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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MESTRADO EM GEOGRAFIA DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL THIAGO TITO DE ARAÚJO NATAL RN 2008 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MESTRADO EM GEOGRAFIA DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL THIAGO TITO DE ARAÚJO NATAL-RN 2008 THIAGO TITO DE ARAÚJO DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Flávio Henrique M. de Araújo Freire NATAL-RN 2008 Catalogação da Publicação na Fonte UFRN Araújo, Thiago Tito de. Distribuição socioespacial dos fatores dinâmicos da população na Região Metropolitana de Natal / Thiago Tito de Araújo. - Natal, RN, 2008. 156 f.: il. Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique M. de Araújo Freire Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. 1. Região Metropolitana de Natal – Dissertação. 2. Tipologia Socioespacial - Dissertação. 3. Dinâmicas demográficas– Dissertação. 4. Geografia I. Freire, Flávio Henrique M. de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/CCHLA CDU 911 A663d DISTRIBUIÇÃO SOCIOESPACIAL DOS FATORES DINÂMICOS DA POPULAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL THIAGO TITO DE ARAÚJO FOLHA DE APROVAÇÃO Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de mestre no Curso de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Membros da Banca Examinadora: _______________________________________________________ Professor Dr. Flávio Henrique M. de Araújo Freire (UFRN) Presidente da Banca ______________________________________________________ Professor Dr. Ademir Araújo da Costa (UFRN) Examinador ______________________________________________________ Professor Dr. Weber Soares (UFMG) Examinador ______________________________________________________ Professora Dra. Maria do Livramento Miranda Clementino (UFRN) Suplente Natal, _______de _____________de 2008. A Deus, ao santuário da Virgem dos Pobres. Aos meus familiares e aos meus companheiros de todas as horas. AGRADECIMENTOS Inicialmente, gostaríamos de agradecer a Deus, a Senhora Sant’Ana, padroeira de todos os caicoenses e ao Santuário da Virgem dos Pobres (Maceió – AL), onde uma prece foi feita, ouvida e atendida. Agradeço a meu pai, Sebastião Tito de Araújo, meu grande ídolo e incentivador. A minha mãe, Faustina Araújo, por suas cobranças necessárias e por sua preocupação infinita. A minha irmã, Thaísia Kássia de Araújo, por sempre me dá ouvidos, aos meus lamentos e alegrias, nas intermináveis madrugadas. E ao meu irmão, Francisco de Assis Araújo e seus filhos, pela imensurável acolhida em Natal. Agradeço ao senhor professor Renato de Medeiros Rocha, grande amigo e incentivador acadêmico, por abrir meus olhos para importância da pós- graduação. Agradeço também, ao meu orientador e amigo, Flávio Henrique M. de Araújo Freire, por sua paciência, compreensão e, principalmente, por seu companheirismo. E a professora Maria do Livramento M. Clementino, por acreditar e investir no meu crescimento acadêmico. “A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós”. Marcel Proust RESUMO A Região Metropolitana de Natal, como as demais regiões metropolitanas brasileiras, foi marcada pela intensa e acelerada urbanização do país ocorrida somente na segunda metade do século XX, coincidindo com o processo de consolidação da indústria do país, resultando em sérios problemas sociais urbanos, como o aumento das favelas, a falta de infra-estrutura e o aumento da violência presente nos centros urbanos. Ao adentramos a realidade da Região Metropolitana, aferimos os impactos da reestruturação produtiva, no contexto da globalização, analisando de que forma os aspectos socioeconômicos influenciam os fatores dinâmicos da população, cuja configuração mostrou-se contraditória de acordo com a classe social ocupada. Nesse sentido, estudamos a configuração demográfica da Região Metropolitana de Natal, analisando sua distribuição espacial e suas diferenças sociodemográficas a luz da construção de uma tipologia socioespacial, que recorta o espaço metropolitano em áreas homogêneas. Palavras-Chave: Região Metropolitana de Natal, Tipologia Socioespacial, Dinâmica Demográfica. ABSTRACT The Metropolitan Region of Natal, like other metropolitan regions in Brazil, was marked by intense and rapid urbanization of the country occurred only in the second half of the twentieth century, coinciding with the process of consolidation of the industry in the country, resulting in serious urban social problems, such as the increase in slums, lack of infrastructure and this increase in violence in urban centers. When enters the reality of the metropolitan region, assessing the impacts of restructuring productive in the context of globalization, analyzing how the socio-economic factors influencing the dynamic of the population, whose configuration was shown to be contradictory according to social class busy. Accordingly, we studied the demographic configuration of the Metropolitan Region of Natal, analyzing their spatial distribution and their socio-demographic differences in light of building a type socio-space, which cuts the metropolitan space in homogeneous areas. Key-Words: Metropolitan Region of Natal, Type Socio-space, Demographic Dynamics. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS 1 Capim Macio .............................................................................................................. 47 2 Petrópoles................................................................................................................... 48 3 Tirol.............................................................................................................................. 48 4 Candelária .................................................................................................................. 48 5 Ponta Negra ............................................................................................................... 50 6 Lagoa Nova ................................................................................................................ 50 7 Nova descoberta ........................................................................................................ 50 8 Barro Vermelho........................................................................................................... 51 9 Lagoa Seca................................................................................................................. 52 10 Alecrim....................................................................................................................... 52 11 Neópolis..................................................................................................................... 52 12 Pitimbú....................................................................................................................... 53 13 Paranamirim – Centro............................................................................................... 53 14 Potengi......................................................................................................................54 15 Barrio Nordeste......................................................................................................... 54 16 Quintas...................................................................................................................... 55 17 Dix Sexpt Rosado...................................................................................................... 55 18 Nazaré....................................................................................................................... 55 19 Cidade da Esperança................................................................................................ 56 20 Santos Reis............................................................................................................... 57 21 Praia do Meio............................................................................................................ 57 22 Areia Preta................................................................................................................. 57 23 Mãe Luiza.................................................................................................................. 58 24 Cidade Alta................................................................................................................ 58 25 Ribeira....................................................................................................................... 58 26 Rocas........................................................................................................................ 59 27 Agreg Parque Industrial............................................................................................. 59 28 Parnamirim C.L.B.I.................................................................................................... 59 29 Parnamirim –Pirangi.................................................................................................. 60 30 Macaíba – Zona Urbana............................................................................................ 61 31 Agreg. Distrito S. Gonçalo do Amarante................................................................... 61 32 Salinas....................................................................................................................... 62 33 Igapó.......................................................................................................................... 