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LUIZ-PEDRO-DARIO-FILHO


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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE HISTÓRIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO 
DOUTORADO EM HISTÓRIA SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DE SERTANISTAS DAS MATAS A ERUDITOS DA HISTÓRIA 
História paulista como reação à perda da hegemonia das famílias antigas na 
São Paulo do século XVIII 
 
 
 
 
 
 
LUIZ PEDRO DARIO FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, 2021 
2 
 
 
LUIZ PEDRO DARIO FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
DE SERTANISTAS DAS MATAS A ERUDITOS DA HISTÓRIA 
História paulista como reação à perda da hegemonia das famílias antigas na 
São Paulo do século XVIII 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós- 
Graduação em História da Universidade 
Federal Fluminense como requisito para 
obtenção do título de Doutor em História. 
 
Área de concentração: História Moderna e 
Colonial 
 
 
 
 
Orientador: Dr. Ronald José Raminelli 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, 2021 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica automática - SDC/BCG 
Gerada com informações fornecidas pelo autor 
Bibliotecário responsável: Debora do Nascimento - CRB7/6368 
D218s Dario filho, Luiz Pedro 
De sertanistas das matas a eruditos da história : História 
paulista como reação à perda da hegemonia das famílias 
antigas na São Paulo do século XVIII / Luiz Pedro Dario 
filho ; Ronald José Raminelli, orientador. Niterói, 2021. 
275 f. : il. 
 
Tese (doutorado)-Universidade Federal Fluminense, Niterói, 
2021. 
DOI: http://dx.doi.org/10.22409/PPGH.2021.d.09981052795 
 
1. São Paulo colonial. 2. Bandeirantes paulistas. 3. Brasil 
colonial. 4. Produção intelectual. I. Raminelli, Ronald 
José, orientador. II. Universidade Federal Fluminense. 
Instituto de História. III. Título. 
CDD - 
4 
DE SERTANISTAS DAS MATAS A ERUDITOS DA HISTÓRIA 
História paulista como reação à perda da hegemonia das famílias antigas na São Paulo do 
século XVIII 
 
 
 
LUIZ PEDRO DARIO FILHO 
 
 
 
Resumo: Após a Guerra dos Emboabas houve colaboração da Coroa com os paulistas pela 
realização de novos descobrimentos minerais. O descobrimento de ouro em Cuiabá (1718) e 
Goiás (1725), no entanto, veio acompanhado de enorme fluxo de agentes mercantis portugueses 
que se enraizaram e enriqueceram na cidade de São Paulo. Se inicialmente esses mercadores 
optaram por casar a si e as suas filhas com membros das famílias paulistas, passaram, por volta 
da década de 1730, a optar por uniões matrimoniais no interior da comunidade mercantil. 
Apresentaremos o tensionamento que adveio desse processo, entre paulistas e homens de 
negócios portugueses, assim como as estratégias traçadas pelos grupos ao longo dos anos e o 
papel do Governador D. Luis Mascarenhas no conflito. Por fim, analisaremos também a ação dos 
comericantes portugueses, a partir da década de 1750, de registrar brasões de armas na Câmara 
Municipal de São Paulo e a reação das linhagens antigas de Piratininga a esse movimento. Pedro 
Taques de Almeida Paes Leme liderou a resistência à ação reinol e, após o confronto interno na 
municipalidade, voltaria sua atenção para debate intelectual mais amplo. Foi a partir de então que 
passou a se utilizar da documentação oficial e da narrativa histórica, junto de Frei Gaspar de 
Madre de Deus, em luta contra a lenda negra paulista e pela importância do reconhecimento das 
entradas dos sertanistas de São Paulo na conquista, construção e expansão territorial da América 
portuguesa. 
 
Palavras-chave: São Paulo colonial; Brasil colonial; Famílias paulistas; Século XVIII. 
 
5 
FROM SERTANISTAS OF THE FORESTS TO HISTORY SCHOOLERS 
São Paulo history as a reaction to the loss of hegemony of old families in 18th century São 
Paulo 
 
 
 
LUIZ PEDRO DARIO FILHO 
 
 
 
 
Abstract: After the Emboabas War, the Crown collaborated with the São Paulo population for 
new mineral discoveries. The discovery of gold in Cuiabá (1718) and Goiás (1725), however, was 
accompanied by a huge flow of Portuguese mercantile agents that took root and enriched the city 
of São Paulo. If initially these merchants opted to marry themselves and their daughters to members 
of the São Paulo families, they started, around the 1730s, to opt for matrimonial unions within the 
mercantile community. We will present the tension that resulted from this process, between São 
Paulo and Portuguese businessmen, as well as the strategies drawn up by the groups over the years 
and the role of Governor D. Luis Mascarenhas in the conflict. Finally, we will also analyze the 
action of Portuguese merchants, from the 1750s onwards, of registering coats of arms in the City 
Council of São Paulo and the reaction of ancient Piratininga lineages to this movement. Pedro 
Taques de Almeida Paes Leme led the resistance to the kingdom's action and, after the internal 
confrontation in the municipality, he would turn his attention to a broader intellectual debate. It 
was from then on that it started to use official documentation and historical narrative, together with 
Frei Gaspar de Madre de Deus, in the struggle against the black legend of São Paulo and for the 
importance of recognizing the entries of the sertanistas of São Paulo in the conquest, construction 
and territorial expansion of Portuguese America. 
 
Key-words: Colonial São Paulo; Colonial Brasil; Paulista families; XVIII century. 
 
6 
Agradecimentos 
Primeiramente à CAPES, por ter financiado a pesquisa e viabilizado a dedicação necessária 
para a sua realização. 
A minha família: Luiz Pedro Dario, Vera Lúcia Monteiro Dario e Diogo Monteiro Dario. 
Especialmente a minha mãe, Vera, que partiu em finais do ano passado, mas deixou tantos 
ensinamentos e boas sementes. Se hoje posso ler, escrever e pesquisar, é porque muito carinho e 
amor foi dedicado na minha formação. Essa tese é dedicada a ela. 
Ao meu orientador, Ronald Raminelli. Por mais de 10 anos de caminhada, que vem desde 
2010, sempre com sua leitura atenta e críticas precisas. Agradeço sobretudo pela compreensão na 
reta final da escrita, onde precisei da sua atenção e esforço para que tudo fosse entregue dentro do 
prazo. Sua presença foi fundamental não só para o texto final, mas também para a minha formação 
como historiador. 
A Maria Aparecida Borrego, Antônio Jucá, Maria Fernanda Bicalho, José Carlos Vilardaga 
e Alberto Luiz Schneider, presentes nas minhas Bancas de Qualificação e Defesa. Suas sugestões 
abriram caminhos e clarearam os rumos da tese. E suas críticas foram decisivas para o 
amadurecimento da pesquisa e a construção final do texto. Sou muito grato pela leitura atenta e o 
auxílio prestado. 
A Maria Fernanda Bicalho, Marcelo Loureiro e Jacqueline Hermann, agradeço pelos cursos 
ministrados no PPGH-UFF e PPGHIS-UFRJ. As leituras e debates das quais participei em sala de 
aula foram centrais para o meu desenvolvimento como pesquisador e historiador. Foi um privilégio 
participar das discussões e aprender com opiniões distintas das minhas, sempre enriquecedoras. 
A todo corpo docente da História-UFF, instituição na qual aprendi tudo que sei hoje sobre 
a prática acadêmica de historiador. Sou um filho dessa casa, fato esse que enche o meu peito de 
orgulho. Agradeço por todas as oportunidades. 
Aos funcionários do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde sempre fui muito 
7 
bem atendido desde o Mestrado. A instituição foi um espaço produtivo para a leitura de obras 
antigas e fontes manuscritas. 
A Queren Hapuque Almeida e Paula Broda, que me auxiliaram com a pesquisa realizada 
em São Paulo. Sempre muito solícitas e prestativas na digitalização e fotocópia de obras e 
documentos. 
A Olívia Barros pela leitura atenta e correção ortográfica do texto. 
 A Giovane Albino, pelas trocas intelectuais e auxílios mútuos ao longo da jornada de 
doutorado nessesúltimos 4 anos. 
A Raquel Cattini de Mello, pela companhia e força nos momentos derradeiros de escrita 
da tese. 
A Natália de Fátima Lacerda, pela presença, leitura e auxílio contínuo, desde tempos de 
mestrado. 
A Juliana Zeina Mansur, por todo suporte e carinho ao longo de todos os 4 anos de 
desenvolvimento da tese. 
A Diogo Serôa da Motta pela irmandade contínua e companhia em tempos de luto. 
Aos amigos: Rafael Soares Gonçalves, Arildo Júnior, David Levy, Wilson Paranhos, 
Cláudio Brandão, Giulia Luz e Michelle Paiva. 
8 
Sumário 
Lista de Tabelas e Figuras ................................................................................................. 9 
Abreviações ...................................................................................................................... 10 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 
Capítulo 1: O prenúncio de um século de ouro: o amanhecer do Setecentos paulista e o 
sonho minerador ............................................................................................................ 20 
1.1 As oportunidades do Portugal restaurado .................................................... 25 
1.2 Das minas dos Cataguases às minas de Cuiabá: o findar de um projeto e o (re)nascer de 
uma esperança ....................................................................................... 38 
1.3 Considerações finais ................................................................................. 66 
Capítulo 2: Uma cidade em conflito: a ascensão reinol e as transformações administrativas 
na São Paulo setecentista (1721-1748) ............................................................................ 69 
2.1 Oportunidade e comércio: a intensa emigração dos filhos de Portugal para o Estado do 
Brasil no século XVIII ................................................................................ 74 
2.2 São Paulo Setecentista: famílias tradicionais e ascensão reinol (1721-1747) ................. 85 
2.3 O Governo de D. Luis Mascarenhas e a perda da autonomia da Capitania de São 
Paulo...................................................................................................104 
2.4 Considerações finais ...................................................................................... 126 
Capítulo 3: Autoafirmação local e a disputa pelas narrativas: Brasão de armas e justificação 
de nobreza na São Paulo setecentista (1748-1765) ......................................................... 129 
3.1 Comerciantes reinóis e a São Paulo de meados do Setecentos: da teia mercantil à 
consolidação municipal (1748-1765) ........................................................... 134 
3.2 Lugares de distinção das tradicionais famílias paulistas (1748-1765) .................... 147 
3.3 Brasão de Armas e justificação de nobreza na São Paulo Setecentista .................. 172 
3.4 Considerações finais ................................................................................ 189 
Capítulo 4: “Socorrendo, Conquistando e Descobrindo”: a importância paulista para a 
formação da América portuguesa nas obras de Pedro Taques e Frei Gaspar de Madre de 
Deus... ........................................................................................................................... .192 
4.1 A ascensão da História como instrumento do saber e da política ......................... 195 
4.2 Paulistas vs Jesuítas no século XVIII: a contribuição de Charlevoix e a resposta 
paulista... ............................................................................................. 202 
4.3 Genealogistas, mas também historiadores: Pedro Taques, Frei Gaspar e a crítica à 
história oficial da América portuguesa ......................................................... 224 
4.4 Considerações finais...........................................................................243 
CONCLUSÃO .............................................................................................. 246 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 256 
9 
 
