistema tradicional; 7) O ideal é ter algum acesso conduzindo para jardim, e outro que possa permitir a circulação da criança (entrar/sair); 8) A sala deve ter um pequeno jardim ou ambiente fechado por cerca ou muro, que permita a criança trabalhar ao ar livre; 9) O layout da sala de aula deve proporcionar o trabalho em pequenos grupos; 10) A sala deve integrar diversos temas científicos. 48 2. ESTUDOS DE REFERÊNCIA O presente capítulo aborda estudos de referências de projetos arquitetônicos de maneira direta (através de visitas in loco) e indiretas (mediante pesquisas) que irão servir como base para decisões a serem tomadas para o objeto de estudo proposto. Para um melhor desempenho do projeto, busca observar aspectos projetuais como programa de necessidades, funcionalidade, soluções de conforto, acessibilidade, entre outros. 2.1 ESTUDOS INDIRETOS Para fundamentar este estudo, foram realizadas primordialmente duas análises em instituições para servir como base e referências para possíveis soluções ao objetivo geral desse TFG. Em busca de uma melhor compreensão do método Montessori, das soluções de relação entre ambientes, do programa de necessidades, da ludicidade e do conforto ambiental, foram feitos estudos por meio de de acervo digital e pesquisas acadêmicas. O primeiro estudo foi realizado na Fuji Kindergarten, localizada em Tachikawa, no Japão e seu foco trata da liberdade do aluno como forma de aprendizado idealizada pelo arquiteto, enquanto o segundo, na Escola Primária e Biblioteca de Gando, na vila de Gando, em Burkina Faso, aborda soluções bioclimáticas. 2.1.1 FUJI KINDERGARTEN Idealizado pela empresa Tezuka Architects, esse projeto fora finalizado em 2007 em Tachikawa, cidade japonesa localizada na província de Tóquio, no Japão (figura 14). Trata-se de um jardim de infância para crianças ente dois a seis anos, que mesmo após 10 anos de sua conclusão, fora premiado com o prêmio internacional Moriyama RAIC, reconhecido por ser considerado "transformador no seu contexto social". A instalação da edificação em forma oval (figura 15), de 183 metros, abriga cerca de 600 crianças. A escola segue a metodologia Montessori e uma das grandes atribuições a esse projeto é a possibilidade de tornar o telhado em um deck que acaba 49 por ser um gigante playground, permitindo assim que as crianças brinquem e percorram infinitas voltas ao seu redor. Figura 14 - Fuji Kindergarten no Japao Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground. Acesso em: 01 jul. 2018. Figura 15 - Planta de implantação, Fuji Kindergarten Fonte: www.behance.net/gallery/47682131/FUJI-KINDERGARTEN-by-Tezuka-Architects-Analysis. Acesso em: 01 jul. 2018. 50 Figura 16 - Organização esquemática do pavimento térreo e pavimento superior (deck), Fuji Kindergarten Fonte: www.behance.net/gallery/47682131/FUJI-KINDERGARTEN-by-Tezuka-Architects-Analysis. Acesso em: 01 jul. 2018. De acordo com Takaharu Tezuka em uma conferência TEDx Kyoto em 2014, “é um tipo de circulação infinita em cima do telhado. Se você tem filhos, sabe que as crianças adoram se mover em círculos” (figura 17). O objeto aqui é permitir a livre circulação dos alunos, potencializada também pela ausência de paredes no interior da edificação, logo, quando uma criança sente a necessidade de se ausentar da sua classe, ela poderá fazê-lo, mas eventualmente acabará voltando ao seu ponto inicial. A altura do edifício é de 2,10 metros, atuando como uma conexão mais próxima entre os níveis, além de não existir barreiras entre as salas de aula, o que potencializa o ruído na escola. Tezuka diz que, “consideramos o barulho um fator importante. Neste jardim de infância, as crianças demonstram uma concentração surpreendente na sala de aula. Elas precisam de barulho”. 51 Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground. Acesso em: 01 jul. 2018 Não existem equipamentos de playground instalados, senão o próprio edifício. Claraboias, escadas, escorregadores, pias e mangueiras, redes ao redor das árvores, tudo funciona como aguçador da curiosidade e dos sentidos (figuras 18 e 19). As crianças são livres para circular livremente, cair e se molhar em um ambiente “seguro”. Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground. Acesso em: 01 jul. 2018. Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground/. Acesso em: 01 jul. 2018. Figura 17 - Telhado (deck) de livre circulação, Fuji Kindergarten Figura 18 - Elementos lúdicos, Fuji Kindergarten Figura 19 - Elementos lúdicos, Fuji Kindergarten 52 O fator de segurança de fato existe, o guarda-corpo ao redor de todo perímetro do telhado, os móveis todos com acabamento boleado, o auxílio de um tutor, etc., porém o arquiteto propõe o perigo como forma de aprendizado, os alunos são livres para tentar escalar as árvores, por exemplo. A intenção é também aprender a ajudar uns aos outros, de acordo com Tezuka (TEDxKyoto 2014), as crianças precisam de uma pequena dose de perigo. Figura 20 - Anexo do edifício principal, Fuji Kindergarten Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground/. Acesso em: 01 jul. 2018. Corrimãos atuam como uma barreira de segurança e permitem que o pátio interno, à forma oval do edifício, seja transformado em uma arena (figura 21). As grades estão próximas o suficiente, de modo que as crianças não fiquem com as cabeças presas, mas permitam que elas se sentem com as pernas penduradas. Figura 21 - Corrimão transformado em espaço para arena, Fuji Kindergarten Fonte: www.dezeen.com/2017/10/02/fuji-kindergarten-tokyo-tezuka-architects-oval-roof-deck- playground/. Acesso em: 01 jul. 2018 53 A tabela 5 resume alguns aspectos considerados nesse projeto a serem incorporados e evitados: Tabela 5 –Características e elementos a serem incorporados e evitados CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM INCORPORADOS 01 Espaço fluido – concepção de liberdade atribuída ao projeto 02 Integração interior – exterior e integração com a natureza 03 Adaptação dos espaços ao uso 04 Uso de elementos arquitetônicos como potencializador da curiosidade e ludicidade CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM EVITADOS 01 Espaços propagador de ruídos – inexistência total de elementos de barreiras. 02 Elementos propensos à insegurança. Fonte: Elaborado pela autora. 2.1.2 ESCOLA PRIMÁRIA E BIBLIOTECA DE GANDO Concebido pelo arquiteto Diébédo Francis Kéré em 2001, o projeto foi instalado na vila de Gando, em Burkina Faso, aldeia natal do arquiteto, que quando criança enfrentou diversos desafios, como ter que percorrer cerca de 40km para chegar à escola, a qual provia pouca iluminação e conforto térmico. Keré realizou seu primeiro projeto construído na sua cidade natal como forma de reinvestir o seu conhecimento adquirido na Technische Universität Berlin (Universidade Técnica de Berlin, Alemanha), onde concluiu sua graduação em arquitetura. Por meio do apoio da comunidade e recursos provenientes da fundação Schulbausteine für Gando (Tijolos para Gando), o projeto pôde ser concluído (figura 22). O projeto contava com algumas limitações e condicionantes importantes, como custos, clima, disponibilidade de recursos e viabilidade de construção, e para tornar possível a execução do projeto, uma construção híbrida de argila e lama foi levantada primeiramente, uma vez que é uma técnica de construção tradicional, e após essa primeira fase foi incorporado uma construção mais robusta estruturalmente sob a forma de tijolos. 54 A argila se caracteriza como um material de fácil produção e de baixo custo, além de fornecer uma proteção térmica ao clima quente de Burkina Faso. Para contrastar com a durabilidade limitada, as paredes foram protegidas contra precipitação com um grande telhado suspenso, proporcionando um clima agradável devido ao efeito chaminé, onde a ventilação leva para fora o ar aquecido da cobertura (figura 24). Figura 22 - Escola Primária de Gando Fonte: www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/. Acesso em: 01 jul. 2018. Figura 23 - Planta Baixa da Escola Primária de Gando Fonte: www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/. Acesso em: 01 jul. 2018. http://www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/ http://www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/ 55 Figura 24 - Corte longitudinal e transversal da Escola Primária de Gando Fonte: www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/. Acesso em: 01 jul. 2018. O conforto lumínico é derivado das aberturas das janelas utilizadas e podem ser controlado através de persianas (figura 25). Existem também aberturas no teto que favorecem a iluminação natural e que combinada com a ventilação natural, servem para manter o conforto no interior da escola, fornecendo uma estratégia de refrigeração passiva sem o uso de eletricidade. Figura 25 - Detalhe das aberturas e esquadrias da Escola Primária de Gando Fonte: www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/. Acesso em: 01 jul. 2018. http://www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/ http://www.kere-architecture.com/projects/primary-school-gando/ 56 O edifício da biblioteca, uma extensão da escola, embora ainda em construção desde 2012, forma uma conexão física entre a escola primária e sua outra extensão, que não será detalhada nesse estudo. Dessa forma, torna possível o abrigo do pátio da escola dos ventos orientais empoeirados. Dando continuidade aos mesmos materiais utilizados, esse projeto se diferencia pela sua forma orgânica elíptica, se aproximando mais da tradicional habitação vernacular da região. Um aspecto interessante é o uso da panela de barro, artesanato produzido por mulheres da região, no teto da biblioteca, possibilitando assim que o espaço possua características lúdicas devido a introdução da luz natural de forma passiva no interior da biblioteca. Figura 26 - Biblioteca da Escola Primária de Gando Fonte: www.archdaily.com.br/br/01-67126/em-construcao-biblioteca-escolar-em-gando-kere- architecture. Acesso em: 01 jul. 2018. Fonte: www.archdaily.com.br/br/01-67126/em-construcao-biblioteca-escolar-em-gando-kere- architecture. Acesso em: 01 jul. 2018. Figura 27 - Efeito lumínico no teto da Biblioteca da Escola Primária de Gando 57 Além desse efeito, uma cobertura de ferro suspenso protege o teto do contato direto da incidência solar, assim como no caso do edifício escolar. Diante desse estudo, pode-se considerar o quadro 3 como síntese dos pontos observados e considerados nesse projeto. Tabela 6 - Características e elementos a serem incorporados CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM INCORPORADOS 01 Utilização de material local 02 Estratégias bioclimáticas 03 Elementos lúdicos para iluminação Fonte: Elaborado pela autora. 2.2 DIRETO Como forma de complementar e vivenciar o ambiente escolar, outras duas análises serviram para fomentar a construção do programa de necessidades desse trabalho final de graduação, bem como entender a relação entre ambiente e usuário e como a aplicação da metodologia influencia, uma vez que ambos projetos tratam de escolas que aplicam o Método Montessori. Analises in loco orientaram também questões de acessibilidade e ludicidade. O primeiro estudo foi realizado na Meimei Escola, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro e a segunda análise na Lakeland Montessori Schoolhouse, em Lakeland, Flórida, nos Estados Unidos. 2.2.1 MEIMEI ESCOLA Para este estudo de caso foi prioridade a observação da aplicação do método e como o mesmo se relaciona com o espaço. Dessa forma, e com base no banco de dados da Organização Montessori do Brasil (OMB) referente às escolas credenciadas, foi escolhida a Meimei Escola, uma representante da metodologia no Brasil. Em uma conversa com a professora responsável pela visita guiada à escola, foram observados inúmeros pontos interessantes e que estão listados adiante. A escola, localizada na Rua dos Artistas, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi fundada em 1977 e desde então vem propondo uma alternativa de educação 58 baseando seus valores na preocupação humanista, ao respeito à individualidade e diversidade, ao desenvolvimento de posturas éticas e ao estímulo à solidariedade. Figura 28 - Fachada da Meimei Escola, no Rio de Janeiro Fonte: www.meimeiescola.com.br/nossos-ambientes. Acesso em: 29 ago. 2018. No decorrer dos anos, a escola vem sofrendo diversas ampliações e reformas, sendo a mais recente datada em julho de 2018, um mês antes da visita inloco realizada no dia 13 de agosto de 2018. Inicialmente uma casa de padrões ecléticos contendo apenas duas salas de aula, hoje já é um complexo com cinco salas, laboratórios, auditório, ala administrativa,etc. (figura 28). A Meimei Escola adota a separação de turmas por meio de agrupamentos denominados Agrupadas, acolhendo alunos de idades diferentes. Sendo os segmentos Agrupadas I e II referente à Educação Infantil, Agrupadas III, IV e V ao Ensino Fundamental e Agrupada VI ao Ensino Médio. A análise começa pela Agrupada I, localizada no térreo (figura 29), abriga alunos a partir de 1 ano e meio até 3 anos e comporta até no máximo 25 alunos, com duas professoras auxiliando-os em todas atividades (figura 30). Em relação a esse ambiente, foi percebido que a maioria das atividades eram realizadas no chão, além de todo mobiliário ser de uma altura apropriada para uma criança com até 3 anos, objetos que possibilitam as crianças a se descobrirem, como por exemplo, um enorme espelho no canto da sala. 59 Figura 29 - Planta baixa esquemática do pavimento Térreo Fonte: Elaborado pela autora. Figura 30 - Sala da Agrupada I, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. 