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1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................3 1 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE.5 1.1 A necessidade de contemplar as dimensões econômica e socioterritorial.......................................5 1.2 O planejamento estratégico implica em fazer o novo, sem desconsiderar o velho, através de iniciativas cooperadas ............................................................................................................................6 1.3 O planejamento do desenvolvimento, como resultante dos interesses das esferas econômica, sócio-ambiental e política ......................................................................................................................7 1.4 Um esforço de síntese......................................................................................................................8 2 SOBRE A PRÁTICA DA CONCERTAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA ......................................................9 3 IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS DEFENDIDOS NA PRÁTICA DO PLANEJAMENTO..............13 3.1 Os principais passos seguidos e sua justificativa...........................................................................13 a- Elaboração de um pré-diagnóstico sócio-econômico-ambiental regional .......................................13 b- Identificação e sistematização das expectativas pretéritas ..............................................................13 c- Realização de uma pesquisa de opinião ..........................................................................................14 d- Elaboração de um prognóstico regional ..........................................................................................14 e- Pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região .................................................15 f- Apresentação de uma proposta de Planejamento Estratégico ..........................................................15 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................16 ANEXO I -AGRUPAMENTOS SÓCIO-ECONÔMICO-INSTITUCIONAIS DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE, DEFINIDOS PARA PESQUISA..........................................................................................18 2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO TERRITORIAL: UM PROCESSO DE CONCERTAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA COM VISTAS À DEFINIÇÃO DO FUTURO1 VALDIR ROQUE DALLABRIDA2 PEDRO LUIS BÜTTENBENDER ALOISIO IMMICH CÉSAR ANTÔNIO MANTOVANI CLÁUDIO EDILBERTO HÖFLER EDEMAR ROTTA JORGE ANTÔNIO RAMBO ROMUALDO KOHLER3 RESUMO Partilhando do entendimento que o processo de planejamento não deva ser deslanchado a partir do presente, das necessidades, dos problemas, das dificuldades, das ameaças, mas sim, a partir do futuro, dos desejos, das potencialidades, das alternativas de soluções, das possibilidades, das oportunidades de cada município, região ou território, é que o conjunto das Instituições de Ensino Superior da Região Fronteira Noroeste/RS/Brasil (UNIJUÍ, SETREM, FEMA e FAHOR), lidera a coordenação de um processo de Planejamento Estratégico Territorial. O objetivo final é contextualizar a realidade e identificar as expectativas e desafios regionais com vistas ao planejamento estratégico do desenvolvimento da região. Dentre as principais atividades, prevê-se, durante o ano de 2005, a elaboração de um pré-diagnóstico sócio-econômico-ambiental regional considerando as informações básicas existentes, a identificação e sistematização das principais expectativas manifestadas pela população regional sobre o desenvolvimento a partir da consulta aos documentos que registraram experiências recentes de planejamento, a realização de uma pesquisa de opinião nos agrupamentos representativos da sociedade regional buscando sua manifestação sobre o futuro desejado, a estruturação de um prognóstico das tendências e desafios regionais para o desenvolvimento, para apresentar, por fim, uma proposta de planejamento estratégico da Região Fronteira Noroeste. Como passo final do processo de planejamento, prevê-se desencadear a pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região, com a sociedade civil e os poderes constituídos, sob a coordenação do Conselho Regional de Desenvolvimento - COREDE local, utilizando suas instâncias estatutárias de decisão. Com vistas ao atendimento dos objetivos, foram sistematizadas as principais propostas mencionadas nos processos recentes de planejamento regional, as quais serão apresentadas à população regional para sua priorização, além de estar aberta a possibilidade para novas sugestões. Mesmo que o processo de planejamento esteja ainda em fase de realização, o mesmo proporcionou a oportunidade de testar novos instrumentos metodológicos de planejamento participativo, seja identificando os agrupamentos representativos da sociedade regional, propondo critérios para a definição de uma amostra mínima para a pesquisa de opinião, além da hierarquização dos municípios da 1 O presente processo de planejamento está integrado ao Projeto de Pesquisa intitulado Contextualização da realidade e identificação das expectativas e desafios regionais, com vistas ao planejamento estratégico do desenvolvimento da região Fronteira Noroeste/RS, apoiado financeiramente pela FAPERGS, contando com o acompanhamento do COREDE local. 2 Professor e pesquisador da UNIJUÍ, doutor em Desenvolvimento Regional, pela UNISC, coordenador do Projeto de Pesquisa aqui referido. 3 Professores da UNIJUI, SETREM, FEMA e FAHOR, membros da equipe de pesquisa. 3 região, centrando-se na preocupação de contemplar o princípio da representatividade, tanto quantitativa, como qualitativa. Os resultados finais, espera-se, possam servir de referência para outras regiões que pretendam discutir o seu planejamento. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como tema o debate teórico-prático sobre o planejamento do desenvolvimento4. Planejar tem uma relação direta com o estabelecimento de estratégias. Segundo Matus (1996:11), estratégia é a arte de lidar com a incerteza, com a imprecisão e a névoa do amanhã. “Seu campo de reflexão é o pólo oposto à certeza dogmática e à predição determinista [...]