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1. DIFERENCIAR AS PRINCIPAIS CAUSAS ENDOCRINOLÓGICAS DA PERDA DE PESO A perda de peso constitui queixa comum no consultório, podendo ser o motivo da consulta em aproximadamente 8% dos casos ou se revelar durante a entrevista médica. Apresenta incidência de até 13% em pacientes ambulatoriais e de 50 a 65% nos institucionalizados. A perda modesta de peso pode se dever a oscilações habituais no peso corporal ou ao processo fisiológico natural de envelhecimento. Considera-se involuntária e significativa a perda de 5% ou mais do peso corporal em seis a 12 meses, o que deve suscitar a busca por uma doença subjacente. Exclui-se, aqui, a relacionada ao uso de diuréticos ou proposital de dietas ou medicamentos "para emagrecer". Alguns autores consideram clinicamente significativa a perda de 4,5 kg ou mais em seis a 12 meses. Outros, ainda, no que diz respeito aos idosos, ressaltam que ela deve ser investigada sempre que houver diminuição de 10% ou mais no peso corporal usual. A perda de peso inexplicável, recente e progressiva, em pessoa previamente hígida, embora potencialmente grave em qualquer idade, é mais preocupante quando ocorre acima de 40 anos de idade, em vista da maior prevalência de neoplasias e de fatores psicossociais e funcionais mais frequentes nessa faixa etária, especialmente em idosos. Constitui fator de risco independente para aumento na morbidade e mortalidade, particularmente em idosos, nos quais está correlacionada com morte prematura, risco mais alto de incapacidade, aumento nas admissões hospitalares e no tempo de internação, deficiências nutricionais específicas, úlceras de decúbito, fraturas do quadril e menos capacidade de recuperação de ferimentos. A perda de peso significativa também predispõe a infecções e aumento na mortalidade em pacientes submetidos a cirurgias eletivas, além de prejudicar a resposta à terapia medicamentosa As mudanças no peso podem refletir perda de massa corporal ou de fluidos. Na primeira situação, ocorre quando há balanço calórico negativo, ou seja, desequilíbrio entre a quantidade de nutrientes e calorias disponíveis e as necessidades fisiológicas do organismo. Isto pode ocorrer por três mecanismos básicos: Oferta reduzida de nutrientes/calorias; Aumento da demanda metabólica; Perda excessiva de nutrientes/calorias. Esses fatores podem coexistir em um mesmo indivíduo. Perdas agudas (em horas ou dias), por sua vez, costumam significar perda de fluidos. A perda de peso envolve a ação de diferentes hormônios e citocinas que controlam o apetite e os processos digestivos e metabólicos em geral. Associa- se a diversas condições clínicas agudas ou crônicas, como doenças neoplásicas, inflamatórias e infectoparasitárias, distúrbios endócrinos e metabólicos, doenças cardiorrespiratórias, gastrointestinais e neurológicas e a efeitos secundários à medicação e fatores ligados à esfera psicossocial. As principais condições clínicas relacionadas à perda de peso endócrino-metabólicas são: Diabetes mellitus; Doença de Addison; Hipopituitarismo; Hipertireoidismo (incluindo a tireotoxicose apatética do idoso) e hipotireoidismo; Doenças mitocondriais; Feocromocitoma; Hipercalcemia/ hiperparatireoidismo. Doenças endócrinas: Diabetes mellitus, hipertireoidismo e hipotireoidismo são as causas endócrinas mais comuns de perda de peso não intencional. O diabetes mellitus do tipo 1 mal controlado ou de diagnóstico recente, em particular é associado com perda de peso. O hipertireoidismo é outra causa frequente devido ao hipermetabolismo, ao contrário de outras etiologias de perda de peso o hipertireoidismo é associado com aumento de apetite e hiperfagia, e em pacientes jovens pode até haver aumento de peso, mas em pacientes idosos pode ocorrer anorexia e perda de peso mais acentuada do que em adultos jovens. O hipopituitarismo clinicamente significativo pode ocorrer com perda ou ausência de 75% ou mais do parênquima da hipófise anterior. Pode ser congênito (extremamente rara) ou resultar de uma ampla gama de anormalidades adquiridas intrínsecas da hipófise. Menos frequentemente, distúrbios que interferem na distribuição de fatores de liberação de hormônio hipofisário do hipotálamo, como tumores hipotalâmicos, causam hipofunção da hipófise anterior. O hipopituitarismo acompanhado de evidência de disfunção hipofisária posterior na forma de diabetes insípido (discutido posteriormente) é quase sempre de origem hipotalâmica. A doença de Addison, ou insuficiência adrenocortical crônica, é um distúrbio incomum resultante da destruição progressiva do córtex da suprarrenal. Mais de 90% de todos os casos são atribuíveis a um dos quatro distúrbios: adrenalite autoimune, tuberculose, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) ou câncer metastático. A tireotoxicose é um estado hipermetabólico causado por níveis circulantes elevados de T3 e T4 livres. Como é causada mais comumente pela hiperfunção da glândula tireoide, a tireotoxicose geralmente é chamada hipertireoidismo. Em certas condições, no entanto, o excesso de oferta está relacionado com a liberação excessiva de hormônio tireoidiano pré- formado (p. ex., na tireoidite) ou é proveniente de uma fonte extratireroidiana, e não de uma glândula hiperfuncional. Assim, estritamente falando, o hipertireoidismo é apenas uma categoria de tireotoxicose (embora seja a mais comum). O hipotireoidismo é causado por distúrbios estruturais ou funcionais que interferem na produção de hormônio tireoidiano. Esse distúrbio pode ser dividido em categorias primárias e secundárias, dependendo se seu surgimento provém de uma anormalidade intrínseca na tireoide ou de doença hipotalâmica ou hipofisária. O hipotireoidismo primário pode ser devido a causas congênitas, autoimunes ou iatrogênicas. O hiperparatireoidismo ocorre em duas formas principais, primária e secundária e, menos comumente, como hiperparatireoidismo terciário. A primeira condição representa uma superprodução autônoma e espontânea de PTH, enquanto as duas últimas condições normalmente ocorrem como fenômenos secundários em pacientes com insuficiência renal crônica. 