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Antropologia da Religião: Estudo das Práticas Religiosas

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ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO 
Me. Alexandre Figueira de Pontes Jr. 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. ANTROPOLOGIA E A RELIGIÃO 
 
Objetivo 
Apresentar o ramo da Antropologia que estuda as religiões e as práticas religiosas 
como integrantes do ser humano e suas interações socioculturais. 
 
Introdução 
A reflexão teórica sobre a experiência religiosa como experiência sociocultural, é 
uma das intenções da Antropologia no ramo das práticas religiosas. As diferentes visões 
de mundo e de humanidade que são criadas pelas religiões, somadas às consequências 
que o comportamento do praticante acarreta na vida social, são objetos de análise da 
Antropologia, uma vez que a religião está intrinsicamente vinculada ao ser humano. 
 
Acrescendo-se a isso o conceito de religião mais aceito pelos estudiosos, para 
efeitos de organização e análise, tem sido que trata-se de um sistema comum de crenças 
e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais 
específicos (SILVA, 2004). 
 
Assim, Antropologia e Religião estão unidas quando as análises antropológicas 
perpassam o comportamento da pessoa humana em relação ao que transcende de si ou 
de seu grupo social e alcança o sobrenatural. 
 
1.1. A Antropologia e Deus 
Temos que ter o claro entendimento que a Antropologia não pretende provar (ou não 
provar) a existência do transcendente, sob qualquer forma ou designação. Segundo Gomes 
(2008), são tantas as culturas e tantas as formas de reconhecer o transcendente, que a 
Antropologia acolhe a todos, acata os sentimentos e as visões de todas as religiões. Tudo 
o que estimule a fé e a crença, é acolhido pela Antropologia. 
 
Com relação ao fenômeno religioso, a Antropologia pretende compreender a 
maneira como o ser humano lida com aquilo que ultrapassa a compreensão no mundo 
físico. Outra questão de grande interesse para a Antropologia é a ocorrência do fenômeno 
religioso nas diversas culturas (LUZ et al., 2015), visto que cada uma encontrou sua forma 
de lidar com aquilo que não encontra explicação no mundo físico. 
 
 
2 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Dentre os ramos em que se divide a Antropologia, a Antropologia Cultural e Social é 
aquela que, inicialmente, se coloca como responsável pelos estudos sobre tudo que 
constitui uma sociedade, seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua 
organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de 
conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, suas criações artísticas (LAPLANTINE, 
2003) e, então, esse é o ramo que mais se aproxima da Antropologia da Religião. 
 
1.2. A Religião 
Embora tenhamos ouvido muitas coisas sobre religião e estejamos envolvidos em 
um contexto social e cultural marcado por ela, sentimos dificuldade em formar uma 
definição (ROSSI E CONTRERAS, 2021). Esse problema acerca da definição de religião 
abrange vários povos visto que, ao longo da história, a religião foi objeto de muitas 
interpretações. Ao tomarmos como exemplo o continente europeu, cuja cultura foi marcada 
pela hegemonia do cristianismo, para eles é natural que a ideia de religião esteja ligada à 
matriz religiosa cristã, não se recordando das outras religiões que compõem o cenário 
mundial. 
 
Esse é também um grande equívoco a ser superado no Brasil, onde comumente 
religião e cristianismo são confundidos com catolicismo. Isso igualmente se deve ao fator 
histórico uma vez que, no período de colonização, o poder civil e o religioso confundiam-se 
(ROSSI E CONTRERAS, 2021). Assim, o catolicismo foi tomado como sinônimo de 
cristianismo no Brasil. 
 
Contudo, outras religiões coexistem com o cristianismo: o budismo, o judaísmo, o 
espiritismo e as religiões de matriz africana. Além disso, devem ser consideradas as 
diversas vertentes do próprio cristianismo, tais como: católico romano, evangélico, batista, 
metodista, ortodoxo russo etc. 
 
Para apresentarmos uma definição ou um conceito de religião, podemos tomar as 
palavras de Geertz (2008) que afirma que religião é um sistema de símbolos que atua para 
estabelecer poderosas, penetrantes e duradoras disposições e motivações nos homens 
através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas 
concepções como uma aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem 
singularmente realistas. 
 
 
3 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Também Mobbs et al. (2020) define religião como sendo um sistema de práticas e 
crenças. Essas práticas e crenças sempre olham para um sagrado, em uma busca 
constante por uma aprovação, uma benção, uma ação, um olhar divino. A religião é um 
sistema solidário, formado pela concordância e pela harmonia entre seus membros e 
adeptos. 
 
Para Durkheim (2000), religião é um sistema solidário de crenças e de práticas 
relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem 
numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles que a ela aderem. 
 
É importante destacar que não há como estudar as culturas sem considerar os 
aspectos religiosos dessas populações humanas. A religiosidade não se restringe a um 
determinado espaço geográfico ou a um povo particular. O ser humano desenvolveu 
maneiras de lidar com os desafios da vida, com a morte, com catástrofes naturais etc. e a 
essas relações do ser humano estão inseridas na religião. 
 
Não há religião que não esteja inserida numa sociedade e num ambiente simbólico 
e cultura, assim como não há sociedade ou cultura que não apresente algum tipo de sistema 
de crenças religiosas (GUERREIRO, 2013). 
 
1.3 Antropologia da Religião 
A Antropologia da religião considera o ser humano a partir de conceitos religiosos. 
Seu surgimento ocorre no século XIX, ligado diretamente às questões ideológicas e a uma 
valorização das religiões (PEREIRA, 2016, apud MOBBS et al, 2020). 
 
A antropologia da religião não nasceu como área específica, mas por vias paralelas 
como um esforço de compreensão das diferenças entre os povos, seja ele um aborígene 
da Oceania, um negro do interior da África ou um índio da Amazônia. Isso ocorreu à medida 
que a sociedade europeia avançava por sobre os outros povos e por outros continentes, 
impondo a necessidade de compreender quem era aquele outro, que naquele momento já 
era visto como um ser humano, mas que em nada se assemelhava a um civilizado. Na 
comparação desses outros povos com o europeu branco, cristão e civilizado, o que mais 
chamava a atenção na era o fato de haver um enorme fosso no universo de compreensão 
 
 
4 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
e visão do mundo e nos hábitos um tanto exóticos daqueles nativos. Não se reconhecia 
nessas crenças uma verdadeira religião (GUERREIRO, 2013). 
 
Analisar o diferente passava por analisar as diferentes formas religiosas, fossem elas 
consideradas por animistas, mágicas, míticas ou até pré-lógicas. Sobre as religiões, a 
comparação se dificultava, pois, afinal, seriam somente as monoteístas, reveladas e 
denominadas religiões do livro. Num grande esforço, poderiam ser incluídas como religião 
as grandes tradições do Oriente, como as religiões da Índia, da China e do Japão. Já os 
povos primitivos eram considerados como portadores de uma mentalidade primitiva, que 
enxergava feitiçarias e animismos em todos os lugares(GUERREIRO,20013). 
 
A busca da Antropologia da Religião é por compreender como o ser humano foi, e 
continua sendo, visto por si mesmo e pela religião, esta considerada uma das suas mais 
significativas e originais manifestações culturais. Na Antropologia da Religião faz-se uma 
análise de cada uma das religiões, mesmo aquelas mais conhecidas, com uma 
antropológica do fenômenoreligioso. Podemos nos reportar a manifestações culturais e 
religiosas do mundo, de forma especial àquelas mais conhecidas e as que mais influenciam 
a vida das comunidades. Há um esforço para se perceber a riqueza de cada uma das 
diversas visões antropológicas derivadas das mais diversas culturas e religiões, desfazendo 
preconceitos, refazendo o pensar sem abdicar da crítica (Oliveira/PUC Goiás). 
 
No olhar de José Lisboa Oliveira / PUC Goiás, podemos dizer que a Antropologia da 
religião é a antropologia da transcendência pois produz significados para além do que 
acontece no cotidiano, não se tratando de um simples retorno às tradições religiosas, mas 
também a interpretação dessas tradições. O que se pretende com a Antropologia da religião 
é estudar o significado que a experiência religiosa proporciona às ações e situações 
cotidianas, além de, logicamente, conhecer as causas e buscar explicações para o 
fenômeno religioso. 
 
Nesse trabalho conjunto entre religião e antropologia, fica claro que nenhuma das 
duas perde, pois, os resultados das análises científicas não têm a finalidade de contradizer 
a religião ou de confirmar o que é por ela dito. O que se pretende é contribuir para que se 
percebam as diferenças em um mundo que é globalizado e plural. E pretende-se que essa 
percepção contribua para a superação de mentalidades colonizadoras, discriminatórias, 
 
 
5 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
preconceituosas e exploratórias, que, muitas vezes, se expressam de uma forma mais 
significativa na experiência religiosa (CAMURÇA, 2008). 
 
Assim, concluindo, pode-se afirmar que a Antropologia da religião busca refletir sobre 
o fenômeno religioso e compreender o ser humano presente em manifestações culturais e 
religiosas. Isso contribui para a construção de uma civilização que tenha seus princípios 
baseados em valores como a verdade, a bondade, a justiça, a solidariedade, a beleza e o 
amor. Também ajuda na superação de uma visão consumista e egoísta, além de colaborar 
na busca de uma ética que objetive o bem-estar integral das pessoas que compõem a 
sociedade (OLIVEIRA/PUC Goiás). 
 
O conhecimento da realidade e da verdade não é uma apenas uma finalidade de 
estudo, pois as pessoas conhecem para se aperfeiçoarem. Portanto, o que se pretende 
com o conhecimento é o bem do ser humano, que, contudo, é uma realidade complexa que 
aumenta mais quando passamos do plano da ação para o plano do ser. Tomamos, por 
exemplo, a atividade religiosa que apenas o ser humano desenvolveu na face da Terra, 
sendo um aspecto universal da cultura que, juntamente com a magia, tem despertado o 
interesse de muitos cientistas desde o século passado. Todas as populações estudadas 
pelos antropólogos demonstraram possuir um conjunto de crenças em poderes 
sobrenaturais de alguma espécie (MARCONI; PRESOTTO, 2006). 
 