60 Esta sala é equipada com banheiro e pia, além de frigobar e filtro bebedouro, espaço para guarda de mochilas, cantinho da leitura, cantinho do som, quadrinho lousa, painel para exposição de trabalhos e desenhos, estantes acessíveis com material didático, um pequeno aquário com peixinho, colchonete, espelho e algumas plantinhas em pequenos jarros. Na Agrupada II (figura 32), já no segundo pavimento (figura 31), na parte ampliada da escola, abriga alunos de 3 a 7 anos, comportando também até 25 alunos no ambiente, sob supervisão de duas professoras. Este ambiente em muito se assemelha com a agrupada I, pois ambos segmentos dispõem de banheiro, pia, estantes ergométricas, espaço para leitura, espaço para guarda de matéria e plantinhas espalhadas pela sala, a diferença está, entretanto, na imposição de outros elementos didáticos, como uma elipse desenhada ao chão, além da aplicação de esquadria no teto possibilitando uma iluminação zenital, além de uma conexão direta a um espaço destinado à plantio e cultivo de hortaliças, externo ao edifício. Figura 31 - Planta baixa esquemática do segundo pavimento Fonte: Elaborado pela autora. 61 Figura 32 - Sala da Agrupada II, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. Figura 33 - Planta baixa esquemática do terceiro pavimento Fonte: Elaborado pela autora. Na Agrupada III, localizada no terceiro andar (figura 33) e auxiliado por duas professoras, comportando até no máximo 25 crianças de 7 a 9 anos de idade, encontra-se o primeiro diferencial tecnológico: uma mesa com computador (figura 34). 62 Figura 34 - Sala da Agrupada III, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. Apesar de abrigar elementos similares aos segmentos anteriores, com amplo espaço destinado a atividades ao chão, esse ambiente possui acesso à uma sacada com algumas plantas e não há um banheiro dentro da sala, pois já existe, no mesmo pavimento, banheiros destinados a atender essa Agrupada e a Agrupada IV, também localizada no mesmo andar. A Agrupada IV (figura 35) comporta até no máximo 25 crianças de 9 a 12 anos de idade, auxiliado por duas professoras. Este ambiente, diferente dos anteriores, possui um vasto espaço com mesas e cadeiras e apenas uma pequena área para realizações de atividades no chão. Assim como a Agrupada III, não possui sanitários. Este ambiente está localizado na parte superior à casa eclética que deu origem à escola, entretanto já se trata de uma ampliação. 63 Figura 35 - Sala da Agrupada IV, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. A sala destinada a Agrupada V (figura 36) funciona pela manhã para alunos que teoricamente seriam o 7º, 8º e 9º ano em uma escola tradicional e pelo turno vespertino, abriga a Agrupada VI. Localizada no térreo, este espaço é abrigado pela casa original, sendo bastante perceptível as reformas aplicadas no conjunto, uma vez que a presença de pilares no meio da sala comprova a ausência do que antes seriam as paredes que dividiam os dois grupinhos de sala de aula em 1977. O ambiente é repleto de mesas de diferentes formatos, dispostas de forma aleatória pela sala, há também, um espaço para projeção de vídeos, guarda-volumes e mesas com computadores. O complexo de fato difere de uma escola onde é aplicada a metodologia tradicional, entretanto diante de inúmeras ampliações, a acessibilidade torna-se complicada, uma vez que não existem rampas de acesso ou plataformas elevatórias, além de conter uma estreita circulação em alguns locais. 64 Figura 36 - Sala da Agrupada V, Meimei Escola Fonte: Acervo próprio. Outros ambientes também são interessantes pela sua peculiaridade, como o caso da sala de estudo de línguas (figura 37). Apesar de ser composto por uma sala retangular, com ausência de mobiliário, a ideia do uso prevalece. Com apenas algumas almofadas espalhadas pelo chão, não é permitido aos alunos escreverem em seus cadernos, afinal a proposta é ter uma sala com ausência de distrações enquanto se pratica a oratória em outra língua. Figura 37 - Sala de estudo de linguagens, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. 65 No quarto e último pavimento (figura 38), está situado o auditório da escola e também uma sala de marcenaria e maquetes. A escola se apropria da ideia que a atividade “estudar” já é considerado uma grande brincadeira, dessa forma, não existe a presença propriamente dita de um playgroud. Figura 38 - Planta baixa esquemática do quarto pavimento Fonte: Elaborado pela autora. Outra observação interessante é, além da conexão com a flora, a fauna também é bastante presente no cotidiano dos alunos, seja com a presença de pequenos aquários em sala de aula, seja pelo aquário gigante na entrada principal, seja pelo espaço de criação de jabutis no térreo, onde as crianças são permitidas a interagirem com os animais (figura 39). Figura 39 - Espaço Jabutis e Aquário, Meimei Escola. Fonte: Acervo próprio. 66 A tabela 7 resume alguns aspectos considerados nesse projeto a serem incorporados e evitados: Tabela 7 - Características e Elementos a serem incorporados e evitados com base no estudo direto da Meimei Escola. CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM INCORPORADOS Conexão com fauna e flora Horta orgânica Programa de necessidades CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM EVITADOS Espaços não acessíveis Fonte: Elaborado pela autora. 2.2.2 LAKELAND MONTESSORI SCHOOLHOUSE Lakeland Montessori Schoolhouse é uma instituição pública localizada na cidade de Lakeland, na Flórida, Estados Unidos. Fundada em 2004, atende crianças a partir de 3 anos até 12, sendo os últimos 10 anos implantada na 1124 North Lake Parker Avenue, na qual passou por sua última reforma no ano de 2018, quando foi adicionado o anexo ao edifício original (figura 40 e 41). Atualmente, comporta três salas de aula para o ensino primário (primary), duas salas destinadas as séries iniciais (lower elementary) e uma dedicada aos anos posteriores (upper elementary). 67 Figura 40 - Implantação da Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Adaptado de Google Earth, 2019. Figura 41 - Anexo da Lakeland Montessori Schoolhouse, EUA. Fonte: Acervo próprio. As classes destinadas ao primary encontram-se na edificação original (figura 42) e possuem o máximo de 26 alunos, de idades ente 3 a 6 anos, auxiliados por dois professores orientadores, sendo um deles certificado pela AMS (American Montessori Society). Esse ambiente de sensação acolhedora, compõe uma paleta de cores claras, com paredes pintadas num tom de verde pastel e móveis todos em madeira clara, aplicando um aspecto natural ao ambiente (figura 43). Conta também com a presença de iluminação natural através de numerosas janelas, dutos de ventilação e aquecedores utilizados nas épocas com temperaturas mais críticas, além de um forro com isolante acústico.anexo edifício original 68 Figura 42 - Planta baixa do edifício Fonte: Cedido pela diretora Heather Manrow. Figura 43 - Sala de aula para nível primary, Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Acervo próprio. 69 A presença de tapetes e o piso em madeira (figura 44) possibilitam um aconchego, que foi vivenciado ao observar as crianças, durante suas atividades, deitadas e caminhando com os pés calçados apenas com meia. Também foi percebido pequenos detalhes que deixa o espaço mais pessoal, como caixas para guarda de pertences com os nomes e fotos dos alunos, além de um mural nas paredes com atividades produzidas em sala e plantas decorando o ambiente (figura 45). Todas salas desse nível contam também com áreas de apoio como depósito, bancada com pia e banheiro acessível (figura 46). Observa-se o uso de mobiliário acessível, baixos, ideais para a altura das crianças. Figura 44 - Sala de aula para nível primary, Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Acervo próprio. Figura 45 - Mural na parede Fonte: Acervo próprio. Figura 46 - Bancada e pias acessíveis Fonte: Acervo próprio. 70 As classes destinadas ao lower elementary estão locadas no anexo da escola (figura 47 e 48) e têm capacidade para até 30 alunos, de idades entre 6 a 9 anos, auxiliados por um professor orientador certificado pela AMS e um professor assistente. Com o mesmo padrão de cores das paredes e mobiliários das classes primary, o modelo se diferencia pela escala dos móveis, agora um pouco maiores que antes, e a presença de uma cozinha com geladeira e máquina de lavar loucas, não possui fogão, mas existe um forno que é manuseado com a ajuda de um adulto (figura 49). Figura 47 - Planta baixa do anexo à Lakeland Montessori Schoolhouse Fonte: Acervo próprio. Figura 48 - Sala de aula para nível lower elementary, Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Acervo próprio. 71 Figura 49 - Cozinha da classe lower elementar. Fonte: Acervo próprio. Os forros com isolante acústico já não estão presentes, entretanto agora existe uma sala reservada intitulada “quiet room” que funciona como área de estudos mais silenciosa (figura 50), além de contar também com banheiros e depósito como compartimentos de apoio. A presença de plantas permanece, aparecendo agora sobre mesas e armários (figura 51). Figura 50 – “Quiet Room” Fonte: Acervo próprio. Figura 51 – Plantas sobre armários Fonte: Acervo próprio. 72 No upper elementary, localizado também no anexo da escola e com uma conexão direta com as salas de nível lower elementary, abriga crianças entre 9 a 12 anos, com uma capacidade de até 40 alunos (figura 52). Diferente dos níveis anteriores, esta classe conta com a presença de dois professores orientadores certificados pela AMS. Figura 52 - Sala de aula para nível upper elementary, Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Acervo próprio. As características desse ambiente são similares ao nível anterior, com cores claras e revestimento em madeira, como também cozinha com geladeira, forno e máquina de lavar louça, acrescentando o uso de micro-ondas. Também conta com uma área de apoio com banheiros, depósito e o quiet room. Apresenta uma escala padrão de mobiliário e a presença de mesas de trabalho na composição do layout. Durante as atividades exercidas, foi possível escutar uma música ambiente de estilo clássico, e a conexão com a natureza foi exercida através de plantas e um aquário na decoração (figura 53). Figura 53 - Aquário na sala de aula, nível upper elementary. Fonte: Acervo próprio. 73 O anexo é ligado à um pátio coberto (figura 54), que leva até uma área de recreio ao ar livre, onde as crianças praticam suas atividades físicas. Este espaço é bastante arbóreo e contempla um playground (figura 55 e 56). Figura 54 - Pátio coberto, Lakeland Montessori Schoolhouse. Fonte: Acervo próprio. Figura 55 - Espaço externo com o anexo à esquerda e o edifício original à direita. Fonte: Acervo próprio. 74 Figura 56 - Playground, Lakeland Montessori Schoolhouse Fonte: Acervo próprio. No edifício original existem algumas salas sem uso definido, servindo para acúmulo de entulhos e depósito, outras sofreram alterações quanto ao projeto original, como é o caso da biblioteca que se tornou uma sala de conferências. No setor administrativo, há a presença da recepção e da diretoria, os outros dois ambientes destinados à escritório são hoje uma sala de psicologia/terapia e uma sala onde um oficial da polícia permanece, devido a uma exigência da lei local, que obriga todas escolas públicas a contratarem serviço de segurança. Há também uma sala de primeiros socorros para atender a funcionários e alunos. A tabela 8 resume alguns aspectos considerados nesse projeto a serem incorporados e evitados: Tabela 8 - Características e elementos a serem incorporados e evitados com base no estudo direto da Lakeland Montessori Schoolhouse. CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM INCORPORADOS Amplo espaço Conexão com fauna e flora Ambientes com iluminação natural Programa de necessidades CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS A SEREM EVITADOS Espaços sem aproveitamento, inutilizados. Fonte: Elaborado pela autora. 