2. ABORDAR A DEFINIÇÃO, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES DO HIPERTIREOIDISMO TIREOIDE: A glândula tireoide consiste em dois lobos laterais volumosos conectados por um istmo relativamente fino, geralmente localizado abaixo e anteriormente à laringe. Em resposta a fatores tróficos do hipotálamo, o TSH (também chamado tireotrofina) é liberado por tireotrofos na hipófise anterior para a circulação. A ligação do TSH ao seu receptor nas células epiteliais foliculares tireoidianas resulta em 1. Ativação e alteração conformacional no receptor, permitindo que ele se associe a uma proteína G estimuladora 2. A ativação da proteína G estimuladora resulta em um aumento nos níveis de AMPc intracelular, o que estimula a síntese e liberação de hormônio tireoidiano. 3. As células epiteliais foliculares da tireoide convertem atireoglobulina em tiroxina (T4) e em quantidades menores de triiodotironina (T3). 4. T4 e T3 são liberados para a circulação sistêmica, onde a maior parte desses peptídeos está ligada a proteínas plasmáticas circulantes, como a globulina de ligação de T4, para transporte para tecidos periféricos. As proteínas de ligação mantêm as concentrações séricas de T3 e T4 não ligados (livres) dentro de limites rigorosos, ao mesmo tempo em que assegura que os hormônios estejam prontamente disponíveis para os tecidos. Na periferia, a maior parte do T4 livre é deiodinada em T3; este último se liga aos receptores nucleares do hormônio tireoidiano nas células-alvo com afinidade 10 vezes maior do que T4 e tem uma atividade proporcionalmentemaior. A ligação do hormônio tireoidiano ao seu receptor nuclear de hormônio tireoidiano (TR) cria um complexo hormônio-receptor que regula a transcrição de um subconjunto de genes celulares. Isso produz efeitos celulares diversos, incluindo aumento do catabolismo de carboidratos e lipídeos e síntese proteica em uma ampla gama de tipos celulares. O resultado final desses processos é um aumento na taxa metabólica basal. Resumo: O TSH se liga ao receptor de TSH no epitélio folicular da tireoide, o que provoca a ativação de proteínas G, a liberação de AMP cíclico (AMPc) e a síntese e liberação de hormônios da tireoide mediadas pelo AMPc (isto é, T3 e T4). Na periferia, T3 e T4 interagem com o receptor de hormônio da tireoide (TR) e formam um complexo que se transloca para o núcleo e se liga aos chamados “elementos responsivos à tireoide” (TREs) em genes-alvo, iniciando, assim, a transcrição. HOMEOSTASE TIREOIDE: Homeostase no eixo hipotálamo-hipófise-tireoide e mecanismo de ação dos hormônios da tireoide. A secreção de hormônios tireoidianos (T3 e T4) é controlada por fatores tróficos secretados pelo hipotálamo e pela hipófise anterior. Níveis reduzidos de T3 e T4 estimulam a liberação do hormônio liberador de tireotrofina (TRH) pelo hipotálamo e do hormônio estimulante da tireoide (TSH) pela hipófise anterior, elevando os níveis de T3 e T4. Os níveis elevados de T3 e T4, por sua vez, suprimem a secreção de TRH e TSH. Esta relação é denominada alça de feedback negativo. PROCESSO DE SÍNTESE No interior de cada folículo há um material denominado “coloide”. Os folículos estão embebidos no estroma glandular, que contém a microvasculatura e as células intersticiais. Entre elas as células parafoliculares (células medulares C), secretoras de um outro hormônio – a calcitonina, que, tal como o PTH, está envolvida no metabolismo do cálcio e do fósforo. As células do epitélio folicular possuem dois polos e, portanto, duas membranas: a membrana apical (voltada para o lúmen folicular ou “colóide”) e a membrana basal (voltada para o interstício e capilares). As reações bioquímicas de síntese hormonal ocorrem em torno da membrana apical. Onde se encontra a enzima determinante de todo este processo: a tireoperoxidase (TPO), localizada em suas microvilosidades. O iodo é adquirido pela dieta (sal e frutos do mar). Ele é captado sob a forma do íon iodeto pela célula folicular através do carreador Na/I da membrana basal (membrana plasmática da face externa da célula). Este transporte ativo é capaz de garantir uma concentração de iodeto livre 30-40 vezes maior que a do plasma. A enzima tireoperoxidase atua catalisando três importantes reações: • Oxidação do iodo: combinando o iodeto com o peróxido de oxigênio (H2O2). A organificação do iodo depende de uma proteína chamada pendrina, presente na membrana apical das células tireoidianas. Esta proteína forma um poro de passagem do iodo para o interior do coloide. • Iodação dos resíduos de tirosina da tireoglobulina, formando as Iodotirosinas: MIT = Monoiodotirosina e DIT = Diiodotirosina; • Acoplamento das iodotirosinas, formando os hormônios tireoidianos (iodotironinas): o T3 (Triiodotironina) = MIT + DIT; o T4 (Tetraiodotironina ou tiroxina) = DIT + DIT. Os hormônios tireoidianos ficam armazenados no coloide até que pequenas porções de coloide são, a cada momento, engolfadas pela membrana apical da célula (pinocitose), formando vesículas que logo se fundem com lisossomos (ricos em proteases ácidas). No interior dos lisossomos, a tireoglobulina é hidrolisada, liberando MIT, DIT, T3 e T4, além de fragmentos peptídicos e aminoácidos. Nesse momento, o T3 e o T4 são liberados para a corrente sanguínea, passando pela membrana basal através de um carreador hormonal específico (MCT). Enquanto isso, o MIT e o DIT liberados no citoplasma sofrem ação de uma enzima desiodase tipo 1, devolvendo o iodeto para a célula (um mecanismo de conservação do iodo). A tireoide produz e libera muito mais T4 do que T3, numa proporção de 20:1. No entanto, o T3 é o maior responsável pela atividade fisiológica dos tecidos