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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA As relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas (1951-1954): perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora Wagner Soares Pereira Niterói 2020 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Wagner Soares Pereira As relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas (1951-1954): perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História, da Universidade Federal Fluminense, como requisito para a obtenção do título de Mestre em História Social Orientador: Prof. Doutor Paulo Cruz Terra Niterói 2020 Wagner Soares Pereira As relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas (1951-1954): perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História, da Universidade Federal Fluminense, como requisito para a obtenção do título de Mestre em História Social Aprovado em: 14/12/2020. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Professor Doutor Paulo Cruz Terra – Orientador/UFF ______________________________________________________________________ Professor Doutor Marcelo Badaró Mattos – Arguidor/UFF ______________________________________________________________________ Professor Doutor Rafael Vaz da Motta Brandão – Arguidor/UERJ/FFP Ficha catalográfica automática - SDC/BCG Gerada com informações fornecidas pelo autor Bibliotecário responsável: Sandra Lopes Coelho - CRB7/338 P436r Pereira, Wagner Soares As relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas (1951-1954) : perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora / Wagner Soares Pereira ; Paulo Cruz Terra, orientador. Niterói, 2020. 162 f. Dissertação (mestrado)-Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.22409/PPGH.2020.m.10243073798 1. Forças Armadas. 2. Getúlio Vargas. 3. Tribuna da Imprensa. 4. Última Hora. 5. Produção intelectual. I. Terra, Paulo Cruz, orientador. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de História. III. Título. CDD - http://dx.doi.org/10.22409/PPGH.2020.m.10243073798 AGRADECIMENTOS Após todo esse período de luta, através do estudo e da pesquisa, o qual possibilitou a construção dessa dissertação de Mestrado, quero fazer os meus agradecimentos. Agradeço primeiramente à Deus, sem Ele, eu nada poderia fazer. Agradeço ao meu pai Virgílio Tristão Pereira (in memorian) e minha mãe Jecy Soares Pereira, pois quando eu era criança me fizeram dar os primeiros passos no conhecimento, me colocando na Escola. Sou grato aos meus pais pela força e o incentivo, e por terem me ajudado a lutar durante o meu Mestrado. Agradeço a minha esposa Jemima do Nascimento Soares, pelo apoio que me deu, compreendendo com carinho o esforço que eu precisava dedicar para alcançar o meu objetivo. A minha filha Laís Soares Pereira do Nascimento, que me trouxe alegria para lutar. A todos os meus irmãos: Lídia, Claudia, Eduardo, Cátia, Fátima e Elizabeth, que sempre me apoiaram e que cada um à sua maneira, puderam me ajudar. Aos meus cunhados e sobrinhos também. A todos os meus amigos e colegas, que torceram pela minha vitória, de maneira em geral, obrigado. Agradeço ao professor Paulo Terra, por ter sido o meu orientador e durante essa caminhada pôde contribuir através de sua dedicação, do seu conhecimento e experiência profissional para que essa dissertação pudesse ser desenvolvida e finalizada. Ao professor Marcelo Badaró, ao qual tive o privilégio de ter sido o seu orientando no período da Graduação e agora pôde fazer parte da minha banca de Mestrado, contribuindo mais uma vez para a minha formação. Também agradeço ao professor Rafael Brandão, que gentilmente aceitou a participar desta banca e pôde contribuir através do seu conhecimento. DEDICATÓRIA À memória do meu querido pai, Virgílio Tristão Pereira, o qual em sentido de carinho e respeito lhe chamava de “major-brigadeiro do ar”. RESUMO O presente trabalho tem por objetivo analisar o período do governo democrático de Getúlio Dornelles Vargas. Dentro desse recorte, trago como objeto de minha pesquisa as relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas (1951-1954). Sendo assim, busquei analisar alguns aspectos que ocorreram durante esse contexto: o acordo militar firmado entre o Brasil e os Estados Unidos em 1952; a possível participação dos militares brasileiros na Guerra da Coreia; as eleições no Clube Militar para o biênio de 1952-1954; o Manifesto dos Coronéis; a morte do major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz; as consequências de aumento dessa crise político-militar; e, por fim, o quadro final que se deu entre as forças armadas e o suicídio de Getúlio Vargas. As análises desses aspectos foram desenvolvidas através das perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, que não foram apenas fontes, mas objetos dessa pesquisa de Mestrado. Palavras-chave: Forças Armadas, Getúlio Vargas, Tribuna da Imprensa, Última Hora. ABSTRACT This paper aims to analyze the period of Getúlio Dornelles Vargas’ democratic government. Within this framework, I bring as an object of my research the relations of the Armed Forces with the government of Getúlio Vargas (1951-1954). Therefore, I tried to analyze some aspects that occurred during this context: the military agreement signed between Brazil and the United States in 1952; the possible participation of the Brazilian military in the Korean War; the elections at the Military Club for the 1952-1954 biennium; the Colonels Manifesto; the death of Air Force major Rubens Florentino Vaz; the consequences of increasing this political-military crisis; and, finally, the final picture that took place between the armed forces and the suicide of Getúlio Vargas. The analyzes of these aspects were developed through the perspectives of the newspapers Tribuna da Imprensa and the Ultima Hora, which were not only sources, but objects of this Master’s research. Key-words: Armed Forces, Getúlio Vargas, Tribuna da Imprensa, Ultima Hora. SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................ 10 Capítulo 1 – O Governo Vargas e as fontes de pesquisa............................................ 22 1.1. Balanço historiográfico sobre o Governo Vargas (1951-1954)................................ 22 1.2. Tribuna da Imprensa e Última Hora: que jornais eram esses?.................................. 37 Capítulo 2 – As Forças Armadas e o Governo de Getúlio Vargas: acordos, instituições e política externa........................................................................................ 49 2.1. Forças Armadas........................................................................................................ 49 2.2. Apoios e interesses: o Acordo Militar entre o Brasil e os Estados Unidos............... 60 2.3. E os militares? Vão ou não lutar na Guerra da Coreia?............................................ 77 2.4. Forças Armadas e o Clube Militar............................................................................ 93 Capítulo3 – Mudam-se os rumos: Vargas perde apoio das Forças Armadas (1954)............................................................................................................................ 108 3.1. Surge um manifesto por parte do Exército.............................................................. 109 3.2. A Aeronáutica é atingida: morre o major Rubens Florentino Vaz........................... 121 3.3. Aumenta-se a crise político-militar no governo Vargas.......................................... 130 3.3.1. Os parlamentares e a crise político-militar........................................................... 131 3.3.2. As forças armadas e a crise político-militar......................................................... 133 3.4. As forças armadas e o suicídio de Vargas............................................................... 140 CONCLUSÃO............................................................................................................. 148 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 151 10 INTRODUÇÃO Ao entrar para o Mestrado em História Social, pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense – PPGH/UFF; tinha como recorte de minha pesquisa o período de 1951 a 1954. Nesse sentido, trago como tema de minha dissertação as relações das Forças Armadas com o Governo de Getúlio Vargas, perspectivas dos jornais Tribuna da Imprensa e Última Hora. Dessa forma, o meu objetivo é poder compreender as questões relacionadas a atuação das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas procurando observar os seus posicionamentos, as suas contradições e acirramentos. Ou seja, discutir e analisar esses aspectos e construir um panorama que possibilite compreender a importância dessas relações militares diante do governo de Vargas. Com isso, escolhi como fontes e objetos para a minha análise de pesquisa trabalhar com os jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora mostrando como que se deram os seus posicionamentos e diferenças de opiniões, no que diz respeito à relação que foi desenvolvida entre as forças armadas e o governo democrático de Getúlio Vargas. Apesar do trabalho de investigação focar-se nos periódicos, entrevistas realizadas com Oficiais Generais no Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV); também serão utilizadas, no sentido de colaborarem com a pesquisa. Para isso, vem a ser necessário analisarmos, primeiramente, o papel da imprensa e da história oral. Mostrando não somente a sua importância enquanto fonte e objeto de pesquisa para o conhecimento historiográfico, mas também um pouco o seu próprio funcionamento. Pensar sobre o papel da imprensa é poder refletir sobre várias possibilidades, desde jornais, revistas, rádios, almanaques, dentre outros, dentro desse “universo” da comunicação. Esta comunicação se expressa hoje de forma variada, trazendo as informações de forma cada vez mais rápidas, possibilitando um melhor conhecimento, não só da informação em geral, mas para o ensino e para a pesquisa acadêmica, o que acaba de certa forma contribuindo para o avanço tecnológico e a afirmação de novidades1. 