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O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Prof. Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso, reconhecendo sua presença nas mais diversas áreas da cultura humana, em uma perspectiva da integralidade do ser; A analisar os principais elementos constitutivos de religiões e manifestações religiosas do mundo e da realidade brasileira; A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais, políticas, econômicas e culturais. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_DJ-Pru5TE4yH https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_DJ-Pru5TE4yH https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_oW3e00gxq_Ey https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_oW3e00gxq_Ey INTRODUÇÃO O estudo de uma disciplina com o nome de Cultura Religiosa pode causar certa estranheza a alguns universitários. A pergunta que surge é: afinal, a religião, um assunto de foro tão íntimo e pessoal, pode ser objeto de estudo científico e acadêmico? Qual a relevância ou aplicabilidade disso para uma formação acadêmica e profissional, em um mundo cada vez mais tecnicista, racional e agnóstico, que se torna, a cada dia, mais indiferente ao campo religioso? Do ponto de vista científico, não importa se todos os alunos da disciplina sejam completos ateus, agnósticos ou até mesmo críticos da religião, vendo-a como um pensamento primitivo, uma prática supersticiosa ou até um entrave ao avanço da ciência. O fato é que, independentemente da nossa atitude pessoal frente às crenças religiosas, o fenômeno religioso é um dos principais fundamentos da sociedade, estando presente em diferentes representações culturais dos diferentes povos e civilizações, desde os tempos mais remotos da humanidade. A estrutura deste capítulo passa pela definição de conceitos básicos no campo da religião, pela demonstração concreta de sua presença nas diferentes representações culturais, pela dialogicidade com outros campos do conhecimento humano e também por algumas reflexões acerca da experiência religiosa. Portanto, reconhecer que o fenômeno religioso se inscreve e demarca o processo civilizatório humano é um dos grandes desafios a que se propõe este capítulo introdutório. Como afirma um dos grandes pesquisadores das ciências da religião, se “Deus não é objeto de investigação estritamente científica, porém, toda vivência religiosa envolve um ser humano e, como experiência humana, pode ser objeto de investigação científica” (BENKÖ, 1981, p. 14). https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_rKWuy7F_uZWq https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_rKWuy7F_uZWq O “HOMO RELIGIOSUS”: A UNIVERSALIDADE DA RELIGIÃO O ser humano é um ser multidimensional, composto por elementos físicos, intelectivos, afetivos, volitivos, lúdicos, sociorrelacionais e, também, por elementos religiosos. O “homo religiosus”, como afirma a antropologia, “desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira aparição na cena da história [...] todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural cultivaram alguma forma de religião” (MONDIN, 1980, p. 218). A universalidade religiosa precisa ser compreendida em toda a sua diversidade. Há muitas formas e expressões religiosas, como o monoteísmo (crença em um só deus), politeísmo (crença em vários deuses), panteísmo (Deus e o universo são idênticos), dualismo (duas forças opostas que regem o universo), deísmo (há um ser supremo, mas que não interage com a criação), teísmo (um ser divino e pessoal que interage com a natureza e com as pessoas), esoterismo (a busca de conhecimentos ocultos através do espiritual, místico ou sobrenatural – feng shui, astrologia, numerologia etc.) entre outras, podendo haver pequenas variações conceituais em cada uma delas. Em uma abordagem histórica, além das já conhecidas tradições religiosas, como as mitologias grega e romana, as religiões clássicas como Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo, as religiões antigas dos egípcios, incas, maias e astecas, há também formas mais primitivas de expressões religiosas. Uma das principais é o animismo. Nessas antigas crenças, o ser humano atribuía aos animais, às plantas, aos rios, às montanhas, às estrelas etc., uma conotação espiritual. Ou seja, nos fenômenos e elementos da natureza habitavam e se expressavam espíritos e forças divinas, que deveriam ser venerados e apaziguados, especialmente diante de fenômenos climáticos, celestes e geofísicos, como secas, terremotos, furacões, erupções de vulcões, eclipses entre outros. Muitas oferendas e sacrifícios, inclusive de humanos, foram realizados ao longo dos séculos na busca de agradar aos deuses ou de aplacar a sua suposta fúria contra algo ou alguém. Do animismo, derivou-se outra prática religiosa, o fetichismo, que consistia em atribuir a objetos, animados ou inanimados, um poder mágico ou sobrenatural. Esses objetos poderiam ser tanto produzidos pelos indivíduos como encontrados na natureza, tais como pedras, dentes, ossos, bonecos, estatuetas, correntes e pingentes, passando a servir como amuletos protetores individuais. Podemos relacionar o rico mundo das superstições, ainda tão presente na sociedade de hoje, como um exemplo atual de crença fetichista. Em suma, mesmo que estejamos hoje vivendo um processo crescente de secularização, marcado pelo enfraquecimento do sagrado, pela perda de interesse na vivência religiosa comunitária, a religiosidade tem permanecido como uma constante do ser humano, mesmo que não seja mais cultivada por todos os indivíduos da espécie (MONDIN, 1980, p. 218). https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UqZ0UcxV7BpZ https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UqZ0UcxV7BpZ DEFININDO CONCEITOS: RELIGIÃO, FÉ E ESPIRITUALIDADE Religiosidade é um conceito complexo, subjetivo e multifacetado. Ele pode significar desde um conjunto de crenças, regras e ritos compartilhados por uma comunidade, até um sentimento misterioso de interioridade, envolvendo algo místico e pessoal. No sentido etimológico, o termo latino religio pode advir de dois verbos. O primeiro seria religere, cujo sentido denota a atitude de estar atento, refletir e observar, dando a ideia de que a religião está ligada a um fenômeno que exige cuidado, zelo e dedicação por parte daqueles que a praticam. O segundo verbo seria religare, ou seja, religar, unir novamente, sinalizando para o retorno ou reparação de uma situação que foi rompida, na tentativa de se ligar novamente a Deus. (ROOS, 2008, p. 859-861). Ambas fazem sentido analisando-se o que acontece na vivência religiosa dos crentes. A título de exemplo, citamos o relato judaico-cristão que descreve a queda do ser humano em pecado. Ali se rompia a relação perfeita entre Deus e o ser humano, que justifica o conceito de reparação através da criação da religião, ou seja, uma mediação concreta para religar-se novamente com o Criador. Avançando no conceito, “qualquer definição de ‘religião’ que não inclua como uma variável-chave a crença em seres (...) sobre-humanos que possuem poder de auxiliar ou causar dano ao ser humano é contraintuitiva” (SPIRO, In: WIEBE, 1998, p. 19). Já outras definições dizem que “a religião é um sentimento ou sensação de absoluta dependência” ou que “significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética)” (GAARDER, 2000, p. 17). Essa última definição se aproxima de critérios mais objetivos ao caracterizar a religião como: a) um conjunto de crenças ou doutrinas; b) um conjunto de ritos ou cerimônias; c) um código de comportamento ético e moral a ser seguido; d) uma experiência relacional com um ser transcendente vivenciada em dimensão comunitária.INFOGRÁFICO https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_YJhmnViHEcsr https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_YJhmnViHEcsr Reforça-se que religião implica uma relação em pelo menos dois sentidos: vertical, em direção ao ser transcendente; e horizontal, em direção a outras pessoas, que compartilham das mesmas crenças. Não há, portanto, religião de um indivíduo só. Daí surge a diferenciação entre o conceito de religião e espiritualidade. A espiritualidade diz respeito a uma característica humana que designa toda vivência que pode produzir mudança no interior do ser humano e redimensiona a sua forma de se relacionar consigo, com os outros e com o cosmos. Está relacionada com valores, significados e busca de sentido, que podem ser encontrados em diferentes lugares, inclusive em si mesmo (GIOVANETTI, 2005, p. 136). A forma mais usual de manifestação da espiritualidade é através da religiosidade, ou seja, ela se concretiza quando um indivíduo encontra em uma religião um conjunto de elementos que dão sentido para sua existência. Nesse caminho, surge o conceito de fé religiosa, entendido pela experiência de se sentir chamado e confiar em algo ou alguém de cunho sagrado, se relacionando com esse ser em uma postura de reverência, confiança, dependência e reciprocidade. A religião também ocupa funções importantes. Ela procura dar respostas para as grandes questões existenciais, elaborando explicações para a origem, sentido e destino de todos os seres vivos. A religião também oferece consolo em momentos de sofrimento e alimenta a esperança de uma vida além morte, aplacando a angústia humana diante da incômoda consciência de sua finitude. Além de também ser um meio de preencher o vazio existencial, a religião auxilia na construção de uma identidade pessoal e coletiva, dando ao ser humano um sentimento de pertença a um grupo, fator importante para a coesão social e saúde mental. