Buscar

aula_02_teorias_sociologicas_e_os_novos_aspectos_da_criminologia_científica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Criminalidade | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 1 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
CRIMINOLOGIA 
 
CONTEÚDO 
Teorias Etiológicas e Sociológicas 
da Criminalidade 
Criminalidade | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 2 
A Faculdade Focus se responsabiliza pelos vícios do produto no que concerne à sua 
edição (apresentação a fim de possibilitar ao consumidor bem manuseá-lo e lê-lo). A 
instituição, nem os autores, assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos 
ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra. É proibida a 
reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou 
mecânico, inclusive através de processos xerográficos, fotocópia e gravação, sem 
permissão por escrito do autor e do editor. O titular cuja obra seja fraudulentamente 
reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poderá requerer a apreensão 
dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da 
indenização cabível (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998). 
 
Atualizações e erratas: este material é disponibilizado na forma como se apresenta 
na data de publicação. Atualizações são definidas a critério exclusivo da Faculdade 
Focus, sob análise da direção pedagógica e de revisão técnica, sendo as erratas 
disponibilizadas na área do aluno do site www.cenes.com.br. É missão desta instituição 
oferecer ao acadêmico uma obra sem a incidência de erros técnicos ou disparidades 
de conteúdo. Caso ocorra alguma incorreção, solicitamos que, atenciosamente, 
colabore enviando críticas e sugestões, por meio do setor de atendimento através do 
e-mail secretaria@cenes.com.br. 
 
 
© 2021, by Faculdade Focus 
Rua Maranhão, 924 - Ed. Coliseo - Centro 
Cascavel - PR, 85801-050 
Tel: (45) 3040-1010 
www.faculdadefocus.com.br 
 
Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por 
marcadores. 
Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e 
DESCOMPLICADA pelo conteúdo. 
 
http://www.cenes.com.br/
secretaria@cenes.com.br.
http://www.faculdadefocus.com.br/
Criminalidade | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 3 
1 Sumário 
1 Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 3 
2 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
3 Etiologia criminal ou criminogênese ----------------------------------------------------------------- 4 
3.1 Antropologia criminal --------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 
3.1.1 Cesare Lombroso e as teorias biológicas -------------------------------------------------------------------------------------- 6 
3.1.2 Críticas ao pensamento de Lombroso --------------------------------------------------------------------------------------- 10 
3.2 Psicologia Criminal ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 
3.3 Sociologia Criminal ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 13 
4 Teorias sociológicas da criminalidade -------------------------------------------------------------- 14 
4.1 Teoria consensual ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 14 
4.1.1 Escola de Chicago------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 16 
4.1.2 Teoria da associação diferencial e os white collar crimes -------------------------------------------------------------- 19 
4.1.3 Teoria da subcultura delinquente --------------------------------------------------------------------------------------------- 20 
4.1.4 Teoria da anomia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 22 
4.2 Teoria conflitual -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 
4.2.1 Labelling approach ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 
4.2.2 Teoria crítica ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 27 
5 A criminologia e o paradigma da reação social -------------------------------------------------- 33 
6 A sociedade criminógena ------------------------------------------------------------------------------- 36 
7 Sociologia criminal e a desorganização social ---------------------------------------------------- 37 
8 Cárcere e a marginalidade social--------------------------------------------------------------------- 39 
9 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 42 
10 Referências Bibliográficas --------------------------------------------------------------------------- 44 
 
 
 
Criminalidade | 
Introdução 
www.cenes.com.br | 4 
2 Introdução 
Embora seja considerada a pouco tempo como uma ciência autônoma, o estudo da 
criminologia vem sendo realizado a muito tempo, sendo cogitada em estudos 
científicos desde as décadas de 50 e 60. A origem da palavra criminologia vem do 
latim “crimino” (crime) e do grego “logos”, (estudo/tratado), ou seja, do ponto de vista 
etimológico, criminologia significa “estudo do crime”. 
 
Dentre os vários pensamentos críticos que surgiram a época e, posteriormente 
culminaram nas escolas criminológicas, merecem destaque as teorias antropológicas 
e sociológicas a respeito do estudo da criminológico, foram através desses estudos 
que se formaram os objetos da criminologia. Inicialmente, através da antropologia 
criminal de Lombroso além do crime em si a criminologia passou a estudar também 
o criminoso, assim como suas características biológicas e psicológicas. Em um 
segundo momento, já na década de 50 o comportamento da vítima e os mecanismos 
de reação social também se tornaram relevantes para o estudo, trazendo à tona as 
teorias sociológicas da criminalidade. 
 
3 Etiologia criminal ou criminogênese 
Embora possua uma vertente atual, o estudo da criminogênese surge no fim da Idade 
Média, início da Idade Moderna. De acordo com Sérgio Salomão (2020, p. 96) neste 
período o estudo da criminogênese ou etiologia criminal consistia no “exame dos 
fatores que podiam influenciar a conduta delinquencial; as forças físicas e cósmicas 
foram estudadas, muitas vezes apresentando uma formulação aparentemente 
científica”. 
 
Contudo, atualmente, o estudo da criminogênese pode ser definido como um 
desdobramento da criminologia que concentra sua atenção nos mecanismos de 
natureza biológica, psicológica e social, com o intuito de desvendar os motivos que 
levaram o indivíduo a praticar determinado ato criminoso. Para tanto, a criminogênese 
se vale da interdisciplinaridade, analisando os fatores de natureza sociológica, 
econômica, filosófica, política, médica e psicológica. 
 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 5 
Desta forma, considerando que os estudos da criminogênese analisam quais motivos 
levam um indivíduo a seguir o caminho do crime, esses estudos podem ser 
classificados de duas formas, a microcriminalidade que estuda os fatores pessoais, 
analisando o indivíduo e a macrocriminalidade que analisa os fatores sociais. 
 
 
Figura 1 – Análise sobre a micro e macrocriminalidade. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
Assim, despontam no estudo da criminogênese diversas teorias determinadas pela 
estrutura física e mental do indivíduo, chamadas de antropologia criminal. Em 
contrapartida, outras teorias valorizam a análise dos conflitos de adaptação do sujeito 
e as suas relações com os diversos grupos a que pertencem, atribuindo a 
responsabilidade da formação do caráter antissocial do indivíduoàs relações 
familiares conturbadas nos primeiros anos de vida, sendo essa linha teórica, a 
psicologia criminal. Por fim, existem também autores que relacionam a criminogênese 
à ação da sociedade sobre o sujeito, ou seja, a sociologia criminal. 
 
3.1 Antropologia criminal 
A abordagem criminológica da antropologia, também chamada de biologia criminal, 
é o estudo do homem e da natureza humana, baseando-se na suposição de que os 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 6 
criminosos apresentam características, físicas próprias que predispõem ao crime, 
tendo como principal nome o famoso criminólogo, Cesare Lombroso. 
 
Isto é, a antropologia criminal estuda o indivíduo em si, desde as suas características 
físicas até o psicológico. Essa corrente defende que o indivíduo é o único responsável 
pela conduta criminosa, dado que devido as suas características já está predestinado 
a esse comportamento. No entanto, embora seja extremamente relevante para o 
estudo da criminologia, atualmente essa linha teórica é a mais fraca dentre as outras 
– psicologia criminal e sociologia criminal –, pois, não consideramos possível 
determinar se um indivíduo cometerá crimes ou não, apenas com base em suas 
características. 
 
Cesare Lombroso foi um dos membros da escola positivista que analisou milhares de 
cadáveres de criminosos, pontuando e destacando suas principais características 
físicas e mentais, com o intuito de traçar o perfil dos delinquentes. Baseado em um 
conjunto de características físicas, Lombroso acreditava ser possível determinar o 
perfil do delinquente, pessoas que ostentassem, entre outras características, o crânio 
assimétrico, fronte fugida, rosto lago e chato teriam grandes chances de se tornarem 
criminosos ao longo da vida. 
 
3.1.1 Cesare Lombroso e as teorias biológicas 
O psiquiatra Cesare Lombroso é um dos principais nomes e precursor no estudo da 
criminologia, autor da obra “O homem delinquente”, dedicou sua vida ao estudo da 
antropologia criminal, ao tentar descobrir fatores físicos e psicológicos nos 
indivíduos, que pudessem identificar com antecedência se aquele cidadão no futuro 
seria ou não um criminoso. 
 
Movido pelas ideias evolucionistas desenvolvidas na segunda metade do século XIX 
que tentavam explicar “por que algumas cometem crimes e outras não?”. Nas palavras 
de Juarez Cirino (2019, p. 55) “Cesare Lombroso elaborou uma teoria biológica (e, sob 
outras formas, ainda persistente) do comportamento criminoso, cuja ideia central 
aparece em todas as formulações posteriores do positivismo biológico: a noção do 
criminoso nato”. 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 7 
Assim, através das teorias do criminoso nato e do positivismo antropológico, 
Lombroso tenta localizar e identificar o fator diferencial em alguma parte do corpo 
ou no funcionamento do sistema e subsistema do ser humano, estabelecendo um 
padrão para determinado tipo de criminoso, de modo que a conduta delitiva pode ser 
entendida como uma espécie de consequência patológica. 
 
