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Abordagens em Psicologia Social Prof.ª Renata Casemiro Cavour Descrição A crise e evolução da Psicologia social, suas transformações de visão sobre o mundo e as suas diferentes abordagens na atuação profissional do psicólogo contemporâneo. Propósito É essencial para o profissional de Psicologia conhecer como a Psicologia social se desenvolveu ao longo dos anos, modificando-se de acordo com o momento e as percepções históricas e sociais, o que culminou em diferentes abordagens, dando o destaque para as linhas mais contemporâneas. Objetivos Módulo 1 Psicologia sócio-histórica Identificar o contexto sócio-histórico e cultural presente na formação psicossocial do indivíduo. Módulo 2 Psicologia social crítica Reconhecer os problemas sociais, produzindo novos olhares conceituais para a compreensão dos fenômenos psicológicos. Módulo 3 Psicologia sociocognitiva Analisar as influências das representações mentais e dos mecanismos implícitos no processamento de informações sociais para o comportamento social. Introdução A Psicologia social é uma disciplina de constantes transformações, pois está atrelada diretamente a todos os movimentos sociais, culturais e individuais que ocorrem durante os anos. Conhecer e compreender melhor os fenômenos psicológicos que acontecem dentro de uma sociedade é seu principal foco, porém, algumas necessidades sociais se tornaram críticas a um modelo tradicional, conhecido como Psicologia social psicológica. O ponto central dessa vertente estava voltado à ênfase dos processos intraindividuais, ou seja, aos sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo em resposta aos estímulos sociais. Porém, nos anos 1970, surgiu uma crise na Psicologia social, questionando diversos aspectos da tradição, como bases conceituais e metodológica, a respeito de sua validade, relevância e capacidade de generalização. A partir dessa discussão, novas abordagens da Psicologia social aparecem com o intuito de compreender o processo de construção da subjetividade, voltando sua atenção para a interface da ciência com o contexto social em que os sujeitos estão inseridos, utilizando como ferramenta a interdisciplinaridade com outras ciências que tratam do ser humano em seus diferentes contextos sociais. Para essa nova vertente de pensamento, foi dado o nome de Psicologia social sociológica, que tem como o cerne de suas discussões o estudo das experiências sociais que cada um de nós adquire, a partir de nossas participações nos mais diferentes grupos sociais com que nos relacionamos. 1 - Psicologia sócio-histórica Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o contexto sócio-histórico e cultural presente na formação psicossocial do indivíduo. O olhar histórico e a Psicologia sócio-histórica Psicologia social e o olhar histórico A Psicologia social passou por uma grande crise no final dos anos 1970, que a fez tomar outros rumos de discussão. O contexto social e político começou a ter um grande grau de importância, visto que as situações históricas e econômica, como a ditadura e a crise, por exemplo, tinham um impacto significativo no comportamento das pessoas que viviam naquela cultura. A relevância social dos experimentos da Psicologia social psicológica passou a ser questionada em relação à aplicabilidade da Psicologia às questões sociais emergentes. A partir dessa crítica, as situações concretas de vida passaram a ser objeto de estudo e não apenas determinados espaços físicos ou situações hipotéticas. A história não é estática, nem imutável, o que leva a sociedade a transformações fundamentalmente qualitativas. A Psicologia social tem a preocupação de inserir o ser humano nesse processo, como um agente transformador da história e da sociedade onde vive. O homem só visto biologicamente não sobrevive nem por si, nem como uma espécie que se reproduz com variações de clima, alimentação etc. Não considerar o ser humano como produto histórico-social é ter uma visão distorcida de seu comportamento. A Psicologia deve perceber que cada indivíduo é produto e produtor de sua história pessoal e da história de sua sociedade para não cair no erro de reduzi-lo a ações de uma simples causa e efeito de sua individualidade. Traremos para discussão três abordagens: Propõe ênfase ao contexto sócio-histórico e cultural, preconizada por Vygotsky, concebendo o ser humano como produto histórico e social de seu tempo, e a sociedade como resultado da produção histórica por meio do seu trabalho, transmitindo uma visão crítica e metodológica. Preocupa-se, problematiza e renova os problemas sociais, desenvolvendo um saber autônomo e capaz de produzir novos olhares conceituais e compreender tais fenômenos. Estuda o conteúdo das representações mentais e os mecanismos implícitos ao processamento de informações sociais, dando ênfase em como as impressões, as crenças e as cognições são formadas em relação aos estímulos sociais e como estas afetam o comportamento. Psicologia sócio-histórica e objeto de estudo A Psicologia sócio-histórica traz um olhar crítico para o pensamento tradicional que tinha um viés mais mecanicista do fenômeno psicológico, com um método dicotômico de analisar o ser humano.s Abordagem sócio-histórica Abordagem social crítica Abordagem sociocognitiva Sua base fundamental é o marxismo e adota o materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método. Karl Marx (1818-1883). Devemos entender o conceito de materialismo descrito por Marx como o condicionamento do desenvolvimento da vida social, política e intelectual por meio da produção da vida material. A partir disso, como é visto o homem dentro desse contexto? É um ser ativo, social e histórico, que tem sua experiência humana direcionada a toda atividade realizada por ele para atender às suas necessidades e suas experiências concretas implicam na produção de ideias e representações sobre elas. Assim, a Psicologia sócio-histórica se norteia pelas categorias de trabalho e relações sociais para situar o homem na sua historicidade. Comentário A Psicologia sócio-histórica também usa como fundamentação teórica a Psicologia histórico- cultural de Vygotsky (1896-1934), que tem como método investigativo uma visão mais reflexológica, psicológica e dialética, além uma posição extremamente crítica às ideias mais reducionistas. Vygotsky, por volta de 1924, mostra-se insatisfeito com as correntes psicológicas soviéticas e aponta uma crise mundial da Psicologia. Tenta compreender o que é o homem e como se constrói sua subjetividade