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DESCRIÇÃO Introdução aos princípios da biologia da conservação, ferramentas de conservação e recuperação da biodiversidade e política ambiental brasileira. PROPÓSITO Compreender os padrões e mecanismos ecológicos que auxiliam no estabelecimento de estratégias de conservação, os princípios da biologia da conservação e o desenvolvimento histórico-conceitual das principais iniciativas ambientais no Brasil e no mundo. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever a biologia da conservação MÓDULO 2 Descrever a conservação de populações e espécies MÓDULO 3 Reconhecer a conservação de comunidades MÓDULO 4 Descrever o desenvolvimento sustentável INTRODUÇÃO Atualmente, passamos pelo sexto e maior evento de extinção em massa do planeta. Nunca na história da Terra, uma extinção em massa tinha sido causada pela ação de uma única espécie. Infelizmente, esta espécie somos nós, os humanos. A extinção de espécies é um processo natural, porém as taxas observadas atualmente são muito superiores ao esperado. Calcula-se que a taxa de extinção de anfíbios é cerca de 35 mil vezes maior do que o previsto. A perda desta e de outras espécies afeta uma rede intrincada de interações, podendo gerar alterações nos sistemas econômicos, sociais e ecológicos. Você pode estar se perguntando: por que é importante conservar uma perereca? O que o mundo ganha com isso? Esta e outras perguntas serão exploradas ao longo do tema “Conservação”. Nos próximos módulos, abordaremos aspectos e conceitos-chave fundamentais da biologia da conservação, e da ecologia, as principais formas de se conservar as espécies, e as políticas ambientais para sua implementação e efetividade. MÓDULO 1 Descrever a biologia da conservação INTRODUÇÃO O termo biologia da conservação surge em 1978, como título de uma palestra na Universidade da Califórnia, em um encontro de cientistas preocupados com a perda de florestas tropicais, de espécies e da diversidade genética de suas populações. O encontro, organizado pelos biólogos Bruce Wilcox e Michael Soulé, foi o pontapé para o que se tornou uma das principais disciplinas das ciências naturais. Mas o que biologia da conservação busca conservar? A biodiversidade! De acordo com a Convenção da Diversidade Biológica, biodiversidade é a variação que existe não apenas entre as espécies de plantas, animais, micro-organismos e outras formas de vida no planeta – mas também dentro das espécies, sob a forma de diversidade genética, e em nível dos ecossistemas, nos quais as espécies interagem umas com as outras e com o ambiente físico. Inicialmente, o foco da biologia da conservação estava na manutenção das outras espécies, que não a nossa, e dos sistemas naturais. Logo a percepção da nossa dependência de um ambiente saudável, cujo funcionamento está intrincado à manutenção de populações naturais, revelou a importância da biologia da conservação para populações humanas. Imagem: Shutterstock.com. Neste módulo, vamos explorar os principais aspectos da biologia da conservação, seu escopo e seus princípios, o processo de extinção de espécies e as principais ameaças globais à biodiversidade, reconhecendo as ações antrópicas como causa principal da expansão destas ameaças. Foto: Shutterstock.com. BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO A biologia da conservação surge como uma matéria interdisciplinar, que integra as ciências biológicas, ciências sociais e de gestão de recursos naturais, a fim de promover a conservação da biodiversidade. Primack define a biologia da conservação como o estudo científico da natureza e do estado da biodiversidade do planeta, com o objetivo de proteger espécies, seus habitats e ecossistemas das excessivas taxas de extinção e de erosão das interações entre os seres vivos. Assim, alguns pressupostos são importantes para que a biologia da conservação cumpra sua missão: Imagem: Shutterstock.com. Toda espécie tem o direito de existir. Imagem: Shutterstock.com. Todas as espécies são interdependentes e a perda de uma espécie leva à consequente influência sobre outras. Imagem: Shutterstock.com. Os humanos vivem dentro das mesmas limitações que as demais espécies. Imagem: Shutterstock.com. A sociedade tem responsabilidade de proteger a Terra, considerando as demandas desta e das futuras gerações. Imagem: Shutterstock.com. O respeito pela diversidade humana é compatível com o respeito pela diversidade biológica. Imagem: Shutterstock.com. A natureza tem um valor estético e espiritual que transcende o seu valor econômico. Imagem: Shutterstock.com. A diversidade biológica é necessária para determinar a origem da vida. Tais pressupostos suscitam os valores fundamentais desta disciplina, que passa pela importância da conservação das espécies para garantir a manutenção de fluxos ecológicos essenciais para a vida humana, mas também deixa explícito o valor moral da conservação das espécies e dos sistemas naturais. Todos têm o direito de existir. Imagem: Shutterstock.com. Em termos metodológicos, a biologia da conservação busca estabelecer as melhores estratégias para garantir a conservação das espécies, identificando limiares críticos para populações na natureza, utilizando estratégias de reprodução ex-situ, estabelecendo áreas críticas e/ou prioritárias de conservação, com base na biodiversidade do local e de seu uso. Um exemplo dos tipos de resposta que a biologia da conservação pode dar está contida no trabalho desenvolvido por Strassburg e colaboradores. Eles apontam que a definição de áreas prioritárias para a restauração da vegetação na Mata Atlântica pode triplicar os ganhos com conservação. Isto evita 26% do débito atual de extinção do bioma e, ao mesmo tempo, garante o sequestro de mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalentes, o que faz reduzir os custos pela metade. (STRASSBURG et al. 2019). A recuperação de Áreas de Proteção Permanente (APP) dentro da Mata Atlântica, por exemplo, é capaz de trazer múltiplos benefícios para o ecossistema, em especial para os corpos hídricos que protegem. Foto: Luiz Hybiak / Shutterstock.com. Área de proteção permanente (APPs) em Colombo, PR, Mata Atlântica. POR QUE CONSERVAR? No vídeo a seguir, apresentaremos os principais valores e motivações relacionados à conservação das espécies, incluindo aspectos morais, econômicos e culturais. PERDA DE ESPÉCIES: EXTINÇÃO A extinção de uma espécie pode ser definida como o desaparecimento por completo dessa espécie. No entanto, isso pode ocorrer ou ser percebido de diferentes formas. A extinção é dita local quando o desaparecimento da espécie ocorre em um lugar específico. É o caso da arara-azul-de-lear (Anodorynchus leari), que já não existe em diversas regiões típicas onde costumava estar. Imagem: Autor desconhecido / Adaptado por Angelo Oliveira. Seis grandes extinções e suas causas potenciais. A extinção é um processo natural e ocorre por processos evolutivos decorrentes de uma mudança gradual dos sistemas naturais. O desaparecimento de espécies, produto de uma substituição gradual em uma taxa relativamente baixa, é chamado extinção de fundo. Este processo parece ser característico dos sistemas naturais. Imagem: Shutterstock.com. Tiranossauro rex, um dos dinossauros extintos após a colisão do planeta com um asteroide durante o período Cretáceo. Já a extinção em massa está relacionada à perda de muitas espécies, causada geralmente por uma grande catástrofe natural, como é o caso da colisão com meteoros, erupções vulcânicas de grande escala. Um exemplo deste tipo de extinção é a que dizimou grande parte dos dinossauros, outros animais e plantas do nosso planeta no final do período Cretáceo. Em curso, vivemos a sexta extinção em massa, cuja principal causa é a ação antrópica no planeta. Você já imaginou que as ações que tomamos podem ter consequências comparáveis ao impacto de um asteroide em nosso planeta? A extinção é fator de preocupação, pois pode levar à perda de linhagens evolutivas completasque não poderão ser recuperadas. O que se perde com a extinção de espécies é imensurável em termos evolutivos. O relatório mais recente, publicado em 2019 e produzido pela Plataforma Intergovernamental Político-Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, do inglês Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services), sugere que, atualmente, cerca de 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção e que esforços para sua conservação são urgentes, em especial aqueles dedicados a atenuar os impactos do que são chamadas as cinco principais ameaças globais à biodiversidade (IPBES 2019). AMEAÇAS GLOBAIS À BIODIVERSIDADE Quando os cientistas afirmam que a razão para a extinção são as ações antrópicas no planeta, isto significa uma cadeia de efeitos indiretos que levam à perda de espécies. O uso de combustíveis fósseis, da supressão de áreas de vegetação nativa para a produção agrícola, combinada com uso de fertilizantes, por exemplo, causam uma série de modificações no planeta que comprometem a existência de diversas espécies. Assim, as demandas humanas alimentam o que é chamado por alguns conservacionistas como os “cinco cavaleiros do apocalipse”: Imagem: Danielle Ribeiro. Estima-se que o efeito destas ameaças se tornará ainda mais drástico nos próximos anos e que a população humana pode chegar a, aproximadamente, 10 bilhões de pessoas até 2050. Teremos recursos naturais suficientes para manter essa população? O que será necessário? A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, publicada em 2005, traz o impacto recente e potencial das principais ameaças globais à biodiversidade nos diferentes biomas do planeta. O documento revela que, apesar de a perda de habitat ter sido a principal ameaça nos biomas do planeta, a poluição e as mudanças climáticas ganharão força nos próximos anos. Imagem: Angelo Oliveira. Estimativa para os próximos 50 anos das principais ameaças à biodiversidade. INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. PERDA DE HABITAT A perda de habitat é decorrente de mudanças no uso da terra, levando à substituição de áreas de vegetação nativa por áreas dedicadas às atividades e à expansão humana. Entre os principais processos estão a urbanização, mineração, a construção de barragens e a expansão agrícola. Um exemplo do potencial impacto da perda de habitat está relacionado à ocupação humana na costa brasileira, que já reduziu a Mata Atlântica a aproximadamente 7% de sua cobertura original, levando ao desaparecimento de diversas espécies endêmicas. No entanto, levantamentos recentes mostram que, devido às iniciativas conservacionistas voltadas à restauração vegetal no bioma, a cobertura florestal, hoje, é de 28% (REZENDE et al. 2018). Outro ponto crítico é o desmatamento na Amazônia. A expansão da produção agrícola sobre o bioma levou ao desmatamento, e o acúmulo de matéria orgânica seca no solo tem desencadeado sucessivas queimadas. De acordo com o INPE, a perda de área do bioma por queimadas chegou a 77 mil km2 em 2020, o que equivale ao território conjunto dos Estados de Sergipe e do Rio Grande do Norte. No bioma Cerrado, no mesmo período, a perda da vegetação foi duas vezes maior (139 mil km2). Como consequência, a fauna e flora local foram afetadas e muitas populações foram reduzidas, chegando quase a desaparecer totalmente. