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Logógrafos e a Prática Jurídica na Grécia Antiga

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
CAMPUS RIO BRANCO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
 
Paper sobre o direito na Grécia
Rio Branco 
2022
 
Paper sobre o direito na Grécia 
Trabalho apresentado à disciplina História do Direito do curso de Direito da Universidade Federal do Acre como requisito parcial para a obtenção de créditos semestrais.
Professor: Dr. Francisco Pereira da Costa 
Rio Branco
2022
A LOGOGRAFIA E O DIREITO GREGO ANTIGO
Lucas Nascimento de Souza
Marcos Vinicius Silva de Araújo
Maria Carolina Edith da Silva Monte
Rian Felipe de Oliveira Lima
Riquiel Alves de Souza
RESUMO
O objetivo do presente trabalho consiste em apresentar o logógrafo, que era figura importante ao funcionamento do direito grego antigo. Inicialmente, o texto aborda o contexto histórico-jurídico no qual o logógrafo estava inserido. Em seguida, fala especificamente do logógrafo e da atuação deste. A pesquisa foi calcada em análise de literatura existente sobre a temática.
Palavras-chave: Grécia; logografia; retórica; direito.
1 INTRODUÇÃO
Ao contrário da filosofia e da história gregas, que receberam tratamento diferenciado e se difundiram ao longo do Ocidente, o direito grego não teve a mesma sorte. Há raras e escassas compilações associadas às leis e aos demais elementos jurídicos daquela civilização. Segundo Macdowell (apud WOLKMER, 2006), a maior parte dessas compilações está incompleta e limitada a inscrições em pedra e a vestígios ou menções feitas por filósofos em suas obras.
Em que pese as limitações teóricas, a tônica do direito grego antigo que interessa ao paper é a do uso da retórica na práxis jurídica. Assim, o presente trabalho consiste em dar uma dimensão geral da figura do logógrafo e do contexto histórico-jurídico no qual estava inserido.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A CENA JURÍDICA
A Grécia é o mais das vezes colocada como o berço das artes, da filosofia e das ciências. No entanto, admite-se que o direito é uma das áreas sobre a qual a influência dos gregos não foi bastante incisiva (TODD, 1993). O que se sabe permanece restrito a obras de cunho filosófico.
Acredita-se haver duas razões pelas quais a sociedade grega, diferentemente da romana, não atingiu grande proeminência no tocante ao direito. Uma é a recusa em aceitar a profissionalização, donde se dizer que mesmo o advogado era inexistente. A outra é a preferência da fala sobre a escrita (WOLKMER, 2006, p. 56). Tal preferência pode ter suprimido a consolidação de um direito mais doutrinário.
Outra faceta relevante à compreensão do direito grego é a do amadorismo. Todd (1993) demonstra isso ao afirmar que o júri em Atenas se compunha de cidadãos comuns, sem qualquer conhecimento dos ritos processuais. Dava-se o veredito sem discussão detalhada ou técnica.
Não era incomum que os julgamentos durassem em torno de um dia ou menos. Hoje, a administração da justiça fica a cargo de juízes, pessoas com instrução formal e dotadas de conhecimento sobre o trâmite legal. Na Grécia, mais especificamente na Atenas clássica, isso não acontecia. Existia um tribunal popular chamado heliaia, que julgava todas as causas, fossem públicas ou privadas (WOLKMER, 2006, p. 67).
Escolhiam-se os membros da heliaia através de sorteio. O número de heliastas alcançava a casa das centenas. Eles recebiam um salário por cada sessão de trabalho. Vale lembrar que alguns tipos de crime não ficavam sob o juízo da heliaia: os crimes de sangue, por exemplo, competiam ao juízo do areópago.
Dikasteria era o nome que se dava à sessão de trabalho para julgar. Referiam-se aos membros como dikastas, em vez de heliastas. Os dikastas eram cidadãos comuns incumbidos de um serviço oficial. Eles se assemelhavam mais a um jurado moderno que a um juiz propriamente (WOLKMER, 2006, p. 67). Muito desse amadorismo tinha o fim de baratear o acesso à justiça. 
