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Ideologias políticas e seus reflexos 3

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DESCRIÇÃO
O conhecimento sobre a formação das identidades políticas da sociedade ocidental, capitalista,
seus fundamentos ideológicos e as formas de manifestação política.
PROPÓSITO
Estabelecer parâmetros de compreensão das correntes políticas que vigoram entre o século
XIX e parte do século XX é essencial para todos os estudantes, especialmente aqueles das
áreas de História, Sociologia, Direito, Administração, Geografia e Filosofia.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na conjuntura da
Revolução Francesa (1799–1899)
MÓDULO 2
Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento progressista que
fundou a Modernidade
MÓDULO 3
Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
MÓDULO 4
Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século XX
INTRODUÇÃO
A Modernidade europeia produziu ideologias políticas que foram expandidas pelo mundo na
esteira da dominação colonial que os países europeus impuseram às outras regiões do
planeta. Esses sistemas de pensamento inspiraram práticas políticas e diferentes formas de
organizar o Estado. Aqui, neste conteúdo, estudamos as ideologias que foram desenvolvidas
entre o início do século XVIII e meados do século XX, partindo da premissa elementar da
Sociologia do Conhecimento: todo pensamento é produto de realidades sociais
concretas.
No primeiro momento, nos debruçaremos sobre o conservadorismo moderno, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1789–1799). Em seguida, estudaremos o liberalismo, que
foi um dos desdobramentos do pensamento progressista que fundou a Modernidade. Depois,
analisaremos o nacionalismo, que foi a principal ideologia política formada ao longo do século
XIX. Por último, examinaremos o fascismo, que desestabilizou o sistema internacional na
primeira metade do século XX.
Este estudo está inserido na área de interesses da história do pensamento político. Partimos
da premissa de que não existe distinção entre pensamento e ação política, pois toda ação
é sempre prefigurada por determinado pensamento e todo pensamento é o resultado objetivo e
prático de um conjunto de ações. Sendo assim, estudar as ideologias políticas que nasceram
na Europa entre o século XVIII e meados do século XX nos possibilita a melhor compreensão
das práticas políticas que marcaram a história ocidental nesse período.
MÓDULO 1
 Identificar as particularidades da ideologia política conservadora, que surgiu na
conjuntura da Revolução Francesa (1799–1899)
ASSISTA A UM VÍDEO QUE TRATA DO
DESENVOLVIMENTO E DA DIFUSÃO
GENERALIZADA DO CONSERVADORISMO,
DIFERENCIANDO-O DO TRADICIONALISMO QUE
O PRECEDEU.
CONSERVADORISMO MODERNO
O sociólogo alemão Karl Mannheim (1893–1947) é autor de importante estudo sobre aquilo
que denomina “estilo de pensamento conservador”. Mannheim é um dos principais
representantes da área de estudos que costumamos chamar de Sociologia do Conhecimento,
que tem como premissa elementar a ideia de que o conhecimento não se produz no vazio
social, acima da realidade social. Em outras palavras: todo conhecimento, todo pensamento, é
resultado de condições sociais concretas, pois os pensadores não vivem acima da sociedade,
fora da realidade. Muito pelo contrário, já que estão sempre respondendo aos desafios do seu
tempo.
 Karl Mannheim.
É a partir dessa premissa que nos debruçamos sobre o pensamento político conservador, que
foi uma resposta a uma série de desafios colocados pela Modernidade ocidental entre os
séculos XVIII e XIX. O próprio Karl Mannheim nos ajuda a entender quais foram as condições
sociais concretas de nascimento do conservadorismo.
SOB A PRESSÃO IDEOLÓGICA DA REVOLUÇÃO
FRANCESA SE DESENVOLVEU NA ALEMANHA UM
CONTRA-MOVIMENTO INTELECTUAL QUE RETEVE
SEU CARÁTER PURAMENTE INTELECTUAL POR UM
LONGO PERÍODO E ASSIM FOI CAPAZ DE
DESENVOLVER SUAS PREMISSAS LÓGICAS DE
FORMA A MAIS EXTENSA POSSÍVEL. ELE FOI
PENSADO ATÉ “AS SUAS ÚLTIMAS
CONSEQUÊNCIAS”. A CONTRA-REVOLUÇÃO NÃO SE
ORIGINOU NA ALEMANHA, MAS FOI NA ALEMANHA
QUE SEUS LEMAS FORAM PENSADOS DE FORMA
MAIS COMPLETA E LEVADOS ÀS SUAS CONCLUSÕES
LÓGICAS. [...] A ALEMANHA CONTRIBUIU PARA ESSE
PROCESSO DE “PENSAR ATÉ AS ÚLTIMAS
CONSEQUÊNCIAS — UM APROFUNDAMENTO
FILOSÓFICO E UMA INTENSIFICAÇÃO DE
TENDÊNCIAS QUE SE ORIGINARAM COM BURKE E
DEPOIS FORAM COMBINADOS COM ELEMENTOS
GENUINAMENTE ALEMÃES. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 87)
FUNDAÇÃO DO CONSERVADORISMO
MODERNO
 A abertura dos Estados Gerais, em 5 de maio de 1789, na Salle des Menus Plaisirs , em
Versalhes.
Os eventos fundadores do conservadorismo moderno, então, foram a Revolução Francesa
(1784–1804) e a concepção progressista de tempo que lhe caracteriza. Segundo os estudos
do historiador alemão Reinhart Koselleck (1923–2006), a Revolução Francesa foi o desfecho
de uma nova concepção de tempo que vinha se desenvolvendo desde o fim do século XVII e
que se tornaria a principal condição estrutural da Modernidade. Essa concepção de tempo é
marcada pelo ideal do progresso e pela crença de que a história é potência em movimento
e que as coisas mudam sempre para a melhor.
Essa nova forma de relação com o tempo mudou a posição que o passado ocupava nas
culturas europeias ocidentais. Até então, as experiências pretéritas eram vistas como fonte de
ensinamento à qual os contemporâneos recorriam com o objetivo de evitar cometer os mesmos
erros de antes. Com a Modernidade, o passado se tornou o símbolo do obsoleto, do atraso,
daquilo que deveria ser superado pela marcha inexorável da história.
O conservadorismo moderno surge como uma ideologia de oposição a esses valores
progressistas, como um tipo de “contrarrevolução ideológica”, para utilizar as palavras de
Karl Mannheim.
EM OUTRAS PALAVRAS, ESSA DIFERENÇA PODE SER
EXPRESSA DA SEGUINTE FORMA: O PROGRESSISTA
CONSIDERA O PRESENTE COMO O COMEÇO DO
FUTURO, ENQUANTO O CONSERVADOR O VÊ
SIMPLESMENTE COMO O ÚLTIMO PONTO APONTADO
PELO PASSADO. A DIFERENÇA É TANTO MAIS
FUNDAMENTAL E RADICAL NA MEDIDA EM QUE O
CONCEITO LINEAR DE HISTÓRIA — QUE ESTÁ
IMPLÍCITO AQUI — É ALGO SECUNDÁRIO PARA OS
CONSERVADORES. PRIMEIRAMENTE, OS
CONSERVADORES CONHECEM O PASSADO COMO
SENDO ALGO QUE EXISTE COM O PRESENTE;
CONSEQUENTEMENTE, A SUA CONCEPÇÃO DE
HISTÓRIA TENDE A SER ALGO MAIS ESPACIAL DO
QUE TEMPORAL; ELA ENFATIZA MAIS A
COEXISTÊNCIA DO QUE A SUCESSÃO.
(MANNHEIM, 1987, p. 123)
É importante deixar claro, ainda de acordo com Karl Mannheim, que a ideologia conservadora
não pode ser resumida ao que o autor chama de “conservadorismo ontológico”, que seria o
incômodo que todos nós sentimos diante de uma mudança, de algo que desestabiliza a
situação de vida com a qual já estamos habituados. O conservadorismo ontológico de que fala
Mannheim é a sensação de desorientação que sentimos quando trocamos de emprego ou de
vizinhança e que, muitas vezes, é angustiante, fazendo com que algumas pessoas sejam
resistentes às mudanças.
O conservadorismo moderno é bastante diferente disso, consistindo em um complexo
sistema de pensamento que buscou reagir aos desafios postos pela modernidade progressista,
sendo ele mesmo uma interpretação dessa modernidade. Também é importante diferenciar o
conservadorismo do reacionarismo, e aqui quem nos ajuda é o cientista político português
João Pereira Coutinho.
O CONSERVADORISMO POLÍTICO RECUSA OS
APELOS DO PENSAMENTO UTÓPICO, VENHAM ELES
DE REVOLUCIONÁRIOS OU REACIONÁRIOS. MAS O
CONSERVADORISMO NÃO SE LIMITA APENAS A
RECUSAR ESSES APELOS UTÓPICOS, QUE FAZEM DA
FUGA PARA O FUTURO (OU PARA O PASSADO) UM
PROGRAMA DE AÇÃO NO MOMENTO PRESENTE. O
CONSERVADORISMO, POR ENTENDER O POTENCIAL
DE VIOLÊNCIA E REAGIR DEFENSIVAMENTE A TAIS
APELOS — E “REAGIR” É A PALAVRA CRUCIAL PARA
ENTENDER O CONSERVADORISMO COMO
IDEOLOGIA.