periféricos. Na verdade, o T4 penetra nas células dos órgãos-alvo e logo é convertido em T3 por intermédio da desiodase tipo 1 (maioria dos tecidos) ou desiodase tipo 2 (cérebro, hipófise, tecido adiposo marrom), ao retirar um átomo de iodo do anel externo do T4. Nem todo o T4 é convertido em T3. Na verdade, cerca de 35% são convertidos em T3. O que acontece com o restante? Boa parte deste restante é convertida numa outra iodotironina – o T3 reverso (rT3), por uma nova enzima – a desiodase tipo 3. O T3 reverso é um composto inativo, contudo um fato interessante é que o T3 reverso é degradado pela desiodase tipo 1 (a mesma enzima que converte T4 e T3. A síndrome de Pendred é uma doença genética em que há deficiência de pendrina. Cursando com hipotireoidismo primário por deficiência parcial de organificação na tireoide e surdez neurossensorial. ETIOLOGIA A tireotoxicose pode estar associada ou não ao hipertireoidismo. Assim, podemos dividir as causas de tireotoxicose em: tireotoxicose associada ao hipertireoidismo e tireotoxicose não associada. Primeiramente, precisamos diferenciar dois termos: hipertireoidismo e tireotoxicose. A tireotoxicose é definida como uma síndrome clínica decorrente da exposição a altas concentrações de hormônios tireoidianos. Isto é, são as manifestações clínicas decorrentes do excesso hormonal à nível tecidual, independentemente da origem destes. Isso pode ser decorrente não só de doenças que acometem a tireoide, as quais aumentam a produção, mas também pela liberação após inflamação, pela produção extratireoidiana ou pelo consumo exógeno desses hormônios. Já o termo hipertireoidismo é utilizado em situações em que há a síntese e liberação hormonal decorrente da própria tireoide, ou seja, uma tireoide hiperfuncionante. A tireotoxicose, então, pode estar associada ao hipertireoidismo primário quando a produção hormonal é derivada da glândula tireoide. A principal causa é a doença de Graves, mas também pode ser decorrente de bócio multinodular tóxico (BMT), adenoma tóxico e excesso de iodo (fenômeno Jod- Basedow). Ainda, pode se relacionar com a produção hormonal tireoidiana por consequência de outros locais (hipertireoidismo secundário), como adenomas hipofisários secretores de TSH, síndrome de resistência aos hormônios tireoideanos, tumores trofoblásticos e tireotoxicose gestacional (estes últimos ocorrem pela interação da subunidade alfa do hCG com receptores de TSH). E, por fim, pode não estar associada ao hipertireoidismo, como o que acontece com doenças inflamatórias; por exemplo metástases funcionantes de câncer de tireoide, strumaovarii, tireoidites ou outras causas de destruição tireoidiana. Também, uma importante causa é a tireotoxicose factícia ou exógena. EPIDEMIOLOGIA O hipotireoidismo acomete 1,2% da população (sendo que 0,5% na forma clínica e 0,7% na forma subclínica), acometendo muito mais o sexo feminino, na proporção de 5:1, em que 0,7% é subclínico e 0,5% é clínico. A doença de Graves corresponde por 60 a 80% dos casos e, como grande parte das doenças autoimunes, sua prevalência é maior entre mulheres com pico de incidência entre 20 e 50 anos. Fatores genéticos (HLA-DR, CTLA-4, CD25, PTPN22, FCRL3 e CD226) e familiares são importantes preditores de risco para Graves, bem como tabagismo, dieta rica em iodo, infecções tireoidianas prévias e eventos estressantes. É importante lembrar de uma possível associação com outras doenças autoimunes, como DM tipo 1, Addison (síndrome poliglandular autoimune), Miastenia Gravis, etc. O BMT corresponde por 10 a 30% dos casos e afeta mulheresmais idosas (a partir da 5ª década). Já o adenoma tóxico é a terceira maior causa, correspondendo por 2 a 10% e é seguido pelas tireoidites. Por fim, os adenomas hipofisários produtores de TSH representam uma causa rara de hipertireoidismo correspondendo a menos de 1% dos casos. Os aumentos súbitos na ingestão de iodo podem desencadear a doença de Graves, e observa-se um aumento de três vezes na ocorrência dessa doença no período pós-parto. A doença de Graves pode ocorrer durante a fase de reconstituição imune após terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) ou tratamento com alentuzumabe FISIOPATOLOGIA Doença de Graves: Ela é caracterizada pela presença de anticorpos contra o receptor de TSH (TRAb). O TRAb mimetiza a ação do TSH, ligando-se ao TSHR nas células foliculares da tireoide, estimulando a cascata de produção do hormônio tireoidiano. Os efeitos causados por estes autoanticorpos não são bloqueados por concentrações elevadas de hormônio tireoidiano levando à estimulação hormonal contínua. Na fase ativa da doença de Graves, concentrações elevadas de TRAb podem ser observadas ao redor de 95% dos pacientes afetados, sendo este o marcador patognomônico da doença de Graves. Uma combinação de fatores ambientais e genéticos, incluindo polimorfismos em HLA- DR, genes imunorreguladores CTLA-4, CD25, PTPN22, FCRL3 e CD226 As citocinas parecem desempenhar um papel proeminente na oftalmopatia associada à tireoide. Ocorre infiltração dos músculos extraoculares pelas células T ativadas; A liberação de citocinas, como γ-interferona (γ- IFN), fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina-1 (IL-1), resulta em ativação dos fibroblastos e síntese aumentada de glicosaminoglicanos, que aprisionam a água, resultando, assim, no edema muscular característico. Nas fases subsequentes da doença, observa-se fibrose irreversível dos músculos. Embora a patogênese da oftalmopatia associada à tireoide continue sendo obscura, há evidências crescentes de que o TSH-R pode ser um autoantígeno compartilhado que se expressa na órbita; isso explicaria a íntima associação com a doença tireoidiana autoimune. A maior quantidade de gordura constitui uma causa adicional de expansão do tecido retrobulbar. O aumento da pressão intraorbitária pode resultar em proptose, diplopia e neuropatia óptica Bócio