permeada pelos dualismos objetividade versus subjetividade, mundo interno versus mundo externo, a compreensão das funções superiores por intermédio da psicologia animal e a concepção de desenvolvimento humano natural. Essas funções seriam resultado de um processo de maturação e são superadas chamada teoria histórico-cultural de Vygotsky. A solução apresentada pela Psicologia sócio-histórica é trazer o seu objeto de estudo para dentro do materialismo histórico e da lógica dialética para a construção de um conhecimento que atenda à realidade social e o dia a dia de cada sujeito, faça sentido dentro de seu contexto social e, com isso, seja possível uma intervenção efetiva nas suas relações sociais. Entende-se como dialética o movimento, as contradições e as transformações às quais a sociedade e as pessoas estão submetidas, a partir do momento em que nos construímos historicamente. Portanto, temos uma nova visão de Psicologia social após sua crise. A Psicologia social psicológica, que enfatiza prioritariamente os processos psicológicos individuais, compreendendo o social como um mero somatório de indivíduos, dá espaço a uma Psicologia social sociológica, que se preocupa menos com as condutas particulares e mais com a interação social, os processos situacionais e a relação da estrutura social com os indivíduos. A Psicologia sócio-histórica se encaixa nesse novo modelo, pois compreende o homem a partir do queestá ao seu redor e de suas relações sociais. Vygotsky e Psicologia sócio-histórica Contribuições de Vygotsky Lev Vygotsky (1896-1934). Ao falarmos sobre a Psicologia sócio-histórica precisamos destacar o papel de Vygotsky nessa mudança de pensamento para um olhar mais crítico da Psicologia social psicológica. Em 1924, no II Congresso Pan-russo de Pneumologia, Vygotsky declara diretamente sua crítica com relação às posições científicas que considerava reducionista, já que elas não levavam em consideração as questões sociais do ser humano, separavam a objetividade e a subjetividade. Vygotsky passa a trazer uma visão influenciada por uma intenção crítica fundamentada por sua origem, gênese epistemológica, na teoria marxista e o materialismo histórico e dialético. O ser social previsto por Marx, por exemplo, tem sua formação humana baseada na sua relação com a natureza e com os outros homens e, a partir daí, constrói sua própria história. Essa história vivida, que tem a relação de trabalho incluída no seu contexto, é um movimento determinado por relações de forças dialeticamente articuladas. Esse sujeito que a Psicologia sócio- histórica tenta compreender é aquele constituído na relação dialética com o social e a história. A concepção do materialismo histórico dialético propõe que o ser humano, os fenômenos físicos e o ambiente são mutualmente modeladores da sociedade e da cultura, havendo uma relação dialética entre a matéria, o psicológico e o social. O homem é social e histórico, concreto, determinado pela realidade social e histórica e, concomitantemente, determinante dessa realidade em suas ações coletivas. Vygotsky propõe, a partir de toda essa linha de raciocínio, que os fenômenos psicológicos sejam o resultado de um processo de constituição social do indivíduo e que a subjetividade seja constituída pelas mediações sociais. O homem é um sujeito histórico e ativo, com consciência construída a partir das mediações sociais. O social e a constituição do sujeito A linguagem, para Vygotsky, também é produzida social e historicamente e é o principal instrumento no processo de constituição do sujeito, já que os signos são ferramentas de natureza social, o meio de contato com o mundo exterior e também com seu mundo interior e sua consciência. Por meio da linguagem o homem desenvolve o seu pensamento, o pensamento objetiva-se, permitindo a comunicação e o desenvolvimento humano. A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”, visto que são dois aspectos de um mesmo movimento, de um processo no qual o homem atua, constrói, modifica e interfere na constituição psicológica do homem. Subjetividade e objetividade se constituem uma à outra. O homem é, portanto, um ser ativo, histórico e social. É essa sua condição humana. O homem constrói sua existência a partir de sua ação sobre a realidade. Seu desenvolvimento acontece na relação com os outros homens, pelo contato com a cultura e as atividades que realiza. Isso porque o signo é, ao mesmo tempo, produto social que designa a realidade objetiva, construção subjetiva compartilhada por vários indivíduos pela atribuição de significados e a construção subjetiva individual, que acontece pelo processo de apropriação do significado social e da atribuição de sentidos pessoais. Outra questão importante para compreender a teoria de Vygotsky é o fato de que as funções psicológicas, como toda produção cultural e social, são produtos da atividade humana, ou seja, o homem transforma a natureza com sua atividade e transforma-se ao mesmo tempo. Por isso, afirmamos que o ser humano se forma por meio dessa relação dialética com a realidade social, sendo refutada a ideia de que a constituição do indivíduo resulte de uma simples troca do plano social para o indivíduo. Saiba mais A partir dessas concepções de Vygotsky, chegamos perto da ideia de que a Psicologia sócio- histórica faz sobre a posição do homem, como um produto social, histórico e cultural de seu tempo, capaz de transformar os ambientes que frequenta e de ser transformado por eles, demandando diferentes fenômenos individuais e coletivos em diferentes grupos humanos. A Psicologia Sócio-histórica de Vygotsky Neste vídeo, a especialista reflete sobre a Psicologia Sócio-histórica, destacando as contribuições de Vygotsky. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Depois da crise da Psicologia social nos anos 1970, foram criadas outras abordagens que se diferiam da tradicional, entre elas, a Psicologia sócio-histórica ganhou bastante ênfase em seu enfoque teórico. A base teórica da Psicologia sócio-histórica está fundamentada em que autor? A Freud Parabéns! A alternativa C está correta. A Psicologia sócio-histórica está baseada na obra histórico-cultural de Vygotsky. Freud é o responsável pela criação da Psicanálise. Festinger e Allport falavam mais sobre aspectos cognitivos e comportamentais. Piaget tem seus estudos no desenvolvimento infantil. Questão 2 É muito difícil encontrarmos comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais e são justamente esses aspectos que se tornaram o enfoque da Psicologia social. Em outras palavras, a Psicologia social estuda a relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, está entendida historicamente, desde como seus membros se organizam para garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores e instituições necessários para a continuidade da sociedade. No tocante a essa afirmação, analise os itens a seguir e marque a alternativa correta: I- A história não é estática nem imutável, ao contrário, ela está sempre acontecendo, cada época gerando o seu contrário, levando a sociedade a transformações fundamentalmente qualitativas. II- A Psicologia social não se preocupa em verificar como somos determinados a agir de acordo com o que as pessoas, que nos cercam, julgam adequado, para tanto examinamos dois B Festinger C Vygotsky D Allport E Piaget aspectos intimamente relacionados: os outros, ou seja, o grupo, ou grupos a que pertencemos, e como nós, nesta convivência, vamos definindo a nossa identidade social. III- A Psicologia social também analisa como se forma a nossa concepção de mundo e das coisas que nos cercam, através da linguagem e como ela determina valores e explicações. IV- A Psicologia social tem se desenvolvido como ciência, em outras partes do mundo e, principalmente, no Brasil atual. Parabéns! A alternativa E está correta. A Psicologia social se preocupa em verificar como somos determinados a agir de acordo com o que as pessoas, que nos cercam, julgam adequado, para examinamos dois aspectos intimamente relacionados: os outros, ou seja, o grupo, ou os grupos a que pertencemos, e como nós, nessa convivência, vamos definindo a nossa identidade social. A Somente a afirmativa I está correta. B As afirmativas I e IV estão corretas. C As afirmativas II e III estão corretas. D As afirmativas I, II e III estão corretas. E As afirmativas I, III e IV estão corretas. 2 - Psicologia social crítica Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os problemas sociais, produzindo novos olhares conceituais para a compreensão dos fenômenos psicológicos. O olhar crítico e a Psicologia social crítica O olhar crítico Assim como a Psicologia sócio-histórica, a Psicologia social crítica também surge da crise da Psicologia social, contrapondo a vertente mais tradicional nos quesitos: Individualismo O individualismo se distancia do contexto relacional/social em que estamos inseridos, não dando crédito que as experiências singulares são produzidas de modo sócio-histórico. Essencialismo O essencialismo da Psicologia social psicológica categoriza e propõe aperfeiçoamentos nas características humanas, dizendo o que cada um deve pensar ou agir. Normalização A normalização é fruto da propagação de modelos universais, os quais usualmente estão em sintonia com a cultura dominante. Para mergulharmosna Psicologia social crítica, devemos levar em consideração algumas questões fundamentais: Análise e questionamento sobre as teorias e práticas da vertente tradicional em sua forma de operação ideologicamente e em sintonia com os poderes instituídos, ao privilegiarem determinadas variáveis em detrimentos de outras. Compreensão de que todas as psicologias são constructos sócio-históricos. Desse modo, a Psicologia social crítica situa o saber psicológico como uma forma de entender, guiar e regular a vida cotidiana, visando compreender quais são os meios pelos quais uma cultura psicológica é instituída. Questionamento das concepções e bases ideológica dos saberes e das práticas psicológicas dominantes. Implementação da Psicologia social crítica A Psicologia social crítica traz à tona as posições políticas, os compromissos e as implicações sociais subjacentes e a visão de mundo. A implementação da Psicologia social crítica instaura a ideia da indissociabilidade entre a teoria e a prática, enfatizando que o papel do pesquisador é o de agente político, responsável pela transformação da realidade e promotor da emancipação, voltando- se contra a reprodução da desigualdade e da opressão. Todo esse olhar é uma resposta teórico-epistemológica de intelectuais e pesquisadores que estavam envolvidos nos movimentos sociais e políticos dos anos 1960 e 1970. Nessa época, os movimentos populares se fortaleceram e tornaram-se grupos de grandes proporções, com o objetivo de reivindicação do atendimento das necessidades básicas e da contestação ao regime político vigente, além desemprego, inflação e greves constantes fazerem parte do contexto social. Na América Latina, os psicólogos sociais iniciaram um questionamento à Psicologia social psicológica norte-americana, requerendo uma versão mais contextualizada e voltada para os problemas políticos e sociais que vinham enfrentando. Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares, os psicólogos envolvidos com Psicologia na comunidade passaram a atuar junto aos setores populares e as intervenções possíveis estavam no incitamento da racionalidade crítica, organização popular e participação política. Nesse cenário, a inconsistência de muitas teorias psicológicas – que, às vezes, seguiam concepções subjetivas, com foco nos fenômenos psicológicos como produtos internos do sujeito, e outras vezes, tinham visão objetivistas, que focavam os fenômenos como resultados de influência exterior –, limitavam o olhar estritamente sociopolítico redutor dos problemas aos conhecimentos e à crítica das relações sociais. No Brasil, os psicólogos sociais que aderiram à nova abordagem nos anos 1970 intensificaram suas discussões e análises nas diferenças individuais, grupais e das comunidades, questionando sua posição política. A partir desse enfoque, foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), em 1979, com o propósito de redefinir o campo da Psicologia social e de ser fonte de construção de referencial teórico direcionado para a ideia de que o ser humano é um produto sócio-histórico, e sujeito e sociedade se implicam mutuamente, o que contribui para a consolidação do movimento. A partir de todos esses movimentos, percebemos que a Psicologia crítica sinaliza o comprometimento ideológico da Psicologia com evolução e consolidação do sistema capitalista, propondo o aprofundamento das questões que a acercam, enfatizando a necessidade de uma produção teórica que contemple de forma plena a relação entre indivíduos e sociedade, expondo as perspectivas emancipatórias para a sociedade contemporânea. Identidade na perspectiva da Psicologia social crítica Como principal fundamentação teórica da Psicologia social crítica está o materialismo histórico dialético, cuja base está na reflexão dialética para a busca de