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Tutela_Penal_dos_Bens_Juridicos_Supraindividuais

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PÓS-GRADUAÇÃO
CiênCiAS PenAiS
Tutela Penal dos Bens Jurídicos Supraindividuais
PÓS-GRADUAÇÃO
2
Curso
Ciências Penais
Disciplina 
Tutela Penal dos Bens Jurídicos Supraindividuais
Autoria
Yuri Felix, Leonardo Schmitt de Bem, Vicente Cardoso de Figueiredo, Filipe Fialdini, 
Caroline Valverde de Camargo, Bruno Silveira Rigon
Índice ínDiCe
Tema 01: As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro 05
Tema 02: Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do Meio Ambiente 31
Tema 03: Uma Brevíssima Introdução ao Direito Penal Eleitoral 49
Tema 04: Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei Nº 8.069/1990 77
Tema 05: Introdução Crítica à Política Criminal de Drogas no Brasil: o Governo Através da 
Guerra às Drogas
107
© 2015 Kroton Educacional
Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua 
portuguesa ou qualquer outro idioma.
3
Como citar este material:
FELIX, Yuri; BEM, Leonardo Schmitt de; FIGUEIREDO, Vicente 
Cardoso de; FIALDINI, Filipe; CAMARGO, Caroline Valverde 
de; RIGON, Bruno Silveira. Tutela Penal dos Bens Jurídicos 
Supraindividuais. Valinhos: 2015.
4
TeMA 01
As Controvérsias Criminais no Código 
de Trânsito Brasileiro
LEGENDA 
DE ÍCONES seções
5
início
Referências
Gabarito 
Verificação
de leitura
Pontuando
Vamos 
pensar
Glossário
Aula
6
01
As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
Leonardo Schmitt de Bem 
Professor Adjunto de Direito Penal na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Doutor 
em Direito Penal Italiano, Comparado e Internacional pela Università degli Studi di Milano, 
Itália. Doutor em Direitos e Garantias Fundamentais pela Universidad de Castilla-La Mancha, 
Espanha. Mestre em Ciências Criminais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Autor do 
livro: Direito Penal de Trânsito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. Coautor do livro (com Luiz 
Flávio Gomes): Nova Lei Seca. São Paulo: Saraiva, 2013.
Objetivos
Prezado aluno da Pós-Graduação em Ciências Penais LFG, este texto, bem como a 
respectiva aula, tem como objetivo debater os intrincados pontos relacionados ao direito 
penal do trânsito e todas suas características, principalmente no que tange às controvérsias 
que envolvem a complexidade do tema.
Resumo da Aula
Esta aula aborda a problemática que envolve as reformas da legislação de trânsito, 
apontando questões como a (im)possibilidade de retroatividade de lei, bem como realizando 
uma reflexão crítica principalmente dos artigos 306 e 308 da legislação de trânsito e veículo 
automotores. 
1. nota introdutória
Não tenho dúvida de que a relevância de alguns setores sociais é uma receita para novas 
propostas legislativas no âmbito criminal. A circulação viária, por exemplo, representa um 
excelente âmbito para examinar algumas questões relacionadas à criminalização, porque, 
desde a promulgação da Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, sucederam várias 
7
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
leis simbólicas e impregnadas de oportunismo, regulando contextos específicos como a 
embriaguez ao volante e a participação em racha. 
O compromisso deste texto é apresentar as controvérsias que decorreram da falta de reflexão 
e de discussão político-criminal nos referidos contextos, seja no concernente ao objeto de 
proteção e sua legitimidade, seja no relativo à necessidade de intervenção penal. Destaco 
que a eleição do art. 306 e do art. 308 não é aleatória, senão decorre das últimas alterações 
do Código de Trânsito Brasileiro.1
2. A Infração de Embriaguez ao Volante (Art. 306)
O delito do art. 306 é o que suscita maiores discussões na doutrina penal, especialmente 
pelas inúmeras alterações legais verificadas nos últimos anos. Após a promulgação do Código 
de Trânsito pela Lei n. 9.503/1997, seguiu-se a primeira revisão com a Lei n. 11.705/2008 
e um novo preceito foi proposto com a Lei n. 12.760/2012.2 É interessante frisar que em 
nenhuma das alterações o legislador incrementou a resposta penal. Seu objetivo maior foi 
alcançar um maior número de punições.
Esse intento foi frustrado quando da primeira reforma, porque a redação do preceito primário 
do art. 306 carecia de técnica legislativa. Ao mesmo tempo em que transmudou a natureza do 
perigo para fins de punição do condutor pela infração, ou seja, de perigo concreto da redação 
original para perigo abstrato com a proposta dada pela Lei n. 11.705/2008, o legislador exigia 
que uma concentração mínima de álcool no sangue ou por ar alveolar fosse comprovada. 
Tratando-se de índice técnico, apenas a prova pericial poderia dar certeza necessária sobre a 
materialidade delitiva. Assim se posicionou o STJ (Resp. n. 1.111.566/DF, rel. Adilson Vieira 
Macabu, DJ 04/09/2012), razão pela qual o fim punitivo apenas seria alcançado quando os 
próprios condutores submetiam-se voluntariamente ao exame pericial.
1 Essa redução não encobre outras impropriedades técnicas do legislador, alguns equívocos de parte da doutrina e as 
decisões desacertadas do judiciário relacionadas aos outros crimes da Lei n. 9.503/1997. Recomendo, portanto, visando 
complementar os estudos, a leitura da obra de nossa autoria Direito Penal de Trânsito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
2 A Lei n. 11.275/2006, embora com reflexos no âmbito penal, foi promulgada para regular a infração administrativa de 
embriaguez ao volante (art. 165, CTB). A Lei n. 12.971/2014 alterou a redação dos §§ 2° e 3° do art. 306 do CTB no que 
diz respeito à previsão da verificação da embriaguez também mediante testes toxicológicos. 
8
Verificando-se que a colaboração pessoal esbarrava na não autoincriminação, considerando 
que o motorista não produzia prova contra si mesmo, e sendo inviável a comprovação da 
materialidade pela prova testemunhal, nova proposta de redação foi sancionada no final de 
20123. O novo preceito parece apresentar mais problemas do que soluções, razão pela qual 
é dever destrinchar sua aplicação. Neste sentido, algumas questões merecerão atenção: 
(1) Qual é o bem jurídico protegido? (2) Como se define a estrutura jurídica do delito? (3) 
Como comprovar a alteração da capacidade psicomotora do condutor do veículo automotor? 
(4) Como a substância psicoativa deve influenciar nessa condução? (5) O novo delito pode 
retroagir para alcançar fatos praticados anteriormente à sua vigência?
(1) Na interpretação dos tipos penais, os magistrados têm a tarefa de analisar sobre qual 
bem jurídico – individual ou coletivo – é estendida a proteção penal definida legalmente. 
Infelizmente, nessa tarefa muitos preterem os melhores trabalhos e acabam por seguir, sem 
muito refletir, o entendimento de que o delito do art. 306 do CTB contempla um bem jurídico 
coletivo representado pela incolumidade pública no aspecto da segurança no trânsito ou, em 
síntese, o que é denominado segurança viária.4 Isso também pode ser comprovado em vários 
precedentes jurisprudenciais.5
Tratar-se-ia, portanto, de um bem jurídico supraindividual de titularidade coletiva. No entanto, 
sendo objetivo central do Código de Trânsito a segurança das pessoas no trânsito, e, para 
isso, seu fim instrumental é reduzir o número e os 
efeitos dos acidentes nas vias terrestres, a atuação 
dos órgãos e das entidades de trânsito deve visar, 
com prioridade, as ações de defesa à disponibilidade 
da vida, da integridade física e do patrimônio de um 
3 Eis a redação do preceito primário do art. 306 do CTB: “Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alte-
rada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que cause dependência”.
4 Neste sentido, entre outros, veja-se: JESUS, Damásio de. Crimes de Trânsito.São Paulo: Saraiva, 2000, p. 166. CA-
PEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 308. MARCÃO, Renato. Crimes de Trânsito. São 
Paulo: Saraiva, 2009, p. 306. GÓMEZ PAVÓN, Pilar. El Delito de conducción bajo la influencia de bebidas alcohólicas, 
drogas tóxicas o estupefacientes. Barcelona: Bosch, 1998, p. 104.
5 TJES, Ap. n. 24080260987; TJGO, Ap. n. 36377-27.2010.8.09; TJRO, Ap. n. 0004491-67.2010.8.22.0501; TJDFT, Ap. n. 
2008.041.007.851-6; TJBA, Rec. Crim. n. 0157343-2/2009; TJRJ, Rec. Crim. n. 09.2010.8.19.0002, etc. 