1 CRUZ, Heloísa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador: conversas sobre História e Imprensa. Projeto História, São Paulo, n.35, p. 253-270, dez. 2007. 11 Na área de História tem sido cada vez mais utilizada a imprensa enquanto fonte, tanto no ensino, quanto nos variados temas escolhidos pelos pesquisadores. A nossa ênfase neste trabalho será sobre os jornais. Neste ponto, podemos observar que na atualidade, nas Ciências Humanas de maneira em geral, a utilização dos jornais como fonte de pesquisa tem sido valorizada o que de fato não ocorria em tempos passados2. Dessa maneira, Tânia Regina de Luca nos mostra que na década de 1970, eram poucos os trabalhos que utilizavam os jornais como fonte de pesquisa. Segundo a autora, o problema não se encontrava em pesquisadores que escrevessem sobre a imprensa, mas na ausência dos mesmos em utilizar a Imprensa como fonte para suas pesquisas3. Para trazer à luz o acontecido, o historiador, livre de qualquer envolvimento com seu objeto de estudo e senhor de métodos de crítica textual precisa, deveria valer-se de fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de suficientemente distanciadas de seu próprio tempo. Estabeleceu-se uma hierarquia qualitativa de documentos para a qual o especialista deveria estar atento4 Sendo assim, a falta de credibilidade que era dada aos jornais enquanto fonte, teve o seu momento específico em fins do século XIX e inícios do século XX, onde imperava uma visão Positivista na História. De acordo com Maurilio Dantielly Calonga, “no século XIX a tradição positivista, restrita a descoberta da verdade, impedia a utilização dos impressos na produção historiográfica”5. De fato, o jornal não era bem visto neste sentido, pois ao trazer as informações careciam de credibilidade e imperava informações subjetivas dos acontecimentos, o que de fato o distanciava da credibilidade e da objetividade buscada pelos historiadores dessa época. Mas as mudanças ocorreriam logo após as críticas que vieram na década de 30 do século XX, através da Escola dos Annales, o que levou a uma mudança de pensamento sobre o conhecimento historiográfico, renovando metodologicamente e tematicamente a História. Entretanto, os benefícios da imprensa não foram reconhecidos de forma imediata6. 2 CRUZ, Heloísa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Op. Cit. 3 LUCA, Tania Regina de. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. In: PINSKY, Carla Bassanezi, (Org.) Fontes Históricas. São Paulo. Editora Contexto, 2008. 4 LUCA, Tania Regina de. Op. Cit. p. 112. 5 CALONGA, Maurilio Dantielly. Jornal e suas representações: objeto ou fonte da História. Comunicação e Mercado/UNIGRAN – Dourados – MS, vol. 01, n 02 – edição especial, p. 79-87, nov 2012. p. 80. 6 LUCA, Tania Regina de. Op. Cit. 12 Através das propostas de análises históricas difundidas pela Écolle des Annales, os estudos históricos receberam novos ares. Ampliaram as pesquisas que passaram a tratar com novos objetos, novos enfoques e métodos, e com outros documentos capazes de responder as problemáticas surgidas na investigação. A partir de então, a noção do que se constituía como fonte histórica ampliou-se e o documento deixou de ser apenas o registro político e administrativo, identificado, pois, em um processo temporal de construção, portanto, histórico7 Sendo assim, com a renovação temática, ocorrida na França, com a Terceira Geração dos Annales, podemos perceber a importância que foi dada a outros temas para o estudo da História e também do reconhecimento da contribuição de outras áreas das Ciências Humanas, como a Sociologia, a Antropologia, a Linguística, a Psicanálise e a Semiótica, no qual o processo de interdisciplinaridade se fez presente, em que as renovações epistemológicas da Teoria da História, ocorrida durante o século XX, possibilitou um reconhecimento de novos aspectos8. Segundo Calonga, “somente a partir da chamada terceira geração dos Annales, os caminhos abriram-se efetivamente aos impressos”9. Dessa forma, o uso da imprensa enquanto fonte de pesquisa Histórica, ganhou um melhor reconhecimento nesse período e “as renovações no estudo da História política, por sua vez, não poderiam dispensar a imprensa, que cotidianamente registra cada lance dos embates na arena do poder”10. Com isso, Calonga nos apresenta que “a compreensão do passado faz-se por meio de fontes”, em que “o historiador apropria-se de documentos para construção de narrativas, por isso, tornou-se fundamental situar o contexto onde a história traçou novos caminhos,incluindo-se, dessa forma, os impressos na historiografia ”11. Simone da Silva Bezerril nos relata a importância de considerarmos essa relação do uso dos jornais enquanto um material de fonte de análise para a pesquisa no campo da História. Assim, ela ressalta que, ao fazermos a escolha, em ter o jornal como objeto de estudo da própria História não podemos deixar de estarmos atentos aos discursos que são produzidos por esses jornais, os quais são objetos de estudos que estão condicionados por diversos fatores, como o ramo do político, do econômico e do cultural. Assim, “a 7 CALONGA, Maurílio Dantielly. Op. Cit. p.80. 8 LUCA, Tânia Regina de. Op. Cit. 9 CALONGA, Maurilio Dantielly. Op. Cit. p. 80. 10 LUCA, Tania Regina de. Op. Cit. p. 128. 11 CALONGA, Maurílio Dantielly. Op. Cit. p.86. 13 imprensa necessita ser analisada à luz do seu tempo histórico, sendo fundamental para o pesquisador reconhecer as diretrizes que a norteiam”12. À vista disso, ao observarmos sobre a relação da comunicação da imprensa através dos jornais, podemos perceber que a crítica ou a defesa a determinada questão estará expressa através de determinados jornais. Ao tratar sobre a Imprensa, Ana Maria de Abreu Laurenza nos mostra que “é impossível que a imprensa possa abandonar, em algum momento, sua condição de instrumento político”. No entanto, Laurenza explica que quando um determinado periódico traz a informação de uma notícia por meio de sua matéria jornalística, e mesmo sem ter a intenção de fazer defesa ou crítica, esse veículo de comunicação acaba por servir como uma caixa de ressonância dos posicionamentos políticos ou posturas ideológicas, isso se justificaria no fato da repercussão que determinado assunto alcança. De acordo com a autora, “em determinadas conjunturas, esse processo se inicia na escolha da pauta a ser coberta”13. Sobre a temática política, Bezerril nos mostra que “os impressos se destacam e ganham dinamismo devido serem os jornais um suporte que mantém uma ligação direta com os setores representativos, ao registrar e traduzir, diariamente, os acontecimentos e as mudanças ocorridas no cenário político”14. Posto isso, podemos perceber que é bem verdade que a imprensa é um meio de comunicação que está associada à relação financeira. Os empresários, os donos dos jornais têm a intenção de vender uma ideia, passar a informação, mas a visão do lucro será sempre o objetivo maior. Mas, apesar disso, o interesse da informação pode ser muita das vezes aquele construído para agradar uma figura política, ou até mesmo uma questão de interesse social e também econômico, e nisso, pode não trazer necessariamente a realidade dos acontecimentos que confirmam determinados fatos. É importante observar que na construção do fato jornalístico, interfere não simplesmente a intenção de quem produziu, mas também os interesses que estejam associados a determinado jornal15. 12 BEZZERIL, Simone da Silva. Imprensa: objeto de pesquisa para a história política. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011. p.2. 13 LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda x Wainer. O corvo e o bessarabiano. São Paulo. Editora SENAC São Paulo, 1998. p.99. 14 BEZERRIL, Simone da Silva. Op. Cit p.11 15 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo. 1988. 14 Deste modo, Maria Helena Rolim Capelato nos faz refletir sobre a importância de entender que essa empresa jornalística tem um produto a ser vendido e que quando colocado no mercado é adquirido pelo povo. Ela nos chama a atenção para levar em conta a noção do público e do privado, em que o primeiro se relacionaria ao aspecto político e o segundo a questão empresarial16. Os empresários-jornalistas atuam na esfera privada, orientados pela lógica do lucro. Enfrentam os concorrentes com todas as armas de que dispõem: notícias, opiniões e atrativos diversos para atender a todos os gostos. No entanto, a Imprensa tem outra face: é veiculadora de informações, direito público, e nesse papel norteia-se pelo princípio de publicidade, colocando-se como intermediária entre os cidadãos e o governo17 Logo, Derocina Alves Campos Sosa ao tratar sobre a Imprensa e a História, aponta em relação à importância que a imprensa exerce nesse sentido, enquanto instituição pública e privada, na sua relação com a sociedade. Dessa forma, a autora nos apresenta que a imprensa atua nesses dois campos, quando acaba por mesclar o público e o privado, expressos de certa forma através dos interesses dos cidadãos e dos donos dos jornais. Isso ocorre da seguinte maneira: o jornal se apresenta como uma empresa todos os dias, estando em concorrência, tentando vender os seus jornais, mas ao mesmo tempo, a sua mercadoria que é colocada no mercado, tem um caráter particular, que é justamente a mercadoria política. Podemos observar que “as relações que se estabelecem, portanto, na esfera privada, não desaparecem na esfera pública”. Nesse sentido, Sosa afirma que: A visão da imprensa como fiel refletora daquilo que está ocorrendo na sociedade, no entanto, justifica apenas um dos componentes dessa mesma imprensa. O outro é aquele ligado ao papel que a imprensa escrita vem desempenhando ao longo da história e mais precisamente da história do Brasil, ou seja, o de espaço privilegiado de exercício da política, como exposição das ideias ou ainda da política partidária, responsável pela construção dos discursos18 É bem verdade que os jornais querem e precisam atrair o público leitor, e para isso os seus responsáveis procuram meios estratégicos que possam contribuir para tal objetivo. Mas de maneira em geral, os jornais se preocupam com a sua diagramação e de acordo com a sua condição financeira e sua força político e social, tem o seu aspecto gráfico- editorial sempre adaptado as melhores condições de informação. Isso valoriza a 16 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Op. Cit. 17 Idem, Ibidem. p. 18. 