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Vero - nova edição

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VERO 
Lua Valentia 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
 
 
Índice 
 
 
• Contexto histórico da magia do caos 18 
• Contexto filosófico da magia do caos 21 
• Contexto científico da magia do caos 37 
• Conceituando magia do caos 39 
• A cultura caote 46 
• Como a magia funciona 68 
• As vantagens do caos 78 
• Foco e disciplina 86 
• Armadilhas prejudicais 91 
• Tecnomagia e a corrente 108 105 
• Magia do caos e política 116 
• Magia para o descrente 126 
• Geometria sagrada 131 
• Deidades caóticas 138 
• Estado de gnose 140 
• Visualização 150 
• Banimentos 155 
• Mágicka de emergência 160 
• Sigilos 161 
• Hipersigilos 182 
• Servidores 190 
• Criando o seu próprio deus 214 
• Pacto com o diabo 221 
• Caos e baphomet 231 
4 
 
• O papel dos illuminati no novo aeon 235 
• Transmutação 243 
• Ansiedade na magia 254 
• Preguiça na magia 258 
• Trabalho com a sombra 263 
• Fortalecendo a mente 280 
• Técnicas caóticas úteis 284 
• Parasitismo astral 287 
• Garrafa da transmutação 302 
• Três dons que você deve treinar 304 
• Baterias mágickas 307 
• Dicas finais 309 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
SOBRE 
 
Crie sua própria religião, invente sua 
realidade, fabrique o seu mundo. Talvez você seja 
realmente um fã do nonsense, ou simplesmente não 
queira levar a vida tão a sério. Magia do Caos 
proporciona tudo isso e muito mais, basta que você 
faça um bom uso da sua imaginação. 
Magia do Caos é o metassistema mais 
utilizado atualmente. O simples fato de adaptar um 
ritual para sua própria realidade pode ser 
considerado Magia do Caos. 
Isto que você tem em mãos não é um simples 
livro, mas sim um portal caótico que te levará a 
encontros inesperados. Toda leitura é uma viagem e 
aqui estamos aproveitando a nossa. 
É muito provável que você também tenha caos 
dentro de si. E que por tabela tenha essa vontade 
imensa de criar um universo inteiro, interconectado. 
6 
 
A Magia do Caos começa com a 
imaginação. Tudo aqui é um exercício de 
criatividade. É, de fato, um processo mental. Por 
isso a minha fascinação em compreender a mente! 
Aliás, você sabia que a palavra mente vem do termo 
em latim mentém, que tem o significado de medir, 
pensar, conhecer, entender? 
Veja, você está lendo rapidamente essas 
linhas, que são formadas por palavras e por letras. 
Aliás, as letras nada mais são que signos e você 
consegue decifrar... seu objetivo deve ser entender 
o significado de cada palavra e criar na sua mente 
uma interpretação do texto. 
Se você levar este livro para um clube de 
leitores, provavelmente todos saberão ler e entender 
o que está escrito, ainda que cada pessoa tenha uma 
interpretação subjetiva para cada passagem. Não é 
mágico? 
A base da Magia do Caos está em criar e se 
conectar com sigilos, servidores, egrégoras e 
7 
 
deidades. Sigilos são signos que remetem a algum 
significado mágico. 
Tudo isto é magia e funciona como nos 
explica a semiótica, a ciência que estuda os signos. 
 A semiótica observa certos fenômenos culturais. 
Trata-se de uma disciplina para alunos da 
Comunicação, assim como a linguística é uma 
disciplina para alunos das Letras. A linguística 
estuda os signos linguísticos, como nossa mente 
aprende a linguagem. 
Já a semiótica estuda qualquer sistema 
sígnico, tais como artes visuais, música, fotografia, 
cinema, culinária, vestuário, gestos, religião, 
ciência. Quanto mais signos você souber, mais culto 
será. Acessar diversos conhecimentos também 
aumenta seu repertório mágico. 
Eu sei por que você está lendo este livro. Você 
busca poder, aventura, satisfação. Você quer uma 
vida fantástica, quer aprender a usar melhor as 
energias que pulsam em você. 
8 
 
Sua vida está ruim? Está difícil? Saiba que você 
tem o poder de mudá-la. Pela primeira vez na 
história, a humanidade tem bibliotecas inteiras à 
disposição, conhecimento gratuito a cliques de 
distância. 
Tendo um teto sobre sua cabeça e acesso ao 
conhecimento, você tem a fórmula para o sucesso. 
Sabedoria de milênios está armazenada bem aí no 
seu smartphone. Algo que era impensável há 
décadas atrás! 
Então pergunto, como você gasta seu tempo? 
Através da criatividade, organização, da disciplina, 
do estudo e da prática, você pode melhorar a sua 
vida, mudar a sua rotina, trazer magia para a sua 
casa. 
A Penumbra está reunindo o que há de melhor e 
revelando o oculto para você, de forma a facilitar a 
sua vida. Agora você pode ser de fato quem você é, 
basta sair um pouco da zona de conforto e buscar 
conhecimento nas áreas que você tem dificuldade. 
9 
 
Nós juramos, tudo que você precisa está ao seu 
alcance. 
Este livro está dividido em 2 partes: Magia do 
Caos e Magia da Transmutação. Cada parte é 
importante. Por se tratar de um livro básico, você 
não terá problemas em entender os conceitos. 
Sinta-se à vontade para discordar do que lê, 
questionar o que foi escrito e até mesmo duvidar de 
cada vírgula. É importante que você faça suas 
próprias pesquisas e trace o seu destino. 
Não é obrigatório (nem necessário) seguir 
tudo que está aqui exatamente como eu escrevo. 
Lembre-se de que são apenas sugestões, dicas e 
experiências. Demorei muito tempo para encaixar 
magia na minha realidade do dia-a-dia, faça como 
se sentir mais à vontade. 
Eu estou aqui passando meu próprio grimório, 
ou seja, o recorte mágicko que eu achei relevante 
10 
 
para a minha prática pessoal. Eu espero que ajude a 
sua jornada. 
Seja como for, eu estarei sorrindo e torcendo por 
você. Espero que se divirta lendo! 
Com carinho, 
Lua Valentia 
 
INTRODUÇÃO À MAGIA DO CAOS 
 
Conheço uma pessoa que sempre exclama: “que 
magia!” quando se depara com algo belo ou que a 
emociona. Magia de fato pode ser um estado de 
espírito, um conceito filosófico e até mesmo 
prático. 
Neste livro, defino magia como a arte de 
influenciar o dia-a-dia mundano, utilizando 
ferramentas da psicologia, da comunicação, da 
arte, da ciência e do ocultismo para alcançar 
determinados objetivos. 
11 
 
Aqui irei definir Magia do Caos como a 
capacidade que o magista tem de mudar seus 
sistemas de crenças. Ou seja, você realmente 
acredita em algo enquanto sua crença durar, ao 
mesmo tempo em que se sente apto para mudar de 
ideia a qualquer momento, experimentar novas 
perspectivas e quebrar paradigmas. 
Mas antes de sair quebrando paradigmas, 
precisamos entender claramente o significado da 
palavra1: 
 
Paradigma é um modelo ou padrão a 
seguir. 
Etimologicamente, este termo tem 
origem no grego paradeigma que significa 
modelo ou padrão, correspondendo a algo 
que vai servir de modelo ou exemplo a ser 
seguido em determinada situação. 
 
1 Visto em: https://www.significados.com.br/paradigma/ 
12 
 
São as normas orientadoras de um grupo 
que estabelecem limites e que determinam 
como um indivíduo deve agir dentro desses 
limites. 
O termo surgiu inicialmente em 
Linguística na teoria do signo linguístico 
criada por Ferdinand de Saussure, na qual 
relacionava o signo ao conjunto de 
elementos que constituem a língua. 
O paradigma seria o conjunto de 
elementos linguísticos que
podem ocorrer 
no mesmo contexto ou ambiente. Os 
elementos são substituídos por outros que 
vão ocupar a mesma posição. 
Por exemplo, na Gramática o verbo 
“cantar” serve de paradigma à primeira 
conjugação porque irá se flexionar em várias 
formas e outros verbos terminados em “ar” 
seguirão esse modelo. 
13 
 
Na filosofia, um paradigma está 
relacionado com a epistemologia, sendo que 
para Platão, um paradigma remete para um 
modelo relacionado com o mundo exemplar 
das ideias, do qual faz parte o mundo 
sensível. 
O norte-americano Thomas Samuel 
Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da 
ciência, no seu livro “A Estrutura das 
Revoluções Científicas” designou como 
paradigma as “realizações científicas que 
geram modelos que, por período mais ou 
menos longo e de modo mais ou menos 
explícito, orientam o desenvolvimento 
posterior das pesquisas exclusivamente na 
busca da solução para os problemas por elas 
suscitados.” 
O paradigma é um princípio, teoria ou 
conhecimento originado da pesquisa em um 
campo científico. Uma referência inicial que 
servirá de modelo para novas pesquisas. 
14 
 
Paradigmas educacionais 
Um paradigma educacional é um modelo 
usado na área da educação. 
Paradigmas inovadores constituem uma 
prática pedagógica que dá lugar a uma 
aprendizagem crítica e que causa uma 
verdadeira mudança no aluno. 
O paradigma usado por um professor tem 
grande impacto no aluno, muitas vezes 
determinando se ele vai aprender ou não 
aprender o conteúdo que é abordado. 
A forma de aprendizagem das novas 
gerações é diferente das gerações anteriores, 
e por isso um paradigma conservador não 
terá grande eficácia. 
Paradigma cartesiano 
Segundo o paradigma cartesiano, para 
conhecer o todo, é necessário dividi-lo nas 
15 
 
várias partes que o integram e estudar cada 
uma dessas partes individualmente. 
Por exemplo, para conhecer um carro, 
entrar nele e dirigi-lo, é preciso conhecer as 
suas partes, como o motor e outros 
componentes. 
O paradigma cartesiano é o oposto do 
paradigma holístico, que entende que os 
fenômenos têm que ser contemplados na sua 
existência global para serem entendidos. 
Paradigmas de programação 
Um paradigma de programação é 
definido pela maneira como um 
determinado programador resolve um certo 
problema, fornecendo visão e determinando 
como o programador estrutura e executa este 
programa. 
Os quatro principais paradigmas de 
programação são: paradigma imperativo, 
declarativo, funcional e orientado a objetos. 
16 
 