Lista de Tabelas e Figuras 
 
 
 
Tabela I: Membros eleitos e de postos ocupados para juiz, vereador e procurador pelas 
principais famílias paulistas na Câmara Municipal (1721-1747) ............................................ 94 
Tabela II: Progressão da eleição de membros da comunidade mercantil portuguesa para as 
funções de Juiz Ordinário, Vereador ou Procurador (1721-1747) ........................................... 99 
Tabela III: Provedores da Santa Casa de Misericórdia (1748-1765).......................................141 
Tabela IV: Cabedal de membros da elite paulista citados no censo de 1765...........................168 
Tabela V: Cabedal de agentes mercantis consolidados nas principais instituições de poder da 
cidade e citados no censo de 1765............................................................................................170 
 
Figura 1: Representação genealógica de Ignacio de Barros Rego...........................................151 
Figura 2: Representação genealógica de José de Góes e Moraes (1676-1763).......................155 
Figura 3: Representação genealógica de Francisco Pinto do Rego (1705-1775)....................158 
Figura 4: Representação genealógica de Antonio Cunha de Abreu (?-1760) e João da Cunha 
Franco (1710-?)........................................................................................................................161 
Figura 5: Representação genealógica de Bento de Toledo Piza (1720-1792) e Bernardo Guedes 
de Toledo ................................................................................................................................ 163
10 
Abreviações 
 
ACMSP – Actas da Câmara Municipal de São Paulo 
RGCSP – Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo 
AHU – Arquivo Histórico Ultramarino 
Cx – Caixa 
D – Documento 
DI - Publicação Oficial de Documentos Interessantes para a História e Costumes de São 
Paulo 
BN – Biblioteca Nacional 
IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 
RJ – Rio de Janeiro 
SP – São Paulo 
MT – Mato Grosso 
GO – Goiás 
 
11 
INTRODUÇÃO 
 
 
Em sua obra Paulística1, Paulo Prado reuniu em uma só edição alguns artigos que havia 
publicado no jornal "O Estado de São Paulo". Empresário e organizador da Semana de Arte 
Moderna em 1922, evento produzido em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, 
o autor lançou o livro em 1925, ampliando o seu conteúdo em 1934. Seu enfoque era a história de 
São Paulo, desde os primeiros esforços de colonização e povoamento no século XVI até o ciclo do 
café no século XIX. Prado, que era envolvido com a produção cafeeira, tivera como mentor 
intelectual Capistrano de Abreu e viveu o ápice da produção historiográfica em torno dos 
bandeirantes paulistas. A própria São Paulo experimentara, assim como a elite cafeeira paulista, 
protagonismo econômico e político no período da República Velha (1889-1930), o que refletia, ao 
menos em parte, a construção dessa proeminência da figura do sertanista de São Paulo como um 
dos principais protagonistas da construção da nação brasileira2. 
A importância dos paulistas, nas palavras do próprio Capistrano de Abreu, vinha do seu 
protagonismo na conquista, expansão e consolidação de núcleos populacionais no interior da 
América portuguesa. Diferenciando os paulistas bandeirantes, que atacavam reduções indígenas e 
despovoavam o território – sendo nocivos para a formação do Brasil - dos paulistas conquistadores, 
o historiador cearense afirma que 
A attenção que não cabe aos bandeirantes reclamam-na de passagem os 
conquistadores, homens audazes, contratados pelos poderes publicos para pacificar 
certas regiões em que os naturaes apresentavam mais rija resistencia. Os 
conquistadores podiamcaptivar legalmente a indiada, recebiam vastas concessões 
territoriaes, iam autorizados a distribuir habitos e patentes aos companheiros mais 
 
1 PRADO, Paulo. Paulística: história de São Paulo. Rio de Janeiro: Ariel, 1934. 
2 Ilana Blaj realiza debate historiográfico sobre a produção historiográfica na São Paulo da primeira metade do século 
XX. A historiadora joga luz sobre a construção da imagem dos bandeirantes no período, associando a sua produção 
ao momento político vivido na primeira metade do Novecentos. Ver: BLAJ, Ilana. A trama das tensões: o processo 
de mercantilização de São Paulo colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas; FFLCH, USP; FAPESP, 2002, p. 39-
85. 
12 
esforçados. Estevão Ribeiro Bayão Parente, Mathias Cardoso, Domingos Jorge 
Velho e outros fixam este curioso typo; geralmente não tornavam á patria e 
deixaram signaes de sua passagem e herdeiros de seu sangue em Minas Geraes, na 
Bahia, em Alagôas e alhures3 
Em expedições que ocorriam em nome da Coroa portuguesa, que incluíam a possibilidade 
legal de escravizar indígenas, os esforços desses sertanistas viabilizaram o povoamento de regiões 
remotas. Seu maior serviço, inclusive, teria sido ligar os rios Tietê e Paraíba do Sul ao rio São 
Francisco, fator considerado pelo autor essencial para a formação do que viria a ser o território 
brasileiro. O descobrimento do ouro, também protagonizado pelos homens de Piratininga, traria a 
força propulsora, no século XVIII, que atrairia súditos de todas as capitanias e do reino para o 
interior da América. Esse movimento sedimentaria as bases da conformação geográfica brasileira 
futura. Capistrano de Abreu, que era cearense e não teve trajetória ligada ao IHGB paulista4 e 
produção historiográfica comprometida com a exaltação do bandeirantismo5, fez parte de 
historiadores da primeira metade do século XX que, mesmo reconhecendo o lado nocivo de 
entradas militares paulistas no período colonial, exaltavam o fator determinante das ações dos 
paulistas de outrora para a construção do Brasil. Logo, suas ações, cultura e modo de vida deveriam 
 
3 ABREU, J. Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. 1ª ed. Edição da Sociedade Capistrano de 
Abreu, Livraria Briguiet, 1930, p. 63-64. 
4 Lilia Moritz Schwarcz analisa o IHGB de São Paulo, fundado em 1894, que tinha como lema: " a História de São 
Paulo é a História do Brasil". A instituição possuía o objetivo consciente e deliberado de enfatizar a especificidade 
paulista como fator decisivo para a construção da nação brasileira. ver: SCHWARCS, Lilia Mortiz. O espetáculo das 
raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 127. 
5 Autores como Affonso Taunay, Basílio de Magalhães, e Alfredo Ellis Júnior foram expoentes, nas primeiras décadas 
do século XX, de obras que exaltavam as ações e o passado paulista. Taunay teve excepcional fôlego arquivístico, 
reconstruindo a história das bandeiras paulistas a partir de esforço para compilar toda documentação existente sobre o 
tema. Magalhães, que também dividia, como Capistrano de Abreu, a expansão territorial brasileira em ciclos de 
Entradas (expedições oficiais) e Bandeiras (expedições espontâneas), via ambas como positivas. E colocava os 
paulistas como responsáveis por quase todo o ciclo das bandeiras, que auxiliaram na expansão territorial da América 
portuguesa para além do Tratado de Tordesilhas. O protagonismo paulista se devia às condições específicas onde a 
vila se desenvolveu, marcadas por singularidades mesológicas, étnicas e sociais. Se habituando à vida nas matas e a 
convivência com índios, teria surgido raça melhor aclimatada ao clima e solo brasileiro. Ellis Júnior, em obra clássica, 
enfatiza ainda mais a singularidade paulista, apresentando os mamelucos de São Paulo como raça biologicamente 
distinta da que se criou no litoral brasileiro. O cruzamento entre os portugueses e os indígenas do planalto, duas raças 
com alto grau de pureza, teria gerado novo grupo, responsável por grandes feitos e realizações na América portuguesa. 
Ver: TAUNAY, Affonso de E. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo: Museu Paulistas, 1948. 12v; 
MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geográfica do Brasil colonial. 4ª Ed. São Paulo: Ed. Nacional. INL, 1978, p. 
56 e ELLIS JUNIOR, Alfredo. Os primeiros troncos paulistas. 2. ed. São Paulo, Ed. Nacional: Brasília, INL, 1976, p. 
49. 
13 
ser estudadas como forma de entender não apenas São Paulo, mas também como parte da formação 
da própria nação brasileira. 
Retornando a Paulo Prado, sua obra, que teve ampla repercussão no período, representou 
esforço para sintetizar o passado paulista, seu fluxo evolutivo ao longo dos séculos e trazer 
inteligibilidade sobre episódios emblemáticos da sua história. Para isso, Prado apresenta um 
gráfico com uma linha que ascende e descende, pontuando o que seriam os momentos históricos 
vividos na Piratininga colonial. Foram nomeados 4 momentos, em ordem cronológica: ascensão, 
clímax, decadência e regeneração. A curva ascensional representa a consolidação do núcleo 
municipal, na segunda metade do século XVI, envolvendo a expansão colonizadora e a descoberta 
das minas durante o século XVII, onde haveria o clímax. Quando a ambição dos escavadores de 
ouro entra em ação em inícios do século XVIII, substituindo o ânimo guerreiro dos sertanistas, a 
linha começa a descender, alcançando a “degradação política, moral e physica dos tempos dos 
governadores capitães-generaes, em que na miséria extrema da província morria vergonhosamente 
a gloria do Paulista antigo”6. O Setecentos seria, então um século de degeneração social e 
decadência para os habitantes de São Paulo colonial. Esse movimento seria recuperado somente 
no século seguinte, novamente em linha ascendente, quando no Oitocentos se viu o renascer 
econômico com o ciclo do café que trouxe pujança e riqueza para cidade paulista, o que possibilitou 
a ela alcançar a centralidade política e econômica de inícios do século XX. 
Nossa pesquisa não se deterá no século XVII – o momento de “clímax” do passado paulista. 
Mas no século XVIII, seu momento de “degeneração”. A visão de um esvaziamento demográfico, 
que trouxe isolamento geográfico e decadência comercial para a São Paulo do século XVIII foi 
concepção defendida por outros importantes autores da primeira metade do Novecentos7. Essa 
visão, no entanto, passou a ser contestada a partir de finais da década de 19408. Ponto importante 
 
