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Física Quântica - 2021.3 - QS - Lista 4 - Tema: Uma nova interpretação da matéria (dualidade onda-partícula) GABARITO Questões: a. Enuncie as relações de de Broglie para a frequência e comprimento de onda das ondas associadas a elétrons e mostre que, juntamente com a condição de onda estacionária, elas são coerentes com a quantização do momento angular no átomo de hidrogênio (modelo de Bohr). Resp: De Broglie propôs que a frequência e o comprimento de onda do elétrons seriam dados por: λ = h p f = E f No caso da onda estacionária em uma orbita circular do elétron, temos como condição de quantização que 2πr = nλ, ou seja, o comprimento de onda deve ser um múltiplo inteiro do perímetro do circunferência. Dessa forma, podemos escrever: 2πr = nh p → rp = n~ em que (rp) é o módulo do momento angular (L), ou seja, obtemos que L = n~. Logo a hipótese de De Broglie reforça o argumento de quantização de momento angular postulado por Bohr para seu modelo atômico. b. Discuta os experimentos de Davisson e Germer e de Thomson que mostraram o caráter ondulatório dos elétrons. Resp: O experimento Davisson-Germer verificou experimentalmente a difração de elé- trons, que é um experimento característico de ondas. Um feixe de elétrons incidia em um alvo de níquel cristalino, como mostrado na Figura ??. Observou-se no espalhamento destes elétrons um padrão formado por máximos e mínimos, de acordo com o ângulo de espalhamento, que é dado pela relação de Bragg: nλ = dsen(θ), onde d é o espaçamento na rede cristalina e θ é o ângulo de espalhamento. No experimento, Davisson e Germer obtiveram um comprimento de onda λ = 0, 165nm, valor muito próximo do esperado pela hipótese de De Broglie, λ = 0, 167nm, essa diferença ocorreu devido a erros experimentais, que posteriormente foram corrigidos. O experimento de Thomson consistia do envio de um feixe intenso de elétrons relativísticos (velocidades próximas a da luz) e a observação do padrão de interferência de círculos concêntricos depois dos elétrons interagirem com o alvo. O comprimento de onda associado a este padrão era compatível com a predição para o comportamento ondulatório de elétrons, esses resultados estão representados na Figura 1. Estes resultados deram respaldo experimental para a hipótese de De Broglie da dualidade onda-partícula, que é um dos conceitos centrais da física quântica atualmente. Figura 1: Resultados do experimento de Thomson. A esquerda para uma difração de raios X e a direita para difração de elétrons. c. Como você definiria o que é pacote de ondas? Explique qual é a diferença entre velocidade de fase e velocidade de grupo. Resp: Pacote de onda é uma onda localizada no espaço e no tempo,que pode ser descrita pela superposição (somatória) de diversas ondas harmônicas de frequências distintas: y(x, t) = ∑ i Aisin(kix− ωit) A velocidade de fase é a velocidade associada a cada uma das componentes harmônicas, dada por vp = νλ = ω/k. A velocidade de grupo, por sua vez, está associada ao "envelope"(envoltória) do pacote de onda, sendo a mesma para o pacote de onda como um todo, dada por vg = dωdk = vp + k dvp dk . A velocidade de grupo (velocidade com que se propaga a energia, informação) é sempre igual ou menor que a da luz, como esperado pela teoria da relatividade. d. Como podemos justificar o fato de que o quadrado da função de onda de um elétron é proporcional à probabilidade de detecção de um elétron na unidade de volume? [Dica: Pense em qual a contribuição que a descrição do experimento de fenda dupla com luz e com partículas para esta discussão.] Resp: A interpretação de que o módulo do quadrado da função de onda corresponde a densidade de probabilidade de encontrar a partícula é um postulado de Born, que pode ser justificada considerando o comportamento de fótons no experimento de interferência da fenda dupla. Neste experimento, luz incide em um padrão com duas aberturas com larguras da onde do comprimento de onda da luz, após as fendas, podemos observar um padrão de Page 2 interferência com regiões mais brilhantes intercaladas com regiões completamente escuras (padrão de claros e escuros). Essa observação reflete o comportamento ondulatório coletivo (ou médio) dos