A diferenciação entre os paradigmas de 
programação é feita através das técnicas que 
estes mesmos paradigmas permitem ou 
proíbem. 
É por isso que paradigmas mais recentes 
são vistos como mais rígidos do que os 
modelos mais antigos. 
Paradigma da Complexidade 
Complexidade é um termo usado na 
filosofia, epistemologia, linguística, 
pedagogia, matemática, química, física, 
meteorologia, estatística, biologia, 
sociologia, economia, medicina, psicologia, 
informática ou em ciências da computação. 
Por esse motivo, a sua definição sofre 
alterações dependendo da área em questão. 
A teoria da complexidade é também 
conhecida como desafio da complexidade 
ou pensamento da complexidade. 
17 
 
O paradigma da complexidade, ou 
pensamento complexo, tem como objetivo 
relacionar várias disciplinas e formas de 
ciência, no entanto sem misturá-las. 
O paradigma da sociedade flui para 
várias áreas da sociedade e inclui a incerteza 
como uma abertura de novas possibilidades 
e não como algo que trava o processo de 
pensamento. 
— Via Significados 
 
O problema, portanto, não é o paradigma em si, 
mas o apego exagerado e cego a ele, de forma a 
enxergar o mundo de modo engessado e pré-
programado. Por isso, você precisa se perguntar 
sempre: quem programa a sua crença? Este livro 
está tentando programar algo em você ou oferecer 
ferramentas preciosas? 
Quais símbolos e signos este livro fornecerá a 
você? Magia, desta forma, também é a manipulação 
18 
 
e a criação de símbolos, signos e rituais que irão 
interferir na vida prática e no dia-a-dia. 
 
CONTEXTO HISTÓRICO DA MAGIA DO 
CAOS 
 
A Magia do Caos se iniciou, não com este 
nome, com o artista inglês Austin Osman Spare, 
nascido em dezembro de 1886. Ele trabalhou 
principalmente como pintor e desenhista; exibiu 
suas obras em galerias londrinas. 
Spare tinha suas próprias teorias sobre a 
ligação entre consciente e inconsciente. 
Desenvolveu técnicas mágicas como sigilação, 
escrita automática, desenho automático. Para ele, a 
técnica da sigilação precisa do esquecimento 
deliberado para que alcance o inconsciente. 
Spare escreveu obras conhecidas como O 
Foco da Vida; O Livro do Prazer: A Psicologia do 
19 
 
Êxtase; Anathema of Zos; EARTH inferno; dentre 
outras. 
O artista iniciou um movimento chamado de 
Zos Kia Cultus, um sistema baseado em Magia 
Sexual e sigilização mágica. Spare foi considerado 
um ocultista satânico, assim como Aleister Crowley, 
por te se envolvido com temas tidos como 
contraditórios da magia. 
Na década de 1970, o legado de Spare 
tomou força com a criação da IOT (Illuminates of 
Tanatheros), ou os Iluminados de Tanatheros. O 
nome é uma mescla entre Thanatos, o Deus grego 
da personificação da Morte, e o Deus Eros, a 
personificação do Amor. Assim, numa tradução 
literal, teríamos: os Iluminados do Amor e da 
Morte. 
A IOT foi criada por Ray Sherwin e Peter 
Carroll. Foi a primeira Ordem a utilizar o termo 
Magia do Caos. Ficou conhecida como “herdeira 
mágica dos Zos Kia Cultus e da A.'. A.'.", 
especialmente após a publicação de O Livro dos 
20 
 
Resultados, de Sherwin e o Liber Null e Psiconauta 
de Carroll, obras consideradas básicas para os 
estudantes do Caos. 
Assim como Spare, Peter Carroll é visto 
como um dos maiores magistas desde Crowley e 
escreveu outras obras além das básicas. De fato, 
Magia do Caos vai muito além de sigilos e 
servidores. 
Na medida em que nos aprofundamos nas 
teorias, afiamos a criatividade, algo essencial para o 
resultado. Ademais, as experimentações caóticas 
passam pela matemática, pela física, pela 
neurociência e pela psicologia. Algo que Carroll 
chama de "chaometria". 
 
CONTEXTO FILOSÓFICO DA MAGIA 
DO CAOS 
 
21 
 
O conceito de Caos, entretanto, é muito anterior 
a todos estes ocultistas. Foi o filósofo Friedrich 
Wilhelm Nietzsche, nascido na Prússia em 1844, 
quem escreveu a consagrada frase: “Eu vo-lo digo: 
é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz 
uma estrela cintilante”, em seu livro Assim falou 
Zaratustra. 
É importante lembrar que Nietzsche era apenas 
42 anos mais velho que Spare e 31 anos mais velho 
que Crowley, digo isso tão-somente para dar a você 
uma noção de proporção histórica. 
Nietzsche é a base de muitas correntes 
filosóficas. Inspirou Sigmung Freud, Gilles 
Deleuze e tantos outros pensadores. Até mesmo o 
ocultista Aleister Crowley era fissurado com os 
conceitos nietzschianos, tendo se apropriado de 
muitos deles para formular a religião filosófica de 
Thelema. 
 
 
22 
 
Nietzsche pode ser considerado um 
dos nossos profetas… 
— Magick Without Tears, cap. 48 
 
De fato, Crowley resolveu seguir os passos de 
Elisabeth Förster-Nietzsche, irmã de Nietzsche, e 
procurou sacralizar o filósofo como um místico 
gnóstico, uma espécie de avatar de Thoth, o Deus 
egípcio da sabedoria.
Mas isto não nos interessa a 
priori, já que nosso foco hoje é em Magia do Caos 
e não Thelema. 
É por tudo isso que repetimos a frase de 
Zaratustra com gosto: de fato, é preciso ter um caos 
dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante. 
Zaratustra, neste caso o personagem de 
Nietzsche baseado no profeta histórico, fala com 
todos e para ninguém. Ele é um mestre da 
linguagem e sai para conversar sobre filosofia. Seu 
jogo de palavras é muitas vezes sarcástico e 
contraditório. Posa como um místico, porém seus 
23 
 
diálogos cosmológicos não são subjugados pela 
metafísica. 
É justamente no Caos de Zaratustra que Peter 
Carroll, o pai da Magia do Caos, se aproxima de 
Nietzsche, ambos pautados na mitologia greco-
romana. Para Carroll, Caos pode ser considerado a 
força primordial, enquanto para Nietzsche ele tem a 
ver com a Vontade de Potência. Em ambos os 
casos, Caos é expansão e criação2: 
 
O conceito de Vontade de Potência foi 
criado por Nietzsche como base para o 
desenvolvimento de outras ideias. Trata-se 
de uma proposição ontológica que sustenta 
toda sua teoria, inclusive sua genealogia da 
moral é retirada das relações entre a 
Vontade de Potência. 
 
2 Visto em: 
https://razaoinadequada.com/2013/07/15/nietzsche-vontade-
de-potencia/ 
24 
 
Nietzsche toma inicialmente este 
conceito de Schopenhauer. A vontade é cega 
e insaciável, uma força que estaria para além 
dos nossos sentidos. Una, ela representa 
tudo que vemos, é o substrato que constitui 
a existência. Mas para Nietzsche, a Vontade 
não está fora do mundo, ela se dá na relação, 
ou seja, é múltipla e se mostra como 
efetivação real. É impossível uma só força, 
uma força única e indivisível, a vontade de 
potência se diz sempre no plural. Sendo 
assim, o mundo seria esta luta constante, 
sem equilíbrio possível, apenas tensão que 
se prova pelo movimento, às vezes delicado, 
outras vezes violento. 
A vida é Vontade de Potência, mas não 
se pode restringi-la apenas à vida orgânica; 
ela está presente em tudo, desde reações 
químicas mais simples até à complexidade 
da psiquê humana (e é no ser vivo que a 
vontade de potência pode se expressar com 
25 
 
mais força). Ela é aquela que procura 
expandir-se, superar-se, juntar-se a outras e 
se tornar maior. Tudo no mundo é Vontade 
de Potência porque todas as forças procuram 
a sua própria expansão. Neste campo de 
instabilidade e luta, jogo constante de forças 
instáveis, a permanência é banida junto com 
a identidade: neste mundo reina a diferença. 
Força como superação, como constante ir 
para além dos próprios limites. 
A vontade se mostra como sede de 
dominar, fazer-se mais forte, constranger 
outras forças mais fracas e assimilá-las. 
Quanto pode uma força? A onda sonora que 
se expande, o ímã que atrai, a célula que se 
divide formando o tecido orgânico, o animal 
que subjuga o outro são exemplos desta 
Vontade que não encontra um ponto de 
repouso, mas procura sempre conquistar 
mais. Cada força, quando dominante, abre 
26 
 
novos horizontes, encontra novas 
passagens, cria novos caminhos. 
Se, em física, potência é a capacidade de 
realizar trabalho; na filosofia, Vontade de 
Potência é a capacidade que a Vontade tem 
de efetivar-se. Contra uma interpretação 
rasa de Darwin, Nietzsche argumenta que o 
homem não pode e não quer apenas 
conservar-se ou adaptar-se para sobreviver, 
só um homem doente desejaria isso; ele quer 
expandir-se, dominar, criar valores, dar 
sentidos próprios. Isto significa ser ativo no 
mundo, criar suas próprias condições de 
potência. É um efetivar-se no encontro com 
outras forças. 
Por isso não daremos a representação 
que os escravos dão de potência. Esta não 
pode ser representada como um lugar a se 
chegar ou algo a se fazer, não é uma 
representação, um signo. A Vontade de 
Potência não é a vontade querendo potência, 
27 
 
não significa que a vontade deseja uma 
potência que não tem. A potência não é algo 
que possa ser representado. Isso é julgar 
através dos valores já estabelecidos. Para 
Nietzsche é exatamente o contrário: a 
Potência é aquilo que quer na Vontade. E o 
que é a potência? É um eterno dizer-sim. A 
potência se afirma na vontade quando diz 
“Sim” ao devir. É a afirmação pura de sua 
própria efetivação, a alegria provém da 
afirmação. E o sentido é o resultado destas 
forças. 
E apenas através de Nietzsche, sendo 
completa e plena de si, a Vontade de 
Potência pode ser aquilo que dá sentido e 
cria valores. Ela cresce e se ultrapassa. Não 
há falta a ser preenchida, é excesso que 
transborda. Ela não busca, ela dá; não 
procura, cria; não aspira, compõe; não 
exige, inventa; não interpreta, fabrica. E este 
é o dever e direito do filósofo: criar valores. 
28 
 