18 SOSA, Derocina Alves Campos. Imprensa e História. Biblos, Rio Grande, 19: 109-125, 2006. p.113. 15 propaganda de determinado jornal, pois ao se inquietar com esses detalhes acaba por ter a possibilidade de aproximar os seus leitores, através do aspecto visual de seu jornal. Assim, Heloísa de Faria Cruz e Maria do Carmo do Rosário Peixoto nos fazem refletir sobre o posicionamento do historiador diante da imprensa e nos mostram que os jornais não existem para que sejam utilizados com o objetivo da pesquisa somente não foram feitos com esse fim, mas nos apresenta que isso se torna uma escolha por parte do historiador e dos cientistas sociais19. O jornal não se apresenta apenas com sua informação geral e na sua forma e contextos existem aspectos a serem descobertos. Periódicos que, segundo Cruz e Peixoto, “não nasceram prontos, mas são produtos de experimentação e da criação social e histórica”20. As autoras apresentam ainda que a imprensa tem uma linguagem própria e que dialoga com o social e que se faz necessário desvendar essas possibilidades e qualidades envolvidas nos jornais em específico. Mas essa função requer que essa fonte seja trabalhada, analisada, de forma a poder descrever as suas peculiaridades e poder compreender as relações existentes entre a imprensa e a sociedade21, no qual propõe benefícios ao historiador-pesquisador. A imprensa constitui um instrumento de manipulação de interesses e intervenção na vida social. Partindo desse pressuposto, o historiador procura estuda-lo como agente da história e captar o movimento vivo das ideias e personagens que circulam pelas páginas dos jornais. A categoria abstrata imprensa se desmistifica quando se faz emergir a figura de seus produtores como sujeitos dotados de consciência determinada na prática social22 Posto isto, Cruz e Peixoto nos apontam que se o nosso objetivo for à utilização dos jornaiscomo fonte de pesquisa, na construção de uma Dissertação ou Tese, se faz necessário entender esse jornal que vai se pesquisar. Isto é, procurar compreender qual o projeto editorial que esse periódico está se articulando, qual a configuração de seu projeto inicial, procurando saber sobre a sua historicidade e intencionalidade23. Assim, entenderemos melhor sobre esse jornal e teremos respostas necessárias para a pesquisa. Assim, nossas pesquisas iniciais e centrais são relativas a como determinada publicação se constitui com força histórica ativa naquele momento, isto é, como se constitui como 19 CRUZ, Heloísa de Faria. PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Op. Cit. 20 Idem, Ibidem. p. 259. 21 Idem, Ibidem. 22 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Op. Cit. p. 21. 23 CRUZ, Heloísa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Op. Cit. 16 sujeito, como se coloca e atua em relação à correlação de forças naquela conjuntura, quem são os seus aliados ou amigos? Que grupos ou forças sociais são identificados como inimigos, adversários ou força de oposição?24 Para Maria Helena Rolim Capelato, o jornal enquanto documento não deve ser estudado de forma isolada, mas deve se relacionar com outros tipos de fontes, o que ampliará a sua compreensão. E não somente isso, mas se preocupar não somente com aquilo que esteja explícito no documento, mas observar além, fazendo um trabalho que recupere informações que não estejam manifestas25. Dessa forma, ao questionar os aspectos relacionados à notícia e a interpretação no que diz respeito à matéria jornalística, Luca expõe que a mesma é marcada de maneira que a imprensa periódica almeja que tal informação chegue até o público leitor, no embate entre a narração e o próprio acontecimento. Mas a autora livra o historiador de maiores problemas, pois reconhece que ele dispõe de ferramentas adequadas para analisar, identificar e problematizar o que está relacionado ao acontecimento narrado26. A notícia construída pelo jornal pode se apresentar de formas diversas em seu conteúdo específico e por isso é cada vez mais importante ampliar esse olhar de observação para o que está exterior a informação. Daí a importância de se identificar cuidadosamente o grupo responsável pela linha editorial, estabelecer os colaboradores mais assíduos, atentar para a escolha do título e para os textos programáticos (...) inquirir sobre suas ligações cotidianas com diferentes poderes e interesses financeiros, aí incluídos os de caráter publicitário27 Logo, podemos afirmar que se faz importante o conhecimento historiográfico através dos jornais não somente pela sua informação, que produz conhecimento aos leitores, mas no seu caráter qualitativo, o qual, enquanto fonte de pesquisa, hoje, se encontra bem mais valorizado. Como bem afirmou Capelato, “a imprensa registra, comenta e participa da História (...) compete ao historiador reconstruir os lances e peripécias dessa batalha cotidiana no qual se envolvem múltiplas personagens”.28 O que desencorajava no passado, na atualidade é meio de motivação, pois tantos são os 24 Idem, Ibidem. p. 260. 25 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Op. Cit. 26 LUCA, Tania Regina de. Op. Cit. 27 Idem, Ibidem. p. 140. 28 CAPELATO, Maria Helena Rolim. Op. Cit. p. 13. 17 historiadores que têm se utilizado dos jornais como fonte de suas pesquisas, confirmando o interesse por esse documento. Manancial dos mais férteis para o conhecimento do passado, a imprensa possibilita ao historiador acompanhar o percurso dos homens através dos tempos. O periódico, antes considerado fonte suspeita e de pouca importância, já é reconhecido como motivo de pesquisa valiosa para o estudo de uma época29 Para reafirmar nossa argumentação podemos lembrar as afirmações de Tania Regina de Luca que mostrou a variedade de intelectuais reconhecidos e respeitados no meio acadêmico, como Gilberto Freyre, Emília Viotti da Costa, Fernando Henrique Cardoso, dentre outros, e que em suas pesquisas não se levaram pela desconfiança em relação ao uso da imprensa, e que ao abordarem questões econômicas, demográficas, sociais e política em suas pesquisas, não deixaram de usar os jornais em suas produções30, mas contribuíram e enriqueceram de fato os seus trabalhos. Entretanto, é bem verdade que não devemos nos esquecer que o jornal enquanto veículo de comunicação, um meio midiático, não carrega em si a inocência da propaganda. De fato, tudo que é construído em uma matéria jornalística, tudo aquilo que é objetivado passar como informação, é coberto por interesses diversos, que de certa forma não tem como escapar as realidades que determinado momento político e conjuntura social irão proporcionar aos criadores da reportagem. Neste segmento, Sosa afirma que “a defesa e a oposição aos governos e aos governantes também são outro componente bastante explorado pela imprensa”31. Essa afirmação ressalta o objetivo que será trabalhado nesta dissertação, em que os jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, tendo objetivos opostos ao governo de Getúlio Vargas irão trazer as suas defesas e oposições ao governo desse presidente, construindo assim através de seus discursos jornalísticos a apresentação de um contexto político. Posto isto, Sosa afirma que “o jornalista, ao expressar suas opiniões, está canalizando os anseios da sociedade e o contexto de sua época”32, sendo que dentro do contexto do governo Vargas os jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, se destacaram nesse sentido com muita importância. 29 Idem, Ibidem. p. 13. 30 LUCA, Tania Regina de. Op. Cit. 31 SOSA, Derocina Alves Campos. Op. Cit. 32 Idem, Ibidem. 18 Em suma, podemos perceber que essa importância entre a imprensa e a política é bem vista por Simone da Silva Bezerril, que aponta que a política é algo que está bem associada com a atuação dos meios de comunicação, sendo esses, de certa forma, uma extensão das instituições políticas33. Sobre a História Oral, Verena Alberti apresenta que essa metodologia de pesquisa surgiu em meados do século XX, sendo considerada como fonte para o estudo da História. Sendo assim, a História Oral, está pautada no processo de entrevistas, em que através de projetos de pesquisa, indivíduos dão o seu depoimento, daquilo que participaram ou testemunharam, nas conjunturas referentes ao passado ou também ao presente34. Através dessa importância e validade, podemos dizer que “a História Oral permite o registro de testemunhas e o acesso a “histórias dentro da história” e, dessa forma, amplia as possibilidades de interpretação do passado”35. Alessandro Portelli, ao tratar sobre a História Oral, nos aponta sobre a atenção que devemos ter sobre o testemunho que é dado sobre essa metodologia de pesquisa e não tomá-la como algo autêntico de forma imediata, e observa as fontes e o trabalho que é feito pelo historiador, numa questão de não se pautar pela objetividade da fonte e do pesquisador. O autor nos dá um exemplo ao mostrar a história de Frederick Douglass, negro, que no contexto abolicionista teve a possibilidade de contar a sua própria história de vida. Mas os seus patrocinadores brancos queriam que ele se limitasse a ser objetivo e que passasse apenas os fatos do que viveu e eles sim iriam filosofar, ou seja, contar a história na versão deles. Isso, segundo Portelli, seria justamente um erro, pois nesta distinção entre os fatos de Frederick Douglass e o filosofar dos patrocinadores brancos estariam um exemplo de má interpretação36. O principal paradoxo da história oral e das memórias é de fato, que as fontes são pessoas, não documentos, e que nenhuma pessoa, quer decide escrever sua própria auto-biografia (...) quer concordar em responder a uma entrevista, aceita reduzir a sua própria vida a um conjunto de fatos que possam estar à disposição da filosofia de outros, mas a motivação 33 BEZERRIL, Simone da Silva.Op. Cit. 34 ALBERTI, Verena. Fontes Orais. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). Fontes Históricas. São Paulo. Ed. Contexto, 2008. 35 ALBERTI, Verena. Op. Cit. p. 155. 36 PORTELLI, Alessandro. “A filosofia e os fatos: narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais”. Revista Tempo, vol. 1, n. 12, dezembro de 1966, UFF. 19 para narrar consiste precisamente em expressar o significado da experiência através dos fatos: recordar e contar já é interpretar37 O exemplo de Frederick Douglass é fundamental, pois ele não abre mão de contar a sua própria história, mas quer falar e interpretar a si mesmo. Por mais que se tenha objetividade e subjetividade nesse embate, Frederick Douglass não quer esconder a sua própria história, passada e vivida na escravidão e deixar que os patrocinadores brancos as contem de maneira diferente38. Mediante essas questões, Alessandro Portelli nos aponta para a palavra possibilidade, pois ela desvendará os caminhos na representação textual das fontes orais e das memórias. Para ele não encontraremos algo esquematizado por experiências comuns, nem na história oral, nem nas memórias, pois as mesmas nos trazem possibilidades compartilhadas e diversas39. Alberti, por sua vez, aponta que o processo de construção da História Oral não está condicionado simplesmente a entrevistar pessoas e guardar a sua voz em um gravador, o que segundo ela, seria uma simplificação. A história oral é um método de pesquisa, está relacionada a um projeto e por ela se constrói um conhecimento. O fato de realizar um trabalho de depoimentos, através de entrevistas, não se justificará como o fim desta ação, pois se fará necessário ampliar esse conhecimento através das atividades de métodos de pesquisa do historiador40. Sendo um método de pesquisa, a história oral não é um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento. Seu emprego só se justifica no contexto de uma investigação científica, o que pressupõe sua articulação com um projeto de pesquisa previamente definido. Assim, antes mesmo de se pensar em história oral, é preciso haver questões, perguntas, que justifiquem o desenvolvimento de uma investigação 41 A escolha de também usar nesta Dissertação de Mestrado, entrevistas que foram feitas com oficiais generais do Exército, Marinha e Aeronáutica, no CPDOC-FGV, se justificam por poder encontrar a fala das Forças Armadas nesta pesquisa. Ou seja, militares que de alguma maneira viveram não somente no período do estudo da pesquisa, mas que viveram de alguma forma a conjuntura do Governo Democrático de Vargas. 37 PORTELLI, Alessandro. Op. Cit. p. 2. 38 Idem, Ibidem. 39 Idem, Ibidem. 40 ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. 41 ALBERTI, Verena. Op. Cit. p. 29. 20 Podemos afirmar que a importância do trabalho de pesquisa através da História Oral ressalta a importância das entrevistas (depoimentos) dentro desse contexto de pesquisa historiográfica, mostrando que há uma complexidade metodológica que envolve esse tipo de trabalho, mas que tem possibilitado um enriquecimento de produção através do resultado de várias pesquisas. Nesse sentido, apresentaremos a partir de agora o que será tratado em cada capítulo desta dissertação. No primeiro capítulo, apresentamos um balanço historiográfico sobre o Governo de Getúlio Vargas (1951-1954). Nele indicamos as diversas leituras dos autores, que deram ênfase a diferentes aspectos desse governo, trazendo o foco para as Forças Armadas. Este breve balanço historiográfico procura mostrar aspectos importantes que ocorreram durante esse governo, sendo eles: a política econômica de governo, a política externa brasileira e a questão do petróleo. Também iremos abordar os assuntos concernentes à classe trabalhadora, a reforma ministerial de 1953 e a política partidária desse período. Além disso, investigaremos as questões relacionadas às forças armadas, no qual será este o fator de ênfase, por ser o mesmo objeto de análise nesta pesquisa. Ainda nesse capítulo, abordamos algumas características dos jornais trabalhados (Tribuna da Imprensa e o Última Hora), mostrando as suas singularidades e diversidades, no qual investigaremos sobre a sua formação e a atuação, apresentando a importância dos mesmos para o estudo da pesquisa em questão. No capítulo dois, abordamos alguns aspectos concernentes à atuação das Forças Armadas, no sentido de suas relações com o governo de Getúlio Vargas. Primeiramente, trazemos um levantamento teórico e também historiográfico sobre as Forças Armadas, mostrando o seu significado, atuação e importância. Também analisamos o posicionamento do Brasil diante dos Estados Unidos, em que ocorreu uma relação que se pautará por apoios e interesses entre ambos os países, resultando na formação de um acordo militar no ano de 1952. Um outro ponto sobre as relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas é a possível atuação dos militares brasileiros no conflito na Guerra da Coreia, em que um debate havia se desenrolado não apenas nos círculos militares, mas em relação a outros órgãos do governo sobre a questão. Por fim, tratamos da importância e significado para as eleições do Clube Militar, para o biênio de 1952-54, e que, apesar de ser uma instituição civil de militares, apresentou características importantes enquanto a participação de militares diante do governo de Getúlio Vargas. 21 No terceiro e último capítulo, a intenção é poder investigar o quadro mais intenso das relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas. Aborda-se o posicionamento de militares através do chamado de Manifesto dos Coronéis, levando a um primeiro momento de acirramento. Esse manifesto representará uma postura do Exército que colocará Getúlio Vargas numa posição de resposta, o qual comprometerá o seu governo, atingindo não somente o seu Ministério da Guerra, mas o Ministério do Trabalho, de forma que as reivindicações por parte desses coronéis e tenentes-coronéis iam contra uma proposta de aumento do salário mínimo. Outro ponto importante tratado diz respeito à morte do major da Aeronáutica Rubens Florentino Vaz, que contribuiu para um momento máximo de degeneração dos apoios das Forças Armadas ao governo, chamando para esse cenário não apenas a Aeronáutica, mas de forma gradativa o Exército e a Marinha, o que irá proporcionar um período de intensificação da crise político-militar de agosto de 1954. Por fim, e de forma progressiva, a situação de crise do governo de Getúlio Vargas, em plena relação com as Forças Armadas e o suicídio do presidente. 22 CAPÍTULO I O GOVERNO VARGAS E AS FONTES DE PESQUISA 1.1.Balanço historiográfico sobre o Governo Vargas (1951-1954) Analisaremos neste breve balanço historiográfico e em forma de síntese, sobre como alguns autores trabalharam determinados assuntos concernentes ao período do Governo Democrático de Getúlio Vargas (1951-1954). Neste sentido, iremos tratar das questões relacionadas por certos fatores que ocorreram durante essa gestão do presidente, sendo elas: a política econômica de governo, a política externa brasileira e a questão do petróleo. Também iremos abordar os assuntos concernentes a classe trabalhadora, a reforma ministerial de 1953 e a política partidária desse período. Por fim, investigaremos as questões relacionadas as forças armadas, no qual será esse o fator de ênfase, por ser o mesmo, objeto de análise nesta pesquisa. Sobre a questão econômica, Maria Celina Soares D’Araújo nos mostra que muita das propostas de Vargas para essa política em seu governo vem justamente das críticas que ele fez ao governo anterior, no qual a situação econômica do Brasil se tornou para o início do Segundo Governo Vargas à beira de um caos, o que mostrava a incompetênciado governo Dutra. Dentro dessa perspectiva de política econômica, Vargas precisaria inaugurar uma nova fase em seu governo42. Nesse sentido, D’Araújo nos aponta que o incentivo à produção industrial e à produção agrícola, assim como uma política relacionada a recursos minerais e ao capital estrangeiro, seriam quatro fatores principais na execução de uma política econômica objetivada por Vargas, em que a exploração de recursos, deveria ser feitos por capitais nacionais, mas desde que houvesse critérios seletivos, o capital estrangeiro também poderia participar na economia brasileira43. Nesse aspecto, Boris Fausto nos direciona a perceber que um dos planos econômicos propostos nesse período foi o Plano Lafer, de 1951, que foi uma estratégia de desenvolvimento, que 42 D’ ARAÚJO, Maria Celina Soares. O Segundo Governo Vargas. 1951-1954. Democracia, partidos e crise política. 2ª ed. São Paulo. Ática, 1992. 