62 34 N. Senhora da Apresentação.................................................................................... 62 35 Lagoa Azul................................................................................................................. 63 36 Pajuçara.................................................................................................................... 63 37 Redinha..................................................................................................................... 63 38 Bom Pastor.................................................................................................... 64 39 Felipe Camarão............................................................................................. 64 40 Guarapes....................................................................................................... 64 41 Planalto......................................................................................................... 65 42 Parnamirim –Distrito Industrial....................................................................... 65 43 Parnamirim Área Comercial.......................................................................... 65 44 Ceará-Mirim................................................................................................... 66 45 Nízia Floresta................................................................................................ 67 46 S. José do Mipimbú...................................................................................... 67 47 Monte Alegre................................................................................................ 68 48 Extremoz...................................................................................................... 68 49 Distrito de S. Gonçalo.................................................................................... 68 50 Ceará-Mirim................................................................................................... 70 51 Macaíba........................................................................................................ 70 GRÁFICO: 1 Taxa de Fecundidade Total. do Brasil, 1940 a 2000...........................................79 LISTA DE TABELAS 1 Nordeste: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000...................................... 81 2 RM/NATAL: Percentual da população rural por município - 1991 / 2000....... 83 3 RM/NATAL: Taxa de Urbanização - 1991 / 2000............................................ 84 4 RM/NATAL: Taxa de Fecundidade Total - 1991 / 2000.................................. 86 5 RM/NATAL: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 1991/2000...... 88 6 Nordeste: Esperança de Vida ao Nascer - 1991 / 2000.................................. 100 7 Nordeste: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000............................. 101 8 Nordeste: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000........................ 102 9 Nordeste:Índice de Desenvolvimento Humano - 1991 / 2000........................ 104 10 Esperança de Vida ao Nascer – RM de Natal – 1991 / 2000.......................... 105 11 RM/NATAL: Mortalidade até um ano de idade - 1991 / 2000......................... 107 12 RM/NATAL: Mortalidade até cinco anos de idade - 1991 / 2000.................... 108 13 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o NE c/ origem, por Regiões de Destino - Período 1986/1991........................................................... 118 14 Pessoas de 5 anos ou mais de idade que tinham o Nordeste c/ origem, por Regiões de Destino – Período 1995 – 2000........................................................ 119 15 Entradas, saídas e saldos migratórios, de migrantes de data fixa s/ a região Nordeste – Períodos 1986 – 1991 e 1995 – 2000 ................................... 121 16 Rio Grande do Norte: Migrantes de Data fixa s/ o local de origem – 2000 .... 123 17 RM/NATAL: População Residente de Anos e Mais e Imigrantes de Data Fixa – 2000 ......................................................................................................... 126 18 População Residente de 5 Anos e Mais e Imigrantes de Data Fixa segundo a sua origem – Região Metropolitana de Natal – 2000 ....................................... 128 19 RM/NATAL: População residente de 15 Anos e mais que trabalha ou estuda e pessoas que realizaram movimento pendular – 2000 .......................... 130 20 RM/NATAL: Imigrantes de Data Fixa tendo como origem Natal – 2000 ........ 131 LISTA DE MAPAS 1 Áreas de Expansão Demográfica – RM de Natal – 2000 .................................... 43 2 Tipologia Socioespacial – RM de Natal – 2000 ................................................. 46 3 Taxa de Fecundidade Total segundo as tipologias socioespaciais da Região Metropolitana de Natal – 2000 ............................................................................... 93 4 Probabilidade de morte até 5 anos segundo as tipologias socioespaciais da Região Metropolitana de Natal – 2000..................................................................... 111 5 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município do Rio Grande do Norte, exceto da Região Metropolitana - Região Metropolitana de Natal – 2000............................................................................................................. 135 6 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem em outro município de fora do Rio Grande do Norte e de outros países - Região Metropolitana de Natal – 2000 ......................................................................................................................136 7 Percentual de Imigrantes de Data Fixa com origem a Região Metropolitana de Natal - Região Metropolitana de Natal – 2000........................................................................................................................... 137 8 Percentual de pessoa que realizam movimento pendular em direção ao Pólo Metropolitano - Região Metropolitana de Natal – 2000............................................ 140 LISTA DE SIGLAS AED’S - Áreas de Expansão Demográfica AREAP - Áreas de Ponderação da Amostra IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEC - Instituto de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IDH - M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social IPEA - Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada MME -Ministério de Minas e Energia NAPP- Núcleo Avançado de Políticas Públicas PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RN – Rio Grande do Norte RM – Região Metropolitana SEMURB – Secretaria Municipal de meio ambiente Urbanismo SPSS - Software Statistics Program Sciences Social UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte SUMÁRIO INTRODUÇÃO 16 1 - Contexto histórico, teórico e metodológico ............................................ 23 1. 1 - Organização espacial de uma tipologia socioespacial ........................ 37 1. 2 – Descrição da distribuição territorial dos tipos socioespaciais........... 47 2 - relação das tipologias socioespaciais com a dinâmica demográfica.... 73 2.1 Tipologias Socioespaciais e a Fecundidade................................ 73 2.2 Tipologias Socioespaciais e a Mortalidade................................... 94 112 2.3 Tipologias Socioespaciais e a Mobilidade ................................... Considerações Finais .................................................................................................... 141 Bibliografia ..................................................................................................................... 149 Anexo............................................................................................................................. 156 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 16 Metropolitana de Natal INTRODUÇÃO Na década de 1970, o elevado crescimento da economia brasileira, ocorrido de forma espacialmente concentrado, fez “explodir” as metrópoles nacionais e ensejou a metropolização de outros importantes centros urbanos. As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei, aprovada no Congresso Nacional (1973), que as definiu como um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infra-estrutura comum, que deveriam ser reconhecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, foi a partir da Constituição Federal de 1988, que a instituição das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, por meio de lei complementar, passaram a ser da responsabilidade do próprio Estado, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para compor a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Quanto ao processo de formação da Região Metropolitana de Natal, segundo documento formulado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada (IPEA) de 2002, o processo de transbordamento de Natal com municípios vizinhos tornou-se evidente e, por duas vezes o Governo do Estado tentou institucionalizar uma região metropolitana e implementar um projeto de desenvolvimento integrado, entre os municípios de Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz, sem, contudo, obter sucesso em sua implementação. 