. A estratégia explora a construção do futuro”. Considera a estratégia um jogo que nos motiva para enfrentar a dialética conflito- consenso. Assim, planejar o desenvolvimento regional exige negociação entre atores5 para produzir consensos mínimos. A negociação ocorre entre atores com interesses reais e distintos, mas conciliáveis. O consenso resulta, então, de negociação entre atores que comparam o custo de ceder alguma coisa, com o benefício de receber alguma coisa em troca. Trata-se de um processo de planejamento participativo, que respeita as diferenças, sem anulá-las. Noutro extremo, estariam estratégias de confronto, de medir forças, através das quais uma das partes em confronto deve vencer a outra. Becker (1998:87), ao enfocar o planejamento, inicialmente, destaca seus limites e os desafios. Em primeiro lugar, faz a constatação de que o desenvolvimento contemporâneo convive com uma dinâmica de transformações que extrapolam as transformações quantitativas. “Passamos por um intenso processo de transformações qualitativas, carregadas de expectativas cambiantes e flexíveis, o que acaba dando forma e conteúdo à incerteza, que por sua vez, acaba configurando-se numa das principais variáveis a ser considerada e reconsiderada no processo decisório de organização de uma ação futura”. Isso traz o componente da flexibilidade para o interior do processo de planejamento, tornando-o, por necessidade, um processo, aberto e flexível.Esta característica da mobilidade, incerteza, flexibilidade, num processo de planejamento, exigirá um processo de planejamento aberto, resultante da criatividade dos atores regionais na formulação de estratégias – como uma arte de lidar com a incerteza, com a imprecisão e a névoa do amanhã, nas palavras de Matus (1996) -, procurando atender desejos, potencialidades, oportunidades estratégicas. “Portanto, nos termos aqui propostos, o processo de planejamento não é deslanchado a partir do presente, 4 Esta temática foi abordada preliminarmente em Dallabrida (2004). 5 Não há um consenso entre os intelectuais contemporâneos sobre o uso mais adequado dos conceitos atores ou agentes, para referir-se aos que lideram os processos de desenvolvimento localizado. Com o fim de superar tal situação, em Dallabrida (2002), propomos o uso do termo agentores, para referir-se aos protagonistas do processo de planejamento e gestão do desenvolvimento local-regional-territorial. No entanto, neste artigo, preferimos o uso do conceito atores. 4 das necessidades, dos problemas, das dificuldades, das ameaças, mas sim, é deslanchado a partir do futuro, dos desejos, das potencialidades, das alternativas de soluções, das possibilidades, das oportunidades” (BECKER, 1998:88). E o planejamento não é tarefa somente dos planejadores, como os técnicos que tudo sabem, pois o planejamento tanto pode ser utilizado para emancipar, como para dominar. Normalmente, é nos escritórios distantes da realidade que se decidem os caminhos a serem trilhados pelas comunidades. Nada mais equivocado! Sem uma participação efetiva dos atingidos, nenhum plano tem sucesso. Trata-se de colocar o conhecimento das técnicas de planejamento à serviço da emancipação das pessoas e das comunidades. “Em síntese, [...] as decisões do que fazer, do futuro desejado, será sempre dos agentes [ou atores] diretos, sendo que as técnicas e os técnicos entram como viabilizadores e animadores do processo de concepção do plano. Politicamente decide-se o que fazer; tecnicamente define-se como fazer” (BECKER, 1998:89). Assim, o diagnóstico, como parte importante do processo de planejamento, resulta do tensionamento entre o futuro desejado (potencialidades, ideal, idéias, possibilidades, soluções, alternativas, oportunidades) e o presente dado (necessidades, real, interesses, dificuldades, problemas, ameaças). “Esse tensionamento pode ocorrer de duas maneiras: numa primeira, projetando a realidade desejada sobre a realidade dada; a segunda, refletindo a realidade dada na realidade desejada” (p. 101). Com isso, o diagnóstico, não resulta, como nos moldes clássicos, de uma radiografia da realidade e nem é o ponto de partida do planejamento. “Muito antes, ele resulta de uma comparação de um futuro desejado a um presente dado, ou melhor, de um desenho do futuro desejado sobre o presente dado” (p. 102). Um processo de planejamento regional com as características acima descritas, para a maioria das regiões ou territórios, ainda é um desafio a ser enfrentado. Talvez seja este um dos motivos que levam cidades, municípios, regiões territórios, e até estados e países, a mudar suas estratégias de desenvolvimento a cada administração, sem um processo de planejamento marcado pela continuidade. Um dito popular afirma que quem não sabe para onde quer ir, vai para onde os outros decidem. Este artigo contempla, inicialmente, algumas reflexões sobre o processo de planejamento estratégico territorial, considerando suas diferentes dimensões e implicações. Uma segunda temática tratada é a prática da concertação público-privada. Em terceiro lugar, são discutidas algumas implicações dos princípios defendidos na prática do planejamento. A reflexão é centrada na experiência de planejamento desenvolvida em 2005, na região Fronteira Noroeste. 5 1 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE A defesa da função de mediação do processo de desenvolvimento não é algo novo. Keynes (1985), já na década de 30, ao propor soluções para a crise do capitalismo, já na década de 30, admitia que o sistema capitalista pode e precisa ser administrado e que a economia precisa e deve ser politizada, ou seja, planejada por parte dos atores locais-regionais-territoriais do desenvolvimento. Inicialmente, é fundamental explicitar os princípios que justificaram a proposta metodológica assumida pela equipe de pesquisa que atua na experiência de planejamento aqui referida. Assim, na seqüência, faremos menção a alguns dos principais fundamentos teóricos. 