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ENTENDER A FISIOLOGIA DO EIXO HIPOTÁLAMO - HIPÓFISE - TIREOIDE O TSH controla a glândula tireoide O controle da secreção dos hormônios da tireoide segue o padrão hipotalâmico-hipofisário-glândula endócrina periférica típico. O hormônio liberador de tireotrofinas (TRH) do hipotálamo, controla a secreção do hormônio da adeno-hipófise tireotrofina, também conhecida como hormônio estimulador da tireoide (TSH, do inglês, thyroid- stimulating hormone). O TSH, por sua vez, atua na glândula tireoide para promover a síntese hormonal. Os hormônios da tireoide geralmente atuam como um sinal de retroalimentação negativa para evitar a hipersecreção. A ação principal dos hormônios da tireoide nos adultos é prover substrato para o metabolismo oxidativo. Os hormônios da tireoide são termogênicos e aumentam o consumo de oxigênio na maioria dos tecidos. O mecanismo exato não está claro, mas é parcialmente relacionado às mudanças no transporte de íons através das membranas mitocondrial e celular. Os hormônios da tireoide também interagem com outros hormônios para modular o metabolismo das proteínas, dos carboidratos e dos lipídeos. Nas crianças, os hormônios da tireoide são necessários para a expressão plena do hormônio do crescimento. Nos primeiros anos após o nascimento, a mielina e a formação de sinapses requerem T3 e T4. Os hormônios da tireoide também são necessários para o crescimento ósseo adequado. As ações dos hormônios da tireoide são, em grande parte, observáveis nas pessoas que secretam muito ou pouco hormônio. Os efeitos fisiológicos que são sutis em pessoas que apresentam secreção hormonal normal se tornam exagerados nos pacientes com disfunções endócrinas. Pacientes com excesso ou deficiência dos hormônios da tireoide podem apresentar diminuição da tolerância ao calor ou ao frio e distúrbios de humor, além de outros sintomas. Hormônios da Tireoide A glândula tireoide é uma glândula em formato de borboleta que repousa sobre a traqueia, na base da garganta, logo abaixo da laringe. Ele é uma das maiores glândulas endócrinas do corpo humano, pesando de 15 a 20 g. A glândula tireoide possui dois diferentes tipos celulares: células C (do inglês, clear), que secretam um hormônio regulador de cálcio, chamado de calcitonina, e as células foliculares, que secretam os hormônios da tireoide. Os hormônios da tireoide contêm iodo Os hormônios da tireoide, assim como os glicocorticoides, têm efeitos de longo prazo no metabolismo. Diferentemente dos glicocorticoides, entretanto, os hormônios da tireoide não são essenciais à vida: os adultos podem sobreviver, embora não de maneira confortável, sem os hormônios da tireoide ou sem a glândula tireoide. Os hormônios da tireoide são aminas derivadas do aminoácido tirosina, e eles são incomuns porque contêm o elemento iodo. A síntese dos hormônios da tireoide ocorre nos folículos tireoideanos (também chamados de ácinos), estruturas esféricas cujas paredes são compostas por uma camada única de células epiteliais. O centro oco de cada folículo é preenchido com uma mistura pegajosa de glicoproteínas, denominada coloide. O coloide mantém um suprimento de 2 a 3 meses de hormônios da tireoide. As células foliculares que cercam o coloide sintetizam uma glicoproteína, chamada de tireoglobulina, e enzimas para a síntese dos hormônios da tireoide. Essas proteínas são empacotadas em vesículas e secretadas no centro do folículo. As células foliculares também concentram ativamente o iodo da dieta, usando o simporte sódio-iodo (NIS, do inglês, sodium-iodi- de symporter). O transporte de I -, iodeto, para o coloide é mediado por um transportador de ânions, chamado de pendrina (SLC26A4). Conforme o I - entra no coloide, a enzima tireoide peroxidase remove um elétron do iodo e adiciona o iodo à tirosina na molécula de tireoglobulina. A adição de um iodo à tirosina cria a monoiodotirosina (MIT). A adição de um segundo iodo cria a diiodotirosina (DIT). MIT e DIT, então, sofrem uma reação de acoplamento. Uma MIT e uma DIT combinam-se para formar o hormônio da tireoide tri- iodotironina, ou T3. Duas DIT unem-se para formar a tetraiodotironina (T4, também conhecida como tiroxina). Quando a síntese hormonal está completa, o complexo tireoglobulina-T3/T4 é recapturado pelas células foliculares em vesículas. As enzimas intracelulares liberam os hormônios T3 e T4 da proteína tireoglobulina. Evidências atuais indicam que os hormônios da tireoide se movem através das membranas por proteínas carreadoras. O transportador da glândula tireoide que exporta T3 e T4 ainda não foi completamente identificado, mas parece ser uma isoforma do transportador monocarboxilato (MCT8, do inglês, monocarboxylate transporter). T3 e T4 possuem solubilidade limitada no plasma por serem moléculas lipofílicas. Consequentemente, os hormônios da tireoide ligam-se a proteínas do plasma, como a globulina ligadora de tiroxina (TBG). Grande parte dos hormônios da tireoide no plasma estão na forma de T4. Nos tecidos-alvo, os transportadores de captação para os hormônios da tireoide variam de tecido para tecido. Eles incluem os transportadores de monocarboxilato MCT8 e MCT10, assim como um membro da família de transportadores de ânions orgânicos (família OAT, do inglês, organic anion transporter). Por anos pensou-se que o T4 era o hormônio ativo, porém, hoje, sabemos que o T3 é de 3 a 5 vezes biologicamente mais ativo, e que o T3 é o hormônio ativo nas células-alvo. As células-alvo produzem cerca de 85% do T3 ativo por meio de enzimas, chamadas de deiodinases, que removem um iodo do T4. A ativação do hormônio no tecido-alvo acrescenta outro nível de controle, pois os tecidos-alvo individualmente podem controlar a sua exposição ao hormônio ativo, regulando sua síntese enzimática tecidual. A secreção de TSH pela hipófise anterior é regulada pelo hormônio liberador de Tireotropina do Hipotálamo A secreção de TSH pela hipófise anterior é controlada pelo hormônio hipotalâmico, o hormônio liberador de tireotropina (TRH), secretado por terminações nervosas na eminência mediana do hipotálamo. A partir da eminência mediana, o TRH é transportado para a hipófise anterior pelo sangue portal hipotalâmico-hipofisário. O TRH é um tripeptídeo amida — piroglutamil-histidil-prolina amida. O TRH afeta diretamente as células da hipófise anterior, elevando sua secreção de TSH. Quando o sistema portal sanguíneo do hipotálamo para a hipófise anterior é bloqueado, a secreção de TSH, pela hipófise anterior, fica bastante reduzida, mas não completamente. O mecanismo molecular pelo qual o TRH provoca a produção de TSH pelas células secretoras da hipófise anterior consiste na ligação a receptores de TRH na membrana das células hipofisárias. Isso ativa o sistema de segundo mensageiro da fosfolipase no seu interior, produzindo grande quantidade de fosfolipase C, o que é seguido por cascata de outros segundos mensageiros, incluindo íons cálcio e diacilglicerol, que, finalmente, provocam a liberação de TSH. Efeitos do frio e outros estímulos neurogênicos na secreção de TRH e TSH. Um dos estímulos mais bem conhecidos para o aumento da secreção de TRH pelo hipotálamo e, portanto, de TSH pela hipófise anterior é a exposição do animal ao frio. Esse efeito resulta, quase certamente, da excitação dos centros hipotalâmicos de controle da temperatura corporal. Diversas reações emocionais também podem afetar a liberação de TRH e TSH e, assim, afetar indiretamente a secreção de hormônios tireoidianos. Agitação e ansiedade — condições que estimulam intensamente o sistema nervoso simpático — causam redução aguda da secreção de TSH, talvez porque esses estados aumentem o metabolismo e a temperatura corporal e, portanto, exercem efeito inverso sobre o centro de controle da temperatura. Nenhum desses efeitos emocionais nem o efeito do frio são observados após o seccionamento do pedúnculo hipofisário, demonstrando