Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Abordagem dos Maus Tratos com Idosos Objetivos da Aula: - Caracterizar e descrever os tipos de violência contra idosos. - Conhecer a prevalência e fatores de risco para violência contra idosos. - Identificar a violência contra o idoso. DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS: • A violência contra o idoso é definida por qualquer ato que cause dano físico, emocional ou financeiro a ele, e/ou que viole seu direito a integridade física, emocional, moral e sua autonomia • A violência pode se expressar como: física, psicológica, verbal, econômica, negligência e abandono • Geralmente tem-se mais de uma das violências ocorrendo ao mesmo tempo • Fatores de risco associados aos maus tratos e abuso ao idoso: 1. Grau de dependência do idoso 2. Nível de estresse do cuidador 3. Vínculos afetivos frouxos entre idoso e cuidador/família 4. Relações pautadas em violência e relações anteriores conturbadas entre idoso e familiar • Tendo em vista que uma parcela das vítimas de violência busca atendimento na atenção básica ou hospitalar, geralmente os profissionais da saúde são os primeiros a entrarem em contato com as vítimas. Por isso, é necessário que esses profissionais compreendam sua responsabilidade em identificar e manejar adequadamente situações de violência. • A prevenção é entendida como a medida mais efetiva no combate à violência contra o idoso. • De modo mais específico, a OMS define a violência contra o idoso como uma ação única ou repetida, ou a ausência de uma ação devida, que cause sofrimento ou angústia e que ocorre em uma relação de confiança TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: Violência física: → Definida pelo uso da forca física ou objetos para ferir, coagir, provocar dor, incapacidade ou morte → Ex: tapa, chute, empurrão etc. Sr. Firmino, 85 anos, chega para atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS), acompanhado pela Sra. Maria, sua vizinha, relatando ter caído no piso molhado do banheiro. Durante a consulta, Sr. Firmino parecia retraído e envergonhado. Ao examiná-lo, o médico observa hematomas incompatíveis com seu relato de queda. Ao investigar, o profissional se depara com uma história de violência. O filho, cuidador principal, alcoolista e desempregado, costuma “bater” no Sr. José quando este se recusa a dar-lhe o dinheiro da aposentadoria. Violência psicológica: → É toda ação ou omissão que cause prejuízo a identidade, autoestima e desenvolvimento pessoal → Costuma ocorrer por meio de humilhação, ridicularização, isolamento de convívio social, ameaças e restrição de liberdade Sra. Maria, 78 anos, é chamada de “velha imprestável” por sua neta toda vez que derrama um pouco de leite da xícara devido aos seus tremores ocasionados pelo mal de Parkinson. Violência sexual: → Todo e qualquer ato ou jogo sexual, de caráter homo ou heterossexual, utilizando idosos como objeto de excitação ou prática erótica. Sra. Olívia, 87 anos, reside sozinha e é assistida pelo cuidador contratado por sua família. Tem-se queixado de que à noite é agredida por um homem que entra por sua janela. O cuidador refere ser delírio da Sra. Olívia. Entretanto, em uma das visitas domiciliares, o agente de saúde encontra um preservativo usado à mostra na lixeira do banheiro. IESC V – Aula 14 Violência econômica ou financeira: → Todo e qualquer ato lesivo ou não autorizado que esteja associado aos bens ou finanças do idoso → Ocorre geralmente pela exploração imprópria, ilegal ou não consentida de recursos financeiros e patrimoniais do idoso. Sr. Antônio, 72 anos, costuma guardar dinheiro debaixo do colchão. Sabendo desse hábito, seu neto com frequência furta alguma quantia. Tentando se proteger, o Sr. Antônio forneceu seu cartão bancário e senha para o filho, que, por sua vez, fez um crédito consignado para uso próprio. Negligência: → Recusa ou omissão de cuidar e proteger o idoso contra agravos evitáveis → Entendido como a falha ou recusa da obrigação de cuidar o idoso Sra. Joana, 85 anos, necessita utilizar fraldas devido à incontinência urinária e fecal. Em sua consulta de rotina, seu médico nota seu forte odor e a presença de dermatite de fraldas em grande extensão com lesões profundas, além de constatar que seu peso está muito abaixo do esperado. Ao questionar os fatos, descobre que seu cuidador realiza a higiene e troca de fraldas apenas uma vez por dia e que, para “economizar”, mistura água de torneira no leite que a Sra. Joana ingere. Abandono: → Ausência ou deserção dos responsáveis de prestarem cuidados ao idoso que necessita de proteção e assistência Sr. Carlos, 77 anos, foi internado involuntariamente por sua família em uma instituição de longa permanência para idosos, não recebendo visitas há mais de 6 meses. A instituição tem o custo mensal de meio salário-mínimo e coloca os idosos em duplas invertidas em camas de solteiro. A presença de moscas, baratas, mofo, rachaduras e infiltração de água são constantes no meio. Perante a insalubridade