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. Área desmatada da Amazônia brasileira. POLUIÇÃO Podemos definir poluição como a introdução de qualquer forma de matéria e energia no meio ambiente que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos. Neste sentido, um poluente pode ser definido pelo efeito que causa, mais do que simplesmente por sua origem ou quantidade. Foto: Shutterstock.com. EUTROFIZAÇÃO A eutrofização é um processo de proliferação de produtores no ambiente aquático decorrente do aumento no aporte de nutrientes, geralmente fósforo e nitrogênio. Isto se torna evidente quando tratamos de um dos poluentes mais discutidos hoje – o dióxido de carbono (CO2). O CO2 é produto na respiração dos organismos, ou seja, neste exato momento você está liberando CO 2 na atmosfera ao respirar. Esse gás, que naturalmente está presente na atmosfera terrestre, pode ser considerado um poluente quando seus valores são superiores ao tolerável para garantir bem-estar humano. O mesmo ocorre quando pensamos em termos de eutrofização. Fósforo e nitrogênio são importantes, mas em excesso causam uma série de efeitos negativos para o funcionamento do sistema. A poluição também ocorre quando um composto tóxico, ainda que em pequenas quantidades, é despejado na natureza, como o caso dos metais pesados que afetam os organismos, comprometendo diversos aspectos de sua biologia. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. A poluição gera perda de biodiversidade e será mais expressiva com o crescimento populacional. Alguns poluentes são chamados emergentes, em referência a uma forma nova de contaminação ambiental, causada pelo descarte inadequado de remédios, microplásticos e café. Estes compostos podem gerar consequências graves na ecologia, no comportamento e no desenvolvimento dos organismos na natureza. O BRASIL, POR EXEMPLO, SE DESTACA PELAS ELEVADAS CONCENTRAÇÕES DAS FORMAS DE ESTRADIOL E CAFEÍNA NA ÁGUA. (QUADRA et al. 2019). MUDANÇAS CLIMÁTICAS O termo mudanças climáticas se refere às mudanças observadas no clima do planeta nas últimas décadas e está, geralmente, associado a um aumento na temperatura e à mudança no padrão de distribuição das chuvas e ventos. O clima é definido por um comportamento médio em um intervalo de tempo; Sentir frio em um dia de verão ou observar um dia quente em pleno inverno não significa que não existam mudanças climáticas. A causa das mudanças é o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o CO2 e o CH4. O aumento destes gases está associado ao consumo de combustíveis fósseis e ao desmatamento em escala global. Foto: Shutterstock.com. O aumento da temperatura está relacionado ao uso de combustíveis fósseis. Uma minoria de pesquisadores sugere que fatores não relacionados às atividades antrópicas, como ciclos solares, são responsáveis pelo comportamento do clima nos últimos anos. No entanto, já está comprovado que o comportamento da temperatura do planeta só poderia ser explicado considerando-se a ação humana. Documentos recentes mostram o risco que o aumento superior à 2oC na temperatura média pode ter na dinâmica da vida no planeta, afetando, direta e indiretamente, o bem-estar da população humana. Foto: Shutterstock.com. A biodiversidade é um dos componentes frágeis destas mudanças, e estima-se que o papel das mudanças do clima seja o principal vetor de ameaça às espécies até 2030. As mudanças climáticas afetam a biodiversidade ao alterar processos fisiológicos e fenológicos dos organismos, que se propagam para populações, para as interações que estabelecem e para processos ecossistêmicos. Estima-se que os efeitos indiretos das mudanças climáticas sejam preponderantes aos efeitos diretos de alterações climáticas. SOBRE-EXPLORAÇÃO DE ESPÉCIES A sobre-exploração (ou superexploração) de espécies está relacionada ao consumo seletivo de algumas espécies que possuem valor econômico ou alimentar e vêm sendo exploradas pelas populações humanas para subsistência e comércio há milhares de anos. O impacto destas atividades está, principalmente, associado ao consumo e à forma de obtenção de recursos pesqueiros em ambientes marinhos, mas também é observado nos ambientes terrestres e de água doce. A exploração econômica dessas espécies acima da capacidade de regeneração das populações pode afetar tanto a espécie explorada como outras espécies associadas. O açaí, fruto típico da Região Norte do país é um exemplo de como o consumo dos recursos naturais sem controle pode levar a vários efeitos indiretos. Foto: Shutterstock.com. Fruto da Amazônia, o açaí é exploradoeconomicamente em todo o mercado nacional. OS ALTOS NÍVEIS DE EXPLORAÇÃO DE FRUTOS DE AÇAÍ (EUTERPE OLERACEA) NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO REDUZIRAM, SIGNIFICATIVAMENTE, A DIVERSIDADE DE AVES FRUGÍVORAS. (BPBES 2019). Diferentemente dos impactos generalizados que a perda de habitat, a poluição e as mudanças do clima possuem na biota, ao afetar as condições e/ou a disponibilidade do habitat das espécies, a sobre-exploração tende a afetar, inicialmente, a população de uma espécie, e este efeito se propaga por interações ecológicas em uma série de efeitos indiretos. INVASÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS A invasão biológica tem efeitos graves para a biodiversidade, pois se as espécies exóticas conseguirem se estabelecer em seus novos sítios de ocupação, rompendo os filtros biogeográficos e ambientais, os filtros bióticos são frequentemente rompidos. Isto ocorre porque as espécies nativas não possuem mecanismos de competição equivalentes às espécies exóticas, bem como predadores e presas, que não possuem mecanismos de ataque e defesa por não terem coevoluído nos mesmos ambientes. Como consequência, espécies nativas que ocupam nichos similares podem ser perdidas por exclusão competitiva, assim como presas podem ser altamente predadas, diminuindo muito o tamanho de suas populações. Consequentemente, uma série de efeitos em cascata torna-se possível por meio destas modificações na comunidade. Foto: Shutterstock.com. Peixe-leão, espécie invasora das águas brasileiras e grande ameaça à fauna nativa do país. A Convenção das Partes da CDB define espécie exótica como aquela que sendo, originalmente, de outro local ou região, penetra e se aclimata em uma nova área. A espécie exótica invasora, por sua vez, é aquela espécie exótica que, ao se estabelecer em um dado local, passa a representar uma ameaça para as espécies nativas, para a saúde e economia humana e para o equilíbrio dos ecossistemas. Uma espécie exótica se torna invasora quando seus impactos sobre a diversidade nativa se tornam expressivos. Foto: Shutterstock.com. A invasão biológica ganhou destaque e se tornou uma preocupação dos conservacionistas devido ao aumento na circulação da população humana de cargas e uso doméstico e estético de diversas espécies, quebrando os filtros biogeográficos existentes. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUAL DAS OPÇÕES ABAIXO NÃO É UM DOS PRESSUPOSTOS DA BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO? A) Toda espécie tem o direito de existir. B) As espécies não são interdependentes e a perda de uma espécie não afeta outras. C) A sociedade tem responsabilidade de proteger a Terra. D) A natureza tem um valor estético e espiritual. E) A diversidade biológica é necessária para determinar a origem da vida. 2. A AVALIAÇÃO ECOSSISTÊMICA DO MILÊNIO (AEM, DO ORIGINAL EM INGLÊS MA) RECONHECE CINCO PRINCIPAIS AMEAÇAS GLOBAIS À BIODIVERSIDADE. TODAS ELAS COM PAPEL DETERMINANTE NA ATUAL TAXA DE EXTINÇÃO DE ESPÉCIES, MAS COM IMPORTÂNCIA RELATIVA NOS VÁRIOS BIOMAS É DISTINTA. CONSIDERANDO AS EXPECTATIVAS PARA OS SISTEMAS FLORESTAIS BRASILEIROS, QUAL É A PRINCIPAL AMEAÇA À BIODIVERSIDADE PARA O PAÍS? A) Mudanças climáticas. B) Perda de habitat. C) Sobre-exploração de espécies. D) Espécies invasoras. E) e) Poluição. GABARITO 1. Qual das opções abaixo não é um dos pressupostos da biologia da conservação? A alternativa "B " está correta. As espécies dependem umas das outras e a extinção de uma espécie pode levar a uma série de extinções em cascata. 