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FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE FLU XO D E CARG A E ESTABILID AD E Eric Bernardo da Silva e Shigueru Nagao JuniorEric Bernardo da Silva e Shigueru Nagao Junior G RU PO SER ED U CACIO N AL gente criando o futuro A disciplina de Fluxo de Carga e Estabilidade, presente nos cursos de Engenharia Elé- trica, é de fundamental importância para o engenheiro elétrico. Principalmente para àqueles que irão trabalhar em usinas de energia elétrica ou estações de distribuição. Através de explicações passo a passo em cada etapa do estudo, o estudante com- preenderá o funcionamento dos sistemas elétricos de potência em uma rede de trans- missão de corrente alternada, bem como seus principais componentes. Para que o estudante se familiarize com os termos matemáticos abordados, ele re- ceberá exercícios que simulam situações hipotéticas de funcionamento dos compo- nentes da rede elétrica, em situações específi cas. Isso o ajudará a colocar em prática o conhecimento teórico adquirido. Untitled-5 1,3 30/04/20 09:24 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Eric Bernardo da Silva e Shigueru Nagao Junior DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 2 29/04/2020 14:58:33 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 3 29/04/2020 14:58:33 Unidade 1 - Introdução ao cálculo de fluxo de carga Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 Definições e componentes das redes elétricas ............................................................. 14 História .............................................................................................................................. 14 Componentes das redes elétricas ................................................................................ 18 Elementos ligados entre um nó (barra) qualquer e o nó (barra) terra .................... 19 Elementos ligados entre dois nós (barras) quaisquer ............................................... 20 Definição do problema e modelagem da barra .............................................................. 21 Aplicações ........................................................................................................................ 23 Modelagem de linhas de transmissão ......................................................................... 24 Modelagem dos transformadores ................................................................................ 26 Equações de correntes e equações de fluxo de potências ......................................... 32 Fluxo de potência para linhas de transmissão ........................................................... 32 Fluxo de potência para transformador em fase ......................................................... 33 Fluxo de potência para transformador defasador ..................................................... 33 Formulação matricial I = YE ............................................................................................... 34 Potências nodais ............................................................................................................. 36 Sintetizando ........................................................................................................................... 37 Referências bibliográficas ................................................................................................. 38 Sumário SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 4 29/04/2020 14:58:33 Sumário Unidade 2 - Métodos iterativos de solução do fluxo de carga em uma rede elétrica Objetivos da unidade ........................................................................................................... 40 Métodos iterativos aplicados a sistemas de equações ............................................... 41 Método de Gauss-Seidel ................................................................................................ 43 Método de Newton-Raphson ........................................................................................ 45 Método de Newton-Raphson aplicado a sistemas não lineares ............................ 47 Matrizes de rede ................................................................................................................... 49 Matriz de admitâncias nodais (matriz Y) ..................................................................... 50 Matriz de impedâncias nodais (matriz Z) ................................................................... 52 Fluxo de carga nos sistemas elétricos de potência ...................................................... 57 Resolução pelo método de Gauss-Seidel ................................................................... 58 Resolução pelo método de Newton-Raphson ............................................................ 61 Resolução pelo método de Newton-Raphson desacoplado .................................... 64 Sintetizando ........................................................................................................................... 66 Referências bibliográficas ................................................................................................. 67 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 5 29/04/2020 14:58:34 Sumário Unidade 3 - Controle e limites Objetivos da unidade ........................................................................................................... 69 Introdução a controle e limites ......................................................................................... 70 Modos de representação ............................................................................................... 73 Controle de tensão em barras PV ................................................................................. 75 Limite de tensão em barras PQ .......................................................................................... 77 Transformadores em fase com controle automático de TAP ................................... 78 Transformadores defasadores com controle automático de fase .......................... 83 Controle de intercâmbio entre áreas ................................................................................ 85 Ajuste alternado e simultâneo ......................................................................................87 Controle de tensão em barras remotas e cargas variáveis com a tensão ............ 88 Introdução ao fluxo de carga linearizado ....................................................................... 89 Formulação matricial ...................................................................................................... 90 Modelo CC ........................................................................................................................ 91 Sintetizando ........................................................................................................................... 92 Referências bibliográficas ................................................................................................. 93 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 6 29/04/2020 14:58:34 Sumário Unidade 4 - Técnicas de esparsidade e estabilidade do sistema elétrico de potência Objetivos da unidade ........................................................................................................... 95 Técnicas de esparsidade .................................................................................................... 96 Graus de esparsidade de uma matriz ............................................................................... 98 Esquemas de armazenamento compacto de matrizes esparsas ................................. 99 Esquema de Knuth ......................................................................................................... 100 Esquema circular KRM (Knuth-Rheinboldt-Mesztenyi) .......................................... 101 Esquema circular KRM modificado ............................................................................ 102 Esquema RR(C)O (Row-wise Representation Complete and Ordered) ................ 103 Esquema de Zollenkopf ................................................................................................ 104 Resolução de sistemas de equações algébricas lineares envolvendo matri- zes esparsas ................................................................................................................... 105 Estabilidade do sistema elétrico de potência .............................................................. 107 Estabilidade angular ..................................................................................................... 109 Estabilidade de tensão ................................................................................................. 109 Estabilidade de frequência ......................................................................................... 110 Dinâmica do rotor e equação de oscilação .................................................................. 110 Equação do ângulo de potência ...................................................................................... 111 Coeficiente de potência sincronizante ...................................................................... 113 Critério da igualdade de área para estabilidade ...................................................... 114 Representação clássica de estabilidade multimáquinas ....................................... 116 Solução passo a passo da curva de oscilação ........................................................ 117 Sintetizando ......................................................................................................................... 119 Referências bibliográficas ............................................................................................... 