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(Organizador) Leonardo Batista Pedroso TEORIAS E EXPERIÊNCIAS ENSINO DE GEOGRAFIA (Organizador) Leonardo Batista Pedroso TEORIAS E EXPERIÊNCIAS ENSINO DE GEOGRAFIA Ensino de Geografia [livro eletrônico]: teorias e experiências Leonardo Batista pedroso (organizador). Ituiutaba, MG : Editora Zion, 2021. Formato: PDF Vários autores. ISBN 978-65-994954-2-7 DOI 10.29327/543350 1. Ensino - Metodologia 2. Geografia - Estudos e ensino 3. Prática de ensino I. Pedroso, Leonardo Batista. Dr. Antonio Guimaraes Brito Universidade Federal do Rio Grande Dr. Leonardo Batista Pedroso Instituto Federal Goiano Dr. Luiz Carlos Goiabeira Rosa Universidade Federal de Uberlândia Dr. Marcus Vinícius Costa da Conceição Instituto Federal Goiano Dra. Mariana Velasque Borges Okinawa Institute of Science and Technology Dr. Matheus Silva de Paiva Universidade Católica de Brasília Dr. Paulo Ricardo dos Santos Universidade Federal do Cariri Dr. Rildo Aparecido Costa Universidade Federal de Uberlândia Dra. Risely Ferraz Almeida Universidade de São Paulo Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Direção Editorial Revisão Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Organizadores Dra. Fernanda Pereira Martins Eliete Marques da Silva - CRB-8/9380 Leonardo Batista Pedroso Biliotecária Os Autores Editora Zion Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 21-75898 Elaborado por Eliete Marques da Silva - CRB-8/9380 CDD:910.07 Índices para catálogo sistemático: 1. Geografia: Ensino 910.07 1.a Edição - Copyright© dos autores Direitos de Edição reservados à editora ZIon O conteúdo dos capítulos que compõem esta obra são de inteira responsabilidade dos seus respectivos autores, os quais tem propriedade intelectual sobre a mesma. Os autores também se responsabilizam pela revisão gramatical e ortográfica, bem como pelo cumprimento das normas da ABNT NBR6023. 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É permitida a livre distribuição da publicação, bem como sua utilização como fonte de pesquisa, desde que sejam seguidas as normas da ABNT NBR6023. contato@editorazion.com.br www.editorazion.com.br Conselho Editorial https://www.cblservicos.org.br/servicos/meus-livros/visualizar/?id=d078631a-b6e1-eb11-bacb-000d3ac19f01 https://doi.org/10.29327/543350 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .............................................................................. 4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E LEITORES DE MUNDO EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: OS MAPAS MENTAIS, OS CROQUIS CARTOGRÁFICOS E O OLHAR ESPACIAL DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA EJA NA UNIDADE DE ASSIS/SP ..................................................................... 5 João Marcos Garcia Vieira/ Andréa Aparecida Zacharias DOI 10.29327/543350.1-1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS CONDENADOS DE IMPERATRIZ, MARANHÃO: DEBATES E ANALISES PRELIMINARES ............................................................................. 36 Karolayne Carneiro dos Santos / Allison Bezerra Oliveira / José Alencar Viana e Araújo / Daniely Lima Silva / Maria do Rosário Sá Araújo DOI 10.29327/543350.1-2 O PAPEL DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DE EDUCANDOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS: SABERES E FALAS COMO CAMPO INVESTIGATIVO ................................................................ 56 Elvis Reis de Oliveira / Maicon Lemos Sathler DOI 10.29327/543350.1-3 AFRICANIDADES E ENSINO: LIVRO DIDÁTICO E FORMAÇÃO ACADÊMICA .................................................................................. 75 Rafaela Pacheco Dalbem / Adilar Antonio Cigolini DOI 10.29327/543350.1-4 A UTILIZAÇÃO DO KAHOOT NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO A DISTÂNCIA ................................................................... 103 Carolina dos Santos Camargos / Fernanda Pereira Martins / Raquel Balli Cury DOI 10.29327/543350.1-5 SOBRE O ORGANIZADOR .............................................................. 112 ÍNDICE REMISSIVO ...................................................................... 113 4 APRESENTAÇÃO Compreender o espaço geográfico e suas múltiplas relações é uma tarefa que perpassa os diversos campos de conhecimentos inerentes à Geografia. Promover relações de ensino-aprendizagem que favoreçam essa compreensão é, notoriamente, uma tarefa de suma importância para entender as relações que se estabelecem na sociedade. O ensino reflexivo da Geografia promove bases para a edificação de cidadãos críticos, aptos a enxergarem o mundo para além de como é posto pelos atores sociais. Cria condições para que o educando se veja como parte dos processos sociais e entenda o espaço geográfico sob a ótica do viés identitário, isto é, como parte do seu ser, assumindo seu lugar e sua função nessa perspectiva. Tão nobre é a arte de ensinar a Geografia, que pode ser contemplada enquanto uma ciência única, capaz de gerar nos indivíduos mudanças e/ou compreensão de paradigmas inerentes à sua rotina e história nunca antes percebidos ou analisados. Quando essa transformação acontece, a mente se abre e o mundo passa a ser percebido de forma diferente, como um universo de possibilidades, mas também palco de disputas, conflitos e desigualdades. Se tão relevante, necessário é compartilhar experiências e saberes que dialoguem entre si, que venham a somar sobretudo na perspectiva da inclusão. Diante deste contexto, essa obra traz 5 capítulos, dos quais será possível constatar a riqueza da diversidade da percepção da importância do ensino de Geografia. Desejo uma excelente leitura. Que os conhecimentos aqui compartilhados possam ampliar seus horizontes! Leonardo Batista Pedroso 5 CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E LEITORES DE MUNDO EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: OS MAPAS MENTAIS, OS CROQUIS CARTOGRÁFICOS E O OLHAR ESPACIAL DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA EJA NA UNIDADE DE ASSIS/SP1 João Marcos Garcia Vieira Bacharel em Direito pela Universidade Paulista – UNIP Profº de Sociologia e Filosofia na SEE/São Paulo Profº de Ciências Humanas - Projeto “Educação nas Prisões” na D.R de Ensino de Assis/SP Profº de Geografia do Colégio Paraguaçu em Paraguaçu Paulista Graduando em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP/Câmpus de Ourinhos http://lattes.cnpq.br/1670349183025333 Andréa Aparecida Zacharias Doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Câmpus de Rio Claro/SP Profª Drª da Universidade Estadual Paulista - UNESP/Câmpus de Ourinhos/SP Profª do Programa de Pós-graduação em Geografia (M e D) - UNESP/Câmpus de Rio Claro/SP Líder do GP em Geotecnologias e Cartografia Aplicadas à Geografia – GEOCART/CNPq Coordenadora do GT “Geotecnologias e Método de Representação Espacial” – ENANPEGE/ANPEGE http://lattes.cnpq.br/8074996481293417 1 As discussões apesentadas neste capítulo traz novas abordagens, análises e acréscimos, daquelas já iniciadas durante o XI Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares, realizado no ano de 2020, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde pelo formato online não houve a publicação dos trabalhos em Anais, garantindo sua originalidade. http://lattes.cnpq.br/1670349183025333 http://lattes.cnpq.br/8074996481293417 Ensino de Geografia – Capítulo 1 6 RESUMO: O presente artigo trata da importância da Cartografia Social e dos mapas mentais e croquis cartográficos, como método e metodologias, para a formação de alunos críticos e mapeadores conscientes, durante as atividades com o uso de mapas, em sala de aula, a partir da percepção do aluno sobre os elementos e componentes geográficos representados. Assim, a partir de práticas espaciais, envolvendo alunos do 2º ano do EM do Ensino de Jovens e Adultos, em situação de privação de liberdade, por meio do sistema prisional da Unidade de Assis/SP, explicita sobre as diferentes representações cartográficas elaboradas, tendo como base o mapa mental do bairro de local de vivência dos alunos. Através dos métodos da Cartografia Social, os alunos elaboram os mapas mentais de seus bairros de vivências, onde a partir da análise espacial: a) num primeiro momento, investigamos como os alunos percebem, veem, sentem, entendem, interpretam e, sobretudo como viviam e conviviam com o seu espaço cotidiano quando em liberdade; b) num segundo momento, construímos uma aprendizagem significativa dos conceitos geográficos, desenvolvendo nos alunos a capacidade crítica da percepção, da interpretação e da leitura sobre a espacialidade dos espaços vividos pelos croquis elaborados e; c) num terceiro momento, avaliamos os mapas mentais obtidos por meio dos croquis cartográficos considerando as cinco operações cognitivas espaciais para a leitura e domínio espacial do mapa - Alfabetização Cartográfica – AC; Letramento Cartográfico – LC; Pensamento Espacial – PE; Raciocínio Geográfico – RG; Raciocínio Gráfico e Cartográfico – RGC) - entendo-as como marco de avaliação das práticas espaciais representadas pelos reeducados. Os resultados obtidos podem ser observados nos 05 (cinco) croquis cartográficos elaborados por 05 (cinco) reeducandos, matriculados no Ensino Médio, durante a aplicação das aulas de Geografia, no mês de fevereiro de 2020, cujas propostas mostraram a representação espacial do bairro de vivência, destacando seus espaços percebidos, vividos e afetivos. Os mapas mentais, por meio de croquis cartográficos, na leitura de mundo, é um importante caminho metodológico para a leitura crítica e reflexiva sobre os espaços vividos, percebidos e afetivos pelos alunos em situação de privação de liberdade. Ensino de Geografia – Capítulo 1 7 PALAVRAS-CHAVE: Cartografia Social; Croqui Cartográfico, EJA; Ensino; Educação nas Prisões. NON-FORMAL EDUCATION AND WORLD READERS IN DEPRIVATION OF FREEDOM: MENTAL MAPS, CARTOGRAPHIC SKETCHES AND SPATIAL VIEWS OF EJA HIGH SCHOOL STUDENTS FROM THE ASSIS/SP UNIT ABSTRACT: This article deals with the importance of Social Cartography and mental maps and cartographic sketches, as method and methodologies, for the formation of critical students and conscious mappers, during activities with the use of maps, in the classroom, from of the student's perception of the represented geographic elements and components. Thus, based on spatial practices, involving students of the 2nd year of the MS of Youth and Adult Education, in a situation of deprivation of freedom, through the prison system of the Assis / SP Unit, it explains about the different cartographic representations elaborated, having based on the mental map of the neighborhood where students live. Through the methods of Social Cartography, students prepare mental maps of their neighborhoods of experiences, where from the spatial analysis: a) at first, we investigate how students perceive, see, feel, understand, interpret and, above all, how they lived and lived with their everyday space when in freedom; b) in a second moment, we build a significant learning of the geographical concepts, developing in the students the critical capacity of perception, interpretation and reading about the spatiality of the spaces lived by the elaborated sketches and; c) in a third moment, we evaluated the mental maps obtained by means of cartographic sketches considering the five spatial cognitive operations for the reading and spatial domain of the map - Cartographic Literacy - AC; Cartographic Literacy - LC; Spatial Thinking - PE; Geographic Reasoning - RG; Graphical and Cartographic Reasoning - RGC) - I understand them as a framework for evaluating the spatial practices represented by the re-educated. The results obtained can be seen in the 05 (five) cartographic sketches prepared by 05 (five) Ensino de Geografia – Capítulo 1 8 reeducated, enrolled in high school, during the application of Geography classes, in February 2020, whose proposals showed the spatial representation of the neighborhood of experience, highlighting their perceived, lived and affective spaces. Mind maps, by means of cartographic sketches, in the reading of the world, are an important methodological path for critical and reflective reading about the spaces experienced, perceived and affective by students in situations of deprivation of liberty. KEYWORDS: Social Cartography; Cartographic Sketch, EJA; Teaching; Education in prisons. INTRODUÇÃO A Educação para pessoas em situação de privação de liberdade se insere na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e deve ser entendida como um processo contínuo ao longo da vida, que requer clara aplicabilidade sobre o desenvolvimento de competências e habilidades para a eficiência do ensino. No hodierno, encontramos duas realidades nas prisões, uma opressora, que tem como finalidade adaptar o indivíduo ao isolamento social e cárcere e, outra que é libertadora e transformadora, a partir da educação. Realidades que, trabalhar com pessoas em situação de privação de liberdade torna-se um desafio permanente e constante, se refletirmos que a escola está inserida dentro de um local totalmente adverso do contexto e da dinâmica que compõem as relações sociais de vida na/da sociedade. Romper esses paradigmas significa inventar e se reinventar, diariamente, como professor, efetivando-se muitas vezes em um trabalho astucioso, ardiloso e perspicaz que requer dedicação, vocação, além de estudos constantes sobre o cotidiano do sujeito/indivíduo (aluno) e o conteúdo (componente curricular) que são inseridos no mesmo ambiente e mundo escolar. Ou seja, buscar caminhos para desenvolver algo libertador e transformador Ensino de Geografia – Capítulo 1 9 pela educação, em um lugar de prisão, marcado pela opressão, sempre serão os maiores exercícios no ensino e a aprendizagem durante a prática docente. É notório que o atual sistema prisional, que dê atual não tem nada, é extremamente falho, fracasso e não cumpre seu principal papel que é a ressocialização da pessoa em privação de liberdade. No, Brasil existem poucas, ou quase inexistentes, políticas públicas eficientes para trabalhar tal realidade, havendo necessidades de buscar respostas sobre quem são essas pessoas dentro da sociedade? São sujeitos (alunos) historicamente marginalizados, privados de direitos básicos, negligenciados pelo Estado e pela sociedade? São pessoas esquecidas (por quem e porquê?) que cometeram delitos, assim definido pelo grupo social aos quais nunca pertenceram? São muitas inquietações, que: [...] quem, melhor que os oprimidos, se encontrarão preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando está se revista da falsa generosidade referida. (FREIRE, 2011, p. p.59). A proposta educacional traçada para essas escolas, baseada nos princípios da EJA, enfatiza que a ação educativa deve promover o indivíduo como agente do seu aprendizado, levando em conta o conhecimento já apresentado por ele, suas visões de mundo e buscar transformar o mundo em que ele esteve e/ou está inserido. Ensino de Geografia – Capítulo 1 10 Assim, o processo de ensino da EJA deve sempre levar em conta a vocação ontológica – o ser; e as condições nas quais estão inseridos, analisando todo seu contexto. A educação não deve ser utilizada como instrumento de ajuste e, sim como um meio que permita ao indivíduo vislumbrar, através da educação, outras possibilidades de vida. E, dentro desta lógica social, composta por inúmeras diversidades e pluralidades, no Brasil, ainda temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como o documento norteador dos Currículos – estaduais – e das Propostas Pedagógicas das escolas na educação básica brasileira. Sua grande finalidade é determinar além, das competências gerais e específicas, também, as habilidades e as aprendizagens essenciais que os alunos devem desenvolver, durante cada etapa da educação, independentemente das heterogeneidades culturais dos lugares e regiões de moradias onde estudam as crianças, os adolescentes ou os jovens. Na BNCC, o componente curricular Geografia, se insere na área de Ciências Humanas (Ensino Fundamental) e nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (Ensino Médio), adotando-se de diferentes linguagens cartográficas para mediar conhecimentos para a leitura de mundo de forma a “permitir que os alunos se tornem produtores e leitores de mapas dos mais variados lugares vividos, concebidos e percebidos” (Brasil, 2018, p. 353 – grifo nosso). Nessa perspectiva, ler o mundo vai além dos livros e das linguagens cartográficas, uma vez que, não é apenas uma leitura do mapa ou pelo mapa. E, sim compreender tudo aquilo que faz parte da dinâmica do espaço. Por isso sua leitura traz uma marca na vida dos homens, visto que o exercício de compreensão do mundo irá levá-lo ao resultado da vida em sociedade. A partir desta relação dialógica, é preciso criar possibilidades para encontrar formas de ler o mundo, produzindo um conhecimento que possa Ensino de Geografia – Capítulo 1 11 ser empregado, no decorrer do desenvolvimento da metodologia do ensino de Geografia, em sala de aula, uma vez que: [...] o conhecimento geográfico produzido na escola pode ser o explicitamente do diálogo entre a interioridade dos indivíduos e a exterioridade das condições do espaço geográfico que os condiciona (REGO, 2000, p.8). Face ao exposto, este capítulo tem como objetivo apresentar alguns croquis cartográficos, elaborados a partir do mapa mental do bairro de vivência dos alunos do Ensino de Jovens e Adultos do 2º ano do Ensino Médio, da E.E Prof. Léo Pizzato, alocada na unidade prisional do Município de Assis/SP2, para que se possa entender os saberes dos alunos, frente à toda complexidade de mundo que os rodeiam, transformando-os em leitores