– Via Razão Inadequada 
 
O conceito de Vontade em Nietzsche nada tem 
nada a ver com uma vontade qualquer da qual o 
mundo teria se originado, mas sim com a expansão 
da vida. E aqui, assim como Carroll, Nietzsche 
inclui tudo: desde a matéria inanimada quanto a 
orgânica e até mesmo a consciência. 
Tanto Carroll quanto Nietzsche são amorais, 
isto é, não se preocupam em estabelecer leis ou 
diretrizes como verdades. É aqui que Nietzsche e 
Carroll se afastam de Thelema, pois ambos estão 
muito mais preocupados em desconstruir a 
moralidade e criar princípios éticos do que 
estabelecer algum tipo de lei. 
 
E sabeis… o que é pra mim o mundo?… 
Este mundo: uma monstruosidade de força, 
sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea 
grandeza de força… uma economia sem 
29 
 
despesas e perdas, mas também sem 
acréscimos, ou rendimento,… mas antes 
como força ao mesmo tempo um e 
múltiplo,… eternamente mudando, 
eternamente recorrentes… partindo do mais 
simples ao mais múltiplo, do quieto, mais 
rígido, mais frio, ao mais ardente, mais 
selvagem, mais contraditório consigo 
mesmo, e depois outra vez… esse meu 
mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-
si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-
próprio, sem alvo, sem vontade… Esse 
mundo é a vontade de potência — e nada 
além disso! E também vós próprios sois essa 
vontade de potência — e nada além disso!” 
— Nietzsche, Fragmento Póstumo 
 
Tanto Nietzsche quanto Carroll compreendem 
que a religião, de modo geral, é um projeto para 
camuflar o sofrimento, domesticar a humanidade. 
30 
 
Este projeto é contrário à Vontade de Potência, pois 
ele é voltado para a degeneração da vida e não sua 
expansão. 
Carroll se afasta de Nietzsche em dois pontos. 
Primeiro: ele não se preocupa em apenas como 
quebrar os paradigmas, expor suas contradições e 
limitações, mas sim em apontar qual é o benefício 
em usar cada um dos paradigmas como fonte de 
Potência, porém sem necessariamente se apegar a 
eles. 
Isso fica bem visível quando Carroll se debruça 
sobre o zeitgeist de cada Aeon, expondo as mais 
diversas crenças e suas utilidades. Assim como 
Nietzsche, Carroll gargalha para as verdades 
absolutas. Mas ao contrário de Nietzsche, ele não as 
rejeita enquanto instrumento. 
O segundo ponto em que divergem é a questão 
do dualismo. Principalmente em Liber Null e 
Psiconauta, Carroll apresenta o dualismo para 
sistematizar seu pensamento. Nietzsche abomina 
31 
 
qualquer tipo de dualismo, dando preferência a uma 
visão holística sobre a vida e a morte. 
Tanto Nietzsche quanto Carroll desprezam a 
autoridade no sentido que esta degenera a
vida, 
impedindo a Vontade de Potência de agir. Assim 
Falava Zaratustra, portanto, também quebra 
paradigmas: 
 
A obra é um elogio à solidão, ao livre 
pensamento, à comunhão com o superior, à 
união com um deus que não seja o Deus 
tradicional da religião, mas o próprio 
homem, sublimado pelo bem, pela razão, 
por sua própria essência que lhe permite o 
eterno retorno e atinge sua perfeição na 
convivência com a natureza, perfeição que o 
leva a criar continuamente, a viver de modo 
intenso e transparente da vida, a superar-se 
a si mesmo e a projetar-se para o alto e o 
além. Para além de suas amarras com o 
32 
 
egoísmo e com todos os valores 
estabelecidos pelos governantes, para além 
da convivência com a massa informe do 
povo, para além de seus augustos limites. 
— Ciro Mioranza 
 
Carroll e Nietzsche são livres pensadores, 
avessos a qualquer tipo de absolutismo filosófico. 
São gozadores, contraditórios, atemporais, ainda 
que permaneçam, sob muitos aspectos, reflexo de 
suas respectivas experiências contemporâneas. 
Ainda sobre a visão de Caos de Nietzsche, o 
então doutorando Leonardo Mees 3 escreveu um 
artigo muito interessante intitulado “Nietzsche e o 
caos como caráter geral do mundo”. Reproduzo 
parte do artigo para o entendimento melhor acerca 
da filosofia nietzschiana: 
 
3 Disponível em: 
https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/579 
33 
 
 
Numa anotação póstuma, da época 
da redação de A gaia ciência, Nietzsche 
afirma que: “constantemente o caos 
ainda trabalha em nosso espírito: 
conceitos, imagens, sensações são 
postas de modo acidental [zufällig] um 
ao lado do outro, jogados como dados 
[gewürfelt]” (KSA 9, 11[121]). O caos 
ainda atua em nosso espírito quando, de 
repente, somos tomados de perplexidade 
diante das relações acidentais que nos 
acontecem, sejam elas da ordem da 
sensação, quando percebemos coisas 
inusitadas, seja da ordem das imagens, 
quando diferentes configurações se nos 
apresentam, seja da ordem do conceito, 
quando não entendemos bem uma coisa, 
que achávamos ter entendido. 
De Nietzsche e o caos como caráter 
geral do mundo repente os lances podem 
34 
 
mudar os nossos planos, novos dados 
podem ser combinados e mudar toda 
nossa forma de ver o mundo. 
O caos pode se mostrar nos acasos e 
despropósitos, quando uma ordem de 
mundo se quebra, quando um hiato 
deixa entrever o espaço de jogo do 
mundo. No entanto, caos não é sinônimo 
de acidente, acaso ou quebra de sistema. 
Mas, são justamente os acidentes, os 
acasos, os despropósitos, as quebras, os 
bugs, etc., – em suma, todos os 
momentos, que evidenciam os limites de 
uma igualação conceitual do mundo, – 
que nos despertam do cochilo dogmático 
de ler o acontecimento do mundo de 
forma substancial ou sistêmica. Até hoje 
o “acaso” e o “caos” foi malentendido na 
filosofia, ainda são entendidos como 
oposição às causas, aos fins e aos 
propósitos. No entanto, os acasos, 
35 
 
acidentes, quebras, etc. somente são 
compreendidos como oposição porque 
previamente já se havia estabelecido 
uma finalidade nos acontecimentos, 
porque os acontecimentos já estavam 
projetados para serem lidos de forma 
teleológica, seja pela ontologia 
substancial ou a sistêmica. 
“Quando vocês souberem que não há 
propósitos, saberão também que não há 
acaso: pois apenas em relação a um 
mundo de propósitos tem sentido a 
palavra “acaso’” (GC, § 109). 
São os “mestres da finalidade da 
existência”, que sempre de novo veem 
finalidades em tudo que acontece 
necessariamente e por si, sempre sem 
nenhuma finalidade” (GC, § 1). Os 
mestres da moralização da vida entram 
em cena sempre que surgem acasos e 
inserem um propósito neste acontecer. 
36 
 
Não são capazes de rir dos acasos, como 
rir de si mesmos, “como se deveria rir 
para fazê-lo a partir da verdade inteira”. 
O caos do mundo depende de uma nova 
interpretação do próprio acontecimento 
de jogo do mundo, depende uma 
ontologia que não o entenda como 
exceção, como um acidente ou uma 
quebra nas leis necessárias do mundo. 
— Leonardo Mees 
 
 
 
CONTEXTO CIENTÍFICO DA MAGIA 
DO CAOS 
 
Enquanto Nietzsche nos oferece uma 
perspectiva filosófica, nós também consideramos a 
Teoria do Caos, ou do Efeito Borboleta, a mais 
37 
 
plausível em termos científicos. Você 
provavelmente já conhece a famosa frase: “O bater 
de asas de uma borboleta no Brasil pode 
desencadear um tornado no Texas”. 
Esta frase, na verdade, é uma alegoria para a 
Teoria do Caos. O conceito de “Efeito Borboleta” 
foi cunhado em 1963 pelo matemático norte-
americano Edward Lorenz. 
Tudo começou quando Lorenz tentou previr o 
tempo. Para tanto, ele testou um programa de 
computador cuja função era simular o movimento 
das massas de ar. Ao colocar um número com casas 
decimais a menos, uma alteração aparentemente 
insignificante, o cientista esperava que o resultado 
mudasse quase nada. 
Entretanto, o que aconteceu foi o oposto. O 
resultado chocou o cientista. Foi então que ele 
escreveu as equações que demonstravam o “efeito 
borboleta”, um sistema de equação que no papel 
38 
 
parece de fato uma borboleta, chegando à conclusão 
de que a previsão do tempo jamais será infalível. 
Qualquer pequena mudança pode dar resultado 
a situações impensadas. Portanto, os eventos são 
caóticos e imprevisíveis. Mais tarde, outros 
cientistas chegaram às conclusões semelhantes. 
 “As equações de Lorenz para o caos das massas 
de ar surgem também em experimentos com raio 
laser, e as mesmas fórmulas que regem certas 
soluções químicas se repetem quando estudamos o 
ritmo desordenado das gotas de uma torneira”, 
afirmou o matemático Steven Strogatz 4 , da 
Universidade Cornell, nos Estados Unidos. 
Graças a Teoria do Caos que entendemos os 
efeitos inesperados em cadeia, bem como por que 
as mutações de DNA existem, que dão origem à 
 
4 Disponível em: 
https://mundoestranho.abril.com.br/ciencia/o-que-e-
ateoria-do-caos/ 
39 
 
diversidade genética e à própria evolução. Sem caos 
não há diversidade, não há vida. 
 