Tal fato demonstra que o ser humano é religioso, aberto ao infinito, que busca ao 
ponto de ir até realidades fora de si mesmo. É um ser auto transcendente, capaz de se 
superar, e que, diferentemente dos animais, possui “alma” – traduzida como uma realidade 
profunda e singular que que não pode ser totalmente conhecida pelos outros. Uma porção 
interior que não pode ser violada. Isso apresenta um ser que possui algo além daquilo que 
vemos. 
 
A experiência demonstra que, ainda nos dias atuais, os seres humanos tentam 
conquistar ou dominar, pela oração, oferendas, sacrifícios, cantos e danças, a área do seu 
universo não submetida à tecnologia (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Essas mesmas 
crenças possuem pelo menos 150 mil anos, como nos certificam os registros arqueológicos 
sobre religião que datam do Paleolítico Superior, com o homem de Neandertal enterrando 
seus mortos com oferendas, demonstrando acreditar em algo sobrenatural. (Ibidem) 
 
 
6 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A Antropologia da religião quer estudar esse ser que tem o desejo de não morrer, de 
sobreviver; que possui uma consciência de ser habitado por uma luz que nenhuma potência 
é capaz de extinguir; que é a verdadeira forma de viver dos homens e mulheres da 
atualidade. 
 
 
 
Os fenômenos religiosos são estudados na Arqueologia da Religião, bem como 
o próprio ser humano presente em tais manifestações. 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino. 
 
 
 
 
 
 
 
7 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. O SAGRADO E O PROFANO 
 
Objetivo 
Apresentar as diferenças entre o sagrado e o profano e fazer compreender que são 
opostos, porém são interdependentes nas manifestações religiosas. 
 
Introdução 
Um elemento comum nas estruturas religiosas é formado pelo binômio sagrado-
profano. O sagrado é o sentido da divindade e se reveste de força e poder que rompe a 
condição de normalidade da vida e os esquemas habituais. Por tal razão, o sagrado 
significa “separado” e algo que não pode ser apreendido ou aprisionado (TERRIN, 2004). 
 
O profano, por sua vez, corresponde àquilo que está fora do sagrado, fora do templo, 
do espaço sacro ou diante dele. Profano é o que é normal, o que não causa medo, o que 
pode ser explicado (TERRIN, 2004). Segundo Marconi e Presotto (2006), o profano significa 
“o cotidiano, o natural, o comum; implica atitude de aceitação, familiaridade, do conhecido”. 
 
2.1. A dicotomia entre Sagrado e Profano 
 Mircea Eliade (2018) apresenta em sua obra “O Sagrado e o Profano - Essência das 
Religiões” que o ser humano toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta 
como algo completamente diferente do profano. Eliade indica esse ato da manifestação do 
sagrado com o termo hierofania que nos dicionários consta exatamente como aparecimento 
ou manifestação reveladora do sagrado (do grego hieros = sagrado e faneia = manifesto). 
Segundo o autor, hierofania surge na história das religiões num número considerável de 
vezes em vista das manifestações das realidades sagradas. 
 
 Não existe interrupção nas hierofanias, desde a mais simples dela, como a 
manifestação numa árvore, até a hierofania suprema, que, para os cristãos, seria a 
encarnação de Deus em Jesus Cristo. Sempre nos encontramos diante do mesmo ato 
misterioso: a manifestação de uma realidade que não pertence ao nosso mundo em objetos 
que fazem do nosso mundo natural, profano (Eliade, 2008). 
 
 A dicotomia entre o sagrado e o profano é tão importante para as religiões que, não 
por acaso, esta foi uma dicotomia amplamente discutida por Durkheim. “Todas as crenças 
 
 
8 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
religiosas conhecidas, sejam simples ou complexas, têm um mesmo caráter comum: 
pressupõem uma classificação das coisas reais ou ideias que se apresentam aos homens, 
em duas classes ou em dois gêneros opostos, definidas geralmente com dois termos 
distintos – traduzidos bastante pelas designações de profano e sagrado. A divisão do 
mundo em dois domínios que compreendem um: tudo o que é sagrado, e o outro: tudo o 
que é profano, é o caráter distintivo do pensamento religioso: as crenças, os mitos, as 
gnomas, as lendas são representações, ou sistemas de representações que exprimem a 
natureza das coisas sacras, as virtudes e poderes a elas atribuídos, sua história, suas 
relações recíprocas e com as coisas profanas. Mas por coisas sagradas não é preciso 
entender apenas aqueles seres pessoais que vêm denominados com deuses ou espíritos: 
uma rocha, uma fonte, uma pedra, um pedaço de lenha, uma casa, em suma, qualquer 
coisa pode ser sagrada” (DURKHEIM apud MELLO, 2013). 
 
 Sobre o binômio sagrado/profano, Eliade (2018) afirma que o sagrado e o profano 
constituem apenas dois modos diferentes, duas modalidades existenciais assumidas pelo 
ser humano. A relação entre os dois, bem como o modode entender essas realidades vai 
depender do grau de conhecimento científico adquirido pela pessoa. Assim concordando 
com Durkheim, as coisas sagradas podem ser coisas simples e fazer parte de mundo e o 
entendimento dessa realidade vai depender da pessoa e seu próprio grau de conhecimento 
científico. 
 
 
 
David Émile Durkheim foi um psicólogo, filósofo e sociólogo francês do século 
XIX que junto com Karl Marx e Max Weber compõe a tríade dos pensadores 
clássicos da Sociologia. No campo Antropologia, tiveram maior repercussão as 
suas publicações tardias, após 1897, em que o autor investe mais 
decisivamente no estudo dos fenômenos religiosos. 
 
 Em um entendimento bastante simplificado, o sagrado se constitui em tudo que 
o ser humano diviniza. Do ponto de vista antropológico, conclui-se que é o ser humano 
que torna sagrado determinada coisa ou ritual, sendo que aquilo que é sagrado em 
uma religião pode não ser na outra. O sagrado é único em cada religião, contudo, de 
acordo com Eliade (2018), “O homem ocidental moderno experimenta um certo mal-
estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar 
 
 
9 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou 
árvores, por exemplo”. 
 
 Cada indivíduo, a partir da sua experiência religiosa, passa a ter uma visão 
diferente de tudo o que existe no cosmo; as coisas passam a ter outros valores e 
significados, pois a experiência religiosa muda a visão do indivíduo. Igualmente, para 
o homem religioso há valores diferentes para o espaço sagrado e para o espaço 
profano. Conforme menciona Eliade (2018), “há, portanto, um espaço sagrado, e por 
consequência “forte”, significativo, e há outros espaços não sagrados, e por 
consequência sem estrutura nem consistência, em suma, amorfos”. Já para o homem 
profano, o espaço sagrado é neutro, não possui significado espiritual, visto que sua 
mente está purificada da sacralidade da religião. 
 
 Sobre o domínio do sagrado, Malinowski (1984) afirma que ele não é nem culto 
da natureza, nem exclusivamente veneração do espírito, tampouco culto dos 
antepassados. De acordo com o autor: “A religião não se prende a qualquer objeto ou 
classe de objetos, embora ocasionalmente possa tocar ou venerar todos”. 
 
 Três instâncias antropológicas são apontadas pelos estudiosos como 
contribuintes para a criação do sagrado: o medo, o poder e o desejo (TERRIN, 2004). 
O medo, além de um sentimento, se mostra como uma experiência concreta de se 
encontrar em desvantagem. O poder é compreendido como o que a pessoa descobre 
de “sobrenatural” no mundo e que lhe causa assombro. O fenômeno se torna mais 
poderoso e prepotente, quanto mais inexplicável ele for. O desejo, por sua vez, 
corresponde à necessidade de salvação que sentem os seres humanos, tratando-se 
da busca da própria totalidade, da procura de algo que preencha a própria existência. 
Essa busca de completude vai desde o desejo de resolver pequenos problemas, 
pessoais e sociais, até a necessidade de encontrar meios para enfrentar situações 
desastrosas e complicadas. 
 
 Para a criação do sagrado, os antropólogos falam também de variáveis que 
modificam as três instâncias antropológicas (TERRIN, 2004). A primeira delas seria a 
concepção do divino pois a ação dos deuses sobre os humanos vai depender do modo 
como as pessoas concebem esse sobrenatural: se a concepção de divindade é 
monoteísta a sua ação sobre os humanos será bem diversa daquela na qual se aceita 
 
 
10 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
o politeísmo. A segunda variável é a configuração social e depende do modo como o 
grupo social está organizado: a ideia do divino pode incutir medo e terror ou pode 
proporcionar segurança e tranquilidade: numa ditadura a ideia de deus está associada 
à insegurança e ao pavor, enquanto numa situação de mais democracia e respeito 
pela dignidade da pessoa, a concepção de deus pode propiciar um sentimento de paz 
e de tranquilidade. Já a terceira variável corresponde ao grau de conhecimento 
científico das pessoas e culturas. Na medida em que as pessoas avançam nos 
conhecimentos científicos elas tendem a compreender melhor a realidade, não sendo 
mais necessário “incomodar os deuses” para explicar certos fenômenos. De fato, se 
os resultados da ciência não beneficiam todas as pessoas, os excluídos e as excluídas 
tendem a correr atrás de magos, xamãs, videntes, cartomantes, curandeiros para 
tentar resolver aquilo que o progresso científico não consegue resolver (TERRIN, 
2004). 
 