16 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 17 Metropolitana de Natal Novas tentativas foram realizadas em 1977, com o Plano de Desenvolvimento Regional e Urbano da Grande Natal, elaborado pelo urbanista Luiz Forte Neto, juntamente com Instituto de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte (IDEC); e em 1988, com Plano de Estruturação do Aglomerado Urbano de Natal, elaborado pelo escritório Jaime Lerner de planejamento urbano em conjunto com o IDEC. De fato, só com o agravamento dos problemas comuns aos municípios que compõem a Região Metropolitana, é que o governo do estado promulgou em 04 de janeiro de 1994, a Lei Complementar n° 119/94, que institui a regionalização do estado, prevendo, dentre outras, a criação da Região Metropolitana de Natal. Dessa forma, em 1997 ocorreu o processo de formalização político- administrativa da Região Metropolitana de Natal, que teve sua criação regulamentada pela Lei Complementar n°152, baseada nos argumentos de “expansão urbana acelerada, demanda por serviços e necessidade de investimentos em parceria” (LEI COMPELTENTAR Nº 152; Art. 1). Neste primeiro momento, seis municípios passaram a compor a Região Metropolitana: Natal, configurando-se como município pólo, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará - Mirim e Extremoz. Contudo, a partir da Lei Complementar n° 221 de 2002 é que a Região Metropolitana de Natal passou a ter em sua configuração, a presença de mais dois municípios, incorporando São José de Mipibú e Nísia Floresta. Recentemente a partir da Lei n° 315 de 2005 houve a incorporação a Região Metropolitana o município de Monte Alegre. 17 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 18 Metropolitana de Natal Como se percebe tanto a Região Metropolitana de Natal, como as demais regiões metropolitanas brasileiras, foram marcadas pela intensa e acelerada urbanização do país, ocorrida somente na segunda metade do século XX, coincidindo com o processo de consolidação da indústria do país. De fato, tal realidade resultou em sérios problemas sociais e urbanos, como o aumento das favelas, a falta de infra-estrutura e o aumento da violência presente nos centros urbanos. Sendo assim, ao adentrar a realidade da Região Metropolitana de Natal, tem-se como objetivo principal, analisar de que forma os aspectos socioeconômicos influenciam os fatores dinâmicos da população, cuja configuração pode ser contraditória de acordo com a classe social ocupada. Estudos realizados sobre o tema indicam que o processo de mudanças associado à globalização da economia e à reestruturação produtiva tende a intensificar diferenciações e desigualdades sociodemográficas nas cidades, contudo surge a indagação de como esse processo de diferenciação espacial está configurado na Região Metropolitana de Natal e se há realmente uma co- relação entre o tipo de área ocupada e seu perfil demográfico. Segundo Corrêa (1990), a cidade tem-se constituído, ao longo da história, no principal local das lutas sociais. A organização espacial acaba sendo apresentada de forma desigual, caracterizada por uma complexa divisão técnica e social do espaço, associada a uma enorme diferença nas condições de vida dos diversos grupos sociais da cidade. Corrêa (1990) defende que: A grande cidade capitalista é o lugar privilegiado de ocorrência de uma série de processos sociais, entre os quais a 18 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 19 Metropolitana de Natal acumulação de capital e a reprodução social básica. Estes processos criam funções e formas espaciais, ou seja, criam atividades e suas materializações, cuja distribuição espacial constitui a própria organização espacial da população. (CORRÊA, 1990; p. 61). Os impactos gerados pela globalização sobre as grandes e médias cidades têm evidenciado na produção do espaço o aumento da segregação residencial. Observa-se, nas grandes e médias cidades brasileiras a disseminação do acesso desigual a serviços e equipamentosque configuram o bem-estar da população, ampliando as diferenças socioocupacionais e demográficas existentes no espaço urbano. Segundo Corrêa (1989), o espaço urbano da cidade capitalista se apresenta como o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. De acordo com os usos da terra torna-se possível definir distintas áreas residenciais, em termos de forma e conteúdo social. A cidade encontra-se fortemente dividida em áreas residenciais segregadas, as quais representam papel ponderável no processo de reprodução das relações sociais, refletindo a complexa estrutura social de classes, ou seja, o espaço da cidade além de ser reflexo da sociedade, torna- se também condicionante dessa sociedade. A tendência de distribuição da população no espaço, em grupos sociais homogêneos, e a desigualdade socioespacial da organização territorial da Região Metropolitana, ensejaram a justificativa deste trabalho. Nesse sentido, para que seja possível estudar a configuração demográfica da Região Metropolitana de Natal, tornou-se necessário analisar a distribuição espacial da população e seus diferenciais sociodemográficos através da construção de 19 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 20 Metropolitana de Natal uma tipologia socioespacial1, a qual recorta o espaço metropolitano em áreas homogêneas. Segundo Damiani (2004), na análise geográfica da população, a demografia, além de contribuir nos procedimentos de quantificação dos dados brutos de população, definiu material estatístico de cunho mais qualitativo, que teria auxiliado a geografia na caracterização econômica, e no esclarecimento de tensões decorrentes das questões econômicas, no interior de marcos espaciais específicos. O emprego de índices como o de fecundidade, de mortalidade e as diversas análises sobre os fluxos migratórios, conferiram à demografia notável rigor científico. Sua aplicação poderá possibilitar a análise em quantidade e qualidade da dinâmica populacional da Região Metropolitana de Natal, além de determinar alguns dos componentes que estão na estrutura de suas condições socioeconômicas. Para tanto, do ponto de vista demográfico, aborda-se a população da Região Metropolitana de Natal, segundo dois critérios principais. Primeiro, através de uma abordagem histórica, tentando com isso, perceber a evolução dos fenômenos demográficos ao longo do tempo. Segundo, consiste na abordagem analítica e socioeconômica, que seja capaz de oferecer esclarecimentos a dispor da evolução demográfica da Região Metropolitana e sua influência sofrida, principalmente, por fatores históricos e socioeconômicos. 1A construção da tipologia socioespacial foi desenvolvida no âmbito do projeto de pesquisa, “O Mapa Social da Região Metropolitana de Natal: Desigualdade Social e Governança Urbana, apoiado pela UFRN/FAPERN/CNPq – Pronex, que tem sua metodologia, no que condiz a construção das categorias socioocupacionais e as tipologias socioespacial, creditada a pesquisa desenvolvida em conjunto pela Rede Metrópoles, capitaneada pelo IPPUR/UFRJ, que agrega vários núcleos de Estudos Metropolitanos em todo o Brasil, inclusive no Rio Grande do Norte. Metodologia essa, elaborada em colaboração com Edmond Preteceille do CSU – Centre National de la Recherche Scientifique e Luciana Corrêa do Lago do IPPUR/UFRJ. 20 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 21 Metropolitana de Natal Também se faz necessário um “passeio” sobre o conceito de região, com previsão cuidadosa de não se encontrar limitado ao conceito de regionalização, feita durante o contexto da Nova Geografia, onde fundamentado no positivismo lógico, define a região como “um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares” (CORRÊA, 1990; p. 32), se opondo àquelas associadas aos paradigmas do determinismo ambiental e do possibilismo. A proposta desse trabalho é utilizar esse conceito e o estudo da organização espacial da população no espaço metropolitano, como facilitador do desenvolvimento da análise, supondo o diferente acesso ao espaço metropolitano por meio da população, busca-se através das análises “ultrapassar” as técnicas estatísticas, usadas para formação das áreas homogêneas, enquanto tipo socioespacial. Empregar o estudo de organização espacial, atrelado ao de segregação residencial, é alimentar as análises através da tendência de agrupamento no espaço de grupos sociais homogêneos, também resultado da desigualdade socioespacial, expressando-se na organização do território da cidade. Segundo afirmação de Corrêa (1989), a segregação residencial, pode ser vista como um meio de reprodução social, e nesse sentido o espaço social age como um elemento condicionador sobre a sociedade. Portanto, para a construção de uma tipologia socioespacial, partiu-se de três variáveis: ocupação, instrução e renda, com o fim de identificar a distribuição da população segundo sua classe social, o que permitirá inferir 21 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 22 Metropolitana de Natal sobre os diferenciais demográficos presentes na Região Metropolitana de Natal. Uma vez que, por meio da análise demográfica, medida através de componentes da variação e mudança populacional como natalidade (fecundidade), mortalidade e mobilidade, pode-se inferir se a estrutura socioespacial influencia ou não a condição de vida da população. Nota-se que apesar desses componentes poderem ser traduzidos em fórmulas, codificados em quantidade, é necessário situá-los no interior de sua relação com outros fenômenos sociais que podem explicá-los dado as suas causas determinantes ou condicionantes sociais. Busca-se particularmente, analisar de que forma os aspectos socioeconômicos afetam nos fatores dinâmicos da população, cuja configuração pode apresentar diferenciações de acordo com a classe social ocupada. Em outras palavras, é objetivo desse trabalho analisar à luz de uma tipologia socioespacial o desigual acesso perante diferentes níveis de classes sociais, dada à segregação residencial, sua relação nos determinantes do dinamismo demográfico como a fecundidade, mortalidade e a mobilidade. 