Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 1 TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança Created Tags 📌 Referência: Emergência USP- capítulo 99- hiperglicemias (página 2614) Introdução A cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH) são as duas complicações agudas relacionadas a hiperglicemias mais relevantes 📌 No EHH→ tem uma importante hiperglicemia com desidratação e aumento da osmolaridade Na CAD→ além da hiperglicemia temos também alteração do metabolismo lipídico com produção de cetoácidos e consumo de bicarbonato Definição CAD definida pela tríade → evolução em horas - dias 1. Glicemia maior que 250 mg/dL (mas, de forma rara, em pacientes com jejum prolongado pode ocorrer euglicemia ou hipoglicemia) 2. pH arterial < 7,3 (excluídas outras causas de acidose) Definição EHH definida pela tríade → evolução em dias - semanas 1. Glicemia > 600 mg/dL. 2. Osmolaridade > 320 mosm/kg. 3. pH arterial > 7,3 @May 10, 2023 7:54 AM TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 2 3. Cetonemia positiva (na indisponibilidade da cetonemia, podemos inferir sua presença por cetonúria fortemente positiva (+4 no EAS) 📌 Além da tríade que define o CAD, normalmente vem associado algum distúrbio hidroeletrolíticos (sódio, potássio e fósforo) ⚠ Novo Guidline britânico de 2021→ para CAD, pode usar o pH <7,3 OU BIC < 15 explicação: paciente pode ter outros fatores que atrapalham pH ou BIC, que podem estar corrigidos por outros fatores ⚠ CAD euglicêmico Guidline britânica→ critério: glicemia > 250 OU paciente diabético causa de CAD euglicêmico→ uso de inibidor SGLT-2 Gestante se presença de fator precipitante Pacientes com jejum prolongado 📌 Os pacientes podem apresentar concomitantemente CAD e EHH. nesse caso o diagnóstico seria EHH, pois engloba a CAD TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 3 Epidemiologia A CAD ocorre principalmente em um subgrupo de população mais jovem com média etária entre 20-29 anos, embora possa ocorrer nos dois extremos da idade, com aparecimento por vezes abrupto. CAD → 4-9% das internações por DM EHH→ menos de 1% das internações por DM 4,6 a 8 episódios de CAD ocorrem a cada 1.000 pacientes diabéticos/ano Taxa de mortalidade da CAD é→ menor que 3% Taxa mortalidade no EHH→ entre 3 e 20%, (muito relacionado ao fator precipitante) Fatores de risco para evolução desfavorável do quadro (fatores prognósticos) extremos de idade presença de hipotensão ou choque fatores relacionados aos fatores precipitantes CAD EHH idade 20 anos mais de 40 anos e idosos relação mais relação DM tipo 1 quase exclusivo do DM tipo 2 mortalidade menor que 3% 3-20% Etiologia Fatores desencadeantes da CAD e EHH Infecções → 30-50% dos casos principais focos→ pneumonia, ITU, sepse de origem indeterminada, infecção cutânea, gastrointestinal descontinuidade da medicação→ 20-30% dos pacientes com DM tipo 1 nova atualização: a principal causa é descontinuidade de medicação primeira manifestação do diabetes → 20% dos pacientes com DM tipo 2 causas cardiovasculares e cerebrovasculares (IAM, AVC)→ 5% Gestação Alcoolismo TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 4 Traumas / cirurgias medicamentos → glicocorticoides diarreia / vômitos incoercíveis Fisiopatologia Fisiopatologia da CAD é mais conhecida que a do EHH 🔵 Mecanismo de compensação fisiológica nos pacientes com DM O paciente com DM, devido à diminuição da própria insulina ou resistência à sua ação tem dificuldade de transportar a glicose para o meio intracelular, apresentando assim uma glicopenia intracelular. O equilíbrio dos meios acaba acontecendo, mas com um nível de glicemia muito mais elevado do que o considerado normal, estabelecendo-se assim uma nova homeostase glicêmica. quadros que gerem falta de deambulação (acamados) → não