(COUTINHO, 2014, p. 27)
CONSERVADOR X REACIONÁRIO
 Andarilho acima do mar de nevoeiro , por Caspar David Friedrich (1817).
O que distinguiria o conservadordo reacionário, segundo o autor, seria a relação com o tempo.
O reacionário idealiza o tempo, tal como o revolucionário. A lógica seria a mesma, com a
diferença de que o reacionário idealizaria o passado, considerado como o momento da plena
realização da felicidade humana, enquanto o revolucionário idealizaria o futuro, defendendo a
aceleração da marcha da história rumo à utopia progressista.
Diferente é o conservador, cético tanto com a promessa reacionária como com a promessa
revolucionária. Para o conservador, o presente é a melhor experiência possível, pois sintetiza
as experiências acumuladas ao longo do tempo, os repertórios que foram testados, que
sobreviveram.
Não há, na sensibilidade conservadora, diferentemente do que acontece nas sensibilidades
reacionária e revolucionária, a ideia de perfeição. O conservador é cético, desconfia das
utopias e das promessas de perfectibilidade, partindo do princípio de que o ser humano é
ontologicamente imperfeito, falho e, por isso, as tradições são importantes.
Porém, não nos enganemos em achar que o conservadorismo é, necessariamente, avesso à
mudança. O conservador entende a importância da mudança, desde que aconteça à luz do
repertório disponível, com inspiração nas experiências acumuladas. A mudança é prudente,
sem a ruptura revolucionária. Segundo Karl Mannheim:
UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS ESSENCIAIS
DESSE MODO DE VIDA E DESSE PENSAMENTO
CONSERVADOR PARECE SER A FORMA COMO ELE
SE APEGA AO IMEDIATO, O REAL, O CONCRETO. O
RESULTADO É UMA PERCEPÇÃO NOVA E
EXTREMAMENTE DEFINIDA DO TERMO “CONCRETO”
COM IMPLICAÇÕES ANTI-REVOLUCIONÁRIAS.
CONHECER E PENSAR CONCRETAMENTE AGORA
PASSA A SIGNIFICAR O DESEJO DE RESTRINGIR O
ALCANCE DA PRÓPRIA ATIVIDADE ÀS REDONDEZAS
IMEDIATAS ONDE SE ESTÁ LOCALIZADO E DE
ABJURAR RIGIDAMENTE TUDO AQUILO QUE POSSA
CHEIRAR À ESPECULAÇÃO OU HIPÓTESE. [...] O
CONSERVADORISMO SEMPRE COMEÇA COM O CASO
PARTICULAR QUE ESTÁ NA MÃO E NUNCA ESTENDE
SEUS HORIZONTES ALÉM DE SEUS PRÓPRIOS
ARREDORES PARTICULARES. ELE ESTÁ
PREOCUPADO COM A AÇÃO IMEDIATA, COM
DETALHES CONCRETOS EM MUDANÇAS E,
PORTANTO, NÃO SE PREOCUPA REALMENTE COM A
ESTRUTURA DO MUNDO EM QUE VIVE. [ORTOGRAFIA
ORIGINAL]
(MANNHEIM, 1987, p. 111)
PENSAMENTO CONSERVADOR
 Pintura da execução de Maria Antonieta em 1793, do acervo do Museu da Revolução
Francesa, em Vizille, na França.
Para compreender melhor os princípios políticos conservadores, é importante estudar com
cuidado os escritos dos autores mais representativos dessa corrente de pensamento.
Destacamos aqui quatro nomes: Jüstus Möser (1720–1794), Edmund Burke (1729–1797),
Alexis de Tocqueville (1805–1859) e François-René de Chateaubriand (1768–1848).
Todos esses autores viveram sob os impactos da Revolução Francesa, e cada um, a seu
modo, criticou o tipo de ideologia política que o evento propunha, principalmente na “fase do
terror”, entre 1793–1794, quando o processo revolucionário foi conduzido pelos jacobinos.
O jurista alemão Jüstus Möser foi um dos primeiros autores a se debruçar com perspectiva
crítica sobre os eventos da Revolução Francesa, desenvolvendo, assim, o repertório de ideias
que se tornaria representativo de um tipo de pensamento político que passou a ser conhecido
como “conservador”.
Na verdade, as “ideias conservadoras” de Möser já vinham sendo desenvolvidas antes mesmo
do início da Revolução Francesa. No livro História de Osnabruque , publicado pela primeira
vez em 1768, Möser defendeu a tese, que se tornaria típica do pensamento conservador, de
que as instituições jurídicas do Estado deveriam nascer de “modo orgânico”, a partir dos
costumes do seu povo, e não de “artificial”, imposta pelo legislador “convencido de que detém o
monopólio das luzes da razão”.
 Retrato de Justus Möser , por Ernst Gottlob (1777).
A BOA LEI NÃO É AQUELA QUE É INVENTADA PELO
LEGISLADOR CONVENCIDO DE QUE DETÉM O
MONOPÓLIO DAS LUZES DA RAZÃO, MAS SIM
AQUELA QUE SURGE ESPONTANEAMENTE DOS
COSTUMES MAIS GENUÍNOS DO POVO, DOS HÁBITOS
E VALORES QUE SOBREVIVERAM AO TEMPO.
(MÖSER, 1992, p. 34)
Temos aqui um argumento que se tornaria estruturante do pensamento conservador ao longo
do século XIX. Trata-se da crítica à pretensão de perfectibilidade característica do iluminismo,
que foi o repertório filosófico que inspirou a Revolução Francesa. O iluminismo está fundado na
crença de que a razão é o atributo humano mais virtuoso, sendo a partir dela possível conhecer
perfeitamente a realidade e acelerar a marcha do progresso humano. O responsável por esse
“conhecimento perfeito”, na lógica iluminista, seria o filósofo, entendido como o homem letrado.
É exatamente essa crença no poder do letramento e do conhecimento racional que está na
alça de mira do organicismo jurídico que Jüstus Möser elabora nas páginas da sua História de
Osnabruque . Möser afirma que o conhecimento humano mais genuíno não é
necessariamente aquele encontrado nos livros, ou desenvolvido com os instrumentos da razão,
mas aquele que é o resultado dos “instintos cotidianos”, da “intuição manifestada dos costumes
e nos hábitos do povo”.
Assim, contrastando com a lógica iluminista, Möser afirma que a capacidade cognitiva humana
é sempre lacunar e frágil, sendo o conhecimento prático, cotidiano e tradicional o mais
genuinamente verdadeiro, justamente por ser um dos desdobramentos da tradição. No
vocabulário de Möser, “tradição” não significa o passado estático, mas o amplo conjunto das
experiências humanas acumuladas, e testadas, ao longo do tempo. Para Moser, os costumes e
hábitos existentes são o resultado de uma maturação de longo prazo.
O tempo, então, mostra que o presente é resultado daquilo que deu certo, mesmo sem ser
exatamente perfeito. A rejeição à utopia iluminista e o elogio às pulsões cognitivas pré-racionais
foram afirmadas também por outros autores conservadores que beberam na fonte de Jüstus
Möser.
 Retrato de Edmund Burke.
Tal como Möser, o político e jurista irlandês Edmund Burke também foi contemporâneo da
Revolução Francesa. Em 1791, no calor dos acontecimentos, Burke publicou suas
Considerações sobre a Revolução Francesa , livro que se tornaria um dos principais tratados
da Filosofia Política do fim do século XVIII e importante documento de fundação do
pensamento conservador.
A principal crítica de Burke aos revolucionários franceses referia-se ao que o autor julgava ser
uma atitude “prepotente diante da história”. Nas palavras do próprio Burke, em discurso no
parlamento britânico, posteriormente publicado em suas Considerações :
HOJE, A FRANÇA ESTÁ ENTREGUE AO MAIS LETAL
ESTADO DE BARBÁRIE PORQUE A SOCIEDADE
FRANCESA ALIMENTOU AS VULGATAS CANTADAS
PELO AVENTUREIRO VOLTAIRE, QUE JAMAIS FEZ JUS
AO TÍTULO DE FILÓSOFO, QUE SE ACHOU CAPAZ DE
JOGAR NO LIXO SÉCULOS E SÉCULOS DE
CONHECIMENTO ACUMULADO, MATURADO E
CONSOLIDADO DA MELHOR FORMA POSSÍVEL
NESTE NOSSO SÉCULO. PARA VOLTAIRE, TUDO
ESTAVA ERRADO, TUDO DEVERIA SER JOGADO FORA
EM FUNÇÃO DE UM CONHECIMENTO
COMPLETAMENTE NOVO, FORMADO NUM PONTO
ZERO DA HISTÓRIA E QUE PROMETIA O FUTURO
PERFEITO. AS ELITES CULTAS FRANCESAS OUVIRAM
VOLTAIRE, SEM IMAGINAR QUE POUCO TEMPO
DEPOIS JÁ NÃO MAIS TERIAM OS OUVIDOS SOBRE
SEUS PESCOÇOS.