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
Saiba Mais
MARCÃO, Renato. Crimes de Trânsito. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
9
número indeterminado de pessoas, pois são estes os verdadeiros bens jurídico-penais que 
devem ser protegidos.6 
E por que seria necessária uma maior reflexão pelos juízes? Porque de “expressões sonoras 
e vazias de conteúdo”, para seguir com a feliz menção do Defensor Público Gustavo Quandt,7 
utilizada em debate virtual, apenas se homenageia uma postura ideal de bem jurídico, com 
o fim de legitimar o que o legislador entendeu desejável. No entanto, esse processo de 
idealização de bens jurídicos representa um retrocesso e, assim, não deve prevalecer, seja 
por problemas relacionados à essência de sua definição,8 seja por problemas relacionados à 
excessiva pena cominada às infrações.9
A incolumidade pública nada mais é do que um bem jurídico fictício, devendo a proteção 
penal recair sobre o sujeito individual ou seu patrimônio, contudo sobre um número 
indeterminado deles. O bem jurídico protegido, ademais, deve ser uma realidade distinta 
da finalidade legislativa, da intenção de alcançar o trânsito em condições seguras. Quanto 
mais é desrespeitado o princípio da segurança do trânsito, menos protegidos estão os bens 
jurídicos. Eis porque, segundo Paolo Veneziani, o trânsito em condições seguras é apenas 
um “princípio geral claramente funcional”.10 
6 VICENTE MARTÍNEZ, Rosario. Derecho Penal de la Circulación. Barcelona: Bosch, 2006, p. 183, por sua vez, afirma 
que “não se protege a segurança viária como um fim em si mesmo, senão com caráter instrumental, como meio para a 
tutela de bens jurídicos individuais, como a vida, a saúde e o patrimônio”.
7 MORENO ALCÁZAR, Miguel Ángel. Los Delitos de Conducción Temeraria. Valencia: Tirant lo Blanch, 2003, p. 51, des-
creve que “a segurança do tráfico é um conceito carente de um conteúdo próprio que vá mais além de uma pura referên-
cia formal à normativa administrativa que regula o âmbito de circulação rodoviária”. 
8 GRECO, Luís. Princípio da Ofensividade e Crimes de Perigo Abstrato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São 
Paulo: RT, n. 49, p. 89, 2004. 
9 HIRSCH, Hans Joachim. Acerca del estado actual de la discusión sobre el concepto de bien jurídico. in Modernas Ten-
dencias en la Ciencia del Derecho Penal y en la Criminología. Madrid, 2006, p. 380. 
10 VENEZIANI, Paolo. “I delitti contro la vita e l’incolumità individuale”, in Trattado di Diritto Penale. I Delitti Colposi. Milano: 
Antonio Milani, 2009, p. 587.
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
10
O Supremo Tribunal Federal, inclusive, delimitou corretamente a objetividade jurídica do 
delito.11 Textualmente: 
Habeas corpus. Penal. Delito de embriaguez ao volante. Art. 306 do Código de 
Trânsito Brasileiro. Alegação de inconstitucionalidade do referido tipo penal por 
tratar-se de crime de perigo abstrato. Improcedência. Ordem denegada. […] Na 
espécie, a proibição da conduta pela qual o paciente foi condenado objetiva, 
especialmente, combater e prevenir a ocorrência de delitos de trânsito que possam 
colocar em risco a incolumidade física ou até mesmo a vida dos indivíduos da 
coletividade ou provocar danos patrimoniais […] (2ª Turma, HC n. 109.269/MG, rel. 
Min. Ricardo Lewandowski, j. 27/09/2011).
A legitimidade da punição tem por pressuposto a afetação de um bem jurídico. Significa 
que o elemento fundamental do crime, sem embargo da ausência de previsão expressa 
ou exterior nos tipos penais, é a ofensa ao bem jurídico. Definido o bem jurídico protegido 
penalmente no atinente ao delito do art. 306 do Código de Trânsito, resta saber como protegê-
lo. Para tanto, é fundamental a análise das condutas ofensivas com respaldo do postulado 
da ofensividade, pois este é a diretriz de política-criminal que se revela mais intrinsecamente 
ligada à interpretação penal. 
Os magistrados, com efeito, devem exercer uma função seletiva das ações humanas para 
reduzir a incidência da norma penal apenas àquelas realmente ofensivas ao objeto jurídico, 
isto é, “se o Direito penal deve ser chamado a preservar bens valiosos e essenciais de 
determinadas condutas que a eles sejam ofensivas, deve-se examinar de qual maneira e em 
que medida elas se apresentam, aferindo-se, portanto, a potencialidade lesiva”.12 Na esteira 
de Luís Greco, “essa questão não deve ser discutida à luz de considerações sobre o bem 
jurídico, e sim sobre outro tópico, chamado por alguns de estrutura do delito”.13 Não mais 
deve questionar qual bem jurídico está relacionado com o presente delito, mas, sim, como se 
deve realizar a proteção deste bem jurídico.
No âmbito do art. 306 do CTB, houve variação da estrutura jurídica do delito. Quanto à 
redação original – “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou 
11 Mesmo delimitando corretamente o objeto jurídico, insistiu o Ministro em justificá-lo mencionando precedente jurispru-
dencial e parecer ministerial que se valeram da expressão sonora “incolumidade pública”.
12 SILVA, Ângelo Roberto. Dos Crimes de Perigo Abstrato em Face da Constituição. São Paulo: RT, 2006, p. 95.
13 GRECO, Luís. Princípio da Ofensividade e Crimes de Perigo Abstrato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São 
Paulo: RT, n. 49, p. 117 e ss., 2004.
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
11
de substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem” –, 
as mais diversas Instâncias de Controle indicavam se tratar de crime de perigo concreto, 
carecendo, portanto, de certificação judicial, caso a caso, da exposição dos bens jurídicos a 
uma situação de perigo efetivo. Por sua vez, com a edição da Lei n. 11.705/2008, atualmente 
revogada, o delito passou a ser classificado como perigo abstrato, inclusive com inúmeros 
precedentes jurisprudenciais neste sentido.14
Não obstante a resistência por parte de alguns 
magistrados estaduais destacando que os crimes 
de perigo abstrato ofendem o postulado da 
ofensividade – e por isso seriam inconstitucionais 
–, porque nenhum bem jurídico foi ofendido ou, 
no mínimo, correu o risco efetivo de agressão,15 o 
Supremo Tribunal Federal decidiu que esse não era 
o caminho a ser seguido, pois a lesividade é utilizada apenas como meio de interpretação da 
lei penal, e não como forma de proscrever a legitimidade de criação de um tipo de delito (HC 
n. 81.057-8/SP, relª Minª Ellen Gracie, j. 25/05/2004).
Em termos simples, deve o juiz, caso a caso, realizar uma interpretação restritiva da ratio 
de proteção do bem jurídico penal que não necessariamente será fiel à vontade objetiva do 
legislador. Isso não significa, porém, que a infração do art. 306 do Código de Trânsito se 
converta em um delito de perigo concreto. Em outras palavras, deverá o magistrado interpretar 
evolutivamente o delito proposto pelo legislador, isto é, deverá proceder a uma interpretação 
constitucionalmente orientada para legitimar o direito de punir, porque não pode punir uma 
conduta que nem sequer gera um potencial perigo para o bem jurídico tutelado penalmente.16 
14 TJSP, Ap. n. 0004702-58.2009.8.26.0168; TJRS, Ap. n. 700.452.908-22; TJPB, Ap. n. 00.2010.004.396.500-1; TJAL,Ap. n. 2011.008422-0; TJDFT, Ap. n. 2009.031032103-7; TJRJ, HC n. 0028680-44.2010.8.19.0000; etc. 
15 Por exemplo: TJBA, Rec. crim. n. 0154343-2/2009; TJRJ, Rec. crim. n. 0010627-09.2010.8.19.0002; TJRJ, Rec. crim. 
n. 0049376-55.2008.8.19.0038. Parte da doutrina penal adota esse entendimento e especificamente sobre os delitos de 
trânsito: JESUS, Damásio. Crimes de Trânsito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 2 e ss.
16 Neste sentido: BOTTINI, Pierpaolo. Crimes de perigo abstrato não são de mera conduta. Revista Consultor Jurídico, 
29 maio 2012, esclarece: “[…] ainda que os crimes de perigo abstrato sejam constitucionais, devem ser interpretados 
sistematicamente, levando-se em consideração a orientação teleológica do Direito penal. Por isso, ainda que o tipo pe-
nal descreva a mera conduta, cabe ao intérprete – ao juiz, em especial – a constatação de que o comportamento não é 
inócuo para afetar o bem jurídico tutelado pela norma. Em outras palavras, não basta a mera ação descrita na lei, faz-se 
necessária a verificação da periculosidade da conduta – mesmo que em abstrato – de colocar em perigo bens jurídicos”.
Links
Para mais informações e dados atua-
lizados, acesse: <http://www.ibccrim.
org.br>.
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
12
Assim, por exemplo, de nada adianta o motorista estar alcoolizado se conduz o veículo 
de modo anormal em rua deserta ou completamente inabitada. Mas não é porque conduz 
anormalmente em rua deserta ou inabitada que a norma penal será inconstitucional, pois 
pode dirigir alcoolizado e anormalmente em local com grande número de pessoas. Por 
isso ressalto a posição de Pulitanò de que “não é qualquer conduta que é albergada pela 
proibição penal”.17 A propósito, o STF declarou a constitucionalidade do delito de embriaguez 
ao volante, quando vigia a Lei n. 11.705/2008 (2ª Turma, HC n. 109.269/MG, rel. Min. Ricardo 
Lewandowski, DJE 11-10-2011).