1.1 A necessidade de contemplar as dimensões econômica e socioterritorial Segundo Becker (2001), parafraseando Polanyi (1980), na dinâmica do desenvolvimento atual, observa-se duas ordens de determinação: (1) uma, definida pelo primado do econômico, devastando nações e regiões; (2) a outra, perseguida pelas sociedades regionais e nacionais, reagindo à devastação e buscando proteger-se, defendendo suas sociedades da destruição. Dessa forma, o movimento do econômico (a ação econômica) e o contramovimento do social (a reação do social) compõem movimentos contraditórios por natureza. Becker (2001:19), destaca, inicialmente, a esfera política enquanto espaço de medição. A política, entendida em duplo sentido: primeiro, metodologicamente, como “processo de síntese, pela via da reconstrução por etapas do concreto a partir de suas determinações”; segundo, concretamente, como “esfera-espaço mediador das transformações históricas efetivas do desenvolvimento regional”. Estas transformações precisam considerar a esfera econômica do desenvolvimento regional (trabalho, natureza e organização produtiva enquanto mercadoria, ou melhor, enquanto produção e reprodução do capital) e a esfera social e ambiental (trabalho, natureza e organização produtiva enquanto vida, ou melhor, enquanto produção e reprodução da vida). Trata-se então de mediar o processo efetivo de desenvolvimento, antagônico por natureza, resolvendo conflitos e superando contradições, numa dinâmica que, segundo Becker (2001:20-21), brote (...) de dentro do processo de desenvolvimento e por iniciativa própria dos agentes [atores] sociais, econômicos e políticos [institucionais], protagonistas mediadores diretos do desenvolvimento regional (...), enquanto um processo de transformações endógenas, 6 resultando num processo de desenvolvimento (sócio-ambiental) regionalizado, próprio e específico, portanto, diferenciado e diferenciador dos seus singulares. 1.2 O planejamento estratégico implica em fazer o novo, sem desconsiderar o velho, através de iniciativas cooperadas É importante observar, conforme Schumpetter (1985), que em regra o novo não nasce do velho. A grande maioria das combinações novas não brotará das antigas, nem tomará imediatamente o seu lugar, mas aparecerá ao seu lado e competirá com elas. E mais: desenvolvimento não se reduz à dimensão econômica, como destacam as visões reducionistas de grande parte das abordagens de diversas ciências, nem as combinações novas se reduzem aos empreendimentos econômicos, nem o agente talhado e vocacionado para dinamizar o desenvolvimento seja somente o empresário (BECKER, 2001). Constitui-se, então, um novo ambiente cooperativo para o desenvolvimento, chamado de capital social (PUTNAM, 2000), capital sinergético (BOISIER, 1999), ou governance (BANDEIRA, 2000). Experiências recentes demonstram que, quando se trata de desenvolvimento, “as combinações novas cada vez mais dependem da espontaneidade criativa de iniciativas político-institucionais e cada vez menos da espontaneidade criativa do empresário schumpetteriano”. Mesmo que na esfera econômica o empresário continue sendo fundamental, cada vez menos empresários isolados e cada vem mais as habilidades inovadoras do conjunto dos econômicos, sociais e políticos sãodeterminantes da dinâmica do desenvolvimento. Trata-se, na verdade de “um processo complexo, resultante de múltiplos determinantes e desafios, por excelência, contraditórios” (BECKER, 2001:25 e 26). Mas como surgem as novas combinações? pergunta Becker (2001). Valendo-se de Gramsci (1975), o autor concebe a realidade como resultado de um duplo momento: o momento estrutural, composto pelas esferas econômica e social (o conjunto das forças sociais e do mundo da produção), e o momento superestrutural, composto pelas esferas da sociedade civil e da sociedade política (ético-político) - o reflexo do conjunto das relações sociais de produção. Por um processo que Gramsci chama de catarse, propõe-se a passagem do momento meramente econômico, em que os recursos humanos e os recursos naturais são transformados em mercadoria, a passagem da quantidade à qualidade, do “valor que se valoriza para a vida que se vitaliza”. Trata-se da “passagem da necessidade à possibilidade, ou mais precisamente a passagem da condição necessária para a condição suficiente de desenvolvimento regional” (BECKER, 2001:27). 7 Neste sentido reforça-se o papel dos intelectuais orgânicos6, que, enquanto organizadores políticos e mediadores sociais do consenso, transformam-se ideólogos (BUCI-KLUCKSMANN, 1980). O intelectual orgânico, com seu papel conservador ou transformador, “como figura que organiza a cultura e os homens; que articula o centro do aparelho estatal de poder com o restante do corpo social; e que, ao produzir ideologia, fornece consciência (BEIRED, 1998:127). “É necessário fazer avançar o empresário inovador schumpetteriano transfigurando-o em intelectual inovador gramsciano, capaz de ‘levar a cabo novas combinações’, não só na esfera técnico-produtiva, mas ser capaz de conceber e de executar novas combinações sócio-culturais e ético-ideológicas” (BECKER, 2001:28). Segundo Schumpetter (1985) é necessário separar meros administradores de empresários inovadores. E é na possível interação de “empresários inovadores” e “intelectuais transformadores”, que se pode “localizar as forças impulsionadoras e dinamizadoras do desenvolvimento local-regional” (BECKER, 2001:29). A assunção da hegemonia por estes atores, na condição de direção do desenvolvimento regional, deve ser fruto do confronto, lado a lado, do velho e do novo. Busca-se com isso, a primazia da sociedade civil sobre a sociedade política (PORTELLI, 1997) e a formação de um bloco hegemônico regional7 (BECKER, 2001), capaz de articular e coordenar o processo de desenvolvimento. 1.3 O planejamento do desenvolvimento, como resultante dos interesses das esferas econômica, sócio- ambiental e política A dinâmica territorial do desenvolvimento contemporâneo, para Becker (2001), tem três esferas. A primeira, a ação econômica de uma competição globalizada, com sua ação principal representada pelo processo de financeirização da riqueza e o processo tecnológico. Nesta esfera, o processo de desenvolvimento regional, enquanto espaço de desenvolvimento, é determinado pela concorrência capitalista global, atingindo apenas parte do espaço e o espaço de alguns. A segunda, a esfera conformada pelo processo de transformações sócio-ambientais. Em decorrência das determinações da concorrência mundializada, as comunidades regionais são levadas a um crescente processo de regionalização dos espaços sócio-ambientais do desenvolvimento. A necessidade de auto-proteção, pode levar, num primeiro momento, a uma ação passiva ou reativa e, num segundo momento, à possibilidade de favorecer uma ação ativa/cooperativa dos atores locais para superarem os desafios do desenvolvimento regional, e 6 Orgânicos porque “organizadores políticos e organicamente vinculados à sua classe social” (BUCI-KLUCKSMANN, 1980:79). Segundo Becker (2001), trata-se dos agentes/atores organizadores e dinamizadores do processo de desenvolvimento local-regional-territorial. 