que ambos os efeitos são mediados pelo hipotálamo.Os receptores dos hormônios da tireoide, com múltiplas isoformas, estão no núcleo das células-alvo. A ligação do hormônio inicia a transcrição, a tradução e a síntese de novas proteínas. A Efeito do feedback do hormônio tireoidiano para reduzir a secreção de TSH pela hipófise anterior A elevação do hormônio tireoidiano nos líquidos corporais reduz a secreção de TSH pela hipófise anterior. Quando a secreção do hormônio tireoidiano eleva-se para 1,75 do normal, a secreção de TSH cai praticamente para zero. Quase todo esse efeito depressor por feedback ocorre até mesmo quando a hipófise anterior é separada do hipotálamo. Portanto, é provável que essa inibição ocorra, principalmente, por efeito direto do hormônio tireoidiano na própria hipófise anterior. Independentemente de onde se dá o controle por feedback, seu efeito consiste em manter uma concentração quase constante de hormônios tireoidianos nos líquidos corporais circulantes. As doenças da tireoide afetam a qualidade de vida Problemas com a secreção dos hormônios da tireoide podem surgir na própria glândula tireoide ou ao longo da via de controle. A ação trófica do TSH sob a glândula tireoide causa o crescimento, ou hipertrofia, das células foliculares. Em situações patológicas com níveis elevados de TSH, a glândula tireoide aumenta de tamanho, uma condição conhecida como bócio. Um grande bócio pode pesar centenas de gramas e muitas vezes contornar o pescoço. O bócio é o resultado do excesso de estimulação da glândula tireoide pelo TSH, mas saber apenas que uma pessoa tem um bócio não nos diz qual é a doença. Veremos como tanto o hipotireoidismo como o hipertireoidismo podem estar associados ao bócio. CORRELACIONAR A FISIOPATOLOGIA COM O QUADRO CLÍNICO DO HIPERTIREOIDISMO E HIPOTIREOIDISMO HIPERTIREOIDISMO Uma pessoa cuja glândula tireoide secreta hormônios em excesso sofre de hipertireoidismo. Os hormônios da tireoide em excesso causam alterações no metabolismo no sistema nervoso e no coração. 1. O hipertireoidismo aumenta o consumo de oxigênio e a produção metabólica de calor. Devido ao calor interno gerado, os pacientes têm pele quente e suada e podem queixar-se de intolerância ao calor. 2. O excesso de hormônios da tireoide aumenta o catabolismo das proteínas e pode causar fraqueza muscular. Os pacientes muitas vezes relatam perda de peso. 3. Os efeitos do excesso de hormônios da tireoide sobre o sistema nervoso incluem reflexos hiperexcitáveis (hiper-refle- xia) e transtornos psicológicos, desde irritabilidade e insônia até psicose. O mecanismo dos transtornos psicológicos não está claro, mas alterações morfológicas no hipocampo e efeitos nos receptores Beta-adrenérgicos têm sido sugeridas. 4. Os hormônios da tireoide são conhecidos por influenciar os receptores Beta-adrenérgicos no coração, e esses efeitos se tornam acentuados com a hipersecreção. Um sinal comum de hipertireoidismo é o batimento cardíaco rápido e o aumento da força de contração devido à regulação para cima dos receptores Beta 1 no miocárdio. A causa mais comum de hipertireoidismo é a doença de Graves, uma doença autoimune. Nessa condição, o corpo produz anticorpos, chamados de imunoglobulinas estimuladoras da tireoide (TSI, do inglês, thyroid-stimulating immunoglobulins). Esses anticorpos mimetizam a ação do TSH por se ligarem aos receptores de TSH na glândula tireoide e os ativarem. O resultado é a formação de bócio, hipersecreção de T3 e T4 e sintoma do excesso desses hormônios. A retroalimentação negativa exercida pelos altos níveis de T3 e T4 diminui os níveis de secreção de TRH e TSH, mas não possui ação sobre a atividade semelhante ao TSH exercida pelas TSI na glândula tireoide. A doença de Graves é frequentemente acompanhada por exoftalmia, uma aparência de olhos saltados causada pelo aumento dos músculos e tecidos na órbita mediado por reação imune. Os tumores da glândula tireoide são outra causa do hipertireoidismo primário. O hipertireoidismo secundário ocorre nos tumores hipofisários secretores de TSH. Adenoma Tireoidiano: Ocasionalmente, o hipertireoidismo resulta de adenoma (tumor) localizado, que se desenvolve no tecido da tireoide e secreta grande quantidade de hormônio tireoidiano. Essa apresentação é diferente da forma mais comum de hipertireoidismo, pois, em geral, não está associada à evidência de doença autoimune. Enquanto o adenoma secreta grandes quantidades de hormônio tireoidiano, a função secretora de todo o restante da tireoide é quase totalmente inibida, porque o hormônio tireoidiano do adenoma suprime a produção de TSH pela hipófise. Fala - se em TIREOTOXICOSE… A tireotoxicose é definida como o estado de excesso de hormônios tireoidianos e não é um sinônimo de hipertireoidismo, o qual representa o resultado de uma função tireoidiana excessiva. Entretanto, as principais etiologias da tireotoxicose consistem em hipertireoidismo causado por doença de Graves, bócio multinodular (BMN) tóxico e adenomas tóxicos. Manifestações clínicas: Os sinais e sintomas incluem características comuns a qualquer causa de tireotoxicose, assim como aqueles específicos da doença de Graves. A manifestação clínica depende da gravidade da tireotoxicose, duração da doença, suscetibilidade individual ao excesso de hormônio tireoidiano e idade do paciente. Nos idosos, as características de tireotoxicose podem ser sutis ou mascaradas, podendo os pacientes apresentarem-se principalmente com fadiga e perda de peso, condição conhecida como tireotoxicose apática. A tireotoxicose pode acarretar perda de peso inexplicável, não obstante o maior apetite, em função da maior taxa metabólica. Porém, ocorre aumento de peso em 5% dos pacientes por causa da maior ingestão de alimentos. Outras características proeminentes incluem hiperatividade, nervosismo e irritabilidade, os quais acabam resultando em certa sensação de fatigabilidade fácil em alguns pacientes. A insônia e a concentração prejudicada são comuns; a tireotoxicose apática pode ser confundida com uma depressão no idoso. O tremor fino é um achado frequente, que pode ser evidenciado mais facilmente pedindo-se que o paciente realize a extensão de seus dedos enquanto a sensação transmitida pelas pontas digitais é percebida com a palma. As manifestações neurológicas comuns consistem em hiperreflexia, perda muscular e miopatia proximal sem fasciculações. Algumas vezes, a tireotoxicose está associada a uma forma de paralisia periódica hipopotassêmica; esse distúrbio é particularmente comum em homens asiáticos com tireotoxicose, mas também ocorre em outros grupos étnicos. A manifestação cardiovascular mais comum é a taquicardia sinusal, associada muitas vezes a palpitações, causadas ocasionalmente pela taquicardia supraventricular. O alto débito cardíaco produz pulso intenso, pressão de pulso divergente e sopro sistólico aórtico que pode resultar em agravamento da angina ou da insuficiência cardíaca no idoso ou naqueles com cardiopatia preexistente. A fibrilação atrial é mais comum nos pacientes com mais de 50 anos de idade. A pele apresenta-se habitualmente quente e úmida, e o paciente pode queixar-se de sudorese e intolerância ao calor, em particular na vigência de um clima quente. Eritema palmar, onicólise e, menos comumente, prurido, urticária e hiperpigmentação difusa podem ser evidentes. A textura dos cabelos (pelos) pode tornar-se mais fina, e ocorre alopécia difusa em até 40% dos pacientes, persistindo por vários meses após a restauração do eutireoidismo. O tempo de trânsito gastrintestinal é reduzido, dando origem a maior frequência de evacuações, na maioria das vezes com diarreia e, ocasionalmente, com leve esteatorreia. As mulheres experimentam com frequência oligomenorreia ou amenorreia; nos homens, podem-se constatar função sexual prejudicada e, raras vezes, ginecomastia. O efeito direto dos hormônios tireoidianos sobre a reabsorção óssea resulta em osteopenia na tireotoxicose de longa duração;hipercalcemia leve ocorre em até 20% dos pacientes, porém a hipercalciúria é mais comum. Existe um pequeno aumento na taxa de fraturas nos pacientes com história prévia de tireotoxicose. Na doença de Graves, a tireoide costuma ficar difusamente aumentada em duas ou três vezes o seu tamanho normal. A consistência é firme, porém não nodular. Pode haver um frêmito ou sopro, que é mais bem detectado nas margens inferolaterais dos lobos da tireoide devido ao aumento da vascularização da glândula e circulação hiperdinâmica. A retração palpebral, que acarreta uma aparência de olhar fixo com olhos arregalados, pode ocorrer em qualquer forma de tireotoxicose e representa o resultado da hiperatividade simpática. Todavia, a doença de Graves está associada a sinais oculares específicos que constituem a oftalmopatia de Graves. HIPOTIREOIDISMO A hipossecreção de hormônios da tireoide afeta os mesmos sistemas alterados no hipertireoidismo. 