críticos das contradições de mundo as suas voltas. METODOLOGIA O grande desafio, na atualidade, do ensino é fazer com que os professores busquem formas de tornar suas aulas mais atrativas e dinâmicas. Assim, incluir os alunos neste processo é fundamental 2 Vale esclarecer que, esta pesquisa traz como recorte espacial a unidade prisional de Assis2, por meio da Escola E.E Prof. Léo Pizzato, onde o pesquisador é professor. Vinculada ao Programa Educação nas Prisões, a Escola conta com 10 (dez) salas de aulas, sendo 3 (três) salas de Ensino Fundamental I, 4 (quatro) salas de Ensino Fundamental II e 3 (três) salas de Ensino Médio, onde são oferecidas em média de 400 (quatrocentas vagas) a cada semestre que, em detrimento da alta rotatividade de alunos são atendidas, em média, (380) trezentos e oitenta alunos por semestre. A Diretoria Regional de Ensino de Assis compreende 14 (quatorze) municípios - Assis, Borá, Candido Mota, Cruzália, Florínea, Iepê, Lutécia, Maracaí, Nantes, Palmital, Paraguaçu Paulista, Pedrinhas Paulista, Platina e Tarumã -, e conta com 3 (três) unidades prisionais de ensino nos municípios de Assis, Florínea e Paraguaçu Paulista. Ensino de Geografia – Capítulo 1 12 para que possam ser sujeitos críticos, reflexivos e acima de tudo, cidadão. Constatação de que, a pesquisa tem como objeto de análise o método da Cartografia Social (CS), que traz reflexões sobre as realidades de comunidades fragilizadas, a partir de atividades escolares, compostas pela tríade ENSINO DE GEOGRAFIA - ESPAÇO - LINGUAGEM CARTOGRÁFICA, CUJOS resultados protagonizam leituras críticas acerca da realidade vivida por um grupo social. Nesta lógica, a CS: [...] não é meramente uma técnica de representação, mas sim uma construção de um processo social, a partir da percepção da visão de mundo daqueles que elaboram os mapas [...] onde passa a ser compreendida, como um processo e não uma técnica de representação em si, a CS tem como princípio a autorrepresentação do sujeito que se apropria do território e ali constrói sua identidade. Esse processo envolve percepção, concepção e representação (GOMES, 2017, p. 99). E, para a prática da CS, o estudo adota os caminhos metodológicos propostos por Simielli (1996), ao estimular a elaboração de croquis cartográficos para a formação do aluno leitor crítico e mapeador consciente, reflexivos a partir de práticas espaciais por eles representadas. De acordo com Simielli (1996), partindo do pressuposto que os alunos já tenham noções de uma alfabetização cartográfica, pelos anos anteriores, o professor deve trabalhar o mapa em dois eixos (Figura 1 e Quadro 1): a) um primeiro eixo, onde se trabalha com o produto cartográfico já elaborado - os mapas, as cartas e as plantas – partindo de uma escala menor para uma escala maior, Ensino de Geografia – Capítulo 1 13 tendo ao final do processo um leitor crítico. O aluno trabalha com produtos já elaborados, portanto, será um leitor de mapas, porém um leitor crítico e não um aluno que simplesmente usa o mapa para localizar fenômenos; b) num segundo eixo, o aluno é participante efetivo do processo, tendo como resultado um aluno mapeador consciente que trabalhará tanto com imagem tridimensional, quanto imagem bidimensional. Como? Através de maquetes (que é uma representação tridimensional) e os croquis (que são desenhos e mapas mentais cuja representação é bidimensional). A grande diferença em relação ao primeiro eixo é que o aluno efetivamente vai participar do processo de mapeamento ao confeccionar a maquete, o mapa ou o croqui. Figura 1. Caminhos Metodológicos para a formação do aluno leitor crítico e mapeador consciente – Simelli (1996) Fonte: Simielli (1996), adaptado pelos autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 14 Quadro 1. Produtos Cartográficos para a formação de alunos críticos e mapeador consciente Simielli (1996) PRODUTO CARTOGRÁFICO DEFINIÇÃO MAPA Representação plana, em pequena escala, de uma área da superfície terrestre, vista de cima, delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas, etc.) e político-administrativos, apresentando seus aspectos naturais e artificiais (construídos pelo homem). É obtido da redução de escala e das informações contidas nas cartas e representa uma unidade (município, estado, país, continente, etc.), geralmente em escala pequena (IBGE, 1985, p. 9). CARTA Representação gráfica dos aspectos naturais e artificiais da Terra, permitindo a medição precisa de distâncias, áreas, direções, altitudes e a localização geográfica dos detalhes representados. É subdividida em folhas, obedecendo a um plano nacional ou internacional, podendo apresentar-se em es_calas grandes, médias ou pequenas (IBGE, 1985, p. 7) PLANTAS Representação gráfica em escala grande, destinada a fornecer informações detalhadas de determinada área. As plantas geralmente se apresentam numa só folha, podendo ser subdividida em folhas denominadas cartas. A PLANTA CADASTRAL, por exemplo, representa detalhadamente ruas, edificações e muitas outras características, inclusive o perímetro urbano. Se a área cadastrada for apresentada em folhas, teremos a CARTA CADASTRAL (IBGE, 1985, p. 7). ANAMORFOSES São mapas representados por uma imagem disforme (os polígonos), que torna as superfícies dos territórios proporcionais aos dados que se deseja representar. Esse modo de representação gráfica é mais adequado para apresentação de fenômenos sociais, como: projeção da população, índice de mortalidade e natalidade, pesquisas de opinião com repostas “sim” ou “não”, pois esse tipo de mapa procura adaptar a representação das superfícies com o tamanho da população, apresentando os dados de forma mais proporcional do que se fossem apresentados através da cartografia temática clássica (Tobler, 2004, apud TOBIAS, 2001, p. 16) CROQUIS De acordo com o IBGE (1985, p. 9) O croqui é um esboço e não obedece à rotina técnica para a· elaboração de mapas. Ensino de Geografia – Capítulo 1 15 Não tem como finalidade a divulgação para o público; contém informações sobre uma pequena área e supre a falta de uma representação cartográfica detalhada. MAPAS MENTAIS O mapa mental é uma representação gráfica de um determinado espaço geográfico feita a partir da percepção e subjetividade do autor do processo. Nesse caso, as informações contidas nesse tipo de mapa partem da intencionalidade, da leitura e da visão de mundo particular desse indivíduo, levando em consideração sua imaginação e vivências próprias (KOZEL, 2007 apud RICHTER, 2011). Assim, o mapa mental contém informações consideradas desnecessárias ou sem valor científico para os padrões da cartografia cartesiana, como: escala, orientação, título, uso de variáveis visuais, coerência entre legenda-conteúdo, entre outros aspectos. Contudo, ainda para o mesmo autor, a importância de se trabalhar o mapa mental está no fato de que essa concepção de mapa possibilita a formação de indivíduos capazes de compreender o mapa para além do processo de cópia, tornando-se uma linguagem que contribui para a expressão e interpretação do cotidiano. (RICHTER, 2011). MAQUETES É a representação em miniatura de uma construção civil ou de parte restrita da superfície terrestre, com todos os seus aspectos. Na construção de maquetes em sala de aula, cabe ao professor incentivar a criatividade dos estudantes na busca de material, no exercício do trabalho coletivo e nas representações dos objetos. A maquete não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio didático pelo qual elementos da realidade devem ser trabalhados em conjunto (SIMIELLI et al.,1991). BLOCO- DIAGRAMA De acordo com o Dicionário Cartográfico, o bloco- diagrama é a representação tridimensional (comprimento, largura e altura) de mapa ou fotografia, representando uma determinada área da superfície da Terra, a fim de mostrar, além das formas do relevo, os cortes geológicos e seus aspectos naturais e artificiais (OLIVEIRA,1987). PERFIL TOPOGRÁFICO O desenho do perfil topográfico, ou transecto, do terreno é obtido através de um corte, que dá a ideia do delineamento topográfico da área. Permite calcular com exatidão as distâncias horizontais e verticais (altitudes), (IBGE, 1985, p. 116). Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 16 Tendo como meta de que a característica social desta modalidade de cartografia, por um lado valoriza os espaços percebido, afetivo e vivido pelos indivíduos e, de outro contempla suas experiências levando-os as diferentes leituras espaciais, buscamos desenvolver os croquis cartográficos, tendo como sequência pedagógica a ficha de trabalho do MAPA MENTAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA DOS ALUNOS, onde são indicados os objetivos, conteúdo, material, tempo de aplicação, marcos de avaliação, além das habilidades e competências propostas pela BNCC, observados na figura 2. Figura 2. Ficha de Trabalho do Mapa Mental do Bairro de Vivência Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 17 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos constatam que, a Cartografia Social foge aos métodos tradicionais de representação gráfica e visual da cartografia. Constatação que a utilização de croquis cartográficos, na leitura de mundo, é umas das melhores formas de representar o espaço vivido, percebido e sentido pelos alunos em situação de privação de liberdade. Através dos croquis, os alunos são convidados a estabelecer situações a serem cartografadas, levantando dados e informações para que possam futuramente analisar as demandas visibilizadas nos mapas. Assim, cabe lembrar que o croqui cartográfico é um desenho, um esquema rápido, geralmente feito à mão, dos principais elementos de um determinado espaço geográfico. Há tempos é utilizado por geógrafos nos trabalhos de campo e pelos professores de Geografia em sala de aula para explicação de fenômenos e processos físicos, naturais, sociais e culturais. E, para sua elaboração, o aluno geralmente parte da representação de um lugar conhecido, criando esta representação gráfica e visual, a partir de mapa mental. Para Richter (2011), neste processo, o mapa mental é: [...] analisado como um recurso que permite a construção de uma expressão gráfica mais livre, tendo a perspectiva de que o estudante possa transpor para essa representação espacial os conteúdos geográficos aprendidos ao longo da educação básica. Assim, além de utilizar a fala, a escrita, a imagem ou o próprio mapa convencional/tradicional, o aluno terá a oportunidade de apresentar num mapa mental suas interpretações a respeito de um determinado lugar, provenientes de leituras mais científicas da realidade (Richter, 2011, p. 18). Ensino de Geografia – Capítulo 1 18 De acordo Simielli (1996), os principais tipos de croquis que interessam à área da cartografia são: croqui de análise-localização, croqui de correlação e croqui de síntese (Quadro 2). Quadro 2. Tipos de Croquis Cartográficos (Simielli, 1996) TIPO DE CROQUI FINALIDADE LOCALIZAÇÃO E ANÁLISE É aquele em que o aluno apresenta apenas um determinado fenômeno geográfico para poder analisá-lo CORRELAÇÃO É aquele que correlaciona dois ou mais fenômenos geográficos que ocorrem no mesmo espaço. A escolha dos elementos correlacionados será feita pelo estudante. Isso é importante, pois o estudante terá a autonomia de escolher os elementos mais pertinentes para a situação didática proposta. SÍNTESE É quando o estudante analisa, correlaciona e chega a uma determinada síntese daquele espaço geográfico, elaborando um mapa (croqui) de síntese. O interessante é que o estudante é o próprio autor do processo e do produto final, isto é, do croqui. Fonte: Simielli (1996), organizado pelos autores (2020) Nesta lógica, a seguir, discutiremos os resultados obtidos com os 5 (cinco) croquis cartográficos elaborados por 5 (cinco) reeducandos - M.H.L.S (30 anos), M.T. (27 anos), J.G.T.R (28 anos), I.F.S (26 anos) e A.F.G (38 anos) -, matriculados no 2º ano do Ensino Médio, durante a aplicação das aulas de Geografia, no mês de fevereiro de 2020. Este foi o primeiro passo adotado na construção dos mapas regionais dos alunos em situação de privação de liberdade. Nesses mapas, os alunos apresentaram a delimitação do território do seu bairro, ruas, estradas, comércios, escola, postos de saúdes, pontos de vendas de drogas e prostituição. Além de aspectos naturais, como lagos, rios, vegetação e plantações. Ensino de Geografia – Capítulo 1 19 Ao inserir esse procedimento em sala de aula durante as aulas de geografia foi possível um maior engajamento dos alunos, dada a possibilidade de justapor teoria e prática, onde a prática metodológica permitiu aos alunos autoria do próprio mapa, refletindo teoricamente sobre suas realidades sociais, ambientais, naturais, culturais, políticas, além da história de vida no local de vivência, a partir dos mapas por eles elaborados. Ainda, após o término dos croquis, os alunos continuaram a fazer levantamento de dados até a produção final do mapa. As informações foram ampliadas e o mapa foi produzido com diferentes elementos cartográficos apontados pelos reeducando. Os croquis cartográficos representados pelos alunos foram avaliados considerando as principais discussões acerca dos caminhos das operações cognitivas espaciais para a leitura e domínio espacial, no processo de ensino-aprendizagem do mapa (conforme o Quadro 3) – ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA (AC) / LETRAMENTO CARTOGRÁFICO (LC) / PENSAMENTO ESPACIAL (PE) / RACÍOCINIO GEOGRÁFICO (RG) / RACÍOCINIO GRÁFICO E CARTOGRÁFICO (RGC) -, entendo-as como marco de avaliação das práticas espaciais representadas pelos reeducandos. Além de refletir sobre seus espaços percebidos, vividos e afetivos, quando em privação de liberdade. Quadro 3. Principais discussões acerca dos caminhos das operações cognitivas espaciais para o processo de ensino- aprendizagem do mapa OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAIS DEFINIÇÕES ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA (AC) A Alfabetização Cartográfica está fortemente relacionada ao processo metodológico de aprendizagem do mapa a partir dos seus elementos e conteúdos básicos, como signos, escalas, normativas, simbologia, orientação etc. [...] Ou seja, seu termo faz menção aos próprios códigos cartográficos que são Ensino de Geografia – Capítulo 1 20 essenciais para possibilitar a sua leitura. Vale lembrar que neste caso estamos nos referindo a um mapa na perspectiva mais cartesiana, que se estrutura a partir de normativas e convenções universais. Entendo que esta aprendizagem permite que os alunos possam fazer a leitura e a interpretação de representações cartográficas presentes em atlas, mapas temáticos, mapas turísticos, entre outros, que utilizam as referências da ciência cartográfica para construir seus mapas. (RICTHER, 2017, p. 291) LETRAMENTO CARTOGRÁFICO (LC) Se estabelece na ação e no processo de desenvolver o uso do mapa para as práticas sociais dos indivíduos, de entender o mapa como um instrumento que possibilita compreender nossas ações e vivências cotidianas. Para isso é pertinente que o professor integre o mapa em diferentes atividades e propostas tornando esta linguagem mais viva e presente na vida do aluno. Representar seus caminhos, suas leituras espaciais, correlacionar diferentes formas de mapear com os conteúdos geográficos ensinados em aula são atividades que podem contribuir neste trabalho. Ou seja, fazer que o mapa seja efetivamente um material que contribua na leitura espacial e nas práticas cotidianas dos indivíduos (RICHER, 2017, p. 291). PENSAMENTO ESPACIAL (PE) Está associado ao desenvolvimento intelectual que integra conhecimentos não somente da Geografia, mas também de outras áreas (como Matemática, Ciência, Arte e Literatura). Essa interação visa a resolução de problemas que envolvem mudanças de escala, orientação e direção de objetos localizados na superfície terrestre, efeitos de distância, relações hierárquicas, tendências à centralização e à dispersão, efeitos da proximidade e vizinhança etc. (BRASIL, 2018, p. 359); (RICHTER; MORAES, 2020, p. 157). Para os autores (op. cit), baseados em Silvia, Roque Ascenção e Valadão (2018), este tipo de raciocínio se caracteriza por ser um “exercício intelectual em que são produzidas compreensões relativas à espacialidade de fenômenos” (Silvia, Roque Ascenção e Valadão, 2018, p. 74 apud Richter e Moraes, 2020, p. 159). Assim, é “um tipo de pensamento baseado em três elementos: conceitos espaciais, instrumentos de representação e processos Ensino de Geografia – Capítulo 1 21 de raciocínio (NRC, 2006, apud RICHTER; MORAES, 2020, p. 159). RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO (RG) Se destaca como sendo a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e as ações antrópicas (RICHTER; MORAES, 2020). Para obter o Raciocínio Geográfico, a BNCC pressupõe trabalhar estruturas próprias de um pensamento geográfico, um pensamento conceitual de fundamentação geográfica, por meio de conceitos clássicos da Geografia: espaço, território, lugar, região, natureza, paisagem e tempo. (RABELO, BORBA, SOUZA, 2020, p. 39). RACIOCÍNIO GRÁFICO E CARTOGRÁFICO (RGC) Se destaca pela capacidade de representar gráfica e cartograficamente, no plano bidimensional, as informações do espaço geográfico traduzidos pelos fenômenos físicos, econômicos, sociais, culturais, a partir das mais variadas formas de representações utilizadas como ferramentas de análise espacial. Diferenciam-se dos textos alfabéticos por se apresentarem como figura espacial: linhas, pontos, áreas, formas, superfícies, distâncias, extensões, volumes e suas várias dimensões – comprimento, largura e altura (BRASIL, 2018). Fonte: Autores (2020) Neste sentido, compartilhamos com as ideias de Richter e Moraes (2020), ao destacarem que: [...] tendo