 Uma pergunta recorrente é: como se originou a ideia de sagrado? Pelas 
palavras de Gomes (2008), o sagrado origina-se do sentimento que junta as pessoas 
e as faz sentir como se pertencessem umas às outras, em uma comunhão de 
identidade coletiva, que está acima de cada indivíduo. O profano é aquilo corriqueiro 
que pode ser compreendido e calculado pelo interesse individual. O sagrado é aquilo 
que a cultura, enquanto coletividade, reconhece como merecedor de respeito e 
reverência pois toca a todos. O sagrado é o ponto onde diferentes pessoas se 
encontram. As pessoas se ocupam de diferentes funções no cotidiano, contudo o 
sagrado é o elemento de aproximação entre as diferenças. O sagrado é o que toca de 
uma mesma forma as pessoas de uma determinada religião, é o espaço onde as 
pessoas fortalecem os vínculos e formam uma unidade. O sagrado exige uma postura 
diferenciada da pessoa que crê, pois o sagrado incorpora o mistério que exige uma 
postura de respeito, de entrega e de veneração. Nesse sentido, “as coisas sagradas, 
por sua vez, exigem uma certa postura de respeito e apresenta, quase sempre, uma 
característica de tabu. Não se deve tocá-las impunemente, não se deve delas comer 
a não ser em certas circunstâncias, dentro do cerimonial em geral”. (MELLO, 2013) 
 
Quem profana o sagrado pode receber um castigo, que vai desde penas leves 
até penas mais severas, como acontece com a excomunhão ou o banimento do grupo 
religioso. A dicotomia do sagrado e do profano dá a oportunidade para a intermediação 
de um sacerdote. A existência dessa polaridade é que sustenta a necessidade do 
 
 
11 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
sacerdote, pois “não haveria necessidade de mediação sacerdotal se o sagrado e o 
profano coincidissem”. (TERRIN, 2004). 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino. 
 
 
 
 
 
12 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. OS AGENTES INTERCESSORES ENTRE O SAGRADO E O 
PROFANO 
 
Objetivo 
Apresentar os intercessores entre o sagrado e o profano, as diferentes formas de 
atuação de cada um bem como sua interação com o ser humano e a divindade. 
 
Introdução 
Estabelecer uma relação com a divindade: isso é o que o ser humano pretende por 
meio da religião. Os indivíduos procuram, em meio às atividades cotidianas da vida, 
encontrar um espaço de tempo ou mesmo um intercessor que consiga de alguma forma 
ajuda-los no processo de encontro com o transcendente. Há três elementos que 
fundamentam esse processo: o binômio sagrado/profano, a figura do mediador e as crenças 
envolvidas no ato religioso. O sagrado e o profano aparecem da necessidade de demarcar 
um espaço, estabelecer uma crença, uma prática, palavras ou outras coisas que delimitem 
onde começa e termina o primeiro e onde começa e termina o segundo. O intermediador é 
o elo entre esses dois aspectos: da materialidade e da imaterialidade, entre a 
espiritualidade e o mundo físico, entre o celestial e o terreno. O intermediador é aquele que 
fala dos homens ao divino e do divino aos homens. 
 
3.1. A figura do intermediador 
As mais diversas figuras podemos encontrar entreo sagrado e o profano. São elas 
as responsáveis por ser a ligação entre um e outro. Essa figuras são intermediadores, que 
têm a função de estabelecer a relação entre as duas partes, pois são os responsáveis por 
intervir para aplacar a ira dos deuses e apresentar ao transcendente os anseios do povo. 
Segundo Terrin (2004), pelo menos quatro tipos de mediadores foram identificados 
pelos antropólogos: o xamã, o rei-sacerdote, o profeta e o monge. 
 
Resumidamente, temos que, sobre o xamã (do sânscrito sraman, “o eleito das 
divindades”), podemos afirmar que usando a técnica do êxtase, do transe e do sonho 
descobre formas para curar doenças ou para assegurar a passagem do falecido para o 
além. Nessa mesma linha, outras figuras podem ser colocadas: o mago, o adivinho e o 
pajé, típico de algumas culturas indígenas brasileiras. 
 
 
13 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Quanto ao rei-sacerdote, este era o intermediador que era considerado como o único 
e verdadeiro mediador entre a divindade e a humanidade. O rei-sacerdote era considerado 
filho da divindade, o que contribuía para a crença na superioridade do rei e para o 
fortalecimento da ideologia da realeza sagrada. Alguns imperadores romanos chegaram a 
exigir dos súditos o culto à sua pessoa com base nesse princípio. 
 
O profeta é o terceiro tipo de intermediários, os quais tiveram, e ainda têm, um papel 
decisivo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. O profeta sente o chamado da 
divindade e não resiste ao seu apelo. O profeta é aquele que é “agarrado” e “subjugado” 
pela divindade, “forçado” a ser seu porta-voz. De uma forma geral, os profetas denunciam 
situações de injustiça e de opressão que são consideradas ofensa à divindade. 
 
Já o quarto tipo, o monge, é encontrado, principalmente, nas religiões chamadas 
orientais. Normalmente o monge não tem poder, não exerce pressão sobre as pessoas, 
não tenta capturar a divindade. Sua mediação se fundamenta essencialmente na força que 
vem do seu exemplo, da sua simplicidade e pobreza, da sua pureza e amabilidade. 
 
 
 
Os quatro tipos de intercessores são observados em todas as formas de 
religião, cada um sendo adequado aos praticantes e à forma como o 
transcendente se apresenta. 
 
 
 
 3.1.1. O Xamã 
Essa é a primeira forma de intermediador que se encontra na história, principalmente 
em nível etnológico (TERRIN, 2004). Juntamente com a figura do xamã, podemos encontrar 
o mago, o adivinho e o vidente. O xamã é o líder espiritual no xamanismo, sendo o 
responsável por dar segurança ao seu povo em vista das fragilidades dos seres humanos 
perante as forças da natureza. Ele é o responsável por fazer a ligação entre o mundo físico 
e o mundo espiritual. 
 
Para os xamãs exercerem sua função é necessário que recebam uma aprovação 
coletiva na qual são avaliados vários aspectos de suas vidas. De uma maneira geral, nas 
 
 
14 Antropologia da Religião 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
comunidades existem vários jovens que são considerados como possuidores de virtudes 
xamanísticas. Nas várias provas pelas quais passam, são evidenciadas suas capacidades 
e habilidades. Eles devem demonstrar coragem para enfrentar os espíritos da floresta e 
também demonstrar poder sobre esses espíritos (MELLO, 2013). 
 
 
Figuras ilustrativas de xamãs com ligações com a natureza, disponíveis em 
https://www.ceunossasenhoradaconceicao.com.br/xamanismo/o-que-e-xamanismo-e-a-
volta-dos-xamas/ acesso em 05/02/2023. 
 
Uma grande importância é dada à coragem, pois o xamã é responsável por dar 
segurança para seu povo frente ao desconhecido e frente às intempéries da vida. O xamã 
deve liderar o povo mantendo a ordem natural das coisas em meio ao caos. E o xamã não 
pode temer o desconhecido nem os espíritos da floresta para poder levar a termo suas 
funções. A coragem do xamã deve ser bastante para se impor e dominar os espíritos. 
 
Entre os ameríndios, a figura do xamã sempre foi temida e respeitada, não 
importando a denominação pela qual fosse conhecida nas diversas tribos, podendo ser os 
“homens-medicina”, de poderes ilimitados dentro da sua área de ação que curava doentes, 
faziam chover, comunicavam-se com o transcendente e outros seres sobrenaturais 
(BEZERRA, 1980). 
 
Era comum que houvesse grande temor diante de uma figura com tanto poder para 
interferir na vida e no destino das pessoas e o poder sobrenatural que o xamã possuía 
poderia ser utilizado para o bem ou para o mal. Em vista de seu poder de interferir na 
natureza e curar os doentes, o xamã gozava de prestígio e respeito e sua figura era 
reverenciada entre seu povo. 
https://www.ceunossasenhoradaconceicao.com.br/xamanismo/o-que-e-xamanismo-e-a-volta-dos-xamas/
https://www.ceunossasenhoradaconceicao.com.br/xamanismo/o-que-e-xamanismo-e-a-volta-dos-xamas/
 
 
15 Antropologia da Religião 
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Em uma pesquisa realizada pelo antropólogo Charles Wegley, na década de 1940, 
entre os índios Tapirapé, o pesquisador conseguiu enumerar as obrigações de um xamã 
pajé: 
 
a) Tratar dos doentes da aldeia. O fumo era utilizado invariavelmente nos rituais de 
cura. A defumação, tão utilizada hoje nas sessões de Umbanda, ali é praticada com todos 
os requintes e em todos os acontecimentos xamanísticos; 
b) Cabe também aos pajés proteger os Tapirapé contra os espíritos. Entre esses 
índios, o medo dos espíritos das flores (os Anhangá) ou dos mortos é muito forte e pode 
causar desmaios e cenas de incontrolável pavor; 
c) Uma obrigação muito importante do pajé dá-se por ocasião da gravidez. Embora 
esses índios saibam que a gravidez está relacionada com a relação sexual, esta não é a 
condição suficiente para que ela ocorra, “acreditam que a concepção só é possível quando 
um pajé ‘traz uma criança para a mulher’”. Essa gente acredita que várias espécies de aves 
e peixes, bem como o trovão, possuem ou dominam os “espíritos das crianças”, cabendo 
ao pajé consegui-los; 
d) A segurança é também tarefa dos pajés. É ele quem deve proteger as pessoas 
contra os ataques dos animais ferozes. A ele cabe dominar as serpentes e os jacarés; 
e) Outra obrigação do pajé ou dos pajés é a do suprimento de alimentos. A ele cabe 
atrair as varas de porcos do mato e outros animais que servem de alimento para os índios 
Tapirapé. Os pajés também se encarregam de provar e aprovar os alimentos para consumo 
na aldeia. As primícias passam, assim, sempre pelas mãos dos pajés (MELLO, 2013). 
 
Podemos observar que o pajé possui uma grande responsabilidade com a 
estabilidade e sobrevivência da tribo. Essas funções tornam o pajé uma figura de grande 
importância dentre seu povo. Entretanto, por serem considerados feiticeiros, muitos deles 
são assassinados. Outro fator de risco para os pajés é o fato de se oporem à exploração 
de suas terras, sendo objeto de ódio dos que se sentem ameaçados devido ao seu 
posicionamento protecionista da sua aldeia. 
 