6 PRADO, Paulo. Paulística. op. cit. p. XXV. 
7 Caio Prado Jr. É um dos que defendeu a visão de uma São Paulo esvaziada demograficamente devido ao ciclo 
minerador. PRADO JR, Caio. “O fator geográfico na formação e no desenvolvimento da cidade de São Paulo”. In: 
PRADO JR, Caio. Evolução Política do Brasil e outros estudos. 3ªed. São Paulo, Brasiliense, 1975, pp. 104-106. 
8 Sérgio Buarque de Holanda foi um dos primeiros a defender o século XVIII não como um período de decadência e 
miséria, mas um momento de transição. Onde o espírito de aventura dos sertanistas do século XVII ia se moldando a 
14 
de inflexão dessa visão tradicional se deu na obra de Alfredo Ellis Júnior e Myriam Ellis9, onde se 
enfatizou que essa queda demográfica, defendida em teses anteriores, não foi tão intensa, pois 
muitos paulistas voltaram à cidade depois da Guerra dos Emboabas. Os autores defenderam 
também a ideia de que a capitania, inclusive a sua capital, passou a investir na agricultura e na 
pecuária, se transformando em espécie de “retaguarda econômica” das Minas Gerais10. Fora isso, 
contingente considerável de portugueses acabaram por se mudar para São Paulo ainda na primeira 
metade do século XVIII. O aumento do número de agentes comerciais enrizados em Piratininga 
trouxe a possibilidade para que produtos advindos de trocas transatlânticas fossem transportados 
para a capitania através desse intermediário.Esse novo olhar abria as portas para retirar a São 
Paulo do século XVIII do estigma do abandono e pobreza, direcionando a visão historiográfica 
para uma municipalidade que foi se transformando, após a descoberta do ouro nas Minas Gerais, 
Cuiabá e Goiás, em território de produção para o abastecimento de mercado interno e zona de 
intenso trânsito comercial. Reforçava essa visão a tese de livre-docência de Maira Luiza Marcílio, 
defendida em 1974, que apresentou crescimento progressivo e ininterrupto da população na 
capitania e cidade de São Paulo desde finais do século XVII11. 
A intensificação da atividade comercial no planalto, ao longo do Setecentos, foi objeto de 
estudo de duas importantes obras na década de 1970. A percepção dessa mercantilização da cidade 
como sendo produto da chegada e atuação de mercadores portugueses que se enraizaram na São 
Paulo setecentista se apresentou nas obras de Elizabeth Kusnesof12 e Katia Abud13. Kunesof foi 
autora que percebeu os comerciantes lusos que migraram para o planalto como os principais 
 
uma ação de maior disciplina na produção agrícola e na atividade comercial. HOLANDA, Sergio Buarque. “Índios e 
Mamelucos na Expansão Paulista”. Anais do Museu Paulista, Separata do Volume XIII, 1949, p. 289. 
9 ELLIS JR., Alfredo; ELLIS, Myriam. A economia paulista no século XVIII. São Paulo: Boletim da Civilização 
Brasileira, n. 11, 1950. 
10 Alfredo Ellis Júnior e Myriam Ellis apresentam São Paulo como protagonista de dois ciclos para o abastecimento 
das minas: do muar e do açúcar. Ver: Id. Ibidem. p. 81-110 
11 MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento demográfico e evolução agrária paulista - 1700-1860. São Paulo: 
Hucitec/Edusp, 2000. p. 71. 
12 KUSNESOF, Elizabeth Anne. Household economy and urban development: São Paulo: 1765 to 1836. Berkeley, 
University of California, 1976. 
13 ABUD, Kátia. Autoridade e riqueza. Contribuição para o estudo da sociedade paulistana na segunda metade do 
século XVIII. São Paulo: FFLCH-USP, 1978 (dissertação de mestrado), 
15 
beneficiados do aumento no comércio que passava pela região ao longo do século XVIII. Para a 
autora, a estratégia desses principais agentes mercantis foi direcionar as fortunas originárias do 
comércio em lavouras canavieiras, na segunda metade do século. Abud, analisando os padrões de 
comportamentos desses portugueses, que atuavam em forma de clãs familiares na ascensão e 
domínio de cargos de poder na cidade, vê nessa estratégia de junção do comércio com a grande 
lavoura a principal responsável pela consolidação desses reinóis como grupo dominante da São 
Paulo setecentista. Entre 1760 e 1803, a proporção de comerciantes (ofício dominado por reinóis) 
ocupando cargos da câmara municipal paulista chegava a 60%14. 
Sobre a identidade desses homens de negócio portugueses - suas estratégias e círculos 
familiares - a tese de Maria Aparecida Borrego, defendida em 2008 e publicada em 2010, trouxe 
vasta e elucidadora pesquisa. Borrego analisou um grupo de 100 agentes mercantis que atuaram 
em São Paulo entre 1711 e 1765. Destes, 76 advinham de Portugal, sendo 55 da região do Minho. 
Apenas 7 tinham nascido na América lusa, sendo 5 deles paulistas.15 A historiadora constitui 
nomenclatura para todos os tipos de trocas e empresas comerciais onde esses homens estavam 
envolvidos, suas estratégias para se inserir nos principais órgãos de poder locais (Câmara, Santa 
Casa de Misericórdia, Juiz de Órfãos e Ordenanças), além do sucesso de alguns dos seus membros 
no pedido de mercês (7 familiares do Santo Ofício e 6 cavaleiros da Ordem de Cristo, todos 
reinóis). Além disso, Borrego relata os padrões de comportamento desses comerciantes 
portugueses. Se preferiram se aliar por casamento com as principais famílias da terra em inícios 
do século XVIII, a partir da década de 1730 em geral eles optaram por mudar de estratégia. O 
mercado matrimonial para eles se tornou cada vez mais fechado, privilegiando a endogamia dentro 
do grupo mercantil16. 
No que toca a perspectiva das famílias tradicionais de São Paulo no século XVIII, a obra 
 
14 KUSNESOF, Elizabeth Anne. "A família na sociedade brasileira: parentesco, clientelismo e estrutura social (São 
Paulo: 1700-1980)". Revista Brasileira de História. São Paulo: v. 09, n. 17, set. 88/fev. 89, p. 47. Katia Abud confirma 
os dados, em pesquisa de recorte temporal similar. Ver: ABUD, Kátia. Op. Cit. p. 92. 
15 BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. A teia Mercantil: Negócios e poderes em São Paulo colonial (1711-
1765). São Paulo: Alameda, 2010, p. 36. 
16 Id. Ibidem. p. 179. 
16 
de Ilana Blaj, em tese defendida em 1995 e publicada em 200217, foi importante contribuição. A 
autora demonstrava que a força dessa mercantilização paulista já advinha de finais do século XVII, 
antes do descobrimento das minas. A relevância das lavouras paulista para o abastecimento do Rio 
de Janeiro e da região sul da América lusa é apontada como realidade socioeconômica desde a 
década de 1680. A mineração, com isso, não seria o elemento de gênese da mercantilização em 
São Paulo. O papel das minas foi, na realidade, de intensificação e dinamização dessa produção e 
comércio já existentes. As principais famílias de proprietários paulistas – Pires, Bueno, Camargo 
e Taques – foram as que mais se beneficiaram desse processo, estando em lugar privilegiado de 
riqueza e prestígio social em São Paulo na época da separação da Capitania de São Paulo das Minas 
Gerais, em 1720. 
O ponto de chegada da obra de Ilana Blaj é o ponto de partida da nossa pesquisa e tese. 
Como as pesquisas mais recentes tem evidenciado o fortalecimento de grupos paulistas desde finais 
do século XVII e o enriquecimento e penetração dos agentes mercantis portugueses nas principais 
instituições de poder da municipalidade ao longo do século XVIII, um dos nossos objetivos é jogar 
luz sobre a relação entre esses dois grupos. Sobretudo os tensionamentos já relatados pela 
historiografia, como da eleição de 1737 para a Câmara Municipal, onde a indisposição entre as 
partes nos possibilita ver melhor as oposições que se construíam e se enrijeciam no seio da 
sociedade paulista. A presença de um Governador habitando a cidade, a partir de 1721 com 
Rodrigo César de Menezes, é também enfrentada pela nossa pesquisa, no que ela representava para 
os grupos locais e o papel de interlocução que o cargo possuía das elites locais junto da Coroa 
portuguesa. E, por fim, trazemos o tema das trajetórias de Pedro Taques de Almeida Paes Leme e 
Frei Gaspar de Madre de Deus. E até como suas pesquisas históricas e a escrita de suas obras eram 
reflexo do tensionamento entre paulistas e mercadores reinóis na São Paulo setecentista, mas 
também de debates intelectuais maiores, envolvendo autores de fora do planalto. 
 