1. A diminuição da secreção dos hormônios da tireoide diminui a taxa metabólica e o consumo de oxigênio. Os pacientes tornam-se intolerantes ao frio, visto que eles produzem menos calor interno. 2. O hipotireoidismo diminui a síntese proteica. Em adultos, isso produz unhas quebradiças, queda de cabelos e pele fina e seca. O hipotireoidismo também causa o acúmulo de mucopolissacarídeos sob a pele. Essas moléculas atraem água e causam a aparência inchada do mixedema. Crianças com hipotireoidismo apresentam crescimento atrasado dos ossos e dos tecidos e são mais baixas do que o normal para a sua idade. 3. Alterações do sistema nervoso em adultos incluem reflexos lentos, lentidão da fala e dos processos do pensamento e sensação de fadiga. A deficiência da secreção de hormônios da tireoide na infância causa cretinismo, uma condição marcada por capacidade mental diminuída. 4. A alteração cardiovascular primária no hipotireoidismo é a bradicardia (baixa frequência cardíaca). O hipotireoidismo primário é frequentemente causado por uma deficiência de iodo na dieta. Sem iodo, a glândula tireoide não é capaz de formar os hormônios da tireoide. Baixos níveis de T3 e T4 no sangue não são capazes de exercer retroalimentação negativa no hipotálamo e na adeno-hipófise. Na ausência de retroalimentação negativa, a secreção do TSH aumenta significativamente, e o estímulo do TSH aumenta a glândula tireoide (bócio). Apesar da hipertrofia, a glândula não pode obter iodo para produzir hormônios, e, assim, o paciente permanece com hipotireoidismo. O hipotireoidismo, assim como o hipertireoidismo, é provavelmente iniciado por autoimunidade contra a tireoide (doença de Hashimoto), mas, nesse caso, é a imunidade que destrói a glândula, em vez de estimulá-la. A tireoide da maioria desses pacientes apresenta “tireoidite” autoimune, que significa inflamação da tireoide. A tireoidite causa deterioração progressiva e, por fim, fibrose da glândula, resultando em diminuição ou ausência da secreção do hormônio tireoidiano. Muitos outros tipos de hipotireoidismo podem ocorrer, frequentemente, associados ao aumento da glândula, chamado de bócio. Bócio Coloide Endêmico Causado por Deficiência Dietética de Iodeto: O termo “bócio” significa um grande aumento da tireoide. Cerca de 50 miligramas de iodo por ano são necessários para a formação de quantidade adequada de hormônio tireoidiano. O mecanismo de desenvolvimento de grandes bócios endêmicos é o seguinte: a falta de iodo impede a produção tanto de tiroxina quanto de tri-iodotironina. Como resultado, não há hormônios disponíveis para inibir a produção de TSH pela hipófise anterior, que passa a secretar quantidade excessiva desse hormônio. O TSH, então, estimula as células tireoidianas a secretar grande quantidade de coloide de tireoglobulina nos folículos, e a glândula torna-se cada vez maior. Entretanto, devido à falta de iodo, a produção de tiroxina e tri- iodotironina não ocorre na molécula de tireoglobulina e, portanto, não causa a supressão normal da produção de TSH pela hipófise anterior. Os folículos adquirem um enorme tamanho, e a tireoide pode aumentar de 10 a 20 vezes. Bócio Coloide Atóxico Idiopático: O aumento da tireoide, semelhante ao que acontece no bócio coloide endêmico, pode também ocorrer em pessoas que não apresentam deficiência de iodo. Essas glândulas aumentadas podem secretar quantidade normal de hormônios tireoidianos; entretanto, com mais frequência, sua secreção é reduzida, como no bócio coloide endêmico. A causa exata do aumento da tireoide em pacientes com bócio coloide idiopático não é conhecida, mas a maioria desses pacientes apresenta sinais de tireoidite leve; portanto, tem sido sugerido que a tireoidite provoca ligeiro hipotireoidismo que, então, leva ao aumento da secreção de TSH e ao crescimento progressivo das porções não inflamadas da glândula. Essa teoria poderia explicar por que essas glândulas são, em geral, nodulares, com o crescimento de algumas porções da glândula, enquanto outras são destruídas pela tireoidite. Hipotireoidismo congênito: A maioria dos lactentes tem aparência normal por ocasião do nascimento, e, com o uso de rastreamento bioquímico, poucos casos são atualmente diagnosticados com base nas características clínicas, que incluem icterícia prolongada, problemas alimentares, hipotonia, língua de volume aumentado, maturação óssea atrasada e hérnia umbilical. Além disso, pode-se observar a presença das manifestações típicas do hipotireoidismo adulto. Outras malformações congênitas, especialmente cardíacas, são quatro vezes mais comuns no hipotireoidismo congênito. Hipotireoidismo autoimune: O hipotireoidismo autoimune pode estar associado a bócio (tireoidite com bócio ou de Hashimoto) ou, nos estágios subsequentes da doença, há um tecido tireoidiano residual mínimo (tireoidite atrófica). Como o processo autoimune reduz gradualmente a função tireoidiana, existe uma fase de compensação quando os níveis normais de hormônios tireoidianos são mantidos por elevação no TSH. Embora alguns pacientes possam apresentar sintomas menores, esse estado é denominado hipotireoidismo subclínico. Em seguida, os níveis de T4 livre caem, e os níveis de TSH sobem ainda mais; os sintomas tornam-se mais prontamente evidentes em tal estágio (em geral, TSH > 10 mUI/L), que recebe a designação de hipotireoidismo clínico ou hipotireoidismo franco. Na tireoidite de Hashimoto, existe acentuada infiltração linfocítica da tireoide com formação de centros germinativos, atrofia dos folículos tireoidianos acompanhada por metaplasia oxifílica, ausência de coloide e fibrose leve a moderada. Na tireoidite atrófica, a fibrose é muito mais extensa, a infiltração linfocítica é menos pronunciada e os folículos tireoidianos estão quase completamente ausentes. A tireoidite atrófica representa habitualmente o estágio final da tireoidite de Hashimoto, mais do que um distúrbio separado, embora ocorra uma forma distinta de fibrose acentuada, em que a glândula é infiltrada por plasmócitos IgG4 positivos. À semelhança da maioria dos distúrbios autoimunes, a suscetibilidade ao hipotireoidismo autoimune, determinada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais, assim como o risco de hipotireoidismo autoimune ou doença de Graves, são maiores entre irmãos. Os polimorfismos HLA- DR são os fatores de risco genéticos mais bem documentados para o hipotireoidismo autoimune, especialmente HLA-DR3, HLA-DR4 e HLA-DR5 em indivíduos brancos. Existe uma fraca associação entre os polimorfismos no CTLA-4, um gene regulador da célula T, e o hipotireoidismo autoimune. Essas duas associações genéticas são compartilhadas por outras doenças autoimunes, o que pode explicar a relação entre o hipotireoidismo autoimune e outras doenças autoimunes, em particular diabetes melito tipo 1, doença de Addison, anemia perniciosa e vitiligo. Os polimorfismos de HLA-DR e CTLA-4 são responsáveis por cerca da metade da