(BURKE, 2014, p. 72)
Na citação fica muito claro o argumento, já visto anteriormente, desenvolvido por João Pereira:
o conservador não é igual ao reacionário, que fetichiza o passado como o momento ideal,
perfeito, defendendo o resgate daquilo que já passou. O fundamental para o conservador é a
noção de que o tempo é o juiz da história, a quem cabe submeter as experiências humanas ao
teste da sobrevivência.
O erro de Voltaire, nesse sentido, teria sido o de ignorar deliberadamente o repertório
acumulado, e testado, ao longo do tempo, idealizando um conhecimento meramente
especulativo, sem fundamentos concretos e ingênuo, na medida em que, pela lógica inversa à
do reacionário, idealizaria o futuro, visto como o desfecho do processo histórico, como o ponto
ideal da trajetória humana.A Revolução Francesa, que, na avaliação de Burke, tem Voltaire como seu pai espiritual,
estaria levando a França à barbárie exatamente porque se achou capaz de refundar a história
a partir de um ponto zero, desprezando a memória das experiências acumuladas ao longo do
tempo. “Conservar”, para Burke, não significa evitar as mudanças, tampouco ressuscitar o
passado, mas, sim, caminhar à luz dos conhecimentos acumulados, manter vivo o potencial
pedagógico da tradição.
Foi exatamente esse o ponto retomado por Alexis de Tocqueville alguns anos depois.
Diferentemente de Burke, Tocqueville escreveu sobre a Revolução Francesa com algum
distanciamento histórico. Em 1856, publicou o livro O Antigo Regime e a Revolução , no qual
podemos encontrar reflexões muito semelhantes àquelas que foram desenvolvidas por
Edmund Burke, o que nos permite situar os dois autores como representantes de uma mesma
linhagem do pensamento político moderno: o conservadorismo.
Tal como Burke, Tocqueville sai em defesa da tradição, que teria sido violada pelo “ímpeto
patológico de renovação” dos revolucionários franceses. Diz Tocqueville:
 Retrato de Alexis de Tocqueville , por Théodore Chassériau (1850).
EMBORA A REVOLUÇÃO QUE SE OPERA NO ESTADO
SOCIAL, NAS LEIS, NAS IDEIAS, NOS SENTIMENTOS
DOS HOMENS ESTEJA BEM LONGE DE TERMINAR, JÁ
NÃO SE PODERIA COMPARAR SUAS OBRAS COM
NADA DO QUE FOI VISTO ANTERIORMENTE NO
MUNDO. REMONTO DE SÉCULO EM SÉCULO ATÉ A
ANTIGUIDADE MAIS REMOTA: NÃO PERCEBO NADA
QUE SE PAREÇA COM O QUE ESTÁ DIANTE DOS
MEUS OLHOS. COMO O PASSADO NÃO ILUMINA MAIS
O FUTURO, O ESPÍRITO CAMINHA EM MEIO ÀS
TREVAS.
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 32)
[OS JACOBINOS] TINHAM UMA PREDILECÇÃO PELAS
AMPLAS GENERALIZAÇÕES, PELOS SISTEMAS
LEGISLATIVOS FEITOS À PRESSA E UMA HARMONIA
PRETENSIOSA; O MESMO DESPREZO PELAS COISAS
DIFÍCEIS; O MESMO GOSTO POR REFORMAR AS
INSTITUIÇÕES EM MOLDES NOVOS, ENGENHOSOS E
ORIGINAIS; O MESMO DESEJO DE REMODELAR TODA
A CONSTITUIÇÃO SEGUNDO AS REGRAS DA LÓGICA
E DE UM SISTEMA PRECONCEBIDO EM VEZ DE
TENTAR MELHORAR AS SUAS PASSAGENS
DEFEITUOSAS. O RESULTADO FOI QUASE UM
DESASTRE; POIS QUE O QUE CONSTITUI MÉRITO NO
ESCRITOR PODE BEM SER UM VÍCIO NO ESTADISTA,
·E AQUELAS MESMAS QUALIDADES QUE FAZEM A
GRANDE LITERATURA PODEM CONDUZIR A
REVOLUÇÕES CATASTRÓFICAS. [...] ATÉ A
LINGUAGEM DOS JACOBINOS ERA EM GRANDE
PARTE TIRADA DOS LIVROS QUE LIAM; ESTAVA
CHEIA DE PALAVRAS ABSTRACTAS, DISCURSOS
FLOREADOS, SONORAS FRASES FEITAS E JOGOS DE
FRASES LITERÁRIOS. [ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(TOCQUEVILLE, 1997, p. 68)
A leitura cuidadosa das duas citações nos permite perceber como Tocqueville relaciona o
desprezo revolucionário pela tradição com a formulação de ideias equivocadas, puramente
abstratas e sem amparo na realidade. Teria sido esse o grande crime cometido pelos
jacobinos: crentes de que tinham imaginado a ideologia perfeita, dedicaram-se à implantação
de suas ideias na realidade, a qualquer custo.
 Henri de La Rochejacquelein na brutal batalha de Cholet em 1793 , por Paul-Émile
Boutigny.
A certeza de que se tratava de um ideal superior fez com o que os revolucionários
relativizassem qualquer regulação ética em função da realização de seu projeto. O resultado,
nas palavras de Tocqueville, foi o “crime” e a “infâmia”, provocados pela utopia futurista
revolucionária, que levou os jacobinos a se acharem prontos o suficiente para apagar a
história, destruindo todo o legado acumulado, tratado como manifestação do atraso a ser
superado pela ação revolucionária.
O núcleo duro dessa reflexão também pode ser encontrado nos escritos de François-René de
Chateaubriand, que se dedicou a comparar a ideia de “liberdade” defendida pelos líderes da
“Revolução Americana” (a independência dos EUA, em 1776) com o conceito de “liberdade”
que inspirava os jacobinos durante a Revolução Francesa.
Escrevendo na década de 1830, Chateaubriand destacou as diferenças entre as duas
experiências revolucionárias que até então pautavam o imaginário político ocidental. Para o
autor, as lideranças coloniais da América Britânica estavam movidas por um ideal superior de
liberdade, desenvolvido à luz da tradição, de um ideal de justiça desenvolvido com o tempo e
que, desde meados do século XVIII, havia sido violentado pelo parlamento britânica e sua
“nova política colonial”. Diferente era o caso dos revolucionários franceses, que desenvolveram
sua utopia libertária no plano abstrato, sem nenhum respaldo na tradição.
HÁ DUAS ESPÉCIES DE LIBERDADES PRATICÁVEIS:
UMA PERTENCE À INFÂNCIA DOS POVOS; É FILHA
DOS COSTUMES DA VIRTUDE; A OUTRA NASCE DA
VELHICE DOS POVOS; É FILHA DAS LUZES E DA
RAZÃO; É ESSA LIBERDADE DOS ESTADOS UNIDOS.
TERRA FELIZ QUE, EM MENOS DE TRÊS SÉCULOS,
PASSOU DE UMA LIBERDADE À OUTRA QUASE SEM
ESFORÇO, COM UMA LUTA QUE DUROU APENAS
OITO ANOS. HOJE, O POVO AMERICANO É O MAIS
LIVRE ENTRE OS POVOS CIVILIZADOS. [...] JÁ A
LIBERDADE JACOBINA É FILHA DA IMAGINAÇÃO E
DA PREPOTÊNCIA DAQUELES QUE, JULGANDO
OCUPAR O TOPO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA, SE
ACHARAM NO DIREITO DE LANÇAR AO FOGO TUDO
O QUE FOI ENSINADO PELAS GERAÇÕES
ANTERIORES.
(CHATEAUBRIAND, 1861, p. 23)
Novamente, encontramos a concepção de tempo típica da imaginação conservadora. O
passado não é visto como a instância imutável, mas sim como a luz que conduz, que inspira as
mudanças necessárias, e responsáveis, entendendo-se por “mudanças responsáveis” as
transformações que se processem no sentido de atualizar as tradições, jamais de romper com
elas.
A negação da ruptura é o elemento definidor da imaginação política conservadora. O
conservador é reformista, reconhece que é necessário adaptar o que já existe às novas
circunstâncias, melhorar aquilo que está disponível, entender que algo deve ser preservado,
conservado, para que seja possível existir algum vínculo de solidariedade entre as gerações.
 RESUMINDO
Jüstus Möser, Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e François-René de Chateaubriand
reagiram à modernidade que marcou o mundo em que viveram, atravessado pela ideia de
revolução, pela crença de que a história é um processo em marcha evolutiva orientada para o
futuro e que o passado é o atraso que precisa ser superado. Ao criticar essas ideias
dominantes, os autores acabaram propondo uma modernidade alternativa, conservadora,
reformista, crítica à abstração revolucionária e defensora do potencial pedagógico das
experiências acumuladas no tempo, da tradição.
Na próxima seção, estudamos o liberalismo, outra ideologia política moderna, rival da
conservadora, e um dos desdobramentos do imaginário revolucionário que se consolida na
Europa ocidental na segunda metade do século XVIII.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O CONSERVADORISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Distinguir a ideologia política liberal, um dos desdobramentos do pensamento
progressista que fundou a Modernidade
ASSISTA A UM VÍDEO QUE APRESENTA UMA
REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS
CONCEPÇÕES DE PODER POLÍTICO E DE
ESTADO DE NATUREZA DO SER HUMANO.