7 Que prefere-se chamar de bloco socioterritorial, conforme referido em Dallabrida e Becker (2003). 8 construírem um desenvolvimento local diferenciado e diferenciador. A terceira, a esfera constituída, por um lado, pelo processo de transformações políticas, resultantes da interação econômica e social do desenvolvimento e possibilitada, por outro lado, pela condição de ser espaço de mediação. É o processo de construção da hegemonia, de viabilização das articulações dos atores locais do desenvolvimento, tendo a esfera política o papel mediador e de contribuir na construção dos consensos8. No entanto, a ideologia enquanto elemento mediante tem uma dupla dimensão na sociedade civil: de um lado serve para os intelectuais orgânicos homogeneizarem e organizarem o seu grupo social; e, de outro, transforma-se em instrumento de luta dos grupos sociais pela hegemonia, pela direção da sociedade. Esse processo, segundo Portelli (1997), nos termos gramscianos, representa a primazia da sociedade civil sobre a sociedade política, ocasionando a formação do bloco hegemônico regional. Com a organização interna de interesses é que surgem as condições hegemônicas (diretivas e dominantes) para a mediação dos movimentos contrários: o econômico e o contra movimento do processo sócio-ambiental9. 1.4 Um esforço de síntese Parafraseando Becker (2001), é possível afirmar que o entendimento das diferentes dinâmicas de regionalização do desenvolvimento contemporâneo, ou melhor, territorialização do desenvolvimento, precisa considerar alguns aspectos, tais como: (1) o desenvolvimento origina-se da criatividade da articulação dos atores sociais, econômicos, políticos e institucionais da comunidade em questão, em torno de um processo de desenvolvimento regionalizado e singular; (2) a dimensão econômica do processo de desenvolvimento é necessária, mas não suficiente, por isso, é indispensável que a economia seja politizada, colocando a economia e o desenvolvimento regional, sobre um tabuleiro de decisões humanas e não das leis do mercado, portanto sob a articulação e organização dos atores regionais, sujeitos diretos e legítimos do processo; (3) é fundamental a passagem da condição necessária para condição suficiente de desenvolvimento regional, o que implica a passagem analítica da força de trabalho mercadoria, à consciência do trabalho ser antes de qualquer coisa uma atividade humana, a passagem da natureza mercadoria para a consciência de que a natureza é antes de qualquer coisa vida em geral, inclusive, vida humana, fazendo-se assim a passagem da quantidade à qualidade, pela construção de consensos mínimos em torno de projetos políticos de desenvolvimento regional que vinculem o presente ao futuro; (4) impõe-se um novo papel para o empresário inovador schumpetteriano, transfigurando-o em intelectual inovador gramsciano, referindo-se, àquele que vai além de sua atividade econômica, da esfera técnico-produtiva e executa novas combinações sócio-culturais e ético-ideológicas, passando a ser complementado pelo intelectual transformador-gramsciano, integrando novas tecnologias com as novas 8 Desempenham um papel decisivo na esfera política, não só os ocupantes temporários de cargos de direção política, mas as lideranças formadoras de opinião e, em especial, os aqui chamados intelectuais orgânicos. 9 Interesses que se expressam nas redes de poder socioterritorial (DALLABRIDA e BECKER, 2003). 9 ideologias, com o que se pode localizar as forças impulsionadoras e dinamizadoras do desenvolvimento local-regional; (5) ao fazer-se uma reflexão sobre as duas esferas do processo de desenvolvimento contemporâneo, têm-se, no lado da ação econômica, uma competição globalizada, tendo como seus principais viabilizadores o processo de financeirização da riqueza e o progresso tecnológico, pelo que o processo de desenvolvimentoregional é determinado pela concorrência global, e, no lado da reação social, tem-se uma cooperação localizada, caracterizada por um processo de regionalização sócio- ambiental do desenvolvimento capitalista, sendo, por um lado, necessidade do processo de globalização econômica, e, por outro lado, possibilidade de um desenvolvimento local diferenciado e diferenciador; por fim, (6) com a esfera política exercendo o papel de mediadora dos conflitos e contradições, torna-se indispensável, interagindo-se no processo social de cooperação e no processo econômico de competição, construir a passagem da dimensão econômico-quantitativa para a dimensão socioambiental-qualitativa do processo de desenvolvimento contemporâneo. A consideração dos aspectos mencionados implica na superação da situação de conflito e contradição, que representa o passado e articulação dos atores em torno de um desenvolvimento futuro, com a eleição de um cenário que, por ser crença geral, pode tornar-se realidade. Significa socializar a política de desenvolvimento, pela crescente participação social e cidadã no processo de decisão do desenvolvimento almejado. As novas ideologias mencionadas são como forças criadoras de novas combinações, transformando-se em instrumentos de luta dos grupos sociais pela hegemonia, conquistando a condição de direção do desenvolvimento local-regional. A reação pode ser passiva, simplesmente de defesa das dificuldades decorrentes da globalização ou, enquanto possibilidade, favorecer uma ação ativa/cooperativa dos atores locais para superarem os desafios do desenvolvimento local-regional (BECKER, 2001). 