fótons, considerando o modelo ondulatório, vemos que a intensidade destas regiões claras é proporcional ao módulo quadrado da amplitude do campo elétrico ((E0). Entretanto, quando o mesmo experimento é repetido com uma intensidade de luz muito baixa, ou seja, poucos fótons por unidade de tempo, por um curto período não se observa padrão de interferência, mas sim pontos dispersos, devido ao comportamento corpuscular dos fótons. Caso esse último experimento seja mantido por longos períodos, os diversos pontos medido passam a formar o padrão de interferência, como esperado pelo princípio da correspondência. Assim, podemos dizer que a probabilidade de um fóton ser medido em um dado ponto (dele ser “encontrado nesse ponto”) é proporcional a intensidade da luz naquele ponto. Por analogia, podemos dizer que o quadrado da função de onda do elétron é proporcional a probabilidade de medir o elétron naquele ponto (“de encontrá-lo lá”). No caso do elétron e da física quântica no geral, a função de onda pode ser uma função complexa, mas o seu módulo quadrado é sempre positivo e real. Essas funções são normalizáveis (fazer com que a área total sob a curva do módulo ao quadrado da função de onda seja igual a 1, o que corresponde a probabilidade total). Assim, é uma interpretação consistente e adequada para as predições que são realizadas na física quântica. e. Enuncie o princípio da incerteza de Heisenberg e discuta suas consequências. Resp: O princípio da incerteza foi formulado em 1927 por Werner Heisenberg. Tal prin- cípio estabelece um limite na precisão com que certos pares de propriedades de uma dada partícula quântica, conhecidas como variáveis complementares (tais como posição e mo- mento linear ou a energia e o tempo), podem ser conhecidos. Heisenberg propôs que em nível quântico quanto menor for a incerteza na medida da posição de uma partícula, maior será a incerteza de seu momento linear e vice-versa, isto pode ser expresso matematica- mente, por ∆p∆x ≥ ~/2. Assim, estabelecendo um limite mínimo para o produto das incertezas destas duas propriedades da partícula. É importante salientar que estas incertezas não estão relacionadas a limitações de instru- mentos de medida, mas são intrínsecas da teoria quântica e estão associadas ao carácter ondulatório dos entes quânticos. Dessa forma, se for de interesse em experimento aumentar a precisão na medida do momento (ou seja, obter uma incerteza menor), então isso fará com com a incerteza na medida da posição aumente. Obviamente, o princípio da incerteza se aplica para objetos macroscópicos, porém quando calculamos os valores limites dados pelo equação deste princípio, vemos que os valores limites são ordens de grandeza menores que as incertezas típicas dos instrumentos de medida, assim não sendo possível observar os seus efeitos nas medidas usuais do cotidiano. Contudo, em experimentos físicos, como em aceleradores de partículas, em que estamos estudando efeitos em escala subatômicas, as consequências do principio da incerteza são mensuráveis e devem ser levadas em conta para a predição correta dos fenômenos físicos que estão sendo estudados. Questões: 1. Considerando estes diferentes casos, determine o comprimento de onda de de Broglie i) Para uma bola de futebol (m = 0, 5 kg) se movimentando com uma velocidade de 5 m/s. ii) Para um elétron com energia cinética de 100 eV. iii) Para uma partícula subatômica que se move com velocidade próxima a da luz e tem energia total E = 1J . [Dica: Para determinar o momento no caso de uma partícula que se move a uma velocidade próxima a da luz (energia cinética muito maior que a energia de Page 3 repouso), pode-se considerar a aproximação relativística na qual o momento é determinado como p = E/c]. Baseado nos seus resultado vistos acima, explique se é possível observarmosefeitos de difração e interferência para tais objetos utilizando fendas ou outros experimentos que evidenciam o seu caráter ondulatório? Resp: O comprimento de onda de de Broglie pode ser determinado pela expressão: λ = hp . Veremos que devemos ter cuidado com qual a forma adequada de obter o momento linear para cada situação: i) Bola de futebol : Neste caso, podemos usar mecânica Newtoniana, isto é, p = m.v, assim: λ = h p = h