Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Fisiologia do hipotálamo/hipófise ........................ 3 2. Hiperprolactinemia .................................................... 9 3. Manifestações clínicas ...........................................14 4. Diagnóstico ................................................................17 5. Tratamento .................................................................19 Referências bibliográficas .........................................22 3HIPERPROLACTINEMIA 1. FISIOLOGIA DO HIPOTÁLAMO/HIPÓFISE Os conhecimentos atuais sobre a neuroendocrinologia reconhece que os neuropeptídios hipotalâmicos são o elo entre o sistema nervoso central (SNC) e a função endócrina. Além dis- so, estudos mais recentes têm carac- terizado os receptores para os peptí- dios hipotalâmicos e sua distribuição, tanto no SNC quanto em outros teci- dos além da hipófise. O controle hipo- talâmico, tanto por aferências neurais quanto por fatores humorais, também tem sido objeto de estudos recentes. O conhecimento da anatomia da uni- dade hipotálamo-hipofisária, de suas conexões com as estruturas do SNC, das funções e das ações dos peptídios hipotalâmicos, seu controle e a locali- zação de seus receptores é essencial para a compreensão dos mais dife- rentes acometimentos endocrinológi- cos, inclusive a hiperprolactinemia. Hipotálamo A principal função do hipotálamo é a manutenção da homeostasia cor- poral, por meio da coordenação das respostas fisiológicas dos diferentes órgãos. Para isso, o hipotálamo in- tegra os sinais provenientes do am- biente, de outras partes do cérebro e do sistema nervoso aferente visceral, elaborando respostas neuroendócri- nas adequadas. Assim, o hipotálamo coordena várias funções corporais, como o controle do peso corporal, da ingestão alimentar, a ingestão de líquidos e o equilíbrio líquido, a tem- peratura corporal e o sono. A maioria dessas funções é desempenhada por intermédio do controle da função hi- pofisária pelo hipotálamo. O controle da função hipofisária pelo hipotálamo se dá por meio dos neu- ropeptídios hipotalâmicos, sintetiza- dos nos neurônios hipotalâmicos e transportados para a neuro-hipófise pelo trato hipotalâmico-hipofisário e também pela liberação de peptídios que causam a liberação dos hormô- nios adeno-hipofisários. O hipotálamo constituiu a parte do diencéfalo localizado abaixo do tála- mo e entre os corpos laminares e a lâmina terminal, formando as paredes e o assoalho do terceiro ventrículo. No assoalho do terceiro ventrículo, as duas porções do hipotálamo se fun- dem e formam a eminência média, local onde as terminações axônicas dos neurônios hipotalâmicos liberam os neuropeptídios que irão contro- lar a função da adeno-hipófise. Essa mesma região é cruzada pelos axô- nios que terminam na neuro-hipófise, considerada, praticamente, uma ex- tensão hipotalâmica. No hipotálamo, existem grupos de neurônios organizados em núcleos, chamados de núcleos hipotalâmicos. Alguns dos neurônios que compõem 4HIPERPROLACTINEMIA esses núcleos são neuro-humorais e sintetizam peptídios que atuam como hormônios. Há dois tipos de hormô- nios que são importantes na me- diação das funções endócrinas: os neurônios magnocelulares e os par- vocelulares. Os neurônios magnoce- lulares localizam-se predominante- mente nos núcleos paraventriculares e supraópticos, produzindo ocitocina e arginina vasopressina (AVP), tam- bém conhecida como hormônio an- tidiurético (ADH). e formam o trato hipotalâmico-hipofisário, que termina na neuro-hipófise. Os axônios dos neurônios parvice- lulares terminam na eminência me- diana, disponibilizando hormônios de liberação ou de inibição que con- trolam a função da adeno-hipófise. Os peptídios hipotalâmicos hipofisio- tróficos, que são sintetizados pelos neurônios parvicelulares e acabam por liberar ou inibir a secreção adeno- -hipofisária, são: hormônio liberador de corticotrofina (CRH), hormônio liberador de tireotrofina (TRH), hormônio liberador de gonadotro- fina (GnRH), hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH), somatostatina e dopamina. O suprimento sanguíneo da hipófise é fornecido por ramos da artéria ca- rótida interna. Existem três ramos: as artérias hipofisárias superiores, mé- dias e inferiores. As artérias hipofi- sárias superiores formam o plexo ca- pilar primário e nutrem a eminência mediana. Os peptídios hipofisiotrófi- cos liberados na eminência mediana penetram nos capilares do plexo ca- pilar primário, sendo transportados, pelas veias porto-hipofisárias, até a adeno-hipófise. O suprimento san- guíneo da neurohipófise é garantido especialmente pelas artérias hipo- fisárias média e inferior. A hipófise recebe sangue de dois grupos de ar- térias, ambas derivadas da carótida interna, mas independentes do supri- mento carotídeo para