2 SOBRE A PRÁTICA DA CONCERTAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA Albuquerque (2004:160), dando destaque à discussão das políticas ou estratégias de desenvolvimento localizado, ressalta o fato de que tais estratégias ou políticas precisam resultar de processos estratégicos de concertação público-privada, que contemplem as dimensões da democratização e descentralização. O impulso da cooperação público-privada e a concertação estratégica de atores socioeconômicos territoriais para planejar as estratégias locais de desenvolvimento, tem suposto a aplicação de uma gestão compartilhada do desenvolvimento econômico que não se baseia somente em diretrizes emanadas do setor público ou simplesmente guiadas pelo livre mercado. Deste modo, a busca de espaços intermediários entre o mercado e a 10 hierarquia, isto é, no nível meso-econômico, tem servido para definir um novo modo de fazer política e, em particular, política de desenvolvimento econômico. Tudo isso tem permitido vincular diferentes processos em um círculo virtuoso de interações entre o avanço de uma democracia mais participativa e a descentralização de competências aos níveis sub-nacionais, para assegurar a assunção de competências, capacidades e recursos por parte das entidades e atores locais e impulsionar, desse modo, as estratégias de desenvolvimento local (grifo do autor). Uma síntese feita por Albuquerque (2004:161), sobre diferentes iniciativas de desenvolvimento na América Latina, demonstra que dois tipos de tensão impulsionam desde baixo, as iniciativas de desenvolvimento local. De um lado, a tensão introduzida pelo próprio desenvolvimento democrático e a eleição direta dos responsáveis nos diferentes níveis territoriais das administrações públicas (municipalidades, províncias, regiões ou Estados), que obriga a atender as demandas da cidadania relacionadas com os temas básicos do desenvolvimento produtivo e o emprego em cada âmbito territorial. De outro lado, a tensão introduzida pela situação de crise e reestruturação econômica em geral, que força os atores empresariais privados a incorporar elementos de modernização e processos de adaptação ante as novas exigências produtivas e os maiores níveis de competitividade dos mercados. A estes dois tipos de tensão, para impulsionar as iniciativas de desenvolvimento local e regional, somam- se processos desde cima, correspondentes ao avanço da descentralização e reforma do Estado central nos diferentes países latino-americanos. Desse modo, conforme destaca Ruiz Duran (2000), não se trata unicamente de um processo de descentralização fiscal, senão de uma forma de reorganizar o Estado através do fortalecimento de seus diferentes níveis de governo e a construção de espaços de diálogo, participação e concertação dos diferentes atores locais. De maneira geral, segundo Albuquerque (2004), os principais objetivos das iniciativas de desenvolvimento econômico local10 na América Latina, são os seguintes: (1) maior valorização dos recursos endógenos de cada âmbito territorial, com atividades relacionadas à diversificação produtiva e promoção de novas empresas locais; (2) organização de redes locais entre atores público e privados, para promover a inovação produtiva e empresarial no território; (3) estabelecimentos de consórcios inter- 10 Ou, simplesmente, desenvolvimento territorial, entendido como um estágio do processo de mudança estrutural empreendido por uma sociedade organizada territorialmente, sustentado na potencialização dos capitais e recursos (materiais e imateriais) existentes no local, com vistas à melhoria da qualidade de vida de sua população (DALLABRIDA, 2003; DALLABRIDA, 2005). 11 municipais a fim de incrementar a eficácia e eficiência das atividades de desenvolvimento local; (4) busca de novas fontes de emprego e investimento para o local; (5) promoção de atividades de desenvolvimento científico e tecnológico no nível territorial; (6) criação de novos instrumentos de financiamento para atender às micro e pequenas empresas locais; (7) superação das limitações do enfoque assistencialista implícito nos fundos de inversão social e nos programas de luta contra a pobreza; (8) incorporação de políticas de comercialização de cidades para promover a competitividade sistêmica territorial; (9) busca de acordos estratégicos em relação aos bens ambientais e o desenvolvimento sustentável. Uma iniciativa de desenvolvimento territorial não é unicamente um “projeto exitoso em um território” (ALBUQUERQUE, 2004:162). Requer-se uma concertação institucionalizada dos atores públicos e privados locais mais relevantes, com uma estratégia de desenvolvimento comum (ÁBALOS, 2000). Ao assinalar alguns critérios de ação para impulsionar o desenvolvimento territorial, Albuquerque (2004), assim sintetiza: (1) a construção da oferta territorial de serviços de desenvolvimento empresarial (mercado de fatores e serviços de desenvolvimento empresarial), tais como, a informação tecnológica, o mercado, a inovação de produtos e processos produtivos, a capacitação técnica e gestão empresarial, de cooperação entre empresas, de comercialização e controle de qualidade e assessoramento financeiro, fundamental principalmente quando se trata de micro e pequenas empresas, mediante iniciativas inteligentes que atendam às demandas empresariais locais; (2) não limitação das políticas de desenvolvimento local às fronteiras municipais, pois as fronteiras dos sistemas produtivos locais não necessariamente coincidem com as primeiras; (3) que o desenvolvimento local não se limite ao desenvolvimento de recursos endógenos, senão que a aproveitar as oportunidades de dinamismo existentes externamente, o que implica em endogeinizar os impactos favoráveis de ditas oportunidades externas; (4) a necessidade de acesso ao crédito para as micro e pequenas empresas, desenvolvendo, por exemplo, fundos locais para o desenvolvimento; (5) o fomento à associatividade e à cooperação entre as micro e pequenas empresas, potencializando sua capacidade de enfrentamento das sua demandas, frente ao cada vez mais desafiante cenário internacional; (6) a necessidade de vincular as universidades regionais e os centros de investigação científica e tecnológicacom os sistemas produtivos territoriais, o que implica que tais centros avançados possibilitem formar recursos humanos capazes de propor boas perguntas e não somente de memorizar respostas já escritas, e assim superar o desencontro existente entre a oferta de capacitação das universidades e centros formativos e as necessidades de inovação dos sistemas produtivos territoriais; (7) a dotação de infra-estrutura básica para o desenvolvimento, como vias de transporte, comunicações, facilidades de acesso aos mercados, dentre outras; (8) a necessária adequação dos marcos legais e jurídicos para a promoção econômica local e a necessidade de incorporar mecanismos de seguimento e avaliação; (9) a eficiente coordenação interinstitucional, no sentido da necessidade da existência no nível local de instituições capazes de coordenar as atuações dispersas, por exemplo, das 12 Organizações Não Governamentais e entidades de cooperação internacional, e, por fim, (10) a necessária complementariedade entre fundos de investimento social e os recursos para promover o desenvolvimento econômico local, concebendo-os como complementares. As inversões de caráter institucional e de natureza