No mais, a defesa constituía ato solitário. Ao réu cabia se dispor à frente dos jurados e conduzir a cena. Isso está relacionado à ideia de entrar na ágora e tomar as rédeas do debate. A configuração habitual de um magistrado disposto a iniciar o processo e de um ministério público representando os interesses da sociedade não ocorria no caso grego. O réu fazia a citação, trazia a palavra a si e, quando muito, pedia o auxílio de familiares e amigos (GLOTZ, 1988). Essa ajuda é o que se chamava sinegoria.
A propósito, a característica da defesa individual na Grécia alude a um episódio amplamente conhecido na história da filosofia, que é a apologia socrática, quando Meleto e Anyto acusaram Sócrates de corromper a juventude de Atenas. 
Devido a convicções ético-filosóficas que escapam ao senso comum, Sócrates optou por não se defender e aceitou as acusações que caíram sobre si. Com efeito, o júri acabou sendo obrigado a tomar a decisão de sentenciar o filósofo à pena de morte.
2.2 NOS BASTIDORES DO DISCURSO 
Como demonstrado, os indivíduos em litígio, na Atenas clássica, eram encarregados de fazer a própria defesa. Ainda assim, como uma parcela desses indivíduos não tinha conhecimentos especializados de persuasão, do dizer eloquente, o logógrafo era convocado à tarefa. 
Recebia o nome de logógrafo o escritor profissional que redigia discursos que deveriam ser apresentados em sessões forenses (WOLKMER, 2006, p. 68). Esse profissional exibia o nível de excelência da retórica ática. Ele precisava redigir o discurso de maneira tal que favorecesse o cliente e soasse o mais natural possível, sem deixar marcas de pessoalidade (FORSYTH, 1988). 
Nessas condições, ter ciência dos mecanismos persuasivos não bastava, sendo preciso um contato maior com o processo e as partes envolvidas. Apesar da habilidade do logógrafo ser mais retórica que legal, o conhecimento da legislação se mostrava pré-requisito ao exercício da função (GAGARIN, 2002).
A palavra discursada tinha que, a um só tempo, atender à demanda judicial da clientela e transparecer beleza, pois a sociedade ateniense sobrevalorizava a fala artística e encenada (MORALES, 2014). O réu que não estivesse confortável em preparar o próprio discurso fazia uma encomenda ao orador-escritor. Com o discurso em mãos, bastava decorar e reproduzir frente ao júri de forma convincente (GLOTZ, 1988). 
Além de orador-escritor, o logógrafo assumia a posição de contador de histórias. Grosso modo, sua habilidade consistia em contar, discursivamente, uma história interessante tanto quanto possível. Foi o que fez Lísias, um dos logógrafos mais bem-sucedidos, ao compor a defesa de Eufileto, acusado de matar Eratóstenes (GAGARIN, 2020, p. 76).
Sócrates propõe, em um diálogo platônico, que sofista é o indivíduo que consegue fazer com que a sombra de um asno se converta em sombra de cavalo. Analisando o modus operandi do logógrafo à luz desse pensamento, pode-se dizer que se tratava de um sofista, tamanha a potência da retórica. 
Em se tratando da retórica, Aristóteles é reconhecidamente o pensador que mais deu importância a ela em seus tratados filosóficos, dividindo-a em três espécies: judicial, deliberativa e epidíctica. A judicial é de especial interesse ao discurso logográfico porque visa ao júri e aos fatos passados, ou seja, fatos anteriores ao momento da enunciação.
Fala o estagirita: “Uma vez que a retórica tem por objetivo formar um juízo (porque também se julgam as deliberações e a ação judicial é um juízo), é necessário não só procurar que o discurso seja demonstrativo e digno de crédito, mas também que o orador mostre possuir certas disposições e prepare favoravelmente o juiz” (Ret. II, 1, 1377b 20-24).
Ademais, Forsyth (1988) diz que o logógrafo, embora não representasse os interesses dos clientes diretamente, era o mais próximo de um advogado àquela época. Mas a logografia possuía altos custos. Os atenienses que solicitavam os serviços de um orador-escritor tinham quantidade mais substancial de dinheiro que o restante da massa popular.
A riqueza dos litigantes fica evidente nos discursos que sobreviveram, dosquais a maior parte foi produzida por logógrafos (GAGARIN, 2020, p. 26). A logografia estava, em certo sentido, associada às elites da sociedade grega. Assim é que Lísias e Demóstenes se notabilizaram e fizeram carreira. Aliás, é com base nesse último que os logógrafos estão divididos em contemporâneos e predecessores de Demóstenes (WOLKMER, 2006).