22 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 23 Metropolitana de Natal 1 CONTEXTO HISTÓRICO, TEÓRICO E METODOLÓGICO Localizada no litoral oriental do Rio Grande do Norte, a Região Metropolitana de Natal ocupa uma área de pouco mais de 2.500 km2, a qual representa cerca de 5% do território estadual. Entretanto, segundo o censo demográfico de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Metropolitana concentra cerca de 39,5% da população do Estado, representando perto de 1 milhão de pessoas residindo nessa área. Esses números chamam mais atenção, quando visualizamos que Natal, capital do estado e cidade pólo da Região Metropolitana, segundo o Censo Demográfico de 2000, representa sozinha, cerca de 25% da população do Estado e aproximadamente 65% da população da Região Metropolitana, ou seja, em torno de 712 mil habitantes. Contudo, o interesse em conhecer e atuar sobre a Região Metropolitana de Natal, não se restringe ao fato dela concentrar uma parcela crescente da população do Rio Grande do Norte, mas também, por ser o lugar onde os investimentos de capital são os maiores do Estado, além de representar também, um conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si e congregar populações em diferentes níveis de desenvolvimento em relação às características sociodemográficas. É importante lembrar, que o conceito de região metropolitana foi introduzido no Brasil, apenas a partir da década de 1970, compartilhando da idéia de que uma região metropolitana “é um aglomeradourbano composto por 23 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 24 Metropolitana de Natal vários municípios autônomos, mas integrados física e funcionalmente, formando uma mancha urbana praticamente continua” (BRAGA & CARVALHO, 2004; p, 18). Braga e Carvalho (2004) defendem que, inicialmente, o conceito de metrópole está ligado a etimologia da palavra, que em grego significa cidade- mãe e estava associado com o de cidades-satélite. Assim como as cidades, atualmente o conceito abriga várias configurações espaciais bastante distintas, mas talvez a essência esteja ligada à primazia de uma cidade em relação às outras, geralmente conurbadas ou como no caso da Região Metropolitana de Natal, sofrendo um transbordamento proveniente da cidade pólo. Nessa perspectiva, os problemas da metrópole devem ser pensados e solucionados através de uma política integrada, de maneira democrática, tanto em termos sociais, como econômicos, isto é, embasada numa justa distribuição dos bônus e ônus do processo de desenvolvimento2. De fato, segundo Santos (1998), o conceito de metropolização corresponde à macro-urbanização e, apenas as aglomerações urbanas com mais de um milhão de habitantes deveriam merecer tal denominação. Entretanto, até a Constituição de 1988, as Regiões Metropolitanas eram criadas através do Governo Federal. Só a partir de então, os próprios estados puderam criar suas regiões metropolitanas seguindo normas próprias. 2 Cabe ressaltar, que de acordo com Braga e Carvalho (2004), o processo de integração física e funcional de várias cidades é chamado de conurbação, ou seja, haveria um crescimento recíproco das cidades ao ponto da mancha urbana apresentasse praticamente contínua. Entretanto, o que podemos perceber ao analisarmos a realidade demonstrada pela Região Metropolitana de Natal, é que ela possui uma cidade Pólo (Natal), que exerce forte influência econômica, especialmente a seus municípios vizinhos (limítrofes), causando um transbordamento de suas atividades econômicas em suas direções. 24 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 25 Metropolitana de Natal De acordo com Miranda (1999), no caso da região metropolitana norte- rio-grandense, os primeiros estudos sobre o desenvolvimento urbano e regional da região datam de 1977 quando, o então governador do estado, solicitou ao escritório de arquitetura Luiz Forte Netto, de Santa Catarina, pareceres sobre a expansão urbana de Natal, voltada, especialmente à conurbação com os municípios adjacentes. Segundo Aquino (2006), O plano desenvolvido pelo referido escritório, elaborou sete hipóteses para estruturação da organização espacial da Região Metropolitana de Natal. Dessa forma o governo, em face das conclusões, implantou um distrito industrial na Zona Norte de Natal. Contudo, enfatiza a autora, o crescimento urbano foi desordenado e, onze anos depois, o Governo do Estado convidou o Escritório Jaime Lerner para apresentar novas propostas de ajuste ao crescimento. Aquino (2006) ainda ressalta que essas duas ações promovidas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, não impossibilitaram o desordenado e acelerado processo de transbordamento de Natal para os municípios vizinhos e seus conseqüentes problemas. Muito embora o conceito de região metropolitana vá além da mera definição legal, a formação da Região Metropolitana de Natal foi legalmente construída a partir de janeiro de 1994, tendo uma última inclusão de município em dezembro de 2005, contando com a participação de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará - Mirim, Extremoz, Nísia Floresta, São José do Mipibú e por fim, Monte Alegre. 25 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 26 Metropolitana de Natal No entanto, independentemente do processo de formação da Região Metropolitana de Natal, percebe-se que o crescente processo de urbanização3 verificado na região trouxe em seu contexto, um visível processo de segregação espacial, a qual é notória a alocação da população segundo, principalmente, sua condição socioeconômica. Segundo Préteceille (2004), o conceito de segregação espacial surge, primeiramente, através das idéias difundidas pela Escola de Chicago de R. Park e Burgess (1925), geralmente, considerada como tendo constituído o nascimento da sociologia urbana enquanto disciplina científica. Esses autores salientam que através de uma consulta rápida à literatura sociológica é possível perceber que a maioria dos trabalhos publicados sobre segregação trata das diferenças étnico-sociais ou socioeconômicas como questões amplas na diferenciação dos espaços urbanos. Corrêa (1989) acrescenta que o conceito de segregação espacial, surgido através da Escola de Chicago, é definido como sendo uma concentração de tipos de população dentro de um dado território. O autor salienta ainda, que o conceito de “áreas sociais”, definido por Shevky e Bell (apud Corrêa, 1989), como sendo áreas marcadas pela tendência a uniformidade da população, é baseada em termos de três conjuntos de características: status socioeconômico (renda, status ocupacional, instrução etc.), característica escolhida para construção dos tipos socioespaciais nesse 3 Consideramos nesse trabalho o conceito demográfico de urbanização adotado por Davis (1977, apud Braga e Carvalho, 2004), que é o aumento do percentual da população urbana em relação à total. Assim sendo, pode-se dizer que uma sociedade está se urbanizando na medida em que o crescimento da população urbana é maior do que a população rural. Outra acepção do termo urbanização, apontada pelos autores, e também adotadas por arquitetos e urbanistas, é o da implantação de equipamentos e benfeitorias urbanas no espaço. Portanto, construir escolas, pavimentar ruas e implantar rede de esgoto é urbanizar o espaço. 26 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 27 Metropolitana de Natal trabalho; urbanização (mulheres na força de trabalho, fase do ciclo de vida, isto é, solteiros, casais jovens com filhos pequenos etc.) e etnia. Segundo Corrêa, a uniformidade de tais características origina áreas sociais, isto é, bairros homogêneos, segregados, como por exemplo, bairros populares com modestas residências, de empregados do setor terciário residindo em edifícios de apartamentos, de diretores de empresa em suas residências suntuosas etc.4 Préteceille (2004) ressalta, que no caso brasileiro, a maioria dos trabalhos sobre segregação diz respeito, sobretudo às diferenças socioeconômicas e pouco sobre as diferenças étnico-raciais. Isso significa dizer que a segregação é sobretudo analisada nos estudos sobre as cidades brasileiras pela focalização sobre as categorias mais pobres de um lado, e os mais ricos do outro, mas raramente, sem que a localização residencial das categorias intermediárias seja considerada de modo sistemático. Entretanto, de acordo com a opinião exposta por Ribeiro (2000), o termo segregação espacial trata-se de uma categoria de análise que contém sempre duas dimensões: (i) conceitual, relacionada com os princípios teóricos adotados para explicar a organização socioterritorial; (ii) prática, relacionada com as concepções normativas da sociedade fundadas em princípios de igualdade. O autor identifica o conceito de segregação espacial, através de duas concepções: a primeira concebe a segregação como diferença de localização de um grupo em relação aos outros grupos. Esta se trataria de uma concepção 4 Trechos adaptados do livro de CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano. São Paulo, 1989. O autor também sugere consultar os trabalhos de Mackenzie, Shevky e Bell, em Coletânea organizada por THEODORSON, G. A. 27 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 28 Metropolitana de Natal clássica, cujo fundamento é a explicaçãoecológica da sociedade, estabelecendo a contraposição de distância social à idéia de mistura, considera como a forma de organização social. A segunda concepção apresentada por Ribeiro (2000), “a segregação designa as desigualdades sociais expressas como organização do território da cidade” (RIBEIRO, 2000; p. 18). O espaço urbano contém um conjunto de recursos importantes à reprodução das categorias sociais, na forma de bens materiais simbólicos, mas a sua distribuição reflete as chances desiguais de acesso. Ainda segundo Ribeiro (2000), duas abordagens teóricas fundamentaram essa concepção, uma de inspiração marxista, a qual explica a segregação como decorrência das desigualdades de classes da sociedade; enquanto a outra abordagem, de inspiração weberiana, que explica a segregação como o resultado das desigualdades da distribuição desigual do prestígio, da honra social e do poder. No entanto, as duas abordagens convergem em um sentido, a segregação é a espacialização da estratificação da sociedade e, conseqüência, sendo compreendida como decorrência de lógicas coletivas cujo fundamento são as relações sociais. De acordo com Ribeiro (2000), o princípio normativo que organiza essa concepção é: ... o da justiça distributiva, já que a disposição dos grupos sociais no território e a distribuição dos equipamentos e serviços na cidade geram uma desigualdade de bem-estar social, em razão das lutas entre as categorias pela apropriação dos recursos materializados na cidade (RIBEIRO, 2000; p. 19). 