o hipotálamo. Esses ramos arteriais se comunicam com um enovelado plexo primário de capilares no nível da haste hipofisária. As vênulas desses capilares descem pela haste hipofisária para formar um plexo secundário de capilares. Esse arranjo de dois plexos capilares é chamado de sistema portal hipofi- sário. Em resumo, a adeno-hipófise é irrigada pela artéria hipofisária ante- rior, e a neuro-hipófise, pelas artérias hipofisárias média e inferior. Adeno-hipófise A hipófise é uma glândula constituída por um lobo anterior e outro poste- rior, que diferem na sua origem em- briológica, na sua estrutura e em suas funções. O lobo anterior é também conhecido como adeno-hipófise, é maior e consiste em uma parte ante- rior e uma parte intermediária ou lobo intermediário, separados por uma es- treita fenda, o remanescente da bolsa 5HIPERPROLACTINEMIA de Rathke. A parte intermediária é de pouca importância na fisiologia humana. A adeno-hipófise desempenha pa- pel fundamental na função endócrina, por meio da produção hormonal ativa, sob o comando do hipotálamo, por in- termédio dos neuropeptídios que este libera na eminência mediana. É uma estrutura densamente vascularizada, constituída por células epiteliais de- rivadas do revestimento ectodérmico do palato durante o desenvolvimen- to embrionário e produz hormônios trópicos, liberando-os na circulação sistêmica: o hormônio adrenocorti- cotrófico (ACTH), o hormônio tireo- estimulante (TSH), o hormônio do crescimento (GH), a prolactina e as gonadotrofinas – o hormônio lutei- nizante (LH) e o hormônio foliculo- estimulante (FSH). Esses hormônios são produzidos por diferentes células na adeno-hipófise, com distribuição específica: os gona- dotrofos (que produzem LH e FSH) e os somatotrofos (que produzem GH) são mais numerosos na região posterolateral da adeno-hipófise, en- quanto os corticotrofos (que pro- duzem ACTH) e os tireotrofos (que produzem TSH) localizam-se predo- minantemente na região anterome- dial. Os lactotrofos (que produzem prolactina) estão dispersos em toda a adeno-hipófise. A resposta da hipófise aos efeitos estimulatórios ou inibitórios pode ser modificada por diversos fatores, como os níveis hormonais, por retroalimen- tação negativa ou positiva e pelos rit- mos circadianos. A maioria dos ritmos circadianos é sincronizada por um relógio biológico localizado no núcleo supraquiasmáti- co do hipotálamo que é regulado por fatores externos, como a luz e a escu- ridão, e tanto o sono quanto os efeitos circadianos interagem para produzir o padrão rítmico global de liberação dos hormônios hipofisários. Alguns dos ritmos hormonais de 24 horas estão relacionados com o sono (GH, TSH e prolactina), enquanto outros são influenciados pelos ritmos circa- dianos (ACTH, cortisol e melatoni- na). Devido a essa influência, vemos a secreção do GH ser maior durante a fase de ondas lentas no início da noite e a secreção de prolactina ter um pico durante a fase mais profunda do sono (influências do sono). Além disso, ve- mos o cortisol apresentar um pico maior de secreção no início da manhã e outro menor à tarde (influência do ritmocircadiano). Esses padrões cícli- cos são fundamentais para a secre- ção hormonal adequada e, portanto, para a manutenção da homeostasia. 6HIPERPROLACTINEMIA Dopamina HIPOTÁLAMO TSHTireotrofos CRH TRH GHRH GnRH ADH Ocitocina Adeno-hipófise Neuro-hipófise Lactotrofos Gonadotrofos Corticotrofos Somatotrofos Prolactina FSH LH ACTH GH MAPA MENTAL - FISIOLOGIA DA HIPÓFISE 7HIPERPROLACTINEMIA Prolactina A prolactina é um hormônio sinteti- zado e secretado pelos lactotrofos hi- pofisários que respondem a cerca de 15% a 20% da população da adeno- -hipófise. No entanto, níveis elevados de estrogênio, como os observados durante a gravidez, podem aumentar esse percentual. Os níveis séricos de prolactina são maiores em mulheres do que em homens e mais altos du- rante o sono. O hipotálamo exerce influência pre- dominantemente inibitória sobre a secreção da prolactina por meio de fatores inibitórios que alcançam a hipófise via sistema porta-hipotála- mohipofisário (Figura 1). A liberação de prolactina encontra-se sob inibi- ção tônica predominantemente da dopamina, mas o ácido gama-ami- nobutírico (GABA) e a somatostatina também inibem a prolactina. A inibi- ção dopaminérgica dos lactotrofos é mediada pelos receptores dopami- nérgicos tipo 2 (D2), que são aco- plados à proteína G e inibem a via da adenilciclase e do fosfoinositol. Além disso, a dopamina ativa um fluxo de potássio que induz a hiperpolarização da membrana plasmática, diminuindo o fluxo de cálcio. Assim, a dopamina inibe a secreção de prolactina por inibir a adenilciclase, ativar os ca- nais de potássio e inibir os canais de cálcio. Os estímulos para a liberação de pro- lactina provêm do ambiente externo e do meio interno, como