Mesmo impedidos de comparecer às sessões, dos bastidores do discurso os logógrafos influenciavam o julgamento. Eles confeccionaram falas que são objeto de admiração até os dias atuais (GAGARIN, 2020). O discurso logográfico, por esse motivo, constitui fonte de informação essencial quanto ao direito grego antigo.
Dentro das assembleias e tribunais, surgia então o problema entre a logografia e política (tal conflito se dava pois a logografia era usada de argumento para descrédito), que deixava evidente um exemplar de participação política até mesmo daqueles que não eram cidadãos de fato, através da introdução de discursos (escritos ou não), dessa classe de não-cidadão, durante os debates políticos realizados nesses lugares. Assim pessoas que se encontravam nessa casta, como os metecos, ganhavam participação política podendo afirmar ou questionar valores políticos, é nisso que se encontra a segunda reforma democrática de Sólo, pois se tem alguém a frente de uma camada social que irá reclamar para eles o que deveriam possuir ou simplesmente mudar um comportamento. Todo um coletivo poderia ser unificado em um único sujeito para que sejam tomadas discussões mais objetivas, um detalhe da Grécia antiga da qual não se costumava gastar muito tempo no processo (mesmo que fosse necessário a máxima arte nesse processo de discurso e debate, um problema paradoxal), com isso o ser que reclame e dá uma figura aos “injustiçados.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O direito grego não chegou a ocupar espaço relevante no pensamento jurídico ao redor do mundo, que se mostrou mais sensível à influência românica. Ainda assim, o direito surgido na Grécia é parte de uma dinâmica socio-histórica. Portanto, com a intenção de compreender o modo através do qual o direito se concretizou como ciência no decorrer do tempo, é preciso analisar suas variadas formas de manifestação.
Ao estudar a práxis jurídica de uma civilização que privilegiava a fala em detrimento da escritura, como era a grega, faz sentido que se confira maior importância à retórica e ao discurso. A partir disso, notou-se a necessidade de haver mais publicações que cubram esse ponto em específico. Estudiosos dos clássicos como Michael Gagarin afirmam que os gregos tiveram um direito sofisticado, conquanto não fosse especializado, e que não pode ser relegado à posição de ostracismo por parte das sociedades posteriores.
Dentro do direito grego se encontra presente a diferenciação de lei substantiva e lei processual, que estavam ligados quase que diretamente com a forma que se desenvolvia uma relação em meio ao “júri” da época. Na lei substantiva se tem o próprio fim buscado pela administração da justiça, já em outro foco a lei processual se importava com os meios e instrumentos os quais seriam utilizados para se atingir determinado fim, ajustando assim a forma como se deveria comportar um determinado indivíduo ou grupo conforme os tribunais, ou seja, regulando a conduta e as relações destes com os júris e partes que estejam envolvidas no processo se encontrando presente no tribunal. 
Um exemplo prático na Grécia Antiga dessas leis eram as reformas democráticas de Sólon, que dispunha de três, que relacionando com o processo propriamente se tem “a possibilidade, a quem se dispusesse, de reclamar reparação pelos injustiçados” (ARISTÓTELES, A Constituição de Atenas, IX, 1.), ela está evidentemente relacionada com a operação do processo legal de Atenas, ou seja, era um exemplo de lei processual.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Retórica. Trad. introd., e notas de Manuel Alexandre Júnior et al. Lisboa: Imprensa Nacional, 2006.
FORSYTH, William. The history of lawyers, ancient and modern. Boston: Estes & Lauriat, 1875.
GAGARIN, Michael. Antiphon the Athenian: oratory, law, and justice in the age of the sophists. Austin: University of Texas, 2002.
_____. Democratic law in classical Athens. Austin: University of Texas, 2020.
GLOTZ, Gustave. A cidade grega. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
MORALES, Fábio Augusto. A democracia ateniense pelo avesso. São Paulo: Edusp, 2014.
TODD, Stephen. The shape of athenian law. Oxford: Clarendon Press, 1993.
WOLKMER, Antonio Carlos. Fundamentos de história do direito. 2007.
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