75 3. DIRETRIZES E CONDICIONANTES PROJETUAIS Como parte do processo da ação de projetar, baseando-se em todo referencial teórico previamente analisado e considerando os estudos de referência direto e indireto, também é de suma importância questões acerca das condicionantes projetuais próprias da área de intervenção. Dessa forma, neste capítulo apresenta-se as diretrizes projetuais adotadas fundamentando-se nos conceitos já abordados, como também o pré- dimensionamento dos ambientes, além das condicionantes projetuais físicas, ambientais e legais do terreno determinado para o desenvolvimento da proposta de uma escola pública de ensino infantil e fundamental I. No segundo capítulo foram abordados conceitos sobre psicologia do desenvolvimento infantil, arquitetura escola, projetos padrão, a metodologia como influenciadora do ambiente e o Método Montessori. Como consequência dessas análises, foi possível delinear diretrizes para que o projeto englobe as características necessárias de uma escola atrativa e estimuladora do desenvolvimento intelectual e social das crianças. Com intuito de melhor explanar a influência de cada assunto, vê-se necessário a concepção de uma matriz de relações (Quadro 1) entre os conceitos e diretrizes. Quadro 1 - Resumo de diretrizes com base no referencial teórico analisado REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITO DIRETRIZ DESENVOLVIMENTO INFANTIL AFETIVO E SOCIAL Projetar ambientes humanizados que favoreçam as relações interpessoais entre alunos, profissionais e comunidade. INTELECTUAL Possibilitar condições mínimas de um espaço de aprendizado. ARQUITETURA ESCOLAR RELAÇÕES HUMANAS Projetar ambientes humanizados que favoreçam as relações interpessoais entre alunos, profissionais e comunidade, com ambientes abertos à comunidade e atividades de lazer e cultura. ORGANIZACIONAL Projetar um ambiente que permita a diversidade e flexibilidade com a finalidade de estimular o aluno às variadas atividades pedagógicas. 76 PROJETO PADRÃO ECONOMIA E RAPIDEZ Proporcionar, através de um sistema construtivo conhecido, prático e de fácil manutenção, uma alternativa para orçamento público. MÉTODO MONTESSORI AMBIENTE PREPARADO Propor ambientes com características do método, tais como: com salas amplas e confortáveis com layout diferenciado e iluminação natural, espaços de transição entre interno e externo, possibilitando o contato com a natureza e estimulante sensorial. Fonte: Elaborado pela autora. 3.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES A educação primária é um direito social de todos, previstosua obrigatoriedade e gratuidade pela Lei nº 11.700, de 2008, a qual garante “vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade” (MEC, 2010). A educação infantil compreende a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas e atendem crianças de 0 a 5 anos de idade, com jornada de quatro horas por dia no mínimo. Enquanto o ensino fundamental é a segunda fase da educação básica, atende a população entre 6 a 14 anos de idade, podendo também se estender àqueles que na idade própria não tiveram condições de frequentar a escola. A carga horária mínima anual é de 800 horas (MEC, 2013). A definição do programa de necessidades de acordo com Kowaltowski (2011) trata de um “conjunto de necessidades que um projeto deve contemplar e o roteiro de como os requisitos funcionais devem estar dispostos em um novo prédio” (KOWALTOWSKI, 2011, p.63). O programa define os espaços necessários com base nas necessidades da comunidade a qual estará inserido, listando os ambientes direcionados as atividades escolares, separando-os por setores, com a finalidade de analisar e destacar os elementos principais. Dessa forma, pode-se compreender as relações funcionais entre um contexto e um espaço físico. Para Kowaltowski (2009), o programa arquitetônico é um sinônimo do programa de necessidades, em que seu objetivo é enumerar as condições. Refere-se então, acerca “da apresentação dos fatores de desempenho que se espera que a edificação 77 cumpra e cujo objetivo principal é manter a integridade dos usuários e dos bens que abriga, ao corresponder aos seus anseios e expectativas de conforto e satisfação nesse mesmo espaço” (Kowaltowski, 2009, p.32). Logo, espera-se que seja feita uma análise precisa dos requisitos do projeto para cumprir suas metas e estimular o uso de sua arquitetura. Ademais, as necessidades funcionais são expressas por requisitos de conforto ambiental, acústicos, visuais e de funcionalidades, uma vez que constitui um dos elementos da arquitetura que mais influencia o bem-estar (Kowaltowski et al., 2006, p.10). De acordo com a CABE (Comission for Architecture and the Built Environment, 2007a apud KOWALTOWSKI, 2011, p.217), dez critérios deveriam ser analisados no processo de projeto escolar, sendo eles: (1) Identidade e contexto: projetar ambientes que represente os usuários e a comunidade; (2) Implantação: aproveitamento do lote; (3) Aproveitamento da área externa da escola; (4) Organização: através de um diagrama claro para o edifício; (5) Edificações: composição da forma, dos volumes e da harmonia; (6) Interior: criar espaços dignos para ensino e aprendizagem; (7) Estratégias de sustentabilidade; (8) Segurança: pensar em um lugar seguro e acolhedor; (9) Vida longa, liberdade de possibilidades: adaptabilidade e possibilidade de evolução e expansão com o tempo; e (10) Síntese de sucesso: projeto que funcione em todo seu contexto. Com a clara oposição ao modelo tradicional de ensino, os espaços da escola Montessoriana priorizam o desenvolvimento emocional, físico, social, sensório e criativo dos estudantes. Logo, sua funcionalidade se comportará de maneira diferente da tradicional com amplos ambientes com layout diversificado, conectados com a natureza, com mobiliário apropriado, aplicação de cores e texturas diferentes com a finalidade de instigar a sensibilidade de cada criança. Sendo assim, fundamentado na metodologia de ensino Montessori, com base nos pilares apresentados previamente, e também nos Padrões Referenciais de Funcionamento da Escola, desenvolvido pela Secretaria de Educação e Cultura (SEEC-RN) do Governo do Rio Grande do Norte, foi definido o programa de necessidades e estipulado um pré-dimensionamento com base na área mínima proposto pela entidade federal (Quadro 2). 78 Quadro 2 - Programa de necessidades e pré-dimensionamento. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO AMBIENTE ATIVIDADE QUANT. ÁREA RECOMENDADA (m²) ÁREA PREVISTA S e to r A d m in is tr a ti v o Diretoria Ambiente para realização das atividades escolares, pequenas reuniões, atendimento a estudantes, pais, professores, funcionários e membros da comunidade. 1 12,43 12,43 Coordenação Ambiente onde se realiza atividades de estudo, planejamento, elaboração e acompanhamento de projetos, a avaliação e o controle das atividades curriculares, bem como a orientação e a assistência ao corpo docente. 1 12,43 12,43 Recepção Local de espera de estudantes, pais ou membros da comunidade em geral. 1 12,43 12,43 Secretaria Ambiente de trabalho das atividades administrativas da escola e de atendimento ao público interno e externo. 1 24,85 24,85 Arquivo Ambiente destinado à guarda, por exigência legal, de documentos de alunos, professores e funcionários. 1 6,21 6,21 Almoxarifado Ambiente destinado à guarda de materiais de consumo, submetidos a controle de entrada e saída pela direção. 1 6,21 6,21 Sala dos Professores Esse ambiente serve de sala de estar dos professores durante os intervalos entre aulas ou turnos, local de realização de atividades individuais de preparação de aulas e avaliação de trabalhos e provas e de reuniões com todo o corpo docente do turno. 1 24,85 24,85 Sanitário Funcionários Esse ambiente destina-se à higiene pessoal, troca e guarda de roupas e pertences do corpo docente, técnicos, administrativos e dos demais funcionários da escola. 2 5,59 11,18 Estar Funcionários Esse ambiente serve de sala de estar dos professores durante os intervalos entre aulas ou turnos. 1 12,43 12,43 Sala de Reuniões Esse ambiente serve como local destinado a reunião com externos e/ou internos. 1 12,43 12,43 Depósito de Material Didático Ambiente que os professores utilizam para estudo e preparação das aulas e onde são guardados materiais como TV, datashow, globos, mapas, esqueletos, jogos, tesouras, réguas, compasso, vídeos, mapas, maquetes e outros materiais didáticos. 1 12,43 12,43 79 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO AMBIENTE ATIVIDADE QUANT. ÁREA RECOMENDADA (m²) ÁREA PREVISTA S e to r P e d a g ó g ic o Sala de aula (capacidade 25 alunos) Local de desenvolvimento de aulas dos componentes curriculares do ensino. 8 49,70 397,60 Sanitário Esse ambiente destina-se à higiene pessoal dos alunos. 8 5,59 44,72 Lab. de Trabalhos Manuais e Maquetes Ambiente para o desenvolvimento de conteúdos de ensino que requer espaço para manuseio de maquinas e equipamentos supervisionados por professor orientador. 1 49,70 49,70 Biblioteca Local de guarda e empréstimo do acervo bibliográfico e da realização de atividades de leitura, pesquisa e produção de trabalhos, por estudantes e professores. 1 49,70 49,70 S e to r V iv ê n c ia Auditório Ambiente destinado a reuniões, solenidades, atividades culturais e festas da escola e comunidade. 1 180,00 180,00 Refeitório Ambiente destinado ao consumo da merenda escolar pelos estudantes, bem como à alimentação dos professores e funcionários. 1 55,91 55,91 Pátio Coberto Área coberta e aberta para abrigo dos estudantes, antes das aulas e durante os intervalos. 1 173,95 173,95 Quadra Coberta Ambiente destinado à prática de educação física, esportes e/ou recreação. 1 1.125,00 1.125,00 Depósito de Material Esportivo Ambiente destinado à guarda de material utilizado nas aulas de Educação Física. 1 6,21 6,21 Vestiário Esse ambiente destina-se à higiene pessoal dos alunos. Esse ambiente destina-se à utilização pelos estudantes, durante o período de aulas, e pela comunidade, durante reuniões e atividades festivas. 2 27,96 55,92 Sanitários PCD Esse ambiente destina-se à higiene pessoal adaptado às pessoascom deficiência, conforme a NBR 9050 da ABNT. 2 5,59 11,18 Horta Espaço verde para plantio de hortaliças e verduras destinado ao consumo interno. 1 - - S e to r d e A p o io Área de Serviço Ambiente para atividades de apoio aos serviços de cozinha e serviços gerais. 1 6,21 6,21 Depósito de Material de Limpeza (DML) Esse ambiente destina-se à guarda de vassouras, escovas, baldes, mangueiras d’água, além de produtos de utilizados na limpeza. 1 3,11 3,11 80 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO AMBIENTE ATIVIDADE QUANT. ÁREA RECOMENDADA (m²) ÁREA PREVISTA S e to r d e A p o io Depósito de Material de Jardinagem (DMJ) Esse ambiente destina-se à guarda de materiais de jardinagem. 1 3,11 3,11 Lavagem e Triagem Recebimento dos alimentos, pré- higienização, pesagem e separação dos gêneros por categoria 1 6,21 6,21 Despensa O ambiente destina-se à estocagem e conservação de gêneros alimentícios. 1 6,21 6,21 Cozinha Ambiente de preparação de alimentos escolar 1 24,85 24,85 Área de Corte Ambiente de corte (boi, frango e peixes) de carnes para preparo para não misturar com demais alimentos. 1 6,21 6,21 Distribuição Ambiente de distribuição de alimentos escolar 1 6,21 6,21 Copa Suja Ambiente para recebimento de louça suja e área de lavagem com tanque. 1 6,21 6,21 Estacionamento Estacionamento de veículos e carga e descarga de mantimentos. 1 vaga a cada 30alunos 2,40x5,00 (12m²) 7 vagas mín. (84m²) Bicicletário Estacionamento de bicicletas. 1 - - Guarita de segurança Ambiente para funcionário da segurança e para controle de entrada e saída de veículos. 1 6,21 6,21 Casa de Lixo Armazenamento do lixo produzido na escola. 1 1,55 1,55 Casa de Gás Armazenamento dos botijões de gás. 1 1,55 1,55 Circulação - - 10% da área total 245,94 Área Total Estimada 2.705,35 Fonte: Elaborado pela autora. Após a elaboração desse programa de necessidades, compreensão do programa e a estipulação de uma área mínima, pôde-se decorrer para uma próxima fase de escolha e análise da área a ser implantada. 