28 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 29 Metropolitana de Natal Acrescenta também que, a aplicação da concepção de espaço social de Pierre Bourdieu (2001), à análise da estrutura urbana permite unificar estas duas concepções de segregação. Com efeito, a ocupação do espaço da cidade resulta dos princípios de estruturação do espaço social. Cada princípio representa uma forma de hierarquia do poder: econômico, social e simbólico. A noção de distância social “coagulada” das distâncias físicas é entendida como manifestação dos poderes das classes sociais em se apropriarem da cidade como recursos. Ribeiro (2000) sugere que a segregação residencial é produto de lógicas individuais, isto é, efeito de suas escolhas, já que essa forma de organização ideal estabelece que a distância espacial expressa a existência de distâncias sociais entre os grupos existentes na sociedade. De tal forma que, estimularia os indivíduos a se agruparem dado a sua afinidade, seja ela, racial, étnica ou por posição e de certa forma através desse agrupamento, conseguirem se resguardarem dos “efeitos fragmentadores da personalidade, gerados pelas aglomerações e da vida na cidade” (RIBEIRO, 2000; p. 21). Para tanto, esclarece o autor, a ocupação do espaço urbano ocorrida de forma desigual acarreta uma forma de segregação da população, estabelecendo uma tendência da estruturação do espaço ligada à concentração de pessoas por camadas sociais. Sendo assim, este trabalho se utiliza, do conceito de organização espacial pautado na segregação espacial, como a melhor forma de traduzir territorialmente a estrutura social da Região Metropolitana de Natal, possibilitando assim, a analise demográfica baseada no acesso desigual do solo urbano pelas diferentes camadas da população. 29 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 30 Metropolitana de Natal Como se pode perceber através da opinião exposta por Corrêa (1990), na ampla possibilidade de aparecimento dos propósitos de organização espacial, há dois enfoques que não se excluem mutuamente. O primeiro considera as áreas simples, ou então complexas; o segundo enfoque visa às áreas homogêneas, ou então funcionais. A preferência por utilizar os enfoques de áreas complexas e homogêneas, parte do preceito de levar em conta muitos critérios ou variáveis, usualmente, reduzidas através de uma técnica estatística mais sofisticada, a análise por correspondência, além de se utilizar previamente uma análise fatorial; dessa forma, se faz referência à unidade agregada de áreas, descrita pela invariabilidade (estatisticamente considerada). Compartilhando do argumento de Corrêa (1990; p. 39) que “na nova geografia não existe, como na hartshorniana, um método regional, e sim estudos nos quais as regiões formam classificações especiais”; o uso do conceito de organização espacial desenvolvido nesse trabalho, busca a identificação de padrões espaciais segundo a construção de uma tipologia socioespacial. Proporcionando à organização espacial da Região Metropolitana de Natal o poder de adquirir, junto à sua existência como entidade concreta, o sentido de padrão espacial, “as classes de área da nova geografia podem acabar constituindo-se em um exercício acadêmico sofisticado” (CORRÊA, 1990; p. 40). Pode-se observar que a configuração do espaço urbano da região metropolitana, dentro do contexto capitalista, resulta do conjunto de diferentes usos da terra. A organização espacial da metrópole irá depender em grande 30 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 31 Metropolitana de Natal parte, de uma série de fatores que contribuem para a distribuição desigual da população, recursos e investimentos no espaço metropolitano. Fazendo uso da citação de Ianni, exposta no livro Região e Geografia de Lencione (2003), podemos perceber que: ... a globalização não apaga nem as desigualdades nem as contradições que constituem uma parte importante do tecido da vida social nacional e mundial. Ao contrário, desenvolve umas e outras, recriando-se em outros níveis, com novos ingredientes. As mesmas condições que alimentam a interdependência e a integração alimentam as desigualdades e contradições, em âmbito tribal, regional, nacional, continental e global (IANNI, 1993 apud LENCIONE, 2003; p. 73). Lecione (2003) ainda afirma que as diferenças emergem e se contrapõem ao processo de globalização, mesmo ela tendendo a anulá-las. Daí a análise regional que voltada para as particularidades pode revelar aspectos da realidade que seriam mais difíceis de serem percebidos e analisados se considerados apenas do ponto de vista global. A noção de região passa a exercer papel importante na análise espacial, contudo, segundo a autora, a idéia de região nos moldes clássicos não mais se sustenta nos tempos atuais. Milton Santos (1996), em sua obra a Natureza do Espaço: Técnica e Tempo – Razão e Emoção critica a posição pós-moderna, a qual defende o fim do referencial teórico território, com base no conceito de não-lugar, alegando que há insuficiência no próprio conceito de região, devido ao processo de globalização. Lencione (2003) acrescenta, que essa visão exposta por Milton Santos, procura mostrar que o processo de globalização é também um processo de fragmentação, significando assim, além de globalização, regionalização e individualização. 31 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 32 Metropolitana de Natal A perspectiva defendida no trabalho Lencione (2003) corrobora com a opinião de que a escala regional, como escala intermediária (facilitadora) de análise, como mediação entre o singular e o universal, pode permitir revelar a espacialidade particular dos processos sociais globais. Sendo assim, padrões de organização espacial da população, identificados através de uma tipologia socioespacial, oferece subsídios suficientes para analisar a relação socioeconômica sobre a dinâmica demográfica apresentada pela Região Metropolitana de Natal. Para tanto, a construção da tipologia socioespacial, realizada neste trabalho, partindo da variável central - ocupação - fazendo uso de filtros de renda e instrução, configura-se como uma Proxy, uma aproximação, de como visualizar a estrutura social, usualmente aqui chamada de categoriassocioocupacionais. De fato, em áreas onde se apresenta alto índice de desenvolvimento socioeconômico, ocorre à presença tanto no tocante a quantidade, quanto qualidade da maior parte dos serviços de infra-estrutura urbana seja ele, de telefonia, educação, saneamento básico, dentre outros. Restando as áreas onde estão instaladas as populações pobres, uma presença de serviços de infra-estrutura numa qualidade inferior. Fatores como esses, acabam incentivando o aumento da segregação residencial. Com isso, o espaço urbano se torna reflexo da sua sociedade, tendo no espaço da cidade capitalista, fortemente dividido em áreas segregadas à representação da complexa estrutura social em classes. Corrêa (1989) aponta de forma esclarecedora o peso que o acesso da população ao espaço urbano tem sobre a reprodução das relações sociais: 32 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 33 Metropolitana de Natal As áreas segregadas representam papel ponderável no processo de reprodução das relações de produção no bojo do qual se reproduzem às diversas classes sociais e suas frações: os bairros são locais de reprodução dos diversos grupos sociais (CORRÊA, 1989; p. 65). Corroborando com a argumentação do presente trabalho, Ribeiro (2000) defende que “a globalização ao difundir ideais liberais pelo mundo, gerou mudanças dos modelos e paradigmas regulatórios que até então fundamentavam as políticas urbanas” (RIBEIRO, 2000; p. 22). As reformas institucionais proporcionadas pelo Estado, na direção da liberação do mercado de terras e de moradias, tiveram como conseqüência a especulação imobiliária, que se transformou em variável principal para distribuição da população no território da cidade. Projetando no espaço urbano, de forma mais acentuada as desigualdades socioeconômicas da organização do espaço. De fato, pode-se aferir que em sociedades capitalistas, onde o mercado é o mecanismo central