 
 
Na execução de suas pesquisas, o criminólogo utilizou o método comparativo, 
aplicado em diversos cadáveres de presos e soldados, com o intuito de verificar se os 
indivíduos portavam alguma peculiaridade física ou psicológica e comparou o 
resultado das pesquisas com os dados estatísticos da criminalidade. De acordo com 
Nestor Sampaio (2020, p. 34), Lombroso analisou diversas características como, 
[...] estrutura torácica, estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de mãos e pernas foram 
analisados com detalhes. Lombroso também buscou informes em dezenas de parâmetros 
fenológicos, decorrentes de exames de crânios, traçando um viés científico para a teoria do 
criminoso nato (SAMPAIO, 2020, p. 34). 
 
Assim, depois de realizar muitas pesquisas, Lombroso constatou que o tamanho da 
mandíbula, conformação cerebral, estrutura óssea da face e arcos superciliares 
pronunciados, orelhas grandes e deformadas, molares protuberantes, estrutura 
corporal grande e dissimétrica, eram algumas das hereditariedades biológicas que, 
geralmente, estavam presentes nos criminosos. Isto é, o criminólogo defendia que o 
delinquente é geneticamente predestinado ao crime, simplesmente por razões 
congénitas. 
 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 8 
 
Figura 2 – Crânio de Giuseppe Villella, criminoso conhecido como “Calabreso” 
Fonte: Foto Goffi Roberto, Museo di Antropologia Criminale “Cesare Lombroso”. 
 
Além disso, outro fator considerado nos estudos de Lombroso eram as tatuagens, 
pois, ainda que não ostentem um caráter hereditário e biológico, sendo adquiridas 
posteriormente pelo indivíduo, são consideradas um marco revelador de 
criminalidade, dado que, segundo ele as pessoas tatuadas eram insensíveis à dor e, 
consequentemente cínicas, vaidosas, sem senso moral, preguiçosas e com caráter 
impulsivo, com tendência ao crime. 
 
Desta forma, dizemos que os estudos realizados por Lombroso assumiram na época 
um papel importante no que diz respeito a interdisciplinaridade da criminologia, na 
medida em que retirava conceitos da psicologia, psiquiatria, examinando o 
comportamento mental das pessoas e da antropologia, para evidenciar a definição de 
atavismo ao invés de evolução. Tudo isso em prol de firmar o conceito de criminoso 
nato. 
 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 9 
 
 
De acordo com Lombroso, o criminoso não é totalmente vítima das circunstâncias 
sociais e educacionais desfavoráveis, visto que ele possui uma tendência física e 
hereditária para o mal, concluindo que a delinquência é uma espécie de doença 
genética. O criminologista acreditava que o crime pode ser definido como um produto 
de fixação atávica, pois, o comportamento antissocial é uma espécie de regressão do 
homem ao estado selvagem, devido as degenerações biológicas do sujeito. 
 
 
 
No mais, conforme destaca Nestor Sampaio (2020, p. 34) para Lombroso “não havia 
delito que não deitasse raiz em múltiplas causas, incluindo-se aí variáveis ambientais 
e sociais, por exemplo, o clima, o abuso de álcool, a educação, o trabalho etc”. Assim, 
o estudioso comenta que, não apenas os traços físicos e biológicos, levam o ser 
humano ao crime, outras causas também podem levar a delinquência e essas podem 
mascarar ou anular a aptidão perversa de certos indivíduos. Os fatores externos são 
muito variados, podendo o indivíduo ser influenciado pelo clima, pela cultura, 
densidade demográfica, alcoolismo, insuficiência econômica, religião, entre outros. 
 
Por outro lado, com relação as crianças, Lombroso explica que, a irritação daquelas 
consideradas “normais” se dá quando experimentam uma dor ou quando se tem a 
Conforme definição apresentada no dicionário Aulete Digital, ATAVISMO é o 
“reaparecimento, no ser animal ou vegetal, de caracteres genéticos 
(características naturais, físicas, psicológicas, intelectuais, comportamentais etc.) 
não presentes em seus ascendentes imediatos, mas sim em ascendentes 
remotos, e que haviam ficado latente ao longo de gerações”. 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 10 
necessidade de dormir, por exemplo. Contudo, no caso daquelas classificadas como 
futuras delinquentes, a causa da sua cólera é determinada sobre dois sentimentos 
dominantes, a obstinação e a impulsividade, demonstrando uma expressão aguda de 
capricho, ciúme e vingança. 
 
Ademais, como uma de suas últimas contribuições a criminologia, Lombroso 
apresentou uma análise sobre as anomalias do cérebro, sendo esse outro fator de 
identificação do criminoso. No estudo o criminologista defende que uma ou mais 
comunicações cerebrais não impedem o cérebro de ser inteligente, mas se forem 
afetadas partes importantes, o desenvolvimento defeituoso poderádesencadear a 
opção criminológica. 
 
Desta forma, conforme falamos anteriormente, sem deixar de frisar a importância da 
biologia criminal nos tempos modernos e, ressaltando sua extrema importância para 
o estudo da criminologia, atualmente essa linha teórica é a mais fraca dentre as outras 
– psicologia criminal e sociologia criminal –, pois, ainda que contribua de forma 
indireta com a conduta do homem e seja responsável pela forma de interação das 
pessoas umas com as outras, não é possível determinar se um indivíduo cometerá 
crimes ou não, apenas com base em suas características. 
 
 
 
3.1.2 Críticas ao pensamento de Lombroso 
Por motivos óbvios, as teorias desenvolvidas por Lombroso não são aplicadas 
atualmente, servindo apenas para o desenvolvimento teórico da criminologia. Assim, 
Atualmente, embora as teorias a respeito do determinismo e da antropologia 
criminal realizadas por Lombroso, encontram-se superadas, é válido destacar 
que, alguns cientistas norte-americanos, através da neurociência, tentam explicar 
como o cérebro humano reage momentos antes do indivíduo praticar um crime, 
de modo que o livre arbítrio é manifestado apenas através dos pensamentos 
íntimos o indivíduo. 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 11 
alguns doutrinadores e criminólogos, ao longo da história, criticaram as diversas 
teorias elaboradas por Lombroso. 
 
Nas palavras de Eduardo Viana (2018) embora tenha contribuído significativamente 
para o estudo da criminologia, o precursor do estudo da antropologia criminal 
cometeu diversos erros na valoração estatística, especialmente quanto o tratamento 
de dados, haja vista o precário desenvolvimento estatístico utilizado a época. Assim, 
mesmo que de forma involuntária, os dados apresentados nas pesquisas são 
interpretados de maneira equivocada e, isso certamente foi um fator determinante 
para as muitas das diversas críticas que recebeu. 
 
 
 
Conforme destaca Roberto Lyra Filho (1972, apud PENTEADO FILHO, 2020, p. 157) “é 
visível o insucesso das correntes puramente biológicas ou psicológicas, da mesma 
forma que o neossociologismo da aberração (deviant behavior), devendo o 
criminólogo se ocupar também da gênese das normas éticas e jurídicas”. 
 
Na visão de Roberto Lyra, diante de um crime bárbaro, geralmente, as autoridades se 
dirigem primeiro aos lugares em que pousam os humildes, pois, antes de todos, são 
eles taxados como suspeitos. Durante a realização de suas pesquisas sociológicas a 
respeito da criminalidade, Lyra obteve resultados que indicaram que a delinquência é 
punida nas classes menos favorecidas. Esse entendimento é trabalhado na 
criminologia crítica ou dialética, que, através da estigmatização da população 
marginalizada, transforma como alvo preferencial do sistema penal a classe 
trabalhadora. 
 
Lombroso acreditava que o Direito Penal deveria ser julgado com base no 
autor, o que, atualmente, é inadmissível. 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 12 
Ainda, é válido destacar o posicionamento adotado pelo jurista alemão Winfried 
Hassemer, que criticou a ideia central utilizada por Lombroso em sua obra “O Homem 
Delinquente”, alegando que o erudito pesquisador italiano errou ao acreditar que as 
anomalias corporais, devido a condições sociais propícias, fariam daqueles cidadãos 
criminosos ou delinquentes. 
 
Além disso, Hassemer reprova totalmente a ideia proposta por Lombroso de criar um 
direito penal que poderia punir antecipadamente uma pessoa por força de suas 
condições físicas antes dela praticar qualquer conduta desviante. A observação pelo 
magistrado é justamente a máxima empregada no direito penal atualmente, de modo 
que não se pode punir a pessoa pelo que ela é, e sim pelo ato ilícito praticado. 
 
 
 
3.2 Psicologia Criminal 
A psicologia criminal, como uma vertente etiológica da criminologia estuda a 
personalidade e o comportamento do indivíduo, especialmente no que diz respeito 
ao impacto que a família tem no comportamento criminal do sujeito. 
 
Neste sentido, Eliane Dalla Coletta et al. (2018, p. 26) afirma que, 
A psicologia criminal hoje estuda a personalidade e os transtornos que levam a uma 
perturbação grave no comportamento. Os transtornos que evidenciam uma ausência de 
controle emocional com falta de sensibilidade para o sofrimento alheio e/ou falta extrema de 
remorso ou culpa podem levar a um comportamento delituoso (COLETTA et al., 2018, p. 26). 
 