121 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 7 29/04/2020 14:58:34 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 8 29/04/2020 14:58:34 A disciplina de Fluxo de Carga e Estabilidade, presente nos cursos de En- genharia Elétrica, é de fundamental importância para o engenheiro elétrico. Principalmente para aqueles que irão trabalhar em usinas de energia elétrica ou estações de distribuição. Através de explicações passo a passo em cada etapa do estudo, o estudante compreenderá o funcionamento dos sistemas elétricos de potência em uma rede de transmissão de corrente alternada, bem como seus principais componentes. Para que o estudante se familiarize com os termos matemáticos abordados, ele receberá exercícios que simulam situações hipotéticas de funcionamento dos componentes da rede elétrica, em situações específi cas. Isso o ajudará a colocar em prática o conhecimento teórico adquirido. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 9 Apresentação SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 9 29/04/2020 14:58:34 Ao meu pai, José Carlos da Silva, minha mãe, Jurema Bernardo da Silva e minha noiva, Erica Sócio da Silva e Sá. O professor Eric Bernardo da Silva tem mestrado em Física Nuclear pelo Instituto de Pesquisa Energética e Nuclear IPEN-USP (2018) e estágio no ISOLDE-CERN durante sua pesquisa de mestrado com fi nanciamento e apoio da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos da América, e da Comissão Nacional de Energia Nu- clear (CNEN). Também possui licencia- tura em Física pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP (2014). Atua como professor em cursos de Engenha- ria, Recursos Humanos, Marketing e Matemática desde agosto de 2018. Realizou pesquisas em simulação, construção e testes de um detector de múons para raios cósmicos na USP (agosto/2013 - julho/2014); modelos cosmológicos no IFSP (setembro/2012 - julho/2013); e fundamentos de Física Moderna no estudo de modelos cos- mológicos no LFTC na UNICSUL (mar- ço/2011 - junho/2012). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0401034758913065 FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 10 O autor SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 10 29/04/2020 14:58:43 Esta obra é dedicada à minha família. Eles são a minha fonte inspiradora e motivadora. O professor Shigueru Nagao Junior é mestre em Sistemas de Potência pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP (2017) e graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE (2012). Atual- mente, é pesquisador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Uni- versidade de São Paulo e coordenador de ensino superior nas disciplinas rela- cionadas à Tecnologia da Informação do Centro Universitário UniDrummond. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3751061631641930 O autor FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 11 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 11 29/04/2020 14:58:50 ERIC BERNARDO DA SILVA 1 UNIDADE SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 12 29/04/2020 15:00:07 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Definir e apresentar o problema do fluxo de carga por meio da introdução dos conceitos fundamentais do assunto; Analisar os principais componentes de uma rede elétrica; Desenvolver os cálculos fundamentais de modelagem para esses componentes e seu funcionamento; Desenvolvimento matemático das características fundamentais da matéria. Definições e componentes das redes elétricas História Componentes das redes elé- tricas Elementos ligados entre um nó (barra) qualquer e o nó (barra) terra Elementos ligados entre dois nós (barras) quaisquer Definição do problema e mode- lagem da barra Aplicações Modelagem de linhas de trans- missão Modelagem dos transforma- dores Equações de correntes e equa- ções de fluxo de potências Fluxo de potência para linhas de transmissão Fluxo de potência para trans- formador em fase Fluxo de potência para trans- formador defasador Formulação matricial I = YE Potências nodais FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 13 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 13 29/04/2020 15:00:07 Definições e componentes das redes elétricas Fluxo de carga, ou fl uxo de potência, defi ne-se pelo estudo que tem por objetivo determinar o estado de uma rede elétrica por meio dos caminhos percorridos pe- las potências ativas e reativas em todos os elementos da rede elétrica, assim como tensão e corrente elétrica. É através do cálculo do fl uxo de potência que se pode determinaro estado de uma rede elétrica. Partimos do pressuposto de que a modelagem do siste- ma é estática, ou seja, admite-se que o tempo em consideração é tão pequeno que tende a zero e, portanto, será desconsiderado pelo conjunto das equações algébricas não lineares. Há outras situações em que a modelagem é dinâmica, considerando um in- tervalo de tempo não nulo, e fará uso de cálculos computacionais. Entretanto, esse não será nosso objeto de estudo nesta unidade. Os principais objetivos do estudo de fl uxo de potência são a se- gurança da rede elétrica, para que a mesma continue operando sem interrupção da transmissão de energia, o planejamento e a operação para que a rede elétrica continue operando dentro dos limites de segurança, atendendo o aumento constante da demanda. História Na história da industrialização é notável o papel que a energia e suas fontes têm no desenvolvimento desse fenômeno. Desde que o processo de industria- lização se iniciou, o ser humano sempre esteve preocupado com a quantidade de energia que consome, como preservar a maior quantidade de energia e ob- ter o melhor resultado possível de seu uso. Um exemplo disso é transportar algo de um ponto para outro evitando desper- dícios que resultem no encarecimento do produto fi nal. Além disso, outro fator de importância é qual o tipo de energia usar em cada situação específi ca, consideran- do que sua fonte não é inesgotável e deve ser preservada de maneira inteligente. Em todos esses processos sempre há a conservação e transformação da energia entre um tipo e outro, e o fl uxo de potência é uma das ferramentas FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 14 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 14 29/04/2020 15:00:07 de conversão e transporte de energia usual atualmente. Façamos uma breve leitura dos principais eventos históricos que contribuíram para a evolução do sistema de fluxo de potência. ASSISTA Na série Gigantes da indústria, do canal a cabo History Chanel, é apresentado o contexto histórico em que a ener- gia elétrica foi desenvolvida e industrializada até chegar ao formato que conhecemos hoje. Além disso, no episódio também são apresentados Thomas Edson, Nikola Tesla e outras figuras importantes da industrialização, não só da energia elétrica, mas de outros equipamentos que contri- buíram para o desenvolvimento do setor. O desenvolvimento de sistemas de corrente alternada se iniciou em 1885, nos Estados Unidos da América (EUA), quando George Westinghouse comprou as patentes dos sistemas de transmissão de corrente alternada de L. Gaulard e J. D. Gibbs (STEVENSON, 1986). A primeira linha de transmissão de corrente alternada dos EUA foi posta em operação em 1890, transportando energia elétrica de uma usina hidroelé- trica a distância de 21 km, das cataratas de Willamette até Portland, Oregon. A primeira linha de transmissão era monofásica e sua energia era usada apenas para iluminação. Até mesmo os primeiros motores eram monofásicos, mas em 1888 Nikola Tesla apresentou um artigo com motores de duas fases. As vantagens do motor polifásico foram imediatas, e uma demonstração de um sistema de corrente alternada (AC ou CA) de duas fases foi a público no Columbiam Exposition em Chicago em 1893. A partir de então, a transmissão de eletricidade por corrente alternada foi substituindo a transmissão por corrente contínua. Em janeiro de 1894 havia cinco usinas geradoras de eletricidade nos EUA, sendo uma de duas fases e as outras quatro trifásicas. Uma das razões da rápida aceitação dos sistemas AC foi o transformador, que tornava possível a transmissão de energia elétrica em voltagens maiores do que as utilizadas na usina gera- dora. Uma transmissão de alta voltagem requer menos corrente na linha de transmissão para uma potência dada, o que resulta em menor perda de RI2 na linha. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 15 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 15 29/04/2020 15:00:07 Além disso, um gerador de corrente alternada é um dispositivo mais simples do que um gerador de corrente contínua, o que constitui uma grande vantagem. A única forma de transferir energia elétrica é por meio de cabos e fi os elétricos interligados por estações de distribuição em pontos estratégicos. A demanda por energia elétrica no século XX, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, cresceu exponencialmente e, com isso, cada vez mais se fez necessário implementar melhorias no sistema de transmissão e distri- buição a fi m de entregar um produto barato e efi ciente ao maior número de consumidores possível. A Tabela 1 ilustra a produção de energia elétrica nos EUA em intervalos de dez anos entre as décadas de 1920 e 1950. Podemos ver o quanto a de- manda de energia elétrica cresceu no período mencionado, e é aí que entra o engenheiro elétrico com estudos e previsões de futuros crescimentos de demanda por energia. O engenheiro elétrico é responsável por pensar nas instalações em locais apropriados, na distribuição, na segurança, etc. ANO CAPACIDADE (KW) PRODUÇÃO ANUAL (KWH) 1920 12713608 39404639000 1930 32384363 91111548000 1940 39926881 141837010000 1950 68919040 329141343000 19201920 1930 19401940 1950 1271360812713608 32384363 12713608 3238436332384363 3992688139926881 68919040 39926881 6891904068919040 3940463900039404639000 91111548000 39404639000 91111548000 39404639000 91111548000 141837010000 91111548000 141837010000 329141343000 91111548000 141837010000 329141343000 141837010000 329141343000329141343000329141343000 TABELA 1. RESUMO DE ALGUNS DADOS DE PRODUÇÃO ANUAL DE ELETRICIDADE EM KWH E CAPACIDADE EM KW, SEPARADOS POR DÉCADAS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX NOS EUA Fonte: ANDERSON, 1995, p. 4. O Brasil não fi cou muito atrás e, no início do século XX, viu a energia elétrica sendo bastante utilizada nas principais cidades do país. Porém, na primeira metade do mesmo século os sistemas de geração e distribuição eram todos isolados, de modo que não se comunicavam entre si e a eletricidade gerada era transportada diretamente para os pontos de consumo. Com o passar do tempo, o aumento de demanda por potências cada vez maiores e maior confi abilidade no uso de energia elétrica contribuiu para a FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 16 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 16 29/04/2020 15:00:11 interligação das redes a sistemas vizinhos. As primeiras interligações ocor- reram na região Sul-Sudeste do Brasil onde a interligação era feita apenas conectando subsistemas individuais (blocos) com usinas, transformadores, linhas de transmissão e sistemas de distribuição. Na década de 1990, o sistema Norte-Nordeste foi interligado ao sistema Sul-Sudeste por meio de linhas de transmissão de corrente alternada de 500 kV com cerca de 1200 km de extensão. Esse novo sistema chamado de Furnas conecta a subestação Imperatriz - MA à subestação de Serra da Mesa, em Goiás. Graças ao estudo do fluxo de potência, foi possível prever que essa inter- ligação seria capaz de transmitir até 1300 MW de potência tanto no sentido norte quanto no sentido sul por meio de capacitores ligados em série e rea- tores ligados em paralelo. Hoje as empresas de geração e distribuição de energia compreendem o chamado Sistema Interligado Nacional (SIN), responsável por quase toda to- talidade de geração e distribuição de energia no país. A exceção é parte da região amazônica com cerca de 3,4% que ainda não compõem esse sistema. O sistema de produção e transmissão de energia elétrica brasileiro é predo- minantemente hidrotérmico de grande porte devido às suas dimensões. Seu sistema é composto principalmente por usinas hidrelétricas, mas com ex- pectativa de fontes alternativas como energia solar e eólica na sua matriz energética. A Figura 1 apresenta as principais linhas de transmissão do sistema elétrico brasileiro. CURIOSIDADE Apesar da matriz energética brasileira ainda ser predominantemente hi- drelétrica, já há diversaspesquisas e tentativas de implementação de um sistema de energia elétrica a partir de fontes renováveis como a energia solar. No artigo “Microgeração fotovoltaica conectada à rede elétrica: considerações acerca de sua difusão e implantação no Brasil” os autores apresentam dados e informações que mostram a viabilidade e as princi- pais barreiras e vantagens para a introdução desse sistema no Brasil. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 17 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 17 29/04/2020 15:00:26 Figura 1. Mapa das principais linhas de transmissão do Brasil: Sistema Eletrobrás. Fonte: Eletrobrás. Acesso em: 28/10/2019. Componentes das redes elétricas É de conhecimento do estudante que uma rede elétrica é composta por diversos componentes elétricos que são responsáveis pelo seu funcionamen- to. Esses componentes se interligam por meio de fi os de transmissão que se FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 18 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 18 29/04/2020 15:00:31 conectam a estações e subestações desde o seu ponto de geração, e chegam até sua residência, ao seu local de trabalho ou de estudo. A fi m de facilitar o nosso estudo, faremos a análise de cada um dos compo- nentes individualmente, pois são compostos de muitos detalhes e requerem um olhar aprofundado, tanto pelo ponto de vista físico, quanto matemático. Portanto, apresentaremos a seguir, primeiramente, a defi nição dos princi- pais componentes das redes elétricas e suas funções básicas, e mais adiante nos dedicaremos a explicar como se comportam em uma rede elétrica em ple- no funcionamento, e como se relacionam entre si para que a transmissão de energia elétrica se dê de forma adequada e esperada. Os principais componentes de uma rede elétrica podem ser divididos entre a linha de transmissão e aqueles nela conectados. Para facilitar a familiaridade com esses componentes, vamos dividi-los em duas categorias: os que estão ligados entre uma barra qualquer e uma barra aterrada, e os que estão ligados entre duas barras quaisquer. Elementos ligados entre um nó (barra) qualquer e o nó (barra) terra Numa rede elétrica completa há diversos componentes em toda a sua extensão. Parte desses componentes está conectada na linha de transmis- são, nas barras ou aterrados. Veremos que há uma diferença entre os elementos interligados entre uma barra qualquer e uma aterrada. Os elementos ligados entre uma barra qualquer e uma barra aterrada são: a própria barra, geradores, carga e ele- mentos shunt. Aqui estão as defi nições básicas de cada um deles: • Barra: podem ser defi nidas como os nós da rede que se conectam entre as linhas de transmissão e os transformadores. São considerados elementos condutores de resistência desprezível quando comparados com as impedâncias das linhas de transmissão e dos trans- formadores. Ficam localizadas nas subestações; • Geradores (G): são as máquinas primárias res- ponsáveis pela geração de energia elétrica por meio da rotação de um enrolamento de fi o condu- FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 19 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 19 29/04/2020 15:00:31 tor. Essa geração pode se dar por meio de turbinas hidráulicas, uso de va- por, gás, combustão interna, vento (energia eólica) ou, até mesmo, reação nuclear. Os geradores mais usuais são os de hidrelétricas com tecnologia convencional, que operam com tensões na faixa de 10 a 30 kV, devido a limitações físicas; • Cargas (L): produto fi nal do sistema de potência que será distribuído para a rede elétrica e abastecerá a cidade; • Elementos shunt (RSh): são, em essência, os capacitores e indutores da rede e podem ser fi xos ou variáveis. As variações podem ser manuais ou automáticas dependendo da rede considerada. Elementos ligados entre dois nós (barras) quaisquer Assim como no caso de uma barra qualquer e uma aterrada, no caso de duas barras quaisquer há outros elementos específi cos, como: linha de trans- missão e transformadores. Aqui estão as defi nições básicas e as funcionalida- des de cada um desses elementos: • Linhas de transmissão (LT): elemento responsável pela interligação das estações geradoras de energia elétrica e os pontos de distribuição da mesma. Essa interligação ocorre por meio das barras que se encon- tram em subestações. A capacidade de transmissão depende da distân- cia entre as subestações e da quantidade de energia a ser transportada (potência elétrica). O propósito da linha de transmissão é transportar a maior quantidade de energia em qualquer direção desejada a baixo cus- to sem falhas operacionais; • Transformadores (TR): os transformadores são equipamentos elétricos que atuam diretamente no aumento ou diminuição da intensidade da ten- são na rede elétrica. Quando todos os elementos mencio- nados acima são combinados, obtemos um sistema de potência como ilustrado na Figura 3 que mostra a estru- tura geral de um sistema de potência. A energia gera- da no gerador passa por um transformador em uma subestação que a encaminha, por meio das linhas de transmissão, para a distribuição e consumidor fi nal. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 20 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 20 29/04/2020 15:00:31 Gerador c. a. c. a. c. a. c. c. Linha de transmissão Conversor Inversor Transformador Distribuição Transformador Carga Figura 2. Estrutura geral do sistema de potência. Definição do problema e modelagem da barra Na formulação mais simples do problema do fl uxo de carga, chamada de for- mulação básica, são associadas quatro variáveis a cada barra, onde duas delas entram como dados conhecidos e as outras duas como incógnitas. Cada barra representa um nó no circuito, chamaremos esses dados de variáveis nodais. Esse tipo de problema é solucionado por meio de equações algébricas não lineares equivalentes às leis de Kirchhoff e elementos da rede elétrica e de seus componentes. Na Tabela 2 vemos três tipos de barras com suas respectivas variáveis nodais. Na Figura 3 vemos um exemplo de uma rede hipotética com três barras onde podemos identifi car os principais componentes de uma rede elétrica, tais como: gerador, transformador, linha de transmissão, elementos shunt, carga e distribui- ção. As barras são defi nidas de acordo com as variáveis de entrada e saída. TIPO DE BARRA NOTAÇÃO DADOS INCÓGNITAS Barra de carga PQ Pk e Qk Vk e θk Tensão controlada PV Pk e Vk θk e Qk Referência Vθ Vk e θk Pk e Qk TABELA 2. NOMENCLATURA DE TRÊS TIPOS DE BARRAS E NOTAÇÃO USUAL PARA DESCREVÊ- LAS Fonte: MONTICELLI; GARCIA, 2000, p. 2-3. Barra de cargaBarra de carga Tensão controlada Barra de carga Tensão controlada Barra de carga Tensão controlada Referência Barra de carga Tensão controlada Referência Tensão controlada Referência Tensão controlada Referência PQ PVPV Vθ Pk e Q P V V e θk V θ θ e Q P e Qk FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 21 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 21 29/04/2020 15:00:35 Onde: Vk = magnitude da tensão das barras; θk = ângulo de tensão das barras; Pk = fluxo de potência ativa (geração menos carga); Qk = fluxo de potência reativa. A barra de referência tem duas funções: 1 - Fornecer a referência angular para a rede; 2 - Fazer o balanço de potência do sistema considerando as perdas durante a transmissão. Além disso, a fim de facilitar a compreensão de uma rede elétrica, na Figura 3 são destacadas duas regiões principais, externa e interna, compreendidas entre a geração até sua distribuição. A região externa está destacada em azul e a região interna está destacada em vermelho. É importante salientar que essa divisão em duas partes não implica que uma seja mais importante do que a outra, mas serve apenas como ferramenta didática para melhor compreensão da rede elétrica. Todas as partes e compo- nentes de uma rede elétrica são importantes e devem ser considerados para que a mesma funcione de forma apropriada. Gerador Transformador 1km 1mk Linha de transmissão Elementos shunt Carga Distribuiçãoc.a k m Figura 3. Fluxo de carga: exemplo de uma rede com três barras (a região destacada em azul é a parte externa e a região destacada em vermelho é a parte interna). A Figura 4 ilustra a situação de injeção de potência complexa Sk numa barra k qualquer de um sistema de fluxo de carga. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 22 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 22 29/04/2020 15:00:35 Gerador k Sk = Pk +iQk SKC SKG Ek = Vk 0k Figura 4. Potência complexa entrando na barra k qualquer. Onde: Sk = Soma das potências ativa e reativa; Pk = Fluxo de potência ativa; Qk = Componente da injeção de potência reativa devido ao elemento shunt da barra terminal k; Ek = Magnitude da tensão no terminal da barra k; θk = Ângulo da tensão no terminal da barra k. Pela 1ª lei de Kirchhoff , podemos escrever: Sk = Sk G - Sk C. É importante salientar a seguinte convenção de sinais: 1 - As injeções líquidas de potência são positivas quando entram na barra (geração) e negativas quando saem da barra (carga); 2 - Os fl uxos de potência são positivos quando saem da barra e negativos quando entram; 3 - Para os elementos shunt das barras é adotada a mesma convenção das potências. Aplicações A principal aplicação do estudo de fl uxo de carga está no fornecimento ade- quado de energia elétrica, evitando desperdícios, prejuízos e prevendo even- tuais problemas no sistema para que não haja corte do fornecimento elétrico e danos à rede. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 23 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 23 29/04/2020 15:00:36 Esse estudo é desenvolvido, na maior parte dos casos, pelas concessioná- rias de energia elétrica responsáveis pela geração e transmissão de energia elétrica e por órgãos responsáveis pela fi scalização e operação do sistema elé- trico, e fazem uso de engenheiros capacitados para a tarefa. Numa rede elétrica convencional em pleno funcionamento, o fl uxo de po- tência tem como característica a prevenção de problemas que venham a pre- judicar a rede. Porém, há situações inesperadas que podem ocorrem. Algumas delas são ocasionadas por fatores externos, provenientes de tempestades, en- chentes e problemas naturais que independem do ser humano. Nesse caso, o estudo do fl uxo de potências também tem como base a res- tauração da rede à situação inicial e adequada através do conhecimento deta- lhado de todos os componentes, estações e subestações. Modelagem de linhas de transmissão Para calcularmos o fl uxo de potência nas linhas de transmissão, fazemos uso do modelo da Figura 5 conhecido como modelo π (pi). Este modelo é apli- cado para sistemas em equilíbrio com as barras terminais entre as linhas de transmissão. ib shkm k m Zkm = rkm + ixkm ib shkm Ikm Imk Figura 5. Modelo π para cálculo do fl uxo de potência em linhas de transmissão. Fonte: MONTICELLI; GARCIA, 2000, p. 5. A impedância é dada pela soma da resistência e reatância, conforme mos- trado na equação: Zkm = rkm + ixkm. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 24 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 24 29/04/2020 15:00:36 É importante salientar que a impedância é proporcional ao comprimento da linha de transmissão, ou seja, quanto maior for a linha de transmissão, maior será o valor da impedância. Outras duas grandezas são consideradas no modelo π para modelagem da linha de transmissão, sendo elas: • Condutância série gkm (≥ 0), onde: rkmgkm = 2Xkmrkm 2 • Susceptância série bkm (≤ 0) (indutivo), onde: Xkm 2Xkmrkm 2bkm = A soma da condutância e susceptância nos leva à admitância, série que é o inverso da impedância, como pode ser visto na equação: ykm = gkm + ibkm → ykm = zkm-1 Portanto: zkm =-1 - i rkm 2Xkmrkm 2 Xkm 2Xkmrkm 2 Na situação em que o modelo π representa uma linha de transmissão, admite-se rkm e xkm positivos, assim gkm também é positivo e bkm é negativo. Resumindo: Este modelo é definido por três parâmetros fundamentais: • resistência série rkm (≥ 0); • reatância série xkm (≥ 0) (indutivo); • susceptância shunt ibkm (≥ 0) (capacitivo). A corrente elétrica na Figura 5 é formada por uma componente série e uma componente shunt, e pode ser calculada a partir das tensões das barras k e m, respecti- vamente, Ek e Em do modelo π. Ikm = ykm(Ek - Em) + ibkm Ek Com: Ek = Vke iθk Em = Vme iθm Da mesma forma, a corrente partindo da barra m em direção à barra k Imk pode ser calculada por: Imk = ykm(Ek - Ek ) + ibkmEm FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 25 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 25 29/04/2020 15:00:36 Modelagem dos transformadores O transformador é um dos componentes elétricos mais antigos. Inventado por Michael Faraday em 1831, é um componente que tem como principal fun- ção transformar os níveis da tensão elétrica e corrente elétrica sem alterar a po- tência elétrica. Essa modifi cação dos níveis pode ser no intuito de aumentar ou diminuir a sua intensidade, de acordo com as necessidades do circuito elétrico. Há uma grande variedade de tipos de transformador no mercado que atendem a diversas demandas. Elas podem ser para a grande indústria ou in- dústria de pequeno porte. Nesta disciplina vamos supor que o estudante já esteja familiarizado com o princípio básico do transformador e vamos considerar a modelagem matemá- tica do transformador em fase e do transformador defasador, que são compo- nentes fundamentais para o funcionamento da rede elétrica. CURIOSIDADE • Quanto à finalidade: transformadores de corrente, transformado- res de potência, transformadores de distribuição, transformadores de força; • Quanto ao tipo: dois ou mais enrolamentos, autotransformador; • Quanto ao material do núcleo: ferromagnético, núcleo de ar; • Quanto ao número de fases: monofásico, trifásico, polifásico. Ainda é possível inserir propriedades específicas dos transformado- res para cada uma das classificações citadas. Transformador em fase: na Figura 6 temos a representação de um trans- formador em fase com admitância ykm de relação de transformação 1:t, com t sendo um número real (t = a) devido ao fato de o transformador estar em fase. Para manter o nível tensão da saída de uma subes- tação de energia em patamares apropriados, os ope- radores devem considerar diversos aspectos, tais como: nível de geração de potência reativa, ligação de compensadores síncronos e banco de capaci- tores, uso de reatores de barra e ajuste de taps dos transformadores. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 26 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 26 29/04/2020 15:00:36 K Ikm ykm1 : t p Imk m Ek= Vkeiθk Em= Vmeiθm Ep= Vpeiθp Figura 6. Transformador em fase. Fonte: MONTICELLI; GARCIA, 2000, p. 8. As relações entre as tensões na barra k e o nó p no transformador em fase é dada pela expressão: Como estamos tratando de um transformador ideal em fase, as potências de entrada e saída são iguais. Dessa forma, não há dissipação de potência ativa e reativa entre os nós k e p da Figura 6. Assim, a soma das potências complexas se iguala a zero: Skp + Spk = 0 → EkI km + EpI mk = 0 → EkI km + (aEkI mk ) = 0 Portanto: Ikm Imk = - a Imk e Ikm são defasados de 180° e suas magnitudes estão na razão a : 1. Como: Ep Ek Vpe iθp Vke iθk = a Se trocarmos o numerador pelo denominador nessa equação, obtemos: Ek Ep 1 a - Imk Ikm Ipm Ikm Equacionando Ikm, obtemos: Ikm = aIpm = a(-Imk ) → Ikm = a[ykm(Ep - Em )] → Ikm = aykm(aEk - Em )] Ep Ek Vpe iθp Vke iθk = a � VP = aVk θP = θk com FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 27 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 27 29/04/2020 15:00:36 Portanto: Ikm = (a 2ykm )Ek + (-aykm ) Em Equacionando Imk , obtemos: Imk = -Ipm = -[ykm(Ep - Em)] → Imk = -ykm(aEk - Em) → Portanto: Imk = (-aykm )Ek +(ykm)Em Resumindo: Ikm = (a 2ykm ) Ek + (-aykm ) Em Imk = (-aykm)Ek + (ykm )Em Simplificando o transformador por meio de um modelo π como mostrado na Figura 7, podemos escrever as equações das correntes de forma mais sim- ples por meio dos parâmetros A, B e C. Ikm = (A + B)Ek + (-A)EmImk = (-A) Ek + (A + C)Em � � B Ak m C Ek Em ImkIkm Figura 7. Circuito equivalente ao modelo π do transformador em fase. Fonte: MONTICELLI; GARCIA, 2000, p. 7. Os parâmetros A, B e C, quando isolados algebricamente, podem ser escritos em função de a e da admitância série ykm conforme: A = aykm , B = a(a - 1)ykm, C = (1 - a)ykm. Resumindo, podemos interpretar os resultados da seguinte forma: Para 𝖆 = 1, o tap está na posição nominal. Isso implica que B = C = 0, impli- cando que o circuito se reduz a uma admitância série ykm como mostrado na Figura 8. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 28 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 28 29/04/2020 15:00:36 Ek Em ykm k m Ek Vk Vm Em A B C k m Figura 8. Admitância série com B = C = 0 para o transformador em fase. Figura 9. Modelo π do transformador em fase com B capacitivo e C indutivo. Para 𝖆 < 1, então B apresenta efeito capacitivo e C apresenta efeito indu- tivo, o que implica aumentar a tensão Vk e diminuir a tensão Vm como ilustra o modelo π da Figura 9. Para 𝖆 > 1, então B apresenta efeito indutivo e C apresenta efeito capacitivo o que implica em aumentar a tensão Vm e diminuir a tensão Vk como ilustra o modelo π da Figura 10. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 29 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 29 29/04/2020 15:00:37 Ek Vk Vm Em A B C k m K p 1 : αe jφIkm Imkykm m Ek = Vkeiθk Ep = Vpeiθp Em = Vmeiθm Figura 10. Modelo π do transformador em fase com B indutivo e C capacitivo. Figura 11. Transformador defasador adaptado. Fonte: MONTICELLI; GARCIA, 2000, p. 8. Transformador defasador: nesse modelo de transformador é possível controlar o fluxo de potência ativa do ramo em que se encontra o transforma- dor. Imagine que é inserida uma fonte de tensão contínua um ramo de um cir- cuito. Devido à introdução dessa fonte no circuito, a corrente poderá aumentar ou diminuir de acordo com a sua polaridade. No caso de uma rede elétrica com corrente alternada, o defasador tem a função de alterar o fluxo de potência ativa introduzindo uma defasagem entre os nós k e indicado pelo termo 1:aeiφ na Figura 11. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 30 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 30 29/04/2020 15:00:37 O termo 1:aeiφ é resultante da relação de transformação das intensidades das tensões do enrolamento primário e secundário por meio do ângulo de fase dos mesmos. As intensidades das tensões exercem pouca influência no fluxo de potência ativa e, portanto, admitimos que 𝖆 = 1 para o transformador defa- sador puro de modo que sua relação de transformação passe a ser 1: eiφ. A partir daqui, procederemos da mesma forma que procedemos para o caso do transformador em fase por meio das relações de tensão dos nós p e k. Ek Ep 1 eiφ → Ep = Eke → Vp eiθp = Vkei(θk + φ) Portanto: � VP = Vk θP = θk + φ Assim como relacionamos as potências de entrada e saída para o transfor- mador ideal, também o faremos para o transformador defasador: Skp + Spk = 0 → EkI km + EpI mk = 0 → EkI km + Ek eiφ I mk ) = 0 Assim: I km + e iφI mk = 0 Portanto: Ikm Imk -e-iφ = -t* Onde: Imk = ykm(Em - Ep) → Imk = ykm(Em - tEk) → Imk = (-tykm ) Ek + (ykm ) Em Ikm = -t *Imk → Ikm = -t*[(-tykm ) Ek + (ykm ) Em ] → Ikm = (|t|2 ykm ) Ek + (-t*ykm ) Em com: (|t| = |eiφ| = 1) Portanto: Ikm = (ykm ) Ek + (-t *ykm) Em Podemos resumir as equações das correntes Imk e Ikm, respectivamente: Imk = (ykm) Ek + (-t *ykm ) Em Ikm = (-tykm ) Ek + (ykm) Em No caso do transformador defasador, não é possível construir o circuito no modelo π, pois o coeficiente de Em em Ikm é diferente do coeficiente de Ek em Imk, como pode ser visto nas equações deduzidas acima. iφ FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 31 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 31 29/04/2020 15:00:37 Equações de correntes e equações de fluxo de potências Agora iremos deduzir as equações de fl uxo de potência a partir das equações de corrente para as linhas de transmissão, transformadores em fase e transformadores defasadores. Até agora consideramos a modelagem de cada componen- te da rede elétrica isoladamente, mas a partir desta etapa passaremos a olhar para a rede elétrica como um único objeto porque estamos vendo como a potência se comporta em toda a sua extensão considerada. Quando a corrente atravessa uma das barras da rede, ela é transmitida pela linha de transmissão que a encaminha para outras barras e/ou componentes da rede. Nesse processo há um fl uxo de potência ativo (barra transmissora) e reativo (barra receptora) entre as barras ou componentes que vai depender das características da rede em questão. Fluxo de potência para linhas de transmissão Já vimos que a corrente Ikm é dada pela soma da componente série e da com- ponente shunt por meio das tensões nos terminais k e m do modelo π. Matema- ticamente, pela 1ª lei de Kirchhoff : Ikm = I1 + I2 → Ikm = ykm(Em - Ep ) + ibkm Ek Onde: Ek = Vk e iθk Ep = Vp e iθp Em = Vm e iθm Portanto: Ikm = ykm(Vm e iθm - Vp ee iθp) + ibkm Vk e iθk Da mesma forma, vimos que Imk pode ser obtido de forma similar: Imk = ykm(Em - Ek) + ibkmEm Portanto: Imk = ykm(Vme iθm - Vke iθk) - ibkm Vm e iθm ) Também já vimos que o fl uxo de potência é dado por: Skm = - iQkm = Ek Ikm → Skm = ykmVk e-iθk(Vkeiθk - Vm eiθm) + ibkm Vk2 Os fl uxos de potência Pkm e Qkm podem ser identifi cados separando-se as par- tes reais e imaginárias da equação anterior. Pkm = Vk 2 gkm - VkVm gkm cosθkm - VkVm bkmsenθkm FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 32 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 32 29/04/2020 15:00:37 Qkm = -Vk 2 (bkm + ibkm ) + VkVmbkmcosθkm - Vk Vm gkm senθkm Da mesma forma, podemos obter os fl uxos de potência Pmk e Qmk usando o mesmo procedimento, porém trocando os índices k e m das equações. Pmk = Vm 2 gkm - VkVm gkmcosθkm - VkVmbkm senθkm Qmk = -Vm 2 (bkm + bkm ) + Vk Vm bkm cosθkm - VkVm gkm senθkm Durante todo o processo, há perdas de potência que também podem ser cal- culadas. Perda de potência ativa: Pkm + Pmk = gkm (Vk 2 + Vm 2 -2VkVm cosθkm ) → Pkm + Pmk = gkm|Ek - Em|2 Perda de potência reativa: Qkm + Qmk = - bkm (Vk 2 + Vm2 - 2VkVmcosθkm ) → Qkm + Qmk = - bkm (Vk 2 + Vm 2 ) - bkm|Ek - Em| 2 Onde: |Ek - Em| 2 : se defi ne como a intensidade das tensões; gkm|Ek - Em| 2 : perdas ôhmicas; -bkm|Ek - Em | 2 : perdas reativas no elemento série; - ibkm (Vk 2 + Vm 2): geração de potência reativa nos elementos shunt. Fluxo de potência para transformador em fase Já vimos que a corrente Ikm na linha de transmissão é dada por: Ikm = aykm(aEk - Em)] Skm = Pkm - iQkm → Skm = Ek Ikm Portanto: Skm = aykm Vk e -iθk(aVk e iθk - Vm e iθm) Assim como fi zemos para o fl uxo de potências para a linha de transmissão, no caso do transformador também podemos obter os fl uxos de potência Pkm e Qkm separando-se as partes reais e imaginárias da equação anterior. Pkm = (aVk ) 2 gkm - (aVk)Vm gkm cosθkm - (aVk)Vmbkmsenθkm Qkm = -(aVk ) 2 bkm + (aVk )Vm bkm cosθkm - (aVk )Vm gkm senθkm Fluxo de potência para transformador em defasador Já vimos que a corrente Ikm para o transformador defasador é dada por: FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 33 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 33 29/04/2020 15:00:38 Ikm = ykm(Ek - e -iφkmEm ) e iθk) → Ikm = ykm e-iφkm - Em ) Agora podemos escrever as equações do fl uxo de potência: Skm = Pkm - iQkm → Skm = Ek Ikm → Skm = ykm Vk e -i(θk+ φkm ) (Vk e -i (θk+ φkm) - Vme θm) Separando as partes reais e complexas da equação anterior, podemos escre- ver as equações do fl uxo de potência: Pkm = Vk 2 gkm - VkVm gkmcos(θkm + φkm ) - VkVmbkmsen(θkm + φkm ) Qkm = -Vk 2 bkm + VkVm bkmcos(θkm + φkm ) - VkVm gkm sen(θkm + φkm ) Por fi m, podemos escrever as equações dos fl uxos de potência para linhas de transmissão, transformador em fase e transformador defasador: Pkm = (aVk ) 2 gkm - (aVk )Vm gkm cos(θkm + φkm ) - (aVk )Vm bkmsen(θkm + φkm ) Qkm = -(aVk ) 2 (bkm + bkm )+ (aVk )Vmbkmcos(θkm+ φkm ) - (aVk )Vm gkm sen(θkm + φkm ) De forma análoga, podemos obter as equações de fl uxo de potência Pmk e Qmk, respectivamente. Pkm = gkm Vm 2 - (aVk ) Vm [gkm cos(θkm + φkm ) - bkm sen(θkm + φkm ) Qmk = -(bkm + ibkm ) Vm 2 + (aVk )Vm [gkm sen(θkm + φkm ) - bkm cos(θkm + φkm ) É importante salientar que existe uma convenção de sinais para os fl uxos de potência ativa e/ou corrente nos ramos do circuito de modo que: • Positivos: se saem das barras e; • Negativos: se entram na barra. Assim: • Se Pkm > 0, o fl uxo de potência parte da barra k para a barra m, portanto positivo; • Se Pkm < 0, o fl uxo de potência parte da barra m para a barra k, portanto negativo. O mesmo pode ser feito para os fl uxos de potência reativa Pmk. Formulação matricial I = YE Considere o circuito da Figura 12, onde a corrente elétrica entra em uma bar- ra k e se divide de modo que parte dela vá para a barra m. Aplicando a lei dos nós de Kirchhoff : ∑m∈ΩkIkm = Ikm + lk com número de barras (k = 1) Onde: Ωk é o número de barras vizinhas da barra k: FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 34 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 34 29/04/2020 15:00:38 I shk I k I km k m Figura 12. Corrente elétrica entrando numa barra k e se dividindo após sair da barra k em direção à barra m. Vimos que as correntes para linhas de transmissão, transformador em fase e transformador defasador são: Ikm = (ykm + ibkm )Ek +(-ykm)Em Ikm = (a 2 ykm)Ek +(-aykm )Em Ikm = (-tykm) Ek + (ykm )Em Quando colocadas de forma generalizada, a corrente entre a barra k e m, fica: Ikm = (a 2ykm + ibkm )Ek +(-at *ykm)Em A equação geral da corrente pode ser reescrita na forma: Ikm = [ibkm + ∑m∈Ωk(a2 ykm + ibkm )Ek + ∑m∈Ωk(-atykm)Em No caso de k = 1, a expressão pode ser escrita na forma matricial do tipo: Onde: • I se define como o vetor das injeções das correntes elétricas de componen- tes Ik para k = 1; • E se define como o vetor das tensões nodais de componentes Ek = Vkeiθk. • Y se define como a matriz admitância de modo que Y = G + iB, cujos ele- mentos são: • G se define como a matriz condutância nodal; • B se define como a matriz susceptância nodal. Ik. . . lm Ek. . . Em Zkk. . . Zmk Zkm. . . Zmm FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 35 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 35 29/04/2020 15:00:38 Ykm = -ae -iφkmykm (elementos fora da diagonal principal) Ykk = ibkm + ∑m∈Ωk(a2ykm + ibkm )(elementos da diagonal principal) Admitimos que na maioria das vezes essa matriz será esparsa, ou seja, mui- tos elementos serão nulos quando Ykm = 0, sempre que entre as barras k e m não existirem linhas de transmissão ou transformador. • Se o elemento entre a barra k e m for uma linha de transmissão, então