3.1.2. O Rei-Sacerdote 
Outra figura de intermediador é a do rei-sacerdote, sendo considerada mais 
importante do que a figura do xamã. Sabe-se da importância e da excelência de sua 
mediação sacerdotal em vista de estudos realizados em torno dessa figura histórico-
 
 
16 Antropologia da Religião 
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religiosa. Para os historiadores das religiões, o rei seria o único verdadeiro intermediador 
entre o transcendente e os homens, tendo origem divina e podendo realizar a sua tarefa 
com absoluta competência (TERRIN, 2004). Podemos nos deparar na Bíblia Sagrada com 
o caso de Melquisedeque, que é apresentado com Rei de Salém e sacerdote do Deus 
Altíssimo. 
 
Os reis-sacerdotes estão presentes em diversas culturas e povos, sendo a extensão 
dessa concepção é verdadeiramente sem limites: entre as grandes civilizações do mundo 
antigo,observamos o rei diretamente relacionado com a divindade no Egito, na 
Mesopotâmia, China, Japão, Pérsia e México (TERRIN, 2004). 
 
Entre os reis-sacerdotes, podemos destacar a importante e enigmática figura de 
K’inich Janaab’ Pakal, que viveu no império Maia aproximadamente entre os anos de 603 
a 683 d.C. Começou a reinar desde os 12 na cidade de Pelenque, que foi sede do estado 
maia de B’aakal, tendo vivido por 80 anos. O achado de sua tumba é considerado um 
importante evento arqueológico e foi encontrada no interior de uma pirâmide. 
 
 
Máscara que pode representar o rei maia Pakal, o grande, descoberta no México. 
Disponível em https://ciberia.com.br/mascara-rei-maia-pakal-44464/attachment/44466 
acesso em 05/02/2023. 
https://ciberia.com.br/mascara-rei-maia-pakal-44464/attachment/44466
 
 
17 Antropologia da Religião 
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A história romana nos apresenta um importante fato, quando os imperadores, diante 
da recusa dos cristãos de reconhecê-los como deuses, desencadearam intensas 
perseguições e inúmeras mortes. A postura dos cristãos frente às exigências de que era 
necessário prestar culto ao imperador era incompatível com sua fé, diante disso foram alvos 
da fúria dos imperadores romanos que exigiam adoração à sua personalidade. Outra 
civilização em que a figura do rei-sacerdote era intensamente reverenciada, era no Egito, 
onde o Faraó era o sacerdote responsável pelo equilíbrio do universo, do Maat: era o rei 
sagrado e o “filho de Deus”, o que o tornava o mediador único, seja do nível inferior ao 
superior, seja a partir da própria divindade. Ora, isso implicava que todos os atos de culto 
fossem realizados por ele, pois tudo estava em suas mãos. (TERRIN, 2004). Tendo, 
portanto, uma grande sobrecarga de afazeres políticos e religiosos. O rei-sacerdote 
delegava os seus poderes às classes sacerdotais que, no caso do Egito, vieram a se tornar 
muito numerosa. Apesar de serem delegados do rei, os sacerdotes não tinham nenhum 
poder pessoal. Assim, é necessário separa sacerdote a título pleno e sacerdote delegado, 
visto que este situa-se no plano da simples execução e não do poder e da autoridade 
(Ibidem). 
 
No antigo Egito, o termo Faraó se constituía no título atribuído aos reis, que era o 
sacerdote em sentido absoluto, enquanto os demais eram sacerdotes com poderes 
limitados, visto que eram referentes a um sacerdócio delegado pelo Faraó e, portanto, o 
limite estava na vontade do rei, que era o governante supremo e capaz de decidir sobre 
tudo e todos. 
 
Sendo o Faraó o sacerdote supremo do Egito, lhe era dado um sentido divino, pois 
na mitologia egípcia o Faraó tinha origem divina. Assim, este fator lhe conferiam um grande 
poder sobre seu povo e os demais que estavam sob seu domínio. De acordo com Terrin 
(2004), “atualmente ainda existem resíduos dessa realeza divina que no passado se 
estendia a quase toda parte. O imperador japonês Hirohito considerava sua mãe a deusa 
do sol Hamaterasu; só depois da Segunda Guerra Mundial ele foi obrigado a confessar aos 
súditos que sua origem era humana e não divina.” 
 
Pelo fato da religião ser algo, em sua essência, abstrato, é comum que o povo atribua 
a divindade ou o poder de intermediação entre o transcendente e o mundo físico a uma 
determinada figura. Sabe-se que atualmente, em vista dos sistemas culturais e políticos 
modernos, é muito difícil que um chefe de Estado se ponha como intermediador entre o 
 
 
18 Antropologia da Religião 
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divino e os humanos. Dentre outros fatores, isso decorre da laicização dos estados 
modernos, que caminham mais e mais no sentido de separar a religião da estrutura do 
Estado. Ainda que existam muitos Estados nos quais a religião tem forte influência na 
elaboração e aprovação de leis, é provável que essa influência diminua à medida que a 
democracia ganhe espaço. 
 
3.1.3. O Profeta 
O profeta é a pessoa responsável por anunciar a mensagem de Deus ao povo e, 
tanto no judaísmo como no islamismo, os profetas foram muito importantes. Podemos 
perceber que na história judaica os profetas exerceram papéis de liderança junto ao povo 
por terem conquistado a confiança do povo por meio de suas mensagens. Os profetas eram 
ouvidos e eram vistos pelo povo como uma liderança confiável em meio às crises. 
 
Contudo, muitas vezes os profetas eram rejeitados pelo povo por se oporem a 
determinadas práticas, condenando tais práticas em suas mensagens. Segundo Heiler 
(apud TERRIN, 2004), “alguém se torna sacerdote por nascimento, instrução e 
consagração, monge por escolha livre; o profeta, porém, é ‘chamado’: é agarrado, 
subjugado, forçado pelo Espírito divino”. No ministério profético, esse fato é importante, 
pois, de maneira diferente do sacerdote, o profeta não precisava ser um conhecedor das 
leis de Deus ou da religião. Seu ministério resultava de um chamado divino pois o profeta 
era o indivíduo escolhido por Deus 
para falar em seu nome, sem 
qualquer relação com o seu grau de 
instrução, parentesco, ou qualquer 
outra habilidade exigida para outras 
funções religiosas. Convém destacar 
que os sacerdotes e reis também 
poderiam ser profetas pois os 
profetas poderiam surgir em qualquer 
classe social. 
 
Ilustração do profeta Ezequiel, obtida em 05/20/2023 em 
http://www.pregandoaverdade.org/2019/08/curiosidades-no-livro-do-profeta.html 
 
http://www.pregandoaverdade.org/2019/08/curiosidades-no-livro-do-profeta.html
 
 
19 Antropologia da Religião 
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 A religião judaica está assentada sobre a pessoa dos profetas, que vão desde 
Abraão até os profetas pós-exílicos. O sacerdócio é a religião na forma institucional. 
Segundo Terrin (2004), “poderíamos dizer que nela estão presentes dois tipos de mediação: 
a profético-carismática, de caráter mais imediato, e a institucional, mais rígida, com funções 
diferentes em diferentes épocas”. Podemos destacar, então, que o ministério dos profetas 
estava ligado ao carisma, ou seja, o profeta era procurado pelo povo de maneira voluntária 
enquanto o sacerdócio era uma função institucionalizada, onde o povo tinha a obrigação de 
procurá-los para que fosse feita a mediação entre o povo e o transcendente. Em 
decorrência disso, aconteceram momentos na história judaica em que o sacerdócio se opôs 
ao ministério de alguns profetas. 
 
 Segundo o Centro Islâmico Brasileiro do Paraná, o islamismo também acredita nos 
profetas, não apenas no Profeta Muhammad – Maomé, mas nos profetas hebreus, incluindo 
Abraão e Moises, bem como nos profetas do Novo Testamento, Jesus e João Batista. 
 
 O Islã preconiza que Deus não enviou profetas apenas para os judeus e cristãos, 
mas foram enviados profetas para todas as nações do mundo com uma mensagem central: 
adorar somente a Deus. Os muçulmanos devem acreditar em todos os profetas enviados 
por Deus mencionados no Alcorão, sem fazer qualquer distinção entre eles sendo Maomé 
enviado com a mensagem final e não existem profetas depois dele, visto que nele Deus 
completou sua mensagem para a humanidade. 
 
 No islamismo podemos perceber dois tipos de profetas: aqueles que receberam a 
missão de mostrar ao povo a vontade de Deus e aqueles que receberam também uma 
escritura revelada além de mostrar ao povo a vontade de Deus. Neste último grupo, 
encontramos Muça (Moisés) que recebeu como escritura revelada a Torá, equivalente ao 
Pentateuco para os judeus, que é parte do Antigo Testamento da Bíblia para os cristãos. 
 
 O primeiro profeta foi Adam (Adão) e após sua expulsão do Jardim do Éden, Deus 
perdoou sua falta. O penúltimo profeta foi Issa (Jesus), que o islamismo acredita ter 
profetizado a vinda de Muhammad (Maomé). Os muçulmanos aceitam o nascimento de 
Issa de uma virgem, mas acreditam que e ele ascendeu aos céus e não tenha morrido 
numacruz. 
 
 
 
20 Antropologia da Religião 
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 Para o islamismo, todos os profetas são humanos e não seres divinos; os 
muçulmanos acreditam em todos eles sem fazer distinção, e, em sinal de respeito, 
acrescentam “que a Paz e a Benção de Deus estejam sobre ele” quando se referem ao 
nome de um profeta. 
 
 No Islã, cinco profetas recebem uma atenção especial: Nuh (Noé), Ibraim (Abraão), 
Muça (Moisés), Issa (Jesus) e Mohammad (Maomé), este o último dos profetas e, por esse 
fato, é chamado de “o Selo dos Profetas”. 
 