multinodular e o adenoma tóxico: O bócio multinodular e o adenoma tóxico se diferencia pela quantidade de nódulos presentes. Vários fatores etiológicos contribuem para a formação do bócio multinodular autônomo e, eventualmente, tóxico: a heterogeneidade funcional inerente dos nódulos tireóideos, fatores de crescimento, agentes bociogênicos e exposição a excesso de iodo. O bócio multinodular é caracterizado pela formação de múltiplos nódulos benignos de tamanhos variados e que são os responsáveis pelo crescimento da glândula. A doença de Graves pode se desenvolver em uma glândula multinodular, como comprovado pela dosagem do TRAb estimulador paciente se apresenta com bócio e sinais de tireotoxicose leve (palpitações, taquicardia, nervosismo, tremor, perda de peso e fibrilação atrial) ou tem apenas um hipertireoidismo subclínico. A tireotoxicose no bócio multinodular é mais discreta, com predominância de manifestações cardíacas, como fibrilação atrial. O bócio multinodular não se associa a oftalmopatia ou dermopatia por não ter origem autoimune. O bócio tende a ser volumoso e pode provocar sintomas compressivos, como disfagia com decúbito e compressão de vasos. QUADRO CLÍNICO GERAL O T4 e principalmente o T3 são hormônios que agem acelerando o metabolismo basal, favorecendo o crescimento e as reações celulares, ou seja, aumentam a demanda por oxigênio. Eles estimulam a captação de glicose e aminoácidos pelas células, e consequentemente favorece vias de oxidação da glicose e da síntese proteica. Também favorece a produção de calor e a formação de receptores beta para as catecolaminas. Os sinais e sintomas incluem características comuns a qualquer causa de tireotoxicose, assim como aqueles específicos da doença de Graves. A manifestação clínica depende da gravidade da tireotoxicose, duração da doença, suscetibilidade individual ao excesso de hormônio tireoidiano e idade do paciente. Nos idosos, as características de tireotoxicose podem ser sutis ou mascaradas, podendo os pacientes apresentarem-se principalmente com fadiga e perda de peso, condição conhecida como tireotoxicose apática. Geral: cansaço extremo, perda ponderal, aumento do apetite; Pele e fâneros: pele quente e úmida, sudorese excessiva, cabelos quebradiços, separação da unha do leito ungueal; Cabeça e pescoço: bócio, olhar fixo e brilhante com retração palpebral (lid-lag), além de um piscar frequente devido a exacerbação simpática; Endócrino: sudorese excessiva, intolerância ao calor, diminuição da concentração de colesterol total e HDL. Além disso, podem afetar o metabolismo da glicose. Fazendo com que as células beta do pâncreas tornem mais sensíveis à glicose. Resultando no aumento da secreção de insulina, apesar de diminuir seu efeito periférico; Neurológico: agitação psicomotora, irritabilidade, ansiedade, incapacidade de concentração, nervosismo, dificuldade em controlar as emoções, labilidade emocional, agressividades com membros da família, insônia, tremor fino e sustentado, aumento de reflexos tendinosos profundos; Cardiovascular: hipertensão divergente (PAS elevada e PAD reduzida), pressão de pulso alargada (maior diferença entre PA sistólica e diastólica – PA divergente), taquicardia sinusal (FC> 100bpm), arritmias (fibrilação atrial). Na ausculta, B1 hiperfonética, um sopro sistólico inocente e eventualmente uma terceira bulha “fisiológica” (O alto débito cardíaco produz pulso intenso, pressão de pulso divergente e sopro sistólico aórtico) Respiratório: taquipneia, dispneia ou dispneia aos esforços, obstrução traqueal pelo bócio; Gastrointestinal: hiperperistaltismo e hiperdefecação (causando uma má absorção dos alimentos), náusea, dispepsia, disfunção hepática acompanhada de hepatomegalia e icterícia; Osteomuscular: atrofia e fraqueza muscular, fadiga, miopatia, artralgia e desmineralização óssea, algumas vezes acompanhada de hipercalcemia (em 20% dos casos), hipercalciúria (mais comum) e elevação da fosfatase alcalina. QUADRO CLÍNICO DOENÇA DE GRAVES Tireoide: costuma ficar difusamente aumentada em duas ou três vezes o seu tamanho normal. A consistência é firme, porém não nodular. Pode haver um frêmito ou sopro, que é mais bem detectado nas margens inferolaterais dos lobos da tireoide devido ao aumento da vascularização da glândula e circulação hiperdinâmica. • O bócio caracteristicamente difuso e simétrico à palpação. É por isso que o outro nome da doença é bócio difuso tóxico. Oftalmológico: xoftalmia ou proptose bilateral, olhar fixo, retração palpebral levando à exposição da esclera acima da margem superior do limbo, edema periorbitário, edema e hiperemia conjuntival e, eventualmente, oftalmoplegia. A manifestação mais grave é a compressão do nervo óptico no ápice da órbita, resultando em papiledema, defeitos nos campos periféricos e, se não for tratada, perda permanente da visão. Dermatológico: • Dermopatia tireoidiana: A lesão é descrita como mixedema pré-tibial, sendo caracterizada por espessamento da pele (“casca de laranja”) com pápulas ou placas elevadas, muitas vezes pruriginosas e endurecidas, principalmente sobre a região pré-tibial e dorso dos pés, onde existe trauma. Essa lesão acontece devido a infiltração de linfócitos T na derme, que liberam citocinas, estimulando a produção de glicosaminoglicanos e ácido hialurônico, que são hidrofóbicos, resultando em edema. • Aacropaquia, representada por baqueteamento digital, é observada em menos de 1% dos pacientes com doença de Graves e possui íntima relação com a dermopatia. Esta associação é tão importante que devemos sempre pesquisar outras causas de baqueteamento na ausência de dermopatia e oftalmopatia concomitantes. • Unhas de Plummer: Consistem no descolamento da porção distal da unha do leito ungueal. A intensidade, a duração do hipertireoidismo e a idade do paciente determinam a apresentação clínica. A qual está associada a manifestações adrenérgicas, como