Ainda, Nestor Sampaio (2020, p. 221) complementa dizendo que “a psicologia criminal 
Criminalidade | 
Etiologia criminal ou criminogênese 
www.cenes.com.br | 13 
tem por objeto de estudo a personalidade “normal” e os fatores que possam 
influenciá-la, quer sejam de índole biológica, mesológica (meio ambiente) ou social”. 
Isto é, o papel da psicologia criminal é extremamente importante para o estudo da 
criminologia, pois, é através do intercâmbio de informações com essa disciplina que 
podemos identificar os fatores que levaram o indivíduo a cometer determinados 
crimes, bem como seus padrões de comportamento. 
 
3.3 Sociologia Criminal 
De acordo com Nestor Sampaio (2020, p. 78) “a sociologia criminal, em seu início e 
postulados, confundiu-se com certos preceitos da antropologia criminal, uma vez que 
buscava a gênese delituosa nos fatores biológicos, em certas anomalias cranianas, na 
“disjunção evolutiva”. Os autores que defendiam essa perspectiva acreditavam que o 
comportamento delinquente do indivíduo é fruto da sociedade, seja pelo ambiente a 
que é exposto ou pela forma que é tratado pelas pessoas do seu convívio. 
 
Um grande nome dessa corrente foi Enrico Ferri, autor da obra “Sociologia Criminal” 
o criminalista defendia a ideia do determinismo social, apontando elementos 
antropológicos como causas determinantes do comportamento criminoso. O autor 
acreditava que o comportamento delinquente é um produto da sociedade que, sem 
ela, não existiria. Além disso, Ferri apoiava a tese de negativa do livre-arbítrio que, na 
visão de Natacha Alves (2020, p. 75) “não se admite crime como um produto da 
liberdade de escolha do delinquente, mas como um fenômeno social, determinado 
por causas naturais, afastando-se a responsabilidade moral do criminoso por sua 
conduta”. 
 
Outro pensador extremamente relevante para esse período foi o filósofo Augusto 
Comte que, de acordo com Natacha Alves (2020, p. 27) define o crime como sendo 
um “fenômeno social e busca explicar e justificar a maneira como os fatores do meio 
ambiente social (fatores exógenos) atuam sobre a conduta individual, conduzindo o 
homem à prática delitiva”. 
 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 14 
4 Teorias sociológicas da criminalidade 
O surgimento das teorias sociológicas aliada a forma como os sociólogos encaram a 
composição da sociedade, o estudo da criminalidade se dividiu em duas vertentes, a 
consensual e a conflitual. Essas duas teorias macrossociológicas – de consenso e 
conflito – analisam o conflito não só pela ótica do indivíduo, mas sim pelo viés da 
sociedade como um todo. 
 
Figura 3 – Teorias macrossociológicas 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
Neste sentido, Sérgio Salomão (2020, p. 162) afirma que, as teorias macrossociológicas 
têm por objetivo 
examinar as diferentes visões justificadoras do delito, explicativas ou críticas, não tendo por 
escopo examinar a interação entre indivíduos e pequenos grupos, mas sim fazer uma 
abordagem da sociedade como um todo, do seu complexo sistema de funcionamento, de seus 
conflitos e crises, de modo a obter, mediante o estudo do fenômeno delituoso, as diferentes 
respostas explicativas da criminalidade (SHECAIRA, 2020, p. 162). 
 
4.1 Teoria consensual 
As teorias consensuais só atingem sua finalidade, quando todas as instituições 
presentes na sociedade estão em perfeitofuncionamento, de forma que os indivíduos 
compartilhem seus objetivos comuns a todos, aceitando as regras e cumprindo as 
ordens vigentes. 
 
Neste sentido, dispõe Sérgio Salomão (2020, p. 163) que pela ótica da teoria 
consensual a “finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 15 
funcionamento das suas instituições de forma que os indivíduos compartilham os 
objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras vigentes e compartilhando 
as regras sociais dominantes. 
 
Figura 4 – Elementos da teoria consensual. 
Fonte: Adaptação de Nestor Sampaio Penteado Filho, 2020. 
 
Assim, podemos citar como exemplos da teoria consensual, as teorias da escola de 
Chicago, da associação diferencial e os white collar crimes, da subcultura delinquente 
e, por fim, a da anomia. Na sequência, trabalharemos melhor cada uma dessas 
possibilidades. 
 
 
 
Teoria consensual
Escola de Chicago Teoria ecológica
Teoria da associação 
diferencial
White collar crimes
Teoria da subcultura 
delinquente
Teoria da anomia
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 16 
4.1.1 Escola de Chicago 
Além das contribuições no desenvolvimento tecnológico e na economia, a Revolução 
Industrial desempenhou um papel fundamental na expansão do mercado americano, 
facilitando o desenvolvimento de muitas cidades promissoras. Não foi diferente com 
a cidade de Chicago, localizada as margens do lago Michigan em Illinois, atualmente 
é uma das maiores cidades dos EUA, mas em 1840 não passada de um pequeno 
município com 4.470 habitantes. 
 
No entanto, outro fator que foi essencial para o desenvolvimento da cidade americana 
foi a construção da Universidade de Chicago em 1890, atraindo um número maior de 
estudantes a cada ano. Assim, com o crescimento significativo do centro urbano, há 
uma aproximação entre as elites e a classe baixa, ocorre o chamado movimento 
circular centrífugo, que é a expansão do centro da cidade para os bairros e periferias. 
 
À primeira vista, o crescimento do centro urbano parece trazer apenas aspectos 
positivos, no entanto é isso que ocorre na prática. Devido a expansão desordenada 
revela graves problemas sociais, trabalhistas, familiares e culturais. Conforme destaca 
Sérgio Salomão (2020, p. 172) “a inexistência de mecanismos de controle social e 
cultural permite o surgimento de um meio social desorganizado e criminógeno que 
se distribui diferenciadamente pela cidade”. 
 
Assim, movidos pelos recentes problemas sociais, os acadêmicos da Universidade de 
Chicago, mais especificamente os alunos William Thomas, Robert Park e Ernest 
Burgess, Clifford Shaw e Henry Mckay, integrantes do Departamento de Sociologia, 
iniciaram diversas pesquisas examinando a sociedade como um todo, desde o 
comportamento dos grupos sociais até a opinião pública, para fins como a política 
criminal. 
 
Nas palavras de Eduardo Viana (2018, p. 214) 
Dentro da perspectiva da Escola de Chicago, a compreensão do crime sistematiza-se a partir 
da observação de que a gênese delitiva relacionava-se diretamente com o conglomerado 
urbano que, muitas vezes, estruturava-se de modo desordenado e radial, o que favorecia a 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 17 
decomposição da solidariedade das estruturas sociais. Não por outra razão, seus teóricos 
desenvolviam uma “sociologia da grande cidade” (VIANA, 2018, p. 214) 
 
 
O trabalho da escola criminológica de Chicago na época, explorou a relação entre a 
organização do espaço urbano e a criminalidade, ela teve um papel fundamental no 
estudo da criminalidade urbana, utilizando principalmente os métodos da ecologia 
humana. Essa teoria, denominada como teoria da ecologia criminal ou da 
desorganização social, estuda a criminologia com base em métodos sociológicos, de 
modo que o crime é visto como um fenômeno ligado a uma área natural (ecologia 
criminal), coincidindo historicamente com a época das grandes migrações e da 
formação das grandes metrópoles. 
 
 
 
O termo ecologia criminal, é utilizado na análise da criminologia em áreas 
determinadas no meio ambiente urbano, sendo responsável pela prática de delitos. 
Atualmente existem dois conceitos distintos utilizados na compreensão da ecologia 
criminal da escola de Chicago, a definição de desorganização social, elaborada por 
Shaw e Mckay, e a identificação de “áreas de delinquência”. 
 
A teoria da desorganização social nasce através da análise feita por Shaw e Mckay, na 
análise da delinquência juvenil e a questão da migração em locais determinados como 
áreas de delinquência. Conforme destaca Eduardo Viana (2018, p. 218) “o ponto de 
partida de Shaw e Mckay foi a observação de que o volume de criminalidade nas 
cidades, a exemplo de Chicago, distribuía-se de modo heterogêneo”. 
 
“A razão para a denominação Escola de Chicago, e não ecologia criminal, é 
dupla: por um lado deriva da explosão urbana na cidade de Chicago; por 
outro, da criação do primeiro departamento de sociologia do mundo na 
Universidade de Chicago” (VIANA, 2018, p. 213). 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 18 
Em um primeiro momento os sociólogos concluíram que, nas chamadas zonas de 
transição, onde o fluxo de pessoas é maior devido as conexões com os pontos centrais 
da cidade, o nível de criminalidade é maior, pois, considerando a mobilidade social, a 
transferência de valores pró-sociais é menor, logo o controle social é precário. Em 
contrapartida, quanto mais afastadas do centro urbano são as áreas de moradias, 
menor é a taxa de criminalidade, vez que a transferência de valores pró-sociais torna-
se mais fácil e o controle social se intensifica (VIANA, 2018). 
 
No entanto, ao longo da pesquisa, constataram que além da transferência de valores 
pró-sociais e do controle social, outros fatores influenciavam no índice de 
criminalidade, como, por exemplo, as taxas de desemprego, a pobreza e a 
comercialização de substâncias ilícitas. Assim, concluíram que, 
[...] as causas determinantes da criminalidade precisam estar infundidas em singulares áreas 
urbanas e nas suas correspondentes estruturas; essas causas não devem ser investigadas – 
como sugeria a criminologia clássica – nas pessoas ou nas suas particularidades, mas sim, 
devem existir nos valores, nas normas e nas suas relações que marcam a vida dentro de uma 
área urbana (VIANA, 2018, p. 218-219). 
 