43 D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 23 objetivou contar com apoio financeiro dos Estados Unidos, e buscava direcionar os investimentos em setores que eram prioritários44. D’Araújo nos mostra que um olhar do Brasil para a agricultura seria fundamental, pois o seu desenvolvimento contribuiria para a sua emancipação. Todo o processo de modernização no campo, estaria, segundo ela, relacionado ao fortalecimento do capital nacional. A industrialização, por exemplo, era uma questão que se refletia na defesa nacional, o que de certa maneira livraria o Brasil de uma dependência externa, nos quais, em sentido de recursos naturais, o petróleo era um exemplo45. Mas, segundo Fausto, esse destaque desenvolvimentista almejado pelo governo Vargas, acabou apresentando problemas, em que se pode destacar a inflação, que chegou a quase 21% em 1953. Em 1951 e 1952, a inflação já havia produzido forte aumento de preços de gêneros de consumo de alimentos popular46. Logo, Skidmore nos mostra que no ano de 1953, o presidente Vargas lançou um programa anti-inflacionário, pois desde o início da década de 1950, a inflação tinha atingido níveis consideráveis. A partir de 1953, através do novo ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha e do novo presidente do Banco do Brasil, Souza Dantas, foi lançado um programa de combate à inflação, chamado de Plano Aranha, que trouxe um severo controle de créditos e um novo controle sobre as transações cambiais, e a partir daí o Brasil teve que conter até mesmo o processo de industrialização. Entretanto, a inflação persistiu47. Sendo assim, Bourne nos apresenta que desde o início de seu governo, Vargas buscou reduzir a taxa de inflação e estimular investimentos em quatros setores, nos quais: a indústria de base, em energia, em portos e ferrovias48. Nesse sentido, Skidmore nos aponta que Vargas optou por uma política econômica mista, preocupando-se com a balança de pagamentos no lado externo e enfrentando a inflação no lado interno49. Dessa forma, Fausto nos mostra que Vargas buscou um desenvolvimento nacionalista, onde a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), criado em 1952, tinha esse objetivo de desenvolvimento industrial e de 44 FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e o sorriso. São Paulo. Companhia das Letras, 2006. 45 D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 46 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 47 SKIDMORE, Thomas E. Brasil de Getúlio a Castello – 1930-1964. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 48 BOURNE, Richard. Getúlio Vargas: a esfinge dos pampas. São Paulo. Geração Editorial, 2012. 49 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 24 infraestrutura para o Brasil50. Para Skidmore, a Comissão Mista para o Desenvolvimento Econômico entre o Brasil e os Estados Unidos e a formação do BNDE, foram reflexos da presença norte-americana nas questões econômicas brasileiras51. Entretanto, D’Araújo nos afirma que apesar do fortalecimento da economia nacional ter sido algo que Vargas sempre procurou defender, ainda assim, teve que ceder aos interesses norte-americanos, o que se pode mostrar que no plano econômico, o Brasil também foi marcado por contradições52. De 1953 a 1954 houve uma queda considerada de investimentos externos e a inflação e a taxa de crescimento econômico acabaram por estimular uma insegurança nacional53. Sobre as relações de política externa, através das ações entre o Brasil e os Estados Unidos, Mônica Hirst nos mostra que Vargas procurou um novo padrão no relacionamento do Brasil com os Estados Unidos, isso desde o momento da sua vitória em 1950, o que de certa forma já estava nítido em seus discursos durante a campanha eleitoral54. Durante o ano de 1951, os Estados Unidos eram destaque na América e o Brasil passou a ser mais atraído para as influências norte-americanas, o que acabaria favorecendo essa relação de política externa entre os dois países55. Essas relações bilaterais tiveram destaque nos preparativos para a IV Reunião de Consulta que ocorreu em Washington em 1951, onde os Estados Unidos também tinham expectativas com a cooperação brasileira, pois desde o período pós Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos construíram uma visão de dependência estruturada por parte da América Latina, sendo nesse caso específico o Brasil, em que os norte-americanos priorizavam por um “livre fluxo dos seus interesses privados” em sua política externa. O Brasil, por sua vez, vislumbrava variados interesses, dentre os quais: “a suspensão das restrições norte- americanas ao preço do café”. Dentro dessa relação de política externa, a busca pela formação de uma Comissão Mista do Brasil com os Estados Unidos, serviria de certa forma como um meio de o Brasil criar um comprometimento dos norte-americanos para o apoio das questões de industrialização no Brasil56. 50 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 51 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 52 D’ ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 53 BOURNE, Richard. Op. Cit. 54 HIRST, Mônica. O pragmatismo impossível. A política externa do Segundo Governo Vargas (1951- 1954). Rio de Janeiro. FGV-CPDOC, 1990. 55 BOURNE, Richard. Op. Cit. 56 HIRST. Mônica. Op. Cit. 25 Podemos observar que dois pontos importantes devem ser considerados nessa análise de política externa. As questões relacionadas à Guerra da Coreia e o Acordo Militar Brasil - Estados Unidos. Dessa forma, Bourne nos mostra que quando foi sugerido em Washington que o Brasil participasse da Guerra da Coreia, o presidente Vargas se posicionou, rejeitando a proposta. Entretanto, em 1952 seria assinado um acordo de ajuda militar entre o Brasil e os Estados Unidos, com o objetivo de defesa mútua no continente americano57. Nesse aspecto, Fausto nos apresenta que desde a Reunião de Chanceleres havia a proposta de que o Brasil enviasse tropas para lutar nessa Guerra, no entanto, Vargas levou o assunto com cautela e só daria à resposta contrária a ida dos militares, em dezembro. Mas é desse processo que Fausto aponta o lado contraditório da postura de Vargas, pois nos apresenta que apesar de Vargas ter sido contrário ao envio de tropas para a Guerra, ele conseguiu compensar a relação de outra maneira, ao facilitar a exportação de nossos minerais para os Estados Unidos, através de monazita, que era um mineral de suma importância para a energia nuclear e armas atômicas, algo que agradava aos EUA e estava justamente relacionado ao acordo militar58. Segundo Bourne, essa questão do acordo militar estaria de certa maneira condicionada as questões de ajuda econômica que Vargas esperava que pudesse vir por parte dos norte-americanos, assim como ocorreu no período da Segunda Guerra Mundial. Todavia, essa relação não se manteria tão amistosa, pois com a vitória de Eisenhower assumindo a presidência dos Estados Unidos em 1953, a ajuda econômica por parte dos norte-americanos não viria, o que acabou trazendo um clima não agradável nas relações de política externa entre os dois países, criando um sentimento de antiamericanismopor parte do Brasil59. Em relação ao Petróleo, podemos perceber que representou um nacionalismo na política econômica de Vargas. Mônica Hirst nos mostra que “a partir dos anos 50, o petróleo no Brasil passou a ocupar um espaço crucial no debate nacional em torno das necessidades básicas do desenvolvimento econômico no país”60. Contudo, o seu processo de consolidação, trouxe um grande desgaste entre os militares. Nesse sentido, Celso Castro declara que a ala “nacionalista” defendia a campanha pela criação da Petrobrás e o monopólio estatal do petróleo. Por outro lado, os militares da Cruzada Democrática 57 BOURNE, Richard. Op. Cit. 58 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 59 BOURNE, Richard. Op. Cit. 60 HIRST, Mônica. Op. Cit. p.43. 26 defendiam a participação de grupos privados na exploração do petróleo61, o qual seria representado pelos Estados Unidos. Este embate refletiu com relevância no Clube Militar, no qual dentre os vários militares que defendiam os seus posicionamentos ideológicos, tínhamos os generais Estillac Leal e Horta Barbosa na ala nacionalista, enquanto os generais Alcides Etchegoyen e Nélson de Mello faziam parte da Cruzada Democrática. Boris Fausto nos aponta que em dezembro de 1951 o presidente Vargas enviou ao Congresso o projeto de criação da Petrobrás62, no qual Mônica Hirst declara que criou-se “um longo período de debates dentro e fora do Parlamento, que mobilizou os mais variados setores da sociedade brasileira”63. Antonio Faria e Edgard de Barros indicam que “no plano parlamentar, o projeto gerava acirrados debates, polarizados entre a bancada do PTB e seus aliados nacionalistas, e os políticos da UDN”64, apoiados pelos adeptos da Cruzada Democrática. Porém, Lúcia Hippolito nos mostra que durante o governo Vargas, a UDN foi o partido de oposição, mas surpreendeu no caso da Petrobrás, passando a defender o monopólio estatal do Petróleo65. Por certo a UDN tinha interesses nessa atitude, no qual Luis Carlos dos Passos Martins nos aponta que “a UDN, com o objetivo de se aproveitar dos “vacilos nacionalistas” de Vargas, fez uma mudança radical em sua orientação para o setor do Petróleo”66. Assim, Fausto relata que após passar por quase dois anos de intensa disputas políticas, a Petrobrás foi sancionada em outubro de 195367. A respeito das questões relativas à classe trabalhadora, podemos perceber que desde o seu período de campanha eleitoral, Vargas já havia prometido uma melhoria de vida para os trabalhadores. Logo no início de seu governo, eles passaram a viver um quadro complicado, onde os problemas inflacionários seriam o grande motivo de resposta dos trabalhadores ao governo. Nesse aspecto, Fausto relata que nem mesmo as medidas proporcionadas por Vargas, como por exemplo o aumento que ele deu ao salário mínimo em dezembro de 1951 - o que representou um nível considerável para os estados do Rio 61 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/A Era vargas 2/ artigos/Ele Voltou/militares 62 FAUSTO, Boris. Op. Cit. p.171 63 HIRST, Mônica. Op. Cit. p.44. 