3.2 ESCOLHA DO TERRENO A busca por um terreno condizente para a implantação da escola proposta nesse trabalho final de graduação baseou-se a partir da análise de variáveis de aspectos teóricos e empíricos. Uma localização apropriada para o bom desempenho dessa instituição envolve fatores como inserção ao setor urbano que carece desse tipo de atendimento, do fluxo da rede de transportes para um deslocamento fácil e 81 rápido dos estudantes, além de uma infraestrutura local e de uma área suficiente do terreno para o programa de necessidades proposto em conjunto com seu pré- dimensionamento (NEVES, 1989). Este subcapítulo trata das considerações observadas para a escolha do terreno, suas características, seu entorno direto e condicionantes ambientais e legais para uma locação adequada deste projeto. De acordo com o Manual de Orientações Técnicas desenvolvido pelo FNDE (2017), o terreno deve colaborar para um projeto sustentável utilizando recursos naturais como ventilação, radiação solar, vegetação existente. Também é considerada uma exigência importante à acessibilidade ao terreno, incluindo “a capacidade de locomoção dos indivíduos a pé ou por outros meios de transporte, os custos, a disponibilidade de tempo, as redes viárias, as distâncias dos percursos e os obstáculos topográficos, urbanísticos e arquitetônicos, independentemente da densidade populacional” (FNDE, 2017, p.21) Visando um padrão de funcionamento satisfatório da escola, é recomendado terrenos de forma regular, pela facilidade da locação da obra, e dimensões superiores a 20 metros, considerando uma área suficiente para implantação. Acerca da topografia, é aconselhada a implantação em terrenos regulares, com declividades máxima aceitável de até 20% (FNDE, 2017). Durante a realização desse trabalho, houveram fases durante a escolha do terreno em que foi ponderado a implantação para o bairro do Alecrim e Lagoa Nova, levando em consideração fatores listados acima. Em uma primeira análise, em uma busca a uma demanda exigida ou ausência de escola infantil e de nível fundamental I em um entorno, foi estudado o Mapa Temático de Escolas e Creches elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB, 2007) (figura 57), em que foi encontrado um déficit de Centros Municipais de Educação Infantil em meio ao seio comercial da cidade, entretanto, devido a obsoleta fonte deste mapa, procurou-se complementar informações em uma visita à Secretaria Municipal de Educação e também com o objetivo de buscar terrenos vazios em posse da Prefeitura da cidade do Natal, entretanto em meio a esse cenário, os terrenos vazios encontrados em uma prévia procura, eram particulares. Apesar deste empecilho, e em uma conversa com arquitetos da SEEC-RN, decorreu a informação que, atualmente, parte dos terrenos para implantação de escolas estão sendo obtidos via doação. 82 Figura 57 - Mapa Temático de Escolas e Creches Fonte: Mapa elaborado pela SEMURB com base nos dados da Secretaria da Educação, Cultura e dos Desportos, 2007. Disponível no site da Prefeitura Municipal de Natal. Acesso em: 20 set. 2019 Diante disso e a partir das recomendações do FNDE (2017), buscou-se um terreno capaz de atender esses pré-requisitos. Entre opções distintas, foi escolhido o 83 que melhor se enquadrava nas exigências e expectativas. Localizado na Avenida Jaguarari, s/n, no bairro de Lagoa Nova, Natal/RN (figura 58). Figura 58 - Localização do terreno escolhido para a proposta. Fonte: Adaptado de Google Earth, 2019. Inserido dentro de um contexto social urbano onde está acontecendo um boom imobiliário, a escolha deste terreno para um edifício institucional poderá contribuir para barrar a especulação imobiliária e o processo de gentrificação (figura 59). Figura 59 - Predominância do uso do solo no bairro de Lagoa Nova. Fonte: MACEDO, 2006. 84 Ademais, por estar localizado em uma via Arterial I, de fácil aceso, e próximo à Avenida Bernardo Vieira, também via Arterial de articulação, provido de um grande fluxo de transporte, torna-se viável por sua acessibilidade (figura 60). Figura 60 - Pontos de ônibus próximo ao terreno Fonte: Adaptado de Google Earth, 2019. O seu entorno imediato marca uma área de mudança entre bairros nobres e populares, sendo assim, as tipologias das edificações possuem grande heterogeneidade, apresentando casas simples, geminadas, edifícios e condomínios fechados resultantes de um processo de verticalização dessa área (figura 61). Figura 61 - Entorno imediato ao terreno Fonte: Adaptado de Google Street View, 2019. 85 Por fim, contribuindo também para essa decisão, a localização deste terreno pode atender demandas das famílias locais e também às famílias de comerciantes que percorrem diariamente a este destino. 3.2.1 FORMA, DIMENSÃO E TOPOGRAFIA Este terreno, de formato retangular, possui acesso em suas quatro fachadas, sendo a fachada principal voltada à leste e a Av. Jaguarari; sua fachada lateral direita voltada à Sul, na Rua São Vicente; sua fachada posterior à Oeste, na Rua Estácio de Sá; e sua fachada latera esquerda à Norte, na Rua Cônego Luiz Wanderley. No tocante às características físicas o terreno abrange uma área de 8.971,40m², com testada frontal com 74,57m, e comprimento 120,94m referente à fachada norte, enquanto que sua fachada sul possui 114,68m, chanfrada com 11,13m à sua fachada oeste com 64,99m (figura 62). Figura 62 - Dimensões e área do terreno. Fonte: Elaborado pela autora. 86 Suas características apontam para um terreno regular, com leve diferença em seus níveis topográficos, o qual possui um declive de aproximadamente 3m (figura 63). Figura 63 - Topografia do terreno.Fonte: Elaborado pela autora. Em relação ao impacto da vegetação nas decisões de implantação, percebe- se a predominância de vegetação baixa, ou seja, não é relevante as decisões de projeto (figura 64). Em relação às demais fachadas, percebe-se que, atualmente, o terreno encontra-se totalmente murado (figura 65 e 66), privando a comunidade de uma permeabilidade visual, causando assim, uma sensação de insegurança. Figura 64 - Fachada Frontal (Av. Jaguarari) Fonte: Adaptado de Google Street View, 2019. 87 Figura 65 - Vista lateral do terreno, na R. Cônego Luiz Wanderley Fonte: Adaptado de Google Street View, 2019. Figura 66 - Vista posterior do terreno, na R. Estácio de Sá. Fonte: Adaptado de Google Street View, 2019. Dessa forma, espera-se que o projeto possa contribuir com essa relação com a comunidade, restituindo o fator segurança e complementando com atividades de ensino, lazer e cultura. 4.3 CONDICIONANTES AMBIENTAIS As condicionantes ambientais compreendem os fenômenos físicos que refletem nas sensações de um indivíduo em um local. Cada lugar possui suas características próprias em função da cobertura vegetal, do relevo, das superfícies de agua, entre outros elementos (FNDE, 2017). As estratégias bioblimáticas fazem parte do processo de concepção do projeto, compreendendo como uma condicionante ambiental, além de outras como posição geográfica, percurso solar e direção dos ventos. Essas estratégias em conjunto possibilitam condições básicas de conforto. De acorco com o zoneamento bioblimático brasileiro (figura 67), a cidade de Natal – caracterizada pelo clima quente e úmido – está inserida na Zona Bioclimática 8. Para esta zona, são recomendadas estratégias como o uso de ventilação cruzada 88 permanente através de grandes aberturas sombreadas, além de paredes e coberturas leves refletoras (NBR 15220-3, 2003 apud CASTRO, 2017). Fundamentando-se na localização geográfica da cidade, com latitude -5.5 e longitude -35.0, foi possível analisar o comportamento da radiação solar sob o terreno (figuras 68) e assim, observar o movimento do sol ao longo do ano, já que sua inclinação se modifica em função da hora e dos meses. Com a incidência da radiação solar direta no edifício, o mesmo apresentará um ganho de calor, aumentando a sensação térmica, e dessa forma, são necessárias estratégias para o melhor desempenho térmico e energético. Figura 67 - Zoneamento Bioclimático Brasileiro Fonte: FNDE, 2017. De acordo com a sobreposição apresentada, percebe-se uma maior necessidade de proteger as fachadas voltadas para leste e oeste, pois estas recebem insolação direta durante todo ano, enquanto que as fachadas norte e sul apresentam incidência solar apenas em um período especifico do ano, sendo a maior incidência solar na fachada norte no solstício de inverno, enquanto a maior incidência na fachada sul está no período de solstício de verão. Como o entorno imediato do terreno é formado predominantemente por edificações de até dois pavimentos, considerado de baixo gabarito, este não influencia em relação ao sombreamento passivo decorrente dessas construções. 89 Figura 68 - Sobreposição da carta solar com o terreno. Fonte: Elaborado pela autora. Quanto à incidência solar, deve-se apropriar as maiores fachadas e com menores incidências solares como aliado ao processo projetual. 90 Um outro fator contribuinte às estratégias bioclimáticas, é a apropriação da ventilação natural. Em Natal, as maiores incidências provêm da parte sudeste (figura 69), com ventos predominantes de 100° a 140° (CASTRO, 2017). Com o aproveitamento dessa ventilação, pode-se obter resultados satisfatórios da sensação de conforto, por meio da renovação do ar através de aberturas sombreadas e técnicas de ventilação cruzada. Assim, reduzindo os ganhos de calor e a demanda de energia. Figura 69 - Rosa dos ventos para Natal à esquerda e Sobreposicao da rosa dos ventos no terreno. Fonte: Adaptado de INPE-CRN, 2009. 3.4 CONDICIONANTES LEGAIS Um fator de importante e necessário para que o projeto possa se adequar às condicionantes legais, é atentar para as leis exigidas pelo órgão administrativo da cidade, nesse caso, descritas no Plano Diretor de Natal (2007), do Código de Obras e Edificações do Município de Natal (2004), do Conceitos básicos de segurança contra incêndio do Estado de São Paulo (2018), uma vez que este é o conceito que o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio Grande do Norte utiliza, da Norma Brasileira de Saídas de Emergência em Edifícios – NBR 9077 (2001), e de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos – NBR 9050 (2015). Devem, portanto, ser respeitadas as limitações de uso do solo, recuos, taxa de ocupação, coeficiente de aproveitamento, áreas permeáveis e demais índices previstos na legislação municipal, além das exigências legais do Corpo de Bombeiros. 91 O Plano Diretor da Cidade do Natal corresponde a ferramenta básica da política de desenvolvimento urbano sustentável e tem como objetivo “o pleno desenvolvimento das funções sociais, e ambientais da cidade e da propriedade, garantindo um uso socialmente justo e ecologicamente equilibrado do seu território, de forma a assegurar a todos os seus habitantes, condições de qualidade de vida, bem-estar e segurança” (NATAL, 2007, Art.2°). O bairro de Lagoa Nova está localizado na Zona Sul e é considerado como área de Zona Adensável (figura 70), que disponibiliza de infraestrutura e possui uma diversificação do uso, possibilitando assim, um maior adensamento em comparação aos parâmetros básicos do coeficiente de aproveitamento (NATAL, 2007). Com base no macrozoneamento e nas características de cada área receptora de potencial construtivo, passa a ser exigido a correta inserção do projeto respeitando as prescrições urbanísticas fundamentada por lei, tais como recuos, gabarito, coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e permeabilidade. Ao terreno escolhido, essas prescrições possibilitam um adensamento máximo existente no Plano Diretor por se tratar de uma zona adensável. Dessa forma, prevê para o bairro de Lagoa Nova, um gabarito máximo de 90 metros, com coeficiente de aproveitamento máximo 3, taxa de ocupação de 80%, e taxa de permeabilidade de no mínimo 20%. Os recuos mínimos variam conforme o número de pavimentos, conforme pode visualizar na Tabela 10. 92 Figura 70 - Macrozoneamento da Cidade do Natal Fonte: SEMURB, 2008. Tabela 9 - Recuos para o bairro de Lagoa Nova. BAIRRO DE LAGOA NOVA RECUOS FRONTAL LATERAL POSTERIOR TÉRREO - Não Obrigatório Não Obrigatório ATÉ 2° PAVIMENTO 3,00 m 1,50 em um dos lados Não Obrigatório ACIMA 2° PAV. 3,00 + H/10 1,50 + H/10 1,50 + H/10 Fonte: Elaborado pela autora. 