Neste ponto, devemos ressaltar o entendimento de Robert Park, o qual afirmava que 
a sociologia não estava interessada apenas em fatos, mas sim em como a comunidade 
reagia e lidava com a situação pós-crime. Essa análise sociológica, denominada como 
observação de participante, tinha como ponto fundamental a experiência prática, 
sendo aquela em que o pesquisador interage diretamente com o objeto de estudo. 
Isto é, no método de observação participante, o pesquisador toma parte do 
fenômeno, permitindo examiná-lo como ele realmente ocorre, tendo como base a 
própria experiência. 
 
Assim, com o advento da escola de Chicago, a criminologia abandonou o paradigma 
do positivismo proposto por Cesare Lombroso, deixando de analisar somente a 
pessoa em si e começou a prestar mais atenção nas influências causadas pelo 
ambiente social em que os indivíduos eram expostos. Como exemplo da influência 
dos estudos da escola de Chicago no Brasil, tivemos o chamado mapa de risco de 
violência na cidade de São Paulo em 2005, utilizando métodos para identificar os 
polos de desorganização com altos índices de criminalidade. 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 19 
4.1.2 Teoria da associação diferencial e os white collar crimes 
A teoria da associação diferencial foi elaborada pelo sociólogo americano Edwin 
Sutherland, influenciado pelasideias do filósofo Gabriel de Tarde. O primeiro contato 
que Sutherland teve com a criminologia foi em 1906 na universidade de Chicago, 
sendo por ela influenciado. De acordo com Nestor Sampaio (2020, p. 84), o sociólogo 
defende que “o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou 
desenvolvido pelo sujeito ativo. Sutherland não propõe a associação entre criminosos 
e não criminosos, mas sim entre definições favoráveis ou desfavoráveis ao delito”. 
 
Assim, a teoria da associação diferencial tende a aprender alguns tipos de 
comportamentos desviantes, por um aspecto diferente daquele que estávamos 
acostumados. Através de seus estudos Sutherland identifica que os criminosos 
diferenciais se distinguem dos outros na medida em que possuem um conhecimento 
especializado e habilidades em determinadas áreas. Isto é, a delinquência não pode 
ser atribuída somente às pessoas pobres ou com dificuldades sociais, ao passo que a 
criminalidade pode estar presente no cotidiano de pessoas uma vida financeira estável 
(classe média a alta). Portanto não se pode dizer que alguém nasce criminoso, mas 
que sua delinquência é resultado de uma socialização indevida. 
 
 
 
Posteriormente, no final dos anos 30, Sutherland apresenta a expressão “white collar 
crimes”, onde ele passa a identificar crimes diferenciados, analisando justamente os 
“crimes de colarinho branco”, para identificar os sonegadores, corruptos e 
empresários com perfil criminológico, que possuem um tratamento diferenciado 
diante da prática de seus crimes. Para Sutherland, o crime de colarinho branco é 
aquele que é cometido em razão da sua profissão por uma pessoa de elevada posição 
social. 
“[...] a associação diferencial desperta as leis de imitação, porque, ao contrário 
do que suponha Lombroso, ninguém nasce criminoso, mas a criminalidade é 
consequência de uma socialização incorreta” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 84). 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 20 
 
 
No entanto, de acordo com Sutherland existem três motivos básicos para que o Estado 
trate essas pessoas de forma diferente: 
• Os sujeitos diferenciados que praticam esse tipo de crime, como, por exemplo 
os “white collar crimes”, não podem ser confundidos com os criminosos comuns, 
pois, ocupam posições do alto escalão, causando medo e admiração na 
sociedade e no próprio estado; 
• Embora causem danos extremamente relevantes as vítimas, a resposta a essas 
condutas desviantes, são, em regra, não penais, mas sim administrativas. Nesses 
crimes as penas não são altas, admitindo penas substitutivas as de prisão, tudo 
com base na ideia de desnecessidade de ressocialização de tais pessoas, por 
não serem elas dessocializados; 
• Outra situação que esses débitos são analisados de forma diferente, dado que 
não causam um impacto direto na sociedade, sendo de efeitos difusos (não é 
sentido diretamente, o impacto do crime). 
 
4.1.3 Teoria da subcultura delinquente 
Considerando que, a cultura em uma sociedade é o que permite a formação de uma 
pessoa, a teoria da subcultura delinquente parte da ideia de que a formação cultural 
de cada um tem extrema importância na forma de ser, de modo que, inevitavelmente 
a diferença cultural existente na sociedade possa ser, inevitavelmente, causa de 
conflitos. 
 
Teoria da associação 
diferencial
White collar crimes
Praticado por pessoas de 
elevada classe social
Geralmente o crime é 
praticado em razão da 
função do sujeito
Graves violações de 
confiança
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 21 
Em uma sociedade de forma pacífica ou conflitiva, a análise das subculturas afirma 
que em algumas hipóteses, especialmente com relação as camadas menos favorecidas 
da sociedade, as subculturas podem ter uma reação contra a cultura dominante, 
desejando que a cultura, taxada como inferior dessa área, prevaleça e domine. Essa 
camada menos favorecida, pode querer agredir a cultura dominante, principalmente 
se submeter essa região à miséria, não permitindo a ascensão social dos moradores 
desse território. 
 
De acordo com Natacha Alves (2020, p. 114), a teoria da subcultura surge em 1955 
com a publicação da obra “Delinquent Boys”, do sociólogo norte americano Albert K. 
Cohen, o qual indica a “existência, paralelamente à cultura predominante na 
sociedade, de subculturas que retratam os sentimentos e valores de determinado 
subgrupo social, das quais a conduta delitiva seria produto”. 
 
Assim, o sociólogo Alberto Cohen foi quem tratou mais profundamente a questão 
das subculturas e a defendeu como explicação para o fenômeno criminal. Os 
indivíduos das subculturas, querendo prevalecer sobre a cultura “oficial” do Estado, 
praticam um ato reprovável, que em sua opinião estão agindo dentro de uma pauta 
valorativa, movidos pelo intuito de ajudar seus próximos, obter elogios, 
respeitabilidade e confiança daqueles que aceitam a mesma subcultura como 
verdadeira, gerando então a criminalidade. 
 
Neste aspecto, é válido destacar a opinião de Natacha Alves (2020, p. 115) no sentido 
de que “diversamente da teoria ecológica, para a qual o crime seria produto da 
desorganização social ou da ausência de valores, para a teoria em estudo a conduta 
criminosa seria reflexo de um sistema de normas e valores, o subcultural”. Além disso, 
conforme evidência Nestor Sampaio (2020, p. 89) “três ideias básicas sustentam a 
subcultura: 1) o caráter pluralista e atomizado da ordem social; 2) a cobertura 
normativa da conduta desviada; 3) as semelhanças estruturais, na gênese, dos 
comportamentos regulares e irregulares”. 
 
Isto é, essa questão se torna evidente na maioria das comunidades, quando, por 
exemplo, na prática do crime de tráfico de drogas, a subcultura do delinquente é 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 22 
aceita pelos demais moradores, diante das boas ações dos criminosos em prol da 
comunidade, seja com relação as pessoas ou com a infraestrutura do local, 
especialmente quando o Estado se torna ineficiente e omisso na região. 
 
Desta forma, dizemos que o contexto da subcultura surge quando as minorias que 
vivem à margem da sociedade se unem e desenvolvem determinados padrões de 
comportamento e de valores, em prol da sobrevivência de todos, favorecendo, muitas 
vezes, ainda que de forma involuntária a subcultura delinquente. 
 
4.1.4 Teoria da anomia 
A teoria criminológica do sociólogo Émile Durkheim, denominada funcionalista, 
aprovou que a realidade social pode ser analisada independente do indivíduo, levando 
em conta as funções da sociedade e as normas que a regem. Durkheim escreveu sobre 
o vazio normativo, ou seja, na anomia nem sempre existem regras sociais. É a partir 
desta perspectiva surge o termo “anomia”, originário do grego (a - ausência de normas 
+ nomos - lei), que significa ausência de lei/normas. 
 
Assim, de acordo com Durkheim, para que a sociedade chegue ao ponto de felicidade 
é necessário a observância de algumas regras comuns (lei), contudo, diante de uma 
sociedade injusta e desigual, nem todos conseguem cumprir as referidas ordens, ao 
passo que, sem o auxílio de facilitadores, para que seja alcançado todos os objetivos 
ou cumpridas todas as regras, os indivíduos de cultura inferior tendem a criar lacunas, 
sendo elas, muitas vezes, condutas desviantes. Desta forma, o agente não utiliza das 
regras adotadas no meio social, constituindo suas próprias normas, agindo de modo 
autônomo e praticando ações que julga como correto, independentemente do ponto 
de vista social. 
 
Neste sentido, é válido destacar o entendimento de Sérgio Salomão (2020, p. 251) 
que, de acordo com Durkheim 
não é o crime um fato necessariamente nocivo, uma vez que pode ter inúmeros aspectos 
favoráveis à estabilidade e mudança social, pelo reforço que pode trazer à solidariedade doshomens. O anormal não é a existência do delito, senão um súbito incremento ou decréscimo 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 23 
dos números médios ou das taxas de criminalidade. Uma sociedade sem crimes é pouco 
desenvolvida, monolítica, imóvel e primitiva (SHECAIRA, 2020, p. 251). 
 