suscetibilidade genética ao hipotireoidismo autoimune. O infiltradolinfocítico da tireoide no hipotireoidismo autoimune é constituído por células T ativadas e células B. A destruição das células da tireoide é mediada principalmente pelas células T citotóxicas CD8+, porém a produção local de citocinas, como o fator de necrose tumoral (TNF), interleucina-1 (IL-1) e a γ-interferona (γ-IFN), derivadas do infiltrado inflamatório, pode tornar as células tireoidianas mais suscetíveis à apoptose mediada pelos receptores de morte, como Fas, e pelo estresse oxidativo. Essas citocinas também comprometem diretamente a função das células tireoidianas e induzem a expressão de outras moléculas pró-inflamatórias pelas próprias células tireoidianas, como citocinas, moléculas do HLA das classes I e II, moléculas de adesão, CD40 e óxido nítrico. A administração de altas concentrações de citocinas com finalidades terapêuticas (em especial de α-IFN) está associada a um maior número de casos de doença tireoidiana autoimune, possivelmente por mecanismos semelhantes aos que funcionam na doença esporádica. Novos tratamentos antineoplásicos e imunomoduladores, como inibidores da tirosina-cinase e alentuzumabe, também podem induzir autoimunidade da tireoide por meio de seus efeitos sobre a regulação das células T. Manifestações clínicas: O início costuma ser insidioso, e o paciente poderá tornar-se ciente dos sintomas somente depois que o eutireoidismo tiver sido restaurado. Os pacientes com tireoidite de Hashimoto podem apresentar-se em razão do bócio, e não devido aos sintomas de hipotireoidismo. O bócio pode não ser volumoso, porém costuma ser irregular e de consistência firme. Raramente, a tireoidite de Hashimoto não complicada está associada a dor. Os pacientes com tireoidite atrófica ou no estágio final da tireoidite de Hashimoto apresentam-se com sinais e sintomas de hipotireoidismo. A pele é seca, e observam-se redução da transpiração, adelgaçamento da epiderme e hiperceratose do estrato córneo. O maior conteúdo de glicosaminoglicanos dérmicos é responsável pela retenção de água, dando origem ao espessamento da pele sem cacifo (mixedema). As características típicas consistem em face inchada com pálpebras edemaciadas e edema pré-tibial não depressível. Existe palidez, na maioria das vezes com um matiz amarelado da pele devido ao acúmulo de caroteno. O crescimento ungueal é retardado, e os cabelos ficam secos, quebradiços, difíceis de pentear e caem facilmente. Além da alopécia difusa, observa-se adelgaçamento do terço externo das sobrancelhas, apesar de esse não ser um sinal específico do hipotireoidismo. Características Fisiológicas do Hipotireoidismo: No hipotireoidismo causado por tireoidite, bócio coloide endêmico, bócio coloide idiopático, destruição da tireoide por radiação ou remoção cirúrgica da glândula, os efeitos fisiológicos são os mesmos. Eles incluem fadiga e sonolência extrema, provocando 12 a 14 horas de sono por dia, extrema lentidão muscular, redução da frequência cardíaca, do débito cardíaco e do volume sanguíneo, ocasionalmente aumento de peso, constipação, lentidão mental, insuficiência de muitas funções tróficas do organismo, evidenciada por redução do crescimento do cabelo e descamação da pele, desenvolvimento de rouquidão e, em casos graves, de aparência edematosa em todo o corpo, chamada mixedema. Mixedema: O mixedema se desenvolve no indivíduo que tem ausência quase total da função do hormônio tireoidiano. Nessa condição, por motivos não explicados, a quantidade muito elevada de ácido hialurônico e sulfato de condroitina, ligados a proteínas, forma um excesso de gel tecidual nos espaços intersticiais, aumentando a quantidade total do líquido intersticial. Como o líquido em excesso trata-se de um gel, é essencialmente imóvel, e o edema é deprimível. Outras características comuns são constipação intestinal e aumento de peso (apesar de apetite diminuído). Diferente da percepção popular, o aumento de peso costuma ser moderado e devido principalmente à retenção de líquidos nos tecidos mixedematosos. A libido está diminuída em ambos os sexos, e pode haver oligomenorreia ou amenorreia na doença de longa duração, porém pode ocorrer menorragia em um estágio inicial. A fertilidade está reduzida, e a incidência de abortamento aumenta. Com frequência, os níveis de prolactina estão moderadamente elevados e podem contribuir para alterações na libido e na fertilidade, além de causar galactorreia. A contratilidade miocárdica e a frequência do pulso estão reduzidas, resultando em volume de ejeção sistólica reduzido e bradicardia. A maior resistência periférica pode ser acompanhada por hipertensão, particularmente do componente diastólico. O fluxo sanguíneo é desviado da pele, produzindo extremidades frias. Os derrames pericárdicos ocorrem em até 30% dos pacientes, porém raras vezes comprometem a função cardíaca. Apesar de terem sido documentadas alterações na expressão das isoformas das cadeias pesadas da miosina, a miocardiopatia é incomum. O líquido pode acumular-se também em outras cavidades serosas e na orelha média, dando origem a surdez de condução. Em geral, a função pulmonar está normal, porém a dispneia pode ser causada por derrame pleural, função prejudicada dos músculos ventilatórios, impulso ventilatório diminuído ou apneia do sono. A síndrome do túnel do carpo e outras síndromes de encarceramento são comuns, o mesmo ocorrendo com o comprometimento da função muscular com rigidez, cãibras e dor. Ao exame, podem-se constatar o lento relaxamento dos reflexos tendíneos e pseudomiotonia. A memória e a concentração estão afetadas. Experimentalmente, a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) para avaliação do metabolismo da glicose em indivíduos com hipotireoidismo revela uma menor atividade regional na tonsila, no hipocampo e no córtex cingulado anterior perigenual, entre outras regiões, e essa atividade é corrigida após reposição com tiroxina. Os problemas neurológicos mais raros consistem em ataxia cerebelar reversível, demência, psicose e coma mixedematoso. A encefalopatia de Hashimoto foi definida como uma síndrome responsiva aos esteroides associada aos anticorpos contra TPO, mioclonia e atividade com ondas lentas na eletrencefalografia, porém ainda não foi estabelecida a relação com a autoimunidade tireoidiana nem com o hipotireoidismo. A voz rouca e, ocasionalmente, a fala desajustada do hipotireoidismo refletem o acúmulo de líquido nas pregas vocais e na língua. As características descritas anteriormente são uma consequência da deficiência dos hormônios tireoidianos. Entretanto, o hipotireoidismo autoimune pode estar associado a sinais ou sintomas de outras doenças autoimunes, particularmente vitiligo, anemia perniciosa, doença de Addison, alopécia areata e diabetes melito tipo 1. O hipotireoidismo autoimune é incomum em crianças e, em geral, manifesta-se com crescimento lento e maturação facial e dentária atrasada. A hipófise pode estar aumentada, devido à hiperplasia dos tireotrofos. A miopatia com edema muscular é mais comum em crianças do que em adultos. Na maioria dos casos, a puberdade é atrasada, porém às vezes ocorre puberdade precoce. Pode-se observar deterioração intelectual quando o início ocorre antes dos 3 anos de idade e a deficiência hormonal é grave. O tratamento para os distúrbios da tireoide depende da causa do problema. O hipotireoidismo é tratado com hormônios da tireoide orais. O hipertireoidismo pode ser tratado por remoção cirúrgica de toda ou parte da glândula tireoide, por destruição das células da tireoide com iodo radioativo ou por fármacos que bloqueiam tanto a síntese hormonal (tioureia) ou a conversão periférica de T4 em T3 (propiltiouracila). Tireoidite pós parto: A tireoidite pós-parto (TPP), tal como o nome indica, manifesta-se nos primeiros meses após o parto. Apesar de existirem relatos de incidências extremamente variáveis