Com a nova redação do art. 306 do CTB proposta pela Lei n. 12.760/2012, o delito de 
embriaguez ao volante continua de perigo abstrato, mas com uma especificidade maior, isto 
é, trata-se de um delito de perigo abstrato como delito de potencial perigo18 ou, para outros, 
delito de perigo abstrato como delito de perigosidade real.19 Para não punir pela simples 
desobediência ao comando normativo requer-se, primeiramente, que o agente crie um 
risco proibido (superando o risco-base relacionado à norma de segurança no trânsito, ou 
seja, dirigindo sob a influência de álcool ou drogas), e, em segundo lugar, que haja bens 
jurídicos contra os quais as condutas arriscadas (condução em zigue-zague) possam estar 
direcionadas. 
Neste sentido, requer-se uma análise restritiva por parte dos juízes, pois, se não há ninguém 
na rua ou nas imediações do veículo anormalmente conduzido pelo agente sob a influência 
de substâncias psicoativas (álcool ou drogas), não há porque puni-lo, embora comprovada a 
alteração de sua capacidade psicomotora. Além disso, existindo pessoas ou carros no raio 
de ação do automotor conduzido por agente sob influência de álcool ou de drogas, a análise 
deverá ser teleológica, porque a aferição da tipicidade penal não deverá ocorrer unicamente 
pela descrição legislativa, sendo necessário precisar o potencial perigo ou a perigosidade da 
ação preposta e oposta à proteção dos bens jurídicos. Deve-se orientar, portanto, o magistrado 
na análise do novo art. 306 do Código de Trânsito.
17 PULITANÒ, Domenico. Sull’interpretazione e gli interpreti della legge penale. In: Studi in Onore di Giorgio Marinucci. 
Milano: Giuffrè, 2006, p. 683.
18 BEM, Leonardo Schmitt de. Direito Penal de Trânsito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 345.
19 GOMES, Luiz Flávio. A Nova Lei Seca. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 51.
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
13
(3) Tratando-se de requisito expresso no tipo penal, em cada caso concreto impõe-se comprovar 
e não presumir a alteração da capacidade psicomotora, ou seja, “a afetação das faculdades 
psicofísicas de percepção, autocontrole e reação, basicamente, originada pelo consumo de 
bebidas alcoólicas, drogas tóxicas, estupefacientes ou substâncias psicotrópicas”.20 Exige-se, 
embora sem a definição legal de um grau, que o consumo das substâncias psicoativas que 
causam dependência altere a capacidade psicomotora do condutor e, com efeito, diminua 
suas faculdades para a condução do veículo. 
A problemática que se apresenta na sequência, portanto, é delimitar os meios para constatação 
da influência do álcool ou das demais substâncias psicoativas na condução do veículo. Neste 
contexto, entendo pertinentes três critérios. Em primeiro lugar, é dispensável a superação da 
concentração de álcool disciplinada no art. 306, § 1°, I, do CTB para fins de responsabilização 
penal. Em segundo lugar, como o tipo penal proíbe conduzir anormalmente em razão da 
influência de álcool, e não simplesmente conduzir com certo nível de álcool no sangue ou seu 
equivalente por litro de ar alveolar, a prova de alcoolemia, por si só, não será suficiente para 
confirmar a presença da influência e gerar a automática responsabilidade penal do condutor. 
Em último lugar, o decisivo para fins de verificação do delito será a convicção racional do juiz 
a partir de todos os elementos destacados, da alteração real da capacidade psicomotora do 
condutor para fins de realizar uma condução segura com o veículo automotor.
Como reiteradamente venho destacando, não basta que se alcance o grau de concentração 
etílica proibido, senão que é necessária a constatação da influência do álcool na condução 
anormal pelo motorista. Essa constatação pode realizar-se ou por teste de alcoolemia com 
a concentração de álcool igual ou superior a 6 decigramas por litro de sangue ou por teste 
em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro ou bafômetro) que resulte em concentração 
de álcool igual ou superior a 0,3 miligramas por litro de ar expelido dos pulmões (art. 306, § 
1°, I, do CTB). Na sua realização, como se trata de um direito de defesa, todas as garantias 
processuais devem ser observadas.
É notório que a prova de alcoolemia realizada pelo bafômetro constitui um meio idôneo para 
aferição da concentração etílica no condutor do veículo automotor. Inclusive o Poder Executivo 
20 VICENTE MARTÍNEZ, Rosario. Derecho Penal de la Circulación. Barcelona: Bosch, 2006, p. 185.
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
14
prevê que nos procedimentos de fiscalização se deva priorizar a utilização do bafômetro.21 
É igualmente notório, porém, que a grande maioria dos condutores não se submete ao 
exame, invocando o direito de não produzir prova contra si mesmo. No entanto, a prova 
técnica de alcoolemia tornou-se prescindível com a promulgação da Lei n. 12.760/2012, pois 
o legislador previu, no segundo inciso do § 1° do art. 306 do CTB, acudindo a disciplina 
regulada pelo CONTRAN, a possibilidade de outros critérios (sinais) indicarem a alteração 
da capacidade psicomotora do agente. Entendo, em especial porque o exame não é feito 
com laudo conclusivo e firmado por médico perito, que um conjunto de sinais que comprove 
a situação do condutor deverá ser considerado (ao menos um relacionado a cada critério 
proposto).22 Mas o mais importante é que esses sinais próprios de quem ingeriu álcool ou 
fez uso de drogas deverão influenciar a condução do veículo, caracterizando conduta com 
potencial perigo aos bens jurídicos tutelados.
(4) É muitíssimo relevante precisar o alcance da expressão “em razão da influência” constante 
no preceito primário do art. 306 do CTB. Como elemento normativo do tipo penal, exige 
valoração pelo magistrado consistente na análise, caso a caso, da influênciado álcool ou das 
drogas na condução do veículo automotor. Além da alteração da capacidade psicofísica da 
pessoa do condutor, é necessário que se estabeleça o efeito que o álcool ou as substâncias 
psicoativas causam na própria condução realizada pelo agente infrator. 
É decisivo avaliar, portanto, a forma de condução do veículo automotor (por exemplo: deve-
se verificar a inconstância no modo de dirigir, o desrespeito às faixas de sinalização na pista, 
o ziguezague, a aceleração demasiada, a lentidão injustificada, a mudança brusca de faixa 
sem sinalizar, o avanço de sinais fechados, o ato de dirigir pelo acostamento, de conduzir 
à noite com os faróis apagados, entre tantas outras possibilidades de condução anormal), 
porque todo aquele que consegue controlar o perigo do consumo prévio de álcool ou das 
drogas não deve responder pelo delito, de sorte que não criou contexto de risco potencial aos 
bens jurídicos penalmente tutelados ou sua conduta não apresentou perigosidade real. 
21 Art. 3°, § 1°, da Resolução n. 432/2013.
22 Anexo II da Resolução n. 432/2013 apresenta os requisitos necessários para constatação do consumo de álcool. 
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
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Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
Não é suficiente certo nível de álcool ou de drogas no sangue para a configuração do tipo 
penal, senão é preciso que o álcool ou as drogas influenciem realmente na condução do 
veículo pelo agente. Em uma perspectiva teleológica, portanto, deve-se acrescentar outro 
elemento na descrição da conduta proibida e consistente na criação de um potencial perigo 
ao bem jurídico. Trata-se de “um critério material-individual, segundo o qual haverá que 
determinar se certo nível de ingestão de álcool ou de drogas, influenciou realmente sobre a 
condução do sujeito no caso concreto que se examine”.23
Essa circunstância é essencial, inclusive, para delimitar a distinção qualitativa entre a infração 
administrativa (art. 165) e a penal (art. 306). Assim, segundo Vicente Martínez, “para fins 
de tipicidade delitiva requer-se um perigo abstrato com um mínimo de perigosidade real da 
conduta para os bens jurídicos”.24 Por conseguinte, conduzir o veículo automotor com elevada 
concentração etílica no sangue pode não constituir delito, apenas infração administrativa, se 
nenhum bem jurídico entrar no raio de ação da condução perigosa. É apenas neste sentido 
que o delito do art. 306 do Código de Trânsito poderá ser interpretado em sua completude.
(5) Como visto, o art. 306 do Código de Trânsito ganhou nova redação com a Lei n. 
12.760/2012. O preceito primário foi modificado, e, com efeito, nasceu a discussão se a 
nova lei – em comparação à anterior previsão – é ou não mais prejudicial. Alguns Tribunais 
de Justiça adotaram a irretroatividade da lei, isto é, consideraram a nova lei mais gravosa 
especialmente quanto ao sistema de aferição da dosagem etílica para condutas praticadas 
antes de sua vigência, pois o legislador ampliou as formas de constatação da materialidade 
delitiva, admitindo todos os meios probatórios lícitos, como o exame clínico, a prova de 
vídeo, testemunhas etc. Seguem os precedentes.25 Vê-se que a ausência da prova técnica 
– imprescindível para a caracterização do tipo penal do art. 306 com redação dada pela Lei 
n. 11.705/2008 – não pode ser suprida por outras provas admitidas em direito e que foram 
consagradas, para esse âmbito social, somente com a promulgação da Lei n. 12.760/2012. 
23 SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Consideraciones sobre el delito del art. 340 bis a). 1° del Código penal. Revista Jurídica 
de Cataluña, v. 92, n. 1, p. 31, 1993.