O sociólogo considera que, passa a existir uma contradição entre os meios e as normas 
existentes, para se chegar às metas sociais. Por conta disso, o indivíduo é levado a 
algumas opções como, o suicídio ou a busca do atingimento das metas, atuando sem 
considerar as normas vigentes. Assim, com o passar do tempo a teoria da anomia 
ganhou rapidamente um imenso prestígio pessoal, sendo utilizada hoje para inserir, 
sobre o ponto de vista sociológico, a análise do comportamento existente na 
sociedade, não se limitando a simples análise dos motivos que conduzem os jovens a 
criminalidade ou que impulsionam uma pessoa de outra classe social a praticá-lo. 
 
Figura 5 – O alcance da felicidade através da teoria da anomia. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 24 
Uma variação do pensamento de Durkheim foi desenvolvida por Robert Merton, 
relacionando a teoria da anomia com a teoria da estrutura. Merton estabelece uma 
distinção entre “estrutura social” e “estrutura cultural”. A primeira pode ser 
definida como o conjunto de mecanismos disponíveis, para que sejam atingidas as 
metas assentadas na estrutura cultural, ao passo que a segunda são as metas em si. 
 
 
Figura 6 – Estrutura social e cultural. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
Nas palavras de Nestor Sampaio (2020, p. 86) “Merton explica que o comportamento 
desviado pode ser considerado, no plano sociológico, um sintoma de dissociação 
entre as aspirações socioculturais e os meios desenvolvidos para alcançar tais 
aspirações”. 
 
Assim, considerando o ponto de vista idealista, a estrutura cultural deve corresponder 
à estrutura social, ou seja, às metas devem ser condizentes aos mecanismos 
apresentados, pois, a estrutura social é composta tanto por métodos legítimos quanto 
ilegítimos. À medida que “o fracasso no atingimento das aspirações ou metas culturais 
em razão da impropriedade dos meios institucionalizados pode levar à anomia, isto é, 
a manifestações comportamentais em que as normas sociais são ignoradas ou 
contornadas” (Ibid.., p. 86). Essa variação da teoria da anomia, conclui que o indivíduo 
tem a certeza que mesmo cumprindo todas as regras não atingirá a meta social. 
 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 25 
Desta forma, a questão da teoria da anomia, especialmente com relação aos 
incrementos realizados por Merton as concepções de Durkheim, é a explicação do 
fenômeno criminal se deslocando do indivíduo, como era feito nas teorias biológicas, 
para a estrutura social. Conforme destaca Natacha Alves (2020, p. 111) a teoria da 
anomia propõe “uma mudança paradigmática, com o deslocamento da perspectiva 
positivista biopsicológica e caracterológica da delinquência para uma concepção 
sociológica, despatologizando o delito, de sorte a compreende-lo com a noção da 
normalidade do desvio como fenômeno social”. 
 
Assim, na medida em que os meios sociais legítimos (ex.: trabalho) garantem a 
possibilidade do sucesso no atingimento das metas a um grupo de pessoas, a 
estrutura social gera para outros a certeza do fracasso inevitável, forçando-os a atuar 
em margens ilegítimas para atingir as finalidades sociais, ou seja, a falta de meios 
institucionalizados para todos os indivíduos aliado ao abandono das regras sociais, 
são o cenário propicio para o desenvolvimento da chamada anomia. 
 
4.2 Teoria conflitual 
Diferente da teoria consensual, na teoria do conflito a coesão e a ordem da sociedade 
são fundadas na força, na coerção e na dominação de alguns sujeitos diante da 
submissão de outros. Segundo essa teoria, a sociedade só vai dar certo se o Estado 
tiver força, à medida que ignora quase que completamente a existência de acordos e 
estabelece o controle mediante o uso da força. 
 
4.2.1 Labelling approach 
A teoria do labelling approach, também conhecida como teoria da rotulação social, do 
etiquetamento social, da reação social ou do interacionismo simbólico, nasce em 1960 
resultado dos estudos definicionistas de Erving Goffman, Edwin Lemert e Howard 
Becher, autores da Nova Escola de Chicago. A teoria desloca-se do campo teórico 
etiológico, onde a culpa do crime é do estado e passa a defender que o 
comportamento delinquente, nada mais é do que um processo social de interação, 
com tendencias seletivas e discriminatórias. 
 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 26 
De acordo com Sérgio Salomão (2020, p. 309) “as questões centrais do pensamento 
criminológico, a partir desse momento histórico, deixam de referir-se ao crime e ao 
criminoso, passando a voltar sua base de reflexão ao sistema de controle social e suas 
consequências, bem como ao papel exercido pela vítima na relação delitual”. 
 
A teoria do labelling approach, se constitui no aprofundamento de alguns dados 
observados pela criminologia crítica, o que inicialmente já demonstra sua não 
concordância com o poder punitivo do estado, dado que o enfoque fica voltado mais 
para as instâncias formais de controle do que para os autores dos delitos. Nesta teoria 
trabalhamos com a ideia de que não existe uma conduta naturalmente criminosa, mas 
sim que ela decorre de uma adjetivação, ou seja, a ação criminosa não é uma 
qualidade inata, mas uma qualidade imposta ao indivíduo. Assim, o resultado dessa 
atribuição é um processo de etiquetamento, fazendo com que o crime, o criminoso e 
a própria criminalidade, sejam etiquetados pelo Estado. 
 
Neste sentido, é importante destacar que as etiquetas não decorrem de uma 
casualidade, elas são constituídas sobre a pessoa com base nos aspectos formais e 
informais do controle social. Assim, os indivíduos, desde a infância, no seu núcleo 
familiar, escolar ou em qualquer outro ambiente capaz de desenvolver as instâncias 
informais, são etiquetados pela sociedade. Com o reforço permanente da 
estigmatização, a pessoa etiquetada acaba assumindo a condição que lhe foi imposta 
e passa a se comportar como tal. 
 
Assim, Natacha Alves (2020, p. 121) complementa dizendo que, através do processo 
de estigmatização produzido pelo etiquetamento, 
há a aproximação dos diversos indivíduos rotulados como delinquentes e gera-se a expectativa 
social de que a conduta desviante torne a ser praticada, fazendo com que o próprio indivíduo 
assim rotulado também se conceba como tal, perpetuando o comportamento criminoso, de 
modo a resultar na chamada criminalização secundária (reincidência). Evidencia-se, assim, o 
caráter criminógeno do cárcere (função reprodutora da prisão). 
 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 27 
 
Figura 7 – Teoria do etiquetamento e a ressocialização. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
Desta forma, a proposta do Labelling Approach, é uma verdadeira mudança 
paradigmática no estudo da criminologia, pois, deixamos de investigar a pessoa como 
um delinquente e passamos a observá-la como um objeto de análise para a verificação 
das instâncias de controle social. Concluindo que, a teoria busca compreender os 
processos de criminalização e estigmatização social, através dos diversos 
comportamentos definidos como crime e da reação social a conduta delinquente. 
 
4.2.2 Teoria crítica 
A teoria crítica é uma abordagem semelhante à do etiquetamento, dado que o crime 
passa a ser visto como uma realidade meramente normativa, moldada pelo sistema 
responsável e pela aplicação das leis penais vigentes. Assim, seguindo uma linha mais 
analítica, a teoria crítica examina o sentido normativoda conduta criminosa, com o 
intuito de compreender o fenômeno como um todo. 
 
Influenciada em grande parte, pelos escritos de Karl Marx, a criminologia crítica passa 
a discutir muitas das afirmações e das posições antecedentes, inclusive os seus 
métodos e bases de fundamentação. Grande defensor do socialismo, Marx acreditava 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 28 
que o crime era um produto derivado do modo de produção capitalista, de modo que 
a sua constituição atende aos interesses da classe social dominante. 
 
 
 
Conforme destaca Natacha Alves (2020, p. 126) a escola crítica 
parte da premissa de que a divisão de classes no sistema capitalista gera desigualdades e 
violência, apresentando a norma penal a finalidade de estabelecer um sistema de controle 
social e, com isso, assegurar uma estabilidade provisória por meio da contenção de 
confrontações violentas entre os grupamentos sociais 
 
Além disso, outro aspecto trazido pelo estudo da criminologia crítica, diz respeito ao 
uso equivocado da estatística criminal, com relação as formulações criminológicas 
desenvolvidas no final do século XIX e da primeira metade do século XX. Assim, 
considerando que a utilização da estatística, serviu como base para, se não todas, uma 
grande parte das correntes criminológicas existentes até o momento, ao dizer que os 
métodos eram totalmente falhos, a criminologia crítica rompe com a estrutura básica 
utilizada até então, quando deixa de considerar a cifra negra e a cifra dourada e, é 
justamente por não considerar esses dados que a estatística se tornou um grande furo 
no estudo da criminologia. 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 29 
 
Figura 8 – Cifra negra e cifra dourada. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
Em consonância, Nestor Sampaio (2020) entende que existem três formas de 
criminalidade: a real, a revelada e a cifra negra. A primeira representa a quantidade 
real dos crimes praticados na sociedade, já a segunda – a criminalidade revelada – 
representa os números que efetivamente chegam ao conhecimento das autoridades 
policiais, ao passo que a terceira representa a porcentagem dos crimes que não são 
relatados e, consequentemente, não chegam ao conhecimento das autoridades, 
também estão compreendidos nesse percentual os crimes não elucidados. O autor 
apresenta ainda a cifra dourada como uma subespécie da cifra negra, já que 
representa aqueles crimes praticados pela elite, muitas vezes não apurados ou 
revelados, que possuem penas baixíssimas ou até mesmo nenhuma pena. 
 