nervosismo, palpitações e tremores de extremidades. QUADRO CLÍNICO BÓCIO MULTINODULAR TÓXICO A sintomatologia, nesses casos, é discreta, com predominância de manifestações cardíacas, como fibrilação atrial, talvez devido à faixa etária dos afetados, geralmente mulheres acima dos 50 anos. O bócio multinodular não se associa a oftalmopatia ou dermopatia, mas os bócios tendem a ser volumosos e podem provocar sintomas compressivos. QUADRO CLÍNICO ADENOMA TÓXICO A partir de 3 cm a 4 cm, os adenomas tóxicos já são palpáveis e apresentam produção hormonal suficiente para manifestações clínicas. Os sintomas clínicos apresentam-se de modo mais insidioso comparado à doença de Graves, com predomínio de sintomas cardiovasculares nos pacientes mais idosos e ausência de sinais oculares da oftalmopatia da doença de Graves DIAGNÓSTICO Antes de diagnosticar o paciente com hipertireoidismo, é necessário realizar uma anamnese e um exame físico bem detalhados e minuciosos. É necessário se atentar a presença dos sinais e sintomas clássicos deste quadro, como a perda de peso, a fadiga, o nervosismo, a sudorese excessiva e a palpitação. É necessária também a realização de exames complementares, como a dosagem de T3 livre e total, T4 livre e total e TSH, dosagem de anticorpos (anti- receptor de TSH/anti-TRAB), ultrassonografia da tireoide, cintilografia da tireoide e biópsia da tireoide. Não são realizados todos os exames descritos acima em cada paciente que apresentar a suspeita para a doença. O diagnóstico pode ser fechado apenas com a história clínica + sintomas + dosagem de hormônios da tireoide. Os demais exames servem como complemento ao diagnóstico e como forma de acompanhar pacientes com o diagnóstico prévio. A dosagem do anti-receptor de TSH é realizada em pacientes com a suspeita da Doença de Graves. A cintilografia serve para avaliar a presença de nódulos e realizar o acompanhamento de pacientes que possuem esse tipo de quadro da doença. Já a biopsia serve para analisar a suspeita de um possível câncer na tireoide. Doença de Graves: O diagnóstico da doença de Graves é simples no paciente com tireotoxicose bioquimicamente confirmada, bócio difuso à palpação, oftalmopatia e, com frequência, história pessoal ou familiar de distúrbios autoimunes, não sendo necessários exames adicionais para investigação etiológica. Para pacientes com tireotoxicose que carecem dessas características, o diagnóstico é, em geral, estabelecido por cintilografia com radionuclídeos (99mTc, I 123 ou I 131) e captação da tireoide, que irá diferenciar a captação difusa e alta na doença de Graves da tireoidite destrutiva, do tecido tireoidiano ectópico e da tireotoxicose factícia, bem como o diagnóstico de adenoma tóxico ou BNM tóxico. Como alternativa, pode-se utilizar a determinação do TRAb para diagnosticar a doença de Graves e a ultrassonografia com Doppler colorido para distinguir o hipertireoidismo (com aumento do fluxo sanguíneo) e da tireoidite destrutiva. No hipertireoidismo secundário devido a tumor hipofisário secretor de TSH, existe também um bócio difuso. A presença de um nível de TSH não suprimido e o achado de tumor hipofisário na TC ou na ressonância magnética (RM) sugerem esse diagnóstico. As manifestações clínicas da tireotoxicose podem simular certos aspectos de outros distúrbios, incluindo ataques de pânico, mania, feocromocitoma e perda de peso associada à neoplasia maligna. O diagnóstico de tireotoxicose pode ser facilmente excluído se os níveis de TSH e de T4 e T3 livres estiverem normais. Um TSH normal exclui também a doença de Graves como causa do bócio difuso. • o nível de TSH está suprimido, e os níveis dos hormônios tireoidianos totais e livres mostram-se aumentados. • níveis elevados de T4 total e T4 livre e níveis normais de T3, é observado em certas ocasiões, quando o hipertireoidismo é induzido por excesso de iodo, proporcionando um substrato excedente para a síntese dos hormônios tireoidianos. • A dosagem dos anticorpos contra TPO ou TBII pode ser útil se o diagnóstico não estiver clinicamente definido, porém não é necessária como rotina. • As anormalidades associadas que podem causar confusão diagnóstica na tireotoxicose incluem uma elevação da bilirrubina, das enzimas hepáticas e da ferritina. • Anemia microcítica e trombocitopenia também podem ocorrer. Avaliação oftalmopatia de Graves: O esquema de pontuação “NO SPECS” para avaliar a oftalmopatia é um acrônimo que deriva das seguintes alterações: 0 = Nenhum sinal ou sintoma 1 = Apenas sinais (retração ou retardo palpebral) sem sintomas (onlysigns) 2 = Comprometimento dos tecidos moles (edema periorbitário) (soft tissue) 3 = Proptose (> 22 mm) 4 = Comprometimento dos músculos extraoculares (diplopia) 5 = Comprometimento da córnea 6 = Perda da visão (sightloss) Apesar de sua utilidade como recurso mnemônico, o esquema NO SPECS não é adequado para descrever por completo a doença ocular, e os pacientes não progridem necessariamente de uma classe para outra; sistemas de escore alternativos (p. ex., o sistema EUGOGO desenvolvido pelo European Group On Graves’ Orbitopathy), que avaliam a atividade da doença, são preferíveis para fins de monitoramento e tratamento. Quando a doença ocular de Graves é ativa e intensa, indica-se o encaminhamento a um oftalmologista e são necessárias as mensurações objetivas, como largura da fissura palpebral; coloração da córnea com fluoresceína; e avaliação da função dos músculos extraoculares (p. ex., gráfico de Hess), da pressão intraocular e dos campos visuais, da acuidade e da visão colorida Bócio multinodular tóxico: evidencia sintomas de instalação geralmente insidiosa, sendo que a maioria dos pacientes é assintomática ou pouco tóxica, com predomínio de manifestações cardíacas, como taquicardia sinusal, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca congestiva. Pacientes idosos podem apresentar queixas de fadiga muscular, perda