essas leituras como parâmetros do que vem a ser a contribuição da Geografia na escola é preciso reconhecer que existem os aliados a este processo, pois [...] se o objeto da Educação Geográfica é o da formação de pensamentos ou raciocínios geográficos como defendem diversos autores (Cavalcanti, 2000 e 2002; Castellar, 2005, apud RICHTER; MORAES, 2020) e se queremos que o mapa deixe de ser utilizado apenas para localização dos fenômenos e que, em acréscimo a isso os Ensino de Geografia – Capítulo 1 22 alunos/cidadãos sejam capacitados a avançar para além do nível elementar de leitura dos mapas (Simielli, 2007, p. 80 apud (RICHTER; MORAES, 2020), precisamos pautar nossa metodologia da Cartografia Escolar na compreensão das operações cognitivas que envolvem o entendimento de fenômenos socioespaciais com forte conteúdo geográfico. (RICHTER; MORAES, 2020, p. 159). CROQUI CARTOGRÁFICO 1 O croqui cartográfico 1 (Quadro 4) foi elaborado pelo reeducando M.H.L.S., de 30 anos, onde representa o bairro Parque Colinas, localizado na cidade de em Assis/SP. Quadro 4. CROQUI CARTOGRÁFICO 1 – Bairro Parque Colinas em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 23 Neste croqui observarmos uma representação espacial voltada para a elaboração de uma planta urbana, onde foi feito o uso da escala grande, com detalhes espaciais, para retratar uma parte do bairro periférico. Mas que pela afetividade e olhar espacial do aluno, foi transcodificado como sendo um bairro harmônico, onde os aspectos físicos, representados por meio de cores fortes, são os maiores locais de lazer, retratando quase 1/3 de todo desenho e, assim da relação de pertencimento do aluno a este espaço. Nele, também, identificamos apenas algumas moradias de familiares, de forma isolada, sem vizinhos, amigos e, assim sem a necessidade do convívio social. Todavia, como contraditório, a igreja do bairro mostrou-se como um ponto de referência. OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, com pleno domínio das relações (topológicas, projetivas e euclidianas), conseguindo codificar sua representação espacial para a leitura do mapa. LC Observa-se um domínio de letramento cartográfico onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar, correlacionou os conteúdos geográficos ensinados na aula, com sua forma de mapear as afetividades ao lugar vivido, posta no croqui. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, possibilitando perceber maiores detalhes e as interações de proximidade e distanciamento entre a casa dos familiares separados pela área verde do bairro e a não representação de outros moradores. RG Ao representar o bairro de forma harmoniosa com essa grande interação entre a área verde e as moradias de seus familiares, além da representação da linha férrea que é um marco econômico para as cidades do Oeste Paulista, o aluno apresentou satisfatório raciocínio geográfico. Um fato curioso é que não identificou, nenhum ponto de venda de Ensino de Geografia – Capítulo 1 24 droga, que é uma geograficidade ilícita recorrente no bairro. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa do bairro no plano bidimensional, diante de uma visão vertical, utilizando linhas, pontos, zonas, textos, além de símbolos pictóricos e linhas curvas. Fonte: Autores (2020) CROQUI CARTOGRÁFICO 2 O croqui cartográfico 2 (Quadro 5) foi elaborado pelo reeducando M.T., 27 anos, matriculado no 2º ano do EM, apresentando, também, o bairro Parque Colinas, como o aluno supracitado, localizado na cidade de Assis/SP. Quadro 5. CROQUI CARTOGRÁFICO 2 – Bairro Parque Colinas em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 25 Neste Croqui, igualmente ao aluno anterior, observamos uma representação espacial, composta uma planta urbana que, pela escala representada nos permite uma visão mais geral e regional do bairro e seu entorno. E, para isto, utilizou a legenda para personalizar os fenômenos geográficos espaciais. Neste, a representação dos aspectos físicos do bairro foi voltada as atividades agrícolas, corpos hídricos e áreas verdes. Também, em seu olhar espacial, foi identificado diversas moradias, chácaras, escolas, centro de referência de assistência social, uma grande linha férrea, além do ponto de venda de droga no bairro periférico. OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, com pleno domínio das relações (topológicas, projetivas e euclidianas), conseguindo codificar e decodificar pelas suas geometrias uma excelente representação espacial do real para o mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresenta sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala média, possibilitando sua síntese e interações de proximidade e distanciamento entre outros bairros limítrofes. Além de codificar, simbolizar através do uso da legenda as informações que melhores conhecem, desses bairros, no primeiro plano do desenho. RG O aluno consegue territorializar as atividades agrícolas que ocorrem neste bairro e alteram toda sua paisagem, bem como o ponto de venda de droga e o local de busca para a comercialização como “malote”. Podemos perceber que ele utiliza seu croqui para demonstrar as relações de poder que se constitui entre os grandes Ensino de Geografia – Capítulo 1 26 agricultores, pontos de venda de droga e os moradores desses dois bairros. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa do bairro no plano bidimensional, utilizando linhas, pontos, zonas, textos, além de símbolos pictóricos expressos na legenda, diante de um ponto de vista com visão vertical. Fonte: Autores (2020) O CROQUI CARTOGRÁFICO 3 O croqui cartográfico 3 (Quadro 6) elaborado pelo reeducando J.G.T.R, de 28 anos, matriculado no 2º ano do EM e, apresenta o bairro San Fernando do Valley, localizado na cidade de Assis-SP. Quadro 6. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro San Fernando do Valley em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 27 O mapa mental, apresentado por este croqui cartográfico, revela por meio de uma escala de detalhe e inúmeros símbolos pictóricos apenas um pequeno trecho da área urbana do bairro, no qual possui infraestrutura (área residencial, área comercial, ruas largas com rotatórias e jardinagens, áreas verdes, além de áreas de lazer com práticas de atividades esportivas). OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC O aluno apresenta domínio das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC Observa-se um domínio de letramento cartográfico onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar, correlacionou os conteúdos geográficos ensinados na aula, com sua forma de mapear as afetividades ao lugar vivido, posta no croqui. PE Podemos, também, identificar que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, onde possibilitou melhor detalhamento sobre o uso e ocupação do espaço urbano, localizando as áreas de residências, comércio e área verde e lazer. RG Ao representar o bairro de forma harmoniosa com essa grande interação entre a área comercial, as áreas verdes e as moradias, o aluno mostrou atenção para as políticas públicas de planejamento. Também, explicitou que a área comercial, que é a principal fonte de renda do município. Evitou localizar e identificar os conflitos sociais, presentes no urbano, e assim não houve a inserção de nenhum ponto de violência ou venda de droga. RGC Para o Raciocínio gráfico e cartográfico fez uso da representação no plano bidimensional destacando os componentes geográficos por meio da visão vertical, horizontal e obliqua das informações espaciais. Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 28 O CROQUI CARTOGRÁFICO 4 O croqui cartográfico 4 (Quadro 7) elaborado pelo reeducando I.F.S, de 26 anos, apresenta o Bairro Itatinga, localizado na cidade de Campinas-SP. Quadro 7. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro Itatinga em Campinas/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Neste Croqui podemos perceber que se trata de uma área periférica da cidade, com a presença de uma marcante área comercial, dotada de diversas casas de prostituição, tendo seu acesso marcado por grandes avenidas. O bairro conta com supermercado 24h, posto de combustível, academia e posto de saúde. Além de contar com uma parcela de locais, que o aluno não soube representar por não mais se lembrar atentamente de sua vivência real. Ensino de Geografia – Capítulo 1 29 OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, conseguindo apresentar domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresentou sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala de detalhe, onde por meio das áreas comerciais, posto de saúde e entre outras ele configurou o território da prostituição, além de suas territorialidades. RG Houve a apresentação harmoniosa do bairro, porém trata-se de um bairro com tendência a prostituição, tanto de mulheres, quanto de homens. Percebemos que existe uma territorialização da região onde maior é a presença deste tipo de atividade – lado direito do croqui. Não houve a identificação de pontos de droga. Esse bairro é o maior bairro da América latina, em quantidade de casas de prostituição. Nota-se, que essa foi sua lembrança viva e afetiva. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa em representação bidimensional do bairro, onde os componentes geográficos foram representados pela visão vertical das informações espaciais. Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 30 O CROQUI CARTOGRÁFICO 5 O croqui cartográfico 5 (Quadro 8) elaborado pelo reeducando A.F.G, de 38 anos, apresenta o Bairro Copacabana, localizado na cidade de Belo Horizonte-MG. QUADRO 8. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro Copacabana em Belo Horizonte/MG A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Neste Croqui a representação espacial é repleta por símbolos pictóricos, onde trata-se de um bairro de periferia, com pleno destaques para as habitações do tipo barracos (comunidades) e de alvenaria (denominada de “casa boa”), além dos pontos de venda de droga, locais de violências e, na parte central uma casa de prostituição. Também, neste pertencimento, trata-se de um bairro onde o patrulhamento militar é recorrente, pela forte existência das drogas, prostituição e criminalidade. Ensino de Geografia – Capítulo 1 31 OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, conseguindo apresentar domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresenta sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, possibilitando um melhor detalhamento dos tipos de residência, bares, ponto de venda de droga e casa de prostituição. As ruas são estreitas, o que denuncia a falta de planejamento adequado para o bairro. RG O aluno apresentou geograficamente, os diversos problemas estruturais e sociais que um bairro periférico contém: violência, moradias inadequadas, desigualdade social, droga, prostituição e criminalidade. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho no plano bidimensional, utilizando muitos símbolos pictóricos expressos na legenda, diante de um ponto de vista com visão vertical, horizontal e obliqua da realidade. Fonte: Autores (2020) Pelas práticas espaciais, denotamos que os alunos apresentam: a) AC, com plenos domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa; b) LC, ao correlacionarem os conteúdos geográficos ensinados na aula, com suas formas de mapearem as afetividades ao lugar vivido; c) PE pela capacidade de espacializar o bairro em uma escala grande, Ensino de Geografia – Capítulo 1 32 possibilitando melhor detalhamento dos tipos de residências, bares, pontos de vendas de droga, além das casas de prostituição; d) RG, pela forma de localização a distribuição dos fatos e fenômenos conforme o ordenamento territorial dos bairros e; e) RGC ao utilizarem a representação no plano bidimensional, para destacarem os componentes geográficos do espaço urbano por meio da visão vertical, horizontal e obliqua das informações espaciais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelos croquis cartográficos elaborados podemos constatar que as práticas de representação e percepção dos fenômenos geográficos, a partir do bairro de vivência, ganharam dimensão em relação à mensuração das operações cognitivas e suas noções espaciais, uma vez que, os envolveu de tal forma que podemos dizer que as aprendizagens foram significativas e (res)significativas, dando-lhes a oportunidade do processo de (re)construção das noções de localização, proporção, distância e legenda, além da leitura crítica das diferentes paisagens do espaço urbano, durante a leitura mundo, pelos reeducandos avaliados. Desta forma, os mapas mentais dos lugares de vivências, viabilizados pelos croquis, mostram-se metodologias eficientes para que entender os caminhos das operações cognitivas espaciais na leitura e domínio espacial durante o processo de ensino- aprendizagem que, quando em conjunto com a construção de conceitos geográficos e sua socialização no ambiente escolar, desenvolvem as competências e habilidades de alunos mapeadores perceptivos, críticos e conscientes sobre a sua realidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Rio de Janeiro. 2º vol. 1985. Disponível em: Ensino de Geografia – Capítulo 1 33 https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca- catalogo?view=detalhes&id=281663 BRASIL. Educação para jovens e adultos: ensino fundamental: proposta curricular – 1º segmento / coordenação e texto final (de) Vera Maria Masagão Ribeiro. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. 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Universidade de São Paulo/SP. 2011. 36 CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS CONDENADOS DE IMPERATRIZ, MARANHÃO: DEBATES E ANALISES PRELIMINARES Karolayne Carneiro dos Santos Graduanda em Geografia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1698-5900 Allison Bezerra Oliveira Professor da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-0320-5661 José Alencar Viana e Araújo Professor da Prefeitura Municipal de Imperatriz, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-7014-120X Daniely Lima Silva Graduada em Geografia pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-1666-9038 Maria do Rosário Sá Araújo Professora na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-5966-4536 RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo dialogar sobre a educação inclusiva em ambientes carcerários no Brasil além de apresentar breves aspectos do perfil educacional do apenado na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no município de Imperatriz, estado do Maranhão. Para tal, além de debate https://orcid.org/0000-0003-0320-5661 Ensino de Geografia – Capítulo 2 37 teórico, apresenta dados preliminares de questionários socioeconômicos relacionados ao perfil daqueles em processo de ressocialização atendidos na instituição. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Associação de Proteção e Assistência aos Condenados. Imperatriz-MA. INCLUSIVE EDUCATION IN THE ASSOCIATION FOR THE PROTECTION OF PRISONERS OF IMPERATRIZ, MARANHÃO: PRELIMINARY DEBATES AND ANALYSES ABSTRACT: This work aims to dialogue about inclusive education in prison environments in Brazil and to present brief aspects of the educational profile of the convict in the Association of Protection and Assistance to the Sentenced (APAC), in the city of Imperatriz, state of Maranhão. To this end, in addition to a theoretical debate, it presents preliminary data from socioeconomic questionnaires related to the profile of those in the resocialization process attended at the institution. KEYWORDS: Inclusive Education. Association for the Protection and Assistance of Convicts. Imperatriz-MA. INTRODUÇÃO Uma das grandes lacunas sociais presente no Brasil está ligado diretamente ao sistema carcerário e o processo de ensino como ferramenta de reintegração do apenado na sociedade. No âmbito educacional a ressocialização das pessoas privadas de liberdade no país está longe de ser uma realidade uma vez que segundo os dados do Sistema de Informações Estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro - INFOPEN (2017) aproximadamente 65% dos presos no Brasil possuem o ensino fundamental incompleto, 9% são analfabetos, e menos de 13% têm acesso a atividades educativas no período de cumprimento da pena. Nesse contexto, nota-se que a aplicação de um modelo educacional adaptado às condições do ambiente carcerário é um desafio muito Ensino de Geografia – Capítulo 2 38 complexo. Vários são os fatores que contribuem para dificultar a prática escolar nestas condições. Entender os desafios que perpassam o espaço geográfico no âmbito da educação dentro do sistema carcerário requer renovação e inovação perante as mazelas que ainda existe nas práticas metodológicas de ensino fundamentadas na pedagogia da esperança e da liberdade. (PRADO, 2015; OLIVEIRA, et al., 2016; MASULLO, et al., 2020) No sistema carcerário são inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas para alcançar a finalidade da ressocialização. Segundo Freire (1987) a educação promovida para o sujeito em espaços de reclusão, é uma forma de ressocialização, uma vez que esta é capaz de provocar transformações e facilitar a reinserção dos sujeitos privados de liberdade na sociedade, de maneira que estes não voltem a cometer novos delitos. Tomando como base essa compreensão, o presente trabalho tem por objetivo dialogar sobre a educação inclusiva em ambientes carcerários no Brasil além de apresentar breves aspectos do perfil educacional do apenado na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no município de Imperatriz, estado do Maranhão. Além desta introdução, metodologia e considerações finais, o trabalho está dividido em quatro tópicos: o primeiro, trata do “sistema prisional brasileiro e o acesso a educação no cárcere”, o segundo, discute “história do sistema prisional do maranhão e a ressocialização como agente fundamental para a reinserção do indivíduo na sociedade”, e por fim, resultados empíricos são discutidos em “breves apontamentos sobre a educação na APAC de Imperatriz-MA”. METODOLOGIA A pesquisa tem como recorte de análise a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC (Centro de reintegração social Dr. Ensino de Geografia – Capítulo 2 39 Franz de Castro Holzwarth), localizada no município de Imperatriz, estado do Maranhão (figura 1). Figura 1. APAC de Imperatriz - MA Fonte: os autores (2021). O universo da pesquisa compreende os apenados em processo de ressocialização que fazem parte atualmente do quadro de atendidos pela unidade. De caráter quali-quantitativo, a pesquisa compreende uma análise situacional dos indivíduos atendidos na APAE buscando compreender o perfil socioeconômico dos mesmos. Para tal, foram realizadas visitas de campo destinadas ao conhecimento das rotinas institucionais além da realização de questionários para análise das informações primária entre os internos. Do total de 53 pessoas que estão atualmente na unidade, 32 participaram da pesquisa. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E O ACESSO A EDUCAÇÃO NO CÁRCERE A debilidade de atuação do Estado brasileiro em muitas áreas da vida social se mistura com a história do desenvolvimento do sistema prisional vigente. Ainda há enorme dificuldade de aproximação do preconizado por lei e o que realmente acontece no encarceramento brasileiro. Ensino de Geografia – Capítulo 2 40 A reformulação do Código Penal brasileiro de 1890 estabeleceu novas modalidades de prisões, cancelando o sentenciamento para penas perpétuas. Limitando-se à penas restritivas de liberdade individual, penalidade de no máximo 30 anos, além de reclusão, prisões com trabalho obrigatório e prisão disciplinar (MACHADO et al, 2013; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). Segundo Dullius e Hartmann (2011), ao passar dos anos o sistema carcerário brasileiro passou por diversas alterações estruturais e legislativas até os dias de hoje. Entre essas mudanças destacam-se o Código Penitenciário da República de 1935, Código Penal Brasileiro de 1940, Lei de Execução Penal (Lei N° 7.210/1984) e a própria Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, que incorporou questões preestabelecidas em atos normativos, reforçando aspectos ligados aos direitos humanos. Salienta-se, que as diferentes legislações foram alteradas diversas vezes, sempre se adequando a ideologia preponderante vigente. Ainda, de acordo com o art. 39 da Lei n° 7.210 (Lei de Execução Penal) de 11 de julho de 1984, o condenado tem direito à alimentação suficiente, ao vestuário e à previdência social; distribuição do tempo entre trabalho, descanso e recreação; direito à assistência material, de saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; visita de parentes em dias determinados; e contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não venham comprometer a moral e os bons costumes (BRASIL, 1984). Em declaração o Conselho Nacional de Justiça – CNJ expõe que, o Brasil é o terceiro país do mundo com maior quantitativo de população carcerária. No ano de 2019 os dados do INFOPEN (2017), contabilizavam cerca de 748.009 pessoas privadas de liberdade no País. Sendo que os maiores quantitativos de unidades prisionais se concentram no Sudeste do Brasil. Ensino de Geografia – Capítulo 2 41 Os dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN (2017) apontam que aproximadamente 65% dos presos no Brasil possuem apenas o ensino fundamental incompleto, e 9% são analfabetos. Os dados ainda mostram que aproximadamente 76% dos presos ficam ociosos na prisão e em todo o país, apenas 17% deles estudam no cárcere, ou seja, participa de atividades educacionais de alfabetização, ensino fundamental, ensino médio e supletivo, uma vez que estatísticas mostram que o estudo na prisão diminui as chances de reincidência criminal em até 40%. A educação no Brasil é regulamentada pela Lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Sua base jurídica está no texto constitucional art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse contexto, a LDB (Lei nº 9.394/1996), regulamentada na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, inciso I, estabelece que toda a população brasileira tenha direito ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, sendo assegurada, inclusive, essa oferta no sistema penitenciário. Ainda de acordo com essa legislação, os artigos 17 aos 21 descrevem como deverá ser aplicada a assistência educacional no âmbito carcerário, uma vez que estes estabelecem assistência educacional, instrução escolar, formações do preso, obrigatoriedades do ensino fundamental, alem da instalação de uma biblioteca por unidade prisional - para uso de todas as categorias de reclusos - provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos. (BRASIL, 1984). No sistema carcerário são inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas para alcançar a finalidade da ressocialização; sendo a educação a mais preciosa delas. Segundo Freire (1987) a educação promovida para o sujeito privado de liberdade, é uma forma de ressocialização, uma vez que esta promove aos detentos outros meios Ensino de Geografia – Capítulo 2 42 para sua reinserção na sociedade que não seja o retorno ao mundo do crime, capacitando-o para ter um trabalho e uma vida dignos, de tal maneira que não volte ao meio criminoso. Dessa forma, segundo Oliveira e Pereira (2018), o processo de ressocialização através da educação é um dos métodos mais eficazes para o Estado combater o retorno à criminalidade dos detentos e egressos, uma vez que através da educação é possível promover um retorno a sociedade de maneira com que estes se reintegrem na sociedade de forma igualitária e democrática capazes de retomar suas vidas com competência e qualificação. Vale ressaltar que, a assistência à educação no âmbito penitenciário não se trata de um privilégio concedido aos presidiários, embora esse discurso seja erroneamente disseminado na sociedade, mas trata-se de um direito garantido a ele pela Constituição de 1988 e pela Lei de Execução Penal de 1984, assegurado pela própria Carta Magna segundo a qual “todos são iguais perante a lei”, e também está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu art° 26, onde se estabelece o direito à educação, cujo objetivo é o pleno desenvolvimento da pessoa e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos (BRASIL, 1988). Outro ponto a evidenciar, é o dever que cabe ao Estado, de não só punir aqueles que cometem delitos, mas também garantir que os direitos dessas pessoas sejam respeitados enquanto estiverem sob- responsabilidade do estado pagando pelo crime que cometeram. Assim sendo, seus direitos não podem ser atingidos pela sua perda de liberdade. Nesse sentido, o Estado assume a responsabilidade de garantir que um processo de ressocialização ocorra de forma eficiente para que, esses indivíduos sejam reinseridos na sociedade e não venham a cometer mais delitos, visto que a finalidade da pena não é punir, mas também ressocializar e prevenir (OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). Ensino de Geografia – Capítulo 2 43 Para tanto, faz-se necessário conhecer essa dinâmica socioespacial e as pessoas que estão interligadas ao sistema prisional. O problema do sistema prisional no Brasil vem se desenvolvendo abruptamente em todos os estados da Federação, seja no que se refere à violência entre os encarcerados, ou pela ausência do Estado em dar um tratamento digno para os presidiários, um problema se relaciona com o outro. Sob essa perspectiva, analisa-se a seguir de forma específica, o perfil social do sistema carcerário do Maranhão. PRISIONAL DO MARANHÃO E A RESSOCIALIZAÇÃO COMO AGENTE FUNDAMENTAL PARA A REISERÇÃO DO INDIVIDUO NA SOCIEDADE Assim como no Brasil, o Estado do Maranhão também apresenta uma população carcerária resultante de uma política de repressão e criminalização à pobreza. Esse modelo, parte do pressuposto de que o encarceramento em massa e a construção de novos presídios reduzem as ocorrências criminais. No entanto, é preciso salientar que a segurança pública influencia e é influenciada por fatores socioeconômicos e políticas públicas ligadas a educação, saúde, lazer e turismo (MASULLO, 2020). A primeira penitenciaria do Estado do Maranhão foi construída no Bairro dos Remédios, no centro da capital, com o objetivo de separar os presos pela ordem ou grau das penas, fazendo o papel apenas de casa da correção. Em seguida começou a apresentar características de Penitenciaria Estadual, uma vez que começou a se utilizar recursos do governo para a obtenção de agentes de segurança, vestuário, alimentação e demais serviços (FREITAS, 2016; BRITO, 2017) Em 1948, dois anos após a aberturada unidade no Centro, foi feita a transferência desta para o município de Alcântara. A mudança para a mais nova penitenciaria do Estado, intitulada como Penitenciaria de Pedrinhas, só veio a ocorrer em 12 de Dezembro de 1965, quando o município de Alcântara, importante cidade histórica, teve sua renda Ensino de Geografia – Capítulo 2 44 “turística e cultural” prejudicada, já que a situação do presídio demonstrava insegurança para os visitantes (FREITAS, 2016; BRITO, 2017) Situada a 15 km de São Luis, a margem da BR-135, com área de 122 hectares, a então Penitenciaria de Pedrinhas passou por varias adaptações e desencadeou a criação de um complexo para atender as necessidades quanto a quantidade de detentos. O presídio, desde então, passou por diversas reformas, sempre com intuitos ou de aumenta-lo ou de concertá-lo. Porém, as reformas de um prédio-base completamente sem infraestrutura adequada nunca saíram de acordo com o planejado. Assim, desde a sua construção até os dias atuais a estrutura física do presídio de pedrinhas é completamente comprometida. (FREITAS, 2016; BRITO, 2017; MASULLO et al., 2020) Segundo os dados do INFOPEN (2019), o complexo penitenciário de pedrinhas encontra se em estado de superlotação, com cerca de 3.187 detentos e em todo o Estado a população carcerária alcançou 12.346. A construção de novos presídios no interior do Estado reduziu a concentração dos presos na capital maranhense e contribuíram para o aumento do quantitativo de pessoas com privação de liberdade, em municípios como Balsas, Caxias, Codó, Coroatá, Imperatriz e Timom (SOUZA, 2019; MASULLO, et al., 2020) Em 2018, o Maranhão passou a contar com 45 UPRs e 7 APACs, concentrando 46,6% dos presos do Estado. Ao Leste do Estado (Caxias, Timom, Codó e Coroatá) situam-se 13% e na região Sudoeste 7,5% (Imperatriz, Açailândia, Davinópolis e Porto Franco) da população carcerária lotada nos presídios maranhenses. Ensino de Geografia – Capítulo 2 45 Gráfico 1. Escolaridade das pessoas privadas de liberdade no Maranhão Fonte: INFOPEN, 2017. Organizado pelos autores (2021) A baixa escolaridade dos apenados influencia questões como o alto percentual de entrada e reentrada no sistema prisional. Segundo dados da SEAP (2019), aproximadamente 47,5% das pessoas que passam pelos presídios do Estado retornam, seja pelo mesmo crime anteriormente cometido, ou por cometer outro ato criminoso. Nitidamente, isso revela que a reinserção ou ressocialização do indivíduo não é cumprida, uma vez que dentro do sistema presidiário mais da metade das pessoas custodiadas possuem baixa escolaridade. No que concerne ao grau de escolaridade, o gráfico abaixo mostra que 45% dos detentos não possuem ensino fundamental completo, cerca de 10% são analfabetos e menos de 5% possuem ensino superior (MASULLO, et al, 2020). No que tange a realidade do sistema prisional brasileiro, os detentos maranhenses não se diferenciam dos demais apenados em todo o cárcere brasileiro, uma vez que estes em sua maioria são jovens, negros, primários e com um baixo grau escolar. Estes dados enfatizam a fragilidade dos modelos de aprisionamento e reforça a realidade de exclusão e marginalização que acontece com grande parcela da 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Analfabeto Alfabetizado Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Ensino acima de Superior Completo Não Informado Q u an ti ta ti v o e m % Ensino de Geografia – Capítulo 2 46 população, constatando assim que a educação fica em segundo plano para o estado (JUNIOR, 2014; CASTIGLIONI; FILHO, 2017). Dessa forma, as questões sociais relacionadas às desigualdades como as más condições de vida e falta de acesso à educação levam esses jovens a praticarem atividades ilícitas como um rápido meio de conseguir bens ou ate mesmo sobreviver. A relação escola e crime andam lado a lado, uma vez que a educação é uma condição para o acesso a uma qualidade de vida melhor, respaldando assim que o baixo nível escolar significa dificuldade de acesso à renda. O indivíduo uma vez excluído do mercado de trabalho por falta de qualificação, mesmo que mínima, o índice do individuo cometer delitos é alta, e o índice de saída é baixo (JUNIOR, 2014; CASTIGLIONI; FILHO, 2017). A educação para a ressocialização em um ambiente insalubre é um desafio extremo. Esta inserida em espaços de privação de liberdade enfrenta diversos desafios, desde a parte de estrutura física até a de metodologias de ensino adequadas à situação e ao meio, e principalmente a difícil tarefa de propiciar às pessoas que foram muitas vezes excluídas do ambiente escolar ou que devido a diversas circunstâncias abandonaram a educação formal, o retorno à escola (MASULLO, et al., 2020). Para que ocorra o processo de ressocialização do individuo faz-se necessária não somente a aplicação de uma privação de liberdade, mas também uma junção de ações destinadas a incentivar o apenado a resignificar sua percepção de mundo, uma vez que a efetivação do objetivo de ressocialização do apenado concerne na aplicação de mecanismos que possibilitem sua reinserção social, de forma que seja reintegrado à sociedade da melhor forma possível – sem que volte a realizar atos delituosos (ANDRADE, 2015). Nessa perspectiva, a chamada Educação em Espaços de Privação de Liberdade busca propiciar um reencontro do aluno com o ambiente escolar e promover neste ambiente, a construção individual e coletiva do Ensino de Geografia – Capítulo 2 47 conhecimento objetivando novas perspectivas para o futuro. O acesso à educação permite que o aluno construa um conhecimento critico do mundo, promovendo debates sobre questões políticas, econômicas e sócias, de modo que estes consigam resignificar o conteúdo com suas vivencias (SANTOS; FRANCO, 2018). BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO NA APAC DE IMPERATRIZ-MA Em Imperatriz, a Unidade prisional da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados - APAC foi criada em 31/10/2006, por meio de um convênio com o Poder Judiciário. Parte da manutenção e assistência da unidade prisional provem de voluntários que se identificam com a metodologia da APAC. As unidades prisionais APAC tem o método que possibilita uma maior integração entre o preso, a família e a sociedade, e isso faz com que ele sinta necessidade de corrigir seu erro e de reintegrar-se ao convívio social, seja por meio do estudo, seja por meio do trabalho (ZENKNER, 2017). Atualmente, a Unidade da APAC de Imperatriz possui 53 recuperandos. Todos os internos em situação de cárcere participam das atividades educativas, cursos de profissionalização e artesanato a partir da inserção nos seguintes projetos: Modalidade Educação de Jovens e Adultos - EJA; revisão de literatura; cursos profissionalizantes; religião com o projeto “viagem de um Prisioneiro”; malharia/artesanato, com cursos de costureiro (produção de tapetes de crochê); cursos de culinária com a produção de bolos, bombons e salgados; trabalhos de limpeza do ambiente alem do método APAC (ZENKNER, 2017). Nesse contexto, esta pesquisa buscou conhecer o perfil socioeconômico nos internos que são atendidos por esta Unidade. Os resultados aqui obtidos foram expostos a partir de gráficos, na qual nos dão uma maior visão acerca do perfil dos internos desta unidade. Ensino de Geografia – Capítulo 2 48 Dito isso, verifica-se a partir dos resultados do questionário que dos 32 internos que estão na Unidade Prisional APAC, 12 se encontram com faixa etária entre 50 a 60 anos de idade, representando 37% de todos os internos; 7 internos com idade entre 30 a 40 anos, representando 22% dos reclusos; 19% com idade de 20 a 30 anos; 16% com idade de 40 a 50 anos e com idades de 60 a 70 anos somam apenas 6% os apenados, como mostra o gráfico 2. Gráfico 2. Faixa Etária dos Internos – APAC de Imperatriz/MA Fonte: Os autores (2121) Em relação à questão étnico-racial dos internos da APAC, observa- se no gráfico 3, que 18 dos 32 internos reclusos na unidade se reconhecem como pardo, representando 58% de todos os internos; 7 internos se reconhecem como negro, representando 23% dos apenados; e apenas 19% dos internos se reconhecem como branco, gráfico 3. Isso reforça a vulnerabilidade social, e evidencia a diferença marcante entre os pardos e os brancos no cárcere. Mesmo com a maior parcela da sociedade maranhense, sendo composta por pardos e negros, segundo o IBGE (2020), os estereótipos de cor parecem funcionam efetivamente, como reflexo das desigualdades sociais no país. Outra 0 5 10 15 20 - 30 anos 30 - 40 anos 40 -50 anos 50 - 60 anos 60 - 70 anos Q u a n ti ta ti v o Faixa Etaria Ensino de Geografia – Capítulo 2 49 questão a ser ressaltada, é o baixo nível escolar, que amplia a vulnerabilidade das pessoas dentro do sistema prisional. Gráfico 3. Cor dos internos da APAC de Imperatriz/MA Fonte: Os autores