a sucção, os esteroides ovarianos e o estresse. Vários neuropeptídios são fatores de liberação da prolactina, como o TRH, a ocitocina, o peptídio intesti- nal vasoativo (VIP) e a neurotensi- na. O TRH é um potente estimulador da secreção de prolactina, e seu efeito é independente da presença da inibi- ção da dopamina. A prolactina regula a sua própria secreção por meio de um mecanismo de retroalimentação de alça curta, por se ligar aos recep- tores de prolactina localizados nos neurônios dopaminérgicos neuroen- dócrinos que determinam aumento na síntese de dopamina. Os receptores da prolactina são en- contrados na mama, nos ovários e em várias regiões do cérebro, e os principais efeitos da prolactina con- sistem no crescimento e no desen- volvimento da glândula mamária, na síntese do leite e na manuten- ção da secreção desse líquido. Ou- tros efeitos da prolactina incluem a inibição da liberação de GnRH, a biossíntese da progesterona e a hi- pertrofia das células lúteas durante a gravidez, além de estar implicada nos comportamentos reprodutivo e parental (diminuição da libido). 8HIPERPROLACTINEMIA GABA Dopamina GABAEstrogênio Para SNC Ach Prosencéfalo basal Neurônio dopaminérgico Estímulos glutaminérgicos hipotalâmicos Neurônios opioides hipotalâmicos Núcleo paraventricular Núcleo da rafe 5-HT Neurônios da PRF Núcleo mamilar Histamina Núcleo arqueado Aferente medular TRH + Ocitocina VIP Estímulo da sucção mamilar PRL Múltiplos órgãos-alvo Receptores de PRL Receptores de Estrogênio Figura 1. Regulação da secreção da prolactina (PRL) Fonte: Vilar (2016) SAIBA MAIS! A PRL humana é um hormônio heterogêneo, e as principais formas circulantes são um mo- nômero com 199 aminoácidos e peso molecular em torno de 23 kDa, um dímero com peso molecular em torno de 45 kDa (big prolactin) e a forma de alto peso molecular, com 150 a 170 kDa (big big prolactin), também denominada de macroprolactina. ► 9HIPERPROLACTINEMIA A forma monomérica representa cerca de 80 a 90% da PRL total no soro de indivíduos nor- mais e de pacientes com diagnóstico de prolactinoma. Em contrapartida, a PRL dimérica e a macroprolactina, ainda que em praticamente todos os indivíduos, são encontradas em concentrações pouco expressivas, geralmente inferiores a 10% da PRL total circulante. Na maioria dos casos, a macroprolactina consiste em um complexo antígeno-anticorpo de PRL monomérica e IgG. A caracterização das três formas de PRL é realizada, de preferência, por meio de estudos de croma- tografia em colunas de gelfiltração, em que a eluição ocorre em função do peso molecular (Figura 2). Figura 2. Perfil de eluição da PRL, obtido por cromatografia de gel-filtração de soro em pacientes com prolactinomas. Os picos I, II e III representam, respectivamente, a macroprolactina, os dímeros de PRL e as formas monoméricas. Fonte: Vilar (2016) 2. HIPERPROLACTINEMIA A hiperprolactinemia se caracteriza por níveis séricos elevados de pro- lactina (PRL), hormônio cuja principal função é estimular a lactação. A hi- perprolactinemia é definida pelos va- lores de PRL maiores que os valores de referência para o laboratório: > 15 ng/ml em mulheres e > 10 ng/ml em homens, Trata-se da alteração endócrina mais comum do eixo hipotalâmi- co-hipofisário, predominando no sexo feminino. Embora baixa na po- pulação geral (0,4%), sua prevalência mostra-se significativamente mais elevada em indivíduos com sintomas 10HIPERPROLACTINEMIA possivelmente relacionados à hiper- prolactinemia: 9% em mulheres com amenorreia, 25% naquelas com ga- lactorreia, 16 a 30% entre mulheres inférteis e 70% naquelas com ame- norreia e galactorreia. Hiperprolacti- nemia tem também sido relatada em 3 a 10% dos pacientes com disfun- ção erétil e/ou ejaculação precoce. Em mulheres com idade entre 25 e 34 anos, relatou-se que a incidência anual de hiperprolactinemia é de 23,9 por 100.000 pessoas-ano. A hiperprolactinemia não é uma do- ença, mas sim uma anormalidade la- boratorial que pode resultar de causas fisiológicas, farmacológicas e patoló- gicas. Entre estas últimas, a principal etiologia são os adenomas hipofi- sários secretores de PRL (prolac- tinomas), cuja prevalência estimada situa-se entre 6 e 10 por 100.000 a aproximadamente 50 por 100.000 Etiologias Há várias possíveis causas de hiper- prolactinemia que se enquadram em três principais categorias: fisiológicas, farmacológicas e patológicas. Além disso, a hiperprolactinemia pode sur- gir quando há predomínio no soro de macroprolactina, caracterizando a macroprolactinemia (Tabela 1). Causas fisiológicas: As mais impor- tantes causas fisiológicas de hiper- prolactinemia são a gravidez (na qual a PRL se eleva em cerca de 10 vezes) e a amamentação. Além disso, duran- te estresse, exercício, coito, manipula- ção da mama e sono, ocorre liberação de um ou mais fatores liberadores