No mais, é válido destacar o entendimento de um dos grandes nomes da criminologia 
crítica italiana, Alessandro Baratta (2011) observa que existe uma tendência de 
manifestação punitiva em privilegiar os interesses das classes dominantes, 
imunizando-as do processo de criminalização. Esse processo está funcionalmente 
ligado a existência da acumulação de riquezas, especialmente com relação as formas 
de desvio típicas das classes secundárias. 
 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 30 
 
 
A atuação estatal comentada por Alessandro Baratta (2011), ocorre devido a influência 
de uma classe selecionadora sobre a outra, de modo que a classe dominante manipula 
as duas primeiras etapas do processo de criminalização. A criminologia crítica, aponta 
essa concepção de lei, como uma atividade não plenamente neutra, pois, há que se 
considerar a influência dos legisladores no processo de criação e desenvolvimento das 
leis, formando assim, um conjunto gerador de penas comprometidas com essa escala 
valorativa, de maneira que nem tudo que ofende o bem jurídico, é crime, mas 
prioritariamente as condutas, que geram desconforto para as classes dominantes. 
 
 
 
Desta forma, de acordo com a criminologia crítica, especialmente na visão de Baratta 
(2011), é evidente que os integrantes dos órgãos responsáveis pela atuação repressiva 
e punitiva (força policial e poder legislativo), não agem da mesma maneira com 
relação a todas as pessoas, sendo complacentes com os membros do meio social que 
integram e, extremamente positivistas e discriminatórios com as demais classes. 
Assim, dizemos que a criminologia crítica deixa de estudar apenas o autor do fato e 
passa a se preocupar mais com as instâncias de controle social, a medida em que há 
seletividade na criação primária, significando que, não necessariamente algo é crime 
porque atinge o bem jurídico, mas sim porque é praticado pelas classes menos 
favorecidas e representa um ato incômodo as classes dominantes. 
Devido a sua influência, as classes dominantes criam leis favorecendo a si 
mesmos, atribuindo penas mais brandas aos crimes que eventualmente 
praticam, como, por exemplo os crimes de colarinho branco. 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 31 
4.2.2.1 A cifra oculta da criminalidade 
Ainda, com relação a cifra negra, também chamada de cifra oculta da criminalidade, o 
criminólogo Arno Pilgran propõe alguns filtros que impedem a condenação do 
criminoso na chamada cifra negra, ou seja, com relação aos crimes comuns que não 
chegam ao conhecimento das autoridades policiais. Um grande defensor dessa teoria 
no Brasil foi o jurista Luiz Flávio Gomes que, em 2001, chegou até publicar um estudo 
a respeito da impunidade no Brasil, intitulado como “A impunidade no Brasil: de quem 
é a culpa? Esboço de um decálogo dos filtros da impunidade”. 
 
O autor relaciona os filtros desenvolvidos por Pilgran com o cenário brasileiro e 
defende que, com relação a criminalidade de um modo geral, uma das melhores 
formas de explicar e compreender os fenômenos da cifra oculta, da seletividade e da 
impunidade do sistema penal é através dos filtros de Pilgran (GOMES, 2001). Assim, 
podemos classificá-los da seguinte forma: 
● Filtro da criminalidade primária: 
a) Ausência de criminalização 
b) Criminalização Dúbia, confusa ou lacunosa 
c) Criminalização excessiva. 
● Filtro da notitia criminis: 
 a) Ausência do registro de ocorrência. 
● Filtro da abertura da investigação: 
a) Ausência de instauração de inquérito policial para apuração da 
materialidade e autoria do delito. 
● Filtro da investigação: 
a) Apresenta as deficiências no processo de apuração da autoria e da 
materialidade. 
● Filtro da abertura do processo: 
a) Depara com os casos que não são denunciados, pelos seguintes 
motivos: 
→ A falta de requisitos formais; 
→ Propostas de arquivamento de procedimento feito pelo 
Ministério Público; 
Criminalidade | 
Teorias sociológicas da criminalidade 
www.cenes.com.br | 32 
→ As imunidades de parlamentares, do Presidente da República e 
etc; 
→ Suspensão do processo e do curso prescricional. 
● Filtro da comprovação legal e judicial do delito: 
a) Apresenta as falhas na instrução do processo: 
→ Provas ilícitas; 
→ Provas não jurisdicionalizadas; 
→ Vítimas e testemunhas que tem medo; 
→ Vítimas e testemunhas que desaparecem com o tempo por conta 
da morosidade da justiça brasileira; 
→ Atraso tecnológico da justiça. 
● Filtro da “justiça territorializada versus criminalidade globalizada”; 
a) A globalização de vários delitos, tais como: narcotráfico, tráfico de 
mulheres, de crianças, de órgãos humanos, de armas, de animais e a 
corrupção internacional; 
b) A internacionalização do criminoso, que se tornou mais poderoso; 
c) A globalização das vítimas; 
d) A globalização dos bens jurídicos; 
e) A falta de cooperação internacional; 
f) O despreparo tecnológico da justiça criminal. 
● Filtro da condenação: 
a) Demonstra que nem todos os casos processados culminam em 
condenação. 
● Filtro da prescrição; 
a) A morosidade da justiça que leva à multiplicidade de prescrições. 
● Filtro da execução efetiva: 
a) Demonstra as falhas no sistema com relação à execução da pena.Assim, de acordo com Gomes (2001) a impunidade está relacionada não só com um, 
mas com diversos fatores, que vão desde a criação legislativa, com a chamada 
seletividade proposta por Baratta, de modo que determinada conduta é tipificada 
como crime não porque atinge o bem jurídico, mas sim porque é praticado pelas 
classes menos favorecidas e representa um ato incômodo as classes dominantes, até 
a execução da pena abrangendo inclusive as fases investigatória e processual. 
Criminalidade | 
A criminologia e o paradigma da reação social 
www.cenes.com.br | 33 
5 A criminologia e o paradigma da reação social 
A criminologia da reação social ou interacionista e seus desdobramentos através da 
criminologia crítica e da radical, surgem na década de 60 nos EUA, afastado a 
percepção positivista do homem e sua disfunção biológica social como fonte 
causadora de delito, direcionando-se para parâmetros de subjetividade 
interrelacional, que buscam enfatizar a valorização social de comportamentos e a 
incidência desses na constituição das regras jurídicas e sociais, bem como as 
valorações no campo da criminologia. 
 
 
 
A maneira pela qual ocorre a interação entre o indivíduo e a sociedade é que irá 
designar o conceito de desvio e comportamento desviante, da mesma forma que, a 
valoração das pessoas explica o que de fato é a socialização dos indivíduos, frente aos 
valores que representa, através dos processos de rotulação. Outro elemento que fez 
grandes contribuições neste sentido foi a escola interacionista, que se subdivide em 
duas correntes: a interacionista norte-americana e a alemã. 
 
De acordo com a visão norte-americana, a lei tornou-se um exemplo da concretude 
de valores pregados pela criminologia da reação social, de modo que ela divide os 
homens em dois gêneros distintos, rotulando-os com base nos comportamentos 
condenados pela sociedade. Assim, a doutrina norte-americana enfatiza a importância 
da lei frente ao estudo criminológico, sendo considerada fonte original do delito e do 
delinquente. 
 
A teoria da reação social ao trabalhar em seus fundamentos com os paradigmas da 
teoria do etiquetamento analisa as consequências da automação e, ao buscar autores 
como Goffman e Becker, as bases de seu desenvolvimento demonstram certa 
Criminalidade | 
A criminologia e o paradigma da reação social 
www.cenes.com.br | 34 
insegurança com relação ao objeto ser catalogado como desviante. Desta forma, 
partindo da hipótese que a lei tipifica certas condutas como criminosas e, que ela não 
passa de um reflexo do poder em uma sociedade, tem-se que pela própria evolução 
da sociedade a lei se modifica, alterando, consequentemente, o conceito de delito e 
de delinquente. 
 
 
 
Três dos principais efeitos desse processo de rotulação e etiquetamento são: 
a) Os fatores que levam um indivíduo ao comportamento desviante, não difere 
dos mesmos que conduzem outros indivíduos ao comportamento não 
desviante; 
b) Os indivíduos desviantes são segregados pelos não desviantes; tal segregação 
faz com que os desviantes também acabem por formar um grupo próprio e 
passem a estigmatizar os não desviantes; 
c) Gera a continuação do comportamento desviado naquele que já teve contra si 
a etiqueta desviante. 
 
Dentro dessa reação social, os estudos realizados pelas instituições oficiais recaem 
sobre o indivíduo assim como os efeitos da situação, modificando o paradigma da 
escola positivista de que o homem desviante era apenas um produto biológico. Assim, 
através do entendimento do fenômeno da reação social, o comportamento desviante 
para a ser entendido como algo que surge da realidade social, preexistente ao próprio 
indivíduo. 
 