da ordem social e os valores igualitários são a base da cultura compartilhada pelos seus integrantes, é que o termo segregação é pertinente como instrumento capaz de enunciar problemas de ordem social. Sendo assim, buscou-se comprovar a hipótese de que a divisão socioeconômica da metrópole pode expressar não apenas a espacialização da diferenciação social, traduzida territorialmente através da segregação espacial, como também, expressar sua forte relação nos fatores da dinâmica demográfica. De acordo com os apontamentos de Próspero Silva (2002/03), o termo demografia aparece pela primeira vez no livro de Achille Guillard, em 1855, intitulado Elements de statistique humaine ou démografie comparée 33 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 34 Metropolitana de Natal (Elementos de estatística humana ou demografia comparada). Segundo o autor, Guillard considerava que Demografia “em sentido amplo, abrange a história natural e social da espécie humana; em sentido restrito, abrange o conhecimento matemático das populações, dos seus movimentos gerais, do seu estado físico, intelectual e mental” (GUILLARD, 1855 apud SILVA, 2002; p. 12). No entanto, alguns autores defendem que os estudos propriamente demográficos são bem anteriores a essa data. Considera-se como a primeira análise demográfica, no sentido moderno da palavra, a que o público londrino presenciou, no ano de 1662, por John Graunt sob o título de Natural ant Political Observations Made upon the Bills of Mortality (Observações naturais e políticas feitas sobre os registros de Mortalidade). A demografia é a ciência que tem por objetivo o estudo das populações humanas versando sobre o volume, composição, o desenvolvimento das mesmas, bem como suas características gerais consideradas principalmente do ponto de vista quantitativo. Tradicionalmente, a demografia é uma das mais quantitativas dentre as ciências sociais, fazendo amplo uso da estatística. Contudo, devemos salientar que de maneira geral observa-se uma crescente tomada de consciência, por parte dos demógrafos atuais, acerca da importância dos aspectos qualitativos para a própria problemática demográfica. A análise demográfica, segundo Damiani (2004), é apresentada na geografia como auxiliar da geografia da população, na sua configuração como primeira aproximação. Além disso, possibilitar análise mais complexa e especializada da sociedade pelos outros ramos da geografia. Dessa forma, a Geografia da População se apresenta como a ciência que estuda os aspectos 34 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 35 Metropolitana de Natal espaciais da fixação populacional distribuída no espaço urbano, compartilhando com a Demografia o interesse comum pela distribuição territorial da população. Damiani (2004) defende que: Na análise geográfica da população, a demografia, além de contribuir nos procedimentos de quantificação dos dados brutos de população, definiu material estatístico de cunho mais qualitativo que teria auxiliado a geografia na caracterização econômica, e no esclarecimento de tensões decorrentes das questões econômicas no interior de marcos específicos (DAMIANI, 2004; p. 57). Para o trabalho aqui pretendido, a Demografia surge como veículo necessário para o estudo do tamanho, da distribuição territorial e da composição da população, das mudanças e de seus componentes, como a fecundidade, a mortalidade e a mobilidade. Na opinião de Zelinsky (1974), para que a geografia da população possa proporcionar um tratamento mais abrangente na análise das características da população de cada região habitada no espaço, é necessário que se faça mão de uma inferência intrínseca dos atributos universais da população, dos princípios sistemáticos que governam sua composição, condições socioeconômicas, comportamento e mudanças tratadas através da Demografia. Sendo assim, na mesma direção da perspectiva exposta por Suzana Pasternak (2004), de que a segregação urbana representa uma tendência de agrupamento no espaço de grupos sociais homogêneos, e é resultado de uma desigualdade socioespacial, expressando-se na organização do território da cidade. Corrêa afirma que “as áreas sociais que emergem da segregação estão 35 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 36 Metropolitana de Natal dispostas espacialmente segundo certa lógica, e não de modo aleatório” (CORRÊA, 1989; p. 66). Dessa forma, influencia sobremaneira a separação espacial das diferentes classes sociais fragmentadas, podendo ser identificado padrões espaciais – áreas homogêneas construídas a partir de tipos sócio- espaciais. Tais padrões configuram-se como ferramenta útil à análise da dinâmica demográfica apresentada pela Região Metropolitana de Natal. Portanto, partindo desse pressuposto de que o conceito de organização espacial da população está ligado à noção fundamental de diferenciação, aceitando a idéia de que o espaço urbano é constituído por áreas diferentes entre si, buscou-se dividir o espaço metropolitano, através da construção de uma tipologia socioespacial, que possibilitasse inferir sobre os diferenciais demográficos da Região Metropolitana de Natal. Dessa forma, a análise pretendida busca entender como os aspectos socioeconômicos, traduzidos no espaço através de uma tipologia socioespacial, se relacionam com os fatores dinâmicos da população, cuja configuração pode apresentar diferenciações de acordo com a classe social ocupada. Em outras palavras, o que se almeja é analisar a estrutura demográfica da população residente na Região Metropolitana de Natal à luz de uma tipologia socioespacial, que foi construída a partir de três variáveis: ocupação, instrução e renda. Sendo possível identificar a distribuição da população segundo sua classe social e sua relação nos determinantes do dinamismo demográfico, como a fecundidade, mortalidadee a mobilidade. 36 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 37 Metropolitana de Natal 1. 1 Organização espacial de uma tipologia socioespacial Como vimos anteriormente, o conceito de organização espacial da população está intimamente relacionado à noção fundamental de diferenciação, estimulada em grande parte, por diversos fatores socioeconômicos, que contribuem para a distribuição desigual da população perante o espaço metropolitano. Para tanto, surge a preocupação deste trabalho em estabelecer a melhor forma de tradução territorial dos padrões de ocupação da população perante espaço metropolitano, se fazendo necessário uma breve explicação metodológica sobre o processo de construção das tipologias socioespaciais, que utilizamos como proxy, dessa ocupação. Segundo Ribeiro (2000) há três aspectos fundamentais a serem observados para construção da Tipologia Socioespacial: a) Escolha da unidade social de análise; b) Escolha das variáveis pelas quais a distribuição das pessoas no espaço será discutida; c) E a escolha da unidade espacial de análise a partir da qual esta descrição será efetuada. Sendo assim, opção por utilizar os dados do Censo Demográfico de 2000, por pessoas, como unidade social de nossa análise, parte do pressuposto de que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levanta informações demográficas e socioeconômicas para o conjunto da população. De fato, considera-se que as pessoas, na grande maioria, vivem em famílias e as escolhas de localização residencial expressam os recursos 37 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 38 Metropolitana de Natal mobilizados e alocados no interior deste universo familiar, servirá adequadamente para expressar a forma que a segregação espacial está socialmente distribuída no espaço metropolitano. Seguindo a lógica proposta por Ribeiro (2000), o próximo passo para a construção de uma tipologia socioespacial parte da formação de um sistema de hierarquização social das ocupações que nos servisse de proxy da Estrutura Social5. O autor justifica que a opção pela utilização da variável ocupação, deve- se ao fato dela permitir testar as possíveis relações entre transformações econômicas e mudanças socioespaciais. Essa variável nos permite também, uma melhor aproximação descrita da estrutura de classes e o seu papel na estratificação socioespacial. O autor também acrescenta que, a ocupação apresenta características de “variável-síntese” de múltiplos processos sociais cujo conhecimento é fundamental na análise da estruturação da cidade tais como modelo de consumo, estilo de vida etc. A necessidade de se trabalhar com certo número limitado de variáveis a partir das quais possibilitasse descrever os indivíduos em suas diferenças e semelhanças, proposta por Ribeiro (2000), origina-se da preocupação de que o pesquisador não “mergulhe” de forma confusa num mundo de informações que ele não possa ordenar. O uso de vinte e quatro categorias socioocupacionais, descritas a seguir, partindo do agrupamento de mais de quatrocentas ocupações do Censo 5 Segundo o autor devemos tomar como referência os trabalhos desenvolvidos por Tabard (1993), Chenu e Tabard (1993) e Wright (1964), sobre as categorias socioocupacionais, construídas a partir da combinação de variáveis de renda, de ocupação e de grau de instrução. 