da PRL, com consequente elevação dos níveis séricos da PRL. PATOLOGIAS HIPOTALÂMICAS Tumores: craniofaringioma, meningioma, germino- ma, glioma, metástases etc. Doenças infiltrativas: sarcoidose, tuberculose, gra- nulomatose de células de Langerhans etc. Granuloma eosinofílico Radioterapia craniana PATOLOGIAS HIPOFISÁRIAS Prolactinomas Pseudoprolactinomas (adenomas clinicamente não funcionantes; somatotropinomas, TSHomas etc.) Adenomas mistos secretores de GH/PRL e TSH/ PRL Doença de Cushing, síndrome de Nelson Metástases Síndrome da sela vazia Hipofisite DISTÚRBIOS DA HASTE Hastite, secção cirúrgica, traumatismo craniano OUTRAS PATOLOGIAS DA REGIÃO SELAR Cisto da bolsa de Rathke, paraganglioma secretor de prolactina (PRL), aneurisma de carótida etc. DOENÇAS SISTÊMICAS Endócrinas: hipotireoidismo primário, doença de Addison, síndrome dos ovários policísticos Não endócrinas: cirrose, insuficiência renal crô- nica, lúpus eritematoso sistêmico, pseudociese, anorexia nervosa NEUROGÊNICA Lesões irritativas da parede torácica: herpes- -zóster, toracotomia, mastectomia, queimadura, piercing de mamilo, prótese mamária etc. Lesões do cordão medular: ependimoma cervical, siringomielia, tumores extrínsecos, tabes dorsalis Crise convulsiva 11HIPERPROLACTINEMIA NEUROGÊNICA Produção ectópicade PRL Gonadoblastoma, teratoma ovariano, carcinoma broncogênico, hipernefroma etc. Fármacos/drogas ilícitas (antidepressivos, neurolép- ticos, procinéticos, narcóticos, estrogenoterapia, etc. Macroprolactinemia Hiperprolactinemia idiopática Tabela 1. Causas de hiperprolactinemia. Fonte: Vilar (2016) Causas farmacológicas: O uso de substâncias que elevam a PRL sérica representa a causa mais frequente de hiperprolactinemia não fisiológica, e inúmeras delas podem estar envolvi- das, atuando por mecanismos diver- sos. Os antipsicóticos convencionais e os antidepressivos são os medi- camentos que mais frequentemente provocam hiperprolactinemia. A pro- pensão dos agentes antipsicóticos para causar hiperprolactinemia está relacionada com a sua potência em antagonizar receptores D2 na hipófi- se anterior. A maior afinidade por es- ses receptores ocorre com a risperi- dona, um antipsicótico atípico (APA); 50 a 100% dos pacientes tratados com esse fármaco desenvolvem hi- perprolactinemia. Nos pacientes tra- tados com antipsicóticos típicos (p. ex., fenotiazinas ou butirofenonas), o percentual é de 40 a 90%. Em um grupo de 106 pacientes em uso de antipsicóticos, hiperprolactinemia foi detectada em 81, 35, 29 e 38% dos pacientes que tomavam, respectiva- mente, os APA risperidona, olanzapi- na e ziprasidona, ou antipsicóticos típicos. Em contrapartida, o uso dos APA quetiapina e aripiprazol mos- trou-se capaz de reverter a hiper- prolactinemia induzida por outras substâncias. Verapamil causa hiperprolactinemia em 8,5% dos pacientes, presumivel- mente por bloquear a dopamina do hipotálamo. Opiáceos e cocaína agem pelo receptor μ para causar hiperpro- lactinemia leve. O papel do estrogê- nio na causa da hiperprolactinemia é controverso; 12 a 30% das mulheres que tomam contraceptivos orais que contêm estrogênio podem ter um pe- queno aumento de PRL, mas esse achado é raramente uma indicação para tratamento. Causas patológicas Tumores e outros distúrbios hipofisários e hipotalâmicos. A principal causa de hiperprolacti- nemia patológica são os prolactino- mas, que representam o adenoma hipofisário funcionante mais comum (cerca de 40% dos casos). Outros tu- mores da região hipotálamo-hipofi- sária podem também cursar com hi- perprolactinemia, seja por produção aumentada da PRL (adenomas hi- pofisários mistos produtores de GH, TSH ou ACTH e PRL) ou por com- prometimento da haste hipotálamo- -hipofisária (p. ex., adenomas hipofi- sários clinicamente não funcionantes 12HIPERPROLACTINEMIA e craniofaringiomas). Nesta última condição, tais tumores são chamados de pseudoprolactinomas, já que não são secretores de PRL, mas interfe- rem no aporte de dopamina do hipo- tálamo para a hipófise, comprome- tendo a inibição tônica da secreção da PRL. Lesões infiltrativas, hipofisite, aneurismas, sela vazia e radioterapia também podem resultar em hiper- prolactinemia, devido a produção hi- potalâmica inadequada de dopamina e/ou a comprometimento da haste hipofisária. Curiosamente, hipofisite pode também causar níveis de PRL muito baixos. Metástases hipofisárias (oriundas da mama, dos pulmões, dos rins, da ti- reoide etc.) são raras causas adicio- nais de hiperprolactinemia. Níveis elevados de PRL podem igualmen- te ser encontrados em casos da rara síndrome de McCune-Albright, cuja tríade clássica é puberdade precoce, displasia fibrosa poliostótica e man- chas café com leite irregulares. Doenças sistêmicas Hiperprolactinemia é encontrada em até 40% dos pacientes com hipoti- reoidismo primário