LIBERALISMOS MODERNOS
 Topo da representação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789,
pintura de Jean-Jacques-François Le Barbier.
Tal como acontece com o termo “conservador”, a palavra “liberal” também é bastante utilizada
no debate político, sendo bastante polissêmica. O que significa ser “liberal” no Brasil é algo
bastante diferente do que significa ser liberal nos Estados Unidos. É exatamente por
conta dessa polissemia que o correto é falar em “liberalismos”, no plural. Porém, é importante
saber que, antes dessa pluralidade toda, formou-se, na especificidade da conjuntura europeia,
um repertório de ideias baseado em certa noção de “liberdade”. Na definição proposta pelo
cientista político Nicola Tranfaglia:
É NESTES DEBATES POLÍTICOS QUE COMEÇAM A SE
DEFINIR, NUCLEARMENTE, OS PRINCÍPIOS DO
LIBERALISMO. PORÉM, A VERDADEIRA E AUTÔNOMA
FACE DO LIBERALISMO, SE MANIFESTA SOMENTE NA
RESPOSTA, POR ELE DADA, AO PROBLEMA DARUPTURA DA UNIDADE RELIGIOSA, RESPOSTA QUE,
NUM PRIMEIRO MOMENTO, SE CHAMA TOLERÂNCIA
E, NUM SEGUNDO MOMENTO, LIBERALIDADE
RELIGIOSA: A LIBERDADE RELIGIOSA É O BERÇO DA
LIBERDADE MODERNA.
(TRANFAGLIA, 2000, p. 687)
Aquilo que hoje chamamos de liberalismo, portanto, antes de ser uma corrente do pensamento
político ocidental moderno, é um conjunto de princípios que nasceram na realidade concreta da
história europeia, começando pelo século XVI, na conjuntura das guerras civis religiosas.
Depois de décadas de conflitos motivados por divergências religiosas, as sociedades europeias
pactuaram o princípio da liberdade do culto privado. Tratou-se de uma resolução de ordem
pragmática, desenvolvida em primeiro momento pelas pessoas comuns, em suas vivências
práticas. Se as guerras civis religiosas estavam ceifando vidas, paralisando a atividade
econômica, por que não pactuar um acordo segundo o qual cada um, nos limites de sua casa,
pudesse seguir a religião que bem entendesse?
Em um segundo momento, essa resolução pragmática foi teorizada pelos pensadores da
época, com destaque para John Locke (1632–1704), como veremos a seguir. Os grandes
pensadores não criam a realidade, pois esta não é criada a partir de uma formulação filosófica.
O que os grandes pensadores fazem é teorizar com excelência, é verbalizar com argumentos
lógicos e coerentes aquilo que está acontecendo em suas sociedades, legando para a
posteridade valiosos testemunhos sobre suas atmosferas de época.
 Retrato de John Locke , por Godfrey Kneller (1697).
ORIGEM
 Fuzilamento dos Torrijos e seus companheiros nas praias de Málaga , por Antonio Gisbert
(1888), representa as medidas repressivas tomadas pelo rei espanhol Fernando VII contra as
forças liberais em seu país.
O liberalismo, então, começa em uma situação de urgência histórica, na qual sociedades
estruturalmente colapsadas entenderam que era necessário fazer algo, pactuar princípios que
tornassem possível a vida coletiva com mínima insegurança e com estabilidade e
previsibilidade. Os princípios pactuados naquele momento e que até hoje são inegociáveis para
nós são os seguintes:
A divisão do mundo em duas esferas: a pública e a privada. A esfera pública é o espaço
da regulação, da autoridade dos poderes legitimados socialmente. A esfera privada é o
espaço das liberdades domésticas, da autoridade da casa, em que os governantes não
podem interferir.
Entre essas liberdades domésticas, está o livre direito ao culto privado. Assim, cada um,
nos limites de sua casa, exerceria a religião que melhor fosse ao encontro de suas
convicções pessoais. Nessa lógica, não há sentido nas guerras civis religiosas.
A propriedade privada é um bem tão sagrado como a vida.
O primeiro autor a organizar esses valores em um sistema de pensamento lógico e dotado de
coerência interna foi o filósofo inglês John Locke, que figura nos manuais de história da
Filosofia como o pai do liberalismo. Em 1689, Locke publicou Dois tratados sobre o governo ,
que seria considerado o texto de fundação do liberalismo político.
Podemos encontrar sistematizados valores que hoje estruturam as nossas sensibilidades
políticas. A ideia de que as “paredes da casa” são a “fortaleza da liberdade individual” é
sagrada para qualquer um de nós, que tem sua vida privada protegida por volumosa legislação,
pelo menos nos países sob inspiração da cultura jurídica ocidental.
Na segunda citação, Locke positiva o valor do trabalho, entendido como comportamento ativo
de apropriação daquilo que está naturalmente dado pela natureza, mas cujo consumo só é
possível mediante ação deliberada e organizada racionalmente, ou seja, trabalho. É importante
perceber que o pensamento de Locke não está associado ao regime produtivo capitalista, que
somente se constituiria como realidade histórica consolidada no século XIX, após a Revolução
Industrial.
A preocupação política/filosófica de Locke é estabelecer limites para o poder do Estado,
salvaguardando a liberdade individual, entendida pelo autor como o direito de livre
movimentação do corpo, sem constrangimentos externos ao próprio corpo. Com isso, podemos
concluir que o encontro entre o liberalismo e o capitalismo aconteceu tardiamente, pois o
liberalismo tem trajetória histórica independente do capitalismo. Em Dois tratados sobre o
governo , Locke formulou os valores fundamentais do Estado liberal. Esse aspecto do
liberalismo lockeano foi analisado por Nicola Tranfaglia.
LOCKE, INDO MAIS ADIANTE, REIVINDICA, NO CAMPO
POLÍTICO, A AUTONOMIA DA LEI MORAL OU
“FILOSÓFICA”, EM RELAÇÃO À LEI CIVIL, OU SEJA,
DO PODER ESPIRITUAL DO JUÍZO MORAL QUE É
ATRIBUIÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA. SOMENTE NA
CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO UTILITARISMO INGLÊS,
CRITICADO JUSTAMENTE POR JOHN STUART MILL,
NÃO ENCONTRAMOS ESTE ELEMENTO ÉTICO. ESTA
DEFESA DA AUTONOMIA MORAL DO INDIVÍDUO
PROVOCA UMA CONCEPÇÃO DE RELATIVISMO, QUE
ACEITA O PLURALISMO DOS VALORES COMO ALGO
POSITIVO PARA TODA A SOCIEDADE, A IMPORTÂNCIA
DA DISSENÇÃO, DO DEBATE E DA CRÍTICA E NÃO
RECUA DIANTE DO CONFLITO E DA COMPETIÇÃO. A
ÚNICA LIMITAÇÃO, PARA O CONFLITO E A
COMPETIÇÃO, É A NECESSIDADE DE SUA
INSTITUCIONALIZAÇÃO NOS COSTUMES MEDIANTE A
TOLERÂNCIA, NA POLÍTICA MEDIANTE INSTITUIÇÕES
SIGNIFICATIVAS, QUE GARANTAM O DEBATE, E
MEDIANTE NORMAS JURÍDICAS GERAIS, UMA VEZ
QUE SOMENTE NO DIREITO É POSSÍVEL ENCONTRAR
UM CRITÉRIO DE COEXISTÊNCIA ENTRE AS
LIBERDADES E/OU AS ARBITRARIEDADES DOS
INDIVÍDUOS. UM TAL RELATIVISMO NÃO É
EXPRESSÃO DE CETICISMO, E SIM DE
ANTIDOGMATISMO, VISTO PRESSUPOR UMA TOTAL
CONFIANÇA NA CAPACIDADE CRÍTICA DO
PENSAMENTO, PRESENTE NA CULTURA ILUMINISTA,
BEM COMO NA CULTURA HISTORICISTA,
DESEMBOCADAS AMBAS — A PARTIR DE ASPECTOS
DIVERSOS E DE DIFERENTES CONTEXTOS — NO
LIBERALISMO QUE NOS É CONTEMPORÂNEO.
(TRAFAGLIA, 1995, p. 701)
Uma das principais colaborações de Locke ao liberalismo foi a ideia de “lei moral ou filosófica”,
que nada mais é do que aquilo que hoje nós podemos chamar de opinião pública. A lei moral
seria, para Locke, a média dos valores compartilhados pela sociedade, e deveria servir como
principal modelo para o poder político, responsável por elaborar a “lei civil”, a legislação oficial
do Estado cujo objetivo é regular a vida em comunidade. A lei civil, portanto, na lógica
lockeana, não deve ser formalizada a partir dos interesses dos governantes, mas a partir dos
valores e desejos da sociedade civil, consolidados nos costumes.
Temos aqui o deslocamento da soberania do Estado para a sociedade civil, o que é
fundamental para o liberalismo. O Estado deixa de ser a manifestação do poder de Deus e
passa a existir em função da sociedade, tutelado por ela, e a sociedade é formada por
indivíduos livres. Em Locke, podemos encontrar os fundamentos conceituais daquilo que
posteriormente seria conhecido como “Estado Liberal”.