2. A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM, do original em inglês MA) reconhece cinco principais ameaças globais à biodiversidade. Todas elas com papel determinante na atual taxa de extinção de espécies, mas com importância relativa nos vários biomas é distinta. Considerando as expectativas para os sistemas florestais brasileiros, qual é a principal ameaça à biodiversidade para o país? A alternativa "B " está correta. O desmatamento é a principal causa de perda de biodiversidade no país, o que está de acordo com as estimativas apresentadas pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio para as florestas tropicais. MÓDULO 2 Descrever a conservação de populações e espécies INTRODUÇÃO Conhecemos o escopo e a preocupação da biologia da conservação, os tipos de extinção e as principais ameaças à biodiversidade do planeta. Entendemos que a ação antrópica no planeta tem papel fundamental na extinção em massa atual e que a perda destas espécies possui uma série de efeitos diretos e indiretos. Assim, definimos a raiz do problema. Mas quais são os mecanismos biológicos que tornam as populações vulneráveis a estas ameaças? Neste módulo, vamos entender como as espécies são afetadas e respondem às ameaças e como isto impacta suas populações e comprometem a sua conservação. Foto: Shutterstock.com. PRIMEIRO PASSO: ENTENDER A ESPÉCIE Entender a história natural e a autoecologia das espécies é passo fundamental para garantir o sucesso de suas populações. Ao entendermos estes aspectos, somos capazes de identificar a solução para proteger e manejar as espécies em seu ambiente natural. Foto: Shutterstock.com. PERDA DE HABITAT Sabemos que a perda de habitat é a principal ameaça à biodiversidade. Portanto, conhecer o habitat de uma espécie é fundamental para conservá-la. Foto: Shutterstock.com. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Os impactos das mudanças climáticas tendem a sobrepor os impactos da perda de habitat nos próximos anos. Isso ocorrerá devido à perda de condições ambientais que garantam a manutenção do nicho climático de inúmeras espécies, ultrapassando os seus limites de tolerância. Todos estes conceitos permeiam a ecologia de indivíduos e são fundamentais para o estabelecimento de estratégias de conservação da vida silvestre. TÁXON É a unidade taxonômica nomeada (p.ex. Homo sapiens, Hominidae ou Mammalia), pela qual indivíduos ou conjuntos de espécies são assinalados. MANTENDO POPULAÇÕES NA NATUREZA CONCEITOS-CHAVE EM ECOLOGIA DE POPULAÇÕES Uma população pode ser definida como um grupo de organismos de determinada espécie que habita uma certa área. Grande parte das estratégias conservacionistas utilizam este nível de organização ecológica para identificar os principais mecanismos que determinam a manutenção das espécies na Natureza. É na escala de populações que é possível integrar as respostas de cada táxon, aos fatores ambientais e intrínsecos das espécies, que determinam os tamanhos populacionais e os demais parâmetros demográficos. A Ecologia, ciência que busca entender a distribuição e abundância dos organismos e as interações que determinam estes parâmetros, demanda o entendimento dos padrões que motivam a ocupação das espécies na natureza. Os indivíduos de uma população podem apresentar diferentes formas de ocupação do território, pelos aspectos comportamentais da espécie e/ou das características do ambiente. A distribuição dos indivíduos de uma população pode ser agregada, uniforme ou aleatória. DISTRIBUIÇÃO AGREGADA Quando há uma tendência de associação entre os indivíduos, ou seja, quando os recursos no ambiente estão distribuídos de maneira heterogênea ou quando os indivíduos da população apresentam um comportamento de grupo, seja como uma estratégia de defesa ou para garantir maior sucesso na captura de suas presas. DISTRIBUIÇÃO UNIFORME Os indivíduos de uma população mantêm uma distância mínima entre si e seus vizinhos. A competição intraespecífica torna-se o fator determinante para explicar a ocorrência dos indivíduos na paisagem, sendo muito comum em organismos territorialistas. DISTRIBUIÇÃO ALEATÓRIA OU RANDÔMICA A ocorrência de cada indivíduo se dá sem relação evidente com a posição dos outros. javascript:void(0) Imagem: A Economia da Natureza. Ricklefs, 2010. 6. ed. Página 185. Formas de distribuição de indivíduos de uma população na paisagem. Outro parâmetro importante das populações, no contexto da ocupação do território, é o conceito de área de vida, que explicita a área que uma espécie vive e transitaao realizar todas as suas atividades vitais. Além disso, o estudo de populações permite um olhar mais crítico sobre os parâmetros que as caracterizam na natureza: a razão sexual, a estrutura etária, a taxa de natalidade e mortalidade. O comportamento destes parâmetros explica a dinâmica e as variações populacionais que, por fim, determinam se uma espécie está ou não próxima a limiares de extinção. Por exemplo: ao identificarmos um grande desvio na razão sexual de determinadas espécies, podemos esperar consequências para o sucesso e o comportamento reprodutivo delas, comprometendo sua taxa de natalidade. O tamanho da população e as taxas de sobrevivência e fecundidade variam conforme as diferentes classes etárias, o que permite construir as tabelas de vida ou tábuas de vida. Elas podem ser definidas como um método de organização que compila as taxas de mortalidade e reprodutivas em diversos intervalos de idade de uma população. As tabelas de vida, podem ser: Tabelas de vida de coorte Ocorrem quando um grupo de organismos de idade similar é acompanhado do nascimento à morte. Tabelas de vida estáticas Levam em consideração organismos que nasceram em diferentes momentos, funcionando como um retrato da população. Através das tabelas de vida, podemos estabelecer a taxa de reprodução bruta de uma população (R0), ou seja, o número de prole produzido ao longo de uma coorte. A taxa de reprodução bruta é o resultado do somatório da multiplicação das taxas de sobrevivência e fecundidade ao longo das diferentes classes etárias da população. Intuitivamente, isto diz quantos indivíduos são “produzidos” em média por um único indivíduo ao longo de sua vida. Se este número é menor que 1, isto representa que cada indivíduo da população em média, ao longo de sua vida, não se substitui, ou seja, a população está diminuindo e pode se extinguir localmente. Se este número é próximo a 1, cada indivíduo se substitui e a população permanece estável. Se R0 é maior que 1, cada indivíduo contribui com novos indivíduos para a população, além de sua substituição e a população cresce. As tabelas de vida também nos ajudam a entender como a taxa de sobrevivência de uma espécie varia ao longo de suas diferentes fases de vida. Algumas espécies possuem uma elevada taxa de sobrevivência nas fases iniciais da vida, fruto geralmente do cuidado parental, com redução acentuada nas fases finais da vida, curva de sobrevivência do tipo I. Outras populações apresentam taxas de mortalidade similares ao longo das diferentes fases da vida e revelam uma curva de sobrevivência do tipo II. Outras espécies, apresentam elevadas taxas de mortalidade nas fases iniciais da vida e tendem a decrescer nas fases finais, curva de sobrevivência do tipo III. Esse tipo de curva de sobrevivência é comum entre organismos que produzem grandes massas de ovos e não possuem cuidado parental, como é o caso dos insetos. As curvas de sobrevivência também são importantes nos esforços para a conservação das populações na natureza, pois indicam as fases críticas onde maior atenção deve ser dada para sua manutenção. Assim, reduzir as acentuadas taxas de mortalidade nas fases iniciais da vida em espécies que apresentam curva de sobrevivência do tipo I poderá ser mais efetivo que esforços voltados às fases tardias da vida das espécies. Estes conceitos deixam explícito que as populações variam no tempo e espaço, considerando a dinâmica dos diferentes parâmetros demográficos. Entender os mecanismos que determinam esta variação, e os riscos associados a ela, é fundamental para estabelecer a viabilidade das populações na natureza. Gráfico: A Economia da Natureza, Ricklefs, 2010. 6. ed. Página 212. Tipos de curva de sobrevivência I, II e III. VARIAÇÃO POPULACIONAL De forma resumida, o tamanho de uma população aberta na natureza varia a partir de quatro fatores específicos. O tamanho de uma população no tempo T+1 é dependente do número de indivíduos no tempo T (NT) somado ao número de indivíduos que nasceram (nascimentos) e chegaram de outras regiões (imigrantes) e descontado o número de indivíduos que morreram (mortes) e deixaram a região (emigrantes). Assim, uma população varia a partir do balanço entre estes parâmetros. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como discutimos no anteriormente, a variação destes componentes pode decorrer de aspectos intrínsecos da população ou das características do meio em que as populações ocorrem. Estes fatores tendem a ser autorregulados pelas interações que os indivíduos de uma população estabelecem entre si (ex. fatores dependentes da densidade), com outras espécies (ex. interações interespecíficas) e com o meio. No entanto, muitos processos são considerados estocásticos, ou seja, são resultantes de efeitos aleatórios, o que sugere certo risco às populações naturais. As variações populacionais decorrentes de processos estocásticos podem NT+1 = NT + Nascimentos – Mortes + Imigrantes – Emigrantes levar as populações a limiares críticos, próximos à extinção. Os impactos potenciais tendem, portanto, a serem maiores em populações pequenas. Entre os processos estocásticos, a estocasticidade demográfica, a estocasticidade ambiental e a estocasticidade genética possuem destaque: ESTOCASTICIDADE DEMOGRÁFICA Decorre da variação aleatória nos parâmetros que determinam o tamanho da população, resultante da independência dos eventos probabilísticos de reprodução, sobrevivência e determinação sexual dos indivíduos. Por exemplo, o acaso determinando que a coorte de uma população possui uma razão sexual de nove machos para cada fêmea. ESTOCASTICIDADE AMBIENTAL Resulta em uma variação em taxas demográficas resultantes de flutuações naturais do ambiente. Um exemplo é a ocorrência de catástrofes naturais, como a passagem de um tornado ou furacão, ou enchentes que podem dizimar uma população. ESTOCASTICIDADE GENÉTICA É fruto do endocruzamento em indivíduos aparentados (depressão endogâmica), comum em populações pequenas, e da perda de diversidade genética devido à deriva gênica. Outros processos estocásticos são importantes e se relacionam direta ou indiretamente com a estocasticidade demográfica, ambiental e genética, como a perda de flexibilidade evolutiva, a instabilidade metapopulacional e a ruptura de estrutura social. Ao reconhecermos que as populações estão sujeitas a variações que podem decorrer de dinâmicas populacionais previsíveis ou de processos estocásticos, definir o tamanho de uma população necessário para que ela esteja segura na natureza torna-se um grande desafio para conservacionistas. Mínima população viável Qual o tamanho mínimo de uma população para que ela persista na natureza diante de tantos processos estocásticos? Esta pergunta tem papel central para se identificar o sucesso de iniciativas de conservação das espécies. Uma população mínima viável pode ser definida como o número mínimo de indivíduos necessários para impedir que uma população perca sua variação genética ou sofra extinção estocástica durante um período aceitável. Para isso, a população precisa ser grande o suficiente para evitar que variações estocásticas levem a espécie à extinção. Mas o que podemos chamar de suficiente, como base nesta probabilidade e neste tempo? Há 95% de chance de persistência em 100 anos? E 80% de chance de persistência em 1.000 anos? Os valores variam caso a caso, de acordo com objetivos de conservação, segurança sobre as estimativas e condições iniciais. Portanto é necessária uma análise crítica de cada caso para que se estabeleçam estes valores. Ainda assim, a pergunta que fica é: como chegamos neste número? Para determinar o tamanho desta população, a análise de viabilidade de populações (AVP) foi uma técnica desenvolvida a fim de examinar esta série de exigências. Para isso, utilizam-se uma série de ferramentas computacionais e cálculos javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) probabilísticosque levam em consideração diversos atributos da população em questão. A AVP pode, portanto, determinar as melhores opções do manejo das populações, maximizando a redução do risco de extinção. Desta forma, a AVP é considerada uma análise de risco. ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO DE POPULAÇÕES Para se estabelecer as estratégias de conservação de populações deve-se levar em consideração os riscos aos quais as populações estão submetidas, considerando variações e dinâmicas populacionais esperadas, processos estocásticos e os fatores externos que controlam estas variações. Foto: Shutterstock.com. Para garantir a conservação efetiva das populações é necessário se definir um conjunto de ações que tratam os diversos aspectos de ameaça e pode-se incluir o estabelecimento de unidades de conservação, criação de corredores ecológicos, processos de reprodução assistida ex-situ, reintrodução de espécies localmente extintas, promoção de aumento da variabilidade genética etc. Diversas políticas e ações voltadas para a conservação das espécies têm sido estabelecidas nos últimos anos. Entretanto, no que se refere aos processos relacionados às populações, os chamados Planos de Ação Nacional representam bem os esforços demandados para a conservação de espécies no país. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), “os Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN) são políticas públicas, pactuadas com a sociedade, que identificam e orientam as ações prioritárias para combater as ameaças que põem em risco populações de espécies e os ambientes naturais e assim protegê-los.” Atualmente, no site do Instituto, é possível encontrar os PANs de 71 táxons, grupo taxonômico ou ambientes. Garantir a conservação das diversas espécies ameaçadas de extinção em todo o planeta requer o esforço em identificar o grau de ameaça de cada uma delas, a fim de determinar prioridades e a urgência na implementação de ações. A criação da lista de espécies ameaçadas, também conhecidas como listas vermelhas ou livros vermelhos, visa oferecer o status de conservação de diversas espécies da fauna e flora e monitorar a sua mudança ao longo do tempo. É por meio destas listas que ações específicas, incorporando aspectos relacionados a história natural e dinâmicas populacionais das espécies, são propostas e esforços dedicados à sua conservação. Em escala global, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) é responsável pelo maior catálogo sobre o estado de conservação de espécie de plantas, animais, fungos e protozoários, a IUCN Red List ou Red Data List. No Brasil, a lista de espécies da fauna ameaçadas é feita por diversos especialistas e está presente no site do ICMBio. Já a lista da flora, é produzida pela Centro Nacional de Conservação da Flora, o CNCFlora, vinculado ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. VOCÊ SABIA De acordo com o CNCFlora, aproximadamente 6 mil espécies foram avaliadas e a metade está ameaçada de extinção, considerando as diversas categorias de ameaça. A IUCN define nove categorias de ameaça, a partir de critérios que incluem a taxa de declínio da população, o tamanho e a distribuição da população, a área de distribuição geográfica e o grau de fragmentação de seu habitat. Já o CNCFlora utiliza oito categorias de risco, e ambas as listas possuem categorias que apontam espécies com a ausência de dados. Imagem: Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2018. O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do ICMBio. A IMPORTÂNCIA E OS DESAFIOS DOS PANS No vídeo a seguir, discutiremos o potencial e a importância dos Planos de Ação para a conservação das espécies brasileiras, bem como discutir os desafios de sua implementação. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ALGUNS ORGANISMOS CARACTERIZAM-SE PELA TERRITORIALIDADE, OU SEJA, A DEFESA DE UMA DETERMINADA ÁREA CONTRA A OCUPAÇÃO DE INDIVÍDUOS DELA OU DE OUTRAS ESPÉCIES. A GRANDE MAIORIA DOS FELINOS, POR EXEMPLO, APRESENTA O COMPORTAMENTO TERRITORIALISTA. COMO CONSEQUÊNCIA, PODEMOS ESPERAR QUE POPULAÇÕES DESTES ORGANISMOS APRESENTEM QUE TIPO DE DISTRIBUIÇÃO NA NATUREZA: A) Aleatória B) Fixa C) Uniforme D) Agregada E) Indeterminada 2. O PRIMEIRO PLANO DE AÇÃO NACIONAL (PAN) FOI PUBLICADO EM 2004 E SE REFERE AO MUTUM-DO-SUDESTE, CRAX BLUMENBACHII, AVE ENDÊMICA DA MATA ATLÂNTICA, QUE PERDEU QUASE A TOTALIDADE DE SUA DISTRIBUIÇÃO ORIGINAL, DEVIDO AO DESMATAMENTO E À CAÇA, SENDO QUASE EXTINTA DA NATUREZA. O SUMÁRIO EXECUTIVO DO PAN, QUE TRAZ AS INFORMAÇÕES-CHAVE PARA SUA IMPLEMENTAÇÃO RESUME UM CONJUNTO DE 36 AÇÕES, DIVIDIDAS EM DOIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1 - PROMOVER A PROTEÇÃO DE C. BLUMENBACHII E DE SEU HÁBITAT E 2 - AUMENTAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DE C. BLUMENBACHII. ENTRE AS AÇÕES, DESTACAM-SE (I) O E ESTABELECIMENTO DE UM PROTOCOLO DE REINTRODUÇÃO DE C. BLUMENBACHII; (II) AMPLIAR OU CRIAR ÁREAS PROTEGIDAS NA REGIÃO DE OCORRÊNCIA ATUAL DE C. BLUMENBACHII E QUE VENHAM A RECEBER PROJETOS DE REINTRODUÇÃO E (III) ARTICULAR A CAPTAÇÃO DE RECURSOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO PAN MUTUM-DO-SUDESTE, INCLUINDO O MONITORAMENTO A LONGO PRAZO. DE ACORDO COM O DOCUMENTO, QUASE METADE DE TODAS AS AÇÕES AINDA NÃO HAVIAM SIDO CONCLUÍDAS OU IMPLEMENTADAS. O LIVRO VERMELHO DA FAUNA BRASILEIRA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO, PUBLICADO EM 2018, APONTA QUE CRAX BLUMENBACHII AINDA APRESENTA RISCO EXTREMAMENTE ALTO DE EXTINÇÃO NA NATUREZA. SOBRE OS PAN, É CORRETO AFIRMAR: A) São ações propostas por empresas, a partir de medidas compensatórias. B) Só são finalizados quando todas as ações previstas são implementadas. C) Buscam identificar e orientar as ações prioritárias para combater as ameaças às populações de espécies e os ambientes naturais. D) Não incluem estimativas de custo de implementação. E) No caso do mutum-do-sudeste, foi responsável por retirar a espécie da lista de espécies ameaçadas. GABARITO 1. Alguns organismos caracterizam-se pela territorialidade, ou seja, a defesa de uma determinada área contra a ocupação de indivíduos dela ou de outras espécies. A grande maioria dos felinos, por exemplo, apresenta o comportamento territorialista. Como consequência, podemos esperar que populações destes organismos apresentem que tipo de distribuição na natureza: A alternativa "C " está correta. O comportamento territorialista é uma das principais explicações para a distribuição uniforme na natureza. 