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_wboqBuRCqLfx https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_wboqBuRCqLfx O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS REPRESENTAÇÕES NA CULTURA Retomando o que já afirmamos neste capítulo, mesmo que não tenhamos qualquer crença religiosa, o fato é de que ela está fortemente presente em diferentes dimensões da cultura e sociedade. Quem gosta de olhar filmes e seriados, independentemente do gênero, irá se deparar com enredos permeados de religiosidade. Muitos clássicos do cinema trazem a marca do religioso, do sobrenatural e do místico. Filmes épicos como Tróia, Cruzadas, Ben-Hur, A Paixão de Cristo, Maria Madalena; filmes de ação e aventura como a trilogia de Indiana Jones, Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia, A Múmia, Harry Potter, 2012, Thor, etc.; filmes policiais, de terror e de suspense como O Exorcista, O Chamado, Ouija - O Jogo dos Espíritos, Seven - Os Sete Pecados Capitais; dramas como Ghost, Amor Além da Vida, Cidade dos Anjos, até mesmo grandes comédias como Mudança de Hábito, O Todo Poderoso, Ghostbusters; a lista é enorme. Das séries, podemos citar Supernatural, Lúcifer, Ghost Hunters etc. Também muitas telenovelas abordaram temas religiosos, como Roque Santeiro, A Padroeira, Porto dos Milagres, Almas Gêmeas, Babel, Eterna Magia entre outras. Já quem gosta da literatura, além da Bíblia ser o maior best-seller mundial, vamos encontrar clássicos como Código da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno, de Dan Brown, O Monge e o Executivo, A Cabana, ‘Comer, Rezar, Amar’, além de muitos livros esotéricos e de linha espiritualista, um dos poucos segmentos que ainda crescem no mundo editorial. Já no campo das artes, nomes como Leonardo Da Vinci, Rafael, Michelângelo e Aleijadinho são reconhecidos por suas obras com temática religiosa. Na própria música, desde autores sacros como Bach, Mozart e Beethoven, como inúmeras bandas de rock, passando por cantores e compositores nacionais, além de todo movimento de música Gospel, trazem conteúdos religiosos em suas letras e composições. O campo do turismo é outro elemento importante que se relaciona com a religião. Países e cidades têm como fonte de renda o elemento da fé e religiosidade. A Capela Sistina no Vaticano, as pirâmides do Egito e de Cuzco no Peru, o Monte Olimpo na Grécia e a cidade suspensa de Machu Picchu, o monumento de Stonehenge na Inglaterra, a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, as peregrinações a cidades santas como Jerusalém e Meca, os santuários de Aparecida do Norte, os templos budistas espalhados pelo mundo são apenas alguns dos exemplos de lugares turísticos. Já no contexto econômico e financeiro, além do turismo, a religião movimenta a economia em diversos setores. Festas como o Natal, Páscoa, São João, Sírio de Nazaré, Navegantes, além de promoverem feriados em nosso calendário, também movimentam a economia, gerando empregos e renda. A venda de produtos religiosos e esotéricos, contratos comerciais em que questões religiosas precisam ser observadas (ex.: abate de animais para exportação a países islâmicos) e até mesmo frases religiosas nas notas de dólar e real mostram essa íntima relação entre religião e a economia. A própria indústria alimentar tem se preocupado com questões religiosas, visto que muitas religiões possuem regras e restrições alimentares que são impostas a seus fiéis. No esporte, talvez até muitos dos leitores possam dar-se conta de que praticam ritos religiosos: surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar no mar, jogadores entram em campo com o pé direito, atletas apontam para o alto e agradecem a Deus diante de conquistas, treinadores usam a mesma roupa com que obtiveram um título etc. Crenças, superstições e trabalhos religiosos são comuns no meio esportivo. O campo educacional também sofreu e ainda sofre influência das religiões. Muitas instituições de ensino privadas estão ligadas a grupos religiosos tradicionais como católicos, metodistas, presbiterianos, luteranos, batistas e adventistas. Entre as dez mais importantes universidades do mundo, seis delas tiveram mantenedoras religiosas em sua origem, tais como Harvard, Cambridge, Oxford, Princeton, Yale e Columbia. No Brasil, os grupos religiosos também estão vinculados a universidades como ULBRA, UMESP, Mackenzie, UNISINOS, PUC etc. No campo da linguagem, o uso de expressões religiosas é comum, mesmo por quem não é religioso, tais como: “Deus me livre”, “cruz- credo”, “meu Deus do céu”, “graças a Deus”. A linguagem religiosa também é expressa em nomes próprios como: João, José, Maria, Ângelo etc. Estados brasileiros como Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina além de centenas de municípios pelo mundo possuem nomes religiosos: São Francisco, San Diego, Los Angeles, San Petersburgo, Salvador, Bom Jesus, Santa Maria, Aparecida do Norte, Santa Cruz, Santa Rosa etc. Por último, dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos culturais, o campo político não pode ficar de fora, com ambos, por vezes, fundindo-se em um poder unificado. Nos antigos impérios egípcio, romano, maia, japonês, só a título de exemplo, os governantes eram quase todos divinizados, o que legitimava o seu poder absoluto sobre o povo. Por toda a Idade Média, a religião cristã esteve muito atrelada às questões políticas, sendo o papado romano um importante centro de poder, assim como foram – e continuam sendo – os Estados Islâmicos no Oriente Médio. Até mesmo guerras foram travadas sob um suposto pretexto religioso, tais como as inúmeras Cruzadas em prol da conquista da Terra Santa ou as guerras entre hindus e muçulmanos na região da Kashemira (conflitos entre Índia e Paquistão). Nos dias atuais, é comum vermos grupos religiosos buscando espaços e fazendo lobby em decisões políticas que envolvem a sociedade civil, além de continuarem as tensões político-religiosas em diversas partes do mundo, incluindo perseguições a determinados grupos minoritários. Esses e outros exemplos demonstramo quanto o fenômeno religioso é parte constitutiva da sociedade e está profundamente imbricado em diferentes dimensões da cultura humana. Tal como afirmam Reblin e Sinner, “não é possível entender a experiência religiosa distante da vida social, como se esta independesse daquela, assim como não é possível conceber uma sociedade sem uma vida religiosa. Religião e sociedade se interconectam, se emaranham e, por vezes, se fundem e se confundem na própria amálgama que é a vida humana” (2012, Prefácio). https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UnckCt-gqLq3 https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UnckCt-gqLq3 O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS INTER-RELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS Um outro importante elemento no estudo do fenômeno religioso é a sua interrelação com as diferentes ciências. Talvez por perceberem a relevância histórica e cultural da religião e sua enorme influência no comportamento individual e social da humanidade, diversos campos do conhecimento foram reunidos em uma área chamada de Ciências da Religião. Fazem parte dela a Filosofia da Religião, Psicologia da Religião, Sociologia da Religião, Antropologia da Religião, Direito Religioso e História das Religiões, para citarmos apenas algumas, além do crescente interesse pelo campo da Espiritualidade e Saúde. Temas de cunho existencial, como a origem do mal ou do sofrimento, o sentido da vida e da morte, a metafísica, a autotranscendência e espiritualidade humana, o campo da moralidade e da ética, a discussão entre fé e razão são alguns dos eixos da Filosofia da Religião, auxiliando os indivíduos a promoverem uma reflexão crítica sobre o campo religioso. Já a Antropologia da Religião procura demonstrar que as diferentes expressões religiosas são criação do próprio ser humano. Busca estudar e analisar as estruturas sociais, enfocando temas como mitos, ritos, tabus, xamanismo e outras formas de representações religiosas inscritas nos diferentes povos. A Psicologia da Religião, por sua vez, vai analisar os fenômenos religiosos a partir das funções psíquicas e afetivo-emocionais dos indivíduos e grupos. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, debruçou-se sobre as estruturas e crenças religiosas, considerando a religião como uma grande produtora de neuroses, em uma tensão constante entre os conceitos de desejo e culpa. Já Carl Gustav Jung, outro importante teórico da Psicologia, é autor de livros como Psicologia e Religião, Resposta a Jó, Psicologia e Religião Oriental entre outros, vendo a religião como uma dimensão importante para obtenção do equilíbrio mental. Pelo viés da psicologia da religião, fenômenos religiosos como visões, incorporações, obsessões ou até possessões são interpretados como sintomas de possíveis transtornos mentais, tais como alucinações e dissociações de personalidade. Também o fanatismo religioso é objeto de estudo da psicologia da religião, na busca de compreender que processos mentais atuam quando fiéis comportam- se de forma irracional, a exemplo do suicídio coletivo incitado pelo Reverendo Jim Jones nas Guianas, em 1978, ou dos seguidores de David Koresh, em Waco, Texas, no ano de 1993. A Sociologia da Religião é outra área que cresce em interesse acadêmico. Émile Durkheim, a partir da clássica obra As formas elementares de vida religiosa (1912), cria um modelo interpretativo que divide o mundo em duas categorias, denominadas de sagrado e profano. Para Durkheim, a religião é eminentemente coletiva e possui a função precípua de manter a coesão social. Já Max Weber procurou explicar a origem da racionalidade ocidental, escrevendo a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904- 05), um dos