compreensão de fenômenos sociais tangíveis e multifatoriais, explicitados pela ação humana transformadora de realidades históricas. As visões acerca do conhecimento e do ser humano presentes apontam para a constituição de seres históricos e de uma relação dialética envolvida entre os falsos polos indivíduo-social. Podemos denominar como falsos, pois quando tratamos de uma relação dialética um lado não pode anular o outro, ambos devem se complementar pelas oposições. Atenção! O método dialético da Psicologia social crítica indica que, ao estudarmos os problemas, partimos do pressuposto que o indivíduo e a sociedade não apenas interagem como algo constituído separadamente, mas que se constroem mutuamente. E com isso, o indivíduo só pode existir a partir da existência da sociedade (e não individualmente, como proposto pela vertente tradicional) e, concomitantemente, a sociedade só pode existir por haver a existência de indivíduos. A visão marxista explica essa ação por meio da crítica à economia política e do estudo das relações de produção do sistema capitalista. A partir desse olhar, compreender a identidade é compreender a relação indivíduo-sociedade, o que pode tanto favorecer o entendimento da construção das desigualdades quanto contribuir na compreensão das formas de resistências individuais e coletivas aos processos de massificação. A ideia de que a identidade é uma metamorfose, diretamente ligada com as condições sociais e históricas da sociedade, exige um reconhecimento recíproco. A identidade é concretizada a partir de um processo de significações estabelecidas com outros indivíduos e a forma como outro me reconhece. A identidade, portanto, é o resultado da dialética entre os modos como nós representamos e de como somos representados pelo outro. A identidade de indivíduos e grupos não pode ser estática porque sua constituição sempre se situa socialmente em processos de reconhecimento, configurados e reconfigurados em atos históricos, contingentes e mutáveis. Processo de identi�cação A linguagem tem o papel fundamental em todo esse processo identificatório e de reconhecimento, visto que a partir dela, conseguimos constituir as categorias, as classificações, as nomeações, os conceitos e todos os aspectos que utilizamos cotidianamente na relação com nossos parceiros de interação. Desse modo, falar sobre alguém significa criar referências em relação aos grupos dos quais faz parte, como familiares, religiosos, étnicos, profissionais. Assim, ao debatermos sobre a identidade humana, temos a implicação das mudanças históricas que formam os contextos de ação de indivíduos, seja pessoal ou na sociedade/ cultura. Partindo desse pressuposto, entendendo como política de identidade o complexo conjunto de proposições descritivas e normativas de determinados grupos sobre determinadas categorias de pessoas, a questão não é somente avaliar a adequação de um rótulo correto, mas avaliar as consequências que essas categorizações podem ter para a integridade das pessoas. Exemplo Percebemos muito das consequências dessas categorizações em discursos de dominação racial ou em defesa dos direitos étnicos, os quais geralmente fazem referência a uma genuína identidade racial. Nessas ocasiões, parece que adotar um ponto de vista mais essencialista sobre a identidade humana vem de uma necessidade de propor um ideal de como as coisas devem ser e de como determinados aspectos do humano deveriam ser. Aí temos a diferenciação da Psicologia social crítica, a vertente mais tradicional, pois a Psicologia crítica entende que as categorias definidoras de identidade adquirem sentido nas práticas sociais e nos diferentes reconhecimentos que validam essas práticas. Como vivemos em uma sociedade que não é estática, nem imutável, a instabilidade das práticas sociais conduz à instabilidade das categorias e, por conseguinte, à instabilidade das identidades. Analisar a constituição identitária de indivíduos ou grupos e seu reconhecimento tem importante implicação ética e política, porque, a partir desse aspecto, determinadas práticas em relação a eles, contra ou a favor, são levadas em consideração, comoa garantia dos direitos, a cobrança dos deveres, as penalizações e o combate ao preconceito. As premissas que orientam a concepção de identidade como uma metamorfose são: Ser humano torna-se ser humano em um processo que se dá por socialização. Processo de individuação demanda a concretização de pretensões identitárias do sujeito. Concretização da pretensão identitária pressupõe seu reconhecimento por outros indivíduos. Psicologia Social Crítica na vida cotidiana Neste vídeo, a especialista reflete sobre os problemas sociais, destacando a Psicologia Social Crítica enquanto saber psicológico como forma de compreender, guiar e regular a vida cotidiana. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A Psicologia social crítica compreendeu um movimento de compromisso da Psicologia com a realidade brasileira. Tal empreitada reuniu um conjunto de movimentos que tinham como foco a implicação da proposta da Psicologia com a práxis cotidiana, com os problemas sociais e com os contextos histórico-sociais. Para isso, foi necessário encarar a dimensão política presente nas práticas psicológicas vigentes. Sobre o desenvolvimento da Psicologia social crítica analise os itens a seguir: I. A Psicologia social crítica foi uma resposta de intelectuais e pesquisadores que estavam envolvidos com os movimentos sociais e políticos das décadas de 1980 e 1990. II. A experiência da implantação de regimes socialistas na Europa e na América Latina colocava em pauta a questão da revolução como solução dos problemas existentes. III. No Brasil, a exigência de uma atuação mais concreta dos intelectuais na organização social e política ficou mais evidente no início da década de 1970. Estão corretas as afirmações contidas nos itens: Parabéns! A alternativa C está correta. A proposta de uma Psicologia social crítica se desenvolveu como uma resposta teórico epistemológica de intelectuais e pesquisadores que estavam envolvidos com os movimentos sociais e políticos das décadas de 1980 e 1990. A exigência no Brasil de uma atuação mais concreta dos intelectuais na organização social e política foi evidente no início da década de 1970, período do regime militar quando os psicólogos se viram envolvidos com a Psicologia na comunidade e passaram a atuar junto aos setores populares. Na época da criação da Psicologia social crítica, a Europa e a América Latina passavam por regimes ditatoriais, que ocasionaram