em todo o mundo, aparentemente devido a diferenças nos critérios de diagnóstico, desenhodos estudos, populações envolvidas, duração do seguimento e metodologia laboratorial na dosagem hormonal, existe o consenso de que este quadro atinge 7 a 10% das mulheres após o parto na população em geral, com uma taxa média de prevalência de 7,2%. É mais frequente nas pacientes com títulos elevados de anticorpos anti-TPO durante o primeiro trimestre da gravidez ou imediatamente após o parto e nas mulheres com outras doenças auto-imunes (a prevalência em portadoras de diabetes mellitus tipo 1 praticamente triplica, chegando a 20%) ou história familiar de doença auto-imune da tireóide. Assim como na tireoidite de Hashimoto, ocorre associação com HLA-DR3, HLA-DR4 e HLA-DR5. A TPP agravada pelo rebote imunitário, que se segue à parcial supressão imunológica ocasionada pela gravidez, precipita a expressão clínica da tireoidite de Hashimoto que estava anteriormente silenciosa. A maioria das pacientes apresenta um bócio pequeno e indolor entre o segundo e o sexto mês após o parto. Classicamente tem uma evolução trifásica: hipertireoidismo transitório, hipotireoidismo transitório, eutireoidismo, embora essa última esteja, na verdade, presente apenas em cerca de 1/3 dos casos. A fase de tireotoxicose inicia-se tipicamente entre 1 a 6 meses após o parto, e dura de 1 a 2 meses. Pode ser seguida de uma fase de hipotireoidismo, com início entre o 4o e o 8o mês após o parto e com duração aproximada de 6 meses. Cerca de 80% das mulheres afetadas recuperam a função normal ao fim de 1 ano. O hipotireoidismo crônico é mais frequente em nulíparas ou mulheres com história de abortos repetidos. Depois do primeiro episódio, há uma probabilidade de recorrência em gestações futuras de 70%. Por sua vez, as pacientes com anti-TPO positivo e que não tiveram a TPP na primeira gravidez, exibem 25% de probabilidade de apresentá-la na gestação seguinte. O diagnóstico baseia-se na clínica de hiper e/ou hipotireoidismo e na relação temporal com a gravidez. As dosagens de hormônios da tireóide, TSH e anticorpos anti-TPO e anti-TG (positivos na maioria dos casos) ajudam a confirmar o diagnóstico. EXPLICAR A RELAÇÃO DO ENVELHECIMENTO COM A QUEDA DO METABOLISMO BASAL O metabolismo corporal significa simplesmente a totalidade das reações químicas em todas as células do organismo e a intensidade metabólica é, nas condições normais, expressa em termos da liberação de calor durante as reações químicas. Calor É o Produto Final de Quase Toda a Energia Liberada no Corpo: Nem toda a energia dos alimentos é transferida para o ATP; em vez disso, grande parte dessa energia se transforma em calor. Em média, 35% da energia dos alimentos se transformam em calor durante a formação do ATP. A energia adicional se transforma em calor, à medida que é transferida do ATP para os sistemas funcionais das células, de modo que, mesmo sob condições ideais, não mais do que 27% de toda a energia dos alimentos sejam finalmente utilizados pelos sistemas funcionais. Por essência, toda a energia despendida pelo corpo é eventualmente convertida em calor. A única exceção significativa ocorre quando os músculos são usados para realizar alguma forma de trabalho exterior ao corpo. Por exemplo, quando os músculos elevam um objeto a certa altura ou impelem o corpo degraus acima, um tipo de energia potencial é gerado pela elevação da massa contra a gravidade. Entretanto, quando o gasto externo de energia não está ocorrendo, toda a energia liberada pelos processos metabólicos eventualmente se transforma em calor corporal. A Caloria: É uma unidade utilizada para expressar a quantidade de energia liberada dos diferentes alimentos ou despendida pelos diversos processos funcionais do organismo. Lembraremos que 1 caloria — grafada com “c” minúsculo e, muitas vezes, denominada caloria-grama — é a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de 1 grama de água por 1°C. A caloria é unidade muito pequena, quando nos referimos à energia corporal. Consequentemente, a Caloria — às vezes, grafada com “C” maiúsculo e muitas vezes denominada quilocaloria, que equivale a 1.000 calorias — é a unidade ordinariamente usada no metabolismo energético. Medida da Taxa Metabólica Corporal Total - Calorimetria direta: não está realizando qualquer trabalho externo, a taxa metabólica corporal total pode ser determinada simplesmente medindo a quantidade total de calor liberado do corpo em dado momento. Na determinação do metabolismo pela calorimetria direta, deve-se medir a quantidade de calor liberado do corpo em grande calorímetro, especialmente construído para isso. Calorimetria indireta: Uma vez que mais de 95% da energia despendida pelo corpo são derivados das reações do oxigênio com os diferentes alimentos, o metabolismo total do corpo também pode ser calculado com alto grau de precisão a partir da utilização de oxigênio. Quando 1 litro de oxigênio é metabolizado com glicose, 5,01 Calorias de energia são liberadas; quando metabolizado com amido, 5,06 Calorias são liberadas; com a gordura, 4,70 Calorias; com as proteínas, 4,60 Calorias. Metabolismo Energético - fatores que influenciam o débito energético: O débito energético também pode ser dividido em diversos componentes mensuráveis, incluindo a energia utilizada para (1) realizar as funções metabólicas essenciais do corpo (o metabolismo “basal”); (2) executar diversas atividades físicas, o que inclui exercício realizado voluntariamente e atividades físicas distintas do exercício, como agitação nervosa; (3) digerir, absorver e processar os alimentos; e (4) manter a temperatura corporal. Homem mediano, que pese 70 quilogramas e que passe o dia inteiro deitado na cama, utiliza cerca de 1.650 Calorias de energia. O processo de ingerir e digerir o alimento eleva a quantidade de energia utilizada a cada dia por 200 Calorias adicionais ou mais, de modo que esse mesmo homem, deitado na cama e ingerindo dieta razoável, exigirá ingesta dietética de aproximadamente 1.850 Calorias por dia. Se permanecer o dia todo sentado em uma cadeira sem se exercitar, sua necessidade energética total atingirá de 2.000 a 2.250 Calorias. Portanto, a demanda energética diária para homem muito sedentário, desempenhando apenas as tarefas essenciais é de aproximadamente 2.000 Calorias. A quantidade de energia utilizada para realizar as atividades físicas diárias normalmente é de cerca de 25% do gasto energético total, podendo variar de forma acentuada, nos diferentes indivíduos, dependendo do tipo e da quantidade de atividade física realizada. Por exemplo, subir escadas exige cerca de 17 vezes mais energia do que adormecer deitado na cama. Em geral, ao longo de período de 24 horas, a pessoa que realize trabalho pesado pode atingir intensidade máxima de utilização de energia da ordem de 6.000 a 7.000 Calorias, ou tanto quanto 3,5 vezes a energia utilizada em condições de nenhuma atividade física. Metabolismo Basal (MB) - O gasto energético mínimo para a existência do corpo: Mesmo quando a pessoa se encontra em completo repouso, energia considerável é requerida para a realização de todas as reações químicas do corpo. Esse nível mínimo de energia necessária para a existência, é conhecido como metabolismo basal (MB), sendo responsável por cerca de 50% a 70% de todo o gasto energético diário na maioria dos indivíduos sedentários. O método usual de aferição do MB consiste em medir a utilização de oxigênio ao longo de período de tempo sob as seguintes condições: 1. O indivíduo não deve ter ingerido alimentos por, pelo menos, 12 horas. 2. O MB é determinado após noite de sono tranquilo. 3. Nenhuma atividade enérgica é realizada por, pelo menos, 1 hora antes do teste. 4. Todos os fatores físicos e psíquicos, que provoquem excitação, devem ser eliminados. 