CULTURA DO LIBERALISMO POLÍTICO
Após o século XVIII, o liberalismo deixou de ser apenas um repertório de ideias e valores cujo
objetivo era proteger as liberdades individuais dos assédios do Estado, passando a fazer parte
da cultura histórica moderna.
A partir dos estudos do já citado historiador alemão Reinhart Koselleck, a Modernidade foi
fundada no século XVIII por uma nova forma de perceber o tempo, em que a história é lida
como potência em eterno movimento, impulsionada por forças motoras e orientada para o
futuro, entendido como progresso.
É como se a convicção da época fosse a de que o tempo traz melhoras na vida e o futuro será
sempre evolução em relação ao presente, assim como o presente será evolução em relação ao
passado.
Com essa convicção, desenvolveram-se diversas filosofias da história, cada qual tendo sua
própria leitura do processo histórico, tendo seu projeto utópico, sua concepção de futuro. O
liberalismo é uma dessas filosofias da história, baseado nos seguintes princípios:
A busca pela liberdade (entendida como a liberdade individual, do corpo físico) é a
potência que move a história humana.
O movimento históricocaminha sempre da situação de menos liberdade, e de mais
tirania, para a situação de mais liberdade, e de menos tirania.
A utopia liberal idealiza uma situação de plenas liberdades individuais, em que o Estado
teria suas competências tão reduzidas a ponto de possibilitar às pessoas um tipo de vida
similar ao das liberdades naturais, pré-sociais.
 Retrato de John Stuart Mill em 1870.
Esses princípios foram explorados por diversos pensadores liberais ao longo dos séculos XIX e
XX, o que nos mostra uma tradição de pensamento plural e diversificada. Concentraremos
nossos esforços no filósofo britânico John Stuart Mill (1806–1873), que trouxe a liberdade
para o primeiro plano de suas reflexões, tendo contribuído para o desenvolvimento da cultura
jurídica que deu origem ao Estado de direito.
O texto mais importante de Stuart Mill foi o ensaio Sobre a liberdade , publicado pela primeira
vez em 1859. No texto, Mill critica a doutrina dos direitos naturais, que havia animado os
revolucionários tanto em França como nos EUA, e que afirmava a existência de direitos
atribuídos diretamente por Deus aos homens e que não poderiam ser alienados pelo poder
civil.
Como Mill fazia parte da corrente utilitarista do pensamento liberal, materialista e ateia, a
existência de Deus era negada, o que reforçava ainda mais a importância da lei civil, pactuada
pela sociedade. Caberia, então, à lei dos homens garantir a “boa vida”, que, no utilitarismo de
Mill, significa a maior situação de liberdade possível. “Liberdade”, na concepção de Mill,
significa viver em um Estado de direito. Nas palavras do próprio autor:
É PARA CADA UM O DIREITO DE NÃO SE SUBMETER
SENÃO ÀS LEIS, DE NÃO PODAR SER PRESO, NEM
DETIDO, NEM CONDENADO, NEM MALTRATADO DE
NENHUMA MANEIRA, PELO EFEITO DA VONTADE
ARBITRÁRIA DE UM OU DE VÁRIOS 1INDIVÍDUOS. É
PARA CADA UM O DIREITO DE DIZER SUA OPINIÃO,
DE ESCOLHER SEU TRABALHO E DE EXERCÊ-LO; DE
DISPOR DE SUA PROPRIEDADE, ATÉ DE ABUSAR
DELA; DE IR E VIR, SEM NECESSITAR DE PERMISSÃO
E SEM TER QUE PRESTAR CONTA DE SEUS MOTIVOS
OU DE SEUS PASSOS. É PARA CADA UM O DIREITO
DE REUNIR-SE A OUTROS INDIVÍDUOS, SEJA PARA
DISCUTIR SOBRE SEUS INTERESSES, SEJA PARA
PROFESSAR O CULTO QUE ELE E SEUS ASSOCIADOS
PREFERIREM, SEJA SIMPLESMENTE PARA
PREENCHER SEUS DIAS E SUAS HORAS DE MANEIRA
MAIS CONDIZENTE COM SUAS INCLINAÇÕES, COM
SUAS FANTASIAS. ENFIM, O DIREITO, PARA CADA UM,
DE INFLUIR SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DO
GOVERNO, SEJA PELA NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE
CERTOS FUNCIONÁRIOS, SEJA POR
REPRESENTAÇÕES, PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS
QUAIS A AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA
A LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A
ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS.
(MILL, 1990, p. 3)
Como podemos perceber, a utopia idealizada por Mill não pode ser definida, simplesmente,
como o mundo das liberdades totais. Não se trata, de forma alguma, do mundo das liberdades
irrefreadas. Há a possiblidade do poder e da dominação no pensamento político de Mill, desde
que venha da lei, entendida aqui como contrato coletivamente construído. O Estado de
liberdade de que fala Stuart Mill é o Estado de direito, o que torna o autor herdeiro de Locke e
nome incontornável na tradição político-jurídica que, no século XIX, seria a responsável pela
invenção do Estado liberal, e que contaria ainda com outros nomes, como Montesquieu
(1689–1755).
 Retrato de Montesquieu .
Já Spencer, Keynes e Mises estavam preocupados com as questões econômicas que vieram
à luz a partir do século XIX, nas modernas sociedades de massa industrializadas. Os três
autores, cada um a seu modo, debruçaram-se sobre os temas da distribuição da riqueza social
e da pobreza material. Entender melhor os argumentos deles nos ajuda a compreender a
dinâmica dos conflitos sociais e políticos que atravessaram o século XX e chegaram até nós.
HERBERT SPENCER
Filósofo britânico (1820 – 1903).
JOHN MAYNARD KEYNES
Economista britânico (1883 – 1946).
LUDWIG VON MISES
Economista austríaco (1881 – 1973).
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AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O LIBERALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Localizar o surgimento da ideologia nacionalista ao longo do século XIX
ASSISTA A UM VÍDEO QUE ABORDA OS
CONCEITOS DE NAÇÃO E DE NACIONALISMO.
NACIONALISMO
 O sonho das repúblicas democráticas e sociais mundiais , gravura de Frédéric Sorrieu
(1848).
No fim do século XVIII, começou a nascer na Europa o nacionalismo, que se espalharia pelo
mundo nos séculos XIX e XX, transformando-se na principal ideologia moderna. Não seria
exagerado dizer que toda a história humana, do século XVIII ao século XXI, foi, em alguma
medida, pautada pelo nacionalismo. Mas o que seria, exatamente, o nacionalismo?
É impossível definir o nacionalismo sem dedicar alguma atenção ao seu conceito-base: nação.
O historiador britânico Eric Hobsbawm nos apresenta definições das ideias de nação e
nacionalismo que são importantes para este estudo.
 RESUMINDO
A nação, portanto, não é um dado elementar da realidade, organização natural das
coletividades humanas. A nação, entes de tudo, é uma elaboração conceitual resultando do
sistema de pensamento nacionalista, que está fundamentado na tese de que a vida social
humana somente é possível em comunidade nacional, na qual cidadãos que compartilham
valores culturais, religiosos e linguísticos estão irmanados por vínculos identitários e de
solidariedade, submetidos às mesmas estruturas de poder.
 Retrato de Maximilien de Robespierre .
O processo de afirmação e consolidação histórica dessas categorias foi complexo e
contraditório, sendo diretamente marcado pelos principais eventos da história mundial nos
últimos trezentos anos. O berço do nacionalismo foi a França revolucionária, como testemunha
Maximilien de Robespierre (1758–1794), líder jacobino e um dos protagonistas da Revolução
Francesa:
NOS ESTADOS ARISTOCRÁTICOS A PALAVRA
“PÁTRIA” TEM SENTIDO UNICAMENTE PARA AS
FAMÍLIAS ARISTOCRÁTICAS, ISTO É, PARA OS QUE
SE APODERARAM DA SOBERANIA. SOMENTE NA
DEMOCRACIA O ESTADO É REALMENTE A PÁTRIA DE
TODOS OS INDIVÍDUOS QUE O COMPÕEM E PODE
CONTAR COM UM NÚMERO DE DEFENSORES,
PREOCUPADOS PELA SUA CAUSA, TÃO GRANDE
QUANTO O NÚMERO DE SEUS CIDADÃOS.
(ROBESPIERRE apud LEVI, 2000, p. 800)
As palavras do líder revolucionário francês apontam para a relação entre nação, nacionalismo
e democracia, entendida aqui como situação política vocacionada para a ampliação de direitos.
O que os revolucionários estavam propondo, especialmente durante o “terror jacobino”,
momento mais radical da Revolução Francesa (1792–1794), era a inclusão do “povo” no
território imaginado da “pátria”, que, no vocabulário político da revolução, significava o acesso
às liberdades fundamentais, aos direitos políticas e ao conforto material.
