Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Controle Concentrado de Constitucionalidade no Brasil: Poderes e Limites do Supremo Tribunal Federal na Defesa dos Direitos Fundamentais. SUMARIO I. Introdução - Apresentação do tema - Objetivos do trabalho II. Controle de Constitucionalidade - Origem e evolução histórica do controle de constitucionalidade - Tipos de controle de constitucionalidade - Controle de constitucionalidade no Brasil III. Controle Concentrado de Constitucionalidade - Conceito e características - Histórico do controle concentrado no Brasil - Ações de controle concentrado no STF IV. Efeitos das Decisões de Controle Concentrado de Constitucionalidade - Efeitos erga omnes - Efeitos vinculantes - Modulação dos efeitos das decisões V. Críticas ao Controle Concentrado de Constitucionalidade - Falta de democracia - Supremacia do STF - Judicialização da política VI. O Papel do STF no Controle Concentrado de Constitucionalidade - Composição e atribuições do STF - Posição do STF na estrutura do Poder Judiciário VII. Casos Relevantes de Controle Concentrado de Constitucionalidade - ADI 5.127 - união homoafetiva - ADPF 54 - interrupção de gravidez de feto anencéfalo - ADI 4.277 - Lei da Ficha Limpa VIII. Conclusão - Síntese das principais informações - Importância do controle concentrado de constitucionalidade para a proteção da Constituição e dos direitos fundamentais - Reflexão crítica sobre o tema IX. Referências Bibliográficas O controle de constitucionalidade é uma das principais ferramentas do sistema jurídico para garantir a proteção dos direitos fundamentais e a conformidade das leis e atos do poder público com a Constituição. Nesse sentido, o controle concentrado de constitucionalidade é uma modalidade de controle em que a análise da constitucionalidade é realizada por órgãos específicos, que possuem competência para declarar a invalidade de leis e atos normativos considerados inconstitucionais de forma geral e abstrata. O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise detalhada do controle concentrado de constitucionalidade, abordando suas características, origem, tipos de ações, efeitos e críticas. Para tanto, serão utilizados conceitos e doutrinas de renomados juristas e especialistas na área, além de casos práticos e jurisprudências relevantes. Ao final deste trabalho, espera-se que o leitor possa compreender a importância do controle concentrado de constitucionalidade para o sistema jurídico e político de um país, bem como suas vantagens, limitações e desafios. O controle de constitucionalidade surgiu como uma forma de garantir a supremacia da Constituição sobre as demais normas do ordenamento jurídico e, assim, proteger os direitos fundamentais e os princípios fundamentais do Estado de Direito. A sua origem remonta ao caso Marbury v. Madison, ocorrido em 1803, nos Estados Unidos da América, em que a Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade de uma lei que entrava em conflito com a Constituição americana. A partir desse julgamento, consolidou-se a tese da supremacia constitucional e do controle judicial de constitucionalidade, que passou a ser adotada por diversos países do mundo. No Brasil, o controle de constitucionalidade surgiu na Constituição de 1824, que já previa a competência do Poder Judiciário para declarar a inconstitucionalidade das leis e atos normativos contrários à Constituição. No entanto, essa competência era exercida de forma difusa, ou seja, qualquer juiz ou tribunal poderia declarar a inconstitucionalidade de uma lei em um caso concreto. Somente com a Constituição de 1891 é que o Brasil adotou o controle concentrado de constitucionalidade, ao prever a competência do Supremo Tribunal Federal para declarar a inconstitucionalidade de leis e atos normativos federais e estaduais em abstrato. Essa competência foi ampliada pela Constituição de 1934, que instituiu a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), como instrumentos específicos para o exercício do controle concentrado de constitucionalidade. Desde então, o controle concentrado de constitucionalidade tem sido amplamente utilizado no Brasil como uma importante ferramenta para a proteção dos direitos fundamentais e da ordem constitucional. No Brasil, existem três principais tipos de ações de controle concentrado de constitucionalidade: a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Cada uma dessas ações tem características e objetivos específicos, como veremos a seguir. 1. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) A ADI é a principal ação de controle concentrado de constitucionalidade no Brasil, sendo utilizada para questionar a constitucionalidade de leis e atos normativos federais ou estaduais em abstrato. Ela pode ser proposta por entidades como partidos políticos com representação no Congresso Nacional, confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional. O objetivo da ADI é declarar a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em questão, tornando-o nulo e sem efeito. 2. Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) A ADC é a ação que tem por objetivo declarar a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo federal. Ela pode ser proposta por entidades como partidos políticos com representação no Congresso Nacional, confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional, desde que haja controvérsia judicial sobre a constitucionalidade da norma em questão. Ao final do processo, se a ADC for julgada procedente, a norma em questão será considerada constitucional. 3. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) A ADPF é a ação de controle concentrado de constitucionalidade que tem por objetivo proteger preceitos fundamentais da Constituição que estejam sendo violados ou ameaçados por lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal. Ela pode ser proposta por qualquer pessoa física ou jurídica que seja parte ou interessada na questão, bem como pelo Procurador-Geral da República. O objetivo da ADPF é evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Constituição, declarando a inconstitucionalidade da norma em questão. Cada uma dessas ações possui requisitos específicos para sua propositura, bem como prazos e ritos processuais próprios. É importante ressaltar que o controle concentrado de constitucionalidade é uma ferramenta essencial para a proteção da Constituição e dos direitos fundamentais, e que as ações de controle concentrado são importantes instrumentos para o exercício dessa função. O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão competente para o julgamento das ações de controle concentrado de constitucionalidade no Brasil. A sua competência para o controle concentrado de constitucionalidade está prevista na Constituição Federal, que estabelece as regras e os procedimentos para o seu exercício. De acordo com a Constituição, cabe ao STF julgar as ADIs, as ADCs e as ADPFs, bem como ações diretas de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e mandados de injunção (MI), que são ações que visam suprir a falta de norma regulamentadora para o exercício de direitos e garantias fundamentais. Além disso, o STF também pode exercer o controle de constitucionalidade incidental, ou seja, declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo em um caso concreto. Cabe ressaltar que a competência do STF para o controle concentrado de constitucionalidade não exclui a possibilidade de os juízes e tribunais de primeira instância e das instâncias recursais declararem a inconstitucionalidadede leis e atos normativos em casos concretos, por meio do controle difuso de constitucionalidade. No entanto, essas decisões só têm efeito inter partes, ou seja, apenas em relação às partes envolvidas no processo, enquanto as decisões do STF no controle concentrado de constitucionalidade têm efeito erga omnes, ou seja, se aplicam a todos os casos similares. Por fim, é importante destacar que o STF desempenha um papel fundamental na proteção da Constituição e dos direitos fundamentais, sendo responsável por garantir a sua integridade e a sua supremacia em relação às demais normas do ordenamento jurídico. O procedimento das ações de controle concentrado de constitucionalidade é regido pela Lei nº 9.868/1999 e pelo Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Cada tipo de ação tem seu próprio rito processual, mas há algumas etapas comuns a todas elas. São elas: 1. Petição Inicial: a ação de controle concentrado de constitucionalidade começa com a petição inicial, que deve ser apresentada por meio de um advogado ou procurador legalmente habilitado. Na petição inicial, deve-se demonstrar a legitimidade do autor da ação, a indicação da norma impugnada e os fundamentos do pedido de declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade. 2. Liminar: o relator da ação pode conceder liminar para suspender a eficácia da norma impugnada até o julgamento final da ação, caso haja risco de dano grave e irreparável ao interesse público ou à ordem constitucional. 3. Intimação: após a apresentação da petição inicial, o STF intima o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República para que se manifestem sobre a constitucionalidade da norma impugnada. 4. Audiência Pública: em alguns casos, o relator pode convocar uma audiência pública para discutir a questão constitucional em debate. 5. Julgamento: o julgamento da ação de controle concentrado de constitucionalidade é feito pelo Plenário do STF, composto pelos onze ministros. A decisão é tomada por maioria absoluta, ou seja, seis votos favoráveis à tese em discussão. 