CONCEITUANDO MAGIA DO CAOS 
 
Magia do Caos é um convite para arte e a 
liberdade. É o sistema (ou seria anti-sistema?) de 
vanguarda perfeito para artistas, experimentalistas e 
cientistas malucos. 
Sem prática, o sistema caótico é nulo. Portanto, 
é necessário empenhar-se para obter os resultados 
necessários. Nada importa, desde que funcione. 
Seguindo a mitologia grega, Caos é o princípio 
de tudo, é o Deus primordial. Magia é o processo 
pelo qual nos conectamos ao Caos. 
Podemos acreditar profundamente ou não, para 
o Caos a crença não importa. O que importa é que 
funciona: 
40 
 
 A Magia do Caos baseia-se no 
entendimento de que a ordem é um 
conceito imposto ao universo. Os 
sistemas de ordem, seja religião ou 
ciência, são tentativas de controlar e 
subjugar, e devem encontrar 
maneiras de descartar o que não é 
controlável ou compreendido. Os 
magos do caos, que se baseiam nas 
noções filosóficas orientais, 
postulam a ideia de que o universo é 
um vasto conjunto imortal que 
transcende todas as categorias e 
conceitos. Pode ser intuído, mas não 
definido. O caos é visto, não como a 
desordem que se opõe à ordem, mas 
como a Ordem além da 
compreensão. Como tal,
o caos é 
idêntico ao Brahman Hinduísta e ao 
Caminho Taoísta. A teoria do caos 
também concorda com a crença 
articulada nos Upanishads de que 
41 
 
Atman, a essência interior do 
indivíduo, é idêntica ao Brahman, e 
que a iluminação deriva da 
experiência / conhecimento direto da 
verdade dessa identificação5. 
— Gordon Melton 
 
Por ocultismo nos referimos ao estudo do 
secreto; do que está no inconsciente coletivo, 
daquilo que não pode ser mensurável ou estudado 
num laboratório científico comum. 
Você já deve ter notado que há diversas 
crenças espalhadas pelo mundo. Dentro do universo 
da magia acontece o mesmo. Há vários sistemas 
mágicos diferentes que utilizam o ocultismo como 
base. 
 
5 J. Gordon Melton, ed., "Chaos Magick", na Enciclopédia do 
Ocultismo e da Parapsicologia, vol 1. (Farmington Hills: Gale 
Group Inc., 2001), 271. 
42 
 
 Podemos dividir tais sistemas em duas 
principais vertentes: a dogmática e a prática. 
Enquanto os dogmáticos apresentam doutrinas 
como certas e indiscutíveis, os práticos procuram 
testar tudo que encontram. 
 A vertente do Caos é criativa, inovadora e 
não facilmente aceita dogmas e 
 verdades indiscutíveis. 
 Porém, ao dividirmos os sistemas em apenas 
duas possibilidades, acabamos por reforçar a visão 
dualista do mundo. 
O dualismo permeia os caminhos mágickos, 
causando uma cissura com muitos nomes: mão 
direita e mão esquerda; magia branca e magia negra; 
luz e sombras; etc. 
Há uma certa pressão para o magista escolha 
a sua persona mágicka e passe a aderir a uma só 
corrente de pensamento: ou ele tem uma visão 
bonachona ou assume o seu egoísmo. 
43 
 
Ao escolher um caminho, ele passa a usar o 
mesmo léxico de palavras de seus companheiros, 
rejeitando assim outras possibilidades. Ou seja, o 
mago acaba usando jargões típicos do seu grupo. 
Se o mago escolhe a luz, muitas vezes torna-
se moralista e enfadonho. Esses magos querem 
convencer a população de que todos são tão 
bonzinhos e caridosos quanto eles: que Magia é 
inofensiva e que tudo aquilo que ele rejeita na 
prática alheia é historicamente incorreto, pois na 
mente dele nada de mau poderia existir. 
Ele quer ser um mago imaculado, voltado 
para as artes de cura. Este mago se esquece que luz 
demais também cega. 
Por outro lado, se o mago escolhe as trevas, 
ele se torna inconsequente e até mesmo 
inconveniente, tentando provar a todo custo que seu 
caminho é o mais interessante de todos. 
O mago das trevas acha todo mundo 
hipócrita, exceto ele próprio. Pode tornar-se egoico 
44 
 
por demais, apenas focado em acumular poder, 
falando sobre si mesmo o tempo todo e mostrando 
para o público o quão maravilhoso é. 
Há também, é claro, o Mago Cinza. O 
problema deste é simplesmente achar que está bem 
equilibrado, quando na verdade escolhe aquilo que 
lhe trará mais vantagem no final do dia. 
O problema do mago cinza é tornar-se “o 
isentão da magia”, querendo esconder-se de 
problemas espinhosos e evitando posicionar-se de 
fato. 
Este mago pode cair no erro da evidência 
suprimida, ou cherry picking em inglês, uma falácia. 
Trata-se de rejeitar certas questões e favorecer 
outras. 
O caminho do meio também pode ser 
bastante falacioso. Geralmente, os magos do meio 
prezam o “equilíbrio”, e aqui estamos diferenciando 
o Mago Cinza do Caminho do Meio porque muitos 
espiritualistas também seguem esta opção. 
45 
 
A falácia começa quando simplesmente o 
caminho do meio exige a supressão da sombra e não 
admite excessos, quando a magia cíclica demonstra 
que muitas vezes o excesso é necessário. 
Por fim, apresento a visão holística. 
Considero a visão holística é mais desejável para o 
autoconhecimento, pois ela entende que tudo está 
conectado. Ela estuda o passado e prevê as 
probabilidades do vindouro. 
O mago holístico pode ter seus momentos de 
isenção, de excessos e de profunda conexão com o 
todo. Ele está ligado as questões ambientais, mas 
também se preocupa com seu microcosmo, podendo 
ser visto até como egoísta as vezes. 
A visão holística faz com que o Mago 
experimente cada uma das opções, de maneira 
isolada, mas ciente do resultado do todo. 
Portanto, a Magia do Caos pode explicar o 
universo da magia pelo dualismo, mas ela é, em 
essência, uma prática holística, em que o resultado 
46 
 
final seja o Magista completo. Nem branco, nem 
negro, nem cinza. 
 
A CULTURA CAOTE 
 
 Além de Peter Carroll, existem outros 
expoentes muito conhecidos pela comunidade 
global. Há algo que une todos eles: o amor pela arte, 
pela contracultura e pela ciência. 
 Dentre eles, preciso citar o anarquista norte-
americano Robert Anton Wilson (RAW), que 
escreveu "The Illuminatus Trilogy". Ele foi um dos 
papas do Discordianismo, como bem descreve a 
revista Gaia em seu artigo The pope of 
discordianism; who was Robert Anton Wilson? 6: 
 
 
6 Visto em: https://www.gaia.com/article/robert-anton-
wilson-discordianism 
47 
 
Um romancista, futurista, poeta e editor, 
mas principalmente um agnóstico em 
todos os sentidos, Robert Anton Wilson foi 
um dos nomes mais notáveis associados à 
religião paródica do Discordianismo. 
Wilson ajudou a desenvolver os conceitos 
do Discordianismo a partir de um livro 
chamado Principia Discordia, escrito por 
Greg Hill e Kerry Thornley. Wilson 
também colaborou com notáveis 
personalidades da contracultura, como 
Timothy Leary e Robert Shea, para 
expandir a fé falsa. 
O discordianismo contém três princípios 
principais: que há ordem, desordem e a 
noção de que ambas são ilusórias. Apenas 
rejeitando essas premissas é que podemos 
verdadeiramente perceber a realidade 
como ela é. E foi esse desconhecimento 
paradoxal em todos os níveis que se tornou 
tão atraente para Wilson. 
48 
 
oi essa paródia religiosa que mais 
recentemente inspirou paródias religiosas 
semelhantes, como a Igreja do Monstro do 
Espaguete Voador, também conhecido 
como pastafarianismo, que você seja 
tocado pelo seu apêndice de macarrão, o 
rAmen. 
Porém, mais do que Pastafarianos, Wilson 
desenvolveu o comentário social da sátira 
discordiana com sua compreensão de 
conceitos filosóficos e científicos 
complexos. Uma das práticas 
fundamentais do Discordianismo 
desenvolvida por Wilson é referida como 
OM, que encoraja a mudança social 
através da ruptura de paradigmas, a fim de 
forçar as pessoas a questionarem sua 
realidade. Isto é conseguido através de 
desobediência civil, ativismo, movimentos 
artísticos e hoaxes. 
49 
 
“Há um velho provérbio italiano: quando 
quatro se sentam para conspirar, três 
deles são tolos e o quarto é um agente do 
governo. Acredito que com as técnicas 
modernas de vigilância isso é mais 
verdadeiro do que nunca, e qualquer ação 
explícita contra a estrutura de poder está 
condenada ao fracasso por causa das 
técnicas de controle que foram 
desenvolvidas. Mas os impulsos 
anarquistas da arte não podem ser 
governados.”- Robert Anton Wilson 
Wilson também se referiria à OM como 
ontologia de guerrilha, ou o ato de expor 
subversivamente indivíduos a ideias, 
pensamentos e filosofias únicas, a fim de 
despertar a dissonância cognitiva. 
Este conceito surgiu da sua crença de que 
todos experimentam a vida através dos 
seus próprios "túneis da realidade" 
individuais. Estes túneis são a nossa
50 
 
percepção da realidade filtrada por 
inúmeras coisas, incluindo educação, 
experiências de vida, estados mentais e 
construções sociais. 
O objetivo filosófico de Wilson era 
expandir esse túnel tirando um de sua zona 
de conforto e desprogramando esses 
filtros. A desprogramação pode ser 
alcançada através da meditação, hipnose, 
uso controlado de psicodélicos ou 
programação neurolinguística. Esses 
conceitos foram totalmente discutidos em 
seu livro, Prometheus Rising. 
Wilson, juntamente com o colega e co-
autor Robert Shea, é mais famoso por The 
Illuminatus! Trilogy, uma série de livros 
que examinaram a contracultura ocultista e 
esotérica com humor cômico. Os dois 
escreveram sobre tudo, de Aleister 
Crowley a H.P. Lovecraft, Maçonaria e, 
claro, os Illuminati. 
51 
 