intangível, como a construção de redes, segundo Albuquerque, encontra muitas dificuldades em toda a América Latina: “os critérios que definem as atividades que podem ser atendidas pelos fundos existentes dão prioridade aos investimentos tangíveis e de caráter social, e postergam as relacionadas com a construção de entornos territoriais inovadores”. Reafirma, ainda, que hoje este tipo de investimento intangível é tão importante como os feitos em vias de transporte ou telecomunicações, pois no conjunto, permitem estabelecer as condições para lograr a “competitividade sistêmica territorial”. De igual forma, são fundamentais os investimentos na “construção do capital social e institucional” requerido pelas iniciativas de desenvolvimento local e regional (ALBUQUERQUE, 2004:168). Finalizando estas reflexões teóricas, é possível concluir que experiências exitosas de desenvolvimento territorial exigem: (1) a constituição de um processo de concertação público-privado; (2) a pactuação, entre os atores das diferentes redes de poder socioterritorial, de uma estratégia de desenvolvimento territorial, e (3) a geração de uma institucionalidade para o desenvolvimento territorial, o que implica na constituição de espaços permanentes de concertação público-privada, abrangendo as dimensões micro, meso e macro (município, região do COREDE/RS, macrorregiões dos COREDES/RS - Macro Norte, Macro Sul e Macro Nordeste -, ou outros recortes territoriais organizados, como, por exemplo, a instituída pelo Ministério da Integração Nacional - Mesorregião Grande Fronteira do Mercosul) (DALLABRIDA, 2003; DALLABRIDA, 2005). Na estrutura institucional do Estado do Rio Grande do Sul, os Conselhos Municipais (COMUDEs) e Regionais de Desenvolvimento (COREDEs), com alguma reestruturação organizacional, poderiam constituir-se nos chamados espaços permanentes de concertação público-privada, da mesma forma que os Fóruns das Macrorregiões acima citadas. Restaria a organização de estruturas institucionais, plenamente integradas aos COMUDEs, COREDES ou Macrorregiões, com uma função técnico operacional, que poderiam ser as chamadas Agências de Desenvolvimento. No entanto, a estrutura atual da maioria das Agências, precisaria ser repensada, pois grande parte delas têm pouca interação com os espaços locais ou regionais de discussão das estratégias de desenvolvimento. Em muitos casos, nem mesmo estes espaços existem, ao menos de forma organizada (DALLABRIDA, 2005). Assim, a principal função dos espaços permanentes de concertação público-privada, parece ser, inicialmente, a construção de uma identidade territorial compartilhada, o que implica na construção social da região (ALBUQUERQUE, 2004), para assumir, finalmente, a tarefa não simples de construção 13 de um pacto socioterritorial, ou projeto político de desenvolvimento territorial (DALLABRIDA e BECKER, 2003). As recomendações ora destacadas, mesmo vindo de autores que servem de referência internacional, não devem ser consideradas como receituário, pois cada realidade territorial tem sua especificidade e é fruto de um contexto histórico próprio, o que exige a construção de uma trajetória específica de desenvolvimento (DALLABRIDA, 2005). 3 IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS DEFENDIDOS NA PRÁTICA DO PLANEJAMENTO Nesta terceira parte do texto, procuraremos nos deter na explicitação da proposta metodológica de Planejamento Estratégico Territorial – PET (DALLABRIDA, 2005), experimentada na região Fronteira Noroeste (RS). 3.1 Os principais passos seguidos e sua justificativa O processo de planejamento previu e executou nas suas diferentes etapas várias atividades, as quais são especificadas abaixo, tendo como objetivo final contextualizar a realidade e identificar as expectativas e desafios regionais com vistas ao planejamento estratégico do desenvolvimento da região. a- Elaboração de um pré-diagnóstico sócio-econômico-ambiental regional A elaboração de um pré-diagnóstico se constituiu na primeira atividade, tendo considerado as estatísticas básicas existentes. Foi caracterizado, na sua origem, um pré-diagnóstico, pois considerou-se necessária sua validação através de seminários de apresentação à sociedade regional, permitindo sua complementação, a partir dos saberes acumulados pelos representantes dos segmentos econômicos, sociais e institucionais regionais. b- Identificação e sistematização das expectativas pretéritas Uma segunda atividade do processo de planejamento foi a identificação e sistematização das principais expectativas manifestadas pela população regional sobre o desenvolvimento, a partir da consulta aos documentos que registraram experiências recentes de planejamento, considerando os eventos realizados desde 1990. Tais expectativas foram sistematizadas, agrupando-as em cinco conjuntos: Políticas de 14 Inclusão Social; Políticas de Fomento à Economia Local-Regional; Políticas de Inovação da Gestão Pública; Políticas de Uso Racional dos Recursos Ambientais, e Políticas de Mobilização da Sociedade. Esta opção fundamenta-se na idéia de que as combinações novas, não brotam das antigas, nem tomarão imediatamente o seu lugar, mas aparecerão ao seu lado e competirão com elas. Ainda, a opção por agrupar as expectativas em cinco conjuntos de políticas de desenvolvimento pretendem superar a tradicional prática de setorializar o planejamento. Por outro lado, as expectativas pretéritas recentes, serviram como referência para compor o instrumento de pesquisa de opinião, mesmo que o mesmo tenha contemplado a possibilidade da proposição de novas expectativas. Assim, além de referendar quais propostas de desenvolvimento manifestadas recentemente ainda são válidas para o futuro da região, oportunizou-se a explicitação de novas expectativas11. c- Realização de uma pesquisa de opinião A realização de uma pesquisa de opinião foi realizada junto à sociedade regional, buscando sua manifestação sobre o futuro desejado. Foi definida uma amostra final de 487 pessoas pesquisadas, representando em torno de 0,2% da população regional. Para a definição da amostra a ser pesquisada, considerou-se os agrupamentos econômicos, sociais e institucionais representativos da sociedade regional (explicitados no Anexo 1). Como critério para a definição da amostra mínima para a pesquisa de opinião, foi feita previamente uma distribuição nos municípios da região, centrando-se na preocupação de contemplar o princípio da representatividade, tanto quantitativa, como qualitativa. Foram consideradas informações sobre a distribuição territorial das atividades econômicas e dos grupos sociais e institucionais, assim definindo o número de pesquisas em cada município da região,dentro dos referidos agrupamentos. d- Elaboração de um prognóstico regional Uma quarta atividade prevista no presente processo de planejamento é a estruturação de um prognóstico, contemplando as tendências e desafios regionais para o desenvolvimento. Este prognóstico resulta de duas fontes de informação: primeiro, do pré-diagnóstico; segundo, da sistematização das expectativas manifestadas na pesquisa de opinião sobre o futuro desejado para a região. 