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O TAO das constelações Ana da Fonte O TAO das constelações 3ª edição Recife Constelar 2018 Copyright © 2018, Constelar Projeto gráfico-editorial e revisão Salete Rêgo Barros Capa Késsia de Souza Ilustrações Dani Acioli F682t Fonte, Ana da, 1960 - O TAO das constelações / Ana da Fonte; prefácio Paulo Henrique Martins; ilustrações Dani Acioli e Késsia de Souza. – Recife: Constelar, 2016. 238p. : il. 3ª edição Inclui bibliografia. ISBN 978-85-93013-00-3. 1. TAOÍSMO. 2. TAOÍSMO – HISTÓRIA. 3. FILOSOFIA TAOÍSTA. 4. CIÊNCIA – FILOSOFIA. 5. EXISTENCIALISMO. 6. ESPIRITUALI DADE. 7. AUTOCONHECIMENTO. 8. RELAÇÕES INTERPESSOAIS. 9. MENTE CORPO (TERAPIA). I. Martins, Pau- lo Henrique. II. Acioli, Dani. III. Souza, Késsia de. IV. Título. CDU 299.513 CDD 299.514 PeR – BPE 16-570 Edição: Novoestilo Edições do Autor Rua Luiz Guimarães, 555, Poço – Recife-PE Fone: 81 32433927 www.culturanordestina.com.br O Tao das Constelações | Ana da Fonte 5 Sumário Prefácio ............................................................................................. 7 Agradecimentos ............................................................................. 15 Introdução ...................................................................................... 17 Capítulo 1 ....................................................................................... 23 Visão sistêmica e despertar do TAO ............................................... 23 Como atua o ser vivo .................................................................. 27 Elementos fundamentais do ser vivo ......................................... 29 Relacionamentos sistêmicos ...................................................... 33 O pulsar da vida .......................................................................... 33 O despertar do ser vivo .............................................................. 42 Encontrando o verdadeiro potencial ......................................... 45 A força do pensamento sobre nossas ações .............................. 48 Liberando nossas constelações .................................................. 57 Capítulo 2 ....................................................................................... 61 TAO e ancestralidade ..................................................................... 61 Retorno do TAO pela ancestralidade ......................................... 64 Ancestralidade – O Retorno do TAO .......................................... 66 TAO e Constelações Sistêmicas .................................................. 67 Reconhecendo as diversas constelações ................................... 73 Redoma familiar e sua importância na sobrevivência da família .. 84 Ordens do amor nas constelações ............................................. 93 O Tao das Constelações | Ana da Fonte 6 Capítulo 3 ....................................................................................... 95 Corpo Sistêmico – uma memória viva ........................................... 95 Corpo Sistêmico ......................................................................... 97 Observação do corpo - uma chave para mudança .................. 103 O mundo em nosso corpo ........................................................ 104 Emoções e sentimentos ativados na convivência ....................... 112 Fluxo de vida se move na família ............................................. 117 Corpo – uma memória viva ...................................................... 123 Em ressonância com o corpo de dor do outro......................... 139 Em conexão com nosso corpo ................................................. 141 Capítulo 4 ..................................................................................... 147 O TAO dos relacionamentos ........................................................ 147 Crenças ancestrais .................................................................... 155 Curvas de contração e expansão nas relações ........................ 157 Equilíbrio no desequilíbrio ....................................................... 163 Aprisionamentos mútuos ......................................................... 165 Relacionamentos incompletos ................................................. 169 Resgatando a totalidade através do masculino e do feminino 180 O tamanho do medo, o tamanho do amor .............................. 192 Conclusão ..................................................................................... 195 TAO das Constelações ................................................................... 195 Depoimentos ............................................................................... 233 Bibliografia ................................................................................... 237 O Tao das Constelações | Ana da Fonte 7 Prefácio Numa primeira aproximação, a Constelação Sistêmica suge- re filiação a campos disciplinares consagrados, como a psicologia, o psicodrama, a psicoterapia familiar e mesmo a psicanálise. Este enquadramento é um erro de avaliação, assim como as tentativas de reduzir este novo campo a uma das subdisciplinas da sociologia acadêmica, como aquelas da sociologia da família, das organizações ou do corpo e das emoções. Esses esforços de definição conceitual são válidos na medida em que revelam as tentativas dos pensado- res contemporâneos de explicar as mudanças do velho paradigma racionalista da modernidade, fundado no controle instrumental da natureza humana e ambiental para novos paradigmas mais comple- xos, e que respondam à importância de entendimento da totalidade do que chamamos de vida, inclusive a humana. Porém, tais defini- ções pecam por não considerar que estamos lidando, aqui, com a emergência de um novo sistema de pensamento complexo, um novo paradigma científico, o qual não pode ser enquadrado a partir de qualquer simplificação teórica, na medida em que é fundado numa ampla variedade de disciplinas situadas entre a filosofia, a metafísica, a epistemologia científica e as ciências sociais e no inte- rior desta última, a teoria da dádiva. O fato é que na busca por novos paradigmas que deem sentido às mutações da sociedade humana numa realidade larga- mente caótica, os estudos e o método da Constelação Sistêmica vêm se impondo a partir de um movimento terapêutico e pedagó- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 8 gico que se expande, inicialmente, fora do universo acadêmico. Contudo, aos poucos, tem chamado atenção da crítica acadêmica, na medida em que não há como negar sua importância científica. Sua progressiva legitimação se dá a partir da aceitação crescente que vem recebendo da opinião pública, na medida em que de- monstra grande eficácia na resolução de conflitos sistêmicos, em geral, familiares e organizacionais, em particular. Nesta linha de reflexão, voltada para entender os fundamentos de seu sucesso como novo paradigma científico, sugere-se associar a Constelação Sistêmica ao movimento de renovação do pensamento crítico e à emergência de correntes de pensamento complexas como o fo- ram, em suas outras épocas, o positivismo, o marxismo, a psicaná- lise e o estruturalismo. A Constelação Sistêmica nasce pelas mãos do filósofo ale- mão Bert Hellinger, que buscou organizar, ainda nos anos setenta, um novo método de trabalho de base sistêmica para resolução de conflitosfamiliares, considerando para isso as contribuições da psi- canálise, do psicodrama e da análise transacional e sua rica vivência pessoal como teólogo e terapeuta. A origem do método explica porque muitos ainda denominam este novo campo disciplinar de Constelação Familiar, o que me parece um reducionismo que não dá conta da complexidade epistemológica que vem sendo apresen- tada pelo desenvolvimento deste campo de pensamento nas últi- mas décadas, não somente na Europa, mas em outros países, entre eles o Brasil. O presente livro de autoria de Ana da Fonte, denomi- nado o TAO das constelações, por exemplo, constitui um esforço bem sucedido de ampliação dos fundamentos científicos e dos usos práticos da Constelação Sistêmica, como veremos mais adiante. Por ora, é importante assinalar que a grande receptividade que vem tendo este novo campo de conhecimento/ação está liga- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 9 da aos resultados rápidos e eficazes que apresenta para resolução de conflitos diversos, tendo, em particular, grande impacto na resolução de conflitos familiares complexos marcados por violên- cias e exclusões. Mas seus usos têm sido ampliados, como o de- monstra este livro, para abranger outros tipos de conflitos de na- tureza social envolvendo organizações, mas também conflitos de natureza energética que provocam enfermidades orgânicas, men- tais e espirituais diversas. De fato, os novos conflitos que nascem da complexidade da vida contemporânea marcada por fortes emoções, não podem mais ser resolvidos pelos métodos psicológi- cos, sociológicos e religiosos tradicionais. Os novos conflitos e ex- periências emocionais possuem um caráter sistêmico inédito, re- sultante de mudanças importantes nas crenças, valores e regras coletivas, com impactos sobre as redes sociais e mesmo sobre a estrutura corporal. Do ponto de vista metodológico, a resolução prática dos novos conflitos que emergem no final do século XX e neste século XXI, constitui um desafio que extrapola as fórmulas de resolução tradicionais oferecidas pelos sistemas jurídicos, pelas psicologias e pelas religiões. Estes novos conflitos extrapolam a positividade das normas jurídicas tradicionais, as saídas de fortale- cimento das personalidades e dos egos