A série surgiu a partir de vários contos 
escritos para a revista Playboy, tornando-
se sua razão de ser. A trilogia é uma obra 
de ficção, incluindo enredos sobre os 
illuminati, numerologia e drogas 
psicodélicas. Wilson e Shea também 
fazem referências a nomes populares em 
contracultura e literatura, incluindo 
Timothy Leary, William S. Burroughs e 
Ayn Rand. 
Embora o Illuminatus! os livros são 
satíricos e ridicularizam o estado 
conspiratório da mente; ao mesmo tempo, 
estão jogando com dispositivos de enredo 
que enfatizam conceitos filosóficos, como 
a dissonância cognitiva e a metafísica 
kantiana. 
Hoje o Illuminatus! Trilogy inspirou vários 
personagens, autores e dramaturgos, tendo 
sido transformados em várias adaptações 
teatrais. E embora o trabalho de Wilson 
52 
 
seja principalmente sátira, tornou-se o 
trabalho seminal da ficção de conspiração, 
inspirando um gênero que inclui 
empreendimentos mais sérios como O 
Código DaVinci e V de Vingança. A 
inspiração para o Black Mirror da Netflix 
também pode ser parcialmente atribuída ao 
Illuminatus! 
Apesar da propensão de Wilson à paródia, 
ele era um filósofo perspicaz que podia 
compreender tópicos complexos como a 
física quântica e ligá-la à cosmovisão de 
Discordia. Outras obras famosas incluem a 
trilogia Schrödinger Cat e a Psicologia 
Quântica. Destes últimos, ele se vangloria 
de que um físico quântico acreditava que 
ele tinha um diploma em matemática 
avançada, devido à sua astuta 
compreensão da teoria quântica. 
Foi esse tipo de brilhantismo que tornou 
Wilson tão presciente, especialmente em 
53 
 
uma época de desinformação e 
bombardeio da mídia. Esconder as 
verdades profundas no entretenimento 
satírico era a marca registrada de Wilson e 
ele era bem versado nisso. Desenho de 
nomes ocultistas como Aleister Crowley, a 
gurus filosóficos alternativos como 
George Gurdjieff e gênios futuristas como 
Buckminster Fuller, Wilson reconheceu 
tudo, e nada disso ao mesmo tempo. 
Ao contrário da maioria das religiões, os 
Discordianos têm permissão para acreditar 
em outras religiões e são encorajados a 
formar cismas e cabalas; a antítese do 
dogma religioso, com um aceno para o 
mundo das conspirações. 
Quando Wilson se descreve como um 
agnóstico, ele não significa apenas 
agnóstico no sentido de Deus, mas 
agnóstico sobre tudo. Esse paradoxo 
socrático, "a única coisa que sei é que não 
54 
 
sei nada", não poderia incorporar melhor o 
sentimento discordiano. 
Wilson disse: "Os discordianos não têm 
dogmas que são crenças absolutas. Nós 
temos 'catmas' com meta-crenças 
relativas.” 
MO de Wilson deveria pontificar alguém 
como um papa discordiano. A religião 
acredita que todo homem, mulher e criança 
na Terra tem a garantia da distinção papal 
e toda vez que ele era transmitido pela 
televisão ou pelo rádio, ele disseminava o 
papado para seus ouvintes. 
— Revista Gaia 
 
 Além de RAW, William Burroughs, famoso 
escritor norte-americano, também se dedicou 
55 
 
bastante à magia do caos, criando técnicas literárias 
preciosas como cutup7: 
 
O cutup é um método mecânico de 
justaposição no qual Burroughs 
literalmente corta passagens de 
prosa por ele mesmo e outros 
escritores e os cola de volta ao acaso. 
Esta versão literária da técnica de 
colagem também é complementada 
pelo uso literário de outras mídias. 
Burroughs transcreve cutups 
gravados (várias fitas unidas), 
cutups (montagem) e experimentos 
de mídia mista (resultados da 
combinação de fitas com televisão, 
filmes ou eventos reais). Assim, o 
uso de cutups de Burroughs 
 
7 Visto em: http://www.languageisavirus.com/creative-
writing-techniques/william-s-burroughs-cut-
ups.php#.XHyqa4gzZPY 
56 
 
desenvolve sua técnica de 
justaposição para sua conclusão 
lógica como um método de prosa 
experimental, e ele também faz uso 
de todas as mídias contemporâneas, 
expandindo seu uso da cultura 
popular. 
Quando Burroughs experimentou a 
técnica, ele começou a desenvolver 
uma teoria do corte e essa teoria foi 
incorporada em sua pseudociência 
do vício. Além de drogas, sexo e 
poder como aspectos da natureza 
aditiva do homem, Burroughs 
acrescenta uma análise do controle 
sobre os seres humanos exercitados 
pela linguagem ("a Palavra"), tempo 
e espaço (ou seja, a existência física 
do homem e as construções mentais 
usa para sobreviver e se adaptar). 
Drogas, sexo e poder controlam o 
57 
 
corpo, mas "bloqueios de palavras e 
imagens" controlam a mente, isto é, 
"prendem-nos" a padrões 
convencionais de percepção, 
pensamento e fala que determinam 
nossas interações com o ambiente e 
a sociedade. O cutup é uma maneira 
de expor os controles de palavras e 
imagens e, assim, libertar-se deles, 
uma alteração de consciência que 
ocorre tanto no escritor quanto no 
leitor do texto. Para Burroughs como 
artista, o cutup é um método 
impessoal de inspiração, invenção e 
um arranjo que redefine a obra de 
arte como um processo que ocorre 
em colaboração com outros e não é 
propriedade exclusiva dos artistas. 
Assim, os textos de Burroughs são 
comparáveis a experimentos 
contemporâneos semelhantes em 
outras artes, como a pintura de ação, 
58 
 
os happenings e a música aleatória. 
Sua teoria do corte também se 
assemelha à teoria literária de 
vanguarda, como o estruturalismo e 
a desconstrução. 
— Language is a Virus 
 
 
 Não apenas de literatura vive o mundo 
caote: músicos colaboraram em muito para que a 
cena caótica se espalhasse, tais como Aphex Twin, 
Die Antwood e obviamente, Coil8. 
 
Através de uma poderosa trindade de 
estados quimicamente alterados, 
arcana oculta e transmutação 
tecnológica, Coil foi talvez a mais 
 
8 Visto em: https://thequietus.com/articles/07447-strange-
and-frightening-world-of-coil 
59 
 
estranha e ocasionalmente a mais 
assustadora das bandas. Enquanto 
sua história de vinte anos viu muito 
em termos de turbulências pessoais e 
tragédias enquanto eles se moviam 
através do hedonismo extremo e das 
consequências pós-AIDS do clã gay 
de Londres para uma existência mais 
hermética mas não menos intoxicada 
na costa sudoeste da Inglaterra, John 
Balance Geff Rushton) e Peter 
'Sleazy' Christopherson 
permaneceram fiéis às suas 
intenções originais de explorar, 
como diz a capa do seu primeiro 
álbum: “Como o som pode afetar o 
estado físico e mental do ouvinte 
sério”. Tais explorações produziram 
um corpo único e incomparável de 
trabalho
que não só traça um 
caminho mais inconvencional 
através de tecnologias musicais 
60 
 
emergentes, mas também sinaliza 
um conjunto infernalmente 
complexo de referências a teorias 
ocultas e figuras desviantes ao longo 
da história (de Aleister Crowley a 
William S Burroughs) pelo caminho. 
Mas o alto custo físico e mental de 
seus processos criativos muitas 
vezes levava a grandes lacunas em 
sua produção. 
— The Quietus 
 
 No universo áudio-visual, que começou 
como uma manifestão anti-cultural, o projeto mais 
conhecido é o Psychic TV, formado por Genesis P-
Orridge e Peter Christopherson (também de Coil). 
 A geração mais nova se comove com os 
sigilos maravilhosos de Kindra Tia Haugen, que em 
seu blog SigilSeer espalha a sua arte. 
61 
 
 Nos quadrinhos, certamente o mais 
conhecido e famoso é Grant Morrison, que também 
trouxe luz para o conceito caótico de popmagick. 
 Já no quesito de podcast, contamos com a 
incrível sabedoria de Gordon White no seu 
programa semanal conhecido como Rune Soup. 
 Autores consagrados temos aos montes, tais 
como Dave Lee, cujo livro mais famoso em 
português é Caostopia, Andrieh Vitimus, Phil Hine, 
Siddartha Wetzel, Jaq D Hawkin, Julian Vayne, 
Nikki Wyrd, Lionel Snell (Dukes), dentre outros. 
 Preciso destacar os artistas Tommie Kelly e 
Joshua Madara. 
 Tommie é um escritor, artista, ocultista e 
blogueiro que ficou muito famoso aqui no Brasil 
por sua criação dos Quarenta Servidores, um 
sistema mágico inovador e relativamente simples. 
Tratam-se de servos astrais criados para 
auxiliar os magistas. Cada servidor tem um 
62 
 
propósito específico. Há Servidores de proteção, 
saúde, criatividade, destruição etc. 
Tommie fez um ritual no Halloween para 
dar vida aos Servidores e você pode usar as cartas 
de forma similar a um baralho de tarot ou como 
imagens para auxiliar seus rituais. 
Eu tive o prazer de traduzir seu grimório 
para Penumbra Livros, trazendo os Quarenta 
Servidores para o Brasil. 
 Conversei com ele 9 sobre como os 
brasileiros tratam os Quarenta Servidores e ele 
afirmou que achava estranha a ideia brasileira de 
punição: 
 