24 VICENTE MARTÍNEZ, Rosario. El delito de conducción bajo la influencia de drogas tóxicas, estupefacientes, sustan-
cias psicotrópicas o bebidas alcohólicas y su propuesta de reforma. La cuestionable necesidad de modificar el artículo 
379 del Código penal. Revista Jurídica Española La Ley, p. 6, 2007.
25 TJRJ, Ap. Crim., n. 2009.8.19.0066; TJSC, Rec. Crim., n. 2012.088330-8, TJSC, Ap. Crim., n. 2012.070945-9.
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Brasileiro
Entendo, porém, que o juiz apenas poderá atestar a (ir)retroatividade da Lei n. 12.760/2012 
se realizar uma análise comparativa entre os preceitos primários dos tipos penais, e não 
entre as possíveis formas de aferição da materialidade delitiva, como resta evidente nos 
julgados citados. No sentido aqui destacado, por exemplo, a Corte Catarinense entendeu 
pela irretroatividade da lei sob o argumento de que o legislador – em comparação com o 
tipo penal do art. 306 da Lei n. 11.705/2008 – afastou a quantificação da dosagem alcoólica 
à constatação típica, bem como suprimiu a expressão “via pública” constante do antigo art. 
306 da Lei de Trânsito. Assim, a nova lei teria aumentado significativamente a abrangência 
do tipo penal. Textualmente: “A nova redação dada ao art. 306 da Lei 9.503/1997 pela Lei 
12.760/2012, por se tratar de norma penal mais severa que a anterior, não se aplica aos casos 
anteriores à sua vigência em razão da irretroatividade da lei penal mais gravosa” (TJSC 1ª C. 
Crim., Apelação n. 2013.076034-0, rel. Des. Carlos Alberto Civinski, j. 18/02/2014).
É necessário destacar que não houve na novel lei a eliminação do limite de concentração de 
álcool por litro de sangue, senão apenas sua conversão em simples elemento probatório do 
delito. A ausência do limite de tolerância à ingestão do álcool na redação do tipo penal não 
tornou a lei mais severa, pois o que houve foi a inclusão de uma diferente hipótese na qual 
resta caracterizada a infração do art. 306 do CTB. Em outras palavras, o legislador abandonou 
a dosagem alcoólica como critério à realização do tipo, para dar lugar ao parâmetro da efetiva 
afetação da capacidade psicomotora. Neste sentido, perfilhou a Corte do Rio Grande do Sul: 
Apelação. Embriaguez ao volante. Alteração da capacidade psicomotora. Lei 
n. 12.760/12. Retroatividade. Com a alteração do artigo 306 da Lei 9503/97 
pela Lei 12.760/12, foi inserida no tipo penal uma nova elementar normativa: a 
alteração da capacidade psicomotora. Assim, a adequação típica da conduta, 
agora, depende não apenas da constatação da embriaguez (seis dg de álcool 
por litro de sangue), mas, também, da comprovação da alteração da capacidade 
psicomotora pelos meios de prova admitidos em direito. Aplicação retroativa da 
Lei 12.760/12 ao caso concreto, pois mais benéfica ao réu. Ausência de provas 
da alteração da capacidade psicomotora, notadamente em razão do depoimento 
do policial responsável pela abordagem, que afirmou que o réu conduzia a 
motocicleta normalmente. Absolvição decretada (TJRS, 3ª C Crim., rel. Des. 
Nereu Giacomolli).
Esclarecendo de forma objetiva: com base na lei anterior, era possível o condutor do veículo 
automotor se apresentar com capacidade psicomotora alterada, porém não se submeter a 
exame pericial. Nesse sentido, a lei anterior não poderia ser aplicada porque não foi provada 
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a materialidade delitiva, ou seja, a mínima concentração de seis decigramas de álcool por 
litro de sangue, tampouco a nova lei penal o seria, pois, não obstante o agente estivesse 
com sua capacidade psicomotora alterada, a prova desse elemento dependeria dos recursos 
admitidos com a promulgação da Lei n. 12.760/2012. É nessa linha que a lei penal mais 
recente é prejudicial. Mas, em um paralelo apenas entre os preceitos primários dos tipos 
penais, por certo a novel legislação é mais benéfica, visto que exige mais elementos para 
punição do condutor infrator.
O segundo argumento para justificar a irretroatividade da nova lei penal éfalacioso. A omissão 
da expressão constante do tipo penal – “via pública” – em nada prejudica o condutor, porque, 
se o fato ocorreu em via particular antes da vigência da nova lei, nem ao menos teria sido 
oferecida a denúncia em respeito ao princípio da legalidade. Posto isto, reiteramos que a 
nova lei é mais benéfica ao agente. 
Com a nova redação dada pela Lei n. 12.760/2012, independentemente da substância 
previamente ingerida pelo condutor, dever-se-á provar sua influência sobre a condução 
anormal do veículo. Esse elemento não constava do tipo legal com redação dada pela Lei 
n. 11.705/2008 e deve ser levado em consideração, pois, conforme destaquei, é essencial 
para distinguir a infração criminal de embriaguez ao volante de sua correspondente infração 
administrativa.
Realizando uma análise evolutiva do art. 306 do CTB no que diz respeito ao consumo 
preliminar de álcool, quando foi publicada a Lei n. 11.705/2008, exigiu-se um requisito 
adicional em comparação com a Lei n. 9.503/1997 (concentração etílica no sangue). Disso 
decorreu a retroatividade penal! Com a Lei n. 12.760/2012 outro requisito adicional foi exigido 
em um paralelo com a Lei n. 11.705/2008 (influência do álcool na condução). Quanto mais o 
legislador exige para punir, melhor é a situação do condutor. 
Sendo uma lei posterior, e, nesse particular, favorecendo aos agentes, deve ser aplicada aos 
fatos anteriores, embora já decididos em sentença condenatória transitada em julgado, a teor 
do art. 2°, parágrafo único, do Código Penal. A nova lei penal deve retroagir para favorecer 
os agentes, em especial nos casos de investigações criminais em curso – relacionadas com 
a Lei n. 11.705/2008 – nas quais não se fez prova da influência do álcool/drogas na condução 
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Brasileiro
anormal do veículo por agente com capacidade psicomotora alterada. Muitas denúncias 
estarão fadadas ao insucesso, e esse é o preço a pagar por outra alteração legislativa 
desastrosa.
3. A Infração de Participação em Racha (Art. 308)
A nova redação do caput do art. 308 do CTB, determinada pela Lei n. 12.971/2014, não 
alterou a estrutura jurídica do delito, pois o elemento normativo consignado na expressão 
“gerando situação de risco” revela idêntica estrutura jurídica em comparação com a 
expressão revogada “desde que resulte perigo concreto”, ou seja, continua sendo um delito 
de perigo concreto. Com efeito, deve-se comprovar que o comportamento do condutor gerou, 
efetivamente, risco aos bens jurídicos protegidos.
Trata-se de crime de concurso necessário, pois participar de corrida, disputa ou de competição 
pressupõe a presença de mais de um sujeito, sendo que qualquer pessoa, desde que 
imputável, pode ser o agente delitivo.26 Trata-se de crime simples.27 Eventuais organizadores da 
competição irregular responderão como partícipes do delito (art. 29 do Código Penal). Logo, é 
possível o concurso de agentes. Eles também podem ser sancionados administrativamente.28 
Em relação à vítima do delito, aduz Renato Marcão que “a lei não retira da esfera de proteção 
à incolumidade dos participantes, de forma que basta a exposição de perigo concreto de 
qualquer deles para que se tenha por verificado o crime”.29 Tenho por imprecisa sua afirmação. 
Em primeiro lugar, considerando apenas o outro participante, estar-se-ia diante de um delito 
de perigo individual, sendo a punição restrita ao art. 132 do Código Penal. Em segundo lugar, 
todos aqueles que participam de uma competição sabem suficientemente os riscos que estão 
voluntariamente assumindo. Estão dispondo de suas vidas e/ou integridades físicas de forma 
consciente. Há um abandono da proteção penal ou um retrocesso na tutela penal em razão 
de uma própria conduta dos competidores. 
26 Classificando como crime unissubjetivo em relação à modalidade corrida, vide: NUCCI, Guilherme de Souza. Leis pe-
nais e processuais penais comentadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 853. 
27 Contrariamente, classificando como crime próprio, vide: ARAÚJO, Marcelo Cunha; Calhau, Lélio Braga. Crimes de 
trânsito. 2. ed. Niterói: Impetus, 2011, p. 95. 
28 Art. 174, § 1° do Código de Trânsito, com redação dada pela Lei n. 12.791/2014, de 9 de maio.
29 MARCÃO, Renato. Crimes de trânsito. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 188.
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Exige-se, como condição inicial para existência do delito, que o acusado conduza um veículo 
automotor. Conduzir, para fins do dispositivo, significa dirigir, colocar em movimento, embora 
pequeno o espaço percorrido, mediante acionamento dos mecanismos do veículo. A definição 
e os exemplos de veículo automotor constam do Anexo I do Código de Trânsito. O teor do 
preceito restringe o local da prática delitiva às vias públicas. Considerando a inexistência de 
definição do conceito de via pública no Código de Trânsito, entendo que a conceituação deve 
considerar dois aspectos alternativos: a abertura à circulação ou a utilização comum da via 
de tráfego. Assim, ocorrendo em área privada que não esteja franqueada ao uso público, não 
há a caracterização do delito do art. 308 da Lei n. 9.503/1997. 