conseguem pegar água para se hidratar TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 5 1. Mecanismo da fisiopatologia→ CAD É precipitada pela ausência absoluta ou relativa de insulina por isso é mais comum em DM tipo 1, mas está cada vez mais frequente em DM tipo 2 Mecanismo: desencadeamento do começo do quadro CAD pode ser precipitada por infecção ou outros fatores estressores Esse fator estressante causa liberação de hormônios contrarreguladores (hormônio do crescimento, cortisol, catecolaminas)→ que gera resistência a ação insulínica extrema→ causando aumento de Glucagon e lipólise Nesse momento está ocorrendo uma indisponibilidade da glicose para uso intracelular devido a falta de insulina (que leva a glicose para dentro da célula)→ ocorre aumento na gliconeogênese (produção de glicose por gorduras e proteínas) + aumento da glicogenólise (quebra de glicogênio em glicose) → Glicemia do paciente fica progressivamente maior → diurese osmótica → leva a desidratação e aumento da osmolaridade Glicemias acima de 180 mg/dL ultrapassam a capacidade de reabsorção de glicose renal e ocorre glicosúria, com desidratação e perda de eletrólitos, com aumento da osmolaridade e lesão renal aguda por desidratação. Alteração no metabolismo dos lipídeos com ausência ABSOLUTA ou quase absoluta de insulina→ glicose não entra na células→ célula começa a usar outras fontes de energia (Alteração no metabolismo dos lipídeos→ lipólise), sendo o principal beta-hidroxi-butirato→ começa a produzir cetoácidos (que podem ser vistos pelo cálculo do ânion GAP)→ Gera acidose TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 6 📎 Isso ocorre quando a ausência relativa de insulina for absoluta ou quase absoluta, pois mesmo pequenas quantidades de insulina são capazes de suprimir toda a produção de glucagon por efeito parácrino nas ilhotas pancreática Consequências do aumento de glucagon → Cetoacidose e hipertrigliceridemia Aumento de Glucagon→ Aumenta produção da enzima Malonil coenzima A (função de inibir a produção carnitina-palmitil-transferase, que faz o transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias hepáticas, e está aumentada nessa situação)→ Assim, a produção de energia é feita usando como substrato os lípides→ esse processo produz ácido aceto-acético, ácido beta-hidróxibutírico e acetona → gerando o quadro de cetoacidose Há consumo da reserva alcalina e diminuição posterior do pH sanguíneo. Ocorre também uma grande produção de lípides e triglicérides, podendo inclusive ser desencadeadas complicações da hipertrigliceridemia como a pancreatite. Pode ocorrer elevação de amilase e lipase na CAD Outras alterações Aumento da atividade da lipase hormônio-sensível Aumenta a conversão de triglicérides em ácido graxo e glicerol, também contribuindo para a produção de corpos cetônicos Aumento da produção de prostaglandinas vasodilatadoras e vasoconstritoras pelo tecido adiposo causando hipotensão, náuseas e vômitos. A produção de prostaglandinas vasoconstritoras em circulação esplâncnica justifica o quadro de dor abdominal associado a CAD. Aumento de citocinas e fatores pró-coagulantes como o inibidor do plasminogênio tecidual (PAI1), aumentando o risco de tromboembolismo. 2. Mecanismo da fisiopatologia→ EHH Fisiopatologia ainda não é bem conhecida Aqui a insuficiência de insulina é apenas relativa → não tem elevação tão importante do Glucagon → não altera metabolismo lipídico → não tem produção de corpos cetoácidos TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 7 EHH tem maior grau de desidratação que a CAD Reduz produção de insulina→ aumenta hormônios contra-regulatórios (glucagon)→ aumenta produção hepática de glicose→ ocorre hiperglicemia elevada→ causa uma diurese osmótica → leva à perda importante de eletrólitos e perda