do local, o Sr. Carlos adoeceu por problemas respiratórios, tendo seu quadro prévio piorado. A família alega dificuldades econômicas, mas a aposentadoria do Sr. Carlos é de três salários-mínimos. COMPLICACÕES DA VIOLÊNCIA AO IDOSO: → Lesões físicas: comprometem o organismo do idoso que já se define como mais frágil → Agressão psicológica: baixa autoestima e diminuição da confiança, além de gatilhos para depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos • Geral: diminuição da qualidade de vida, sentimento de culpa ao idoso, isolamento e suicídio PREVALÊNCIA DOS MAUS TRATOS E VIOLÊNCIA: • Há estimativas que 1 a cada 10 idosos sofram algum tipo de abuso por mês. Uma vez que 1 entre 24 ocorrências são notificadas, acredita- se que essa estimativa esteja subestimada • Ainda não existem levantamentos sobre a prevalência brasileira de maus-tratos em idosos • Um obstáculo importante na identificação da violência familiar são os inúmeros casos não registrados formalmente • A subnotificação ocorre principalmente quando os maus tratos ocorrem na esfera familiar • Além do próprio conluio intrafamiliar inerente, a vítima pode não realizar a denúncia por ter uma relação afetiva e de dependência com seu agressor, além de temer retaliações do agressor, ter vergonha da situação, medo de ser institucionalizado, constrangimento, entre outros. Esses impasses perpetuam a invisibilidade dos maus-tratos. FATORES DE RISCO: • A natureza dos maus tratos é multifatorial • É importante conhecer seus fatores de risco, com foco na abordagem familiar, pois agiliza a detecção de maus-tratos contra idosos, já que a avaliação de todos os integrantes do núcleo familiar fornece pistas de um padrão de comportamento violento IDENTIFICANDO A VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: • Sabendo que a maioria das vítimas busca auxílio na APS ou em hospitais, é essencial que a equipe saiba manejar esse tipo de ocorrência • Uma das dificuldades frequente é o desconhecimento, por parte da equipe de saúde, das redes e ferramentas de apoio disponíveis para prevenção primária das situações de violência. • Diversos autores destacam que famílias com história de relações agressivas e/ou violentas, o fato de o idoso ter sido/ser agressivo nas relações familiares, os cuidadores terem sofrido violência doméstica sugerem um contexto de maior suscetibilidade para o idoso sofrer maus-tratos. • Alguns estudos trazem algumas dificuldades enfrentadas pela equipe da atenção básica diante de casos de violência contra o idoso. Essas vão desde seu rastreamento e identificação, complicações na elaboração da ficha de notificação frente a sinais de violência e desconhecimento das políticas públicas até o despreparo do profissional para o manejo dessas situações.Outro problema citado são os entraves para encaminhar a vítima aos órgãos responsáveis, a ausência de protocolos e da garantia de proteção efetiva da vítima. • A equipe de saúde deve estar atenta para identificar situações de violência e diferenciá- las de outras circunstâncias, observando e avaliando o idoso e seu cuidador em relação a fatores de risco e a comportamento expresso por ambos. • Na anamnese, deve-se realizar o levantamento das histórias clínica, social e familiar. Em algum momento, deve-se dispor de privacidade para entrevistar o idoso sem a presença de seu cuidador. • O exame físico deve, de preferência, ser realizado privativamente, sem a presença do cuidador. • Ao avaliar o caso, deve-se verificar o nível de habilidade do idoso em executar as atividades básicas da vida diária (ABVD), como alimentar- se, vestir-se, caminhar, entre outras. ABORDAGEM DA VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO: • A intervenção tem como foco principal garantir a segurança do idoso, impedindo a reincidência ou a manutenção da violência mediante ações imediatas, acompanhamento em longo prazo e práticas preventivas. • O manejo dos casos de violência requer o envolvimento da família, uma vez que sua ocorrência não se dá de forma alheia ao âmbito familiar. Logo, as ações devem necessariamente contemplar vítima e agressor, promovendo, sempre que possível, a preservação dos vínculos familiares. Plano de Intervenção: Deve considerar sempre: • As condições físicas e mentais do idoso • As condições sociais e familiares do idoso • A interação entre o agressor e o idoso • A frequência, a intensidade e o tipo de violência • Outros fatores pertinentes ao caso em questão OBS: É importante que todos os profissionais da saúde estejam cientes de que o Estatuto do Idoso expressa sua obrigação em denunciar os casos suspeitos ou confirmados de maus-tratos contra o idoso, prevendo sanções legais ao seu descumprimento Aspectos práticos da abordagem: : • EI No 10.741, de 1º de outubro de 2003. • GUSSO, Gustavo; LOPES, José M.C.; DIAS, Lêda C. (Orgs.). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2018, p. 2388. Cap. 83. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.741-2003?OpenDocument
Compartilhar