As práticas proibidas apresentam-se em contextos semelhantes. O popular “racha” ou 
“pega” é uma competição entre dois ou mais condutores envolvendo uma disputa. Também 
a corrida é considerada uma competição, com a diferença de que se realiza em um trajeto 
predefinido. A interpretação da expressão “competição automobilística” contida no preceito 
deve ser extensiva, pois a linguagem da lei afirma menos do que diz, devendo o juiz ampliar a 
vontade do legislador para albergar a prática da competição por qualquer veículo automotor, 
especialmente as motocicletas. Neste sentido, há harmonia com a própria redação do 
dispositivo, uma vez que o agente deve estar na direção de veículo automotor.
Quando a lei posterior agravar, de qualquer modo, a conduta criminosa praticada sob a égide 
da lei anterior, aplicar-se-á o princípio da ultra-atividade, pelo qual a lei anterior postergará 
seus efeitos para o futuro, por ser mais benigna, e a posterior, por ser mais severa, será 
irretroativa por força constitucional (art. 5°, XL). E, de fato, a Lei n. 12.971/2014 modificou a 
pena máxima de dois para três anos. 
Uma vez mais se vislumbra que o legislador ignorou o princípio da proporcionalidade, visto 
que um delito de perigo (art. 308) novamente foi sancionado mais gravemente que um delito 
de dano (art. 303). Impõem-se cumulativamente as penas de multa e a pena acessória 
consistente na suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir 
veículo automotor, cujo prazo varia entre dois meses e cinco anos. Essa sanção, segundo 
entendo, não poderá ser aplicada aos motoristas que já possuem a habilitação definitiva. A 
reforma legislativa também alterou a natureza jurídica do delito, pois deixou de ser menor 
20
potencial ofensivo em razão de a pena máxima cominada superar dois anos. Não obstante, 
ainda é possível aplicar o benefício da suspensão condicional do processo.
Outra novidade decorrente da Lei n. 12.971/2014 foi a inserção de qualificadoras ao crime 
do art. 308 do Código de Trânsito Brasileiro. A primeira delas diz respeito à ocorrência 
de lesão corporal grave como resultado da prática de racha. Para evitar as controvérsias 
doutrinárias ou os embates de julgados, deveria o legislador ter seguido uma melhor técnica 
de tipificação para dar efetividade ao princípio da legalidade, porém, ao contrário, afastou-
se da invocação casuística para enaltecer a opção por uma cláusula genérica delineada na 
expressão “lesão corporal de natureza grave”. Como o legislador se preocupouapenas com 
o resultado objetivo, pensamos, assim, que se deva fazer uso, por analogia, de situações 
enumeradas nos parágrafos do art. 129 do Código Penal. Há neste, igualmente, a previsão 
de exemplos de crime preterdoloso, pois o agente pratica a ação dolosa, menos grave, porém 
obtém um resultado danoso mais grave do que o pretendido na forma culposa. Resultando 
lesão corporal leve, por exclusão, o participante do racha deverá responder pela lesão 
corporal culposa na direção de veículo automotor (art. 303), não obstante seja punido de 
maneira mais branda em razão da patente ofensa à proporcionalidade. Verificando-se o 
resultado qualificador nesse contexto, o participante da corrida, disputa ou competição será 
punido com pena de três a seis anos de reclusão.
A segunda qualificadora se refere à ocorrência de morte como resultado da prática do racha 
ou pega. A maior polêmica reside na circunstância de o seu conteúdo ser quase idêntico à 
redação do art. 302, § 2° introduzido no Código de Trânsito por meio da Lei n. 12.971/2014. 
Eis as duas redações:
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas – detenção, de dois a quatro anos [...].
§ 2° Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora 
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que 
determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição 
automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de 
veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente:
Penas - reclusão, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, 
de disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade 
competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada:
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito 
Brasileiro
21
Penas - detenção, de seis meses a três anos [...].
§ 2° Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias 
demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-
lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 5 a 10 anos, sem prejuízo das 
outras penas previstas neste artigo.
A princípio, a mesma conduta está retratada nos dois preceitos, sendo que, como na 
matemática, a ordem dos fatores não altera o produto, ou seja, estar-se-ia diante do mesmo 
crime qualificado, mas com duplicidade de previsão. Esta conclusão foi alcançada em 
relatório da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania30 e por Luiz Flávio Gomes, que, 
solucionando aquilo que adjetivou de excrescência legis, optou por respeitar a norma mais 
favorável ao réu em razão do princípio in dubio pro libertate,31 isto é, o art. 302, § 2° do Código 
de Trânsito Brasileiro.
Por sua vez, preservando ambas as infrações, o juiz Márcio Cavalcanti – cuja tese foi 
aplaudida por Greco32 – entendeu que a antevisão do resultado morte pelo condutor que 
participa em racha configura o crime do art. 308, § 2° do Código de Trânsito, pois incidiria 
em culpa consciente, modalidade mais grave, ao passo que no contexto de morte por 
culpa inconsciente o condutor do veículo automotor responderia pelo crime do art. 302, § 
2° do CTB.33 
Prevalecendo essa vertente, nos três contextos do § 2° do art. 302 com a redação dada pela 
Lei n. 12.971/2014 (embriaguez ao volante e participação em manobras arriscadas), deverá 
o agente agir com culpa inconsciente, de sorte que não seria crível que o mesmo parágrafo, 
mas em âmbitos diversos, apresente-se com espécies distintas de culpa. Sendo correta esta 
30 “Vislumbramos que no Projeto original encontra-se uma incongruência de natureza redacional. Ora a parte final do 
§ 2° do art. 302 e o disposto no art. 308, ambos alterados pelo Projeto de Lei n. 2592-A/07, aprovado na Câmara dos 
Deputados em 24/04/2013, existe duplicidade de condutas típicas, pois, em acatando emenda do Plenário, esqueceu o 
Relator de verificar que o fato já estava tipificado em outro dispositivo. Há, assim, conflito de penalidades nos dispositivos 
aprovados pela Casa, uma emenda de técnica legislativa deve ser aprovada nesta ocasião para que não subsista qual-
quer dúvida futura na jurisprudência”, conforme a Deputada Sandra Rosado no Substitutivo do Senado ao Projeto de Lei 
n. 2592/2007 analisado na Comissão de Constituição e Justiça.
31 GOMES, Luiz Flávio. Nova Lei de Trânsito: barbeiragem e derrapagem do legislador? Revista Síntese Direito Penal e 
Processual Penal, v. 15, n. 89, p. 27-28. 
32 Disponível em: <http://www.rogeriogreco.com.br/?p=2568>. Acesso em: jun. 2015.
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Comentários à Lei 12.971/2014. O texto estava disponível em 13 de maio de 2014 no 
seguinte link: <http://www.dizerodireito.com.br/2014/05/comentarios-lei-129712014-que-alterou-o.html>. 
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
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advertência, por exemplo, nunca haveria culpa consciente no crime de homicídio de trânsito 
quando o agente conduzisse o veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em 
razão da influência de álcool. 
Uma forma de contestar a tese de Luiz Flávio Gomes de que existe ofensa ao princípio do bis 
in idem e, assim, preservar ambos os preceitos, como sugeriu Márcio Cavalcanti, mas com 
fundamento diverso, é defender – não querendo ser mais realista que o rei – que o § 2° do art. 
308 constitui uma norma penal especial em relação ao § 2° do art. 302, visto que naquela há 
uma restrição espacial, pois a ação apenas se pode verificar em “via pública”. Deve-se admitir a 
existência de um concurso aparente de tipos legais que é resolvido pela especialidade, embora 
Eduardo Cabette não tenha observado a singela diferença e refutado a aplicação do princípio 
por entender que a especialidade não seria hábil a resolver satisfatoriamente a situação.34
Admitindo-se essa forma de interpretação,35 o tipo legal que deve ceder passo é o art. 302, 
§ 2° – por evidente, no contexto da participação do agente em racha – até porque, salvo 
raríssimas exceções, a conduta ocorre em locais abertos ao público ou de utilização comum, 
como as pistas de circulação e seu entorno (calçadas, canteiros, acostamentos). Essa tese 
pode ser corroborada e está em harmonia com o crime de participação em racha previsto 
no caput do art. 308 do Código de Trânsito, uma vez que, para sua configuração, exige-se 
a geração de risco à incolumidade pública ou privada. Por evidente, nas vias públicas, há a 
circulação de muitas pessoas e outros veículos, de sorte que a possibilidade de ofensa ao 
bem jurídico é bem maior, razão pela qual a reprovação também pode ser mais elevada. 
Saliento, inclusive, que essa interpretação impede a violação do princípio da proporcionalidade 
quando se compara o § 2° do art. 302 – preservado por Luiz Flávio Gomes36 e por Rogério 
34 CABETTE, Eduardo Santos. Lei n. 12.971/2014 e suas alterações na Parte Geral do Código de Trânsito Brasileiro: o 
ápice da insanidade na Legislação Pátria. Revista Síntese Direito Penal e Processual Penal, v. 15, n. 89, p. 38.