A ruptura com o Estado aristocrático, que somente poderia ser feita por meio da guerra
revolucionária, significava expandir o alcance da pátria. Agora, o ingresso na “pátria” passaria a
se dar não com base no princípio da distinção natural, característica das sociedades
aristocráticas, mas sim a partir da noção de igualdade natural entre todos aqueles que
pudessem ser definidos como “franceses”, incluindo as pessoas escravizadas nos territórios
coloniais. Nas palavras do cientista político italiano Lucio Levi:
FOI ASSIM QUE A NAÇÃO FOI SE TORNANDO A
FÓRMULA POLÍTICA EM QUE A BURGUESIA, NUM
PRIMEIRO MOMENTO, AS CLASSES MÉDIAS, A
SEGUIR, E O POVO TODO, MAIS TARDE,
IDENTIFICARAM A AFIRMAÇÃO DE SEUS DIREITOS E
O PROGRESSO DAS CONDIÇÕES MATERIAIS CONTRA
OS PRIVILÉGIOS E A DOMINAÇÃO ARBITRÁRIA DOS
MONARCAS, DA ARISTOCRACIA E DO CLERO.
(LEVI, 2000, p. 800)
Em seu primeiro momento, então, o nacionalismo esteve associado à noção de soberania
popular, tal como havia sido formulada por Jean Jacques Rousseau (1712–1778), um dos
“pais espirituais” da Revolução Francesa. No tratado Contrato Social , publicado pela primeira
vez em1762, Rousseau desenvolveu conceitualmente o deslocamento da soberania que se
tornaria elementar para a democracia moderna e para o novo conceito de “povo” que se
afirmaria na Revolução Francesa. Nas palavras do filósofo:
 Retrato de Jean-Jacques Rousseau , por Maurice Quentin de La Tour.
O ESTADO NÃO É DOMÍNIO PESSOAL DO PRÍNCIPE,
MAS PERTENCE AO POVO, CONSTITUÍDO PELO
CONJUNTO DE CIDADÃOS E NÃO DE SÚDITOS. O
ESTADO DEVE ENCARNAR OS INTERESSES DO POVO
E NÃO OS INTERESSES DO PRÍNCIPE E DA NOBREZA.
O ESTADO SOBERANO É AQUELE QUE EXISTE EM
FUNÇÃO DO SEU POVO, QUE NÃO POUPA ESFORÇOS
PARA LEVAR FELICIDADE PARA O SEU POVO. SE O
ESTADO NÃO CUMPRE ESSE PAPEL, É DIREITO DO
POVO MUDAR A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO.
(ROUSSEAU, 2011, p. 33)
Haveria, para Rousseau, uma relação contratual entre o Estado, estrutura de poder controlada
pelos governantes, e o povo, a totalidade das pessoas que habita determinado território
cercado por fronteiras. Esse contrato, ao contrário do que afirmavam as teologias políticas do
Antigo Regime, não era legitimado por Deus, mas sim por uma troca de interesses entre
racionalidades distintas. De um lado, a racionalidade do Estado, com o objetivo de governar; do
outro, a racionalidade do povo, interessado na “felicidade e no bem-viver”, para falar como o
próprio Rousseau.
Se o Estado não cumpre sua parte no contrato, nada mais obriga o povo a cumprir a sua, ou
seja, a permitir que aquele tipo de Estado continue existindo, que aquelas pessoas continuem
governando. Nesse momento, a guerra revolucionária é legítima, para que o Estado volte a, de
fato, atender aos interesses do povo. Em Rousseau, o Estado não é soberano em si. Sua
soberania foi delegada pelo povo, pois pertence a ele.
NACIONALISMO E REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
Outro momento decisivo para o nacionalismo foi a Revolução Industrial, que aconteceu entre o
fim do século XVIII e meados do século XIX. Em síntese, podemos definir a Revolução
Industrial como as mudanças estruturais ocorridas no processo de transformação de matéria-
prima em produto acabado. O processo produtivo foi mecanizado, racionalizado, em um
crescimento de eficiência inédito na história humana.
O resultado disso foi percebido em todas as esferas da vida, com destaque para o
deslocamento de grande quantidade de pessoas para as cidades, estendendo as relações de
troca e de trabalho para espaços mais ampliados do que as comunidades tradicionais, onde a
vida produtiva se dava por meio do artesanato e de outras formas de trabalho manual.
Novamente, é o cientista político Lucio Levi quem nos ajuda na compreensão.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL QUEBRA AS PEQUENAS
UNIDADES PRODUTIVAS AGRÍCOLA-ARTESANAIS E
AS LIMITADAS COMUNIDADES QUASE NATURAIS E
TRADICIONAIS, QUE REPRESENTAVAM OS
HORIZONTES DE VIDA DA GRANDÍSSIMA MAIORIA DA
POPULAÇÃO, E AMPLIA ENORMEMENTE O
CONTEXTO ECONÔMICO-SOCIAL A QUE O INDIVÍDUO
PERTENCE. CONSEQUENTEMENTE, LIGOU-SE AO
ESTADO UM NÚMERO CRESCENTE DE
COMPORTAMENTOS, UMA VEZ QUE OS INDIVÍDUOS
PASSARAM A EXIGIR A INTERVENÇÃO DESTE A FIM
DE GARANTIR A EVOLUÇÃO ORDENADA DAS
RELAÇÕES SOCIAIS NO ÂMBITO NACIONAL.
(LEVI, 2010, p. 802)
Se a Revolução Francesa fez do nacionalismo um discurso de ampliação de direitos
considerados fundamentais, a Revolução Industrial condicionou o nacionalismo a um
planejamento racionalizado e centralizado da atividade social e econômica. Agora, além de
cidadão, o indivíduo passa a ser tratado como unidade produtiva, como alguém que teria, entre
suas atribuições cívicas, a colaboração para o crescimento da riqueza nacional. Outra
mudança importante no ideário nacionalista viria na década de 1870, com a unificação da
Alemanha.
 O príncipe Frederico Carlos da Prússia dá ordem de ataque às suas tropas eufóricas, na
Batalha de Königgrätz.
Em 1871, após uma série de conflitos, com destaque para a Guerra Franco-Prussiana,
nasceu o Estado-nacional alemão. Inspirada em ideias nacionalistas, a unificação alemã trouxe
a expansão imperialista e o belicismo para o repertório nacionalista, escanteando o ideário de
cooperação transnacional e de fraternidade universal que pautou a ideologia nos anos da
Revolução Francesa. O Estado-nacional alemão nasceu impulsionado pela doutrina da
expansão do espaço vital, questionando as pretensões territoriais da Inglaterra, a principal
potência da época.
O surgimento da Alemanha foi o marco inaugural de constante movimentação militar na Europa
que se estenderia até metade do século XX, envolvendo, inclusive, duas guerras mundiais. O
ideólogo nacionalista italiano Giuseppe Mazzini (1805–1872) viu com preocupação o
nacionalismo belicista alemão.
EM NADA O NACIONALISMO DA JOVEM NAÇÃO
ALEMÃ LEMBRA O NACIONALISMO DOS ANOS DA
REVOLUÇÃO, ONDE A FRATERNIDADE UNIVERSAL E
A PAZ MUNDIAL APONTAVAM PARA UM MUNDO
FORMADO POR NAÇÕES CAPAZES DE RESPEITAR A
AUTO-DETERMINAÇÃO UMAS DAS OUTRAS. O QUE
VEMOS HOJE É A ASSOCIAÇÃO DO NACIONALISMO
COM A GUERRA, COM AS RIVALIDADES E COM
DISCÓRDIA ENTRE OS HOMENS. [ORTOGRAFIA
ORIGINAL]
(MAZINNI apud LEVI, 2011, p. 802)
UM BARRIL DE PÓLVORA PRESTES A
EXPLODIR
 Grandes canhões fabricados pela Bethlehem Steel Company (empresa siderúrgica dos
Estados Unidos) em 1918.
O desenlace dos acontecimentos mostrou que a intuição de Mazinni estava correta. Cada vez
mais, o sistema internacional europeu se tornava um barril de pólvora, atravessado por tensões
e rivalidades que envolviam as grandes potências da época, como França, Inglaterra e
Alemanha.
Veio à luz, nesse momento, outra tradição do pensamento político nacionalista, bem diferente
daquela de Rousseau, Robespierre e do próprio Mazinni. Na França, o nacionalismo xenófobo
e de extrema-direita teve no poeta e político Charles Maurras (1868–1952) o seu principal
representante. Maurras foi diretor do jornal Action Française , no qual difundiu aquilo que ele
mesmo chamava de “nacionalismo integral”, que pregava o ódio aos ingleses, alemães, judeus
e a tudo aquilo que pudesse comprometer o que ele entendia como a “genuína nacionalidade
francesa”.
Na Alemanha, tem destaque a figura de Alfred Hugenberg (1865–1951), empresário e político
bastante influente durante os anos da República de Weimar (1918–1925), quando a
Alemanha foi governada por uma constituição liberal-democrática. Hugenberg foi um dos
grandes opositores do regime de Weimar, liderando um movimento nacionalista radical que por
anos colaborou com o Partido Nacional-Socialista, liderado por Adolf Hitler (1889–1945).
 Hitler com membros do Partido Nazista em 1930.
Na Itália, o romancista Enrico Corradini (1865–1931) produziu muitos textos propagandeado o
radicalismo nacionalista, tendo sido um dos inspiradores do fascismo liderado por Benito
Mussolini (1883–1945).