2. O primeiro Plano de Ação Nacional (PAN) foi publicado em 2004 e se refere ao mutum-do-sudeste, Crax blumenbachii, ave endêmica da Mata Atlântica, que perdeu quase a totalidade de sua distribuição original, devido ao desmatamento e à caça, sendo quase extinta da natureza. O sumário executivo do PAN, que traz as informações-chave para sua implementação resume um conjunto de 36 ações, divididas em dois objetivos específicos: 1 - Promover a proteção de C. blumenbachii e de seu hábitat e 2 - Aumentar o conhecimento científico de C. blumenbachii. Entre as ações, destacam-se (I) o e estabelecimento de um protocolo de reintrodução de C. blumenbachii; (II) ampliar ou criar áreas protegidas na região de ocorrência atual de C. blumenbachii e que venham a receber projetos de reintrodução e (III) articular a captação de recursos para implementação do PAN mutum-do-Sudeste, incluindo o monitoramento a longo prazo. De acordo com o documento, quase metade de todas as ações ainda não haviam sido concluídas ou implementadas. O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado em 2018, aponta que Crax blumenbachii ainda apresenta risco extremamente alto de extinção na natureza. Sobre os PAN, é correto afirmar: A alternativa "C " está correta. Os PAN têm a função de identificar e orientar ações prioritárias para combater as ameaças às populações de espéciese os ambientes naturais. MÓDULO 3 Reconhecer a conservação de comunidades INTRODUÇÃO Sabemos que ameaças à biodiversidade, o papel da biologia da conservação e dos aspectos populacionais são importantes na determinação de estratégias que visem a conservação das espécies na Natureza. Além disso, conhecemos a importância do desenvolvimento de iniciativas que identificam o grau de ameaça à extinção e estabelecem ações específicas para a conservação de cada espécie. Infelizmente, a má notícia é que mesmo se todo este conhecimento fosse aplicado, a conservação dessas espécies não estaria segura. Isto acontece, pois as espécies não estão isoladas na natureza. Existe uma forte relação de interdependência entre elas e entender as interações e arranjos existentes pode ser crucial para determinar o sucesso de estratégias de conservação das espécies. Neste módulo, estudaremos os aspectos que revelam a importância de reconhecermos a conservação das espécies no contexto das comunidades. Além disso vamos explorar como a proteção do meio onde as espécies estão e a definição de áreas protegidas, bem como seu manejo e planejamento são fundamentais para a conservação da biodiversidade. Foto: Shutterstock.com. CONCEITO DE COMUNIDADES As espécies não vivem isoladas, suas interações podem ser harmônicas e desarmônicas e elas têm uma intrincada relação de interdependência, organizadas em comunidades que podem ser definidas por “um conjunto de populações que funcionam como uma unidade integrativa em uma área determinada”. Esta definição deixa explícito que pensar a conservação de uma espécie na natureza sem considerar as demais espécies que coexistem com ela pode ser ineficiente. O papel das espécies na ocorrência umas das outras, determinando os arranjos que configuram as comunidades, foi muito debatido na discussão entre comunidades como entidades abertas e fechadas. Nas comunidades fechadas, a identidade das espécies cumpre papel fundamental no arranjo final, com uma elevada coincidência na ocorrência das espécies. Nas comunidades abertas, a relação que as espécies estabelecem com o meio é mais importante, e a sua ocorrência se dá de maneira independente, respeitando os gradientes ambientais que existem. Hoje, apesar do debate entre estas ideias, sabe-se que as comunidades se organizam levando em conta premissas individualistas, previstas nas comunidades abertas, mas admitem que alguns atributos do seu funcionamento surgem somente a partir das interações entre as espécies, como previsto nas comunidades fechadas. No contexto da conservação das espécies, entender se fatores relacionados ao meio, ou às espécies interagentes no território que ocupam, são mais ou menos importantes para determinar sua ocorrência pode garantir maior efetividade nas estratégias estabelecidas. RIQUEZA DE ESPÉCIES Número de espécies presentes em uma comunidade. EQUABILIDADE Distribuição dos indivíduos entre as espécies que compõem a comunidade. Alguns aspectos descritores das comunidades também são fundamentais para determinar estratégias de conservação. Ambientes mais diversos são frequentemente priorizados para intervenções voltadas à sua conservação ou à restauração. Neste contexto, a riqueza de espécies é mais utilizada que a diversidade de espécies, que também incorpora a equabilidade. Outro fator frequentemente utilizado é o grau de endemismo de uma região, ou seja, o quão restrita a ocorrência de uma espécie está àquela região. Quanto maior o endemismo de uma região, maior deve ser priorizada a sua conservação, pois a perda de biodiversidade implica necessariamente na perda das espécies endêmicas que ali ocorrem. Dada a sua importância, o mesmo critério foi utilizado na determinação dos pontos críticos de biodiversidade do planeta, ou hotspots de biodiversidade. Imagem: Ninjatacoshell / Wikimedia commons / licença(CC BY 3.0...). Hotspots de biodiversidade de todo o mundo. Hotspots de biodiversidade são áreas que abrigam espécies únicas e possuem elevado grau de ameaça. Um hotspot de biodiversidade é definido a partir de dois critérios bastante rigorosos, que levam em consideração o número de espécies de plantas endêmicas e o grau de ameaça da região. javascript:void(0) javascript:void(0) Será um hotspot a região que possuir pelo menos 1.500 plantas vasculares endêmicas e tiver menos de 30% de sua vegetação original. No mundo são identificados 36 hotspots de biodiversidade, lista frequentemente atualizada pela ONG Conservation International. No Brasil, dois biomas são considerados hotspots de biodiversidade: a Mata Atlântica e o Cerrado. Foto: Shutterstock.com. No caso dos biomas brasileiros, em especial a Mata Atlântica, a fragmentação do habitat torna-se um problema adicional à perda de habitat. Ecólogos de todo o mundo têm se dedicado a entender como as espécies se organizam em paisagens fragmentadas valendo-se do conceito de metacomunidade e de toda a teoria que se desenvolveu a partir desse conceito. Cabe ressaltar que o conceito de metacomunidade tem inspiração no conceito de metapopulação ou seja, o conjunto de populações que interagem a partir do movimento de indivíduos entre manchas de habitat. A questão explícita em ambos os conceitos é que entender a paisagem é fundamental para a conservação das espécies na natureza. PROTEGER ÁREAS, PROTEGER ESPÉCIES Anteriormente, vimos a importância das comunidades no contexto da paisagem que ocupam e pudemos perceber que proteger a área de ocupação das espécies é proteger as espécies. A perda de habitat é a principal causa da perda de diversidade do planeta. Paisagens cada vez mais fragmentadas vão restringindo populações em manchas de habitat, que nem sempre são capazes de oferecer todas as condições primordiais para se assegurar a manutenção das espécies na natureza. Ao mesmo tempo, apesar de muitas vezes fundamentais, as estratégias focadas na conservação de uma única espécie podem ser caras e difíceis de ser implementadas. Desta forma, a proteção de áreas estratégicas torna-se a melhor estratégia custo-efetiva para a conservação da biodiversidade. Ao delimitar áreas de conservação, asseguramos que populações, comunidades e ecossistemas inteiros estejam protegidos, focando no papel ecológico destes componentes. No entanto, diversas são as formas de se estabelecer a proteção de uma área. Pode-se levar em consideração o valor ecológico da região, bem como o uso que a população humana faz da região em consonância com a conservação das espécies. Isto leva a diferentes formas de classificação e priorização de áreas protegidas, como veremos a seguir. ÁREAS PROTEGIDAS A definição de áreas protegidas pode admitir critérios distintos que levam em consideração os objetivos do uso de classificação estabelecidos. É comum haver sobreposição entre diferentes sistemas de classificação que reforçam a ideia de que um local é importante em diversos aspectos e escalas. Este é o caso de diversos sítios Ramsar, definidos com o objetivo de promover a cooperação entre países para a conservação e o uso racional de zonas úmidas; e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Diversas unidades de conservação brasileiras, como o Parque Nacional de Anavilhanas e a Reserva Biológica do Guaporé, são também sítios Ramsar. Foto: Shutterstock.com. Arquipélago de Anavilhanas, uma das áreas protegidas pelo SNUC e pela Convenção de Ramsar. IUCN A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) define área protegida como: ESPAÇO GEOGRÁFICO CLARAMENTE DEFINIDO, RECONHECIDO, COM OBJETIVO ESPECÍFICO E GERIDO POR MEIOS EFICAZES, SEJAM JURÍDICOS OU DE OUTRA NATUREZA, PARA ALCANÇAR A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NO LONGO PRAZO, COM SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E VALORES CULTURAIS ASSOCIADOS. (IUCN, 2017). Com base nesta definição, determinam-se seis categorias que variam de um uso mais restrito para um uso sustentável do território. A categoria I apresenta uma subdivisão, justificadapelo papel geológico e geomorfológico de alguns sítios. Como alguns sítios apresentam categorizações e usos mistos, a categorização deve ser baseada nos objetivos principais de manejo, a serem aplicados em pelo menos 75% da área protegida. CATEGORIA IA Reserva natural estrita CATEGORIA IB Área silvestre CATEGORIA II Parque nacional CATEGORIA III Monumento ou característica natural CATEGORIA IV Área de gestão de habitat/espécies CATEGORIA V Paisagem terrestre ou marinha protegida CATEGORIA VI Áreas protegidas, com uso sustentável dos recursos naturais Foto: Shutterstock.com. IUCN: um dos principais esforços globais dedicados à conservação da biodiversidade. O esforço da IUCN contribui no entendimento, na compreensão e na comparação das diversas áreas protegidas em todo o mundo. Para o Brasil, a IUCN identifica mais de 3.200 áreas protegidas, sendo que pouco mais de 350 possuem avaliações de efetividade de manejo. A grande maioria das áreas protegidas que receberam uma classificação está presente na Categoria IV (32,7%). As áreas desta categoria são estabelecidas para a proteção de determinadas espécies ou habitats, o que deve se refletir na sua gestão. Estima-se que, sendo este o objetivo da gestão da área, intervenções podem ocorrer para atender às necessidades destas espécies ou habitats, mas este não é um pré-requisito desta categoria. (IUCN 2017). Sítios Ramsar Com base na preocupação da conservação de determinados sítios para diversas aves migratórias, em 1971 na cidade de Ramsar no Irã, foi aprovado o texto da convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, conhecida como Convenção de Ramsar. Os países signatários se comprometem a reconhecer a importância ecológica e do valor social, econômico, cultural, científico e recreativo de determinadas zonas úmidas e investir esforços em sua proteção. O Brasil se tornou signatário da Convenção de Ramsar em 1993, e, hoje, reconhece 27 sítios Ramsar com uma área total de 27 milhões de hectares, sendo o país com maior área reconhecida como sítios Ramsar. Imagem: Ministério do Meio Ambiente – MMA. Os 27 sítios RAMSAR identificados no território nacional. Apesar de inicialmente focada na conservação de aves migratórias, os sítios Ramsar são fundamentais para diversos organismos aquáticos que ocupam estes ambientes, bem como garantem a manutenção de inúmeros serviços ecossistêmicos. SNUC e as leis brasileiras O Brasil é um dos países mais biodiversos do mundo. Proteger esta biodiversidade é garantir o diferencial competitivo do país em vários aspectos da sociedade. Entre as iniciativas que determinam a proteção de áreas e seu uso sustentável, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é o grande protagonista. O SNUC foi instituído pela Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e busca estabelecer uma série de objetivos que incluem: Imagem: Shutterstock.com. Proteger as espécies ameaçadas de extinção. Imagem: Shutterstock.com. Proteger ou restaurar ecossistemas degradados. Imagem: Shutterstock.com. Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica, entre outros. O SNUC define uma unidade de conservação (UC), como o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias de proteção”. Definir uma área como uma UC é a melhor maneira de criar os mecanismos legais necessários para sua proteção. As UCs se dividem em dois grupos relacionados à possibilidade de uso do território protegido: UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL Buscam preservar a natureza, onde o uso dos recursos naturais é apenas indireto, com normas bem restritivas. São UCs de proteção integral as áreas definidas como Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Refúgio de Vida Silvestre e Monumento Natural. UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL São áreas onde é possível conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos recursos naturais. Pertencem a esta categoria as áreas definidas como Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e a Reserva Particular do Patrimônio Natural. A gestão das UCs é compartilhada entre as esferas federal, estaduais e municipais e passa pelo estabelecimento e pela implementação de seus planos de manejo. No Brasil, são 334 UCs geridas pelo ICMBio e estão distribuídas em todo o território nacional e em todas as categorias estabelecidas. Perto de você, tem alguma UC? Ela é uma unidade de proteção integral ou de uso sustentável? Além das UC previstas no SNUC, diversas áreas podem ser protegidas, mas definidas por outros instrumentos legais que podem, inclusive, ser estabelecidos pelas esferas estaduais e municipais por meio dos sistemas estaduais e municipais de Unidades de Conservação. Muitas áreas protegidas estabelecidas pela esfera estadual, por exemplo, são comparáveis a categorias estabelecidas no SNUC. É o caso do Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio de Janeiro, com mais de 12 mil hectares, considerada uma das maiores florestas urbanas do mundo. Além disso, algumas áreas são protegidas por outros instrumentos legais sem que sejam consideradas UCs, como é o caso das áreas definidas pela Lei de Proteção à Vegetação Nativa, também conhecida como Novo Código Florestal. As Áreas de Proteção Permanente (APP), previstas pela LPVN, têm papel fundamental na proteção dos corpos hídricos do país. Número de módulos fiscais Cursos d’água Nascentes Veredas Lagos e lagoas naturaisMenor 10m Até 60m Até 200m Maior 200m Até 1 5 5 5 5 15 30 5 De 1 a 2 8 8 8 8 15 30 8 De 2 a 4 15 15 15 15 15 30 15 De 4 a 10 20 30 Metade da largura 100 15 50 30 Maior que 10 30 30 Metade da largura 100 15 50 30 Tabela: Valores de vegetação ripária, que deve ser protegida no entorno, a partir do tipo e largura do corpo hídrico para propriedades com diferentes números de módulos fiscais. Relatório Temático Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil. Editora Cubo, São Carlos. Página 79. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal MANEJO E GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS Ser definida como uma área protegida não garante que todos os objetivos de uma UC sejam cumpridos. Não são raros os casos em que UCs não são efetivas em proteger seu território, por exemplo, devido à ausência de infraestrutura e recursos humanos. Desta maneira, o sucesso de uma área protegida dependerá da implementação de estratégias de manejo e gestão que incorporem seus objetivos. No caso, as UC brasileiras demandam o que é chamado plano de manejo. Após cinco anos de sua criação, geralmente formalizados por instrumentos legais, as UCs necessitam produzir um documento técnico, fundamentado nos objetivos gerais da UC, que estabelece: Imagem: Shutterstock.com. O zoneamento, ou seja, como se dará o uso e proteção da área da UC, o que pode destinar áreas específicas ou restritas a determinadas atividades. Imagem: Shutterstock.com. As normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, o que inclui aspectos relacionados à estrutura física, como guaritas, bases, veículos e a demanda de pessoal, necessários à gestão da unidade. O plano de manejo deve abranger, além da área da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos. A zona de amortecimento se refere à área ao redor da UC e tem como objetivo filtrar os impactos negativos das atividades que ocorrem fora dela. Essa zona-tampão é fundamental, principalmente, em áreas onde a UC está rodeada por vetores de ameaça à biodiversidade contida nela, como poluição e a ocupação humana. Imagem: ICMBio 2020. Porcentagemdas UC brasileiras com diferentes graus de efetividade de gestão. Os corredores ecológicos se referem às áreas que unem fragmentos de vegetação nativa, presentes ou não em unidades de conservação, que estão separados por uma matriz com interferência humana. Este é o caso, por exemplo de rodovias que separam fragmentos de habitat. Garantir o fluxo de espécies e indivíduos entre estes fragmentos contribui para a conservação destas populações, considerando aspectos relacionados à metacomunidade. CONSERVAR PARA RESTAURAR No vídeo a seguir, discutiremos a importância da conservação como parte fundamental para garantir o sucesso das estratégias de restauração. RECUPERAÇÃO: CORRENDO ATRÁS DO PREJUÍZO Nem sempre uma área teve o tempo necessário de se tornar protegida, ainda que de relevância e valor para a biodiversidade. Muitas áreas importantes são perdidas continuamente para diferentes usos e, com elas, as espécies e serviços ambientais que proporcionam. Neste sentido, a recuperação ambiental emerge como uma medida que visa a reestabelecer processos e/ou funções perdidas em uma área degradada e pode apresentar diferentes estratégias. De forma mais específica, a restauração se refere à total recuperação de um ecossistema degradado à sua condição pré-distúrbio, incluindo sua estrutura e seu funcionamento. Quando apenas algumas funções do ambiente são recuperadas, este processo é chamado de reabilitação. Quando um ambiente ganha uma nova função, criando condições para que um ambiente degradado seja utilizado de alguma maneira, este processo é chamado de substituição. Todos estes processos implicam na ação direta do homem, ou seja, na intenção de acelerar o processo de recuperação do ambiente em questão. Mas a natureza pode, por mecanismos relacionados ao processo de sucessão ecológica, criar, por si só, condições que garantam a recuperação plena ou parcial de suas características ecológicas. Neste sentido, apenas interromper a degradação do ambiente e protegê-lo pode ser suficiente para que as condições pré-distúrbio sejam restabelecidas, ainda que seja necessário mais tempo. Imagem: Aliny Patricia Flauzino Pires. As diferentes formas de recuperação ambiental, considerando pontos de retorno. Esta discussão tem sido amplamente debatida na literatura científica em esforços que tentam otimizar o processo de restauração da vegetação nativa. De um lado, a restauração ativa ocorre quando há a intervenção direta, com o plantio de mudas, por exemplo, que aceleram o processo de restauração. De outro lado, temos a regeneração natural, que prevê a recuperação de determinadas áreas a partir de processos ecológicos desempenhados pela biodiversidade remanescente. A regeneração natural seria, portanto, muito menos custosa que os esforços relacionados ao plantio direto. No entanto, nem todas as áreas são propensas à regeneração natural, dado que é fundamental a existência de um banco de sementes ativo, a proximidade de fragmentos de vegetação, que funcione como fonte para a área a ser regenerada. Em um estudo no município de Trajano de Moraes, no interior do Estado do Rio de Janeiro, que acompanhou a modificação da vegetação ao longo de 36 anos, pesquisadores revelaram que a regeneração natural gerou uma economia de mais de 15 milhões de dólares. Estes números foram obtidos a partir da comparação com o que seria gasto com restauração ativa no mesmo território, e sugerem que a quantia poderia ser aplicada em áreas onde a regeneração natural não seria eficiente. Assim, ao reconhecer o potencial e as demandas distintas de determinadas áreas, bem como o potencial benefício da restauração em cada uma delas, podemos priorizar esforços e otimizar o uso dos recursos em tempo hábil para garantir a conservação das espécies e dos serviços ecossistêmicos que proporcionam. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS AVES MIGRATÓRIAS CARECEM DE ESFORÇOS CONJUNTOS PARA A CONSERVAÇÃO DE SUAS ESPÉCIES. PARTE DO ANO ELAS OCUPAM DETERMINADOS SÍTIOS E, EM SEGUIDA, PARTEM PARA OUTROS LUGARES PARA SE REPRODUZIREM. O TRINTA-RÉIS- ÁRTICO (STERNA PARADISUEA) PERCORRE ATÉ 20.000 KM SEM ENCONTRAR UM LUGAR ADEQUADO PARA SE REPRODUZIR. ISSO TRAZ CONSEQUÊNCIAS DRÁSTICAS PARA AS POPULAÇÕES. A FIM DE GARANTIR A CONSERVAÇÃO DESTE GRUPO, FORAM ESTABELECIDAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO ESPECÍFICAS. QUE INSTRUMENTO SURGE PARA ATENDER, PRIORITARIAMENTE, A CONSERVAÇÃO DESTE GRUPO DE ORGANISMOS?. A) SNUC. B) Lei de Proteção à Vegetação Nativa. C) Áreas de Proteção Permanente. D) Zona de Amortecimento. E) Convenção de Ramsar. 2. DE ACORDO COM O DECRETO Nº 97.632/1989, O OBJETIVO DA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL É “O RETORNO DO SÍTIO DEGRADADO A UMA FORMA DE UTILIZAÇÃO, DE ACORDO COM UM PLANO PRESTABELECIDO PARA O USO DO SOLO, VISANDO À OBTENÇÃO DE UMA ESTABILIDADE DO MEIO AMBIENTE”. ESTE PROCESSO PODE OCORRER DE DIVERSAS FORMAS, INCLUSIVE ATRIBUINDO UM NOVO USO À ÁREA DEGRADADA OU DE FORMA NATURAL, POR MEIO DE DIVERSOS PROCESSOS ECOLÓGICOS DE COLONIZAÇÃO E ESTABELECIMENTO DE ESPÉCIES, COMO PREDITO PELA SUCESSÃO ECOLÓGICA. A REGENERAÇÃO NATURAL TEM SIDO APONTADA COMO UMA FORMA DE POTENCIALIZAR OS ESFORÇOS DA RECUPERAÇÃO, COM MEDIDAS DE PROTEÇÃO MENOS CUSTOSAS. NO GRÁFICO ABAIXO, QUAL PROCESSO MELHOR DEFINE A REGENERAÇÃO NATURAL? A) I B) II C) III D) IV E) II e IV GABARITO 1. As aves migratórias carecem de esforços conjuntos para a conservação de suas espécies. Parte do ano elas ocupam determinados sítios e, em seguida, partem para outros lugares para se reproduzirem. O trinta-réis-ártico (Sterna paradisuea) percorre até 20.000 km sem encontrar um lugar adequado para se reproduzir. Isso traz consequências drásticas para as populações. A fim de garantir a conservação deste grupo, foram estabelecidas medidas de proteção específicas. Que instrumento surge para atender, prioritariamente, a conservação deste grupo de organismos?. A alternativa "E " está correta. Apesar de hoje cumprir aspectos relacionados de forma mais geral, a conservação de áreas úmidas, inicialmente a Convenção de Ramsar, teve foco na conservação de aves migratórias. 2. De acordo com o Decreto nº 97.632/1989, o objetivo da recuperação ambiental é “o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano prestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”. Este processo pode ocorrer de diversas formas, inclusive atribuindo um novo uso à área degradada ou de forma natural, por meio de diversos processos ecológicos de colonização e estabelecimento de espécies, como predito pela sucessão ecológica. A regeneração natural tem sido apontada como uma forma de potencializar os esforços da recuperação, com medidas de proteção menos custosas. No gráfico abaixo, qual processo melhor define a regeneração natural? A alternativa "B " está correta. A regeneração natural refere-se ao processo de restauração natural, onde o ambiente retoma as condições pré-distúrbio a partir de processos ecológicos naturais. MÓDULO 4 Descrever o desenvolvimento sustentável INTRODUÇÃO Reconhecemos que a proteção das áreas que são ocupadas pelas espécies é uma das maneiras mais eficientes de se garantir que as populações sejam mantidas na natureza, bem como as interações que estabelecem entre si e os demais processos ecológicos que executam. Sabemos sobre alguns mecanismos importantes na determinação, manejo e gestão de áreas protegidas e entendemos o papel de alguns instrumentos legais neste processo. Sem a implementação de políticas que visem à conservação da natureza, renunciamos à oportunidade única de garantir o desenvolvimento socioeconômico de forma sustentável. O termo desenvolvimento sustentável se refere ao desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. Como grande parte dos subsídios que garantem o desenvolvimento, hoje, têm sua fonte nos recursos naturais ou dealguma forma impactam a biodiversidade, proteger a natureza é parte fundamental desta forma de desenvolvimento. Foto: Shutterstock.com. Neste módulo, vamos discutir o desenrolar de uma política ambiental brasileira, considerando o contexto global em que ela se insere. Além disso, vamos analisar conceitos-chave da ligação entre a natureza e o bem-estar das pessoas e de como elas se relacionam. Por fim, serão apresentadas as principais agendas globais voltadas ao desenvolvimento sustentável. Foto: Shutterstock.com. Imagem: Shutterstock.com. POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA NO BRASIL A questão ambiental, no Brasil, destaca-se desde os primeiros dias da ocupação portuguesa do território. A abundância de recursos naturais e a possibilidade de se explorar uma terra fértil, fez com que o país sofresse com ciclos de exploração de seu território, em especial na porção costeira, que persistem ainda hoje. No entanto, a preocupação sobre os potenciais efeitos adversos desta exploração têm pouco mais de um século. A política ambiental no país surge no início do século XX, a partir de perspectivas setoriais, ou seja, os problemas ambientais são percebidos e tratados de modo isolado. A visão setorial do meio ambiente persiste no país até a década de 1970, focada em atender aspectos específicos dos problemas ambientais percebidos. Cabe ressaltar que, nos contextos político, econômico e social vigentes no país, alguns fatores, hoje considerados problemas, representavam desenvolvimento e melhoria na qualidade de vida da população brasileira. A poluição atmosférica, por exemplo, era o símbolo do avanço e crescimento da indústria e da capacidade de consumo da população, um sinal de sucesso. Foto: Shutterstock.com. A grande virada de página, no contexto global, ocorreu após a Conferência de Estocolmo, em 1972, que permitiu um olhar mais integrado para o meio ambiente e a criação de instituições de caráter geral. A conferência, cujo nome oficial é Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, foi o primeiro encontro entre líderes de diversos países para tratar da questão da degradação ambiental. A discussão na escala global deixa explícito a relevância e o tamanho do problema a ser enfrentado, bem como a responsabilidade de todos nesse processo. Como resultado daquelas discussões, que contaram com a participação brasileira, foi instituída, em 1981, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA; Lei 6.938/1981). As questões ambientais passam, então, a ser vistas pelo poder público por uma abordagem sistêmica. A PNMA tem por objetivo a “preservação, melhora e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições de desenvolvimento socioeconômico, os interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade humana” e apresenta o meio ambiente como um patrimônio público, que deve ser protegido tendo em vista o uso coletivo. A PNMA institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente e constituído por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Apesar da sua criação, a PNMA só ganhou força após a Constituição de 1988, responsável pelo regimento do país até hoje. Nela, o conceito de desenvolvimento sustentável aparece de forma explícita e estabelece a defesa do meio ambiente como um dos princípios a serem observados para as atividades econômicas em geral. O texto aparece no Capítulo VI, dedicado ao meio ambiente. Imagem: Aliny Patricia Flauzino Pires / Adaptado por Angelo Oliveira. Estrutura do SISNAMA, considerando as diferentes instituições que compõem o sistema. CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Sigla UNFCCC, do inglês. CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O COMBATE À DESERTIFICAÇÃO Sigla UNCCD, do inglês. CONVENÇÃO PARA A DIVERSIDADE BIOLÓGICA Sigla CBD, do inglês, que definiu o conceito de biodiversidade e desencadeou uma série de iniciativas voltadas a sua valoração e conservação. Em 1992, dois eventos merecem destaque quanto ao desenvolvimento do pensamento e da ação ambiental no país. O primeiro é a Eco-92, ou Cúpula da Terra, evento realizado na cidade do Rio de Janeiro que reuniu representantes de diversos países para debater a crise planetária e seu impacto para a humanidade. No evento, houve três convenções extremamente importantes para a conservação da biodiversidade: Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas; Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação; Convenção para a Diversidade Biológica. VOCÊ SABIA No mesmo ano da Eco-92, foi instituído o Ministério do Meio Ambiente (Lei 8.490/1992), o principal órgão federal responsável pela pauta. No ano 2000, foram criados o SNUC (Lei 9.985/00) e a Agência Nacional de Águas (Lei 9.984/00). O SNUC estabeleceu os critérios e as prerrogativas para a definição de unidades de conservação e seu uso. Desde então, pudemos observar a criação de uma série de políticas nacionais e a restruturação de órgãos ambientais, nem todas as políticas consideradas favoráveis à conservação da biodiversidade. Entre as mudanças que tiveram grande mobilização nas últimas duas décadas, a reformulação do Código Florestal, por meio da Lei de Proteção à Vegetação Nativa, merece destaque. Grande parte da comunidade científica, bem como representantes da sociedade civil de diversos setores, incluindo a comunidade artística, se posicionaram contrários às mudanças propostas. O Brasil, dada sua enorme biodiversidade, sempre exerceu papel de liderança nas discussões globais e esteve na vanguarda do estabelecimento de políticas ambientais, como no caso da aprovação de políticas nacionais voltadas às mudanças climáticas. O avanço no tema, ao longo da história recente do país, e as modificações observadas nos últimos anos devem estar em consonância com a manutenção deste diferencial competitivo do Brasil: sua biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que o país