 Noé é conhecido em três religiões monoteístas: o judaísmos, o cristianismo e o 
islamismo. No Islam., a história de Noé é muito semelhante àquela que encontramos na 
Bíblia, porém, no Alcorão encontramos mais detalhes. O Profeta Noé viveu em um tempo 
de pecado e a degradação pareciam absorver as pessoas. Poucas pessoas eram guiadas 
e as que seguiam a religião de Abraão eram fracas (STACEY, 2019). Quando Noé advertia 
as pessoas sobre o castigo de 
Deus, estas se ressentiam, ficavam 
bravas e não escutavam suas 
palavras. Apesar da vergonha e do 
escárnio, o Profeta Noé continuou a 
chamar o povo de volta à adoração 
do Único Deus verdadeiro por um 
período de 950 anos (Ibidem). 
 
Ilustração do profeta Noé (Nuh) obtida no site 
 https://www.youtube.com/watch?v=RD15A7sYE74 acessado em 05/02/2023. 
 
 Sobre Abraão, encontramos as palavras de Stacey (2019): “o profeta Ibrahim foi um 
Profeta de Allah e tem a honra de ser descrito por Allah como Khalil-Allah, que significa 
“aquele que Allah escolheu por amor”. Através de vários capítulos do Alcorão, Ibrahim é 
honrado como um paradigma de virtude. Ele foi um homem cujo caráter é um exemplo para 
todos os crentes; era amável, paciente, valente e confiável, e Allah o descreve desta 
maneira. 
 
O Alcorão (16: 120 – 122) afirma sobre Abraão que “foi um guia exemplar, era 
obediente a Allah, monoteísta e jamais idólatra. Era agradecido pelos favores de Allah. Ele 
https://www.youtube.com/watch?v=RD15A7sYE74
 
 
21 Antropologia da Religião 
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o elegeu e o guiou pela senda reta. O concedi na vida mundana todo o bem, e na outra vida 
estará com os justos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem do santuário do profeta Ibrahim, situado próximo à Kaaba, na mesquita 
Masjid al-Haram, em Meca, na Arábia Saudita. Imagem obtida em 
https://www.islamreligion.com/pt/articles/300/historia-de-abraao-parte-7-de-7/ com acesso 
em 05/02/2023. 
 
 Sobre Moisés, em árabe, Muça, é o profeta mencionado mais de 120 vezes no 
Alcorão e sua história atravessa vários capítulos, sendo a história mais longa e detalhada 
de um profeta no Alcorão, sendo discutida em detalhes elaborados. 
 
 Ainda sobre Moisés, ele é uma figura central tanto no judaísmo como no cristianismo, 
sendo o homem do Velho Testamento mais mencionado no Novo Testamento, tendo 
liderado os israelitas para saírem da escravidão no Egito, se comunicou com Deus e 
recebeu os Dez Mandamentos. É 
apresentado como líder religioso e 
legislador (STACEY, 2012). 
 
 
 
 
 
https://www.islamreligion.com/pt/articles/300/historia-de-abraao-parte-7-de-7/
 
 
22 Antropologia da Religião 
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Ilustração do profeta Muça obtida no site https://mundoislam.com/islam/2020/09/04/10-
hechos-musa-moises-gran-profeta-islam/ em 05/02/2023 
 
 Sobre Jesus (Issa), este é considerado na tradição islâmica como um profeta que foi 
concebido sem nenhum pecado através de um nascimento milagroso e, ainda que o 
Alcorão aponte algumas diferenças em sua história com relação ao que está escrito na 
Bíblia, ele é considerado o Messias e seus relatos de vida mostram que ele vivia uma vida 
sem os luxos mundanos em amor e submissão a Allah (IQARAISLAN). 
 
 Para o Islã, todos os verdadeiros profetas são muçulmanos, pois esta palavra 
é usada para se referir àqueles que se submetem a Deus. No caso de Jesus, ele foi 
encarregado de entregar a mensagem de Deus aos 
filhos de Israel e voltará no final dos tempos para 
combater o falso messias. Em sua vida, ele não só 
pregou a palavra de Deus como também ensinou 
através de seu exemplo, sendo um homem de 
extrema humildade, que ensinou o amor a Deus 
através da renuncia a tudo aquilo que é mundano. O 
Messias também está relacionado ao final dos 
tempos, quando irá liderar a causa de Deus e guiará 
à vitória todas as pessoas que servirem a Allah, 
estabelecendo um reinado de justiça e prosperidade 
(Ibidem). 
 
Ilustração do Profeta Issa obtida em 
https://www.nytimes.com/2017/03/03/books/review/interfaith-healer-the-surprising-role-of-
jesus-in-islam.html em 05/02/2023 
 
Sobre o profeta do Islã, Muhammad, sabemos que também é conhecido pelo nome 
que sua mãe lhe deu, Ahmad, sendo que ambos os nomes, Muhammad ou Ahmad, têm o 
mesmo significado: o louvado. 
https://mundoislam.com/islam/2020/09/04/10-hechos-musa-moises-gran-profeta-islam/
https://mundoislam.com/islam/2020/09/04/10-hechos-musa-moises-gran-profeta-islam/
https://www.nytimes.com/2017/03/03/books/review/interfaith-healer-the-surprising-role-of-jesus-in-islam.html
https://www.nytimes.com/2017/03/03/books/review/interfaith-healer-the-surprising-role-of-jesus-in-islam.html
 
 
23 Antropologia da Religião 
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A história do Islam está fortemente relacionada com a história de seu profeta que, 
conforme a doutrina islâmica, foi escolhido para transmitir a mensagem divina. Desde a sua 
infância, marcada pelo falecimento de seus pais e seu avô, o profeta Mohammad teve um 
caráter puro, afastando-se de maus costumes como bebidas alcoólicas, idolatria, extorsão, 
falsidades e outras má condutas comuns em seu povo à época. Distinguia-se dos demais 
pela nobreza de seu caráter, lealdade, coragem e bondade com os necessitados. Mesmo 
iletrado, interessava-se pelo conhecimento. Era comum as pessoas deixarem com ele seus 
pertences valiosos e ele ser chamado para arbitrar divergências (ARRESALA). 
Aos quarenta anos, Muhammad recebeu uma mensagem de Deus através do anjo 
Gabriel, anunciando que fora escolhido como mensageiro para toda a humanidade. Após 
essa primeira hierofania, decorreram-se três anos sem mensagens divinas. Seguindo-se a 
esse período, finalmente as revelações se reiniciaram e Deus assegurou-lhe que de modo 
algum o havia abandonado e, pelo contrário, fora o próprio Deus quem o guiara no caminho 
reto. Nessas mensagens, Deus o alertava a cuidar dos órfãos e dos desamparados, além 
de proclamar a generosidade que Deus tivera com ele (ISLAMBR, 2019). 
Mohammad permaneceu firme em seu propósito e convocação e seus companheiros 
passaram a crer nele, sendo seus seguidores neste instante formados em sua maioria por 
jovens e pobres necessitados aos quais ensinava e orientava a mudar a forma de proceder. 
Quando completou o número de quarenta homens devotos e fiéis, nova mensagem de Deus 
o enviava a divulgar a mensagem do Islã de forma mais aberta. O profeta passou a 
convocar com solicitude os seus parente para a adesão ao Islã, sendo que alguns lhe deram 
crédito e outros não. A seguir, chamou os membros de sua tribo de Coraich e depois o povo 
em geral, quando generalizou-se a notícia sobre o Islã e seu profeta. Com isso, a linha do 
Islã tornou-se uma forte corrente, temida pelos opositores da época, mais intensamente 
pelos que dominavam o mercado das caravanas. Os adoradores de ídolos passaram a 
persegui-los e tortura-los e, apesar dos sofrimentos cruéis, sua devoção a Deus se firmou 
(ARRESALA). 
A mensagem se expandiu para Medina para onde, mais tarde, o profeta se retirou 
devido a grandes perseguições sofridas e, Mecca. Também em Medina foi perseguido e 
sempre sentia a presença de Deus e, por isso, vivia tranquilo, certo da vitória. O profeta 
 
 
24 Antropologiada Religião 
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estabeleceu a fraternidade, o amor, a aplicação e o bom comportamento como bases da 
sociedade islâmica (ARRESALA). 
A fundação do Estado e Governo Islâmico foi outro grande empenho de Muhammad, 
tendo constituído uma sociedade muçulmana para diligenciar o povo, conforme o Alcorão 
e seus preceitos pessoais, elaborada com base nos direitos humanos e na justiça. Mecca 
era o centro da oposição ao Islã e foi conquistada pelo profeta e seus companheiros de 
forma pacífica pois quando o líder dos opositores e seus correligionários viram a força do 
Islã e dos muçulmanos permitiram que o profeta entrasse em Mecca e iniciasse a reforma 
espiritual e social na cidade. Após isso, o profeta retirou-se para Medina, onde viveu até 
seu falecimento em 635 d.C. O Islã, a partir da conquista de Mecca, expandiu-se e alcançou 
todas as partes do mundo (ARRESALA). 
O islamismo, sob a inspiração de Deus ao profeta Mohammad, é a segunda maior 
religião do mundo, com aproximadamente 1,6 bilhões de adeptos (PEW RESEARCH). 
 