ainda maior de água livre, de forma que a osmolaridade aumenta significativamente Clínica Período de pródromos duração de dias poliúria, polidipsia, polifagia, mal-estar indefinido Sinais e Sintomas da acidose só tem esses sintomas na CAD Taquipneia (ritmo respiratório de Kussmaul → devido ao ph entre 7 e 7,2→ como cetona é volátil, é eliminadana respiração) Hálito cetônico Outros sintomas da CAD dor abdominal (30%), náusea e vômito → todos melhoram com hidratação Sinais e Sintomas gerais na CAD e EHH Desidratação (sendo bem mais intensa da EHH) pode ter dor abdominal ele pode estar hipotenso e taquicárdico OU ter extremidades quentes e bem perfundido (devido as protaglandinas) Febre não faz parte do quadro de CAD ou EHH, mas pode ter relação com o fator precipitante, se for infeccioso Avaliação neurológica na CAD e EHH normalmente: paciente alerta Redução do nível de consciência no EHH→ além do RNC, pode ter déficits focais, coma, crise convulsiva TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 8 📎 provavelmente tem correlação com alteração de prostaglandinas na parede muscular intestinal, e tende a melhorar muito com a hidratação inicial esses sintomas são raros na EHH 📎 RNC tem mais relação com a osmolaridade do que com a acidose → por isso é mais esperado no EHH menos de 20% de CAD tem RNC 📌 Além dos sintomas da CAD ou EHH, o paciente também pode ter os sintomas do fator precipitante (IMA, ITU…) Exames complementares Diagnóstico de CAD e EHH é baseado em critérios laboratoriais TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 9 Exames que devem ser solicitados nas Emergências hiperglicêmicas Glicemia sérica e posteriormente glicemia capilar (de preferência a cada 1/1 hora) Urina tipo 1 Corpos cetónicos na urina (cetonúria) Cetonemia ou cetonúria: preferencialmente dosar o beta-hidroxibutirato no sangue cerca de 80% da produção de corpos cetônicos é na forma de betahidroxibutirato, mas as fitas reagentes de urina só avaliam o ácido acetoacético. Em situações de sepse associada, o beta-hidroxibutirato se torna 100% dos corpos cetônicos, assim as fitas reagentes de urina podem ter resultados falso-negativos para corpos cetônicos. ⚠ a cetonúria (2+), pode estar negativa e ter a catonemia positiva (devido ao beta-hidroxibutirato) → dar preferência para dosar a cetonemia se possível (cetonemia > 3mmol/L) → fecha esse critério para diagnóstico, mesmo com cetonúria negativa Gasometria arterial inicialmente e depois venosa (repetir a cada 4 horas) TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 10 📎 Gasometria → valor de referência + cálculo anio-gap 1. definir tipo de distúrbio Fórmula para resposta compensatória: PaCO2 = (BIC x 1,5) + 8 +- 2 2. Cálculo de Ânion-gap observar presenta de cetonemia anion gap→ valor total de ácidos (indica corpos cetônicos) TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 11 ⚠ cálculo do Ânio-gap é com eletrólitos da gasometria arterial ou com o valor dos eletrólitos do exame sérico (dosagem dos eletrólitos) Existe uma diferença de valores dos eletrólitos quando comparado os dois (principalmente no Na e Cl) existe um estudo que mostra uma diferença de 3 pontos entre os valores da gasometria e valores séricos→ mas não se sabe qual seria a “verdadeira” os exames séricos demoram mais para ter o resultado (2 horas), mas a gasometria arterial tem os resultados muito mais rápido Conclusão: como não se sabe qual o melhor que o outro→ deve usar UM método (escolhe um e segue sempre o mesmo para reavaliações) vantagem da gasometria: foge dos confundidores do sangue (paciente com muitos lipídeos e proteínas) → na gasometria evitamos a “pseudohiponatremia” por esses confundidores Potássio, sódio, fósforo, cloro e outros eletrólitos (dosagem sérica de K inicialmente a cada 2 horas. Os