provê. CONCEITO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS Em 1981, Paul e Anne Ehrlich apresentam o termo serviços ecossistêmicos, referindo-se aos benefícios que os ecossistemas fornecem às pessoas, tais como a produção de alimentos, madeira e combustíveis; a regulação climática e hidrológica, bem como valores culturais e estéticos. Tal termo só ganhou o devido destaque no final da década de 1980 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) com a integração e o estabelecimento dos fluxos de benefícios entre os sistemas ecológicos e econômicos. Para isso, foi fundamental o envolvimento de economistas que puderam contribuir na quantificação desses serviços ecossistêmicos, que se dividem em quatro categorias: SERVIÇOS DE SUPORTE Referem-se aos processos fundamentais para a produção de outros serviços ecossistêmicos, como a ciclagem de nutrientes, a produtividade primária e a formação do solo. SERVIÇOS DE REGULAÇÃO Referem-se aos benefícios obtidos a partir de processos naturais, ao regularem condições ambientais com potencial impacto benéfico para as pessoas. O sequestro de carbono, a polinização de plantas e a regulação dos fluxos hidrológicos são exemplos destes tipos de serviço. SERVIÇOS DE PRODUÇÃO Referem-se aos produtos obtidos dos ecossistemas, incluindo alimentos, água doce, fibras e madeira. SERVIÇOS CULTURAIS Referem-se aos benefícios intangíveis proporcionados pela natureza e incluem seu valor recreativo, educacional, religioso ou estético-paisagístico. SAIBA MAIS Alguns autores interpretam que os serviços de suporte, por estarem restritos a processos ecológicos básicos, não deveriam ser entendidos como serviços ecossistêmicos, já que não representam benefícios diretos para as pessoas. Esta abordagem tem sido adotada em diversos documentos recentes e sugere uma mudança na interpretação dos fluxos de benefícios entre a natureza e as pessoas. Dado que os serviços ecossistêmicos poderiam ser quantificados, diversos pesquisadorestentaram estabelecer o valor monetário dos serviços ecossistêmicos. Se tivéssemos que pagar à natureza por todos os serviços que ela oferece, quanto seria nossa conta? Você já imaginou quanto você pagaria pela sombra de uma árvore? Pela sensação de bem- estar que uma floresta proporciona? Ou pelo papel que esta floresta tem de estocar e sequestrar carbono, diminuindo o impacto de cada um de nós no clima do planeta? A primeira estimativa desta conta é de um artigo publicado em 1997, por Constanza e colaboradores, que concluiu que, mesmo que todos os países juntassem a riqueza produzida ao longo daquele ano, teríamos recursos para pagar apenas metade da conta de 33 trilhões de dólares. Atualizações recentes revelam que este número cresceu vertiginosamente nos últimos anos, devido à melhoria nas técnicas que estimam este valor e na perda de habitat nos últimos anos. O esforço demonstra que os benefícios da natureza vão muito além do que poderíamos pagar com dinheiro e, portanto, sua conservação é pauta inquestionável. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Cabe ressaltar que o uso do argumento monetário para a conservação da biodiversidade é muito questionado e debatido entre conservacionistas. Muitos argumentam que, ao trazermos o valor monetário da biodiversidade, revelamos seu potencial enquanto capital natural, subestimado na grande maioria das vezes. Com isso, a argumentação no estabelecimento de estratégias de conservação seria mais efetiva. Por outro lado, alguns pesquisadores apontam que a conservação da biodiversidade deveria ser um valor ético da sociedade, uma vez que todas as espécies têm direito a existir. E você, o que acha? Serviços ecossistêmicos Comentários e exemplos Serviços de suporte Formação do solo Retenção de sedimentos e acúmulo de matéria orgânica. Ciclagem de nutrientes Estoque, reciclagem, processamento e aquisição de nutrientes. Serviços de provisão Alimento Produção de peixe, carne de caça, frutas e grãos. Água doce* Estoque e retenção de água para uso doméstico, industrial e agrícola. Fibras e combustíveis Extração de lenha, fibras e forragem. Bioquímicos Extração de produtos medicinais e outros materiais diretamente da biota. Materiais genéticos Genes para resistência de plantas e patógenos, espécies ornamentais. Serviços de regulação Regulação climática Fonte e sumidouro de gases de efeito estufa, influência no clima local e regional, controle da precipitação e outros processos climáticos. Regulação hídrica Recarga e descarga de aquíferos Purificação da água e tratamento do esgoto Recuperação de condições limnológicas, remoção do excesso de nutrientes e outros poluentes. Controle da erosão Retenção de solo e sedimentos Controle de desastres naturais Controle de inundações e proteção a tempestades Polinização Habitat para polinizadores Serviços culturais Valor espiritual e inspiração Fonte de inspiração e sítio para ritos de diferentes religiões. Recreação Atividades de lazer e recreação Valor estético Valor paisagístico e estético. Valor educacional Papel na educação formal e informal. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Serviços ecossistêmicos ofertados pelos ambientes aquáticos. Quadro: Relatório Temático Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil. Editora Cubo, São Carlos. Página 34. PROTEGER A DIVERSIDADE BIOLÓGICA E CULTURAL O conceito de serviços ecossistêmicos deixa explícito que a relação entre as pessoas e a natureza é indissolúvel. Desta forma, proteger a biodiversidade é proteger a nós mesmos. No Brasil, em especial, a conservação da biodiversidade está intrinsecamente relacionada à população indígena, por exemplo. Grande parte da Amazônia protegida está em terras indígenas, onde é reconhecida a maior eficiência na provisão de serviços ecossistêmicos e as menores taxas de desmatamento, quando comparadas às demais áreas, incluindo UC. Foto: Shutterstock.com. A manutenção de populações tradicionais e indígenas é fundamental para e garantir a conservação efetiva da biodiversidade, bem como o cumprimento de diversos acordos internacionais dos quais o país é signatário. Povos tradicionais, como quilombolas, ribeirinhos e indígenas guardam conhecimento único sobre a diversidade e podem contribuir no delineamento de estratégias de conservação. Isto ocorre, principalmente, devido à relação estreita que estes povos estabelecem com a natureza, por meio do uso sustentável dos recursos naturais. A percepção de serviços ecossistêmicos não é reconhecida por diversos representantes desse grupo. Alguns entendem que as pessoas e a natureza são a mesma coisa. Outros sugerem que termos como “presentes da Mãe Natureza” ou “benefícios da natureza para as pessoas” representam melhor a forma como a relação pessoas-natureza é vista por eles do que sugere o termo “serviço”. Assim, proteger a diversidade cultural é também garantir a proteção da biodiversidade. Povos culturalmente diversos tem seu papel na conservação da biodiversidade e tem sido destacado em diversos estudos associam as diversidades linguística e biológica. A visão dos povos tradicionais e indígenas tem sido incorporada no desenho das agendas ambientais recentes. O marco conceitual da Plataforma intergovernamental Científico-política sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) traz a perspectiva destes povos e é base para o estabelecimento de políticas de conservação em todo o mundo. Imagem: BPBES / Adaptado por Angelo Oliveira. Marco conceitual do IPBES, que inspirou a criação da plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). AGENDA AMBIENTAL: POLÍTICAS E AÇÕES A definição de uma agenda ambiental, seja no contexto nacional ou global, é geralmente definida a partir de encontros entre lideranças e representantes de diversos setores e países. Neste sentido, as reuniões promovidas pelas convenções das Nações Unidas (Convenção das Partes - COP), incluindo as convenções para a diversidade (CDB) e clima (UNFCCC), definem metas e estratégias que devem ser seguidas pelos países para as pautas em questão. Ao estabelecerem estas metas e se tornarem signatários dos acordos firmados, os países passam a ter compromissos que acabam permeando os diversos setores da sociedade. Exemplo disso foram as metas estabelecidas em Aichi, no Japão durante a COP-10 da CDB, onde foi aprovado o Plano Estratégico de Biodiversidade para o período de 2011 a 2020. Um projeto de conservação e recuperação da biodiversidade em todo o planeta ao longo de uma década. Ao todo são 20 metas que se agrupam em cinco objetivos: Imagem: Shutterstock.com. Tratar das causas da perda de biodiversidade, pela conscientização do Governo e da sociedade das preocupações com a biodiversidade. Imagem: Shutterstock.com. Reduzir as pressões diretas sobre a biodiversidade e promover o uso sustentável. Imagem: Shutterstock.com. Melhorar a situação da biodiversidade, através da salvaguarda de ecossistemas, espécies e diversidade genética. Imagem: Shutterstock.com. Aumentar os benefícios de biodiversidade e serviços ecossistêmicos para todos. Imagem: Shutterstock.com. Aumentar a implantação, por meio de planejamento participativo, da gestão de conhecimento e capacitação. A avaliação das Metas de Aichi sugere que o plano não atingiu o resultado esperado na grande maioria dos países e será revisitado na COP-15, que será realizada na cidade de Kunming, na China. Uma agenda mais diversa, e que ganhou a adesão de diversos setores da sociedade, é a Agenda 2030, que apresenta os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Certamente, você já deve ter se deparado com este quadro multicolorido por aí. Esta Agenda foi consensuada em 2015 entre os países das Nações Unidas e é a trajetória de sustentabilidade mais discutida atualmente. O grande diferencial desta Agenda é que ela integra diferentes
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