 
Ilustração do Profeta Mohammad 
recebendo a mensagem do Anjo Gabriel, 
obtida no site 
http://igeo.ufrgs.br/museudetopografia/images/acervo/artigos/CALENDRIO_ISLAMICO.pdf 
acesso em 05/02/2023. 
Além dos cinco mais importantes profetas do islamismo já descritos anteriormente, 
também são considerados os seguintes profetas: Adam (Adão), Idris (Iris), Hude (Éber), 
Salé (Selá), Lute (Ló), Ismail (Ismael), Ixaque (Isaque), Iacube (Jacó), Iúçufe (José), 
Aiube (Jó), Xuaibe (Jetro), Harune (Arão), Zulkifl (Ezequiel), Daúde (Davi), 
Solimão (Salomão), Ilias (Elias), Iaça (Eliseu), Iunus (Jonas), Zacaria (Zacarias) e 
Iáia (João Batista). 
 
http://igeo.ufrgs.br/museudetopografia/images/acervo/artigos/CALENDRIO_ISLAMICO.pdf
 
 
25 Antropologia da Religião 
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3.1.4. O Monge 
O que é um monge? Segundo o site Ecclesia, da Sacra Arquidiocese Ortodoxa de 
Buenos Aires, o monge é “aquele que está separado de todos e unido a todos”, segundo a 
noção que nos é dada pelo mestre do ascetismo Evágrio, o Pôntico. “É assim chamado 
porque conversa com Deus noite e dia e não imagina senão as coisas de Deus, sem nada 
possuir na Terra”. “É chamado monge porque em primeiro lugar é sozinho, é solitário, 
abstendo-se do casamento e renunciando ao mundo, interior e exteriormente; em segundo 
lugar, porque se dirige a Deus na oração incessante, para que Deus purifique o seu 
intelecto, enquanto tal, se torne monge e solitário em presença de Deus verdadeiro, sem 
admitir pensamentos do mal” (São Macário, o Egípcio). Ou como dizia Santo Hesíquios, “o 
verdadeiro monge é aquele que atinge a sobriedade. E o monge verdadeiramente sóbrio é 
aquele que é monge no seu coração”. De acordo com os grandes e santos padres da Igreja, 
o monge é, afinal, aquele que quer ser salvo, levando uma vida de acordo com o Evangelho, 
procurando o único necessário, fazendo a si próprio violência em tudo. Podemos dizer que, 
de certo modo, foram os monges que ensinaram a comunidade cristã a rezar. Efetivamente, 
foram eles que desenvolveram uma prática litúrgica progressivamente adotada pela Igreja 
no seu conjunto e que se manteve até hoje”. 
 
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/monaquismo/o_que_e_um_monge.html 
 
Nas palavras de Terrin (2004), “na figura do monge realiza-se uma mediação 
totalmente oposta à examinada com a relação ao rei-sacerdote; com efeito, aqui não há um 
poder, não há uma força exterior que exprima a força do sagrado e que procure de algum 
modo capturá-la para depois torná-la disponível aos outros; pelo contrário, há pobreza 
absoluta e falta de força, para que possa agir o único e verdadeiro poder, o divino”. 
 
Na figura do monge, esse aspecto de se diminuir para que Deus possa agir, é muito 
importante pois a sua influência não é resultante de um poder institucionalizado, como 
acontece no caso do rei-sacerdote. A vida e o caráter de um monge refletem o poder divino. 
A anulação de seus desejos e do seu próprio “eu”, bem como seu desapego das coisas 
materiais, permitem que o poder do divino flua através de suas vidas. Isso os transforma 
em mediadores entre o que é comum, profano e o sobrenatural, incomum e sagrado. 
 
Através da sombra do seu manto amarrotado, da pureza e da doçura do seu olhar 
voltado para o mundo, o monge transmite o sagrado e o poder do sagrado (TERRIN, 2004). 
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/monaquismo/o_que_e_um_monge.html
 
 
26 Antropologia da Religião 
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A anulação de sentimentos e desejos egoístas que habitam o ser humano, como a 
ambição, a inveja e a soberba, entre outros sentimentos, é desencadeada pelo 
desprendimento das coisas terrenas. Assim, o ser humano reflete em seus atos aquilo que 
está presente na perfeição do divino. O monge consegue escapar de sentimentos ruins, 
que mancham a conduta humana, através de uma vida reclusa e devotada ao divino por 
meio de orações, cânticos, meditação e ajuda ao próximo. Nesse sentido, ao abster-se do 
profano, do cotidiano da vida das pessoas, ele é capaz de transmitir o poder do sagrado. 
 
Como uma figura intermediadora entre o sagrado e o profano, o monge inspira 
pessoas de diferentes religiões a viver bem com aquilo que é necessário. Optar por uma 
vida monástica não significa fugir covardemente dos problemas da vida profana, mas 
demonstra uma coragem implacável de lutar contra suas próprias vontades em busca de 
uma vida simples, regrada, de equilíbrio e satisfação consigo mesmo. 
 
Várias religiões têm elementos monásticos: budismo, cristianismo, hinduísmo, 
taoismo e jainismo. Por suas características de vida, os monges acabaram por influenciar 
uma área ou outra da vida profana. 
 
Ainda que não fossem os únicos, os monges cristãos mais famosos da idade média 
eram os Beneditinos, que é uma ordem religiosa monástica fundada por São Bento. O seu 
carisma caracterizava-se por aliar o trabalho à oração. Foram os grandes guardiões do 
conhecimento clássico, em decorrência de suas bem montadas bibliotecas e do seu 
trabalho de copistas. Também fomentaram o trabalho manual, nomeadamente na 
agricultura, com sua presença e ação em muitas regiões da Europa onde foram 
fundamentais para a introdução e desenvolvimento de novas culturas e processos técnicos, 
com grandes implicações ao nível do povoamento. 
 
O Budismo também possui monges, que no tempo de Buda estavam 
permanentemente andando, o que não ocorria apenas no tempo das chuvas, vivendo de 
mendigar. Na China, contudo, o ambiente cultural não permitia mendigar, pois isso era 
muito mal visto. Assim, os monges começaram a plantar para ter o que comer e, surgiu, 
então, uma cozinha vegetariana nos mosteiros. Os monges não podiam matar, assim a 
saída foi criar uma cozinha na qual não se matava. Isso teve uma repercussão interessante, 
que corresponde à tradição dos monges de longa vida e lucidez (BUDISMO HOJE). 
 
 
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Imagem de um monge budista, nesta foto o monge budista Komio Sensei, da comunidade 
Daissen, obtida em 
https://www.budismohoje.org.br/daissen-20-anos-entrevista-com-monge-komyo-sensei/ 
com acesso em 05/02/2023. 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino. 
 
 
 
https://www.budismohoje.org.br/daissen-20-anos-entrevista-com-monge-komyo-sensei/
 
 
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4. AS BASES DE UMA RELIGIÃO: AS CRENÇAS E OS RITUAIS 
 
Objetivo 
Apresentar as bases de uma religião: suas crenças e seus rituais, demonstrando 
suas diferenças e suas semelhanças, além das formas como demonstram seu 
relacionamento com o transcendente. 
 
Introdução 
O estudo antropológicodas religiões não busca apenas uma definição de religião. 
Através de estudos, as propriedades específicas das religiões particulares ganharam um 
estatuto de objeto de estudo particular e constituíram campos autônomos de análises. 
Dentre eles, destacamos as crenças, os rituais, os mitos e os símbolos. O estudo das 
crenças não se restringe necessariamente ao campo da antropologia da religião. Pode-se 
compreender que as crenças dizem respeito a um universo muito mais amplo que vai além 
daquilo que poderíamos chamar de crenças religiosas, ou crenças sagradas. Também os 
rituais estão ligados às práticas religiosas e marcam o momento em que o indivíduo sai 
daquilo que é comum para um momento de relação com o transcendente. 
 
4.1. As Crenças 
Segundo Marconi e Presoto (2001), “a crença consiste em um sentimento de 
respeito, submissão, reverência, confiança e até medo em relação ao sobrenatural, ao 
desconhecido. Não supões compreensão.” Esse ato religioso da crença é sustentado 
basicamente pela fé e não se constitui necessariamente em algo que tenha condições de 
ser posto à prova e verificado, da mesma forma como o conhecimento científico. 
 
Podemos acreditar tanto em algo que possa ser certificado cientificamente, como em 
uma descrição de um fato religioso em que não haja comprovação científica. No aspecto 
científico, nota-se o apelo à razão lógica para que se possa acreditar em uma certa coisa. 
No que se refere à religião, a crença se fundamenta na fé, ainda que se busque comprovar 
alguns aspectos e coisas presentes na religião através do conhecimento científico. 
 
As crenças religiosas não estão baseadas em fatos que sejam passíveis de 
comprovações científicas, pois, como afirmam Marconi e Presoto (2001), sobre as crenças 
religiosas “pode-se dizer que é o desejo de aceitar qualquer coisa, provocada por algo 
 
 
29 Antropologia da Religião 
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misterioso, mas sem demonstração ou prova tangível”. As crenças, para a antropologia, 
ganharam destaque na medida em que foram sendo estudadas em suas especificidades. 
As culturas possuem um conjunto de elementos nos quais seus integrantes acreditam e 
estes acabam por moldar uma realidade mais ampla, a da fé. 
 
A pessoa acredita por vontade própria na crença, independente de, fora do campo 
religioso, ser verdade ou não. A crença é um ato ligado à fé pois é a aceitação voluntária 
de uma ordem de coisas que não pode ser provada pela lógica ou pelos sentidos. O 
indivíduo reconhece e aceita a superioridade do sobrenatural (MARCONI; PRESOTO, 
2001). A crença é a base que sustenta a vida e as práticas religiosas. Os rituais, as 
tradições e as práticas religiosas giram em torno das crenças. Assim, comumente nas 
religiões existe uma grande dedicação em defesa das crenças, visto elas serem 
fundamentais para a continuidade das religiões. A teologia cristã dos primeiros séculos da 
nossa era é um bom exemplo dessa defesa das crenças pois os padres foram os grandes 
apologistas que escreveram suas obras no sentido de defender e sustentar as crenças 
cristãs no combate aos ataques de outras religiões ou àquilo que eles consideravam como 
heresias. 
 
As crenças são formas de se interpretar a vida e aquilo que nela acontece. Muito 
comum nas diferentes religiões são as crenças em torno do sofrimento do ser humano. No 
budismo, por exemplo, o sofrimento tem sua causa na ignorância que nos leva a tomar 
decisões impróprias que provocam dor. Essas decisões impróprias produzem o Karma, a 
bagagem da nossa experiência de vida que nos dá condições de prosseguir nos ciclos da 
reencarnação, pagando nossas dívidas, porém, realizando novas dívidas (CHAPLIN, 2002). 
 