38 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 39 Metropolitana de Natal Demográfico de 2000, utilizando filtros de renda e grau de instrução, desponta como importante “arma” de explicação da estruturação do espaço social da cidade; a partir da identificação de padrões de localização residencial da população. Categorias Socioocupacionais (Cat’s) – Grandes Empregadores – Dirigentes do Setor Público – Dirigentes do Setor Privado – Profissionais Autônomos de Nível Superior – Profissionais Empregados de Nível Superior – Profissionais Estatutários de Nível Superior – Professores de Nível Superior – Pequenos Empregadores – Ocupações de Escritório – Ocupações de Supervisão – Ocupações Técnicas – Ocupações Médias da Saúde e Educação – Ocupações da Segurança Pública, Justiça e Correios – Ocupações Artísticas e Similares – Trabalhadores da Indústria Moderna – Trabalhadores da Indústria Tradicional – Trabalhadores dos Serviços Auxiliares 39 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 40 Metropolitana de Natal – Trabalhadores da Construção Civil – Trabalhadores do Comércio – Prestadores de Serviços Especializados – Prestadores de Serviços Não-Especializados – Trabalhadores Domésticos – Ambulantes e Catadores – Agricultores A escolha da unidade espacial de análise depende da desagregação do território da cidade, em áreas a partir das quais possibilitasse o estudo da variação da distribuição da população no território da metrópole, capturando a maior diferenciação social do espaço. É necessário que a desagregação seja suficientemente fina para que ela não imponha sua própria lógica, mas, ao contrário, deixe transparecer “todas as continuidades, as rupturas e as linhas de forças segundo as quais se organiza o espaço social da cidade” (GRAFMEYER; 1999. 100 apud RIBEIRO; 2000; p. 20). Contudo, a grande dificuldade de identificação dessas áreas é o fato de elas já estarem organizadas geograficamente segundo critérios de regionalização estabelecidos pelo IBGE. Há pelo menos dois tipos de espacialização com um nível de desagregação satisfatória disponibilizadas pelo IBGE, as informações sociodemográficas estão distribuídas na escala dos setores censitários e das Áreas de Ponderação da Amostra (AREAP). 40 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 41 Metropolitana de Natal Segundo o IBGE (2000), o setor censitário é definido como a unidade de coleta na qual mora cerca de mil pessoas e cuja extensão permite ser percorrida pelo recenseador; enquanto as áreas de ponderação definem-se como sendo uma unidade geográfica, formada por um agrupamento mutuamente exclusivo de setores censitários, para aplicação dos procedimentos de calibração das estimativas com as informações conhecidas para a população como um todo. Nesse sentido, a área de ponderação é a unidade espacial mínima onde a amostra do Censo Demográfico de 2000 é representativa6. A dificuldade de trabalhar com o nível de desagregação provinda dos setores censitários se deve ao fato de que a região metropolitana apresenta um grande número de setores (mais de novecentos setores), esse alto nível de desagregação acaba representando um problema quanto a sua representatividade estatística, dado ao seu pequeno tamanho demográfico. Devemos complementar também, que o IBGE não disponibiliza os dados da amostra por setor censitário. De acordo com Ribeiro (2000) a utilização de medidas sintéticas, tais como os índices de dissimilaridade e de segregação são fortemente influenciados pelas diferenças demográficas entre as áreas. O autor explica ainda que: O tamanho demográfico também favorece para mais ou para menos o resultado da análise em termos de maior ou menor diferenciação social dos espaços. Por último o tamanho demográfico também tem implicações na confiabilidade estatística dos dados (RIBEIRO, 2000, p. 20). 6 Cabe ressaltar que, o questionário aplicado pelo Censo Demográfico de 2000 do IBGE, com quesitos socioeconômicos e demográficos, é aplicado numa amostra de 10% dos domicílios e não de forma censitária. 41 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 42 Metropolitana de Natal Portanto, a unidade territorial tomada como base para construção da Tipologia Socioespacial foram às áreas de ponderação, usualmente chamadas, nesse trabalho, de áreas de expansão demográfica (AED’s). A utilização dasáreas de expansão demográfica justifica-se por reproduzirem a área mínima, fornecida pelo IBGE através dos dados do Censo Demográfico de 2000, capaz de possibilitar a análise da variação da distribuição da população, também largamente utilizada como fonte de dados para o desenvolvimento da pesquisa. O instituto reforça que: O tamanho dessas áreas, em termos de número de domicílios e de população, não pode ser muito reduzido, sob pena de perda de precisão de suas estimativas. As áreas de ponderação foram definidas considerando essa condição e, também, os níveis geográficos mais detalhados da base operacional, como forma de atender a demandas por informações em níveis geográficos menores que os municípios (IBGE, 2000, p. 63). De acordo com as informações do Censo Demográfico de 2000, a Região Metropolitana de Natal encontra-se subdividida perante trinta e seis áreas de expansão demográfica (AED), mostrada a seguir, pelo Mapa 1. 42 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 43 Metropolitana de Natal Mapa 1 Áreas de Expansão Demográfica – RM de Natal – 2000 43 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 44 Metropolitana de Natal Tendo em mãos as trinta e seis áreas de expansão demográfica e as vinte e quatro categorias socioocupacionais, realizamos, inicialmente, uma análise fatorial para agrupar as vinte e quatro categorias socioocupacionais encontradas inicialmente e listadas anteriormente, em oito fatores, denominados: Superior; Médio Superior; Médio; Médio Inferior; Popular Operário; Popular; Popular Agrícola; e Agrícola. Depois foi realizado uma análise de correspondência – a qual representa uma técnica multivariada que possibilita estudar a relação existente entre várias categorias de variáveis em estudo – para relacionar esses fatores com as trinta e seis áreas de expansão demográfica da Região Metropolitana de Natal. Com essa análise foi possível caracterizar cada área de expansão demográfica segundo as condições socioocupacionais de sua população residente (Mapa 2)7. Segundo Ribeiro (2000), o mapa construído a partir da tipologia representa a geografia da divisão social do espaço metropolitano. Sendo assim, atendendo os nossos anseios, é possível identificar os princípios pelos quais, o espaço social da Região Metropolitana de Natal se divide, sintetizando em oito áreas-tipo que retratam a hierarquia socioespacial da metrópole, visualizada no Mapa 2 mostrado a seguir. A partir da análise do Mapa 2 a Tabela 1/A (anexo) – a qual detalha a distribuição de cada categoria socioocupacional perante cada tipo socioespacial, partiu-se para breve análise sobre a distribuição espacial dos tipos socioespaciais na Região Metropolitana de Natal, identificando a 7 Ribeiro (2000) sugere para descrição das técnicas multivariadas utilizadas, ver Sanders (1989) e Fenelon (1981). 44 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 45 Metropolitana de Natal participação das categorias socioocupacionais mais representativas em cada um dos tipos. 45 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 46 Metropolitana de Natal Mapa 2 Tipologia Socioespacial – RM de Natal – 2000 46 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 47 Metropolitana de Natal 1. 2 – Descrição da distribuição territorial dos tipos socioespaciais Os espaços superiores, no qual representa as áreas do Parque das Dunas, Capim Macio, Petrópolis, Tirol e Candelária, são caracterizados por concentrarem significativamente a “Elite Dirigente”. Cerca de 54% dos grandes empregadores estão localizados nessas Áreas de Expansão Demográfica (AED’s), havendo também a participação dos dirigentes do setor público, 35%, e dirigentes do setor privado, 30%. Pode-se visualizar algumas dessas áreas nas Figuras mostradas abaixo (Figuras 1, 2, 3 e 4). Tipologia Socioespacial Superior Figura 1: Capim Macio Fonte: Acervo Semurb, 2006. 47 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 48 Metropolitana de Natal Figura 2: Petrópolis Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 3: Tirol Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 4: Candelária Fonte: Acervo Semurb, 2006. 48 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 49 Metropolitana de Natal Outra categoria que apresenta forte peso na ocupação desses espaços são as responsáveis pela “Elite Intelectual”, as quais concentram cerca de 36% dos profissionais autônomos de Nível Superior, 37% dos profissionais empregados de nível superior, 42% dos profissionais estatutários de nível superior e 30% dos professores de nível superior. As categorias socioocupacionais referentes às ocupações médias, também apresentam uma sensível participação nos espaços do tipo superior, porém numa proporção inferior, variando entre 10% e 21% . Analisando preliminarmente a distribuição espacial desse tipo, ressalta- se a sua concentração em áreas já tradicionalmente habitadas por uma classe social mais abastada, ou seja, parte da elite natalense. Os espaços Médio-Superiores têm sua participação nas categorias socioocupacionais bem semelhantes aos espaços superiores, no entanto, com maior grau de mistura no que condiz a uma colaboração mais significativa, no que se refere à participação das categorias das “ocupações médias”, como também uma menor participação das categorias pertencentes a “Elite Dirigente” e “Intelectual”. As áreas de expansão demográfica, onde este tipo está concentrado, são as áreas de Ponta Negra, Lagoa nova e Nova Descoberta (Figura 5, 6 e 7). 