5. A temperatura do ar deve ser confortável, situando-se entre 20 e 26,5°C. 6. Nenhuma atividade física é permitida durante o teste. O MB normalmente varia entre 65 e 70 Calorias, em média por hora, em homem com peso médiode 70 quilogramas. Embora a maior parte do MB seja atribuível à atividade essencial do sistema nervoso central, coração, rins e outros órgãos, as variações do MB entre as diferentes pessoas se relacionam principalmente às diferenças da quantidade de músculo esquelético e ao tamanho corporal. O músculo esquelético, mesmo em condições de repouso, é responsável por 20% a 30% do MB. Por esse motivo, o MB normalmente é corrigido em função das diferenças do tamanho corporal, expressas como Calorias por hora por metro quadrado de área de superfície corporal, calculada a partir do peso e da altura. Grande parte da redução do MB, com o avanço da idade, é provavelmente devido à perda de massa muscular e à sua substituição por tecido adiposo, que apresenta uma intensidade metabólica mais baixa. De igual modo, os MBs um pouco mais baixos entre as mulheres, se comparadas às dos homens, são devidos, em parte, a seu menor percentual de massa muscular e à maior porcentagem de tecido adiposo em mulheres. Porém, existem outros fatores que podem influenciar o MB. O Hormônio Tireoidiano Aumenta a Taxa Metabólica: Quando a glândula tireoide secreta quantidade máxima de tiroxina, o metabolismo aumenta em 50% a 100% acima do normal. Inversamente, a perda completa da secreção tireoidiana reduz o metabolismo por 40% a 60% do normal. A tiroxina eleva a intensidade das reações químicas de muitas células no corpo, aumentando, por conseguinte, o metabolismo. A adaptação da glândula tireoide — com secreção aumentada nos climas frios e diminuída nos quentes — contribui para as diferenças do MB entre as pessoas que vivem em zonas geográficas diferentes. O Hormônio Masculino Eleva a Taxa Metabólica: O hormônio sexual masculino, a testosterona, pode aumentar o metabolismo por cerca de 10% a 15%. Os hormônios sexuais femininos podem elevar um pouco o MB, mas, em geral, não o bastante para que esse aumento seja significativo. Grande parte do efeito do hormônio sexual masculino se relaciona a seu efeito anabólico de aumento da massa muscular esquelética. O Hormônio do Crescimento Eleva a Taxa Metabólica: O hormônio do crescimento pode aumentar o metabolismo por estimular o metabolismo celular, ao aumentar a massa muscular. Nos adultos com deficiência de hormônio do crescimento, a terapia de reposição com hormônio do crescimento recombinante, aumenta o metabolismo por cerca de 20%. A Febre Eleva a Taxa Metabólica: A febre, não importando sua causa, aumenta as reações químicas corporais em cerca de 120%, em média, para cada 10°C de elevação da temperatura. O Sono Diminui a Taxa Metabólica: O metabolismo cai em 10% a 15% abaixo dos níveis normais durante o sono. Essa queda se deve a dois fatores principais: (1) redução do tônus da musculatura esquelética, durante o sono; e (2) diminuição da atividade do sistema nervoso central. A Desnutrição Reduz a Taxa Metabólica: A desnutrição prolongada pode reduzir o metabolismo por 20% a 30%, presumivelmente, devido à pequena quantidade de substâncias alimentares nas células. Nos estágios finais de diversas condições patológicas, a inanição que acompanha a doença provoca acentuada redução do metabolismo, até o ponto em que a temperatura corporal possa cair vários graus, imediatamente antes do óbito. CONHECER A INDICAÇÃO DO USG DE TIREOIDE E OS EXAMES LABORATORIAIS DA FUNÇÃO TIREOIDIANA A ultrassonografia da tireóide, por ser um método simples, não-invasivo e apresentar boa correlação com os aspectos macroscópicos dos nódulos tireoidianos, é um procedimento cada vez mais utilizado na avaliação inicial da lesão nodular da tireóide. Atualmente, a Associação Americana de Tireóide recomenda a realização do exame ultra-sonográfico em todos os pacientes com suspeita de um ou mais nódulos tireóideos. Nenhum sinal ultrassonográfico é patognomônico para malignidade. A combinação de algumas características, como presença de microcalcificações, hipoecogenicidade e contornos irregulares, aumenta o risco de malignidade de uma lesão. Dessa forma, a ultrassonografia pode identificar as lesões nodulares com maior potencial de malignidade, permitindo selecionar nódulos para bió-psias em uma tireóide multinodular. Características ultrassonográficas: Ecogenicidade: O tecido tireoidiano é caracterizado ultrassonograficamente pela proporção de células e colóide. Em uma glândula normal, grande parte das ondas sonoras emitidas pelo transdutor atinge a interface entre células e colóide em ângulo reto e são refletidas de volta ao equipamento, sem dispersão; consequentemente, a imagem ultrassonográfica resultante é brilhante e tem ecogenicidade considerada normal. Quanto maior o tamanho dos folículos, isto é, quanto maior a quantidade de colóide, mais ecogênico e brilhante será o tecido (hiperecóico). Por outro lado, quanto maior o número de células e menor a quantidade de colóide, menos ecogênico será o tecido (hipoecóico). Desse modo, os nódulos colóides são hiperecóicos e os nódulos sólidos microfoliculares ou trabeculares são hipoecóicos. Os cistos aparecem como imagens anecóicas arredondadas, podendo apresentar imagens hiperecóicas em seu interior, que correspondem ao colóide denso. Portanto, a ecogenicidade do tecido tireoidiano pode ser considerada uma medida da quantidade de colóide e da quantidade de células. Calcificações: As calcificações aparecem como imagens acentuadamente hiperecóicas ou ecorrefringentes, com sombra acústica posterior e podem estar presentes no bócio colóide adenomatoso e nas neoplasias benignas e malignas da tireóide. Os depósitos de cálcio são encontrados em diferentes tipos histológicos de câncer da tireóide, como o papilífero, o medular e o carcinoma anaplásico. As microcalcificações encontradas no carcinoma papilífero representam os corpos psamomatosos e podem ser encontradas em 54% dos pacientes com câncer de tireóide e em 52% dos carcinomas papilíferos. Portanto, há um aumento no risco de malignidade, estatisticamente significativo, quando se identifica microcalcificações no interior dos nódulos. Halo hipoecogênico: A presença do halo hipoecóico ao redor do nódulo tem sido considerada um sinal de benignidade. Embora a maioria dos trabalhos relacione essa característica com a cápsula do nódulo, não se sabe ao certo o seu significado histológico. Identificou-se halo hipoecóico apenas nos nódulos isoecóicos ou hiperecóicos, isto é, naqueles que apresentam ecogenicidade sugestiva de benignidade. Já nos nódulos hipoecóicos, geralmente não se identificou o halo, mesmo que ele esteja presente, pois a ecogenicidade do halo é semelhante à do nódulo. Ecoestrutura: Os nódulos tireoidianos podem ser divididos ecoestruturalmente em 5 categorias: cisto, misto (predominantemente sólido ou líquido), sólido hiperecóico, sólido isoecóico e sólido hipoecóico. O cisto representa um espaço preenchido por líquido coberto por células epiteliais. A camada de células epiteliais envolvendo o cisto geralmente não é neoplásica, e este raramente é maligno. Os cistos representam aproximadamente 1 a 3% de todas as lesões nodulares e são benignos em 98% dos casos. Entretanto, uma imagem cística anecóica, com massa sólida em sua parede, contendo múltiplos pontos hiperecogênicos, sugerindo microcalcificações, pode ser um carcinoma papilífero, requerendo sempre avaliação cuidadosa ou mesmo tratamento cirúrgico. Os nódulos sólidos podem apresentar necrose isquêmica em seu interior e apresentar conteúdo líquido (degeneração cística) que deve ser diferenciado de um cisto verdadeiro. Os nódulos mistos, semelhantes a uma esponja, caracterizam-se por apresentarem múltiplas áreas líquidas dispersas pelo parênquima e, em nossa casuística, são quase sempre benignos. Os nódulos sólidos benignos geralmente são isoecóicos ou hiperecóicos, com contornos regulares, fre- quentemente com halo hipoecóico periférico