diversas situações de crise. Questão 2 Por que a linguagem tem papel fundamental na formação da identidade na Psicologia social crítica? A Somente I. B Somente II. C Somente I e III. D Somente II e III. E Somente III. A Parabéns! A alternativa A está correta. A linguagem tem o papel fundamental em todo esse processo identificatório e de reconhecimento, visto que a partir dela conseguimos constituir as categorias, as classificações, as nomeações, os conceitos e todos os aspectos que utilizamos cotidianamente na relação com nossos parceiros de interação. Desse modo, falar sobre alguém significa criar referências em relação aos grupos dos quais faz parte, como familiares, religiosos, étnicos, profissionais. Porque é por meio dela que acontece todo o processo identificatório e de reconhecimento sobre si e sobre o outro. B Porque a linguagem é a base da teoria da dialética, fundamental nessa abordagem. C A linguagem é o aspecto social e individual mais importante. D Entender o significado das palavras é fundamental para saber criticar a sociedade em que vivemos. E A linguagem é ponto-chave para entender as questões históricas e argumentar sobre os temas estabelecidos. 3 - Psicologia sociocognitiva Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as in�uências das representações mentais e dos mecanismos implícitos no processamento de informações sociais para o comportamento social. O olhar cognitivo e a Psicologia sociocognitiva Cognição social e Psicologia sociocognitiva A cognição social surgiu, também como as abordagens anteriores, em meados dos anos 1970, com o objetivo de compreender e explicar como as pessoas se percebem a si mesmas e aos outros, e como essas percepções permitem explicar, prever e orientar o comportamento social. Diferentemente das anteriores que se colocaram contrárias à Psicologia social psicológica, a Psicologia sociocognitiva se baseou na vasta tradição teórica e de investigação da vertente tradicional, integrando ideias e metodologia da Psicologia cognitiva na exploração dos fundamentos cognitivos dos fenômenos sociais. Nos seus primórdios, essa abordagem explorou as estruturas e os processos cognitivos subjacentes à percepção e ao comportamento social. Os fundamentos filosóficos que marcaram a origem da cognição social são manifestos em duas grandes perspectivas, conhecidas como: Percepção elementarista Cuja as ideias surgem da sensação e da percepção e constituem elementos que podem ser associados entre si. Visão holística A qual caracteriza-se pela análise dos fenômenos em seu contexto, incidindo sobretudo na configuração global de relações entre eles. Basicamente, dentro do contexto da Psicologia social, desenvolveu teorias para explicar os modos pelos quais as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre as coisas, formando impressões acerca de outras pessoas ou grupos sociais e explicando comportamentos e eventos. Sustentada no modelo de processamento de informação, que leva em consideração a atenção, a percepção, a memória e o julgamento, como diferentes etapas do processamento cognitivo, a cognição social estuda o conteúdo das representações mentais e os mecanismos que se encontram subjacentes ao processamento das informações sociais. O modelo cognitivista critica fortemente o modelo behaviorista sobre a forma como conduz as explicações sobre os comportamentos humano, principalmente os mais complexos, alegando que a explicação do comportamento baseada em estímulo-resposta é insuficiente ao que tange às funções mentais. Para isso, a Psicologia cognitiva investiga de maneira mais ampla e quantitativa o processo de elaboração interna, envolvendo funções cognitivas e não se limitando a uma resposta mecânica e aprendida. A cognição social, portanto, é o estudo psicológico que busca captar, entender, explicar como as pessoas se percebem e percebem as outras pessoas e como essas percepções permitem explicar, prever e orientar o comportamento social. Ao se levar em consideração que a cognição é formada por um conjunto de valores, crenças, percepções, pensamentos, lembranças e atitudes que determinam comportamentos, inferir que as representações sociais são parte desse conjunto, é apropriar-se de um instrumento teórico que possibilita avançar na compreensão dos fenômenos humanos. O olhar cognitivo No que se refere ao conteúdo das representações mentais, a premissa básica é a de que as informações sociais são representadas cognitivamente sob a forma de estruturas mentais, que são compostas pelo conhecimento, construídas, organizadas e estocadas na memória em categorias, com base nas informações obtidas no contato do indivíduo no seu mundo social. De uma forma integradora, a cognição social atual evoluiu a partir de quatro tradições em Psicologia: Por aplicar a teoria perceptiva da Gestalt ao estudo dos processos cognitivos em um contexto social. Por ter participação no desenvolvimento da personalidade e ser mediada por processos cognitivos e afetivos. Tradição gestaltista Aprendizagem social Tradição construtivista Leva em consideração o modelo de desenvolvimento cognitivo de Piaget, em que a criança constrói ativamente o seu conhecimento com base na experiência sensorial e motora cotidiana. Recorre ao computador como metáfora teórica e ferramenta metodológica para simular processos cognitivos. Atualmente, a Psicologia sociocognitiva tem se dedicado a novos contributos, que envolvem outros aspectos, como os constrangimentos emocionais, motivacionais,corporais e os efeitos situacionais da cognição, fundamentais para a regulação cognitiva e não somente considerados como informação adicional a ser processada. Além disso, as neurociências têm sido grande fonte de contribuição de desenvolvimento teórico e tecnológico, enquanto atuam como ferramentas na compreensão dos processos psicológicos e neuropsicológicos subjacentes. Psicologia social e cognição Processos sociocognitivos Teoria do processamento de informação A cognição sempre esteve presente nas teorias da Psicologia social, basta verificarmos as definições mais clássicas que descreviam o objetivo da disciplina como uma forma de compreender e explicar os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos sujeitos são influenciados pela presença, seja ela real, imaginada ou implícita de outros seres humanos, ou seja, percebemos que todo o desenho da cognição não só contempla o olhar da realidade social como também a sua representação mental. Alguns conceitos com estruturas propriamente cognitivas sempre estiveram presentes nos principais