17 BLAJ, Ilana. A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo colonial (1681-1721). São Paulo: 
Humanitas; FFLCH, USP; FAPESP, 2002 
17 
 No primeiro capítulo da tese apresentaremos um debate historiográfico sobre os principais 
estudos da São Paulo colonial do século XVII, para entender como se deu a entrada do século 
XVIII na municipalidade. O enfoque principal, a partir de então, é entender a frustração da perda 
do monopólio das minas, após a Guerra dos Emboabas, e como a Coroa realiza esforço para manter 
os paulistas na sua órbita de influência, para que continuassem a realizar expedições visando novos 
descobrimentos. Com as descobertas de Cuiabá (1718), há a repartição da Capitania de São Paulo 
e Minas de Ouro – que a partir de 1720 passa a se chamar Capitania Real de São Paulo - e a vinda 
de um Governador que passa a morar na cidade: Rodrigo César de Menezes. Passaremos então a 
analisar a chegada do Governador e as principais diretrizes régias que ele segue na sua atuação 
junto da elite local paulista até o descobrimento das minas de Goiás em 1725. A documentação 
analisada para a realização docapítulo foram as atas e registro geral da Câmara Municipal de São 
Paulo e os Documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo, de onde retiramos 
as cartas escritas e recebidas por César de Menezes no Governo de São Paulo. 
No segundo capítulo da tese analisaremos a chegada desses portugueses na cidade de São 
Paulo, de onde eles vinham e a conjuntura socioeconômica do local de onde eles partiam. O intuito 
inicial é o de mapear as motivações que conduziam as suas ações na cidade de São Paulo. Em 
seguida, apresentaremos a composição da Câmara Municipal, Santa Casa de Misericórdia e 
Ordenanças da cidade entre 1721 e 1747, analisando as principais famílias que compunham seus 
quadros. O intuito é apresentar o cenário do conflito na eleição do ano de 1737 na Câmara, que 
opôs paulistas e comerciantes portugueses e entender o que estava por trás do tensionamento. Em 
seguida analisaremos a chegada do Governador D. Luis Mascarenhas na cidade, a sombra que o 
governo de Gomes Freire de Andrada lançava sobre a política de fronteira de Mascarenhas e a sua 
participação em novo conflito eleitoral do Senado paulista no ano de 1747. A atuação do 
Governador paulista e a perda da autonomia da capitania de São Paulo, em 1748, foram decisivas 
para o enfraquecimento do controle das famílias tradicionais de São Paulo na Câmara e o principal 
objetivo do capítulo é analisar essa conjuntura histórica específica e o que levou a ela. Neste 
18 
capítulo as principais fontes analisadas são das atas e registros gerais da Câmara Municipal de São 
Paulo, documentos contidos no Arquivo Histórico Ultramarino, via Projeto Resgate, e 
documentação escrita e recebida pelos Governador contida nos Documentos interessantes para a 
história e costumes de São Paulo. 
No terceiro capítulo iremos descrever, da parte reinol e das linhagens paulistas, os 
principais membros e famílias que participaram do cenário social e de poder em São Paulo entre 
1748 e 1765. Realizamos esforço para mapear os súditos que mais estiveram presentes nas 
instituições de poder local, assim como de reconstruir, sobretudo no caso das famílias antigas de 
São Paulo, suas ligações familiares mais próximas. O enfoque principal do capítulo é o registro de 
mercês, brasões de armas e justificações de nobreza e limpeza de sangue por parte dos mercadores 
reinóis na Câmara Municipal a partir de 1751. Assim como da reação dos membros das famílias 
mais antigas de São Paulo, através principalmente do esforço de Pedro Taques de Almeida, que 
foi a Lisboa em 1755 e fez vasta pesquisa documental sobre as mercês e os títulos antigos passados 
sobre os antepassados paulistas. Nos utilizaremos das reconstruções dos grupos paulistas e reinóis, 
na primeira parte do capítulo, para entender melhor quem eram e o lugar social dos membros que 
tomaram a frente nessas estratégias de registro de mercês na Câmara Municipal. Para isso nos 
utilizamos da documentação contida nas atas e registro gerais da Câmara Munipal de São Paulo, 
nos documentos contidos no Arquivo Histórico Ultramarino, via Projeto Resgate, e nos brasões de 
armas registrados por Visconde de Sanche de Baena em sua obra Archivo heráldico-genealógico18. 
No quarto e último capítulo, analisaremos algumas das obras de Pedro Taques de Almeida 
Paes Leme e Frei Gaspar de Madre de Deus. O objetivo do capítulo é demonstrar o quanto a 
disciplina da História, ao longo do século XVIII, se fortaleceu como instrumento político. E de 
como a ascensão da prática da erudição, que valorizava o uso documental como elemento de 
validação do discurso histórico, e das Academias impactaram a vida letrada em Portugal e na 
América Portuguesa. A ida de Pedro Taques à Lisboa, em 1755, possibilitou a ele conviver com 
 
18 BAENA, Visconde de Sanches de. Archivo heráldico-genealógico. Lisboa: Typographia Universal, 1872. 
19 
membros da Academia Real de História Portuguesa e aprender sobre a importância da história para 
a vida social e política do reino. Quando volta a São Paulo, em 1757, parte do seu propósito não é 
apenas fazer frente aos mercadores reinóis que buscam autoafirmação e domínio social através do 
registro de mercês na Câmara. Mas também construir um discurso histórico, fundamentado em 
documentação encontrada em arquivos na capitania e em Portugal, para combater a lenda negra 
paulista e para defender o papel das expedições militares dos sertanistas de São Paulo para a 
conquista e construção da América portuguesa. Ação essa construída junto a Frei Gaspar de Madre 
de Deus. Nesse capítulo, utilizaremos como fonte as obras História del Paraguay, do jesuíta 
francês Pedro Charlevoix, História da América Portuguesa, de Sebastião de Rocha Pitta, 
Memorias para a historia da capitania de São Vicente, hoje chamada de São Paulo e Noticias dos 
anos em que se descobrio o Brazil, de Frei Gaspar de Madre de Deus e Informação sobre as minas 
de S. Paulo e Noticia histórica da expulsão dos Jesuitas do Collegio de São Paulo de Pedro Taques 
de Almeida. 
 
20 
Capítulo 1: O prenúncio de um século de ouro: o amanhecer do Setecentos 
paulista e o sonho minerador 
 
Ao tomar posse como primeiro governador da recém-formada Capitania Real de São 
Paulo, em 6 de setembro de 1721, Rodrigo César de Menezes19 abraçou não somente a 
oportunidade de uma promissora carreira administrativa no ultramar português20, como também a 
responsabilidade de garantir os interesses da Coroa lusa no interior do Estado do Brasil. A 
separação da capitania de São Paulo da capitania de Minas Gerais, em 2 de dezembro de 1720 
após a Revolta de Felipe dos Santos21, apresentou uma conjunção interessante para D. João V. 
Com os descobrimentos de ouro, em meados de 171822, nos sertões da América portuguesa, era 
necessário que algum esforço fosse realizado para fazer valer os interesses da Fazenda Real em 
regiões tão distantes geograficamente do seu controle – e parte considerável da incumbência 
delegada a Rodrigo César de Menezes passava por essa questão23. 
A conquista e a consolidação da soberania24 portuguesa no seu ultramar davam-se, em 
 
19 Sobre a trajetória de Rodrigo César de Menezes no governo da Capitania de São Paulo, ver: SOUZA, Laura de 
Mello e. “Morrer em colônias: Rodrigo César de Menezes, entre o mar e o sertão”. In: O sol e a sombra: política e 
administração na América portuguesa do século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 284-326. 
20 Mafalda Soares da Cunha, estudando a atuação de governadores no ultramar português, apresenta a hierarquização 
dos espaços no interior do império. Cargos como o de Governador, devido a sua importância para a Coroa, conferiam 
“enobrecimento” para os indivíduos que os ocupassem. Algumas localidades desses governos, pela sua relevância 
política, eram mais cobiçadas pelos postulantes que outras. Depois de governar São Paulo, Rodrigo César de Menezes 
serviu como Governador de Angola. Ver: CUNHA, Mafalda Soares da. “Governo e governantes do império português 
no Atlântico (século XVII)” In: BICALHO, Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral (orgs.) Modos de 
governar: ideias e práticas políticas no império português – séculos XVI-XIX. São Paulo: Alameda, 2005. 
21 Sobre o governo de Dom Pedro de Almeida, o Conde de Assumar, e o levante de Vila Rica em 1720, ver: SOUZA, 
Laura de Mello e. “Teoria e prática do governo colonial: Dom Pedro de Almeida, conde de Assumar”. In: O sol e a 
sombra, op. cit., p. 185-252 e CAMPOS, Maria Verônica. “'Cavando a vinha...'. In: CAMPOS, Maria Verônica. 
Governo de mineiros: “de como meter as minas em uma moenda e beber-lhe o caldo dourado” 1693 a 1737. Tese de 
doutorado. São Paulo: USP, 2002, p. 168-259. 
22 Em meados de 1718, Pascoal Moreira Cabral encontrou sinais de ouro no rio Caxipó, afluente do rio Cuiabá. 
Fundar-se-ia ali, posteriormente, a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. 
23 A respeito de sua atuação como representante dos interessesrégios na região, ver: FERNANDES, Luis Henrique 
Menezes. Minas do Cuiabá, ilha dos sertões: considerações sobre o papel da metrópole na expansão dos domínios 
portugueses na América (1721-1728). Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Letras de Assis: 
Universidade Estadual Paulista, 2010. 
24 Luisa Pereira, ao pensar o conceito de soberania para o antigo regime português, afirma que tal concepção bebia em 
uma tradição oriunda da idade média. Desde a Reconquista, construiu-se a ideia de que o poder dos soberanos e a 
sujeição dos vassalos advinha da prática da guerra justa. Ou seja, aquela era uma monarquia em expansão que 
precisava o tempo todo afirmar o seu poder através da guerra e da conquista militar, estimulando e remunerando os 
súditos que realizavam essa empresa. Ver: PEREIRA, Luisa Rauter. O conceito de soberania: dilemas e conflitos na 
construção e crise do Estado Imperial Brasileiro. INTELLÈCTUS (UERJ. ONLINE), v. 2, a. 9, 2010. p. 2-3. 
21 
grande medida, por meio das engrenagens da economia da mercê25. Remunerações régias em 
forma de ofícios civis e militares, sesmarias, patentes militares e títulos honoríficos, as mercês 
eram instrumentalizadas – tanto pela monarquia como por seus súditos – como forma de garantir 
seus interesses26. Desejosos de prestígio e ascensão social, os vassalos luso-brasileiros 
frequentemente recorriam aos serviços militares como forma de obtê-las, assim como a Coroa 
constantemente estimulava seus súditos a servir e assegurar os seus interesses, prometendo mercês 
como forma de remunerar seus serviços27. O caso de Rodrigo César de Menezes e das minas 
recém-descobertas em Cuiabá não era diferente. Poucos dias após assumir a função de governador, 
em 12 de setembro de 1721, César de Menezes enviou uma carta ao Conselho Ultramarino e a D. 
João V. Nela exaltava os descobrimentos realizados pelos paulistas, enfatizando que seria de 
“grande utilidade à Real Fazenda de Vossa Majestade, lhes deve conceder algumas mercês, 
principalmente do hábito de Cristo”28. Sobre a existência de criminosos e pessoas condenadas 
entre os descobridores, sugeria que a estratégia mais eficaz seria adotar a misericórdia a esses 
sertanistas de São Paulo. Portanto, a melhor solução seria “perdoar-lhes, em nome de Vossa 
Majestade, fazendo eles serviços com que mereçam semelhante graça”29. Em maio de 1722 o 
governador escreveu a alguns paulistas já estabelecidos na região, estimulando-os a servir. 
 