maiores clássicos da sociologia até hoje. Por fim, o sociólogo contemporâneo Peter Berger procura demonstrar que a “religião representa o ponto máximo no processo coletivo de elaboração de um sentido para a vida no mundo”, além de identificar as raízes do processo de secularização e desencantamento do mundo, no qual mostra o porquê as religiões tradicionais vêm perdendo seu poder e monopólio na sociedade. (FERREIRA, 2008, p. 859-861). Um outro campo de crescente interesse na relação entre ciência e religião é a área da espiritualidade e saúde. É fato histórico a íntima associação existente entre medicina e religião nas origens da maioria dos povos e culturas. Deuses ou o mundo sagrado atuando em curas é um elemento presente desde a antiguidade. Esculápio era o deus da cura na mitologia grega. Imhotept o deus médico egípcio. Nas escrituras judaicas e cristãs lemos: “Eu sou o Deus que te cura” (Êxodo 16.26). Jesus Cristo também ganhou notoriedade histórica por curar muitos doentes, conforme relatos dos evangelhos bíblicos. Para o médico Alex Botsaris, a medicina, antes de ser ciência, é um produto da cultura humana. Como a arte de curar, ela está presente desde as civilizações mais rudimentares, no momento em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa de curar as pessoas, auxiliando-as a lidar com a dor, com a incapacidade física, bem como frente à angústia, suscitadas pela doença e morte. Dessa forma, criaram-se os primeiros “sistemas médicos” que, nas culturas mais antigas, estavam ligados aos sacerdotes e líderes religiosos, como xamãs, pajés, druidas, feiticeiros e curandeiros, que exerciam tanto as funções de religiosos como as de médico/curandeiro. (BOTSARIS, 2001, p. 57). Os fenômenos da doença e da cura, portanto, foram monopólio, por muitos séculos, de religiosos e sacerdotes. Isso é chamado de Teurgia, literalmente traduzido como “trabalho de Deus”. A Teurgia envolvia cânticos, ritos, preces e outras formas de ligação com as forças divinas, sagradas e sobrenaturais, que operariam diretamente por esses meios na cura dos indivíduos. Em uma correlação com a contemporaneidade, para Landmann, o carisma e o poder quase divinizado dos médicos na atualidade têm seu nascedouro justamente em uma concepção religiosa ou mágica (LANDMANN, 1984, p. 14-15). Porém, a descoberta de técnicas experimentais de pesquisa no século XVII encaminhou uma aproximação aos fenômenos do mundo físico e biológico, distinguindo as novas práticas médicas da visão religiosa e teológica (PAIVA, 2000, p. 13). Aos poucos, as novas descobertas levaram à desapropriação da religião como lugar de cura e cuidado físico, passando a ser quase uma exclusividade da ciência médica. Gadamer afirma que o médico faz questão de se afastar da figura de curandeiro de tantas culturas, revestido pelo segredo das forças mágicas, arrogando ser um homem da ciência, isto é, que conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica de cura tem êxito, bem como entendendo a relação de causa e efeito. Porém, isso não significa que os seus pacientes se satisfaçam com essa explicação, ou seja, a esperança de cura quase mágica associada ao poder do conhecimento que o médico detém é uma fantasia constante a circular na relação médico-paciente, mesmo que os médicos procurem evitá-la a qualquer custo (GADAMER, 2006, p. 40). Na perspectiva dos benefícios da espiritualidade para a saúde integral do ser humano, Dal Farra refere-se a um conjunto de estudos que têm demonstrado o impacto da espiritualidade sobre diversos parâmetros de saúde que podem ser, inclusive, mensurados de forma metodologicamente eficiente. Diversas publicações científicas têm mostrado evidências “de que o envolvimento religioso está favoravelmente associado a indicadores de bem-estar psicológico, incluindo a satisfação na vida, a felicidade, menor frequência de depressão e de utilização de drogas de abuso” etc. (DAL FARRA, 2010, p. 589). Elementos da fé e espiritualidade representam um ponto importante a ser considerado nas questões de saúde coletiva, como podemos observar nos dados analisados por Jeff Levin, do National Institute for Healthcare Research, dos Estados Unidos, que resumem os resultados obtidos nas pesquisas sobre espiritualidade efé em relação à saúde em um amplo conjunto de aspectos, conforme descreve Dal Farra (2010, p. 591-2): Princípio 1 — A afiliação religiosa e a participação como membro de uma congregação religiosa beneficiam a saúde ao promover comportamentos e estilos de vida saudáveis. Princípio 2 — A frequência regular a uma congregação religiosa beneficia a saúde ao oferecer um apoio que ameniza os efeitos do estresse e do isolamento. Princípio 3 — A participação no culto e na prece beneficia a saúde graças aos efeitos fisiológicos das emoções positivas. Princípio 4 — As crenças religiosas beneficiam a saúde pela sua semelhança com as crenças e com estilos de personalidade que promovem a saúde. Princípio 5 — A fé, pura e simples, beneficia a saúde ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e expectativas positivas. [...] Pesquisa realizada com pacientes terminais demonstrou que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida dos pacientes como diminui os índices de depressão, de ideias suicidas e de desejo de morte breve. (DAL FARRA, 2010, p. 591-2) Posto esses elementos que colocam a religião como um objeto da ciência, passível de ser descrito e analisado sob a perspectiva acadêmico-científico, passamos agora a analisar o conceito de experiência religiosa. A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA Você já teve alguma experiência religiosa? Curiosamente, muitos alunos respondem negativamente a esse questionamento. Talvez https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_Q-3MZjvmqMLM https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_Q-3MZjvmqMLM porque a ideia implícita seja de que uma experiência religiosa precise ser um evento, algo grandioso, tais como revelações proféticas, aparições de seres divinos ou angelicais, falar em línguas, sonhos premonitórios, presenciar espíritos atuando em sessões mediúnicas, ver demônios sendo expulsos em cultos de libertação, ter recebido uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa. Dentro da subjetividade que caracteriza as experiências religiosas, podemos afirmar que elas podem ser muito mais simples do que as listadas acima. Meditar ou fazer uma prece em momentos de angústia e em seguida entrar em um estado de paz e tranquilidade, sentindo a presença de Deus, ou ainda experiências de conversão, onde o fiel acredita que Deus o chamou para viver uma nova vida, em uma mudança visível de sua forma de pensar, sentir e agir, também são experiências espirituais/religiosas. Tais experiências são interpretadas como mediações da esfera do sagrado ou do mundo sobrenatural somente a partir da fé, pois a ciência procura sempre encontrar razões lógicas, humanas e científicas para todas elas. Portanto, a interpretação das experiências religiosas sempre varia de sentido, dependendo das ideologias, convicções, argumentos e crenças pessoais de quem as vivencia, estuda e analisa. Vamos dar um exemplo dessa variação interpretativa: para algumas religiões neopentecostais, demônios podem possuir pessoas; para os cultos afro-brasileiros, entidades espirituais “ocupam” ou “incorporam” nos fiéis; para religiões espiritualistas, espíritos desencarnados podem orientar, obsediar ou subjugar indivíduos; para a psiquiatria, tais fenômenos podem ser transtornos dissociativos; para a psicologia, podem advir de um elemento de indução e sugestionabilidade de líderes religiosos. O fato é que não há como negar a existência da experiência ou do fenômeno, mesmo que suas interpretações sejam tão distintas. Por essa pluralidade de sentidos, precisamos desenvolver uma atitude de respeito para com as diferentes experiências religiosas. Para quem as vivencia, elas são reais, modificando, muitas vezes, sua maneira de enxergar o mundo, de se relacionar consigo mesmo, com Deus e com as outras pessoas. Nas experiências religiosas, portanto, as dimensões intelectuais, emocionais, espirituais, sócio-relacionais e até físicas se inter- relacionam. Elas se mostram no cumprimento de regras morais, na realização de ritos tradicionais como batismos, casamentos, crismas, funerais, preces e rezas, nas expressões cúlticas como músicas, cantos e danças, no uso de símbolos ou gestos religiosos. O certo é que todas as experiências podem variar em intensidade, indo de um mero formalismo religioso motivado pela tradição, até uma experiência interior profunda, autêntica e mística, onde se sente a presença do sagrado e do divino na própria vida. Finalizando esse capítulo, o estudo da Antropologia parece confirmar, sem negar as reconhecidas diferenças entre as religiões, que há uma tendência na busca do ser humano pelo sagrado e transcendente, ou seja, a ideia de Deus parece estar presente no inconsciente coletivo da humanidade. Podem mudar as formas de expressão, a linguagem utilizada, os relatos dos mitos, os tipos de ritos, mas o que não vai se alterar é que por trás de todas essas diferenças existe o estabelecimento de uma estrutura religiosa comum com a qual a humanidade se relaciona. A verdade é que, independentemente do que cremos, em que ou quem cremos ou como cremos, nós humanos efetivamente cremos em algo. Nem mesmo ateus e agnósticos escapam disso, pois como diz o filósofo Max Scheler, os que não são religiosos podem substituir os deuses por outras formas de ídolos, seja a ciência ou diferentes formas de ideologias. REFERÊNCIAS BENKÖ, A. Psicologia da religião. São Paulo, Ed. Loyola, 1981. BOTSARIS, Alexandros Spyros. Sem anestesia: o desabafo de um médico – os bastidores de uma medicina cada vez mais distante e cruel. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_jq0l-RcVvgfl https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_jq0l-RcVvgfl DAL FARRA, Rossano; GEREMIA, César. Educação em saúde e espiritualidade: proposições metodológicas. Revista Brasileira de Educação Médica. 34 (4): 587-597; 2010. DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA. BORTOLLETO FILHO, Fernando (Org.). São Paulo: ASTE, 2008. FERREIRA, Valdinei Aparecido. Verbete Sociologia da Religião. p. 859-861; ROOS, Jonas. Verbete Religião. p.859-861. GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. GADAMER, Hans-Georg. O caráter oculto da saúde. Petrópolis: Vozes, 2006. GIOVANETTI, José Paulo. Psicologia e espiritualidade. Em AMATUZZI, Mauro Martins (Org.). Psicologia e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2005, p. 129-145. LANDMANN, Jayme. A outra face da medicina. Rio de Janeiro: Salamandra, 1984. MONDIN, Battista. O homem, quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. PAIVA, Geraldo José de. A religião dos cientistas: uma leitura psicológica. São Paulo: Edições Loyola, 2000. REBLIN, Iuri A.; SINNER, Rudolf Von. Religião e sociedade: desafios contemporâneos. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2012. Prefácio. WIEBE, Donald. Religião e Verdade: rumo a um paradigma alternativo para o estudo da religião. São Leopoldo: Sinodal, 1998. CRÉDITOS Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado Design: Luiz Specht Diagramação: Marcelo Ferreira https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_xQ2Swgdf9CBE https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_xQ2Swgdf9CBE Ilustrações: Rogério Lopes Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais (NATE) - ULBRA EADUniversidade Luterana do BrasilTodos os direitos reservados. ESPIRITUALIDADE E CONTEMPORANEID ADE Prof. Thomas Heimann NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais, políticas, econômicas e culturais; A participar da reflexão a respeito dos valores humanos, sociais, éticos e espirituais; A construir, a partir de valores éticos e religiosos, princípios norteadores de sustentabilidade e cidadania; A atuar eticamente frente a diferentessituações no campo pessoal, social e profissional; https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_DJ-Pru5TE4yH https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_DJ-Pru5TE4yH A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito, diálogo e tolerância. INTRODUÇÃO Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão transversalizar o campo da religião e espiritualidade em sua relação com a sociedade contemporânea. A primeira parte do capítulo irá abordar alguns conceitos importantes para compreendermos diversos fenômenos atuais no campo religioso e relacional. Conceitos como globalização, fundamentalismo, tolerância e secularização são tratados a partir do fenômeno da Globalização, ao passo que os conceitos de trânsito, sincretismo e mercado religioso estarão mais relacionados à religiosidade latino- americana e brasileira. A segunda abordagem temática do capítulo parte para um assunto que transcende especificidades culturais, enfocando um fenômeno de cunho mais ontológico e existencial, que diz respeito a cada ser humano na relação intra e interpessoal: a culpa e o perdão. A abordagem dessa temática é interdisciplinar, pois envolve elementos não apenas da religiosidade, mas também elementos filosóficos, antropológicos, psicológicos e teológicos, com diferentes possibilidades interpretativas. Que esses temas nos auxiliem a refletir sobre nossos pensamentos, valores, crenças e posturas cotidianas, nos diferentes âmbitos da convivência humana. FUNDAMENTALISMOS, TOLERÂNCIA E FENÔMENOS https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_oW3e00gxq_Ey https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_oW3e00gxq_Ey https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_rKWuy7F_uZWq https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_rKWuy7F_uZWq RELIGIOSOS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização. O mundo globalizado, através dos meios de comunicação, em especial a internet, permite a interação e conexão entre pessoas em quaisquer partes do mundo. De certa forma, tornaram-se tênues as linhas que demarcam nações, territórios, culturas e jurisdições. Vivemos todos em uma espécie de “aldeia global”. A Globalização não é, portanto, um fenômeno apenas da área da comunicação, mas mundial, das relações sociais, econômicas, culturais, religiosas, enfim, das relações humanas. Hall (2011) descreve que o processo de Globalização, ao interconectar as pessoas em diversas partes do mundo, cria um novo modelo de identidade, no qual se deve levar em conta não mais os modelos de uma sociedade organizada entre fronteiras, mas uma sociedade híbrida, multifacetada, transcultural em seus usos, costumes, tradições e concepções da realidade. Afirma Hall: “as identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas estão tomando o seu lugar” (2011, p. 69). Na relação com a religiosidade, esse hibridismo retrata uma realidade muito presente em nosso país, o sincretismo religioso. Nele se constrói uma identidade religiosa híbrida, resultado da fusão ou interpenetração de diferentes religiões, seitas, filosofias, personagens, crenças e visões de mundo, numa mescla harmonizada de diferenças. Para Araújo, “o sincretismo ocorre quando dois ou mais sistemas religiosos se combinam, de modo que ambos deixam de existir como tais e produzem um sistema religioso original” (2008, p.930). A Umbanda, que combina elementos das religiões africanas, indígenas, kardecistas e também elementos do catolicismo popular é um claro exemplo de sincretismo. Além disso, indivíduos que alternam idas a missas ou cultos, frequentam esporadicamente centros espíritas, tomam passes em um terreiro, meditam num centro budista, fazem terapia de Reiki, consultam cartomantes etc, com idas e vindas nesses diferentes contextos, também demonstram uma atitude religiosa sincrética, fruto de uma globalização e indiferenciação religiosa, marcas da religiosidade brasileira. O próprio trânsito religioso, outra característica marcante de nossa religiosidade, demonstra a diluição gradativa de referências identitárias que vivemos na contemporaneidade. Isso é enfatizado pela socióloga da religião, Hervieu-Léger, que chama esse movimento de “religiosidade à la carte”, marcada pela mudança, fluidez e mobilidade de indivíduos entre as diversas opções religiosas existentes no seu contexto social. (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 28). Esse “trânsito” pode ser contínuo, implicando novas experimentações religiosas motivadas por curiosidade, modismos ou por necessidades pessoais, com a possibilidade de sucessivos retornos à religião de origem. Almeida e Montero acrescentam outra explicação para o trânsito religioso, relacionando-o com o processo de mercantilização dos bens de salvação pelas diferentes instituições, que oferecem cura, sucesso e prosperidade aos adeptos, numa espécie de “mercado religioso”. (2001, p.92). Diferentemente da Europa, onde o movimento de secularização é cada vez mais visível, com a religião perdendo sua força, poder e relevância, tanto para indivíduos quanto grupos, implicando a diminuição significativa do envolvimento religioso, no Brasil a força da religião ainda se faz muito presente na sociedade. Apesar das mudanças nas formas de expressão religiosa, ainda há forte influência da religiosidade na vida da maioria das pessoas. No Brasil, ainda consegue se encher estádios em cerimônias religiosas e cruzadas pela fé. Vamos ver esse paradoxo, a partir das imagens abaixo. Clique aqui e assista ao vídeo sobre a secularização crescente na Europa: templos religiosos se transformam em bares, livrarias e outros estabelecimentos comerciais. Já na relação com os Fundamentalismos, a Globalização introduz algumas questões para reflexão: é possível afirmar que a formação de uma identidade híbrida realmente está em processo na sociedade atual? Em pleno século XXI, pode-se afirmar que as diversas culturas, com seus princípios, com suas normas e valores, com suas tradições, com sua religiosidade, estão convivendo harmonicamente? O que dizer, então, das frequentes notícias que veiculam intolerâncias, preconceitos, radicalismos, seja em relação à etnicidade, a grupos minoritários, os indígenas, por exemplo, a gênero, ou mesmo em questões ligadas à religiosidade? https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs As questões da intolerância e do preconceito estão ligadas essencialmente ao Fundamentalismo que, embora não seja algo novo, reaparece ou “globaliza-se” no século XXI. Pode-se afirmar que atitudes fundamentalistas muitas vezes têm corroborado práticas e atitudes discriminatórias para com aqueles que, por assim dizer, não se adequam a um padrão estabelecido pela sociedade ou por determinado grupo social. O teólogo Leonardo Boff assim conceitua o Fundamentalismo: Não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar do seu espírito e de sua inserção no processo sempre cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e atualizações, exatamente para manter sua verdade essencial. O fundamentalismo representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista. (BOFF, 2002, p. 25) O Fundamentalismo, portanto, se caracteriza basicamente pela ideia de que existe apenas uma verdade, expressa na opinião do próprio fundamentalista, e que outras ideias não podem ser consideradas, respeitadas, sequer devendo existir (BOFF, 2002). Nesse sentido, precisamos admitir que os “fundamentalismos nossos de cada dia” estão muito