outros, inclusive fósforo, a cada 12 horas) esperado o K estar reduzido, mas pode estar normal ou até alto (mas isso seria porque o K intracelular foi para extracelular) Hemograma completo TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 12 📌 Achados do hemograma: pode ter leucocitose secundária ao episódio de estresse, embora valores de leucócitos > 25.000 céls./mm3 sugiram a presença de infecção aumento de hematócrito e hemoglobina Ureia e creatinina Eletrocardiograma avaliar a taquicardia (que pode ser compensatória, uma taquicardia sinusal, pela desidratação, mas nunca se sabe) para rastrear fator precipitante (isquemia coronariana) ver presença de complicações de hipercalemia e outros distúrbios hidroeletrolíticos Radiografia de tórax (procura de foco infeccioso associado) Outros exames Beta-HCG → solicitar para todas as mulheres Outros exames solicitados conforme suspeita clínica amilase e lipase→ suspeita pancreatite culturas→ suspeita infecção Raio X tórax Cálculo de osmolaridade e sódio corrigido Cálculo osmolaridade Ao avaliar pacientes com suspeita de EHH, lembre-se de que é necessário avaliar a osmolaridade, Cálculo sódio hiperglicemia pode falsear o resultado da mensuração de sódio, assim o ideal é sempre usar a fórmula do sódio corrigido para calcular a osmolaridade: usar o sódio medido TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 13 Diagnóstico Feito com a clínica + laboratório com os 3 critérios de EHH (glicemia, pH e osmolaridade) OU de CAD (glicemia, pH e cetonemia) 🔵 No EHH tem ausência de corpos cetonicos no sangue, mas pode ter cetonúria no EAS Diagnóstico diferencial A CAD entra no diagnóstico diferencial de outras acidoses como: Cetoacidose alcoólica→ que não cursa com hiperglicemia, apesar de cursar com aumento de cetoácidos O EHH entra no diagnóstico diferencial de pacientes com confusão mental ou alteração de nível de consciência; por esse motivo, verificar a glicemia é importante nesses pacientes, tanto para descartar hipoglicemia como para descartar grandes hiperglicemias associadas ao EHH Tratamento Tratamento: hidratação, insulinoterapia, correção dos fatores precipitantes 📌 atenção: CAD existe quando o pH é menor que 7,30. A existência de hiperglicemia com cetose e sem acidemia (pH > 7,30) é denominada de cetose diabética Esses quadros com tal descompensação diabética podem ser revertidos em algumas horas, na maioria das vezes sem a necessidade de internação. 1. Hidratação TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 14 Objetivo: tem alvo a estabilização hemodinâmica (regula osmolaridade e a desidratação) de forma isolada pode reduzir em 12% os níveis glicêmicos A hidratação é dividida em 2 fases: 1. Fase 1 Alvo: estabilização do paciente iniciar com: 1000 - 1500 ml de solução de NaCl 0,9% na primeira hora se paciente continuar hipotenso → repetir infusão 2. Fase 2 manter: 250-500 ml (4ml/Kg) por hora peculiaridades da hidratação nessa fase: se Na corrigido <135mEq/L → mantem solução salina 0,9% se Na corrigido seja normal ou aumentado (>135mEq/L) → usar solução salina 0,45% 3. Fase 3 Se glicemia atingir níveis de 250-300 mg/dl (depois da hidratação apenas com cristaloide)→ continuar hidratação, mas deve associar glicose 5-10% com solução salina, diluída em 1 litro de solução glicosada acrescido de 20 ml de solução salina NaCl 20% → velocidade de infusão continua 250-500 ml por hora TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 15 ⚠ Porque faz SG na CAD? com ausência de insulina→ glicose não entra na células→ célula começa a usar outras fontes de energia (lipólise), sendo o principal beta-hidroxi-butirato→ começa a produzir cetoácidos (que podem ser vistos pelo cálculo do ânion GAP) Ao corrigir a glicemia (com insulina), as células ainda continuam consumindo gordura