O que podemos perceber é que, no fim do século XIX, a ideologia nacionalista abandonou os
ideais democráticos de soberania popular e até mesmo a pretensão do planejamento
econômico para sucumbir à xenofobia e à ambição de expansão militar, tornando-se, assim,
prelúdio do nazifascismo que, como veremos na próxima seção, desestabilizou o sistema
internacional na primeira metade do século XX.
EXISTE UMA RELAÇÃO MUITO ESTREITA ENTRE O
PROGRAMA POLÍTICO DO MOVIMENTO
NACIONALISTA E O DO FASCISMO E DO NAZISMO. O
NACIONALISMO É UM COMPONENTE ESSENCIAL DAS
IDEOLOGIAS FASCISTA E NAZISTA. PORÉM, O
MOVIMENTO NACIONALISTA NUNCA CHEGOU A SER,
DIFERENTEMENTE DO FASCISTA E DO NAZISTA, UM
MOVIMENTO DE MASSA. O NAZI-FASCISMO, COMO
MANIFESTAÇÃO DA FASE MÁXIMA DE
DEGENERESCÊNCIA DO ESTADO NACIONAL, FOI UMA
TENTATIVA PARA IR CONTRA A LINHA EVOLUTIVA DA
HISTÓRIA, FOI A EXPRESSÃO DA VONTADE DE
SOBREVIVÊNCIA DO ESTADO NACIONAL NUMA
CONJUNTURA HISTÓRICO-SOCIAL NOVA.
[ORTOGRAFIA ORIGINAL]
(LEVI, 2011, p. 805)
Não seria exagerado dizer que o nacionalismo foi a mais vitoriosa entre todas as ideologias
modernas. Mais que o conservadorismo, o liberalismo, o comunismo e o fascismo, o
nacionalismo mostrou grande capacidade de sobrevivência no tempo, estruturando,até hoje, a
vida coletiva em, absolutamente, todos os lugares do mundo. Segundo o cientista político
inglês Benedict Anderson, o nacionalismo é o principal sistema de crença já inventado pela
humanidade.
Essa crença é muito forte e foi difundida pelo mundo nas experiências de emancipação
nacional que aconteceram na América, na África e na Ásia entre os séculos XIX e XX, fundada
naquilo que Anderson chama de “comunidade imaginada”: uma abstração, artificial, inventada,
que, ao longo da modernidade, inspirou identidade, arte e cultura, mas também violência e
morte. A seguir, estudaremos o desdobramento mais perverso do nacionalismo, corrente
ideológica que transformou a política na indústria da morte.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO PEREZ
OLIVEIRA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O NACIONALISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
 Reconhecer o desenvolvimento dos fascismos na primeira metade do século XX
ASSISTA AGORA A UM VÍDEO QUE REPRODUZ
UM DOS DISCURSOS DE MUSSOLINI E PROPÕE
UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O IDEAL DO
HOMEM FASCISTA.
NAZIFASCISMO
 Adolf Hitler faz um discurso na Kroll Opera House aos homens do Reichstag sobre o
assunto Roosevelt e a guerra no Pacífico, declarando guerra aos Estados Unidos.
A história da primeira metade do século XX foi marcada pelo fortalecimento de ideologias
políticas autoritárias e violentas, que transformaram o Estado em máquina de extermínio e
perseguição. Trabalharemos, aqui, com as duas manifestações clássicas dessas ideologias: o
nazismo alemão e o fascismo italiano, que desestabilizaram o sistema internacional nas
décadas de 1930 e 1940.
 Benito Mussolini e Adolf Hitler durante a visita de Mussolini a Munique, em 19 de junho de
1940.
Esses regimes deixaram a semente do autoritarismo e do terrorismo de Estado plantados na
cultura política ocidental. Até hoje, no século XXI, podemos observar, nos EUA, na América do
Sul e em diversas outras partes do mundo, lideranças políticas e governos que se inspiram nos
valores nazifascistas.
No caso alemão, segundo os estudos do cientista Karl Dietrich Bracher, a ascensão do
nazismo deve ser explicada a partir de duas matrizes distintas. A primeira se refere, como já
vimos na seção anterior, ao nacionalismo agressivo e militarizado protagonizado no século
XIX pela Prússia, Estado que liderou o processo de unificação da Alemanha. A segunda está
na derrota alemã na Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e nas sanções que a comunidade
internacional impôs ao país.
COMO FENÔMENO HISTÓRICO, O NACIONAL-
SOCIALISMO TEM QUE SER DEFINIDO FOCALIZANDO
DOIS NÍVEIS PRINCIPAIS: COMO REAÇÃO DIRETA À
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E A SUAS
CONSEQUÊNCIAS, PORÉM, TAMBÉM, COMO
RESULTADO DE TENDÊNCIAS E IDEIAS BEM MAIS
ANTIGAS, RELACIONADAS COM A PROBLEMÁTICA
DA UNIFICAÇÃO POLÍTICA E DA MODERNIZAÇÃO
SOCIAL — PROBLEMÁTICA QUE DOMINA O
DESENVOLVIMENTO ALEMÃO DESDE O COMEÇO DO
SÉCULO XIX.
(BRACHER, 2000, p. 807)
Segundo o autor, o fundamental para a compreensão da ascensão do nazismo ao controle do
Estado alemão foi a combinação de uma retórica nacionalista fundada no princípio da
expansão vital, que inspirou a unificação alemã em meados do século XIX, e o trauma da
derrota da Primeira Guerra Mundial. No momento em que a Alemanha se tornou pária no
sistema internacional europeu após o fim do conflito, a ideologia nacionalista, em toda sua
agressividade, foi acionada pelas lideranças nazistas para insuflar a sociedade civil alemã em
um desejo coletivo de revanche.
CONTEXTO
 Tropas alemãs entram em Saaz (cidade na atual República Tcheca) em 1938.
Sem dúvida alguma, a Alemanha foi a grande derrotada na Primeira Guerra Mundial, sendo o
Tratado de Versalhes, armistício assinado em 1918, o grande símbolo da nova ordem que se
estabeleceu após o conflito. O Tratado de Versalhes impôs diversas sanções à Alemanha, indo
desde indenizações que deveriam ser pagas aos países vencedores (Inglaterra e França, por
exemplo), passando por concessões territoriais (como a Alsácia e Lorena, na fronteira com a
França) e chegando até a proibições no que se refere à organização das forças armadas. Foi
um golpe duro na autoestima do povo alemão, algo que foi potencializado pelo ex-militar
austríaco Adolf Hitler, que rapidamente se tornou uma das principais lideranças do partido
nazista.
EM TERMOS DE PSICOLOGIA SOCIAL, ELE [HITLER]
REPRESENTA O HOMEM COMUM, EM POSIÇÃO DE
SUBORDINAÇÃO, ANSIOSO PARA COMPENSAR SEUS
SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE ATRAVÉS DA
MILITÂNCIA E DO RADICALISMO POLÍTICO. SEU
NASCIMENTO NA ÁUSTRIA, SEU FRACASSO NA
ESCOLA E NA PROFISSÃO E A EXPERIÊNCIA
LIBERTADORA DA CAMARADAGEM MASCULINA
DURANTE A GUERRA, FORJARAM, AO MESMO
TEMPO, SUA VIDA E A IDEOLOGIA DO NACIONAL-
SOCIALISMO.
(BRACHER, 2000, p. 810)
Militar de baixa patente sem grandes feitos militares, artista frustrado pelo não reconhecimento
do mercado cultural, é como se Hitler representasse a própria Alemanha naquela conjuntura:
apequenado, menosprezado e com ódio, muito ódio. Foi nas franjas desse ressentimento
coletivo que o Partido Nacional-Socialista (“socialista”, aqui, não tem nenhuma relação com o
socialismo, sistema social e político idealizado por Karl Marx), foi ganhando força e se tornando
popular.
O nazismo foi se construindo na prática política sem se inspirar em grandes tratados de
delimitação conceitual. Porém, se quisermos encontrar um “teórico do nazismo”, podemos
destacar o escritor Alfred Rosenberg (1893–1946), autor do livro O mito do século XX ,
publicado pela primeira vez em 1930. Rosenberg chegou a ser ministro de Hitler, participando
ativamente da deportação e do extermínio de milhares de pessoas.
O grande argumento de Rosenberg apontava para a incapacidade da República de Weimar —
regime político liberal-democrático que governou a Alemanha entre 1918 e 1933 — de
promover a “restauração da grandeza alemã”. Toda a propaganda política nazista, dirigida
pessoalmente por Joseph Goebbels (1897–1945), o “marqueteiro de Hitler”, investiu na
acusação de fraqueza para deslegitimar o regime de Weimar.
 Alfred Rosenberg.
Outro fator explorado pela propaganda foi o medo das elites perante o fortalecimento do
socialismo após 1918, com a Revolução Russa. Até então, muitos analistas, incluindo o
próprio Karl Marx, acreditavam que a Alemanha seria o palco da primeira grande revolução
socialista, por já contar com uma organização industrial sólida e uma numerosa classe
operária.