 
9 Disponível em: 
https://www.specula.com.br/singlepost/2017/10/28/Conver
sei-com-Tommie-Kelly-sobre-comoos-brasileiros-
est%C3%A3o-tratando-os- 
servidores?fb_comment_id=1140861046011820_114086995 
9344262 
63 
 
 Eu vejo principalmente no grupo brasileiro 
de Facebook, isso não acontece em outro 
lugar, e eu realmente não tenho ideia de 
onde isso veio. Eu suponho que muitas 
pessoas que usam os Servidores 
simplesmente não leram nenhuma literatura 
ou instruções, pois as pessoas têm ideias 
realmente estranhas sobre 
"pagamento" e "serem punidas". 
 Então, tão claro quanto eu possa ser: 
Os Servidores NUNCA punirão você. Eles 
se alimentam de atenção e o uso para que 
você nem tenha que alimentá-los. Você dá 
ofertas como um agradecimento não como 
um pagamento. 
 A oferta que eu sugiro são velas de luz de 
chá e isso é mais do que suficiente. Se você 
quer fazer algo mais, faça um 
agradecimento público. Mas é isso - você 
não precisa fazer mais nada, você não 
precisa pagar nada mais e você certamente 
64 
 
não será de nenhuma maneira punido se 
você não fizer isso. 
— Tommie Kelly 
 
 Acho relevante reafirmar o conceito de que 
os Servidores nunca punirão o magista, 
especialmente porque brasileiros ainda são movidos 
pela culpa judaico-cristã. 
 Joshua Madara é um artista tecnomago 
americano. Ele é designer de interações ocultistas e 
mago das novas mídias. Joshua ficou conhecido por 
seu trabalho no site Hyperritual. Recentemente, ele 
migrou o conteúdo para o projeto Eldritech, 
inspirado principalmente por tecnologias de ficção 
que combinam ontologias físicas e metafísicas. 
 Assim como a maioria dos tecnomagos que 
eu conheço, ele prefere manter sua vida longe dos 
holofotes. Joshua criou uma série de robôs 
controlados pela mente, uma varinha mágica 
eletrônica, dentre outros projetos incríveis. Ele se 
65 
 
considera um robomancer, e me explicou o motivo 
durante uma entrevista para a Penumbra10: 
 
 Eu uso a palavra “robomancia” da 
mesma forma que muitas pessoas 
hoje usam ‘necromancia’, o que 
significa que denota uma variedade 
de atividades ocultas envolvendo 
robôs, não apenas adivinhação. 
Robomancia explora adivinhação, 
encantamento, invocação, evocação, 
etc., com robôs. Para algumas 
pessoas, a magia e a tecnologia são 
temas antitéticos, mas para mim, a 
magia é uma espécie de tecnologia, 
e computadores e robôs são apenas 
um outro meio para a arte – 
incluindo a Arte Mágica. 
 
10 Disponível em: 
http://www.penumbralivros.com.br/2017/11/penumbraentr
evista-tecnomago-americano-joshua-madara/ 
66 
 
 Robomancia é realmente 
semelhante à necromancia na minha 
mente, na medida em que ambas 
estão preocupadas com a magia de 
coisas que não estão exatamente 
vivas, mas também não são 
completamente mortas. 
— Joshua Madara 
 
 Joshua também criou um computador11 de 
Magia do Caos baseado no livro The Octavo do 
Peter Carroll com uma pegada vintage incrível. Ele 
escreveu sua primeira calculadora mágica de caos 
virtual há muitos anos, para um dos cursos que 
ensinou no Arcanorium12 de Peter Carroll. 
 
 
11 Disponível em: https://pastebin.com/iehPrnqj 
12 Disponível em: http://www.arcanoriumcollege.com/ 
67 
 
"Cinco variáveis podem ser 
alteradas para valores entre 0,0 e 1,0 
rodando cinco botões. Gnose, Link, 
Subliminalização e Crença são 
multiplicados para calcular o valor 
Mágico que é exibido no medidor de 
painel esquerdo e que é aplicado ao 
valor de Probabilidade Natural para 
calcular o valor de Probabilidade 
Mágica exibido pelo medidor de 
painel à direita. Um alternador 
determina se o valor mágico se 
aplica à probabilidade de 
amplificação ("Magia"), ou 
atenuando-o 
("Antifeitiço").” 
— Joshua Madara 
 
68 
 
 No Brasil, a autora conhecida é Wanju 
Duli. Torço para que mais e mais expoentes 
apareçam por aqui e deixam sua marca! 
 
COMO A MAGIA FUNCIONA 
 
Em seu livro The Octavo, Carroll escreve 
um grimório para os magos cientistas. Seus 
capítulos são feitiços avançados, baseados em 
fórmulas matemáticas (ao menos a maioria). No 
apêndice, destacam-se os cavaleiros do Caos, o 
ritual de Éris e o Xadrez dos magos. É claro, não 
podemos nos esquecer das traduções da invocação 
em ouranianabarbárica, idioma criado por Carroll e 
utilizado por muitos magos do Caos. 
O livro gira em torno de um conceito 
central: o poder do caos de reverter a entropia 
(medida de desordem de um sistema físico) e dobrar 
as leis da probabilidade. Então vemos em sua obra 
69 
 
uma confluência dos saberes, dos antigos aos 
novos, da crença à ciência, da física à metafísica. 
Em seu trabalho Specularium, Peter Carroll 
cunhou a hipótese da Magia do Caos numa casca de 
noz. (Soa familiar?). Para os amantes de física, 
Peter conseguiu formular a probabilidade da magia 
dar certo em duas equações matemáticas básicas 
(Feitiço) e (Antifeitiço). 
Carroll afirma que não precisamos de todas 
as parafernálias ocultistas para adquirir resultados 
mágicos. Estes podem ser feitos por um cientista 
empenhado. A questão central, para
ele, é colocar 
sua mente num estado de consciência propício 
para que a magia de fato aconteça: ou seja, o 
estado de gnose. 
Esta é a diferença entre Magia do Caos e as 
consideradas tradicionais. Nós nos focamos mais na 
psicologia como instrumento mágico que qualquer 
outro instrumento real, seja ele de pedra ou de 
madeira. 
70 
 
Nas equações, há duas variáveis principais, P 
e Ψ, em que P significa a probabilidade de realizar 
algo com magia; E P iguala a probabilidade da 
ocorrência natural dos acontecimentos, e Ψ é igual 
à quantidade de magia aplicada à situação. 
Feitiço refere-se ao encantamento para 
encorajar que algo aconteça, e Antifeitiço se refere 
ao encantamento para evitar que algo ocorra. Na 
adivinhação P simplesmente representa 
 a probabilidade de adivinhar a resposta por acaso. 
Segundo ele, Ψ tem uma equação própria. 
Segue: 
Ψ = GLSB. 
G seria gnose, L seria o link, S seria o intento 
de forma "subliminada" e o B significa belief 
(crença). 
Peter segue explicando os 
 elementos mágicos usados em rituais e recorre à 
psicologia analítica. Para ele, todo o processo da 
71 
 
magia ocorre numa relação entre o "self" e a 
realidade. 
Self por sua vez é um conceito cunhado por 
Carl Jung, psiquiatra apaixonado pela história das 
religiões. Jung escreveu sobre a estrutura da mente 
e entendia o "eu" como "self" que controlava tanto 
o inconsciente quanto o consciente. 
Ainda em Specularium, Carroll 
afirma: 
 
Para alcançar a maximização 
de todos esses fatores [citados nas 
fórmulas], o mago pode, na prática, 
precisar de varinhas, vestes, 
visualizações, sistemas simbólicos, 
sigilos, linguagens bárbaras, rituais e 
outros meios de saída dos estados 
mentais normais, embora em teoria 
um supremo expoente de magia 
pudesse conseguir tudo enquanto 
sentado em silêncio em uma cadeira, 
72 
 
um pouco como um matemático 
trabalhando sem lápis ou papel, cesto 
de lixo, quadronegro, instrumentos 
de geometria, livros de referência ou 
um computador. 
Em uma técnica um pouco 
análoga a um matemático usando a 
vasta quantidade de axiomas, 
teoremas e conjecturas 
desenvolvidos por outros 
matemáticos e sugeridos pela 
natureza, os mágicos evocam e 
invocam várias entidades reais, 
imaginárias, arquétipos e egrégoras 
com base na crença experimental de 
que a Universo provavelmente 
contém algo em algum lugar que 
sabe como fazer qualquer coisa, ou 
para conferir qualquer conhecimento 
ou habilidade que o mago possa 
exigir. 
73 
 
[...] 
Em algumas culturas, os 
magos apelaram para os ancestrais 
ou mortos, ou para os espíritos de 
animais totémicos ou fenômenos 
naturais. Em outros, invocaram 
entidades dos panteões dos deuses 
pagãos ou dos santos e espíritos 
menores das religiões monoteístas. 
[...] 
Os fenômenos esotéricos dos 
deuses aos demônios, aos espíritos e 
magias consistem em relações entre 
o self e a realidade. Então, eu lhe dei 
o último segredo dos Illuminati 
gratuitamente. 
 