Ykm = - ykm; • Se o elemento entre a barra k e m for um transformador em fase, então Ykm = - aykm; • Se o elemento entre a barra k e m for um transformador defasador, então Ykm = -e -iφkmykm; • Se a rede for formada por linhas de transmissão e transformadores em fase, a matriz Y será simétrica. Se houver defasadores na rede, a matriz se tornará assimétrica, pois: Ykm = -e -iφkmykm e Ymk = -e -iφkmykm Potências nodais A injeção de corrente elétrica na barra k em função dos elementos da matriz admitância é dada por: Ikm = YkkEk + ∑m∈ΩYkm Em → Ikm = ∑m∈ΩKYkmEm Visto que Y = G + iB e Em = Vme iθm, a expressão anterior pode ser reescrita na forma: Ikm = ∑m∈k(G + iB)Vm e iθm Sabendo que o cálculo da potência complexa é dado por: Sk = Pk + iQk → Sk = Ek Ik e Ek = Vke-iθk Substituímos então a equação Ik na expressão do cálculo de potência obtendo: Skm = Vk e -iθk m∈K(G + iB)Vmeiθm Dessa forma, as injeções de potência ativa e reativa podem ser obtidas sepa- rando-se a parte real e a parte imaginária, escrevendo-as em função dos compo- nentes da tensão e da admitância: Pkm = Vk ∑m∈kVm[Gkm cosθkm + Bkm senθkm ) Qmk = Vk ∑m∈kVm [Gkm senθkm + Bkm cosθkm ) FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 36 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 36 29/04/2020 15:00:38 Sintetizando Nesta unidade vimos o funcionamento dos principais componentes da rede elétrica e as equações matemáticas que modelam o seu comportamento quan- do em atividade. O sistema elétrico de potência é compreendido por uma com- plexa estrutura de componentes elétricos, tais como: linhas de transmissão, capacitores, reatores, geradores e transformadores que exigem supervisão e controle de qualidade em tempo real. Esses componentes se interligam por meio do SIN e se espalham por mi- lhares de quilômetros dentro do Brasil em diferentes usinas e centros de dis- tribuição. O sistema de potência pode ser dividido em três categorias: geração de energia elétrica na usina, transmissão da energia gerada por meio de linhas de transmissão e distribuição de carga para o consumidor final. Para que a rede elétrica se mantenha em pleno funcionamento é necessá- rio um estudo detalhado de seus componentes desde o início da transmissão na usina até a passagem das subestações onde a energia é distribuída para o consumidor final. Cada etapa do processo de geração e distribuição de energia na rede deve ser modelado matematicamente e fisicamente, levando em consideração to- das as variáveis que compõem o sistema. Por isso é bastante útil separá-las em partes menores da rede facilitando a sua análise. Como o estudante pôde ver, a modelagem dos componentes da rede elétri- ca não é tarefa fácil e depende de uma série de fatores físicos e conhecimento matemático adequado para trabalhar as equações que descrevem os fenôme- nos físicos envolvidos em todo o processo. Por conta disso, é extremamente importante e necessário o estudante refazer os passos matemáticos envolvi- dos em cada etapa da modelagem, bem como consultar a bibliografia reco- mendada para que tenha uma visão mais ampla do problema de fluxo de carga. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 37 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 37 29/04/2020 15:00:38 Referências bibliográficas ANDERSON, P. M. Analysis of faulted power systems. 1. ed. New York: IEEE - Wiley-Blackwell, 1995. ANDRADE JÚNIOR, L.L.; MENDES, L. F. Microgeração fotovoltaica conectada à rede elétrica: considerações acerca de sua difusão e implantação no Brasil. Re- vista Vértices, v. 18, n. 2, p. 31-51, 25 out. 2016. Disponível em: <http://essen- tiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices%20/article/view/1809-2667.v18n216- 03>. Acesso em: 09 mar. 2020. DIEGO DA ROSA, L.; SIMAS, H.; RAIMUNDO TEIVE, C. G. Ajuste de tap de trans- formadores para controle de tensão de subestações de energia elétrica usando controlador fuzzy. Artigo. Univali – Universidade do Vale do Itajaí – Campus de São José, São José, 2006. Disponível em: <https://fei.edu.br/sbai/ sbai2007/docs/31022_1.pdf>. Acesso em: 09 mar. 2020. ELETROBRAS. Mapas do Sistema Elétrico Brasileiro. Disponível em: <https:// eletrobras.com/pt/Paginas/Sistema-Eletrico-Brasileiro.aspx>. Acesso em: 28 out. 2019. GIGANTES DA INDÚSTRIA - Produtos para Massas. Postado por The History Channel Brasil. (3min. 28s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.you- tube.com/watch?v=gvbU2rKVo-U&list=PLAr322Yg8UkDr_gu4A-HmFp9t7w- QI1LeJ>. Acesso em: 09 mar. 2020. MACIEL, D. H. S. M.; CARDOSO, R. B. Análise estática do sistema elétrico do Amapá via software ANAREDE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNIFAP – Universidade Federal do Amapá, Macapá, 2015. Disponível em: <ht- tps://sigaa.unifap.br/sigaa/verProducao?idProducao=174627&key=66ce0e9f- f3b40b9b7257bedb0a8f39fa>. Acesso em: 09 mar. 2020. MONTICELLI, A; GARCIA, A. Introdução a sistemas de energia elétrica. 1. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2000. OLIVEIRA, C. C. B.; SCHMIDT, H. P.; KAGAN, N.; ROBBA, E. J. Introdução a sistemas elétricos de potência: componentes simétricas. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2000. STEVENSON JR, W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1986. ZANETTA JR, L. C. Fundamentos de sistemas elétricosde potência. 1. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2005. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 38 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID1.indd 38 29/04/2020 15:00:38 MÉTODOS ITERATIVOS DE SOLUÇÃO DO FLUXO DE CARGA EM UMA REDE ELÉTRICA 2 UNIDADE SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 39 22/04/2020 16:08:18 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Evidenciar e conceituar os principais métodos iterativos utilizados no cálculo de fluxo de carga em redes elétricas; Apresentar nomenclaturas e exemplos de resolução de fluxo de carga em uma rede elétrica genérica, apontando as vantagens e desvantagens dos métodos utilizados. Métodos iterativos aplicados a sistemas de equações Método de Gauss-Seidel Método de Newton-Raphson Método de Newton-Raphson aplicado a sistemas não lineares Matrizes de rede Matriz de admitâncias nodais (matriz Y) Matriz de impedâncias nodais (matriz Z) Fluxo de carga nos sistemas elétricos de potência Resolução pelo método de Gauss-Seidel Resolução pelo método de Newton-Raphson Resolução pelo método de Newton-Raphson desacoplado FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 40 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 40 22/04/2020 16:08:18 Métodos iterativos aplicados a sistemas de equações Na análise do fl uxo de carga (ou de potência, como referenciado por alguns autores), é comum encontrarmos sistemas extensos e cuja solução analítica por métodos diretos, como o método da eliminação de Gauss, se torna inviável, uma vez que muitos passos algébricos seriam necessários, mesmo se levando em conta aspectos computacionais. Um exemplo possível da situação supracitada é um trecho de rede de trans- missão que abranja determinadas cidades, ou mesmo o estudo de uma rede de distribuição de grandes centros urbanos, como São Paulo ou Rio de Janeiro, entre outras capitais brasileiras e grandes metrópoles. Esse problema foi solucionado através do uso de métodos iterativos. No caso presente, analisaremos os métodos relativos a Gauss-Seidel e Newton- -Raphson, além de seu emprego em sistemas elétricos de potência. Para isso, considere o seguinte sistema genérico: a11x1 + a12x2 + ... + a1nxn = b1 a21x1 + a22x2 + ... + a2nxn = b2 an1x1 + an2x2 + ... + annxn = bn (1) Escrevendo as linhas de maneira mais conveniente, temos: (2) x1 = j = 2(b1 - Σ n a1jxj) a11 xi = j ≠ i(bi - Σ n aijxj) aii xn = j = 1(bn - Σ n - 1anjxj) ann O matemático Carl Gustav Jacobi (1804 - 1851) apresentou os métodos ite- rativos em que, a partir das equações (2) descritas, supõe-se conhecida uma dada aproximação inicial. Convém informar que em sua leitura, o índice supe- rior indica o número da iteração e o inferior representa a posição da incógnita no sistema em pauta. Desta forma, o valor atual de uma dada incógnita é obti- do das soluções a priori. Matematicamente temos: x(k + 1) =i 1 aii aijxj (k)bi - Σ j = 1, j ≠ i n (3) FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 41 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 41 22/04/2020 16:08:18 A expressão (3) evidencia a forma genérica de iteração da i-ésima incógnita e a iteração k + 1, em que k ∈ ℕ. Por se tratar de um método cuja solução é aproximada, torna-se necessário estabelecer um critério de parada, ou truncamento, em que assegura-se uma determinada tolerância ou erro, conforme expresso na Equação (4). x(k + 1) - xki i < tolerância (4) Exemplo: Observe o sistema linear a seguir, considerando uma aproximação inicial à seguinte sequência (CUNHA, 2000): 4,00x1 + 0,24x2 - 0,08x3 = 8,00 0,09x1 + 3,00x2 - 0,15x3 = 9,00 0,04x1 - 0,08x2 - 0,15x3 = 20,00 Aplicando (3) temos: x(k + 1) =1 1 4,00 8,00 - 0,24x (k) + 0,08x(k)2 3 x(k + 1) =2 1 3,00 9,00 - 0,09x (k) + 0,15x(k)1 3 x(k + 1) =3 1 4,00 20,00 - 0,04x (k) + 0,08x(k)1 2 A Tabela 1 mostra as três primeiras iterações a título de exemplifi cação do cálculo por meio do método de Jacobi, em que x(k)~ representa a sequência so- lução aproximada na k-ésima iteração. Já a última coluna representa o erro absoluto. A solução exata é dada por: x =~ 1,9092 3,1950 5,0448 x(1)~ x(2)~ x(3)~ x(3) - x~ - 2,00 1,92 1,909 0,2 × 10-3 3,00 3,19 3,1944 0,6 × 10-3 5,00 5,04 5,0466 0,2 × 10-3 2,00 3,003,00 5,005,00 1,92 3,193,19 5,045,04 1,9091,909 3,19443,1944 5,04665,04665,0466 0,2 × 100,2 × 100,2 × 10 0,6 × 100,6 × 10 0,2 × 100,2 × 100,2 × 10-3 TABELA 1. ITERAÇÕES Fonte: CUNHA, 2000, p. 60. (Adaptado). FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 42 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 