franco e em até 22% daqueles com hipotireoidismo subclínico (TSH elevado, com T3 e T4 normais). Nessa condição, ela resul- taria sobretudo de aumento do TRH (que estimula a síntese de PRL), bem como da diminuição da sensibilidade do lactotrofo ao efeito supressor da dopamina e da queda de T3 e T4 circulantes. Pode também ser mani- festação ocasional da doença de Ad- dison (os glicocorticoides suprimem a expressão do gene da PRL e sua liberação), reversível após a introdu- ção da reposição de glicocorticoides. Além disso, é um achado comum em pacientes com cirrose hepática (até 20% dos casos) ou insuficiência re- nal. Ao contrário do sugerido previa- mente, estudos mais recentes não têm ratificado a síndrome dos ovários policísticos (SOP) como causa de hi- perprolactinemia. Na SOP, a elevação da PRL resultaria da concomitância de outras condições não bem pesqui- sadas, como hiperprolactinemia far- macológica, macroprolactinemia ou prolactinomas. Aproximadamente 30% dos pacien- tes com insuficiência renal crônica, e até 80% dos pacientes em hemodiá- lise, têm níveis elevados de PRL. Isso provavelmente é secundário à dimi- nuição da depuração renal da PRL, bem como a aumento de sua pro- dução, como resultado de regulação hipotalâmica desordenada. Correção de insuficiência renal por transplan- te resulta em normoprolactinemia, às vezes dentro de dias. Hiperprolac- tinemia leve também é encontrada, com frequências variáveis, na cirrose alcoólica (16 a 100%) e na cirrose não alcoólica (5 a 13%). A etiopatogenia nesses casos é desconhecida. 13HIPERPROLACTINEMIA Hiperprolactinemia neurogênica Pode ocorrer elevação reflexa da PRL mediada pela ativação das vias aferentes que seguem pelo cordão medular, em decorrência de lesões irritativas da parede torácica (herpes- -zóster, toracotomia, queimaduras, mastectomia) e por patologias do cor- dão medular (ependimoma cervical, siringomielia, tabes dorsalis, tumo- res extrínsecos). A hiperprolactinemia foi também atribuída à aplicação de piercing no mamilo, mas isso não foi confirmado por um estudo mais re- cente. Da mesma forma, pode ocor- rer elevação transitória da PRL após colocação de prótese de silicone para aumento da mama. Tumores extra-hipofisários secretores de PRL Muito excepcionalmente, hiperpro- lactinemia resulta da produção ectó- pica de PRL. Tal situação foi relatada apenas em associação a gonadoblas- toma, teratoma ovariano, carcinoma broncogênico e hipernefroma. Em função de sua raridade, não deve ser pesquisada rotineiramente, a menos que haja um tumor extra-hipofisário clinicamente diagnosticado. Crise convulsiva Observou-se hiperprolactinemia em, aproximadamente, 12 e 75% dos pacientes que apresentavam convulsão do lobo frontal e do lobo temporal, respectivamente. A eleva- ção da PRL resulta do desequilíbrio dos neurotransmissores da região hipotálamohipofisária. Outras causas A PRL parece também estar envolvi- da nos mecanismos patogênicos das malignidades e doenças autoimunes. Hiperprolactinemia já foi relatada em pacientes com linfoma, carcinomas de mama e cólon, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e mielo- ma múltiplo avançado. Hiperprolactinemia idiopática A denominação hiperprolactinemia idiopática (HI) tem sido reservada para os pacientes sem uma causa ób- via para o distúrbio hormonal. Um mi- croprolactinoma pode estar presente, mas é muito pequeno (2 a 3 mm) para ser detectado pelos exames de ima- gem. O seguimento de pacientes com HI não tratados mostrou que o nível de PRL retornou ao valor normal em um terço deles e permaneceu inalterado em quase 50% do restante. Em outro estudo, somente 10% dos pacientes com HI desenvolveram evidência ra- diológica de um tumor hipofisário du- rante o seguimento de 6 anos. Muitos pacientes com HI podem, na verdade, ser portadores de macroprolactine- mia não diagnosticada. 14HIPERPROLACTINEMIA Em estudos, foi relatada a presença de anticorpos anti-hipofisários em 26% dos pacientes com HI, sugerin- do uma etiologia autoimune para es- ses casos. Finalmente, mais recente- mente, em três irmãs com HI, foram evidenciadas mutações com perda de função no gene do receptor da PRL, gerando insensibilidade do mesmo à PRL. Essa rara condição foi denomi- nada de hiperprolactinemia familiar por receptor mutante de PRL. SE LIGA! Nos últimos anos, tem havido um número crescente de estudossobre macropro- lactinemia (MP). Ela predomina no sexo feminino – 90% dos casos publicados – e ocorre em qualquer faixa etária. A exata incidência da MP é desconhecida, porém certamente é bem mais frequente do que se supunha. Em alguns estudos clínicos, a prevalência da MP variou de 10 a 26,5%. A macroprolactina é uma molécula de PRL ligada a uma imunoglobulina (geralmente IgG). Esta ligação faz com que a prolactina perca/diminua sua atividade biológica. A