Além das obras já citadas, vale a pena 
conhecer também O Caos Instantâneo, de Phil 
Hine. Phil é um escritor britânico, revisor de livros 
74 
 
e ocultista. Leia a opinião de Hine sobre Caos para 
entender melhor o conceito: 
 
 Caos é Caos, e não tem nenhum 
atributo que se aplique a si mesmo. 
Isto explica a dificuldade de 
descreve-lo, porque isto é um "não-
isto". Magia do Caos e um portal da 
não-dualidade, que tem confundido 
até mesmo aqueles que o 
"originaram", sendo de existência 
tão múltipla; que seu 
desenvolvimento sempre avançará 
em direções imprevisíveis. 
 Magia do Caos sempre crescerá 
independentemente de qualquer 
fonte. Ninguém pode "ensinar" 
Magia do Caos a você. 
 Parafraseando Austin Spare, 
" o que todo professor pode sempre 
75 
 
fazer é mostrar para você 
 sua própria magnificiência." 
 Magia de caos é uma 
extensão além de nossa realidade e 
além os sistemas tradicionalistas. 
Sua descrição como um 
 "sistema" simplesmente 
sublinha os humanos da armadilha 
de caírem dentro da necessidade de 
conceituar. 
 Se a pessoa é insegura em como 
proceder, e não tem nenhuma 
experiência em magia, a pessoa terá 
a certeza de achar dentro da 
complexidade e variedade dos 
caminhos tradicionais uma mistura 
de métodos que sintonize com a sua 
natureza. Porém quando afiaram os 
seus talentos nestas tentativas e 
testaram sistemas, o próximo passo 
deve ser o Vazio e o 
76 
 
desenvolvimento necessário de 
metodologias novas--que é o coração 
de Magia do Caos, e que irá 
impulsionar a Arte do Mago no 
século 21º, livre afinal dos 
constrangimentos e superstições do 
passado. 
 Este novo meio de se praticar a Arte 
da Magia é tão liberal quanto 
possível de todo o dogma moral, um 
caminho somente orientado para a 
descoberta pessoal. Porque a prática 
aponta assimilar e então supera o 
dualismo limitado e abordado pela 
Magia que tem marcado as tradições 
e nos algemados ao passado, é por 
sua natureza além de nossa 
compreensão, está além de nossa 
capacidade prever que direção irá 
tomar. 
77 
 
 Mas sua interface é o Caos, e 
por consenso popular, " Magia do 
Caos" é seu nome. E pode 
 ser descrito sucintamente nas 
palavras: 
 "Nada é verdadeiro. Tudo é 
permitido." 
— Peter Carroll 
 
Esta frase “Nada é verdadeiro, tudo é 
permitido” causa divergências dentro da 
comunidade, especialmente após ser usada pelo 
jogo Assassin's Creed. Muita gente fica horrorizada 
com esta afirmação. A meu ver, o significado dela 
é muito mais sutil do que parece. 
Devemos respeitar a vida alheia, as crenças 
alheias, as práticas alheias. E devemos nos abrir 
para outras experiências. Afinal, isto é Magia do 
Caos. Experimentar, praticar. Quando nos 
78 
 
agarramos a uma só verdade, perdemos a chance de 
experimentar. 
É claro que tudo que eu escrevo aqui são 
apenas sugestões. Não é sua obrigação fazer do jeito 
que eu faço e nem como eu faço. Você pode pegar 
este livro e queimar. Leia, faça o seu teste, tome 
suas anotações e pratique. 
 
AS VANTAGENS DO CAOS 
 
Brasileiros são caotes por natureza quando 
frequentam o terreiro na terça, casamentos católicos 
esporadicamente, espaços kardecistas no sábado e 
ainda variam suas consultas de oráculo: de búzios, 
tarot, I ching etc. 
Você não precisa se explicar ao praticar 
caoísmo. A partir do momento em que você tem as 
bases necessárias para se garantir no universo 
mágicko, entendendo melhor o seu próprio processo 
79 
 
de desenvolvimento, você está livre para adaptar 
qualquer ritual à sua realidade. 
Cá entre nós, a maioria das pessoas já faz 
isso, em maior ou menor grau, elas apenas não se 
sentem confortáveis falando a respeito. Até mesmo 
os mais tradicionalistas não seguem de fato todas as 
orientações para determinados rituais. 
A diferença é que a Magia do Caos não 
apenas permite que você faça essas alterações como 
também as encoraja. 
Existem muitas críticas em relação à Magia 
do Caos. Especialmente relacionadas ao fato de que 
muitas vezes as práticas não são “pomposas” o 
suficiente. 
A verdade é que cabe a cada praticante 
decidir o que fazer. Se sua vontade é construir um 
grande altar para suas deidades preferidas ou até 
mesmo inventar novos deuses, então cabe a você que 
o faça. 
80 
 
Seja como for,
para a magia do Caos, o que 
realmente importa é o resultado. E se não houvesse 
tantos resultados positivos, então não veríamos o 
tamanho do crescimento da comunidade caótica. 
Todas as pessoas que não se conformam com 
regras ou imposições morais, certamente se 
identificarão com esta prática. 
Desde a criação de sigilos, servidores, 
hipersigilos e até mesmo deidades, o magista do 
Caos se percebe num caminho para se tornar um 
deus criador. 
Talvez você não tenha recursos para adquirir 
todas as ferramentas necessárias que outros sistemas 
requerem. Na Magia do Caos você pode e deve criar 
suas próprias ferramentas mágickas, abrindo assim 
seu próprio espaço. 
Talvez seja a prática mais simples e eficiente 
para lidar com magia de prosperidade financeira. 
Isto porque muitos dos conceitos da Magia do Caos 
também são conceitos provindos do marketing. 
81 
 
Entender os gatilhos mentais de seus clientes 
e achar formas eficientes de sugestioná-los a 
comprar seus produtos é uma prática muito 
corriqueira da Magia do Caos. 
As grandes marcas utilizam, mesmo sem 
saber, conceitos que mais tarde foram estudados 
como hipersigilos. 
Outra vantagem é que Magia do Caos não 
exige um alto investimento para rituais pomposos, e 
mesmo assim beneficia o praticante com resultados 
promissores. 
Porém nada disso vem de graça e sem 
esforço. Assim como qualquer outro sistema, o caote 
precisa se empenhar bastante para conseguir 
resultados mais satisfatórios. 
Tenha em mente que, de modo geral, toda 
prática mágica pode ser potencialmente perigosa. 
Especialmente se você utiliza com certas 
substâncias e ingredientes, bem como faz práticas 
psicológicas intensas. Por isso, o ideal é sempre 
82 
 
começar aos pouquinhos. Também é bom ter um 
acompanhamento das suas práticas. 
Todo magista precisa de seu caderno de 
anotações. Chame-o como quiser: grimório, Livro 
das Sombras etc. Sem um caderno ou aplicativo, 
fica completamente impossível conferir em que 
nível você está, o que fez de errado e o que pode 
mudar. Não confie na sua memória. Simplesmente 
faça o que deve ser feito. 
Lembre-se: magistas precisam de tempo para 
praticar. O ideal é que você pratique diariamente. 
Quando for buscar livros para se inspirar, 
procure não baixar PDFs com péssimas traduções. 
Até porque podem falar exatamente o oposto do que 
o autor quis dizer. Procure guardar um dinheiro para 
montar sua própria biblioteca ocultista. É um 
investimento que você faz em si mesmo. 
Também é importante dedicar um pouco de 
espaço montando um cronograma que sirva de 
83 
 
auxílio para aqueles que estão começando ou que 
querem retornar às antigas práticas. Então aqui farei 
meu melhor para facilitar a sua vida. 
Diário Onírico: anote seu sonho da noite no 
Diário Onírico. É importante manter um diário 
onírico, pois os sonhos e pesadelos revelam muito 
sobre sua vida e sua prática mágica. Você não 
precisa dar detalhes. Escreva o dia, a hora, o lugar. 
Se quiser, acrescente seu humor, temperatura e fase 
da lua. Anote símbolos e situações mais marcantes 
do seu sonho. Anotar os sonhos só toma um pouco 
do seu dia e te prepara melhor para lidar com sonhos 
lúcidos e viagens astrais. 
Energização: Esta é uma prática excelente 
caso você tenha um dia muito agitado no trabalho, 
escola ou faculdade. Tome um banho ou coma algo 
mentalizando foco e energia para seu dia. 
Banimento antes/depois da prática 
mágica: É sempre bom manter uma prática mágica 
84 
 
diária, que pode seguir o Liber MMM, como 
descrito no Liber Null e Psiconauta. Pode ser uma 
meditação simples ou um ritual a sua escolha. 
Prática mágica: A meditação diária é 
equivalente a escovar os dentes. É importantíssima 
para higiene mental. Caso você tenha dificuldades, 
procure aplicativos que te ajudam a meditar. 
Mesmo que sejam apenas 5 minutos por dia. 
Nós meditamos tanto por 
isso nossos instintos irão esvanecer-
se, Irão esvanecer 
The Phantom Agony - Epica 
Exercício físico: o maior erro do magista é 
talvez se focar demais nas práticas mentais e 
abstratas e esquecer-se de seu corpo: um dos seus 
principais instrumentos mágicos. Então separe pelo 
menos 20 minutos para exercícios físicos: mesmo 
85 
 
que seja uma simples caminhada, por pelo menos 
3x na semana. 
Leitura/relaxamento antes de dormir: 
Outra dica é procurar desligar seus eletrônicos e 
buscar a leitura antes de dormir. Além de aumentar 
seu conhecimento, ajuda a ir aos poucos diminuindo 
o ritmo pesado de seu cérebro sem todas as lentes 
piscantes. 
Cronograma semanal: na verdade, o 
cronograma semanal tem muito mais a ver com o 
enfoque da Magia, relacionando-a com as 
correspondências mágickas diárias. 
Cronograma Mensal: O cronograma 
mensal depende muito de que fase estamos, 
especialmente para aqueles que seguem a Roda do 
Ano, as estações e as Fases da Lua. Também tem a 
ver com feriados, celebrações e datas marcantes. A 
dica aqui é dar uma olhada no seu calendário, 
perceber quais são os dias marcantes do mês e 
86 
 
organizar práticas e rituais dependendo de tais 
datas. 
FOCO E DISCIPLINA 
 
Magia do Caos é liberdade, criatividade e 
subversão. Todo mundo já ouviu isso até certo ponto 
e repete este discurso, aqui me incluo. “Faço o que 
quero porque nada é verdadeiro, tudo é permitido”. 
De fato, voe, gafanhoto. Porém deixa eu te 
contar um segredo, esta liberdade toda, seria, na 
verdade, fruto de décadas de leitura árdua e de 
prática assídua, que finalmente te daria a base 
necessária para você criar seu próprio sistema 
mágico, um dos principais objetivos do Caos. 
Até chegar lá, você estaria submetido à linha 
dura da IOT, ou os Iluminados do Amor e da Morte, 
o que inclui hierarquia. Mesmo que você não fosse 
aceito na Ordem e fizesse isso de forma 
87 
 