completo e uniforme. Já os carcinomas papilíferos da tireóide geralmente são hipoecogênicos, com contornos irregulares,sem halo hipoecóico e com microcalcificações. EXAMES LABORATORIAIS Hipertireoidismo: A disponibilidade de ensaios sensíveis e confiáveis para determinação dos níveis séricos de TSH e tiroxina livre (T4) tornou o diagnóstico laboratorial de hipertireoidismo muito mais confiável. • A determinação dos níveis séricos de T4 é o teste de rastreamento mais custoefetivo. Se o valor for normal, é muito improvável que o paciente tenha hipertireoidismo. No hipertireoidismo, os níveis séricos de TSH são inferiores ao normal e, com frequência, inferiores a 0,1 µUI/ml. Os níveis séricos de TSH permanecem diminuídos durante muitos meses nos pacientes com hipertireoidismo tratados, portanto, os níveis dos hormônios tireoidianos refletem de modo mais acurado a situação clínica. • De modo geral, os níveis séricos de T4 estão elevados no hipertireoidismo. A avaliação dos níveis séricos de T3 é importante para determinar a intensidade do hipertireoidismo e monitorar a resposta ao tratamento. • A RAIU está, com frequência, elevada na doença de Graves. Todavia, a acurácia diagnóstica da RAIU no hipertireoidismo não se aproxima da acurácia diagnóstica da associação da determinação do TSH sérico e da T4 livre. Portanto, a determinação da RAIU não é útil no diagnóstico de doença de Graves, mas é valiosa na exclusão de tireotoxicose que não é causada por hipertireoidismo. Valores muito baixos de RAIU associados à tireotoxicose são muito sugestivos de tireotoxicose factícia, tecido tireoidiano ectópico, tireoidite subaguda ou fase tireotóxica de tireoidite autoimune. • Autoanticorpos contra receptores de tireotropina são encontrados em 70 a 100% dos pacientes com doença de Graves. A determinação desses autoanticorpos não é, em geral, necessária para confirmar o diagnóstico, mas pode ajudar no prognóstico porque é improvável que os pacientes com títulos elevados que não diminuem com a medicação antitireoidiana entrem em remissão. A determinação dos títulos de autoanticorpos contra os receptores de tireotropina é importante durante a gravidez porque títulos elevados no final dela estão correlacionados com risco elevado de hipertireoidismo neonatal. Níveis anormais de TSH também podem ser encontrados em várias doenças não tireoidianas. A determinação simultânea de TSH e T4 livre auxilia na avaliação dos diagnósticos diferenciais. Hipotireoidismo: A confirmação laboratorial do diagnóstico de hipotireoidismo consiste na determinação das concentrações séricas de TSH e T4 livre. O hipotireoidismo caracteriza-se por concentrações séricas elevadas de TSH e concentrações séricas baixas de T4 livre. O hipotireoidismo secundário é definido por concentrações séricas baixas de TSH assim como concentrações séricas baixas de T4. • De modo geral, T4 total, RAIU e índice de T4 livre estão diminuídos no hipotireoidismo, contudo, são exames menos sensíveis que a determinação das concentrações séricas de TSH e T4 livre. • Anticorpos antiperoxidase tireoidiana (TPO) são encontrados em quase todos os pacientes com a doença de Hashimoto e suas variantes, em 70% dos pacientes com a doença de Graves e em um número menor com vários outros distúrbios tireoidianos, como bócio multinodular, bócio não tóxico e carcinoma de tireoide. Bócio e nódulos da tireoide: • As concentrações séricas de TSH devem ser determinadas em todos os pacientes com bócio ou nódulo de tireoide. Pode ser solicitado como exame de rastreamento de primeira linha. No bócio multinodular, as concentrações séricas de TSH encontram-se, habitualmente, normais ou nos limites inferiores da normalidade; raramente estão aumentadas. • O nível de calcitonina está aumentado em quase todos os pacientes com carcinoma medular, contudo, não é custoefetivo nem necessário solicitar esse exame quando não existe suspeita clínica por causa da raridade da doença e da elevada frequência de resultados falsopositivos. • A determinação das concentrações séricas de anticorpo antiperoxidase tireoidiana e de anticorpo antitireoglobulina pode ajudar no diagnóstico de tireoidite autoimune crônica, sobretudo se as concentrações séricas de TSH estiverem elevadas. • A biopsia por aspiração com agulha fina (AAF) do nódulo é a avaliação mais custoeficiente e mais tempo eficiente. As taxas totais relatadas de sensibilidade e especificidade são superiores a 90% nas regiões iodo suficientes. A biopsia por AAF deve ser realizada em todos os pacientes com nódulo solitário ou predominante em uma tireoide multinodular a menos que o TSH esteja suprimido, implicando em atividade autônoma e, portanto, baixa probabilidade de processo maligno. EXPLICAR O EXAME FÍSICO DA TIREOIDE O exame físico da tireoide tem como base a inspeção, a palpação e a ausculta. Por meio da inspeção e da palpação, podem-se definir a forma e o tamanho da glândula. Se houver aumento, deve-se esclarecer se é global ou localizado. Para a palpação da tireoide, usam-se três manobras: • Paciente sentado e o examinador de pé atrás dele (abordagem posterior). As mãos e os dedos rodeiam o pescoço, com os polegares fixos na nuca e as pontas dos indicadores e médios quase a se tocarem na linha mediana. O lobo direito é palpado pelos dedos da mão esquerda, enquanto os dedos da outra mão afastam o esternocleidomatóideo. Para o lobo esquerdo, as coisas se invertem • Paciente sentado ou de pé e o examinador sentado ou de pé, postado à sua frente (abordagem anterior). São os polegares que palpam a glândula, enquanto os outros dedos apoiam-se nas regiões supraclaviculares • Paciente e examinador nas mesmas posições da abordagem anterior, fazendo-se a palpação com uma das mãos, que percorre toda a área correspondente à tireoide. A flexão do pescoço, ou a rotação discreta do pescoço para um lado ou para o outro, provoca relaxamento do músculo esternocleidomastóideo, facilitando a palpação da tireoide. Ao inspecionar e palpar a tireoide, solicita-se ao paciente que realize deglutições “em seco”, o que permite caracterizar melhor o contorno e os limites da tireoide, a qual se eleva durante o ato de deglutir. Movimente os dedos em vários sentidos, procurando definir a forma e os limites da tireoide. Por meio da palpação, determinam-se o volume ou as dimensões da glândula, seus limites, a consistência e as características da sua superfície (temperatura da pele, presença de frêmito e sopro). Além disso, é importante dar atenção especial à hipersensibilidade, à consistência e à presença de nódulos. Toda avaliação da tireóide deve começar com uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso. Entretanto, a maioria dos pacientes portadores de nódulos tireoidianos são assintomáticos e eutireoidianos por ocasião do diagnóstico. A história não tem sensibilidade e especificidade para detectar malignidade, no entanto, pacientes com história de irradiação da região cervical, história familiar de câncer da tireóide, sexo masculino, nódulos que aparecem em indivíduos com menos de 20 anos e mais de 60 anos são fatores de risco para malignidade. Por outro lado, dor local, sintomas de hipotireoidismo, história familiar de doença nodular benigna da tireóide ou tireoidite de Hashimoto sugerem um processo benigno. A presença de taquicardia pode sugerir hipertireoidismo, e a hipertensão arterial pode ocorrer na neoplasia endócrina múltipla tipo II (NEM II). EXAME FÍSICO GERAL No diagnóstico do hipertireoidismo, o exame físico deve abranger todo o organismo, mas dois achados merecem referência especial: a oftalmopatia e o mixedema prétibial. Oftalmopatia: No exame dos olhos, devemos observar se há edema palpebral e da conjuntiva, protrusão ocular (exoftalmia), hiperemia e edema conjuntival e quemose. Tais alterações, que constituem a oftalmopatia tireotóxica, podem ser agrupadas em classes. Algumas manobras ajudam na detecção das alterações oculares: • Ao fechar os olhos, por exemplo, o paciente pode deixar à mostra a porção inferior da íris – lagoftalmia (classe 3) • Ao solicitar ao pacienteque acompanhe com os olhos os movimentos do dedo indicador e mantenha a cabeça em posição fixa, as paralisias da musculatura ocular tornamse evidentes (classe 4). O movimento de olhar para dentro (convergência) é, com frequência, o mais comprometido. Nódulos e Bócio: Formações nodulares podem ser visíveis e/ou palpáveis na tireoide. Não se trata de uma “doença clínica”, mas manifestação clínica de várias afecções tireoidianas. Os nódulos podem ser únicos ou múltiplos, benignos ou malignos e ocorrem em 4 a 5% da população. Quando se utiliza o exame ultrassonográfico, a prevalência atinge 20%. Procura-se também detectar frêmito. À ausculta, investiga-se se há sopros sobre a tireoide. A tireoide normal é palpável em muitos indivíduos normais, e o lobo direito, com frequência, é um pouco maior do que o esquerdo. É importante anotar a presença de gânglios satélites. A presença de adenomegalia cervical próxima ao nódulo é sugestiva de um processo maligno. Um nódulo liso, macio e de fácil mobilização sugere benignidade, enquanto um nódulo firme ou duro, de superfície irregular e fixo sugere malignidade. O diagnóstico clínico de um nódulo tireoidiano depende do seu tamanho, consistência e localização. Tireóides de pacientes obesos e com pescoço curto são especialmente difíceis de serem examinadas pela palpação. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DO NÓDULO TIREOIDIANO Nódulos tireoidianos (NT) são um achado clínico comum, com prevalência de 3 a 7% com base na palpação. À ultrassonografia (US), a prevalência de NT na população geral é estimada em 20 a 76%, percentual similar ao relatado em estudos de necropsia. Além disso, em 20 a 48% dos pacientes com um nódulo tireoidiano palpável, são encontrados outros nódulos na investigação por US. Os NT são mais comuns em pessoas idosas, mulheres, indivíduos com deficiência de iodo e naqueles com história de exposição à radiação. A taxa de incidência anual estimada de 0,1% nos EUA indica que 300 mil novos NT são detectados nesse país a cada ano. A grande importância no manejo dos NT, apesar de a maioria representar lesões benignas, é descartar a possibilidade de câncer da tireoide, que ocorre em 5 a 10% dos casos em adultos e em até 26% em crianças. Esses percentuais não diferem significativamente se a glândula apresentar um nódulo único ou múltiplos nódulos. A doença nodular da tireoide, que contempla nódulos solitários e bócio multinodular, é, portanto, um problema clínico corriqueiro, com etiologias diversas e preponderantemente benignas. As causas mais frequentes de NT são cistos coloides e tireoidites (80% dos casos), além de neoplasias foliculares benignas (10 a 15%) e carcinoma (5 a 10%). O mecanismo de formação de NT não é bem compreendido. Entre os fatores causais estudados, estão o hormônio tireoestimulante (TSH), fatores de crescimento e mutações como BRAF e Ras, porém a literatura atual ainda carece de evidências claras sobre o mecanismo fisiopatológico envolvido na formação da doença nodular da tireoide. A palavra TUMOR corresponde ao aumento de volume observado numa parte qualquer do corpo, quando se dá por crescimento do número de células, ele é chamado NEOPLASIA - que pode ser benigna ou maligna. Os TUMORES BENIGNOS são constituídos por células bem semelhantes às que os originaram e não possuem a capacidade de provocar metástases. Já os MALIGNOS são agressivos e possuem a capacidade de infiltrar outros órgãos. O ADENOMA FOLICULAR é um tumor encapsulado benigno que mostra evidências de diferenciação folicular. Apresenta-se geralmente como nódulo único envolto por uma cápsula de espessura variável, podendo apresentar degeneração cística ou hemorragia. Mede em média 1 a 3 cm de diâmetro, mas pode ser muito maior. Por definição, não há invasão vascular ou capsular. O tumor pode apresentar arranjo folicular, microfolicular, macrofolicular ou trabecular; além disso, pode apresentar as seguintes variantes histológicas: adenoma de células oncocíticas, adenoma folicular com hiperplasia papilífera, adenoma fetal e adenoma folicular de células claras. Os adenomas foliculares crescem lentamente e podem permanecer assintomáticos por anos. Dez por cento dos adenomas são hiperfuncionantes (adenoma tóxico) e podem desencadear hipertireoidismo clínico ou subclínico; outros 10% podem ser pré-tóxicos com uma função tireoidiana no limite da normalidade. Alguns nódulos podem permanecer assintomáticos por anos e, gradativamente, tornarem- se tóxicos ou hiperfuncionantes, sobretudo quando ultrapassam 3 cm de diâmetro. Normalmente, os nódulos tóxicos suprimem a função do restante da glândula, mas é raro produzirem hipertireoidismo clínico. Classificação ultrassonográfica dos nódulos tireoidianos Esta classificação foi baseada nas seguintes características ultrassonográficas: conteúdo (sólido, cístico ou misto), ecogenicidade (isoecóico, hipoecóico ou hiperecóico), contornos (regular ou irregular), presença de calcificações, parênquima tireoidiano adjacente ao nódulo que pode se apresentar com textura homogênea ou heterogênea e presença de outras imagens nodulares. Diagnóstico ultrasonográfico dos nódulos tireoidianos Em uma análise de pacientes portadores de nódulos tireoidianos submetidos ao exame ultrasonográfico e punção aspirativa por agulha fina guiada pela ultrasonografia, tiveram nódulos classificados ultrasonograficamente com: • grau I ou II (benignos) • grau III (indeterminado) • grau IV (suspeito para malignidade). De acordo com estas características, os nódulos foram agrupados em 4 grupos, correspondentes, progressivamente, à maior probabilidade de malignidade da lesão. 1. Grau I (benigno): imagem anecóica arredondada, de paredes lisas e de conteúdo líquido. 2. Grau II (benigno): nódulo misto, predominantemente sólido ou líquido; nódulo sólido isoecóico ou hiperecóico com ou sem calcificações grosseiras, com ou sem componente líquido e com o restante do parênquima de textura heterogênea, podendo estar associado a outras imagens nodulares sólidas, mistas ou cistos. 3. Grau III (indeterminado): nódulo sólido isoecóico ou hiperecóico, único; nódulo sólido hipoecóico; nódulo sólido com área líquida central; cisto com tumor parietal. 4. Grau IV (suspeito para malignidade): nódulo sólido hipoecóico, de contornos irregulares e com microcalcificações em seu interior. REFERÊNCIAS • OBJETIVO 1: ➡ Silverthorn, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7a ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2017. ➡ GUYTON, Arthur C.; HALL, John E.. Tratado de fisiologia médica. 13º ed. Rio De Janeiro: Elsevier, 2017. OBJETIVO 2: ➡ Silverthorn, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7a ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2017. ➡ GUYTON, Arthur C.; HALL, John E.. Tratado de fisiologia médica. 13º ed. Rio De Janeiro: Elsevier, 2017. ➡ KASPER, Dennis L. Medicina interna de Harrison. 20 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2020. ➡ VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021. OBJETIVO 3: ➡ GUYTON, Arthur C.; HALL, John E.. Tratado de fisiologia médica. 13º ed. Rio De Janeiro: Elsevier, 2017. OBJETIVO 4: ➡ VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021. ➡ Clínica médica, volume 5: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. – Barueri, SP: Manole, 2009. ➡ Williamson, A. Mary. Wallach: interpretação de exames laboratoriais – 10. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. OBJETIVO 5: ➡ Porto, Celmo Celeno. Semiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2019. ➡ VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021. OBJETIVO 6: ➡ VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2021. ➡ Clínica médica, volume 5: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. – Barueri, SP: Manole, 2009.