Outro ponto importante para a propaganda nazista foi o estímulo ao antissemitismo, que já era
presente no imaginário europeu desde a Antiguidade. Como a identidade judaica é antes
religiosa que política, os judeus se consideram mais pertencentes a uma comunidade irmanada
pela fé do que as comunidades nacionais unificadas pela identidade nacionalista. Nesse
sentido, o judeu inglês, francês ou alemão tende a se considerar mais judeu do que inglês,
francês ou alemão. Esse cosmopolitismo religioso judaico foi visto como uma ameaça à
integração e à pureza da “nação alemã”.
BASES DO PENSAMENTO
Assim, podemos dizer que, em termos doutrinários, o nazismo apresenta as seguintes
características:
Discurso ultranacionalista que definiu a nacionalidade alemã como representante de uma
raça evolutivamente superior e, por isso, vocacionada à expansão.
Negação do regime democrático-liberal, acusado de ser fraco e incapaz de resgatar a
“grandeza alemã”, que estava sendo comprometida pelas imposições do Tratado de
Versalhes.
Anticomunismo, o que fez com que as elites alemãs, assustadas com o espectro da
Revolução Russa, não pensassem duas vezes antes de apoiar o partido nazista.
Antissemitismo, por considerar o cosmopolitismo religioso judeu uma ameaça à “pureza”
da nacionalidade alemã.
Uma eficiente máquina de propaganda em massa, baseada na narrativa de que a história
alemã era a história do conflito com os “outros”, e que o que estava em jogo nesse
conflito era a sobrevivência e a pureza da pátria.
Combinando todos essesfatores, somados à percepção da sociedade alemã de que o governo
democrático não seria capaz de superar os efeitos da derrota na Primeira Guerra Mundial, a
década de 1920 foi marcada pela ascensão política meteórica do Partido Nazista. Em pouco
tempo, Hitler deixou de ser uma figura caricata, alvo de piadas em jornais e folhetins, e se
tornou a principal liderança política do país.
Após a tentativa de golpe frustrada em 1923, que levou Hitler à prisão por um ano, o Partido
Nazista foi se acomodando às regras do jogo eleitoral, e assim foi corroendo a democracia por
dentro. Em 1930, Hitler assumiu o cargo de chanceler, uma espécie de primeiro-ministro. Em
1933, após a morte do presidente Paul von Hindenburg (1847-1933), Hitler se tornou o ditador
supremo da Alemanha, o Führer . O resultado para a Alemanha e para o mundo já é bastante
conhecido.
A trajetória histórica do fascismo na Itália guarda algumas semelhanças com o caso do
nazismo europeu, mas existem também diferenças que precisam ser destacadas. No que se
refere às semelhanças, podemos destacar, a partir da leitura dos estudos desenvolvidos pelo
cientista político italiano Edda Saccomani:
Nacionalismo agressivo: tal como aconteceu na Alemanha, a Itália também se construiu como
nação unificada no século XIX, em um processo político marcado por intensa agitação militar.
 Reunião do partido nazista em Nurembergue em 1936.
Tal como Hitler, Benito Mussolini também se fortaleceu liderando um sentimento crítico ao
liberalismo político, acusado de ser fraco e potencialmente corrupto. O fascismo italiano, assim
como o nazismo alemão, defendia que a representação política deveria acontecer fora dos
canais legislativos estabelecidos pelo liberalismo político. O chefe seria o único capaz de
representar o povo, por meio de uma relação direta e não mediada.
 Benito Mussolini durante a marcha sobre Roma em 28 de outubro de 1922.
As semelhanças entre Hitler e Mussolini não param por aí. Ambos foram militares, lutaram na
Primeira Guerra Mundial e construíram suas trajetórias por dentro da democracia liberal,
concorrendo a eleições e ocupando cadeiras no legislativo.
 Adolf Hitler e Benito Mussolini em Munique, na Alemanha.
UNIÃO E DISSEMINAÇÃO DE UM MODELO
 A assinatura do Pacto de Aço em 22 de maio de 1939 em Berlim.
Essas semelhanças levaram a uma aliança entre Alemanha e Itália, firmada em maio de 1939,
no acordo que ficou conhecido como “Pacto de Aço”. Por outro lado, a questão racial,
especialmente o antissemitismo, não foi central para o fascismo italiano, intensificando-se mais
depois da consolidação da aliança com a Alemanha. Outra diferença importante se refere ao
peso da Primeira Guerra Mundial, que não foi tão grande para a ascensão de Mussolini como
havia sido para Hitler.
Já as relações com o comunismo foram ainda mais tensas na Itália fascista do que foram na
Alemanha nazista, e isso se explica pelo fato de que o próprio Mussolini começou sua trajetória
política no partido socialista. O partido fascista disputou as mesmas bases sociais com o
partido socialista: os trabalhadores urbanos organizados em sindicatos, que foram cooptados
pela estrutura burocrática do Estado fascista.
Se, na Alemanha nazista, a perseguição nazista aos comunistas se deu pelo temor de que
pudesse acontecer uma revolução socialista no país, na Itália, isso aconteceu, também, devido
à disputa política direta entre fascistas e comunistas pela mesma base social.
Outra diferença importante se dá no plano da sistematização doutrinária. Enquanto o nazismo
não chegou a produzir um tratado de definição teórica, o fascismo foi mais cuidadoso nesse
sentido. O livro A doutrina do fascismo , escrito por Mussolini e pelo filósofo Giovanni Gentile
(1875–1944), foi publicado em 1932. A doutrina fascista nega o individualismo, que é uma das
principais invenções conceituais da Modernidade, como vimos na primeira parte de nosso
estudo.
PODEMOS PENSAR QUE ESTE É O SÉCULO DA
AUTORIDADE, UM SÉCULO DE DIREITA, UM SÉCULO
FASCISTA; SE O SÉCULO XIX FOI O SÉCULO DO
INDIVIDUALISMO (LIBERALISMO SEMPRE SIGNIFICA
INDIVIDUALISMO), PODEMOS PENSAR QUE ESTE É O
SÉCULO DO COLETIVISMO E, PORTANTO, O SÉCULO
DO ESTADO.
(GENTILE; MUSSOLINI, 2019, p. 23)
O principal adversário ideológico do fascismo é o liberalismo individualista. A célula social
básica para o fascismo é a coletividade social, representada, em espírito, pelo líder
carismático. Na moralidade fascista, o individualismo é sinônimo de egoísmo e tem como
resultado a desagregação da sociedade. O ideal, então, seria a coesão social, a partir de
critérios definidos pelo próprio Estado, de cima para baixo, pautada em valores gerais como
religião, ordem e família. Assim, o Estado teria autoridade para perseguir liberdades individuais,
matar e torturar, sempre em nome da “razão coletiva”.
AGORA, O PROFESSOR RODRIGO DOS SANTOS
RAINHA RETOMA OS PONTOS PRINCIPAIS
SOBRE O NAZIFASCISMO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudamos quatro sistemas de pensamento político que, desde o século XIX, inspiram
comportamentos políticos de indivíduos e grupos e a própria organização do Estado.
Conservadores, liberais, nacionalistas e fascistas deixaram heranças que até hoje se fazem
presentes no debate político, ainda que, muitas vezes, não tenhamos consciência disso.
Fundamental para nós é estudar esses repertórios e entender que a política é capaz de nos
emancipar, de garantir direitos que não deveriam ser negados a nenhum ser humano. Porém, é
capaz, também, de promover a barbárie, o extermínio, o preconceito e a violência. Cabe,
então, a cada um de nós escolher. A escolha é sempre um ato político.
 PODCAST
Ouça agora a conversa dos professores Rodrigo Rainha e Rodrigo Perez sobre os principais
tópicos do tema.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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BRACHER, Karl Dietrich. Nacional-socialismo. In : Dicionário de política. BOBBIO, Norberto;
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BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Edipro, 2014.
COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e
reacionários. São Paulo: Três estrelas, 2014.
CHATEAUBRIAND, René. Études historiques. Œuvres complètes de Chateaubriand. Paris:
Garnier, T.IX, 1861.
GENTILE, Giovanni; MUSSOLINI, Benito. A doutrina fascista. São Paulo: Apris, 2019. 
HOBSAWM, Eric. Nações e nacionalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio
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LEVI, Luci. Nacionalismo. In : Dicionário de política. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola;
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ROUSSEAU, Jean Jacques. O contrato social. Rio de Janeiro: LPM, 2011.
TRANFAGLIA, Nicola. Liberalismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco. Dicionários de Ciência Política Brasília: UNB, 2000. pp. 686-705.
MÖSER, Jüstus. Osnabrückische Geschichte: Allgemeine Einleitung. Osnabruque: Schmid,
1992. 
NISBET, Robert. O conservadorismo. Lisboa: Estampa, 1989.
EXPLORE+
Leia as seguintes obras, que são referências para seus estudos:
Dicionários de Ciência Política , de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci, Gianfranco
Pasquino.
O antigo regime e a revolução , de Alexis Tocqueville.
Sobre a liberdade , de Stuart Mill.
Existem comentários e vídeos na rede. Vale a pena uma boa pesquisa.
CONTEUDISTA
Rodrigo Perez Oliveira
 CURRÍCULO LATTES
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