estudos da Psicologia social, como atitudes, crenças e estereótipos, como também os processos cognitivos, como mudanças de atitudes, formação de impressões, comparação social, atribuição e tomada de decisão. Comentário Seu uso inicial estava sendo feito como uma variável mediadora que ajudava a explicar os julgamentos, sentimentos e comportamentos, mas ao longo do tempo as estruturas e processos foram virando o principal foco de investigação, apesar de a corrente tradicional conservadora do comportamentalismo, por vezes, querer dar uma trava no desenvolvimento no seu desenvolvimento. A partir da década de 1960, com o interesse pelos estudos dos processos mentais, a Psicologia cognitiva inspira a Psicologia social a formular novos problemas, utilizar novos métodos, construir novas teorias, trazendo o cerne do seu interesse pelos modelos de processo, especificando a organização mental e identificando as etapas dos processos cognitivos internos referentes aos fenômenos psicossociais. Para que isso ocorresse, foi elaborado um conjunto de mudanças na metodologia de investigação e o estabelecimento de medidas desenhadas para lidar com os processos psicológicos, inferindo-os e demonstrando-os por meio de protocolos de recordação, medidas de tempo de reação, julgamentos etc. Com o desenvolvimento da abordagem cognitiva, nos anos 1970 e nas décadas seguintes, passamos a observar a exploração do papel dos processos cognitivos na compreensão de fenômenos tão diversos como as atitudes, as atribuições e os processos intergrupais, como também ganharam espaço a memória, o desenvolvimento de esquemas e o papel da cognição na persuasão e nas consequências sociais. Na década de 1980, atingiu seu auge, sendo definida como um estudo com o seu centro focal na maneira como os indivíduos se compreendem uns aos outros e a si mesmos. Embora a herança cognitiva tenha dado as ferramentas das suas teorias e técnicas para explorar estruturas mentais e criar modelos de processo, algumas críticas foram levantadas a esse modelo mais tradicional. Acompanhe: Primeira crítica está diretamente relacionada à perpetuação da divisão ontológica cartesiana entre o sujeito e o objeto e se assenta em concepções individualistas de conhecimento. Segunda crítica é quanto ao ambiente idealizado que muitas pesquisas na área utilizavam, que por ser manipulado, poderia dar resultados reais que se aproximassem da experiência social humana. Como resposta a essas reflexões, a revisão da teoria sugere que os processos sociocognitivos fazem importantes previsões acerca dos fenômenos do mundo real, tendo uma origem social criada e reforçada por meio da interação social, e como é socialmente partilhada, é comum a diferentes membros de uma sociedade ou grupo. A cognição é mais do que o processamento de informação, pois é moldada por valores, motivação e normas sociais. A noção de que nossa motivação pode influenciar as nossas crenças está diretamente relacionada à teoria da dissonância cognitiva, baseada no pressuposto de que a motivação para reduzir a tensão desconfortável entre crenças em conflito pode provocar tentativas de modificação de uma das crenças discordantes. Saiba mais Outra linha de pesquisa importante são as atitudes e o seu impacto no comportamento, posicionando o afeto como seu aspecto central. Atualmente, a teoria e a pesquisa convergem no reconhecimento de que os processos cognitivos, motivacionais e emocionais estabelecem uma relação de interdependência e todos são partes indissociáveis e fundamentais de um sistema autorregulador que apoia a ação adaptativa. Dissonância cognitiva Teoria da dissonância cognitiva A teoria da dissonância cognitiva foi lançada em 1957, no livro de Leon Festinger intitulado com o mesmo nome. Ela tem notável valor heurístico (a ideia de não gastarmos muito esforço cognitivo na tentativa de entender o mundo em que vivemos) e desencadeou diversos experimentos na área de Psicologia social. O cerne da teoria é que nós procuramos um estado de harmonia em nossas cognições, ou seja, em qualquer conhecimento, crença ou opinião sobre o ambiente, sobre nós e sobre o comportamento. E a dissonância cognitiva é um estado desagradável em que justamente encontramos uma forma de reduzir ou eliminar, de maneira a evitar que os acontecimentos dissonantes aumentem de proporção. Assim, voltamos ao estado de consonância e evitamos os comportamentos provocadores de dissonância. Resolução da dissonância cognitiva Sobre a resolução da dissonância cognitiva, vejamos algumas questões importantes: Depende muito da importância das cognições que estão em uma relação dissonante, umas com as outras, e o número relativo de cognições, que estão em relação dissonante. Incluindo novas cognições na situação ou mudando as cognições existentes. No primeiro caso, as novas cognições devem adicionar mais importância a um dos lados e, com isso, diminuir a proporção de elementos que são dissonantes ou essas novas cognições devem mudar o grau de importância dos elementos que estão em uma relação dissonante um com os outros. Caso a escolha seja por mudar as cognições existentes, o seu novo conteúdo deve trazer características menos contraditórias entre elas ou ter a importância naquele contexto reduzida. O ideal é que se procure comportamentos que tenham consequências que favoreçam um estado consonante. Alguns aspectos são importantes de serem visualizados na teoria de Festinger. Um deles é a ideia do compromisso para a manifestação da força motivacional da redução da dissonância, pois se não houver um grau considerável de comprometimento e envolvimento de uma pessoa, no que se refere às cognições dissonantes, não faz sentido falarmos em dissonância cognitiva. Da mesma maneira, quando falamos em volição ou desejo como um elemento básico na existência e da magnitude da dissonância, pois está direcionado no engajamento das situações. O quanto a dissonância cognitiva é intensa? Como elimino uma dissonância cognitiva? E se nada disso resolver? Atitudes Formação de atitudes Atitudes são avaliações gerais e duradouras, que variam de um extremo positivo a um extremo negativo, dos objetos presentes no mundo social, o que abrange pessoas, grupos, comportamentos e que integram cognições e afetos sobre esses objetos. Atitudes são sentimentos a favor ou contra pessoas ou coisas que entramos em contato. Uma atitude social é uma forma de organização duradoura de crenças e cognições, que possui uma carga afetiva com prós ou contras com relação a um objeto social definido, e predispõe a uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a esse objeto. Elas se formam durante todo o nosso processo de socialização, derivando de processos comuns de aprendizagem (esforço, modelagem), podem surgir a partir de atendimentos a certas funções, podem ser consequência de características individuais de personalidade oude determinantes sociais ou ainda podem se formar em decorrência de processos cognitivos. A formação de atitudes não é uma ação, em sua maioria, consciente, por meio de aprendizagem condicionada ou perante a exposição de estímulos vivenciados como afetivamente positivos. Quando pensamos em mudança de atitudes, estamos nos referindo a um movimento mais consciente e recentemente explicado pelos modelos de processos duais, os quais alegam que quando os sujeitos são competentes e encontram-se adequadamente motivados, eles costumam se engajar em um processo de análise sistemática das mensagens persuasivas. Se as mensagens tiverem argumentos consistentes, de acordo com a realidade e estruturados de forma lógica e racional, serão capazes de causar mudanças atitudinais com relação a esses argumentos, os quais se mostrarão duradouros e resistentes a mudanças. No entanto, no caso em que não haja essa motivação dos sujeitos, eles se apoiarão em indícios periféricos, e mais facilmente acessíveis, ou em heurísticas para processar as mensagens. As atitudes possuem três componentes: Componente cognitivo Está diretamente relacionado às crenças e aos demais componentes cognitivos relativos ao objeto de uma atitude, ou seja, que tenha representação cognitiva a esse objeto. Um exemplo desse componente é o preconceito, uma vez que a pessoa possui uma série de cognições sobre o objeto de sua discriminação. Componente afetivo Nesse item, vemos o sentimento a favor ou contra o objeto social. Esse componente é o mais característico das atitudes. O componente cognitivo e o comportamental são apenas importantes para que se tenha acesso às atitudes propriamente ditas (sentimentos envolvidos). O componente afetivo, então, dá uma conotação afetiva às coisas e nos leva ao componente comportamental. Componente comportamental As atitudes possuem um componente ativo, instigador de comportamentos coerentes com as cognições e os afetos relativos aos objetos atitudinais. As atitudes (componente afetivo) seriam a força motivadora para a ação e a relação entre atitude e o comportamento acaba por ser um dos grandes campos de interesse da Psicologia social. Funções das atitudes As atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um objeto atitudinal. O comportamento não é definido somente pelo que as pessoas gostariam de fazer, mas também estão inclusos os pensamentos do que elas acham que deveriam fazer, ou seja, as normas sociais, assim como o que elas têm feito, os hábitos, e as consequências esperadas pelo seu comportamento. Portanto, no que tange à consistência entre atitudes e comportamentos, os achados mais recentes têm esclarecido que determinadas propriedades estruturais das atitudes são responsáveis pela maior ou menor capacidade de as atitudes preverem o comportamento. As atitudes mais deliberadas costumam predizer comportamentos mais consistentes e atitudes mais automáticas tendem a antecipar comportamentos mais espontâneos. As mudanças atitudinais apoiadas em processos lógicos, motivados e conscientes apresentam maior probabilidade de influenciar o comportamento. As atitudes podem ser aprendidas e têm a modelagem como um processo capaz de formar atitudes pró ou contra os objetos sociais. Tendemos a levar em consideração as atitudes das pessoas que são significantes para nós. Uma das principais funções das atitudes é ajudar enfrentar o ambiente social, por exemplo: Recompensas e evitação de castigos. Proteger nossa autoestima e evitar ansiedade e conflitos. Ordenar e assimilar informações complexas. Refletir sobre nossas convicções e valores. Estabelecer nossa identidade social. Abordagem da neurociência sociocognitiva Neurociência social A área de neurociência social surge do interesse de investigar as possíveis associações existentes entre a cognição social e as funções cerebrais, com o objetivo de compreender o papel desempenhado pelas estruturas neurais no processamento da informação social. O propósito essencial é o de que determinados mecanismos neurocerebrais são responsáveis pelo raciocínio social, justificando que existem estruturas cerebrais específicas especializadas nas atividades de autopercepção e percepção dos demais indivíduos e grupos sociais, bem como nas ações que permitem a vida em sociedade. Curiosidade A neurociência sociocognitiva forma uma área interdisciplinar, que combina métodos da neurociência cognitiva com as teorias de Cognição social, Economia, Ciências políticas, Antropologia e outras, de modo a estudar os mecanismos mentais que criam, enquadram, regulam e respondem a nossa experiência no mundo social. Algumas evidências já estão disponíveis e revelam, por exemplo, que certas áreas do córtex cerebral superior são especializadas em determinados processos sociocognitivos, como a autopercepção, a detecção e compreensão de faces, vozes e movimentos humanos, a percepção de sentido dos outros, atribuição de estados mentais. As neurociências cognitivas foram recebidas positivamente devido a esse potencial de atenuar algumas limitações teóricas e metodológicas, principalmente com relação à identificação das estruturas e processos cognitivos. Muitos paradigmas que permitiram retirar inferências quanto à influência dos processos cognitivos nas respostas comportamentais observáveis estavam baseados nessa falta de respostas, na taxa de erros e em avaliações de memória dos indivíduos. Mecanismos neurocognitivos e comportamento social A neurociência sociocognitiva busca estudar os mecanismos neuronais, que estão subjacentes aos processos sociocognitivos por meio da combinação dos três níveis de análise: Social Direcionado aos fatores sociais e motivacionais, que influenciam o comportamento e a experiência. Cognitivo Com o foco nos mecanismos do processamento de informações, que levam aos fenômenos de nível social. Neuronal Centrado nos mecanismos cerebrais, que levam aos processos de nível cognitivo. A partir disso, percebemos que essa abordagem tem como objetivo estudar os mecanismos neurocognitivos implícitos que dão apoio à cognição social, em vez de ter o seu foco nos efeitos psicofisiológicos posteriores resultantes da cognição social. A década de 1990 foi um divisor de águas para a neurociência sociocognitiva, pois