25 Para o caso português, em obra clássica, Fernanda Olival apresenta a cultura política de prestação de serviços 
militares, e de remuneração régia por esses serviços, que estruturava a sociedade lusitana do período moderno. Ver: 
OLIVAL, Fernanda. As ordens militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). 
Lisboa: Estar, 2001. 
26 Na governabilidade do seu império ultramarino, através da distribuição de mercês e privilégios pelos serviços 
prestados, a coroa remunerava os esforços de seus súditos. Essas remunerações reforçavam, ao mesmo tempo, os laços 
de sujeição e o sentimento de pertença a monarquia. Ver: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima S.; 
BICALHO, Maria Fernanda. “Uma leitura do Brasil colonial: bases da materialidade e da governabilidade no 
Império”. Penélope. Revista de História e Ciências Sociais, n° 23, 2000, p. 75-79. 
27 Ronald Raminelli afirma que, entre os séculos XVI e XVII, um dos mais constantes serviços prestados à Coroa 
portuguesa no seu ultramar eram as atividades militares, fosse na realização da conquista ou na consolidação da 
soberania portuguesa em regiões fronteiriças. Thiago Krause analisa, de forma pormenorizada, os serviços militares 
prestados – e remunerados – pelos súditos luso-brasileiros nas guerras da Restauração Pernambucana. Ver: 
RAMINELLI, R. J. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. 1. ed. São Paulo: Alameda Casa 
Editorial, 2008 e KRAUSE, Thiago. Em busca da honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e os hábitos 
das Ordens Militares (Bahia e Pernambuco, 1641-1683). Dissertação de Mestrado. Niterói: Universidade Federal 
Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2010. 
28 “Sobre o descobrimento das novas minas de ouro em Cuiabá”. In: Arquivo do Estado de São Paulo. Publicação 
oficial de documentos interessantes para a História e costumes de São Paulo. v. XX. São Paulo: Typographia Aurora, 
1896, v. XXXII, p. 12. 
29 Id., ibid. 
22 
Enfatizava que o Rei “não deixará de premiar a Vossas Mercês, e eu concorrerei com tudo quanto 
puder, como o tempo lhe mostrará”30. 
 Contudo, não apenas em alianças e cooperações se pautou a relação do governador com 
os sertanistas que se estabeleceram em Cuiabá. O caso dos irmãos João Leme e Lourenço Leme 
foi, nesse sentido, emblemático. Herdeiros de tradicional família paulista, os irmãos Leme 
possuíam densas relações de parentesco dentro da capitania de São Vicente31. Isso lhes 
possibilitava contar com um considerável contingente de escravos e agregados, o que os 
transformou em uma força política dentro da região dos descobrimentos32. A natural instabilidade 
do recém-fundado núcleo de povoamento minerador lhes possibilitou constantes interferências 
dentro do equilíbrio político de Cuiabá, de modo a garantir seus interesses nas nomeações para 
cargos e ofícios locais. Fora isso, há relatos sobre o constante envolvimento dos irmãos Leme em 
crimes dentro da região – com diversas acusações de violências e assassinatos33 –, sendo que 
grande parte dessas denúncias chegou até Rodrigo César de Menezes. 
Recém-chegado no governo da Capitania, o Governador estabeleceu tentativas para contar 
com a colaboração dos irmãos. Após um primeiro convite, rejeitado em 31 de maio de 1722, César 
de Menezes, em janeiro de 1723 – aproveitando visita de Lourenço e João a São Paulo para 
comprar mantimentos e escravos – escreveu aos irmãos convidando-os para irem à sede do 
governo34. Garantiu-lhes passagem segura até o seu encontro, com a liberdade de ir e vir portando 
 
30 “Cópia de uma carta que se escreveu para as minas de Cuiabá a Lourenço Leme, Fernando Dias Falcão, João Antunes 
Maciel, Pascoal Moreira Cabral e Antônio Pires”. Publicação oficial de documentos interessantes[...] op. cit., v. XX, 
p. 33. 
31 Um dos mais notórios bandeirantes do século XVII foi Fernão Dias Paes Leme, o “descobridor das esmeraldas”. 
Sobre a empresa realizada por Paes Leme junto ao Governo-Geral na década de 1670, que marcou a primeira grande 
cooperação entre sertanistas de São Paulo e oficiais régios em função dos descobrimentos de ouro e metais preciosos, 
ver: ANDRADE, Francisco Eduardo de. A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos e entrada nos 
sertões do ouro da América portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica Editora/Editora PUC Minas, 2008. 
32 João Fragoso apresenta como, dentro dos próprios serviços militares prestados à Coroa, os súditos mobilizavam não 
apenas familiares e aliados. Escravos, de origem indígena e africana, eram convocados e tinham um papel decisivo 
dentro dos combates. Esse contingente que as famílias conseguiam reunir em torno de si representava, dentro de 
contendas locais, não apenas força militar, como também influência política. Para mais detalhes, ver: FRAGOSO, J. 
L. R. “A nobreza vive em bandos: a economia política das melhores famílias da terra do Rio de Janeiro, século XVII”. 
Tempo. Revista do Departamento de História da UFF, Niterói, v. 8, n. 15, 2003, p. 11-35. 
33 Laura de Mello e Souza traça brevemente um perfil desses sertanistas que atuavam dentro das regiões de fronteira 
da América lusa, citando o caso dos irmãos Leme. Ver: SOUZA, Laura de Mello e. O sol e a sombra. p. 292-297. 
34 Washington Luís transcreveu as cartas. Ver: LUÍS, Washington. Capitania de São Paulo – governo de Rodrigo 
César de Menezes. São Paulo: Typ. Casa Garraux, 1918, p. 70-72. 
23armas, o que foi aceito. Após o encontro, em reunião realizada junto aos oficiais da câmara de São 
Paulo e ao Ouvidor-Geral da Capitania, em 7 de maio de 1723, Lourenço Leme foi nomeado para 
o cargo de Provedor dos quintos régios, enquanto a João Leme foi concedida a patente de 
Sargento-mor das Minas. Os irmãos, contudo, rejeitaram a oferta. Justificavam sua negativa 
argumentando que o cargo de Sargento-mor das Minas era incompatível com a qualidade de João, 
visto que ele já havia ocupado cargo superior nas Minas Gerais. César de Menezes, recebendo a 
notícia, optou então por tornar João Leme Mestre de Campo Regente das Minas de Cuiabá em 
junho de 172335, cedendo à pressão dos sertanistas. 
O Governador, entretanto, mudou sua postura perante ambos ainda no ano de 1723. 
Instrumentalizando os recursos administrativos que o cargo lhe disponibilizava, decidiu retaliar os 
sertanistas que resistiam a cooperar com seu governo. Além disso, vindo da região de Cuiabá, 
Antônio Fernandes Abreu chegou em São Paulo trazendo acusações contra Lourenço e João. 
Abreu responsabilizava os irmãos pelo assassinato de seu pai, além de relatar diversas violências 
e desmandos cometidos por eles. Abriu-se um processo, conduzido por Cesar de Menezes e pelo 
ouvidor-geral Manoel de Mello Godinho Manso, o qual decretou a prisão imediata de ambos. Para 
realizar a diligência de capturá-los em Itu, foram convocados 35 homens da guarnição da fortaleza 
de Santos, além de soldados das ordenanças de Sorocaba, Santana da Parnaíba e Itu. A ordem de 
ataque foi dada por César de Menezes em 15 de setembro de 1723, sob a justificativa de “se 
evitarem as mortes, roubos e insolencias, que têm causado nas novas minas de Cuyabá”36. Todos 
os súditos da capitania foram convidados a cooperar na diligência, prometendo-se liberdade aos 
escravos ou criminosos que o capturassem, vivos ou mortos, assim como recompensa de 400$000 
aos homens livres que o realizassem. Todos os esforços concentrados na perseguição produziram 
rápidos e eficientes resultados, com Lourenço Leme sendo morto em uma perseguição e João 
Leme preso e levado para ser julgado – e enforcado – em Salvador. Tudo isso antes mesmo do fim 
 