11 A aplicação desta proposta metodológica em outra região exige que se constate, inicialmente, qual o acúmulo recente da região em termos de propostas de planejamento do seu desenvolvimento. Caso não haja acúmulos recentes e significativos, exige-se uma primeira pesquisa amostral, a sistematização das expectativas explicitadas, para então compor o instrumento de pesquisa que será aplicado na amostra final regional. 15 O prognóstico pretende contemplar não só a síntese das informações, mas o seu cruzamento, além da análise realizada por especialistas em desenvolvimento regional, sejam eles membros da equipe de pesquisa, ou até mesmo outros, contratados para tal função. Este prognóstico constituirá um primeiro documento para ser apresentado à sociedade regional para o debate e validação, o que será feito em seminários regionais, abertos às lideranças e população em geral. e- Pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região Como passo final do processo de planejamento, prevê-se desencadear a pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região, com a sociedade civil e os poderes constituídos, sob a coordenação do Conselho Regional de Desenvolvimento - COREDE local, utilizando suas instâncias estatutárias de decisão, ou seja, o Conselho de Representantes e a Assembléia Geral Regional. Conforme salientado anteriormente, conforme Albuquerque (2004), o impulso da cooperação público- privada e a concertação estratégica de atores socioeconômicos territoriais para planejar as estratégias locais de desenvolvimento, pretende constituir-se no processo de gestão compartilhada do desenvolvimento, público-privada, que não se baseia somente em diretrizes emanadas do setor público ou simplesmente guiadas pelo livre mercado. O processo de consulta e debate instituído regionalmente durante um ano, teve como objetivo constituir-se na concertação estratégica de atores socioeconômico- institucionais territoriais (DALLABRIDA, 2005). A pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região, pretende ser o resultado deste processo de concertação. Este precisa atingir e envolver o chamado bloco socioterritorial, aglutinando os diversos interesses manifestos nas várias redes de poder socioterritorial. Neste processo, desempenham um papel decisivo, como mediadores políticos na concertação, vários atores, como por exemplo: os ocupantes dos cargos de direção política, lideranças empresariais, sociais, religiosas, etc. Inclui-se nestes atores, o importante e destacado papel e responsabilidade dos integrantes da equipe de pesquisa. f- Apresentação de uma proposta de Planejamento Estratégico O principal resultado do processo de concertação são os consensos pactuados. Estes consensos podem ser chamados de pacto socioterritorial (DALLABRIDA e BECKER, 2003), ou seja, o Plano Estratégico de Desenvolvimento para a região. Pacto não é um acordo permanente, podendo ser rediscutido periodicamente, sempre que novas situações, expectativas ou perspectivas se apresentem. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a situação institucional do Estado do Rio Grande do Sul, em termos de estrutura para o planejamento e gestão do processo de desenvolvimento, o COREDE tem sua função redimensionada. De direito, este papel não parece ser mais contestado. De fato, precisa de mais efetividade na maioria das regiões. Assim, o COREDE regional, através de seu Conselho de Representantes, precisa se transformar, efetivamente, no espaço permanente de concertação público-privada, habilitando-se/capacitando-se para o exercício de tal função. A Assembléia Geral Regional do COREDE precisa habilitar-se/capacitar-se a desempenhar a função de fórum de pactuação dos consensos sobre desenvolvimento regional, produzidos em cada momento da história. Restaria a organização de estruturas institucionais, plenamente integradas aos COMUDEs, COREDES ou Macrorregiões, com uma função técnico operacional, que poderiam ser as chamadas Agências de Desenvolvimento (DALLABRIDA, 2005). Finalmente, resultante do processo de planejamento empreendido na região Fronteira Noroeste na atualidade, além da expectativa de elaboração do seu Plano Estratégico de Desenvolvimento, uma outra iniciativa torna-se evidente: a necessidade de institucionalização de um grupo interdisciplinar e interinstitucional de estudo e pesquisa sobre a temática do desenvolvimento. Servirá para agrupar pesquisadores locais, com a função de constituir competências para realizar estudos, propor alternativas, capacitar lideranças, dando sua qualificada contribuição para o desenvolvimento da região. Por outro lado, o processo oportunizou excelentes aprendizagens, além de contribuir, principalmente para testar e avaliar novas metodologias de planejamento participativo. Além disto, este processo de concertação permite e efetiva visibilidade adicional para as temáticas da região, através da publicação e divulgação em diversos eventos e espaços acadêmicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁBALOS, J. A. EL FOMEERRO! NENHUMA ENTRADA DE ÍNDICE REMISSIVO FOI ENCONTRADA.NTO AL DESARROLLO PRODUCTIVO LOCAL: ORIENTACIONES, ACTORES, ESTRUCTURAS Y ACCIONES. LA SITUACIÓN EN CHILE EN LOS NOVENTA. SANTIAGO DE CHILE: CEPAL, FEBRERO DE 2000 (LC/R.1976). ALBUQUERQUE, Francisco. Desarrollo econômico local y descentralización en América Latina. In: Revista de la CEPAL, nº 82, abril 2004. BANDEIRA, Pedro S. Participação, Articulação de Atores Sociais e Desenvolvimento Regional. In: BECKER, Dinizar F. & BANDEIRA, Pedro S. Desenvolvimento Local/Regional – Determinantes e Desafios Contemporâneos. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, vol. 1, p. 23-128, 2000. 17 BECKER, Dinizar F. Os limites desafiadores do planejamento. In: REDES, v. 3, n. 2. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, dez./1998, p. 87-105. BECKER, Dinizar Ferminiano. A economia Política da Regionalização do Desenvolvimento Contemporâneo – Em busca de novos fundamentos teórico-metodológicos para entender as diferentes dinâmicas de regionalização do desenvolvimento contemporâneo. In: REDES, v.6, n.3. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, set./dez. 2001a, p.7-46. BEIRED, J. L. B. A função social dos intelectuais. In: AGGIO, A. GRAMSCI – A vitalidade de um pensamento. São Paulo: UNESP, 1998. BOISIER, Sergio. El desarrollo territorial a partir de la construcción de capital sinergético. In: Estudios Sociales, n. 99, Santiago de Chile, 1999. BUCI-KLUCKSMANN, C. Gramsci e o Estado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. DALLABRIDA, Valdir Roque. Nova Dinâmica Territorial em Construção: a experiência da Região Fronteira Noroeste/RS/Brasil. In: IV Coloquio sobre Transformaciónes Territoriales – Sociedad, Território y Sustentabilidad: Perspectivas desde el Desarrollo Regional y Local. Montevideo: Universidades do Grupo Montevideo, 21 à 23 de agosto de 2002 (publicado nos anais em CD). DALLABRIDA, Valdir Roque. Dinâmica Territorial do Desenvolvimento: sua compreensão a partir da análise de um âmbito espacial periférico. Santa Cruz do Sul (RS), Universidade de Santa Cruz do Sul, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, 2005 (Tese de Doutorado). DALLABRIDA, Valdir Roque. GOBERNANZA Y PLANIFICACIÓN TERRITORIAL: para la institucionalización de una práctica de “concertación público-privada”. In: DOCUMENTOS y APORTES en Administración Pública y Gestión Estatal, Año 3, número 4. Santa Fé (AR):Ediciones UNL-Universidad Nacional del Litoral, 2003, p. 61-94. DALLABRIDA, Valdir Roque. PLANEJAMENTO REGIONAL: algumas observações teóricas e análise da prática. In: REDES, v. 9, nº 1, Santa Cruz do Sul: EDUNISC, jan./abr./2004, p. 37-62. DALLABRIDA, Valdir Roque; BECKER, Dinizar Ferminiano. Governança Territorial-Um primeiro passo na construção de uma proposta teórico-metodológica. In: Desenvolvimento em Questão, ano 1, n. 2. Ijuí: Editora UNIJUÍ, jul./dez./2003, p. 73-98. GRAMSCI, A. Quaderni del carcere. Torino: Enaudi, 1975. KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda; Inflação e deflação. São Paulo: Nova cultural, 1985. 18 MATUS, Carlos. ESTRATÉGIAS POLÍTICAS. Chimpanzé, Maquiavel e Ghandi. São Paulo: FUNDAP, 1996. POLANYI, Karl. A Grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 1980. PORTELLI, H. Gramsci e o Bloco Histórico. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. RUIZ DURÁN, C. Esquema de regionalización y desarrollo local en Jalisco, México: el paradigma de una descentralización fundamentada en el fortalecimiento productivo. Santiago de Chile: CEPAL, 2000 (LC/R.2014). SCHUMPETTER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. ANEXO I -AGRUPAMENTOS SÓCIO-ECONÔMICO-INSTITUCIONAIS DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE, DEFINIDOS PARA PESQUISA 1- AGRUPAMENTOS SETORIAIS 1.1 AGRICULTURA 1.1.1 Agricultor familiar diversificado 1.1.2 Agricultor familiar especializado – Ex. hortifrutigrangeiros, leite... 1.1.3 Agricultor capitalizado – empresário agrícola 1.1.4 Assalariado agrícola, fixo ou temporário, e/ou meeiro, e/ou empregado de agroindústria 1.1.5 Agroindustrial 1.2 COMÉRCIO 1.2.1 Atacadista e/ou importador/exportador e/ou grande empresário 1.2.2 Logista de grande e média empresa – mais de 50 empregados 1.2.3 Logista de micro e pequena empresa – até 50 empregados 1.2.4 Gerente de loja/não proprietário e/ou funcionário da área gerencial 1.2.5 Comerciário 1.3 INDÚSTRIA 1.3.1 Grande e médio industrial - mais de 50 empregados 1.3.2 Micro e pequeno industrial - até 50 empregados 1.3.3 Gerente de fábrica/não proprietário ou funcionário da área gerencial 1.3.4 Industriário 1.4 SERVIÇOS 1.4.1 Profissional de serviços de assessoria empresarial e capacitação e/ou assistência técnica (informática, contabilidade, cursos profissionalizantes...) 1.4.2 Profissional liberal (advocacia, medicina, veterinária, engenharia, agronomia, vendedor autônomo...) 1.4.3 Profissional da imprensa (jornal, rádio e TV) 19 1.4.4 Profissional de serviços educacionais (professores dos três graus) 1.4.5 Bancários (funcionários e ocupantes de cargos de gerência) 2 OUTROS AGRUPAMENTOS 2.1 LIDERANÇAS 2.1.1 Lideranças religiosas (padres, pastores e leigos) 2.1.2 Lideranças sindicais (patronais e de trabalhadores) 2.2 ORGANIZAÇÕES/INSTITUIÇÕES EM GERAL 2.2.1 Representantes de ONGs constituídas regionalmente e atuantes 2.2.2 Dirigentes de IEs e Escolas (1º e 2º Graus) e instituições educacionais, profissionalizantes e/ou culturais 2.3 INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS 2.3.1 Representantes do Poder Executivo (Prefeitos e coordenadores regionais de Secretarias de Estado e/ou órgão do Governo Federal) 2.3.2 Representantes do Poder Legislativo (Vereadores e Deputados Estaduais ou Federais com atuação regional) 2.3.3 Funcionários públicos municipais 2.3.4 Funcionários públicos estaduais e federais 2.4 REPRESENTANTES DA EXCLUSÃO SÓCIO-ECONÔMICA e APOSENTADOS 2.4.1 Desempregados e/ou desocupados 2.4.2 Trabalhadores na economia informal (vendedores ambulantes e outros) 2.4.3 Aposentados INTRODUÇÃO 1 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE 1.1 A necessidade de contemplar as dimensões econômica e socioterritorial 1.2 O planejamento estratégico implica em fazer o novo, sem desconsiderar o velho, através de iniciativas cooperadas 1.3 O planejamento do desenvolvimento, como resultante dos interesses das esferas econômica, sócio-ambiental e política 1.4 Um esforço de síntese 2 SOBRE A PRÁTICA DA CONCERTAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA 3 IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS DEFENDIDOS NA PRÁTICA DO PLANEJAMENTO 3.1 Os principais passos seguidos e sua justificativa a- Elaboração de um pré-diagnóstico sócio-econômico-ambiental regional b- Identificação e sistematização das expectativas pretéritas c- Realização de uma pesquisa de opinião d- Elaboração de um prognóstico regional e- Pactuação de alguns consensos mínimos sobre o futuro da região f- Apresentação de uma proposta de Planejamento Estratégico CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO I -AGRUPAMENTOS SÓCIO-ECONÔMICO-INSTITUCIONAIS DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE, DEFINIDOS PARA PESQUISA
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