e produzindo cetoácidos, OU SEJA, precisa da insulina por mais tempo para resolver a acidose (o bicarbonato pode auxiliar a controlar a acidose tambem) CONCLUSÃO→ preciso da insulina para que glicose entre na célula, ela pare de fazer lipólise, para não produzir mais cetoácidos, resolvendo a acidose, MAS para poder dar mais insulina, tem que dar soro glicosado (senão paciente ia evoluir com hipoglicemia) 📌 Um estudo de 2020 (estudo smart) comparou o uso de soluções cristaloides balanceadas como o Ringer-lactato e o Plasma-Lyte com a salina fisiológica e encontrou que o tempo de resolução da CAD foi menor (13,0 horas vs. 16,9 horas)→ Desta forma, o uso de soluçõesbalanceadas pode ser um tratamento melhor para pacientes com CAD comparado a salina fisiológica, embora a salina fisiológica continue sendo recomendada pela maioria dos autores 📌 Atenção: ter cuidado com pacientes que não podem fazer tanto volume→ cardiopatas, DRC 2. Insulinoterapia Realizado de forma concomitante com a hidratação venosa, EXCETO quando paciente tiver HIPOCALEMIA (K<3,3 mEq/L) e HIPOTENSÃO → nesses casos deve esperar a normalização do potássio e a hidratação para iniciar uso de insulina Como fazer insulina (insulina regular EV) Geralmente utiliza-se bomba de infusão contínua endovenosa, com dose inicial de 0,1 UI/kg de insulina em bolus E depois inicia-se a infusão da bomba contínua em 0,1 TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 16 U/kg/hora Como preparar a solução de insulina para infusão contínua em BIC 50 unidades de insulina em 250 mL de solução fisiológica→ assim, 5 mL correspondem a 1 U de insulina OBS: O ideal no preparo desta solução é que se desprezem 50 mL da solução, pois a insulina é adsorvida no plástico (pode precipitar) 📎 quando a glicemia chegar a <250mg/dl → pode reduzir a insulina para 0,25 ml/kg/ h em BIC 📌 Monitorização da glicemia Quando: deve ser mensurada a cada 1 hora (HGT→ glicemia capilar) Esperado: queda de glicemia de 50-70 mg/dl/hora Caso a glicemia tenha queda MENOR que 50 mg/dl/ hora → deve dobrar a velocidade da taxa de infusão Caso a glicemia tenha queda MAIOR que 70 mg/dl/hora → deve diminuir a velocidade da taxa de infusão pela metade 📌 Caso de K<3,3 → como corrigir o potássio (corrigir antes de iniciar a insulina) como: repor 25mEq de potássio antes de iniciar a insulinoterapia (1 ampola de 10 ml de solução de KCL 19,1%) TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 17 🔵 Critérios para desligar a bomba de infusão na CAD→ interromper insulinoterapia → Critério de alta Pode desligar se tiver 2 dos 3 critérios 1. pH >7,3 (na gasometria, de 2/2 ou 4/4h) 2. Ânion-gap ≤12 (na gasometria, de 2/2 ou 4/4h) 3. Bicarbonato ≥15. (em criança o valor é 15, e adulto tem referência de 15 e outras de 18) ⚠ o melhor critério no lugar do Ânion-gap, seria fazer uma cetonemia, mensuração do beta-hidroxi-butirato (em hospitais que tenham esse recurso)→ se for menor que 0,6 (mesmo com ânion-gap acima de 12), indica que provavelmente o ânion-gap aumentado não é secundário a CAD, e que está elevado por outras razões (acidose lática, intoxicações…) o ideal é ver cetonemia, e não cetonúria como critério de melhora, POIS a cetonúria pode persistir por um período maior (começa a reduzir só depois de umas 4 horas) Caso paciente tenha indicação para interromper a insulina→ Como interromper: Deve aplicar 10 UI de insulina regular (NPH), SC, esperar uma hora da ação dessa insulina e desligar a BIC (Idealmente, o melhor momento para fazer essa transição é logo após uma refeição→ (resumo: aplicar a insulina SC, paciente se alimentar, e então desligar a BIC) Monitorizar a glicemia por 24 horas, de 4/4 horas, aplicando insulina de acordo com as glicemias capilares E 24 horas depois de ter desligado a bomba, paciente começar a se