mais perto de cada um de nós do que supomos. Convivemos e até compactuamos com posturas fundamentalistas em diferentes áreas da vida. A polarização crescente das discussões nas redes sociais, por exemplo, seja no campo das ideologias políticas, religiosas, morais, científicas e até futebolísticasrevelam o quanto os indivíduos estão imersos na onda dos radicalismos e fundamentalismos na sociedade atual, marcados pela intolerância e agressividade das relações cotidianas. Num olhar histórico-social, identificamos exemplos clássicos de fundamentalismo. Na Idade Média, os tribunais da Santa Inquisição assumiram posições radicais, condenando todos os que se posicionavam contra os preceitos da Igreja. Também ideologias políticas como o Fascismo e Nazismo são reputadas como exemplos de fundamentalismos, com efeitos nocivos à sociedade. O Nazismo de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, ao afirmar a existência de uma “raça superior” às demais, e a necessidade de extermínio das ditas “raças inferiores”, numa posição de eugenismo extremo, fez a humanidade presenciar os horrores dos campos de concentração, onde milhares de judeus e outros grupos minoritários foram exterminados pelos nazistas. De forma mais recente, o atentado do grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, às Torres Gêmeas do World Trade Center, matando cerca de três mil pessoas, mostra a relação entre o fundamentalismo e a violência. Como vai dizer Odalia, muitas vezes, atitudes violentas são justificadas sob o argumento do “pensar diferente”. O uso da violência se torna algo corriqueiro, banal, assumindo contornos de normalidade ao dizer que “o ato violento se insinua [...] como um ato natural cuja essência passa desapercebida” (ODALIA, 2004, p. 23). Com relação ao fundamentalismo religioso, nele os indivíduos e grupos se apresentam como únicos detentores da verdade, não permitindo outras compreensões do Sagrado e do Divino que não seja aquela considerada pelo fiel. Esse pensamento pode levar à discriminação, à intolerância, ao desrespeito ao semelhante e, em muitos casos, até mesmo a atos de violência, como já aconteceu no cenário social e religioso brasileiro. É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias a respeito do Divino e do Transcendental. O que está em discussão é o respeito à diversidade de pensamento, seja ele religioso, ideológico ou moral. Aqui se mostra a importância de conhecermos o conceito de tolerância, tal como propugnado por Gaarder: Tolerância, ou seja, respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do nosso, é uma palavra-chave no estudo das religiões. Não significa, necessariamente, o desaparecimento das diferenças e das contradições. [...] Uma atitude tolerante pode perfeitamente coexistir com uma sólida fé e com a tentativa de converter os outros. Porém, a tolerância não é compatível com atitudes como zombar das opiniões alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A tolerância não limita o direito de fazer propaganda, mas exige que esta seja feita com respeito pela opinião dos outros. (GAARDER, 2004, p. 14-5) Clique aqui e assista ao vídeo de Karen Armstrong sobre a intolerância e fundamentalismo religioso. Cabe ao ser humano, no respeito ao seu semelhante, perceber as diversas religiões e culturas existentes, compreender as diversas formas de religiosidade e de pensamento numa sociedade plural e caminhar para uma convivência ética, onde possa dar testemunho do que crê sem desrespeitar quem pensa diferente. Passamos agora a uma outra questão contemporânea, que também está vinculada à promoção de uma cultura de paz e de resgate de relacionamentos mais saudáveis: o tema da culpa e perdão. https://www.youtube.com/watch?v=SJMm4RAwVLo https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_97ONJdaGqMBL https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_97ONJdaGqMBL CULPA E PERDÃO: UMA QUESTÃO EXISTENCIAL Numa reportagem de capa da revista Veja (2002), intitulada "Culpa: por que esse sentimento se tornou um dos tormentos da vida moderna" a revista aborda um tema de grande relevância, não só para o campo da religião mas para toda vida relacional: o sentimento de culpa. A reportagem procura apontar para "as culpas cotidianas de cada um", que parecem não ser uma questão de escolha pessoal, mas sim uma realidade inexorável aos indivíduos que vivem na sociedade moderna: competição no emprego, optar por filhos ou carreira, o desempenho sexual, comer demais, a ditadura da beleza, o insucesso financeiro são apenas algumas dentre as diversas culpas listadas. Poderíamos perguntar se é possível um sujeito saudável psiquicamente olhar para o seu passado e dizer que nunca sentiu algum tipo de culpa. Estudiosos do comportamento humano confirmam que a ausência completa de culpa é um dos indicativos para um possível diagnóstico de psicopatia e sociopatia. Visto sob esse ângulo, a culpa parece fazer parte da dimensão humana, sendo uma questão inclusive civilizatória, que nos permite viver em coletividade, abarcando a dimensão da alteridade, ou seja, a capacidade de nos colocar no lugar do outro na relação interpessoal. O fato de ser universal não tira da culpa o seu caráter pessoal, particular e subjetivo. Há elementos familiares, religiosos, sociais e culturais na sua constituição, ou seja, o que para determinados indivíduos, grupos, sociedades ou culturas poderia ser considerado um ato culposo, para outros poderá ser um costume normal ou uma prática natural. Com relação às fontes da culpa, ela pode ser de origem interna ou externa. As culpas externas são atribuídas ou impostas aos indivíduos pelos costumes, tradições, regras e leis dos mais diferentes âmbitos: civis, religiosos, sociais, profissionais e mesmo pessoais. Quando uma regra ou lei é violada, o transgressor se torna culpado perante ela, mesmo que ele não se sinta culpado internamente, o que denominamos de culpa objetiva (COLLINS, 2004, p.158). Já a culpa subjetiva é o sentimento pouco confortável de pesar, remorso, vergonha e autocondenação que surge, com frequência, quando fazemos e pensamos algo que sentimos estar errado, ou quando deixamos de fazer algo que julgamos que deveria ter sido feito (2004, p. 158). A culpa subjetiva, portanto, está intimamente associada aos sentimentos humanos, no sentido de provocar algum tipo de sofrimento psíquico, remetendo-nos à segunda fonte da culpa, essa de caráter interno: a nossa própria consciência. É possível afirmar que o ser humano é dotado de uma capacidade inata, uma voz interior que lhe dá uma intuição íntima e pessoal do que é certo ou errado. O curioso é que a culpa subjetiva pode brotar no indivíduo mesmo quando não há uma culpa objetiva ou exterior imposta a ele, ou seja, posso me sentir culpado por algo que objetivamente não foi provocado por mim (exemplo: a culpa de ter sido o único sobrevivente de uma tragédia ou acidente). Isso nos leva a uma outra reflexão. Afinal, o sentimento de culpa é um aspecto positivo ou negativo na vida das pessoas e da própria sociedade? Por mais paradoxal que possa parecer, a culpa pode cumprir funções positivas e construtivas para a vida relacional. Ela nos auxilia na prevenção de atos ilícitos ou prejudiciais, pois antes mesmo de violar uma regra a culpa antecipatória já pode se fazer presente no indivíduo. Uma segunda função é o ato da reflexão, pois após cometer um ato que a sua consciência apontou como má, a culpa surge e pode levar o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias ações. A reparação, no sentido de pedir perdão e restituir concretamente a quem lesamos também é um aspecto positivo da culpa. Por último, a culpa pode levar o indivíduo a não mais cometer um ato que sua consciência julgou ilícito e o fez sofrer, gerando uma mudança positiva de comportamento. Olhando para as funções positivas elencadas, pode-se afirmar que um indivíduo que não sinta nenhuma culpa diante de algumas atitudes e decisões pessoais, pode tornar-se uma ameaça para si e para a sociedade. A ausência da culpa, que parece indicar a inoperância da consciência moral, faz com que o indivíduo perca a noção dos limites e da liberdade do outro, tornando-o um indivíduo"perigoso" socialmente. Quanto aos aspectos negativos da culpa, esses são mais fáceis de serem percebidos. A culpa pode cobrar um alto preço do indivíduo, como provocar crises de ansiedade, angústia, preocupação, insônia, mau humor, baixa autoestima, melancolia, depressão e, inclusive, levar um indivíduo a cometer o suicídio. Doenças como úlceras, gastrites, impotência, frigidez, enxaquecas, entre outras, também podem ter um forte componente emocional ligado às culpas individuais. Culpas reprimidas e não resolvidas se tornam, potencialmente, sintomas neuróticos. A culpa também pode ser utilizada negativamente como forma de manipular e chantagear pessoas. Relacionamentos pautados sobre o sentimento de culpa são nocivos, pois geram sentimentos como pena, comiseração, rancor, indiferença, criando um ambiente não saudável e de sofrimento aos envolvidos. INFOGRÁFICO Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos tratando é a relação existente entre a culpa e pagamento. Para o psiquiatra suíço Paul Tournier, a culpa traz como consequência quase inevitável uma ideia de pagamento, como se houvesse uma atitude psicológica enraizada no coração humano que nos diz que "Tudo deve ser pago". (1985, p.200). Esse sentimento de dívida constante está presente em muitos atos religiosos. Como diz Tournier (1985, p. 201), basta lembrar as multidões inumeráveis de fiéis hindus que mergulham nas águas do rio Ganges a fim de serem lavados de suas culpas e até nas ofertas votivas e no ouro que cobrem as estátuas de Buda. Igualmente, são inúmeros os penitentes e peregrinos de todas as religiões que impõem a si mesmos sacrifícios, práticas ascéticas (privar-se de qualquer forma de prazer) ou duras jornadas como formas de pagamento, seja por culpas cometidas ou até por graças alcançadas. Tais pessoas parecem ter uma necessidade interna de pagar, de expiar as suas culpas. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_YJhmnViHEcsr https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_YJhmnViHEcsr Porém, essa ideia de pagamento não fica circunscrita ao mundo religioso. O ser humano também busca pagar suas culpas do cotidiano. Uma falha leve com a namorada, por exemplo, pode ser paga com um buquê de flores e um convite para jantar. Um castigo imposto injustamente a um filho pode ser compensado com um presente; e assim por diante. A típica frase "Essa ele me paga!", muitas vezes repetida por nós em inúmeros e variados contextos e situações, expressa o que estamos aqui afirmando. Todas as faltas, erros, delitos e pecados parecem exigir um pagamento, cujo preço geralmente será proporcional ao tamanho do erro. Na prática da confissão católica, por exemplo, a penitência que é atribuída pelo sacerdote ao fiel normalmente será proporcional à gravidade do seu pecado. Os pagamentos podem ser, inclusive, inconscientes. A psicanálise afirma que muitas doenças nervosas e físicas, e até mesmo acidentes, bem como frustrações na vida profissional, podem ser tentativas de expiação da culpa que é totalmente inconsciente. Seriam formas de punição que o sofredor administra a si mesmo e continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável (TOURNIER, 1985, p. 201). CULPA E RELIGIÃO Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus aspectos fundantes sendo, por vezes, até utilizada como instrumento de domínio das igrejas sobre os fiéis. Como diz Tournier (1985, p. 202), para apagar o passado de culpas e pecados, uma expiação (pagamento) deve ser feita, sendo esse o sentido de quase todos os ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religiões. Espera-se que eles garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu origem a ela. Isso pode ser percebido desde as práticas primitivas de aplacar a ira dos deuses por oferendas e sacrifícios, quando acreditava-se que alguém havia cometido um delito grave contra os deuses. Nas religiões orientais o conceito da transmigração das almas e da lei do carma https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_bNVnb7fJA9bZ https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_bNVnb7fJA9bZ trazem implícita a ideia de que para evoluir espiritualmente o indivíduo precisa “pagar” as suas faltas através de ações positivas, negação de determinadas práticas ou realização de diferentes rituais. Em religiões espiritualistas, afro-brasileiras e mesmo em muitas denominações cristãs, também está presente o conceito da teologia retributiva, ou seja, de que dificuldades, doenças, sofrimentos e tragédias seriam uma forma de pagamento por erros, más ações ou pecados cometidos, doutrina também conhecida como “lei do retorno”. Por um longo tempo, o cristianismo também se estruturou sobre a prática do pagamento por culpas e pecados cometidos. Na Idade Média, era comum a venda de indulgências, que nada mais eram do que uma compra do perdão e da salvação eternas. Além disso, havia a veneração de relíquias sagradas, encomendas de missas pagas, realização de votos e promessas, práticas de autoflagelo, tudo como forma de expiar as suas culpas, pagar as dívidas com Deus e ganhar algum mérito pessoal diante Dele. Não é essa proposta, porém, que um cristianismo comprometido com os evangelhos bíblicos e com o ensino e obra de Jesus Cristo oferece aos seres humanos. A igreja cristã tem o compromisso de proclamar a salvação, a graça e o perdão de Deus à humanidade oprimida pela culpa: a salvação conquistada em Cristo, por Cristo e através de Cristo. Essa salvação não tem preço, não pode ser comprada por ninguém, até porque, para o cristianismo, sacrifícios expiatórios ou esforço moral não são suficientes para pagar a dívida com Deus. Na realidade, o cristão não precisa pagar nada, pois Cristo já pagou em seu lugar. Como lembra Tournier: [...] é Deus mesmo quem paga, Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas, o preço mais caro que ele poderia pagar: a sua própria morte, em Jesus Cristo, na cruz. A obliteração (destruição/eliminação) de nossa culpa é livre para nós porque Deus pagou o preço. Jesus Cristo veio "para salvar o que estava perdido" (Mt 18:11). (TOURNIER, 1985, p. 212-3) Em síntese, a libertação total da culpa, a salvação, não é mais uma ideia remota de perfeição para sempre inacessível; mas passa a ser personificada numa pessoa - Jesus Cristo - que veio como presente de amor e misericórdia dado por Deus à humanidade. (TOURNIER, 1985, p. 214). Essa é uma possibilidade que, racionalmente, é vista como “loucura para aqueles que não creem”, tal como diz o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 1.18. O PERDÃO COMO ATO LIBERTADOR O grande ápice do nosso capítulo é a palavra "perdão". De nada adianta falar de culpas se não abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão. Numa dimensão humana, das relações interpessoais, poderíamos afirmar que o perdão é uma das mais importantes ferramentas terapêuticas existentes nesta vida. Numa sociedade cada vez mais pautada pela violência, intolerância, orgulho e individualismo, a arte de perdoar se torna um dos grandes desafios humanos, a ponto de esse ser um dos pedidos que Jesus inseriu na oração do Pai Nosso, ensinando aos seus discípulos: “[...] perdoa as nossas dívidas (ofensas), assim como nós perdoamos aos nossos devedores (a quem nos tem ofendido)” (Mateus 6.12). Jesus ensina e encarna o perdão, intercedendo até mesmo em favor daqueles que o açoitaram, crucificaram e o conduziram à morte, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). O psicólogo americano Dr. Frederic Luskin, autor do livro O poder do perdão, criador do Projeto do Perdão da Universidade de Stanford, faz uma relação entre o bem-estar trazido pelo perdão e a saúde do ser humano. Luskin afirma que guardar ressentimentos, culpar os outros ou apegar-se às mágoas estimulam o organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas substâncias químicas associadas ao stress,que prejudicam o corpo. Outro estudo de Luskin indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos doenças crônicas diagnosticadas (TARANTINO, 2003). Portanto, perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde, na dimensão emocional, física e espiritual. Sabemos, porém, que isso não https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_Uj-Tz0a-A-BR https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_Uj-Tz0a-A-BR é fácil. Mais do que ações, o ato de perdoar e pedir perdão acabam sendo um longo processo que precisa ser buscado e aprimorado em nossa vida. Numa perspectiva psicológica, o perdão sempre acontece no interior do indivíduo, sendo uma decisão íntima e pessoal. Por isso é que perdoar e reconciliar são conceitos diferentes. O perdoar é uma relação consigo mesmo, já o reconciliar envolve a relação com o outro, que nos feriu. Podemos perdoar mesmo quando não houver reconciliação, até porque, por vezes, ela é impossível de ser efetivada concretamente. Porém, quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o agressor, no qual só vai aumentar sua própria dor e sofrimento, ficando prisioneiro dela. Por isso é que se diz que perdoar é libertar- se, pois quem perdoa rompe os laços com o mal feito a si, eliminando o poder e domínio daquele que cometeu a ofensa. Já numa perspectiva religiosa cristã, o primeiro passo para aprendermos a perdoar e a recebermos o perdão é confiar que as nossas culpas e os nossos erros já foram todos pagos por Deus através da morte de Jesus Cristo. O reconhecimento dos nossos erros, que leve a um verdadeiro e sincero arrependimento, que nos motive a viver de forma correta e a ter uma disposição interna constante em perdoar aos outros, num compartilhamento mútuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por Deus em Cristo Jesus, é aquilo que o próprio Jesus ensina nos evangelhos. Nada mais de auto sacrifícios, penitências ou sofrimentos auto impingidos. Culpa e perdão! Questões existenciais que permanecerão atuando, afligindo e ressoando nos corações humanos enquanto o indivíduo viver, mas cuja resolução está mais próxima do nosso alcance do que podemos imaginar. Dentre tantas possibilidades, na visão cristã, a resposta está na pessoa que se tornou a encarnação viva do amor, da paz, do consolo e do perdão, chamada Jesus Cristo. Crer e apoderar-se desse perdão é a ferramenta terapêutica por excelência, fonte de vida e alegria, da qual todos, sem exceção, podem fazer uso. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_jq0l-RcVvgfl https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_jq0l-RcVvgfl REFERÊNCIAS ARAÚJO, João Dias. Sincretismo. In: Dicionário Brasileiro de Teologia. (Fernando Bortolleto Filho – Org.). São Paulo, ASTE, 2008, p.930-1. BOFF, Leonardo. Fundamentalismo: a globalização e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão. Edição Século 21. São Paulo: Vida Nova, 2004. GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. HERVIEU-LÉGER, D. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Lisboa: Gradiva, 2005. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. ODALIA, Nilo. O que é violência? 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. 