49 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 50 Metropolitana de Natal Tipologia Socioespacial Médio-Superior Figura 5: Ponta Negra Fonte: Acervo Setur-RN, 2006. Figura 6: Lagoa Nova Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 7: Nova Descoberta Fonte: Acervo Semurb, 2006. 50 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 51 Metropolitana de Natal O caso de Ponta Negra em especial, chama a atenção pela sua não participação entre os espaços do tipo Superior. A hipótese levantada é que no interior dessa AED, ocorra a presença de áreas que são caracterizadas por apresentarem uma considerável colaboração das “Ocupações Médias”, como o “Conjunto de Ponta Negra”, como também uma sensível participação da categoria dos “Trabalhadores do Terciário Não- Especializado”, concentrado em parcela significativa da população que compõe a “Vila de Ponta Negra”. No que se refere aos espaços médios à participação da “Elite Dirigente” e “Intelectual”, se comparada com os demais tipos descritos anteriormente, apresentam-se em uma proporção inferior, configurando um grau de mistura superior a elas, justificado em parte pela colaboração das “Ocupações Médias” e dos “Trabalhadores do Terciário Especializado”. Esse tipo está distribuído dentre as áreas de Barro Vermelho, Lagoa Seca, Alecrim; Neópolis; Pitimbú; e Parnamirim – Centro – Br 101 (área onde estão localizados os bairros como Cidade Verde e Nova Parnamirim) (Figuras 8, 9, 10, 11, 12 e 13). Tipologia Socioespacial Médio Figura 8: Barro Vermelho Fonte: Acervo Semurb, 2006. 51 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 52 Metropolitana de Natal Figura 9: Lagoa Seca Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 10: Alecrim Fonte: Acervo Semurb, 2006. . Figura 11: Neópolis Fonte: Acervo Semurb, 2006. 52 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 53 Metropolitana de Natal Figura 12: Pitimbú Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 13: Parnamirim Centro – BR 101 Fonte: Acervo Semurb, 2006. Os espaços Médio-Inferiores despontam como o tipo de transição entre as duas pontas da estruturasocioespacial da Região Metropolitana de Natal, se configurando como tipo com alto nível de mistura perante as categorias socioocupacionais, tendo em sua formação tanto a participação das “Ocupações Médias” quanto à colaboração das categorias mais populares como, “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”. 53 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 54 Metropolitana de Natal Esse tipo encontra-se distribuído nas áreas do, Potengi, Bairro Nordeste- Quintas, Dix-sept-Rosado – Nazaré e a área referente à Cidade da Esperança. (Figuras 14, 15, 16, 17, 18 e 19). Tipologia Socioespacial Médio-Inferiores Figura 14: Potengi Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 15: Bairro Nordeste Fonte: Acervo Semurb, 2006. 54 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 55 Metropolitana de Natal Figura 16: Quintas Fonte: Acervo Semurb, 2006. Figura 17: Dix-Sept Rosado Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 18: Bairro de Nazaré Fonte: Acervo Semurb, 2006 55 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 56 Metropolitana de Natal Figura 19: Cidade da Esperança Fonte: Acervo Semurb, 2006 Essas AED’s são caracterizadas por apresentarem categorias como as “Ocupações Médias”, destacando-se as participações nas ocupações artísticas e similares (14%), ocupações de escritório (cerca de 17%), ocupações médias de saúde e educação (aproximadamente 16%); “Trabalhadores do Terciário Especializado”; e “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”. Os espaços Popular-Operários encontram-se distribuídos dentre as AED’s de, Santos Reis – Praia do Meio- Areia Preta – Mãe Luíza, Cidade Alta – Ribeira – Rocas, Parnamirim – Centro Antigo – Aeroporto – Catre e Parnamirim – Centro – CLBI – Pium – Pirangi. Nas figuras que se seguem, pode-se visualizar algumas áreas que compõe a tipologia socioespacial Popular- operário (Figuras de 20 a 29). 56 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 57 Metropolitana de Natal Tipologia Socioespacial Popular-Operário Figura 20: Santos Reis Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 21: Praia do Meio Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 22: Areia Preta Fonte: Acervo Semurb, 2006 57 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 58 Metropolitana de Natal Figura 23: Mãe Luiza Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 24: Cidade Alta Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 25: Ribeira Fonte: Acervo Semurb, 2006 58 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 59 Metropolitana de Natal Figura 26: Rocas Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 27: Aeroporto de Parnamirim Fonte: Acervo Semurb, 2006 Figura 28: Parnamirim - CLBI Fonte: Acervo Semurb, 2006 59 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 60 Metropolitana de Natal Figura 29: Parnamirim - Pirangi Fonte: Acervo Semurb, 2006 Essas AED’s são caracterizadas por apresentarem considerável participação das categorias dos “Trabalhadores do Terciário Especializado”, sofrendo sensível tendência as categorias socioocupacionais dos “Trabalhadores do Secundário”, onde se destacam a participação dos Operários dos serviços auxiliares, cerca de 16%, e dos operários da construção civil (aproximadamente 15%). Verifica-se também, a colaboração de categorias socioocupacionais como, a dos “Trabalhadores do Terciário Não-Especializado”, dado a colaboração de cerca de 14% dos Trabalhadores Domésticos e 16% dos ambulantes e catadores. Nos espaços populares, cai fortemente a participação das categorias médias e superiores, passando a ter maior significância à participação dos “Trabalhadores do Terciário Especializado”, “Trabalhadores do Terciário Não- Especializados” - só o peso sobre a categoria dos Ambulantes e Catadores, por exemplo, é de cerca de 17%. Também é preciso ressaltar a considerável participação desse tipo sobre os “Trabalhadores do Setor Secundário”, 60 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 61 Metropolitana de Natal responsável por abarcar uma parcela de quase 23% dos trabalhadores da indústria moderna em torno de 22% de trabalhadores da indústria tradicional. As AED’s que compõem esse tipo são: a Parte urbana de Macaíba, os Agregados de Distrito de São Gonçalo do Amarante, Salinas – Igapó, Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara – Redinha, Bom Pastor, Felipe Camarão, Cidade Nova – Guarapes – Planalto, Parnamirim – Centro – Distrito Industrial, Parnamirim – Centro – Área Comercial e a Parte Urbana de Ceará - Mirim (Figuras de 30 a 45 ). Tipologia Socioespacial Popular Figura 30: Macaíba – Zona Urbana Fonte: Observatório das Metrópoles, 2006 Figura 31: Agreg. Distrito S. Gonçalo do Amarante Fonte: Acervo Samurb, 2006 61 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 62 Metropolitana de Natal Figura 32: Salinas Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 33: Igapó Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 34: Nosso Senhora da Apresentação Fonte: Acervo Samurb, 2006 62 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 63 Metropolitana de Natal Figura 35: Lagoa Azul Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 36: Pajuçara Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 37: Redinha Fonte: Acervo Samurb, 2006 63 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 64 Metropolitana de Natal Figura 38: Bom Pastor Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 39: Felipe Camarão Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 40: Guarapes Fonte: Acervo Samurb, 2006 64 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 65 Metropolitana de Natal Figura 41: Planalto Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 42: Parnamirim Distrito Industrial Fonte: Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 43: Parnamirim Área Comercial Observatório das Metrópoles, 2006 65 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 66 Metropolitana de Natal Figura 44: Ceará Mirim – Zona Ur ana b Fonte: Acervo Samurb, 2006 As AED’s que compõem o tipo Popular-Agrícola são caracterizadas por serem áreas que apesar de terem um considerável peso da categoria Agrícola em sua composição, se destaca por sua participação em torno das ocupações mais populares, concentrando consideravelmente as suas ocupações na categoria dos Trabalhadores do Terciário Não-Especializado, possibilitando com que essas AED’s se diferenciem de uma tipologia eminentemente agrícola. As AED’s que fazem parte desse tipo são Nísia Floresta, São José do Mipibu, Monte Alegre, Extremoz e o Distrito de São Gonçalo do Amarante (Figuras 45, 46, 47, 48 e 49). Deve-se ressaltar, que dado os critérios estabelecidos pelo IBGE, o nível de desagregação acaba unindo os setores urbanos e rurais em uma só AED, propiciando de certa forma o “mascaramento” dos dados. Sendo possível à desagregação das informações, separando os dados para os setores rurais e posteriormente para os setores urbanos, será verificado que as áreas responsáveis pelas zonas rurais de Nísia Floresta, São José do Mipibu, Monte 66 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 67 Metropolitana de Natal Alegre e Extremoz passariam a compor o tipo Agrícola, devido o forte peso que essa ocupação detém nessas áreas. Tipologia Socioespacial Popular-Agrícola Figura 45: Nísia Floresta Fonte: Acervo Samurb, 2006 Figura 46: São José do Minpibú Fonte: Observatório das Metrópoles, 2006 67 Distribuição Socioespacial dos Fatores Dinâmicos da População na Região 68 Metropolitana de Natal Figura 47: Monte Alegre
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