35 Foi também a sugestão da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania no Substitutivo do Senado ao Projeto de 
Lei n. 2592/2007, de relatoria da Deputada Sandra Rosado. In verbis: “O crime de ‘racha’ no trânsito, já está contemplado 
de forma detalhada nos parágrafos 1º e 2º do art. 308 modificado pelo referido projeto, razão pela qual emenda deve ser 
apresentada”, sendo a emenda sugerida no Projeto de Lei n. 2592-B/2007: “Suprima-se a expressão ‘ou participa, em 
via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de 
veículo automotor, nãoautorizada pela autoridade competente’ do §2º do art. 302”.
36 GOMES, Luiz Flávio. Nova Lei de Trânsito: barbeiragem e derrapagem do legislador? Revista Síntese Direito Penal e 
Processual Penal, v. 15, n. 89, p. 27-28. 
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Brasileiro
23
Greco37 – com o § 1° do art. 308, que qualifica o crime de participação em racha com resultado 
de lesão corporal grave, mas de natureza culposa, pois se está diante de crime preterdoloso. 
Basta verificar que a pena cominada para esta forma qualificada de crime de lesão corporal 
(reclusão, de três a seis anos) é superior àquela (reclusão, de dois a quatro anos), ainda 
que o resultado lesivo seja menor. Defender outra posição é não respeitar o princípio da 
proporcionalidade que deve imperar quanto à tutela dos bens jurídicos.
Verificando-se o resultado qualificador no contexto indicado pelo legislador, o participante da 
corrida, disputa ou competição será punido com pena de cinco a dez anos de reclusão. Notam-
se, assim, mudanças de ordem quantitativa e qualitativa em um paralelo com a conduta do 
art. 308, caput, do CTB. Essa modificação pode ensejar, respeitados certos requisitos, um 
possível início de cumprimento da privação de liberdade no regime fechado (art. 33, CP). 
Resultando a pena final no quantum mínimo cominado, não será possível a substituição por 
outras espécies de pena (art. 44, I, CP). Neste contexto, o crime também não é de menor 
potencial ofensivo.
4. Conclusão
Com milhões de quilômetros de malha rodoviária, o Brasil enfrenta inúmeras questões que 
se relacionam aos crimes ocorridos no tráfego viário. O texto convidou o leitor a refletir sobre 
as recentes leis promulgadas no âmbito dos crimes de embriaguez ao volante e participação 
em racha. Essa escolha, por certo, não desejou encobrir outras polêmicas operadas em 
mais de quinze anos de CTB. Pense-se só na celeuma para distinguir o dolo eventual da 
culpa consciente no âmbito do homicídio. Mais do que apontar as incongruências legais, meu 
objetivo foi afastar a velha máxima de que “em temas de Direito Penal vale o argumento da 
autoridade e não a autoridade do argumento”.
37 GRECO, Rogério. Os absurdos da Lei n. 12. 971, de 9 de maio de 2014. Revista Síntese Direito Penal e Processual 
Penal, v. 15, n. 89, p. 50. 
Aula 01 | As Controvérsias Criminais no Código de Trânsito Brasileiro
24
Vamos 
pensar
Elabore um breve texto a respeito das alterações promovidas pelo legislador referentes 
aos crimes de trânsito.
Zigue-zague: “linha quebrada em ângulos salientes e reentrantes alternados. Traçado que 
lembra essa forma”. Fonte: Dicionário Houaiss Conciso (2011, p. 978).
•	 Introdução.
•	 A Infração de Embriaguez ao Volante (Art. 306).
•	 A Infração de Participação em Racha (Art. 308).
•	 Conclusão.
Pontuando
Glossário
25
inDique A ALTeRnATiVA CORReTAquestão 1
A infração de embriaguez ao volante de veí-
culo automotor é tratada em qual artigo?
a) Art. 121 do CP.
b) Art. 308 da Lei n. 9.503/1997.
c) Art. 22 da Lei n. 7.492/1986.
d) Art. 306 da Lei n. 9.503/1997.
e) Art. 129 do CP.
inDique A ALTeRnATiVA CORReTAquestão 2
Qual foi a última alteração legislativa propos-
ta na Lei n. 9.503/1997 (Lei de Trânsito)?
a) Lei n. 12.654/2013.
b) Lei n. 11.343/2006.
c) Lei n. 8.072/1990.
d) Não ocorreu nenhuma alteração legislativa.
e) Lei n. 12.760/2012.
inDique A ALTeRnATiVA CORReTAquestão 3
O bem jurídico tutelado no crime de trânsito é:
a) Supraindividual de titularidade coletiva.
b) Individual de titularidade coletiva.
c) Supraindividual de titularidade individual.
d) Individual de titularidade pessoal.
e) Não possui bem jurídico tutelado.
inDique A ALTeRnATiVA CORReTAquestão 4
A infração de participação em racha é trata-
da em qual artigo?
a) Art. 129 do CP.
b) Art. 308 do CP.
c) Art. 308 do CTB, determinada pela Lei n. 
12.971/2014.
d) Art. 306 da Lei n. 9.503/1997.
e) Art. 149 do CP.
inDique A ALTeRnATiVA CORReTAquestão 5
A infração de participação em racha é um cri-
me de:
a) Concurso desnecessário.
b) Concurso necessário.
c) Concurso simples.
d) Concurso autônomo.
e) Não exige concurso. 
Verificação
de leitura
26
ARAÚJO, Marcelo Cunha; CALHAU, Lélio Braga. Crimes de trânsito. 2. ed. Niterói: Impetus, 2011. 
BEM, Leonardo Schmitt de. Direito Penal de Trânsito. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
BEM, Leonardo Schmitt de; GOMES, Luiz Flávio. Nova Lei Seca. São Paulo: Saraiva, 2013. 
BOTTINI, Pierpaolo. Crimes de perigo abstrato não são de mera conduta. Revista Consultor Jurídico, 
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MORENO ALCÁZAR, Miguel Ángel. Los Delitos de Conducción Temeraria. Valencia: Tirant lo Blan-
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Referências
27
Questão 1
Resposta: Alternativa D.
Resolução: Vide redação do artigo 306 da Lei n. 9.503/1997.
Questão 2
Resposta: Alternativa E.
Resolução: Vide redação da Lei n. 12.760/2012.
Gabarito 
Referências
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28
Gabarito
Questão 3 
Resposta: Alternativa A.
Resolução: Trata-se de um bem jurídico supraindividual de titularidade coletiva.
Questão 4 
Resposta: Alternativa C.
Resolução: Vide a nova redação do caput do art. 308 do CTB, determinada pela Lei n. 
12.971/2014.
Questão 5
Resposta: Alternativa B.
Resolução:Trata-se de crime de concurso necessário, pois participar de corrida, disputa ou 
de competição pressupõe a presença de mais de um sujeito, sendo que qualquer pessoa, 
desde que imputável, pode ser o agente delitivo.
29
30
TeMA 02
Breves Apontamentos sobre a Tutela 
Penal do Meio Ambiente
LEGENDA 
DE ÍCONES seções
31
início
Referências
Gabarito 
Verificação
de leitura
Pontuando
Vamos 
pensar
Glossário
Aula
32
02
Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do 
Meio Ambiente
Vicente Cardoso de Figueiredo
Advogado.
Mestre em Ciências Criminais.
Especialista em Direito Penal e Processo Penal.
Yuri Felix
Doutorando e Mestre do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais pela Pontifícia 
Universidade	Católica	do	Rio	Grande	do	Sul	‒	PUCRS.	
Pós-graduado em Direito Penal Econômico pela Universidade de Coimbra/IBCCrim. Pós-
graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera – UniderpLFG. Presidente da 
Comissão de Direito Penal e Direito Processual Penal da 40ª Subseção da OAB/SP. Professor 
e palestrante, autor de artigos publicados em revistas especializadas. Advogado criminal.
Objetivos
Esta aula tem como objetivo problematizar a questão ambiental e analisar a necessidade 
de tutela do meio ambiente por meio de um direito penal democrático no Estado de Direito.
Resumo da Aula
Esta aula visa abordar de forma clara e precisa as questões que envolvem o direito penal 
ambiental na sociedade do risco, problematizando os pontos relacionados ao bem jurídico 
tutelado e ao desenvolvimento legislativo da tutela ambiental no mundo contemporâneo. 
33
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do Meio Ambiente
Introdução 
Pretende-se analisar, nesta aula, os processos que conduziram a humanidade ao 
atual estágio de preocupação com a problemática ambiental, a partir do recrudescimento 
da agressividade da ação humana sobre o meio ambiente e os efeitos reflexivos dessas 
agressões sobre a própria civilização humana. 
Partindo do reconhecimento do incremento dos riscos no atual modelo de produção capitalista, 
eminente e representativo da modernidade contemporânea, busca-se verificar como ocorre 
sua distribuição em detrimento da riqueza produzida na sociedade. Com o desenvolvimento 
da técnica nos campos científicos e tecnológicos, os riscos produzidos pelo homem passam 
a ameaçar a humanidade em nível global, na medida em que alteram drasticamente as 
condições do meio e do ecossistema terreno. 
Também é analisada a iniciativa internacional de mobilização das nações para que o tratamento 
da problemática ambiental receba a devida atenção e tutela por parte dos Estados, com a 
criação de dispositivos legais que possibilitem a efetividade desta tarefa. 