93 Toda construção depende de um licenciamento do Município, seja uma nova construção, ampliação, reforma ou demolição, regulamentada pelo Código de Obras e Edificações do Município de Natal, tendo como um dos princípios, a garantia que o espaço respeite os padrões de qualidade exigidos para satisfazer as mínimas condições de segurança, conforto, higiene e saúde dos cidadãos (NATAL, 2004). Além do processo de licenciamento, o Código de obras estipula algumas normas referente a diversos fatores, tais como fechamento do terreno, acessos, estacionamentos, calçadas, dimensionamento de ambientes residenciais, insolação, iluminação, ventilação, entre outros. Como o terreno encontra-se em uma Via Arterial I (Av. Jaguarari), a proposta deve prever um número mínimo de vagas, sendo 1 vaga a cada 70m², além de possuir uma área destinada a embarque e desembarque. De acordo com o Art. 109, “a entrada e saída do estacionamento, da garagem e dos pátios de carga e descarga devem ser projetados de modo a não criar ou agravar problema de tráfego nas viasque lhe dão acesso” (NATAL, 2004, p.210). Admite-se, além disso, uma dimensão mínima destinada a vaga de estacionamento de 2,40 metros de largura e 4,50 metros de comprimento. O Código também prevê condições mínimas de iluminação e ventilação, sendo sempre que possível, garantir as condições mais favoráveis. De acordo com o Art. 149, a edificação não poderá ter abertura voltada para a divisa do lote em uma distância inferior a 1,50 metros, além das aberturas voltadas para o ambiente externo possuírem no mínimo 1/6 da área do compartimento, em caso de ambientes de uso prolongado, e 1/8 em caso de ambientes de uso transitório. Estes também poderão ser iluminados e ventilados através de abertura zenital, a qual deverá ter uma área igual a 6% da área do compartimento. O Art. 151 complementa no tocante a ambientes que não necessitam de iluminação e ventilação natural, desde que justificados, como corredores e halls de área inferior a 5m², e depósitos de utensílios e despensa. Com base a segurança contra incêndio, a Norma Brasileira de Saídas de Emergência em Edifícios – NBR 9077 (2001) estipula condições gerais a serem seguidas a fim de que, durante um incêndio, a população possa sair completamente protegida em sua integridade física. O anteprojeto classifica-se como grupo “E” e enquadra-se na divisão E-1 (Escolas em geral) e E-5 (Pré-escolas). 94 Outra condicionante legal relevante é atribuída às questões de acessibilidade, através da NBR 9050 (2015). Esta Norma “estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade” (ABNT, 2015, p.1) Para os efeitos desta condicionante, deve-se aplicar indicações, tais como Sinalização vertical e horizontal, acessos e circulações, sanitários e vestiários, e mobiliários. Em uma síntese, pode-se dizer que, O item sobre sinalização retrata as formas de comunicação e sinalização, seus tipos, símbolos, e as normas para sua aplicação; O item sobre Acessos e Circulações apontam as condições gerais de pisos, rampas, escadas, corrimãos, corredores, portas, calçadas, faixas de pedestre, entre outros. O item sobre Sanitários e Vestiários descrevem as normas e dimensões mínimas para o uso acessível do ambiente. O item sobre Mobiliário trata a condição mínima de instalação de bebedouros, telefones, mesas, assentos, balcões, entre outros. 95 4. PROPOSTA ARQUITETÔNICA Este capítulo tem como objetivo expor a evolução da proposta arquitetônica, juntamente com o processo de concepção, apresentando sua solução final mediante um aprofundamento do conceito, partido arquitetônico, estudo preliminar, memorial descritivo e justificativa do projeto. 4.1 CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO Considerando que cada problemática tem sua particularidade, toda solução se dá mediante diferentes conjuntos de critérios. Através de uma abordagem trazida por Kowaltowski et al (2006) com base em Rowe (1992), Lawson (1997) e Hearn (2003), existem, no mínimo, cinco tipos de “ser criativo” na hora de solucionar alguma problemática projetual, sendo eles: “(a) analogias antropométricas: baseiam-se no corpo humano e nos limites dimensionais; (b) analogias literais: uso de elementos da natureza como inspiração da forma; (c) relações ambientais: aplicação com maior rigor de princípios científicos ou empíricos da relação entre homem e ambiente, tais como clima da região, tecnologia e recursos disponíveis; (d) tipologias: aplicação de conhecimento de soluções anteriores a problemas relacionados, podendo-se dividir em modelos de tipos de construção, tipologias organizacionais e tipos de elementos ou protótipos; e (e) linguagens formais: estilos adotados por grupos ou escolas de projetistas” (KOWALTOWSKI et al, 2006, p.8). Levando em consideração todo estudo abordado no referencial teórico, o conceito foi desenvolvido a partir das características do Método Montessori e pela intenção de trazer uma alternativa diferente ao sistema tradicional, ou seja, uma escola que não remeta em nada ao tradicionalismo. Buscou-se, então, integrar temáticas como ludicidade, natureza e liberdade, para poder alcançar o objetivo geral desse trabalho. Como decorrência de um processo de brainstorming facilitado por uma visita ao parque temático EPCOT Center (Experimental Prototype Community of Tomorow), construído no Walt Disney World, Estados Unidos. A atração Journey into Imagination 96 with Figment (Jornada para a Imaginação com Figment, em uma tradução livre), localizada no Pavilhão da Imaginação, trata de uma espécie de laboratório sensorial, na qual será guiado um tour através dos cinco sentidos humanos, com o objetivo de mostrar que eles são a chave principal para capturar a imaginação (figura 71). Entretanto, durante o tour, Figment, um dinossauro roxo símbolo da criatividade para os engenheiros e arquitetos da empresa, aparece para “sabotar” a experiência. Durante a atração, Figment canta trechos da música “One Little Spark”, que basicamente retrata o poder da imaginação além dos sentidos, em trechos como: “For every sound your ears are hearing, a thousand thoughts can start appearing and each of us imagines different things from just a sound your mind has wings”, “Your mind sees more then what your eyes see. Your sense of sight can make your fancy fly” e “Weall have sparks of Imagination! That's how our minds Create creations”. Em uma livre tradução, “Para cada som que seus ouvidos estão ouvindo, milhares de pensamentos começam a aparecer e cada um de nós imagina coisas diferentes. De apenas um som, sua mente tem asas”, “sua mente vê mais do que seus olhos veem. Seu senso de visão pode fazer sua fantasia voar” e “todos nós temos faíscas de imaginação! É assim que nossas mentes criam criações”. Figura 71 - Atração "Journey into Imagination with Figment". Fonte: Wikipedia. Acesso em 06 nov. 2019. 97 Diante disso, e utilizando esta ideia como meio de criar uma memória do edifício no indivíduo através das sensações de seus sentidos, pode-se obter um resultado da definição dos “sentidos humanos” como conceito deste projeto (figura 72). Visando trazer nesta proposta elementos que estimulem e participem ativamente do desenvolvimento de cada criança, de forma que sua imaginação seja livre e ajude-a no seu processo de aprendizagem e vivência do espaço, pretende utilizar soluções que marquem os sentidos, tais como elementos sonoros para aguçar a audição, o uso de cores, permeabilidade visual e jogo de luz e sombra para estimular a visão, diferentes texturas para o tato, além da proposta de um paisagismo para auxiliar o olfato e paladar com a aplicação de vegetação comestível no espaço de horta e outras que exalem cheiros. Figura 72 - Sentidos humanos Fonte: Blasting News Brasil Website. Acesso em 06 nov. 2019. Em uma abordagem trazida por Plaza (2003), “a palavra ‘sentidos’ é tão enganosa quanto o conceito de ‘sensação’, pois não existem sentidos departamentalizados, mas sinestesia como inter-relação de todos os sentidos. A sinestesia, como sensibilidade integrada ao movimento e inter-relação dos sentidos, garante-nos a apreensão do real” (PLAZA, 2003 apud BRAIDA; NOJIMA, 2010, p.220). Sinestesia é uma palavra de origem grega: “syn” (simultâneas) e “aesthesis” (sensação), podendo assim ser compreendida como associação de dois ou mais sentidos. 98 Em uma publicação da Design Culture, 2014, (apud CASTRO, 2017, p.78), a percepção do espaço construído através dessas associações pode possibilitar a rápida absorção e fixação de informações, uma vez que a memória é ativada de mais de uma forma. Com o objetivo de criar um ambiente lúdico e de vivência, o partido se deu a partir da ideia de um ponto central, o pátio, como núcleo e conectordas demais áreas do programa escolar, seguido com formas geométricas marcadas. Dessa forma, o pátio central funciona como protagonista, abraçando o conceito, através da percepção sensorial, e permitindo a integração da comunidade escolar em sua área de vivência (figura 73 e 74). Figura 73 - Estudo da forma e partido Fonte: Elaborado pela autora. Figura 74 - Estudo da forma Fonte: Elaborado pela autora. 99 4.2 ESTUDOS PRELIMINARES O resultado final deste trabalho se deu mediante estudos preliminares, de forma a aperfeiçoar e adequar a ideia no contexto social a qual será inserido. O processo de evolução do projeto engloba estudos de funcionalidade, conforto e acessibilidade, propostos no objetivo específico deste projeto. 4.2.1 ZONEAMENTO A implantação do projeto foi determinada pelas condicionantes projetuais previamente abordadas, a partir dos estudos ambientais e o programa de necessidades. Fundamentando-se nas recomendações dos Padrões Referenciais de Funcionamento da Escola (SEEC-RN, 2018) foi elaborada uma matriz de relações para auxiliar no desenvolvimento e conexões das funções de cada ambiente (figura 75 e 76). Figura 75 - Matriz de Relações Fonte: Elaborado pela autora. 100 Figura 76 - Matriz de relações do setor administrativo Fonte: Elaborado pela autora. Diante dessa organização, foi possível estudar um zoneamento sobre o terreno escolhido considerando as características bioclimáticas do local e chegar a uma proposta inicial de zoneamento (figura 77). O objetivo é priorizar a ventilação cruzada e favorecer os ambientes de salas de aula e setor administrativo, assim, foi determinado a locação dessas áreas na parte sul do terreno. Devido ao afastamento dos dois blocos de aula pelo pátio central e a estratégia de permeabilidade nos blocos (figura 78), não há o bloqueio da ventilação. Além disso, a implantação desses ambientes nas fachadas voltadas a norte e sul contribuem para o conforto do ambiente. Pelo acesso principal, voltado para a fachada leste, na Avenida Jaguarari, pode-se chegar até a zona administrativa, ao auditório, as salas de aula e o pátio descoberto, átrio da escola. Com essa implantação, há a entrada direta ao pátio cruzando, por um lado, pelo setor administrativo, e pelo outro, o auditório. Essa solução possibilita o acesso direto dos alunos ao centro da escola, além do fácil acesso do público externo às áreas administrativas da escola e auditório, pela localização mais próxima à entrada, sem ser necessário atravessar os ambientes da escola. 101 O acesso de serviço é dado pela mesma entrada principal, criando apenas um outro acesso destinado à carga e descarga próximo à área de refeitório, ao lado oposto à área administrativa, onde será instalada a cozinha e seus ambientes de apoio. Este acesso se dá na fachada norte, na Rua Cônego Luiz Wanderley. A quadra coberta foi inserida na parte posterior do terreno, com o objetivo de agregar um terceiro acesso, limitado até essa área, à comunidade do entorno. Com essa solução, pode-se utilizar a quadra fora do horário escolar, e posteriormente, integrar uma praça em seu entorno com base em outros estudos e projeto. Além disso, seu distanciamento do núcleo do projeto, possibilita um afastamento das salas de aula, com o objetivo de impedir a propagação de ruídos que possam atrapalhar as aulas e atividades. Figura 77 - Estudos de implantação. Fonte: Elaborado pela autora. Figura 78 - Estudo de permeabilidade para ventilação. Fonte: Elaborado pela autora. 102 4.2.2 EVOLUÇÃO DA FORMA Com a ideia de criar uma forma diferente do padrão proposto pelo FNDE, mas sem adicionar custo à obra, o uso de módulos foi usado como uma alternativa. Inspirado pelo uso do sistema modular para a rede de hospitais SARAH, pensado pelo arquiteto Joao Filgueiras Lima (Lelé), a aplicação do módulo busca possibilitar uma estrutura flexível, de fácil manutenção e economia. Marcelino (2014) lista as vantagens do uso do módulo na arquitetura e na racionalização na construção civil, como: Simplificação da elaboração do projeto, já que estabelece uma limitação às medidas aplicáveis aos componentes e ao projeto como um todo; facilidade e compatibilização da combinação dessas medidas; normatização dos componentes de construção; redução da variedade de tipos e dimensões de componentes; padronização dos detalhes e precisão dimensional; racionalização e simplificação na execução da obra devido à facilidade de montagem; autonomia de etapas de execução e da montagem de componentes; redução de quebras de materiais, com a diminuição de perdas na construção; controle eficiente de custos; aumento da produtividade na produção e montagem (rápida entrega ao usuário); repetição de técnicas e processos de maior controle das operações durante a construção (MARCELINO, 2014, p.34). Embora seja feito o uso do sistema construtivo convencional, com laje, viga e pilar, e o mesmo não contribuir para o total aproveitamento do uso modular, esse sistema colaborou para determinar a forma deste projeto, o qual foi adotado módulos de 1,20 metros (figura 79). Figura 79 - Dimensões do módulo utilizado Fonte: Elaborado pela autora. Essa fase de estudo da proposta ocorre simultânea ao zoneamento, definindo o volume com base nas conexões dos ambientes proposto (figura 80). 