Uma crença fundamental no budismo é a lei do karma: é a colheita de tudo o que 
plantamos; não há como fugir dos resultados das nossas escolhas. Ao fazer suas escolhas, 
o indivíduo sempre deve ter em vista as consequências, pois, cedo ou tarde, estas irão lhe 
afetar. Essa crença do karma também está presente também no hinduísmo. 
 
Ainda que não se afastem muito dos ensinamentos de Buda, existem diferentes 
escolas de pensamento budistas que diferem entre si sob alguns aspectos. Um exemplo de 
crença é o da Escola Mahayana do Budismo acerca da trindade budista, onde o Buda é 
entendido como dotado de três manifestações: o corpo da transformação, o corpo da 
felicidade e o corpo do Dharma. O primeiro é o Buda histórico; o segundo uma realidade 
 
 
30 Antropologia da Religião 
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intermediária compartilhada das qualidades do mundo físico e da realidade última, pondo 
em ação esquemas de salvação em todos os lugares e épocas; o terceiro é assemelhado 
aos conceitos de divindade. O Dharma é a Realidade Última, bem como o corpo cósmico 
de Buda, transcendendo o que é físico. É a parte imortal que está presente em cada um de 
nós, em Gautama Buda e em todos os outros Budas. (CHAMPLIN, 2002). 
 
O taoísmo está relacionado à mesma matriz do confucionismo e do budismo. É uma 
religião originária da China em que o homem deve buscar viver harmoniozamente com a 
natureza. O Tao é a fonte de onde procedem todas as coisas e é o caminho que todas as 
pessoas devem seguir. A mais importante crença do taoísmo é “que a felicidade pode ser 
adquirida mediante a obediência aos requisitos da natureza humana e a simplificação das 
relações sociais e políticas, de acordo com o Tao ou Caminho, o princípio básico do 
cosmos, de onde procede a natureza inteira”. (CHAMPLIN, 2002). Assim, o ser humano 
tem diante de si diversos caminhos, mas somente o Tao, ou seja, aquele que levará o ser 
humano a estar em harmonia com o cosmos, é que poderá proporcionar equilíbrio e 
felicidade para o ser humano. Baseados nesta crença, os taoístas defendem a ideia de que 
o homem deve se libertar das coisas terrenas e materiais que o prendem, para que seu 
espírito possa alcançar a imortalidade. 
 
Podemos observar que as crenças são fundamentais na estrutura das religiões. A 
crença é o elemento que dá unidade, pois em torno dela os indivíduos de diferentes lugares 
estão ligados em vista da mesma crença. Esse fato é capaz de sintonizar e aproximar as 
pessoas, mesmo estando distantes em relação ao espaço geográfico. 
 
4.2. Os Rituais 
Muitos elementos compõem as religiões que, contudo, conferem aspectos muito 
singulares a cada uma delas. Esses elementos podem ser observados em outras áreas da 
vida humana, porém, na religião apresentam outros sentidos e até místico. 
 
Um exemplo disso são os rituais, que na vida cotidiana são práticas comuns, 
contudo, quando se trata da religião, os rituais, geralmente, estão ligados ao sagrado ou ao 
transcendente. 
 
 
 
31 Antropologia da Religião 
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A forma como um antropólogo estuda e enxerga os elementos ritualísticos é diferente 
da maneira como a pessoa religiosa os vê. Para o antropólogo, estes elementos são objetos 
de análise mas para o religiosos mesmos elementos estão associados apenas à sua fé e 
prática religiosa. 
 
O rito está fortemente ligado à prática religiosa, ainda que também existam rituais 
em outros momentos da vida, a maior parte das religiões se baseiam em práticas de rituais. 
 
O ritual religioso se apresenta como uma forma de marcar o momento em que o 
indivíduo deixa aquilo que é comum, profano, e passa para um momento de devoção e 
relação com o divino. Nas palavras de Marconi e Presotto (2001), o ritual trata da 
manifestação dos sentimentos por um ou vários indivíduos, em qualquer meio, através da 
ação. Embora de caráter religioso ou mágico, não é tão persistente quanto o culto. Consiste 
em um tipo de atividade padronizada, em que todos agem mais ou menos do mesmo modo, 
e que se volta para um ou vários deuses, para seres espirituais ou forças sobrenaturais, 
com uma finalidade qualquer.O ritual tem o poder de instaurar uma condição social de reforçar os vínculos entre 
as pessoas e estabelecer papéis sociais de cada um. Existe uma classe especial de rituais, 
que se referem aos ritos de passagem. Trata-se de uma ampla gama de rituais que marcam 
mudanças de estado como as passagens entre as fases da vida. Os rituais possuem três 
fases principais: uma separação, um momento de transformação e, por fim, um de 
reintegração. Todas essas fases são acompanhadas de outros rituais tornando o universo 
muito complexo (VAN GENNEP, 2014). Embora os ritos de passagem não se restrinjam ao 
universo religioso, é nele que são vistos em sua plenitude. 
 
Os ritos de passagem indicam, para o indivíduo envolvido e para a sociedade que o 
cerca, a passagem de um estado de vida para outro. Ou uma renovação de seu status, 
como nos ritos que ocorrem periodicamente. Entre tantos rituais religiosos, podemos 
relacionar o batismo, a crisma, o bar mitzva, a iniciação no candomblé e as festas de santos, 
a Páscoa etc. São rituais nos quais os praticantes entram numa condição sócio-religiosa, 
passam por uma fase intermediária e saem rejuvenescidos ou transformados em pessoas 
com um novo status religioso. 
 
 
 
32 Antropologia da Religião 
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O ritual, profano ou religioso, é a padronização do comportamento coletivo em um 
dado momento. No ritual religioso, o objetivo é atrair a atenção dos deuses, espíritos ou 
outros intercessores com diferentes finalidades, que vão desde a petição de uma benção 
para que haja boas colheitas, à dedicação dos frutos da colheita, entre outras coisas. 
 
O ritual religioso está diretamente ligado ao sagrado e é a demarcação de um 
momento sagrado em meio ao comum, ou seja, ao profano. A atividade padronizada exige 
uma nova postura, pois acarreta aos envolvidos mais empenho em voltar-se para o 
sobrenatural, deuses, espíritos, seja o que for, em busca de uma aproximação. 
 
Nas palavras de Gomes (2013), a forma como as pessoas se relacionam com o 
transcendental é marcado por um espírito de reverência e por uma atitude pessoal, não 
corriqueira, que se chama de ritualístico. Toda religião tem rituais, seja na maneira de 
estabelecer uma comunicação com o sagrado, seja na atitude com os deuses, seja nos 
seus eventos coletivos. 
 
As religiões que utilizam rituais em seus cultos são denominadas de ritualistas. De 
acordo com Champlin (2002) “nessas religiões acredita-se que os ritos e cerimônias 
agradam às divindades (ou Deus), e que aqueles que observam tais coisas serão 
beneficiados. Esses ritos, com frequência, simbolizam crenças importantes, ou então 
costumes ou expectativas dos adoradores”. 
 
Os rituais estão presentes nas mais diferentes religiões, contudo, existem elementos 
que são comuns em todos os rituais e a diferença entre ritual e rotina, do ponto de vista 
comportamental, é equivalente à diferença entre o profano e o sagrado. 
 
 
 
O ritual, religioso ou profano, é marcado por três etapas: 
uma separação, um momento de transformação e, por fim, 
um de reintegração. 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino. 
 
 
 
 
 
33 Antropologia da Religião 
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5. O QUE OU QUEM É DEUS (OU DEUSES) 
 
Objetivo 
Comparar as diferentes formas de doutrinas e crenças sobre a concepção da 
existência de Deus ou dos deuses nas diversas religiões. 
 
Introdução 
As diferentes doutrinas que existem se ocupam em procurar explicações para o que 
é Deus ou deuses, ou ainda como esse Deus ou os deuses se apresentam, de que maneira 
Ele se relaciona com o universo ou com as pessoas, onde pode ser encontrado e de qual 
forma se manifesta na natureza, entre outras coisas sobre Deus. 
 
5.1. O Monoteísmo 
O monoteísmo tem como princípio que existe um único Deus, ou seja, um único ser 
absoluto que rege todo o universo. É importante destacar que existe diferença entre o 
monoteísmo e o henoteísmo. O monoteísmo parte da ideia da existência de um único Deus 
e o henoteísmo propõe a existência de vários deuses, mas a pessoa ou o grupo faz a 
escolha de adorar e obedecer a um único desses deuses. Para o monoteísmo, existe 
apenas uma divindade absoluta, e não admite que outra divindade possa ocupar a mesma 
posição em relação a poder, adoração e obediência. No que se refere ao henoteísmo, “a 
ideia transmitida é a de que existe uma divindade suprema, que tem contato com certo 
mundo ou com certo grupo de seres, ao mesmo tempo em que podem existir outros deuses 
com outros campos de atividade” (CHAMPLIN, 2002). 
 
A história humana tem seu primeiro contato com o monoteísmo, nesse sentido de 
um ser absoluto, justamente com a religião judaica. Nas palavras de Terrin (2004), “o mundo 
judaico tem por excelência o senso do Deus único como articulador da história, que conduz 
o seu povo através das vicissitudes deste mundo. Essa unicidade de Deus começa com o 
próprio nome. Em Êxodo 20,1-7 está escrito: “Eu sou Iahweh teu Deus, que te fez sair da 
terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás 
para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, 
ou embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra [...] Não pronunciarás em 
vão o nome de Iahweh teu Deus, porque Iahweh não deixará impune aquele que pronunciar 
seu nome em vão”. 
 
 
34 Antropologia da Religião 
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Por esse trecho da Torá podemos observar que o Deus judaico exige adoração e 
obediência exclusiva do seu povo. Não se nota espaço para outra divindade, pois o “Eu 
Sou” é o autor de todas as façanhas e milagres que o povo de Israel experimentou depois 
da sua saída do Egito até a chagada em Canaã. 
 