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A RELIGIÃO NO MUNDO Prof. Mario Rafael Yudi Fukue NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER A compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica, constituinte das civilizações; A conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo ocidental e oriental; A reconhecer os principais fatos da história das religiões, bem como suas consequências; A demonstrar consciência da diversidade, respeitando o ser humano em suas diferenças geracionais, religiosas, de acesso, credo, gênero, classes sociais, escolhas sexuais e das pessoas com deficiência; A analisar a importância dos valores éticos, morais e espirituais na formação integral do ser humano. INTRODUÇÃO Quem sou eu? Como foi que tudo veio a existir? Por que existe tanto sofrimento? Existe um propósito no Universo? Se Deus existe, como https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_DJ-Pru5TE4yH https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_DJ-Pru5TE4yH https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_oW3e00gxq_Ey https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_oW3e00gxq_Ey faço para ser salvo? O que acontece depois da morte? - essas são algumas questões presentes em todas as culturas humanas. São questões existenciais, pois lidam com a existência humana. Elas formam a base de todas as religiões e, por conseguinte, de toda a cultura humana. Conforme Gaardner, “não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião” (2013, p. 11). As culturas dos povos foram moldadas conforme as respostas que suas religiões ofereciam às questões existenciais. Por exemplo, o conceito de Direitos Humanos tem profundas raízes na tradição bíblica, especialmente no visão do ser humano como “criado à imagem de Deus”. Outro exemplo é a preferência de hindus pela culinária vegetariana por razões religiosas, pois acreditam que todos os animais carregam um atman, grosso modo, uma alma imortal. Além da capacidade de moldar culturas, os conceitos religiosos de um povo também influenciam a forma como indivíduos fazem suas escolhas cotidianas. Por exemplo, um judeu ou adventista não trabalham depois do pôr do sol da sexta-feira, que, para eles, marca o início do sábado, dia de santificar a Deus e se dedicar ao descanso. Outro exemplo é o pastor Dietrich Bonhoeffer que, por razões religiosas, se opôs ao regime nazista e chegou a afirmar: “Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador” (Declaração de Bremen). Em um mundo cada vez mais interconectado, você certamente trabalhará com pessoas de diversas etnias e de variadas tradições religiosas. Mesmo aqueles que não professam nenhuma crença específica são filhos e filhas de culturas marcadamente religiosas. Por todas essas razões, conhecer as grandes religiões do mundo é útil para desenvolver competências que ajudarão você a melhor se relacionar com todas as pessoas, especialmente com aquelas que agem, creem e pensam diferentemente de você. Além disso, esse conhecimento ajudará você a compreender melhor suas próprias questões existenciais. Neste capítulo, começaremos nossa jornada no Oriente e conheceremos a tradição dos hindus na Índia, os ensinos de Sidarta (Buda) e a pregação da simplicidade e da ordem por parte de Confúcio e Lao Tsé. Depois, iremos ao Oriente Médio e estudaremos as religiões abraâmicas que moldaram a sociedade ocidental: o Judaísmo e o Islamismo. Para saber mais: Direitos humanos: o que a igreja tem a ver com isso? Dietrich Bonhoeffer: uma biografia. RELIGIÕES DO ORIENTE Vamos encontrar, nesta seção, quatro grandes religiões: Hinduísmo, Budismo, Confucionismo e Taoísmo. De cada uma podemos tirar lições transmitidas por séculos e vividas por seguidores que buscavam sentido para a vida entre essas religiões e filosofias. HINDUÍSMO OHinduísmo não tem fundador, nem credo fixo. Na verdade, o Hinduísmo é o conjunto de religiões que se originam das interações entre o povo nativo do vale do rio Indo e os povos indo-europeus, que chegaram na região 4 mil anos atrás. A religião que surge dessas interações de povos sustenta uma visão cíclica da história. A cada final de ciclo, o Deus Shiva dança sobre o mundo até reduzi-lo a pedaços. Depois, o deus Brahman recria o mundo novamente. Um hindu crê que, depois da morte, sua alma renasce numa nova criatura, humana ou animal. O que determina a próxima existência é o carma, que aponta para o movimento de “ação e reação”: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Veja que a visão cíclica também está presente na forma como o Hinduísmo explica o sofrimento e a libertação dele. A esse ciclo de nascimento, morte e renascimento dá-se o nome de Samsara, a roda da vida. Para se libertar https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_-zxn9aTeoCLl https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_-zxn9aTeoCLl https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.ultimato.com.br%2Fconteudo%2Fdireitos-humanos-o-que-a-igreja-tem-a-ver-com-isso&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHbSuiVYVjmYD_sTOFfYRspyzGqow http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.ihu.unisinos.br%2F169-noticias%2Fnoticias-2015%2F541537-dietrich-bonhoeffer-uma-biografia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFVPX-fFVXOkk9HbTgsfc9gdP_nTA https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_rKWuy7F_uZWq https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_rKWuy7F_uZWq https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_GabTfzFA7A_m https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_GabTfzFA7A_m da Samsara, o hindu deve dedicar-se a ações nobres. O que determina a próxima existência é o carma, que aponta para o movimento de ação e reação: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Também há no conceito de carma a ideia de ordem natural das coisas, da existência que deve ser aceita para que o indivíduo aprenda e evolua. As Castas Desde tempos imemoriais, sempre houve quatro varnas (cor em sânscrito). De acordo com o RigVeda (textos sagrados hindus), as varnas se originam do sacrifício do deus Purusha: da boca, nasceram os brâmanes (classe sacerdotal); de seus braços, vieram os guerreiros; de suas pernas, surgiram os agricultores e artesãos; e de seus pés, os servos. Havia também os dalits (intocáveis), que teriam nascido do pó das unhas de Purusha. A base religiosa desse sistema é a noção de impureza e pureza. Castas baixas ocupam trabalhos impuros para ajudar as castas altas a se manterem puras, que por sua vez realizam rituais religiosos em favor de todas as castas. Para reencarnar em uma casta superior, o indivíduo deve usar suas existências para melhorar seu carma. Apesar de abolido pela Constituição indiana de 1947, o sistema de castas continua tendo um papel importante na sociedade indiana. Preconceito? Não é bem assim que os indianos pensam. Quer saber mais sobre as castas? Clique aqui. Da vaca ao conceito de ahimsa (resistência pela não-violência) A vaca é um animal sagrado na Índia, e é considerada mais pura do que um brâmane. Para os hindus, a vaca e todos os outros animais possuem atman (alma) e, por essa razão, não podem ser mortos. Isso transformou muitos hindus em vegetarianos e, conforme Gaarder (2013, p. 48) “abriu caminho para o ideal da não violência, que ficou https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5dgEEtgQ7CGN https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5dgEEtgQ7CGN https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fsuper.abril.com.br%2Fhistoria%2Fdivisao-ancestral%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNET_gbA-azarnBDP41Qw369RAvObA https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_zPn8fLvtuUoa https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_zPn8fLvtuUoa mais tarde conhecido com a luta de Gandhi pela independência da Índia." Mahatma Gandhi ensina a ahimsa - a resistência pela não violência. Conheça mais de suas ideias neste link. Como se libertar do carma? Três vias de Salvação No Hinduísmo védico, o ciclo do carma e reencarnação era visto como positivo. Mais tarde, a reencarnação foi vista como um círculo vicioso, do qual seria necessário se libertar. No período védico tardio, de 1000 a.C. a 500 a.C., os escritos Upanishads introduziram a noção de Brahman, a força divina que permeia todo o universo. Assim, três novas formas de se libertar do carma foram sendo gradualmente formados: Via do sacrifício - o hindu deve realizar corretamente os rituais religiosos, além de seguir o caminho do ascetismo; Via do Conhecimento - conforme os Upanishads o ser humano alcança a libertação por meio da compreensão plena da unidade entre o atman (alma) e Brahman; Via da Devoção - nesta via ensina-se que a libertação por meio do bhakti, isto é, a fé e devoção a Deus, realizando os rituais sem pensar em recompensas. O hindu empenha-se em se libertar do carma e da reencarnação e atingir o moksha, que é a união final do atman (alma) com o Brahman. No moksha não haverá mais individualidade, pois todos estarão dissolvidos no Brahman. Três deuses Até o momento, você já ouvir falar sobre Shiva, o deus destruidor, e Brahman, o deus criador, que permeia todo o universo, mas o Hinduísmo também tem um terceiro grande deus: Vishnu, o deus sustentador. https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fdharmalog.com%2F2012%2F08%2F02%2Fgandhi-explica-porque-e-como-realizar-o-principio-da-nao-agressao-ahimsa-parte-indissociavel-da-verdade%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGrql1DHouMniw5VFajvC5HP5IEow https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_TwSoOvdm8S0j https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_TwSoOvdm8S0j https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_f0FlYzPH8TLv https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_f0FlYzPH8TLv Brahman conhecido como o Deus criador, Senhor da Sabedoria, cultuado pelos sacerdotes. Todos nascem dele. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_Gu2AdenT7283 https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_Gu2AdenT7283 Vishnu o deus mantenedor da criação. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_AD04gy5mYJ2O https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_AD04gy5mYJ2O Shiva deus renovador, senhor da vida e da morte, o deus dos iogues, retratado como um asceta, traz a doença e a morte, mas também a cura. O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses, mas aos milhares de divindades locais. Quase todas as aldeias têm a sua https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4xgAkJRnYKRa https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4xgAkJRnYKRa própria divindade local. Além disso, há uma infinidade de deusas. Segundo Gaarder (2013, p. 48): “Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina, a “Rainha do Universo” ou “Deusa-Mãe””. A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da “Mãe Índia” (Bhárata Mata ou Bharthamata) como a divindade nacional do atual Estado da Índia. BUDISMO O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio à fortuna e ao luxo. Aos 29 anos, ele teria tido o primeiro contato com um velho, um doente e um cadáver. Ao mesmo tempo, ele teria visto um alegre asceta. Dessa comparação, ele concluiu que a vida de conforto não concede plenitude à existência. Siddatha renuncia à vida do palácio e parte para uma vida de ascetismo, que não lhe traz resultados. Tendo experimentado os dois extremos, conforto e ascetismo, Siddartha conclui que nenhum deles levavam ao nirvana. Por isso, propôs o “caminho do meio”, da meditação, pelo qual chegou à iluminação (bodhi). Pela meditação, ele percebe que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo. Assim, é apenas suprimindoo desejo que se pode escapar de outras encarnações. No “Sermão de Benares”, Siddartha apresenta as quatro verdades que guiam o ser humano na superação do sofrimento: Tudo é sofrimento. O apego aos elementos dessa existência nos leva ao sofrimento, tudo aquilo que amamos não dura para sempre. Tudo é maya (ilusão). Desejo é a causa do sofrimento. Se tudo é ilusão, não há razão para se apegar ao que quer que seja, pois sofremos sempre que perdemos o ser ou o objeto a que somos apegados; Quando o desejo cessa, começa o nirvana. Abandonar o desejo e conhecer a transitoriedade da vida é a saída do carma e o início do Nirvana; Uma pessoa alcança o Nirvana pelo caminho das oito vias: https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5wFLL7nb8T46 https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5wFLL7nb8T46 1. entendimento justo: conhecer o caminho que conduz à cessação do sofrimento; 2. resolução justa: não prejudicar ou matar qualquer ser vivo; 3. palavra justa: abster-se da mentira, calúnia e injúria; 4. conduta justa: abster-se de tirar a vida, de roubar e praticar a luxúria; 5. sustento de vida justo: abster-se das armas, álcool, tóxicos e de qualquer atividade ilícita; 6. esforço justo: a vontade necessária para estancar as más qualidades que afloram à mente; 7. pensamento justo: ter consciência do seu próprio corpo, dos sentimentos e das atividades da mente; 8. meditação justa: a serenidade interna é desenvolvida através da prática de meditação que, em última análise, conduz ao nirvana. Tipos de Budismo Depois da morte de Siddartha, o Budismo se dividiu em duas tendências: o Theravada (“a escola dos antigos”), predominante no sul da Ásia e o Mahayana (“grande veículo”), predominante na China, Coréias e Japão. O Budismo Theravada enfatiza a salvação por meio de ascetismo e meditação. Não há deuses. E nem mesmo Buda seria capaz de iluminar alguém. Cada indivíduo deve imitar o exemplo de buda até atingir o Nirvana. Nessa linha de Budismo, o nirvana só é possível para monges. Conheça mais do Budismo Theravada e Mahayana, assistindo o vídeo: O Budismo Mahayana, por seu turno, ensina que todas as pessoas podem alcançar o nirvana. A famosa escola Zen Budista, por exemplo, enfatiza a “visão direta” de Buda por meio de um estudo e contemplação de si mesmo. Na prática zen, a iluminação também pode ocorrer nas atividades rotineiras. Por esse motivo, no Japão, atividades como fazer arranjo de flores (ikebana), tomar chá, poesia (haicai) e lutar (bushidô) passaram a ter importância ritualística. Assista A esse vídeo e compreenda a diferença entre as escolas budistas: https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_UX4Ctxw88UCO https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_UX4Ctxw88UCO https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_2XbF3wSY8UK_ https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_2XbF3wSY8UK_ CONFUCIONISMO E TAOÍSMO Com seu PIB de 12,7 trilhões de dólares (2017), a China é segunda maior potência econômica. Provavelmente, hoje ou no futuro próximo, seu trabalho e relações terão algum ponto de contato com o maior país da Ásia. Por isso, conhecer as religiões que formaram a cultura e religiosidade chinesa são importantes. Confucionismo Confúcio nasceu em 551 a.C em uma China devastada pelas guerras civis. Depois de tentar reformar o país pela via política, se estabelece como professor particular. A filosofia de Confúcio não dedica muita atenção às grandes perguntas existenciais, mas à vida diária e a busca por harmonia. Ele está mais preocupado com uma visão política pragmática do que com o destino da alma após a morte. Ele teria dito: “quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?”. Ensinos Confúcio buscava o tao, a harmonia predominante do Universo, que só pode ser alcançada com conhecimento e compreensão. Nesse ponto, o estudo da tradição era capaz de ensinar ao ser humano as regras éticas corretas, as celebrações rituais corretas e seu lugar correto na sociedade. Para Confúcio, os conceitos de uma atitude correta em todas as esferas são piedade filial, respeito e reverência. Outro ponto do ensino de Confúcio é a simplicidade como base da harmonia. Por isso, um mundo em paz começa com honra do indivíduo. Para ele, se um indivíduo possui honra, terá caráter. Se tem caráter, seu lar terá harmonia. Se há harmonia na família, o país estará em paz. E países em paz produzem um mundo harmonioso. Quer mudar o mundo? Comece com seu quarto. O Confucionismo conquistou as classes dominantes, tornando-se praticamente uma religião estatal, que influencia a forma chinesa de pensar até hoje. O coração do povo simples não foi conquistado por Confúcio, mas por Lao Tsé, fundador do Taoísmo. https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_qM8v6avK9Dfd https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_qM8v6avK9Dfd https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6eD91EPE9D6r https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6eD91EPE9D6r https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6E4JaY_f9EIe Taoísmo A origem do taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado Lao-Tsé, o grande e velho mestre. Teria sido contemporâneo de Confúcio. O Livro Sagrado e seus conceitos Uma boa ideia do início do taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos no texto de Huston Smith (2001, p. 194), que assim coloca: Lao-tsé (...) recolheu-se durante três dias e retornou com um magro volume de 5.000 caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. (...) Um livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos. No Tao Te King, tudo gira em torno do Tao, que literalmente significa “caminho”. Esse caminho pode ser entendido de três maneiras: 1- Tao é o caminho da realidade última; 2- Tao é o caminho do Universo, o poder propulsor de toda a natureza, o princípio ordenador por trás da vida; 3- O Tao refere-se ao caminho da vida humana, quando ela se harmoniza com o Tao do Universo. YIN/YANG Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os valores e, como ideia correlata, a identidade dos opostos. Nesse aspecto, o taoísmo está ligado ao tradicional símbolo chinês do yin/yang: https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_58-rM2Z79EVW https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_58-rM2Z79EVW https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4QANvifd9W-J https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4QANvifd9W-J Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal, ativo/passivo, etc. Mas as metades, embora estejam em tensão, se contemplam e se equilibram com a outra. “A vida não se dobra sobre si mesma, e chega, completando o círculo, à percepção de que tudo é um e tudo está bem” (SMITH, 2001, p. 210). O conceito de Tao e Ying/Yang está presente na realidade brasileira, especialmente em práticas vindas da China, tais como terapias chinesas do Do-In, Acupuntura e Reiki, Feng-Shui (harmonização de ambientes), artes marciais como Kung Fu. Quer conhecer mais desse conceito? Leia neste link e assista esse vídeo. RELIGIÕES ABRAÂMICAS O que Cristianismo, Judaísmo e Islamismo têm em comum? Seus seguidores adoram somente um Deus, Senhor e Criador de tudo. As três religiões possuem origem no patriarca Abraão, por isso também são chamadas de religiões abraâmicas. Neste capítulo, estudaremos o Judaísmo e o Islamismo. JUDAÍSMO O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo Cristianismo e Islamismo. O Monoteísmo das religiões abraâmicas reconhece “Elohim” como o Deus único, o criador do mundo e de suas criaturas. Toda vida depende dele e tudo o que é bom flui dele. É um deus pessoal, que tem preocupação com as coisas que criou e nelas intervém. O nome pessoal de “Elohim” é representado pelas letras IHVH, que significa
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