64 FARIA, Antonio A. da Costa. BARROS, Edgard Luiz de. Getúlio Vargas e sua época. São Paulo. Global Ed, 2001. p.79. 65 HIPPOLITO, Lúcia. Vargas e a gênese do sistema partidário brasileiro. Porto Alegre, v.11, n19/20, p.21- 47, jan-dez – 2014. 66 MARTINS, Luis Carlos dos Passos. Petróleo e “Nacionalismo” no Segundo Governo Vargas: o debate em torno da criação da Petrobrás. Historiae, Rio Grande, 6 (2): 401-425, 2015. p.414. 67 FAUSTO. Boris. Op. Cit. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/A%20Era%20vargas%202/ 27 de Janeiro e de São Paulo - não foi possível para desfazer o quadro de aflição que a inflação tinha proporcionado para a classe trabalhadora68. Fausto nos apresenta que esse descontentamento ficou evidente a partir do momento que a classe trabalhadora passou a questionar e protestar através do direito que lhe era cabível e que refletia grande notoriedade através dessa ação. Esses meios de ação por parte da classe trabalhadora foi justamente às atitudes de greves. Estas que iriam representar um desgaste considerável para o governo de Vargas, nas suas relações com a classe trabalhadora. Em janeiro de 1953 ocorreram greves por diversas partes do Rio de Janeiro69, no qual “os operários têxteis exigiram um aumento salarial de 60%. Com a mediação do governo, conseguiram 42% de aumento”70. Em março, em São Paulo, 300 mil operários se mobilizaram, numa ação que representou vários setores trabalhistas, onde se destacou o ramo da indústria têxtil71 “e que chegou a paralisar 276 empresas industriais”72. Essa paralisação teve destaque não somente pelo grande número de manifestantes, mas por ter dado origem a um Comando Intersindical, o qual nasceu à margem da estrutura sindical corporativista: o Pacto de Unidade Intersindical (PUI)73. Outra greve de grande destaque ocorrida em 1953 foi a que ocorreu em junho. Esta reuniu 100 mil trabalhadores e ficou conhecida como a greve dos marítimos74. Que foi marcada pela chegada de Jango ao ministério do Trabalho e também inaugurou uma estratégia de negociações entre governo e os sindicatos75. Juliana Martins Alves explica que a Lei de Defesa e Segurança Nacional criada em 1935 e reformulada em janeiro de 1953, foi utilizada contra essa greve dos “300 mil”, servindo como uma concepção de greve como um “antidireito”, o que também seria usado por Goulart, enquanto foi ministro do Trabalho de Vargas. Nessa questão, membros da política governamental observaram que Goulart teria agido com uma “política de tolerância”, nas quais as greves teriam sido “incompatíveis” com as funções da Justiça do 68 Idem. Ibidem. 69 Idem. Ibidem. 70 BRANDI, Paulo. Vargas da vida para a História. Rio de Janeiro. Zahar editores. 1985. p. 266. 71 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 72 Cf. Mônica KORNIS. Marco Aurélio SANTANA. Greve. In: ABREU, Alzira Alves de. et al (coords). Dicionário Histórico – Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 73http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NoGovernoGV/Trabalhadores_movimento_sindic al_e_greves 74 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 75http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NoGovernoGV/Trabalhadores_movimento_sindic al_e_greves http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/No http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/No 28 Trabalho76. No entanto, Mônica Kornis e Marco Aurélio Santana apresentam que enquanto corria a proposta de aumento de salário em 100% por parte de João Goulart, as greves e protestos estavam correndo por todo o país, no qual setores militares antigetulistas, reagiram ante a proposta de Goulart. Apesar disso, mesmo Vargas tendo afastado Goulart em fevereiro de 1954, por causa da ação feita por oficiais do Exército, Getúlio Vargas concederia em maio aumento de 100% ao salário mínimo77. Acerca da reforma ministerial articulada por Vargas em 1953, podemos considerar que ocorreu em um momento difícil, no qual a situação política e econômica do seu governo estava ficando complicada, fruto das insatisfações da população ante o custo de vida e o acirramento entre os militares e a oposição política, o que o fez se posicionar ante essas questões. Nesse sentido, Vargas articulou essa reforma, no sentido de recuperar a confiança para o seu governo. Antonio Faria e Edgard de Barros relatam que essa reforma ocorreu “em parte forçado pelas demissões de alguns arrivistas, em parte forçado pela necessidade de estabelecer algumas modificações que permitissem a continuidade de seu programa”78 de governo. O reparo proposto por Vargas trouxe modificações em praticamente todas as pastas do governo, no qual Boris Fausto aponta que “Getúlio tratou de harmonizar as linhas do Ministério da Fazenda e do Banco do Brasil”, através de Osvaldo Aranha e Sousa Dantas79. Outra figura de destaque, dentre as várias modificações nessa reforma, foi João Goulart no ministério doTrabalho. Conforme Skidmore, a reforma ministerial, seria uma reação a própria posição política de Vargas, que estava se deteriorando. As atitudes de conciliação que ele havia feito com a UDN havia fracassado “e o ministério, ciente do plano de Getúlio de alterar o caráter político geral de seu governo, estava desmoralizado e sem nenhum sentido de coesão”80. Entretanto, para Maria Celina Soares D’Araújo a reforma ministerial feita por Vargas não seria um marco divisório do seu governo, onde prevaleceriam duas etapas. Verdade é que Vargas precisava de uma atitude política, que segundo ela, reformularia compromissos. Contudo, esta atitude do presidente não qualifica uma redefinição governamental por uma nova orientação. Na verdade, “a reforma significa principalmente 76 ALVES, Juliana Martins. Trabalho e trabalhadores no Segundo Governo Vargas: as greves como um “antidireito” (1951-1954). rev. Hist. (São Paulo), n. 172, p. 367-396, jan-jun, 2015. 77 Cf. Mônica KORNIS. Marco Aurélio SANTANA. Greve. In: ABREU, Alzira Alves de. et al (coords). Dicionário Histórico – Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 78 FARIA, Antonio A. da Costa. BARROS, Edgard Luiz de. Op. Cit. p.80. 79 FAUSTO, Boris. Op. Cit. p.174. 80 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. p.147. 29 uma nova investida junto aos setores conservadores na busca de um consenso máximo, até aquele momento inviável”81. De certa forma, podemos perceber que a Reforma Ministerial representou a urgência de combater problemas que estavam evidentes no governo. Sobre as questões relacionadas ao sistema político partidário, podemos perceber com D’Araújo, que embora no período de sua campanha eleitoral, Vargas tivesse o apoio do PTB e do PSD, ainda assim a sua candidatura se organizou de forma extra partidária. Onde Vargas atuava acima dos partidos políticos e isso não somente no início, mas durante a gestão do seu governo.82 Nesse aspecto, Lúcia Hippolito nos mostra que foi através da figura política do presidente Vargas, por meio de seu governo (1951-1954), que ocorreu a consolidação do sistema partidário. Este sistema começou em 1945 e teve a sua interrupção em 1964, com a Ditadura Militar. Os dois principais partidos políticos da época foram criados por Vargas, ainda em 1945. O primeiro a ser fundado foi o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em maio de 1945. O segundo, foi o Partido Social Democrático (PSD), criado em julho do mesmo ano. Entretanto, antes mesmo da criação desses dois partidos, já havia sido criado a União Democrática Nacional (UDN), em abril de 1945. Além desses três principais partidos políticos, houve ainda outros partidos83. Hippolito mostra que na formação de seu ministério, Vargas baseou-se em critérios pessoais e não partidários, no qual participaram de seu governo ministros de diversos partidos, como do PSD, do PTB, do PSP e até mesmo da UDN84. D’Araújo aponta que o sucesso alcançado por Vargas nas eleições não foi o mesmo dos partidos que o aprovou. O PTB, que era o partido de Vargas, alcançou pouca expressividade durante o seu governo. Em questão ministerial, só assumiu uma pasta, a do Ministério do Trabalho. Entretanto, delegou ao PSD a maioria dos ministérios, recebendo ainda o PSP e até mesmo a UDN, partido de oposição, uma pasta no ministério. Isso representava de certa maneira a postura de articulação política exercida pelo presidente Vargas. D’Araújo relata que em 1950 Vargas se apresentou com uma política de conciliação, incluindo todos os partidos em sua política de governo85. 81 D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. p.127. 82 Idem, Ibidem. 83 HIPPOLITO, Lúcia. Op. Cit. 84 Idem, Ibidem. 