alimentar→ iniciar a insulinoterapia plena (insulina basal: NPH ou análogo de longa ação + insulina regular ou ultrarápida antes das refeições) Como calcular o esquema de insulinoterapia que o paciente vai usar depois da alta Calcula-se a dose de insulina de longa duração verificando o total de doses de insulina nas últimas 24 horas e utilizando dois terços dessa dose total ou TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 18 0,6 U/kg de insulina NPH, outra forma de longa duração (ex: regular) Geralmente a insulina basal é dividida em 2/3 pela manhã e 1/3 à noite, mas diferentes autores têm diversas recomendações (EX: 50% e 50%) , nenhuma delas com validação suficiente para uma recomendação definitiva. 🔵 Critérios de alta EHH (correção da glicemia e osmolaridade) → interromper insulinoterapia 1. Osmolaridade <320 2. Paciente hidratado 3. Glicemia <200 4. Avaliar descompensação (fator precipitante da EHH) interromper a insulina da mesma forma que na CAD 📎 ALTERNATIVAS→ Caso não possa fazer a insulina acima Pode-se utilizar insulina regular IM ou subcutânea (SC), usando dose em bolo inicial de 0,4 unidades/kg, metade dessa dose inicial em bolus EV e metade via IM ou SC E depois mantendo dose de 0,1 unidade/kg/hora IM ou SC Observando a taxa de queda da glicemia, que deve ser mantida entre 50 a 70 mg/dL/hora. 3. Reposição de potássio Quando repor: níveis de K menores que 3,3 mEq Como repor: 25mEq (1 ampola= 10 ml) de potássio em 1L de solução de NaCl 0,9% em 1 hora assim que fizer a reposição deve repetir a dosagem de potássio TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 19 📎 Só pode iniciar a insulinoterapia se K >3,3 mEq/L 📌 Outros casos 1. Pacientes com K entre 3,3-5,0 mEq/L devem repor 25 mEq de potássio a cada litro de solução de hidratação e dosar K a cada 2 ou 4 horas. 2. Pacientes com K > 5 mEq/L só devem iniciar a reposição de K quando os valores forem < 5 mEq/L 4. Reposição de bicarbonato de sódio A reposição de bicarbonato de sódio não demonstrou benefício em estudos → apenas uma indicação indicação: pacientes com pH <6,9 como: reposição com 100 mEq, EV de bicarbonato em 2 horas com coleta de gasometria após 1-2 horas 📎 Dica: normalmente NÃO repõem→ porque a acidose já e revertida com hidratação e insulina e HCO3 baixo é ruim, mas HCO3 alto é ruim também, e é difícil corrigir o HCO3 alto MAS se ph< 6,9 deve fazer pois é incompatível com a vida (não tem contratilidade miocárdica quase nenhuma, tem risco do paciente morrer antes da insulina fazer efeito) 5. Reposição de fósforo ⚠ quando aplicada a insulina, o fósforo vai para intracelular→ risco de hipofosfatemia indicação TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 20 Disfunção cardíaca grave e arritmias. Fraqueza muscular e insuficiência respiratória. Rabdomiólise e anemia significativa. Concentração sérica < 1,0 mEq/L. como: 25mEq de fosfato de potássio, que repõe K além de fósforo, substituindo a solução de cloreto de potássio (KCl). 📎 Dica: pode repor em fosfato de potássio→ que já repõem os 2 de uma vez TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 21 🔵 Sistema duas bolsas no tratamento O sistema de duas bolsas é uma maneira custo-efetiva e flexível para o manejo da fluidoterapia no tratamento da CAD. como é: Consiste na administração simultânea de duas bolsas, que possuem o mesmo conteúdo de eletrólitos, porém diferentes concentrações de dextrose, conectadas por uma conexão em Y (Figura 1). Nesse circuito, a bolsa 1 é formada por SF (ou SF 0,45%) e 40 mEq/L de KCl – se a reposição de potássio estiver indicada – enquanto a bolsa 2 é composta por SG10% e 40 mEq/L de KCl. Assim, pode-se ofertar desde 0% até 10% de dextrose, titulando em qualquer momento conforme o ajuste na taxa de infusão de cada bolsa. Outros pontos de destaque