individuais e coletivos, e a punição pela culpa e pelo medo impostas tradicionalmente pelas as normas religiosas e patriarcais. No meu entender, a localização da Constelação Sistêmica no interior das Ciências do Homem, hoje, está mais próxima de gran- des sistemas de ação de caráter interdisciplinar e situados nos cru- zamentos da filosofia fenomenológica, da teoria dos sistemas, da psicanálise e da sociologia. Este novo paradigma vem contribuindo decisivamente para a redefinição conceitual da ideia de experiência humana, articulando em novo plano o objetivo e o subjetivo, o cor- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 10 po, a mente e a alma. Ele também está contribuindo para a redefi- nição dos métodos de observação ao valorizar um novo entendi- mento sistêmico da realidade observável em vários níveis: dos rela- cionamentos como redes morfogenéticas, da compreensão afetiva da vida que se revela pelas “ordens do amor”, e de uma dinâmica de reciprocidade oferecida pela circulação de dádivas, de ações de doação, recepção e retribuição de bens simbólicos, que dão amplo valor moral e afetivo aos relacionamentos. Isso tudo interfere na redefinição do que seja experiência vivida ou do que os sociólogos fenomenológicos denominam de “mundo da vida”. Em particular, penso que a Constelação Sistêmica tem mui- tas proximidades com o que foi pensado como Sociologia no sécu- lo XIX, que se constituía num abrangente campo disciplinar volta- do para interrogar os fundamentos da sociedade industrial euro- peia e oferecer informações e reflexões relevantes para a organi- zação daquela modernidade. Hoje, num contexto de declínio dos valores e regras desta modernidade ocidental, que tomba exausta sob o peso de uma racionalidade instrumental, usada de forma inconsequente, surge um novo esforço de renovação da ciência da vida social e de retomada desta sociologia como ciência da socie- dade, formada nas fronteiras da fenomenologia da vida cotidiana e dos sistemas complexos. Certamente, os desafios históricos são outros, exigindo profundas reinterpretações dos sistemas teóricos e práticos. Neste contexto, a Constelação Sistêmica aparece como uma das tentativas intelectuais mais bem sucedidas – o que é pro- vado pela fama que vem ganhando junto a opinião pública - na atualização do entendimento complexo da sociedade, dialogando com aqueles estudos atuais voltados para a ressignificação dos sistemas identitários, como são aqueles da dádiva, do reconheci- mento e dos que enfocam o gênero, a etnicidade e as gerações. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 11 O presente livro de Ana da Fonte intitulado o TAO das Constelações contribui, no meu entender, para ampliar e atualizar o caráter teórico e os usos práticos daquilo que foi inicialmente concebido como um método de resolução de conflitos familiares, e que vem evoluindo para se apresentar como um novo paradig- ma científico. A autora amplia os entendimentos e os usos do mé- todo, ao trazer para o debate as contribuições do Taoísmo, um conjunto de saberes tradicionais originados na China, há mais de cinco mil anos, e que constitui uma fenomenologia de interesse eminentemente prático. Associando os avanços contemporâneos da teoria dos sistemas com esta fenomenologia prática criada, inicialmente, pelo mestre Lao-Tsé, Ana da Fonte consegue alargar a ideia de vida social para aquela de vida em geral, vida total, a qual inclui tanto as forças da vida no sentido horizontal, das práti- cas concretas entre indivíduos e grupos sociais, e no sentido verti- cal, das relações de cada um de nós com os mistérios maiores que englobam o Viver e o Ser neste planeta. Dessa forma, é que este livro constitui uma contribuição muito relevante para fazer avan- çar uma nova prática teórica e energética dos relacionamentos horizontais e verticais. Ele põe em evidência, por um lado, a im- portância do corpo na produção da saúde física, mental e social, e, por outro, a “alma” na germinação de um entendimento generoso e solidário do ser humano com os sistemas vivos e sociais e com a liberação de emoções positivas que libertam uma nova presença do sujeito humano no seu ecossistema vivo e no horizonte mais amplo das ancestralidades. A inovação deste livro é dada, em primeiro lugar, pela tra- jetória biográfica da autora. Engenheira química de formação aca- dêmica, logo descobriu no interior das fábricas o valor da intera- ção humana na emergência de motivações coletivas no trabalho. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 12 Mais tarde, ampliou este entendimento nas assessorias prestadas a empresas do setor terciário, onde aprofundou sua percepção fenomenológica das motivações humanas na produção, no con- sumo e na experiência estetizante da vida. Aos poucos foi deslo- cando sua curiosidade científica para incorporar um entendimento mais íntimo das relações humanas, o que a levou a uma série de formações profissionais que a transformaram na terapêutica sis- têmica que é hoje. Desde a década de oitenta enveredou pelos estudos aprofundados do autoconhecimento, o que a levou a des- cobrir a Constelação Sistêmica como uma resposta teórica e práti- ca importante na sua busca espiritual e sociológica. Há mais de dezoito anos atua como divulgadora e facilitadora de constelações sistêmicas. A fundação do Constelar – Instituto de Práticas Sistê- micas do Brasil – constitui uma iniciativa institucional fundamental para a divulgação da Constelação Sistêmica em vários níveis: na geração de novos facilitadores, na facilitação de casos empíricos e na promoção do método de Hellinger e dos novos divulgadores do método, tanto pela organização de cursos comode palestras. O presente livro consiste, logo, numa reflexão aprofundada a partir de vivências de vários anos da autora com as facilitações de constelações com sistemas de relacionamentos humanos. A autora explora as perspectivas de olhares múltiplos da realidade, ofereci- dos pelos diálogos entre as fenomenologias ocidentais e orientais com a teoria dos sistemas e com os estudos sobre a dádiva. Sua preocupação em articular, a partir de um olhar científico objetivo, porém amoroso, as tradições orientais e ocidentais, constitui uma contribuição original para revelar a ideia da alma como construção sistêmica e prática aberta aos efeitos ecológicos, espirituais, cultu- rais, sociais e afetivos, presentes em cada grupo social e na relação do ser vivo com seu corpo, sua mente, sua alma e sua história. Tal O Tao das Constelações | Ana da Fonte 13 abordagem ajuda a entender que a solução dos emaranhados da alma pode ser realizada com o despertar da consciência do sujeito humano como corpo vibrante que funciona como rede vital na reso- lução do sofrimento social e existencial, com vistas a liberar uma vida mais digna e generosa dos indivíduos neste planeta. Na verdade, o TAO das Constelações já vinha sendo lapidado há vários anos, aguardando apenas o seu momento de aparecimen- to, que é o presente contexto das práticas humanas, marcado por sofrimentos gerados por violências, desigualdades e alienação em relação ao valor dos vínculos sociais e da espiritualidade. Mas tam- bém de inovações tecnológicas e de liberação de novos paradigmas humanistas. Neste sentido, é uma contribuição inestimável ao ofe- recer luzes sobre o funcionamento da alma humana em contextos de crise, indicando as chaves para a liberação de outros modos de viver, mais dignos e solidários. Constitui, sem dúvidas, uma impor- tante contribuição para a difusão das Constelações Sistêmicas, não somente como práticas terapêuticas, mas, sobretudo, como con- junto de saberes práticos necessários na renovação das ciências da sociedade e da liberação espiritual. Não se trata, como foi dito, de um texto apenas teórico, embora também o seja. Mas consiste, sobretudo, em um manual de valor prático para orientar aquelas pessoas que estão buscando entender e transformar o mundo para que a natureza amorosa do ser humano possa emergir com suavi- dade nas relações interpessoais, na vida cotidiana, no resgate de suas ancestralidades e na busca espiritual. Recife, julho de 2016 Paulo Henrique Martins O Tao das Constelações | Ana da Fonte 15 Agradecimentos Aos meus queridos pais pela dedicação e amor, ao longo de minha vida, e pelos valiosos ensinamentos de suas próprias experiências e as de seus ancestrais: integridade, respeito ao pró- ximo e liberdade de escolha em busca do meu próprio caminho ao encontro com Deus. Meu carinho e minha gratidão. Sem eles tudo seria impossível. Ao meu companheiro Paulo Henrique, em quem encontrei os profundos ensinamentos do TAO, através do Livro das muta- ções, que me trouxe abertura para novas compreensões dos di- versos movimentos cósmicos aos quais estamos interligados. Sem a sua participação, este livro não teria expressão. Ao meu filho Diogo, que me impulsionou ao encontro de um amor profundo que jamais despertaria se eu não fosse Mãe, e aos meus enteados Maíra e Lucas, que abriram portas para o amor de uma família maior. Aos muitos amigos e amigas, que acreditaram e me incen- tivaram em muitos momentos de desistência, o livro se conclui para vocês. Agradecer aos mestres Lao Tsé, Osho, Bert Hellinger e Man- tak Chia, que disponibilizaram suas experiências e seus conhecimen- tos para que eu pudesse inovar as práticas das Constelações, tem um valor especial para mim. Sem as suas trajetórias neste planeta, em tempos diferentes, jamais as práticas descritas neste livro seriam vivenciadas e, tão pouco, escritas. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 16 Finalmente, a todas as pessoas que se entregaram ao tra- balho com tanta coragem e confiança no seu expressar, é impor- tante dizer que vocês fazem parte deste livro. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 17 Introdução Dentro de mim soavam muitas vozes que, às vezes, se con- ciliavam e me faziam seguir em frente e, em outras, entravam em conflito e geravam sofrimentos em meu corpo, estagnando pro- cessos de expansão, fazendo-me pensar ser uma morta-viva. Em minha busca interior e, principalmente, através das Cons- telações, vi camadas se dissolverem em meu corpo/mente, dando- me a impressão de estar cada vez mais em meu corpo físico ou que existia mais espaço para o meu SER ficar mais livre e amoroso. Iniciei um grupo de formação tentando explicar o que acontecia no trabalho das Constelações. Trabalhamos crenças en- quanto uma força maior atuava à nossa revelia, mostrando um movimento que nos conduz, independentemente do nosso que- rer, da nossa vontade, e das metas e expectativas que criamos em nossas mentes individuais. Instalava-se uma busca pelo ponto de equilíbrio, que unia es- ses dois movimentos simultaneamente, e me fazia entender o cami- nho do meio tão falado por todos os mestres. Pensamos em Lao Tsé, mestre precursor do Taoísmo, que revelou práticas espirituais adota- das até hoje na China, e que fortalecem a integração do mundo espi- ritual no cotidiano da vida social. Surge uma imagem. Nela, os dois campos formados no tra- balho das Constelações atuam, um na vertical e outro na horizon- tal. Imediatamente, a imagem tão consagrada de uma cruz se apresenta, junto a uma explicação que o leitor deverá entender, O Tao das Constelações | Ana da Fonte 18 apenas, como um compartilhar de experiências do meu exercício de trabalho. Esses dois movimentos, na minha percepção, estão atuan- do, às vezes, como ambivalentes. Em outros momentos eles se unem trazendo o equilíbrio e a paz de que necessitamos. Exempli- ficamos um filho que quer ser músico, enquanto a família pressio- na para que ele seja médico ou engenheiro. Exercendo a função de protetora dos descendentes, a famí- lia busca argumentos lógicos sobre a profissão do médico, en- quanto que, através da força vertical, o Ser solicita dele (o filho) a representação da divindade através da música. Esses dois movimentos existem com muita força dentro de cada indivíduo, gerando conflitos e instalando sofrimentos, não apenas individual, mas coletivo. A partir do sofrimento de um, toda a família sofre. Mas essas dores atuam em cada membro de maneira diferente. Por outro lado, quando esses dois movimentos encontram o ponto de equilíbrio, quando eles coincidem no mesmo propósito, nossa criatividade se expande e nos tornamos a própria criação. So- mente neste ponto encontramos nosso Ser e despertamos para a vida em sua totalidade. A partir daí, estaremos aptos a ajudar outras pessoas a encontrar o seu ponto de equilíbrio. Tentarei explicar melhor esses movimentos, que estão sempre variando. Movimento Horizontal – Quando nascemos, estamos em momento de profunda entrega, disponíveis para a vida e sem jul- gamentos. Nossos pais / cuidadores, depositam atenção sobre nós, para que possamos ser alimentados, protegidos. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 19 Todos os seres viventes têm o amor suficiente para estar, neste momento, na graça da vida, mas as crenças que foram insta- ladas, ao longo de nossas vidas, foram nos distanciando deste mo- vimento de entrega. No planeta Terra precisamos dessas crenças (EGO) para nossa sobrevivência. Nossos medos vêm como consequência da importância de preservação da vida. Porém, se nos observarmos, veremos que muitos desses medos são instalados através das crenças de sobrevivência que tiveram sua importância em algum momento de nossas vidas. Po- deríamos largar a maioria desses medos ao longo do tempo, mas isso nem sempre acontece. Ao contrário, deixamos queeles se cristalizem enrijecendo padrões de comportamento e perdemos, dessa forma, a naturalidade e a leveza que nos é disponibilizada pela força divina. A força vertical nos pede para que voltemos a confiar na vida e não temer a morte, porque, em algum momento ela chegará, e essa experiência será vivida por todos. Movimento Vertical – A força atua sobre nós independen- temente do nosso querer. Nela atuam os destinos que nos dei- xam, muitas vezes, aflitos e querendo compreender esse mistério. Passamos por situações que nos desviam de nossos planos, vontades e até intenções mais “divinas”. Neste momento reavali- amos crenças, valores e, muitos de nós, transformamos nossas vidas para melhor. A força nos pede para ressuscitar nossa coragem, nossa tranquilidade, nossa alegria e nosso amor. A este fluxo da vida que acontece aleatoriamente, chamamos de Movimento Vertical – o movimento que nos convida a estar mais e mais vivos e em cone- xão com o Todo. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 20 Ao longo da existência humana e na luta pela sobrevivên- cia, nossos pensamentos, crenças coletivas e atitudes geram frag- mentos, sofrimentos, e produzem separatividade com o movimen- to da vida. A constelação sistêmica, criada pelo filósofo e seminarista alemão Bert Hellinger, traz a possibilidade de olharmos essas par- tes espalhadas ao longo da existência humana, auxiliando a nossa desidentificação com as dores do passado, e o reconhecimento de que somos maiores do que acreditamos ser. Este é o propósito do livro O TAO das Constelações. A ideia é trazer da cultura milenar Taoísta, entendimentos de uma recone- xão com tudo o que é vivo, e mostrar que o ser humano pode se identificar com sua parte dentro desta vasta existência, com o obje- tivo de se preservar diante dos desafios que, aos poucos, levou-o a se desconectar do Todo e a se perder de sua própria essência. O convite contido neste livro é semear possibilidades para este reencontro, através de partilha das experiências com alunos e clientes nos mais diversos grupos promovidos pelo Constelar Insti- tutos de Práticas Sistêmicas, como também vivenciadas por mim, através de encontros com mestres e suas sabedorias, ensinamen- tos e práticas que nos ajudaram a ampliar nosso campo de com- preensão no amor maior. Esperamos, com isso, que o leitor possa encontrar respostas nas suas próprias vivências e reflexões. O primeiro capítulo, A visão sistêmica e o despertar do TAO, ajuda-nos a ampliar olhares, com base em conceitos sistêmi- cos desenvolvidos pela ciência, que se alinham com sintomas apre- sentados nos indivíduos, nas famílias, nas organizações, na socieda- de e nos mais diversos sistemas, de antigas crenças, dando-nos a O Tao das Constelações | Ana da Fonte 21 oportunidade de liberarmos padrões e nos alinharmos novamente com a força que a vida nos presenteia naquele instante. No TAO e ancestralidade fazemos referência às memórias ancestrais existentes em cada um de nós, e o que mobiliza nossas escolhas pelas pressões registradas por nossa reatividade ou leal- dade à família. Compreendermos que a unidade divina passa pelos nossos pais e que o autoconhecimento, tão falado pelos buscadores, e o encontro pacífico com quem nos deu a vida, é o desafio. Os sistemas se expandem no fluxo vital. Quando uma famí- lia está em harmonia, com amor e liberdade seus membros se movem no fluxo da vida e podem expandir seu campo de visão para novas possibilidades, incluindo novas culturas, novas manei- ras de encarar os desafios, podendo viver sem as amarras do pas- sado ancestral que, em função da luta pela sobrevivência, nos afastaram de nosso ser uno. Por isso, O TAO dos relacionamentos apresenta tantos confli- tos e a complexidade da convivência com o outro, por trazermos todas essas memórias que precisam ser curadas, agora, em nossa relação mais profunda: o encontro do masculino com o feminino espelhado nas tradições e conflitos que migraram através das diver- sas gerações. Todos esses sintomas conflituosos são absorvidos, mas, muitas vezes, não compreendidos pelo nosso Corpo Sistêmico, que está nos avisando onde nos desconectamos desta alma maior que tudo une. Dessa forma podemos entender que os conflitos familiares que estão em nossa memória ancestral explicam razões por que adoecemos e até morremos precocemente, mostrando como nos O Tao das Constelações | Ana da Fonte 22 relacionamos com nossos pais e antepassados de uma maneira inconsciente, porém, sempre amorosa. Finalmente, concluímos com o mestre taoísta Lao Tsé, e al- guns de seus ensinamentos em forma de versos, mostrando como ele está presente em nosso dia-a-dia abrindo portas para as novas constelações, que nos desafiam no cotidiano de trabalho, no su- cesso, na criatividade, na família, nos relacionamentos, na espiri- tualidade, com nossos amigos e em nossa saúde, que será tema do próximo livro. Expandindo nosso campo para a eternidade, passo-a-passo no que nos é possível, e alinhando com o que a vida nos pede ago- ra, vamos encontrando nosso lugar de honra nesta vida, a qual todos nós pertencemos. Capítulo 1 Visão sistêmica e despertar do TAO O Tao das Constelações | Ana da Fonte 25 “A mente é um prisma; divide as coisas em muitas outras. A verdade é uma só.” Osho “Sistêmico” significa estarmos juntos, reconectados, unifi- cados, experienciando o outro em nós. Dessa forma permito que meu campo se expanda para que o outro faça parte de mim e eu faça parte do próprio campo receptivo que ele expande em minha direção. Essa experiência só poderá ser realizada em conexão com o amor e o princípio de igualdade. Isso é, sem nada, nem ninguém maior ou menor, melhor ou pior ou mais importante ou menos importante. Ao ampliarmos essa visão provocamos no leitor a possibilidade de se enxergar apenas como parte da grande diver- sidade que se chama Vida. Com isso, podemos enxergar o equilíbrio existente e a real origem de nossos sofrimentos e aflições. Percebendo que o fluxo da vida sempre pedirá o equilíbrio das relações e que, em um momento, o excesso de poder poderá se traduzir em um recolhi- mento por uma das partes do sistema. Assim poderíamos definir a visão sistêmica como a experi- ência do outro em nós, em um princípio do equilíbrio que, ao lon- go das páginas deste livro, iremos aprofundar. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 26 Baseada nesta definição, trataremos alguns conceitos que surgiram decorrentes das atividades realizadas em grupo de for- mação ao longo desses 15 anos de encontros, vivências com gru- pos de Constelação Sistêmica, motivação para abrir nossos cora- ções para a inclusão da memória universal que nos faz vivos e ce- lebrativos, retraduzindo o princípio do TAO. Com isso faremos sempre o jogo do equilíbrio do que nos se- para e do que nos une, conscientes de que tudo está a favor de uma ordem maior que nos apresenta a luta pela sobrevivência, mas tam- bém a possibilidade de nos encontrarmos na unicidade. Para isso são incluídas nossas crenças e padrões, sejam eles do nosso núcleo fami- liar, da nossa nação, raça ou cultura que nos separa uns dos outros, acrescentadas a outro movimento que inclui as dores desses siste- mas de crenças, que nos fazem querer ajudar e estarmos juntos, co- mo nos mostra o TAO. O Despertar do TAO é o encontro do equilíbrio dessas duas energias, que circulam em nosso corpo, construindo pontes entre o divino e o mundo manifesto (a forma). O deixar fluir esses dois canais que unem o céu e a terra, possibilitando o encontro do mundo invisível com o manifesto dentro de nós, em luz. No sentido horizontal temos a ancestralidade com toda sua memória consciente (individual) ou inconsciente (coletiva); no vertical, toda a revelação de sermos um na força maior que nos une e é capaz de criar movimentos próprios ao longo de nossa existência,a que po- demos chamar de Deus, ou mesmo o TAO. Assim é ao experienciarmos a vida no presente, incluindo toda diversidade do mundo manifesto e todo o mistério do invisí- vel, que se revela momento a momento. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 27 Como atua o ser vivo Para que estejamos em total vitalidade, devemos estar no fluxo da vida, sempre em movimento, renovando constantemente nossos padrões de interação e nos expandindo para novos apren- dizados. A VIDA querendo ser MAIS... No entanto, a maioria de nós está prisioneira de padrões que perpassam gerações. É muito comum que esses processos de apego ao velho gerem conflitos com o novo ou com o desconheci- do que quer chegar. Desse fechamento de crenças, o Carnnot comprovou, através da segunda lei da termodinâmica, que os sis- temas fechados entram em caoticidade até liberar toda a energia e depois morrer. “O sistema fechado (isolado) se encaminhará es- pontaneamente para a desordem, sempre cres- cente, perdendo calor num processo irreversível” (Sadi Carnnot, 1824) A frase acima se baseia na segunda lei da termodinâmica, que introduziu a ideia de processos irreversíveis, podendo ser aplicada às famílias e organizações. A concentração de poder, a arbitrariedade, o apego, os julgamentos e o desrespeito a outras ideias, são posicionamentos de fechamento, que provocam en- tropia (degradação) e, consequentemente, a morte dos sistemas familiares ou organizacionais. Este sistema fechado pode ser comparado aos nossos pa- drões de rigidez e de donos da verdade em relação ao mundo em O Tao das Constelações | Ana da Fonte 28 que vivemos, e nos traz a origem de muitas pressões internas vi- venciadas como sintomas em nosso corpo. Muitas vezes, a guerra que provoca tantas mortes nos sis- temas fechados, em suas crenças provocam, também, expansões para movimentos de reconciliação e paz, renovando valores ne- cessários para um novo passo na evolução da vida, que é o nosso processo natural. Carnnot também realizou experimentos em sistemas abertos, e viu a importância da alimentação contínua das energias extraídas do meio ambiente para que os sistemas permanecessem vivos. “Todo sistema aberto precisa se alimentar de um fluxo contínuo de energias extraídas do meio ambiente para permanecer vivo.” (Carnnot, 1824) Da mesma maneira, Ashby complementou as ideias de Carnnot, quando falou que as chances de sobrevivência do siste- ma dependem da riqueza e variedade de ideias que provocam mudanças estruturais de criatividade, desenvolvimento e evolução do próprio sistema. “A sobrevivência de um sistema depende de sua capacidade em gerar riqueza e variedade de idei- as que provocam mudanças estruturais de criati- vidade, desenvolvimento e evolução do sistema“. Willian Ross, 1958 (Ashby) Essas compreensões científicas podem ser comparadas com o que mestres Taoístas usaram como metáfora para as nossas vidas. Eles nos mostram a importância de sermos como um bambu que, por ser vazio internamente, fica livre do sofrimento quando O Tao das Constelações | Ana da Fonte 29 as intempéries da vida o cercam, conseguindo ser flexível quando submetido a qualquer ventania, por não resistir e nem, tampouco, se submeter. Diante da tempestade, o bambu desenvolve uma linda dança celebrativa. Com as noções que os cientistas nos promoveram, e sa- bendo de sua influência no trabalho de muitos outros cientistas importantes, que adaptam a uma nova realidade esses conceitos, tomei emprestados conceitos que o Capra desenvolveu em A teia da vida, para adaptar e explicar algumas conclusões que pude tirar ao longo do meu trabalho com as Constelações Sistêmicas, que são as reflexões que se seguem. Elementos fundamentais do ser vivo Consideramos que todo organismo vivo tem três elemen- tos interligados, onde a vida se manifesta, como assinala Capra em seu livro A teia da vida. São eles: Padrão (P) Estrutura (E) Processo de vida (PV) Ao alinharmos este conceito, veremos que ele se adequa ao exercício de muitas reflexões. Nascemos no sentido horizontal, como já foi explicado, de um pai e de uma mãe dentro de uma sociedade impregnada de valores considerados como o nosso padrão de sobrevivência. De acordo com O Tao das Constelações | Ana da Fonte 30 este padrão estruturamos nossa vida cotidiana interagindo com situ- ações que, muitas vezes, fortalecem o sistema de crenças. Diante da diversidade da vida, e neste sentido, citaria as culturas, as raças, os gêneros que se apresentam em toda a sua diversidade. Dessa forma confrontamos sempre com valores dife- rentes dos nossos, e que se apresentam, muitas vezes, como ge- radores de conflitos. No entanto, queremos sempre apresentar esse fato como uma grande fonte de revelações, que a vida ofere- ce, para o nosso processo de crescimento. Na adaptação do Capra, chamamos essa oportunidade de processo de vida. Processo vital é a atividade contínua que realimenta o sis- tema criando novos padrões, de forma dinâmica, e que favorece os relacionamentos “limpos” entre as partes, possibilitando novos ciclos. Em analogia, poderia ser um bom exemplo para o que Car- nnot provou em relação aos sistemas abertos. O sistema se beneficia quando possibilita a interação com fontes externas de alimentação e a troca de experiência entre os seus integrantes. A adoção de medidas dessa natureza favorece a evolução da humanidade. Porém, quando falamos do ser humano, todas essas trans- formações acontecem em uma estrutura chamada Corpo Físico e, nem sempre, estamos preparados para mudanças aceleradas, co- mo propõe Carnnot, porque, muitas vezes, elas mexem com a nossa sobrevivência e nos põe em risco de morte. Parece-me que temos uma força que luta a favor da sobrevivência e de sua conti- nuidade, e pede para irmos passo-a-passo. É importante visualizarmos que a vida pede novos movimen- tos, e que os que ainda persistem em preservar padrões e estruturas O Tao das Constelações | Ana da Fonte 31 antigas, também correm risco de morte, tomando novamente as experiências do Carnnot sobre sistemas fechados. Apresentamos abaixo a curva de expansão dos movimen- tos dos padrões e estruturas se renovando em todo momento. Quando um indivíduo está em expansão, uma das questões que se apresenta é sempre a necessidade de uma nova ordem para responder às novas demandas. Como nem sempre estamos prontos para grandes saltos, muitas vezes nosso corpo (estrutura) poderá entrar em colapso pelo excesso de carga energética desprendida nestes momentos, como assinala Carnnot ao definir a terceira lei da termodinâmica, quando os sistemas totalmente abertos sofrem interferências ex- ternas e são capazes de perder a sua integridade. Nas curvas a seguir, ampliamos este conceito também para outros sistemas de organização e, em especial, citamos o social, que é a soma dos sistemas individuais. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 32 A curva de expansão dos padrões sociais, do velho para um novo, é diretamente relacionada à curva dos padrões dos indiví- duos, significando que cada indivíduo favorece ou prejudica o sis- tema como o Todo. A velocidade dos desafios individuais conquistados, tam- bém beneficia a sociedade como um todo. Daí a importância de estimular a tomada de consciência dos processos destrutivos em prol da consciência maior que a todos une. Com isso, aconselhamos o movimento passo-a-passo ou sistema semiaberto, onde as trocas possíveis acontecem sem o rompimento das estruturas. No TAO se fala que para ir aos céus precisamos de fortes raízes. Daremos sempre estímulos aos novos desafios, sem perder a capacidade de agir com basena transformação realizada. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 33 Relacionamentos sistêmicos Fazemos parte de um grande sistema complexo, que inclui vários outros sistemas secundários ou subsistemas, em interação permanente uns com os outros. O planeta Terra é um grande sistema e seus participantes correspondem a subsistemas: nações, estados, corpo. No entanto, este mesmo planeta Terra é um subsistema do próprio universo. A visão sistêmica permite a compreensão da nossa condi- ção de indivíduo interferindo neste Todo maior, e da repercussão de nossos atos, inclusive sobre o destino do planeta. Cada pessoa influencia na organização do planeta (a parte interferindo no todo) e, ao mesmo tempo, é influenciada por ela (o todo interferindo na parte). Estamos conectados numa grande teia, onde as emoções (positivas e negativas) interferem de maneira efetiva no desem- penho do todo. Detalharemos como pulsam essas emoções e como pode- remos nos beneficiar delas para o nosso crescimento. O pulsar da vida Em todo organismo vivo coexistem movimentos de expan- são e tensão, o que permite que se chegue a níveis mais altos de energia. Esta é a pulsação da vida. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 34 Na observação do movimento das marés e vulcões, dentre outros movimentos da natureza, encontramos a pulsação da vida. No reino animal temos o exemplo das batidas do coração e a respiração. Não seria diferente em nossas relações, conosco e com o outro, a manifestação dessa pulsação. A vida é pulsante. Nesta percepção, detalharemos como esses movimentos acontecem em nosso cotidiano, com as imagens das curvas, que chamamos construtivas, quando elas estão em evolução, e destru- tivas, quando nos prendemos a padrões rígidos em relação ao tempo de vida. Inicialmente, apresentamos o movimento de expansão – nesta curva o movimento é ascendente – e a qualificamos como construtiva. Quando estamos “limpos” e abertos para o novo, a cada instante, existe a possibilidade de crescimento, de evolução, de melhora, de cura, sem limite. A curva de crescimento é a própria vida em evolução, numa vi- são positiva e saudável, como apresenta a figura seguinte. Curva em expansão Os sentimentos primários que favo- recem essa curva são os de alegria, cora- gem, compaixão, equilíbrio e serenidade. Os sentimentos secundários são eles: autoestima, humildade, doação. Nos grupos sociais eles são a dis- ciplina, o vínculo, o comprometimento, a O Tao das Constelações | Ana da Fonte 35 solidariedade, a harmonia, a realimentação, a criatividade e o de- senvolvimento. Esses sentimentos e comportamentos levam à expansão ilimitada do grupo e da vida. Isso só acontece no sistema aberto, não existindo nem tempo nem espaço que restrinja a criatividade. Ele é o reflexo do Todo, o TAO. Na curva construtiva, o fortalecimento de todos é im- prescindível e, por isso, é importante a catalisação dessas emo- ções que expandem. Do contrário, teremos uma curva de contração ou destru- tiva, como apresentamos abaixo. Na imagem verificamos que, se permanecemos muito tempo neste movimento, ele resultará em destruição e morte. Se o tempo de permanência for restrito, poderemos utili- zar essa contração para ajudar em nossa expansão, com os valores da curva construtiva. Curva em contração A tensão ou contração é o ou- tro movimento complementar ao mo- vimento de expansão, por ele ser um indicador de mudanças, como veremos a seguir. Porém, quando negligenciado, transforma-se em contração excessiva – cujo limite é a morte –, acarretando a O Tao das Constelações | Ana da Fonte 36 destruição do sistema. Os sentimentos primários que favorecem esta curva são os de medo, ansiedade, preocupação, tristeza e ódio. Os sentimentos secundários são: inveja, baixa estima, orgu- lho, culpa, ressentimento, mágoas, autoritarismo, entre outros. Nos grupos e estruturas eles são a desorganização, a indis- ciplina, a falta de vínculo e os conflitos provenientes deste estado de desorganização. Esses sentimentos e comportamentos, quando reforçados, ocasionam a morte de qualquer sistema de organização, que não resiste ao desperdício de energia. No entanto, o objetivo deste livro é o retorno do TAO que se expressa com a unidade dos dois movimentos, trazendo a acei- tação, o equilíbrio e uma compreensão maior do estado de total integração com o TODO. Nesta compreensão, sugerirmos as curvas a seguir, deta- lhando melhor como o construtivo e o destrutivo podem se ali- nhar realizando grandes mudanças nos indivíduos, na sociedade, no próprio planeta e, quem sabe, no Universo. Na observação das curvas, sugerimos ao leitor a reflexão e o desapego de alguns padrões antigos de comportamento, que ainda não se deram a oportunidade de ressignificar. Oportunidade de encontro do TAO dentro de nós. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 37 Migrando nas curvas e retornando ao TAO As imagens das curvas interligadas em um movimento de migração – vasos comunicantes para que os sistemas estejam em equilíbrio –, apresentam possibilidades de reflexão sobre nossos apegos ao que acontece de “bom” e ao que nos mobiliza a agarrar O Tao das Constelações | Ana da Fonte 38 este momento, assim como nossos apegos ao sofrimento, que nos induz à obtenção do ganho da atenção e do reconhecimento. Quando as entendemos como curvas que se interligam, e que uma ajuda a outra a seguir o fluxo de crescimento da vida, o tempo que passamos na curva destrutiva ficará menor por entendermos que é um movimento de contração para novas compreensões. Sabermos, também, que o nosso bem-estar nos leva a uma zona de conforto que nos impossibilita novos movimentos e que, naturalmente, acontecimentos externos irão acontecer como ca- talizadores do fluxo da vida. Ao entendermos as duas curvas, podemos concluir que, es- tando vigilantes a cada contração (dificuldade), é possível trans- formar os sentimentos “negativos” em movimento de expansão. A contração dos sentimentos diz respeito às nossas crenças (individuais e coletivas), e interfere no cotidiano. Nossos apegos alimentam o sistema de destruição. Quando os largamos, retor- namos à curva de expansão, fluindo com a vida. Podemos então considerar nossas mortes diárias (senti- mentos negativos) como pequenas experiências que o “divino” nos oferece para enxergarmos a vida – no trabalho, nas famílias e noutros grupos sociais – de forma mais harmoniosa e saudável. A curva a seguir é uma proposta para vivenciarmos a curva destrutiva, recebendo aprendizados em todo momento. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 39 O tempo é agora Podemos assim nos perguntar: – Quanto tempo nós passamos desnecessariamente na curva destrutiva, devido a mal-entendidos, ruídos na comunicação ou falta de intenções maiores com a vida? – Não seria o TEMPO, o limite que temos para ajudar esses movimentos de expansão acontecerem? Onde estamos aprisiona- dos, ainda na linha do tempo, por reclamar das curvas de contra- ção que se apresentam em nossas vidas? Como estamos alinhados com o TEMPO, dentro e fora de nós? Seguem algumas reflexões sobre esse tempo e como lida- mos com ele. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 40 O tempo como limite As pessoas apresentam diferentes crenças sobre o tempo, e isso se reflete na maneira como veem e agem. Essas expressões do cotidiano, que muitas vezes repetimos sem nos dar conta, re- forçam nossa curva destrutiva. Eis algumas delas: 1- O Tempo é a vida Indivíduos que estão na crítica, na racionalidade e na co- brança, querendo tirar da vida o que lhes faltou enquanto memó- rias de pai e mãe. 2- O tempo é o ano Corresponde àquelas pessoas que estão “presas” ao calen- dário anual e, quando o ano é difícil, justificam suas dificuldades ecrenças negativas a isso. São crenças culturais que desperdiçam tempo e energia. 3- O tempo é o mês São indivíduos que focam os problemas dentro de prazos mensais e, invariavelmente, remetem a sua resolução para o mês seguinte. Os “medidores” da sociedade repetem, monotonamente, frases do tipo “este foi um mês de crise na economia” ou “mês de agosto, mês do desgosto”. Distrações da nossa mente para não nos responsabilizarmos por nosso sucesso. 4- O tempo é a semana São pessoas que estabelecem e adiam suas metas e proces- sos de mudança para todas as segundas-feiras e dizem: “nesta se- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 41 mana deixo de fumar”, “vou fazer exercícios na próxima semana”, “segunda começo um regime” e “vou superar esse obstáculo na semana que vem”. Justificativas que tiram nossa força e estima. 5- O tempo é o dia São pessoas que determinam o sentido do seu dia na hora em que acordam, geralmente dizem: “hoje tenho certeza que acordei com o pé esquerdo”, e isso traduz, antecipadamente, a forma como ela se conduzirá. 6- O Tempo é AGORA A coragem de viver o risco da vida, sem medo de errar, compreendendo que as contrações podem nos ajudar a soluções e a experienciar muitas portas se abrindo. Hoje, através de ensinamentos de grandes mestres, já sa- bemos a importância de observarmos a nossa mente e a interfe- rência dos nossos pensamentos no bem-estar do nosso corpo. Aprofundaremos este assunto para facilitar a compreensão dos capítulos que se seguem. O convite é para refletirmos sobre os porquês dos aprisionamentos que nos impossibilitam de viver ple- namente, e observarmos que essa prisão está em nossa mente, que são apenas registros de memória e, por isso, liberar as prisões que nos trazem sofrimento e caminhar para o nosso próprio despertar. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 42 “Estamos apenas indo para estarmos aqui, então torne o tempo tão belo, tão amoroso e tão alegre quanto possível” OSHO O despertar do ser vivo “Despertar o ser é trazer luz para o seu mundo interior; e a não ser que você esteja iluminado por dentro, todas as luzes de fora não terão utilidade, e todas as suas ações surgirão desta es- curidão, desta cegueira” (Osho). Como pode alguém ir além, através da mente? A mente é limitada, está sempre ocupada por julgamentos e crenças que nos impedem de ir além. Mas também é extremamente útil à nossa sobrevivência e desenvolvimento, porque é lógica e prática. Sem a mente a ciência e o mundo não existiriam. A mente funciona sobre as coisas conhecidas, como um computador no qual se armazenam dados e informações. Porém, não somos apenas mente, nem nossa inteligência se limita a uma máquina de calcular. Temos inteligência criativa, que permite en- contrar o desconhecido, explorar o novo a partir da imaginação, e revelar coisas das quais nunca se ouviu falar. Somos ilimitados em nossa criatividade, inteligência e intuição. Todos os grandes pensadores e gênios da humanidade fo- ram inteligentes e criativos. Abertos ao novo, eles tinham fé na capacidade de sonhar e criar. Iam além das crenças e valores do- minantes, e se permitiam experimentar novas ideias, aquelas acessadas quando nos abrimos à novidade e à construção de no- vos paradigmas. Por isso se usa a palavra “insight” quando uma O Tao das Constelações | Ana da Fonte 43 informação, uma “dica” ou uma nova compreensão sobre o que estamos investigando nos é transmitida, como uma luz iluminando nossas ideias. Estudos recentes realizados por cientistas renomados, co- mo o biólogo Rupert Sheldrake (Sete experimentos que podem mudar o mundo, 2003), sistematizador da teoria morfogenética, sugerem que as grandes descobertas e criações acontecem, ao mesmo tempo, em mais de um lugar no planeta. Isso significa di- zer que novas ideias não são apenas o produto de um gênio isola- do, mas o resultado de uma experiência coletiva de mudanças, de quebra de paradigmas e dissolução de verdades estabelecidas. O gênio apenas concretiza o que a sociedade gera de for- ma, muitas vezes, caótica. O trabalho de criação em qualquer ati- vidade – econômica, política, cultural e outras – não se limita ao esforço individual, revela algo mais amplo e coletivo que chama- mos de sociedade ou Ser. Despertar para o Ser é abrir espaço para encontrar em nós a inteligência maior que utiliza a mente como veículo para concretizar suas ideias. Autoconhecimento – o caminho do desenvolvimento Autoconhecimento é um mergulho no próprio ser. Quanto mais profundo o mergulho, mais clareza nós temos da nossa inte- ligência, criatividade e sabedoria. Assim procedendo, ampliamos nossa religação com a fonte natural, desfazendo medos, bloqueios e crenças, e dando espaço para o novo. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 44 Abrindo os canais de energia “A natureza dá a todos a energia criati- va. Esta só se torna destrutiva quando é obstru- ída, quando não se permite seu fluxo natural.” (Osho, Criatividade: Liberando sua força Interior, pág. 46). Quando reprimimos emoções e sentimentos ou estagna- mos conhecimentos, bloqueamos em nosso corpo a energia vital que deveria fluir, trazendo nossa real inteligência de criar sem O Tao das Constelações | Ana da Fonte 45 limites. A figura anterior mostra um corpo em total vitalidade, sem nenhuma tensão, sem nenhuma repressão nos seus pensamentos. Livre apenas para criar. A vida é como o corpo da figura acima, dinâmica! Sempre recebendo energia extra. É preciso tomar consciência da nossa força e da nossa fon- te: a capacidade que temos de gerar energia e abrir espaço para que o fluxo aconteça. Para manter o fluxo, devem ser incluídas paradas obrigatórias e o relaxamento, e nunca parar totalmente. Deixar o velho sair é liberar-se para o novo, é substituir os apegos por atos criativos. Encontrando o verdadeiro potencial Somos como fonte de água cristalina, sempre em renovação. Como as fontes que deságuam nos rios e oceanos e mantêm a água circulando, essa condição humana significa a possibilidade de viver ciclos de limpeza e de transformação, sempre para algo melhor. Os desafios, obstáculos e dificuldades nos relacionamentos são oportunidades, estímulos e, também, um convite para essa lim- peza. Isso nos deixa cada vez mais próximos da compreensão de nós e dos outros, e amplia o contato com a fonte maior. Encontrar nosso potencial é reconhecer nossa autonomia e tomar posse da própria fonte, sem intermediários. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 46 Observação – a chave para a mudança Quanto mais atentos estivermos ao que acontece dentro e fora de nós, mais clareza nós temos a respeito da transformação dos nossos padrões. O relaxamento é imprescindível para estar- mos vigilantes e prontos à transformação das ações e padrões. A observação relaxada nos ajuda a compreender e não repetir atitu- des inconscientes que provocam estresse. Ao prestamos atenção à mente, percebemos um conflito permanente. Um pensamento está sempre brigando com o outro: um é corajoso e o outro cauteloso; um manda agir e o outro man- da esperar. Nossas ações são, em geral, resultado do “vencedor” dessa briga que, do ponto de vista sistêmico, constitui desperdício de energia. Muitas vezes, não sendo, o resultado não é favorável ou é ele muito doloroso, nos trazendo de volta a uma condição psicoló- gica anterior aparentemente mais segura. A mente (e todo nosso ser) regride a um estágio mais primário quando se sente em perigo. Sugerimos um exercício que ajuda a liberar o medo de nos- sa mente. Ele constitui um instrumento que nos permite acolher, conscientemente, a experiência afetiva e emocional. Frequentemente, as pessoas estranham esse tipo de exer- cício, pelo não enquadramento em esquemas convencionais. Mas quando tentamos realizá-lo sem receio, os resultadosfavoráveis sempre chegam! O Tao das Constelações | Ana da Fonte 47 Procedimentos: Fase 1 - Feche os olhos com o corpo relaxado. Imagine que existe uma tela de cinema localizada na sua testa, e que você observará todos os seus pensamentos através dela. A cada pensamento ob- serve como seu corpo reage. Exercite essa prática durante apro- ximadamente 5 minutos. Fase 2 - Feche os olhos e imagine situações antigas que geraram emoções negativas de medo, raiva, tristeza, ansiedade ou preocu- pação. Observe o que acontece com seu corpo e com sua respira- ção. Demore 2 minutos na observação. Fase 3 - Feche os olhos e imagine algumas situações que geraram emoções positivas de alegria, serenidade, coragem, amor, compai- xão. Observe novamente as sensações que se instalam em seu cor- po e em sua respiração. Tranquilamente e em silêncio reflita sobre os seguintes pontos: Reflexão 1 – Se você percebeu seus pensamentos na tela é porque você não é seus pensamentos, mas algo maior que os observa. Reflexão 2 – Se o observador é neutro e, logicamente, não pode se identificar com o pensamento observado, isso significa que po- demos reorganizar nossos pensamentos, antes que eles tomem conta do nosso corpo e interfiram em nossas ações. Reflexão 3 – Se você percebe que os pensamentos se movem e repercutem no corpo através da emoção negativa (fase 2) e da positiva (fase 3), que tal acreditar que é possível interferir e trans- formar o negativo em positivo? O Tao das Constelações | Ana da Fonte 48 Reflexão 4 - Se você descobriu que o observador é você, e que o que sente é fruto de um passado de crenças incorporadas ao longo da vida, que interferem substancialmente em suas emoções e em seu corpo, você está pronto a mudar o foco de sua vida, tornando-a muito mais prazerosa e construtiva. A força do pensamento sobre nossas ações O conflito é sempre dual! Se nós temos medo da noite, vamos querer sempre o dia, vamos querer o dia o tempo todo, e acenderemos a luz, à noite, para nunca ficarmos no escuro. Se nós temos uma religião e rejeitamos outra, isso é um conflito. Se nós pertencemos a uma raça e rejeitamos outra, isso é um conflito. Então, existe, também, nesses conflitos que causam des- conforto e sentimento de separatividade, uma grande possibilida- de de integrarmos o que excluímos quando saímos da luta, acei- tamos a dor e permitimos que um novo movimento aconteça. Em nosso relacionamento conosco e com os outros, esses conflitos aparecem com mais visibilidade quando estamos na posição de críticos ou julgadores. Carregamos o peso de transferir para o ou- tro o que queremos, achando que o outro vai solucionar as questões através do nosso ponto de vista. Com isso, enfraquecemos e perde- mos de vista nossas reais contribuições jamais pensadas antes. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 49 Quando temos de tomar decisões sendo responsáveis por elas, sempre surgem pensamentos que se contradizem, justificativas. Dinâmica de relacionamentos Como todo ser vivo, as famílias são sensíveis ao desempe- nho de seus membros. Os fatos existentes neste sistema, muitas vezes, causam emaranhados que se refletem em toda a estrutura e mobilizam padrões de dor, muitas vezes, existentes. Os membros de uma família se nutrem uns dos outros e, nessa troca, acontecem as transformações – positivas ou negati- vas, expansivas ou destrutivas. Uma família harmônica depende, portanto, da capacidade de cura de seus membros diante dos problemas gerados por emo- ções negativas, trazendo soluções para a libertação desses fatos ocorridos no passado, e que aprisionaram todos os membros na dor, sobre os quais, ao longo deste ensaio, o leitor terá mais escla- recimentos. Chamamos essa capacidade de autorregulação natu- ral da família de cura sistêmica. Para que essa autorregulação ocorra em um processo construtivo, isto é, olhando para as soluções e novas compreen- sões disponíveis no momento, precisamos aprofundar as nossas emoções sem buscar culpados para esse destino. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 50 Buscando o oculto dentro de nós Todos nós somos capazes de mudar nossa emoção em fra- ção de segundos. Por que isso acontece? Que forças externas são essas que interferem? Que sentimentos destrutivos são esses (in- veja, raiva, medo, ciúme, preocupação) que invadem nosso corpo e nos fazem tomar atitudes impulsivas ou de congelamento? Muitas vezes, tentamos explicar culpando o outro do ocorri- do, por ser este o caminho mais fácil. Quando não temos consciên- cia da força que nos impele a agir contra a nossa própria vontade interna, tão logo vêm os arrependimentos, aos quais chamamos de constelações aprisionadas pelas histórias ancestrais, que ocupam nosso inconsciente – por isso as chamamos de memória oculta. Essa teia em que vivemos e que nos apresenta como inter- conecta é a razão dessas muitas emoções que nos dominam e nos sequestram para comportamentos que retroalimentam seus ca- nais de comunicação, como apresenta a figura abaixo. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 51 Imaginando cada flor como sendo um membro de nossa família, partindo do centro estão nossos ancestrais mais longín- quos até a ponta, que está sempre em crescimento para novos descendentes. Dessa forma, repassamos nossas negatividades sem enten- der a sua origem. Somos capazes de excluir, julgar, proteger, matar, amar, odiar, querer salvar, carregar fardos, ser ricos ou pobres, entre outros exemplos, muitas vezes sem saber por quê. A alma coletiva da família, dentro da gente, busca o equilí- brio para ajudar nosso sistema familiar em sua sobrevivência, sem ainda se dar conta de que também somos uma grande família – SERES HUMANOS –, buscando a sobrevivência do planeta. Filhos do mesmo pai e mãe se comportam de maneira di- versa, uns reagindo com posturas destrutivas; outros tentando harmonizar os conflitos existentes; alguns saindo do ambiente familiar por não suportar a pressão da dor. Nas sociedades (instituições) podemos ver o reflexo da família. Justiceiros, matadores, consoladores das dores, aventurei- ros, mulheres feridas, poder financeiro, pobreza, até buscadores da Paz, morrendo em guerra por esta causa. Vítimas e algozes jun- tos em uma mesma energia, em um mesmo destino, em lados diferentes. Um vivendo pelo outro e para o outro. Um de nossos objetivos é ajudar na limpeza desses canais de interações humanas, que querem permanecer em equilíbrio pelas emoções que expandem, tentando apresentar com simplici- dade em detrimento de ações midiáticas ou inferiores, que nos separam até hoje, trazendo desequilíbrios. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 52 Para melhor explicar, traremos a imagem de uma gangorra, brinquedo de parques infantis que alternam os lados – um perma- nece em cima experienciando o alto, em detrimento do outro, que experiencia o baixo. Na brincadeira, quem está em cima pode ficar “de castigo” – atitude imposta por quem está em baixo, no controle, já que o do alto não tem força dos pés no chão. Ao mesmo tempo, pode se beneficiar do vento, da paisagem e da entrega, já que não é ne- cessário segurar ninguém, tarefa de quem quer ficar no controle do segurar, ao mesmo tempo usufruindo o poder do comando. Essa brincadeira nos traz muitas reflexões sobre as leis do equilíbrio social, as interações humanas, a brincadeira do experi- mentar os diversos lugares, apenas vivenciando a experiência. Incluindo o descansar na gangorra em equilíbrio, pés no chão, conquistando um estado de esforço sem esforço, sem julgamentos de bem e mal, como propõe o TAO, lugar onde nos encontramos como iguais. Equilíbrio nos relacionamentos: a desordem para uma nova ordem Apesar da simplicidade do equilíbrio nas relações aborda- das no exemplo da gangorra, os sistemas dos relacionamentos familiares são numerosose extremamente complexos, porque retratam toda a história da humanidade e sua origem, assim como os desdobramentos consequentes desses emaranhados iniciais que nos separaram do Divino. Os fechamentos das sociedades em busca de sua preserva- ção, em contrapartida às expansões necessárias para que as mis- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 53 turas de raças acontecessem, geraram muitos traumas a toda a humanidade. Podemos citar como memórias vivas em nós, exemplos de guerras, por um lado tão dolorosas, com mortes, traumas e migra- ção dos que queriam fugir abandonando sua terra e seus ances- trais e, por outro, a oportunidade do encontro de raças e culturas diferentes que trouxeram o novo, o diferente – movimentos que nos trouxeram à vida. No Brasil, sofremos ainda o efeito da colonização: índios foram dizimados, negros escravizados e brancos, que deixaram nação e família para lutar pela sobrevivência em momentos de crise na Europa. Essa mistura de raças que somos nós, ainda guar- da conflitos da origem do descobrimento do Brasil, desequilibran- do as relações sociais. Na Idade Média, um mundo mais místico decorrente da expansão da intuição, do poder do invisível, das manipulações de energia, foi arrefecido pelo aprofundamento da racionalidade, reflexividade. A energia feminina sendo suprimida em detrimento da energia masculina da racionalidade, que ganhou força nas di- versas atrocidades cometidas. A energia masculina iniciando a busca pelo discernimento e reflexão, nos ajudando, até hoje, a não acreditar e a ter medo de tudo que vem do mundo não manifesto. O princípio da racionalidade, em alguns momentos, man- tendo a dança das gangorras para compreender e diminuir a força do movimento invisível realizado pelo feminino. No entanto, neste momento difícil de nosso planeta, quem sabe, estejamos sendo chamados a equilibrar as gangorras da vi- O Tao das Constelações | Ana da Fonte 54 da, integrando essas duas energias dentro e fora de nós; a retor- nar à nossa força de expansão corajosa e flexível, que o masculino nos apresenta para novas conquistas e saltos evolutivos, e o amor em sua força mais sublime – mergulho no oceano do inconsciente que ainda permanece invisível e intocado, e que desperta tantas conexões que nos ligam a todos e a tudo que é vivo. Esses dois movimentos que unem o feminino e o masculino estão acontecendo, neste momento, em todos nós, independen- temente de sermos homem ou mulher, afinal, todos nascemos de um Pai e de uma Mãe. Sobre a dádiva que recebemos de nossos pais – a vida – e esses bloqueios de proteção que alimentamos por gerações, é que construímos dentro de nós as constelações que, ao se tornarem conscientes, podem nos liberar para uma vida mais plena e livre e conectada ao amor. Da estrutura criada pela raiz (pai e mãe) nasce a força para encontrar o céu, o amor e a generosidade de oferecer os bons frutos que semeiam um novo futuro. A dualidade nos movimentos das Constelações Constelação Horizontal - relacionamentos em expansão no ciclo da dádiva da interação com a diversidade do Todo. Quando essas interações são percebidas como comple- mentos dentro de uma rica diversidade de trocas, surge a possibi- lidade de encontro da Constelação Vertical dentro de si. O Conflito por crenças, valores das mais diversas culturas, re- ligiões e raças, interrompem o fluxo apresentado abaixo e, ao mesmo O Tao das Constelações | Ana da Fonte 55 tempo, podem interagir no todo maior do Amor, quando as pessoas se encontram para acolher, aceitar e liberar as dores do passado, expandindo o Amor e se integrando aos movimentos da vida. Fluxo da dádiva em expansão – Quando cada um exerce o lugar de doador e receptor diante da vida. Fluxo da Dádiva Horizontal quando interrompido – o receptor interrompe quando não quer receber e fica na posição de doador ou o doador não deseja doar ficando na posição de receptor. O ciclo se contrai e não há expansão na relação. Constelação Vertical – a vida seguindo adiante sempre pa- ra MAIS. Inicialmente, através de nossos pais, recebemos o sopro divino da vida, que nos pede para transbordar para outras gera- ções/ comunidade/ etc., e assim sucessivamente, em um movi- mento constante de conexão com o Todo. Podemos perceber, através da figura, que para o fluir da vida teremos de repassar adiante o fluxo da vida ou energia vital. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 56 Porém, se em algum ponto essa energia vital estiver blo- queada pelas constelações horizontais, o CHI, como os Taoístas descrevem, não poderá seguir seu fluxo natural, e as consequên- cias para a vida do planeta poderão ser desastrosas. Neste sentido, todo o nosso trabalho é fazer o leitor com- preender que muitos de nossos sofrimentos, doenças e dificuldades relacionais são energias suprimidas de sua fonte verdadeira. O grande rio da vida, que pertence à história da humanidade, está represado nas dores, com a possibilidade de retornar ao mar, caso tomemos consciência desses movimentos. Fluxo vertical da vida O Tao das Constelações | Ana da Fonte 57 Liberando nossas constelações “Deixem os mortos cuidarem dos mortos e os vivos cuidarem dos vivos”. Mestre Jesus Nossos antepassados viveram destinos de dor, que hoje são guardadas em nossa memória inconsciente, e atuam sobre nós com uma força maior do que imaginamos. Essa memória traz o conteúdo de sobrevivência, necessário a cada movimento da vida coletiva passada, e que ainda atua em nosso inconsciente vivo nos fazendo atrair situações que se repetem no sistema, pela necessidade de liberação da energia que ficou bloqueada ao longo da vida do planeta. Aos poucos, essa memória tenta se revelar em diversas si- tuações, tentando nos ajudar a desbloquear ou concluir o amor que foi interrompido por gerações. Este amor, que não pode se completar por conta do confli- to entre as constelações verticais e horizontais, entre o amor mai- or, medos e dores, para manter a sobrevivência pede para se completar no amor, por fatos que vamos revelando ao longo dos capítulos. Iremos abordar muitas constelações onde, durante a nar- ração, ficam perceptíveis esses dois encontros. No entanto, cada cliente nos pede, de maneiras diferentes, que este entendimento seja utilizado, facilitando nosso olhar para as necessidades imedia- tas do demandante. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 58 Muitas vezes, céticos querem resultados concretos quanto a impedimentos do cotidiano: dinheiro, intrigas familiares, proje- tos que não saem do papel, etc. Esses pedidos são recebidos como desejos inconscientes de encarnar no planeta as necessidades de sobrevivência do cotidiano. Na maioria dos casos, o medo de não sobreviver pode levar o sujeito a querer mais e mais, fato que provoca a desconexão com o próprio equilíbrio interno, ao agir contra o sistema interno corporal, muitas vezes, desequilibrando o sistema maior, como é o exemplo da aquisição de bens à custa de trabalho escravo. Carências e faltas que pertencem aos nossos antepassados podem criar uma pressão de medo do que pode vir a nos faltar hoje. Vi muitos casos de clientes, inclusive eu mesma, trabalhando ansiosamente por essa crença. Não digo que ansiedade não seja boa para nos fortalecer a tomar atitudes de crescimento, mas, em muitos momentos, elas acontecem invertendo o padrão, tomando toda a energia que se- ria utilizada no sucesso no trabalho. Alio-me a este indivíduo trabalhando mudanças de crenças cognitivas, mas tento apresentá-lo à força vertical que atua sobre todos nós, trazendo-nos aceitação e confiança. Por outro lado, pessoas que intitulei “Vivendo no Céu”, apresentam-se com um mundo de fantasias que as impede de criar a força necessária para os desafios existentesno mundo hori- zontal (terra) em que vivemos. Elas necessitam encarnar neste planeta. Para elas, uma constelação para possibilitar seu ancoramento na realidade, faz-se necessária. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 59 Por quê? Se olharmos o planeta onde vivemos, ele contém tudo para a nossa sobrevivência, mas nossos medos nos levam a querer mais e mais, e não teria razão de alguém solicitar o que já temos em abundância. Mas o que acontece nesses casos? No campo da consciência coletiva, vivemos hoje profundos desequilíbrios, onde alguns buscam incessantemente ter tudo em detrimento de outros que desistem da busca, colocando-se contra o sistema de posse, perdendo seu poder criativo de trazer solu- ções para a sua própria sobrevivência. De outro modo, é importante considerar como a nossa al- ma se desloca de nós mesmos ao longo da vida, deixando o nosso EU fragmentado. Bert Hellinger fala sobre o Amor Cego, amor in- terrompido e o amor (sentimento) adotado, como fatos que nos distanciam de nós mesmos. Com base em experiências vivenciadas e reflexões com gru- pos em formação, vamos tentar explicar o que percebemos nessas definições que Bert Hellinger nos colocou com tanta sabedoria. Capítulo 2 TAO e ancestralidade O Tao das Constelações | Ana da Fonte 63 “O TAO é um, mas no momento em que ele se torna manifesto, precisa se tornar dois. A manifestação precisa ser dual: ela não pode ser uma só, precisa se dividir em duas. Ela precisa tornar-se matéria e consciência, precisa tornar-se homem e mulher, dia e noite, vida e morte.... Você encontrará esses dois princípios em todos os lugares. O todo da vida consiste nesses dois princípios, e por trás deles está oculto o uno. Se você insistir em permanecer às voltas com essas dualidades, nos polos opostos, permane- cerá no mundo. Se você for inteligente, se for um pouco mais alerta e começar a olhar mais ao fundo, a olhar para a profundidade das coisas, ficará surpre- so: os opostos não são realmente opostos, mas complementares. E por trás de ambos há uma única energia: O TAO”. OSHO O Tao das Constelações | Ana da Fonte 64 Retorno do TAO pela ancestralidade Retornando pela mesma porta que nos perdemos um dia, tomando consciência de toda memória ancestral. Liberando dores do passado que estão em nossa memória corporal, até chegarmos ao ponto inicial desta história que é: reconhecermos a Luz, energia universal ou simplesmente o TAO. No início, o TAO foi fragmentado em qualidades diferentes de energia: masculina e feminina. Através deste encontro, o pa- ternal e o maternal floresceram trazendo a nova semente da uni- dade: o filho. Somos todos filhos que recebemos a vida de nossos pais biológicos. Aceitando, amando e agradecendo a eles poderemos retornar às nossas origens, a quem somos de verdade. Tomar consciência deste fato, agradecer aos nossos ante- passados por seus destinos que nos trouxeram a vida, é compre- ender que o passado teve sua importância em nossa memória de sobrevivência. Contudo, ao nos perdermos nesta ideia, registra- mos a separatividade. Neste capítulo traremos fragmentos espalhados pelo mun- do manifesto, até a possibilidade de retorno ao TAO, e experiên- cias deste resgate com o trabalho das Constelações Sistêmicas, acessadas por Bert Hellinger, e que adaptaremos à nossa compre- ensão, fruto de diversas vivências realizadas ao longo de 16 anos de práticas. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 65 Enquanto não tomarmos consciência da memória viva das dores que nos separam, e que chegaram até nós através da histó- ria do planeta, não poderemos retornar ao TAO. O caminho inverso é necessário para que possamos nos compreender como SERES UNOS, como nos apontam todos os mestres que despertaram antes de nós. Na figura acima, tentamos fazer o leitor compreender este caminho de retorno da energia, agora no mundo manifesto. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 66 Ancestralidade – O Retorno do TAO Não podemos curar feridas olhando simplesmente para os frutos podres da copa de uma árvore. Se não olharmos as suas raízes, jamais poderemos colher bons frutos. É assim que o traba- lho das constelações se apresenta. Com objetividade consegue não se perder em imagens de sofrimento instalado em nossa men- te, para saltar para as profundezas de sua raiz, e assim encontrar soluções desejadas para que o amor flua. Na imagem da capa deste livro percebemos o reflexo do nosso passado existencial, onde fatos na história da humanidade servem como alimento da árvore que se projeta para o céu. Uma árvore totalmente interligada a outra, interferindo e sofrendo interferências mutuamente. Cada fruto dependendo de suas raízes para serem sadios e poderem alimentar toda a vida em sua cadeia de nutrição – decomposição – semente – nova árvore. Ciclo da vida que se repete em todos os seres vivos, e nós não somos excluídos desta cadeia, mesmo que nossas mentes nos separem uns dos outros e de toda natureza viva. Tratar da raiz é aprofundar-se nos medos humanos que nos separam, é compreendê-los e transformá-los em amor maior que une toda a existência e nos unifica. O que hoje nos separa? Na visão sistêmica apresentamos a força do pensamento sobre nossas emoções e também a força que eles podem ter em O Tao das Constelações | Ana da Fonte 67 nossas ações, quando nos deixamos ser sequestrados, isto é, quan- do nossos pensamentos são maiores do que nós mesmos. De onde vem a força desses pensamentos que na maioria das vezes não controlamos? Na minha experiência, os pensamentos chegam, muitas ve- zes compulsivamente, drenando toda nossa energia, quando ques- tões nossas ou de nossos antepassados não foram solucionadas. Na imagem, agradeceremos também aos nossos pensamentos como uma grande porta para integrarmos fragmentos perdidos ao longo da história da humanidade. Constelar é unir as partes ainda fragmentadas no tempo, para sentir o silêncio e a paz do Todo dentro de nós. A única cons- telação é o retorno à fonte. TAO e Constelações Sistêmicas As constelações favorecem a ampliação do nosso campo de visão para muitas coisas das quais fugíamos, evitávamos e excluí- amos de nossas vidas, rejeitando, fazendo de conta que não acon- teceram ou, em casos extremos, fugindo da realidade e até esque- cendo definitivamente, como é o caso de alguns traumas vivenci- ados por muitos de nós. No entanto, esses mesmos pontos, ou questões, sempre re- tornam à nossa porta para que possamos abri-la e olhar reconhecendo o que nos une, e até agradecer pelo aprendizado. O Tao das Constelações | Ana da Fonte 68 Então aquilo ou aquele que batia em nossa porta, insisten- temente, como dor e, por isso, o rejeitávamos e éramos rejeita- dos, agora pede para ser visto. Olhamo-nos com amor e total acei- tação, e tudo se transforma em algo maior e se expande ao encon- tro da paz. É assim que funcionamos em nossos mais diversos tipos de relacionamentos, sejam eles afetivos, no trabalho, entre amigos, nas instituições, etc. Em vez de enfrentarmos os conflitos ou di- vergências com inclusão da diversidade, tentamos matar o outro em suas ideias, atitudes e, muitas vezes, inovações. É assim que se procede ao longo de séculos de existência. As inovações sempre nos amedrontaram e ainda nos impõem medos, porém, muito do que usufruímos hoje, devemos à bravura de nossos ancestrais que, mesmo sendo julgados, tiveram coragem para disseminar o novo, sacrificar-se por ele, e ter paciência para que, no tempo certo, a colheita beneficiasse a todos. Nesta grande TEIA de interconexão todos nós evoluímos, mas a grande evolução só será compreendida por todos juntos. Para que isso aconteça, precisamos nos libertar do que nos aprisi- ona, de pensamentos que
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