103 O estudo volumétrico se deu com a aplicação do sistema modular e do desejo de marcar a fachada, e apesar da proposta da flexibilidade e possibilitar futuras expansões, objetivou-se criar uma identidade imóvel à fachada, dessa forma, os setores administrativos e auditório, considerados estáveis, ou seja, uma vez determinados, raramente necessitam de expansões e permanecem imutáveis na fachada frontal do edifício (figura 81). Figura 80 - Evolução da forma e zoneamento Fonte: Elaborado pela autora. Inicialmente, o setor administrativo estava voltado à fachada norte e leste, havendo até a tentativa de duplicar o número de pavimentos. Entretanto, para resolver as questões de conforto, passou a localizar na parte sul do terreno, desenvolvendo sua forma conforme era solucionado o funcionamento e conexões dos ambientes internos ao setor administrativo e pedagógico. 104 Figura 81 - Evolução da forma da fachada. Fonte: Elaborado pela autora. 4.3 MEMORIAL DESCRITIVO Este subitem, busca compartilhar as informações do projeto, como implantação, soluções funcionais, estrutura escolhida, a escolha de soluções de percepção do ambiente, bem como soluções paisagísticas. Será abordado também questões de acessibilidade, conforto ambiental, instalações hidrossanitárias e estacionamento, com o objetivo de justificar cada recurso seguido. 4.3.1 IMPLANTAÇÃO O projeto escolar aqui proposto possui um grande impacto em seu contexto urbanístico, apresentando diversos fatores para um desenvolvimento positivo de seu potencial, ou seja, utilizando a arquitetura escolar para agregar valores em sua área de intervenção. A escola se enquadra dentro das prescrições urbanísticas para o bairro de Lagoa Nova, respeitando as normas e não destoando o gabarito de seu entorno 105 imediato. Sua fachada frontal está voltada para a Avenida Jaguarari, tendo seu principal acesso através dessa mesma via por meio de um recuo para veículos, além de contar também com uma baia para ônibus. Em sua fachada frontal também está locada uma guarita para controle de entrada de veículos fora do período de chegada e saída de alunos e, por meio desta guarita, pode-se acessar as 30 vagas de estacionamento destinadas tanto para funcionários, quanto para os pais ou comunidade. O acesso de serviço, de carga e descarga, se dá pela Rua Cônego Luiz Wanderley, onde está inserido as casas de lixo e gás, e também está locado outras 6 vagas de estacionamento, na parteposterior do terreno, que atende tanto para funcionários da escola, quanto para o público externo, com acesso direto pela quadra coberta. O projeto consta com um total de seis blocos, sendo um bloco administrativo vinculado a uma das salas de aula (BLOCO 1), e outro bloco de salas de aula (BLOCO 3) separado pelo pátio sensorial. Consta também com um bloco de auditório (BLOCO 2), um bloco para área de refeitório (BLOCO 4), outro para quadra (BLOCO 5), e um bloco para banheiros junto ao pátio sensorial (BLOCO 6). Todos esses blocos têm ligação com o pátio sensorial descoberto, localizado no centro do terreno (figura 82). Figura 82 - Implantação dos blocos no terreno. Fonte: Elaborado pela autora. 106 4.3.2 SOLUÇÕES FUNCIONAIS As relações entre ambientes e as conexões necessárias são imprescindíveis para seu bom funcionamento e obtenção de uma arquitetura de qualidade. A distribuição se deu mediante a matriz de relações previamente apresentada nos estudos preliminares, baseando-se nas recomendações dos Padrões Referenciais de Funcionamento da Escola (SEEC-RN, 2018) e complementado pelos parâmetros de projeto descritos por Kowaltowski (2011), com o objetivo de gerar uma boa experiência no ambiente escolar. Fundamentando-se na matriz elaborada, foi determinada uma implantação funcional que permitisse uma fácil compreensão do edifício pelos indivíduos, ou seja, uma perceptível noção de percurso e fluxo. No principal acesso à escola está inserido o Bloco 1 e Bloco 2, e estes funcionam como divisor de fluxos (figura 83), uma vez que é ali que se divide o público entre alunos, funcionários e externos (pais, comunidade, gestores do governo) e servem também como barreira ao ruído da Avenida Jaguarari. Com a implantação do setor administrativo ao lado esquerdo do usuário que adentra os compartimentos da escola através de um longo corredor, e o auditório ao lado direito. Ao final desde corredor pode-se alcançar o pátio sensorial, entretanto, com finalidade de barrar a entrada de externos ao interior da escola, foi alocado um portão de controle no meio deste corredor. O primeiro contato direto do público externo e funcionários se dá na recepção, onde encontram-se dois lavabos acessíveis para visitantes, acesso à sala de reuniões e balcão de atendimento da secretaria. Existe uma outra porta para controle de fluxo ao final da recepção, e após a autorização do usuário, ele poderá acessar ambientes internos da administração através de um corredor, como diretoria, almoxarifado, banheiro de funcionários e à sala de estar que dá acesso ao depósito de materiais didáticos, sala dos professores e coordenação. Ao final deste corredor, pode-se acessar à parte interna da escola, onde está localizado à circulação de acesso as salas de aula, biblioteca, pátio sensorial, banheiros e refeitório. As salas de aula foram divididas em dois blocos, abrigando no Bloco 1, além da administração, a biblioteca e quatro salas de agrupadas, do nível I ao IV, destinadas ao ensino nos dois turnos, sendo o Bloco 3 composto com quatro salas de agrupadas, do I ao IV, destinadas ao ensino integral, se necessário. Todas as salas 107 comportam 25 alunos e permitem diferentes organizações no layout, sendo o Bloco 3 de maior área para comportar mobiliário para atividades de classes integradas, como por exemplo área de descanso. Existe um painel móvel entre duas salas (Agrupada I com Agrupada II e Agrupada III com Agrupada IV) que funciona como elemento flexível para integração dessas duas classes quando houver a necessidade de atividades agregadas. Cada agrupada consta com um banheiro interno acessível, sala reservada para atividades que necessitam maior concentração e depósito para guarda de materiais de uso cotidiano e aparelhos, como laptop, som, entre outros. Além disso, procurou- se estender os limites da sala de aula para um jardim externo, para que haja a integração da natureza de forma direta no processo de aprendizagem de cada aluno. Dessa forma, é possível atividades fora da sala de aula. As áreas de circulação entre as salas de agrupadas e o pátio sensorial servem como elemento de transição entre esses dois ambientes, além de conexão direta com o refeitório, banheiros, administração e auditório. Em seu átrio, está localizado o pátio sensorial e é nele que elementos lúdicos e sensoriais estão inseridos, ou seja, é neste ambiente de convívio e interação que o conceito está mais presente e serão melhor abordados no item 4.3.4 deste trabalho. Os banheiros, locado no Bloco 6 e localizado no final do pátio sensorial e circulação, por trás do volume do castelo d’água, servem para atender alunos em atividade fora das salas de aula, não havendo grandes demandas, já que as atividades devem ocorrer de maneira simultânea, tornando-se um bloco de apoio. Encontra-se também ao final da circulação, o refeitório e pátio coberto, além da cozinha e seus apoios, definindo o Bloco 4. Esta área serve como alternativa de uso externo, assim como o pátio sensorial, e está beneficiado pela ventilação natural. A cozinha, voltada ao norte do terreno, tem acesso direto à área de carga e descarga e casa de lixo e gás ao limite do terreno. A mesma possui duas entradas, sendo uma de serviço, por onde os funcionários entram através da área de serviço, com banheiro acessível de funcionários para uma pré-higienização e depósito de materiais de limpeza, para então adentrar a área de preparo da cozinha. A outra entrada é feita pela sala de lavagem e triagem, por onde os alimentos entram sob responsabilidade do diretor, ligado à cozinha e despensa, onde os alimentos permanecem guardados até o momento de seu uso. Como há um grande estoque alimentício, é aconselhável que a despensa permaneça fechada, retirando apenas o necessário cada dia, sob 108 administração do diretor ou responsável, e encaminhado para a sala de corte, para após ser encaminhado para a área de preparo, seguido para distribuição da merenda e refeição aos alunos e posteriormente, retorno da louça à copa suja onde é feita a higienização, e aconselha-se a instalação de tanques para lavagem de panelas de grandes dimensões. Ao lado deste bloco, está localizada a horta escolar, para incentivar o cultivo de alimentos orgânicos e seu consumo próprio. Através do refeitório, pode-se alcançar o Bloco 5, onde está localizado a quadra coberta e seus apoios. Este bloco tem uma particularidade, pois apesar de pertencer a escola, pretende-se deixar aberto à comunidade próxima, liberando o uso nos momentos em que não estejam sendo realizadas atividades da escola. Dessa forma, o bloco possui quatro entradas, duas voltadas à escola e outras duas voltadas à Rua Estácio de Sá, direcionada ao público externo e ao lado, um posto de controle. Além disso, o bloco é composto pela quadra, arquibancadas com espaços para cadeirante, vestiários, depósito de material esportivo e sala de primeiros socorros. O uso da quadra não se limita apenas às atividades esportivas, podendo também serem realizados eventos escolares. A demarcação da quadra segue o padrão do FNDE, sendo adaptada sua envoltória para seguir o partido proposto. No quadro 3 encontra-se uma síntese de 32 parâmetros projetuais propostos por Kowaltowski (2011), para complementar aspectos específicos e auxiliar projetistas brasileiros no processo de elaboração do projeto escolar e auxiliar na solução arquitetônica escolhida para cada situação. 109 Quadro 3 - Síntese de Parâmetros de Projeto PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 1 S a la s d e A u la , A m b ie n te s d e E n s in o e C o m u n id a d e s P e q u e n a s d e A p re n d iz a d o Relacionar o aspecto físico do ambiente ao currículo escolar e sua filosofia de ensino Estudo independente; Trabalho em pequenos grupos de 2 a6; Instrução individual; Ensino por meio de seminários; Apresentação dos alunos. Layout flexível das salas de aula (figura 83 e 84) Aprendizado na natureza. Jardim anexo à sala de aula Ensino baseado em artes Áreas destinadas a trabalhos “sujos” com instalação de uma bancada com pia Ensino por meio da contagem de histórias Uso dos grandes tapetes Aprendizado social e emocional; Ambientes para vivência, como refeitório, pátios, entre outros. Apresentações teatrais ou de música; Implantação de um auditório. Aprendizado com base em tecnologia móvel; Disposição de laptops e tablets nos depósitos de cada sala. 2 E n tr a d a C o n v id a ti v a Importância do da sensação de acolhimento ao entrar na escola Identidade própria Fachada bem com forma diferente e bem definida (figura 85) Proteção da população escolar na estrada e saída Cobertura ampla Espaço de transição amplo e coberto Corredor de acesso entre setor administrativo e auditório. Área com exposição de trabalhos de alunos e outras exposições. Corredor com parede “cega” 3 E s p a ç o d e e x p o s iç ã o d o s t ra b a lh o s d o s a lu n o s Importância de áreas de exposição para que a população estudantil se sinta valorizada. Superfícies verticais ou horizontais para exposições Corredores com parede “cega” para murais e bancadas de exposição. 