são a menor quantidade de eventos de hipoglicemia, menos bolsas utilizadas, menos ajustes na taxa de infusão da insulina, e redução do tempo resposta – período entre a prescrição e sua execução – já que só é necessário o ajuste do gotejamento ou da velocidade da bomba de infusão ao invés da confecção de uma nova bolsa pela equipe de enfermagem. O tempo de resolução da cetose é o mesmo em ambas as modalidades, embora haja evidências conflitantes de que possa ser mais rápido no sistema de duas bolsas. TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 22 Complicações Hipoglicemia → principal complicação do tratamento da cetoacidose Hipocalemia e suas complicações Alcalose metabólica acidose metabólica hiperclorêmica Edema cerebral → mais comum em crianças, relação com uso de soluções hipotônicas para hidratação do paciente (rara) (devido a hipertonicidade) consequência com abaixamento dos níveis de glicose rápido SDRA→ pode ocorrer por utilizar coloides como forma de recuperar a PA do paciente(relação com hipervolemia) TEV→ rara em CAD, mas bem frequente no EHH por estarem mais concentrados fazer prevenção da TEV Hipertrigliceridemia >1000 o trigliceres tem relação com metabolismo da glicose pode levar a uma pancreatite Distensão gástrica aguda→ é uma indicação para internação em UTI Representa complicação de neuropatia autonômica, sendo o extremo da gastroparesia diabética. Mucormicose → infecção fúngica que atinge principalmente os seios da face e ocorre pela alteração do metabolismo de ferro que atinge esses pacientes, durante o episódio de cetoacidose. A alcalose metabólica paradoxal pode ainda ocorrer durante o tratamento, assim como sobrecarga de volume, principalmente nos pacientes cardiopatas, sendo importante salientar que a terapêutica adequada pode prevenir a maioria dessas complicações. Mielinólise pontina consequência de corrigir / reduzir os níveis de sódio muito rápido velocidade de correção segura: 0,4 a 0,5 mEq/L/ hora TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 23 Manejo das hiperglicemias TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 24 🔵 Indicação de internação, UTI, alta hospitalar e seguimento Todos os pacientes com CAD e EHH devem ser internados. Casos de cetose diabética isolada (sem acidose) ou apenas com hiperglicemias sem cetose geralmente não necessitam de internação hospitalar → pode dar alta hospitalar entre 12-24 horas após controle de fator precipitante e reversão da CAD e EHH Indicações de internação em UTI Desconforto respiratório agudo Acidose com pH < 6,9 Choque cardiogênico Edema cerebral Paciente com necessidade de diálise Todos os pacientes precisarão posteriormente de seguimento ambulatorial para controle do diabetes 📎 Após tratamento inicial, continuar monitorando para ver possível melhora: Gasometria (pH e AG) → 2/2 ou 4/4h Eletrólitos→ 2/2 ou 4/4h Glicemia→ 1/1h Manejo CAD TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 25 Manejo EHH TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 26 Prescrição - tutoria 1. Dieta oral zero 2. SF 0,9% 1000 ml em 1 hora + 20 ml KCL 10%, EV, em BIC 3. SF 0,45%, em BIC, 250 ml/hora, EV, 4. SG 5% 1000 ml+ NaCl 20%. Correr EV em BIC, 250 ml/hora, ACM 5. Insulina regular 50 UI +250 ml de SF 0,9% EV. Administrar (0,1UI/kg) 10 UI em bolus seguido de infusão de 10 UI por hora, em BIC. Desprezar os 50 ml iniciais 6. Ondansetrona 4mg + 10 ml de SF 0,9%, EV, infundir lentamente em 15 minutos, de 8/8 horas TUT 1: Hiperglicemias- Sabrina S. Lança 27 7. Dipirona 2g, EV, 6/6 horas se dor ou febre 8. Enoxaparina 40 mg, SC, 1 vez ao dia 9. Monitorar glicemia capilar a cada 1 hora 10. Dosar eletrólitos a cada 12 horas 11. Monitorização contínua de sinais vitais 12. Monitorar débito urinário com sondagem vesical de demora
Compartilhar