independente, este seria o caminho mais sábio a 
tomar. 
Você até poderia criar seu sistema mágico 
antes disso, porém chegaria à conclusão de que lhe 
faltam as ferramentas emocionais e ocultas mais 
básicas. Este foi meu caso. 
Mas eu prefiro te vender a ideia de que você 
pode fazer o que quiser, sabe por quê? Porque na 
realidade eu não me importo com sua trajetória 
mágica. Mal te conheço. Quero te vender um 
produto. No caso, Magia do Caos. E ele vem bem 
embalado, amorfo, então você interpreta e adapta 
como quiser. Mas digamos que eu tenha me cansado 
um pouco do método enlatado. Então vamos cair na 
real. 
Enquanto alguns escravos servirão, este livro 
é realmente para a minoria que está preocupada em 
fazer um bom trabalho. Existem muitos com boa 
intenção, que querem se tornar magos potentes, mas 
lhes faltam basicamente duas coisas: a noção de que 
88 
 
isto de fato é possível, e de que isso vem com um 
trabalho diário gritante. 
Veja bem, sendo muito honesta, o leitor 
médio mal compreende como fazer uma novena para 
um servidor público, como poderia compreender o 
que é a Jihad do Caos? 
Estaremos sempre estagnados no básico, sem 
perspectivas para Magia do Caos avançada? 
Teremos sempre que nos esconder em Ordens 
exclusivas ou poderemos construir um trabalho 
público de fato embasado? 
Com poucas iniciativas realistas no Brasil, 
fica fácil cair no discurso da bagunça, quando o livro 
básico da Magia do Caos exige pelo menos 30 
minutos de prática diária para preparação do não-
pensamento, que é a condição importante para os 
transes mágicos. A verdade é que, resumidamente, 
se o sujeito não consegue alcançar o
estado de transe 
mágico, como conseguiria realizar magia? 
89 
 
Como poderia se considerar um Mago do 
Caos aquele que nunca praticou nenhum método de 
concentração, que nunca conseguiu chegar ao status 
de gnose, que acredita que está tudo bem porque faz 
como quer, quando quiser e se quiser? Cuja única 
inspiração são os grupos de Facebook? Sem dominar 
o básico do básico que é o Liber Null, será mesmo 
um magista do Caos? 
Para além disso, a obra de Peter Carroll é 
muito mais extensa, e de fato não totalmente 
disponível em Português, o que dificulta o acesso 
para a maioria dos brasileiros. E não é porque ele é 
o fundador da IOT ou o principal Mago do Caos em 
atividade que devemos acatar tudo o que ele diz ou 
fazer tudo ao pé da letra. Longe de mim transformar 
o Caos numa escola totalitarista. 
Entretanto, creio que precisamos aprofundar 
nosso vocabulário para além de sigilos e servidores, 
a fim de que possamos entender o sacerdócio oculto 
que justamente vem com a responsabilidade do 
Mago do Caos, o que inclui entender engenharia 
90 
 
social, significar a vida e a morte, fornecer uma 
estrutura para tudo que existe etc. 
O Mago do Caos que só deseja pegar carona 
no sistema alheio, que foge do confronto mágicko e 
que tem preguiça de estudar, na verdade é apenas um 
agente passivo, um mero cliente daqueles que 
vendem seus paradigmas. Será sempre um leitor, um 
ouvinte, nunca de fato um praticante. E por mais 
lucrativo que seja adoçar o ego de tais sujeitos, o 
desafio surge de fato quando a criatividade de fato 
se faz presente. 
 
ARMADILHAS PREJUDICAIS 
 
O que separa um ocultista do restante dos 
mortais é justamente o seu desempenho ao construir 
o seu caminho. Por isso, preciso apontar para 
algumas armadilhas que encontramos por aí e que 
muitas vezes nos impedem de fazer um bom 
trabalho. 
91 
 
Dizem que se conselhos fossem bons, eles 
seriam comprados. Ainda assim, para os novos 
tempos que nos esperam, precisamos estar mais 
atentos que nunca. Por isso criamos esta série de 
textos de conselhos magísticos. Sinta-se livre para 
fazer o exato oposto. Afinal, “nada é verdadeiro, 
tudo é permitido”. 
A ideia de que você precisa ser imbatível 
Esta é uma questão que sempre vale a pena 
ser frisada. Parafraseando Jan Fries, autor de 
Mágicka Visual, para todos chega uma hora em que 
é preciso descer do topo da árvore. Não há como 
crescer expansivamente para sempre. Isto tampouco 
é o ideal. 
Infelizmente, vivemos num ambiente de 
aparências. O espelho modulado pelas redes sociais 
nos faz crer em vidas perfeitas, magistas 
indestrutíveis. 
Mas além de tantas carapuças, a verdade é 
que o ocultista ainda é uma pessoa e, como tal, 
92 
 
precisa lidar com questões do seu dia-a-dia. O 
magista também adoece, também sofre com 
decepções, problemas e questões. 
Precisamos aprender que não somos 
infalíveis, que outros profissionais são tão 
importantes quanto nós. Precisamos abraçar nossa 
humanidade para superá-la. 
Muitos ocultistas tendem a rejeitar fatos 
científicos para acreditar em qualquer teoria da 
conspiração que aparece. Como Peter Carroll 
descreve em Liber Null & Psiconauta, é possível 
reagir a isto de diversas formas. 
Para ele, a melhor delas é criar sua própria 
teoria da conspiração. De preferência alguma que 
seja construtiva para a vinda do novo Aeon e não 
uma fake News qualquer que reproduza as crenças e 
os preconceitos ultrapassados. 
Chega um ponto em que o ocultista, ao se 
tornar um líder, percebe que as pessoas não querem 
a iluminação. Elas querem palavras fáceis e 
93 
 
mastigadas. Estão ávidas por histórias fantásticas e 
mirabolantes. 
O ocultista mais afiado se tornará cético em 
relação à verdade alheia, enquanto ele mesmo 
programa a sua própria. Ele fará e divulgará a sua 
teoria da conspiração, ciente do efeito dominó de 
suas palavras. 
É muito comum que você queira seguir os 
mesmos passos de alguém importante. Talvez você 
leia suas biografias e se pergunte como alguém 
conseguiu tantos feitos em vida, conquistou tantas 
coisas e adquiriu tanto poder. Talvez você queira 
simplesmente reproduzir os hábitos daquela pessoa 
que te inspira, seguir seu grimório ao pé da letra ou 
tornar-se cada vez mais como ela e menos como 
você. No entanto, isto revela apenas uma questão de 
baixa autoestima. 
Você desacredita no seu potencial, tomando 
a vida alheia como medida principal do seu trabalho, 
sendo que você tem seu próprio histórico de vida, 
94 
 
suas próprias limitações, seus próprios interesses e 
deveria simplesmente construir o seu caminho. 
Inspirar-se em alguém é mais que válido, mas ao 
tentar calçar os sapatos de alguém, é provável que 
eles sejam inúteis para você e do tamanho errado. 
A vontade de se expor a qualquer custo. 
Novamente, este é um problema deste mundo 
de aparências. Ocultismo, como a própria palavra 
diz, é o que não se mostra. Ocultista, portanto, é 
alguém que se preserva. Nós apenas deixamos 
algumas pistas, mas o trabalho final de pesquisa, 
estudo e dedicação é com você. Nem tudo está na 
Internet, mas sim nos livros e na prática diária. 
Ter redes sociais, expor seu trabalho e suas 
opiniões não é o problema. Apenas levar isso para 
todas as áreas da sua vida é prejudicial. Quando mais 
você aparecer, mais atrairá atenção. E quanto mais 
você posta a seu respeito, mais a informação a seu 
respeito lhe deixa vulnerável para aqueles sem boas 
intenções. Então reflita bem a respeito de suas 
95 
 
palavras e seus trabalhos mágickos antes de publicá-
los. 
Não terceirize sua educação ocultista: 
combata a ignorância! 
Então, resumidamente, quais são os desafios 
do magista do Caos? 
• Entender que existem outras 
crenças e que a sua não é a única 
verdadeira, nem a mais certa e 
nem a principal. 
• Praticar técnicas de Magia. 
• Atingir o estado de gnose. 
E o principal desafio: 
• Criar seu próprio sistema mágico. 
Este é um livro de alerta para todo ocultista 
que não deseja ser apenas mais um cordeiro na 
multidão. 
Em qualquer meio espiritualista ou ocultista, 
é muito comum que as pessoas tendam a seguir 
96 
 
cegamente mestres, gurus, ou, mais recentemente, 
YouTubers. Elas escolhem uma linha de pensamento 
que mais se adequa às suas vidas e simplesmente 
ignoram todas as outras possibilidades. Para elas, é 
pecado questionar aqueles que estão à frente de 
Ordens, Templos ou Páginas. 
Digamos, portanto, que tais pessoas queiram 
se iniciar em Thelema. Ao invés de buscarem a 
própria Verdadeira Vontade, acabam seguindo a 
Vontade de seus guias, suprimindo assim todo o 
Potencial interior. Talvez o caminho com o guia 
pareça mais fácil, no entanto, pode ser bastante 
limitante, especialmente se este guia não queira 
combater a própria ignorância. 
O problema é que ao terceirizarem a própria 
educação ocultista, acabam por serem vítimas de um 
fenômeno que impacta muita gente: a ignorância. 
Todos nós somos ignorantes, fato. Mas como 
combatemos isso? A maioria quer receber o 
conteúdo mastigado, mas sem questionar ou avaliar 
outras opções de abordagem. 
97 
 
Estes iniciantes, então, entregam suas 
dedicações para pessoas despreparadas, ou que são, 
na verdade, falsificações de mestres estrangeiros, 
plagiadores e todo tipo de gentalha que só visa o 
lucro ou o status de ascencionado, sábio ou mestre. 
Ficam perdidos e órfãos quando seus mestres 
abandonam o caminho ou os expulsam por motivos

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