110 PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 4 e s p a ç o i n d iv id u a l p a ra a rm a z e n a m e n to d e m a te ri a is Importância em reservar um espaço para cada aluno guardar os materiais em um lugar seguro Proximidade à área de estudos Armários personalizados localizados dentro de cada agrupada 5 L a b o ra tó ri o s d e c iê n c ia s e a rt e s Importância do aprendizado pela prática. Laboratório ativo Toda agrupada funciona como um laboratório através de seu material didático Implantação de uma sala de aula de trabalhos manuais para atividades mais específicas 6 A rt e , M ú s ic a e A tu a ç ã o . Importância de áreas para alunos participarem da criação de obras de artes Lugares para apresentações espontâneas Layout flexível das salas de aula Teatro completo conectado a um espaço multiuso Implantação de um auditório na entrada Área para alunos construírem cenários e figurinos Implantação de uma sala de trabalhos manuais 7 Á re a d e E d u c a ç ã o F ís ic a Importância de uma vida saudável. Atividades nos espaços internos Pátio sensorial com atividades diversas (figura 86 e 87) Áreas tradicionais de esportes devem permitir usos mais variados Implantação de uma quadra poliesportiva Espaços que possibilitem uma educação alimentar Presença de pequena cozinha em cada sala 8 Á re a s c a s u a is d e a lim e n ta ç ã o Importância de uma boa alimentação Áreas de refeições com vistas para jardins Implantação do refeitório próximo ao pátio sensorial Mobiliário diversificado e confortáveis Mesas e bancos abaixo de árvores (“rosquinhas”) PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 111 PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 9 T ra n s p a rê n c ia Importância da visibilidade Salas de aula com visibilidade para áreas de estudos adjacentes Esquadrias com peitoril baixo para não haver barreiras visuais entre área interna e externa. Corredores com luz natural, vistas para o exterior. Corredores abertos e como elemento de transição. 10 v is ta s i n te ri o re s e e x te ri o re s Importância de um horizonte externo maior para as áreas da escola. Vistas para descansar a visão dos livros e cujo campo de visão seja próximo (interno) Ambientes em sala de aula com volumes chanfrados Vistas cujo campo de visão seja de no mínimo 20 metros Uso de esquadrias com vidros para visualizar áreas externas do pátio sensorial 11 T e c n o lo g ia d is tr ib u íd a Importância da tecnologia no ambiente escolar Deve estar presente em grande parte dos espaços escolares Sugerir um sistema wireless que possa complementar o projeto arquitetônico 12 C o n e x ã o e n tr e e s p a ç o s e x te rn o s e in te rn o s Relação forte entre o ser humano e o ambiente externo. Lugares para trilhas, circuito de corrida, horta e pomar Pátio sensorial com atividades diversas Implantação de uma horta 13 M o b ili á ri o m a c io p a ra s e n ta r Importância do conforto e ergonomia no mobiliário Variedade de móveis para se sentar espalhados pela escola Sugerir um mobiliário diversificado e passível de encaixar em diferentes layouts 14 Espaços Flexíveis Importância da diferenciação de arranjos físicos Generosidade do dimensionamento do espaço Áreas de sala de aula maior do que o mínimo desejado Modulações de estruturas e elementos de fechamento de espaços Aplicação do módulo de 1,20 metros Divisórias em vez de paredes fixas Painéis móveis entre agrupadas (figura 84) Móveis com rodízios Sugerir um mobiliário móvel 112 PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 15 C a m p fi re A maneira de se ensinar com um especialista ou contador de histórias Uma área mais elevada Implantação de um auditório Equipamentos de projeção Escurecimento do espaço com cortinas ou outros dispositivos 16 W a te ri n g H o le S p a c e Espaços de aprendizado mais informais Incentivar o desenvolvimento de habilidades sociais e de aprendizado colaborativo Layout flexível das salas de aula, com mesas que estimulem trabalhos em grupos 17 C a v e S p a c e Metáfora que relaciona o espaço de uma caverna ao espaço individual Ilhas de interações Chanfros nas circulações com nichos e cadeiras Áreas de aprendizado e reflexão silenciosos Implantação de salas reservadas em cada agrupada 18 P ro je to p a ra in te lig ê n c ia s m ú lt ip la s Importância de cada aluno descobrir suas potencialidades Adequado planejamento das atividades na definição espacial para que cada espaço tenha características específicas para desenvolvimento de cada inteligência (linguística, logica, musical, espacial, entre outras) Sugerir diversidade no material didático em cada sala, como instrumentos, quadros, elementos artísticos, entre outros. 19 Il u m in a ç ã o n a tu ra l Importância da iluminação na qualidade do aprendizado Luz natural como apoio a eficiência energética Grandes aberturas em esquadrias de vidro Cuidado especial com a entrada de luz natural para evitar ganho de calor em local de clima quente Elementos de proteção como brises, beirais, elementos verticais e elementos vazados Placas fotovoltaicas para aproveitar a energia solar Sugerir a instalação de painel solar na cobertura do edifício 20 V e n ti la ç ã o n a tu ra l Importância da ventilação para criar um ambiente mais saudável Ventilação natural cruzada Uso de ventilação cruzada Janelas livres à manipulação dos usuários Janelas com peitoril baixo e de fácil manuseio 113 PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 21 Il u m in a ç ã o , c o r e a p re n d iz a g e m Importância da iluminação e cor de acordo com as atividades desenvolvidas A iluminação deve abranger o espectro total da luz e ser compatível com a iluminação natural recomendada. Este parâmetro deve ser melhor explorado em parceria com um projeto luminotécnico. 22 E le m e n to s d e S u s te n tab ili d a d e Importância de uma arquitetura sustentável Forma e orientação mais conveniente para o volume Estudo de zoneamento Critérios de insolação na composição dos volumes Áreas de trabalho e salas de aula voltadas a fachadas norte e sul Prevenir problemas de ventilação Uso de ventilação cruzada Microclima Pátio sensorial servindo como microclima por haver aplicação de vegetação abundante Controle da insolação Uso de elementos de proteção 23 A s s in a tu ra l o c a l Linguagem arquitetônica Identidade Forma bem definida a partir de volumes geométricos 24 C o n e x ã o c o m a c o m u n id a d e Importância da relação com a comunidade Boa localização Inserido próximo ao centro da cidade Relação com o comercio local Inserido dentro de um contexto econômico forte Abertura para a comunidade utilizar o espaço escolar Uso livre da quadra coberta fora dos horários das atividades escolares (figura 88) 25 P á ti o , a i m p la n ta ç ã o a e s c o la e a d e q u a ç ã o d o s e s p a ç o s l iv re Importância das áreas livres do pátio Atividades de lazer Pátio sensorial com equipamentos de lazer Projeto paisagístico Sugerir vegetação de fácil manutenção. 114 PARÂMETRO REFERE-SE À ESPACOS DEVEM INCLUIR: SOLUÇÃO 26 In c o rp o ra ç ã o d a Q u a d ra n o v o lu m e d a e s c o la Importância da implantação correta da quadra no terreno da escola Localização da quadra de forma à evitar que os ruídos ali produzidos interfiram nas atividades em sala Implantação da quadra na parte posterior do terreno, utilizando o refeitório como elemento de transição 27 F e c h a m e n to d a á re a Questão de segurança Segurança à usuários e patrimônio físico e material Aplicação de muros e gradis Fechamento sem se tornarem esteticamente feias ou parecidas com prisões Uso de vegetação nos limites da escola, junto à muros 28 In te g ra ç ã o e x te rn a e n tr e o s e s p a ç o s Particularidade da integração de volumes implantados no lote Circulação coberta e integrada corretamente ao funcionamento da escola Ambientes de circulação cobertos 29 D im e n s io n a m e n to d e a s p e c to s fu n c io n a is Importância da quantidade de área útil por aluno Área mínima por aluno (1,50m²) considerando também os diferentes arranjos nos móveis para abrigar diversas atividades Salas com no mínimo 2,11m² de área por aluno 30 C o n fo rt o a c ú s ti c o Importância do conforto acústico Soluções para evitar a propagação de ruídos Propor tetos das classes com isolantes acústicos 30 A c e s s ib ili d a d e Importância da inserção social e acessibilidade no ambiente escolar Inclusão de diferentes pessoas Acessibilidade no percurso com rampas e corrimãos adaptados Privacidade e segurança em espaços íntimos Banheiros adaptados com barras de apoio Diversidade antropométrica de mobiliário e bancadas Bancadas de informação em diferentes níveis e mobiliário adaptado 32 S ín te s e d o s p a râ m e tr o s Ao uso dos parâmetros para qualidade dos ambientes Junção dos parâmetros visando uma melhoria do ensino Aplicação das soluções no projeto arquitetônico Fonte: Elaborado pela autora. Adaptado de Kowaltowski, 2011. 115 Figura 83 - Perspectiva interna da sala da Agrupada 1 Fonte: Elaborado pela autora. Figura 84 - Perspectiva interna com painel aberto entre as Agrupadas 1 e 2 Fonte: Elaborado pela autora. 116 Figura 85 - Fachada frontal com formas marcadas Fonte: Elaborado pela autora. Figura 86 - Quadra aberta à comunidade Fonte: Elaborado pela autora. 4.3.3 ESTRUTURA E ENVOLTÓRIA O sistema construtivo convencional em alvenaria foi escolhido para a construção da escola, composto por pilares, vigas e lajes em concreto armado. Os pilares possuem seção retangular, servindo como elemento de proteção nas fachadas (figura 87) e nas circulações funcionam também como elemento lúdico e de comunicação visual, já que apresentam cores variadas (figura 88). 117 Figura 87 - Pilar como elemento de proteção Fonte: Elaborado pela autora, 2019. Figura 88 - Pilares como elementos lúdicos Fonte: Elaborado pela autora, 2019. A altura das vigas corresponde a 10% da dimensão do vão, sendo visíveis na circulação, vencendo um vão de 6,00m e resultando em vigas de 0,60m; e nas salas agrupadas, vencendo um vão de 8,25m e 9,45m. Para esses casos, deverão ser utilizadas vigas semi-invertidas. Esteticamente tornam-se visíveis apenas quando há 118 a integração das duas salas de agrupadas, uma vez que essas vigas se localizam sobre os painéis móveis. As lajes são maciças em grande parte do edifício, diferenciando-se apenas no auditório com aplicação de laje nervurada com o objetivo de vencer grandes vãos sem a necessidade de vigas com grandes dimensões, dando um aspecto mais leve ao ambiente. Dessa forma, há a descarga de forças diretamente nos pilares, ação conhecida como puncionamento. Para vedação, foram utilizados tijolos cerâmicos com oito furos e espessura de 9 centímetros, resultando uma espessura de 15 centímetros com acabamento. São aplicados detalhes em cobogó pré-moldado em concreto e pintado na cor branca em ambientes da secretaria, auditório e quadra coberta, havendo proteção em pele de vidro para secretaria e auditório, além do mesmo possui uma cortina para vedação da luz quando necessário. A cobertura é embutida na platibanda, utilizando telha termoacústica com isolamento em EPS e acabamento na cor branca e laje impermeabilizada em algumas situações. Essa solução viabiliza o desenho da fachada, além da aplicação da telha ser um ótimo sistema de isolamento térmico e acústico. As esquadrias das janelas são em alumínio e vidro translucido em grande parte dos ambientes, exceto banheiros que utilizam vidro jateado. As esquadrias das salas de aula e biblioteca voltadas ao pátio sensorial possuem cores variadas, a fim de criar uma identidade visual para cada ambiente e contribuir para a ludicidade do programa. As portas externas são em madeira maciça e portas internas em madeira laminada com visor com um recorte retangular e vertical. As portas voltadas ao pátio também possuem cores variadas e são em alumínio e vidro. Todas esquadrias visam aproveitar a iluminação e ventilação natural nos ambientes internos. No tocante ao refeitório e quadra coberta, foi utilizado um sistema estrutural misto, com pilares e vigas em concreto e treliça metálica na cobertura, sendo a cobertura de forma linear no refeitório com telha termoacústica, e de forma curva na quadra utilizando telha metálica de maneira a viabilizar sua forma. 4.3.4 SOLUÇÕES DE PERCEPÇÃO DO AMBIENTE 119 Com o objetivo de oferecer uma experiência sensorial do edifício, o pátio sensorial, localizado no centro do terreno, foi criado com esta finalidade de explorar os sentidos humanos através de simples soluções, utilizando recursos visuais, táteis, auditivos, olfativos e degustação. Para estimular o recurso visual, foram utilizados elementos de permeabilidade visual pelo edifício, além de jogos de luz e sombra e cores variadas. Ao longo da circulação pode-se obter iluminação direta proveniente do pátio, visualizar o interior das salas de aula e identificar diversas informações através das cores. A identidade visual de cada sala (figura 89) proporciona uma facilidade de associação dos ambientes pelo usuário. As cores lilás, laranja, verde, amarelo, azul e rosa foram utilizados em outras partes do edifico, como brises, pilares e castelo d’água, tornando o ambiente mais lúdico. Figura 89 - Identidade Visualdas salas Fonte: Elaborado pela autora. Uma cobertura em policarbonato colorido também proporciona uma experiência visual ao percorrer o corredor de entrada principal da escola (figura 90). 