42 22/04/2020 16:08:22 CURIOSIDADE A utilização da notação matricial em métodos iterativos é importante para analisar a convergência das iterações a partir de estudos da matriz dos coefi cientes das incógnitas. O método de Jacobi foi o precursor e a base dos demais métodos iterativos, tais como o método de Gauss-Seidel e de Newton-Raphson, que serão apre- sentados nas próximas seções. Método de Gauss-Seidel Até o presente momento, o método clássico de iteração exposto anterior- mente e conhecido como método de Jacobi utilizava as componentes de x(k)~ para calcular as componentes x(k + 1)i e x(k + 1)~ . Entretanto, para i > 1 os valores de x(k)i já fo- ram calculados e representam aproximações melhores que seus antecessores. Desta forma, parece mais razoável utilizar os valores mais recentes das com- ponentes no cálculo das demais. Este método, conhecido como técnica iterativa de Gauss-Seidel, é representado pela Equação (5): (5)x(k + 1) = 1aii aijxj (k + 1) -bi - Σ j = 1 i - 1 aijxj (k)Σ j = 1 + 1 n A Tabela 2 mostra os procedimentos de cálculo deste algoritmo em um am- biente computacional. ALGORITMO: Método de Gauss-Seidel Dados: A, b, x(0)~ 1. Para k = 0 até max, faça 2. Para i = 1 até n, faça 3. x(k + 1) = 1aii aijxj (k + 1) -bi -Σ j = 1i - 1 Σ j = 1 + 1n aijxj(k) 4. Se x(k + 1) - x(k)i < tolmax1 ≤ i ≤ n i 5. x = x(k + 1) 6. Caso contrário, se k = max, então 7. Não houve convergência ijx (k) TABELA 2. MÉTODO DE GAUSS-SEIDEL Fonte: CUNHA, 2000, p. 61. (Adaptado). FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 43 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 43 22/04/2020 16:08:26 Na Tabela 2, A representa a matriz dos coefi cientes das incógnitas, b é a matriz dos termos independentes x(0)~ é a solução inicial, ou ponto de partida, da iteração. Para fi ns de comparação dos métodos, e visando a comprovação da efi ciência do método de Gauss-Seidel em relação ao de Jacobi, o exemplo anterior será utilizado. Exemplo: Observe o sistema linear a seguir, considerando uma aproximação inicial à seguinte sequência (CUNHA, 2000): 4,00x1 + 0,24x2 - 0,08x3 = 8,00 0,09x1 + 3,00x2 - 0,15x3 = 9,00 0,04x1 - 0,08x2 - 0,15x3 = 20,00 A Tabela 3 mostra o resultado das três primeiras iterações utilizando Gauss-Seidel e na última coluna o erro absoluto da terceira iteração, da mes- ma maneira que no cálculo que utilizou o método de Jacobi. TABELA 3. MÉTODO DE GAUSS-SEIDEL Fonte: CUNHA, 2000, p. 61. (Adaptado). x(1)~ x(2)~ x(3)~ x(3) - x~ - 2 1,924376 1,909240 0,4 × 10-4 2,94 3,194209 3,194955 0,96 × 10-5 5,0388 5,044640 5,044807 0,6 × 10-6 2 2,942,94 5,03885,0388 1,9243761,9243761,924376 3,1942093,1942093,1942093,194209 5,0446405,0446405,044640 1,9092401,9092401,909240 3,1949553,1949553,194955 5,0448075,0448075,044807 0,4 × 100,4 × 10 0,96 × 100,96 × 100,96 × 10-5 0,6 × 100,6 × 100,6 × 10-6 Importantes conclusões podem ser tiradas a partir desses exemplos: • Com o mesmo número de iterações, o método de Gauss-Seidel se aproxi- mou mais da solução exata do que o de Jacobi. Posto isso, é possível assegurar que, com o mesmo tempo computacional, obtém-se resultados melhores; • Embora essa convergência ocorra na maioria das vezes, há situações em que o método de Gauss-Seidel irá divergir e o de Jacobi não. Portanto, é impor- tante analisar a convergência por meio do estudo da matriz A antes de, efetiva- mente, iniciar os cálculos propriamente ditos. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 44 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 44 22/04/2020 16:08:29 Método de Newton-RaphsonEste método é destinado à resolução de sistemas de equações não li- neares e foi originalmente proposto por Isaac Newton e sistematizado por Joseph Raphson, em 1690. Decorre desse fato a origem do nome método de Newton-Raphson. Para aplicação desse procedimento, é necessário levar em consideração duas ideias básicas: a linearização e a iteração. Agora, ainda objetivando a melhor compreensão do método, observe o Gráfi co 1. GRÁFICO 1. RETAS TANGENTES EM (xi, yi) Fonte: CUNHA, 2000, p. 77. (Adaptado). Inicialmente, é necessário linearizar uma curva genérica nas vizinhanças de um ponto desejado, utilizando, para isso, o desenvolvimento em série de Taylor. Ademais, para que isso seja possível, é preciso tomar os primeiros termos desta série. Por se tratar de uma linearização, somente a derivada de primeira ordem será utilizada. Ao considerar o ponto (x0, y0) do Gráfi co 1 e utilizando a série de Taylor, obtém-se a reta tangente neste ponto. Posto isso, ao encontrar o ponto de intersecção desta reta tangente com o eixo das abscissas obtém-se um novo ponto, denominado de x1. Este processo é repetido outras vezes e a cada nova iteração calcula-se um novo ponto, até que a condição de tolerância seja satisfeita. Matematicamente, é possível escrever este método da seguinte forma: (6)xk + 1 = xk - = xk - yk ýk f(xk) f́ (xk) x* y = f(x) x2 x0x1 θ x FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 45 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 45 22/04/2020 16:08:30 Agora, analise a Tabela 4, que mostra o algoritmo computacional do método de Newton-Raphson: ALGORITMO: Método de Newton-Raphson Dados: x0, f(x), f΄(x), ε1 e/ou ε2 1. Para k = 1, 2, 3, ..., faça 2. xk = xk - 1 - f(xk - 1) f'(xk - 1) 3. Se f(xk) < ε1 então x* = xk 4. ou... 5. Se xk - xk - 1 < ε2 então x* = xk Para k = 1, 2, 3, ..., façaPara k = 1, 2, 3, ..., façaPara k = 1, 2, 3, ..., façaPara k = 1, 2, 3, ..., faça x Para k = 1, 2, 3, ..., faça = x Para k = 1, 2, 3, ..., faça - 1 - f(x Se Para k = 1, 2, 3, ..., faça f(x f'(x f(x ou... k - 1) f'(x < ε ou... Se 1 então Se então k - x x* = x k - 1 x* = x < ε entãoentão x* = x x* = xk TABELA 4. MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON Fonte: CUNHA, 2000, p. 78. (Adaptado). CURIOSIDADE Neste método, é importante perceber que temos dois critérios de parada de iteração: um em função do zero da função, outro em função da proximi- dade de valores consecutivos. Exemplo: Utilizando o método de Newton-Raphson, é possível calcular a raiz quadra- da de 2. Agora, considere a função f(x) = x2 - 2, em que sua derivada de primeira ordem é f'(x) = 2x. Eis o gráfi co desta função quadrática: GRÁFICO 2. FUNÇÃO f(x) = x2 - 2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 X 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 Y = f( x) FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 46 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 46 22/04/2020 16:08:33 Portanto, utilizando o método de Newton-Raphson, obtém-se a seguinte aproximação: xk + 1 = xk - = xk - = = f(xk) f'(xk) 2xk xk - 2 2 2xk xk + 2 2 2xk 2xk - xk + 2 2 2 Utilizando o valor inicial x0 = 1, chegaremos aos valores evidenciados na Tabela 5. Iteração (k) Valor estimado (xk) 1 1,5000000000 2 1,4166666667 3 1,4142156862 4 1,4141135623 5 1,4142135623 1 2 3 1,50000000001,50000000001,5000000000 1,4166666667 5 1,5000000000 1,4166666667 1,4142156862 1,5000000000 1,4166666667 1,4142156862 1,4166666667 1,4142156862 1,4141135623 1,4142156862 1,4141135623 1,4142135623 1,4142156862 1,4141135623 1,4142135623 1,4141135623 1,41421356231,41421356231,4142135623 TABELA 5. CÁLCULO DE 2 UTILIZANDO NEWTON-RAPHSON Fonte: CUNHA, 2000, p. 76. (Adaptado). Método de Newton-Raphson aplicado a sistemas não lineares Neste tópico, iremos generalizar a aplicação do método de Newton-Ra- phson para um sistema de equações não lineares que serão importantes, no que diz respeito ao cálculo do fl uxo de potência nas redes elétricas. Para isso, considere o seguinte sistema de equações, no qual o objetivo é determinar os valores das incógnitas: f1(x1, x2, x3, ..., xn) = 0 f2(x1, x2, x3, ..., xn) = 0 fn(x1, x2, x3, ..., xn) = 0 (7) x = (x1, x2, ..., xn)~ é um vetor de n elementos e F(x) = (f1(x), f2(x), ..., fn(x))~~ ~ ~ uma fun- ção vetorial de variável vetorial. Realizando um procedimento análogo ao tra- tamento dado quando havia somente uma equação não linear, mas agora na função vetorial F(x)~ ., é possível determinar que: F(x) ≃ F(xk) + F'(xk)(x - xk) (8)~ ~ ~ ~ ~ FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 47 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 47 22/04/2020 16:08:37 Da mesma forma, truncamos a expansão em série de Taylor na derivada de pri- meira ordem, de forma que o processo de linearização é efetuado. Já a matriz F'(xk)~ é denominada de Jacobiana de F(x)~ , e seu cálculo é efetuado da seguinte forma: (9)J(x) = F'(x) = ∂fi(x) ∂xj i × j ~ ~ ~ Utilizando (8) e (9), pode-se obter a expressão matemática do método de Newton- -Raphson para sistemas não lineares, conforme assevera a Equação (10): xk + 1 = xk - J-1(xk)F(xk) (10)~ ~ ~ ~ Computacionalmente, a inversão de matrizes é muito onerosa e pode to- mar um tempo precioso de processamento. Sendo assim, é possível recorrer a alguns artifícios, como será demonstrado a seguir. Considere v = xk + 1 - xk~ ~ ~ . Utilizando a Equação (8) obtém-se: J(xk)v = -F(xk) ⇒ xk + 1 = xk + v (11)~ ~ ~ ~ ~~ Exemplo: Utilizando o método de Newton-Raphson, é possível resolver o sistema: f2(x1, x2) = x1x 2 - x2 - 4 = 03 f1(x1, x2) = 2x 3 - x2 - 1 = 021 Calculando as derivadas parciais destas funções para determinação do Ja- cobiano, temos: ∂f1 ∂x1 ∂f1 ∂x2 = 6x21 = -2x2 ∂f2 ∂x1 ∂f2 ∂x2 = x32 = 3x1x 2 - 12 Logo: J(x1, x2) = 6x21 -2x2 x32 3x1x 2 - 12 Utilizando como aproximação inicial x0 = (1,2; 1,7)~ : 8,94 -3,4 4,91 9,4 J(x0) =~ -0,4340 0,1956 F(x0) =~ Utilizando a Equação (11) obtém-se: 1,2349 1,6610 x1 =~ FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 48 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 48 22/04/2020 16:08:39 Por fi m, repetindo os passos anteriores para uma nova iteração, temos: 1,2343 1,6615 x2 =~ A Tabela 6 ilustra o algoritmo de cálculo do método de Newton-Raphson para sistemas. ALGORITMO: Método de Newton-Raphson para sistemas ~x (0); fi, i = 1: n; , i, j = 1: n; ε1, ε2 ∂fi ∂xj Dados: 1. Para k = 1, 2, ..., faça 2. Para i = 1 até n, faça 3. Fi = fi(xk - 1) 4. Para j = 1:n, faça 5. Jij = (xk - 1) ∂fi ∂xj 6. Resolva o sistema Jv = -F 7. ~xk = xk - 1 + v~ ~ 8. Se max 1 ≤ i ≤ n fi(x k)~ < ε1 então x* = xk~ ~ 9. ou... 10. Se max1 ≤ i ≤ n x k - xk - 1~~ i i < ε2 então x* = xk~ ~ Para k = 1, 2, ..., k = 1, 2, ..., Para i = 1 até n, k = 1, 2, ..., Para i = 1 até n, faça Para i = 1 até n, Para i = 1 até n, F = f Para i = 1 até n, faça = f = fi = f (x faça ) Para j = 1:n, Para j = 1:n, J Para j = 1:n, ∂f Resolva o sistema faça (x∂x∂xj∂x Resolva o sistema ) Resolva o sistema = x Resolva o sistema k - 1 + v Se Resolva o sistema Jv = -F + v~ max 1 ≤ i ≤ n Jv = -F 1 ≤ i ≤ n f (x ou... ) < ε1 então Se max então max 1 ≤ i ≤ n x x = x~ - xk - 1 < ε2 entãoentão = x TABELA 6. MÉTODO DE NEWTON-RAPHSON PARA SISTEMAS Fonte: CUNHA, 2000, p. 84. (Adaptado). Matrizes de rede As matrizes de rede que serão estudadas são as denominadas matrizes de admitâncias nodais, aqui representadas por Y e baseadas na primeira lei de Kirchhoff . Já as matrizes de impedâncias nodais, doravante denominadas de Z, são baseadas na segunda lei de Kirchhoff . FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 49 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 49 22/04/2020 16:08:43 Matrizes de admitâncias nodais (matriz Y) Antes de tudo, torna-se necessário retomar alguns conceitos básicos da teoria de circuitos. Para isso, considere o circuito da Figura 1, na qual está re- presentado um bipolo passivo. Figura 1. Elementos de rede. Fonte: ZANETTA, 2005, p. 207. (Adaptado). Ipq γpq Vp Vq P q Na Figura 1, o bipolo é representado de acordo com a convenção do recep- tor. As relaçõesentre as grandezas de tensão e correntes elétricas podem ser expressas por: (12)Ipq = ypqVpq Generalizando conforme a Figura 2, temos que: Figura 2. Elementos conectados a um nó genérico. Fonte: ZANETTA, 2005, p. 215. (Adaptado). Ii Iin Ii1 Ii0 Ii2 Ii3 Yi1 V1 V2 V3 VnYi0 Yi2 Yi3 Yi4 Vi FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 50 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 50 22/04/2020 16:08:44 Aplicando as relações de tensão e corrente nas admitâncias: (1) I1 = Yi1(Vi - V1) (2) I2 = Yi2(Vi - V2) (3) I3 = Yi3(Vi - V3) Generalizando: (13)In = yin(Vi - Vn) Aplicando a primeira lei de Kirchhoff ao nó genérico i ilustrado na Figura 2, obtém-se a seguinte equação: Ii = Yij(Vi - Vj) + Yi0Vi = -(Yi1V1 + Yi2V2 + ... + YinVn) + Vi Σ j = 1 n Σ j = 1 n (Yij + Yi0) (14) Realizando este procedimento para os demais nós da rede em análise, é possível obter a seguinte equação matricial de análise nodal: [I] = [Y ] · [V ]. Em que: [I]: Vetor das correntes injetadas nos nós [V]: Vetor das tensões nodais [Y]: Matriz das admitâncias nodais Tendo por base a Equação (13) e considerando a Figura 2, é possível estabe- lecer a seguinte regra de formação da matriz de admitâncias de determinada rede elétrica: y11 y12 y13 y1n y21 y22 y23 y2n y31 yn1 yn2 yn3 ynn Y = , onde: yij = -Yij, i ≠ j yij = yij + Yi0, i = jΣ j = 1 n (15) Regra básica de formação: na diagonal principal da matriz de admitâncias, o termo é composto pela soma de todas as admitâncias que chegam a este nó. Fora da diagonal principal, o termo é composto pela soma das admitâncias que pertencem aos nós envolvidos, mas com sinal trocado. Neste ponto, é conveniente introduzir algumas definições que são essenciais: Admitância de entrada: considere uma barra genérica i. Define-se como admitância de entrada a relação entre a corrente injetada nesta barra sobre a tensão aplicada nela. Isso ocorre quando todas as demais barras do sistema são curto-circuitadas para a barra de referência. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 51 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 51 22/04/2020 16:08:45 Yii = Ii . Vi . Admitância de transferência: considere as barras i e j de um sistema elé- trico. Defi ne-se como admitância de transferência entre as barras i e j a relação entre a corrente injetada na barra j e a tensão aplicada na barra i, desde que to- das, menos a i-ésima barra, estejam curto-circuitadas para a barra de referência. Yji = Ij . Vi . Matrizes de impedâncias nodais (matriz Z) A matriz das impedâncias nodais é dada pela inversão da matriz de admi- tâncias, logo: [Z] = [Y]-1 (16) Entretanto, é importante frisar que, devido ao alto custo computacional exi- gido na inversão de matrizes, há uma alternativa no que diz respeito à obten- ção da matriz de impedâncias nodais. Esta opção será elucidada a seguir. Os elementos da matriz Z são compostos por impedância de entrada e im- pedância de transferência, defi nidos como: Impedância de entrada: considerando uma barra genérica i, defi ne-se como impedância de entrada a relação entre a tensão aplicada na barra i sobre a corrente injetada nesta barra quando as demais barras do sistema são dei- xadas em aberto. Zii = Ii . Vi . Impedância de transferência: considerando duas barras distintas i e j, im- pedância de transferência é defi nida como a relação entre a tensão na barra j sobre a corrente injetada na barra i. Isso ocorre quando as demais são deixa- das em aberto, menos a i-ésima barra. Zji = Ii . Vj . Exemplo: Utilizando a defi nição de impedância de entrada e impedância de transfe- rência, é possível obter a matriz Z de impedâncias nodais do circuito na Figura 3. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 52 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 52 22/04/2020 16:08:45 Figura 3. Rede com dois nós. Fonte: KAGAN et al., 2005, p. 309. (Adaptado). 1 2 Z2Z1 Z12 Agora, deve-se construir a matriz de impedância aplicando as definições de im- pedância de entrada e impedância de transferência. Logo, considere dado o nó 1. Figura 4. Cálculo da matriz Z pela definição (primeira coluna). Fonte: KAGAN et al., 2005, p. 314. (Adaptado). Z1 V1 V2 Z2 Z12 1pu 1 2 Primeira coluna Aplicando a 1ª lei de Kirchhoff ao nó 1: ± Ii = 0Σ i = 1 n 1 = + =z1 V1 . z12 + z2 V1 . z1(Z12 + z2) V1(z12 + z2) + V1Z1 . . V1(z1 + z2 + z12) = 1 . z1(Z12 + z2) . FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 53 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 53 22/04/2020 16:08:46 Portanto: (z1 + z2 + z12) z1(z12 + z2)V1 = 1 . (z1 + z2 + z12) z1z2e V2 = 1 Aplicando as definições de impedância de entrada e de transferência: Z11 = = V1 . I1 . Vi . 1 z1 + z2 + z12 Z1(Z12 + Z2)= (impedância de entrada) Z21 = = V2 . I2 . V2 . 1 z1 + z12 + z2 z1z2= (impedância de transferência) Segunda coluna Figura 5. Cálculo da matriz Z pela definição (segunda coluna). Fonte: KAGAN et al., 2005, p. 314. (Adaptado). 1pu 21 Z2V2Z1 V1 Z12 Procedendo de forma análoga ao item anterior, temos: z1 + z2 + z12 z2(z12 + z1)Z22 = z1 + z12 + z2 z1z2e Z21 = Desta forma, a matriz de impedâncias nodais será: z1 + z12 + z2 1[Z] = z1(z12 + z2) z1z2 z1z2 z2(z12 + z1) Exemplo: Considerando o sistema elétrico a seguir, é possível obter a matriz de admi- tâncias e impedância da rede. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 54 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 54 22/04/2020 16:08:47 Figura 6. Diagrama unifilar de uma rede elétrica. Fonte: BENEDITO, [s.d.], p. 10. (Adaptado). Aplicando os modelos dos dispositivos elétricos como transformadores e geradores, obtém-se o diagrama de impedâncias representado na Figura 7. Figura 7. Diagrama de impedâncias. Fonte: BENEDITO, [s.d.], p. 10. (Adaptado). 1Ea = 1,5∠00 Ec = 1,5∠00 Eb = 1,5∠-36,70 j1,15 + j0,1 j1,15 + j0,1 j0,125 j0,4 j0,25 j0,2 j0,2j1,15 + j0,1 2 3 4 Zt = j 0,1 Zt = j 0,1 Zt = j 0,1 Zg = j 1,15 Z14 = j 0,2 Z13 = j 0,25 Z34 = j 0,125 Z24 = j 0,2 Z23 = j 0,4 Zg = j 1,15 Zg = j 1,15 Ea = 1,5 ∠ 00 Ec= 1,5 ∠ 00 Eb = 1,5 ∠ -36,70 ~ ~ ~ 1 3 4 2 . . . FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 55 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 55 22/04/2020 16:08:48 Aplicando o teorema de Norton, obtém-se o diagrama de admitâncias ilustra- do na Figura 8 e, a partir dele, é possível construir a matriz de admitâncias nodais. Figura 8. Diagrama de admitâncias. Fonte: BENEDITO, [s.d.], p. 11. (Adaptado). y1 = -j0,8 I3 = 1,2 - 126,870 y7 = -j8,0 y5 = -j2,5 y2 = -j0,8 y4 = -j4,0 y6 = -j5,0 y8 = -j5,0 y3 = -j0,8 0 1 2 3 4 I1 = 1,2 - 900 I3 = 1,2 - 900 Construção da matriz de admitâncias nodais Aplicando a regra de formação da matriz de admitância Y, temos: -j9,8 0,0 j4,0 j5,0 0,0 -j8,3 j2,5 j5,0 j4,0 j2,5 -j15,3 j8,0 j5,0 j5,0 j8,0 -j18,0 Y = . . . FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 56 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd 56 22/04/2020 16:08:49 Construção da matriz de impedâncias nodais Z = Y-1 j0,47774 j0,3706 j0,4020 j0,4142 j0,3706 j0,4872 j0,3922 j0,4126 j0,4020 j0,3922 j0,4558 j0,4232 j0,4142 j0,4126 j0,4232 j0,4733 Z = Fluxo de carga nos sistemas elétricos de potência O objetivo principal desta análise para o engenheiro elétrico é, através de cálculo das grandezas de interesse, determinar as condições operacionais de determinado sistema elétrico, seja ele de pequeno ou grande porte. Nesta análise os consumidores, como indústrias, comércio, residências, ci- dades, entre outros, e os produtores, como as usinas, serão representados por barras que recebem os nomes de barras de carga e barras de geração, respec- tivamente. Elas são representadas pela Figura 9. Figura 9. Representação genérica de uma barra. Fonte: ZANETTA, 2005, p. 244. (Adaptado). Pi + jQi Ii Vi 0i As grandezas de interesse na análise do fl uxo de potência são V, θ, P, Q, re- presentadas em preto. A corrente I está em vermelho e indica uma grandeza que pode variar de acordo com a demanda solicitada e, por isto, não é levada em conta no cálculo do fl uxo de potência. FLUXO DE CARGA E ESTABILIDADE 57 SER_ENGELE_FLUXOCE_UNID2.indd
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