85 D’ ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 30 Hippolito afirma que durante o governo de Vargas, o PSD, não o atacou, mas também não o defendeu, com exceção a tentativa de impeachment que Vargas sofreu após a UDN ter levado esse pedido ao Congresso. Mas a partir do crime da Toneleros, o PSD retomou a sua omissão na defesa do governo no Congresso. Durante todo o período de crise aguda do governo, o PSD e o PTB se omitiram e deixaram a UDN livre para atacar Vargas no Congresso. Podemos dizer que o PSD consentiu para o afastamento de Vargas, mas o presidente deu solução a crise com o seu suicídio. Com a morte de Vargas, acabou- se beneficiando a política partidária brasileira, no sentido em que passou a haver a independência do sistema partidário, após a superação de sua principal figura política86. Após essa primeira parte dessa breve análise sobre o governo de Getúlio Vargas, podemos perceber como se desenvolveu os aspectos de seu governo, em fatores que foram mais considerados e apontados pelos autores durante esse período. Nesse momento, a atenção será dada as questões das forças armadas, entendendo como ponto central na discussão dessa pesquisa, para isso, daremos uma melhor atenção a esse tema. Ao tratar sobre os aspectos concernentes as forças armadas durante o período do governo de Getúlio Vargas (1951-1954), Maria Celina Soares D’Araújo nos mostra o posicionamento dos militares no período da sucessão presidencial de 1950, no qual ela aponta que as Forças Armadas não representaram obstáculos para a candidatura de Vargas, ou seja, o que dominou entre os militares foi à postura de se mostrarem isentos a terem a possibilidade de Vargas retornar ao poder em 1951, mesmo entendendo que as Forças Armadas não eram coesas em termos políticos e partidários. Mesmo assim, estavam prontos a acatar o que fosse decidido para a candidatura de Vargas na esfera político-partidária87. De certa forma, José Murilo de Carvalho apresenta que tinha ocorrido transformações no seio das Forças Armadas, nos quais Getúlio Vargas não percebeu que ele não conseguiria mais fazer ambições com os generais, jogando uns contra os outros. Para Carvalho, os amigos de Vargas, que antes eram seus tenentes, agora, se tornaram os seus inimigos generais88. Com isso, ao tratarmos sobre as questões relacionadas ao Clube Militar, podemos perceber que Nélson Werneck Sodré traz o enfoque para as questões concernentes a essa 86 HIPPOLITO, Lúcia. Op. Cit. 87 D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 88 CARVALHO, José Murilo de. O pecado original da República: debates, personagens e eventos para compreender o Brasil. Rio de Janeiro. Bazar do Tempo, 2017. 31 instituição, mostrando a importância desse clube nos períodos de gestão de 1950 e 1952, como um local importante dos debates entre os militares ante o governo. Sodré apresenta que o Clube Militar teria ganhado um destaque desde o início do governo Vargas, mediante o papel político que assumiu, mediante as questões que estavam relacionadas ao petróleo e ao nacionalismo, que eram situações que iam em “confronto” aos interesses do imperialismo norte-americano, e ao posicionamento de militares durante esse período89. Boris Fausto nos mostra que nas eleições do Clube Militar em 1950 já se apresentava os confrontos internos que existia entre os oficiais e o crescimento de posicionamentos daqueles militares que eram contrários à Vargas90. Da mesma forma, Sodré aponta que de fato havia grupos entre os militares que eram favoráveis aos interesses estrangeiros, por isso, Vargas deveria estar junto dos militares nacionalistas. Um exemplo disso foi o general Estillac Leal, empossado por Vargas para assumir o ministério da Guerra e enquanto presidente do Clube Militar e líder nacionalista trazia de certa forma a atenção do imperialismo norte-americano91. Skidmore destaca que o general Estillac Leal, enquanto presidente do Clube Militar sofreu oposição por alguns oficiais que rejeitavam a sua posição de nacionalismo moderado. Em 1951 e 1952, foram anos marcados por acusações entre os oficiais nacionalistas e os anticomunistas, nos quais as lutas envolvendo essas duas alas militares provocaram ações políticas, emque Estillac sairia do cargo de ministro da Guerra, que Vargas nomeou o general Ciro do Espírito Santo Cardoso em seu lugar92. Richard Bourne nos apresenta que em 1952, uma ala formada pelos generais Etchegoyen e Nélson de Mello - que estavam sendo representados pela Cruzada Democrática - venceram e mostraram a rejeição por parte da maioria dos oficiais do Exército à política econômica nacionalista do governo Vargas93, em que Boris Fausto nos faz perceber que essas eleições foram marcadas por uma campanha repleta de torturas e prisões94. Para Bourne, em 1954, com as novas eleições no Clube Militar, ficaram ainda mais nítida a oposição de militares ao governo Vargas95, o que para Sodré, a escolha dos 89 SODRÉ, Nélson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro, 2ª ed. Civilização Brasileira, 1968. 90 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 91 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 92 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 93 BOURNE, Richard. Op .Cit. 94 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 95 BOURNE, Richard. Op. Cit. 32 generais Canrobert Pereira da Costa e de Juarez Távora, foi uma conveniência armada para o golpe contra Vargas96. Dentro desses aspectos relacionados com as forças armadas, o acordo militar acordado entre o Brasil e os Estados Unidos em 1952 é outro ponto interessante a ser ressaltado, o qual aconteceu em paralelo com a Guerra da Coreia, em que os Estados Unidos solicitavam que o Brasil enviasse tropas para esse conflito. Nesse sentido, Nélson Werneck Sodré mostra que esse conflito era uma realidade da Guerra Fria, em que trouxe dificuldades para o governo de Vargas, no qual entre os setores militares se discutiam a ida ou não das tropas brasileiras para esse conflito97. Nesse sentido, Antonio Faria e Edgard de Barros nos apontam que “a questão coreana acirrou ainda mais a séria divisão nas Forças Armadas, entre a corrente nacionalista e os grupos entreguistas: a grande parcela da alta oficialidade”98. Segundo eles, pelo fato de os Estados Unidos não apresentarem algo que compensasse o Brasil nessa relação, o presidente Vargas resolveu descartar essa possibilidade99. Sobre o acordo militar, Nélson Werneck Sodré nos mostra que o pedido de demissão do general Estillac Leal na função de Ministro da Guerra, teve nesse acordo o seu motivo principal, pois o mesmo não teria participado dessas negociações100, o que D’Araújo chamou de participação secundária de Estillac, no qual ficou a margem dessa situação. Os procedimentos ficaram de certa forma a cargo do Ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, o que acabou provocando esse desentendimento. Para D’Araújo, a aproximação que Vargas tinha junto aos setores militares, teria sido abalada pela execução desse acordo militar, tornando-se tensa e instável as suas relações, onde criou-se uma espécie de descontentamento por parte dos militares ao governo. O acordo militar foi apenas uma das questões no qual se vê o enfraquecimento gradativo das relações entre os militares e o governo101. Assim, como esses aspectos tratados anteriormente foram importantes nessas relações militares, devemos também considerar o Manifesto dos Coronéis, o que para Nélson Werneck Sodré representou uma grande demonstração de indisciplina por parte 96 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 97 Idem. Ibidem. 98 FARIA, Antonio A. da Costa. BARROS, Edgard Luiz de. Op. Cit. p.76 99 Idem. Ibidem. 100 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 101 D’ ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 33 do Exército, em que o veto ao aumento do salário mínimo e a acusação de corrupção no governo foram dois pontos importantes desse manifesto102. Já para Maria Celina Soares D’Araújo, o Manifesto dos Coronéis veio sinalizar que a corporação militar mostrou ao governo as suas preocupações pelas questões internas, no qual o governo teria desconsiderado essas questões, nas suas relações com os militares. Essa denúncia por parte desses coronéis representava perda de valores para a corporação do Exército, que precisavam ser mais valorizados nas questões salariais e de carreira, o que iam de encontro às propostas de João Goulart, em relação ao aumento do salário mínimo. Para D’Araújo, a declaração que foi representada pela jovem oficialidade do Exército, nos apresentou a situação interna das forças armadas, que no momento em que criticava o governo, passou também a reconhecer as suas próprias fraquezas e buscaram por se tornar fortemente organizados103. Segundo José Murilo de Carvalho, esse documento foi um meio para poder incentivar os generais a terem uma ação contra o presidente Getúlio Vargas104. No entanto, Boris Fausto observa que o “Manifesto dos Coronéis”, poderia representar algo fatal para o Brasil, diante do “comunismo que estava por perto”, pois essa crise militar teria criado divisões entre a oficialidade105. Dessa forma, Skidmore, reforça ainda mais essa questão e nos mostra que o memorando assinado por coronéis e tenentes-coronéis caiu como uma bomba na política de Vargas e lhe mostrou que não era mais possível desprezar as opiniões dos oficiais. O documento mostrou o descaso que o governo tinha dado ao Exército, onde até mesmo muitos oficiais haviam deixado o Exército para trabalhar em locais civis. De acordo com Skidmore, os coronéis do Exército esperavam que o presidente Vargas pudesse contemplar a instituição com mais dinheiro, no qual melhoraria as condições de equipamentos e de salários no Exército106. Assim sendo, as consequências políticas e militares desse governo iriam se intensificar e nesse sentido. Nélson Werneck Sodré mostra que com a morte de um oficial da Aeronáutica, no atentado da Rua Toneleros, em 5 de agosto de 1954, criou-se no país o que ele classificou como um segundo poder, que foi expresso por oficiais da Aeronáutica, através da formação de um local que foi classificado como “República do 102 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 103 D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. Op. Cit. 104 CARVALHO, José Murilo de. Op. Cit. 105 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 106 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 34 Galeão”. Para Sodré, a autoridade do presidente Getúlio Vargas e de seus ministros militares, foram reduzidos a nada, pois