35 As cartas enviadas pelos irmãos Leme negando a oferta de Rodrigo César de Menezes foram transcritas 
integralmente por Washington Luís. Ver: LUÍS, Washington, op. cit., p. 73-78. 
36 O bando foi transcrito integralmente por Washington Luís. Ver: id. ibid., p. 88-90. 
24 
do ano de 172337. 
Episódio considerado emblemático pela historiografia bandeirante da primeira metade do 
século XX, a morte dos irmãos Leme representou, para muitos, o fim de uma era. O crepúsculo 
de um movimento que, no século XVII, acabaria por conquistar o que viria a ser parte considerável 
do território brasileiro dos séculos XIX e XX. Os bandeirantes paulistas, mais do que valorosos 
conquistadores, eram também um grupo dotado de cultura e identidade particular, forjadas dentro 
do isolamento geográfico do sertão americano. Profundamente autônomos na sua forma de gerir 
suas questões internas no que tocava a assuntos políticos, militares, da justiça e de administração 
comunitária, encontrariam no governo de Rodrigo Cesar de Menezes um obstáculo novo, que não 
conseguiriam ultrapassar. A autogestão das famílias tradicionais do planalto seria confrontada e 
inviabilizada ao longo de todo o século XVIII38. A máquina administrativa portuguesa far-se-ia 
sentir em São Paulo como nunca, mudando completamente a realidade sociopolítica da região. 
Chegava a hora da submissão bandeirante à Coroa lusa39. 
Ao longo deste primeiro capítulo lançaremos novas luzes sobre o que representou a 
chegada do governador Rodrigo César de Menezes para o governo da capitania. Após a segunda 
metade do século XVII, quando diversos serviços militares foram prestados pelos paulistas à 
Coroa lusa, a descoberta das Minas Gerais significou um marco não apenas para os interesses 
régios no interior do Estado do Brasil, mas também um momento de expectativa por parte dos 
súditos de São Paulo de terem seus esforços devidamente reconhecidos pelo rei. Logo após os 
primeiros anos de ocupação, no entanto, a Guerra dos Emboabas representou frustração e ruptura 
para as ambições dos homens do planalto. Veremos, entretanto, que a monarquia portuguesa 
continuou a se movimentar para garantir que os serviços daqueles vassalos continuassem a ser 
 
37 Washington Luís relata o episódio e o destino dos irmãos Leme. Ver: id. ibid., p. 90-93. 
38 Paulo Prado escreveu um capítulo específico sobre essa conjuntura. Ver: PRADO, Paulo. “Decadência”. In: 
PRADO, Paulo. Paulística: história de São Paulo. Rio de Janeiro: Ariel, 1934, p. 133-162. 
39 Segundo a historiadora Laura de Mello e Souza, a repulsa a esse governador em particular se devia “ao fato de ter 
estabelecido o aparelho do Estado, pondo fim ao período de liberdade e autonomia dos habitantes de São Paulo. [...] 
Por cálculo, esse governador sufocou a altivez da alma sertanista e extirpou-lhe o espírito aventuroso, fazendo com 
que os antigos bandeirantes ficassem de rastros, ‘trêmulos e acobardados’, nas salas do Palácio”. Ver: SOUZA, Laura 
de Mello e. O sol e a sombra, op. cit., p. 293-294. 
25 
prestados, para que novas minas fossem descobertas e para que esperanças de remuneração 
continuassem neles vivas. A chegada de César de Menezes e a separação da Capitania de São 
Paulo das Minas Gerais representou, por essa óptica, não apenas esforço para domar a 
independência e a insubmissão paulista, como também um ato – como outros ao longo da década 
de 1710 – de incentivo para que os paulistas continuassem servindo e mantendo a expetativa 
quanto a tão almejada remuneração futura. 
1.1 As oportunidades do Portugal restaurado 
A São Paulo do século XVII é recheada de histórias que misturam ficção e realidade. 
Episódios como a tentativa de “aclamação” de Amador Bueno, para tentar torná-lo uma espécie 
de “rei” paulista, entre o final de 1640 e o início 1641 é uma delas40. Apesar de não ter chegado a 
ocorrer, a aclamação chama a atenção para os seguintes tópicos: altivez de parte dos súditos de 
São Paulo; revelações sobre a vila, sobretudo sobre o comportamento atípico dos paulistas; e, em 
última instância, indicações de como funcionava a insubmissão dos súditos de São Paulo perante 
interesses que iam de encontro com os seus. E, se muito foi dito sobre fama dos bandeirantes 
paulistas por sua bravura e independência, – desbravando matas, submetendo grupos indígenas, 
descobrindo as minas e expandindo as fronteiras do Império português41 – pesquisas mais recentes 
têm apontado outras reflexões. Cada vez mais joga-se luz sobre a dinâmica do poder na monarquia 
lusa da época moderna e sobre o ethos nobiliárquico reproduzido pelos principais da terra que 
dominavam a vida sociopolítica das vilas e das cidades da América lusa. Esse processo indica os 
 
40 O historiador Rodrigo Bentes Monteiro, dialogando com Luiz Felipe de Alencastro, consegue contextualizar esse 
ato de insubordinação paulista à rebeldia política que já existia na vila de São Paulo de Piratininga. Para ele, o caso da 
“aclamação” de Amador Bueno não representa algo que diz respeito à “mitologia bandeirante”, mas sim à cultura 
política e à realidade socioeconômica da localidade. Ver: MONTEIRO, Rodrigo Bentes. O rei no espelho: a monarquia 
portuguesa e a colonização da América, 1640-1720. São Paulo: Hucitec/FAPESP, 2002. p. 33-72 e ALENCASTRO, 
Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 
367-368. 
41 A vastíssima historiografia apresenta e exalta as ações e os feitos dos bandeirantes paulistas. Três desses clássicos 
podem ser encontrados em: TAUNAY, Affonso de E. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo: Museu 
Paulistas, 1948. 12v.; CORTESÃO, Jaime. Introdução à história das bandeiras. Lisboa:Horizonte, 1975. 2v; e, 
ELLIS JUNIOR, Alfredo. Os primeiros troncos paulistas. 2. ed. São Paulo, Ed. Nacional: Brasília, INL, 1976. 
26 
caminhos que a historiografia de São Paulo colonial vem tomando. 
Teses recentes vêm esclarecendo novas faces da administração monárquica e da natureza 
do poder em Portugal. No reino, o controle da Coroa sobre as elites locais – nos senhorios e 
municipalidades – era limitado42. No ultramar não seria muito diferente. Pesquisas vêm 
evidenciando que o rei não poderia fazer valer seu interesse em seu império sem prescindir de 
alianças com os poderes locais. A delegação de poder às elites locais era um dos mais importantes 
pilares de sustentação da monarquia portuguesa moderna43. No que toca ao ethos nobiliárquico, 
os senhores de engenho não possuíam condições de comprar títulos de nobreza. Contudo, devido 
à predominância de origem plebeia na maior parte das famílias e ao clima de informalidade no 
ultramar, deter terras, escravos, edifícios urbanos e rurais já fazia com que muitos se vissem como 
nobres, atuando como uma espécie de aristocracia estribada na riqueza e no poder. Comandando 
vasta clientela, que muitas vezes se organizava em bandos armados, muitos agiam como fidalgos 
do reino, mesmo sem possuir os papéis que lhes garantissem tal posição44. Ou seja, muitas das 
características utilizadas anteriormente para descrever os súditos paulistas, como altivez, poder de 
negociação e razoável nível de autonomia na gestão de assuntos locais, tornaram-se características 
próprias da vida administrativa de todo o ultramar português45. 
Fora isso, o aprofundamento na compreensão social do que alguns momentos históricos 
significaram para a vida dos vassalos ultramarinos vem enriquecendo o entendimento histórico 
sobre motivações e orientações antes ocultas. Para o caso paulista, especificamente, a União 
 
42 HESPANHA, António Manuel. Às vésperas do Leviathan: instituições e poder político – Portugal – séc. XVII. 
Lisboa: AMH, 1986 (tese apresentada na FCSH da UNL), 2 v. 
43 George Felix Cabral, analisando a Recife do século XVIII, fala que a colaboração entre elite local e Governadores 
nomeados pelo Rei era desejada por parte dos principais da terra, assim como por parte da Coroa. Thiago Krause 
afirma o mesmo para a elite baiana do século XVII. Ver: SOUZA, George Félix Cabral de. Elite y ejercicio del poder 
en el Brasil colonial: la Cámara municipal de Recife (1710-1822). Tesis (Doctorado en História) – Departamento de 
História, Universidad de Salamanca, 2007 e KRAUSE, Thiago. A Formação de uma nobreza ultramarina: Coroa e 
elites locais na Bahia seiscentista. Tese de doutorado, Rio de Janeiro: PPGHIS/UFRJ, 2015. 
44 Nobrezas do Novo Mundo: Brasil e ultramar hispânico, século XVII e XVIII. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 
2015. p. 23-24; 119-120. 
45 Evaldo Cabral de Mello apresenta como a açucarocracia pernambucana, após a expulsão dos holandeses, procurou 
renegociar o pacto político com Portugal. Ressalta, inclusive, a percepção contratualista de poder que eles enunciaram. 
Ver: MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: o imaginário da restauração pernambucana. São Paulo: Alameda, 2008, 
p. 89-92. 
27 
Ibérica e a Restauração monárquica de 1640 são exemplos substanciais. A União Ibérica é um 
tema que tem sido revisitado por historiadores nas últimas décadas. Tanto no Brasil quanto no 
estrangeiro, as seis décadas de inserção de Portugal na órbita dos Habsburgo têm gerado reflexões 
sobre a sociedade que foi gestada naquele momento46. Alianças firmadas, redes comerciais 
montadas e mudanças administrativas implementadas somam num conjunto de acontecimentos 
que afetou profundamente a vida e sociedade da América lusa47. A realidade sociopolítica da 
década de 1640 carregava muito das ações, das políticas e da cultura institucional que a monarquia 
espanhola trouxe consigo e que implementou no mundo ultramarino português48. 
São Paulo não passaria incólume a esse processo: a pesquisa de José Carlos Vilardaga 
demonstra uma sociedade paulista marcadamente afetada pelos interesses e pelas intervenções dos 
Habsburgo. O descobrimento de minas no interior da capitania de São Vicente era um real 
propósito da Coroa espanhola, que investiu na empresa com a fixação na capitania de membros 
da armada de D. Diego49. A vinda do Governador-Geral Francisco de Souza com a sua comitiva 
para morarem em São Paulo, após a notícia de achados minerais, modificou significativamente a 
dinâmica interna da vila50. Dotado de um projeto minerador que visava reproduzir na capitania o 
 