seu desenvolvimento aconteceu a partir de um conjunto de estudos e de sofisticadas metodologias, procuraram estudar o cérebro para testar questões sobre o tipo de processos envolvidos na cognição social “normal”, em vez de focar a descrição sobre o que está danificado no cérebro. As ferramentas que eram utilizadas nas neurociências foram importadas e desenvolvidas para estudar a cognição social. Podemos citar como as principais: As técnicas de neuroimagem como a ressonância magnética funcional (fMRI). A tomografia de emissão de positrões (PET). Os potenciais evocados (ERP), a estimulação magnética transcranial (TMS). As técnicas neuropsicológicas do estudo de lesões cerebrais. Essas técnicas devem ser pensadas como ferramentas adicionais e complementares às medidas tradicionais de pesquisa em cognição social e não como fins em si, que tirem a importância da ênfase da compreensão dos processos afetivos-sociais. Desse ponto de vista, a utilidade da pesquisa em neurociência sociocognitiva emerge quando a questão “onde” (região cerebral) é apenas um prelúdio para as questões “quando”, “porquê” e “como”. Com isso, essa abordagem oferece a melhor precisão na caracterização do fenômeno socioemocional. A neurociência sociocognitiva é um campo promissor em investigação na área de Psicologia social que pode, sem dúvidas, contribuir enormemente para maior compreensão do comportamento social. Psicologia sociocognitiva, neurociência e comportamento social Neste vídeo, a especialista reflete sobre o comportamento social, destacando os achados científicos da Psicologia sociocognitiva e da neurociência. Falta pouco para atingir seusobjetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Como podemos descrever a dissonância cognitiva? A É a ideia de compromisso para a manifestação da força motivacional. B O processo no qual se tem crenças divergentes, cognições contraditórias, que estimula a pessoa a substituir sua cognição, atitude ou comportamento, buscando um equilíbrio entre essas instâncias. C O processo no qual se tem crenças convergentes, cognições confirmatórias, que estimula a pessoa em sua cognição, atitude ou comportamento, buscando um equilíbrio entre essas instâncias. D Parabéns! A alternativa B está correta. O indivíduo experimenta um estado de desconforto psíquico quando percebe que há discrepância ou incoerência entre suas cognições ou atitudes, de modo que passa a agir, voluntária ou involuntariamente, buscando diminuir ou afastar a dissonância e recuperar a sensação de coerência. Questão 2 Quais são os três componentes da atitude? Parabéns! A alternativa A está correta. É a quantidade de deliberação livre da pessoa em engajar-se em determinadas situações. E As crenças e demais componentes cognitivos relativos ao objeto. A Componente comportamental, componente afetivo e componente cognitivo. B Componente comportamental, componente amoroso e componente social. C Componente social, componente cognitivo e componente afetivo. D Componente comportamental, componente social e componente cognitivo. E Componente histórico, componente social e componente psicológico. Atitudes são constatações, favoráveis ou desfavoráveis, em relação a objetos, pessoas ou eventos. Uma atitude é formada por três componentes: cognição, afeto e comportamento. O componente cognitivo está relacionado ao conhecimento consciente de determinado fato. O componente afetivo corresponde ao segmento emocional ou sentimental de uma atitude. Por fim, a vertente comportamental está relacionada à intenção de permitir-se de determinada maneira com relação a alguém, alguma coisa ou situação. Considerações �nais Para entender como a Psicologia social chegou até os dias de hoje, é fundamental conhecer sua história, compreender os desdobramentos sociais e políticos pelos quais passou essa disciplina, alcançando seu ápice e, na sequência, a sua crise nos anos 1970. Essa crise trouxe muitas vantagens, abrindo o espaço para novas abordagens com um olhar diferente sobre o social e quebrando o absolutismo das teorias behavioristas que, por anos, foram únicas no cenário da Psicologia social. Vimos que a Psicologia social passou a dar um viés histórico, entendendo que o sujeito e a sociedade fazem parte de um contexto, no qual o ser humano é agente transformador da sociedade e, ao mesmo tempo, é modificado por ela. A ideia do imutável e os experimentos que fogem da realidade são extremamente criticados por essa abordagem. Pensando em um viés mais político-social, outra corrente derivada da crise é a Psicologia social crítica. Também focada no contexto sócio-histórico, tem o foco na realidade e no contexto social de cada sociedade e sujeito. Quanto mais realístico for o experimento, mais eu me aproximo do meu público e consigo enxergar as necessidades dele. Por fim, a terceira vertente foi a Psicologia sociocognitiva, com uma aproximação maior com a abordagem tradicional, mas com críticas em relação ao excesso de comportamentalismo envolvido, trazendo com força a cognição como uma das principais explicações aos fenômenos sociais. Com o desenho do esquema mental de como e por que a Psicologia social se desenvolveu ao longo de sua trajetória, compreendemos melhor os fenômenos e temas elaborados, a partir dessa base. Podcast Para encerrar, ouça as diferentes abordagens em Psicologia social, por meio dos achados científicos e desafios da atuação profissional do psicólogo no mundo contemporâneo. Referências BOCK, A. M. B.; GONÇALVES, M. G. M; FURTADO, O. (orgs). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: Cortez, 2004. CALEGARE, M. G. A. Abordagens em Psicologia social e seu ensino. Revista Transformações em Psicologia, 2010, v. 3, n. 5, p. 30-53. FERREIRA, M. C. A Psicologia social contemporânea: Principais tendências e perspectivas nacionais e internacionais. Psicologia: Teoria e Prática, 2010, v. 26 n. especial, p. 51-64. GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição social: fundamentos, formulações actuais e perspectivas futuras. Psicologia, v. XXV (1). Lisboa: Edições Colibri, 2011, p. 113-157. GONZALES REY, F. L. O social na Psicologia e a Psicologia social: a emergência do Sujeito. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. LANE, S. T. M. O que é Psicologia social. (Coleção primeiros passos; 39). São Paulo: Brasiliense, 2006. LANE, S. T. M.; CODO, W. (orgs). Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 2012. LIMA, A. F. (org). Psicologia social crítica: paralaxes do contemporâneo. 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