Além disso, é justamente neste aspecto – se o entendimento de desvio e desviante 
formam-se exclusivamente da lei – que surge a diferenciação entre as escolas 
À medida que a lei tipifica novas condutas como criminosas outras deixam de 
ser ilícitas, devido a mudança de valores na sociedade. Um exemplo dessa 
situação é o crime de ato obsceno que, durante os séculos XX e XXI era 
considerado crime, mas atualmente não é mais punido. 
Criminalidade | 
A criminologia e o paradigma da reação social 
www.cenes.com.br | 35 
interacionistas norte-americana e alemã. 
 
 
Figura 9 – Escolas interacionistas norte-americana e alemã. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
A criminologia da reação social, tanto americana, quanto alemã, trazem um mérito 
incontestável, no qual o sistema penal existente, nada mais é que uma maneira de 
dominação social, política ou econômica, fazendo com que a função seletiva do 
sistema penal gire em torno de interesses específicos, beneficiando apenas os grupos 
sociais dominantes na sociedade. 
 
Criminalidade | 
A sociedade criminógena 
www.cenes.com.br | 36 
 
Figura 10 – Ideologia penal e criminologia de reação social. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
6 A sociedade criminógena 
Conceituar a ação humana e definir algo como indesejável ou não, geralmente denota 
a ideia de um direito distinto daquele positivo que estamos acostumados, ou seja, o 
direito apresentado, geralmente, é aquele imposto pelo Estado – direito penal e direito 
processual penal –, fundamentado na ideia de que certo e errado são determinados 
por um padrão eterno, universal e imutável. 
 
Imaginar o direito natural, significa conceber um conjunto de regras não escritas, 
como expressão da natureza. Um exemplo disso é o senso comum, um conjunto de 
opiniões e sentimentos impostos pela tradição, que leva os cidadãos a classificar 
determinadas condutas como irritantes, perigosas e até mesmo criminosas, 
reconhecendo se o ato é revestido de maldade, se os indivíduos são irrecuperáveis ou 
se possuem uma personalidade voltada ao crime. Assim, dizemos que a sociedade em 
sua essência é criminógena, produzindo e reproduzindo cada vez mais crimes e 
violência, estimulando a desigualdade e a exploração, intensificando diferenças e 
promovendo condições que levam as pessoas a cometerem infrações. 
 
Criminalidade | 
Sociologia criminal e a desorganização social 
www.cenes.com.br | 37 
 
Figura 11 – Direito natural e os indivíduos. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
Considerando a perspectiva de Durkheim, a conduta criminosa é um fato comum, 
inerente a toda estrutura social. Assim, unindo essa definição as considerações 
apresentadas pelo direito natural, dizemos que o crime é primordialmente um 
conjunto complexo de fenômenos sociais, que reflete atos políticos, enraizados em 
conflitos decorrentes de profundas desigualdades entre grupos sociais e classes 
opostas. 
 
Isto é, sendo clara a evidência desses crimes indissociáveis, com relação a sociedade 
criminógena em que vivemos atualmente, agenciadores de comércios clandestinos 
oferecem vantagens econômicas muito superiores às alternativas proporcionadas 
pelo mercado de trabalho, tendo a juventude como alvo. Desta forma, nas palavras 
de Mannheim (1985) a sociedade seria comparada a um “caldo de cultura de 
criminalidade”, razão pela qual temos os criminosos que merecemos e não podemos 
acusar ninguém, vez que somos todos culpados. 
 
7 Sociologia criminal e a desorganização social 
Concordando parcialmente com o marco lombrosiano, na segunda etapa do 
positivismo criminal, houve um desenvolvimento intenso do pensamento de Enrico 
Ferri, o criminólogo, juntamente com Cesare Lombroso, combateu a ideia de livre-
arbítrio nas ações criminosas praticadas pelo indivíduo, apenas difundindo a 
Criminalidade | 
Sociologia criminal e a desorganização social 
www.cenes.com.br | 38 
substituição de grande parte do estudo da criminologia, tratado antropologicamente 
na etapa anterior, sob o ponto de vista sociológico. 
 
À medida que Lombroso se preocupou unicamente com a investigação de fatores 
internos – físicos e psíquicos – do sujeito, que impulsionam o cometimento do crime, 
Enrico Ferridedicou seus estudos aos aspectos externos, centrados na influência social 
sobre o indivíduo. No entanto, as pesquisas de Ferri não são puramente sociológicas, 
ao passo que, para concluir seus estudos, o criminólogo também utiliza alguns 
elementos individuais, próprios da ecologia criminal e da antropologia criminal de 
Lombroso. 
 
Além disso, sociologia proposta por Ferri, mantém uma postura seletiva e 
preconceituosa sobre o ponto de vista individual, pois, segundo o autor, a origem 
negra assim como a latina, seriam fatores de influência na criminalidade, da mesma 
forma que os níveis sociais mais pobres e a temperatura mais quente, afirmando que 
moradores dos países africanos e latinos seriam criminosos, atribuindo então 
tranquilidade para a exploração colonial da Europa sobre esses países. 
 
Assim, relembrando as questões ideológicas criminais, igualmente como a 
deformação biológica faz do crime inexorável na formulação do homem delinquente 
de Lombroso, para Ferri o que gera essa inexorabilidade é o convívio social, de modo 
que a punição é empregada para garantir a defesa social. Com o discurso sociológico 
criminal de Ferri, a pena ganha o status de “salvador da pátria”, pois, deixa de ser 
considerada apenas um castigo imposto ao delinquente e passa a ser um meio de 
defesa. É justamente neste contexto que as ideias prevencionistas ganham destaque 
em detrimento da concepção antiga de punição repressão. 
 
O pensamento prevencionista defendido pela teoria sociológica de Ferri, defendia que 
mesmo antes do sujeito praticar um crime, o Estado, em nome de uma defesa ou de 
uma teoria, poderia atacar de forma preventiva. Assim, considerando a premissa de 
que “é melhor prender o delinquente antes dele praticar o crime do que depois”. A 
crença na antecipação interventiva, mascarada de defesa social, faz com que uma 
parcela da população fique submetida ao sistema, tendo sua liberdade mitigada, 
Criminalidade | 
Cárcere e a marginalidade social 
www.cenes.com.br | 39 
independentemente de ter praticado qualquer ação danosa. Isto é, mais uma vez, a 
proposta de investigação sobre os fatores de influência no cometimento do crime não 
serviram apenas para explicação e compreensão do fenômeno, pelo contrário, a 
proposta permitiu que um grupo populacional fosse controlado por outros. 
 
8 Cárcere e a marginalidade social 
A criminologia é crítica com relação à prisão, os modernos institutos de custódia têm 
tornado ilusória toda e qualquer tentativa de reintegração social do condenado. 
Contudo, antes de falarmos mais especificamente sobre isso, precisamos nos atentar 
ao termo “ressocialização” que, torna-se equivocado quando empregado para 
determinar que o criminoso já foi algum dia socializado, o correto, de acordo com o 
professor Alvino de Sá, seria dizer reintegração social do condenado. 
 
Assim, o cárcere privado, ao contrário do que muitos defendem não possui um 
caráter educativo, na realidade o cárcere só destrói ainda mais a personalidade 
estigmatizada e perturbada do indivíduo, fato que podemos confirmar através do 
aumento da taxa de reincidência. As previsões da lei de execução penal, são 
totalmente ignoradas na prática, pois, devido ao seu custo elevado, são deixadas de 
lado para que as demais parcelas da população também possam ser atendidas. 
Portanto, ao sair do estabelecimento prisional o criminoso, terá uma conduta 
marginalizada pior do que a de quando entrou, por conta disso, a criminologia crítica 
veementemente a prisão, afirmando que não serve para nada nos moldes atuais. 
 
Desta forma, considerando que o cárcere tem a função de reintegrar o indivíduo na 
sociedade, a prisão assume o papel de reprimir criminosos, já que é preciso 
transformar uma pessoa que está acostumada a resolver seus conflitos através da 
violência em um indivíduo relativamente “calmo”. O processo é feito através de um 
choque de personalidade, com o intuito de reprimir o indivíduo. No entanto, a 
repressão não é o caminho para transformar delinquentes antissociais e violentos em 
indivíduos adaptáveis. 
 
Com isso, inicia-se o problema de punições internas, denominados de falta grave ou 
Criminalidade | 
Cárcere e a marginalidade social 
www.cenes.com.br | 40 
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), aplicadas aqueles sujeitos que praticam 
crimes internos. O RDD está previsto no art. 52 da Lei 7.210/84 e, é uma espécie de 
sansão mais grave imposta ao sujeito que pratica crimes dentro do estabelecimento 
prisional. É uma medida extrema que garante ao indivíduo apenas 2 horas diárias de 
banho de sol, ou seja, o restante do tempo (22 horas) o sujeito permanece trancado 
na cela. A medida terá duração máxima de 360 dias prorrogável por igual período, 
diante da prática de nova falta grave da mesma espécie, até o limite de um sexto da 
pena imposta ao sujeito. 
 
Assim, embora tenha a função de reprimir um comportamento criminoso dentro do 
estabelecimento carcerário, punindo de forma mais severa os indivíduos, não é 
exatamente isso que ocorre. Do ponto de vista da teoria crítica, essa é uma forma de 
castigo falha, pois, não gera resultados efetivos para a reabilitação do sujeito na 
sociedade, muito pelo contrário, quando o sistema restringe o contato do preso com 
outras pessoas, o efeito é inverso, ou seja, ao invés de se tornar mais sociável o 
indivíduo acaba se retraindo e age de forma individualista. 
 