46 Para uma visão detalhada a respeito do quadro institucional e político de Portugal no tempo da União Ibérica, ver: 
BOUZA ALVAREZ, Fernando. Portugal no tempo dos Filipes: política, cultura e representações (1580- 1668). 
Lisboa: Edições Cosmos, 2000. 
47 Redes clientelares e de matrimônio foram firmadas. Um exemplo clássico é o do governador Salvador Corrêa de Sá 
e Benevides, que era casado com uma rica criolla espanhola e possuía conexões comerciais e familiares em Potosí e 
Buenos Aires. Para mais detalhes, ver: BOXER, Charles R. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola. São Paulo: 
Companhia Editora Nacional-Edusp, 1973. 
48 Guida Marques cita reformas político-administrativas que envolviam não apenas Portugal, como também o Brasil. 
Houve alargamento da rede de oficiais da Coroa, com a criação de oficiais do tipo comissarial e a criação da Junta da 
Fazenda Real em 1612. Ver: MARQUES, Guida. “O Estado do Brasil na União Ibérica”. In: Penélope. Fazer e desfazer 
a história., n. 27, 2002, p. 7-19. 
49 Felipe II montou armada em 1581, logo após a anexação de Portugal, comandada pelo almirante asturiano Diego 
Flores Valdés. A ela competiria a descrição dos portos e das capitanias do Brasil e a fortificação do estreito de 
Magalhães. Contudo, após passar pelo Rio de Janeiro, e com dificuldades para chegar no Estreito, Valdés decidiu 
ancorar em São Vicente em 15 de abril de 1583. Lá chegando, fez alianças com autoridades locais, ajudou a terminar 
o forte de Barra Mansa. Parte da sua armada decidiu se enraizar na capitania, inclusive seu sobrinho Miranda, que se 
casou com a filha do capitão-mor Jerônimo Leitão. O motivo da aliança e desse enraizamento foi justificado, em carta 
a Coroa espanhola em julho de 1584, na qual descrevia a parte sul do Brasil como dotada de portos importantes, além 
de deter inúmeras riquezas e grande potencial de minas de ouro e prata. Para maiores detalhes, ver: VILARDAGA, 
José Carlos. São Paulo na órbita do Império dos Felipes: conexões castelhanas de uma vila da América Portuguesa 
durante a União Ibérica (1580-1640). 2010.Tese (Doutorado em História Social) – Departamento de História da 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. p. 44-62. 
50 José Carlos Vilardaga trata da jornada de D. Francisco de Sousa em São Paulo. Ver: VILARDAGA, op. cit. p. 254-
270. 
28 
modelo de Potosí, a intenção do Governador era forjar um núcleo que integrava o tripé mineração-
agricultura-metalurgia para viabilizar um polo autossustentável de extração e escoamento de ouro. 
Para isso, expedições militares para o sertão foram realizadas, com o intuito de apresar índios para 
trabalharem no projeto como mão-de-obra excedente. Técnicas de entrada no sertão e de guerra 
aos gentios foram aprimoradas, assim como a logística e o conhecimento necessário para 
sobreviver durante essas expedições. Fora isso, a agricultura de trigo foi incentivada, o que fez 
com que São Paulo fosse uma das maiores abastecedoras do produto para outros polos da América 
lusa ao longo de todo o século XVII. Mesmo o projeto minerador tendo fracassado, o efeito 
dinamizador que a fixação do governador-geral teve na vila produziu impactos naquela sociedade, 
incentivando o apresamento de índios e a produção agrícola para o mercado interno do Estado do 
Brasil. Por fim,os ataques às reduções jesuíticas nas décadas de 1620-30 não se justificavam 
apenas através da psicologia dos homens do planalto, mas pelo acirramento da disputa pelo 
controle da mão de obra indígena com os inacianos e por uma conjuntura econômica favorável de 
mercado consumidor no Nordeste, que as famílias paulistas almejavam aproveitar51. 
A Restauração Portuguesa de dezembro de 1640, representando rompimento abrupto com 
o período anterior, foi momento de virada histórica para Portugal. Após 60 anos de União Ibérica, 
a sublevação de nobres portugueses, que reivindicava a autonomia do reino, encontrava 
resistências internas cuja superação não era certa52. A inserção de diversos setores lusos dentro 
das malhas do governo Filipino foi profunda, e o sentimento de pertencimento à Espanha foi 
nutrido ao longo de mais de uma geração53. Nem todos desejavam aquele rompimento 
 
51 Luiz Felipe de Alencastro argumenta que a invasão holandesa em Pernambuco, somada à tomada de Angola pelos 
holandeses, que limitou o acesso aos escravos e o saque de navios portugueses no Atlântico, fizeram com que o 
Nordeste fosse atingido por uma crise de produção e abastecimento. Nesse contexto, os súditos de São Paulo foram 
importantes no socorro àquelas capitanias com mantimentos. Ver: ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes, 
op. cit. p. 194-196. 
52 VALLADARES, Rafael Ramírez. "El Brasil y las Indias españolas durante la sublevación de Portugal (1640-1668)”. 
In: Cuadernos de Historia Moderna, No. 14, Madrid: Editorial Complutense, 1993. 
53 Apesar da insatisfação com a política fiscal implementada pelo Conde-Duque de Olivares, não havia consenso em 
relação à legitimidade do movimento Restaurador dentro da própria nobreza portuguesa. Mafalda Soares da Cunha 
argumenta que pouco menos da metade da aristocracia lusitana optou por Madrid ou teve posições profundamente 
ambíguas face à cisão com a Monarquia Hispânica. Ver: CUNHA, Mafalda Soares da. “Os insatisfeitos das honras. 
Os aclamadores de 1640”. In: SOUZA, Laura de Mello e, FURTADO, Júnia Ferreira e BICALHO, Maria Fernanda 
(orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009, p. 486. 
29 
institucional. Além disso, o inevitável confronto militar com a Espanha e Holanda54, essa última 
detentora de parte da capitania de Pernambuco, agravavam a situação. Inimigos externos e internos 
colocavam diversas travas a um movimento germinado, pelo menos em parte, por uma questão 
conjuntural, de pressão fiscal submetida pelo Conde-Duque de Olivares55. Ou seja, o movimento 
de Restauração era passível de sucumbir logo nos seus primeiros passos, nada pequenos, dentro 
daquela conjuntura histórica de meados do século XVII. Os riscos eram inúmeros. Portanto, as 
ações da Coroa portuguesa para produzir lealdade e legitimidade passaram a ocupar parte dos 
estudos sobre esse período. Os efeitos de tal processo na historiografia brasileira vieram à tona em 
uma questão de tempo, assim como um dos relevantes pontos relacionados a esse fenômeno, o que 
tratava sobre os súditos de São Paulo. 
Profundamente renovado a partir da década de 1990, o olhar de historiadores sobre o 
planalto paulista tem se nutrido de obras que marcaram a produção historiográfica do período, 
como a que se refere ao acúmulo de excedente comercial pelos colonos56. Contudo, foi justamente 
a conscientização a respeito de uma Coroa portuguesa necessitada de serviços militares e de 
lealdade no pós-Restauração que abriu a porta para a retirada definitiva de São Paulo das matas 
profundas do isolamento geográfico e cultural que historiadores da primeira metade do século XX 
a inseriram. Isso deveu-se, sobretudo, ao fato de o império ter concentrado cada vez mais as suas 
 
54 Ronaldo Vainfas apresenta Antonio Vieira como homem influente na corte de D. João IV e como ele chegou a 
defender, em 1647, a compra de Pernambuco pelos holandeses, dada a incapacidade portuguesa de realizar a guerra 
aos holandeses na América. Ver: VAINFAS, Ronaldo. Antônio Vieira: jesuíta do Rei. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2011. 
55 A política implementada pelo Conde-Duque de Olivares para romper com a insoliedariedade fiscal dos reinos que 
compunham a Monarquia espanhola encontrou fortíssimas resistências. Ver: BERNAL, Antonio Miguel. España, 
proyecto inacabado. Costes / benefícios del Império. Madrid: Fundación Carolina – Centro de Estúdios Hispânicos e 
Iberoamericanos – Marcial Pons, 2005. 
56 No que toca à acumulação de excedente comercial pelas famílias enraizadas no Brasil, John M. Monteiro e Luiz 
Felipe de Alencastro retiraram a São Paulo colonial da cultura de subsistência e a inseriram no abastecimento do 
mercado interno brasileiro. Alencastro fala do abastecimento, por parte dos súditos de São Paulo, às capitanias do 
Nordeste na época da ocupação holandesa. Monteiro fala sobre a agricultura de trigo que se desenvolveu em São Paulo 
do século XVII, fonte desse abastecimento, produzindo excedente comercial controlado pelas famílias de São Paulo. 
Ambos quebraram a lógica de isolamento econômico que imperava sobre a ótica historiográfica da primeira metade 
do século XX, defendida por autores como Paulo Prado e Basílio de Magalhães, inserindo a vila/cidade paulista nos 
circuitos econômicos de abastecimento interno da América lusa. Ver: MONTEIRO, John M. Negros da Terra: índios 
e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994; ALENCASTRO, Luiz Felipe. O 
trato dos viventes, op. cit., p. 194-196; PRADO, Paulo. Paulística: história de São Paulo. Rio de Janeiro: Ariel, 1934 
e MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geographica do Brasil Colonial. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 
1935. 
30 
atenções econômicas na região do Atlântico Sul, principalmente na relação Brasil-Angola57. 
Assim, América lusa passou, a partir da Restauração, a ganhar uma nova conotação e 
importância para Portugal. Obras como as de Pedro Puntoni58, Francisco de Andrade59, Marcio 
Santos60, Ilana Blaj61, Adriana Romeiro62 e Silvana Godoy63, todas fundamentais por lançarem 
olhares mais complexos e profundos sobre a relação Portugal-São Paulo, analisam a importância 
da atração de paulistas, que buscavam a tão almejada remuneração régia, para a órbita de 
influência da Coroa através de serviços militares. Esses estudos têm como ponto de partida as 
guerras realizadas pelos sertanistas paulistas na segunda metade do Seiscentos – e da sua 
importância para a construção daquela monarquia64. Além disso, tais estudiosos colocaram foco 
 