m.v → λ = 2, 65× 10−34m ii) Elétron não relativístico: Neste caso, também podemos usar mecânica Newtoniana, pois Ek < E0, onde E0 é a energia de repouso. Assim, podemos escrever o momento como p = √ 2mEk, então: λ = h p = h√ 2mEk → λ = 1, 23× 10−10m = 123pm iii) Partícula relativística: Neste caso, podemos usar a aproximação p = E/c, assim: λ = h p = hc E → λ = 1, 99× 10−25m Nota: A relação entre energia e momento para uma partícula relativística é dada para: E = √ (m0c2)2 + (pc)2, onde m0c2 é a energia de repouso da partícula. Para partículas com alta energia cinética em que m0c2 << pc, podemos fazer a aproximação de que E ≈ pc→ p ≈ E/c. O comprimentos de onda de objetos macroscópicos com as velocidades usuais são muito pequenos e seriam necessárias fendas de tamanhos comparáveis a estes comprimentos de onda. Por exemplo, para o caso da bola de futebol, ela deveria passar passar por uma fenda da ordem de 10−34m, uma bola possui cerca de 11 cm de raio, ou seja, tal experi- mento seria impossível. Dessa forma, não observamos estes efeitos quântico sem situações de nosso dia-a-dia. 2. Num experimento projetado para se tentar observar a difração de partículas microscópi- cas elétrons com energia cinética de 1, 24 eV serão direcionados a um objeto que atuará efetivamente como uma parede com uma fenda de largura d = 3 nm. Após atravessar a fenda os elétrons são registrados em um anteparo após percorrerem uma distância de alguns metros. a) Determine o comprimento de onda de Broglie dos elétrons direcionados à fenda. b) Dada a largura da fenda e o comprimento de onda de Broglie obtido no item anterior, seria possível observar o fenômeno de difração nesse experimento? Explique sua resposta. Page 4 Resp: a) Como sabemos a energia cinética dos elétrons, podemos determinar o seu mo- mento e, consequentemente, o seu comprimento de onda de matéria como: p = √ 2mE = √ 2× 9, 1× 10−31kg × 1, 24× 1, 6× 10−19 J = √ 2× 9, 1× 1, 24× 1, 6× 10−25kg.m/s ≈ 6× 10−25kg.m/s λ = h p = 6, 63× 10−34J · s 6× 10−25kg.m/s = 1, 105 nm b) Sim, pois a largura da fenda e o comprimento de onda de Broglie dos elétrons tem a mesma ordem. Vemos isso da expressão d sinθ = nλ, onde para n = 1 o ângulo é mensurável. 3. Num aparelho de televisão os elétrons são acelerados por um potencial de 20 kV. Qual é o comprimento de onda de de Broglie destes elétrons? Resp: Um potencial de V = 20kV equivale a uma energia cinética de Ek = 20keV = 3, 2 × 10−15J . Como essa energia cinética é bem menor que a energia de repouso do elétron (E0 = 511kEV ), podemos usar mecânica Newtoniana para determinar o momento da partícula. Dessa forma, o comprimento de onda de de Broglie é dado por: λ = 6.62 ∗ 10−34J.s√ 2 ∗ 9.1 ∗ 10−31kg ∗ 3.2 ∗ 10−15J = 8, 2× 10−12m = 8, 2pm 4. Uma massa de 1 micrograma tem uma velocidade de 1 cm/s. Se a velocidade tem uma incerteza de 1%, qual é a ordem de grandeza da incerteza mínima na sua posição? Resp: A massa é m = 1µg = 10−9kg, v = 10−2m/s, ∆v = 10−4m/s, logo ∆p = m∆v = 10−13kg.m/s. Assim, pelo principio de incerteza de Heisenberg, a incerteza mínima da posição é dada por: ∆x = ~ 2∆p = 5, 25× 10−22m. 5. A energia de um certo estado nuclear pode ser medida com incerteza da ordem de 1 eV. Qual é o mínimo tempo de vida desse estado? Resp: ∆E = 1eV = 1, 6 × 10−19J , usando o principio de incerteza obtemos o tempo de vida mínimo do estado, dado por: ∆t = ~ 2∆E = 3, 28× 10−16s. Page 5 6. Os núcleos atômicos são também sistemas quânticos com níveis de energia discretos. Um estado excitado de um certo núcleo tem uma meia vida de 0, 5.10−9s, aproximadamente. Considerando que este tempo é a incerteza ∆t para a emissão de um fótons, use a relação ∆E∆t ≥ ~/2 para calcular a menor incerteza na frequência, ∆ν, do fóton emitido. Calcule a incerteza relativa, ∆νν , quando o comprimento de onda dos fótons emitidos é λ = 0, 01nm. Resp: Considerando a meia vida como a incerteza no tempo ∆t = 0, 5 × 10−9s. Para a energia podemos escrever: ∆E = h∆ν, pelo princípio da incerteza a menor incerteza é dada por, ∆E∆t = h/4π, ou seja, h∆ν∆t = h/4π∆ν = 1 4π∆t = 0, 16× 109Hz. Uma onda de comprimento igual a 0, 01nm possui uma frequência de ν = c/λ = 3×1019Hz e, portanto, a incerteza relativa nesse caso é de ∆νν = 5, 3× 10 −12. Page 6