120 Figura 90 - Perspectiva da cobertura em policarbonato colorido Fonte: Elaborado pela autora. O fator da curiosidade e imaginação está proposto no pátio sensorial, através de um espelho d’água com cascata invertida, criando uma impressão de cachoeira com queda d’água para cima. O sentido tátil será explorado em diversas formas e materiais. As diferentes texturas em sala de aula, com uso de tapetes, granilite com brilho no piso da escola. No pátio, o piso é de modelo intertravado, e há a presença de vegetação rasteira, como gramíneas, caminho de areia, seixos rolados e um deck em madeira. Os recursos auditivos propostos incluem equipamentos recreativos espalhados pelo pátio, como tambores em formas de plantas inspirados nos modelos da Disney Company (figura 91). Figura 91 - Tambores em forma de frutas do Walt Disney World Fonte: Disney Parks Website. Acesso em 10 nov. 2019. 121 Além disso, na parede lateral do bloco 6 (banheiros), pode-se encontrar encanamentos com propósito lúdico inspirado no “brinquedo de água da chuva” (Regenwasserspiel) de Dresden, Alemanha (figura 92), que funcionam como instrumento musical quando chove (figura 93). Figura 92 - Regenwasserspiel, em Dresden, Alemanha. Fonte: Acervo próprio. Figura 93 - Elemento lúdico para canalização da água da chuva como efeito sonoro. Fonte: Elaborado pela autora. 122 Os sentidos referentes ao olfato e paladar estão presentes na sugestão de paisagismo, com plantas que exalem cheiros e tenham frutos comestíveis, que podem ser melhor descritos no item a seguir. 4.3.5 SOLUÇÕES PAISAGÍSTICAS O uso da vegetação em um projeto escolar baseado no Método Montessori é importante, pois além de providenciar um contato do aluno com a natureza, proporciona um clima agradável, com uma espécie de microclima no ambiente. Buscou-se propor plantas de diversos portes e propícias para clima tropical Para as áreas internas das salas, é proposto jarrinhos com plantas de pequeno porte e que não necessitem de radiação solar direta, como pequenas suculentas. No jardim privativo a cada classe, recomenda o cultivo de plantas de tempero, como alecrim (Rosmarinus officinalis L.), hortelã (Mentha piperita), manjericão (Ocium basilicum) e cebolinha (Allium sativum L., Allium cepa). No pátio sensorial foram escolhidas espécies que possam estimular o olfato do indivíduo, a fim de criar uma memória de percurso e vivencia, e que possam exalar aromas ao longo do ano, como Jasmim-estrela (Trachelospermum jasminoides), Sete- sangrias (Euploca polyphyllum Lehm), Salsa (Ipomoea asarifolia), e Corda-de-viola (Pavonia cancellata). Árvores frutíferas também são sugeridas na implantação do pátio sensorial, como romãzeira (Punica granatum), Aceroleira (Malpighia glabra), Jambeiro (Syzygium jambos) e Mangueira (Mangifera indica), sendo esta última em regiões mais reservadas para evitar acidentes. Árvores como Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus Mattos), Cravo-da-índia (Syzygium aromaticum L.) e Pau-branco (Cordia oncocalyx Allemão) foram utilizadas para sombrear e aproveitar o valor estético de suas flores. Busca-se também espécies de cores e formas diferentes, para complementar o sentido da visão e tato. Sabe-se que, mesmo com essas sugestões, o ideal seria um projeto complementar de paisagismo com melhores especificações e detalhamento. 123 4.3.6 CONFORTO AMBIENTAL A atual proposta, inserida na Zona Bioclimática 8, consta com estratégias e recomendações da NBR 15220-3 (2003), como o uso de ventilação cruzada permanente através de grandes aberturas sombreadas. Além dessas estratégias, as condicionantes ambientais previamente apresentadas foram respeitadas, buscando sempre o aproveitamento da ventilação predominante proveniente do sudeste do terreno. Fundamentando-se em análises de conforto ambiental e com simulações no software Solar Tool, pôde-se propor soluções projetuais de proteção do ambiente interno, a fim de evitar o ganho de calor devido a incidência solar direta. Após a definição da implantação e solução funcional, diversos estudos foram realizados no software para encontrar um elemento de proteção mais apropriado para aquele ambiente. Dessa forma, foram criadas cartas solares que apontam a incidência solar em determinada fachada do edifício nos períodos entre solstício de inverno e verão, das 6h às 19h. Análises realizadas nas fachadas das salas de aula voltadas à sul apontam que apenas beirais não seriam suficientes para proteger a insolação dessas aberturas (figura 94), dessa forma, propõe um elemento de proteção vertical (figura 95) para complementar sua eficiência (figura 96). Dessa forma, apropriando-se da forma angular da fachada, os pilares, além de função estrutural, tornaram-se elementos estéticos com função de proteção da incidência solar. As janelas próximas a estes pilares têm melhor rendimentos, enquanto que as janelas um pouco mais afastadas recebem incidência solar a partir das 15 horas (figura 97). 124 Figura 94 - Teste de sombreamento com beiral em aberturas do Bloco 1 Fonte: Adaptado do software The Solar Tool, 2019. Figura 95 - Teste de sombreamento com protetor lateral em aberturas do Bloco 1 Fonte: Adaptado do software The Solar Tool, 2019. 125 Figura 96 - Teste de sombreamento com beiral e protetor lateral em aberturas do Bloco 1 Fonte: Adaptado do software The Solar Tool, 2019. Figura 97 - Teste de sombreamento com beiral e protetor lateral em aberturas mais afastadas dos pilares no Bloco 1 Fonte: Adaptado do software The Solar Tool, 2019. Para fachadas voltadas à oeste, como é o caso da sala de reuniões, foram utilizados brises como elemento de proteção, além da cobertura já proveniente da circulação (figura 98). 126 Figura 98 - Teste de sombreamento na abertura da fachada oeste do Bloco 1 Fonte: Adaptado do software The Solar Tool, 2019. 4.3.7 ACESSIBILIDADE Buscando a acessibilidade e a inclusão social de todas pessoas, respeitando diferenças e restrições, o edifício escolar busca seguir os critérios da NBR 9050 (2015). Desníveis íngremes foram evitados para que a locomoção não se torne difícil ou que exija muito esforço. O acesso principal da escola consta com uma inclinação de 5% e largura de 2,25m. A mesma inclinação é utilizada no acesso ao pátio sensorial. A rampa de acesso ao palco do auditório possui uma inclinação de 8,33%, sendo necessário a inserção de corrimãos para auxiliar a subida. Os banheiros da escola são acessíveis, com acesso independente e com área de transferência lateral, perpendicular e diagonal para a bacia sanitária. Para o estacionamento foram reservadas vagas para pessoas com deficiência e idosos, com sinalização vertical, por meio de placas, e horizontal, com pinturas no piso (figura 99). Esta área também conta com elevação na faixa de pedestres e calçada que liga o estacionamento à entrada principal. 127 Figura 99 - Detalhamento da vaga destinada à pessoas com deficiência Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 4.3.8 DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURA HIDRÁULICA Para o reservatório de água, foi escolhido o modelo em castelo d’água e sua capacidade baseou-se nas recomendações citada por Pereira (2014). De acordo com o autor, a capacidade do reservatório deve suprir o padrão de consumo de água no edifício, com base no uso em questão e a sua quantidade de usuários. Dessa forma, prevê o consumo médio de 50 litros por aluno (Tabela 10). 128 Tabela 10 - Relação de consumo por uso da edificação Fonte: Adaptado de Pereira, 2014. Foram considerados 200 alunos por turno e 10% de funcionários,2 dias de falta d’água e reserva de incêndio para estimar a capacidade do reservatório. O edifício escolar está como um sistema do tipo 1 pela NBR 13.714/2000, dessa forma considera-se o volume da reserva técnica de incêndio igual a 9.600 litros. Logo: 220 pessoas x 50 litros = 11.000 litros 11.000 litros x 2 dias = 22.000 litros 22.000 litros + 9.600 litros = 31.600 litros Obtêm-se então um reservatório com capacidade mínima a 31.600 litros, configurado na forma de castelo d’água cilíndrico. 129 4.3.9 ESTACIONAMENTO As vagas do estacionamento seguem o padrão exigido no Código de Obras e Edificações do Município de Natal (2004), atendendo uma vaga a cada 80m² construídos, com recuo e área destinada para embarque e desembarque, devido estar localizado em uma via Arterial I (Avenida Jaguarari). Considera-se, portanto, o projeto com área construída total igual a 2801,80m² com o mínimo de 36 vagas, as quais foram distribuídas 30 vagas no estacionamento principal do edifício escolar com 3 vagas para idoso e 3 vagas para deficiente físico; e um segundo estacionamento, na Rua Cônego Luiz Wanderley, que atende tanto a área de serviço quanto à comunidade que ingressa à quadra coberta, com 6 vagas. Todas vagas possuem dimensões de 2,50m x 5,00m por vaga, atendendo o mínimo exigido (2,40m x 4,50m). 130 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentar uma conclusão deste trabalho implica uma análise da trajetória do processo de pesquisa e produção projetual. Com pretensão de propor uma alternativa de ensino a fim de evitar a evasão escolar e colaborar com os estímulos adequados para uma educação de qualidade à sociedade brasileira, como direito de todos cidadãos, a proposta de um anteprojeto de uma escola pública de ensino infantil e fundamental I com base na metodologia Montessoriana busca introduzir elementos arquitetônicos característicos desse método. O uso de parâmetros e diretrizes nortearam a elaboração de soluções para um ambiente de ensino diferente do sistema tradicional através de estímulos sensoriais, também fundamentado em questões funcionais, de conforto ambiental e de acessibilidade, para a inserção de pessoas com diferentes capacidades e características na comunidade e tornando-se um desafio para a realização deste trabalho. Com apoio em referências multidisciplinares e bem embasadas, os referenciais teórico e empírico tornaram-se importantes para a compreensão de conceitos e soluções funcionais, sendo rebatidos no presente trabalho. Em contraste com a boa diversidade de referenciais, a maior dificuldade deste trabalho encontra-se em observar os modelos padrão de escolas propostos pelo governo brasileiro, e adaptá- los sem grandes alterações na dinâmica orçamentária, já que se trata de uma obra pública. Os conhecimentos adquiridos na graduação colaboraram no processo projetual, considerando que a trajetória acadêmica abarca a integração de fatores como condicionantes ambientais e legais, sistema estrutural, soluções funcionais, espaço e forma do edifício. A experiência foi, portanto, importante para compreender o contexto da arquitetura educacional e sua relação com pedagogia, além de condições sociais e políticas, sendo necessário estudos aprofundados e observações práticas, e em alguns casos, análises pós-ocupacionais para entender o impacto da arquitetura no desenvolvimento escolar. Acredita-se que o objetivo deste trabalho foi alcançado, assim como seus objetivos específicos, através do anteprojeto de uma escola com amplo espaço para diferentes layouts em sala de aula, que permitam a liberdade de crianças e estimule sua criatividade e independência, além da conexão com a natureza, e que também seja feito o uso de um padrão construtivo convencional, que ao mesmo tempo possa 131 diferenciar-se do padrão estético, a fim de criar uma identidade da escola. Entretanto, para total desenvolvimento do método, seria necessário complementar através de projetos paisagísticos e de ambientação e integrá-los na proposta de um projeto final. Este trabalho contribui com a compreensão da relação do ambiente construído com base na pedagogia proposta por Maria Montessori, além de apresentar-se como alternativa ao sistema de ensino tradicional e apresentar uma necessidade da integração de diferentes fatores, como pedagogia, política e arquitetura, para obtenção de excelência na qualidade de ensino. 132 REFERÊNCIAS A CONSTRUÇÃO do mundo através dos cinco sentidos. Disponível em: <https://www.revistaplaneta.com.br/a-construcao-do-mundo-atraves-dos-cinco- sentidos/>. Acesso em: 06 abr. 2018. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050:2015 – Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência às edificações, mobiliário e equipamento urbano. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ______. NBR 15220-3:2003 – Desempenho térmico das edificações - Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ______. 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