No caso específico do Brasil, expõe-se o assento constitucional dado à questão ambiental, 
erigida ao status de princípio fundamental pelo Constituinte de 1988, percebendo tratamento 
legal a partir da Lei n. 9.605/1998, que define os Crimes contra o Meio Ambiente. 
1. A Questão Ambiental 
Sem receio de quedar-se em equívoco, pode-se conceber que a forma de relacionamento do 
homem com o meio ambiente definiu os rumos da civilização humana desde seus primórdios. A 
partir dos primeiros grupos sociais coletores, que sobreviviam dos recursos naturais disponíveis, 
até a atual sociedade pós-industrial, em que técnicas de produção dos recursos necessários 
são dominadas pela humanidade, o meio impõe desafios ao homem, que busca compreendê-lo 
e dominá-lo em um embate inglório sem maiores perspectivas de êxito. 
A busca do controle da natureza parte do incremento do conhecimento de seus processos 
e peculiaridades. Reconhecendo a impossibilidade de plena cognição de qualquer objeto do 
34
saber, mais ainda do exercício de plena dominação do meio pelo homem, buscou-se identificar 
os riscos inerentes aos fenômenos naturais, como forma de reduzir os efeitos indesejados da 
imprevisibilidade destes para a sociedade. 
Entretanto, no modelo social capitalista, inerente à pós-modernidade, em que a escassez é 
traço determinante, o processo de produção social da riqueza é concomitante à produção 
social de riscos. Aos problemas e conflitos distributivos da sociedade marcada pela escassez 
sobrepõem-se os problemas e conflitos surgidos a partir da produção, definição e distribuição 
de riscos produzidos científico-tecnologicamente.1 Porém, a divisão desigual da riqueza social 
legitimada pelo formato econômico assumido não se espelha no que se refere aos riscos, que 
são socializados e globalizados. 
As mudanças observadas atualmente no sistema da Terra não encontram precedentes na 
história da humanidade, mostrando que os esforços para reduzir o ritmo ou tamanho destas 
modificações não lograram o êxito esperado. Pelo contrário, ao passo que a ação humana 
acelera, estamos próximos de alcançar diversos limiares críticos globais, regionais e locais, 
sendo que é provável que alguns pontos de irreversibilidade tenham sido ultrapassados, podendo 
ocasionar mudanças abruptas e potencialmente irreversíveis às funções que sustentam a vida 
do planeta, com implicações adversas significativas para o bem-estar humano.2 
Vislumbrando mudanças na vida humana face à Terra nos últimos anos, fica claro que 
não passaram desapercebidas, tendo havido uma inegável conscientização acerca destas 
alterações e da crise ecológica, sendo crescente a preocupação da humanidade com a 
questão ambiental.3
Em 1972, a ONU promulgou a Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente 
como resultado da Conferência realizada em Estocolmo, criando um programa específico 
(PNUMA) para tratar de questões ambientais e elencando critérios e princípios comuns para 
1 BECK, Ulrich. Sociedade de risco – rumo a uma outra modernidade. Tradução de Sebastião Nascimento. 2. ed. São 
Paulo: Editora 34, 2011, p. 27.
2 ONU. Relatório Panorama Global Ambiental – Geo5. Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente. 2012. Dis-
ponível em: <http://www.pnuma.org.br/admin/publicacoes/texto/GEO5_RESUMO_FORMULADORES_POLITICAS.pdf>. 
Acesso em: 16 maio 2015. 
3 RIEGER, Renata Jardim da Cunha. A posição de garantia no Direito Penal Ambiental – O dever de tutela do Meio-
Ambiente na criminalidade de empresa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 25.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do 
Meio Ambiente
35
a preservação do meio ambiente. Este documento serviu de paradigma e referencial ético 
para a comunidade internacional, a partir da recomendação da inclusão da problemática 
ambiental nos ordenamentos jurídicos como direito humano fundamental.4 
Em 1992, realizou-se novo encontro, desta vez no Rio de Janeiro, conhecido como “Eco-92”, 
em que os princípios do encontro realizado na Suécia foram reafirmados e complementados, 
com vistas a “estabelecer uma nova e justa parceria global mediante a criação de novos níveis 
de cooperação entre os Estados, os setores-chaves da sociedade e os indivíduos”.5 O grande 
êxito do encontro recaiu sobre o reconhecimento da assimetria entre países desenvolvidos e 
poluentes e aqueles em estágio de desenvolvimento, no que tange à responsabilidade destes 
no plano internacional. 
Na contemporaneidade, a tutela jurídica do am-
biente é uma exigência globalmente reconhecida, 
desenvolvendo-se a evolução normativa a partir de 
um imperativo elementar de sobrevivência e solida-
riedade de responsabilidade histórica das nações 
pela preservação da natureza para o presente e 
para o futuro.6 
O Direito Ambiental apresenta-se com traços de elevada complexidade, por causa de sua 
dependência científica e interdisciplinar, além da considerável incidência de conflitos de 
interesses, motivações econômicas epolíticas na sua formulação e aplicação. Situa-se em 
uma área de confluência de decisões políticas que refletem na escolha de valores éticos, 
jurídicos, culturais, econômicos e sociais novos, ainda em fase de afirmação.7 
4 KRELL, Andreas Joachim. Do meio ambiente. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; STRECK, Lênio Luis; MENDES, 
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang (Orgs.) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 
2013, p. 2079.
5 ONU. Declaração do Rio sobre meio-ambiente e desenvolvimento, 1992. Disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/
img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 16 maio 2015.
6 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 12.
7 KRELL, Andreas Joachim. Do meio ambiente. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; STRECK, Lênio Luis; MENDES, 
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang (Orgs.) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 
2013, p. 2078.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do Meio Ambiente
Saiba Mais
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. 
Curso de direito ambiental brasileiro. 
11. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010. 
36
Neste cenário, o recurso ao Direito Penal decorre de uma opção político-criminal do legislador 
brasileiro, que segue a tendência global de instrumentalização jurídico-criminal do aparato 
repressivo do Estado, percebida nos movimentos de expansionismo penal. 
2. O expansionismo Penal 
As mais recentes mudanças nos meios de controle do crime foram conduzidas não 
apenas por considerações criminológicas, mas também por forças históricas que transforma-
ram a vida social e econômica da segunda metade 
do século XX.8 Jesús-Maria Silva Sánchez afirma: “a 
existência de uma tendência claramente dominante 
em todas as legislações no sentido da introdução 
de novos tipos penais, com um agravamento dos já 
existentes”.9
Desde a década de 1970, a evolução do Direito Penal material e processual se caracteriza, 
sobretudo, por sua notável expansão. Tal ampliação da pretensão de controle penal pode 
perceber-se facilmente em uma série de subsistemas sociais (por exemplo, meio ambiente, 
economia, comunicação, política etc.). Assim, o Direito Penal simbólico substitui nestes 
âmbitos a antiga forma de intervenção de caráter político-social; o controle penal deve 
conseguir o que aos outros meios (políticos) não parece alcançável: a prevenção e a evitação 
de condutas socialmente lesivas.10
Atualmente, a realidade afasta o pensamento penal de sua forma classicamente concebida,11 
mostrando-se inconcebível o estudo das relações jurídico-penais “deste cenário complexo por 
um viés moderno, baseado em aparatos legais ultrapassados, datados de quando apenas a 
8 GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Tradução de André Nasci-
mento. Rio de Janeiro:.Revan, 2008, p. 181.
9 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A expansão do direito: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 
Tradução de Luiz Otávio de Oliveira Rocha. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 28.
10 BESTE, Hubert; VOB, Michael. Las deformaciones del derecho penal por los servicios privados de seguridád. In: CA-
SABONA, Carlos Maria Romeo (Coord.). La insostenible situación del derecho penal. Albolote: Comares, 1999, p. 347.
11 CAPELLARI, Álisson dos Santos. Controle penal das movimentações financeiras: dever de informar versus direito à 
privacidade. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2013, p. 117.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do 
Meio Ambiente
Links
Para mais informações e dados atua-
lizados, veja: <http://www.ibccrim.org.
br>.
37
criminalidade clássica apresentava uma real ameaça à dinâmica social”.12 
A expansão do Direito Penal é analisada por Löic Wacquant como fruto da aplicação do modelo 
neoliberal13 – que sustenta o “Estado Social Mínimo” em favor de um “Estado Penal Máximo”, 
apontando este como o grande paradoxo dessa ideologia, ao tempo em que a penalidade 
neoliberal intenta sanar com uma maior intervenção estatal policialesca e penitenciária, 
“o ‘menos Estado’ econômico e social que é a própria causa da escalada generalizada da 
insegurança objetiva e subjetiva em todos os países [...]”.14 
Jesús-Maria Silva Sánchez contrapõe-se a essa perspectiva, aludindo que a expansão do 
Direito Penal deve-se à limitada capacidade do Direito Penal Clássico de combater delitos 
diversos originados da constatação deste novo contexto paradigmático da complexidade na 
sociedade pós-moderna:
[...] Criação de novos ‘bens jurídico-penais’, ampliação dos espaços de risco 
jurídico-penalmente relevantes, flexibilização das regras de imputação e 
relativização dos princípios políticos-criminais de garantia não seriam mais que 
aspectos dessa tendência geral, à qual cabe referir-se com o termo ‘expansão’. 