Três características importantes formam a essência divina no monoteísmo: a 
onipresença, a onisciência e a onipotência. Essas características dão à divindade o poder, 
o conhecimento e a capacidade de estar em todos os lugares. Isso corresponde a dizer que 
Deus é absoluto (perfeito, completo) e nada que aconteça na história da humanidade pode 
fugir de seu controle. 
 
5.2. O Politeísmo 
 O politeísmo é a crença em vários deuses que exercem funções diferentes no 
universo. Nas palavras de Champlin (2002) “essa palavra vem do grego, poli, ‘muitos’, e 
theós, ‘deus’, ou seja, a crença de que existem muitos deuses”. Essa crença se apresenta 
em diversas culturas, dentre elas encontramos a egípcia, a grega e a romana. As divindades 
encontradas nestas culturas apresentam pelo menos duas características em comum: são 
imortais e antropomórficas. Um atributo designado aos deuses é a imortalidade e os que a 
possuíam não estavam sujeitos à mesma condição das pessoas, visto que aos humanos a 
morte se traduz numa certeza que acontece cedo ou tarde. Os deuses não estavam 
submetidos a esta aflição de ter que se confrontar com o fato de que a qualquer momento 
poderiam deixar de viver. O antropomorfismo consiste no fato de que os deuses possuíam 
muitos aspectos semelhantes aos humanos, apesar dos deuses em sua maioria serem 
imortais. Podemos tomar por exemplo a mitologia grega onde deuses se apaixonavam por 
humanos, sentiam inveja em relação a outro deus, entre outros sentimentos comuns aos 
seres humanos. 
 
 Em sua fase primitiva, o politeísmo consistia na personificação de elementos 
componentes da natureza, tais como o sol, a lua, a fertilidade, a misericórdia, a violência, o 
poder ou o amor (CHAMPLIN, 2002). Podemos observar que aconteceu uma evolução na 
crença politeísta, se desprendendo dos elementos da natureza e adotando características 
e sentimentos humanos. Essa alteração decorre do fato de que o ser humano necessitava 
de uma divindade que de alguma forma se identificasse com suas angústias, medos e 
anseios, ou seja, possuísse elementos comuns aos sereshumanos. Os deuses refletiam 
 
 
35 Antropologia da Religião 
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de alguma forma os seres humanos que os veneravam. O politeísmo oferece uma 
diversidade muito grande de crenças sendo possível ao crente adorar ao deus com o qual 
se identificava. 
 
 No politeísmo é uma escolha do crente adorar a uma divindade específica, ainda que 
nessa modalidade de crença os indivíduos reconheçam a existência de diversas 
divindades. O crente escolhe a divindade que deseja venerar, com base em características 
que sejam de seu interesse ou que de alguma forma estejam ligados à sua forma de vida. 
Essa forma de crença guarda semelhança com o que se verifica com os santos católicos, 
pois muitas pessoas são devotadas de um determinado santo pelo fato de, em algum 
momento, esse santo atendeu às suas necessidades, aos seus pedidos em forma de 
preces. 
 
5.3. O Panteísmo 
Algumas formas religiosas se baseiam no panteísmo, que, de acordo com Champlin 
(2002) “vem do grego, pan, ‘tudo’, + theós, ‘deus’, dando a entender que ‘tudo é Deus’. De 
acordo com o panteísmo, Deus é o cabeça da totalidade, e o mundo é seu corpo”. Deus é 
formado por tudo e por todos. Os panteístas não creem na existência de um Deus pessoal, 
visto que para os adeptos dessa crença, Deus não é algo particular, Deus é o todo e o todo 
é Deus. Para os panteístas não existe um Deus que intervenha no universo, muito menos 
um Deus que seja o criador de tudo aquilo que existe. O panteísmo consiste em uma 
doutrina filosófica que acredita que Deus e o universo estejam interligados de forma 
intrínsica, ou seja, estão de tal maneira unidos que não há como existir um sem o outro. 
 
 O filósofo Baruch Spinoza é um nome que está diretamente ligado ao panteísmo pois 
em sua obra ele identifica Deus com a natureza, visto que era avesso à crença judaico-
cristã da existência de um Deus supremo onisciente, onipresente e onipotente, que fosse 
capaz de recompensar ou castigar os indivíduos em função dos atos que praticassem. 
 
 Podemos observar o que Spinoza diz sobre sua crença: “Tenho uma concepção de 
Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, 
pois afirmo que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Eu digo: tudo 
está e (sic) Deus; tudo vive e se movimenta em Deus. E isso eu afirmo com o apóstolo 
Paulo e, talvez, com todos os filósofos da antiguidade, embora de maneira diversa da deles. 
 
 
36 Antropologia da Religião 
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Posso, até, arriscar-me a dizer que a minha concepção é a mesma que a dos hebreus de 
antigamente, se isso puder ser inferido de certas tradições, por muitíssimo alteradas ou 
falsificadas que possam ter sido. Contudo, estão totalmente enganados aqueles que dizem 
que meu propósito [...] é mostrar que Deus e a natureza, esta entendida por eles como uma 
certa massa de matéria corpórea, são uma e a mesma coisa. Eu não tive essa intenção. 
(Apud VILLELA, 2014). 
 
 No pensamento panteísta de Spinoza, Deus é maior que tudo que existe pois tudo 
está, vive e se move em Deus. A natureza e Deus não são distintos, pois, na verdade, são 
duas denominações da mesma realidade. Tudo o que existe no universo emana de Deus-
Natureza, do que decorre que todas as coisas ou entidades presentes no universo são 
modalidades da substância que forma o universo, ou seja, o próprio Deus. 
 
5.4 O Panenteísmo 
Uma outra forma de pensamento sobre a existência de Deus, tão importante quanto 
as outras, é o panenteísmo. Segundo Champlin (2002) “A raiz grega do vocábulo é pan, 
‘tudo’, e theós, ‘deus’, significando, assim, ‘tudo está em Deus’ ou ‘Deus está em tudo’. Tal 
palavra pode significar que tudo faz parte de Deus, ou que Deus está em todas as coisas, 
embora ele não seja todas as coisas”. Esse conceito se difere do panteísmo de uma 
maneira bastante simples: apesar de Deus estar em todas as coisas, Deus não ‘é’ todas as 
coisas. 
 
O filósofo alemão Karl Krause propôs o termo panenteísmo e sua teoria se constitui 
no fato de que Deus pode ser percebido intuitivamente pela consciência, pois em vista de 
ele não ser pessoal, é a essência que se mostra presente no universo. Todos os seres que 
formam o universo estão vinculados a Deus, contudo não são Deus, apenas acreditava que 
o mundo está contido em Deus. Na visão panenteísta, o divino transcende o universo, ou 
seja, está além de todas as coisas que formam o universo. 
 
Para compreender o conceito de panenteísmo, recorremos a uma explicação do 
teólogo Leonardo Boff sobre Panteísmo “versus” Panenteísmo: 
 
“Uma visão cosmológica radical e coerente afirma que o sujeito último de tudo o que 
ocorre é o próprio universo. É ele que faz emergir os seres, as complexidades, a 
 
 
37 Antropologia da Religião 
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biodiversidade, a consciência e os conteúdos desta consciência, pois somos parte dele. 
Assim, antes de estar em nossa cabeça como ideia, a realidade de Deus estava no próprio 
universo. Porque estava lá, pôde irromper em nós. A partir desta compreensão, se entende 
a imanência de Deus no universo. Deus vem misturado com todos os processos, sem 
perder-se dentro deles. Antes, orienta a seta do tempo para a emergência de ordens cada 
vez mais complexas, dinâmicas (portanto, que se distanciam do equilíbrio para buscar 
novas adaptações) e carregadas de propósito. Deus comparece, na linguagem das 
tradições transculturais, como o Espírito criador e ordenador de tudo o que existe. Ele vem 
misturado com as coisas. Participa de seus desdobramentos, sofre com as extinções em 
massa, sente-se crucificado nos empobrecidos, rejubila-se com os avanços rumo a 
diversidades mais convergentes e inter-relacionadas, apontando para um ponto Ômega 
terminal. Deus está presente no cosmos e o cosmos está presente em Deus. A teologia 
antiga expressava esta mútua interpenetração pelo conceito “pericórese”, aplicada às 
relações entre Deus e a criação e depois entre as divinas Pessoas da Trindade. A teologia 
moderna cunhou outra expressão, o “panenteísmo” (em grego: pan=tudo; en= em; 
theos=Deus). Quer dizer: Deus está em tudo e tudo está em Deus. Esta palavra foi proposta 
pelo evangélico Frederick Krause (l781- 1832), fascinado pelo fulgor divino do universo. 
Fonte: Panteísmo versus Panenteísmo (jb.com.br) https://www.jb.com.br/leonardo-
boff/noticias/2012/04/17/panteismo-versus-panenteismo/ acesso em 05/02/2023. 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino. 
 
 
 
Panteísmo%20versus%20Panenteísmo%20(jb.com.br)
https://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2012/04/17/panteismo-versus-panenteismo/
https://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2012/04/17/panteismo-versus-panenteismo/
 
 
38 Antropologia da Religião 
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6. AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA NO BRASIL 
 
Objetivo 
Apresentar a origem, formas de manifestações e desenvolvimento das religiões de 
matriz africana no Brasil. 
 
Introdução 
A matriz africana originou diversas manifestações sagradas no Brasil. Além das mais 
famosas como o Candomblé e Umbanda, podemos encontrar adeptos de tradições como 
jarê, terecô e xangô de Pernambuco, o Batuque, do Rio Grande do Sul e o Tambor de Mina, 
variação do candomblé no Maranhão (OLIVEIRA, 2022). 
 
O estudo dessas religiões é impositivo para o entendimento de problemas 
antropológicos e sociais no Brasil. 
 
6.1. A matriz Africana 
A matriz africana contempla várias religiões como a Umbanda e o Candomblé, 
consideradas como as mais importantes e de maior visibilidade. Essas são adaptações das 
formas de crer dos povos africanos, que foram trazidos escravizados ao Brasil em meados 
do século XVI. 
 
As religiões de matriz africana podem ser separadas em três grupos: brasileiras -

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