6. Publicação do Acórdão: após o julgamento, é publicado o acórdão, que é a decisão escrita e fundamentada do STF. A partir da publicação do acórdão, a norma impugnada passa a ser considerada inconstitucional ou constitucional, conforme o caso. Cabe ressaltar que o procedimento das ações de controle concentrado de constitucionalidade é bastante formal e rigoroso, e exige o cumprimento de diversos requisitos e prazos para a sua correta instrução e julgamento. O objetivo desse rigor é garantir a segurança jurídica e a efetividade do controle concentrado de constitucionalidade. As decisões de controle concentrado de constitucionalidade têm efeitos amplos e importantes sobre o ordenamento jurídico brasileiro. Esses efeitos podem ser resumidos em três categorias: 1. Efeito Ex Tunc: as decisões de controle concentrado de constitucionalidade têm efeito retroativo, ou seja, a norma impugnada é considerada inconstitucional desde a sua edição. Isso significa que todos os atos praticados com base na norma considerada inconstitucional são afetados, e podem ser anulados ou revistos. 2. Efeito Erga Omnes: as decisões de controle concentrado de constitucionalidade têm efeito erga omnes, ou seja, se aplicam a todos os casos similares, e não apenas às partes envolvidas na ação. Isso significa que a norma declarada inconstitucional deve ser retirada do ordenamento jurídico, e não pode ser aplicada a nenhum caso futuro. 3. Vinculação dos Órgãos Jurisdicionais: as decisões de controle concentrado de constitucionalidade têm efeito vinculante sobre os demais órgãos do Poder Judiciário e sobre a Administração Pública em geral. Isso significa que todas as demais autoridades e juízes devem aplicar a decisão do STF, e não podem aplicar a norma declarada inconstitucional. Cabe ressaltar que, embora as decisões de controle concentrado de constitucionalidade tenham efeitos amplos e importantes, elas não têm o poder de modificar a Constituição. Qualquer alteração na Constituição deve ser feita por meio de um processo legislativo específico, previsto na própria Constituição. Apesar de ser uma importante ferramenta para a defesa da Constituição e dos direitos fundamentais, o controle concentrado de constitucionalidade também é alvo de críticas e controvérsias. Algumas das principais críticas são: 1. Falta de Legitimidade Democrática: uma das principais críticas ao controle concentrado de constitucionalidade é que ele é exercido por uma corte não eleita, que não tem mandato popular e não é responsável perante a sociedade. Isso pode gerar questionamentos sobre a legitimidade democrática do controle concentrado de constitucionalidade. 2. Judicialização da Política: outra crítica comum é que o controle concentrado de constitucionalidade pode levar à judicialização da política, ou seja, à interferência do Poder Judiciário em questões políticas e sociais que deveriam ser resolvidas pelo Legislativo e pelo Executivo. Isso pode gerar uma excessiva judicialização da vida pública, com prejuízos para a representatividade democrática. 3. Discrecionalidade Judicial: uma crítica mais específica é que o controle concentrado de constitucionalidade dá aos juízes e ao STF um poder discricionário muito grande, já que as decisões são baseadas em interpretações constitucionais subjetivas, e podem afetar toda a sociedade. Isso pode gerar dúvidas sobre a imparcialidade e a objetividade dos juízes e do STF. 4. Baixa Efetividade: outra crítica é que o controle concentrado de constitucionalidade pode ter baixa efetividade prática, já que muitas vezes as decisões do STF não são cumpridas pela Administração Pública ou pelos demais poderes do Estado. Isso pode gerar uma sensação de impunidade e de falta de respeito pela Constituição. Cabe ressaltar que essas críticas não invalidam a importância do controle concentrado de constitucionalidade como instrumento de defesa da Constituição e dos direitos fundamentais. Elas apenas apontam para a necessidade de se buscar um equilíbrio entre a proteção da Constituição e a preservação da legitimidade democrática e da representatividade popular. Em suma, o controle concentrado de constitucionalidade é uma importante ferramenta do sistema jurídico brasileiro, que permite a defesa da Constituição e dos direitos fundamentais de forma efetiva e eficiente. Embora seja alvo de críticas e controvérsias, o controle concentrado de constitucionalidade tem se mostrado fundamental para a preservação do Estado Democrático de Direito e da ordem constitucional. Ao longo deste trabalho, foi possível compreender como funciona o controle concentrado de constitucionalidade no Brasil, desde sua origem histórica até seus principais efeitos e críticas. Além disso, foi possível verificar a importância do papel do STF nesse processo, bem como as implicações das decisões proferidas pelo Tribunal. Por fim, cabe ressaltar a importância da reflexão crítica sobre o tema, de modo a buscar aprimorar o sistema jurídico brasileiro e garantir a efetiva proteção dos direitos fundamentais e da Constituição. Referencias BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 14 maio 2023. BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35. ed. São Paulo: Malheiros, 2018. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 25. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
Compartilhar