[...]15
Silva Sánchez refere-se, ainda, ao fato de que o fenômeno da expansão do direito penal 
manifesta-se como resultante de “uma espécie de perversidade do aparato estatal, que 
buscaria no permanente recurso à legislação penal uma (aparente) solução fácil aos problemas 
sociais [...]”,16 ao mesmo tempo em que deslocaria tal resolução do plano da proteção efetiva 
(instrumentalidade) para um plano simbólico.17
12 CAPELLARI, Álisson dos Santos. Controle penal das movimentações financeiras: dever de informar versus direito à 
privacidade. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2013, p. 118.
13 Norberto Bobbio define o neoliberalismo como a doutrina econômica consequente da qual o liberalismo político é 
apenas um modo de realização, nem sempre necessário, ou, em outros termos, uma defesa intransigente da liberdade 
econômica, da qual a liberdade política é apenas um corolário (BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 6. ed. São 
Paulo: Brasiliense, 1997, p. 87).
14 WACQUANT, Löic. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001, p. 7.
15 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A expansão do direito: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 
Tradução de Luiz Otávio de Oliveira Rocha. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 28.
16 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A expansão do direito: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 
Tradução de Luiz Otávio de Oliveira Rocha. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 29.
17 SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A expansão do direito: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 
Tradução de Luiz Otávio de Oliveira Rocha. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 29.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do Meio Ambiente
38
A tensão percebida entre a ideia de uma maior ou menor intervenção penal do Estado é 
referida por Luigi Ferrajoli sob a perspectiva da tendenciosidade de determinado Estado a 
um “Direito Penal Mínimo” e “Direito Penal Máximo”, referindo-se a maiores ou menores 
“vínculos garantistas estruturalmente internos ao sistema quanto à quantidade e qualidade 
das proibições e das penas nele estabelecidas”.18 
Entre os extremos, Ferrajoli aponta “sistemas intermediários, até o ponto de que se deverá 
falar mais apropriadamente, a propósito das instituições e dos ordenamentos concretos, de 
uma tendência ao direito penal máximo [...]”.19 Como Sérgio Salomão Shecaira leciona: 
O modelo padrão de comportamento social dos países globalizados sugere a 
existência de novos paradigmas normativos de análise jurídica. Surgem novos 
patamares punitivos com o incremento da repressão penal. Manifesta-se, 
sobremaneira, em determinadas esferas, com a criação de novos tipos penais e 
com o aumento da severidade das penas.20 
Analisada polêmica acerca das justificações para o expansionismo penal, constata-se que 
esse incremento dos espaços daresposta jurídico-criminal forjou-se por meio de “arsenal 
punitivo construído sob categorias escassamente garantistas”,21 “a partir de uma ideia de 
‘expansão’ do Direito Penal sem qualquer consideração com a busca de uma resposta 
racional”.22 
No que tange à ideia de racionalidade na resposta jurídico-penal, “existe um nexo profundo 
entre garantismo e racionalismo”,23 referindo-se ao modelo do direito penal mínimo, 
sustentando acerca do Direito Penal que o mesmo apenas pode ser considerado racional e 
18 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer Sica; Fauzi Hassan 
Choukr; Juarez Tavares; Luiz Flávio Gomes. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 101. 
19 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer Sica; Fauzi Hassan 
Choukr; Juarez Tavares; Luiz Flávio Gomes. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 103.
20 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Ainda a expansão do direito penal: o papel do dolo eventual. Revista Brasileira de Ciên-
cias Criminais, São Paulo, v. 15, n. 64, p. 234, jan./fev. 2007.
21 FAYET JUNIOR, Ney. Criminalidade Econômica e Princípio da Racionalidade. In: GAUER, Ruth Maria Chittó (Org.) 
Criminologia e sistemas jurídico-penais contemporâneos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p. 173-196.
22 Ibidem, p. 173-196. 
23 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer Sica; Fauzi Hassan 
Choukr; Juarez Tavares; Luiz Flávio Gomes. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribuinais, 2010, p. 102.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do 
Meio Ambiente
39
correto “à medida em que suas intervenções são previsíveis; apenas aquelas motivadas por 
argumentos cognitivos de que resultem como determinável a ‘verdade formal’”.24
De outra banda, há de se assumir que o modelo do direito penal máximo apresenta-se como 
“incondicionado e ilimitado”, caracterizado por uma severidade excessiva, bem como pela 
incerteza e pela imprevisibilidade nas condenações e nas penas, que se configura “como um 
sistema de poder não controlável racionalmente em face da ausência de parâmetros certos e 
racionais de convalidação e anulação”.25
Partindo dos apontamentos suscitados anteriormente, há de se focar os fundamentos 
constitucionais de proteção do meio ambiente, bem como os principais dispositivos criminais 
presentes na legislação criminal brasileira. 
3. Fundamentos Constitucionais da Tutela Jurídico-Penal do Meio 
Ambiente
O reconhecimento do meio ambiente como interesse da humanidade, na medida do 
incremento da necessidade de enfrentamento dos problemas decorrentes das questões 
ambientais, levou o constituinte brasileiro a estabelecer um direito fundamental ao meio 
ambiente equilibrado, conforme disposto no artigo 225 da Constituição Brasileira de 1988, 
que estende e reforça o significado dos direitos à vida e à saúde, além da dignidade da 
pessoa humana, para garantir uma vida saudável e digna que propicie o desenvolvimento 
humano,26 resguardando inclusive o direito de futuras gerações (“solidariedade geracional”).
Como objeto de proteção constitucional, o conceito de meio ambiente não abarca somente 
elementos naturais (como água, ar, solo etc.), mas também seus aspectos artificiais e culturais, 
no que se inclui a estética da paisagem natural e o ambiente construído pelo próprio homem, 
como o patrimônio histórico e cultural. 
24 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer Sica; Fauzi Hassan 
Choukr; Juarez Tavares; Luiz Flávio Gomes. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribuinais, 2010, p. 102.
25 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. Tradução de Ana Paula Zomer Sica; Fauzi Hassan 
Choukr; Juarez Tavares; Luiz Flávio Gomes. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribuinais, 2010, p. 102.
26 KRELL, Andreas Joachim. Do meio ambiente. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; STRECK, Lênio Luis; MENDES, 
Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang (Orgs.) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 
2013, p. 2078. 
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do Meio Ambiente
40
Desta forma, o ambiente apresenta-se como um bem jurídico de natureza metaindividual, 
de cunho difuso, dirigido ao coletivo ou ao social, de representação informal em certos 
setores da sociedade, com sujeitos indeterminados e cuja lesão tem natureza extensiva ou 
disseminada.27 Trata-se de bem jurídico peculiar à própria natureza do Estado democrático e 
social de direito (estado-coletividade), materialmente considerado.28
A partir da inclusão de um mandado expresso de criminalização que prevê a cominação de 
sanções penais e administrativas para pessoas físicas e jurídicas que causem lesão ao bem 
jurídico, o constituinte originário determinou a intervenção, reduzindo a discricionariedade 
do legislador infraconstitucional e estabelecendo a imposição de medidas coercitivas a 
transgressores do bem jurídico meio ambiente.29
Outro aspecto relevante refere-se à responsabilização penal da pessoa jurídica, consoante 
disposição do artigo 173, § 5º da Constituição Federal,30 na hipótese do artigo 225, §3º,31 de 
ocorrência de condutas lesivas ao meio ambiente, que não encontra similar no ordenamento 
jurídico brasileiro. A temática ainda é polêmica na doutrina brasileira, coexistindo opiniões 
contrárias32 acerca da adequação dogmática do instituto perante o modelo brasileiro de 
imputação da responsabilidade penal.33
27 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 78.
28 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 78.
29 PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 79.
30 Art. 173 [...] 
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade 
desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e finan-
ceira e contra a economia popular.
31 Art. 225 [...] 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídi-
cas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
32 “Logo a criminalização da pessoa jurídica, como forma de responsabilidade penal impessoal, é inconstitucional: as 
normas do art. 173, § 5º e do art. 225, §5º, da Constituição, não instituíram – nem autorizaram o legislador ordinário a 
instituir a exceção da responsabilidade penal da pessoa jurídica”. Conforme DOS SANTOS, Juarez Cirino. Responsabili-
dade Penal da Pessoa Jurídica. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade Penal da Pessoa 
Jurídica – em defesa do princípio da pessoa jurídica - em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 279.
33 Dá-se o nome de “Sistema de dupla imputação” ao mecanismo de imputação de responsabilidade penal às pessoas 
jurídicas, sem prejuízo da responsabilidade pessoal das pessoas físicas que contribuíram para a consecução do ato. 
(SHECAIRA, Sérgio Salomão. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p. 137.
Aula 02 | Breves Apontamentos sobre a Tutela Penal do 
Meio Ambiente
41
Passa-se, assim, a analisar os principais dispositivos jurídico-penais constantes em nosso 
ordenamento, que, reconhecendo o meio ambiente como bem jurídico digno da tutela penal, 
pretendem perfazer sua tutela. 
4. A Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente
A Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente (Lei n. 9.605, de 12 fev. 1998) apresenta 
natureza híbrida, constituída de conteúdo penal, administrativo e internacional.34

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