molécula de macroprolactina não é filtrada pelos rins, devido ao seu grande tamanho molecular, de modo que ela passa a se acumular no sangue, gerando dosagens séricas de PRL aumentadas. MP é geralmente suspeitada quando o paciente com hiperprolactinemia se apresenta sem os sintomas típicos e/ou evidência de um tumor hipofisário à ressonância magnética. Menor biodisponibilidade da PRL parece ser a explicação mais provável para a ausência de sintomas em pacientes com MP. Para o diagnóstico de macroprolactinemia, faz-se o teste da precipi- tação com polietilenoglicol. Não necessita de realização de exame de imagem e não é reco- mendado tratamento com agonista dopaminérgico. Existem dados contraditórios se a bioatividade da MP seria baixa ou normal. Por outro lado, a presença de sintomas não exclui o diagnóstico. Convém também comentar que os ensaios mais novos para PRL têm menor reatividade cruzada com a MP, mas ainda detectam sua presença. 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As principais manifestações clínicas da hiperprolactinemia ocorrem como consequência do excesso de prolac- tina atuando sobre as mamas, cau- sando a galactorreia e também sobre o eixo gonadotrófico pela inibição da liberação do GnRH, ocasionando o hipogonadismo e a infertilidade. O primeiro sinal de hiperprolactine- mia nas mulheres na menacme são distúrbios no ciclo menstrual: oligo ou amenorreia. Nas mulheres em uso de anticoncepcional hormonal, esses distúrbios podem ficar masca- rados, tornando-se evidentes quando o contraceptivo é suspenso, a chama- da amenorreia pós-contracepção. A galactorreia pode estar presen- te em 30 a 80% dos casos, porém muitas mulheres podem apresentar galactorreia com níveis normais de prolactina (galactorreia idiopática). 15HIPERPROLACTINEMIA Distúrbios sexuais como redução da libido e dispareunia devido à defici- ência de estrogênio estão frequente- mente associados. Nas mulheres na pós-menopausa, o único sinal pode ser o desapareci- mento dos fogachos, como resul- tado da diminuição das gonadotro- finas. Galactorreia é rara devido aos baixos níveis de estrogênio circulan- te. Nas crianças e adolescentes, pode haver retardo ou interrupção da puberdade. Nos homens, as principais manifes- tações clínicas são relacionadas ao hipogonadismo, como redução da libido, disfunção erétil, rarefação da pilificação corporal, redução da massa muscular, infertilidade. A galactorreia é mais rara. A redução da densidade mineral óssea (DMO) pode ocorrer em ambos os sexos em decorrência do hipogonadismo prolongado. A hiperprolactinemia, quando as- sociada a tumores da região da sela túrcica, pode cursar com cefaleia, predominantemente periorbitária e bitemporal, e distúrbios visuais (hemianopsia bitemporal) devido à compressão do quiasma óptico. Também pode ocorrer deficiência dos outros hormônios hipofisários (hipo- pituitarismo) devido à compressão glandular. 16HIPERPROLACTINEMIA Hiperprolactinemia Quadro Clínico ↓ Secreção Pulsátil do GnRH Estímulo da Lactação Sintomas compressivos no caso dos prolactinomas ↓ Secreção Pulsátil do LH/FSH Hipogonadismo Mulheres Homens • Oligo/Amenorreia • Infertilidade • ↓ Libido • Dispareunia • Osteopenia • Disfunção erétil • Infertilidade • ↓ Libido • Osteopenia Galactorreia Cefaleia Hemianopsia bitemporal Hipopituitarismo MAPA MENTAL - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 17HIPERPROLACTINEMIA 4. DIAGNÓSTICO Anamnese e Exame físico Primeiramente, é fundamental descar- tar gestação, idealmente, por meio de teste de gravidez. Em seguida, inves- tigar o uso de substância que possa elevar os níveis de prolactina, inclusive drogas ilícitas, suspendendo-a, quan- do possível, por 3 dias, com redosagem do hormônio. Avaliar possibilidade de hipotireoidismo, SOP, insuficiência re- nal e cirrose, além de estímulo mamá- rio frequente. Questionar presença de distúrbios menstruais e sexuais. Veri- ficar sinais de alerta para tumores in- tracranianos, como cefaleia, alterações visuais e distúrbios neurológicos. Ao exame físico, verificar a presença de galactorreia, bócio, hirsutismo/hi- perandrogenismo nas mulheres, re- dução do campo visual por confron- tação e existência de lesões irritativas ou traumáticas na parede torácica (queimaduras, herpes-zóster). Achados Laboratoriais Recomenda-se que a hiperprolactine- mia leve a moderada (até 5 vezes o limi- te superior do valor de referência) deva ser confirmada em uma segunda dosa- gem. Idealmente, a medida deve ser fei- ta pela manhã, após repouso de 20 mi- nutos. Não existem evidências de que a medida da PRL seja realizada em jejum. O resultado deve ser analisado confor- me os valores de referência para idade, sexo e método utilizado na dosagem. A magnitude da elevação nos níveis séricos de prolactina pode ser útil na determinação da possível