de apetite, cansaço, fraqueza, inapetência e depressão, caracterizando uma apresentação clínica atípica, conhecida como hipertireoidismo apático. Ao exame físico verifica-se bócio e, por vezes, alterações laboratoriais de função tireóidea. Os resultados podem demonstrar TSH suprimido, níveis normais ou ligeiramente acima do limite superior do normal de T3 e T4 livre. A ultrassonografia identifica pequenos nódulos, não palpáveis ao exame da tireoide, e determina suas características. A cintilografia e a captação tireoidiana são úteis no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo, ajudando a distinguir a tireoidite do bócio multinodular tóxico ou bócio difuso tóxico. As imagens cintilográficas podem ser obtidas com I, Tc99. Em pacientes com bócio multinodular tóxico, o cintilograma revela distribuição heterogênea, com algumas áreas exibindo maiores e menores captações do radiotraçador. O exame também é válido para determinar a presença de extensão subesternal da glândula tireoide. A tomografia computadorizada da região cervicotorácica permite estabelecer desvio traqueal ou compressão de outras estruturas cervicais. Tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) do tórax permitem detectarbócios multinodulares mergulhantes como achados incidentais de tireotoxicose induzida por amiodaronas, especialmente aqueles com componente subesternal. A tomografia computadorizada com contraste iodado deve ser evitada pela possibilidade de induzir o hipertireoidismo em indivíduos portadores de bócio multinodular simples pelo efeito iodo Basedow Adenoma tóxico: Quando a produção hormonal do nódulo excede o limite normal glandular, o nível de TSH é suprimido. Em adição a T4 total ou T4 livre, é importante determinar o nível de T3 total ou T3 livre, pois em alguns casos o nódulo secreta primariamente T3; nesse caso, T3 e T4 livre são normais ou baixas. Os anticorpos antitireoide e TRAb são negativos. O cintilograma é o procedimento diagnóstico preliminar. Com o uso de 99mTc, 123 I ou 131 I, o adenoma tóxico surge como área variável entre “morna” e “quente”, dependendo do grau de depressão do tecido tireóideo adjacente. Assim como em qualquer outra lesão nodular solitária, a US não faz diagnóstico funcional, porém geralmente esses nódulos apresentam-se com aspecto esponjoso. Um estudo sugere que, em nódulos “quentes”, em comparação aos “frios”, existe aumento de vascularidade, segundo avaliação do fluxo sanguíneo por ecodoppler colorido. A doença nodular autônoma pode ainda apresentar-se na forma de hipertireoidismo subclínico (adenoma pré-tóxico), condição clínica na qual os valores de TSH sérico estão suprimidos, concomitantemente a valores séricos normais de hormônios tireóideos HIPERTIREOIDISMO x TIREOTOXICOSE TIREOTOXICOSE: • Síndrome clinica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes, secundário ao hipertireoidismo ou não. • Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo ou assustado e sinal de lid-lag são decorrentes da hiperatividade adrenérgica e podem ser observados em qualquer quadro de tireotoxicose. São também achados frequentes: o Pele quente e úmida o Taquicardia sinusal o Hipertensão arterial sistólica o Fibrilação atrial (mais em idosos) o Tremor fino de extremidades o Fraqueza muscular proximal o Hiperreflexia o Arritmia, ICC, angina o Bócio HIPERTIREOIDISMO • Caracterizado pelo aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela própria glândula tireoide e se não tratado pode levar a outros problemas de saúde. • A hiperfunção tireoidiana manifesta-se, principalmente, como Doença de Graves (em cerca de 80% dos casos), tumor trofoblástico (mola hidatiforme, coriocarcinoma) e adenoma hipofisário produtor de TSH. • A ocorrência de hipertireoidismo é 20 vezes mais frequente em mulheres do que em homens. • Taquicardia e ansiedade, são mais evidentes em pacientes jovens e com bócios volumosos. • São manifestações clínicas comumente encontradas no hipertireoidismo os seguintes sinais e sintomas: o Nervosismo o Tremor o Bócio o Sudorese excessiva o Intolerância ao calor o Pele quente e úmida o Palpitação e taquicardia o Fadiga o Perda de peso o Dispneia o Fraqueza o Aumento do apetite o Queixas oculares o Edema de membros inferiores • O diagnóstico clínico do hipertireoidismo, geralmente, não oferece dificuldade e a confirmação diagnóstica deverá ser feita com as dosagens das concentrações séricas de TSH e hormônios tireoidianos. 4. DEFINIR O MANEJO DO TRATAMENTO DO HIPERTIREOIDISMO, ELUCIDANDO O MECANISMO DE AÇÃO, EFEITOS ADVERSOS E CONTRAINDICAÇÕES Os três métodos principais para controlar o hipertireoidismo consistem em terapia com agentes antitireoidianos, tireoidectomia cirúrgica e destruição da glândula com iodo radiativo. Doença de Graves: O excesso de hormônios tireoidianos secundário à Doença de Graves pode ser controlado pela por meio do controle dos sintomas, através dos betabloqueadores, inibição da síntese hormonal, através das drogas antitireoidianas (DAT), destruição do tecido tireoidiano com iodo radioativo ou cirúrgico. O tratamento com betabloqueadores deve ser considerado em pacientes sintomáticos, com suspeita ou diagnóstico de tireotoxicose. Esses medicamentos diminuem a frequência cardíaca, a pressão arterial, os tremores, a labilidade emocional e a intolerância aos exercícios. O betabloqueador não seletivo propranolol é o mais utilizado, com melhora dos movimentos hipercinéticos, tremores finos de extremidades e mãos úmidas, mas também podem ser prescritos betabloqueadores cardiosseletivos (atenolol, metoprolol) ou com meia-vida mais curta (esmolol). A dose oral habitual de propranolol ou atenolol varia de 20 a 80 mg a cada 6 a 12 horas e 50 a 100 mg uma vez ao dia, respectivamente, e deve ser ajustada conforme a resposta clínica. Os bloqueadores de canais de cálcio, verapamil e diltiazem, administrados oralmente, podem ser utilizados nos