57 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes, op. cit. 
58 Pedro Puntoni apresenta a estratégia da monarquia portuguesa de incentivar a interiorização de súditos nas capitanias 
do nordeste, através do estabelecimento da pecuária, para diversificar a economia colonial na segunda metade do 
século XVII. Contudo, a expansão produziu conflitos com índios tapuias estabelecidos no interior dessas capitanias, 
gerando conflito conhecido como Guerra dos Bárbaros, onde os sertanistas de São Paulo foram convocados pela Coroa 
para participar do confronto, tendo protagonismo em vitórias importantes. Ver: PUNTONI, Pedro. A Guerra dos 
Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: 
Hucitec/Edusp/Fapesp, 2002. 
59 Francisco de Andrade demonstra como a economia das mercês foi um instrumento utilizado tanto pela Coroa lusa 
como pelos seus súditos de São Paulo para fomentar expedições que visavam o achado de ouro e minerais preciosos. 
Ver: ANDRADE, Francisco Eduardo de. A invenção das Minas Gerais: empresas, descobrimentos e entrada nos 
sertões do ouro da América portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica Editora/Editora PUC Minas, 2008. 
60 Marcio Santos apresenta a descontinuidade na qual a ocupação da fronteira da América lusa foi realidade, no recorte 
temporal entre 1640 e 1750, em ação incentivada pela Coroa. Os paulistas, que tinham não apenasserviços militares 
para prestar, mas também terras para ocupar com fazendas de gado, foram os protagonistas de episódios analisados 
pelo historiador. Ver: SANTOS, Marcio. Fronteiras do sertão baiano: 1640-1750. Tese de Doutorado em História 
Social. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010. 
61 Ilana Blaj, analisando a formação da elite de São Paulo entre o final do século XVII e o início do XVIII, argumenta 
que os serviços prestados para a Coroa portuguesa no período foram parte recorrente do ethos nobiliárquico 
reproduzido pelas famílias locais. Ver: BLAJ, Ilana. A trama das tensões: o processo de mercantilização de São Paulo 
colonial (1681-1721). São Paulo: Humanitas; FFLCH, USP; FAPESP, 2002. P. 322-338. 
62 Adriana Romeiro, apresentando um renovado olhar sobre o conflito emboaba, enfatiza a importância para os 
paulistas dos serviços prestados para a Coroa lusa na segunda metade do Seiscentos. Investiga também como muitos 
governadores enfatizavam a sede que os principais da terra de São Paulo possuíam por mercês e privilégios. Os 
Regimentos das Minas de 1700 e 1702, devido às próprias reivindicações dos homens do Planalto, privilegiava-os na 
concessão de datas e no controle de postos militares. Ver: ROMEIRO, Adriana. Paulistas e emboabas no coração das 
minas: ideias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. 
63 Silvana Godoy apresenta a importância dos serviços prestados pela família Pedroso de Barros para a Coroa lusa no 
período na guerra contra os holandeses, na década de 1640, culminando em seu enriquecimento e posse da maior 
quantidade de escravos indígenas do planalto. Ver: GODOY, Silvana Alves de. Mestiçagem, guerras de conquista e 
governo dos índios. A vila de São Paulo na construção da monarquia portuguesa na América. Séculos XVI e XVII). 
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de História, Programa de Pós-Graduação em 
História Social, 2017. P. 179-186. 
64 Em minha dissertação investiguei como a colaboração São Paulo-Portugal foi decisiva, na segunda metade do século 
XVII, para a construção da soberania lusa nas fronteiras da América portuguesa. Ver: DARIO FILHO, Luiz. P. 
Lealdade em construção: a (re)inserção de São Paulo nas malhas administrativas do Império português (1641-1698). 
Dissertação de Mestrado. Niterói: Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, 
Departamento de História, 2016. 
31 
na conjuntura, assim como em suas demandas específicas, como fatores decisivos na definição de 
um cenário sociopolítico bastante diferente daquele da primeira metade do século. Com base nisso, 
podemos compreender que, além de São Paulo não estar isolado economicamente do mercado 
colonial, não havia também isolamento político e militar. A inserção dessa vila no mundo cultural 
do antigo regime português existia, apesar da interação não ser tão frequente como nas regiões 
litorâneas e de estar mais ligada às necessidades do momento político, econômico e militar pelo 
qual a monarquia passava. 
Uma questão importante para a compreensão dessa inserção paulista nas malhas 
administrativas e militares da monarquia lusa é o papel que o Conselho Ultramarino ganhou na 
arquitetura de conselhos e tribunais portugueses da segunda metade do século XVII. Salvador 
Correa de Sá e Benevides, em uma carta ao Rei, defendia o papel do Conselho Ultramarino, criado 
em 1643, dentro da engrenagem administrativa do ultramar luso. Para ele, o tribunal conferiria 
estímulo e condições que favoreceriam os serviços prestados pelos súditos que lá estavam. Dava, 
inclusive, como exemplo “que havendo muito que se tinha encarregado ao governador geral o 
descobrimento das esmeraldas, se não pôs em execução, senão agora, que se remeteram as ordens 
pelo Conselho Ultramarino ao governador do Rio de Janeiro”65. Ou seja, de acordo com sua 
argumentação, muitos dos súditos tinham receio de prestar serviços para a monarquia por temerem 
que seus esforços não fossem reconhecidos, ou que fossem simplesmente apropriados por 
autoridades com maior reputação e prestígio. Apesar disso, a função daquele Conselho era a de 
fornecer voz e possibilidade institucional de escuta e negociação, funcionando como um tribunal 
de mediação e de fornecimento de segurança jurídica mínima aos vassalos do ultramar que tanto 
investiam suas fazendas em serviços régios66. Por conseguinte, o papel do Conselho era 
fundamental, inclusive para as ambições da própria Coroa portuguesa de garantir a sua soberania 
 
65 AHU, Rio de Janeiro, Castro e Almeida, Cx. 3, Doc. 519. 
66 LOUREIRO, Marcello. Iustitiam Dare. A gestão da monarquia pluricontinental: Conselhos Superiores, pactos, 
articulações e o governo da monarquia pluricontinental portuguesa (1640-1668). Rio de Janeiro, Tese (Doutorado), 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014, p. 441-442. 
32 
no Estado do Brasil. 
O caso do descobrimento das minas, citado por Corrêa de Sá e Benevides em 1646, é 
interessante para compreender a história de São Paulo. Em 1605, D. Francisco de Souza foi a 
Madri, arregimentando o seu projeto de integração de São Paulo à região paraguaia e fomentando 
seu projeto minerador no planalto. Tendo costurado densa rede de apoio entre as principais 
famílias paulistas da época, ele sofria acusações na Corte, muitas das quais buscavam desacreditar 
sua empreitada e destituí-lo da autoridade que possuía. Sua intenção, chegando em Madrid em 
1606, foi de arquitetar sua defesa, reivindicando a criação do governo da Repartição Sul do Brasil 
– o que conseguiria, sendo nomeado Governador – e mais mercês e patentes de postos militares e 
civis para distribuir e fortalecer a sua rede de apoio local. Voltou a São Paulo triunfante, em 1609, 
com o direito de conceder 20 hábitos da ordem de Cristo e armar mais cem cavaleiros67. Contudo, 
a morte abrupta do governador, em 1611, encerrou o projeto, sendo desfeitas já em 1612 as 
mudanças administrativas por ele requisitadas. De forma repentina, as minas de Jaraguá, Viraçoiba 
e Vuturana desaparecem da documentação paulista, assim como os esforços para dar 
prosseguimento ao projeto minerador. 
José Carlos Vilardaga afirma que o cenário foi também de derrota para os súditos de São 
Paulo. Já sem garantia de mercês e de terem os seus serviços remunerados, ainda mais depois da 
reversão repentina das medidas conquistadas por D. Franscisco de Souza na Corte, a colaboração 
para o projeto minerador já não lhes interessava. Vilardaga conclui, inclusive, que parte do vulgo 
“orgulho” e rebeldia paulista teriam nascido da presença e da atuação do governador na região, 
que colocou a vila como lugar de prestígio no império Filipino. Além disso, a insubmissão seria 
oriunda da frustração, derivada do inesperado e rápido fim do sonho dourado da transformação 
desses homens em uma elite imperial68. Em suma, a postura de altivez e resistência dos paulistas 
 
67 VILARDAGA, José Carlos. São Paulo na órbita do Império dos Felipes: conexões castelhanas de uma vila da 
América Portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640). 2010.Tese (Doutorado em História Social) – Departamento 
de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. p. 165. 
68 Id., ibid. p. 180-187. 
33 
aos interesses da Coroa espanhola e a seus representantes teria origem no sentimento de injustiça 
de como suas demandas foram ignorados nesse episódio. 
Um caso similar ocorreu em outubro de 164969 quando, nas atas da Câmara de São Paulo, 
circulavam novas notícias de descobrimento de ouro, agora na vila de Paranaguá. Em 28 de 
novembro de 1651, D. João IV escreveu para a vila comentando as amostras de pedras enviadas 
para Lisboa e estimulando novos achados70. Já em 1652, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, 
nomeado oficialmente governador das minas da Repartição

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