etiologia. Nas pacientes com doenças sistêmi- cas, como hipotireoidismo, SOP, cirro- se ou em uso de medicamentos que elevam a prolactinemia, os níveis ge- ralmente são < 100 ng/mL. Contudo, em pacientes com insuficiên- cia renal em uso de medicamentos que elevam a PRL, os valores podem ser tão elevados quanto 2.000 ng/mL. Os microprolactinomas geralmente cur- sam com valores entre 100 e 200 ng/ mL, mas não raramente podem ser < 100 ng/mL. Nas pacientes com pseu- doprolactinomas, tumores selares não produtores de prolactina, mas que a elevam por compressão da haste hi- pofisária, os níveis do hormônio geral- mente são < 150 ng/mL. Prolactinemia superior a 250 ng/mL é muito sugestiva de macroprolacti- noma; nesses casos, recomenda-se investigar deficiência dos outros hor- mônios hipofisários. SE LIGA! Alguns artefatos relacionados com a dosagem de prolactina podem dificultar a avaliação das pacientes com suspeita de hiperprolactinemia. Reco- menda-se a pesquisa do efeito gancho quando há discrepância entre adenomas volumosos e níveis baixos ou modera- dos de prolactinemia. O efeito gancho se caracteriza pela presença de níveis falsamente baixos de prolactina quando se empregam imunoensaios contendo dois sítios, sejam eles imunorradiométri- cos (IRMA), por quimioluminescência ou enzimaimunoensaios. ► 18HIPERPROLACTINEMIA Nestes ensaios, são utilizados dois an- ticorpos que formam “complexos san- duíches” com a prolactina. Na presença de níveis muito elevados de prolactina, após a ligação da prolactina ao anticor- po de captura, o excesso de prolactina impede a ligação do segundo anticorpo, o sinalizador, não havendo a formação dos referidos “complexos sanduíches”. O fenômeno pode ser elucidado por meio de uma nova dosagem da prolacti- na após diluição do soro a 1:100, quan- do será observado um aumento drástico do valor do hormônio. Uma vez excluída a possibilidade de valores falsamente baixos da prolactinemia, a detecção de níveis de prolactina < 100 ng/mL em um paciente com um macroadenoma hipo- fisário é, portanto, altamente indicativa do diagnóstico de um pseudoprolacti- noma (macroadenoma não secretor de hormônios, estando a prolactina eleva- da por compressão da haste). Nos pacientes assintomáticos com ní- veis anormais de prolactina, mas geral- mente inferiores a 100 ng/mL, deve-se descartar a presença de macroprolac- tinemia. Uma indicação é a persistência da hiperprolactinemia, independente da melhora clínica após tratamento. Há autores que recomendam a pesqui- sa de macroprolactinemia em todos os casos em que os níveis hormonais estão duas vezes maiores do que o valor de referência, para um correto julgamento da etiologiae do tratamento. Exames de Imagem A TC e, principalmente, a RM da sela túrcica permitem a visualização dos prolactinomas e outros tumo- res dessa região implicados na etio- logia da hiperprolactinemia (Figura 3). Contudo, é preciso atentar para a possibilidade da lesão evidenciada se tratar de um incidentaloma hipofi- sário. Sabe-se que aproximadamen- te 10% da população adulta normal submetida à RM apresenta imagem compatível com um microadenoma hipofisário. Dessa forma, a lesão vista à RM pode ser um achado casual em pacientes cuja hiperprolactinemia re- sulte do uso de medicamentos ou de doenças sistêmicas, bem como na- queles com macroprolactinemia. Portanto, exames de imagem de- vem ser realizados somente após a exclusão de causas secundárias de hiperprolactinemia. Para se evitar que implique definição equivocada da etiologia da hiperprolactinemia, a RM da região selar deve ser realiza- da somente após a exclusão de hi- perprolactinemia de causa fisiológica, farmacológica ou decorrente de do- enças sistêmicas, como hipotireoidis- mo primário, cirrose ou insuficiência renal. Uma exceção para esta recomen- dação se aplica aos pacientes com óbvias manifestações neurológicas e oftalmológicas indicativas da pre- sença de um tumor na região selar. Sugere-se que os pacientes com ma- croprolactinemia sejam submetidos à RM apenas se apresentem ma- nifestações clínicas decorrentes da hiperprolactinemia. 19HIPERPROLACTINEMIA Figura 3. Ressonância Magnética revelando macropro- lactinoma. Fonte: Silveiro (2015) 5. TRATAMENTO Na hiperprolactinemia secundária, deve-se tratar a causa básica do dis- túrbio. Nos casos de hiperprolacti- nemia sintomática induzida por me- dicações, deve-se tentar suspender ou substituir a medicação. Se não for possível a suspensão ou substituição da medicação em uso, deve ser solici- tado exame de imagem para excluir a presença de tumor hipofisário. Repo- sição hormonal com estrogênio e tes- tosterona pode ser uma alternativa nestes pacientes, a fim de prevenir os agravos causados pelo hipogonadis- mo. O uso de agonistas dopaminérgi- cos deve ser feito com cuidado pela possibilidade de exacerbação dos