tamanha era a ação dos oficiais dessa Arma107. De acordo com José Murilo de Carvalho, o assassinato do oficial da Aeronáutica, teria sido a gota d’água, o que acabou levando a um quadro de irritação na Aeronáutica e que se alastrou para o Exército e a Marinha108. Boris Fausto, por sua vez, nos direciona a entender que com a morte desse major da Aeronáutica, foi instaurado um inquérito policial militar (IPM), na base aérea do Galeão, o que Fausto condicionou como um local de poder paralelo representado pelos oficiais da Aeronáutica109. Thomas Skidmore nos mostra que com a morte do major Rubens Vaz, houve-se um grande impacto político, no qual para defender a sua honra, a Aeronáutica através do seu corpo de oficiais passou a travar uma “briga” política com o presidente Vargas110. Nesse aspecto, Sodré nos apresenta que numa sequência de dias, Exército, Marinha e a Aeronáutica estavam em alerta e em reuniões, onde a Aeronáutica exigia a renúncia do presidente Vargas111. Para Carvalho, nessas reuniões, primeiro se pedia que o crime fosse apurado, mas logo depois quiseram a renúncia de Getúlio Vargas, o que ficou evidente no ultimato de generais, brigadeiros e almirantes112. Para Sodré, o manifesto de generais seria uma atitude subversiva diante da lei, mas colocava Vargas numa situação sem saída113. Já segundo Fausto, a partir daí surgiu uma pressão para a renúncia do presidente Vargas o que acabou ganhando mais adeptos da cúpula militar, no qual o clima que se formou nos jardins do Catete, representou a desagregação do poder e a sensação de golpe que se formava114. Neste contexto, Skidmore nos mostra que independentemente das investigações da Justiça, a Aeronáutica começou a desenvolver uma averiguaçãopor conta própria, no qual pedidos de renúncia contra o presidente Vargas foram liderados por importantes oficiais, como Eduardo Gomes e Juarez Távora. Oficiais ante-getulistas, em que faziam campanha de intervenção militar contra Getúlio, pelo qual nas três armas foi debatida essa crise política. Sem saída, Vargas contou então com o apoio de oficiais legalistas dentro 107 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 108 CARVALHO, José Murilo de. Op. Cit. 109 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 110 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 111 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 112 CARVALHO, José Murilo de. Op. Cit. 113 SODRÉ, Nélson Werneck. Op. Cit. 114 FAUSTO, Boris. Op. Cit. 35 do Exército, como exemplo, o general Zenóbio da Costa, mas, os pedidos de renúncia na Aeronáutica e o manifesto de generais foram definitivos. Pela segunda vez, o presidente Getúlio Vargas recebia um ultimato do Exército115. Para Carvalho, essa foi a segunda vitória da facção militar que o derrubara em 1945, mas essa, não seria a vitória final116. Para finalizar essa análise, podemos observar que Celso Castro mostrou que durante todo o período de governo do presidente Getúlio Vargas, a área das Forças Armadas foi marcada por disputas políticas, que de fato estavam pautadas em divergências ideológicas entre os militares. Desta maneira, Celso Castro aponta que haviam duas alas de militares que divergiam, no qual um grupo era considerado de “nacionalistas”, e outros eram denominados de “democráticos”. Foram essas as duas tendências que predominaram durante esse período. Segundo Celso Castro, um fator importante a se observar é poder perceber que nas alternâncias que o presidente Getúlio Vargas articulou entre uma tendência e outra, o mesmo acabou por perder o seu apoio na área militar117. Após essa breve análise feita nesse balanço historiográfico, no qual a intenção foi de poder mostrar em síntese sobre as Forças Armadas no período do Governo Democrático de Getúlio Vargas, podemos perceber através desses autores aqui trabalhados, como se deram os processos relacionados a esses militares nesse governo e como esses autores buscaram tratar desses assuntos. Podemos então observar, que apesar de alguns desses autores terem pontuado mais por um determinado assunto, fato é, que em sua maioria buscaram o diálogo nessas questões. Nesse aspecto, após ter mostrado como foi apresentado às relações das forças armadas com o governo de Vargas, mostrarei o que pretendo trabalhar dentro da minha pesquisa. Neste sentido, trago como objeto de análise as relações das forças armadas com o governo de Getúlio Vargas. Nessa questão de pesquisa, encontrei aspectos para serem tratados, nos quais se pode dividir em dois momentos. O primeiro que se pauta no contexto que vai do início ao final do governo Vargas (1951-1954), pelo qual se pautará por questões que irão contemplar o papel dos militares diante de um Acordo Militar do Brasil com os Estados Unidos, assim como a uma possível ida das Forças Armadas para 115 SKIDMORE, Thomas E. Op. Cit. 116 CARVALHO, José Murilo de. Op. Cit. 117 https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/A Era vargas 2/ artigos / Ele Voltou /militares https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/A%20Era%20vargas%202/%20artigos%20/%20Ele%20Voltou%20/ 36 a Guerra da Coreia e a importância do Clube Militar. No segundo momento, o objetivo é poder trazer o ambiente militar no ano de 1954, nos quais o Manifesto dos Coronéis e a morte do major da Aeronáutica irão se correlacionar a postura final das Forças Armadas em relação ao governo do presidente Getúlio Vargas. Entretanto, apesar desses temas já terem sido tratados na historiografia, pretendo aqui, trazer o direcionamento para uma melhor preocupação de análise das fontes, buscando através delas uma construção um tanto diferenciada, procurando nesse sentido, valorizar posições, assuntos e personagens que não foram tão explorados durante esses estudos. Mas nesse sentido se faz importante realizar uma pergunta: mas o que trazer de novo? Dentro desse aspecto, o meu objetivo é justamente o de focar nos meus documentos de análise, que são os jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, que enquanto fonte, serão também objetos de minha pesquisa. Em relação a isso, pretendo mostrar como essas relações das Forças Armadas com o governo de Getúlio Vargas foram representadas por esses jornais, mostrando como os jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, enquanto meio de imprensa, se posicionaram durante esses acontecimentos. Neste ângulo, faz-se importante ressaltar que pensar nesses periódicos é poder pensar nas diferenças de opiniões, pois o jornal Tribuna da Imprensa era o de oposição ao governo de Getúlio Vargas, enquanto o jornal Última Hora, era o de apoio ao governo. Por isso, deve-se focar nos objetivos diferentes de suas mensagens. Nesse sentido, é importante nessa pesquisa poder mostrar justamente essas relações: as diferenças de opiniões e como de fato eles usaram de seu meio de comunicação para poder transmitir esses pontos que considerei por trabalhar nessas relações entre as forças armadas e o governo de Getúlio Vargas ou seja, como os jornais interpretaram essas questões. Pensando assim, quais foram os termos usados por esses jornais? Qual a interpretação que eles usaram nas escolhas das palavras, para poder transmitir essas informações e também na valorização dos termos específicos dos jornais? Em que se diferenciam? Esse deve ser um meio de observação e de valorização das reportagens durante os acontecimentos e a atenção que se deve ter a forma de se fazerem comunicar através das notícias, pensando justamente em compreender o assunto em questão: as Forças Armadas. Enfim, o objetivo é justamente o de poder mostrar na dissertação, as diferenças de ambos os periódicos - Tribuna da Imprensa e Última Hora - realçando de fato esse período da pesquisa, mostrando as relações das forças armadas com o governo de Getúlio Vargas, através da ótica desses jornais. Torna-se importante ressaltar que entrevistas 37 realizadas com oficiais generais no CPDOC-FGV, também serão utilizadas, no sentido de poder colaborar nesta análise de pesquisa, trazendo a fala desses militares para poder ressaltar a importância deste trabalho de pesquisa. 1.2. Tribuna da Imprensa e Última Hora: que jornais eram esses? Passaremos agora para análise dos jornais Tribuna da Imprensa e o Última Hora, ambos periódicos do Estado do Rio de Janeiro. Estes dois serão utilizados como fontes e objetos de pesquisa nesta Dissertação de Mestrado. De início, se faz importante uma construção de análise sobre ambos os jornais, observando as suas características, singularidades e pluralidades; mostrando que periódicos eram esses e a sua importância dentro do contexto do Governo de Getúlio Dornelles Vargas (1951-1954). Dentro desta análise, aparecerão dois nomes importantes, veiculados a esses periódicos. Um é Carlos Frederico Werneck de Lacerda, fundador do jornal Tribuna da Imprensa, e o outro é Samuel Wainer, fundador do Última Hora. Nesse sentido, dentro do contexto do governo Vargas, esses periódicos foram peças políticas fundamentais, no qual a Tribuna da Imprensa se destacou como o jornal de oposição ao governo, enquanto o Última Hora era o único meio jornalístico que apoiava o presidente. Podemos observar que o jornal Tribuna da Imprensa foi fundado no dia 27 de dezembro de 1949, por Carlos Frederico Werneck de Lacerda, após o mesmo ter passado por várias experiências no meio jornalístico. “Partidários e simpatizantes da UDN, partido que perdeu as eleições para Vargas [...] criaram a Tribuna através de uma subscrição pública, reunindo um capital de CR$ 12 mil”118. A Tribuna da Imprensa era um jornal vespertino e que tinha vendagem diária. O prédio que foi utilizado por Carlos Lacerda para que tivesse o funcionamento do jornal se encontra na rua do Lavradio,
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