casos de contraindicação ao uso de betabloqueadores. Bócio multinodular e o adenoma tóxico: O controle do hipertireoidismo por meio do uso de DAT é temporário e o tratamento de escolha deve ser a ablação com 131I ou tireoidectomia. A alcoolização dos nódulos por injeção percutânea guiada por USG ou mesmo a ablação térmica com laser podem ser utilizadas como tratamentos alternativos em casos selecionados. A primeira opção de tratamento para os pacientes com BMNT ou AT deve ser cirúrgica. O tratamento cirúrgico oferece boas chances de controle nos pacientes com BMNT e AT. A tireoidectomia total é o tratamento definitivo de escolha no BMNT, enquanto nos casos de AT está indicada a lobectomia. O tratamento com DAT nos pacientes com doença nodular não autoimune não induz a remissão da doença. No entanto, pacientes com BMNT ou AT que apresentam hipertireoidismo importante devem ser tratados com DAT até atingir o eutireoidismo no preparo para a cirurgia. A droga de escolha é o metimazol na dose de 10 a 30 mg/dia. Idosos, com contraindicação para cirurgia ou 131I, podem ser mantidos de forma contínua com doses baixas de metimazol. Pacientes com BMNT ou AT que não apresentam condições clínicas para o tratamento cirúrgico ou que não querem ser submetidos a cirurgia são candidatos para o tratamento com 131I. Sintomáticos devem ser tratados previamente com DAT e betabloqueadores ou, em casos leves, apenas com betabloqueadores DROGAS ANTITIREOIDIANAS O uso de drogas antitireoidianas (DAT) é a primeira opção terapêutica para pacientes com hipertireoidismo no Brasil e na Europa. A utilização de DAT é a única modalidade de tratamento que possibilita a cura sem necessidade de intervenção cirúrgica ou exposição radioativa. As drogas antitireoidianas podem ser usadas para tratamento definitivo para quem faz remissão de doença tireoidiana, tratamento adjuvante com iodoterapia radioativa e controle da doença antes do tratamento cirúrgico. As DAT disponíveis no Brasil são as tionamidas: propiltiouracil e metimazol. Essas drogas atuam de diferentes formas, interferindo na utilização do iodeto intratireoidiano e na reação de acoplamento, ambas as reações catalisadas pela peroxidase tireoidiana. O metimazol atua inibindo a organificação do iodeto na tireoide, sendo considerada a droga de primeira escolha, exceto durante a gravidez e amamentação pelo risco de aplasia cútis congênita. Os efeitos do metimazol são dose-dependente. Já o propiltiouracil é a droga de primeira escolha em casos restritos de hipertireoidismo grave, crise tireotóxica e no primeiro trimestre da gestação. Ele atua inibindo a captação do iodeto pela tireoide e, em altas doses, inibe a desiodase tipo 1 (T4 → T3). Com o uso do propiltiouracil um único comprimido é capaz de causar o efeito colateral (reação idiossincrásica). A dose inicial do metimazol em paciente com tireotoxicose leve a moderada é de 10 a 30 mg, em dose única diária. Em casos grave, a dose diária podevariar de 40 a 60 mg. A maioria dos pacientes alcança o eutireoidismo após seis a oito semanas de tratamento. Nessa fase, a dose pode ser reduzida gradativamente, sendo o metimazol mantido entre 5 e 10 mg por dia e o propiltiouracil entre 50 e 100 mg por dia. O monitoramento da função tireoidiana deve ser feito com medida de T4L e T3 total após aproximadamente quatro a seis semanas do início do tratamento e depois em intervalos de quatro a oito semanas até que o eutireoidismo seja alcançado com a menor dose do medicamento. Nesse momento, a avaliação clínica e laboratorial pode ser realizada a cada dois a três meses. O TSH pode permanecer suprimido por meses após o início do tratamento e não deve ser utilizado para monitorização na fase inicial. Após 12 a 24 meses de tratamento, a DAT deve ser descontinuada. A taxa de remissão da doença de Graves varia de 30% a 50%. Pacientes com doença de longa duração, bócio volumoso e níveis elevados de T3 (> 500 ng/dL) tem maior probabilidade de recidiva. Como a maioria das recidivas ocorre nos primeiros meses após a suspensão da DAT, é recomendado que a função tireoidiana seja monitorada mensalmente nos primeiros seis meses, depois a cada três meses e, após o primeiro ano de remissão, o paciente deve ser monitorado anualmente por tempo indeterminado. As reações aos agentes antitireoidianos já foram descritas. Uma erupção cutânea menor frequentemente pode ser controlada com anti- histamínico. Como a reação mais grave de agranulocitose costuma ser precedida de faringite ou febre alta, os pacientes em uso de agentes antitireoidianos devem ser instruídos a suspender o fármaco e a procurar assistência médica imediata, se esses sintomas surgirem. Nessas circunstâncias, estão indicadas as contagens de leucócitos e a contagem diferencial, bem como a cultura de material da orofaringe, seguida de antibioticoterapia apropriada. O tratamento também deve ser interrompido se houver elevação significativa das transaminases (duas a três vezes o limite superior da normalidade). ADJUVANTES DA TERAPIA ANTITIREOIDIANA Durante a fase aguda da tireotoxicose, os agentes bloqueadores dos receptores β-adrenérgicos sem atividade simpáticomimética intrínseca mostram-se apropriados para pacientes sintomáticos com 60 anos ou mais, pacientes com frequência cardíaca acima de 90 bpm e aqueles com doença cardiovascular. O propranolol, na dose de 20 a 40 mg por via oral a cada 6 horas, ou o metoprolol, na dose de 25 a 50 mg por via oral a cada 6 a 8 horas, irão controlar a taquicardia, a hipertensão e a fibrilação atrial. Os agentes bloqueadores dos receptores b-adrenérgicos são retirados de modo gradual, à medida que se observa a normalização dos níveis séricos de tiroxina. O diltiazem, 90 a 120 mg, 3 ou 4 vezes ao dia, pode ser utilizado para controlar a taquicardia em pacientes para os quais o uso de b-bloqueadores esteja contraindicado, por exemplo, pacientes com asma. Os bloqueadores