sintomas em pacientes usando antip- sicóticos. Nos casos de hiperprolacti- nemia medicamentosa assintomáti- ca, não há indicação de tratamento. Nos pacientes com microprolactino- mas assintomáticos, o manejo pode ser expectante. Estudos que avalia- ram a evolução natural dos micro- prolactinomas mostram que o cres- cimento tumoral é incomum (5% dos casos) e, em muitos pacientes, os níveis de prolactina se normalizam espontaneamente. Mulheres com hiperprolactinemia e ciclos menstruais regulares não pos- suem risco aumentado de osteopo- rose. Se o único sintoma for irregu- laridade menstrual, anticoncepcional hormonal pode ser uma alternativa. Nos casos de hiperprolactinemia as- sociada com hipogonadismo, infertili- dade, galactorreia que cause distúrbio e macroprolactinomas com ou sem sintomas compressivos, o tratamento clínico está indicado, reservando os tratamentos cirúrgico e radioterápico para casos selecionados. Os agonistas dopaminérgicos (AD) são o tratamento de primeira linha, sendo os mais utilizados a bromo- criptina e a cabergolina. Os ADs agem nos receptores D2 hipofisários, inibindo a síntese de prolactina. A di- ferença entre os dois agonistas está na cabergolina ter meia-vida mais longa e poder ser administrada se- manalmente, ter menos efeitos cola- terais e ser mais eficiente na redução dos níveis de prolactina e no volume tumoral sendo, portanto, a primeira escolha. 20HIPERPROLACTINEMIA Há casos de resistência aos ADs. Aproximadamente 20% dos micro- prolactinomas e 30% dos macropro- lactinomas tratados com bromocripina não normalizam os níveis hormonais, ao passo que com a cabergolina, a fa- lha é de 10 e 20%, respectivamente. O manejo desses casos é feito com aumento das doses dos ADs até a máxima tolerada, troca do agonista ou cirurgia transesfenoidal, se houver necessidade. Existe a rara possibili- dade de apoplexia hipofisária com o início do tratamento, sendo o quadro sugerido pela presença de cefaleia in- tensa de início abrupto. Sugere-se que no seguimento dos prolactinomas, o exame de imagem (RM ou TC) seja anual, ou sempre que ocorrer aumento da prolactina, independentemente do correto tra- tamento. Há indicação de avaliação de campo visual e outros exames da adeno-hipófise apenas nos casos de macroprolactinoma. A dose do AD pode ser reduzida gradualmente até a suspensão em pacientes cujos va- lores de prolactina se mantiveram normais por dois anos e, em especial, quando ocorre significativa redução (50%) ou desaparecimento do ade- noma no exame de imagem. O risco de recorrência é maior no primeiro ano após a suspensão e tem associação positiva com volume do adenoma e nível de prolatina no diagnóstico. Re- comenda-se dosagem de prolatina a cada 3 meses no primeiro ano após a retirada do AD e, então, anualmen- te. Exame de imagem deve ser feito se houver novo aumento da prolac- tina. Os ADs podem ser descontinu- ados em mulheres com microprolac- tinoma na menopausa. Entretanto, a manutenção do tratamento deve ser feita em caso de macroprolactino- mas. Também deve ser considerada em caso de baixa massa óssea e/ou fratura de vértebras, uma vez que a hiperprolactinemia pode interferir na mineralização óssea pelo aumento da reabsorção e da redução da prolifera- ção de osteoblastos, independente- mente do hipogonadismo secundário. A cirurgia, preferencialmente transes- fenoidal, é reservada para os casos de intolerância ou resistência aos ADs e persistência de tumor compressivo, apesar das doses máximas de AD, bem como sinais graves de compres- são ou apoplexia do macroadenoma. Pode ser uma alternativa nos pacien- tes dependentes de antipsicótico, uma vez que o uso de AD pode pre- cipitar crise psicótica. A radioterapia é indicada para os casos de macropro- lactinomas não responsivos aos ADs e cirurgia ou nos casos em que estes estão contraindicados. 21HIPERPROLACTINEMIA Assintomático HIPERPROLACTINEMIA (Confirmada em duas coletas em tempos distintos) Sintomático Tratamento com agonistas dopaminérgicos ou cirurgia/radioterapia em casos específicos Acompanhamento clínico NORMAL ou MICROADENOMA MACROADENOMA RM ou TC da sela túrcica Ausência Sintomático Avaliar macroprolactinemia Assintomático Investigação da presença de gestação Investigação de causas secundárias Ausência Se presente, tratamento específico MAPA MENTAL - DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 22HIPERPROLACTINEMIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sales P et al. O Essencial em Endocrinologia. 1. ed. - Rio de Janeiro: Roca, 2016. Silveiro SP et al. Rotinas em Endocrinologia. – Porto Alegre: Artmed, 2015. Vilar L et al. Endocrinologia Clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Wajchenberg BL et al. Tratado de Endocrinologia Clínica. 2. ed. - São Paulo: AC Farmacêu- tica, 2014. 23HIPERPROLACTINEMIA
Compartilhar