A precariedade do sistema pode ser comprovada por meio da análise da população 
carcerária brasileira. No ano de 1990, o Brasil possuía ao todo 20.000 presos e no ano 
de 2018 tem-se quase um milhão de presos, isso se dá pela mudança da política 
criminal que, ao adotar a ordem de tolerância zero, além de aumentar o número de 
presos, favorece o aumento do crime organizado dentro das prisões, gerando uma 
espécie de condição de coação moral irresistível que exclui a culpabilidade. Esse é 
justamente o papel da criminologia crítica, analisar e apontar as falhas do sistema 
penitenciário atual. 
 
 
 
O cárcere engloba tanto a prisão provisória (CDP) quanto a prisão definitiva 
(presidio penitenciário). Ele tem força para marginalizar criminalmente todas 
as pessoas. 
Criminalidade | 
Cárcere e a marginalidade social 
www.cenes.com.br | 41 
A prisão é o desfecho de uma “novela” trágica que começa na escola, através da 
estigmatização e da rotulação na sociedade infantil, gerando uma evasão e por 
consequência a criminalidade que, em um futuro próximo, culmina na prisão e na 
marginalização do indivíduo, fazendo aumentar a insegurança da sociedade diante de 
tanta violência, um ciclo constante que confina cada vez mais inocentes. Neste aspecto 
é importante lembrar que, a tolerância e a indulgência também podem ser 
empregadas para transformar marginais em pessoas de bem. 
 
Desta forma, o cárcere não pode mais ser levado como uma ideia positiva para a 
sociedade, pois, não cumprem com a sua função primordial que é socializar o 
indivíduo, inclusive para a criminologia, não chega nem a existir a ressocialização no 
estabelecimento carcerário. Assim, pregando o contrário das propostas do modelo 
educativo, a criminologia defende que, por consequência a segregação social o 
cárcere não contribui para a integração social do sujeito. 
 
As prisões não correspondem a sua função por vários motivos, desde a influência 
política ou até a corrupção no estabelecimento prisional, ou seja, o próprio Estado e 
sua formação corrupta favorecem o crime organizado em comum acordo. Assim, os 
estabelecimentos prisionais podem ser caracterizados pela desaculturação do sujeito 
em face da sociedade, de modo que: 
● Ocorre a perda do senso de responsabilidade, ao passo que o indivíduo não 
precisa buscar o seu sustento, já que o estado oferece o necessário; 
● Distanciamento dos valores sociais; 
● Aproximação dos valores próprios da subcultura carcerária, ou seja, o indivíduopode adotar tanto um comportamento exemplar para obter alguns benefícios, 
quanto assumir definitivamente a personalidade de criminoso, compondo a 
organização da comunidade carcerária, cultuando a violência. 
 
Contudo, é necessário admitir que, mesmo com a presença de tantos pontos 
negativos a prisão se torna um mal necessário, até que se desenvolva uma nova forma 
de punir o indivíduo. Geralmente, o ato de prender não é no todo errado, mas sim os 
feitos contra quem está preso, sendo dever do Estado trabalhar com o indivíduo e não 
com crime organizado. Neste sentido, Alessandro Baratta (2011) afirma que as teses 
Criminalidade | 
Conclusão 
www.cenes.com.br | 42 
da criminologia crítica podem fundamentar um programa de política criminal 
alternativo, que não se confunde com a política penal alternativa. Desta forma, a luta 
pela democracia seria inseparável da luta pela superação do sistema penal e da defesa 
do direito penal, impulsionando a democracia através da superação do estigma da 
subcultura carcerária. 
 
Da mesma forma, o impacto social dos egressos desse sistema precário na vida da 
coletividade é muito grande e pode ser percebido com as reincidências criminais, esse 
é justamente o principal problema da marginalização de indivíduos pela subcultura 
do cárcere. Assim, conforme destaca Alexandre Barata (2011) quando o cárcere deixar 
de produzir apenas a marginalidade, ele será o responsável pela reintegração social 
dos sujeitos como cidadãos e não como marginais. 
 
9 Conclusão 
O estudo da criminologia e das diversas teorias que cercam esse tema, sofreram 
grandes modificações ao longo do tempo, os primeiros estudos se preocupavam 
unicamente com o indivíduo, analisando desde suas características físicas até as 
psicológicas, com o intuito de traçar o perfil do criminoso nato. Tendo como principal 
expoente Cesare Lombroso, a teoria biológica acreditava que a delinquência não 
passava de uma patologia, uma doença hereditária que estava arraigada no indivíduo. 
 
No entanto, embora essencial para a compreensão do estudo criminológico, não 
demorou muito para que caísse em desuso, visto que, obviamente não é possível 
determinar se um indivíduo cometerá crimes ou não, apenas com base em suas 
características. Assim, o indivíduo deixa de ser o foco da questão, abrindo espaço para 
as questões sociais. 
 
Os estudiosos começaram a perceber que os fatores criminológicos não estavam 
necessariamente ligados ao indivíduo e, que muitas vezes, estavam relacionados com 
fatores externos, presentes no meio social em que o indivíduo estava inserido (família, 
escola, amigos, comunidade, ambiente de trabalho, entre outros). Essas questões 
podem influenciar, inclusive, quando o indivíduo, embora não tenha nenhum 
Criminalidade | 
Conclusão 
www.cenes.com.br | 43 
comportamento delinquente, é etiquetado como um, pois, com o reforço permanente 
da estigmatização, a pessoa etiquetada acaba assumindo a condição que lhe foi 
imposta e passa a se comportar como tal. 
 
Desta forma, o estudo da criminologia atualmente se relaciona, principalmente, com 
os paradigmas da relação social, analisando o comportamento do indivíduo com 
perante a sociedade e vice-versa, e com a marginalização social, no que diz respeito a 
ineficácia do sistema punitivo/ carcerário estatal. Os estabelecimentos prisionais não 
correspondem a sua função primordial – reintegração do sujeito na sociedade – por 
diversos motivos, seja por influência política ou até mesmo pela corrupção dentro do 
sistema prisional, ou seja, o próprio Estado e sua formação corrupta favorecem o crime 
organizado em comum acordo. 
 
Assim, embora seja o único meio existente para punir o sujeito infrator, é 
extremamente ineficaz, sendo função da criminologia analisar e apontar as falhas 
existentes no sistema, para que no futuro o sistema punitivo cumpra com seu 
verdadeiro propósito, reduzindo as taxas de criminalidade. 
 
Criminalidade | 
Referências Bibliográficas 
www.cenes.com.br | 44 
10 Referências Bibliográficas 
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à 
sociologia do direito penal. 6 ed. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia, 
2011. 
COLETTA, Eliane Dalla [et al.]. Psicologia e criminologia. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 
CRESPO, Aderlan. Curso de criminologia: as relações políticas e jurídicas sobre o 
crime. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 
DE ANDRADE, Vera Regina Pereira. Do paradigma etiológico ao paradigma da reação 
social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso 
comum. Seqüência: estudos jurídicos e políticos, v. 16, n. 30, p. 24-36, 1995. 
GOMES, Luiz Flávio. A impunidade no Brasil: de quem é a culpa? Esboço de um 
decálogo dos filtros da impunidade. Revista do Centro de Estudos Judiciários, Brasília, 
n. 15, p. 36-37, set./dez. 2001. 
MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Lisboa: Gulbenkian, 1985. 
OLIVEIRA, Natacha Alves de. Criminologia. 2 ed. sinopses para concursos. Salvador: 
Editora JusPodivm, 2020. 
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 10 ed. 
São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 
SANGERMANO, Monia. Cranio di Villella: al processo spunta un altro pretendente, è 
una donna. MoteoWeb, 04 de outubro de 2016. Disponível em: 
http://www.meteoweb.eu/2016/10/cranio-di-villella-al-processo-spunta-un-altro-
pretendente-e-una-donna/758035/. Acesso em: 13 mai. 21. 
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia da Repressão [recurso eletrônico]: crítica 
à criminologia positivista. 2 ed. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2019. 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 8 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2020. 
VIANA, Eduardo. Criminologia. 6 ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2018. 
 
Criminalidade | 
Referências Bibliográficas 
www.cenes.com.br | 45 
 
 
 
 
	1 Sumário
	2 Introdução
	3 Etiologia criminal ou criminogênese
	3.1 Antropologia criminal
	3.1.1 Cesare Lombroso e as teorias biológicas
	3.1.2 Críticas ao pensamento de Lombroso
	3.2 Psicologia Criminal
	3.3 Sociologia Criminal
	4 Teorias sociológicas da criminalidade
	4.1 Teoria consensual
	4.1.1 Escola de Chicago
	4.1.2 Teoria da associação diferencial e os white collar crimes
	4.1.3 Teoria da subcultura delinquente
	4.1.4 Teoria da anomia
	4.2 Teoria conflitual
	4.2.1 Labelling approach
	4.2.2 Teoria crítica
	4.2.2.1 A cifra oculta da criminalidade
	5 A criminologia e o paradigma da reação social
	6 A sociedade criminógena
	7 Sociologia criminal e a desorganização social
	8 Cárcere e a marginalidade social
	9 Conclusão
	10 Referências Bibliográficas

Continue navegando