dos canais de cálcio di- hidropiridínicos podem não ser tão efetivos quanto o diltiazem ou o verapamil. A nutrição adequada e os suplementos vitamínicos são essenciais. Os barbitúricos aceleram a degradação de T4 (por indução das enzimas hepáticas) e podem ser úteis como sedativos e para reduzir os níveis de T4. Os sequestradores de ácidos biliares (p. ex., colestiramina) também podem reduzir rapidamente os níveis de T4 ao aumentar a excreção fecal de T4. INIBIDORES ANIÔNICOS Os ânions monovalentes, como o perclorato (CIO4 – ), o pertecnetato (TcO4 – ) e o tiocianato (SCN– ), podem bloquear a captação de iodeto pela glândula por meio da inibição competitiva do mecanismo de transporte do iodeto. Como esses efeitos podem ser revertidos com o uso de grandes doses de iodeto, sua eficácia é um tanto imprevisível. O principal uso clínico do perclorato de potássio consiste em bloquear a recaptação de I− pela tireoide em pacientes com hipertireoidismo induzido por iodeto (p. ex., hipertireoidismo induzido por amiodarona). Todavia, o perclorato de potássio raramente é usado para fins clínicos, visto que está associado ao desenvolvimento de anemia aplásica. IODOTERAPIA Assim como a cirurgia, a iodoterapia é classificada como um tratamento definitivo do hipertireoidismo. É considerado um tratamento simples, seguro e até mesmo a opção mais econômica quando comparada aos outros tratamentos disponíveis, incluindo as DAT. Por esses motivos, é o tratamento de primeira escolha nos EUA. No Brasil, aparece como primeira opção para os pacientes com contraindicações para o uso de DAT e/ou cirurgia, pacientes com recidiva do hipertireoidismo após tratamento com drogas antitireoidianas. Também deve ser considerado como terapia inicial em casos em que o controle definitivo e rápido do hipertireoidismo é desejado, como em pacientes cardiopatas e idosos, e mulheres em idade fértil que planejam gravidez no futuro, evitando os riscos para a gestação e puerpério. A administração do 131I é realizada por via oral e este pode ser dissolvido em água ou em cápsula, sendo prontamente absorbido e organificado pelas células foliculares da tireoide. A radiação induzida pelo 131I provoca uma resposta inflamatória seguida de destruição local e fibrose progressiva, contribuindo para a redução do volume da glândula, mais pronunciada no primeiro ano após a dose. O tratamento com iodoterapia é contraindicado na gestação, lactação, na presença de lesão suspeita ou confirmada de câncer de tireoide, e em mulheres com planos de gestação em período inferior a quatro a seis meses. Deve ser solicitado exame para exclusão de gravidez a todas as mulheres em idade fértil, antes da administração da dose. Dez a quinze dias após a iodoterapia, o paciente pode apresentar dor na região anterior do pescoço e piora do quadro, em decorrência do processo inflamatório. Geralmente, os anti-inflamatórios não hormonais são suficientes para obter analgesia e prednisona raramente é necessária. O uso prévio de betabloqueadores deve ser considerado em pacientes muito sintomáticos e/ou com risco aumentado para complicações no caso de piora do quadro de tireotoxicose nos primeiros dias após a iodoterapia. A taxa de resposta satisfatória ao tratamento com 131I, com desenvolvimento de hipotireoidismo ou eutireoidismo, é de cerca de 80% a 90%. O desenvolvimento de hipotireoidismo ocorre não só pela ação da radiação sobre a glândula, mas também pela história natural da doença autoimune. Bócios volumosos, com hipoecogenicidade ao exame ultrassonográfico, presença de anticorpos contra a tireoperoxidase (anti-TPO) e doses maiores de 131I aumentam a chance de hipotireoidismo. Em pacientes com doença cardíaca subjacente ou tireotoxicose grave, bem como nos pacientes idosos, é conveniente realizar o tratamento com agentes antitireoidianos (de preferência metimazol) até alcançar um estado de eutireoidismo. A medicação é interrompida durante 3 a 5 dias antes da administração de RAI, de modo a não interferir na sua retenção; todavia, pode ser reiniciada dentro de 3 a 7 dias e, em seguida, reduzida gradualmente no decorrer de 4 a 6 semanas com a normalização da função da tireoide. Os iodetos devem ser evitados, a fim de garantir uma captação máxima de 131I. Dentro de 6 a 12 semanas após a administração de RAI, a glândula diminui de tamanho, e o paciente em geral torna-se eutireoidiano ou desenvolve hipotireoidismo. Pode ser necessária uma segunda dose se houver uma resposta mínima três meses após o RAI. Ocorre hipotireoidismo em cerca de 80% dos pacientes após RAI. Os níveis séricos de FT4 e TSH devem ser monitorados regularmente. Quando se verifica o desenvolvimento de hipotireoidismo, deve-se instituir uma reposição imediata com levotiroxina oral, em umadose de 50 a 150 mcg/dia. TIREOIDECTOMIA O tratamento cirúrgico (tireoidectomia total) está indicado nos pacientes com doença de Graves que apresentam bócios volumosos associados a sintomas compressivos, nódulos suspeitos ou com confirmação de doença maligna, gestantes sem controle da doença com DAT, pacientes com intolerância à DAT ou recusa ao tratamento com 131I. Deve ser considerada a administração prévia de DAT associada ou não a administração de betabloqueador, na tentativa do controle da função tireoidiana para diminuir o risco de crise tireotóxica, que pode ser desencadeada pelo estresse cirúrgico, anestesia ou manipulação da glândula. Como complicações, tem-se: hipotireoidismo, hipoparatireoidismo e lesão de nervo laríngeo recorrente e da artéria tireoidea ima. Além disso, durante 10 a 14 dias antes da cirurgia, recebem uma solução saturada de iodeto de potássio, 5 gotas duas vezes ao dia, para diminuir a vascularização da glândula e simplificar a cirurgia. Cerca de 80 a 90% dos pacientes necessitam de suplementação com hormônio tireoidiano após tireoidectomia subtotal.
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